Sie sind auf Seite 1von 18

América Latina en

las últimas décadas:


procesos y retos
Edición preparada por:
Francisco Cebrián Abellán
Francisco Javier Jover Martí
Rubén Camilo Lois González

Con la colaboración de:


AMÉRICA LATINA
EN LAS ÚLTIMAS DÉCADAS:
PROCESOS Y RETOS
AMÉRICA LATINA
EN LAS ÚLTIMAS DÉCADAS:
PROCESOS Y RETOS

Edición preparada por:


Francisco Cebrián Abellán
Francisco Javier Jover Martí
Rubén Camilo Lois González

Ediciones de la Universidad
de Castilla-La Mancha
Cuenca, 2018
CONGRESO INTERNACIONAL DE GEOGRAFÍA DE AMÉRICA LATINA
(9.ª. 2018. Toledo)
América Latina: últimas décadas: procesos y retos, IX Congreso Internacional de
Geografía de América Latina, Toledo – Toledo, 12 al 14 de septiembre / coordinadores
Francisco Cebrián Abellán, Francisco Javier Jover Martí, Rubén Camilo Lois
González.– Cuenca : Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha, 2018
1316 p. ; 24 cm.– (Jornadas y congresos ; 17)
ISBN 978-84-9044-317-0
1. Ordenación del territorio – América Latina I. Cebrián Abellán, Francisco,
coord. II. Jover Martí, Francisco Javier, coord. III. Lois González, Rubén Camilo,
coord. IV.Universidad de Castilla-La Mancha, ed. V. Título VI. Serie
711.4(063)
RPC
1KL

Cualquier forma de reproducción, distribución, comunicación pública o transformación solo puede ser
realizada con la autorización de EDICIONES DE LA UNIVERSIDAD DE CASTILLA-LA MANCHA
salvo excepción prevista por la ley.

Diríjase a CEDRO (Centro Español de Derechos Reprográficos – www.cedro.org),


si necesita fotocopiar o escanear algún fragmento de esta obra.

© de los textos e imágenes: sus autores.


© de la edición: Universidad de Castilla-La Mancha.

Edita: Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha


Colabora: Universidade de Santiago de Compostela

Colección JORNADAS Y CONGRESOS nº 17

El procedimiento de selección de originales se ajusta a los criterios específicos del campo 10


de la CNEAI para los sexenios de investigación, en el que se indica que la admisión de los
trabajos publicados en las actas de congresos deben responder a criterios de calidad equipa-
rables a los exigidos para las revistas científicas.

Con la colaboración de la Universidade de Santiago de Compostela

Foto de cubierta: IMAG1722. (2011). Bixentro. (CC BY 2.0).

Esta editorial es miembro de la UNE, lo que garantiza la difusión y


comercialización de sus publicaciones a nivel nacional e internacional.

I.S.B.N.: 978-84-9044-317-0

Composición: Compobell

Hecho en España (U.E.) – Made in Spain (U.E.)


GEOPOLÍTICA E INTEGRAÇÃO: O BRASIL, O ESPAÇO
REGIONAL SUL-AMERICANO E SUAS DEMANDAS
GLOBAIS
SHIGUENOLI MIYAMOTO
Universidade Estadual de Campinas - Departamento de Ciência Política

Resumen: Tradicionalmente Brasil ha desempeñado un papel de relieve en el


contexto latinoamericano, en términos políticos, económicos y geopolíticos. El
texto aborda las dificultades encontradas por los países de la región para implemen-
tar propuestas conjuntas para aumentar el nivel de desarrollo del continente como
un todo. Dificultades diversas han sido observadas a lo largo de la historia regional,
independientemente de los regímenes políticos. Aunque los proyectos más amplios
y subregionales han aparecido con frecuencia, no siempre han sido coronados de
éxito. El texto busca explorar algunos de los motivos que han llevado a que los
países del continente no puedan implementar adecuadamente proyectos de intereses
comunes. Daremos énfasis en la participación brasileña en los destinos de la región,
y sus aspiraciones geopolíticas en el contexto más amplio del sistema internacional,
sobre todo en las últimas décadas.
Palabras clave: geopolítica brasileña; proyección continental; potencia media;
política exterior brasileña; América Latina.

Abstract: Traditionally Brazil has played a significant role in the Latin American
context, in political, economic and geopolitical terms. The text addresses the
difficulties encountered by countries in the region to implement joint proposals
aimed at raising the level of development of the continent as a whole. Several

277
Shiguenoli MIYAMOTO

difficulties have been observed throughout regional history, regardless of political


regimes. Although broader and regional projects have appeared frequently, they
have not always been successful. The text seeks to explore some of the reasons
that have led countries in the continent to fail to properly implement projects of
common interest. We will emphasize the Brazilian participation in the destinies of
the region, and its geopolitical aspirations in the context of the international system,
especially in the last decades.
Key words: Brazilian geopolitics; middle power; continental projection; Brazi-
lian foreign policy; Latin America

1. INTRODUÇÃO1
Pelo menos em um aspecto as nações sulamericanas se identificam: com exce-
ção das Guianas todas as demais foram ex-colônias dos reinos português e hispâ-
nico. Na América Central, região do Caribe outras influências se fizeram sentir,
através de países como a Inglaterra, França e Holanda. Mas, nem por isso, apesar
do passado comum, os países mantiveram entre si relações que pudessem ser con-
sideradas amistosas todo o tempo.
Pelo contrário, ainda hoje perduram disputas em torno da delimitação das fron-
teiras e saídas para o mar. Vários conflitos chegaram ao uso da força e deixaram
feridas não cicatrizadas. A guerra do Paraguai (27.12.1864 a 08.04.1870), a eterna
reivindicação boliviana pela saída para o mar, perdida na guerra envolvendo Peru e
Bolívia contra o Chile (05.04.1879 a 20.10.1883), a guerra do Chaco entre Argen-
tina e Bolívia (15.06.1932 a 12.06.1935), as disputas entre Argentina e Chile pelo
canal de Beagle nos anos 1980, os choques entre Equador e Peru (1941, 1985 e
1995) são apenas alguns dos descompassos bilaterais que não foram resolvidos pelo
diálogo. Mesmo guerra contra potência externa ao continente foi travada opondo
argentinos e britânicos, pela posse das ilhas Malvinas (02.04.1982 a 14.06.1982).
Nesse contexto, o Brasil pode ser mencionado como aquele que há mais tempo
não faz uso de ameaças ou do recurso da violência para resolver suas querelas no
continente, tendo investido na diplomacia como instrumento mais apropriado das
Relações Internacionais.
Países com capacidades acentuadamente assimétricas e em estágios diferencia-
dos de desenvolvimento, os latinoamericanos nem sempre chegaram a denominador
comum para estabelecer políticas conjuntas que pudessem favorecer a todo o con-
tinente. Certamente propostas ocorreram, mas que nunca chegaram a se concretizar
1 A participação no evento e a produção deste texto contaram com recursos do Conselho Nacio-
nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), através de Bolsa de Produtividade em
Pesquisa, nível 1A, concedida ao autor.

278
Geopolítica e integração: o brasil, o espaço regional sul-americano ...

efetivamente. Motivos variados poderiam ser mencionados para o avanço modesto de


medidas que, relegando políticas individuais de cada Estado, ajudassem a impulsionar
a cooperação e a integração regionais. Entre tais dificuldades, as conjunturas interna
e internacional, os grupos no poder desinteressados em aprofundar a cooperação, e as
estruturas sociais e políticas que dificultam a modernização das instituições são alguns
obstáculos que costumam ser lembrados e que se colocam como barreiras diante de
políticas amplas em prol dos povos da região, favorecendo uma geopolítica integrativa.
Não se deve esquecer, ainda, como fator relevante, as demandas particulares de
Estados que preferem em oportunidades distintas, advogar causas próprias, à pro-
cura de vantagens que possam favorecer sua ascensão individual em um contexto
marcado por uma concorrência cada vez mais acirrada do sistema internacional.
É nessa direção que teceremos, a partir do próximo item, comentários sobre o
caso brasileiro, suas políticas e demandas com os parceiros do continente sulame-
ricano e também do papel que pretende exercer no sistema mundial de poder, por
causa de seus indicadores e predicados geográficos e econômicos.

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A GEOPOLITICA BRASILEIRA


Quando o Brasil adquiriu o atual estado do Acre, na região amazônica, em 17 de
novembro de 1903 através do Tratado de Petrópolis firmado com o governo boliviano,
ficava definido o contorno geográfico do país e que ainda hoje perdura. Com quase
metade (8.5 milhões de quilômetros quadrados) do território sul-americano (17.840
milhões de quilômetros quadrados) e população estimada em 209 milhões em maio
de 2018, de um total de 417 milhões de habitantes do continente, análises e políticas
diversas foram implementadas ao longo da história brasileira, muitas delas apregoan-
do o destino histórico que estaria reservado ao país como líder continental, e visível
nas cartas geográficas (MACEDO SOARES, 1939; IBGE 2018; CEPAL, 2018).
Quando se fala sobre o Brasil e suas características geográficas e geopolíticas,
pelo menos quatro fatores devem ser ressaltados: o primeiro diz respeito à forma
como o território acabou tendo sua configuração definida, desde a divisão estabele-
cida pelo Tratado de Tordesilhas firmado pelos reinos lusitano e hispânico em 07 de
junho de 1494 e cujas linhas demarcadas de Norte ao Sul pelas 370 léguas a oeste
das ilhas de Cabo Verde foram constantemente empurradas desde aquela época
(MACEDO SOARES, 1939: 61-91). Em segundo lugar, as propostas de ocupação
e integração territoriais feitas por entidades ligadas à administração pública, e por
representantes da sociedade civil. Em terceiro lugar, como os vizinhos entendem e
reagem às políticas externa e estratégica brasileiras. Por último, como os analistas
tanto do entorno, quanto do resto do mundo, percebem as aspirações brasileiras
apoiadas em seus indicadores.

279
Shiguenoli MIYAMOTO

Figura 1 Figura 2
Brasil em 1494. Brasil em 1750.
Jose Carlos de Macedo Soares. 1939

Figura 3 Figura 4
Brasil em 1822. Brasil em 1938 e 2018.
Jose Carlos de Macedo Soares. 1939

280
Geopolítica e integração: o brasil, o espaço regional sul-americano ...

Na maior parte da história brasileira, a ocupação do território se deu de forma


desorganizada e sem planejamento de qualquer natureza. Desde o século XVI grupos
adentraram no continente, sem se preocupar com as linhas invisíveis estabelecidas
pelo Tratado de Tordesilhas, em busca de riquezas. Nem havia como impedir que
missões com tais finalidades assim procedessem. Ainda que, com características
distintas, as entradas e bandeiras podem ser mencionadas como instrumentos que
possibilitaram a ocupação do hinterland latinoamericano, seja à procura de metais e
pedras preciosas, seja pela caça à mão de obra indígena. Não havia, igualmente, pos-
sibilidade de reações da coroa espanhola, porque a população sempre se concentrara
em uma estreita faixa litorânea do continente, dificultada, também pelas montanhas
andinas e pela floresta amazônica. Por isso, a ocupação do território sul-americano
além-Tordesilhas se constituiu em fato consumado, fazendo com que negociações
fossem realizadas, como o Tratado de Madrid de 1750 (MACEDO SOARES, 1939:
130-162) . O território do Acre pode ser considerado como a última conquista territo-
rial realizada pelo governo brasileiro, que definiu assim sua configuração geográfica.
O século XX viu a administração pública se preocupar com a ocupação efetiva
do território, através de iniciativas voltadas para temas importantes da geopolítica.
A mudança da Capital Federal, aventada pelo menos desde o século XIX, alvo de
missões no século XIX, como a de Luiz Cruls, concretizando-se em meados do
século XX, é um dos acontecimentos mais importantes relacionados com a inte-
riorização e integração do território nacional (CRULS, 2003). Da mesma forma,
políticas relacionadas com a redivisão territorial receberam especial atenção, em
face das disparidades das unidades federativas, assim como a construção de siste-
mas viários que ligassem todo o país, favorecendo a unificação e unidade nacio-
nais. Entidades preocupadas com o planejamento das políticas públicas passaram a
exercer influência na formulação e implementação de medidas visando preencher
de forma adequada o território. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o
Conselho Nacional de Geografia e outras de igual porte, com publicações como
a Revista Brasileira de Geografia, o Boletim Geográfico e a Revista Brasileira de
Estatística passaram a divulgar de maneira sistemática informações sobre as carac-
terísticas gerais do país. Personalidades como o Marechal Rondon igualmente se
tornaram conhecidas pela dedicação em ligar o país interiorizando e interligando
regiões de difícil acesso.
Simultaneamente, a questão da organização nacional se fez presente. Afinal de
contas, um território vasto como o Brasil precisaria atender a várias expectativas:
ser ocupado, interiorizado, integrado e organizado geográfica e politicamente.
Datam, também, dos anos 1930, concepções autoritárias sobre as formas de gover-
no que o país deveria ter para alcançar seus objetivos de país próspero, ocupando
seu lugar devido na História.

281
Shiguenoli MIYAMOTO

Ainda que as políticas públicas brasileiras pensadas em termos domésticos, por


isso mesmo realizadas sem se preocuparem com vizinhos, em assuntos sensíveis
como política externa, defesa e segurança e, principalmente, aquelas que dizem
respeito ao fortalecimento do poder nacional, suscitam dúvidas e críticas no entorno
geográfico sul-americano. Foi isso que ocorreu, por exemplo, quando em 1985 foi
divulgado o Projeto Calha Norte, de ocupação do espaço amazônico, que constava
do fortalecimento das fronteiras, combate ao tráfico de drogas e preocupações com
a internacionalização da região (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1985). Imedia-
tamente, representantes de países vizinhos, através de suas embaixadas, solicitaram
informações ao governo brasileiro sobre as intenções desse tipo de projeto estraté-
gico., preocupados com os impactos geopolíticos sobre seus territórios. O mesmo
ocorreu nos anos 1970, quando se divulgava que um dos objetivos da barragem
de Itaipu, seria a possibilidade de prejudicar interesses argentinos, pela ocupação
unilateral de recursos compartilhados. Da mesma forma, pelo lado boliviano, ainda
hoje tem sido frequentes críticas ao governo brasileiro que teria obtido o Acre, por
mecanismos considerados controvertidos, como relembrava Evo Morales em maio
de 2006. Naquela oportunidade, o presidente boliviano referia-se ao fato de que o
Brasil pagara o preço de um cavalo pelo Acre (MORALES, 2006).
Em grande medida, as ressalvas e críticas sobre as políticas brasileiras levam
em consideração o histórico de construção do território. A ampliação ao longo dos
anos serviu sempre de motivo para que o país fosse considerado imperialista, com
pretensões hegemônicas. A literatura produzida na região, principalmente no Cone
Sul dedicou grande ênfase as políticas brasileiras de fortalecimento do poder naci-
onal no período do regime militar, quando as medidas tomadas pelo governo eram
sempre identificadas com a literatura produzida desde os anos 1930 pelos militares
e geopolíticos, e que vislumbravam para o país, papel de importância maior no con-
tinente, convertendo-se em grande potência. Dos setores civis também se verificava
produção literária realçando aspectos geográficos nacionais e mesmo propondo a
aquisição de territórios contíguos, como a divisão das Guianas entre Brasil e Vene-
zuela (CORREA, 1965).

3. TENDÊNCIAS DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA


Historicamente a atenção da política externa brasileira esteve sempre voltada
para a Bacia do Prata. Há motivos que poderiam explicar tal comportamento. Em
primeiro lugar, porque desde os primeiros séculos da colonização do continente,
Argentina e Paraguai desempenharam papel de relevo, merecendo olhar atento por
parte dos governantes brasileiros. Geograficamente trata-se, também, de região con-
templada com recursos naturais apreciáveis e de mais fácil aproveitamento do que o

282
Geopolítica e integração: o brasil, o espaço regional sul-americano ...

verificado, por exemplo, na região amazônica. Por isso, as relações com a Argentina
sempre se colocaram em primeiro plano da diplomacia brasileira. Isso não significa
que o relacionamento com os demais vizinhos ficasse relegado, mas as prioridades
sem qualquer dúvida eram com o país platino. O aumento dos intercâmbios com
países andinos e amazônicos recebeu atenção maior a partir dos anos 1970, quando
se firmaram acordos de cooperação e desenvolvimento, por exemplo, através do
Tratado de Cooperação Amazônica em 1978 (MRE, 1978).
Em termos mais amplos do sistema internacional, desde os anos 1920, o Brasil
tem se preocupado em ocupar espaços maiores, considerando-se potência média e
reivindicando lugares de direção em organizações internacionais. Foi o que ocorreu
quando se criou a Liga/Sociedade das Nações e o governo brasileiro apresentava
já naquela oportunidade demanda para uma das vagas do Conselho de Segurança.
Tendo seu pedido recusado, afastou-se da entidade em 1926 (SANTOS, 1996).
As instituições internacionais sempre preencheram parte substantiva da agenda
brasileira, verificando-se participação em todas as iniciativas regionais e oferecen-
do apoio para as que abrangiam o sistema como um todo, seja em âmbitos como
a Organização dos Estados Americanos (OEA), e agências da ONU, como a Con-
ferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), ou
outras como o Banco Mundial (BIRD), o Fundo Monetário Internacional (FMI)
e também aquelas de âmbito mais restrito com parceiros igualmente identificados
como países emergentes a partir das três últimas décadas.
Algumas características podem ser conferidas à política externa brasileira, inde-
pendentemente do tempo e dos modelos políticos adotados. A questão do desenvol-
vimento permeia de maneira permanente as políticas públicas, motivo pelo qual o
relacionamento com parceiros do mundo privilegiam sempre o tema de captação
de recursos, seja de grandes países desenvolvidos, seja de instituições multilaterais.
Daí, também, os rótulos adquiridos pelo Itamaraty de privilegiarem as relações mul-
tilaterais em um momento, de optarem pela escolha de parceiros do mundo desen-
volvido ou então aproximar-se do grupo de países pobres em outra oportunidade.
Em todas essas, o governo brasileiro sempre viu oportunidades para carrear
recursos para o país, através de investimentos ou de condições favoráveis para a
exportação de seus produtos, captando portanto divisas úteis para promover seus
planos de desenvolvimento.
As negociações diplomáticas em vez de ameaças do uso da força igualmente
fazem parte do modus operandi da diplomacia brasileira, mesmo em situações agu-
das, como se observou nas negociações para a construção da barragem de Itaipu nos
anos 1970, quando eram fortes as divergências com o governo argentino.
Por outro lado, sempre se observaram duas grandes tendências na escolha de par-
ceiros, dependendo das conjunturas doméstica e externa. Por exemplo, desde o fim da

283
Shiguenoli MIYAMOTO

Segunda Guerra Mundial, conforme os grupos no poder, houve propensão ora em se


aproximar de países do Terceiro Mundo ora em priorizar as relações Sul-Sul (1961-
1963, 1969-1978, 2003-2010), ou em considerar adequada a convergência de inte-
resses com os grandes países do Hemisfério Norte, principalmente com os Estados
Unidos, quando se chegou a afirmar que a política brasileira nada mais fazia do que
chancelar as iniciativas norteamericanas, alinhando-se ao governo de Washington,
como nos períodos de Eurico Gaspar Dutra (31.01.1946 a 31.01.1951), Humberto de
Alencar Castelo Branco (19.04.1964 a 15.04.1967), ou Fernando Henrique Cardoso
(01.01.1995 a 01.01.1999 e 01.01.1999 a 01.01.2003), considerado adepto das políti-
cas neoliberais, seguindo a cartilha ditada pelo denominado Consenso de Washington.
Outra marca da política externa brasileira , com ascensão de novos mandatári-
os é o não seguimento das diretrizes adotadas pelos governos anteriores. Ou seja,
sempre houve preocupações de cada governo em se diferenciar de seus predecesso-
res, forjando novos comportamentos e procurando imprimir característica própria
às suas administrações. Ainda que temas como desenvolvimento permanecessem
como centrais, porém, sob novas perspectivas, adotam-se posturas diferenciadas
para se inserir de maneira mais favorável no sistema internacional, ora optando por
relações bilaterais ou pelo multilateralismo, ora com pendores terceiro mundistas
ou primeiro mundistas com parcerias seletivas.
Na realidade, quase todas essas tendências ocorrem concomitantemente, são veri-
ficadas simultaneamente em todos os períodos mencionados, já que se torna difícil
supor que os governantes adotem rigidez tal na formulação e implementação de suas
políticas externa e internacional, que possam deixar de lado as relações com as grandes
nações, mesmo que essas sejam política e ideologicamente opostas ao modelo político
vigente em seus países. Ou seja, eliminando-se casos e momentos excepcionais em que
os agentes tomadores de decisão necessitam fazer discursos e prestar contas à opinião
pública de seu país, as relações internacionais prosseguem normalmente seu caminho,
desde que não interfiram diretamente nas políticas domésticas de outros.

4. LOCI DE DECISÃO
Três instâncias devem ser consideradas quando se analisa a política brasileira
voltada para o exterior: a tradicional instituição representada pelo Ministério das
Relações Exteriores, as Forças Armadas e os setores econômicos.
Ainda que as mesmas devessem trabalhar em conjunto, visando alcançar o
mesmo objetivo, qual seja, assegurar a soberania e os interesses nacionais e projetar
o país no contexto das relações internacionais, não é isso que se observa. Dotadas
de autonomia política e estratégica, ainda que os ministros dessas pastas sejam ape-
nas o principal conselheiro do assunto junto ao presidente da República, cada ins-
tância procura definir suas prioridades conforme os interesses de cada corporação.

284
Geopolítica e integração: o brasil, o espaço regional sul-americano ...

Os militares pensam a inserção no mundo conforme identificações políticas


e ideológicas muito particulares. Ao atuar de maneira conspiratória, consideram
que os amigos de hoje não serão necessariamente os de amanhã, e confiam mais
em alianças com países cujos interesses convergem naquele momento. Por isso,
políticas de cooperação e integração recebem atenção conforme as conjunturas,
não abrindo mão de conceitos como soberania e segurança nacional, pensados,
portanto sob ponto de vista particular, relegando concepções supranacionais em
assuntos delicados como defesa e segurança nacionais. Os discursos caminham
nessa direção, mas a prática contraria a retórica que relega a soberania nacional
a plano secundário.
Seria o oposto do que permeia, em princípio, a concepção de mundo da diplo-
macia que leva em conta a necessidade de se investir no grau de cooperação,
aumentando o nível de confiança recíproco, visando, em oportunidades diversas
políticas integracionistas, e elaboração de políticas comuns.
Os setores econômicos, por sua vez, acham-se preocupados basicamente com
políticas de investimentos, captação de recursos e comércio internacional. Ainda
que, em muitas oportunidades se identifiquem com a concepção diplomática não é
isso que se observa na história brasileira.
Dependendo das diretrizes nacionais e das políticas de desenvolvimento con-
templadas pela administração federal, frequentemente se observam choques entre
as instâncias econômicas e diplomáticas. Ainda no regime militar, quando era forte
a influência do Ministério da Fazenda, divergências frequentes eram constatadas
por exemplo, entre o que se considerava concepção terceiro mundista do Itamaraty
e primeiro mundista das instâncias econômicas.
Nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (01.01.2003 a 01.01.2007 e 01.01.2007
a 01.01.2011), influência maior era creditada ao Ministério das Relações Exteriores,
em ambos os períodos, motivo pelo qual o chanceler Celso Amorim se converte-
ra em figura de máxima grandeza no primeiro escalão, ao contrário dos setores
econômicos que, mesmo mantendo sua importância, situavam-se visivelmente em
patamar inferior, porque a diplomacia era entendida como instrumento para projetar
o país no cenário global.
Em oportunidades posteriores, sob os mandatos de Dilma Rousseff (01.01.2011
a 01.01.2015 e 01.01.2015 a 31.08.2016), a Chancelaria (com Antônio Patriota,
Luiz Alberto Figueiredo, Mauro Vieira e José Serra, além dos interinos Eduardo dos
Santos e Marcos Bezerra Abbott Galvão) passou a exercer papel mais reservado no
primeiro escalão governamental, percebido inclusive pelo número de ocupantes da
Pasta. No caso, o protagonismo foi exercido pelos ministros da Fazenda. É o que se
observa, também, na gestão de Michel Temer (a partir de 31.08.2016) com o atual
Ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes Ferreira.

285
Shiguenoli MIYAMOTO

5. AMBIÇÕES E DEMANDAS
Como potência média o Brasil, em face de suas configurações geográficas e de
seus indicadores, sempre pensou o seu papel sob dois prismas: no plano regional, ao
vislumbrar que sua preponderância ou hegemonia seria apenas questão de tempo,
dado as disparidades frente aos seus parceiros, mesmo o mais próximo representado
pelo país portenho.
As diferenças entre os dois sempre foram ponderadas favoravelmente ao Brasil,
em termos econômicos, demográficos e territoriais, em uma proporção aproximada
de 4 x 1. Por isso, observa-se, desde os anos 1930, literatura produzida por mili-
tares e outras pessoas ligadas a órgãos de planejamento, realçando o Brasil como
potência regional ou mesmo mundial.
Em 1921 (CARVALHO, 1921) já se encontra tal tipo de publicação, o mesmo
se repetindo em 1931 (TRAVASSOS, 1934) ou 1960 (MATTOS, 1960), além de
obras nos anos 1970 e posteriores. Mesmo no período que abrange as décadas de
1940 e no pós guerra encontram-se textos enfatizando os aspectos da grandeza
brasileira. Incluem-se nesse rol, menções explicitas, por exemplo, ao Brasil Potên-
cia no ano 2000 no Metas e Bases para a Ação do Governo, no período dirigido
pelo general Emilio Garrastazu Médici (PRESIDENCIA DA REPUBLICA, 1971 :
15-30). No período seguinte sob o mandato do general Ernesto Geisel amenizava-se
a terminologia Brasil Potência para Brasil Potência emergente (PRESIDENCIA DA
REPUBLICA, 1975 : 21-78).
Findo o regime militar em 1985 e, sob a nova conjuntura do pós-guerra fria,
demandas diversas puderam ser observadas: sob o governo de Fernando Collor de
Mello (15.03.1990 a 29.12.1992) pela própria voz presidencial a reivindicação a
uma vaga como membro permanente do Conselho de Segurança da Organização
das Nações Unidas chegou a ser feita, porém sem qualquer chance de ser discutida;
já sob o governo de Itamar Franco (29.12.1992 a 01.01.1995), o chanceler Celso
Amorim explicitava a vontade de o Brasil ocupar essa mesma vaga quando a enti-
dade completava meio século de existência. Necessidade de se adaptar aos novos
tempos, distantes do momento em que foi criada, no fechar da Segunda Guerra
Mundial.
Para isso se fazia necessário incorporar outros países, que representassem de
forma mais adequada a nova estrutura mundial do poder. A recusa dos Estados Uni-
dos da América em discutir o tema fez com que a demanda brasileira permanecesse
sem qualquer possibilidade de concretização. Tal reivindicação ressurgiria a partir
de 2003, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, com o mesmo chanceler.
No século XXI o Brasil aumentou suas demandas no sistema internacional, visan-
do ampliar sua influência como agente de grande porte, escapando do cenário regio-

286
Geopolítica e integração: o brasil, o espaço regional sul-americano ...

nal. Entre essas, a participação maior nas instituições multilaterais, candidatando-se


a cargos diretivos, empreitadas nem sempre bem sucedidas. Marcou presença, ainda
que modesta na maior parte dos casos, em operações de paz, exceção à Missão das
Nações Unidas para estabilização do Haiti (MINUSTAH), aumentou o número de
representações diplomáticas no continente africano, apresentou-se com proposta para
solucionar a fome mundial e ofereceu-se para intermediar conflitos no Oriente Médio.
Em outro plano, intensificou processos de cooperação, seja através de emprés-
timos da agência de fomentos Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), seja favorecendo a atuação de grandes empreiteiras em obras na
América do Sul e na África, e que foram objeto de grandes investigações nos anos
mais próximos. Remissão da dívida de vizinhos sul-americanos e de países africa-
nos, igualmente se converteram em instrumentos para cooptar e tentar capitalizar
votos dessas nações favorecidas para apoiar as reivindicações brasileiras nos foros
internacionais, o que nem sempre aconteceu.
Com esse tipo de atuação do Brasil observado desde 2003 percebe-se que o
governo tinha clara intenção de projetar o país no cenário internacional, fazen-
do com que figurasse ao lado das grandes potências. Era uma atitude distinta da
observada na última metade dos anos 1990, quando o país optou por adquirir res-
peitabilidade no mundo, acatando recomendações e críticas verificadas em anos
anteriores, agora sob o contexto da interdependência e globalização. Por isso, o
tema dos direitos humanos adquiriu importância, da mesma forma que a questão
nuclear, quando, no governo de Fernando Henrique Cardoso, o país assinou em
1998 o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) medida que se recusava a acatar
desde a década de 1970.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda que partindo de premissas nem sempre coincidentes, até pelo contrário,
divergentes em suas próprias concepções, as duas instâncias mais conhecidas vincu-
ladas ao papel do Brasil no cenário mundial convergiram para apontar as ambições
e o papel destinado ao país.
Do cenário regional para o contexto global foi o caminho normal vislumbrado
por civis e militares a ser percorrido pelo país, para tornar-se um agente de primeira
grandeza no palco do poder mundial.
Se, no início da República, a figura do Barão do Rio Branco à frente de Chan-
celaria (03.12.1902 a 10.02.1912) foi determinante para definir o mapa do território
brasileiro, não se pode esquecer que, até aquele momento, o rompimento das linhas
do Tratado de Tordesilhas foi obra justamente de agentes que pouco respeitavam os
acordos assinados sobre os limites das fronteiras brasileiras.

287
Shiguenoli MIYAMOTO

Curiosamente observam-se, no caso brasileiro, a junção de duas concepções


opostas: de um lado a expansão territorial apoiada na quebra das regras do jogo à
custa de seus vizinhos, de acordo com as melhores tradições geopolíticas de que
espaço é poder, e o tamanho do território importante para qualquer país. De outro
lado, as negociações diplomáticas conduzidas pelas diversas autoridades seja atra-
vés dos Tratado de Utrecht (1713), de Madrid (1750) e de Santo Ildefonso (1763),
na defesa de incorporação dos territórios ocupados. Ou através das negociações
com a Bolívia no início do século XX para a transferência do Acre para os domínios
brasileiros.
Geopolítica e integração caminham pari passu quando se trata de realidades
internas, já que uma política só pode ser convenientemente traçada e colocada em
execução com um território ocupado, interiorizado e integrado, como ocorre no
atual contexto brasileiro.
Por outro lado, concepções geopolíticas nacionais não necessariamente coinci-
dem com empreitadas cuja pretensão é unificar interesses comuns em prol de uma
subregião ou continente. Trata-se do caso, por exemplo, da situação brasileira com
o resto do continente sul-americano.
Em situação considerada favorável diante de seus vizinhos, as ambições dos
governantes brasileiros há muito extrapolaram o âmbito regional. De fato, na his-
tória brasileira desde o século XX, as propostas para propulsionar o crescimento
e desenvolvimento brasileiros não fazem referência apenas à esfera sulamericana,
mas projetam o país para um contexto mais amplo, para assumir responsabilidades
globais.
A falta de planejamento que sempre caracterizou a política brasileira e a descon-
tinuidade das políticas públicas, a inexistência de um projeto nacional definido com
precisão e com apoio da sociedade sempre foram fatores que incidiram negativa-
mente para dificultar as pretensões nacionais. Agregue-se a esses óbices, as próprias
transformações cambiantes que afetam velozmente a conjuntura internacional.
Se, de um lado, o país possui indicadores geográficos e demográficos satisfató-
rios, o mesmo não pode ser dito em relação às suas variáveis sociais e econômicas,
aos investimentos nas áreas de ciência e tecnologia, em pesquisa e desenvolvimen-
to. De qualquer forma, deve-se considerar que, apesar das dificuldades conjuntu-
rais, há muito se pode afirmar que as demandas brasileiras escapam de seu entorno
geográfico, visando ocupar espaço maior na arena internacional. Conseguir tal
intento, todavia, já é algo bem diferente. Sobretudo quando se consideram as insta-
bilidades políticas e econômicas dos últimos anos, que contribuem não apenas para
um retrocesso do que fora alcançado em décadas anteriores, em termos de poder, de
influência e de prestígio, como também dificultam a possibilidade de implementar
políticas externa e internacional eficazes.

288
Geopolítica e integração: o brasil, o espaço regional sul-americano ...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, E. (1921). O fator geográfico na politica brasileira. Rio de Janeiro:
Monitor Mercantil S.A.
COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA E O CARIBE/CEPAL
(2018) - <https://www.cepal.org/es/temas/proyecciones-demograficas/estimacio-
nes-proyecciones-poblacion-total-urbana-rural-economicamente-activa> [Aces-
so: 07 de maio de 2018].
CORREA, P. H. R. (1965). O Brasil e as Guianas. Catanduva/SP: Irmãos BOSO
Editores e Livreiros.
CRULS, L. (2003). Relatório Cruls – Comissão exploradora do Planalto Central
do Brasil. Brasília: Edições do Senado Federal.
FREITAS, J. M. C (1999). A escola geopolítica brasileira. Lisboa: Instituto Supe-
rior de Ciências Sociais e Políticas.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA/IBGE (2018).
<https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao> [Acesso: 07 de maio de
2018].
MACEDO SOARES, J. C. (1939). Fronteiras do Brasil no regime colonial. Rio de
Janeiro: Livraria José Olympio Editora.
MATTOS, C. M. (1960). Projeção mundial do Brasil. São Paulo: Gráfica Leal
Editora.
MATTOS, C. M. (1983). O pensamento estratégico brasileiro: projeções das
influências da nossa continentalidade. Política e Estratégia, I (1) : 177-185.
MATTOS, C. M. (2000). A geopolítica brasileira: predecessores e geopolíticos.
Revista da Escola Superior de Guerra, XVII (39) : 58-82.
MINISTERIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES/MRE (1978). Tratado de Coope-
ração Amazônica. Brasília: MRE.
MORALES, E. (2006. Entrevista à imprensa brasileira. <http://atarde.uol.com.br/
politica/noticias/1108541-brasil-comprou-o-acre-por-um-cavalo,-diz-morales>
[Acesso: 04 de fevereiro de 2018].
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (1971). Metas e Bases para a Ação do Governo.
Rio de Janeiro: Gráfica da Editora do IBGE.
PRESIDENCIA DA REPUBLICA (1975). II Plano Nacional de Desenvolvimento
(1975-1979). Rio de Janeiro: Centro de Serviços Gráficos do IBGE.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (1985). Segurança e desenvolvimento ao norte
das calhas dos rios Solimões e Amazonas – O Projeto Calha Norte. Brasília:
SG/CSN.
SANTOS, N. B. (1996). Le Brésil et la Société des Nations (1920-1926). Génève:
Institut Universitaire de Hautes Études Internationales (Thèse).

289
Shiguenoli MIYAMOTO

SOARES, A. T. (1973). História da formação das fronteiras do Brasil. 3ª ed. Rio


de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora.
TÁVORA, J. (1959). Organização para o Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José
Olympio Editora.
TÁVORA, J. (1962). Uma política de desenvolvimento para o Brasil. Rio de Janei-
ro: Livraria José Olympio Editora.
TRAVASSOS, M. (1934). Projeção continental do Brasil. 4ª ed. São Paulo: Com-
panhia Editora Nacional.

290

Das könnte Ihnen auch gefallen