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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

1
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Literatura Brasileira

Poesia

Mickael Alves da Silva

Sobre odas as coisas que esquecemos de falar

2017

Todos os direitos reservados ao Autor

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Linhas prosaicas
Quem dera eu soubesse
Todas as línguas vivas e mortas
Para a versificação do meu sentimento
Tivesse algo se não soasse
Como improprio
Dou na brochura rubricada
Com a mais dedicada e delicada
Expectativa, coisa tão rara
Palavras de confissão
Anunciação da verdade
Que renunciaria minha eternidade
Só para ter mais um sorriso teu
E paradoxalmente,
Tua existência me faz querer
Viver eternamente
Se for ao teu lado
Mas tudo isso ainda é pouco
Do que quero dizer

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Em construção
Meu bem, qual é a cor do amor?
É da cor dos meus olhos ao te ver

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Aline
A duração do céu
Sugere o coração
Plano indireto
Certo incompleto
Valor de cotação
Rumores pelo ar
Romances pelo chão
Para ser mais sincero
Só meu olho sugere
A minha pretensão
Mas...
Talvez faltasse ar
Ou a respiração
Algum motivo para se inspirar
Inventar o vento e velejar
Para outra direção
A tua direção

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

A cidade das luzes onde o lumiar é obscuro

Susto, um absurdo
Olhei para frente e vi o mundo
Com insulto, tudo é surto
Quando as árvores forem culpadas
Por tuas guerras, tuas trevas
Exposto e expiatório tua oposição
Desatino é a nova moradia
Será que ainda temos casas?
Na folga boato canalha
Faz parte da alma
Lava-se com a sujeira do irmão
Um susto, entendi tudo
Vi tudo que há é um ar imundo

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Demasiadamente humano
Para ser humano
Negue tudo o que é de onírico
Tenha corpo em limo cínico
Fale em tese de mediocridade clínica
Ande com o amigo que furta tua aréola
Beba dos teus vermes
Na corrida dos covardes, seja atleta
Faça um muro de falsa moral
Crie um um morro de tesouros letais
Humano demais

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Chega
Chega o fim do dia
Chega o fim da vida
Chega o fim de mês
Chega a saudade
Chega a novidade
Chega o verão
Chega a chuva
Chega a nova geração
Chega tudo
Tudo chega
... Menos você
Chega de te querer

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Mito
Disfarça de amor amigo
Os dotes de manipulação
Faça uma capitania hereditária
Da fronte formosa do coração
Florestas de flores de navalhas
Buquês de atenta desatenção
Escambo inútil de falsa emoção
Olhos malditos, social convenção
Condenação do afago
Paixão pelo estrago
Chego então a conclusão que:
“O amor é só uma canção
Que aprende a cantar
Levando para vida
Soprando pelo ar
Morte é o que se pede
Quando o peito é impopular”
Sexo é um verbo, tão impreciso
Indiscreto no fórum intimo

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Kate
Ninfa de moral distorcida
Olhe teu rastro
Tua marca é de inimigo
Tua árvore de atos decanta
Sólido que se desconstrói
Rouba dos astros, dos sátiros
Dos metologistas e metafísicas
Pois teu pária perfeito
Não tomará teu enredo
Como ânsia de solução
E saiba:
O tormento de quem tem seu gozo
No azedume alheio
Será eterno e intenso

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Sina
As vezes para curar a dor é preciso fazer sangrar
Sem bisturi ou anestesia
Deixar o pulso transbordar
Fazer suturas com fogo
Queima a ferida com gosto
Até aprender a lidar
Com todas as dores que o munda dará
Com todos os cortes que você sofrerá

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Cupido
Cupido maldito
Não traz o meu amado amor
Mas, traz meu inimigo intimo

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Canção do iniciante
Deu calvo aplauso
Falso, carnívoro
Mas eu em meio
Ao devaneio do medo
De iniciante por inteiro
Não medi o impulso
Neguei a premissa da intuição
Sussurrava e gritava
Dizendo: -Tenha atenção!
Percebi logo então
E anotei:
Tão recente
Teu coração sente
Mas teu inconsciente
Ressente

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Selvagem
Por vezes deixo
Meu lado mais animal
Surgir e noto
Que sou um anjo
Um demônio ou um deus
O instinto íntimo vaga
Solto por entre as esquinas
Sou um homem, uma mulher
Uma criança
Me desfaço de ídolos
Crenças ou ideias
Sou um selvagem
Minha natureza mãe

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Ginge
Observo os enredos que nascem dentro de mim
Compreendo que neblina é coisa sem fim
Mas antes de chover
Vou ofertar meu sacrifício
Pego pelos dedos minha promessa mais singela
De parir a despedida
Antes que minha rotina converge
Pego no esboço uma profunda definição
Para dar sentido ao indefinido padrão
E então, logo então
O mais sincero afeto é incorreto

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Aline pt.2
Sei que esse verso vai sair errado
O peso da minha consciência
Não me deixa escrever
Confessar que minha primeira
Memória ao acordar é você
Meu lado racional
Diz, é libido direcionado
Potência, projeção, idealizado
Me fere...
Peço ao universo uma maneira de esquecer
Saber que isso é só mais um sonhar acordado
Me fazer desprender
Dos adjetivos que criei para você
É cruel ver o meu céu acorrentado
A alquimia falante de organização de átomos
Não quero está condenado
A pensar
A pesar
A penar
Por alguém

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Totalidade
Tente não ligar
Pois o mundo vai te persuadir
A não querer mais sonhar
Tente não lidar
Com fatos que não se deve controlar
Fique no mesmo lugar
Tente entender
Que não dá para se esconder
Quando tenta se encontrar
E hoje possa compreender
Que nem tudo se pode salvar

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

P.
Se ele ama
Eu também me sinto amado
Se ele sofre
Quero ser solidário
Se voar
Olho para cima
Me sinto o protegendo
Com meus pés asfaltados
Se ele sonhar
Quero que esse sonho
Seja sua realidade

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Apetecível
Meu delito
Querer por heresia
Está por entre suas pernas
Que eu:
Vem, vai, se esvai
Uma sucção de amores líquidos
Que em nós:
Nos transforma o que distrai
Atender os comandos do instinto
Como entendimentos do determinismo
Do farto e lascivo emparvecer

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Vermelho
Vejo a luz vermelha da cidade
Que me nega o cuidar
Vejo o tom vermelho da tua boca
Que me chama para brincar
E a chama vermelha nos nossos olhos
O vermelho vivo dos nossos olhos
Misturado ao calor vermelho dos nossos corpos
Vejo a luz vermelha nos teus olhos
Que me pede para parar
E contemplar o entardecer vermelho da cidade

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Mas então o que é uma beleza rara?

Contemplei os traços que iam da tua mandíbula até teu olho


Tua forma seguia uma normativa artística
Pleiteei te observar por horas
Mas minha sutil epstemológia das causas mundanas
Me fez privilegiar tua rítmica ante a superficial caracterologia das tuas notas
E vi, então, que teu soar era de moral defasada
De filosofia indulgente para com os acordes
Com qual se tocava a sinfonia social
De nomenclatura superficial, assim como constatei com minha investigação, te dei
um neologismo torto
Eras tu uma nota espúria

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Sobre algumas coisas que esquecemos de falar

Tão ingênua a donzela


Acreditava no amor das pessoas e ideias
Tão sincera era ela
Parecia fazer de absurdo sua fé
E eu...
Poeta da abstrata profanação
Só acreditava nos demônios da paixão
Que consumia a paz
Em embriagadas ilusões

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Bondage
Vou ao encontro do teu corpo
Peço e desprezo minhas roupas
Faço da tua língua o meu toldo
Tua envergadura insinua artes loucas
Me afogo entre tuas pernas
Sou tripulante do teu orgasmo
Fazemos do instante horas e eras
Sujamos os lençóis de inteiros, restos e cacos

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Puta perfeita
Cativa heroína do meu sonho fálico
Permeia a angústia da incerteza tátil
A tática de domar teu gozo
Por força forte ou fraca
Mas antes de tomar tua alma
Deveria está dentro do teu corpo
Os ditames do instinto são belamente frágeis
Invado o teu núcleo pelo suor das margens
Tentando me guiar me dê as placas
Envolto ao devorar das marcas
Mas antes de tomar tua alma
Deveria está dentro do teu corpo

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Pejorativa
Ostento de propósito minha versão
Faço da aversão minha melhor canção
O nome teu... não sou homem dos teus
Repito, digo como quem esquece de calar
As águas rasas vêm com despropósitos
Do teu declínio faço meu negócio
O nome teu é um pejorativo
Na minha boca e em todas as bocas
Que atravessam o curta-metragem da tua vida

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

O inventor
Desejei sem pretensão de possuir
Idealizei pois o real tão tinha
Um sabor tão doce e assim
Inventei qualidade que não podia existir
E neguei defeitos que pude sentir
Coloquei no mais sacro altar
Como algo para todo dia venerar
Apenas para provar que alguém eu podia amar
... Apenas para provar para mim mesmo

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Por que então és poesia?

Poesia para desbravar


Preguiçosa para sossegar
Poesia para questionar
O que não se deve suportar
Poesia para contar
História que a prosa quer calar
Poesia para comer
Para fazer a alma crescer
Poesia para quê?
Para fazer viver
Por que então és poesia?
Porque sem isso todo resto
Não bastaria

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Anedonia da alegoria do fantasma


Somos a sobra dos sonhos
Que não nasceram
Dança que está decrepitada
Anseios mortos pela união dos trejeitos
Volúpia que agora está decapitada
O meu pulso está pintado de preto
Nosso superego afoga-se num mar de navalhas
Anedotas frígidas contamos em segredos
Anedonia do teu peito, meu meio
Antes era minha fantasia
Agora és só outro fantasma

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Para todos
Às vezes a gente se entrega
Ou se escolhe a prisão
Achando que tudo nessa vida
Pode ser resumido num sim ou não
Buquê de flores incineradas
Ou redenção na crucificação
Será que a gente erra na melhor opção?
E todas as pessoas que vem e que vão
Habitam por um só momento
E sobra somente solidão
E para eternizar memórias que esvai
Se traça um verso singelo de uma canção

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Aline pt.3
Em vão
Tentei costurar o coração
Para não jorrar teu nome
Como uma citação
Um sinônimo para paz
Tarde demais
De negar o que está em cartaz
Nos muros e portões
Então
Vou logo lhe afirmar
Tentando afinar o olhar
Que tens toda minha atenção
...
Mas não adianta
Que hora que passa
Não sei se ultrapassa
A marca no peito é uma tormenta

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Não sei se em ti cabe


O que em mim imenso
Eu sei, meu bem, não te condeno
A ser minha amada
...
Em vão
Tentei mapear teu coração
Para demarcar meu nome
Com uma citação
Sinônimo de paz
Tarde demais
De negar o que está nos jornais
Que não somos dois em só coração
Então
Não vou ficar a esperar
Vou afinar meu olhar
Para outras atenções

Fallax
Eu abracei a dor
E vi ela se aprimorar
Tomar todos os cômodos da minha casa
Eu contemplei com cada palavra
Que emerge do meu ser
Será que não serve mais?
Cada momento que neguei
Caindo em turva mágoa
Frutífera era a sombra
Das minhas pegadas
Eu abracei o amor
E vi ela voltar
Para dentro da minha alma
Devolvo o que era só meu
Eu sei que o universo sabe
Que sinto muito se tudo

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

É feito inacabado
Eu abracei de uma só vez
Tudo o que me cabe

Anti-Übermasch
Já estou farto de semideuses
Vomitando egoísmo
Para comê-los de novo
Dessas festas de Baco
Infestada de tolices
Tangos de estupidez
Prosas de hedonismo
Já estou farto de semideuses
E de seus brados dionisíacos

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

De luz forte e multicor


Benditos sejam aqueles que agora mentem
Sem pudor ou prudência
Sagrados sejam aqueles sem afeição
Que declamam comparações
Salvos estão aqueles que vivem em vão
Que dizem que já mais o que fazer
Tão livres são aqueles que não sentem
Que só olham para frente procurando burocratização
Amados são os que se fazem ausentes
E que a presença calunia a emoção
Bendito seja deus
Que não aceitou minha oração
Para matar teu coração
Para permanecer nessa canção
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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Sublime subliminar, obsceno crepuscular


Essas palavras malditas
Seriam de timidez ou orgulho
Que atravessam o mundo
Sem se auto-afirmar
Essas palavras mal ditas
Seriam escondidas de tudo
Que de aparência muda
E engole o deveria viver no ar
Mas se se pegar por trás da letra
Há sempre uma coisa a se soltar
Subentendido no devir
De uma palavra que
Não quer se fazer presenciar

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Ao Sonhar Acordado
Eu sonho ao teu lado
Estou nesse estado
Quem sabe eu troque minha vida
Pelo troque de um olhar
Eu sonhar acordado
Tentando alcançar
Um modo de usurpar teu ar
Que te tire do horário
Que nos deixe na jornada certa
Eu sonho acordado
Em acordar ao teu lado

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Ultravioleta
Te dei a cor
O símbolo da minha incerteza
Imperativo e impreciso
Era meu dom de errar de todas as maneiras
Neguei calor
E todas as formas de fortalezas
Eu preciso saber qual a cor da tua tristeza

36
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Pecado
Espero que me leia de saia
Acariciando teu sagrado íntimo
Que faça um balé de dedos em segredos
Como quem revela a um amigo
Espero que queira me arranhar
E lamber exaustivamente minha ferida
E de euforia queira me matar
Para que dentro de você eu possa ganhar vida
Meu pecado preferido é desejar

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

O gozo por entre tuas pernas


Nos meus lábios luxuriosos

Nirvana?
Não me recordo quando o vento notava minha ausência
E a montanha não revelava minha desconfiança
O rio da minha vida cujo nome é nostalgia
É embelezado por uma terra chamada melancolia
Faço a conjuntura com o abismo
E da previsão o conclave
Cravo meu nome em um túmulo indigente
Para vossa gente possam ver que fui de verdade

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

A cor
De um daltonismo raro
Só via tua cor
Em um sentimento deformado
Moribundo, fugaz
Era meu rumor
De ter tua cor na minha aquarela monocromática
Mórbido era o teor

39
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Da minha pontual pintura


O que se via além de nada
Vá para longe
Deixe-me com sinuoso temor
Que seja de fúnebre tinta
Essa singularidade

Sono
A vida é tão sublime e tão fugaz
O sopro que se vai do peito
E que não volta mais
Quem vai testemunhar

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

O grito de evolução
Que sempre fica preso na canção
Vou enfeitar, decorar meus sonhos
Para mostrar ao mundo que são tão reais
Vou enfrentar, escrever meu sono
Para que esse sonho não se perca mais
Quem vai presenciar a revolução
Do grito que agora solto pelo ar
Para nunca aniquilar minha redenção
Da vida que leva sem parar
Vou me despedir
Despertar do sono
Para que esse sonho
Possa viver no mundo real

Vende-se
Me perdi
Só de te encontrar
Acho que a mim
Nunca mais vou voltar
O semblante do sentido

41
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Sinto o que parei de respirar


Até sintonizar com teu ar
Me prendi
Acho que não vou mais me achar
Sinto o sintomas me partindo
Me dizendo: vá lá encontrar
Uma proposta
Sem nenhuma volta
Para ganhar
Então...
Vendi meu coração
Para comprar o teu
Sem notar
Que podia roubar o teu
Toda fez que eu precisar

A pergunta
Eu contei para o firmamento
Todo o meu tormento
Tudo que em mim pode existir
Esperarei

42
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

E resposta pode vir a qual momento


Com segredos e proposta para
Que eu possa insistir
E resposta veio enfim
Assim:
Confia em ti
O tanto que confia nessa gente
Não vá sentir
Que todo seu desalento
Exista só em ti
Vive escondido em toda gente
Embaixo do tapete
No segredo dos lenços
Somos todos nós
Perguntas ao infinito
Do grotesco ao mais bonito
Lá do alto são tão parecidos
E essência tão igual

Canção para contemplar


Escrevo uma canção
Para ela me salvar
Noto que meu peito

43
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Me pede para
Me libertar daqui
Escrevo uma canção
Que pode salvar
O que o coração pede
Para votar para mim
E trago um gosto nobre
O vento tarde traz o norte
Vivo para o céu tocar meu chão
E trago um gosto forte
De horizontes que esperei:
"Não é tudo em vão!"
Assim diz a canção

Estrela
Canto no mar da ferida profunda
Quem já sabe lá encontre

44
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Minha cura
E as águas vêm para me levar
Para onde, eu não sei
Encanto no lar onde minhas rugas
De encarar minha noite absurda
No encarte da vida um nome raro
De uma rima que sacrifica meu quarto
Olho para o céu sem deixar o chão
Eu aqui nessa imensidão
De coisas que tentei
De tantas que falhei
Por versos que ousei lutar
Olho para as estrelas
Elas são silenciosas e assim
Talvez o silêncio
Seja a resposta para mim

O grito

45
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Deixo exposto a ferida gasta


Para que o vento venha suturar
Deixando a porta aberta
Para o se foi que que virar
Virando os instrumentos
Tocando a harmonia que
Cabe no ar
E o grito espalhar
Por todo o espaço que couber
Antes que a guerra venha me encontrar
Crio minhas armas
E ao mundo anunciar
Em todas matérias
Minha libertação
Meu grito existirá
Por todas essas eras
Será uma luz nessa escuridão

Oração para satisfação


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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Tenho escrito com navalha


Na minha alma
A soma do verso da tempestade
E foi preciso chover em mim
Para minha mais bela flor nascer
Tenho rasgado o ar
Ela é minha morada
E sopra por toda eternidade
O avesso do que esperei
De qualquer coração
Tenho a oração mais velha
Pela verdade
E ninguém dirá que ela escapará
A verdade
Quando habita em nós

47
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Oração à musa
Entre mil sois
Ia a musa ideal
Rasgando o peito
Dos seus satisfeitos
Pretendentes
Musa, fera animal
Como eram tolos
Esses meninos coxos de coração
Repetiam assim, como num mantra
Uma oração:
Mas se eu não parasse de morrer a todo momento
Mas se eu fosse de transferir o sentimento
Se com punhal minhas necessidades te tornasse obrigação
Agora seria resplendor, não devastação

48
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Psícodrama
Tantos versos de amor
Meu bem, como não ser mais ridículo
Como uma carta psícografada
Indo para alguém tão distante
De um enredo sem elegância
De um semblante psicótico
Latente de quiméricas esperanças
Com uma dança assimetrias de símbolos
Linguística vistosa, bipartida
Com a ausência dos gracejos sujos
Parcos e porcos
Mas mesmo assim,
Com toda a retórica pomposa,
Ridículo
Pois a trama psíquica que reveste cada fonema de um verso de amor
Tem seu sabor ridículo

49
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Sem
Foi roubada a eternidade das minhas mãos
Os sinos marcam até a derradeira pulsação
Que farei?
Uma dose de vida intensa tomarei?
Furtivo e alquímico ficarei na vida
Até a vida não me doar sensação
E empoeirar a carne
E carne tornasse não

50
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Poema do partido onipresente


Sempre atrasado
Apresse o passo
Diz o partido
Preencha as lacunas
Da jornada
Com tua esferográfica clinica
Atravesse o estado
Não fique trancado
Faça uma nova dívida
Conquiste mentiras nos jornais
Com espectrográfia cínica
Mas então
Não outra maneira
Vá fazer o parto
Da minha direção

51
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Marafeto
Eu já fui odiado por ter o mar no peito
E por necessidade velejar
Por outro mares
Ora calmos, ora turbulentos
E por fraqueza naufragar
Eu já fui odiado por tentar amar
E por intensidade não notar
Que dentro de outros lares
Ora raso, ora raríssimo
Existiam múltiplas formas de lidar
E por fé nos modos e nas modas
A roda (vida) desse marafeto
Gira de forma triangular

52
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

O monstro
Me trás de volta ao chão
Eu não suporto mais voar
O ar é rarefeito
Não consigo respirar
Tente ao menos entender
Só você pode me libertar
Do demônio de asas que sou
Negra e cálida sina
Da minha pestilenta alvorada
Deixe que eu caia do azul do céu
Pesando dez mil toneladas
Deixe eu morrer
E salvar minha alma

53
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Autocrítica
Quero hesitar
Os meus atos irão transparecer errados
Tomo a culpa de antemão
Para que apenas eu seja meu condenador
Tento resistir
Aos padrões de conduta
Que o mundo tentar impor em mim
Mas me pego em atos inautênticos
E minha constante averiguação de consciência
Constata que assim não poderei seguir

54
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Não era Afrodite, era Satanás


O que era pathos
Sucumbi em prantos
Sem alcançar o céu
Do desencanto
Um acalanto de Ícaro
Tenta me corromper
Para voar outra vez
Até as asas de sensações derreterem
Dançamos tango com máscaras
Como se fosse um vienense carnaval
Por desleixo acadêmico
Compreendi a mitologia
De um modo errado
Era apenas um demônio
E eu não quero ter a sina
De ser Fausto

55
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Tudo acaba...
Eu não vou te enganar
Dizendo que isso tudo vai ficar em mim
Talvez não tanto o quanto eu queria segurar
A tua mão vai segurar tão forte
Outro coração
E algum modelo de bom moço
Vai o ocupar o que era meu posto
Quem sabe até melhor que eu
E vou sorrir por ti
Quando com ele você passar por mim
Pois não é que nosso amor
Acaba, e acabou
Que vou viver com algum rancor
Ainda tenho sim
Um sentimento que é bom por ti
Daqueles que a gente guarda para lembrar
O que é ser feliz
Não vou te enganar
Dizendo que tudo acabou em mim
Foi apenas que mudou o jeito de sentir

56
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Mensagem aberta de Aline para a sociedade


Sei bem do meu temperamento
Vil, volúvel, cínico e capcioso
Mas aprendi muito bem
A viver em disfarces
Meu espetáculo
Transparece belo e maravilho
Posso ter todos os homens aos meus pés
Mas ao meu lado
Nenhum, nem por um instante
Como todos os outros seres
Eu deveria ser amada
Mas o que mereço
Sim, isso é tudo que eu mereço
É apenas ser tolerada

57
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Não existe palavra na linguagem humana para nomear o


teor deste poema

Se eu fosse do tamanho
Do meu sofrimento
Quem seria maior que eu?
Procuro urgentemente um acadêmico
Para calcular a cinemática do tormento meu
Todos as músicas, todas as músicas
Todos os filmes, todos os livros
Todas as pessoas
Narram em todas as horas
Em todo lugar
O meu calvário particular
Em todas as placas
Pixado em todo lugar
Os dizeres: Até quando você vai suportar?
O que lhe resta
Essa linha reta
Que te leva até o nada mais haverá de se pronunciar

58
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Contaminado
Eu te amei
Mas foi sem poder sorrir
Pois pensar em ti
É apodrecer o que há em mim
Eu não sei se foi
Culpa do acaso
Ou do nosso sangue
Ainda ser amargo
Eu te amei
Sem saber sentir
Se era por cansaço
Ou desespero, enfim
Não quero mais assim
Está contaminado

59
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Sage
Hoje eu perdi todo meu juízo
Andei com desequilíbrio
Mergulhei na contramão
Angústia, sinais
Não há como negar o meu destino
O mundo inteiro estava contra mim
Correr, para quê?
Talvez encontrar algum abrigo
Notei que meu melhor amigo
Meu único amigo
Estava ocupado demais
Me joguei, sedento, no vento
Para que meu tormento
Tomasse um pouco de ar
E ele gritou para mim
Tão sincero assim
É chegada a hora da revolução
Dome teu ofício
Tua verve singular
Seja teu próprio juízo final
Te dedique as auroras
Pois o destino teu, assim como o de todos os outros,
É fatal

60
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Veneno
Hoje acordei em um dia mórbido
Meu olho de orvalho
Gotejou nos carvalhos, oliveiras e bonsais
A pequena caveira
Preenchida de carne desvalida
No espelho
Tem vergonha de mim,
De toda a minha humilhante modéstia
Uma forma ingênua de tingir a si
Mas olhe, meu amigo,
Para o livro da vida
No meu capítulo
Está escrito:
"Ele nunca desejou ser alguém"
Mas sei que algo eu sou
Mas o que eu sou
Eu não quero ser
Hoje acordei de um pesadelo sádico
Mas o mundo real
A isso é exatamente igual

61
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Sobre o que não deve jamais ser nomeado

Talvez sejamos demônios


Um poço de ódio e de contradições
Anjos do mal condenados
A vagar sem um objetivo real
Talvez eu seja tua igreja
E tu meu dízimo especulativo
Que minha prece se apresse
Com ou sem desejo, seja pregado aqui
Que nossa efervescente decadência
E por fim da nossa inexistência
Sejas (e será) um conforto para nós

62
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Canção circular
Tua imagem vai se deformar
Na minha memória
Nossa história
Em nenhum romance estará
Mas quando
Nossas almas
Estiverem em novos corpos
Tudo voltará

63
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

D20
Falei de mais o que não devia
E gostei...
Previ o luto
Lutei do lado da morte
Só para entender que todos os ossos são iguais
Falei de mais o que não devia
E falhei...
Pois todas as palavras são erros iguais
Mas gostei
De falhar

64
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Pequena morte
Me desvio da Tv
Frases banais ficam a minha espera
Eu estou fora do ar
Sou uma peça que se encerra
Vejo como ela se distrai
Com o sutil que acontece
Dentro dela
Vem a noite
Não vem ela
A pequena morte
Logo, logo me acontece
Como vou dormir
Com a frase que atravessa a janela:
...Que ela foi feita para mim,
Mas eu não fui feito para ela

65
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Poeta
Poeta fica atento
Pois teu corpo e tua alma se vão
Enquanto tu torna tua musa eterna
Nos teus versos
Nos teus resto o que sobrará?
Poeta, sei que teu peito é de atleta
Mas ouse descansar
Porque apesar das circunstâncias
A vida um dia vai pesar
E vai cobrar
Tu provarás se carcaça é de aquentar

66
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Timidez
Se eu soubesse ao menos dizer
Questionar e me defender
Da fera feroz das minhas vergonhas
Correria para o teu lado
Mesmo que mal informado
Se soubesse como entender
Se eu soubesse ao menos
O modo de dizer sem entorpecente
E jogar o pensamento errado
Confortaria a revelia do meu peito
Gritar: -Te quero sempre ao meu lado!

67
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Amada
Não sei se por você era verbo
Sujeito, ou adjetivo...
Perambula de um anseio abstrato
Ou só mais uma idealização para o instinto?
Não sei se você pousou no verso
Sujeito que estava oculto em todas as rimas
Mas, caluniado e profanado todo o resto
Tudo que restou agora é pejorativo

68
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Registro sentimental
Minha amada...
Minha amada...
Te amei mesmo antes
De saber que você poderia existir
Te amei em todas as canções
Que ouvi
Todas elas eram um presságio de ti
Minha amada
Todas as calçadas anunciavam sua chegada
E sendo sincero
O universo me faz sorrir
Pois nada insinua
Que um dia você irá partir

69
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Você
Enumerou todos os erros
Em categoria colocou meus defeitos
Fez dissertação: Como ser tão ridículo assim
Calculou como seria meu fim
Fez biografia da minha mediocridade
Mas todos atos e palavras
Lançadas em todas as casas
Só mostrará tua essência de víbora
E tua queda será pelas tuas mesquinhas armas

70
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Até o fim
Por tanto tempo ousava repousar
Não conceber nenhum desejar
Para ter a paz de ter o peito
A vagar vazio
Mas tua voz, teu olhar
Insinuava meio assim:
"Confia em mim"
E teu beijo, a flor flutuando
Em meus sonhos e meu medo
Comecei a notar que gostava de desejar
Se esse desejo fosse por ti
E ansiava agora, sem nenhum conflito
Que eu pudesse contemplar
Teu beija-flor descansando em meu jardim
Até o fim, de mim

71
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Patrícia
Enquanto te escrevo esse verso
Teu nome é emblema no meu peito
Minhas palavras serão suspeitas
Como poderia eu assim te eternizar
Com palavras, seria te gravar
Se uma forma rudimentar
Pois logo no início
Ao dá teu nome ao título desse poema
Sinto ódio do meu dilema
Lembrar que apenas teu nome
Que verdadeiramente
Poderei ter, teu, em mim
(Mas devo está enganado)

72
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Líquidos segredos

Ódio e desejo
Na língua o corpo, o meio
Sangue, cuspe e segredo
Te incita a ser selvagem
A dança que faço dentro da tua carne
Queimando o carma da cama
Chama enquanto me chama
Riscos no meu peito
Ensanguentados os teus dedos
Grito, rude despejo
Dos líquidos segredos

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Incubus e sucubus
O amor das flores e campos
Da donzela e do cavalheiro
Não cativa mais que gracejos
Morrendo em caminhos no vento
É mais belo o lascivo
De instinto, inquietante
De fulgores fascinantes
De ânsias mirabolantes
Pois o afeto é um demônio interno
Perdido e insiste em ser indiscreto
Pedindo exorcismo

74
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Passeio na alvorada

Então
Te entrego uma flor
Ou um aforismo?
Melhor…
Um convite em um pedaço
Rasgo, de papel azul
Para ir comigo
Por qualquer caminho
O singelo convite mais ou menos assim:
“Vamos dar uma volta?
Quem sabe desobedecendo as horas
Fiquemos um pouco mais”

75
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Questão de geografia
Talvez eu já não tenha amigos
E a culpa seja minha
Pois meus defeitos
Irremediáveis
Não sejam assim aceitáveis
Talvez eu tenha amigos
Que são, no fim,
Apenas só colegas
De trabalho, de lazer
De jornada
Talvez eu nunca tive amigos
E a culpa seja na verdade
Do local em qual não me enquadro
Mas, talvez, os defeitos
Que carrego em minha carne
Em outro ponto do mundo
Seja algo não notável
Até mesmo sejam qualidades

76
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Talvez lá eu tenha amigos


Que não irei decepcionar
Que a meus acertos
Irão se orgulhar
Talvez eu faça amigos

Musa ideal
...E a utopia se vez carne
Embelezada mocidade
Capacidade de revolução
Purifica o que lhe passa
É verdade do céu ao chão
Se faz rude quando necessário
Pois a vida por vezes
Pede essa ação
Mas é feita, em essência,
De fino trato
Trata com educação
Que nasce do seu coração

77
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Musa real
Coragem em um tom Pastel
Está tingindo seu olhar
E sofre, pois é feita de carne
E ama, pois é feita de alma
E luta, pois é feita de vida…
Coragem já que enfrenta
Um mundo em oposição
Pensa: “Meu êxito será valorizado
O uma pele exuberante
Teria mais aceitação?’
As vezes rude
Outras não
Pois sua essência não
Se resume a um tipo de redução
E patética categorização

78
Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Abstinência
Por muito tempo
Me vi cometa
Caindo tragicamente
Em qualquer planeta
Seria passional
Meu espírito errante?
Seria transcendental
O desejo constante?
Mas por causas vaidosas
Não vi que me embriagava
De carência
Batendo continência
Ao peito que pretendia abrigo
Talvez faltasse sangue
Talvez o sangue estivesse enfraquecido

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Pois era de abstinência


Que minha pele
Brigava comigo

O último poema sobre Aline


Já sonhei noites
Com quem não ama
Já sonhei dias
Em ostentar seu coração
Ao meu lado
Com o dela batendo por mim
Assim como o meu batia por ela
Mas a narrativa da vida
Talvez por bênção ou maldição
Pretendeu me banhar
De não-vontades
E tão lúcido, agora
Vejo por todas as partes
Que a morte de um amor

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Tão inconcreto
Simplesmente é o renascimento
Das leves sensações

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Sobre o autor

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Sobre todas as coisas que esquecemos de falar

Escritor do tudo e do nada, dos umbrais aos arvoredos, do sagrado até o


primal, antropofágico, visceral. Narrativas do cotidiano ou indo até as estrelas.
Nascido no Ceará dos anos noventa, leva sua filosofia poética, flertando com a
música ao desbrave do desconhecido. Escreve sobre o que vê, o que ouve e o que
deixou de pensar Fale de amor, daquele amor prosaico ou dos amores modernos,
Mostrar novas formar do pensamento ou como, de um modo novo, interpretar o
antigo. Poeta para as luzes e as noites. Uma tentativa de descrever o mundo como
percebe, em síntese: Um amálgama.

Mickael Alves partcipou como poeta na “Revista Avessa” (Dez, 2016),


da antologia “Mente Aberta: Evolução dos Pensamentos”, de poesias e ates
visuais (Porto Alegre, 2016, 1 a edição), da primeira edição da “Revista
Literalivre” (Janeiro, 2017), da “Exercício Poético Com Imagem, 3.ª Edição”
(2017), na convocatoria "Doce poesia doce"(2017) e na “Folhinha poética”(2018).

Contato - www.facebook.com/mikas9010 ou pelo email .


miihells@homail.com

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