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O cientista político americano Mark Lilla Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
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9 perguntas para
Mark Lilla
1. O que é liberalismo
identitário e por que o senhor
argumenta que ele é
despolitizador?
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Não temos muitas opções, mas eu acredito que seria sábio indicar um
governador pouco conhecido e com aparência responsável. Se não
fizermos nada idiota, Donald Trump vai perder. Não devemos tentar nada
novo ou radical. Devemos nos comportar bem e assistir à explosão
pública de Trump. A esquerda do partido pensa que a próxima eleição é
uma oportunidade para ser mais radical e falar em socialismo, mas isso é
fazer o jogo de Trump. Aliás, os liberais não devem limitar seu foco às
eleições presidenciais. A verdadeira ação acontece em nível estadual. Até
recentemente, o Partido Republicano controlava dois terços das
legislaturas estaduais. Ou seja, eles tinham poder para limitar as leis
federais. Há estados em que o acesso ao aborto é muito difícil, às vezes
impossível. Distritos eleitorais foram redesenhados para impedir a
representação política dos negros. Um Bernie Sanders não conseguiria
fazer nada se fosse eleito. Precisamos vencer eleições locais. Por isso,
precisamos nos organizar para levar nossas mensagens aos municípios.
Mas, nos últimos 30 anos, uma ideologia impediu o Partido Democrata de
fazer isso.
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SAIBA MAIS
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As classes sociais são cruciais, porque a distância entre elas é cada vez
maior. Mas as classes sociais pós-globalização são outras, têm mais a ver
com educação do que com a propriedade dos meios de produção. Temos
uma elite instruída e outra classe, menos instruída e incapaz de participar
da nova economia. Depois de Ronald Reagan (presidente americano de
1981-1989) e da política identitária, os EUA se tonaram muito
individualistas. Se não explicarmos o que é solidariedade cidadã, não
adianta fazer um discurso sobre classes, porque os americanos vão dizer:
“Ok, eles são pobres, o que tenho a ver com isso?”. Por isso precisamos de
uma visão política que vá além das classes sociais e tenha real impacto
nas pessoas. A esquerda não adquiriu um novo vocabulário desde o
colapso do marxismo. O foco na cidadania é mais prático, menos
idealista. Quanto mais diversa a sociedade, mais sei que a única coisa que
compartilho com todos de meu país é a cidadania. Baseados nisso,
podemos restabelecer laços sociais.
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Mark Lilla é historiador, cientista político e professor da Universidade Columbia, nos Estados Unidos. Autor de O progressista de ontem e o do
amanhã (Companhia das Letras), participou do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre e São Paulo.