0 Bewertungen0% fanden dieses Dokument nützlich (0 Abstimmungen)
10 Ansichten18 Seiten
Autor:
Octahydes Ballan Junior
Ocupação do Autor:
Promotor de Justiça no Estado do Tocantins. Coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal (2012/2014). Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Franca
Originaltitel
ROUBO QUALIFICADO PELA LESÃO CORPORAL GRAVE E MORTE (§ 3º)
Autor:
Octahydes Ballan Junior
Ocupação do Autor:
Promotor de Justiça no Estado do Tocantins. Coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal (2012/2014). Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Franca
Autor:
Octahydes Ballan Junior
Ocupação do Autor:
Promotor de Justiça no Estado do Tocantins. Coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal (2012/2014). Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Franca
O AUMENTO DEVE SER ALÉM DO MÍNIMO DE 1/3. O aumento de pena acima do limite mínimo de 1/3, no crime de roubo, faz-se necessário quando houver causas de aumento concor- rentes. (D.O.E., 12/06/2003, p. 31/32). cancelada na R.O.M. de 07/10/2004, conforme Aviso nº 581/2004-PGJ, publicado no D.O.E. de 20/10/2004, p. 32. Tese-111
4.10 Roubo qualificado pela lesão corporal grave e
morte (§ 3º)
4.10.1 Roubo qualificado pelo resultado lesão corporal
grave (art. 157, § 3º, primeira parte, CP) A pena será de reclusão, de 7 a 15 anos, e multa, se da violência resultar lesão corporal grave. Lesão corporal grave, segundo o art. 129, §§ 1o e 2o, do Código Penal, é aquela de que resulta: incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias; perigo de vida; debili- dade permanente de membro, sentido ou função; aceleração de parto; incapacidade permanente para o trabalho; enfermidade incurável; perda ou inutilização de membro, sentido ou função; deformidade permanente; aborto. Não há que se distinguir, para a caracterização do tipo em estudo, lesão corporal grave de gravíssima. Aliás, o Código Penal não faz essa distinção, que é meramente didática e dou- trinária. Para a legislação, tanto é lesão corporal de natureza grave aquela do § 1º quanto a do § 2º, do art. 129, CP. Caberá ao Juiz, no instante da dosimetria da pena, consi- derar as consequências do crime e avaliar se a lesão foi grave ou gravíssima, aumentando a pena-base nessa última hipótese, mais danosa. FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 157
Se a lesão for apenas leve, servirá para a tipificação da
conduta no art. 157, caput, do CP. Destaque-se que a lesão grave deverá decorrer da violência empregada. Não caracterizará o art. 157, § 3º, primeira parte, a lesão decorrente de violência imprópria ou grave ameaça, res- pondendo o agente, nesse caso, por roubo em concurso com outro delito (doloso ou culposo). Nada obstante, o resultado agravador poderá ser alcan- çado dolosa ou culposamente (art. 19, CP). Entendemos que, se a lesão grave era pretendida pelo agente ou ele efetivamente assumiu o risco de produzi-la (dolo), sua culpabilidade será mais acentuada do que se a tiver praticado culposamente, razão pela qual isso deverá ser bem avaliado pelo julgador na fase do art. 59, CP, para uma correta individualização da pena. A lesão grave deverá atingir outra pessoa, que não o pró- prio agente ou seu comparsa. Poderá alcançar, assim, a vítima patrimonial, uma pessoa que passava próxima, um vigia ou segurança etc. A consumação do delito se dá com a produção do resultado lesão corporal grave, independentemente da subtração. É delito que se aperfeiçoa com o resultado agravador, prescindindo, a partir daí, da perda patrimonial. O tipo penal, aliás, não exige o êxito na subtração, prevendo a pena de 7 a 15 anos, e multa, para a hipótese de resultar lesão corporal grave, silenciando em relação ao patrimônio.
Atenção: no âmbito do Ministério Público do Estado de
São Paulo, foi editada a seguinte tese de recursos especial e extraordinário: 158 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR
ROUBO – CONSUMAÇÃO – LESÃO CORPORAL GRAVE CONSU-
MADA E SUBTRAÇÃO TENTADA. Considera-se consumado o crime de roubo previsto no artigo 157, § 3º, primeira parte, do Código Penal quando há lesão corporal grave, ainda que a subtração tenha sido tentada. (D.O.E., 09/06/2010, p. 57). Tese-328.
4.10.2 Roubo qualificado pelo resultado morte –
latrocínio (art. 157, § 3º, parte final) Se da violência resultar morte, a sanção será de reclusão, de 20 a 30 anos, e multa. Como dito acima, o resultado agra- vador deve decorrer da violência empregada, e não da grave ameaça ou da violência imprópria, hipóteses em que poderá existir concurso de delitos. O termo latrocínio não é empregado pelo Código Penal, mas é reconhecido legalmente, já que a Lei de Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/90) o emprega no art. 1º, II. Frise-se, desde logo, que latrocínio é apenas a conduta prevista no art. 157, § 3º, parte final do Código Penal (resultado morte), não alcançando sua parte inicial, ou seja, o resultado lesão corporal grave. É o que se extrai da Lei de Crimes Hedion- dos, que diz: “Art. 1o. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Dec.-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados: II - latrocínio (art. 157, § 3º, in fine)”. Como se vê, a própria legislação, no instante em que em- pregou a expressão latrocínio, o fez com remessa à parte final do § 3º do art. 157. A hediondez existirá mesmo em se tratando de latrocínio tentado. É latrocínio tanto a conduta de matar, para roubar, quanto a de roubar e matar para assegurar a detenção da res ou a impu- nidade do crime. O dolo do agente, voltado para a subtração, FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 159
definirá a tipificação. Se, então, tiver ele a intenção de matar
por outro motivo, que não o objetivo patrimonial, haverá homicídio. Na hipótese em que o agente mata uma pessoa, por exemplo, em razão de uma discussão e, aproveitando-se da oportunidade, efetua uma subtração subsequente, terá cometido homicídio em concurso material com furto. Aqui, como a morte já ocorreu, a vítima da subtração será o sucessor do falecido. Observe-se que não há patrimônio sem herdeiro. A transmis- são da herança ocorre, pelo sistema brasileiro, no exato instante da morte (art. 1.784, CC); e, em último caso, na falta de parente sucessível, o patrimônio pertencerá ao Município, Distrito Federal ou a União (art. 1.844, CC). O resultado morte poderá ser atingido dolosa ou culpo- samente (art. 19, CP), constituindo-se em delito preterdoloso nessa última situação (dolo no antecedente, culpa no conse- quente), que, então, não admitirá tentativa, pois ou a morte ocorre e o latrocínio é tido por consumado, ou não ocorre e haverá o roubo simples ou mesmo com resultado lesão grave. Discute-se, contudo, acerca da possibilidade de tentativa de latrocínio. Se a subtração e a morte se consumam, não há dúvida, o latrocínio estará consumado. Se a subtração é tentada e a morte consumada, há latrocínio consumado. É que, mais uma vez, a consumação do delito se dá com a produção do resultado morte, independentemente da subtração. É delito que se aperfeiçoa com o resultado agravador, prescin- dindo, a partir daí, da perda patrimonial. O tipo penal não exige o êxito na subtração, prevendo a pena de 20 a 30 anos, e multa, para a hipótese de resultar morte, silenciando em relação ao patrimônio. 160 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR
Nessa linha, a orientação do Supremo Tribunal Federal é
firme e sumulada:
Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio
se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima.
Atenção: no âmbito do Ministério Público do Estado de
São Paulo, em atendimento a essa orientação jurispru- dencial, foi editada a seguinte tese de recursos especial e extraordinário:
LATROCÍNIO – CONSUMAÇÃO – TENTATIVA DE SUBTRAÇÃO –
HOMICÍDIO CONSUMADO – SÚMULA 610 DO STF. “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima”. (D.O.E., 30/04/2008, p. 59) - Tese-287.
As discussões se acendem quando a subtração é consumada
e a morte tentada ou quando ambas são tentadas. De nossa parte, acreditamos que o delito de latrocínio, quando o resultado morte é querido pelo agente ou quando ele assume o risco de produzi-lo, agindo dolosamente, admi- te a tentativa, mesmo que não reste qualquer lesão na vítima. Imagine-se a hipótese em que o agente ingressa num estabele- cimento bancário e, para efetuar a subtração, dispara a arma de fogo contra o tórax da vítima, um vigilante, que só não vem a falecer porque usava colete à prova de balas, resultando-lhe apenas lesão leve (uma escoriação). É inegável, na hipótese, que o autor do roubo atirou para matar a vítima, mas não alcançou seu objeto por razões alheias FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 161
à sua vontade. Também é inequívoco que o seu dolo estava diri-
gido ao patrimônio, de forma que a morte pretendida estava atrelada (nexo de causalidade) ao crime do art. 157, CP. Houve aqui, portanto, latrocínio tentado. É a linha do STJ, que diversas vezes já decidiu:
ROUBO (QUALIFICAÇÃO PELO RESULTADO). SUBTRAÇÃO –
CRIME-FIM (CONSUMAÇÃO). EVENTO MORTE – CRIME-MEIO (TENTATIVA). DOLO (MATAR). LATROCÍNIO (TENTATIVA). 1. Para o efeito da responsabilidade penal, é a existência do dolo – vontade livre e consciente de praticar o fato – o demarcador das hipóteses do § 3º do art. 157. Tratando-se de elemento sub- jetivo tendente ao resultado morte, a tipicidade, evidentemente, haverá de ser a tentativa de latrocínio. 2. No caso, as indicações da sentença e do acórdão são no sentido de que o dolo era o de matar, e não o de provocar lesão corporal, hipótese que se enquadra, dúvida não há, na segunda porção do § 3º do art. 157 do Cód. Penal, na forma tentada. 3. Precedentes do STJ. 4. Agravo regimental ao qual se negou provimento. (STJ – AgRg no HC 54.852/RJ – Rel. Min. Nilson Naves – 6ª Turma – data do julgamento 14/12/2006 – data da publicação/fonte DJe 04/08/2008)
RECURSO ESPECIAL. PENAL. LATROCÍNIO. MORTE TENTADA
E SUBTRAÇÃO CONSUMADA. LATROCÍNIO TENTADO. ARTIGO 157, PARÁGRAFO 3º, SEGUNDA PARTE, COMBINADO COM O ARTIGO 14, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. RECURSO PROVIDO. 1. Em tema de crime complexo, é de se afirmar a sua forma tentada quando o crime-fim alcança a consumação, não ultrapassando, contudo, o crime-meio os limites da tentativa, precisamente porque no delito não se reúnem todos os elementos da sua definição legal (Código Penal, artigo 14, inciso I). 2. In casu, trata-se de crime de roubo próprio, cuja natureza complexa é induvidosa e no qual, embora haja se consumado a subtração patrimonial, o homicídio restou apenas tentado, impondo-se a afirmação da tentativa do delito complexo, classificando-se o fato-crime no artigo 157, parágrafo 3º, segunda parte, combinado com o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal. 3. Recurso provido. (STJ – REsp 313.545/GO – Rel. Min. Hamilton Carvalhido – 6ª Turma – data do julgamento 28/10/2003 – data da publicação/ fonte DJ 15/12/2003, p. 412) 162 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR
RECURSO ESPECIAL. PENAL. ROUBO CONSUMADO SEM RE-
SULTADO MORTE. ANIMUS NECANDI RECONHECIDO, ESTRE- ME DE DÚVIDAS, PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. LESÕES CORPORAIS LEVES. CONFIGURAÇÃO DO LATROCÍNIO TEN- TADO. RECURSO PROVIDO. 1. As instâncias ordinárias, sobe- ranas na análise da matéria fático-probatória, consignaram que o Recorrido subtraiu, mediante concurso de agentes e grave ameaça exercida com o emprego de armas de fogo, relevante quantia pertencente a estabelecimento comercial. Após, “obje- tivando a detenção da res furtiva e a impunidade do crime, ele e seu comparsa, agindo com evidente animus necandi, efetuaram disparos de armas de fogo contra os milicianos”. 2. O Tribunal a quo reclassificou a conduta para o crime do art. 157, § 2º, incisos I e II, do Código Penal, sob o fundamento de que o latrocínio na forma tentada ocorre quando existe o evento letal sem afetação patrimonial. 3. Para caracterizar o crime de tentativa de latro- cínio, não é necessário aferir a gravidade das lesões experimen- tadas pela vítima, bastando a comprovação de que, no decorrer do roubo, o agente atentou contra a sua vida com o claro desíg- nio de matá-la, assim como ocorreu na hipótese, não atingindo o resultado morte por circunstâncias alheias à sua vontade. 4. Recurso provido. (STJ – REsp 1.026.237/SP – Rel. Min. Laurita Vaz – 5ª Turma – data do julgamento 28/06/2011 – data da publi- cação/fonte DJe 01/08/2011)
HABEAS CORPUS. PENAL. TENTATIVA DE LATROCÍNIO.
OCORRÊNCIA. POSSIBILIDADE. SUBTRAÇÃO CONSUMADA. ANIMUS NECANDI CONFIGURADO. EVENTO MORTE QUE NÃO SE CONSUMOU POR CIRCUNSTÂNCIAS ALHEIAS À VONTADE DO AGENTE. 1. Não obstante a existência de eventual posicio- namento em sentido contrário, inclusive do Pretório Excelso, a jurisprudência desta Corte tem entendimento pacificado no sentido da possibilidade da ocorrência de latrocínio tentado nas hipóteses em que, configurada a subtração e demonstrado o animus necandi, o evento morte não se concretizou por cir- cunstâncias alheias à vontade do agente. 2. Ordem denegada. (STJ – HC 151.920/RJ – Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – 6ª Turma – data do julgamento 15/09/2011 – data da publicação/fonte DJe 21/11/2011) FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 163
Atenção: é esse também o entendimento no âmbito do
Ministério Público do Estado de São Paulo, que editou a seguinte tese de recursos especial e extraordinário:
SIBILIDADE. Para configurar a tentativa de latrocínio é irrelevante que a lesão corporal causada à vítima tenha sido de natureza leve, bastando comprovado que o réu agiu com dolo de matar para subtrair (D.O.E., 16/05/2007, p. 55). Tese-262.
Apesar disso, o Supremo Tribunal Federal tem caminhado
CONDENAÇÃO POR LATROCÍNIO TENTADO. SUBTRAÇÃO CONSUMADA. NÃO CONSECUÇÃO DA MORTE COMO RESUL- TADO DA VIOLÊNCIA PRATICADA, MAS APENAS DE LESÃO CORPORAL GRAVE NUMA DAS VÍTIMAS. DOLO HOMICIDA RECONHECIDO PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. IMPOSSI- BILIDADE DE REVISÃO DESSE JUÍZO FACTUAL EM SEDE DE HABEAS CORPUS. TIPIFICAÇÃO CONSEQUENTE DO FATO COMO HOMICÍDIO, NA FORMA TENTADA, EM CONCURSO MATERIAL COM O CRIME DE ROUBO. SUBMISSÃO DO RÉU AO TRIBUNAL DO JÚRI. LIMITAÇÃO, PORÉM, DE PENA EM CASO DE EVENTU- AL CONDENAÇÃO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO QUE PROÍBE A REFORMATIO IN PEIUS. HC CONCEDIDO PARA ESSES FINS. 1. Se é incontroverso ter o réu, em crime caracterizado por subtração da coisa e violência contra a pessoa, com resultado de lesão corporal grave, agido com animus necandi, então os fatos correspondem ao tipo de homicídio na forma tentada, em concurso material com o de roubo. 2. Reconhecida, em habeas corpus, a competência do tribunal do júri para rejulgar réu condenado por latrocínio tentado, mas desclassificado para tentativa de homicídio, não pode eventual condenação impor-lhe pena maior que a já fixada na sentença cassada. (STF – HC 91.585/RJ – Rel. Min. Cezar Peluso – 2ª Turma – julgamento em 16/08/2008) 164 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSO PENAL. DOSIME-
TRIA DA PENA. ROUBO CONSUMADO E HOMICÍDIO TENTADO. NULIDADE DA SENTENÇA NA PARTE QUE FIXOU A PENA. Não há crime de latrocínio quando a subtração dos bens da vítima se realiza, mas o homicídio não se consuma. Conduta que tipifica roubo com resultado lesão corporal grave, devendo a pena ser dosada com observância da primeira parte do § 3º do artigo 157 do Código Penal. A sentença e o acórdão que extrapolaram tais parâmetros devem ser anulados apenas na parte em que fixaram a pena. Habeas deferido em parte. (STF – HC 77.240/SP – Rel. Min. Marco Aurélio – Rel. P. Acórdão Min. Nelson Jobim – 2ª Turma – julgamento em 08/09/1998)
Note-se que, no primeiro julgado do STF transcrito acima,
considerou-se que, havendo dolo de matar, deveria o agente ser responsabilizado por dois delitos em concurso material, quais sejam, roubo e homicídio qualificado (art. 121, § 2o., V, CP). Nesse caso, o STF estaria admitindo o latrocínio apenas na hipótese em que a morte resultar de culpa do agente. Já no segundo julgado transcrito, afastou-se a hipótese de latrocínio tentado porque, resultando lesão corporal grave, haveria incidência da primeira parte do § 3o do art. 157. Com o devido respeito, entendemos equivocadas as decisões. É que, no primeiro caso, desconsiderou-se o preceito do art. 19 do Código Penal, segundo o qual: “Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente”. Ora, o Código Penal faz incidir o resultado agravador a quem o tenha causado ao menos culposamente. É lógico, então, que esse mesmo resultado é imputado a quem o causou dolosamente. O Direito Penal, outrossim, é sistematizado a partir da apuração do dolo do agente, soando no mínimo estranho que sua conduta seja cindida em dois tipos penais sem previsão de FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 165
que responda pelos dois delitos e quando há tipo penal próprio
prevendo a ação. Flávio Augusto Monteiro de Barros diz que o “entendimento desconsidera o princípio da especialidade”10. O segundo julgado também não parece acertado, pois igualmente desconsidera o dolo do agente, voltado para a morte da vítima. Não se está com isso fazendo letra morta da primeira parte do § 3o. Ao contrário, está-se buscando aferir a real vontade do agente, a teor do art. 18, I, CP. Se quis a morte, aplica-se a parte final do dispositivo; se o objetivo era lesionar, haverá incidência da primeira parte; se o resultado lesão gra- ve foi alcançado apenas culposamente, também será aplicada a parte inicial do § 3o, porque inadmissível a tentativa culposa. Caso se admita, como nós, a possibilidade de latrocínio tentado, pensamos que a diminuição máxima da pena (2/3, art. 14, parágrafo único, CP) deve ficar reservada para a hipótese em que o agente não conseguiu consumar a subtração. Com efeito, tutelando o delito bens jurídicos diversos, se um deles foi lesionado de maneira consumada não se pode dizer que o agente tenha ficado o mais distante possível da consumação do crime, única situação que autorizaria a maior redução da reprimenda. Logo, caso haja subtração consumada e morte tentada, caberá ao julgador utilizar de frações intermediárias, até chegar à menor diminuição possível se a morte tiver ficado próxima. Haverá o latrocínio mesmo que a morte seja de pessoa estranha ao titular do patrimônio ofendido. Flávio Augusto Mon- teiro de Barros sintetiza bem a questão:
O sujeito passivo é tanto a pessoa que sofre a lesão patrimonial
quanto aquela que é morta, podendo esta última ser até mesmo um policial ou terceiro. Com efeito, trata-se de crime pluriofensivo,
10 Op. cit., p. 374.
166 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR
que ofende mais de um bem jurídico, quais sejam, o patrimônio e
a vida. Não há necessidade de que morra a vítima do patrimônio, sendo suficiente, para a caracterização do delito, a morte de qual- quer outra pessoa. Não se tipifica, porém, o delito na hipótese de morte de coautor, salvo quando houver aberratio ictus (CP, art. 73). Com efeito, excepcionando-se a hipótese de aberratio ictus, a morte de coautor ou partícipe não configura latrocínio, porque nesse delito quem deve morrer é o sujeito passivo, e não o ativo. Ademais, quando a morte ocorre em situação de legítima defesa, como na hipótese de assaltante que é alvejado pela polícia, não há falar em resultado criminoso. Também haverá latrocínio, em função da aberratio ictus, na hipótese de morte de um terceiro, durante troca de tiros entre policiais e assaltantes.11
Outra situação que gera intensa discussão é a ocorrência
de várias mortes, mas com um único patrimônio lesado. Não há consenso se o fato se constitui crime único ou concurso de delitos (formal ou continuidade delitiva). O Superior Tribunal de Justiça já tomou posições diversas. No sentido do concurso formal (inclusive impróprio, admi- tindo a cumulação das penas):
IMPRÓPRIO. ARTIGO 70, 2ª PARTE, DO CÓDIGO PENAL. DESÍG- NIOS AUTÔNOMOS. PACIENTE QUE, MEDIANTE UMA SÓ AÇÃO E COM PROPÓSITOS DIVERSOS, PRATICOU DOIS CRIMES, ATIN- GINDO DOIS RESULTADOS. PENAS CUMULATIVAMENTE APLI- CADAS. ORDEM DENEGADA. Tipifica-se a conduta do agente que, mediante uma só ação, dolosamente e com desígnios autônomos, pratica dois ou mais crimes, obtendo dois ou mais resultados, no art. 70, 2ª parte, do Código Penal – concurso formal impróprio, aplicando-se as penas cumulativamente. No presente caso, o paciente, no intuito de subtrair coisa móvel alheia para si, matou uma vítima e feriu outra, gravemente. Precedentes do STJ. Ordem denegada. (STJ – HC 134.775/PE – Rel. Min. Gilson Dipp – 5ª Turma – data do julgamento 21/10/2010 – data da publicação/fonte DJe 08/11/2010)
11 Op. cit., p. 372.
FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 167
HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. ROUBO QUALIFICADO PELO
RESULTADO MORTE. DUAS VÍTIMAS. CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO. 1. Na compreensão do Superior Tribunal de Justiça, no caso de latrocínio (artigo 157, parágrafo 3º, parte final, do Códi- go Penal), uma única subtração patrimonial, com dois resultados morte, caracteriza concurso formal impróprio (artigo 70, parte final, do Código Penal). Precedente. 2. Ordem parcialmente conce- dida. (STJ – HC 33.618/SP – Rel. Min. Hamilton Carvalhido – 6ª Turma – data do julgamento 31/05/2005 – data da publicação/ fonte DJ 06/02/2006, p. 333).
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. LATROCÍNIO. DUAS
VÍTIMAS. CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO. HEDIONDEZ. PROGRESSÃO DE REGIME. DECLARAÇÃO DA INCONSTITUCIO- NALIDADE DO ART. 2.º, § 1.º, DA LEI N.º 8.072/90, PELO PLE- NÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AFASTAMENTO DO ÓBICE LEGAL. 1. Na esteira da já consolidada jurisprudência desta Corte Superior, no caso de latrocínio (artigo 157, parágrafo 3º, parte final, do Código Penal), uma única subtração patrimonial, com dois resultados morte, caracteriza concurso formal impróprio (artigo 70, parte final, do Código Penal). Precedentes. 2. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n.º 82.959/ SP, declarou inconstitucional o óbice contido na Lei n.º 8.072/90, que veda a progressão de regime prisional aos condenados pela prática dos crimes hediondos ou equiparados, tendo em vista os princípios constitucionais da individualização, da isonomia e da humanidade das penas. 3. Com a publicação da Lei n.º 11.464/07, restou afastado do ordenamento jurídico pelo legislador ordinário o regime integralmente fechado antes imposto aos condenados por crimes hediondos, assegurando-lhes a progressividade do regime prisional de cumprimento de pena. 4. Ordem parcialmente concedida para reformar o acórdão proferido pelo Tribunal a quo e a sentença condenatória na parte relativa à imposição do regi- me integralmente fechado, competindo ao Juízo das execuções criminais, atendidos os requisitos subjetivos e objetivos, decidir sobre o deferimento do benefício da progressão de regime pri- sional. (STJ – HC 56.961/PR – Rel. Min. Laurita Vaz – 5ª Turma – data do julgamento 18/12/2007 – data da publicação/fonte DJ 07/02/2008, p. 1) 168 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR
RECURSO ESPECIAL. PENAL. LATROCÍNIO. DUAS MORTES.
ÚNICA SUBTRAÇÃO PATRIMONIAL. CONCURSO FORMAL. MAUS ANTECEDENTES. PROCESSOS PENAIS EM ANDAMENTO. EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. REINCIDÊNCIA. NECESSIDADE DE AGRAVAMEN- TO. CRIME HEDIONDO. REGIME INTEGRALMENTE FECHADO. O crime de latrocínio cometido contra duas ou mais vítimas, median- te uma só ação, configura concurso formal e não crime único. Precedentes. Em atenção ao princípio da presunção de inocência, não se pode exasperar a pena-base quando existentes inquéritos e processos em andamento. A reincidência é agravante. A sua descon- sideração acarreta ofensa à lei federal e aos princípios da isonomia e da individualização da reprimenda. Estando o latrocínio dentre aqueles elencados pela Lei dos Crimes Hediondos, impõe-se o cumprimento da pena privativa de liberdade em regime prisional integralmente fechado. Recurso parcialmente provido. (STJ – REsp 729.772/RS – Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca – 5ª Turma – data do julgamento 28/09/2005 – data da publicação/fonte DJ 07/11/2005, p. 369)
Apesar disso, o mesmo STJ já definiu a situação como
crime único, cabendo ao Juiz considerar o número de mortes ou lesões na fase do art. 59 do CP, quando for dosar a pena- -base. Nesse sentido:
PENAL. HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO COM RESULTADO
MORTE. DOSIMETRIA DA PENA. CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. DUAS VÍTIMAS. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. POSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. Eventual cons- trangimento ilegal na aplicação da pena, passível de ser sanado por meio de habeas corpus, depende, necessariamente, da demons- tração inequívoca de ofensa aos critérios legais que regem a dosimetria da resposta penal, de ausência de fundamentação ou de flagrante injustiça. 2. A morte de mais de uma pessoa com a subtração de um só patrimônio, ao tempo que caracteriza o latrocínio como crime único, autoriza a fixação da pena-base aci- ma do mínimo legal, porquanto desfavoráveis as circunstâncias FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 169
judiciais do art. 59 do Código Penal (consequências do crime). 3.
Ordem denegada. (STJ – HC 91.231/RJ – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima – 5ª Turma – data do julgamento 02/06/2009 – data da pu- blicação/fonte DJe 03/08/2009)
HABEAS CORPUS – LATROCÍNIO – APENAS UM PATRIMÔNIO
ATINGIDO – LESÕES CORPORAIS CAUSADAS EM SEIS PESSOAS DISTINTAS – OCORRÊNCIA DE CRIME ÚNICO – INEXISTÊNCIA DE CONCURSO FORMAL – ÚNICO BEM JURÍDICO AFETADO – PATRIMÔNIO – MULTIPLICIDADE DE LESÕES QUE DEVEM SER LEVADAS EM CONSIDERAÇÃO DURANTE A FIXAÇÃO DA PENA- -BASE, POR TER A VER COM AS CONSEQUÊNCIAS DO CRIME – TRIBUNAL A QUO QUE REFORMOU, ACERTADAMENTE, A SENTENÇA CONDENATÓRIA PROLATADA CONTRA CORRÉU EM IDÊNTICA SITUAÇÃO – MESMA TURMA JULGADORA QUE, TODAVIA, DEIXOU DE FAZÊ-LO EM RELAÇÃO AO ORA PACIENTE – FIXAÇÃO DA MESMA PENA IMPOSTA AO CORRÉU – IMPOS- SIBILIDADE – INDIVIDUALIZAÇÃO – ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. O roubo qualificado pelo resultado morte (latro- cínio) ou lesões corporais permanece único quando, apesar de resultarem lesões corporais em várias pessoas, apenas um patri- mônio seja ofendido. 2. Nessa hipótese, a pluralidade de lesões ou mortes deve ser levada em conta durante a fixação da pena-base, por consistir num maior gravame às consequências do delito, mas não para configurar eventual concurso formal. 3. Se o Tribunal de 2º Grau, em sede de apelação, reforma a sentença condenató- ria do corréu para afastar, acertadamente, a regra do concurso formal, também deveria tê-lo feito com relação ao ora paciente, pois idênticas suas situações, notadamente levando-se em con- sideração que os recursos foram apreciados pela mesma Turma julgadora (Relator, Revisor e Vogal). 4. Impossível, na presente via, reduzir a reprimenda do paciente para aquela aplicada ao corréu, tendo em vista que suas penas-base não necessariamente serão as mesmas, eis que o princípio da individualização obriga a estrita observância dos critérios dispostos no artigo 59 do Códi- go Penal, vários deles de caráter pessoal. 5. Ordem parcialmente concedida, apenas para reconhecer a prática de crime único e de- terminar ao Tribunal a quo que proceda à reestruturação da pena do paciente com relação ao delito contra o patrimônio. (STJ – HC 86.005/SP – Rel. Min. Jane Silva, Des. Convocada do TJMG – 5ª Turma – data do julgamento 28/11/2007 – data da publicação/ fonte DJ 17/12/2007, p. 257) 170 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR
Pensamos que orientação jurisprudencial nesse sentido
serve para revelar o pouquíssimo valor que se dá à vida humana. Não pode o agente, matando diversas pessoas mas subtraindo apenas o patrimônio de uma delas, ser agraciado com um só delito, com a singela apuração desse resultado do crime quando da dosagem da pena. Aqui, sim, como o dolo de subtrair foi voltado para um só patrimônio, é o caso de se reconhecer o concurso de crimes entre latrocínio e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, V, CP), pois as demais vítimas tiveram sua vida atingida em razão de outro objetivo, qual seja, assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem do latrocínio. Caso sejam dois (ou mais) os patrimônios e vidas atingidas, haverá concurso formal. Nessa linha:
ALEGADA OCORRÊNCIA. DUPLICIDADE DE VÍTIMAS E DE PATRIMÔNIOS. CONCURSO FORMAL CARACTERIZADO. INCI- DÊNCIA DO ART. 70 DO CP ACERTADA. COAÇÃO ILEGAL NÃO VERIFICADA. 1. Havendo o cometimento de dois delitos de latrocínio – um consumado e outro tentado – perpetrados contra vítimas diversas, mediante uma só ação (desdobrada em diver- sos atos), e constatando-se que houve a subtração de mais de um patrimônio, resta caracterizado o concurso formal de crimes, e não crime único, ainda que as vítimas fossem marido e mulher. 3. O fato de serem as vítimas casadas civilmente não leva obri- gatoriamente à conclusão de que os bens deles subtraídos num mesmo contexto fático necessariamente constituíam um patri- mônio comum indivisível, pois, mesmo no regime de comunhão universal – em que há a comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges (art. 1.667 do CC) – há os que por lei são considerados patrimônio exclusivo do cônjuge que o recebeu, os denominados bens personalíssimos. 4. Ausente constrangimento ilegal decorrente do reconhecimento, na espécie, do concurso formal de crimes entre o latrocínio consumado e o latrocínio ten- tado cometidos pelo paciente, não há como se conceder a ordem FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 171
mandamental. 5. Ordem denegada. (STJ – HC 122.061/RS – Rel.
Min. Laurita Vaz – Rel. P. Acórdão Min. Jorge Mussi – 5ª Turma – data do julgamento 03/05/2011 – data da publicação/fonte DJe 18/05/2011)
Atenção: no âmbito do Ministério Público do Estado de
São Paulo, foi editada a seguinte tese de recursos especial e extraordinário:
LATROCÍNIO – MAIS DE UMA MORTE – CONCURSO FORMAL.
Se o agente, para roubar, comete duas ou mais mortes, pratica latro- cínio em concurso formal. (D.O.E., 12/06/2003, p. 31) Tese 069.
Havendo concurso de pessoas, ainda que só um dos agentes
efetue o disparo ou dê o golpe fatal, todos responderão por latro- cínio, mormente quando o delito ajustado pelos comparsas é praticado com uso de arma, quando se sabe previamente que o artefato será utilizado ou poderá ser empregado, inclusive, para se atingir um resultado maior, decorrência lógica e umbili- calmente ligada à ação a que todos aderiram. É a regra do art. 29, caput, CP. Nessa linha:
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO. CONCURSO
DE PESSOAS. EMPREGO DE ARMA DE FOGO. LATROCÍNIO. AÇÕES DISTINTAS. VÍTIMAS DIVERSAS. NEGATIVA DE AUTO- RIA. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA. CONSUNÇÃO. EXAME APROFUNDADO DE PROVAS. ORDEM DENEGADA. Não há que se falar na prática de apenas um delito de roubo, tendo em vista que foram três as vítimas cujo patrimônio foi subtraído. Ajustada a prática do roubo e a utilização de arma de fogo no evento, de modo a se antever a possibilidade do uso do instru- mento e a ocorrência da morte de vítimas, tem-se por previsto e aceito o resultado pelo paciente, o que caracteriza sua responsa- 172 OCTAHYDES BALLAN JUNIOR
bilidade pelo latrocínio praticado. O habeas corpus, marcado por
cognição sumária e rito célere, não comporta o exame da alegada inocência do paciente bem como não serve de instrumento para desclassificar o delito a ele imputado, que, para seu deslinde, demanda aprofundado exame do conjunto fático-probatório dos autos, posto que tal proceder é peculiar ao processo de conhe- cimento. Writ DENEGADO. (STJ – HC 44.342/SP – Rel. Min. Paulo Medina – 6ª Turma – data do julgamento 06/06/2006 – data da publicação/fonte DJe 01/12/20080
HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO. PEDIDO DE DESCLASSIFICAÇÃO
DO DELITO PARA O CRIME DE FURTO. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME DO QUADRO FÁTICO-PROBATÓ- RIO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DESTA CORTE. CRIME HEDIONDO. PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL. POSSIBILI- DADE. 1. Conforme o entendimento desta Corte, “no roubo, mor- mente praticado com arma de fogo, respondem, de regra, pelo resultado morte, situado evidentemente em pleno desdobramento causal da ação delituosa, todos que, mesmo não agindo diretamen- te na execução da morte, contribuíram para a execução do tipo fundamental (Precedentes). Se assumiram o risco, pelo evento, respondem.” (HC n.º 35.895/DF, Rel. Min. Felix Fischer, DJ de 04/10/2004). 2. Ademais, se o v. acórdão que julgou o recurso de apelação fundamentou, de forma exaustiva, que o Paciente assumiu o risco pelo evento, entender em sentido contrário importaria revolvimento da matéria fático-probatória, procedimento, como é sabido, vedado em sede de habeas corpus. Precedentes desta Corte. (...) 5. Ordem denegada e, de ofício, concedida para afastar da conde- nação do Paciente a imposição do regime integral fechado, fican- do a aferição dos requisitos objetivos e subjetivos da progressão a cargo do Juiz da Execução Penal. (STJ – HC 44.698/MS – Rel. Min. Laurita Vaz – 5ª Turma – data do julgamento 14/06/2007 – data da publicação/fonte DJ 06/08/2007, p. 545).
O afastamento da regra do art. 29, caput, CP, fica reservada
para hipótese de participação dolosamente distinta, prevista no § 2o do mesmo dispositivo. O resultado agravador, contudo, não pode ter sido pretendido nem aceito pelo agente. FURTO, ROUBO E EXTORSÃO 173
Diga-se, por oportuno, que a participação do agente não
será de menor importância se, por exemplo, tiver segurado, rendido, amarrado a vítima ou ajudado no roubo. Para ser tida como de menor importância e fazer jus à redução do § 1o do art. 29, CP, a ação deve ter sido quase irrisória, dispensável, que se não tivesse sido perpetrada também não impediria a realização do delito.
Atenção: no âmbito do Ministério Público do Estado de
São Paulo, foi editada a seguinte tese de recursos especial e extraordinário:
LATROCÍNIO – CONCURSO DE AGENTES – PARTICIPAÇÃO
DOLOSAMENTE DISTINTA – INAPLICABILIDADE. O roubo com morte é delito qualificado pelo resultado, sendo que este plus pode ser imputado na forma de dolo ou de culpa. Respondem, portanto, pelo resultado morte, situado evidentemente em pleno desdobramento causal da ação delituosa, todos que, mesmo não agindo diretamente na execução da morte, contribuíram para a execução do tipo fundamental. (D.O.E., 05/05/2004, p. 40) Tese 170.
4.11 Questões diversas
4.11.1 Roubo e concurso com outros crimes
Pode-se discutir sobre a espécie de concurso de crimes a incidir na prática de roubo e outros delitos (extorsão, furto, extorsão mediante sequestro etc.). Embora diversos sejam os crimes contra o patrimônio, não são eles da mesma espécie e nem são cometidos com a mesma maneira de execução. Dessa forma, fica afastada a possibilida-