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Aula 12 - 01.11.2018
O art. 337 traz essas questões preliminares ao mérito (que são as questões
processuais), o § 5º do art. 337 traz um esclarecimento muito importante: em Teoria Geral
do Processo há uma distinção em relação a incompetência relativa e absoluta: a relativa
precisa precisamente ser invocada, alegada pela parte e não reconhecida de ofício pelo
juiz, caso contrário haverá a prorrogação de competência. O mesmo ocorre no caso da
convenção de arbitragem, o § 6º complementa o § 5º.
É importante, porque os casos em que o juiz pode conhecer de ofício, se não o fizer,
isso não impede que a parte alegue, mesmo em um momento posterior uma incompetência
absoluta, pois os pressupostos processuais e as condições da ação podem ser verificados,
devem ser verificados durante todo o curso do processo, inclusive de ofício pelo juiz.
Mesmo que não esteja na contestação, o juiz poderá verificar e deverá verificar, pois é mais
que um poder, é um dever do juiz verificar os pressupostos processuais e as condições da
ação e também as matérias previstas no art. 337, CPC.
Outros pontos importantes sobre legitimidade estão no art. 338 e 339 do CPC/2015.
(i) Uma de ilegitimidade mesmo, ex: a parte autora ajuiza em face da União quando
há um hospital federal, que é uma autarquia, então tem personalidade própria, então ele
(hospital) pode e deve ser a parte. É em respeito ao Princípio da Economia Processual dar
a chance ao autor de correção.
(ii) A segunda hipótese: pode até não ser uma questão de ilegitimidade, mas sim de
esclarecimento, como até de responsabilidade em relação ao fato, como diz a segunda
parte do art. 338. Ex: a pessoa descobriu que houve uma colisão com seu carro que foi
provocada por um outro veículo na garagem e a câmera filmou o carro sem identificar a
placa, e havia dois carros da mesma marca e cor no prédio e a pessoa acabou ajuizando
em face de uma delas e esta alega “não, eu estava viajando o mês inteiro”. Diante do
equívoco, é facultado ao autor a correção.
Fazendo o réu essa indicação, o autor não precisa concordar, ele pode insistir
com a parte que foi indicada na petição inicial ou então ele pode concordar com essa
indicação, e com isso tem que se abrir um prazo para que o autor se manifeste nesse
prazo de 15 dias, sendo realizada a substituição e será integrada essa nova pessoa
que foi indicada.
O § único do art. 338 apenas esclarece que realizada a substituição, como o réu
originário teve despesas, ensejará um reembolso de despesas e os honorários, só que
estes serão mitigados. É uma medida de economia para todos, não só para o autor mas
também para o réu, porque o autor deverá pagar para a parte excluída além das despesas
os honorários que não serão fixados naquele padrão normal, mas sim numa faixa entre 3%
e 5% do valor da causa.
Art. 339 do CPC/2015: Em primeiro lugar, ele pode alegar sua ilegitimidade e indicar
um substituto, se ele fizer isso, vai incidir o 338. A indicação de alguém é APENAS se tiver
conhecimento. Sabendo, e não fazendo o apontamento, pode ensejar responsabilização
pelas despesas realizadas a toa em razão da ilegitimidade.
Uma outra previsão é o litisconsórcio passivo. Após o apontamento do réu, o autor o
aceita sem excluir o réu originário do polo passivo (previsão no §2º).
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Art. 340: Usado no caso da competência. Usado para garantir o direito de defesa e
direito de ação e para isso abriu a possibilidade de que o réu possa executar a sua
contestação alegando a incompetência absoluta ou relativa no local em que ele entende
que seja competente, no foro do seu município. Sabe-se que quando uma pessoa é citada,
ela também é intimada para comparecer em audiência de conciliação e não para apresentar
a contestação, que é em momento posterior à audiência. Para o professor, esse artigo
abre a possibilidade é de antecipar uma apresentação de contestação, ainda que
centrada na questão da incompetência, (pode, na dúvida apresentar todo conteúdo da
contestação mas ele pode até protestar até para que haja depois da audiência, depois da
correção da competência e depois da própria realização da audiência de mediação e
conciliação, que ele possa apresentar, de forma definitiva, a sua contestação) → essa é
uma forma de interpretação pois o dispositivo é, de fato, confuso.
Obs: a parte que entende que há incompetência pode apresentar contestação no
local que ela entende competente, em regra, no foro de seu domicílio e o órgão local,
perante o qual foi apresentada a contestação, irá dar ciência e transmitir o teor da
contestação para o juiz da causa o mais rápido possível, de preferência, conforme o código
prevê, de modo eletrônico.
Tem outra regra: se o réu tinha razão quanto à competência, haverá a prevenção do
órgão judicial, porque já se determina que haja distribuição. Se houver mais de um órgão, já
há o encaminhamento para um deles, sendo que ficará prevento aquele que recebeu a
contestação e tomou as providências de comunicação, se decidido que é o juízo
competente.
Nos casos em que o autor e o réu já tenham se manifestado dispensando a audiência,
terá de ser apresentada a contestação desde logo (porém, o professor também acha que
nesses hipóteses cabe correção da inicial posteriormente, até abrindo prazo novamente).
Art. 341: Não pode fazer uma simples negativa geral. Precisa refutar,
especificamente, cada fato. Os fatos que não forem negados, serão considerados
verdadeiros porque há uma presunção de confissão dos fatos.
Segundo o art. 341 o que não pode é apresentar um fato que, embora você
alegue, esteja em contradição com documentos que você juntou. Apesar de ser
possível a contradição, por exemplo, de alegar que o contrato é nulo, inválido e discutir, ao
mesmo tempo, as cláusulas do contrato, a partir do princípio da eventualidade.
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Em razão da carência das pessoas que assessora, a Defensoria Pública tem essa
prerrogativa de poder fazer uma negativa geral. Em segundo lugar, quando há acordo
especial ou advogados atípicos. São hipóteses em que a pessoa não escolheu o seu
próprio advogado. Imaginem, por exemplo, uma citação por edital,e aí não há o
comparecimento, e é nomeado um curador especial, que não sabe dos fatos realmente.
Art. 342: No inciso II, mesmo que o autor não alegou a incompetência absoluta, o juiz
pode reconhecer de ofício.
No inciso III, quando houver previsão legal no sentido de que autorize ao réu deduzir
novas alegações após a contestação, como no caso da prescrição.
Além da defesa propriamente feita, o réu pode reconvir, ou seja, apresentar sua
demanda, havendo uma cumulação de demandas contrapostas.
A conexão com a ação principal precisa haver para que haja a reconvenção.
Uma outra coisa importante é que tem que se restabelecer o contraditório, o autor
tem que ter um prazo para apresentar a sua defesa, e uma outra coisa importante é
que embora cumulada as demandas, elas passam a ter uma certa autonomia.
AULA 13 - 13.11.18
Revelia
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É um requisito lógico e não está explicitamente previsto no art. 344. Não pode imputar
a revelia a alguém que não foi citado.
Efeitos da revelia
A revelia, em si, é um fato jurídico, que se dá no plano da realidade fática pois alguém
deixou de fazer algo. O fato é diferente dos efeitos jurídicos decorrente desse fato.
A presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor é o principal efeito da
revelia, mas não é isso que é a revelia. Presunção de veracidade é o efeito decorrente da
revelia, a revelia em si decorre da ausência jurídica de contestação. O fato jurídico que
constitui a revelia é a ausência jurídica de contestação.
Presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor → art. 341 do CPC traz a
obrigação da impugnação específica que traz a mesma presunção, chamada pelo Jorge de
“micro revelia”. Se a ausência de contestação implica presunção de veracidade dos
fatos alegados, é como se o réu não tivesse se desincumbido do ônus da
impugnação especificada em relação a todos os fatos alegados.
Se o advogado faz uma contestação em que ele não consegue impugnar nada, a
gente vai chamar essa contestação de negativa geral. Agora, normalmente, a grande
diferença vai ser a extensão. Na revelia, a presunção se dá a todos os fatos alegados.
No ônus da impugnação especificada da contestação, vai ser em relação àqueles
fatos especificamente não impugnados.
Porém, presumir os fatos não significa julgar procedente o pedido autoral.
As matérias que não constituem matéria de ordem pública vão ficar preclusas. Por
exemplo, se você deveria arguir nulidade do contrato, você perdeu a possibilidade de alegar
esse tipo de matéria ao seu favor.
Vejam que quando o réu revel não tem advogado nos autos, não tem a necessidade
de intimar a parte dos atos processuais praticados; eles começam a correr da publicação.
Normalmente, publica e intima; nesse caso, não precisa intimar.
A questão é: como réu revel pode ter advogado? A revelia não será a ausência
completa durante o processo, e sim a ausência jurídica de contestação, portanto pode haver
revelia, mesmo com manifestação no processo.
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Possibilidade de julgamento antecipado do mérito → art. 355, é o quarto efeito da
revelia. A revelia permite que o processo tenha um fim antecipado. Ela permite, em
alguma medida, “pular etapas”; e, esse salto de etapas é o que chamamos de
julgamento antecipado do mérito.
Não incidência dos efeitos da revelia → Existem casos em que os efeitos da revelia
não incidem. Previsto no art. 345. Os casos são:
Obs.: Hoje em dia, a gente não entende mais que qualquer coisa que a Administração
Pública se envolve significa que o interesse é indisponível. A Administração Pública
também se envolve em relações paritárias; em relações tipicamente de direito
privado. E, nesses casos, a despeito de haver a Administração Pública envolvida,
os direitos não são indisponíveis; os direitos são disponíveis. Nesse sentido, o
STJ (REsp 1.084.745) já afirmou que os efeitos da revelia também podem incidir
nas hipóteses de litigância contra a Fazenda Pública, desde que se tratem de
direitos indisponíveis.
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caso paradigma é o REsp 1.260.772 e na ação de desapropriação o
processo paradigma é o REsp 1.466.746. O efeito principal, no caso, é a não
utilizar a presunção de veracidade.
Providências preliminares
Providências
Portanto, a despeito da revelia, o autor vai produzir prova do direito alegado. Então,
uma providência que o juiz pode tomar nesse caso é intimar o autor para produzir prova do
direito alegado (art. 348).
art. 349 → pode intimar o próprio réu para que ofereça contraprova.
O autor pode falar assim: “contratei com ele, mas não me pagou”. O réu se mantém
revel, não contesta. Digamos que, a princípio, esses fatos serão considerados
presumidamente verdadeiros. Só que é dada ao réu a oportunidade de oferecer
contraprova. É como se houvesse uma espécie de inversão do ônus da prova? Num
primeiro momento, se é o autor que alegou, é ao autor que incumbia a prova do fato
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constitutivo do seu direito. Mas como ocorreu o efeito da revelia, cabe agora ao réu
provar em sentido contrário.
Há, portanto, a chance de contraprova, pois o réu busca elidir uma presunção. É
possível que o réu revel traga aos autos uma prova que demonstre que a presunção de
veracidade sobre a qual o juízo poderia construir seu convencimento não se sustenta, pois
o réu traz aos autos prova que comprove a inocorrência do fato - como no caso concreto,
poderia ser com a comprovação por meio de recibo de pagamento assinado pelo autor. É
importante destacar que o réu segue revel, ele não contestou.
É possível apresentar peça específica como mecanismo de prova? Não. Não são
apresentados argumentos, não se reabre a possibilidade do réu revel se defender! Abre-se
a oportunidade para a juntada de prova.
É lícita a produção de provas. Aqui, a única coisa que se abre ao réu é a possibilidade
de produção de prova – para que não se julgue com base em uma ficção jurídica, como a
presunção de veracidade. Trazendo isso na forma de uma petição de juntada, sem novos
argumentos, construção de narrativa ou qualquer outra comunicação.
Quando o réu alega defesa de mérito indireta ou defesa preliminar, nos dois
casos a medida adotada pelo juízo é a mesma. Intima-se o autor para que ele se
manifeste em réplica.
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AULA 14 – 22.11.2018
1. Fase saneadora
fase saneadora = fase ordinatória do processo.
1.1. Providências preliminares
As providências preliminares do art. 347 têm basicamente dois grandes objetivos de
saneamento e organização do processo, quando falamos em saneamento, estamos falando
basicamente de sanar vícios, de limpar, de superar vícios. É uma ideia de limpeza de
eventuais irregularidades processuais. A ideia é estabelecer exatamente quais são os
pontos controvertidos, quais são as matérias que estão sendo discutidas em juízo, o
que é matéria controvertida, o que não é matéria controvertida.
É importante, então, que o juiz consiga organizar o processo definindo quais são os
pontos controvertidos, e aqui também ele abre a oportunidade do contraditório, na medida
em que ele organiza o processo, ele abre as oportunidades para que as partes se
manifestem a respeito desses pontos controvertidos.
1.1.1. Providência preliminar de saneamento
Artigo 352. Esse artigo é bastante amplo abrindo mais uma oportunidade para que o
juiz corrija vício do processo. Hoje que essas tentativas de sanar vícios ao longo do
processo são cada vez mais constantes e mais intensas, e a ideia é garantir que o
processo caminhe para o julgamento de mérito.
Obs.: O direito processual civil, quando fala de nulidade, não se refere a essa
nulidade da mesma maneira que o direito civil se refere. No direito civil, temos,
basicamente, nulidades relativas e absolutas (anulabilidade e nulidade,
respectivamente); no direito processual civil, a tendência é de que toda nulidade,
todo ato, a despeito de qualquer vício que o macule, seja sempre sanado.
Exemplos como ilegitimidade ativa, vício de citação, porque até mesmo a citação
pode ser sanado com o comparecimento espontâneo nos autos. Normalmente, os vícios
processuais tendem à correção.
Controvérsia quanto ao prazo de 30 dias do art. 352: Tem aqueles que dizem que
pode ser até 30 dias. Fundamento: está na lei. Já a Teresa Arruda sustenta que o prazo
pode ser dilatado em razão da instrumentalidade das formas. Entretanto, devemos ficar com
a ideia de que o prazo foi expressamente estabelecido pelo legislador como um prazo
peremptório, que não admite dilatação.
Lembrando que o juiz determina, mas não corrige. A determinação do juiz será
direcionada a uma parte. Ex.: se o advogado não tem mandato nos autos, o juiz vai
determinar que aquele seja providenciado.
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1º providência: a apresentação de defesa de mérito indireta (art. 350), isto é, de
fatos impeditivos, extintivos e/ou modificativos do direito do autor: o juiz vai intimar o
autor para que, no prazo de 15 dias, apresente réplica, podendo também juntar novos
documentos e requerer a produção de provas.
Essas duas primeiras providências, portanto, são consequências diretas do que o réu
manifestou, portanto. Todas essas defesas (processuais e de mérito) têm como
desdobramento a mesma providência preliminar.
Importante! Os art. 348 e 349 do CPC tratam das hipóteses em que o réu é revel
mas não incidem os efeitos da revelia.
Quando não se incidem os efeitos da revelia, o juiz tem duas providências a tomar:
Autor e réu. Duas providências: uma providência é chamar o autor para produzir
provas. A outra providência é intimar o réu para produzir provas. Uma está no artigo 348
(autor) e a outra no artigo 349 (réu). Nessas duas circunstâncias, não incidirão os
efeitos da revelia, o juízo vai determinar tanto ao autor como ao réu que se
manifestem no interesse de produção de provas.
O Professor Humberto Dalla, fala de cinco caminhos: (i) extinção sem resolução
do mérito; (ii) extinção com resolução do mérito; (iii) julgamento antecipado do
mérito; (iv) julgamento antecipado parcial do mérito; e (v) decisão saneadora.
Alguns nomes da doutrina dizem que são três caminhos: extinção com ou sem
resolução do mérito e bota só extinção do processo, colocam julgamento antecipado do
mérito apenas, tiram o total ou parcial, e sobra a decisão saneadora.
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saneamento do processo e, na mesma ocasião, o julgamento do processo. Por isso é
o julgamento conforme o estado, é do jeito que está.
Julgar do jeito que está não significa julgar de qualquer forma, significa que o
processo, por algumas razões, está pronto para ser julgado. Ao pular as quatro fases
(postularia, saneadora, instrutória e decisória), quando a gente traz o julgamento para a
fase saneadora. Só a fase instrutória é perdida.
Quando a gente antecipa a fase decisória, a gente abre mão da fase instrutória,
porque vocês vão ver que têm uma razão de ser todos esses casos, porque, de algum
modo, eles dispensam essa fase instrutória. Se eles dispensam a fase instrutória, não
tem porque arrastar o processo para a fase instrutória. Esse é o raciocínio que está
por trás de todas as cinco hipóteses.
Essa noção de morte prematura do processo é o que faz o julgamento ocorrer nesse
momento e não na fase decisória. Então, é perfeitamente visível que essas causas de
julgamento do processo, que estão nos artigos 485 e 487 (incisos II e III apenas) se
manifestam desse modo e nessas circunstâncias, fazendo com que o juiz profira sentença.
Tanto nas hipóteses do 485, como as hipóteses do 487, incisos II e III não
demandam instrução probatória.
O segundo caminho está no art. 487 que é da extinção com resolução do mérito –
é o artigo que a gente tem como clássico artigo de sentença com resolução de mérito. Mas
aqui no art. 354 ele faz uma ressalva, ele não pega o art. 487 todo, e eu vou dizer, mais à
frente, o porquê disso. Ele só pega os incisos II e III.
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Obs.:. § único do art. 354 → dizendo o seguinte: “olha, essa medida pode ser
tomada de modo parcial”, ou seja, é possível que haja uma extinção parcial do processo
com ou sem resolução do mérito.
Exemplo: Digamos que a pessoa que ajuizou a ação está cobrando prestação de
alimentos de quatro anos. Nesses quatro anos (hipoteticamente, não estamos em um
cenário perfeito), dois anos de prestação de alimentos prescreveram e outros dois anos
não. A gente tem metade do direito prescrito; é um pedido só, mas ele consegue se
decompor, porque metade dele foi atingido pela prescrição. O fato de somente a metade da
pretensão autoral ter sido atingida pela prescrição, ter sido “tragada” pela transcrição, não
impede que seja proferida essa decisão. É exatamente isso que diz o parágrafo único: “é
possível que seja proferida a decisão parcial nos casos em que ela será impugnável
mediante agravo de instrumento”.
Está claro que aqui se trata de decisão interlocutória, pois há conteúdo decisório.
Porém, o caput do art. 354, CPC, afirma que “o juiz proferirá sentença”. Ao afirmar isso, o
dispositivo está se referindo a um pronunciamento que extingue o processo por completo,
seja com base no art. 485, seja com base no art. 487, CPC.
Porém, o parágrafo único muda a terminologia e diz assim: “A decisão a que se refere
o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável
por agravo de instrumento.”, ou seja, diminui a extensão da decisão e diz qual o recurso
pertinente: agravo de instrumento – recurso que desafia decisão interlocutória.
Vocês vão me perguntar: que diabos é uma e a outra? Toda a vez que a gente falar de
mérito, uma palavra tem que vir na nossa cabeça: pedido. Mérito é pedido. Julgamento do
mérito é análise do pedido. E quando a gente está falando de sentença verdadeira de
mérito, sentença de mérito pura, a gente está falando das sentenças em que o pedido foi
julgado procedente ou improcedente. Então eu pedi alguma coisas, o juiz julgou procedente
ou improcedente, eu tenho uma sentença de mérito genuína, verdadeira.
Agora, existe as chamadas sentenças de mérito impuras, que são aquelas que o
legislador estabeleceu, elevando ao status de sentença de mérito, mas efetivamente não
houve a apreciação do pedido. Que casos são esses? É o que está previsto no inciso II e III
do 487 do CPC: prescrição e decadência; e sentença homologatória de solução consensual.
Em ambos os casos, nós não temos a apreciação do pedido, mas o legislador determinou
que isso também é sentença de mérito.
Qual é o desdobramento disso? O art. 354 e o art. 355 dividem essas sentenças
de mérito. O art. 345 que trabalha com a extinção do processo, ele pega essas
sentenças de mérito falsas, que são as do inciso II e III do art. 487. E o art. 355 pega
as sentenças de mérito verdadeiras, que é a do art. 487 inciso I.
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Tanto é que o art. 355, caput, diz: “o juiz julgará antecipadamente o pedido”. Vejam,
aqui está a sutileza do negócio, ele não faz menção ao art. 487, inciso I, ele diz
simplesmente: “o juiz julgará antecipadamente o pedido”. Por quê? Por que no art. 354 não
tem julgamento do pedido. Embora seja julgamento de mérito, não tem análise do pedido. O
que se tem é uma sentença de mérito por equiparação, porque o legislador quis chamar
esse tipo de sentença de mérito.
Então, quando a gente tem uma sentença de mérito legítima, verdadeira, genuína,
pedido julgado procedente ou improcedente, nós podemos ter um julgamento antecipado
total de mérito.
Pode acabar o processo ali. Em que circunstâncias isso pode acontecer? Em dois
casos: I – quando não houver necessidade de produção de provas; II – quando o réu
é revel, incidindo os efeitos da revelia.
Por exemplo, discutir matéria unicamente de direito, não tem nenhuma discussão
fática. O objeto da prova são fatos, ninguém prova direito, não é objeto de prova. Se é
direito estadual, municipal, você tem que juntar a legislação. Mas, ainda assim, ainda não é
definitivamente prova.
Então, quando o art. 355 CPC fala: “desnecessidade de produção de outras provas”, a
redação é um pouco imprecisa. Porque quando falo desnecessidade de produção de outras
provas, parece que ele já produziu provas e precisa de mais outras. Esta é uma hipótese,
mas há hipóteses de processo que sequer precisam de provas. Às vezes, não produziu
nenhuma e não precisa de nenhuma prova, porque é questão exclusiva e unicamente de
direito.
Por exemplo, uma controvérsia sobre uma cláusula contratual. Eu tenho um contrato
em que as partes estão discutindo, não o descumprimento em si, mas a interpretação de
uma cláusula (uma parte diz uma coisa e a outra parte diz outra). Não existe prova, não
existe fato, estão discutindo uma interpretação contratual. Aquilo ali não é objeto de prova,
não se pretende produzir provas com isso, autoriza-se o julgamento antecipado do pedido.
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O principal efeito de revelia é a presunção de veracidade dos fatos alegados.
Mesmo sendo objeto de prova os fatos controvertidos, aos incidirem os efeitos da
revelia, a presunção de veracidade dos fatos alegados faz com que ocorra a
desnecessidade de produção de provas. Dessa forma, não é necessário passar a fase
instrutória, motivo pelo qual o magistrado pode proceder ao julgamento antecipado
do mérito com base no artigo 355, CPC.
O julgamento antecipado de mérito, por si só, não pode ser cerceamento de defesa,
porque é uma previsão legal. Por si só, ele não pode constituir cerceamento de defesa. Mas
existe uma hipótese bastante interessante em que é um caso de cerceamento de
defesa, e que a jurisprudência que se construiu sobre isso já assentou entendimento,
que é o seguinte: “Se o juiz adotar a técnica do julgamento antecipado de mérito e
julgar o pedido improcedente por falta de provas, aí é cerceamento de defesa”.
Acontece pouco, mas já chegou ao STJ.
Quarto caminho. Agora, para o parcial. O julgamento antecipado parcial de mérito está
no artigo 356. Ele dá duas hipóteses nas quais podem ocorrer o julgamento antecipado
parcial de mérito. A primeira hipótese é quando um ou mais dos pedidos formulados
ou parcela deles mostrar-se incontroverso.
A gente está falando, das duas uma, ou de uma cumulação simples de pedidos
própria, da espécie de cumulação simples; ou a gente está falando de um pedido único,
mas que pode se decompor em parcelas, por exemplo.
Exemplo de cumulação de pedidos: Locação. O sujeito formula uma ação, ajuíza uma
ação de despejo cumulada com uma ação de cobrança dos aluguéis atrasados em face do
seu inquilino lá. Então, ele está pedindo que seja determinada uma ordem de despejo para
o cidadão e que ele também pague uma quantia certa. O réu, locatário, está desesperado
com aquela situação, sabe que está devendo, não nega que está devendo, uma pessoa
que reconhece suas dívidas, e na contestação a grande preocupação dele é não ser
despejado. E aí ele se apega à cláusula contratual que diz que ele deveria ter sido
notificado com antecedência mínima e que essa notificação, esse prazo, não foi respeitado.
Com base nessa pequena brecha do pacto locatício, ele formula toda a sua defesa. A
defesa dele é o seguinte: “Não posso ser despejado, porque não foi observado o prazo
mínimo ajustado no contrato para que eu fosse notificado extrajudicialmente”. Ele fala só
isso. A respeito dos aluguéis atrasados ele não fala nada, passa batido.
O réu, após o trâmite, junta contestação com recibos – relativos aos débitos
apontados pelo autor como devidos. A juntada desses recibos, por si só, é o bastante para
que o juiz julgue um dos pedidos, o pedido relativo à cobrança. Julgando improcedente este
pedido de cobrança do autor. Ocorre que o processo não acaba, pois ainda há um pedido
que dá continuidade ao processo – o pedido de despejo.
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mencionado, não havia necessidade de outras provas, a única que seria necessária, já
estava constituída no processo – que eram os recibos dos aluguéis.
O quinto cenário é a decisão saneadora (art. 357). Vejam que é uma sequência
bastante lógica, pois é um artigo para cada uma das hipóteses, na verdade, as duas
primeiras hipóteses estão no mesmo artigo.
O art. 357 diz o seguinte: “não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste
capítulo”, ou seja, não sendo o caso de extinção do processo sem resolução do
mérito, extinção com resolução de mérito, julgamento antecipado total de mérito, ou
antecipado parcial de mérito, não sendo o caso de nenhum desses caminhos
anteriores, o art. 357 diz que deverá o juiz, em decisão de saneamento e organização,
tomar algumas providências. Uma das principais providências é a delimitação de
questões controvertidas.
O fato de ela estar se antecipando em relação à fase instrutória diz tudo a respeito
desses artigos que estudamos hoje, pois esse é o ponto central que atravessa todos esses
dispositivos, que é a desnecessidade de uma fase instrutória, seja porque não é necessário
mais produzir nenhuma prova, seja porque os fatos são presumidamente verdadeiros, seja
porque a questão discutida em juízo é unicamente de direito. Em todas estas circunstâncias
o que há de comum é a desnecessidade de uma fase instrutória e é por isso que
conseguimos promover esse julgamento conforme o estado do processo.
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