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cação. Nos últimos cinco anos, vários estudos
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tentaram equacionar sem sucesso essa
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matemática de miséria & descaso nas ruas
do estado & da Cidade Maravilhosa. Ao que
parece, nem a conta nem a calamidade social
foram devidamente resolvidas.
Já em 2005, uma matéria da BBC Brasil
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anunciava que a população de desabri-
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gados do estado orbitava em torno
de dez mil pessoas. Os números são
de Dario Souza e Silva, professor
do departamento de Ciências
Sociais da UERJ. Em março de
2006, era a vez de um estudo
do CIDE - Fundação Centro de
Informações e Dados do Rio de
Janeiro – denunciar o déficit habitacional de
quase 300 mil moradias do estado. Segun-
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do esses cálculos, o número equivaleria à
necessidade de quase 1,2 milhão de pessoas
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e corresponderia a 6,89% das 4,2 milhões de
residências fluminenses. Cem vezes mais do
que a previsão dos estudiosos da universida-
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de estadual.
Muitas das vezes, distorções como essa se
dão em função dos conceitos aplicados nas
contagens. “Hoje, vivem nas ruas não só pes-
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soas desempregadas e sem ter onde morar.
Lá encontram-se também trabalhadores que
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residem longe do local de serviço ou crianças
que pedem esmolas mas têm residência fixa,
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Investimento da
os mais necessitados. “Tem igreja que os fiéis olham
“Lá havia pessoas sem vínculos familiares, outros que torto para você. Eles estão ali, rezam, mas não gostam
Prefeitura em abri-
perderam tudo e muitos que mesmo com comportamen- de ver você lá”, afirma. Um a um, ele descreve o fun-
tos que não eram compreendidos pela sociedade, pos- cionamento de cada um de todos os templos da região.
gos: R$ 26 MI
suíam grandes qualidades artísticas, pessoais e intelec- “Ali fica a Igreja do Poder de Deus. Tem culto às sete
tuais”, conta Marcelo. Por outro lado, ele não esconde horas, todos os dias”, informa. Segundo o ex-diretor
os riscos por que passou em sua luta pelo fim daquilo do abrigo de população de rua, as denominações pro-
De sua parte, a prefeitura, na figura da Secretaria Muni- que era uma vergonha enquanto braço do estado no testantes sempre estiveram presentes na instituição
cipal de Assistência Social, justifica suas atuações ten- apoio aos desamparados. “Sofri pressões de todos os e faziam cultos concorridos, disputando a fé dos fiéis.
do em vista o estímulo do remanejamento da popula- lados: traficantes que perdiam consumidores, funcioná- “Nós tínhamos o maior cuidado na organização das
ção de rua para os abrigos. Segundo Fernando William rios que perdiam privilégios e mesmo altos servidores agendas, para que cada dia fosse de uma religião.”, diz.
Ferreira, que ocupa a chefia do órgão, o número de de- da prefeitura, que se sentiam incomodados com a pre- Mas a vida na rua apresenta também sua face mais
sabrigados atendidos por dia irá triplicar com a cons- servação de quem para eles não tinha o menor valor”, dura àqueles que se lançam à sobrevivência desespe-
trução de um novo abrigo na Ilha do Governador e mais afirma o ex-diretor. “Quando fui exonerado do cargo, rada. “Uma vez, me deram uma comida envenenada.
quatro espalhados pela cidade com capacidade para cheguei a pensar que tudo estava perdido e entrei num Antes, deram uma bebida e depois um bolinho, um
400 pessoas.”Esse é um investimento de 26 milhões processo de depressão. Mas a luta continuou e afinal, prato de comida, que se eu comesse tudo morria. A
de reais”, informa Fernando. Agora, é esperar para ver. tudo deu certo. Não foi fácil, mas conseguimos”, diz o minha neta estava comigo e tudo. Foi terrível.”, conta
OS ABRIGOS médico. Se os abrigos que deveriam atender a essas Luís Fernando. As dificuldades não se limitam a esse
pessoas falham em sua razão de ser, muitas das vezes episódio. “Ontem eu fiz sinal para o ônibus, ele parou,
nas ruas a ajuda pode ser encontrada mais facilmente. subiram as 3 pessoas que estavam na minha frente
“Sofri pressões de
A solução dos abrigos é uma alternativa possível, mas e na minha vez, ele arrancou. “, diz o mendigo, que
ainda complicada para a questão social dos moradores
todos os lados: trafi-
às vezes leva consigo algum dinheiro para pagar sua
de rua. Já em 2009, levantamento da Secretaria Munici- passagem. Benevolente, ele perdoa. “Mas a gente tem
pal de Assistência Social apontava para lotação máxima cantes que perdiam que ver o lado deles também, muitas vezes trabalhan-
das vagas disponíveis. Mesmo com aumento de 1906 lei- consumidores, fun- do em más condições. A maioria, graças a Deus, é boa,
tos em 2008 para 2254 naquela ocasião, a estrutura não
cionários que perdiam trata a gente bem. Só alguns que desrespeitam”, diz.
privilégios e mesmo
acolheria plenamente os 2.282 pleiteantes de espaços Luís Fernando dá uma lição de vida aos pessimistas com
livres. Além disso, o problema é ainda maior. “Estimo
altos servidores da
seus ensinamentos. “Tem muita maldade por aí. Mas tem
que 80% da população de rua seja usuária de drogas, muita bondade também, graças a Deus. Com fé em Deus,
principalmente os jovens que fazem uso desenfreado prefeitura, que se nada é impossível”, afirma o filósofo faminto das ruas. “Eu
do crack. Muitos não conseguem ficar livre do entorpe-
sentiam incomodados fiz muito amigos no tempo em que trabalhei como diretor
cente e não aceitam a ajuda dos abrigos da prefeitura”,
com a preservação de da Fazenda Modelo. Alguns deles os quais levo comigo