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as que aborda em seu estudo permitem tencionar percepções forjadas em torno do cativeiro e da
as percepções sobre o que é »local« e »periférico«, liberdade no momento em que se lutava contra a
ampliando a compreensão a respeito da multipli- dominação francesa e, ao mesmo tempo, se forta-
cidade histórica do passado oitocentista em sua lecia a escravidão africana no Caribe espanhol. O
globalidade. inovador do capítulo é a maneira como o autor
A segunda seção do livro é a mais coesa das explora a trajetória de prisioneiros de guerra, in-
quatro. Seus três capítulos destacam a centralidade clusive, a do próprio rei, Fernando VII, mapeando
e as especificidades dos discursos raciais no mundo as formas como as experiências moldaram as men-
hispânico do longo século XIX. Joshua Goode volta talidades, oscilando da escala da biografia para a
seu olhar para o momento que se seguiu às perdas grande política. William Luis, por seu turno, ex-
imperiais espanholas, em 1898. O autor destaca o plora o esfacelamento daquele império que, segun-
uso político do discurso antropológico que requa- do Nowara, havia se renovado na década de 1820
lificou, sobre novas bases, a fusão racial caracterís- em diante. Partindo de uma metáfora que acena
tica dos espanhóis, justificando suas aspirações para a inexistência de vácuo de poder, Luis examina
colonialistas na África. O ponto central de Goode a transição do domínio colonial espanhol no Cari-
é mostrar a plasticidade da significação atribuída à be para a influência neocolonial dos Estados Uni-
mestiçagem, que configuraria o que ele chama de dos a partir de um criativo e abrangente exame da
portmanteau idea em função da contínua redefini- produção literária (tomada como contradiscurso) e
ção e da variedade de apropriações nos diferentes de suas interfaces com as transformações culturais,
contextos nas décadas iniciais do século XX. Alda econômicas e políticas do período.
Blanco segue caminho semelhante, explorando as A última seção é iniciada pelo capítulo de
formas assumidas pelo pensamento racial na Es- Michael Ugarte, que aborda a presença espanhola
panha e na América hispânica. O seu ponto de no norte da África, tema também bastante negli-
partida são as ideias debatidas no Congresso Geo- genciado. O contexto é investigado por meio dos
gráfico Hispano-Português-Americano, de 1892. escritos de Benito Pérez Galdós (1843–1920), autor
Uma das teses consensuais foi a de que a raça realista que deixa transparecer, conforme Ugarte, as
ibérica era produto da fusão racial e que isso se ambiguidades e as ambivalências do imperialismo
tratava de um aspecto positivo, em franco contraste espanhol em terras africanas, principalmente no
com o »purismo« prevalente no racialismo europeu tocante às Guerras do Marrocos, e em relação ao
da época. Em seguida, a autora confronta essa discurso orientalista. Em seguida, o trabalho de
presunção com a linha de pensamento de duas Lisa Surwillo trata do tema dos indianos, espanhóis
figuras de destaque da intelectualidade hispano- emigrados que retornavam após terem »feito a
americana, o mexicano Justo Sierra e o argentino América«. Para a autora, as narrativas, o imaginário
Domingo Sarmiento, que chegaram a diferentes e a cultura material deixadas por aqueles indiví-
conclusões. Joyce Tolliver, na sequência, chamando duos permitem desafiar a ideia de finitude do
a atenção para a negligência historiográfica com as império, na medida em que dão conta da conti-
Filipinas, destaca as particularidades das concep- nuidade ou da criação de fluxos migratórios e de
ções de raça e nacionalidade na região. O interes- laços econômicos após 1898. Por fim, Alejandro
sante a enfatizar é o contraste com a tônica geral Mejías-López apresenta uma avaliação sobre os
dos dois capítulos anteriores. Diferentemente do efeitos do declínio do império espanhol na história
que acontecia, desde tempos imemoriais, na Pen- literária espanhola e hispano-americana. Extrapo-
ínsula e na interação com os povos americanos, lando a análise de Faber sobre o hispanismo, Mejías
a mestiçagem entre espanhóis e a população local sublinha a indiferença mútua entre os campos
seria relativamente rara na colonização filipina. literários dos dois lados do Atlântico e o lugar de
Consequentemente, a aplicação dos protocolos de subordinação assumido em relação à literatura
distinção / exclusão social e política baseados na francesa e do Norte da Europa, no decorrer do
tradicional ficção jurídica da »limpeza de sangue«, século XX. Na sequência, realça as perspectivas
também presentes na América, assumiriam traços abertas pelos estudos transatlânticos, mas também
peculiares naquela localidade. – praticamente realizando uma crítica interna ao
Um texto de Cristopher Schmidt-Nowara, fale- livro – alerta para os problemas decorrentes de um
cido em 2015 e a quem o livro é dedicado, abre a novo confinamento nos limites do antigo império
terceira seção com uma análise relacional das e clama por teorizações que ajudem lançar novas
472 A finitude imperial em revista: uma perspectiva sobre as conexões do mundo hispânico
Kritik critique
luzes sobre a circulação de cultura e de poder natureza das relações da Espanha com os países
através do Atlântico. de língua castelhana independentes na primeira
Empire’s End, tanto pela excelência individual metade do século XIX daquelas estabelecidas com
dos capítulos que o integram quanto pela afinidade regiões como Cuba e Porto Rico, que permanece-
de seu conjunto, é uma ótima contribuição histo- ram colônias. Ademais, a hiperbólica imagem do
riográfica. Não obstante, a relativização das eman- poderio espanhol pintada na frase inicial não é
cipações políticas como marcos definidores, embo- desafiada pelo conjunto da obra, que não proble-
ra seja analiticamente estimulante, tem, no livro, o matiza a inserção do país no quadro mais amplo
duplo efeito de rebaixar o relevo histórico das das disputas imperiais. Como construir uma pers-
independências e de tornar singulares os múltiplos pectiva transnacional que desconsidera, por exem-
tempos do império espanhol e de seu colapso. plo, as pressões econômicas e diplomáticas exerci-
Embora os capítulos sejam eivados de discussões das pelo Império Britânico?
sobre relações de poder, prepondera uma concep-
ção culturalista de império que não discerne a