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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO DO CONSUMIDOR

Atualizado em 16/02/2018: novos julgados.

1. CONCEITO DE CONSUMIDOR
1.1. DPVAT: Não se aplica o CDC para as discussões envolvendo o DPVAT – (Info
614)

As normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor não se aplicam ao


seguro obrigatório (DPVAT).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.635.398-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/10/17 (Info
614).
OBS: O seguro DPVAT não é baseado em uma relação jurídica contratual. Trata-se
de um seguro obrigatório por força de lei, que tem por objetivo mitigar os danos
advindos da circulação de veículos automotores. Em se tratando de obrigação imposta
por lei, não há, por conseguinte, qualquer acordo de vontade e, principalmente,
voluntariedade entre o proprietário do veículo e as seguradoras componentes do
consórcio do seguro DPVAT, o que, por si, evidencia que não se trata de contrato. A
estipulação da indenização securitária em favor da vítima do acidente, assim como
as específicas hipóteses de cabimento (morte, invalidez permanente, total e parcial,
e por despesas de assistência médica e suplementares) decorrem exclusivamente de
imposição legal, e, como tal, não comportam qualquer temperamento das partes
envolvidas. Nesse contexto, não há, por parte das seguradoras integrantes do
consórcio do seguro DPVAT, responsáveis por realizarem o pagamento, qualquer
ingerência nas regras relativas à indenização securitária. Ao contrário do que ocorre
no caso de seguro facultativo (esta, sim, sujeita ao CDC), a atuação das seguradoras
integrantes do consórcio do seguro DPVAT não é concorrencial nem se destina à
obtenção de lucro, na medida em que a respectiva arrecadação possui destinação
legal específica. Tampouco seria possível falar em vulnerabilidade, na acepção
técnico-jurídica, das vítimas de acidente de trânsito - e muito menos do proprietário
do veículo a quem é imposto o pagamento do "prêmio" do seguro DPVAT - perante
as seguradoras, as quais não possuem qualquer margem discricionária para efetivação
do pagamento da indenização securitária, sempre que presentes os requisitos
estabelecidos na lei.

1.1. Se o consumidor beneficiário de contrato de participação financeira cede seus


direitos, a cessionária não será considerada consumidora – (Info 600)

A condição de consumidor do promitente-assinante não se transfere aos


cessionários do contrato de participação financeira.
Ex: João firmou contrato de participação financeira com a empresa de telefonia.
João cedeu os direitos creditícios decorrentes do contrato para uma empresa
privada especializada em comprar créditos, com deságio. A empresa cessionária, ao
ajuizar demanda contra a companhia telefônica pedindo os direitos decorrentes
deste contrato, não poderá invocar o CDC. As condições personalíssimas do
cedente não se transmitem ao cessionário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.608.700-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/3/17 (Info
600).
OBS: No caso analisado, a linha telefônica permaneceu com o promitente-assinante
(João), sendo transferida para a empresa cessionária apenas a segunda relação jurídica,
ou seja, os valores mobiliários (ações). É certo que a jurisprudência do STJ se firmou
no sentido de que o CDC é aplicável às ações que têm como objeto o cumprimento de
contratos de participação financeira, pois diretamente atrelados ao serviço de
telefonia. No entanto, no presente caso, a autora é uma empresa especializa em
comprar créditos, sendo cessionária de milhares de contratos de participação
financeira. Não há vulnerabilidade ou hipossuficiência do cessionário. Ademais, o
pedido da demanda é apenas relacionado com as ações, não havendo qualquer
discussão sobre o uso dos serviços de telefonia (isso sim é que configura a prestação
dos serviços). Além disso, a cessão está resumida à integralidade dos direitos
creditícios decorrentes do contrato de participação financeira. Trata-se, portanto, de
cessão de crédito e não de cessão de posição contratual, pois não há cessão da inteira
posição no ajuste. Por fim, vale ressaltar que as condições personalíssimas do cedente
não se transmitem ao cessionário. Logo, a condição de consumidor do promitente-
assinante não se transfere ao cessionário do contrato de participação financeira.

1.2. Não se aplica o CDC para contrato de transporte de insumos – (Info 600)

Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor - CDC ao contrato de transporte


de mercadorias vinculado a contrato de compra e venda de insumos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.674-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 7/3/17
(Info 600).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa “AUTOTEC” comprou insumos
de uma empresa chinesa e contratou a transportadora “TRANSLOG” para trazê-los
de Shangai (China) para Curitiba (Brasil), via área. Ocorre que houve extravio dos
referidos insumos, não tendo chegado ao Brasil. Diante disso, a empresa “AUTOTEC”
ajuizou ação de indenização contra a “TRANSLOG” pedindo a aplicação das regras
do CDC ao caso, sob o argumento de que haveria relação de consumo.

O pedido da empresa “AUTOTEC” deverá ser aceito? NÃO. Não é possível reconhecer
a caracterização de relação de consumo no contrato de transporte de mercadoria
celebrado no caso concreto. O conceito básico de consumidor foi fixado no CDC, em
seu art. 2º, ao estatuir que “consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como destinatária final”. A nota característica dessa
definição está na identificação de uma pessoa (física ou jurídica) como destinatária
final de um produto ou serviço para que possa ser enquadrada como consumidora. A
condição de destinatário final de um bem ou serviço constitui a principal limitação
estabelecida pelo legislador para a fixação do conceito de consumidor e,
consequentemente, para a própria incidência do CDC como lei especial. Há
necessidade, assim, de se estabelecer o alcance dessa expressão, que constitui o
elemento teleológico dessa definição. Considera-se destinatário final aquele que, no
ato de consumir, retira o bem do mercado. A jurisprudência, posteriormente, evoluiu
para admitir uma certa mitigação da teoria finalista na hipótese em que, embora não
verificada a condição de destinatário final, constata-se a vulnerabilidade do
consumidor profissional ante o fornecedor. Nesse sentido, confira o seguinte julgado
que evidencia a posição atual do STJ acerca da matéria:
(...) 1. É relação de consumo a estabelecida entre o
caminhoneiro que reclama de defeito de fabricação do
caminhão adquirido e a empresa vendedora do veículo,
quando reconhecida a vulnerabilidade do autor perante a ré.
(...)
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 426.563/PR, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 03/06/2014.

No caso em tela, não se aplica a referida mitigação da teoria finalista, pois a empresa
autora da demanda sequer alegou a sua vulnerabilidade perante a empresa
demandada. Com efeito, sob a ótica da teoria finalista, seria o caso de analisar se a
contratante do serviço de transporte de carga é destinatária final fática e econômica
desse serviço. Contudo, uma vez que a carga transportada é insumo, o contrato
celebrado para o transporte desse insumo fica vinculado a essa destinação, não
havendo necessidade de se perquirir acerca da destinação econômica do serviço de
transporte.

1.3. Aplicação do CDC em ação proposta por condomínio contra construtora na


defesa dos condôminos – (Info 592) – IMPORTANTE!!!

Aplica-se o CDC ao condomínio de adquirentes de edifício em construção, nas


hipóteses em que atua na defesa dos interesses dos seus condôminos frente a
construtora ou incorporadora.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.560.728-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 18/10/16
(Info 592).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A incorporadora "Habitação" está terminando
de construir um edifício de apartamentos, faltando apenas concluir as áreas comuns.
Os proprietários das unidades autônomas já constituíram, inclusive, o condomínio.
Ocorre que a incorporadora está se recusando a cumprir suas obrigações quanto à
entrega das áreas comuns.
Diante disso, o condomínio ajuizou ação contra a incorporadora pedindo que ela
cumpra as obrigações assumidas com os condôminos. Na ação, o autor pede que seja
invertido o ônus da prova com base no Código de Defesa do Consumidor. A ré
contestou a ação afirmando que não há relação de consumo entre ela (incorporadora)
e o Condomínio. Segundo alega, existe relação de consumo entre ela e os adquirentes
da incorporação, mas não se pode afirmar que o mesmo ocorre na relação entre a
incorporadora e o Condomínio.

No presente caso, em que o condomínio defende os interesses dos condôminos, existe


relação de consumo entre o condomínio e a construtora/incorporadora? SIM.

O CDC assim conceitua consumidor:


Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

O condomínio não se enquadra nesta definição contida no caput, considerando que o


condomínio não possui personalidade jurídica, consistindo em mera comunhão de
interesses. Contudo, o parágrafo único do art. 2º do CDC amplia substancialmente o
conceito básico de consumidor previsto no "caput" para abranger a coletividade de
consumidores, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo, para efeito de incidência do microssistema de proteção do consumidor.
Veja:
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.

Desse modo, o condomínio pode ser incluído nesta definição de consumidor


equiparado. O STJ tem, inclusive, um precedente antigo afirmando que é possível a
aplicação do CDC nas ações em que o condomínio litiga contra empresa prestadora
de serviços, estando presente relação de consumo. Confira:
(...) Existe relação de consumo entre o condomínio de quem é
cobrado indevidamente taxa de esgoto e a concessionária de
serviço público. (...)
STJ. 2ª Turma. REsp 650.791/RJ, Rel. Min. Castro Meira,
julgado em 06/04/2006.

Se fosse acolhido o argumento da incorporadora, isso obrigaria que cada condômino


propusesse a ação de forma individual para obter a tutela do CDC no lugar da tutela
conjunta dos direitos individuais homogêneos dos condôminos. Tal interpretação vai
de encontro a toda a principiologia do CDC, seja no plano material (conceito amplo
de consumidor), seja no plano processual (estímulo à tutela coletiva). Se o condomínio
detém legitimidade para defender os interesses comuns dos seus condôminos,
justamente por ser constituído da comunhão dos seus interesses, não se pode
restringir a tutela legal colocada à sua disposição pelo ordenamento jurídico.

1.4. É inaplicável o CDC ao contrato de franquia – (Info 591) – (TJDFT-2016)

A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito


às regras protetivas previstas no CDC.
A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas
sim de fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais
do franqueado.
O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim
a pessoa que os comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).

1.5. Participantes ou assistidos de plano de benefício e entidade de previdência


complementar – (Info 571)

O Código de Defesa do Consumidor não é aplicável à relação jurídica entre


participantes ou assistidos de plano de benefício e entidade de previdência
complementar fechada, mesmo em situações que não sejam regulamentadas pela
legislação especial.
A súmula 321 do STJ só vale para entidades ABERTAS de previdência privada. Para
entidades fechadas não se aplica o CDC.
Súmula 321-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica
entre a entidade de previdência privada e seus participantes.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.536.786-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/8/15 (Info 571).

1.6. Aplicação do CDC a aquisição de avião por empresa administradora de


imóveis – (Info 548) – IMPORTANTE!!!

Há relação de consumo entre a sociedade empresária vendedora de aviões e a


sociedade empresária administradora de imóveis que tenha adquirido avião com o
objetivo de facilitar o deslocamento de sócios e funcionários. Aplica-se a teoria
finalista mitigada.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1.321.083-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j.
9/9/14 (Info 548).

1.7. Aplicação do CDC a contrato de seguro empresarial – (Info 548)

Empresa concessionária e veículos celebrou contrato de seguro para proteger apenas


os seus próprios carros (e não dos clientes). Há relação de consumo entre ela e a
seguradora?
SIM. Há relação de consumo entre a seguradora e a concessionária de veículos que
firmam seguro empresarial visando à proteção do patrimônio desta (destinação
pessoal) – ainda que com o intuito de resguardar veículos utilizados em sua
atividade comercial –, desde que o seguro não integre os produtos ou serviços
oferecidos por esta.

Contrato de seguro continha uma cláusula que previa, de forma genérica, cobertura
apenas para furto qualificado (excluindo, portanto, o furto simples). Essa cláusula é
válida?
NÃO. A cláusula securitária que garante a proteção do patrimônio do segurado
apenas contra o furto qualificado, sem esclarecer o significado e o alcance do termo
“qualificado”, bem como a situação concernente ao furto simples, está eivada de
abusividade por falha no dever geral de informação da seguradora e por sonegar
ao consumidor o conhecimento suficiente acerca do objeto contratado. Não pode
ser exigido do consumidor o conhecimento de termos técnico-jurídicos específicos,
ainda mais a diferença entre tipos penais de mesmo gênero.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.419-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 19/8/14
(Info 548).

1.8. Competência para julgar demanda e consumidor por equiparação – (Info 542)

Determinada pessoa teve seu nome inscrito no serviço de proteção ao crédito


porque alguém utilizou seu nome em um cheque falsificado para pagar estadia em
hotel.
Diante do não pagamento do cheque, o banco levou a protesto o título de crédito.
Essa pessoa negativada será considerada consumidora por equiparação, nos termos
do art. 17 do CDC.
Houve um acidente de consumo causado pela suposta falta de segurança na
prestação do serviço por parte do estabelecimento hoteleiro que, no caso concreto,
poderia ter identificado a fraude.
Logo, sendo a vítima considerada consumidora e sendo o causador do dano um
fornecedor de serviços, a ação de indenização poderá ser proposta contra o Hotel
no foro do domicílio do autor (consumidor por equiparação), nos termos do art. 101,
I, do CDC.
STJ. 2ª Seção. CC 128.079-MT, Rel. Min. Raul Araújo, j. 12/3/2014 (Info 542).
OBS:
Em se tratando de relação de consumo, o consumidor poderá propor a ação no foro
de seu domicílio, nos termos do art. 101, I, do CDC:

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de


produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I
e II deste Título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

1.9. Conceito de consumidor e teoria finalista aprofundada – (Info 510)

Em regra, somente pode ser considerado consumidor, para fins de aplicação do


CDC, o destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou
jurídica.
Com isso, em regra, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário,
assim entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e
distribuição, compondo o custo (e, portanto, o preço final) de um novo bem ou
serviço.
Embora consagre o critério finalista para interpretação do conceito de consumidor,
a jurisprudência do STJ também reconhece a necessidade de, em situações
específicas, abrandar o rigor desse critério para admitir a aplicabilidade do CDC
nas relações entre fornecedores e sociedades empresárias em que, mesmo a
sociedade empresária utilizando os bens ou serviços para suas atividades
econômicas, fique evidenciado que ela apresenta vulnerabilidade frente ao
fornecedor. Diz-se que isso é a teoria finalista mitigada, abrandada ou
aprofundada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.195.642-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2012
(Info 510 STJ).

1.10. Aplicação do CDC na relação entre proprietário de imóvel e a imobiliária


contratada por ele para administrar o bem

É possível aplicar o CDC à relação entre proprietário de imóvel e a imobiliária


contratada por ele para administrar o bem. Em outras palavras, a pessoa que
contrata uma empresa administradora de imóveis pode ser considerada
consumidora.
STJ. 3ª Turma. REsp 509.304-PR, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 16/5/2013.

2. CONCEITO DE CONSUMIDOR
2.1. Indivíduo que contrata serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários
é considerado consumidor – (Info 600)
Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que
visa a atender necessidades próprias, e as sociedades que prestam, de forma
habitual e profissional, o serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários.
Ex: João contratou a empresa “Dinheiro S.A Corretora de Valores” para que esta
intermediasse operações financeiras no mercado de capitais. Em outras palavras,
João contratou essa corretora para investir seu dinheiro na Bolsa de Valores. A
relação entre João e a corretora é uma relação de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.535-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/3/17 (Info 600).

3. CONVENÇÃO DE VARSÓVIA
3.1. Transporte internacional envolvendo importador que não seja consumidor:
aplica-se a Convenção de Varsóvia – (Info 541)

Para efeito de fixação de indenização por danos à mercadoria ocorridos em


transporte aéreo internacional, o CDC não prevalece sobre a Convenção de
Varsóvia quando o contrato de transporte tiver por objeto equipamento adquirido
no exterior para incrementar a atividade comercial de sociedade empresária que
não se afigure vulnerável na relação jurídico-obrigacional.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.162.649-SP, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para
acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 13/5/14 (Info 541).

4. DIREITOS BÁSICOS DOS CONSUMIDORES


4.1. DIREITO À INFORMAÇÃO: Além de avisar que “contém glúten”, as
embalagens dos produtos deverão também alertar que o glúten é prejudicial para
celíacos – (Info 612) – IMPORTANTE!!!

O fornecedor de alimentos deve complementar a informação-conteúdo "contém


glúten" com a informação-advertência de que o glúten é prejudicial à saúde dos
consumidores com doença celíaca.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.515.895-MS, Rel. Min. Humberto Martins, j. 20/9/17
(Info 612).

4.2. Dever de utilização do sistema Braille por instituições financeiras – (Info 559)
– IMPORTANTE!!!

As instituições financeiras devem confeccionar em Braille os contratos de adesão


que são assinados para contratação de seus serviços a fim de que os clientes com
deficiência visual possam ter conhecimento, por meio próprio, das cláusulas
contratuais ali contidas.
Os bancos devem também enviar os extratos mensais impressos em linguagem
Braille para os clientes com deficiência visual.
Além disso, tais instituições devem desenvolver cartilha para seus empregados
com normas de conduta para atendimentos ao deficiente visual.
A relutância da instituição financeira em utilizar o método Braille nos contratos
bancários de adesão firmados com pessoas portadoras de deficiência visual
representa tratamento manifestamente discriminatório e tem o condão de afrontar
a dignidade deste grupo de pessoas gerando danos morais coletivos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.315.822-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
24/3/2015 (Info 559).
4.3. Momento de inversão do ônus da prova – (Info 492)

A inversão do ônus da prova de que trata o art. 6º, VIII, do CDC é REGRA DE
INSTRUÇÃO, devendo a decisão judicial que determiná-la ser proferida
preferencialmente na fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurar à
parte a quem não incumbia inicialmente o encargo a reabertura de oportunidade
para manifestar-se nos autos.
STJ. 2ª Seção. EREsp 422.778-SP, Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti (art.
52, IV, b, do RISTJ), julgados em 29/2/2012 (Info 492 STJ).

5. VÍCIO DO PRODUTO
5.1. É válida a prática de loja que permite a troca direta do produto viciado se feita
em até 3 dias da compra – (Info 598)

Determinada loja adota a seguinte prática: se o produto vendido apresentar algum


vício (popularmente conhecido como "defeito"), o consumidor poderá solicitar a
troca da mercadoria na própria loja, desde que faça isso no prazo de 3 dias corridos,
contados da data da emissão da nota fiscal. Por outro lado, se o consumidor detectar
o vício somente após esse prazo, ele deverá procurar a assistência técnica
credenciada e lá irão verificar a existência do vício e a possibilidade de ele ser
reparado ("consertado").
Essa prática é válida? Sim.
É legal a conduta de fornecedor que concede apenas 3 (três) dias para troca de
produtos defeituosos, a contar da emissão da nota fiscal, e impõe ao consumidor,
após tal prazo, a procura de assistência técnica credenciada pelo fabricante para que
realize a análise quanto à existência do vício.
A loja conferiu um "plus", ou seja, uma providência extra que não é prevista no
CDC, não sendo, contudo, vedada porque favorece o consumidor. Vale ressaltar
que a política de troca da loja (direito de troca direta do produto em 3 dias) não
exclui a possibilidade de o consumidor realizar a troca, na forma do art. 18, § 1º, I,
do CDC, caso o vício não seja sanado no prazo de 30 dias. Em outras palavras, a loja
concede uma opção extra, além daquelas já previstas no art. 18, § 1º.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.459.555-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/2/17
(Info 598).

5.2. Garrafas de vinhos não precisam indicar a quantidade de calorias e de sódio


existente – (Info 592)

Não existe obrigação legal de se inserir nos rótulos dos vinhos informações acerca
da quantidade de sódio e de calorias (valor energético) existentes no produto.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.605.489-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 4/10/16
(Info 592).

6. RESPONSABILIDADE CIVIL
6.1. FATO DO SERVIÇO: Prazo prescricional para ação de indenização em caso de
furto de joia empenhada – (Info 616)
A parte celebrou contrato de mútuo com a instituição financeira e deu uma joia em
penhor como garantia do débito.
Ocorre que a joia foi furtada de dentro do banco.
Diante disso, o devedor (mutuário) terá que pleitear indenização pelos prejuízos
sofridos com o furto, sendo de 5 anos o prazo prescricional para essa ação de
ressarcimento.
O furto das joias, objeto do penhor, constitui falha do serviço prestado pela
instituição financeira, devendo incidir o prazo prescricional de 5 anos para a ação
de indenização, conforme previsto no art. 27 do CDC.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.369.579-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/10/17 (Info
616).
OBS: O furto ocorrido deve ser entendido como fortuito interno, inerente à atividade
explorada pelo banco. Assim, a instituição financeira é responsável por furtos ou
mesmo roubos em seus cofres (REsp 1.250.997/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta
Turma, julgado em 5/2/2013).

6.2. FATO DO SERVIÇO: Para ocorrer indenização por danos morais em função
do encontro de corpo estranho em alimento industrializado, é necessária a sua
ingestão? – (Info 616) – Tema Polêmico!

Para ocorrer a indenização por danos morais em função do encontro de corpo


estranho em alimento industrializado, é necessária a sua ingestão?
A jurisprudência é dividida sobre o tema:
 Ausente a ingestão do produto considerado impróprio para o consumo em
virtude da presença de corpo estranho, não se configura o dano moral
indenizável. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 489.030/SP, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/04/2015.

 A aquisição de produto de gênero alimentício contendo em seu interior


corpo estranho, expondo o consumidor à risco concreto de lesão à sua saúde
e segurança, ainda que não ocorra a ingestão de seu conteúdo, dá direito à
compensação por dano moral, dada a ofensa ao direito fundamental à
alimentação adequada, corolário do princípio da dignidade da pessoa
humana. O simples ato de “levar à boca” o alimento industrializado com
corpo estranho gera dano moral in re ipsa, independentemente de sua
ingestão. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.644.405-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 09/11/2017 (Info 616).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.644.405-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 09/11/17 (Info 616).

Ao observar o inteiro teor dos julgados e os casos examinados, percebe-se a seguinte


distinção:
 Se o consumidor encontra o corpo estranho sem ter comido nada do produto:
não cabe danos morais.
 Se o consumidor encontra o corpo estranho após ter comido parte do produto:
cabe danos morais, mesmo que ele não tenha ingerido o corpo estranho.
Vale ressaltar, contudo, que essa diferenciação não consta de forma expressa nos
julgados. Trata-se de uma constatação pessoal, razão pela qual deve-se ter cautela em
afirmar isso nos concursos públicos. Para fins de prova, é importante ficar com a
redação literal das ementas, conforme exposto acima.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João comprou um pacote de biscoito
recheado, sabor morango. Por volta do terceiro biscoito, ao mastigar o produto, João
encontrou uma aliança no recheio, cuspindo-a antes de engolir. Diante disso, ajuizou
ação de indenização por danos morais contra a fabricante do produto. A fabricante
alegou, dentre outros argumentos, que não houve dano moral, considerando que João
não engoliu o corpo estranho. Logo, do evento não advieram consequências
significativas.

Para ocorrer a indenização por danos morais em função do encontro de corpo


estranho em alimento industrializado, é necessária a sua ingestão? Para configurar
dano moral é necessário que o consumidor ENGULA o objeto estranho presente no
alimento? A jurisprudência é dividida sobre o tema:
SIM NÃO
Ausente a ingestão do produto A aquisição de produto de gênero
considerado impróprio para o consumo alimentício contendo em seu interior
em virtude da presença de corpo corpo estranho, expondo o consumidor
estranho, não se configura o dano a risco concreto de lesão à sua saúde e
moral indenizável. segurança, ainda que não ocorra a
Não há dano moral na hipótese de ingestão de seu conteúdo, dá direito à
aquisição de gênero alimentício com compensação por dano moral, dada a
corpo estranho no interior da ofensa ao direito fundamental à
embalagem se não ocorre a ingestão do alimentação adequada, corolário do
produto considerado impróprio para princípio da dignidade da pessoa
consumo, visto que referida situação não humana.
configura desrespeito à dignidade da O simples ato de “levar à boca” o
pessoa humana, desprezo à saúde alimento industrializado com corpo
pública ou mesmo descaso para com a estranho gera dano moral in re ipsa,
segurança alimentar. independentemente de sua ingestão.
A ausência de ingestão de produto A disponibilização de produto
impróprio para o consumo configura, considerado impróprio para consumo
em regra, hipótese de mero dissabor em virtude da presença de objeto
vivenciado pelo consumidor, o que estranho no seu interior afeta a
afasta eventual pretensão indenizatória segurança que rege as relações
decorrente de alegado dano moral. consumeristas na medida que expõe o
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp consumidor a risco de lesão à sua saúde
1597890/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. e segurança e, portanto, dá direito à
27/9/16. compensação por dano moral.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp STJ. 3ª Turma. REsp 1644405/RS, Rel.
489.030/SP, Rel. Min. Luis Felipe Min. Nancy Andrighi, j. 9/11/17 (Info
Salomão, j. 16/4/15. 616).
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp
1380274/SC, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, j. 10/5/16.

Observação: Ao observar o inteiro teor dos julgados e os casos examinados, percebe-


se a seguinte distinção:
 Se o consumidor encontra o corpo estranho sem ter comido nada do produto:
não cabem danos morais.
 Se o consumidor encontra o corpo estranho após ter comido parte do
produto: cabem danos morais, mesmo que ele não tenha ingerido o corpo
estranho. Por isso, no caso do biscoito, caberiam danos morais.

Vale ressaltar, contudo, que essa diferenciação não consta de forma expressa nos
julgados. Trata-se, contudo, de uma constatação pessoal, razão pela qual deve-se ter
cautela em afirmar isso nos concursos públicos. Para fins de prova, é importante ficar
com a redação literal das ementas, conforme exposta no quadro acima.

6.3. RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO SERVIÇO: Súmula 595-STJ – (Info


614)

Súmula 595-STJ: As instituições de ensino superior respondem objetivamente


pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela realização de curso não
reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada
prévia e adequada informação.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/10/2017, DJe 06/11/2017. (Info 614)
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João matriculou-se na primeira turma do
curso de bacharelado em Direito da UNISABES (Universidade do Saber). Quando João
se formou, em 2010, a Universidade ainda não havia conseguido obter o
reconhecimento do curso junto ao Ministério da Educação, de forma que ela não pode
emitir os diplomas de Bacharel em Direito. Assim, apesar de aprovado no exame da
OAB, João não pode obter a sua inscrição como advogado. A situação somente foi
resolvida 18 meses depois. Diante disso, o ex-aluno ingressou com ação de
indenização por danos morais e materiais contra a UNISABES. Vale ressaltar que no
momento em que o curso foi oferecido não se informou aos alunos que a Universidade
ainda não havia conseguido o reconhecimento.

Neste caso concreto, João terá direito de ser indenizado? SIM.

Qual é a natureza da relação jurídica firmada entre João e o Instituto? Relação de


consumidor e fornecedor. A relação jurídica firmada entre o aluno e a instituição de
ensino particular é uma relação de índole consumerista considerando que o aluno é o
destinatário final dos serviços prestados pela faculdade. Além disso, o aluno possui
vulnerabilidade jurídica frente à instituição.

Responsabilidade objetiva: Como a relação é consumerista, a instituição possui


responsabilidade civil objetiva pelos danos causados, nos termos do art. 14 do CDC:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Falha no dever de informação: Fica evidente a responsabilidade objetiva da


instituição, considerando que ela deveria ter informado previamente os alunos que o
curso não estava ainda reconhecido, informação que era fundamental para que eles
decidissem se desejariam ou não se matricular. Houve, portanto, descumprimento do
dever de informar, gerando o direito à indenização.
O STJ sumulou o entendimento acima exposto:
Súmula 595-STJ: As instituições de ensino superior
respondem objetivamente pelos danos suportados pelo
aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido
pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido
dada prévia e adequada informação. STJ. 2ª Seção. Aprovada
em 25/10/2017, DJe 06/11/2017.

Assim, “a instituição de ensino superior responde objetivamente pelos danos


causados ao aluno em decorrência da falta de reconhecimento do curso pelo MEC,
quando violado o dever de informação ao consumidor.” (STJ. 4ª Turma. AgRg no
AREsp 651.099/PR, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 26/5/15).

E se os alunos tivessem sido previamente informados, no momento da matrícula, que


o curso ainda não havia sido reconhecido pelo MEC e que as providências ainda
seriam tomadas? Se a falta de reconhecimento do curso pelo MEC tivesse sido
previamente informada aos alunos, de maneira clara e objetiva, a responsabilidade
civil da Instituição poderia ser afastada, conforme já decidiu o STJ:
(...) 2. Essa Corte reconhece a responsabilidade objetiva da
instituição de ensino e o direito à compensação por danos
morais a aluno de curso não reconhecido pelo Ministério da
Educação quando violado o dever de informação ao
consumidor.
3. Na hipótese, a situação do curso era conhecida pelos alunos
e as providências quanto ao seu reconhecimento oficial, após
a conclusão da primeira turma, foram tomadas pela
instituição.
4. A demora no reconhecimento do curso pelo MEC, não
impediu que a recorrente fosse contratada por duas
empresas do ramo farmacêutico, ou seja, não impediu que
ela exercesse sua atividade profissional.
5. Como já eram previsíveis os aborrecimentos e dissabores
por quais passou até o reconhecimento oficial do curso pelo
MEC porque a recorrente foi informada da situação pela
instituição de ensino, não ficou demonstrada a ocorrência do
dano moral passível de compensação. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1230135/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 04/12/2012.

Em caso de informação prévia, não se pode dizer que os alunos foram surpreendidos
com a situação, tendo sido enganados pela instituição ao longo dos anos de curso. Não
houve engodo ou violação do dever de informação. A situação do curso era conhecida
por todos e as providências cabíveis foram tomadas pela Instituição, razão pela qual
não há direito à indenização.

6.4. VÍCIO DO PRODUTO: A reclamação obstativa da decadência, prevista no art.


26, § 2º, I, do CDC, pode ser feita documentalmente ou verbalmente – (Info 614)
O CDC prevê que é causa obstativa da decadência a reclamação comprovadamente
formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a
resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca,
nos termos do art. 26, § 2º, I:
Art. 26 (...) § 2º Obstam a decadência: I - a reclamação
comprovadamente formulada pelo consumidor perante o
fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa
correspondente, que deve ser transmitida de forma
inequívoca;

De que forma tem que ocorrer essa “reclamação”? Pode ser verbal?
SIM. A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC,
pode ser feita documentalmente ou verbalmente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.597-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24/10/17 (Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João comprou um veículo usado da “BB
Auto”. Ocorre que o carro apresentou uma série de “defeitos” (vícios) que
comprometiam a utilização do produto. Por diversas vezes, o consumidor levou o
veículo à assistência técnica, sem que os vícios fossem sanados. Diante disso, João
ajuizou ação redibitória contra a empresa pedindo a rescisão do contrato de compra e
venda de veículo, com a restituição do valor pago, bem como o ressarcimento por
todas as despesas realizadas relacionadas ao veículo defeituoso.

Natureza dos problemas apresentados: Os problemas apresentados pelo veículo


adquirido caracterizam-se como vícios do produto, uma vez que tornam o bem
impróprio ou inadequado ao consumo a que se destina ou lhe diminuem o valor.

Qual é o prazo que o consumidor dispõe para reclamar de vícios do produto ou do


serviço? Tais prazos estão previstos no art. 26 do CDC:
 Se o serviço ou produto for considerado “NÃO DURÁVEL”: 30 dias;
 Se o serviço ou produto for considerado “DURÁVEL”: 90 dias.

Esse prazo é decadencial ou prescricional? Decadencial.

A partir de quando é contado esse prazo?


 Se o vício é APARENTE: conta-se da data da entrega do produto ou do
término da execução do serviço;
 Se o vício é OCULTO: conta-se a partir do momento em que ficar evidenciado
o “defeito”.

Veja a redação do CDC sobre o tema:


Art. 26 (...)
§ 1º Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da
entrega efetiva do produto ou do término da execução dos
serviços.
(...)
§ 3º Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se
no momento em que ficar evidenciado o defeito.
Quando começou, então, o prazo de João? João tinha 90 dias para reclamar junto ao
fornecedor, contados da data em que ficou evidenciado o “defeito” (rectius: vício) em
seu carro.

Causa obstativa da decadência: O CDC prevê que é causa obstativa da decadência a


reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de
produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida
de forma inequívoca, nos termos do art. 26, § 2º, I:
Art. 26 (...)
§ 2º Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo
consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a
resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida
de forma inequívoca;

De que forma tem que ocorrer essa “reclamação”? Pode ser verbal ou tem que ser
escrita? A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC,
pode ser feita documentalmente ou verbalmente. STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.597-DF,
Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24/10/17 (Info 614).

A lei não estabelece uma forma pré-definida para a realização da reclamação,


exigindo apenas comprovação de que o fornecedor tomou ciência inequívoca
quanto ao propósito do consumidor de reclamar pelos vícios do produto ou serviço.
Atualmente, várias empresas colocam à disposição do cliente os Serviços de
Atendimento ao Consumidor (os SACs) exatamente para receber, via telefone, as
reclamações relativas a vícios dos produtos e dos serviços. Não é razoável imaginar
que o consumidor, em vez de utilizar-se desse serviço oferecido, irá burocratizar a
relação, elaborando documento escrito e remetendo-o ao cartório, por exemplo.

6.5. Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido
no estacionamento externo e gratuito do estabelecimento – (Info 613) –
IMPORTANTE!!!

A Súmula 130 do STJ prevê o seguinte: a empresa responde, perante o cliente, pela
reparação de DANO ou FURTO de veículo ocorridos em seu estacionamento.
Em casos de roubo, o STJ tem admitido a interpretação extensiva da Súmula 130 do
STJ, para entender que há o dever do fornecedor de serviços de indenizar, mesmo
que o prejuízo tenha sido causado por roubo, se este foi praticado no
estacionamento de empresas destinadas à exploração econômica direta da referida
atividade (empresas de estacionamento pago) ou quando o estacionamento era de
um grande shopping center ou de uma rede de hipermercado.
Por outro lado, não se aplica a Súmula 130 do STJ em caso de roubo de cliente de
lanchonete fast-food, se o fato ocorreu no estacionamento externo e gratuito por ela
oferecido. Nesta situação, tem-se hipótese de caso fortuito (ou motivo de força
maior), que afasta do estabelecimento comercial proprietário da mencionada área
o dever de indenizar.
Logo, a incidência do disposto na Súmula 130 do STJ não alcança as hipóteses de
crime de roubo a cliente de lanchonete praticado mediante grave ameaça e com
emprego de arma de fogo, ocorrido no estacionamento externo e gratuito oferecido
pelo estabelecimento comercial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.606-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 15/8/17 (Info 613).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João lanchou na McDonald´s que fica em uma
rua próxima à sua casa. Após realizar a refeição, ao retornar ao estacionamento da
lanchonete, João foi abordado por dois ladrões armados, que levaram a sua
motocicleta. Vale ressaltar que esta unidade da lanchonete não fica dentro de
shopping. Importante também esclarecer que o estacionamento oferecido pela
lanchonete é externo e gratuito. João ajuizou ação de indenização por danos contra a
lanchonete, argumentando, em síntese, que:
• a relação entre ele e a empresa é de consumo, de forma que a responsabilidade é
objetiva;
• houve defeito na prestação do serviço (art. 12 do CDC);
• a simples disponibilização de estacionamento (ainda que por cortesia e sem efetivo
controle de acesso), por agregar valor e comodidade ao serviço oferecido, enseja a
assunção pela lanchonete dos deveres de guarda e vigilância;
• há dever de indenizar, nos termos do que preconiza a Súmula 130 do STJ.
Súmula 130-STJ: A empresa responde, perante o cliente, pela
reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu
estacionamento.

O pedido de João deve ser acolhido segundo o entendimento do STJ? NÃO. O STJ
entendeu que não havia como a lanchonete impedir o roubo da motocicleta,
especialmente porque o bem foi subtraído diretamente da vítima e o delito foi
praticado por meliantes que fizeram uso de arma de fogo, situação que caracteriza
causa excludente de responsabilidade. Não se aplica, no caso, a Súmula 130 do STJ
porque aqui não se trata de simples subtração (furto) ou avaria (dano) da
motocicleta pertencente ao autor. Houve, na verdade, um roubo praticado por
terceiros, inclusive com emprego de arma de fogo, o que evidencia ainda mais a
inevitabilidade do resultado danoso. O art. 393 do Código Civil prevê a força maior
e o caso fortuito como causas excludentes do nexo causal e, por consequência, da
própria responsabilidade civil. O parágrafo único do mencionado dispositivo, por
sua vez, dispõe que ambos se configuram na hipótese de fato necessário, cujos
efeitos se revelem impossíveis de evitar ou impedir:
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes
de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se
houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se
no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou
impedir.

A ideia que esse dispositivo transmite é que o agente não deve responder pelos danos
causados na hipótese em que não lhe era possível antever e, sobretudo, impedir o
acontecimento, como foi o caso do roubo no estacionamento externo e gratuito da
lanchonete.

E se o roubo tivesse ocorrido no estacionamento de um grande shopping center? Neste


caso, haveria sim o dever de indenizar, conforme já decidiu o STJ: REsp 1.269.691-PB,
Rel. originária Min. Isabel Gallotti, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 21/11/13 (Info 534).
Para o STJ, o fornecedor dos serviços deverá indenizar o consumidor em caso de roubo
armado ocorrido em:
 Estacionamentos privados (pagos);
 Estacionamentos de grandes shopping centers;
 Estacionamentos de grandes redes de hipermercados;

Estacionamentos privados (pagos): Se a empresa explora serviço de estacionamento,


ela não poderá invocar o argumento da força maior. Isso porque o roubo é algo
inerente à atividade comercial que ela explora. Os riscos oriundos de seus deveres de
guarda e segurança constituem, na verdade, a própria essência do serviço oferecido e
pelo qual ela cobra a contraprestação. Logo, trata-se daquilo que a doutrina e a
jurisprudência chamam de fortuito interno. A culpa exclusiva de terceiros somente
elide (elimina) a responsabilidade objetiva do fornecedor se for uma situação de
“fortuito externo”. Se o caso for de “fortuito interno”, persiste a obrigação de
indenizar.

Fortuito interno Fortuito externo


Está relacionado com a organização da Não está relacionado com a organização
empresa. da empresa.
É um fato ligado aos riscos da atividade É um fato que não guarda nenhuma
desenvolvida pelo fornecedor. relação de causalidade com a atividade
desenvolvida pelo fornecedor.
É uma situação absolutamente estranha
ao produto ou ao serviço fornecido.
Ex1: o estouro de um pneu do ônibus da Ex1: assalto à mão armada no interior de
empresa de transporte coletivo; ônibus coletivo (não é parte da
organização da empresa de ônibus
Ex2: hacker invade o sistema do banco e garantir a segurança dos passageiros
consegue transferir dinheiro da conta de contra assaltos);
um cliente.

Ex3: durante o transporte da matriz para Ex2: um terremoto faz com que o telhado
uma das agências, ocorre um roubo e são do banco caia, causando danos aos
subtraídos diversos talões de cheque clientes que lá estavam.
(trata-se de um fato que se liga à
organização da empresa e aos riscos da
própria atividade desenvolvida).
O fortuito interno NÃO exclui a O fortuito externo é uma causa
obrigação do fornecedor de indenizar o excludente de responsabilidade.
consumidor.

Estacionamentos de grandes shoppings centers ou redes de hipermercados: O


fornecedor deverá indenizar o consumidor com base na aplicação da teoria do risco
(risco-proveito). Além disso, se a pessoa é roubada em locais como esse, verifica-se a
violação de uma legítima expectativa do consumidor, que imagina que estará seguro
frequentando um ambiente como esse.

Voltando ao caso da lanchonete: No caso de João, ele foi vítima de assalto em um


estacionamento aberto, gratuito, desprovido de controle de acesso, cercas ou de
qualquer aparato de segurança, circunstâncias que evidenciam que o consumidor não
poderia ter legítima expectativa de que estaria completamente seguro em um
ambiente como aquele.

Temas correlatos: A questão envolvendo furtos e roubos e responsabilidade civil do


fornecedor é repleta de casos interessantes e nem sempre a solução dada é a mesma.
Veja esse quadro com algumas situações já enfrentadas pela jurisprudência do STJ:

SITUAÇÃO FORNECEDOR EXPLICAÇÃO


RESPONDE?
Furto ou roubo no SIM O roubo ou furto praticado contra
cofre do banco que instituição financeira e que atinge o cofre
estava locado para locado ao cliente constitui risco assumido
guardar bens de pelo banco, sendo algo próprio da atividade
cliente. empresarial, configurando, assim, hipótese
de fortuito interno, que não exclui o dever
de indenizar (REsp 1250997/SP, DJe
14/2/13).
Cliente roubado no SIM Há responsabilidade objetiva do banco em
interior da agência razão do risco inerente à atividade bancária
bancária (art. 927, p. ún, CC e art. 14, CDC) (REsp
1.093.617-PE, DJe 23/3/09).
Cliente roubado na NÃO Se o roubo ocorre em via pública, é do
rua, após sacar Estado (e não do banco) o dever de garantir
dinheiro na agência. a segurança dos cidadãos e de evitar a
atuação dos criminosos (REsp 1.284.962-
MG, DJe 4/2/13).
Cliente roubado no SIM O estacionamento pode ser considerado
estacionamento do como uma extensão da própria agência
banco. (REsp 1.045.775-ES, DJe 4/8/09).
Roubo ocorrido no SIM Tanto o banco como a empresa de
estacionamento estacionamento têm responsabilidade civil,
privado que é considerando que, ao oferecerem tal serviço
oferecido pelo banco especificamente aos clientes do banco,
aos seus clientes e assumiram o dever de segurança em relação
administrado por ao público em geral (Lei 7.102/83), dever
uma empresa privada. este que não pode ser afastado por fato
doloso de terceiro. Logo, não se admite a
alegação de caso fortuito ou força maior já
que a ocorrência de tais eventos é previsível
na atividade bancária (AgRg nos EDcl no
REsp 844186/RS, DJe 29/6/12).
Cliente, após sacar NÃO Não haverá responsabilidade civil nem do
dinheiro na agência, é banco nem da empresa privada de
roubado à mão estacionamento.
armada em um A empresa de estacionamento se
estacionamento responsabiliza apenas pela guarda do
privado que fica ao veículo, não sendo razoável lhe impor o
lado, mas que não tem dever de garantir a segurança e integridade
qualquer relação com física do usuário e a proteção dos bens
o banco. portados por ele (REsp 1.232.795-SP, DJe
10/4/13).
Passageiro roubado NÃO Constitui causa excludente da
no interior do responsabilidade da empresa
transporte coletivo transportadora o fato inteiramente estranho
(exs.: ônibus, trem ao transporte em si, como é o assalto
etc.). ocorrido no interior do coletivo (AgRg no
Ag 1389181/SP, DJe 29/06/2012).
Cliente roubado no NÃO Tratando-se de postos de combustíveis, a
posto de gasolina ocorrência de roubo praticado contra
enquanto abastecia clientes não pode ser enquadrado, em regra,
seu veículo. como um evento que esteja no rol de
responsabilidades do empresário para com
os clientes, sendo essa situação um exemplo
de caso fortuito externo, ensejando-se, por
conseguinte, a exclusão da responsabilidade
(REsp 1243970/SE, DJe 10/5/12).
Roubo ocorrido em NÃO No serviço de manobrista em via pública
veículo sob a guarda não existe exploração de estacionamento
de vallet parking que cercado com grades, mas simples
fica localizado em via comodidade posta à disposição do cliente.
pública. Logo, as exigências de garantia da
segurança física e patrimonial do
consumidor são menos contundentes do que
aquelas atinentes aos estacionamentos de
shopping centers e hipermercados (REsp
1.321.739-SP, DJe 10/9/2013).
Furto ocorrido em SIM Nas hipóteses de furto, em que não há
veículo sob a guarda violência, permanece a responsabilidade,
de vallet parking que pois o serviço prestado mostra-se defeituoso,
fica localizado em via por não apresentar a segurança
pública. legitimamente esperada pelo consumidor.
Furto ou roubo SIM A ocorrência de roubo não constitui causa
ocorrido em veículo excludente de responsabilidade civil nos
sob a guarda de vallet casos em que a garantia de segurança física
parking localizado e patrimonial do consumidor é inerente ao
dentro do shopping serviço prestado pelo estabelecimento
center. comercial.
Tentativa de roubo SIM A ocorrência de roubo não constitui causa
ocorrida na cancela do excludente de responsabilidade civil nos
estacionamento do casos em que a garantia de segurança física
shopping center. e patrimonial do consumidor é inerente ao
serviço prestado pelo estabelecimento
comercial (REsp 1269691/PB, DJe
05/03/2014).
Roubo ocorrido em NÃO Constitui verdadeira hipótese de caso
estacionamento fortuito (ou motivo de força maior), de
externo e gratuito de forma que não se aplica a Súmula 130 do
lanchonete. STJ.
6.6. Fabricante de veículo tem o dever de indenizar danos muito graves decorrentes
da abertura do air bag – (Info 605)

A comprovação de graves lesões decorrentes da abertura de air bag em acidente


automobilístico em baixíssima velocidade, que extrapolam as expectativas que
razoavelmente se espera do mecanismo de segurança, ainda que de periculosidade
inerente, configura a responsabilidade objetiva da montadora de veículos pela
reparação dos danos ao consumidor.
Assim, mesmo o air bag sendo um mecanismo de segurança de periculosidade
inerente, esse fato, por si só, não autoriza que a montadora do veículo se exima da
responsabilidade de indenizar. Isso porque os danos sofridos pela vítima estão fora
da normalidade do uso e dos riscos que razoavelmente dele se esperam (art. 12, §
1º, II do CDC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.656.614-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/5/2017 (Info 605).

6.7. RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO: O fornecimento de bem


durável ao seu destinatário final põe termo à eventual cadeia de seus fornecedores
originais – (Info 603)

O fornecimento de bem durável ao seu destinatário final, por removê-lo do


mercado de consumo, põe termo à cadeia de seus fornecedores originais. A
posterior revenda desse mesmo bem por seu adquirente constitui nova relação
jurídica obrigacional com o eventual comprador. Assim, os eventuais prejuízos
decorrentes dessa segunda relação não podem ser cobrados do fornecedor original.
Não se pode estender ao integrante daquela primeira cadeia de fornecimento a
responsabilidade solidária de que trata o art. 18 do CDC por eventuais vícios que o
adquirente da segunda relação jurídica venha a detectar no produto.
Ex: a empresa “Via Autos” alienou um carro para João que, depois de dois anos
utilizando o veículo, vendeu o automóvel para Pedro. Em seguida, Pedro percebeu
que o hodômetro do carro havia sido adulterado para reduzir a quilometragem.
Pedro não poderá exigir a responsabilização da “Via Autos” pelo vício do produto.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.517.800-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 2/5/17 (Info
603).

6.8. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO: Produto de


periculosidade inerente e ausência de responsabilidade civil – (Info 603) –
IMPORTANTE!!! – (MPPR-2017)

Para a responsabilização do fornecedor por acidente do produto não basta ficar


evidenciado que os danos foram causados pelo medicamento. O defeito do produto
deve apresentar-se, concretamente, como sendo o causador do dano experimentado
pelo consumidor.
Em se tratando de produto de periculosidade inerente (medicamento com
contraindicações), cujos riscos são normais à sua natureza e previsíveis, eventual
dano por ele causado ao consumidor não enseja a responsabilização do fornecedor.
Isso porque, neste caso, não se pode dizer que o produto é defeituoso.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.405-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 4/4/17 (Info
603)
(MPPR-2017): Periculosidade inerente é aquela indissociável do produto e, não se
confunde com a periculosidade adquirida ao longo do processo de consumo. BL:
art. 8º, CDC.

OBS:
Fornecedor de produto perigoso: O fornecedor de um produto que possui uma
periculosidade inerente não responde objetivamente pelo simples fato de ter colocado
o produto no mercado. Para que ele responda, é necessário que tenha violado o dever
jurídico de segurança, o que se dá com a fabricação e a inserção no mercado de um
produto defeituoso. Em outras palavras, não basta que o produto seja perigoso, é
necessário que seja defeituoso. O próprio CDC reconhece que há determinados
produtos que são naturalmente perigosos:
Art. 8º Os produtos e serviços colocados no mercado de
consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos
consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis
em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os
fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações
necessárias e adequadas a seu respeito.

Diz-se, neste caso, que são produtos com periculosidade inerente. Como se observa
do art. 8º, os riscos normais e previsíveis, em decorrência da natureza ou da fruição
do produto, são absolutamente admissíveis e o fato de um produto ser naturalmente
perigoso não significa que ele seja defeituoso.

Conforme explica a doutrina:


“(...) Há produtos e serviços que têm o chamado risco inerente
(...) assim entendido o risco intrinsecamente atado à própria
natureza, qualidade da coisa ou modo de funcionamento,
como uma faca afiada, medicamentos com contraindicações,
agrotóxicos. Não é possível realizar determinados
tratamentos médicos sem altos riscos, como a cirurgia em
paciente idoso e de saúde fragilizada, ainda que o serviço seja
prestado com toda a técnica e segurança. Embora se mostre
capaz de causar danos, a periculosidade desses produtos e
serviços é normal e conhecida - previsível em decorrência de
sua própria natureza -, em consonância com a expectativa
legítima do consumidor.” (CAVALIERI FILHO, Sérgio.
Programa de Responsabilidade Civil. 10ª ed. São Paulo: Atlas,
2012, p. 523)

Medicamentos são produtos de periculosidade inerente: Os medicamentos em geral


podem ser qualificados como produtos de periculosidade inerente. Isso porque todos
eles, sem distinção, guardam riscos à saúde dos consumidores, na medida em que
causam efeitos colaterais, alguns com maior e outros com menor gravidade.

Ainda que o medicamento tenha sido a causa da morte, só haverá responsabilidade se


ficar comprovado que o produto era defeituoso: Para a responsabilização do
fornecedor por acidente do produto não basta ficar evidenciado que os danos foram
causados pelo medicamento. É necessário que fique demonstrado que o produto era
defeituoso. O “Vioxx”, assim como todo remédio anti-inflamatório, possui como
reação adversa a possibilidade de o paciente vir a desenvolver doenças renais graves.
Essa possibilidade vinha, inclusive, expressamente prevista na bula do medicamento.
Trata-se, portanto, de risco inerente a esse tipo de medicamento, cuja previsão foi
devidamente informada ao consumidor, por meio da bula que o acompanha.

6.9. VÍCIO DO PRODUTO: Responsabilidade dos provedores de busca de


produtos à venda on-line – (Info 593) – IMPORTANTE!!!

O provedor de buscas de produtos à venda on-line que não realiza qualquer


intermediação entre consumidor e vendedor não pode ser responsabilizado por
qualquer vício da mercadoria ou inadimplemento contratual.
Exemplos de provedores de buscas de produtos: Shopping UOL, Buscapé,
Bondfaro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.008-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25/10/16 (Info 593).
OBS:
O simples fato de o provedor não cobrar dos usuários para a realização das pesquisas
faz com que não se aplique o CDC? NÃO.
O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de
Internet ser gratuito não desvirtua a relação de consumo. Isso
porque o termo “mediante remuneração”, contido no art. 3º, §
2º, do CDC, deve ser interpretado de forma ampla, de modo a
incluir o ganho indireto do fornecedor. STJ. 3ª Turma. REsp
1.444.008-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
25/10/2016 (Info 593).

Na lição de Cláudia Lima Marques, “a expressão 'remuneração' permite incluir todos


aqueles contratos em que for possível identificar, no sinalagma escondido
(contraprestação escondida), uma remuneração indireta do serviço” (Comentários ao
código de defesa do consumidor. São Paulo: RT, 2003, p. 94). No serviço ofertado pelos
provedores de busca há o chamado marketing cruzado – ação promocional entre
produtos ou serviços em que um deles, embora não rentável em si, proporciona
ganhos decorrentes da venda de outros. Apesar das pesquisas realizadas no provedor
serem gratuitas, a empresa vende espaços publicitários no site, bem como preferências
na ordem de listagem dos resultados das buscas. Dessa forma, o provedor não é
remunerado diretamente pelo internauta, mas tem contraprestação por meio de
publicidade. Há, portanto, inegável relação de consumo nos serviços de Internet,
ainda que prestados gratuitamente.

Os provedores de busca devem ser responsabilizados caso a loja virtual não cumpra
suas obrigações contratuais (inadimplemento contratual) ou se a mercadoria
adquirida apresentar algum problema (vício do produto)? NÃO. O serviço dos
provedores de busca é realizado sem qualquer intermediação entre consumidor e
vendedor. Os resultados apresentados pelos buscadores nada mais são que outros
sites ou recursos da Internet, que ali se encontram de forma pública, isto é,
independentemente do provedor de busca. Mesmo com a existência de diversos
mecanismos de filtragem do conteúdo da Internet, na maioria das vezes é inviável ao
provedor da busca exercer alguma forma de controle sobre os resultados da busca.
Em razão dessas características, o STJ entende que os provedores de pesquisa:
a) não respondem pelo conteúdo do resultado das buscas
realizadas por seus usuários;
b) não podem ser obrigados a exercer um controle prévio do
conteúdo dos resultados das buscas feitas por cada usuário; e
c) não podem ser obrigados a eliminar do seu sistema os
resultados derivados da busca de determinado termo ou
expressão (STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921/RJ, julgado em
26/06/2012).

Transportando este mesmo raciocínio para os provedores de busca de produtos, o STJ


decidiu que:
O provedor de buscas de produtos à venda on-line que não
realiza qualquer intermediação entre consumidor e vendedor
não pode ser responsabilizado por qualquer vício da
mercadoria ou inadimplemento contratual. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.444.008-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
25/10/2016 (Info 593).

Situação diferente no caso de o provedor realizar a intermediação entre o consumidor


e o vendedor: Há de ser feita uma distinção fundamental:

PROVEDORES DE BUSCA DE PROVEDORES QUE FAZEM A


PRODUTOS INTERMEDIAÇÃO ENTRE
CONSUMIDOR E VENDEDOR
Fornecem apenas resultados de onde Além de oferecerem a busca de
tais produtos são vendidos e os preços mercadorias ao consumidor,
praticados, sem participar da interação disponibilizam toda a estrutura virtual
virtual que aperfeiçoará o contrato para que a venda seja realizada.
eletrônico.
O consumidor que quiser adquirir o A operação é realizada inteiramente no
produto será redirecionado ao site do site desse prestador.
vendedor e ali faz a compra sem a
participação do provedor.
Não é cobrada comissão sobre as Normalmente é cobrada uma comissão
vendas. Seu lucro decorre da venda de sobre as vendas.
espaço publicitário.
Exs: Shopping UOL, Buscapé. Exs: Mercado Livre.
Não pode ser responsabilizado por Prevalece que pode ser responsabilizado
vícios da mercadoria ou por vícios da mercadoria ou
inadimplemento contratual do inadimplemento contratual do
vendedor. vendedor.

6.10. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO: Ausência de dano moral


in re ipsa pela mera inclusão de valor indevido na fatura de cartão de crédito – (Info
579) – IMPORTANTE!!!

Não configura dano moral in re ipsa a simples remessa de fatura de cartão de crédito
para a residência do consumidor com cobrança indevida.
Para configurar a existência do dano extrapatrimonial, é necessário que se
demonstre que a operadora de cartão de crédito, além de ter incluído a cobrança na
fatura, praticou outras condutas que configurem dano moral, como por exemplo:
a) reiteração da cobrança indevida mesmo após o consumidor ter reclamado;
b) inscrição do cliente em cadastro de inadimplentes;
c) protesto da dívida;
d) publicidade negativa do nome do suposto devedor; ou
e) cobrança que exponha o consumidor, o submeta à ameaça, coação ou
constrangimento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.550.509-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 3/3/16 (Info 579).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi surpreendido quando chegou em sua
casa a fatura do cartão de crédito. Isso porque ele estava sendo cobrado por uma
suposta compra de R$ 3 mil, que ele não realizou. O consumidor entrou em contato
com o serviço de atendimento ao cliente e contestou a cobrança. A atendente da
operadora do cartão afirmou que iria ser aberto um procedimento interno para apurar
o ocorrido e que, durante esse período, ele não precisaria pagar essa dívida. Depois
de dois meses, João foi informado que seu cartão havia sido "clonado" e a cobrança foi
definitivamente cancelada. Vale ressaltar que João não pagou os R$ 3 mil e que a
instituição financeira não inscreveu o seu nome nos serviços de proteção de crédito
(SPC/SERASA).

Ação de indenização por danos morais: Mesmo tendo recebido a notícia de que a
cobrança foi cancelada, João ingressou com ação de indenização por danos morais
contra a operadora do cartão de crédito alegando que o simples fato de ter sido
incluída indevidamente a compra em sua fatura já lhe gerou inúmeros transtornos e
preocupações. O juiz julgou improcedente o pedido, argumentando que João não
provou o dano moral sofrido e que o simples fato de a empresa ter incluído a dívida
na fatura do cartão não é suficiente para caracterizar o abalo extrapatrimonial.

O autor não desistiu e recorreu contra a sentença sustentando a tese de que o simples
fato de a operadora do cartão de crédito incluir na fatura uma cobrança indevida
contra o consumidor gera dano moral in re ipsa (dano moral com prejuízo presumido),
não sendo necessária nenhuma outra comprovação.

A tese do autor encontra amparo na jurisprudência do STJ? NÃO. O simples


recebimento de fatura de cartão de crédito na qual incluída cobrança indevida não
constitui ofensa a direito da personalidade (honra, imagem, privacidade, integridade
física); não causa, portanto, dano moral objetivo, in re ipsa.

A configuração do dano moral dependerá da consideração de peculiaridades do caso


concreto, a serem alegadas e comprovadas nos autos. Esse entendimento é mais
compatível com a dinâmica atual das formas de pagamento por meio de cartões e
internet, os quais facilitam a circulação de bens, mas, por outro lado, ensejam fraudes,
as quais, quando ocorrem, devem ser coibidas, propiciando-se o ressarcimento do
lesado na exata medida do prejuízo.

A banalização do dano moral, em caso de mera cobrança indevida, sem repercussão


em direito da personalidade, aumentaria o custo da atividade econômica, o qual
oneraria, em última análise, o próprio consumidor.
Por outro lado, a indenização por dano moral, se comprovadas consequências lesivas
à personalidade decorrentes da cobrança indevida, como, por exemplo, inscrição em
cadastro de inadimplentes, desídia do fornecedor na solução do problema ou
insistência em cobrança de dívida inexistente, tem a benéfica consequência de
estimular boas práticas do empresário.

6.11. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO: Responsabilidade civil e


banco postal – (Info 574 e 559) – IMPORTANTE!!!

A imposição legal de adoção de recursos de segurança específicos para proteção dos


estabelecimentos que constituam sedes de instituições financeiras (Lei nº
7.102/1983) não alcança o serviço de correspondente bancário (Banco Postal)
realizado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Isso porque o
correspondente bancário não exerce atividade-fim e primária das instituições
financeiras na forma definida no art. 17 da Lei nº 4.595/64
STJ. 2ª Turma. REsp 1.497.235-SE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
1º/12/2015 (Info 574).

Apesar disso, a ECT é responsável pelos danos sofridos por consumidor que for
assaltado no interior de agência dos Correios na qual é fornecido o serviço de banco
postal.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.183.121-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/2/2015 (Info 559).
OBS: O STJ entendeu que a imposição legal de recursos de segurança específicos para
proteção dos estabelecimentos financeiros não abrange o serviço de correspondente
bancário realizado pela ECT. Ao realizar contrato com o banco para atuar na função
de correspondente bancário, a ECT não se transforma em uma agência bancária nem
deixa de ser uma agência dos Correios. Sua natureza jurídica continua a mesma. Ela
não se transforma em instituição financeira nos termos do art. 17 da Lei nº 4.595/64.
A Lei nº 7.102/83 fica restrita aos "bancos oficiais ou privados, caixas econômicas,
sociedades de crédito, associações de poupança, suas agências, postos de
atendimento, subagências e seções, assim como as cooperativas singulares de crédito
e suas respectivas dependências" (art. 1º, § 1º).
O intuito do legislador, ao criar o Banco Postal, não foi o de transformá-lo em uma
instituição financeira e seria financeiramente muito penoso submeter o
correspondente bancário a arcar com as obrigações típicas de segurança a que se
encontram submetidas as instituições financeiras. Correr-se-ia o risco de inviabilizar
a própria atividade do correspondente bancário em virtude dos custos dos itens de
segurança.

Não confundir:
 Os bancos postais não estão obrigados a cumprir as regras de segurança
previstas na Lei nº 7.102/83 (REsp 1.497.235-SE).
 Apesar disso, a ECT é responsável pelos danos sofridos por consumidor que
for assaltado no interior de agência dos Correios na qual é fornecido o serviço
de banco postal (REsp 1.183.121-SC).

6.12. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO: Saque indevido em conta


bancária e dano moral – (Info 574) – IMPORTANTE!!!
O banco deve compensar os danos morais sofridos por consumidor vítima de saque
fraudulento que, mesmo diante de grave e evidente falha na prestação do serviço
bancário, teve que intentar ação contra a instituição financeira com objetivo de
recompor o seu patrimônio, após frustradas tentativas de resolver
extrajudicialmente a questão.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 395.426-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel.
para acórdão Marco Buzzi, julgado em 15/10/2015 (Info 574).

6.13. Direito à reparação de danos por vício do produto – (Info 573)

Não tem direito à reparação de perdas e danos decorrentes do vício do produto o


consumidor que, no prazo decadencial, não provocou o fornecedor para que este
pudesse sanar o vício.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.520.500-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
27/10/2015 (Info 573).

6.14. Responsabilização civil de franqueadora em face de consumidor – (Info 569) –


IMPORTANTE!!!

A franqueadora pode ser solidariamente responsabilizada pelos danos causados


pela franqueada aos consumidores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.426.578-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
23/6/2015 (Info 569).

6.15. RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO: Responsabilidade do


fabricante que garante na publicidade a qualidade dos produtos ofertados – (Info 562)

Responde solidariamente por vício de qualidade do automóvel adquirido o


fabricante de veículos automotores que participa de propaganda publicitária
garantindo com sua marca a excelência dos produtos ofertados por revendedor de
veículos usados.
Ex: a concessionária “XXX” revende veículos seminovos da fabricante GM. A
concessionária lançou uma propaganda na qual anunciava diversos veículos para
venda e, ao final do comercial, era divulgada a seguinte informação: “os únicos
seminovos com o aval da GM”.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.365.609-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
28/4/2015 (Info 562).

6.16. RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO SERVIÇO: Responsabilidade civil de


transportadora de passageiros e culpa exclusiva do consumidor – (Info 562)

A sociedade empresária de transporte coletivo interestadual não deve ser


responsabilizada pela partida do veículo, após parada obrigatória, sem a presença
do viajante que, por sua culpa exclusiva, não compareceu para reembarque mesmo
após a chamada dos passageiros, sobretudo quando houve o embarque tempestivo
dos demais.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.354.369-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/5/2015
(Info 562).

6.17. RESPONSABILIDADE POR FATO DO SERVIÇO: Responsabilidade da ECT


por roubo ocorrido no interior de banco postal – (Info 559) – IMPORTANTE!!!

A ECT é responsável pelos danos sofridos por consumidor que foi assaltado no
interior de agência dos Correios na qual é fornecido o serviço de banco postal. STJ.
4ª Turma. REsp 1.183.121-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/2/2015
(Info 559).

6.18. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO: Conceito de fato do


produto – (Info 557) – IMPORTANTE!!!

O aparecimento de grave vício em revestimento (pisos e azulejos), quando já se


encontrava devidamente instalado na residência do consumidor, configura FATO
DO PRODUTO, sendo, portanto, de 5 anos o prazo prescricional da pretensão
reparatória (art. 27 do CDC).
O art. 12, § 1º do CDC afirma que defeito diz respeito a circunstâncias que gerem a
insegurança do produto ou serviço. Está relacionado, portanto, com o acidente de
consumo.
No entanto, a doutrina e o STJ entendem que o conceito de “fato do produto” deve
ser lido de forma mais ampla, abrangendo todo e qualquer vício que seja grave a
ponto de ocasionar dano indenizável ao patrimônio material ou moral do
consumidor.
Desse modo, mesmo o produto/serviço não sendo “inseguro”, isso poderá
configurar “fato do produto/serviço” se o vício for muito grave a ponto de ocasionar
dano material ou moral ao consumidor. Foi nesse sentido que o STJ enquadrou o
caso acima (do piso de cerâmica).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.176.323-SP, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 3/3/2015
(Info 557).

6.19. Responsabilidade civil dos Correios por extravio de carta registrada – (Info
556)

Se a ECT não comprovar a efetiva entrega de carta registrada postada por


consumidor nem demonstrar causa excludente de responsabilidade, há de se
reconhecer o direito a reparação por danos morais in re ipsa, desde que o
consumidor comprove minimamente a celebração do contrato de entrega da carta
registrada.
O extravio de correspondência registrada acarreta dano moral in re ipsa (sem
necessidade de comprovação do prejuízo), devendo os Correios indenizar o
consumidor. A responsabilidade civil dos Correios é objetiva (art. 37, § 6º da CF/88
e arts. 14 e 22 do CDC).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.097.266-PB, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
10/12/2014 (Info 556).
6.20. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO: Inocorrência de dano
moral pela simples presença de corpo estranho em refrigerante – (Info 553)
IMPORTANTE!!! Atualize o Info 537-STJ!!!

A simples aquisição de refrigerante contendo inseto no interior da embalagem, sem


que haja a ingestão do produto, não é circunstância apta, por si só, a provocar dano
moral indenizável.
Obs: existe precedente em sentido contrário, mas o que prevalece é que não há dano
moral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.395.647-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 18/11/14
(Info 553).

6.21. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO: Dano moral in re ipsa em


caso de atraso de voo, seguido de falta de informação e de assistência aos passageiros
– (Info 550)

No caso em que companhia aérea, além de atrasar desarrazoadamente o voo de


passageiro, deixe de atender aos apelos deste, furtando-se a fornecer tanto
informações claras acerca do prosseguimento da viagem (em especial,
relativamente ao novo horário de embarque e ao motivo do atraso) quanto
alimentação e hospedagem (obrigando-o a pernoitar no próprio aeroporto), tem-se
por configurado dano moral indenizável in re ipsa, independentemente da causa
originária do atraso do voo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.280.372-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
7/10/2014 (Info 550).

6.22. Dano moral decorrente de carro 0km que apresentou inúmeros problemas –
(Info 544)

É cabível dano moral quando o consumidor de veículo automotor zero quilômetro


necessita retornar à concessionária por diversas vezes para reparar defeitos
apresentados no veículo adquirido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.443.268-DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 3/6/14 (Info 544).

6.23. Veículo importado que não poderia ser abastecido com combustível nacional
– (Info 544)

O consumidor tem direito à indenização por danos morais e materiais pelo fato de
ter adquirido no mercado nacional um veículo 0km que apresentou inúmeros
problemas obrigando o adquirente a retornar à concessionária, recorrentemente
por mais de 30 dias, para sanar panes decorrentes da incompatibilidade, não
informada no momento da compra, entre a qualidade do combustível necessário ao
adequado funcionamento do veículo e a do combustível disponibilizado nos
postos nacionais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.443.268-DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 3/6/14 (Info 544).
OBS: Segundo o STJ, houve, no caso, vício do produto (art. 18 do CDC). O vício do
produto ocorre quando o produto não se mostra adequado ao fim a que se destina,
incompatível com o uso a que se propõe. Se o veículo não podia ser abastecido com os
combustíveis vendidos no Brasil, esse automóvel se torna impróprio ao consumo a
que se destina (art. 18 do CDC).

6.24. Responsabilidade civil (assalto em banco) – (Info 511)

A instituição financeira não pode ser responsabilizada por assalto sofrido por sua
correntista em via pública, isto é, fora das dependências de sua agência bancária,
após a retirada, na agência, de valores em espécie, sem que tenha havido qualquer
falha determinante para a ocorrência do sinistro no sistema de segurança da
instituição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.284.962-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
11/12/2012 (Info 512 STJ).

6.25. Responsabilidade civil do médico em caso de cirurgia plástica – (Info 491) –


IMPORTANTE!!!

I – A obrigação nas cirurgias meramente estéticas é de resultado, comprometendo-


se o médico com o efeito embelezador prometido.
II – Embora a obrigação seja de resultado, a responsabilidade do cirurgião plástico
permanece subjetiva, com inversão do ônus da prova (responsabilidade com culpa
presumida) (não é responsabilidade objetiva).
III – O caso fortuito e a força maior, apesar de não estarem expressamente previstos
no CDC, podem ser invocados como causas excludentes de responsabilidade.
STJ. 4ª Turma. REsp 985.888-SP, Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/2/2012
(Info 491 STJ).

6.26. Condenação de banco ao pagamento de dano moral coletivo, em ação civil


pública, pelo fato desta instituição financeira oferecer atendimento inadequado aos
consumidores idosos, deficientes físicos e com dificuldade de locomoção – (Info 490)

É devida a condenação de banco ao pagamento de dano moral coletivo, em ação


civil pública, pelo fato desta instituição financeira oferecer atendimento
inadequado aos consumidores idosos, deficientes físicos e com dificuldade de
locomoção. O atendimento desses clientes era realizado somente no segundo andar
da agência bancária, cujo acesso se dava por três lances de escada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.221.756-RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 2/2/2012
(Info 490 STJ).

6.27. O banco possui responsabilidade objetiva, com base na teoria do risco, não
podendo alegar caso fortuito porque se trata de um fortuito interno (e não fortuito
externo).

As instituições bancárias respondem objetivamente pelos danos causados por


fraudes ou delitos praticados por terceiros - como, por exemplo, abertura de conta-
corrente ou recebimento de empréstimos mediante fraude ou utilização de
documentos falsos -, porquanto tal responsabilidade decorre do risco do
empreendimento, caracterizando-se como fortuito interno.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.199.782/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/8/11.
7. PRESCRIÇÃO
7.1. CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS: Prazo prescricional em
caso de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto – (Info 603) – (TJPB-2015)
(TJMG-2012) (TRF4-2012)

Súmula 412-STJ: A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-


se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil.

O prazo prescricional para as ações de repetição de indébito relativo às tarifas de


serviços de água e esgoto cobradas indevidamente é de:
a) 20 (vinte) anos, na forma do art. 177 do Código Civil de 1916; ou

b) 10 (dez) anos, tal como previsto no art. 205 do Código Civil de 2002,
observando-se a regra de direito intertemporal, estabelecida no art. 2.028 do Código
Civil de 2002.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.532.514-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 10/5/17 (recurso
repetitivo) (Info 603).
(TRF4-2012): Não é aplicável o prazo de prescrição de cinco anos previsto pelo art.
27 do Código de Defesa do Consumidor na hipótese de ação de restituição de taxa
de água e esgoto cobrada indevidamente, pois não se trata de ação de reparação
de danos causados por defeitos na prestação de serviços, aplicando-se o prazo
prescricional estabelecido pela regra geral do Código Civil. BL: art. 205 do CC/02.

(TJMG-2012): É de 20 (vinte) anos o prazo prescricional da pretensão executiva


atinente à tarifa por prestação de serviços de água e esgoto, cujo vencimento, na
data da entrada em vigor do Código Civil de 2002, era superior a dez anos; do
contrário, o prazo será de 10 (dez) anos.

OBS:
Exemplo: Repetição de indébito de tarifa de água e esgoto prescrevia em 20 anos no
CC-1916. No CC-2002 foi reduzido para 10 anos.
 Se o usuário pagou a tarifa cobrada indevidamente em 1991, em 2003 (data em
que entrou em vigor o CC), já havia se passado 12 anos. Logo, prevalece o
prazo do CC-1916 e este usuário só terá mais 8 anos para ajuizar a ação.
 Se o usuário pagou a tarifa em 1994, em 2003 havia se passado apenas 9 anos.
Logo, será aplicado o novo prazo do CC-2002 (de 10 anos). A partir de
11/01/2003 (data da entrada em vigor do CC-2002) iniciou o prazo de 10 anos
para que o usuário ajuizasse a ação.

7.2. Prazo prescricional em caso de danos decorrentes do extravio de talão de


cheques pelo banco – (Info 542)

Prescreve em cinco anos a pretensão de correntista de obter reparação dos danos


causados por instituição financeira decorrentes da entrega, sem autorização, de
talonário de cheques a terceiro que, em nome do correntista, passa a emitir várias
cártulas sem provisão de fundos, gerando inscrição indevida em órgãos de proteção
ao crédito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.254.883-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 3/4/14
(Info 542).
OBS:
Qual é o prazo prescricional que o cliente possui para ajuizar ação de indenização
nesse caso? 5 anos, nos termos do art. 27 do CDC:

Art. 27. Prescreve em 5 (cinco anos) a pretensão à reparação


pelos danos causados por fato do produto ou do serviço
prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem
do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

A contagem desse prazo inicia-se a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

7.3. Prazo prescricional para moradores de casas atingidas por queda de aviação
ajuizarem ação indenizatória contra a companhia aérea

Qual é o prazo prescricional para que moradores de casas atingidas por queda de
avião ajuízem ação de indenização contra a companhia aérea? 5 anos (art. 27 do
CDC).
Os moradores, embora não tenham utilizado o serviço da companhia aérea como
destinatários finais, equiparam-se a consumidores pelo simples fato de serem
vítimas do evento. São conhecidos como bystanders (art. 17 do CDC). Não se aplica
o prazo prescricional do Código Brasileiro de Aeronáutica quando a relação
jurídica envolvida for de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.202.013-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013.

8. PROTEÇÃO CONTRATUAL
8.1. É válido o desconto de pontualidade presente em contratos de serviços
educacionais – (Info 591) – IMPORTANTE!!!

O denominado "desconto de pontualidade", concedido pela instituição de ensino


aos alunos que efetuarem o pagamento das mensalidades até a data do vencimento
ajustada, não configura prática comercial abusiva.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.814-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 4/10/16 (Info
591).

OBS: sobre este tema, importante reler o REsp 832.293-PR, Rel. Min. Raul Araújo,
julgado em 20/8/2015 (Info 572) que traz um entendimento ligeiramente diferente
em determinado aspecto (vide arquivo Direito Civil)
OBS:
O "desconto de pontualidade", também chamado de "abono de pontualidade" possui
uma característica em comum com a multa moratória: ambos têm por objetivo reforçar
na parte contratante a vontade de cumprir a sua obrigação, ou seja, de pagar a
mensalidade em dia. No entanto, apesar de terem este ponto de semelhança, não se
pode dizer que o desconto de pontualidade seja uma multa disfarçada.

A multa contratual tem um caráter coercitivo e punitivo. O desconto de pontualidade,


por outro lado, possui natureza de prêmio, incentivando o contratante a realizar um
comportamento positivo ("sanção premial").
É absolutamente possível a coexistência de sanções negativas e de sanções positivas
em um contrato. Não há e nem poderia haver proibição nesse sentido, na medida em
que tais disposições incitam justamente o cumprimento voluntário das obrigações
contratuais assumidas.

8.2. Necessidade de filiação à entidade aberta de previdência para contratar


empréstimo – (Info 581)

É possível impor ao consumidor sua prévia filiação à entidade aberta de


previdência complementar como condição para contratar com ela empréstimo
financeiro.
STJ. 4ª Turma. REsp 861.830-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 5/4/2016
(Info 581).
OBS:
O CDC é aplicável para as entidades de previdência complementar? Depende:
 Para as abertas: SIM.
 Para as fechadas: NÃO.

Súmula 563-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é


aplicável às entidades abertas de previdência complementar,
não incidindo nos contratos previdenciários celebrados com
entidades fechadas.

As entidades abertas são empresas privadas constituídas sob a forma de sociedade


anônima, que oferecem planos de previdência privada que podem ser contratados por
qualquer pessoa física ou jurídica.

As entidades abertas de previdência complementar não têm como finalidade


institucional a operação como instituição bancária. Assim, a concessão de
empréstimos não é a sua atividade primordial.

Segundo o § único do art. 71 da LC 109/01, as entidades de previdência privada


abertas podem realizar operações financeiras apenas com seus patrocinadores,
participantes e assistidos.

A entidade de previdência, ao exigir que o consumidor, antes de realizar o


empréstimo, fizesse um plano de previdência complementar, não praticou qualquer
ato ilícito, considerando que tais entidades só podem realizar tal tipo de operação com
seus patrocinadores, filiados e assistidos. Logo, sem essa prévia filiação, a entidade
estaria impedida de conceder o empréstimo.

Assim, não existiu a chamada "venda casada" de que trata o art. 39, I, do CDC. O que
houve foi a exigência de uma providência que é imposta por lei.

8.3. Cobertura de home care por plano de saúde – (Infos 564 e 571)
João é cliente de um plano de saúde. Após ficar doente, ele foi internado no
hospital, onde permaneceu por algumas semanas. Até então, o plano de saúde
estava pagando todas as despesas. O médico que acompanhava seu estado de saúde
viu que seu quadro clínico melhorou e recomendou que ele fosse para casa, mas lá
ficasse realizando tratamento domiciliar (home care) até que tivesse alta completa.
Ocorre que o plano de saúde não aceitou, afirmando que, no contrato firmado com
João, havia uma cláusula proibindo o serviço de home care. Segundo a operadora,
apenas o tratamento hospitalar está incluído.
O plano de saúde pode ser obrigado a custear o tratamento domiciliar (home care)
mesmo que isso não conste expressamente do rol de serviços previsto no contrato?
Mesmo que exista cláusula no contrato proibindo o home care? SIM. Ainda que, em
contrato de plano de saúde, exista cláusula que vede de forma absoluta o custeio
do serviço de home care (tratamento domiciliar), a operadora do plano será
obrigada a custeá-lo em substituição à internação hospitalar contratualmente
prevista, desde cumpridos os seguintes requisitos:
1) tenha havido indicação desse tratamento pelo médico assistente;
2) exista real necessidade do atendimento domiciliar, com verificação do quadro
clínico do paciente;
3) a residência possua condições estruturais para fazer o tratamento domiciliar;
4) haja solicitação da família do paciente;
5) o paciente concorde com o tratamento domiciliar;
6) não ocorra uma afetação do equilíbrio contratual em prejuízo do plano de saúde
(exemplo em que haveria um desequilíbrio: nos casos em que o custo do
atendimento domiciliar por dia supera a despesa diária em hospital).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.378.707-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/5/15
(Info 564).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.537.301-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 18/8/15
(Info 571).

8.4. Rescisão de arrendamento mercantil vinculado a contrato de compra e venda


de automóvel que apresentou vício redibitório – (Info 554)

Consumidor adquire veículo novo e, para pagar o carro, contrata leasing oferecido
pelo banco da própria montadora. O automóvel apresenta vício redibitório que o
torna imprestável ao uso. O banco que realizou o financiamento será também
responsável? O contrato de leasing também será rescindido?
SIM. A instituição financeira vinculada à concessionária do veículo (“banco da
montadora”) possui responsabilidade solidária por vício do produto (veículo novo
defeituoso), uma vez que ela foi parte integrante da cadeia de consumo.
Todos aqueles que participam da introdução do produto ou serviço no mercado
devem responder solidariamente por eventual defeito ou vício.
O contrato de arrendamento mercantil não foi feito de forma independente. Ao
contrário, está atrelado ao contrato de compra e venda, de forma que é possível
vislumbrar a existência de uma “operação casada”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.379.839-SP, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para
Acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/11/2014 (Info 554).

8.5. Necessidade de informar que o cômputo da área total do imóvel residencial


vendido está considerando também o tamanho da garagem – (Info 552)
Na compra e venda de imóvel, a vaga de garagem, ainda que individualizada e de
uso exclusivo do proprietário da unidade residencial, não pode ser considerada no
cômputo da área total do imóvel vendido ao consumidor caso esse fato não tenha
sido exposto de forma clara na publicidade e no contrato.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.139.285-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 18/11/2014
(Info 552).

8.6. Reajuste de mensalidade de seguro-saúde em razão de alteração de faixa etária


do segurado – (Info 551) – IMPORTANTE!!!

Em regra, é válida a cláusula prevista em contrato de seguro-saúde que autoriza o


aumento das mensalidades do seguro quando o usuário completar 60 anos de
idade.

Exceções. Essa cláusula será abusiva quando:


a) não respeitar os limites e requisitos estabelecidos na Lei 9.656/98; ou
b) aplicar índices de reajuste desarrazoados ou aleatórios, que onerem em demasia
o segurado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.381.606-DF, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para
acórdão Min. João Otávio De Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 551).

8.7. Plano de saúde é condenado a custear tratamento experimental em caso de


ineficácia dos tratamentos convencionais – (Info 551)

A seguradora ou operadora de plano de saúde deve custear tratamento


experimental existente no País, em instituição de reputação científica reconhecida,
de doença listada na CID-OMS, desde que haja indicação médica para tanto, e os
médicos que acompanhem o quadro clínico do paciente atestem a ineficácia ou a
insuficiência dos tratamentos indicados convencionalmente para a cura ou controle
eficaz da doença.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.279.241-SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 16/9/14 (Info 551).

9. PRÁTICAS ABUSIVAS
9.1. TV por assinatura e cobrança pelo ponto adicional – (Info 617)

É lícita a conduta da prestadora de serviço que em período anterior à Resolução da


ANATEL nº 528, de 17 de abril de 2009, efetuava cobranças pelo aluguel de
equipamento adicional e ponto extra de TV por assinatura.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.449.289-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min.
Marco Buzzi, por maioria, j. 14/11/2017 (Info 617).

9.2. CLÁUSULAS ABUSIVAS: Para que haja compartilhamento de dados do


consumidor, é necessária a sua autorização expressa – (Info 616)

É abusiva e ilegal cláusula prevista em contrato de prestação de serviços de cartão


de crédito que autoriza o banco contratante a compartilhar dados dos consumidores
com outras entidades financeiras ou mantenedoras de cadastros positivos e
negativos de consumidores, sem que seja dada opção de discordar daquele
compartilhamento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.348.532-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/10/17 (Info
616).
OBS: A Lei 12.414/11 dispõe que o compartilhamento de informação de
adimplemento só é permitido se autorizado expressamente pelo cadastrado, por meio
de assinatura em instrumento específico ou em cláusula apartada.

9.3. CLÁUSULAS ABUSIVAS: Não é abusiva a cláusula que repasse os custos


administrativos assumidos pelo banco para cobrar o consumidor inadimplente – (Info
611) – IMPORTANTE!!!

Não há abusividade na cláusula contratual que estabeleça o repasse dos custos


administrativos da instituição financeira com as ligações telefônicas dirigidas ao
consumidor inadimplente.
Ex: João resolveu tomar um empréstimo junto ao banco. No contrato, há uma
cláusula prevendo que se o contratante atrasar o pagamento das parcelas do
empréstimo e, em razão disso, a instituição financeira tiver que fazer ligações
telefônicas ao devedor para cobrar o débito, o consumidor deverá pagar, além dos
juros e da multa, os custos com as ligações telefônicas. Tal cláusula, em princípio,
é válida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.699-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 12/9/17
(Info 611).
OBS: Desse modo, havendo expressa previsão contratual impondo ao consumidor o
dever de ressarcimento dos custos resultantes de cobrança administrativa, não se pode
afirmar que a exigibilidade dessas despesas em caso de mora ou inadimplemento,
ainda que em contrato de adesão, seja indevida.

Existem outros precedentes do STJ no mesmo sentido:


(...) 3. É válida, com base no art. 956 do CC/1916 (art. 395 do
CC/2002), a cláusula contratual que prevê, como uma das
consequências da mora do consumidor, o pagamento das
despesas decorrentes da cobrança extrajudicial, suportadas
pela credora. (...) STJ. 4ª Turma. REsp 748.242/RJ, Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, julgado em 10/11/2015.

Duas observações finais sobre o tema:


1) É possível que, no caso concreto, o julgador verifique que esta cláusula seja abusiva,
como, por exemplo, se os valores cobrados forem exorbitantes, violando o princípio
da razoabilidade. Essa análise, contudo, deve ser feita em cada caso. Em tese, ou seja,
em linhas gerais, a referida cláusula é válida.

2) A garantia da reparação total valerá tanto para o fornecedor quanto para o


consumidor, independentemente de expressa previsão contratual por força do art. 51,
XII, do CDC. Isso significa que, se o consumidor tiver que fazer despesas para exigir
o cumprimento da obrigação pelo fornecedor, tais custos poderão ser exigidos.

9.4. Cancelamento de voos sem razões técnicas ou de segurança é prática abusiva –


(Info 593) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)
O transporte aéreo é serviço essencial e pressupõe continuidade. (TJPR-2017)
Considera-se prática abusiva o cancelamento de voos sem razões técnicas ou de
segurança inequívocas.
Também é prática abusiva o descumprimento do dever de informar o consumidor,
por escrito e justificadamente, quando tais cancelamentos vierem a ocorrer.
Nas ações coletivas ou individuais, a agência reguladora não integra o feito em
litisconsórcio passivo quando se discute a relação de consumo entre concessionária
e consumidores, e não a regulamentação emanada do ente regulador.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.469.087-AC, Rel. Min. Humberto Martins, j. 18/8/16 (Info 593).

9.5. Instituição não pode negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular


porque ele tem outros débitos anteriores relativos a outro curso – (Info 591) –
IMPORTANTE!!!

Instituição de ensino superior não pode recusar a matrícula de aluno aprovado em


vestibular em razão de inadimplência em curso diverso anteriormente frequentado
por ele na mesma instituição.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.583.798-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 24/5/16 (Info 591).
OBS:
Falando de forma abstrata, sem analisar ainda o caso concreto, é possível que a
instituição de ensino particular se recuse a renovar a matrícula do aluno
inadimplente? Ex: Pedro está devendo 4 mensalidades; a faculdade pode se recusar a
matriculá-lo no período seguinte caso ele não pague? SIM. O tema é tratado pelos
arts. 5º e 6º da Lei 9.870/99 e as regras podem ser assim resumidas:
 Os alunos já matriculados possuem, em regra, direito à renovação das
matrículas, observado o calendário escolar da instituição, o regimento da
escola e as cláusulas contratuais;
 Os alunos que estejam inadimplentes há mais de 90 dias estão sujeitos a
sanções legais e administrativas e podem ser desligados.
 Contudo, esse desligamento por inadimplência somente pode ocorrer ao final
do ano letivo ou, no caso de ensino superior, ao final do semestre letivo quando
a instituição adotar o regime didático semestral.
 Assim, o aluno inadimplente não pode ser desligado durante o período de
aulas.
 Se a inadimplência for maior que 90 dias, a instituição tem o direito de se
recusar a renovar sua matrícula para o semestre ou ano seguinte.

O que a instituição financeira não pode fazer com o aluno inadimplente:


 proibir que ele faça provas;
 reter seus documentos escolares;
 aplicar quaisquer outras penalidades pedagógicas por motivo de
inadimplemento.

Os estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior deverão expedir, a


qualquer tempo, os documentos de transferência de seus alunos, independentemente
de sua adimplência ou da adoção de procedimentos legais de cobranças judiciais (art.
6º, § 2º da Lei nº 9.870/99).
Veja julgado do STJ sobre o tema:
4. O aluno, ao matricular-se em instituição de ensino privado,
firma contrato oneroso, pelo qual se obriga ao pagamento das
mensalidades como contraprestação ao serviço recebido.
5. O atraso no pagamento não autoriza aplicarem-se ao aluno
sanções que se consubstanciem em descumprimento do
contrato por parte da entidade de ensino (art. 5º da Lei
9.870/99), mas a entidade está autorizada a não renovar a
matrícula se o atraso é superior a noventa dias, mesmo que
seja de uma mensalidade apenas. (...)
STJ. 2ª Turma. REsp 725.955/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, j.
08/05/07.

Voltando ao exemplo hipotético dado no início. A instituição agiu corretamente ao


negar a matrícula de João no curso de Direito considerando que sua inadimplência
quanto às mensalidades do curso de Administração era superior a 90 dias? NÃO.
Neste exemplo, não se está falando em renovação de matrícula, mas sim na
constituição de uma nova relação jurídica, ainda que na mesma instituição de ensino.
Logo, não se aplicam os arts. 5º e 6º da Lei 9.870/99, uma vez que tais dispositivos
tratam apenas de renovação de matrícula, ou seja, do caso da pessoa que já está no
curso, deixa de pagar e, por isso, pode ser impedida de renovar sua matrícula para o
semestre seguinte. Não se mostra razoável que se faça uma interpretação extensiva
dos arts. 5º e 6º de modo a prejudicar o consumidor, em especial aquele que almeja a
inserção no ambiente acadêmico. Assim, a conduta da instituição de negar a matrícula
inicial do aprovado no vestibular porque ele tem outros débitos anteriores, relativos a
outro curso, não tem respaldo legal. A eventual cobrança de valores em aberto poderá
ser realizada, porém pelos meios legais ordinários, não se admitindo a pretendida
negativa de matrícula.

9.6. Nulidade de cláusula de renúncia à entrevista qualificada para contratar plano


de saúde – (Info 578)

É nula a cláusula inserta por operadora de plano privado de assistência à saúde em


formulário de Declaração de Doenças ou Lesões Preexistentes (Declaração de
Saúde) prevendo a renúncia pelo consumidor contratante à entrevista qualificada
orientada por um médico, seguida apenas de espaço para aposição de assinatura,
sem qualquer menção ao fato de tal entrevista se tratar de faculdade do
beneficiário.
A inserção de cláusula de renúncia em declaração de saúde é abusiva por induzir o
segurado a abrir mão do direito ao exercício livre da opção de ser orientado por um
médico por ocasião do preenchimento daquela declaração, notadamente porque se
trata de documento que tem o condão de viabilizar futura negativa de cobertura de
procedimento ou tratamento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.554.448-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
18/2/2016 (Info 578).
OBS:
Preenchimento da "declaração de saúde": No ato de assinatura do plano de saúde, a
operadora exige que o beneficiário ou seu representante legal preencha e assine uma
"declaração de saúde", que consiste em um questionário no qual a pessoa informa as
doenças ou lesões de que saiba ser portador. Isso é muito importante porque caso a
pessoa seja portadora de doença ou lesão preexistente, a operadora poderá negar ao
paciente, durante um período de carência e de cobertura parcial temporária, que ele
se utilize do plano para custear procedimentos de alta complexidade, cirurgias e leitos
de alta tecnologia (UTI, CTI etc.) relacionados à doença declarada. Ex: se a pessoa,
antes de contratar o plano, já possuía um grave problema de coração, ela não poderá,
antes de completar o período de carência, fazer uma cirurgia custeada pelo plano para
tratar desta enfermidade.

O que acontece se a pessoa souber que é portadora de doença ou lesão preexistente,


mas omitir essa informação na declaração de saúde? Haverá uma fraude, que poderá
acarretar a suspensão ou rescisão do contrato, após julgamento em processo
administrativo que tramita na Agência Nacional de Saúde (ANS). Além disso, a
operadora poderá cobrar de volta do beneficiário os gastos que teve com algum
tratamento que tenha sido realizado envolvendo esta doença ou lesão. Existem várias
regras envolvendo este tema. Se quiser aprofundar ou tiver dúvidas específicas,
recomendo que consulte a Resolução Normativa DC/ANS nº 162/2007.

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação: O plano de saúde "XX"


fornecia aos seus clientes um modelo de "declaração de saúde" no qual existia um
campo escrito: "Renuncio à entrevista qualificada orientada por um médico". Ao lado
desta afirmação, havia um campo em branco para que o cliente assinasse. No contrato
e na declaração de saúde não havia nada explicando ao contratante em que consistia
esta entrevista qualificada. Também não era informado ao consumidor que ele não era
obrigado a assinar neste campo e que possuía a faculdade de pedir a ajuda de um
médico para preencher a declaração. Diante disso, o MP ajuizou ação civil pública
contra o plano de saúde pedindo que esta prática fosse considerada abusiva.

O pedido do MP foi aceito pelo STJ? SIM. A transparência e a informação são deveres
dos prestadores de serviços e constituem direito do consumidor de ter pleno
conhecimento acerca do produto ou serviço que está adquirindo. É o que dispõe o
CDC em seus arts. 4º e 6º, os quais devem ser analisados conjuntamente com a cláusula
geral da boa-fé (art. 51). Não há manifestação de vontade livre e consciente se o
interessado não detém as informações necessárias para formar seu convencimento.
Transportando esse entendimento para o caso em análise, observe-se que a seguradora
deve:

a) esclarecer o pretenso segurado acerca do que consiste uma


declaração de doenças e lesões preexistentes e das
consequências do incorreto preenchimento dos dados ou de
eventuais equívocos nas respostas às indagações ali
formuladas; e

b) esclarecer que, no caso de o segurado ter dúvida acerca da


alguma questão, teria direito à orientação de um médico
durante o preenchimento do documento, oportunidade em
que o profissional de saúde iria elucidar o que estava sendo
indagado, por exemplo, os termos técnicos para definir
eventuais doenças e/ou lesões que o segurado ou parente
pudessem ter sofrido antes daquela data.
9.7. Responsabilização de consumidor por pagamento de honorários advocatícios
extrajudiciais – (Info 574) – IMPORTANTE!!!

Não é abusiva a cláusula prevista em contrato de adesão que impõe ao consumidor


em mora a obrigação de pagar honorários advocatícios decorrentes de cobrança
extrajudicial.
Ex: João resolveu comprar um carro financiado por meio de leasing. No contrato,
há uma cláusula prevendo que se o comprador atrasar as parcelas e a instituição
financeira tiver que recorrer aos meios extrajudiciais para cobrar o débito, o
financiado deverá pagar, além dos juros e multa, honorários advocatícios, desde já
estabelecidos em 20% sobre o valor da dívida. Esta cláusula não é abusiva.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.002.445-DF, Rel. originário Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão
Min. Raul Araújo, julgado em 26/8/2015 (Info 574).
OBS: Inexiste abuso na exigência, pelo credor, de honorários advocatícios
extrajudiciais a serem suportados pelo devedor em mora em caso de cobrança
extrajudicial, pois, além de não causar prejuízo indevido para o devedor em atraso,
isso tem previsão expressa nos arts. 389, 395 e 404 do Código Civil.
A cláusula acima mencionada não tem nada de abusiva. É importante frisar que o
direito nela previsto deverá ser assegurado, por igualdade, ao consumidor contratante
caso o fornecedor do serviço seja inadimplente.
Se no contrato existir cláusula prevendo a incidência de honorários advocatícios
extrajudiciais na hipótese de cobrança de consumidor em mora, é necessário assegurar
ao consumidor, independentemente de previsão contratual, o mesmo direito. Isso se
faz necessário a fim de cumprir o disposto no art. 51, XII, do CDC.

9.8. Abusividade na distinção de preço para pagamento em dinheiro, cheque ou


cartão de crédito – (Info 571) – IMPORTANTE!!!

Caracteriza prática abusiva quando o fornecedor de bens e serviços prevê preços


mais favoráveis para o consumidor que paga em dinheiro ou cheque em detrimento
daquele que paga em cartão de crédito.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.479.039-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
6/10/2015 (Info 571).

9.9. Envio de cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação do consumidor –


(Info 563)

Súmula 532-STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito


sem prévia e expressa solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito
indenizável e sujeito à aplicação de multa administrativa.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 03/06/2015.

9.10. Inexistência de abusividade na cobrança de custo extra em caso de pagamento


por boleto bancário – (Info 555)

Determinada empresa que oferece assinatura de revistas permite que os clientes


paguem de três formas: por boleto bancário, débito em conta corrente e cartão de
crédito. Se o cliente optar pelo boleto bancário, ele é informado que terá que pagar
mais um R$ 1 referente ao custo que o banco exige para emitir e receber o boleto.
Essa prática é abusiva?
NÃO. O STJ entendeu que, no caso concreto, a cobrança feita pela empresa não era
abusiva considerando que:
1) o consumidor tinha outras opções de pagamento;
2) a quantia exigida pela utilização dessa forma de pagamento não foi
excessivamente onerosa;
3) houve informação prévia de sua cobrança; e
4) o valor pleiteado correspondeu exatamente ao que o fornecedor recolheu à
instituição financeira responsável pela emissão do boleto bancário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.339.097-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 3/2/15 (Info
555).

9.11. Prática de venda casada por operadora de telefonia celular gera dano moral
coletivo in re ipsa – (Info 553) – IMPORTANTE!!!

Configura dano moral coletivo in re ipsa a realização de venda casada por


operadora de telefonia.
A prática de venda casada por parte de operadora de telefonia é capaz de romper
com os limites da tolerância. No momento em que oferece ao consumidor produto
com significativas vantagens - no caso, o comércio de linha telefônica com valores
mais interessantes do que a de seus concorrentes - e de outro, impõe-lhe a obrigação
de aquisição de um aparelho telefônico por ela comercializado, realiza prática
comercial apta a causar sensação de repulsa coletiva a ato intolerável, tanto que
encontra proibição expressa em lei.
Afastar, da espécie, o dano moral difuso, é fazer tábula rasa da proibição elencada
no art. 39, I, do CDC e, por via reflexa, legitimar práticas comerciais que afrontem
os mais basilares direitos do consumidor.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.397.870-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 2/12/14
(Info 553).

9.12. ACP pleiteando nulidade de cláusula abusiva e condenação pelos danos


causados – (Info 547)

I – Em uma mesma ação coletiva, o autor pode formular pedidos relacionados com
direitos individuais homogêneo, direitos coletivos em sentido estrito e direitos
difusos. As tutelas pleiteadas em ações civis públicas não são necessariamente
puras e estanques. Não é preciso que se peça, de cada vez, uma tutela referente a
direito individual homogêneo, em outra ação uma de direitos coletivos em sentido
estrito e, em outra, uma de direitos difusos, especialmente em se tratando de ação
manejada pelo Ministério Público, que detém legitimidade ampla no processo
coletivo.
II – Havendo violação a direitos transindividuais, é cabível, em tese, a condenação
por dano moral coletivo que se caracteriza como uma categoria autônoma de dano
e que não está relacionado necessariamente com os tradicionais atributos da pessoa
humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico).
III – No caso concreto julgado, o STJ entendeu que não cabia condenação por dano
moral coletivo. Os usuários do Plano de Saúde “ZZZ” que precisassem de próteses
para cirurgias de angioplastia precisavam pagar um valor extra considerando que
determinada cláusula excluía da cobertura o implante de próteses cardíacas. Essa
cláusula é abusiva e ilegal, no entanto, ela não gerou danos difusos ou coletivos,
mas apenas individuais homogêneos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.293.606-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
2/9/2014 (Info 547).

9.13. É abusiva a cláusula que preveja a perda integral dos valores pagos em caso de
desistência de pacote turístico – (Info 533)

É abusiva a cláusula penal de contrato de pacote turístico que estabeleça, para a


hipótese de desistência do consumidor, a perda integral dos valores pagos
antecipadamente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.655-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
22/10/2013 (Info 533).

9.14. Prática abusiva (envio de cartão de crédito sem solicitação do consumidor) –


(Info 511)

É vedado o envio de cartão de crédito, ainda que bloqueado, à residência do


consumidor sem prévia e expressa solicitação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.199.117-SP, Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
18/12/2012 (Info 511 STJ).

9.15. Plano de saúde e cirurgia de gastroplastia – (Info 511)

Plano de saúde não pode negar o custeio de cirurgia de gastroplastia (indicada para
tratamento de obesidade mórbida)
Assim, é abusiva a negativa do plano de saúde em cobrir as despesas de intervenção
cirúrgica de gastroplastia, necessária à garantia da sobrevivência do segurado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.249.701-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
4/12/2012 (Info 511 STJ).

9.16. Cláusula abusiva (limite de valor em tratamento pelo plano de saúde) – (Info
491)

É abusiva a cláusula do contrato de seguro-saúde (plano de saúde) que estabeleça


limite de valor para o custeio de despesas com tratamento clínico, cirúrgico e de
internação hospitalar.
STJ. 4ª Turma. REsp 735.750-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 14/2/2012 (Info
491 STJ).

10. OFERTAS PUBLICITÁRIAS


10.1. A fonte utilizada nas ofertas publicitárias pode ser inferior ao tamanho 12 –
(Info 605) – IMPORTANTE!!!
O art. 54, § 3º do CDC prevê que, nos contratos de adesão, o tamanho da fonte não
pode ser inferior a 12.
Essa regra do art. 54, § 3º NÃO se aplica para ofertas publicitárias. Assim, as letras
que aparecem no comercial de TV ou em um encarte publicitário não precisam ter,
no mínimo, tamanho 12.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.678-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 23/5/17
(Info 605).
OBS:
Art. 54 (...)
§ 3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos
claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da
fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua
compreensão pelo consumidor. (Redação dada pela nº
11.785/2008)

11. PUBLICIDADE ENGANOSA


11.1. Publicidade enganosa por omissão – (Info 573)

É enganosa a publicidade televisiva que omite o preço e a forma de pagamento do


produto, condicionando a obtenção dessas informações à realização de ligação
telefônica tarifada.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.428.801-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
27/10/2015 (Info 573).

12. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO


12.1. Abusividade da cláusula-mandato - (Info 570) – IMPORTANTE!!!

Nos contratos de cartão de crédito, é abusiva a previsão de cláusula-mandato que


permita à operadora emitir título cambial contra o usuário do cartão.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.084.640-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 23/9/2015 (Info 570).

13. PLANO DE SAÚDE


13.1. Legitimidade ativa de usuário de plano de saúde coletivo para questionar a
rescisão unilateral promovida pela operadora – (Info 615)

O beneficiário de plano de saúde coletivo por adesão possui legitimidade ativa


para se insurgir contra rescisão contratual unilateral realizada pela operadora.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.705.311-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 9/11/17 (Info 615).

13.2. Súmula 597-STJ – (Info 614)

Súmula 597-STJ: A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para
utilização dos serviços de assistência médica nas situações de emergência ou de
urgência é considerada abusiva se ultrapassado o prazo máximo de 24 horas
contado da data da contratação.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 08/10/2017. (Info 614)
OBS:
O que é carência nos contratos de plano de saúde? Carência é o tempo que a pessoa
terá que esperar para poder gozar dos serviços oferecidos pelo plano de saúde. Esse
prazo normalmente varia de acordo com o procedimento médico ou hospitalar. Ex:
consultas médicas, sem carência; partos – carência de 300 dias etc. Os prazos de
carência devem estar previstos no contrato.

É lícita a cláusula contratual do plano de saúde que estabeleça prazos de carência?


Em regra, sim, desde que respeitados os limites máximos estabelecidos pela Lei nº
9.656/98.

Quais são esses limites?

Situação Tempo máximo de


carência
Partos a termo, excluídos os partos prematuros e 300 dias
decorrentes de complicações no processo gestacional
Doenças e lesões preexistentes (quando contratou o 24 meses
plano de saúde, a pessoa já sabia possuir)
Casos de URGÊNCIA (acidentes pessoais ou 24 horas
complicações no processo gestacional) e
EMERGÊNCIA (risco imediato à vida ou lesões
irreparáveis)
Demais situações 180 dias

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João, há dois meses, contratou o plano
de saúde “X”. João estava se sentindo mal e foi até o hospital conveniado ao plano.
Constatou-se que ele necessitava de internação em caráter de urgência/emergência,
porque estava com suspeita de AVC. O plano de saúde negou a autorização para
internação alegando que existe uma cláusula no contrato prevendo carência de 180
dias para que o usuário tenha direito à internação.

Foi lícita a conduta do plano de saúde de negar a internação? NÃO. A seguradora


tinha a obrigação de arcar com a internação, mesmo estando no período de carência.
Em se tratando de procedimento de emergência ou de urgência, ou seja, de evento
que se não for realizado imediatamente implica em risco concreto de morte ou lesão
irreparável para o paciente, deve ser adotado o prazo de carência de vinte e quatro
horas e não o de cento e oitenta dias, sob pena de violação à legítima expectativa do
consumidor ao celebrar o contrato para preservar a sua vida, sua saúde e sua
integridade física. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1448660/MG, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 04/04/2017.

A legislação permite que o contrato estipule prazo de carência (art. 12, da Lei
9.656/98). No entanto, mesmo havendo carência, os planos de saúde e seguros
privados de saúde são obrigados a oferecer cobertura nos casos de urgência e
emergência a partir de 24 horas depois de ter sido assinado o contrato (art. 12, V, c).

Os contratos de seguro e assistência à saúde são pactos de cooperação e solidariedade,


cativos e de longa duração, informados pelos princípios consumeristas da boa-fé
objetiva e função social, tendo o objetivo precípuo de assegurar ao consumidor, no
que tange aos riscos inerentes à saúde, tratamento e segurança para amparo necessário
de seu parceiro contratual.
Os arts. 18, § 6º, III, e 20, § 2º, do CDC, preveem a necessidade da adequação dos
produtos e serviços à legítima expectativa do consumidor de, em caso de pactuação
de contrato oneroso de seguro de assistência à saúde, não ficar desamparado no que
tange a procedimento médico premente e essencial à preservação de sua vida.

Como se trata de situação limite, em que há nítida possibilidade de violação de


direito fundamental à vida, não é possível à seguradora invocar prazo de carência
contratual para restringir o custeio dos procedimentos de emergência ou de
urgência.

O STJ sumulou agora o tema.

Em caso de recusa indevida, é possível a condenação do plano de saúde ao pagamento


de indenização? SIM. A recusa indevida da operadora de plano de saúde a autorizar
o tratamento do segurado é passível de condenação por dano moral, uma vez que
agrava a situação de aflição e angústia do segurado, comprometido em sua higidez
físico-psicológica pela enfermidade (STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 949.288/CE, Rel.
Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 20/10/2016).

13.3. Custeio das sessões de psicoterapia além dos limites previstos no contrato –
(Info 612)

É abusiva a cláusula contratual ou o ato da operadora de plano de saúde que limite


ou interrompa o tratamento psicoterápico oferecido ao usuário sob o argumento de
que já se esgotou o número máximo de sessões anuais asseguradas no Rol de
Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS.
Depois que terminarem as sessões obrigatórias que o plano tem o dever de custear
integralmente, deverão continuar sendo oferecidas as sessões necessárias para o
tratamento, no entanto, a partir daí, o custo delas será dividido, em regime de
coparticipação, entre o plano de saúde e o usuário.
Ex: o médico solicitou para João 40 sessões de psicoterapia. Contudo, a ANS prevê
que os planos de saúde são obrigados a custear apenas 18; para o STJ, isso significa
que essas 18 o plano irá pagar sozinho e as 22 a mais deverão ser custeadas, de forma
dividida, entre o plano e o usuário (João).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.679.190-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/9/17
(Info 612).

13.4. Plano de saúde pode exigir dos médicos que indiquem a CID nas requisições
de exames – (Info 610)

Não é abusiva a exigência de indicação da CID (Classificação Internacional de


Doenças), como condição de deferimento, nas requisições de exames e serviços
oferecidos pelas prestadoras de plano de saúde, bem como para o pagamento de
honorários médicos.
A exigência de menção da CID nas requisições de exames e demais serviços de
saúde decorre do fato de que as operadoras de planos de saúde estão obrigadas a
prestar apenas os serviços previstos no contrato. Logo, é importante essa
informação para que os pagamentos e as requisições de exames não se voltem para
tratamentos que ultrapassem as obrigações contratuais do plano de saúde.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.055-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 22/8/17
(Info 610).

13.5. Ex-empregado demitido sem justa causa tem direito de permanecer vinculado
ao plano de saúde em que se encontrava antes da demissão com as mesmas condições
de valor – (Info 599)

É indevido cobrar reajuste de ex-empregado demitido sem justa causa que opta por
permanecer vinculado ao plano de saúde em que se encontrava antes da demissão,
na condição de beneficiário, pelo prazo que lhe assegura o art. 30, § 1º, da Lei nº
9.656/98, nas mesmas condições de cobertura assistencial e mediante o pagamento
integral das mensalidades, só lhe podendo ser atribuído algum aumento que
também tenha sido estipulado aos empregados em atividade.
Em 2011, a ANS editou a Resolução ANS 279/2011, prevendo que "a manutenção da
condição de beneficiário no mesmo plano privado de assistência à saúde em que se
encontrava quando da demissão ou exoneração sem justa causa ou aposentadoria
observará as mesmas condições de reajuste, preço, faixa etária e fator moderador
existentes durante a vigência do contrato de trabalho" (art. 16).
Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo antes da Resolução ANS 279/2011, os
empregados demitidos sem justa causa já possuíam esse direito de permanecerem
pagando o mesmo valor. Isso porque esse direito decorre diretamente do art. 30 da
Lei nº 9.656/98 (e não da Resolução, que só veio confirmar essa conclusão).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.539.815-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 7/2/17 (Info
599).

13.6. Trabalhador aposentado que é contratado por empresa e posteriormente


demitido tem direito de manter o plano de saúde, nos termos do art. 31 da Lei 9.656/98
– (Info 597)

Em 1999, João aposentou-se pelo INSS. Em 2000, voltou a trabalhar para uma
empresa e passou a usufruir do plano de saúde coletivo empresarial no qual a
empregadora pagava metade e ele a outra metade das mensalidades. Em 2009, João
foi demitido sem justa causa, mas continuou no plano, assumindo o pagamento
integral das mensalidades. Em 2015, João faleceu e Maria continuou no plano, não
mais na condição de dependente, mas sim na de beneficiária principal. Em 2017,
contudo, o plano enviou uma carta para Maria comunicando que havia cessado a sua
condição de segurada no plano de saúde coletivo. O argumento utilizado pelo plano
de saúde para cessar a condição de segurada de Maria foi o de que a sua situação se
enquadrava no art. 30 da Lei nº 9.656/98. Maria não concordou e afirmou que, quando
João faleceu, ele estava aposentado, de forma que deveria incidir a regra do art. 31 da
Lei nº 9.656/98. A manutenção de Maria no plano ocorreu com base no art. 30 ou no
art. 31 da Lei nº 9.656/98?
Aplica-se o disposto no art. 31 da Lei nº 9.656/98 ao aposentado – e ao grupo familiar
inscrito, na hipótese de seu falecimento – que é contratado por empresa e,
posteriormente, demitido sem justa causa.

No caso concreto, Maria terá direito de continuar no plano por tempo indeterminado
(regra do caput do art. 31) ou por prazo determinado (regra do § 1º do art. 31)?
Por prazo determinado. A lei somente assegura ao aposentado a sua manutenção
como beneficiário, sem qualquer restrição temporal, quando houver contribuído
para os planos de assistência à saúde pelo prazo mínimo de 10 anos (regra do caput
do art. 31).
A vigência do contrato de seguro saúde iniciou-se em 2000, quando João foi
contratado pela empresa X. Em 2009 João foi demitido sem justa causa e continuou
como beneficiário do plano de saúde, assumindo o ônus integral do pagamento das
mensalidades, o que fez até a data de seu óbito, em 2015. Desta feita, tem-se que o
tempo de filiação original ao plano foi de 9 anos (2000 a 2009), mostrando-se,
impossível, portanto, a aplicação do art. 31, caput, da Lei, que exige tempo de
contribuição mínimo de 10 anos.

Maria alegou que, com a morte de João, ela o teria sucedido no plano de saúde,
devendo, portanto, somar o tempo que João contribuiu (9 anos) com o tempo que ela
também pagou o plano (2 anos, ou seja, de 2015 a 2017). Logo, somando esses dois
períodos, haveria mais que 10 anos de contribuição ao plano. Essa tese foi aceita pelo
STJ?
NÃO. O art. 31 da Lei expressamente exige que o APOSENTADO tenha
contribuído por prazo mínimo de 10 anos, não prevendo a possibilidade de haver
a soma do período de contribuição do aposentado com seus eventuais sucessores.
João contribuiu por 9 anos para o plano coletivo de assistência à saúde. Logo, a
manutenção do contrato em favor de Maria deve se dar por 9 anos. O termo inicial
para a contagem desses 9 anos de manutenção do contrato não pode ser considerado
a data do óbito de João (2015) mas sim a data em que ocorreu a cessação do vínculo
empregatício (2009), considerando que foi neste momento que nasceu o direito à
manutenção do titular, bem como de sua dependente no plano de saúde.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.371.271-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/2/2017 (Info 597).

13.7. Portabilidade especial de carências – (Info 592)

É ilícita a exigência de cumprimento de carência de ex-dependente de plano


coletivo empresarial, extinto em razão da demissão sem justa causa do titular, ao
contratar novo plano de saúde, na mesma operadora, mas em categoria diversa
(plano coletivo por adesão).
Nos termos do art. 7º-C da RN 186/09 da ANS, o ex-empregado demitido ou
exonerado sem justa causa ou aposentado ou seus dependentes ficam dispensados
do cumprimento de novos períodos de carência na contratação de novo plano
individual ou familiar ou coletivo por adesão, seja na mesma operadora, seja em
outra, desde que peçam a transferência durante o período de manutenção da
condição de beneficiário garantida pelos arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656/98.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.525.109-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 4/10/16
(Info 592).

13.8. Prazo prescricional da pretensão condenatória decorrente de nulidade de


cláusula de reajuste de plano ou seguro de assistência à saúde – (Info 590)

Em caso de pretensão de nulidade de cláusula de reajuste prevista em contrato de


plano ou seguro de assistência à saúde ainda vigente, com a consequente repetição
do indébito, a ação ajuizada está fundada no enriquecimento sem causa e, por isso,
o prazo prescricional é trienal, nos termos do art. 206, § 3º, IV, do Código Civil.
Em outras palavras, se o usuário do plano de saúde (ou do seguro-saúde), ainda
com o contrato em vigor, pretende declarar a nulidade da cláusula de reajuste e
obter a devolução dos valores pagos a mais, o prazo prescricional para isso é de 3
anos.
No CC/16, não havia uma previsão como a do art. 206, § 3º, IV, do CC/02. O art. 177
do CC/16 afirmava que, se para a situação concreta não houvesse prazo
prescricional expressamente previsto na lei, deveria ser aplicado o prazo de 20 anos
caso a ação versasse sobre direitos pessoais. Logo, se o fato ocorreu na vigência do
CC/16, o prazo prescricional aplicável é de 20 anos.
Resumindo, foi fixada a seguinte tese:
Na vigência dos contratos de plano ou de seguro de assistência à saúde, a pretensão
condenatória decorrente da declaração de nulidade de cláusula de reajuste nele
prevista prescreve em 20 anos (art. 177 do CC/1916) ou em 3 anos (art. 206, § 3º, IV,
do CC/2002), observada a regra de transição do art. 2.028 do CC/2002.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.361.182-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco
Aurélio Bellizze, j. 10/8/16 (recurso repetitivo) (Info 590).
OBS:
Resumindo. Qual é o prazo prescricional para o usuário de plano de saúde questionar
a nulidade da cláusula que impôs o reajuste das parcelas e cobrar os valores pagos
indevidamente a maior?
 Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: 20 anos.
 Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: 3 anos.

E se o fato começou na época do CC/16 e continuou durante o CC/02, neste caso, qual
dos dois prazos será aplicado? Neste caso, deverá ser observada a regra de transição
do art. 2.028 do CC/2002:
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando
reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em
vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.

E quanto ao mérito? É abusiva a cláusula que determina o aumento de preço da


mensalidade do plano de saúde pelo fato de o usuário ter passado para uma nova
faixa de idade? Em regra, NÃO.

A previsão de reajuste de mensalidade de plano de saúde em


decorrência da mudança de faixa etária de segurado idoso não
configura, por si só, cláusula abusiva, devendo sua
compatibilidade com a boa-fé objetiva e a equidade ser aferida
em cada caso concreto.
STJ. 2ª Seção. REsp 1280211/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j.
23/04/14.

Em regra, é válida a cláusula prevista em contrato de seguro-


saúde que autoriza o aumento das mensalidades do seguro
quando o usuário completar 60 anos de idade.
Exceções. Essa cláusula será abusiva quando:
a) não respeitar os limites e requisitos estabelecidos na Lei
9.656/98; ou
b) aplicar índices de reajuste desarrazoados ou aleatórios, que
onerem em demasia o segurado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.381.606-DF, Rel. originária Min. Nancy
Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, j.
7/10/14 (Info 551).

13.9. Quando um hospital credenciado não prestar determinados serviços para os


usuários do plano, este deverá informar ao consumidor a restrição existente, sob pena
de estarem todos incluídos – (Info 590)

No caso em que, nas informações divulgadas por plano de saúde aos seus usuários,
determinado hospital particular figure como instituição credenciada sem ressalvas,
se o usuário optar pela realização de tratamento contratado e disponibilizado pelo
aludido hospital, a operadora do plano será obrigada a custeá-lo, ainda que o
serviço seja prestado em parceria com instituição não credenciada, cuja unidade de
atendimento funcione nas dependências do hospital, sendo irrelevante o fato de
haver, na mesma localidade, outras instituições credenciadas para o mesmo tipo de
tratamento de saúde.
Ex: João, cliente do plano de saúde, precisava fazer quimioterapia. Na página do
plano na internet consta que o Hospital São Carlos integra a rede credenciada.
Dentro deste hospital, no setor de oncologia, funciona o Instituto Santa Marta.
Diante disso, ele pediu as guias de serviço para fazer a quimioterapia lá. O plano
de saúde não autorizou alegando que o Instituto Santa Marta, apesar de funcionar
dentro do Hospital São Carlos, é uma instituição diferente e que apenas o Hospital
é credenciado. João terá direito de fazer o tratamento lá. Quando um hospital
credenciado não prestar determinados serviços para os usuários do plano, este
deverá informar ao consumidor, de forma clara, qual é a restrição existente e quais
as especialidades oferecidas pela entidade que não estão cobertas, sob pena de
todas elas estarem incluídas no credenciamento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.613.644-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 20/9/16
(Info 590).
OBS:
Os planos de saúde são regidos pela Lei 9.656/98. Esta lei determina que as
operadoras de planos de saúde deverão ajustar com as entidades conveniadas,
contratadas, referenciadas ou credenciadas, mediante instrumentos formais, as
condições de prestação de serviços de assistência à saúde.

Em outras palavras, quando a operadora de saúde contratar um hospital, laboratório


ou profissional para que estes prestem serviços para os usuários do plano, deverá ser
celebrado um contrato escrito, no qual as obrigações de cada uma das partes fiquem
bem definidas. Isso está previsto nos arts. 16, VI, 17-A, § 2º, e 18, I, da Lei 9.656/98.

Desse modo, quando a operadora do plano de saúde divulga para os seus usuários a
lista dos prestadores credenciados (ex: hospitais), ela deverá também descrever, de
forma bem clara, os serviços que cada um está apto a executar, pessoalmente ou por
meio de terceiros, segundo o contrato de credenciamento que foi assinado.

Assim, por exemplo, quando um hospital credenciado não prestar determinados


serviços para os usuários do plano, este deverá informar ao consumidor qual é a
restrição existente e quais as especialidades oferecidas pela entidade que não estão
cobertas, sob pena de o usuário considerar, com razão, que todas estão incluídas no
credenciamento.
No caso concreto, na página do plano de saúde na internet constava o Hospital São
Carlos como uma das instituições credenciadas pela Unimed. Não havia, na
informação divulgada aos usuários, nenhuma ressalva quanto aos serviços oferecidos
pela entidade, ou seja, não havia indicação de nenhuma restrição.

Somente ao tentar realizar a quimioterapia foi que o consumidor descobriu que os


serviços de oncologia do hospital são prestados, em sistema de parceria, com o
Instituto de Oncologia Santa Marta, outra instituição, mas que funciona dentro do
hospital.

O fato de o plano de saúde ter credenciado o hospital, sem restrições, faz com que seus
serviços abranjam, para fins de cobertura, todas as especialidades médicas oferecidas
pela instituição, ainda que prestadas sob o sistema de parceria com instituição não
credenciada.

Divergências de índole administrativa entre a operadora e o prestador (hospital) sobre


quais serviços estariam efetivamente cobertos no contrato de credenciamento não
podem servir de pretexto para prejudicar o consumidor de boa-fé, que confiou na rede
conveniada e nas informações divulgadas pelo plano de saúde.

As partes, nas relações contratuais, devem manter posturas de cooperação,


transparência e lealdade recíprocas, de modo a respeitar as legítimas expectativas
geradas no outro, sobretudo em contratos de longa duração, em que a confiança é
elemento essencial e fonte de responsabilização civil.

13.10. Direito de o ex-empregado continuar beneficiário em plano de saúde coletivo


empresarial – (Info 588)

É assegurado ao trabalhador demitido sem justa causa ou ao aposentado que


contribuiu para o plano de saúde em decorrência do vínculo empregatício o direito
de continuar no plano durante certo período com as mesmas condições de cobertura
assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que
assuma o seu pagamento integral (arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656/98).
Para isso, no entanto, é necessário que, durante o vínculo empregatício, ele
contribuísse para o pagamento do plano.
Quando se fala em "contribuição" para o plano, isso significa pagamento de
mensalidade.
Assim, se apenas a empresa contribuía para o plano, o ex-empregado não terá
direito de continuar nele mesmo que este plano fosse sob a modalidade de
coparticipação (quando o usuário, apesar de não pagar contribuição mensal, paga
uma parte do tratamento/consulta).
Resumindo: o empregado que for aposentado ou demitido sem justa causa não terá
direito de ser mantido em plano de saúde coletivo empresarial custeado
exclusivamente pelo empregador - sendo irrelevante se houver coparticipação no
pagamento de procedimentos de assistência médica, hospitalar e odontológica -,
salvo disposição contrária expressa em contrato ou em convenção coletiva de
trabalho.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.594.346-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/8/16 (Info
588).
OBS:
Situação 1: Antônio era empregado de um banco e possuía plano de saúde oferecido
aos funcionários da instituição. O custeio do plano era mantido da seguinte forma: o
empregador arcava todos os meses com R$ 100,00 e o empregado pagava outros R$
100,00. Antônio foi demitido sem justa causa e deseja continuar no plano de saúde
com as mesmas condições de cobertura assistencial que gozava. Para tanto, ele se
compromete a pagar mensalmente R$ 200,00 (sua parte e a do antigo empregador).
Ele possui esse direito? SIM. Tal possibilidade encontra-se prevista na Lei nº 9.656/98
(que trata sobre os planos de saúde):
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que
tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de
vínculo empregatício, no caso de rescisão ou exoneração do
contrato de trabalho sem justa causa, é assegurado o direito
de manter sua condição de beneficiário, nas mesmas
condições de cobertura assistencial de que gozava quando da
vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu
pagamento integral.

Repare que, para o trabalhador continuar tendo direito, deverão ser atendidas três
exigências:
a) durante o vínculo empregatício, ele contribuía para o
pagamento do plano;
b) ele foi demitido sem justa causa;
c) ele se compromete a assumir o pagamento integral das
parcelas.

O trabalhador terá direito de continuar com o plano de saúde por um tempo máximo
de 24 meses, conforme prevê o § 1º do art. 30 da Lei nº 9.656/98.

Se antes de completar os 24 meses, o consumidor for admitido em um novo emprego,


também perderá o direito de continuar com as mesmas condições no plano de saúde
(§ 5º do art. 30).

Situação 2: João era empregado de um banco e possuía plano de saúde oferecido aos
funcionários da instituição. O custeio do plano era mantido integralmente pelo
empregador, ou seja, todos os meses o banco pagava R$ 200,00 para manutenção do
plano de saúde e João não precisava arcar com nada. Vale ressaltar, contudo, que o
plano de saúde era regido pelo sistema de coparticipação, ou seja, sempre que João
iria se submeter a uma consulta ou tratamento, o plano pagava 70% e ele deveria arcar
com os 30% restantes. João foi demitido sem justa causa e deseja continuar no plano
de saúde com as mesmas condições de cobertura assistencial que gozava. Para tanto,
ele se compromete a pagar mensalmente R$ 200,00 que eram pagos pelo antigo
empregador. Ele possui esse direito? NÃO. Isso porque o art. 30 acima transcrito
afirma que o ex-empregado só tem direito de manter o plano de saúde se, durante o
contrato de trabalho, ele contribuía para o pagamento do plano. Veja novamente
trecho da redação:
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que
tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei (...)

João alegou que contribuía para o plano de saúde, considerando que o plano era do
tipo coparticipação, de forma que todas as vezes que usava, ele tinha que pagar uma
parte do tratamento. Essa tese foi aceita? A coparticipação pode ser considerada
como contribuição do ex-empregado para os fins do art. 30 da Lei 9.656/98? NÃO. O
§ 6º do art. 30 é expresso ao negar essa possibilidade:
§ 6º Nos planos coletivos custeados integralmente pela
empresa, não é considerada contribuição a co-participação do
consumidor, única e exclusivamente, em procedimentos,
como fator de moderação, na utilização dos serviços de
assistência médica ou hospitalar.

Para os fins do caput do art. 30 da Lei 9.656/98, contribuir para o plano de saúde
significa pagar uma mensalidade, independentemente de se estar usufruindo dos
serviços de assistência médica.

Essas mesmas regras acima expostas valem também para o empregado que tinha o
plano de saúde da empresa, mas teve seu contrato extinto porque se aposentou? SIM,
porém, existem algumas peculiaridades relacionadas com o tempo mínimo em que ele
deve ter contribuído. Veja:
Art. 31. Ao aposentado que contribuir para produtos de que
tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de
vínculo empregatício, pelo prazo mínimo de dez anos, é
assegurado o direito de manutenção como beneficiário, nas
mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava
quando da vigência do contrato de trabalho, desde que
assuma o seu pagamento integral.
§ 1º Ao aposentado que contribuir para planos coletivos de
assistência à saúde por período inferior ao estabelecido no
caput é assegurado o direito de manutenção como
beneficiário, à razão de um ano para cada ano de contribuição,
desde que assuma o pagamento integral do mesmo.
§ 2º Para gozo do direito assegurado neste artigo, observar-se-
ão as mesmas condições estabelecidas nos §§ 2º, 3º, 4º, 5º e 6º
do art. 30.
§ 3º Para gozo do direito assegurado neste artigo, observar-se-
ão as mesmas condições estabelecidas nos §§ 2º e 4º do art. 30.

13.11. É abusiva cláusula que autoriza plano de saúde a indeferir procedimentos


médico-hospitalares solicitados por médicos não integrantes do plano – (Info 588)

O plano de saúde não pode se recusar a custear exames, internações e tratamentos


hospitalares usando como único argumento o fato de que tais procedimentos foram
solicitados por médico não integrante da rede de atendimento do plano.
A cláusula contratual que prevê o indeferimento de quaisquer procedimentos
médico-hospitalares, se estes forem solicitados por médicos não cooperados, deve
ser reconhecida como cláusula abusiva, nos termos do art. 51, IV, do CDC.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.330.919-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 2/8/16 (Info 588).
OBS:
A referida previsão é abusiva, nos termos do art. 51, IV, do CDC:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços
que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas,
que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou
sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

Desse modo, percebe-se que indeferir a solicitação do procedimento requerido pelo


médico não cooperado não encontra justificativa no princípio do equilíbrio contratual.
Na verdade, trata-se de uma violação pelo plano de saúde do princípio da boa-fé
objetiva.

Exames, internações e demais procedimentos hospitalares não podem ser vedados aos
usuários cooperados exclusivamente pelo fato de terem sido solicitados por médico
não credenciado porque isso configura discriminação com os galenos (médicos) não
cooperados, tolhe o direito do consumidor de usar o plano de saúde e restringe a sua
liberdade de escolher o profissional que lhe aprouver.

Vale ressaltar que, além de ser nula com base no CDC, esta cláusula também é vedada
pela Resolução do Conselho de Saúde Suplementar - CONSU nº 8, de 3 de novembro
de 1998:
Art. 2º Para adoção de práticas referentes à regulação de
demanda da utilização dos serviços de saúde, estão vedados:
(...)
VI - negar autorização para realização do procedimento
exclusivamente em razão do profissional solicitante não
pertencer à rede própria ou credenciada da operadora.

Não confundir. Alguns planos de saúde permitem que o usuário se consulte com
médicos não credenciados e depois solicitem o reembolso da quantia paga (total ou
parcialmente). Outros planos de saúde não oferecem isso. Se o plano de saúde disser
no contrato que não irá reembolsar o paciente por consultas realizadas com médicos
não cadastrados, esta previsão é considerada válida? SIM. Essa limitação contratual
não se mostra abusiva, uma vez que é razoável e busca resguardar a operadora de
fortes e imprevisíveis impactos econômico-financeiros do contrato.

13.12. Não se aplica o CDC ao contrato de plano de saúde administrado por entidade
de autogestão – (Info 588)

Não se aplica o CDC às relações entre as operadoras de planos de saúde


constituídas sob a modalidade de autogestão e seus filiados.
Assim, os planos de saúde de autogestão podem ser considerados como uma
exceção à Súmula 469 do STJ: "Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos
contratos de plano de saúde."
A operadora de plano privado de assistência à saúde na modalidade de autogestão
é pessoa jurídica de direito privado sem finalidades lucrativas que, vinculada ou
não à entidade pública ou privada, opera plano de assistência à saúde com
exclusividade para um público determinado de beneficiários.
A constituição dos planos sob a modalidade de autogestão diferencia,
sensivelmente, essas pessoas jurídicas quanto à administração, forma de
associação, obtenção e repartição de receitas, dos contratos firmados com empresas
que exploram essa atividade no mercado e visam ao lucro.
Em razão disso, não se aplica o CDC ao contrato de plano de saúde administrado
por entidade de autogestão, por inexistência de relação de consumo.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.285.483-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/6/16 (Info 588).
OBS:
Plano de saúde de autogestão: Planos de saúde de autogestão (também chamados de
planos fechados de saúde) são criados por órgãos, entidades ou empresas para
beneficiar um grupo restrito de filiados com a prestação de serviços de saúde. Tais
planos são mantidos por instituições sem fins lucrativos e administrados
paritariamente, de forma que no seu conselho deliberativo ou de administração, há
representantes do órgão ou empresa instituidora e também dos associados ou
usuários.
O objetivo desses planos fechados é baratear para os usuários o custo dos serviços de
saúde, tendo em vista que não visam ao lucro. Exemplo: CASSI (Caixa de Assistência
dos Funcionários do Banco do Brasil).

Segundo a Resolução Normativa 137, da ANS, de 14/11/2006, a operadora de


autogestão é...
(...) a pessoa jurídica de direito público ou privado que,
diretamente ou por intermédio de entidade pública ou
privada patrocinadora, instituidora ou mantenedora,
administra plano coletivo de assistência à saúde destinado
exclusivamente a pessoas (e seus dependentes) a ela ligadas
por vínculo jurídico ou estatutário, ou aos participantes (e
seus dependentes) de associações, fundações, sindicatos e
entidades de classes, nos termos dos incisos I, II e III e § 2º, do
art. 2º.

Os atos regulamentares da ANS conferem tratamento diferenciado para os planos de


saúde de autogestão, com a finalidade de atender às características próprias dessa
modalidade de operadora, possibilitando a redução dos custos de sua manutenção,
cujos serviços são prestados, não mediante contraprestação pecuniária com a
finalidade de obtenção de lucro, mas a partir de contribuições dos participantes
calculadas, em regra, com base nos seus salários/aposentadorias etc., observando-se,
com isso, os princípios do mutualismo e da solidariedade.

Por essas razões, as regras do CDC não se aplicam às relações envolvendo entidades
de planos de saúde constituídas sob a modalidade de autogestão. Isso porque tais
entidades não oferecem serviços no mercado e não exercem empresa com o intuito de
lucro, razão pela qual não se lhes aplica o conceito de fornecedor estabelecido no art.
3º, § 2º do CDC.

O tratamento legal a ser dado na relação jurídica entre os associados e os planos de


saúde de autogestão, os chamados planos fechados, não pode ser o mesmo dos planos
comuns, sob pena de se criar prejuízos e desequilíbrios que, se não inviabilizarem a
instituição, acabarão elevando o ônus dos demais associados, desrespeitando normas
e regulamentos que eles próprios criaram para que o plano se viabilize (STJ. 3ª Turma.
REsp 1121067/PR, Rel. Min. Massami Uyeda, j. 21/06/2011).

Dessa forma, pela decisão acima explicada, pode-se concluir que as operadoras de
planos de saúde constituídas sob a modalidade de autogestão representam uma
exceção à regra da súmula 469 do STJ, considerando que para elas não se aplica o CDC.
13.13. A cláusula de coparticipação em planos de saúde é abusiva? – (Info 586) –
IMPORTANTE – (VÍDEO TELEGRAM)

Não é abusiva cláusula contratual de plano privado de assistência à saúde que


estabeleça a coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares em
percentual sobre o custo de tratamento médico realizado sem internação, desde que
a coparticipação não caracterize financiamento integral do procedimento por parte
do usuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.062-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/6/16
(Info 586).
OBS:
Regra: não é abusiva cláusula contratual de plano privado de assistência à saúde que
estabeleça a coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares em
percentual sobre o custo de tratamento médico realizado sem internação.

Exceção: esta cláusula será abusiva em dois casos:


1) Se a coparticipação do usuário financiar integralmente o procedimento médico-
hospitalar;

2) Se o percentual exigido do usuário representar, no caso concreto, uma restrição


severa aos serviços médico-hospitalares.

13.14. Dever de assistência ao neonato durante os trinta primeiros dias após o seu
nascimento – (Info 584)

Quando o contrato de plano de saúde incluir atendimento obstétrico, a operadora


tem o dever de prestar assistência ao recém-nascido durante os primeiros trinta dias
após o parto (art. 12, III, "a", da Lei 9.656/98), independentemente de a operadora ter
autorizado a efetivação da cobertura, ter ou não custeado o parto, tampouco de
inscrição do neonato como dependente nos trinta dias seguintes ao nascimento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.269.757-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/5/16 (Info 584).
OBS:
O art. 12 da Lei 9.656/98 (Lei dos Planos de Saúde) prevê diversas modalidades de
planos de saúde, estabelecendo os serviços que são incluídos. No caso de ter sido
contratado o plano com atendimento obstétrico, esse serviço abrange também a
cobertura assistencial do recém-nascido nos 30 primeiros dias após o parto. Veja:
Art. 12. São facultadas a oferta, a contratação e a vigência dos
produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei,
nas segmentações previstas nos incisos I a IV deste artigo,
respeitadas as respectivas amplitudes de cobertura definidas
no plano-referência de que trata o art. 10, segundo as seguintes
exigências mínimas:
(...)
III - quando incluir atendimento obstétrico:
a) cobertura assistencial ao recém-nascido, filho natural ou
adotivo do consumidor, ou de seu dependente, durante os
primeiros trinta dias após o parto;
Para ter direito ao atendimento, não é necessário que o recém-nascido esteja incluído
ou seja cadastrado no plano. Esse é um direito que decorre do simples fato de ser filho
do cliente do plano.

Em suma, o plano de saúde deveria ter autorizado o tratamento do recém-nascido sem


impor dificuldades, considerando que a Lei nº 9.656/98 garantia este direito.

É importante alertar que, mesmo já recebendo o tratamento, o filho recém-nascido


deverá ser inscrito no plano de saúde no prazo de 30 dias para ter direito de se tornar
dependente do titular (pai ou mãe), sem a exigência de carência:
Art. 12. (...)
III - quando incluir atendimento obstétrico:
b) inscrição assegurada ao recém-nascido, filho natural ou
adotivo do consumidor, como dependente, isento do
cumprimento dos períodos de carência, desde que a inscrição
ocorra no prazo máximo de trinta dias do nascimento ou da
adoção;

13.15. Cláusula de remissão de plano de saúde – (Info 581)

O companheiro faz jus à cobertura de cláusula de remissão por morte de titular de


plano de saúde na hipótese em que a referida disposição contratual faça referência
a cônjuge, sendo omissa quanto a companheiro.
Após o transcurso do período previsto na cláusula de remissão, o dependente já
inscrito pode assumir, nos mesmos moldes e custos avençados, a titularidade do
plano, voltando a pagar as mensalidades.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.457.254-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
12/4/2016 (Info 581).
OBS:
Remissão por morte do titular nos contratos de plano de saúde: É uma cláusula
prevista em alguns planos de saúde segundo a qual se o titular do plano falecer, os
seus dependentes continuarão tendo direito aos serviços de saúde oferecidos pelo
plano por um determinado período (varia entre 1 a 5 anos), sem pagar mensalidades
durante este tempo. O objetivo desta cláusula é o de proteger o núcleo familiar do
titular falecido, que dele dependia economicamente, assegurando, para isso, por certo
período, a assistência médica e hospitalar a fim de evitar o desamparo abrupto.

13.16. Reembolso de despesas médicas realizadas em hospital não conveniado ao


plano – (Info 580)

O plano de saúde deve reembolsar o segurado pelas despesas que pagou com
tratamento médico realizado em situação de urgência ou emergência por hospital
não credenciado, ainda que o referido hospital integre expressamente tabela
contratual que exclui da cobertura os hospitais de alto custo, limitando-se o
reembolso, no mínimo, ao valor da tabela de referência de preços de serviços
médicos e hospitalares praticados pelo plano de saúde.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.286.133-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
5/4/2016 (Info 580).
13.17. Migração de plano de saúde coletivo empresarial para plano individual ou
familiar e inexistência de direito de que o valor da mensalidade permaneça o mesmo
– (Info 578)

A migração de beneficiário de plano de saúde coletivo empresarial extinto para


plano individual ou familiar não enseja a manutenção dos valores das
mensalidades previstos no plano primitivo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.569-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
1º/3/2016 (Info 578).
OBS1: Não existe na legislação qualquer norma que assegure, em caso de migração
do plano coletivo para o individual, a permanência dos mesmos valores de
mensalidade praticados no plano coletivo empresarial rescindido. E nem poderia. Isso
porque, conforme já explicado, no plano coletivo existe uma prévia negociação com
base na quantidade de pessoas que irá aderir, o que permite a prática de preços mais
baratos.

OBS2: Assim, não existe direito de manutenção do mesmo valor das mensalidades aos
beneficiários que migram do plano coletivo empresarial para o plano individual, haja
vista as peculiaridades de cada regime e tipo contratual (atuária e massa de
beneficiários), que geram preços diferenciados.

13.18. Legitimidade ativa de usuário de plano de saúde coletivo – (Info 564)

A Unimed fez convênio com a Caixa de Assistência dos Advogados por meio do
qual disponibilizou um plano de saúde coletivo de adesão. Assim, o advogado que
quisesse poderia aderir ao plano de saúde oferecido com a interveniência da Caixa
de Assistência e que tinha condições mais vantajosas do que se ele fizesse um plano
de saúde individual. Centenas de advogados aderiram ao plano, dentre eles João.
Ocorre que passados alguns anos, houve um grande reajuste no valor da
mensalidade do plano de saúde. Inconformado, João ação de revisão de cláusula
contratual contra a Unimed alegando que o reajuste foi abusivo e requerendo a
manutenção dos valores originais.
O autor tem legitimidade para, sozinho, discutir a validade desse aumento mesmo
se tratando de plano de saúde coletivo?
SIM. O STJ decidiu que o usuário de plano de saúde coletivo tem legitimidade
ativa para ajuizar individualmente ação contra a operadora pretendendo discutir a
validade de cláusulas contratuais, não sendo empecilho o fato de a contratação ter
sido intermediada por caixa de assistência da categoria profissional.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.510.697-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
9/6/2015 (Info 564).

13.19. Planos de saúde e dever de informação – (Info 493)

Se houver descredenciamento de médicos ou hospitais, a operadora de plano de


saúde tem o dever de informar esse fato individualmente a cada um dos associados.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.144.840-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/3/2012
(Info 493 STJ).
13.20. Seguro de saúde e carência – (Info 493)

A legislação permite que o contrato estipule prazo de carência nos contratos de


planos de saúde e de seguros privados de saúde. No entanto, mesmo havendo
carência, as operadoras são obrigadas a oferecer cobertura nos casos de urgência e
emergência a partir de 24 horas depois de ter sido assinado o contrato (art. 12, V, c,
da Lei n. 9.656/98).
STJ. 4ª Turma. REsp 962.980-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/3/2012
(Info 493 STJ).

13.21. Planos de saúde e responsabilidade solidária pelos danos causados aos


associados

O plano de saúde é solidariamente responsável pelos danos causados aos


associados pela sua rede credenciada de médicos e hospitais. Assim, no caso de erro
médico cometido por profissional credenciado, a operadora responderá,
solidariamente, com o médico, pelos danos causados ao paciente. O plano de saúde
possui responsabilidade objetiva perante o consumidor, podendo, em ação
regressiva, averiguar a culpa do médico ou do hospital.
STJ. 4ª Turma. REsp 866.371-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 27/3/2012.

14. ESCORE DE CRÉDITO


14.1. Súmula 550-STJ – (Info 571)

Súmula 548-STJ: Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do


devedor no cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do
integral e efetivo pagamento do débito.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 14/10/2015, DJe 19/10/2015.

15. BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES


15.1. O valor do empréstimo que o consumidor não conseguiu obter pelo fato de seu
nome ter sido indevidamente negativado não pode servir como parâmetro para a
fixação da indenização – (Info 602)

O valor que seria objeto de mútuo, negado por força de inscrição indevida em
cadastro de inadimplentes, não pode ser ressarcido a título de dano emergente.
Não há perda material efetiva pelo fato de ter sido negado crédito ao consumidor.
Dessa forma, o ressarcimento por dano emergente, neste caso, seria destituído de
suporte fático, consistindo a condenação, nessas condições, em verdadeira hipótese
de enriquecimento ilícito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.369.039-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 4/4/17 (Info
602).
OBS:
O parâmetro de ressarcimento do dano material é fixado pelo art. 402 do CC/02, que
dispõe:
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as
perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

A partir do mencionado dispositivo, a reparação material foi classificada como dano


emergente, compreendido como "o efetivo prejuízo, a diminuição patrimonial sofrida
pela vítima", e lucro cessante, que é a "frustração da expectativa de lucro."
(GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 15ª ed. São Paulo: Saraiva,
2014, p. 579)

A jurisprudência do STJ é firme em dizer que as indenizações por danos emergentes


somente podem ser concedidas com “suporte na realidade fática”, ou seja, com base
em provas concretas, não se admitindo presunções. Nesse sentido:
(...) O Superior Tribunal de Justiça tem a orientação firme de
que é necessária a efetiva comprovação da ocorrência dos
lucros cessantes e dos danos emergentes, não se admitindo
indenização baseada em cálculos hipotéticos nem cálculos por
presunção ou dissociados da realidade. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1.496.018/MA, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, DJe 06/06/16).

No caso concreto, o valor do financiamento bancário foi pedido pelo autor como sendo
dano emergente. Entretanto, o patrimônio da vítima antes e depois do ilícito não
sofreu alteração. É certo que a inscrição indevida impediu que o autor tivesse um
ingresso de valores em sua conta (R$ 50 mil). No entanto, esse dinheiro não viria sem
custos, tendo ele que devolver a quantia ao banco futuramente, acrescida de juros e
correção monetária.

15.2. Responsabilidade por notificação do consumidor no endereço errado – (Info


597) – (TJDFT-2016)

O que acontece se o órgão mantenedor do cadastro restritivo (ex: SERASA) enviar


a notificação para um endereço errado, ou seja, um endereço que não seja o do
consumidor?
Neste caso, o consumidor terá que ser indenizado, mas quem pagará a indenização?
O consumidor deverá propor a ação contra o credor (ex: loja onde foi feita a compra)
ou contra o órgão mantenedor do cadastro e que enviou a notificação?
Depende:
 Se o credor informou o endereço certo para o órgão mantenedor do cadastro
e este foi quem errou: a responsabilidade será do órgão mantenedor.

 Se o credor comunicou o endereço errado do consumidor para o órgão


mantenedor do cadastro e este enviou exatamente para o local informado: a
responsabilidade será do credor.

Veja, no entanto, uma situação diferente julgada pelo STJ:


É passível de gerar responsabilização civil a atuação do órgão mantenedor de
cadastro de proteção ao crédito que, a despeito da prévia comunicação do
consumidor solicitando que futuras notificações fossem remetidas ao endereço por
ele indicado, envia a notificação de inscrição para endereço diverso.
Neste caso concreto, o consumidor informou ao órgão mantenedor do cadastro que
seu endereço estava errado no banco de dados e pediu para ser comunicado no
endereço certo em futuras notificações. Apesar disso, o órgão mandou novamente
para o endereço errado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.620.394-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 15/12/16
(Info 597).
OBS: Na situação em tela, o consumidor teve o cuidado de enviar uma notificação
extrajudicial ao órgão mantenedor do cadastro noticiando a existência de fraudes
praticadas com seu nome e requerendo que eventuais notificações fossem destinadas
ao endereço informado.

Se o próprio consumidor teve a cautela de informar o endereço ao qual deveriam ser


enviadas as futuras notificações, não se está criando qualquer obrigação
desproporcional ou impossível para o órgão.

A responsabilidade civil pelos danos sofridos ao consumidor ante a ausência de


notificação prévia da anotação deve ser imputada à conduta negligente do órgão
mantenedor, que, apesar de ter sido informado do endereço correto, ainda assim
enviou a notificação a endereço diverso, impossibilitando o exercício de direito do
consumidor de impugnar essa anotação.

15.3. O prazo máximo de 5 anos que o nome do consumidor pode permanecer


negativado inicia-se no dia seguinte ao vencimento da dívida – (Info 588) –
IMPORTANTE!!!

O termo inicial do prazo de permanência de registro de nome de consumidor em


cadastro de proteção ao crédito (art. 43, § 1º, do CDC) inicia-se no dia subsequente
ao vencimento da obrigação não paga, independentemente da data da inscrição no
cadastro.
Assim, vencida e não paga a obrigação, inicia-se no dia seguinte a contagem do
prazo de 5 anos previsto no §1º do art. 43, do CDC, não importando a data em que
o nome do consumidor foi negativado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.117-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para
acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/4/16 (Info 588).
OBS:
Como se sabe, se o consumidor está inadimplente, o fornecedor poderá incluí-lo em
bancos de dados de proteção ao crédito (exs.: SPC e SERASA). Existe um prazo
máximo no qual o nome do devedor pode ficar negativado? SIM. Os cadastros e
bancos de dados não poderão conter informações negativas do consumidor referentes
a período superior a 5 anos. É o que prevê o § 1º do art. 43 do CDC:
§ 1º - Os cadastros e dados de consumidores devem ser
objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil
compreensão, não podendo conter informações negativas
referentes a período superior a 5 (cinco anos).

Passado esse prazo, o próprio órgão de cadastro deve retirar a anotação negativa,
independentemente de como esteja a situação da dívida (não importa se ainda está
sendo cobrada em juízo ou se ainda não foi prescrita).
Súmula 323-STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser
mantida nos serviços de proteção ao crédito até o prazo
máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da
execução.

A partir de quando se começa a contar este prazo de 5 anos: após a data em que houve
o vencimento da dívida ou após o dia em que o nome do devedor foi inserido no
SPC/SERASA?
Ex: João deixou de pagar a conta do celular que venceu em 01 de março 2015; em 01 de
julho 2015, a operadora incluiu o devedor no SERASA; caso não pague, o nome de João
sairá do cadastro negativo em 02 de março 2020 ou em 02 de julho de 2020? Em 02 de
março de 2020. É o que foi decidido pelo STJ.

O § 1º do art. 43 não diz expressamente qual deverá ser o termo inicial da contagem
do prazo de 5 anos. No entanto, é possível concluir que esta contagem deverá levar
em consideração a data do vencimento da obrigação (e não o dia de inclusão no
cadastro de inadimplentes). Existem duas razões para isso:

1ª) Interpretação mais favorável ao consumidor: O CDC, não possuindo regra


expressa, deve ser interpretado sempre de maneira mais favorável ao consumidor.
Assim, a interpretação que mais se coaduna com o espírito do Código e, sobretudo,
com os fundamentos para a tutela temporal do devedor, aí incluído o direito ao
esquecimento, é aquela que considera como termo a quo do prazo a data do fato
gerador da informação arquivada. Por isso, o prazo começa a fluir após o vencimento
da obrigação, não importando o dia em que houve a comunicação ao SPC/SERASA
ou o dia em que o nome do devedor foi efetivamente registrado.

2ª) O critério deve ser objetivo, evitando o prolongamento indevido da manutenção:


Se o termo inicial do prazo de 5 anos fosse a data do registro, estaria sendo autorizado
que as anotações fossem "perpétuas", pois bastaria que elas passassem de um banco
de dados para outro ou para um banco de dados novo para se reiniciar este prazo, até
que ocorresse a prescrição. Haveria uma burla ao prazo máximo de 5 anos, que
poderia ser prolongado indevidamente. Desse modo, o critério de início de contagem
do prazo deve ser objetivo, não podendo "ficar submetido à vontade do banco de
dados ou do fornecedor, sob pena de esvaziar, por completo, o propósito legal de
impedir consequências negativas, como a denegação do crédito, em decorrência de
dívidas consideradas – legalmente – antigas e irrelevantes" (BESSA, Leonardo Roscoe.
Manual de Direito do Consumidor 3ª ed., São Paulo: RT, 2011, p. 311).

15.4. A Súmula 385 do STJ aplica-se também para ações propostas pelo consumidor
contra o credor que efetivou a inscrição irregular – (Info 583) – IMPORTANTE!!!

A inscrição indevida comandada pelo credor em cadastro de proteção ao crédito,


quando preexistente legítima inscrição, não enseja indenização por dano moral,
ressalvado o direito ao cancelamento.
A Súmula 385-STJ também é aplicada às ações voltadas contra o suposto credor que
efetivou inscrição irregular.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.386.424-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para
acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, j. 27/4/16 (Info 583).
OBS:
A súmula 385 do STJ surgiu de precedentes que envolviam ações propostas pelo
consumidor contra o SPC/SERASA. No entanto, o STJ afirmou que a razão de ser
deste enunciado pode ser aplicada também para ações ajuizadas pelo consumidor
contra o credor. Não há nada que justifique tratamento diferenciado.

Todavia, isso não quer dizer que o credor não possa responder por algum outro tipo
de excesso. A anotação irregular, já havendo outras inscrições legítimas
contemporâneas, não enseja, por si só, dano moral. Mas o dano moral pode ter por
causa de pedir outras atitudes do suposto credor, como a insistência em uma cobrança
eventualmente vexatória e indevida, ou o desleixo de cancelar, assim que ciente do
erro, a anotação indevida.

15.5. Requisitos para a propositura de ação de exibição de documentos relativos ao


Crediscore – (Info 579) – IMPORTANTE!!!

Em relação ao sistema credit scoring, o interesse de agir para a propositura da ação


cautelar de exibição de documentos exige, no mínimo, a prova de:
i) requerimento para obtenção dos dados ou, ao menos, a tentativa de fazê-lo à
instituição responsável pelo sistema de pontuação, com a fixação de prazo razoável
para atendimento; e
ii) que a recusa do crédito almejado ocorreu em razão da pontuação que lhe foi
atribuída pelo sistema Scoring.
Assim, o consumidor só poderá ingressar com ação cautelar de exibição de
documentos pedindo o extrato de sua pontuação no sistema Crediscore se provar
esses dois requisitos acima.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.304.736-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579).
OBS:
O que é Cresdiscore? “Credit scoring”, também chamado de “crediscore” é um sistema
ou método utilizado para analisar se será concedido ou não crédito ao consumidor
que pedir a concessão de um empréstimo ou financiamento.

No “credit scoring”, a pessoa que está pedindo o crédito é avaliada por meio de
fórmulas matemáticas, nas quais são consideradas diversas variáveis como a idade, a
profissão, a finalidade da obtenção do crédito etc. Tais variáveis são utilizadas nas
fórmulas matemáticas e, por meio de ferramentas da estatística, atribui-se uma espécie
de pontuação (nota) para a pessoa que está pedindo o crédito. Quanto maior a nota,
menor seria o risco de se conceder o crédito para aquele consumidor e,
consequentemente, mais fácil para ele conseguir a liberação.

Algumas das informações que são consideradas como variáveis na fórmula


matemática do “credit scoring”: idade, sexo, estado civil, profissão, renda, número de
dependentes, endereço, histórico de outros créditos que pediu etc. Com base em
estudos estatísticos, concluiu-se que pessoas de determinado sexo, profissão, estado
civil, idade etc. são mais ou menos inadimplentes. Logo, se o consumidor está incluído
nos critérios considerados como de “bom pagador”, ele recebe uma pontuação maior.

O “credit scoring” pode ser utilizado no Brasil como sistema de avaliação do risco de
concessão de crédito? SIM. O STJ entendeu que essa prática comercial é LÍCITA,
estando autorizada pelo art. 5º, IV e pelo art. 7º, I, da Lei 12.414/11 (Lei do Cadastro
Positivo), que, ao tratar sobre os direitos do cadastrado nos bancos de dados,
menciona indiretamente a possibilidade de existir a análise de risco de crédito. Vale
ressaltar, no entanto, que para o “credit scoring” ser lícito, é necessário que respeite os
limites estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da
privacidade e da máxima transparência nas relações negociais, conforme previsão do
CDC e da Lei 12.414/11. STJ. 2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 551).

A pessoa que tem seus dados registrados no crediscore tem direito de pedir para saber
quais as informações a seu respeito que lá constam? SIM. Apesar de ser possível a
inserção de dados do consumidor no crediscore mesmo sem o seu prévio
consentimento, caso este solicite, a empresa deverá fornecer esclarecimentos sobre as
fontes dos dados considerados (histórico de crédito), bem como sobre as informações
pessoais que foram valoradas (STJ. 2ª Seção. REsp 1419697/RS, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 12/11/2014. Nesse sentido:

Súmula 550-STJ: A utilização de escore de crédito, método


estatístico de avaliação de risco que não constitui banco de
dados, dispensa o consentimento do consumidor, que terá o
direito de solicitar esclarecimentos sobre as informações
pessoais valoradas e as fontes dos dados considerados no
respectivo cálculo.

Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação: João tentou fazer um


crediário em uma loja e esta, após consultar o nome do cliente no Crediscore da
Câmara de Dirigentes Lojistas (associação de lojistas), negou a concessão do crédito.
Insatisfeito, João voltou para casa, entrou no site da CDL e no campo chamado “fale
conosco” pediu para saber qual seria a sua pontuação no Crediscore e a metodologia
que eles utilizam. A CDL respondeu que atenderia o pleito, mas que esse pedido, por
envolver dados pessoais, só poderia ser fornecido se fosse feito pessoalmente com a
identificação do requerente. João não concordou e ajuizou ação cautelar de exibição
de documentos contra a CDL requerendo fosse disponibilizado extrato contendo sua
pontuação e os critérios utilizados pelas lojas no Crediscore. A CDL contestou a ação
afirmando que falta interesse de agir na demanda.

O pedido de João deve ser aceito? Existe interesse de agir no caso concreto? NÃO. Em
nosso exemplo, o consumidor comprovou que existiu recusa na concessão do crédito
em virtude da pontuação que ele recebeu no Crediscore. No entanto, não houve
resistência em fornecer as informações requeridas pelo consumidor. Apenas exigiu-se
que ele fizesse o pedido pessoalmente, o que não caracteriza recusa.

Além de saber a sua pontuação, o consumidor tem direito de saber qual foi a
metodologia utilizada no cálculo? NÃO. O consumidor terá direito de saber a sua
pontuação e as informações pessoais utilizadas. No entanto, nem o consumidor nem
ninguém terá direito de saber a metodologia de cálculo, ou seja, qual foi a fórmula
matemática e os dados estatísticos utilizados no “credit scoring”. Isso porque essa
fórmula é fruto de estudos e investimentos, constituindo segredo da atividade
empresarial (art. 5º, IV, da Lei 12.414/11: ..."resguardado o segredo empresarial”). STJ.
2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 551).
15.6. Ação de cancelamento de diversas inscrições em cadastro negativo de proteção
ao crédito – (Info 571)

Há interesse de agir na ação em que o consumidor postula o cancelamento de


múltiplas inscrições de seu nome em cadastro negativo de proteção ao crédito,
mesmo que somente uma ou algumas delas ultrapassem os prazos de manutenção
dos registros previstos no art. 43, §§ 1º e 5º, do CDC.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.196.699-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
22/9/2015 (Info 571).

15.7. Responsabilidade por ausência de notificação de inscrição de correntista no


CCF – (Info 568)

Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF) é um cadastro que reúne


informações sobre pessoas que emitiram cheques e que estes foram devolvidos por
falta de provisão de fundos, por conta encerrada ou por prática espúria.
O CCF é organizado e mantido pelo Banco do Brasil, mas abrange informações
sobre os cheques de todos os bancos. Assim, por exemplo, se João emite um cheque
do Itaú e o beneficiário não consegue descontá-lo porque não havia fundos, o
próprio Itaú irá comunicar esse fato ao Banco do Brasil, que irá incluir o nome do
emitente no CCF.
É indispensável que o emitente do cheque seja notificado antes de ser incluído no
CCF. A inclusão no CCF sem prévia notificação pode ensejar indenização por danos
morais.
O Banco do Brasil, na condição de gestor do CCF, NÃO tem a responsabilidade de
notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro,
tampouco legitimidade passiva para as ações de reparação de danos diante da
ausência de prévia comunicação.
A responsabilidade pela inclusão do emitente no CCF é do banco sacado. Logo, ele
é que tem responsabilidade pela notificação prévia do emitente e, caso isso não seja
feito, ele é que tem o dever de indenizar o lesado.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.354.590-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 9/9/2015 (Info
568).

15.8. Prévia notificação e registros oriundos do cartório de protesto – (Info 554) –


IMPORTANTE!!!

REGRA: para que o órgão de proteção de crédito inclua o nome de um consumidor


no cadastro de inadimplentes, é necessário que, antes, ele seja notificado (Súmula
359-STJ).
A ausência de prévia comunicação enseja indenização por danos morais.

EXCEÇÕES:
Existem duas exceções em que não haverá indenização por danos morais mesmo
não tendo havido a prévia comunicação do devedor:
1) Se o devedor já possuía inscrição negativa no banco de dados e foi realizada uma
nova inscrição sem a sua notificação. Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em
cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral quando
preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
2) Se o órgão de restrição ao crédito estiver apenas reproduzindo informação
negativa que conste de registro público (exs.: anotações de protestos que constem
do Tabelionato de Protesto, anotações de execução fiscal que sejam divulgadas no
Diário Oficial).

Diante da presunção legal de veracidade e publicidade inerente aos registros do


CARTÓRIO DE PROTESTO ou do CARTÓRIO DE DISTRIBUIÇÃO JUDICIAL,
a reprodução objetiva, fiel, atualizada e clara desses dados na base de órgão de
proteção ao crédito - ainda que sem a ciência do consumidor - não tem o condão de
ensejar obrigação de reparação de danos.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.444.469-DF e REsp 1.344.352-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgados em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 554).

15.9. Requisitos para a propositura de ação de exibição de documentos relativos ao


Crediscore – (Info 553)

Para existir interesse de agir em ação cautelar de exibição de documentos ajuizada


por consumidor com o objetivo de obter extrato contendo sua pontuação no sistema
Crediscore, é necessário que o requerente comprove:
a) que a recusa do crédito se deu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pela
dita ferramenta de scoring; e
b) que tenha havido resistência da instituição responsável pelo sistema na
disponibilização das informações requeridas pelo consumidor em prazo razoável.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.268.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/12/14 (Info
553).

15.10. Prazo para retirada do nome do devedor do cadastro de proteção de crédito


após a dívida ser paga – (Info 548)

Se o devedor paga a dívida, a quem caberá informar o SPC ou a SERASA dessa


situação para que seja retirado o nome do devedor?
Cumpre ao CREDOR (e não ao devedor) providenciar o cancelamento da anotação
negativa do nome do devedor em cadastro de proteção ao crédito, quando paga a
dívida.

Qual é o prazo que tem o credor para retirar (dar baixa) do nome do devedor no
cadastro negativo?
5 (cinco) dias úteis.

Assim, mesmo havendo regular inscrição do nome do devedor em cadastro de


órgão de proteção ao crédito, após o integral pagamento da dívida, incumbe ao
CREDOR requerer a exclusão do registro desabonador, no prazo de 5 dias úteis, a
contar do primeiro dia útil subsequente à completa disponibilização do numerário
necessário à quitação do débito vencido.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.424.792-BA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
10/9/2014 (recurso repetitivo) (Info 548).

16. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL


16.1. Validade da cláusula de tolerância – (Info 612) – IMPORTANTE!!!
No contrato de promessa de compra e venda de imóvel em construção (“imóvel na
planta”), além do período previsto para o término do empreendimento, há,
comumente, uma cláusula prevendo a possibilidade de prorrogação excepcional do
prazo de entrega da unidade ou de conclusão da obra por um prazo que varia entre
90 e 180 dias. Isso é chamado de “cláusula de tolerância” ou “prazo de tolerância”.
Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e
venda de imóvel em construção, desde que o prazo máximo de prorrogação seja de
até 180 dias.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 12/9/17
(Info 612).
OBS:
Prazo máximo de tolerância: 180 dias: O STJ afirmou que esse prazo de tolerância
deverá ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do
registro da incorporação e da carência para desistir do empreendimento (arts. 33 e 34,
§ 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o
fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC). Assim, a cláusula de
tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias será
considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informação: Vale ressaltar que o incorporador terá que informar claramente
o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo
de prorrogação para a entrega da unidade imobiliária, sob pena de haver publicidade
enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

17. RESOLUÇÃO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA


17.1. Súmula 543-STJ – (Info 567)

Súmula 543-STJ: Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e


venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a
imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente,
em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente,
caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 26/8/2015, DJe 31/8/2015 (Info 567).

18. SANÇÕES ADMINISTRATIVAS


18.1. Fixação em reais de multa por infração das normas de defesa do consumidor –
(Info 567)

A pena de multa aplicável às hipóteses de infração das normas de defesa do


consumidor (art. 56, I, do CDC) pode ser fixada em reais, não sendo obrigatória a
sua estipulação em Unidade Fiscal de Referência (UFIR).
O art. 57 do CDC, ao estabelecer que a "multa será em montante não inferior a
duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor da Unidade Fiscal de
Referência (Ufir), ou índice equivalente que venha a substituí-lo", apenas define
os limites para a fixação da multa.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.466.104-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
6/8/2015 (Info 567).
18.2. Interpretação de cláusulas contratuais e aplicação de sanções pelo
Procon – (Info 566)

O Procon pode interpretar as cláusulas de um contrato de consumo e, se considerá-


las abusivas, aplicar sanções administrativas ao fornecedor.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.279.622-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
6/8/2015 (Info 566).

19. “CREDIT SCORING”


19.1. Legalidade do sistema “credit scoring” – (Info 551) – IMPORTANTE!!! – (DPU-
2017)

O STJ analisou a validade do chamado sistema “credit scoring”, fixando as


seguintes teses:
a) “Credit scoring”, também chamado de “credscore”, é um método desenvolvido
para avaliação do risco de concessão de crédito, a partir de modelos estatísticos,
considerando diversas variáveis, com atribuição de uma pontuação ao consumidor
avaliado (nota do risco de crédito);
b) O “credit scoring” é considerado como prática comercial LÍCITA, estando
autorizada pelo art. 5º, IV, e pelo art. 7º, I, da Lei 12.414/2011 (Lei do Cadastro
Positivo);
c) Vale ressaltar, no entanto, que para o “credit scoring” ser lícito, é necessário que
respeite os limites estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no
sentido da tutela da privacidade e da máxima transparência nas relações negociais,
conforme previsão do CDC e da Lei 12.414/2011; (DPU-2017)
d) Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem ser
a ele fornecidos esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes dos dados
considerados (histórico de crédito), bem como as informações pessoais valoradas;
e) O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema “credit scoring”
configura abuso no exercício desse direito, podendo ensejar a responsabilidade
objetiva e solidária do fornecedor do serviço, do responsável pelo banco de dados,
da fonte e do consulente pela ocorrência de danos morais nas hipóteses de
utilização de informações excessivas ou sensíveis, bem como nos casos de
comprovada recusa indevida de crédito pelo uso de dados incorretos ou
desatualizados.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 12/11/14
(recurso repetitivo) (Info 551).
(MPRR-2017-CESPE): Acerca dos bancos de dados e cadastros de consumidores,
assinale a opção correta à luz do entendimento doutrinário a respeito do tema e
da jurisprudência do STJ: Embora restrinjam a privacidade dos consumidores, os
bancos de dados de proteção ao crédito estão em conformidade com a ordem
constitucional. BL: Súmula 550 do STJ.

20. COBRANÇA DE ÁGUA


20.1. Ilegalidade da cobrança de tarifa de água realizada por estimativa de consumo
– (Info 557)
Imagine que em determinada residência a companhia de água não instalou
hidrômetro (aparelho com que se mede a quantidade de água consumida). Nesse
caso, como será a cobrança da tarifa? Será possível cobrar um valor com base na
estimativa?
NÃO. Na falta de hidrômetro ou defeito no seu funcionamento, a cobrança pelo
fornecimento de água deve ser realizada pela tarifa mínima, sendo vedada a
cobrança por estimativa. Isso porque a tarifa deve ser calculada com base no
consumo efetivamente medido no hidrômetro.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.513.218-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/3/2015
(Info 557).

20.2. Responsabilidade por tarifa de água de antigo proprietário do imóvel – (Info


505)

A responsabilidade por débito relativo ao consumo de água e serviço de esgoto é


de quem efetivamente obteve a prestação do serviço. Trata-se de obrigação de
natureza pessoal, não se caracterizando como obrigação propter rem. Assim, não se
pode responsabilizar o atual usuário por débitos antigos contraídos pelo morador
anterior do imóvel.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.313.235-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j.
em 20/9/2012 (Info 505).

21. ASSISTÊNCIA TÉCNICA


21.1. Inexistência de dever do comerciante de receber e enviar os aparelhos viciados
para a assistência técnica – (Info 557)

O comerciante tem o dever de receber do consumidor o aparelho que esteja viciado


(“defeituoso”) com o objetivo de encaminhá-lo à assistência técnica para conserto?
NÃO. O comerciante não tem o dever de receber e de encaminhar produto viciado
à assistência técnica, a não ser que esta não esteja localizada no mesmo Município
do estabelecimento comercial.
Existindo assistência técnica especializada e disponível na localidade de
estabelecimento do comerciante (leia-se, no mesmo Município), não se pode impor
ao comerciante a obrigação de intermediar o relacionamento entre seu cliente e o
serviço disponibilizado, visto que essa exigência apenas dilataria o prazo para
efetiva solução e acrescentaria custos ao consumidor, sem agregar-lhe qualquer
benefício.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.411.136-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
24/2/2015 (Info 557).

22. DENUNCIAÇÃO DA LIDE


22.1. O denunciado não poderá invocar a proibição de denunciação da lide prevista
no art. 88 do CDC – (Info 592)

O art. 88 do CDC proíbe que o fornecedor que foi acionado judicialmente pelo
consumidor faça a denunciação da lide, chamando para o processo outros
corresponsáveis pelo evento.
Esta norma é uma regra prevista em benefício do consumidor, atuando em prol da
brevidade do processo de ressarcimento de seus prejuízos devendo, por esse
motivo, ser arguida pelo próprio consumidor, em seu próprio benefício.
Assim, se o fornecedor/réu faz a denunciação da lide ao corresponsável e o
consumidor não se insurge contra isso, haverá preclusão, sendo descabido ao
denunciado invocar em seu benefício a regra do art. 88.
Em outras palavras, não pode o denunciado à lide invocar em seu benefício a regra
de afastamento da denunciação (art. 88) para eximir-se de suas responsabilidades
perante o denunciante.
STJ. 4ª Turma. REsp 913.687-SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 11/10/16 (Info 592).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João comprou um iogurte da marca "Milk" no
supermercado "Mart". Ocorre que, após consumir o produto, ele teve uma grave
infecção intestinal, tendo sido confirmado que o iogurte estava estragado. Diante
disso, João ajuizou ação de indenização contra o fabricante "Milk" alegando que houve
fato do produto (art. 12 do CDC).

Contestação: O fabricante apresentou resposta alegando que o supermercado foi o


responsável pela deterioração do produto, considerando que não o armazenou em
ambiente refrigerado. Assim, a indústria alegou que, se for condenada a indenizar,
deverá ser ressarcida pelo comerciante, nos termos do parágrafo único do art. 13 do
CDC:
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos
do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não
puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu
fabricante, produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao
prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os
demais responsáveis, segundo sua participação na causação
do evento danoso.

Na própria contestação, o réu requereu a denunciação da lide ao supermercado,


invocando o art. 125, II, do CPC/2015:
Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por
qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo
domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa
exercer os direitos que da evicção lhe resultam;
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a
indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido
no processo.

O consumidor (autor da ação) poderá insurgir-se contra esta denunciação da lide?


SIM. O consumidor poderá alegar que não cabe denunciação da lide neste caso, já que
se trata de uma demanda consumerista, e que isso irá atrapalhar o andamento do
processo e o recebimento da indenização. Pensando nisso, o CDC proibiu
expressamente a denunciação da lide nas lides propostas pelo consumidor:
Art. 88. Na hipótese do artigo 13, parágrafo único deste
Código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo
autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos
mesmos autos, vedada a denunciação da lide.

Imaginemos, contudo, que o consumidor não se opôs ao fato de o réu ter feito a
denunciação da lide. Diante disso, o supermercado (denunciado) foi citado e alegou,
entre outros argumentos, que esta denunciação da lide não é válida porque existe
expressa vedação no art. 88 do CDC, razão pela qual ele deverá ser excluído do
processo. A alegação do comerciante (denunciado) deverá ser aceita? NÃO. O
propósito do legislador ao prever a regra do art. 88 do CDC e não permitir a
denunciação da lide foi evitar que houvesse um atraso ou dificuldade na tutela
jurídica do consumidor, dando, assim, celeridade ao seu pleito indenizatório e
evitando a multiplicação de teses e argumentos de defesa que pudessem dificultar a
identificação da responsabilidade do fornecedor do serviço. Dessa forma, a norma do
art. 88 do CDC consubstancia-se em regra insculpida totalmente em benefício do
consumidor. Por essa razão, somente ele poderá insurgir-se contra a denunciação. Se
há o deferimento da denunciação sem manifestação contrária do consumidor, opera-
se a preclusão, sendo descabido ao denunciado invocar em seu benefício a regra de
afastamento da denunciação. Em outras palavras, a invocação da proibição contida
no art. 88 do CDC é um direito subjetivo público assegurado ao consumidor para a
facilitação de sua defesa, não sendo um direito do denunciado.

Informação extra: Aproveitando que estamos tratando sobre o tema, fica aqui uma
informação muito importante: apesar de o art. 88 do CDC remeter ao art. 13, que trata
sobre o comerciante, o STJ entende que a vedação de denunciação da lide prevista no
art. 88 do CDC não se restringe à responsabilidade de comerciante por fato do produto
(art. 13 do CDC), sendo aplicável também nas demais hipóteses de responsabilidade
civil por acidentes de consumo (arts. 12 e 14 do CDC). Em outras palavras, não cabe
denunciação da lide nas lides consumeristas de uma forma geral. STJ. 4ª Turma. AgRg
no AREsp 694.980/MS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 22/09/2015.

22.2. Vedação da denunciação da lide nas ações indenizatórias decorrentes da


relação de consumo – (Info 498)

Não cabe a denunciação da lide nas ações indenizatórias decorrentes da relação de


consumo, seja no caso de responsabilidade pelo fato do produto, seja no caso de
responsabilidade pelo fato do serviço (arts. 12 a 17 do CDC).
Assim, a vedação à denunciação da lide prevista no art. 88 do CDC não se restringe
à responsabilidade de comerciante por fato do produto (art. 13 do CDC), sendo
aplicável também nas demais hipóteses de responsabilidade civil por acidentes de
consumo (arts. 12 e 14 do CDC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.165.279-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 22/5/12
(Info 498 STJ).

22.3. Vedação da denunciação da lide


É vedada a denunciação da lide para que ingresse terceiro em processo de autoria
do consumidor, cuidando-se de relação de consumo, propiciando ampla dilação
probatória que não interessa ao hipossuficiente e que apenas lhe causa prejuízo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1305780/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 04/04/2013.

23. PROTEÇÃO EM JUÍZO


23.1. Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que
fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten – (Info 591)

Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar
constituída há pelo menos 1 ano.
Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando
haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do
dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei
7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com
menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que:
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para
associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação
de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/9/16 (Info 591).

24. COMPETÊNCIA
24.1. Competência internacional e relação de consumo – (Info 580)

A Justiça brasileira é absolutamente incompetente para processar e julgar demanda


indenizatória fundada em serviço fornecido de forma viciada por sociedade
empresária estrangeira a brasileiro que possuía domicílio no mesmo Estado
estrangeiro em que situada a fornecedora, quando o contrato de consumo houver
sido celebrado e executado nesse local, ainda que o conhecimento do vício ocorra
após o retorno do consumidor ao território nacional.
A vulneralidade do consumidor, ainda que amplamente reconhecida em foro
internacional, não é suficiente, por si só, para alargar a competência da justiça
nacional prevista nos arts. 21 a 23 do CPC 2015.
Nas hipóteses em que a relação jurídica é firmada nos estritos limites territoriais
nacionais, ou seja, sem intuito de extrapolação territorial, o foro competente,
aferido a partir das regras processuais vigentes no momento da propositura da
demanda, não sofre influências em razão da nacionalidade ou do domicílio dos
contratantes, ainda que se trate de relação de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.571.616-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 5/4/16 (Info
580).

25. CLÁUSULA DE FIDELIZAÇÃO EM TV A CABO


25.1. Multa pela quebra do prazo mínimo de fidelidade não pode ser fixa, devendo
ser proporcional ao tempo que faltava para terminar o contrato – (Info 608)

As empresas de TV a cabo podem estipular um contrato de permanência mínima,


ou seja, uma cláusula de fidelização segundo a qual se o consumidor desistir do
serviço antes do término do prazo combinado (máximo de 12 meses) ele deverá
pagar uma multa. Isso é considerado válido pelo STJ.
Vale ressaltar, no entanto, que a cobrança da multa de fidelidade pela prestadora
de serviço de TV a cabo deve ser proporcional ao tempo faltante para o término da
relação de fidelização, não podendo ser um valor fixo. Ex: se o consumidor desistir
no 1º mês, paga R$ 300,00, no entanto, se rescindir somente no penúltimo mês, paga
R$ 100,00.
A Resolução 632/14 da ANATEL veio reforçar a ideia de que a multa pela quebra
da fidelização deve ser proporcional. No entanto, pode-se dizer que, mesmo antes
da Resolução, a jurisprudência já considerava abusiva a cobrança de uma multa
fixa, ou seja, que não levasse em consideração o tempo que faltava para terminar o
contrato.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.362.084-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/5/17 (Info 608).
OBS:
Qual é a natureza jurídica desta multa? Possui natureza jurídica de cláusula penal,
que constitui "pacto acessório pelo qual as partes de um contrato fixam, de antemão,
o valor das perdas e danos que por acaso se verifiquem em consequência da
inexecução culposa da obrigação" (GOMES, Orlando. Obrigações. 16ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2005, p. 159).

26. CONTRATOS BANCÁRIOS


26.1. Saque indevido em conta-corrente não configura, por si só, dano moral – (Info
615) – IMPORTANTE!!!

O saque indevido de numerário em conta-corrente, reconhecido e devolvido pela


instituição financeira dias após a prática do ilícito, não configura, por si só, dano
moral in re ipsa.
O saque indevido em conta corrente não configura, por si só, dano moral, podendo,
contudo, observadas as particularidades do caso, ficar caracterizado o respectivo
dano se demonstrada a ocorrência de violação significativa a algum direito da
personalidade do correntista.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.859-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 7/11/17 (Info
615).

Sobre o tema, vale a pena recordar:


O banco deve compensar os danos morais sofridos por consumidor vítima de saque
fraudulento que, mesmo diante de grave e evidente falha na prestação do serviço
bancário, teve que intentar ação contra a instituição financeira com objetivo de
recompor o seu patrimônio, após frustradas tentativas de resolver
extrajudicialmente a questão.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 395.426-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel.
para acórdão Marco Buzzi, j. 15/10/15 (Info 574).
OBS:
SITUAÇÃO 1
Imagine a seguinte situação: João mantém uma conta-poupança no Banco "XX".
Determinado dia, João constata que um terceiro conseguiu realizar um saque
fraudulento e retirou R$ 2 mil de sua conta. O cliente procurou o gerente do banco em
diversas oportunidades tentando resolver a questão, mas a instituição não devolveu
o dinheiro, razão pela qual João teve que ingressar com ação de indenização por danos
materiais e morais.

Diante disso, indaga-se: o banco tem responsabilidade pelo saque fraudulento


realizado por terceiro ou poderá alegar que houve um caso fortuito? Qual é o tipo de
responsabilidade aplicável? O banco possui responsabilidade objetiva, com base na
teoria do risco. Ele não poderá alegar caso fortuito porque se trata de um fortuito
interno (e não fortuito externo).
Súmula 479-STJ: As instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno
relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito
de operações bancárias.

No exemplo narrado acima, João terá direito de ser indenizado por danos morais? Há
dano moral indenizável neste caso? SIM.
O banco deve compensar os danos morais sofridos por
consumidor vítima de saque fraudulento que, mesmo diante
de grave e evidente falha na prestação do serviço bancário,
teve que intentar ação contra a instituição financeira com
objetivo de recompor o seu patrimônio, após frustradas
tentativas de resolver extrajudicialmente a questão. STJ. 4ª
Turma. AgRg no AREsp 395.426-DF, Rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, Rel. para acórdão Marco Buzzi, julgado em
15/10/2015 (Info 574).

Na situação narrada, o STJ considerou que a instituição financeira não adotou


nenhuma providência hábil a solucionar o problema narrado pelo consumidor,
tanto que se fez necessário o ajuizamento de uma ação judicial, em que pleiteado, além
do dano moral, aquele de cunho patrimonial, consistente nos valores sacados
indevidamente da conta bancária. Tais circunstâncias são suficientes à caracterização
do dano moral, porque não podem ser consideradas como meros dissabores, inerentes
à vida social. Diante das circunstâncias acima ressaltadas, houve violação à segurança
legitimamente esperada pelo consumidor que, além de ter seu patrimônio subtraído
indevidamente, viu frustradas as tentativas de resolução extrajudicial da questão.
O cliente somente conseguiu recuperar o dinheiro indevidamente retirado de sua
conta bancária após ter ajuizado ação judicial que obrigou a instituição financeira a
recompor os depósitos. Essa circunstância vai muito além de um mero dissabor,
transtorno ou aborrecimento corriqueiro. Além disso, há que salientar que, além do
caráter compensatório, a indenização por dano moral também tem finalidades
sancionatórias e preventivas, isto é, tem como objetivo desestimular novas
faltas/falhas na prestação do serviço.

SITUAÇÃO 2
Imagine agora uma situação diferente: Pedro mantém uma conta poupança no Banco
"ZZ". Determinado dia, Pedro constata que um terceiro conseguiu realizar um saque
fraudulento e retirou R$ 2 mil de sua conta. O cliente procurou o gerente do banco
comunicando o ocorrido. Depois de alguns dias, a instituição financeira efetuou a
devolução dos valores sacados, reconhecendo que estes não foram feitos pelo autor,
que foi vítima de ação criminosa. Mesmo assim, Pedro ajuizou ação de indenização
por danos morais. O autor alegou que o saque fraudulento por terceiro na conta-
corrente do consumidor gera dano moral in re ipsa. Assim, se houve saque fraudulento
da conta bancária, este fato, por si só, gera direito à indenização por danos morais.

A tese de Pedro é acolhida pela jurisprudência? Se houve saque fraudulento da conta


bancária, este fato, por si só, gera direito à indenização por danos morais? Pode-se
dizer que em caso de saques fraudulentos existe dano moral in re ipsa (com prejuízo
presumido)? NÃO.
O saque indevido de numerário em conta corrente,
reconhecido e devolvido pela instituição financeira dias após
a prática do ilícito, não configura, por si só, dano moral in re
ipsa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.859-SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 07/11/2017 (Info 615).

Embora não se tenha dúvida de que a referida conduta acarreta dissabores ao


consumidor, para fins de constatação de ocorrência de dano moral é preciso analisar
as particularidades de cada caso concreto, a fim de verificar se o fato extrapolou o
mero aborrecimento, atingindo de forma significativa algum direito da
personalidade do correntista (bem extrapatrimonial).
Circunstâncias como o valor total sacado indevidamente, o tempo levado pela
instituição bancária para ressarcir os valores descontados e as repercussões daí
advindas, dentre outras, deverão ser levadas em conta para fins de reconhecimento
do dano moral e sua respectiva quantificação. Não se mostra razoável que o saque
indevido de pequena quantia, considerada irrisória se comparada ao saldo que o
correntista dispunha por ocasião da ocorrência da fraude, sem maiores
repercussões, possa, por si só, acarretar compensação por dano moral.

26.2. O limite de desconto do empréstimo consignado não se aplica aos contratos de


mútuo bancário em que o cliente autoriza o débito das prestações em conta-corrente –
(Info 612) – IMPORTANTE!!!

A limitação de desconto ao empréstimo consignado, em percentual estabelecido


pelo art. 45 da Lei nº 8.112/90 e pelo art. 1º da Lei nº 10.820/2003, não se aplica aos
contratos de mútuo bancário em que o cliente autoriza o débito das prestações em
conta-corrente.
Empréstimo consignado é diferente de débito das prestações do empréstimo em
conta-corrente autorizado pelo cliente. Na consignação em folha de pagamento,
antes mesmo de a pessoa receber sua remuneração, já há o desconto da quantia, o
que é efetuado pelo próprio empregador/órgão pagador. No segundo caso, o
devedor faz um empréstimo e autoriza que o credor desconte as parcelas do valor
que ele tiver na conta-corrente.
Os arts. 45 da Lei nº 8.112/1990 e 1º da Lei nº 10.820/2003 preveem que o limite de
desconto das parcelas do empréstimo consignado é de 30%. Tal limite, contudo, não
vale para os contratos de mútuo bancário em que o cliente autoriza o débito das
prestações em conta-corrente.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.586.910-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 29/8/17 (Info 612).
OBS:
O entendimento acima é pacífico? NÃO. Existem julgados da 3ª Turma em sentido
contrário. Nesse sentido:
(...) 1. Validade da cláusula autorizadora de desconto em
conta-corrente para pagamento das prestações do contrato de
empréstimo, ainda que se trate de conta utilizada para
recebimento de salário.
2. Os descontos, todavia, não podem ultrapassar 30% (trinta
por cento) da remuneração líquida percebida pelo devedor,
após deduzidos os descontos obrigatórios (Previdência e
Imposto de Renda).
3. Preservação do mínimo existencial, em consonância com o
princípio da dignidade humana. Doutrina sobre o tema. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1584501/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 06/10/2016.

26.3. A instituição pode cobrar tarifa bancária pela liquidação antecipada do saldo
devedor? – (Info 605) – IMPORTANTE!!!

 Contratos celebrados antes da Resolução CMN nº 3.516/07 (antes de


10/12/07): SIM
 Contratos firmados depois da Resolução CMN nº 3.516/07 (de 10/12/07 para
frente): NÃO
Assim, para as operações de crédito e arrendamento mercantil contratadas antes de
10/12/07 (data de publicação da referida Resolução), podem ser cobradas tarifas pela
liquidação antecipada no momento em que for efetivada a liquidação, desde que a
cobrança dessa tarifa esteja claramente identificada no extrato de conferência.
É permitida, desde que expressamente pactuada, a cobrança da tarifa de liquidação
antecipada de mútuos e contratos de arrendamento mercantil até a data da entrada
em vigor da Resolução nº 3.501/2007 (10/12/2007).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.370.144-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/2/17 (Info
597).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.392.449-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 24/5/17 (Info 605).
OBS:
Art. 52 (...)
§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do
débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional
dos juros e demais acréscimos.

Assim, a liquidação antecipada consiste na quitação, total ou parcial, de uma dívida


antes do seu vencimento, acarretando a redução proporcional dos juros e demais
acréscimos.

Resolução CMN nº 3.516/2007: Antes da Resolução CMN nº 3.516/2007 não havia


proibição para esta prática, de forma que o STJ considera que ela era permitida. No
entanto, a Resolução CMN nº 3.516/2007, em seu art. 1º, proibiu expressamente a
cobrança. Veja:
Art. 1º Fica vedada às instituições financeiras e sociedades de
arrendamento mercantil a cobrança de tarifa em decorrência
de liquidação antecipada nos contratos de concessão de
crédito e de arrendamento mercantil financeiro, firmados a
partir da data da entrada em vigor desta resolução com
pessoas físicas e com microempresas e empresas de pequeno
porte de que trata a Lei Complementar nº 123, de 14 de
dezembro de 2006.
26.4. A instituição pode cobrar tarifa bancária pela liquidação antecipada do saldo
devedor? – (Info 597) – IMPORTANTE!!!

Nos contratos de arrendamento mercantil, é permitido que a instituição cobre do


consumidor tarifa bancária pela liquidação antecipada (parcial ou total) do saldo
devedor?
 Contratos celebrados antes da Resolução CMN nº 3.516/07 (antes de
10/12/07): SIM
 Contratos firmados depois da Resolução CMN nº 3.516/07 (de 10/12/07 para
frente): NÃO
Assim, para as operações de crédito e arrendamento mercantil contratadas antes de
10/12/07 (data de publicação da referida Resolução), podem ser cobradas tarifas pela
liquidação antecipada no momento em que for efetivada a liquidação, desde que a
cobrança dessa tarifa esteja claramente identificada no extrato de conferência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.370.144-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/2/17 (Info
597).
OBS:
Art. 52 (...)
§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do
débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional
dos juros e demais acréscimos.

Assim, a liquidação antecipada consiste na quitação, total ou parcial, de uma dívida


antes do seu vencimento, acarretando a redução proporcional dos juros e demais
acréscimos.

Resolução CMN nº 3.516/2007: Antes da Resolução CMN nº 3.516/2007 não havia


proibição para esta prática, de forma que o STJ considera que ela era permitida. No
entanto, a Resolução CMN nº 3.516/2007, em seu art. 1º, proibiu expressamente a
cobrança. Veja:
Art. 1º Fica vedada às instituições financeiras e sociedades de
arrendamento mercantil a cobrança de tarifa em decorrência
de liquidação antecipada nos contratos de concessão de
crédito e de arrendamento mercantil financeiro, firmados a
partir da data da entrada em vigor desta resolução com
pessoas físicas e com microempresas e empresas de pequeno
porte de que trata a Lei Complementar nº 123, de 14 de
dezembro de 2006.

26.5. Validade da cobrança de tarifa bancária a partir do quinto saque mensal – (Info
596) – IMPORTANTE!!!

O cliente paga alguma tarifa bancária quando ele saca dinheiro de sua conta? Os
bancos adotam a seguinte prática contratual: o cliente pode fazer até quatro saques
por mês sem pagar nada. A partir do quinto saque, é cobrada uma tarifa bancária.
Esta prática bancária é válida? SIM.
É legítima a cobrança, pelas instituições financeiras, de tarifas relativas a saques
quando estes excederem o quantitativo de quatro realizações por mês.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.348.154-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/12/16 (Info
596).

26.6. Possibilidade de encerramento de conta-corrente do mediante de notificação


ao cliente – (MPDFT-2004)

Instituição financeira. Conta-corrente. Encerramento da conta-corrente. Art. 39, IX-


A, do Código de Defesa do Consumidor.
1. O banco pode encerrar conta-corrente mediante notificação ao correntista, nos
termos previstos no contrato, não se aplicando ao caso a vedação do art. 39, IX-A,
do Código de Defesa do Consumidor.
STJ, 3ª Turma. REsp 567.587/MA, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito,
TERCEIRA TURMA, j. 28/06/2004.

27. ACESSIBILIDADE
27.1. Logo depois de ter sido publicada a Lei 10.098/2000, as empresas de transporte
coletivo já tinham o dever de adaptar seus veículos para pessoas com deficiência –
(Info 599)

A Lei 10.048/00 determinou que os proprietários de veículos de transporte coletivo


teriam o prazo cento e oitenta dias, a contar da regulamentação da Lei, para
proceder às adaptações necessárias ao acesso facilitado das pessoas portadoras de
deficiência.
A regulamentação da Lei 10.048/00 só foi feita em 2004, com a edição do Decreto
5.296/04.
As empresas alegavam, portanto, que o seu dever de adaptar os ônibus só começou
a ser contado após o Decreto 5.296/2004.
O STJ, contudo, não concordou. Isso porque a Lei 10.098/00 trouxe nova regra
posterior estipulando o dever das empresas de adaptarem os ônibus sem
condicionar essa obrigação ao regulamento. Essa nova regra posterior é a Lei
10.098/0, que previu o seguinte: "Art. 16. Os veículos de transporte coletivo deverão
cumprir os requisitos de acessibilidade estabelecidos nas normas técnicas
específicas."
Muito antes do Decreto 5.296/2004 existiam diversas normas regulamentares sobre
a acessibilidade dos transportes coletivos.
Desse modo, logo depois de ter sido publicada a Lei 10.098/00, as empresas de
transporte coletivo já tinham o dever de adaptar seus veículos considerando que
isso foi previsto no art. 16 e, nesta época, existiam normas técnicas específicas que
diziam como deveria ser feita essa acessibilidade.
Em suma, o STJ decidiu que: o dever de adaptar os veículos de transporte coletivo
para pessoas com deficiência foi suficientemente disciplinado pela Lei 10.098/00,
de modo que, a partir da edição da Lei 10.098/00, as empresas de transporte já
deveriam cumprir essa determinação, sendo desnecessário esperar a
regulamentação da Lei 10.048/00 (o que só ocorreu com o Decreto 5.296/04).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.292.875-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/12/16 (Info 599).

28. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA


28.1. Prazo prescricional da pretensão de restituição de comissão de corretagem ou
de SATI – (Info 589)

Prescreve em 3 anos a pretensão do promitente-comprador de restituição dos


valores pagos a título de comissão de corretagem ou de serviço de assistência
técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere (art. 206, § 3º, IV, CC).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.551.956-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/8/16
(recurso repetitivo) (Info 589).

28.2. Legitimidade passiva ad causam de incorporadora imobiliária em demanda


que objetiva restituição de comissão de corretagem e de SATI – (Info 589)

Tem legitimidade passiva "ad causam" a incorporadora, na condição de


promitente-vendedora, para responder a demanda em que é pleiteada pelo
promitente-comprador a restituição dos valores pagos a título de comissão de
corretagem e de taxa de assessoria técnico-imobiliária, alegando-se prática abusiva
na transferência desses encargos ao consumidor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.551.968-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/8/16
(recurso repetitivo) (Info 589).
OBS: Importante esclarecer o julgado acima explicado (REsp 1.551.968-SP) tratou
apenas da questão da legitimidade passiva das incorporadoras. Quanto ao mérito,
conforme já vimos, o STJ entendeu, no REsp 1.599.511-SP, que:
 É válida a cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a
obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de
compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária,
desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade
autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem.
 É abusiva a cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria
técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de
promessa de compra e venda de imóvel.

28.3. Abusividade de cobrança de SATI ao consumidor pelo promitente-vendedor


de imóvel – (Info 589)

É abusiva a cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-


imobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de promessa de
compra e venda de imóvel.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/8/16
(recurso repetitivo) (Info 589).
OBS:
Essa atividade de “assessoria” prestada ao consumidor por técnicos vinculados à
incorporadora constitui na verdade a prestação de um serviço inerente à celebração
do próprio contrato. Trata-se de algo ínsito à celebração do contrato, sendo um dever
de informação do fornecedor. Não consiste, portanto, em um serviço autônomo
oferecido ao adquirente, como ocorre com a corretagem.

Por essa razão, a cobrança de mais esse valor (fora o preço que o consumidor já irá
pagar pelo bem) configura flagrante violação aos deveres de correção, lealdade e
transparência, impostos pela boa-fé objetiva. Em verdade, a imobiliária está cobrando
para cumprir algo que já é seu dever prestar por força do próprio contrato celebrado.

A cláusula contratual que impõe ao consumidor o pagamento da taxa SATI (ou


qualquer outro nome que tenha a mesma natureza) viola o art. 51, IV, do CDC:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços
que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas,
que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou
sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

Ademais, essa assessoria é um serviço que envolve o elemento confiança (intuitu


personae). Assim, se o consumidor necessitar realmente de alguma assessoria técnica
ou jurídica para orientá-lo acerca do contrato ou de outros detalhes relativos à
aquisição do imóvel, ele pode (e deve) contratar diretamente um profissional ou
advogado de sua confiança (e não alguém vinculado à incorporadora).

O próprio Conselho Federal de Corretores de Imóveis (COFECI) condena esta prática


e, mediante a Resolução nº 1.256/2012, estatuiu a seguinte norma proibitiva:
Art. 3º. É vedado aos inscritos no Regional cobrarem de seus
clientes, para si ou para terceiros, qualquer taxa a título de
assessoria administrativa jurídica ou outra, assim como
devem denunciar ao Regional a cobrança de tais taxas quando
feitas pelo incorporador, pelo construtor ou por seus
prepostos.

Manifesta, portanto, a abusividade de qualquer cláusula que estabeleça a cobrança


desse serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI) ou atividade congênere.

Observação final: Ressalve-se, contudo, que a abusividade da SATI não deve implicar
enriquecimento sem causa do consumidor de modo que eventual serviço específico
prestado ao consumidor, como eventuais serviços de despachante ou a cobrança de
taxas de serviços cartorários, podem ser efetivados.

28.4. Validade do repasse da comissão de corretagem ao consumidor pela


incorporadora imobiliária – (Info 589) – IMPORTANTE!!! (DPEDF-2013)

É válida a cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação


de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda
de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde que
previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o
destaque do valor da comissão de corretagem.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/8/16
(recurso repetitivo) (Info 589).

(DPEDF-2013-CESPE): A cobrança de comissão de corretagem do consumidor


sem a devida previsão contratual viola o direito à informação, não podendo essa
cobrança ser cláusula implícita em contratos de compra e venda de imóveis. Além
disso, não tem o adquirente o dever de pagar tal comissão se não houver acordo
nesse sentido.

OBS:
O que é um contrato de corretagem? Pelo contrato de corretagem, o corretor obriga-se
a obter para uma pessoa que o contrata (denominada “cliente” ou “comitente”) um ou
mais negócios, conforme as instruções recebidas. O contrato de corretagem está
previsto, de forma genérica, nos arts. 722 a 729 do CC. Quando se fala neste contrato,
normalmente as pessoas só se lembram da corretagem de imóveis. No entanto,
existem outras espécies de corretagem, como é o caso do corretor de ações na Bolsa de
Valores ou o corretor de mercadorias (bens móveis). No caso do corretor de imóveis,
a profissão está regulamentada pela Lei 6.530/78 e pelo Decreto 81.871/78. Para
exercer a profissão de corretor de imóveis, exige-se a aprovação em curso técnico de
Transações Imobiliárias ou curso superior em Gestão Imobiliária, com registro no
Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI).

Comissão de corretagem: Como remuneração pelo serviço prestado, o corretor


receberá o pagamento de uma quantia, que é chamada de “comissão de corretagem”. A
remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o resultado previsto
no contrato de mediação, ou ainda que este não se efetive em virtude de
arrependimento das partes (art. 725).

Qual é o valor da comissão de corretagem? Deverá estar previsto na lei ou no contrato


firmado entre as partes.

E se não estiver previsto na lei nem no contrato? Neste caso, este valor será arbitrado
segundo a natureza do negócio e os usos locais (art. 724 do CC). Não há lei estipulando
o valor da comissão de corretagem na venda de imóveis. Aplica-se, portanto, os usos
e costumes. No dia-a-dia imobiliário, quando não há previsão contratual, deverá ser
pago ao corretor 6% sobre o valor do imóvel urbano vendido, conforme prevê a tabela
do CRECI.

Incorporação imobiliária: É a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa


física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com
unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de
iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos
obtidos, vai construindo o projeto. Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, "a
expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a
venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para construção
de edifício de apartamentos, sob o regime condominial" (REsp 1.399.024-RJ).
Normalmente, a pessoa que adquire unidade autônoma em regime de incorporação
imobiliária, o faz de forma parcelada, por meio de um contrato de promessa de
compra e venda.

O que é uma promessa de compra e venda? A promessa de compra e venda (ou


compromisso de compra e venda) é...
 uma espécie de contrato preliminar
 por meio do qual uma pessoa (promitente vendedor) se compromete a vender
o seu bem
 ao promissário comprador, após este pagar integralmente o preço que foi
ajustado.

Pagamento da comissão de corretagem na incorporação imobiliária: Na prática, é


extremamente comum que os contratos de promessa de compra e venda de
incorporação imobiliária contenham uma cláusula prevendo que o promitente-
comprador será o responsável pelo pagamento da comissão do corretor.

Exemplo: João, ao parar seu carro no semáforo, recebeu um panfleto de um novo


edifício de apartamentos que estava sendo lançado “na planta”. Foi até o estande de
vendas, sendo atendido por Luciana, corretora de imóveis. Decidiu na hora que iria
comprar uma unidade. Foi apresentado a ele um contrato de promessa de compra e
venda com a imobiliária. Por meio do contrato, a imobiliária (promitente vendedora)
comprometeu-se a vender a João a unidade 1502, da Torre B, do Edifício “Morar Bem”.
Em contrapartida, João obrigou-se a pagar o valor de R$ 1 milhão, parcelado em 60
meses. Além disso, havia uma cláusula (8.1) no contrato prevendo que João teria que
pagar 6% do valor do imóvel para Luciana, a título de comissão de corretagem. Algum
tempo depois, João ingressou com ação judicial pedindo que esta cláusula 8.1 fosse
declarada nula de pleno direito porque seria abusiva já que ele, como consumidor,
não poderia ser obrigado a pagar a corretora, a qual esta presta serviços no interesse
da incorporadora, razão pela qual a empresa deveria arcar com este custo.

A tese de João é aceita pelo STJ? É abusiva a cláusula prevista em promessa de compra
e venda que transfira para o promitente-comprador a responsabilidade pelo
pagamento da comissão de corretagem? NÃO. Esta cláusula não é abusiva.

Corretagem na compra e venda de unidades autônomas em incorporação imobiliária:


Na venda de imóveis mediante incorporação imobiliária, a atuação do corretor tem
ocorrido, em regra, da seguinte forma: o corretor é contratado pela incorporadora para
ficar em estandes situados no próprio local onde será construído o edifício de
apartamentos. Lá, esta equipe de corretores recebe os consumidores interessados,
mostra a planta, as maquetes, as vantagens do empreendimento, tira dúvidas e
concretiza o negócio. Alcançado êxito na intermediação, a incorporadora, ao celebrar
o contrato de promessa de compra e venda, transfere para o promitente-comprador a
obrigação de pagar a comissão de corretagem diretamente ao corretor, seja mediante
cláusula expressa no instrumento contratual, seja por pactuação verbal ou mediante a
celebração de um contrato autônomo entre o consumidor e o corretor.

Não há prejuízo aos consumidores porque o custo disso já seria embutido no preço:
Entende-se que não há prejuízo aos consumidores nesta prática porque se a
incorporadora pagasse a comissão de corretagem, ela iria embutir este custo no preço
final do produto. Dessa forma, na prática, mostra-se irrelevante se o consumidor
pagará diretamente ao corretor ou não, considerando que ele já arcaria com esse
pagamento porque se trata de um dos custos do imóvel vendido e que comporia seu
preço. Desse modo, em princípio, é válida a cláusula que transfere para o consumidor
a obrigação de pagar a comissão de corretagem. São necessárias, contudo, algumas
cautelas.

Dever de informação: O fornecedor possui o dever de informar o consumidor. Esse


dever inclui que seja explicado o que o consumidor está efetivamente pagando. Por
conta disso, é necessário que o contrato preveja de forma muito clara que a obrigação
de pagar a comissão de corretagem será do promitente-comprador (consumidor).
Dessa feita, a incorporadora deverá informar ao consumidor, antes do momento da
celebração do contrato de promessa de compra e venda, o preço total de aquisição da
unidade imobiliária, especificando o valor da comissão de corretagem, ainda que esta
venha a ser paga destacadamente.

Se a incorporadora não informar previamente: Uma reclamação constante dos


consumidores é a de que as incorporadoras não informam previamente os clientes de
que eles são responsáveis pelo pagamento da comissão de corretagem. Os
consumidores alegam que somente após celebrado o contrato, com o pagamento do
sinal, é que são informados sobre este custo adicional. Essa prática de não explicar
previamente viola os deveres de informação e de transparência que devem pautar as
relações de consumo. Se isso acontecer, o consumidor poderá recusar-se a pagar a
comissão de corretagem, exigindo o cumprimento da proposta pelo preço ofertado.
Toda informação ou publicidade suficientemente precisa vincula o fornecedor,
conforme expresso no CDC:
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente
precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de
comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou
apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela
se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

Desse modo, a cláusula que transfere a obrigação de pagar a comissão para o


consumidor é, a princípio, lícita, mas o promitente-vendedor, na fase pré-negocial,
deverá informar, de forma clara e precisa, que haverá esta transferência.

Sobre o tema, vale a pena relembrar o seguinte entendimento do STJ:


De quem é a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem: do
vendedor ou do comprador?
 Regra: a obrigação de pagar a comissão de corretagem é daquele que
efetivamente contrata o corretor (não importa se é o comprador ou o
vendedor).
 Exceção: o contrato firmado entre as partes e o corretor poderá dispor em
sentido contrário, ou seja, poderá prever que comprador e vendedor irão
dividir o pagamento, que só o vendedor irá pagar etc.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.288.450-AM, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j.
24/2/15 (Info 556).

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