Sie sind auf Seite 1von 4

Zeitschrift des Max-Planck-Instituts für europäische Rechtsgeschichte

Journal of the Max Planck Institute for European Legal History


Rechts Rg
geschichte

Rechtsgeschichte
Legal History
www.rg.mpg.de

http://www.rg-rechtsgeschichte.de/rg26 Rg 26 2018 471 – 473


Zitiervorschlag: Rechtsgeschichte – Legal History Rg 26 (2018)
http://dx.doi.org/10.12946/rg26/471-473

Waldomiro Lourenço da Silva Júnior *

A finitude imperial em revista: uma perspectiva


sobre as conexões do mundo hispânico
[The Empire’s End Under Review: A Perspective on the Hispanic World’s Connections]

* Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), waldomiro.silva@ufsc.br

Dieser Beitrag steht unter einer


Creative Commons cc-by-nc-nd 3.0
Kritik critique

Waldomiro Lourenço da Silva Júnior

A finitude imperial em revista: uma perspectiva


sobre as conexões do mundo hispânico*
Fruto de um simpósio sucedido em 2012, na changes implied« (5). As relações de poder aqui
Washington University, nos Estados Unidos, o livro são, portanto, compreendidas além do campo es-
organizado por A.Tsuchiya e W. Acree começa com trito da dominação colonial.
a seguinte frase: »when Napoleon’s forces invaded A obra conta com dez capítulos, distribuídos em
the Iberian Peninsula in 1808, the world’s most quatro seções: Atlantic cartographies; racial theory:
powerful empire was already beginning to frac- from imperial formation to nostaligic celebration;
ture« (1). O elemento notável aqui não é o erro de slavery, empire, and the problem of freedom; cultural
data, já que a invasão à Península Ibérica ocorreu legacies of empire. A contribuição de Sebastiaan
no ano anterior, nem a associação entre a fratura Faber, que abre a primeira seção do livro, consiste
do império espanhol e as incursões das forças de em uma dura crítica ao paradigma hispanista
Napoleão Bonaparte, mas a qualificação daquele presente na historiografia cultural espanhola. Faber
império como o mais poderoso do mundo no aborda o hispanismo como ideologia e como
alvorecer do oitocentos, quando Grã-Bretanha e prática institucional solidamente arraigada, apon-
França disputavam, palmo a palmo, a hegemonia tando as limitações de um exclusivismo que des-
atlântica. De imediato, surgem duas indagações: considera tanto a produção literária espanhola
Quais as concepções de império e de poder pre- redigida em outras línguas que não o castelhano
sentes na obra? Como os autores compreendem quanto a literatura em espanhol produzida fora da
a inserção do império espanhol no quadro mais Espanha. Faber argumenta que a reprodução de
amplo das relações e das disputas internacionais? determinada perspectiva acadêmica constitui um
A. Tsuchiya, autora do texto introdutório de meio para o exercício de poder com variados níveis
onde foi extraída a frase reproduzida acima, salien- de interesses, e que sua contestação não passa
ta que o término do império é compreendido no apenas pela crítica intelectual, mas, também, pela
livro como um processo fluido ocorrido no deco- realização de reformas curriculares e departamen-
rrer do »longo século XIX«, cujas ramificações reais tais nas universidades. O segundo capítulo, de
e simbólicas são sentidas além desse período. Talvez Kirsty Hooper, migra da historiografia para a his-
a essa consideração se deva a supressão, no título tória, trazendo luzes sobre o caso pouquíssimo
do livro, do marco cronológico presente no título conhecido das conexões da cidade de Liverpool,
do simpósio (1808–1898). Um segundo ponto real- na Inglaterra, com o mundo luso-hispânico no
çado pela autora, que decorre do primeiro, diz século XIX. A autora solicita maior sustentação
respeito à compreensão de que as independências empírica à história dos intercâmbios culturais e
não marcam a quebra das relações transatlânticas e traz a concretude das migrações e das trocas eco-
transacionais entre a Espanha e suas antigas posses- nômicas para o centro da reflexão. Seu trabalho
sões ultramarinas. A consequência fundamental é indica o funcionamento de companhias de nave-
a problematização da emancipação política como gação que ligavam o porto britânico aos circuitos
fator de ruptura e o destaque de aspectos culturais comerciais ibéricos no Atlântico e no Pacífico, em
hispânicos como elementos de integração. Com ambos os hemisférios, bem como a formação de
efeito, um dos pontos fortes da obra é explorar uma comunidade luso-hispânica em Liverpool
»circuits of intelectual and cultural exchange – and cujos traços culturais ainda estão em grande parte
the concomitant power relations that such ex- por serem reconstituídos. Para ela, conexões como

* Akiko Tsuchiya, William G. Acree


Jr. (eds.), Empire’s End: Trans-
national Connections in the His-
panic World, Nashville: Vanderbilt
University Press 2016, 240 p.,
ISBN 978-0-82652-076-0

Waldomiro Lourenço da Silva Júnior 471


Rg 26 2018

as que aborda em seu estudo permitem tencionar percepções forjadas em torno do cativeiro e da
as percepções sobre o que é »local« e »periférico«, liberdade no momento em que se lutava contra a
ampliando a compreensão a respeito da multipli- dominação francesa e, ao mesmo tempo, se forta-
cidade histórica do passado oitocentista em sua lecia a escravidão africana no Caribe espanhol. O
globalidade. inovador do capítulo é a maneira como o autor
A segunda seção do livro é a mais coesa das explora a trajetória de prisioneiros de guerra, in-
quatro. Seus três capítulos destacam a centralidade clusive, a do próprio rei, Fernando VII, mapeando
e as especificidades dos discursos raciais no mundo as formas como as experiências moldaram as men-
hispânico do longo século XIX. Joshua Goode volta talidades, oscilando da escala da biografia para a
seu olhar para o momento que se seguiu às perdas grande política. William Luis, por seu turno, ex-
imperiais espanholas, em 1898. O autor destaca o plora o esfacelamento daquele império que, segun-
uso político do discurso antropológico que requa- do Nowara, havia se renovado na década de 1820
lificou, sobre novas bases, a fusão racial caracterís- em diante. Partindo de uma metáfora que acena
tica dos espanhóis, justificando suas aspirações para a inexistência de vácuo de poder, Luis examina
colonialistas na África. O ponto central de Goode a transição do domínio colonial espanhol no Cari-
é mostrar a plasticidade da significação atribuída à be para a influência neocolonial dos Estados Uni-
mestiçagem, que configuraria o que ele chama de dos a partir de um criativo e abrangente exame da
portmanteau idea em função da contínua redefini- produção literária (tomada como contradiscurso) e
ção e da variedade de apropriações nos diferentes de suas interfaces com as transformações culturais,
contextos nas décadas iniciais do século XX. Alda econômicas e políticas do período.
Blanco segue caminho semelhante, explorando as A última seção é iniciada pelo capítulo de
formas assumidas pelo pensamento racial na Es- Michael Ugarte, que aborda a presença espanhola
panha e na América hispânica. O seu ponto de no norte da África, tema também bastante negli-
partida são as ideias debatidas no Congresso Geo- genciado. O contexto é investigado por meio dos
gráfico Hispano-Português-Americano, de 1892. escritos de Benito Pérez Galdós (1843–1920), autor
Uma das teses consensuais foi a de que a raça realista que deixa transparecer, conforme Ugarte, as
ibérica era produto da fusão racial e que isso se ambiguidades e as ambivalências do imperialismo
tratava de um aspecto positivo, em franco contraste espanhol em terras africanas, principalmente no
com o »purismo« prevalente no racialismo europeu tocante às Guerras do Marrocos, e em relação ao
da época. Em seguida, a autora confronta essa discurso orientalista. Em seguida, o trabalho de
presunção com a linha de pensamento de duas Lisa Surwillo trata do tema dos indianos, espanhóis
figuras de destaque da intelectualidade hispano- emigrados que retornavam após terem »feito a
americana, o mexicano Justo Sierra e o argentino América«. Para a autora, as narrativas, o imaginário
Domingo Sarmiento, que chegaram a diferentes e a cultura material deixadas por aqueles indiví-
conclusões. Joyce Tolliver, na sequência, chamando duos permitem desafiar a ideia de finitude do
a atenção para a negligência historiográfica com as império, na medida em que dão conta da conti-
Filipinas, destaca as particularidades das concep- nuidade ou da criação de fluxos migratórios e de
ções de raça e nacionalidade na região. O interes- laços econômicos após 1898. Por fim, Alejandro
sante a enfatizar é o contraste com a tônica geral Mejías-López apresenta uma avaliação sobre os
dos dois capítulos anteriores. Diferentemente do efeitos do declínio do império espanhol na história
que acontecia, desde tempos imemoriais, na Pen- literária espanhola e hispano-americana. Extrapo-
ínsula e na interação com os povos americanos, lando a análise de Faber sobre o hispanismo, Mejías
a mestiçagem entre espanhóis e a população local sublinha a indiferença mútua entre os campos
seria relativamente rara na colonização filipina. literários dos dois lados do Atlântico e o lugar de
Consequentemente, a aplicação dos protocolos de subordinação assumido em relação à literatura
distinção / exclusão social e política baseados na francesa e do Norte da Europa, no decorrer do
tradicional ficção jurídica da »limpeza de sangue«, século XX. Na sequência, realça as perspectivas
também presentes na América, assumiriam traços abertas pelos estudos transatlânticos, mas também
peculiares naquela localidade. – praticamente realizando uma crítica interna ao
Um texto de Cristopher Schmidt-Nowara, fale- livro – alerta para os problemas decorrentes de um
cido em 2015 e a quem o livro é dedicado, abre a novo confinamento nos limites do antigo império
terceira seção com uma análise relacional das e clama por teorizações que ajudem lançar novas

472 A finitude imperial em revista: uma perspectiva sobre as conexões do mundo hispânico
Kritik critique

luzes sobre a circulação de cultura e de poder natureza das relações da Espanha com os países
através do Atlântico. de língua castelhana independentes na primeira
Empire’s End, tanto pela excelência individual metade do século XIX daquelas estabelecidas com
dos capítulos que o integram quanto pela afinidade regiões como Cuba e Porto Rico, que permanece-
de seu conjunto, é uma ótima contribuição histo- ram colônias. Ademais, a hiperbólica imagem do
riográfica. Não obstante, a relativização das eman- poderio espanhol pintada na frase inicial não é
cipações políticas como marcos definidores, embo- desafiada pelo conjunto da obra, que não proble-
ra seja analiticamente estimulante, tem, no livro, o matiza a inserção do país no quadro mais amplo
duplo efeito de rebaixar o relevo histórico das das disputas imperiais. Como construir uma pers-
independências e de tornar singulares os múltiplos pectiva transnacional que desconsidera, por exem-
tempos do império espanhol e de seu colapso. plo, as pressões econômicas e diplomáticas exerci-
Embora os capítulos sejam eivados de discussões das pelo Império Britânico?
sobre relações de poder, prepondera uma concep-
ção culturalista de império que não discerne a 

Mónica García-Salmones Rovira

More is More in the Hidden History of


International Law in the Americas*
»In the beginning all the World was America« all the world was America again, but with a good
reads the iconic opening of § 49 in John Locke’s number more of international organizations, in-
Second Treatise of Government. Beyond mentioning stitutions devoted to the scientific study of inter-
»America«, Locke’s theory and the story told by national law, and international legal norms and
Juan Pablo Scarfi in The Hidden History of Inter- principles.This image, of course, simplifies tremen-
national Law in the Americas share an unsettling dously the complex history of the past century.
resemblance. The expansion of international law However, it summarizes the message of Scarfi’s
and the deepening of legal techniques for the book.
purposes of US hegemony in the American hemi- The Hidden History belongs to a new wave of
sphere, the invasion of politics by the language of scholarship on the development and history of
science, the double standard, one of real military international law on the American continent in
and monetary interventions, and another of (usu- the early 20th century. It also connects with grow-
ally) suave diplomatic correspondence about the ing interest in the figure of James Brown Scott
advantages of pan-Americanism, all are part and (Liliana Obregón, Arnulf Becker Lorca, Paolo
parcel of The Hidden History. Moreover, around the Amorosa, Joshua Smetzler, Mónica García-Sal-
mid-20th century the pattern extended around the mones). Scarfi presents his own approach to the
entire globe. Therefore, as Scarfi elegantly suggests, history of international law in America as an
the interventions in Latin America by the newly exercise of »intellectual history« and a contribution
established US empire in the early 20th century had to »the history of US-Latin American relations«
the nature of laboratory experiments. In the end, (xvii). He traces »legal networks«, which amounted

* Juan Pablo Scarfi, The Hidden


History of International Law in
the Americas. Empire and Legal
Networks, Oxford: Oxford Uni-
versity Press 2017, 239 p.,
ISBN 978-0-19-062234-3

Mónica García-Salmones Rovira 473

Das könnte Ihnen auch gefallen