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Ediciones de la Universidad
de Castilla-La Mancha
Cuenca, 2018
CONGRESO INTERNACIONAL DE GEOGRAFÍA DE AMÉRICA LATINA
(9.ª. 2018. Toledo)
América Latina: últimas décadas: procesos y retos, IX Congreso Internacional de
Geografía de América Latina, Toledo – Toledo, 12 al 14 de septiembre / coordinadores
Francisco Cebrián Abellán, Francisco Javier Jover Martí, Rubén Camilo Lois
González.– Cuenca : Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha, 2018
1316 p. ; 24 cm.– (Jornadas y congresos ; 17)
ISBN 978-84-9044-317-0
1. Ordenación del territorio – América Latina I. Cebrián Abellán, Francisco,
coord. II. Jover Martí, Francisco Javier, coord. III. Lois González, Rubén Camilo,
coord. IV.Universidad de Castilla-La Mancha, ed. V. Título VI. Serie
711.4(063)
RPC
1KL
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salvo excepción prevista por la ley.
I.S.B.N.: 978-84-9044-317-0
Composición: Compobell
Abstract: Traditionally Brazil has played a significant role in the Latin American
context, in political, economic and geopolitical terms. The text addresses the
difficulties encountered by countries in the region to implement joint proposals
aimed at raising the level of development of the continent as a whole. Several
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1. INTRODUÇÃO1
Pelo menos em um aspecto as nações sulamericanas se identificam: com exce-
ção das Guianas todas as demais foram ex-colônias dos reinos português e hispâ-
nico. Na América Central, região do Caribe outras influências se fizeram sentir,
através de países como a Inglaterra, França e Holanda. Mas, nem por isso, apesar
do passado comum, os países mantiveram entre si relações que pudessem ser con-
sideradas amistosas todo o tempo.
Pelo contrário, ainda hoje perduram disputas em torno da delimitação das fron-
teiras e saídas para o mar. Vários conflitos chegaram ao uso da força e deixaram
feridas não cicatrizadas. A guerra do Paraguai (27.12.1864 a 08.04.1870), a eterna
reivindicação boliviana pela saída para o mar, perdida na guerra envolvendo Peru e
Bolívia contra o Chile (05.04.1879 a 20.10.1883), a guerra do Chaco entre Argen-
tina e Bolívia (15.06.1932 a 12.06.1935), as disputas entre Argentina e Chile pelo
canal de Beagle nos anos 1980, os choques entre Equador e Peru (1941, 1985 e
1995) são apenas alguns dos descompassos bilaterais que não foram resolvidos pelo
diálogo. Mesmo guerra contra potência externa ao continente foi travada opondo
argentinos e britânicos, pela posse das ilhas Malvinas (02.04.1982 a 14.06.1982).
Nesse contexto, o Brasil pode ser mencionado como aquele que há mais tempo
não faz uso de ameaças ou do recurso da violência para resolver suas querelas no
continente, tendo investido na diplomacia como instrumento mais apropriado das
Relações Internacionais.
Países com capacidades acentuadamente assimétricas e em estágios diferencia-
dos de desenvolvimento, os latinoamericanos nem sempre chegaram a denominador
comum para estabelecer políticas conjuntas que pudessem favorecer a todo o con-
tinente. Certamente propostas ocorreram, mas que nunca chegaram a se concretizar
1 A participação no evento e a produção deste texto contaram com recursos do Conselho Nacio-
nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), através de Bolsa de Produtividade em
Pesquisa, nível 1A, concedida ao autor.
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Figura 1 Figura 2
Brasil em 1494. Brasil em 1750.
Jose Carlos de Macedo Soares. 1939
Figura 3 Figura 4
Brasil em 1822. Brasil em 1938 e 2018.
Jose Carlos de Macedo Soares. 1939
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verificado, por exemplo, na região amazônica. Por isso, as relações com a Argentina
sempre se colocaram em primeiro plano da diplomacia brasileira. Isso não significa
que o relacionamento com os demais vizinhos ficasse relegado, mas as prioridades
sem qualquer dúvida eram com o país platino. O aumento dos intercâmbios com
países andinos e amazônicos recebeu atenção maior a partir dos anos 1970, quando
se firmaram acordos de cooperação e desenvolvimento, por exemplo, através do
Tratado de Cooperação Amazônica em 1978 (MRE, 1978).
Em termos mais amplos do sistema internacional, desde os anos 1920, o Brasil
tem se preocupado em ocupar espaços maiores, considerando-se potência média e
reivindicando lugares de direção em organizações internacionais. Foi o que ocorreu
quando se criou a Liga/Sociedade das Nações e o governo brasileiro apresentava
já naquela oportunidade demanda para uma das vagas do Conselho de Segurança.
Tendo seu pedido recusado, afastou-se da entidade em 1926 (SANTOS, 1996).
As instituições internacionais sempre preencheram parte substantiva da agenda
brasileira, verificando-se participação em todas as iniciativas regionais e oferecen-
do apoio para as que abrangiam o sistema como um todo, seja em âmbitos como
a Organização dos Estados Americanos (OEA), e agências da ONU, como a Con-
ferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), ou
outras como o Banco Mundial (BIRD), o Fundo Monetário Internacional (FMI)
e também aquelas de âmbito mais restrito com parceiros igualmente identificados
como países emergentes a partir das três últimas décadas.
Algumas características podem ser conferidas à política externa brasileira, inde-
pendentemente do tempo e dos modelos políticos adotados. A questão do desenvol-
vimento permeia de maneira permanente as políticas públicas, motivo pelo qual o
relacionamento com parceiros do mundo privilegiam sempre o tema de captação
de recursos, seja de grandes países desenvolvidos, seja de instituições multilaterais.
Daí, também, os rótulos adquiridos pelo Itamaraty de privilegiarem as relações mul-
tilaterais em um momento, de optarem pela escolha de parceiros do mundo desen-
volvido ou então aproximar-se do grupo de países pobres em outra oportunidade.
Em todas essas, o governo brasileiro sempre viu oportunidades para carrear
recursos para o país, através de investimentos ou de condições favoráveis para a
exportação de seus produtos, captando portanto divisas úteis para promover seus
planos de desenvolvimento.
As negociações diplomáticas em vez de ameaças do uso da força igualmente
fazem parte do modus operandi da diplomacia brasileira, mesmo em situações agu-
das, como se observou nas negociações para a construção da barragem de Itaipu nos
anos 1970, quando eram fortes as divergências com o governo argentino.
Por outro lado, sempre se observaram duas grandes tendências na escolha de par-
ceiros, dependendo das conjunturas doméstica e externa. Por exemplo, desde o fim da
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4. LOCI DE DECISÃO
Três instâncias devem ser consideradas quando se analisa a política brasileira
voltada para o exterior: a tradicional instituição representada pelo Ministério das
Relações Exteriores, as Forças Armadas e os setores econômicos.
Ainda que as mesmas devessem trabalhar em conjunto, visando alcançar o
mesmo objetivo, qual seja, assegurar a soberania e os interesses nacionais e projetar
o país no contexto das relações internacionais, não é isso que se observa. Dotadas
de autonomia política e estratégica, ainda que os ministros dessas pastas sejam ape-
nas o principal conselheiro do assunto junto ao presidente da República, cada ins-
tância procura definir suas prioridades conforme os interesses de cada corporação.
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5. AMBIÇÕES E DEMANDAS
Como potência média o Brasil, em face de suas configurações geográficas e de
seus indicadores, sempre pensou o seu papel sob dois prismas: no plano regional, ao
vislumbrar que sua preponderância ou hegemonia seria apenas questão de tempo,
dado as disparidades frente aos seus parceiros, mesmo o mais próximo representado
pelo país portenho.
As diferenças entre os dois sempre foram ponderadas favoravelmente ao Brasil,
em termos econômicos, demográficos e territoriais, em uma proporção aproximada
de 4 x 1. Por isso, observa-se, desde os anos 1930, literatura produzida por mili-
tares e outras pessoas ligadas a órgãos de planejamento, realçando o Brasil como
potência regional ou mesmo mundial.
Em 1921 (CARVALHO, 1921) já se encontra tal tipo de publicação, o mesmo
se repetindo em 1931 (TRAVASSOS, 1934) ou 1960 (MATTOS, 1960), além de
obras nos anos 1970 e posteriores. Mesmo no período que abrange as décadas de
1940 e no pós guerra encontram-se textos enfatizando os aspectos da grandeza
brasileira. Incluem-se nesse rol, menções explicitas, por exemplo, ao Brasil Potên-
cia no ano 2000 no Metas e Bases para a Ação do Governo, no período dirigido
pelo general Emilio Garrastazu Médici (PRESIDENCIA DA REPUBLICA, 1971 :
15-30). No período seguinte sob o mandato do general Ernesto Geisel amenizava-se
a terminologia Brasil Potência para Brasil Potência emergente (PRESIDENCIA DA
REPUBLICA, 1975 : 21-78).
Findo o regime militar em 1985 e, sob a nova conjuntura do pós-guerra fria,
demandas diversas puderam ser observadas: sob o governo de Fernando Collor de
Mello (15.03.1990 a 29.12.1992) pela própria voz presidencial a reivindicação a
uma vaga como membro permanente do Conselho de Segurança da Organização
das Nações Unidas chegou a ser feita, porém sem qualquer chance de ser discutida;
já sob o governo de Itamar Franco (29.12.1992 a 01.01.1995), o chanceler Celso
Amorim explicitava a vontade de o Brasil ocupar essa mesma vaga quando a enti-
dade completava meio século de existência. Necessidade de se adaptar aos novos
tempos, distantes do momento em que foi criada, no fechar da Segunda Guerra
Mundial.
Para isso se fazia necessário incorporar outros países, que representassem de
forma mais adequada a nova estrutura mundial do poder. A recusa dos Estados Uni-
dos da América em discutir o tema fez com que a demanda brasileira permanecesse
sem qualquer possibilidade de concretização. Tal reivindicação ressurgiria a partir
de 2003, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, com o mesmo chanceler.
No século XXI o Brasil aumentou suas demandas no sistema internacional, visan-
do ampliar sua influência como agente de grande porte, escapando do cenário regio-
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda que partindo de premissas nem sempre coincidentes, até pelo contrário,
divergentes em suas próprias concepções, as duas instâncias mais conhecidas vincu-
ladas ao papel do Brasil no cenário mundial convergiram para apontar as ambições
e o papel destinado ao país.
Do cenário regional para o contexto global foi o caminho normal vislumbrado
por civis e militares a ser percorrido pelo país, para tornar-se um agente de primeira
grandeza no palco do poder mundial.
Se, no início da República, a figura do Barão do Rio Branco à frente de Chan-
celaria (03.12.1902 a 10.02.1912) foi determinante para definir o mapa do território
brasileiro, não se pode esquecer que, até aquele momento, o rompimento das linhas
do Tratado de Tordesilhas foi obra justamente de agentes que pouco respeitavam os
acordos assinados sobre os limites das fronteiras brasileiras.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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