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INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo fazer um estudo sobre a realidade de nossas
então, um conceito de arte que nos permita conceber a presença dela nas mais
desfavoráveis condições.
secularização, bananalização, etc. Busca formas para eliminar essas situações com o intuito
1 A ARTE
1.1 CONCEITUALIZAÇÃO
Quando usamos o termo indispensabilidade queremos frisar, enfaticamente, que não existe
liturgia verdadeira e eficiente quando a arte é prescindível. É certo que, à primeira vista,
transcendente.
Outro momento extremamente difícil hoje é poder falar de arte sem que se tenha a
pseudo-impressão de que a palavra arte nos reporte a realidades de uma classe social
evangelho, etc. Visão obtusa do verdadeiro papel e conceito da arte podem facilmente nos
levar a tais impressões. Mas, ainda assim, como é possível tratar de arte na favela? Existe
arte na miséria? Pode a arte desempenhar algum papel significativo na paupérie? Somente
afeta o conceito. Consideremos ainda uma situação mais específica, a situação de uma ação
contexto de toda a missa ou no de uma ação específica, esta ação de graças consiste num
7
conjunto de AÇÕES que deve partir do desejo intrínseco de agradecer a Deus, não só em
ser impregnadas do desejo incontido de ir em direção a Deus. Tal será possível a partir
da entrega de si à busca da superação de nossas “AÇÕES”, concepção de vida esta que nos
portanto, e prenúncio de arte verdadeira, toda ação cuja finalidade seja a superação.
atividade ou ocupação, levará, cedo ou tarde, ao aperfeiçoamento que, por sua vez,
desse caminho, chegar-se-á à arte pura e, como tal, ela desempenhará o seu divino papel de
simbolo litúrgico, ou seja, elo entre o divino e o humano. Constatado que este “ato
indubitavelmente, a um “ato” de arte – não pode ser concebível ação litúrgica dissociada da
arte.
1.2 APLICAÇÃO
A estética autônoma, e por isso se entende a estética pela estética, deve ser
Voltamos a insistir – por mais que muitos, por razões insondáveis, encontrem
“Se a música for como de fato requer a liturgia, será um sinal que nos leva do
visível ao invisível”. 2
A extrema qualidade com que algo simples e elementar é feito eleva este algo a
significação de obra de arte. Porém, muito mais importante que isso é não cairmos no erro
de concluirmos que algo, por ser complexo e rebuscado, obrigatoriamente seja uma obra de
arte.
execução sofrível de obras de Mozart, por exemplo, a obra de arte não se realizou. Foi
como se tivéssemos ido a um museu observar uma estátua empoeirada, mal iluminada,
atrás de um vidro sujo. Se não tivermos olho clínico para observarmos o objeto, apesar das
1
GELINEAU, J. Em nossas assembléias: Teologia da missa. São Paulo: Paulinas, 1975, p. 234
2
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Pastoral da música litúrgica no Brasil. Rio de
Janeiro: Paulinas, 1976 (Série Documentos da CNBB 07) p.17
9
cânticos mais complexos, cantemos aquilo que possamos fazer com a máxima qualidade.
Para tanto, onde quer que estejamos, é preciso que tenhamos sempre alguém para orientar
execução no instrumento, bem como as leituras e outros ritos, sejam realizados sempre
relação homem-Deus.
3
CHEUICHE, Dom Antônio do Carmo. Na fronteira com o sagrado. Cultura e Liturgia, Porto Alegre, p.1
4
Idem, p.3
10
E ainda:, “em todas as culturas, a arte constitui a mais excelsa linguagem, o único
idioma, com que comunicar experiências interiores do ser humano, tanto em meio ao
linguagem não impede que o mais simplório dos seres humanos não possa realizá-la em
seu universo e ir ao mais excelso de seu universo, ultrapassando seus próprios limites.
Universos devem ser expandidos e limites rompidos, e é dever e obrigação dos pastores da
Igreja catapultar a cada ser humano sob seu cuidado a superar-se a si mesmo.
presentes na celebração.
Diante do exposto não nos podemos equivocar. Não estamos propondo posturas
Infelizmente no canto de hinos parece que houve a ilusão de que, para o povo
participar, as palavras devem ser fáceis. Para muitos lugares pode ainda ser
válido um comentário feito dez anos atrás: "Música composta ao redor de três
acordes, teologia pobre e espiritualidade fraca ainda ocupam o primeiro lugar".
(grifo nosso)7
5
CHEUICHE, Dom Antônio do Carmo. Na fronteira com o sagrado. Cultura e Liturgia, Porto Alegre, p.3
6
MALDONADO, Luis; POWER, David. Arte e símbolo na liturgia. Petrópolis: Vozes, 1970, p.6[158]
7
POWER, David. Música e experiência de Deus. Petrópolis: Vozes, 1970. p.150[294]
11
Levarmos ao povo uma linguagem ou expressão mais elevada nos dá mais trabalho,
pois compete ao que conduz a tarefa explicar, esclarecer e ampliar os horizontes do povo.
No entanto, é comum ouvirmos tais argumentações: “esta palavra o povo não entende!” ou
“o povo não fala assim!” E de fato nunca entenderá e muito menos falará se não houver
aquele que o instrua. Descer até o povo? Sempre. Estar com o povo? Sempre. Estagnar
imediatamente àquela idéia do caminho que nos leva à arte, elo de comunhão entre Deus e
o homem. Se o homem é capaz de Deus é inconcebível que não seja capaz da arte.
8
ALCALDE, Antonio. Canto e música litúrgica: Reflexões e sugestões. São Paulo: Paulinas, 1998, p.70
12
Cremos que a situação da liturgia hoje, sobretudo no Brasil, é gravíssima. Para que
mais amplo. Somente com amplos parâmetros de comparação poderemos dar-nos conta
da situação que vivemos. O profundo e detalhado estudo dos documentos oficiais da Igreja
mudança.
Em nossa opinião, a causa primeira que desencadeou esse processo, que teve início
em princípios da década de 1970, foi o desejo louvável de aproximar a Igreja ainda mais
dos desfavorecidos com uma linguagem nova e cativante. Porém, apesar da excepcional
decisão, foi verdadeiramente sem preparo e sem uma avaliação profunda das
9
MALDONADO, Luis; POWER, David. Arte e símbolo na liturgia. Petrópolis: Vozes, 1970, p.7[159]
13
Essa postura fez com que a Igreja viesse inconscientemente a contribuir com o
É mister que entendamos de uma vez por todas certos conceitos simples e que não
permitamos mais confusões insipientes. Cremos verdadeiramente ser vital uma campanha
discussões sobre assuntos que já deveriam estar fora da pauta há muito tempo.
Uma liturgia complexa e formalista nada tem a ver com uma liturgia simples e
É preciso que os pobres sejam simples e nobres e os ricos sejam simples e nobres e
que então ricos e pobres se encontrem nesse universo para que os corações de ambos sejam
tocados.
10
MALDONADO, Luis; POWER, David. Arte e símbolo na liturgia. Petrópolis: Vozes, 1970, p.7[159]
11
HUIJBERS, Benard. Arte e símbolo na liturgia. Petrópolis: Vozes, 1970, p.122[274]
14
A máxima “é difícil para o povo” normalmente advém dos que confundem pobreza
“Confunde-se o bem feito com luxo, com falta de pobreza, com ostentação. Porém,
não colocamos flores murchas no altar – seria um desrespeito. Pois a música sem preparo
Não temos intenção de, neste momento, lançarmos polêmica ou abrirmos debates.
constituída de elementos banais (efêmeros) provoca uma natural fome voraz por
tempo. Os cantos selecionados não mais serão cantados até o ano seguinte. (grifo
nosso)13
expressão que poderá vir a ser artística, ainda que rudimentar – no caso de favelas, por
litúrgica.
Isso não significa que seja dispensável o bom senso na condução do processo.
Cremos ser ainda necessário expormos algumas situações que deixarão claro as
Por exemplo, orientações como: “a música deve expressar a fé autêntica do povo” nos
13
ALCALDE, Antonio. Canto e música litúrgica: Reflexões e sugestões. São Paulo: Paulinas, 1998, p.23
14
Idem, p.30
15
Idem, p.31
16
Já em meados dos anos 1970 o próprio Papa Paulo VI juntamente com muitos
outros advertiam sobre os problemas que então já assustavam, e estavam apenas iniciando.
O Santo Padre, papa Paulo VI, dezenas de vezes o tem reclamado, em alocuções
e documentos escritos. Lamentação universal brotando, especialmente, das
sensatas observações de pastores (Cardeais, Bispos, e Superiores religiosos) e de
artistas, musicistas e regentes, no seio das civilizações ocidentais,
acentuadamente latino-americanas. Liturgistas de fama internacional o estão a
reclamar: “à hora de uma convulsão mundial que sacode todos os domínios da
vida religiosa... como raramente se deu no curso da história, será necessário, a
fim de resolverem-se os problemas da música sagrada, haja compositores... da
ressonância daqueles cujas obras ultrapassaram o tempo...”, proclamava o Prof.
Dr. Carlos Winter, de Friburgo, no Mozarteum de Salsburgo, durante o
Congresso Internacional de Música Sacra, em setembro de 1974.17
forma medíocre e superficial, mas satisfaz-se com sua mediocridade). Ao serem citadas, a
seguir, algumas das máximas expressões da arte humana, não podemos nos permitir
preconceitos que nos fechem em um universo no qual não alcancemos todo o espectro das
manifestações humanas.
O critério que prevalece não era outro além do fato de ser uma melodia
pegadiça, rítmica, vivaz e que o povo participa. Impunha-se, muitas vezes, o
critério do “agrada-me”, e a canção “agradava” quanto mais se parecesse com os
ritmos e melodias que escutávamos continuamente pelo rádio, pela televisão ou
na discoteca. Teríamos que estudar a partir da Psicologia as lembranças e
18
SOUZA, José G. de. Tradição musical brasileira: princípios normativos para se adaptar essa linguagem à
liturgia: preparação e formação artística. Revista de Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1976 (set./out.de 1976),
p.25
18
reforma conciliar.
É evidente que tais melodias advindas da música própria para outros ambientes
sendo uma balada romântica ao estilo Celine Jones. A presença do texto religioso,
“O princípio da íntima ligação do canto com a ação litúrgica pede que sejam
19
ALCALDE, Antonio. Canto e música litúrgica: Reflexões e sugestões. São Paulo: Paulinas, 1998, p.45
20
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Pastoral da música litúrgica no Brasil. Rio de
Janeiro: Paulinas, 1976 (Série Documentos da CNBB 07) p.26
21
ALCALDE, Antonio. Opus citatum, p.24
19
Por mais que inicialmente possa parecer estranho ou difícil entender, precisamos
também inteiramente responsável por todos os efeitos emocionais que produz no indivíduo.
Queremos dizer o seguinte: A música somente desempenha de fato seu papel, quando,
inteiramente despida de texto, for capaz de traduzir toda a gama de sensações emotivas e
hoje sob o jugo escravista do texto na “música”. Conseqüência disso é a concepção por
parte destes de que a música é boa quando o texto (letra) agrada e ruim quando o texto não
agrada.
desconhecida – francês, por exemplo – devemos perceber que se trata de uma canção de
amor ou uma canção cômica pelo caráter da composição. Ao termos acesso ao texto
bairro carente, ou mesmo em outro ambiente social. Dentre algumas pessoas do bairro que
compositor de sambas enredos. Demos a estes artistas do lugar a seguinte tarefa: compor a
música para o Santo, o Cordeiro de Deus e o Ato Penitencial. Porém ao serem apresentadas
as composições para a apreciação deverão ser apresentadas sem o texto, apenas a melodia
20
for possível identificar qual das composições é o Santo, o Cordeiro e o Ato Penitencial.
ouviremos dos desconhecedores um “mas pra que isso!” ou “isso é impossível!” ou ainda
eclesiais e lhes pedíssemos que compusessem apenas uma melodia de caráter majestoso,
outra de caráter jocoso, outra de caráter melancólico, outra de caráter lúgubre, outra
marcial e ainda uma de caráter pastoril? Esses elementos musicais elementares da lida
Resta-nos perguntar: O que sobrou? Basta retirarmos o texto de tudo o que ouvimos pelas
rádios e em nossas igrejas e observemos o que sobra. Constataremos que algo muito
próximo do nada.
Eles consagravam todas suas forças, todos seus esforços e todo seu amor a
construir templos e catedrais, ao invés de dedicarem-se à máquina e ao conforto.
O homem de nossa época dá mais valor a um automóvel ou a um avião que a um
violino, mais importância ao planejamento de um aparelho eletrônico que a uma
sinfonia. Pagamos preço bem alto por aquilo que nos parece o cômodo, o
indispensável; sem nos darmos conta, rejeitamos a intensidade da vida em troca
da sedução enganadora do conforto - e aquilo que verdadeiramente perdemos,
jamais recuperamos. 22
quadro.
22
PRINCÍPIOS fundamentais da música e da interpretação: o discurso dos sons: a música em nossa vida,
p.13
21
arte-liturgia.
acima. Em primeiro lugar não devemos confundir “variedade de melodias” com o que
certamente nos poderá passar pela cabeça: variedade de textos (letras). Uma vez que o
texto do Santo ou do Cordeiro é sempre o mesmo – ou pelo menos deveria ser, já que os
ritual destes textos – somente o caráter da composição musical deverá e poderá dar a
23
ALCALDE, Antonio. Canto e música litúrgica: Reflexões e sugestões. São Paulo: Paulinas, 1998, p.73
22
quantitativamente, mas sim significativo qualitativamente. Hinários com 400, 500, 600 ou
Podemos observar que o que o povo canta, quando canta, está apoiado na condição
contando com a obviedade da linha melódica, pobre, apoiada numa estrutura esquelética
24
ALCALDE, Antonio. Canto e música litúrgica: Reflexões e sugestões. São Paulo: Paulinas, 1998, p.26
25
POSTMA, Joel. Música litúrgica na celebração eucarística desde o Concílio Vaticano II. Revista de
Liturgia. São Paulo: Paulinas: 1986 (jul./ago.de 1986), p.14
23
participação da assembléia no canto, pois faz parte de uma tradição cultural, que firma e
confundir com aquela orientação bem intencionada, porém desastrosa: “o canto deve ser
conhecido pelo povo”. Se o canto deve ser invariavelmente conhecido pelo povo, onde e
como ficará a missão dos pastores de dar ao povo a conhecer? Algo é desconhecido até que
se conheça.
A experiência dos últimos anos nos mostra claramente que muitos dos cantos
usados, em qualquer parte da Celebração Eucarística, não possuem a qualidade
que os torne compatíveis com a liturgia. Eles não correspondem à grande norma
da Igreja que diz que um canto é tanto mais litúrgico, quanto mais se engaja no
ato litúrgico.
Finalmente, diante de uma multiplicação abundante de inúmeros cantos e tipos
de celebração, um pouco de uniformidade seria bom para contrabalançar uma
diversificação desenfreada demais.27
26
POSTMA, Joel. Música litúrgica na celebração eucarística desde o Concílio Vaticano II. Revista de
Liturgia. São Paulo: Paulinas: 1986 (jul./ago.de 1986), p.14
27
Ibidem.
24
amalgamada sobre 2 acordes, para um texto que pode ser o Santo, uma paráfrase do Santo
ou outro texto litúrgico ou para-litúrgico qualquer. O resultado será melodias óbvias que
indiferentemente.
Essa uniformidade precisa ser compreendida no âmbito da unidade para que não
Que se componha tanta música para o texto do Santo, por exemplo, quanto for
possível, mas que seja próprio para tal, possuidora das características necessárias para a
diferença, a partir do ponto de vista musical, entre o glória que se canta no Natal, com sua
melodia mais pastoril, e o glória que cantamos na Páscoa, com melodias mais solenes.” 28
O Santo, por exemplo, como já foi dito, trata-se de uma majestosa aclamação à
grandeza de Deus. A música deve “dizer” isso. Porém a música que deve ser escrita para
essa mesma majestosa aclamação deve trazer também o caráter do tempo litúrgico que se
vive. O majestoso Santo da Quaresma não pode ser o mesmo majestoso Santo do Natal ou
do Tempo Comum.
‘
Outro fenômeno ocorrido em nossa trajetória de canto litúrgico está no fato de
que os cantos considerados pela liturgia como periféricos (as oferendas, canto de
saída, de paz, o pai-nosso) na celebração eucarística assumiram o caráter de
importantes para muitos grupos de animadores, relegando à categoria de
secundários os que realmente são importantes (Santo, Cordeiro de Deus). Isso
poderia ser comprovado se fizéssemos uma pesquisa perguntando quantos
sanctus e quantos cantos conhecem para o ofertório e para a paz.29
O que nos leva a esta postura? As causas não são assuntos pertinentes a esta
monografia, mas as conseqüências, sim. E estas são óbvias. “A liturgia, de acordo com o
Vaticano II, é o ‘cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte
canto.
Glória fosse uma oração e não um cântico. O mesmo no que se refere ao Santo, os cânticos
29
ALCALDE, Antonio. Canto e música litúrgica: Reflexões e sugestões. São Paulo: Paulinas, 1998, p.27
30
CHEUICHE, Dom Antônio do Carmo. Na fronteira com o sagrado. Cultura e Liturgia, Porto Alegre, p.4
26
Ao abordarmos esse assunto, à primeira vista, a muitos pode parecer que não há
O que ocorreu no seio da Igreja foi algo que jamais nos passaria pela cabeça pôr em
“Parabéns a você” na hora de apagar as velinhas em uma festa de aniversário. Seria uma
aberração. Pois tais aberrações foram e ainda continuam a ser perfeitamente plausíveis e
“TODA a liturgia sinagogal era cantada e cada livro da escritura tinha o seu
próprio estilo melódico de canto”,32 como já nos referimos em capítulos anteriores e seria
de fato ingênuo supor que tal costume se devesse apenas ao desejo de ornamentar a
monições, bênçãos, etc., só vieram a ter este destino na cristandade do ocidente, mais
precisamente no seio da Igreja Católica Romana. O mesmo não se observa nas Igrejas do
jamais foi abandonado no seio de outras grandes religiões do mundo: Islã, Judaísmo,
Hinduísmo e outras.
31
ALCALDE, Antonio. Canto e música litúrgica: Reflexões e sugestões. São Paulo: Paulinas, 1998, p.13
32
Idem. p.14
27
provoca um estado de ânimo mais ou menos próprio para que através dele o ouvinte receba
a mensagem-texto. Assim deparamo-nos outra vez com a questão da música que suscita um
estado de ânimo “x”, porém é portadora de uma mensagem-texto “y” (caso da música
uma questão de decoração, enfeite, solenização das celebrações em ocasiões mais festivas.
A beleza intrínseca do canto jamais pode ser vista como elemento decorativo e,
Tempo Comum, justamente para termos elementos para usarmos nas Festas e Solenidades,
Tempo Comum chegue à nobreza dos tempos solenes, estes terão que se tornar ainda mais
28
belos, e este caminho é infinito e nos aproximaremos da luz. Todavia, infinito é também o
caminho inverso.
Cristo.” 35
Ao mencionar-se, por exemplo, que nem todos os instrumentos são próprios para a
celebração, fica a pergunta: quais são próprios? Quais critérios adotar para defini-los?
ninguém tem a formação para orientar. Se o Padre não teve a formação adequada nesse
aspecto, somente orientações documentais claras e bem definidas poderão dar bom e
superação.
formação musical, e músicos e artistas de fora da estrutura da Igreja normalmente não têm
acadêmicos de música e artes plásticas. Essa deficiência faz com que com freqüência nos
deparemos com declarações desta natureza: em nossa cultura não há um Credo cantado. Ao
declaram, por exemplo, que o texto do Credo, por não ser rítmico, ou seja, não estrófico e
rimado, é difícil de ser bem musicado. Sem sequer entrar em contestações técnico-
palavras a menos que o texto do Credo Apostólico, o que é muito pouco significativo.
uma obra musical se emancipa do texto, do contexto, das leis e ritos litúrgicos, muito
É absolutamente correto que, quanto mais uma obra musical se emancipa do texto,
do contexto, das leis e ritos litúrgicos, tanto mais é imprópria ao uso litúrgico. A
demonstração de arte, de cultura e saber humano jamais se fariam presentes, uma vez que
36
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Pastoral da música litúrgica no Brasil. Rio de
Janeiro: Paulinas, 1976 (Série Documentos da CNBB 07), p.16
30
ou seja, a íntima relação do contexto com a forma devida de expressão artística – obra
2.2.6 Missa-Concerto
Estado, celebrar-se-á na catedral metropolitana a Missa de posse. É provável que 90% dos
“espectadores” não sejam católicos praticantes. Nestas circunstâncias, o que quer que se
celebração em que seja executada, pela orquestra, coro e solistas, a música da Missa
Solene de Beethoven ou da Missa Breve de Mozart, jamais será teatral ou encarada como
uma missa-concerto.
“Quando ouvem a schola na missa solene, não estão num concerto, mas ouvem o
louvor cantado em seu nome, meditam a palavra de Deus e dispõem seus corações para a
oração comum.” 37
O que faz uma missa tornar-se uma “missa-concerto” ou uma “missa-teatro” não é
jamais a música, mas, sim, a relação do sujeito com o significado da presença desta ou
37
ALCALDE, Antonio. Canto e música litúrgica: Reflexões e sugestões. São Paulo: Paulinas, 1998, p.63
31
todos os esforços para que todos sejam contemplados com ilimitadas formas de louvarem
3 CONSIDERAÇÕES INDISPENSÁVEIS
Jesus nasce num povo que expressa sua fé cantando. Ele cantou com palavras e
tons, como qualquer judeu de seu tempo, orando em recitação ritual, com
32
Bem posso exprimir meus sentimentos mesmo de outros modos, por exemplo,
com a palavra. Na palavra, porém o sentimento passa pelo conceito e, parece,
perder em intensidade. Cantando, ao contrário, os sentimentos parecem
permanecer, por assim dizer, mais próximos de um "estado puro". Assim se
costuma dizer que o canto intensifica a expressão dos sentimentos.39
mais eficaz possível àquele que a ouve, independentemente do tempo litúrgico, féria, festa
ou solenidade. Toda liturgia deve ter este fim. Portanto as características próprias dos
forma dos ritos previstos – missa ferial ou missa solene, por exemplo – mas jamais na
38
ALCALDE, Antonio. Canto e música litúrgica: Reflexões e sugestões. São Paulo: Paulinas, 1998, p.11
39
GELINEAU, J. Em nossas assembléias: Teologia da missa. São Paulo: Paulinas, 1975, p. 219
40
GELINEAU, J. Em nossas assembléias: Teologia da missa. São Paulo: Paulinas, 1975, p.227
33
DA PALAVRA. Portanto, um presbítero que canta bem, consciente do efeito que o canto
produz, não o faria sempre? Somente se não o soubesse e crendo no canto como elemento
decorativo. Temos que considerar também que mudanças de costumes são sempre difíceis
Observemos ainda:
Aquele que recita não deve pensar que seu gesto seja um canto; não deve
preocupar-se com "respeitar" a fórmula. Ele é um ministro da palavra; a fórmula
está a seu serviço. É ele, antes de tudo, alguém que se diz, um declamador. A
fórmula deve permanecer um esquema, um ponto de referência, um sumário;
41
Idem, p. 228
34
âmbito da liturgia.
O exposto recentemente deixa claro que não se supõe que só por cantar, tudo estará
perfeito. Cantar poderá ser pior que recitar. Contudo, recitar bem nunca será tão
eficaz quanto cantar bem. O essencial é que o que quer que se faça se faça com Arte.
E o que deve ser primordial àquele leitor, diácono ou presbítero que não dispõe das
condições necessárias para o canto? Pois que busque o ápice da arte da declamação-
divino que se exprime num canto. Este canto se apresenta então necessariamente
Diante disso, jamais teríamos chegado a situações endêmicas como o que ocorre,
por exemplo, com a Oração após a Comunhão. Hoje são raros os casos em que depois de
solenemente à oração. Esta é a última grande oração da missa, quando após termos
recebido o corpo de Cristo, o silêncio é rompido pelo convite: OREMOS. Dado o devido
tempo para a oração, o sacerdote, solenemente, eleva a oração final a Deus em nome de
todos.
42
GELINEAU, J. Em nossas assembléias: Teologia da missa. São Paulo: Paulinas, 1975, p. 233
43
NOCENT, Adrien. Música e experiência de Deus. Petrópolis: Vozes, 1970 p. 129 [273]
35
vezes seguida dos avisos que já foram dados, tendo a “atmosfera” já sido totalmente
quebrada. Atrevidamente perguntamos: o que podemos querer como resposta dos fiéis em
3.2 O CORO
direito de pronunciar-se e fazer-se ouvir. Portanto, quando se fizer presente o coro, cabe a
membro desta assembléia toma a palavra e se faz ouvir, há momentos em que todos juntos
Temos ainda o fato de que a assembléia pode e por vezes deve “delegar” a uma
parte dela – o coro – que se pronuncie em seu nome. Esta “procuração” é dada quando o
e pelo fato de que grande quantidade de famílias possuírem membros seus participantes do
coro. Em circunstâncias assim é remotíssima a possibilidade de que o coro seja visto como
um “participante estranho”.
Após 40 anos do Concílio, podendo-se hoje observar mais claramente, vemos que
em um extremo, nas primeiras décadas após o concílio, fomos a outro extremo. Hoje se
tornou imprescindível que busquemos o termo médio. “Grave erro foi cometido pela
muitos pastores pensaram na supressão dos corais.”45 Isso contribuiu também para a
O que ocorreu nesse aspecto foi um grande contraceno, já que em sua constituição a
Igreja sempre se fez defensora e protetora das artes. Certamente para muitos essas
Como poderíamos recuperar o terreno perdido, numa Igreja que sempre tem sido
defensora da arte, mas que, nestes últimos anos, descuidou bastante da formação
litúrgica dos seminários?
O que é que uma comunidade faz , sem líderes, sem músicos entendidos, sem um
grupo de cantores e instrumentistas? Precisamos chamar de volta os corais na
Igreja, não como antes, para substituir o canto da assembléia, mas para estar a
44
GELINEAU, J. Em nossas assembléias: Teologia da missa. São Paulo: Paulinas, 1975, p. 222
45
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Pastoral da música litúrgica no Brasil. Rio de
Janeiro: Paulinas, 1976 (Série Documentos da CNBB 07), p.14
46
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Pastoral da música litúrgica no Brasil. Rio de
Janeiro: Paulinas, 1976 (Série Documentos da CNBB 07), p.19
37
Ouvir é a chave. Como podemos querer que o povo ouça o coro se desaprendeu a
ouvir depois que desaprendemos a proclamar. Temos acreditado que devemos permitir a
4 FORMAÇÃO
O estudo das artes nos seminários e outras entidades formativas eclesiais, nas
formação da voz, tão necessária para uma boa comunicação, com raras exceções, não
noviciados dos religiosos e nas casas de estudo de ambos os sexos e nos demais institutos e
48
escolas católicas a formação e a prática musical.” Todo o esforço será em vão se não
formação artística – musical, plástica, etc. – adequada. “Atribui-se, em grande parte, à falta
relação à música sacra, o que repercute, profundamente, em toda ação pastoral das
47
POSTMA, Joel. Música litúrgica na celebração eucarística desde o Concílio Vaticano II. Revista de
Liturgia. São Paulo: Paulinas: 1986 (jul./ago.de 1986), p.13
48
CONCÍLIO Vaticano II. Sacrosanctum Concilium 115
38
49
paróquias e nas próprias casas de formação.” No mínimo se faz necessário que essa
postulante como elemento também prioritário e não complementário, ou pior ainda, uma
acima, cremos que, antes de pensarmos em escolas dessa natureza, deveríamos encontrar
artes plásticas, etc.) nas universidades públicas e, inclusive, das escolas de arte de nível
exemplo, condições de conduzir o(s) artista(s) que por ventura pertença(m) à comunidade a
49
SCHUH, Renato Inácio; KOCH, Renato (coord.). Estudo sobre ensino da música nas casas de formação.
Viamão, 1989, p.3
50
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Pastoral da música litúrgica no Brasil. Rio de
Janeiro: Paulinas, 1976 (Série Documentos da CNBB 07), p.12
39
plásticas ou cênicas que participam de nossas comunidades, é também verdade que sua
participação nela é nula, bem como se pode constatar facilmente que neste aspecto sua
seus dons. Isso se deve, indubitavelmente, ao fato de vermos a arte, em geral, como
Uma vez que tenhamos pessoas assim em nossas comunidades, o primeiro passo é
integrá-las às atividades artísticas da igreja, por mais rudimentares que sejam, não as
engessando aos moldes que lá existem, mas permitindo que ampliem e estabeleçam
desafios que levarão ao crescimento da comunidade. Claro que não se produzirá bons
Segundo Antonio Alcalde (1998, p.56), “poderemos desse modo, em uma mesma
celebração, no que se refere à música, por exemplo, cantar uma bela melodia gregoriana
CONCLUSÃO
“Cantai ao Senhor um canto novo, com arte sustentai a louvação!” Isso é o que nos
Certamente foi em situação de extrema dificuldade que o povo de Israel o fez. Isso
Concluímos, então, que, apesar das condições de extrema dificuldade de hoje, não
extremamente desfavoráveis.
BIBLIOGRAFIA
POSTMA, Joel. Música litúrgica na celebração eucarística desde o Concílio Vaticano II.
Revista de Liturgia. São Paulo, jul./ago. de 1986.
POWER, David. Música e experiência de Deus. Petrópolis: Vozes, 1970.
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