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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO PENAL

1. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO
1.1. Um crime não pode ser absorvido por uma contravenção penal – (Info 743) –
IMPORTANTE!!!

O princípio da consunção é aplicável quando um delito de alcance menos


abrangente praticado pelo agente for meio necessário ou fase preparatória ou
executória para a prática de um delito de alcance mais abrangente.
Com base nesse conceito, em regra geral, a consunção acaba por determinar que a
conduta mais grave praticada pelo agente (crime-fim) absorve a conduta menos
grave (crime-meio).
O STF decidiu que o agente que faz uso de carteira falsa da OAB pratica o crime de
uso de documento falso, não se podendo admitir que esse crime seja absorvido
(princípio da consunção) pela contravenção penal de exercício ilegal da profissão
(art. 47 do DL nº 3.688/41).
Não é possível que um crime tipificado no Código Penal seja absorvido por uma
infração tipificada na Lei de Contravenções Penais.
STF. 1ª Turma. HC 121652/SC, rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/4/2014 (Info 743).

2. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
2.1. É possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio
clandestina? – (Info 853)

É possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio


comunitária clandestina?
 STJ: NÃO. É inaplicável o princípio da insignificância ao delito previsto no
art. 183 da Lei nº 9.472/97, nas hipóteses de exploração irregular ou
clandestina de rádio comunitária, mesmo que ela seja de baixa potência,
uma vez que se trata de delito formal de perigo abstrato, que dispensa a
comprovação de qualquer dano (resultado) ou do perigo, presumindo-se
este absolutamente pela lei. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp
740.434/BA, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 14/02/2017.
 STF: SIM, é possível, em situações excepcionais, o reconhecimento do
princípio da insignificância desde que a rádio clandestina opere em baixa
frequência, em localidades afastadas dos grandes centros e em situações nas
quais ficou demonstrada a inexistência de lesividade.
STF. 2ª Turma. HC 138134/BA, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 7/2/2017 (Info
853).

2.2. Provedor clandestino de internet sem fio – (Info 842)


O réu que disponibiliza provedor de internet sem fio pratica atividade clandestina
de telecomunicação (art. 183 da Lei 9.472/97), de modo que a tipicidade da conduta
está presente, devendo ser afastada a aplicação do princípio da insignificância
mesmo que, no caso concreto, a potência fosse inferior a 25 watts, o que é
considerado baixa potência, nos termos do art. 1º, § 1º, da Lei nº 9.612/98.
STF. 1ª Turma. HC 118400/RO, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 04/10/2016 (Info 842).
OBS:
A conduta de transmitir sinal de internet, via rádio, como se fosse um provedor de
internet, sem autorização da ANATEL, configura algum crime? SIM. A conduta de
transmitir sinal de internet, via rádio, de forma clandestina, caracteriza, em princípio,
o delito descrito no art. 183 da Lei 9.472/97 (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1483107/RN, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 01/12/2015).

Veja o que diz este dispositivo legal:


Art. 183. Desenvolver clandestinamente atividades de
telecomunicação:
Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade
se houver dano a terceiro, e multa de R$ 10.000,00 (dez mil
reais).

Mas o art. 183 fala em “atividades de telecomunicação”. O provedor de acesso à


internet desenvolve atividade de telecomunicação? O provedor de acesso à Internet
via radiofrequência (internet via rádio) desenvolve dois serviços:
 um serviço de telecomunicações (Serviço de Comunicação Multimídia); e
 um Serviço de Valor Adicionado (Serviço de Conexão à Internet).

Dessa forma, a chamada “internet via rádio” pode ser considerada também um serviço
de telecomunicação.

Os provedores de internet via rádio precisam de autorização da Anatel para


funcionar? Prevalece que sim. As atividades de telecomunicação precisam de
autorização prévia da ANATEL, salvo se forem praticadas dentro de uma mesma
edificação ou propriedade (art. 75 da Lei 9.472/97).

O acusado argumentou também que não deveria ser condenado, considerando que não
ficou provado que ele causou prejuízo, seja para os clientes, seja para os serviços de
telecomunicações. Essa alegação é acolhida pelos Tribunais? NÃO. O delito do art.
183 da Lei 9.427/97 é crime de perigo abstrato. Isso significa que, para a sua
consumação, basta que alguém desenvolva de forma clandestina as atividades de
telecomunicações, sem necessidade de demonstrar prejuízo concreto para o sistema
de telecomunicações (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1560335/MG, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 21/06/2016).

2.3. Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em violência


doméstica – (Info 825) – IMPORTANTE!!!
Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em situação de
violência doméstica.
Os delitos praticados com violência contra a mulher, devido à expressiva
ofensividade, periculosidade social, reprovabilidade do comportamento e lesão
jurídica causada, perdem a característica da bagatela e devem submeter-se ao
direito penal.
O STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da insignificância e da
bagatela imprópria aos crimes e contravenções praticados com violência ou grave
ameaça contra a mulher, no âmbito das relações domésticas, dada a relevância penal
da conduta.
O fato de o casal ter se reconciliado não significa atipicidade material da conduta
ou desnecessidade de pena.
STJ. 5ª Turma. HC 333.195/MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 12/4/16.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 318.849/MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 27/10/15.
STF. 2ª Turma. RHC 133043/MT, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 10/5/16 (Info 825).

2.4. Aplica-se o princípio da insignificância aos crimes ambientais – (Info 816)

É possível aplicar o princípio da insignificância para crimes ambientais.


Ex: pessoa encontrada em uma unidade de conservação onde a pesca é proibida,
com vara de pescar, linha e anzol, conduzindo uma pequena embarcação na qual
não havia peixes.
STF. 2ª Turma. Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 1°/3/2016 (Info 816).
STJ. 5° Turma. AgRg no AREsp 654.321/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j.
9/6/15.
OBS:
A jurisprudência do STF é no sentido da aplicabilidade do princípio da insignificância
aos crimes ambientais, tanto com relação aos de perigo concreto — em que haveria
dano efetivo ao bem jurídico tutelado —, quanto aos de perigo abstrato, como no art.
34, caput, da Lei nº 9.605/98.
No processo em exame, não se produziu prova material de que tenha havido qualquer
dano efetivo ao meio ambiente. Ademais, mesmo diante de crime de perigo abstrato,
não é possível dispensar a verificação “in concreto” do perigo real ou mesmo
potencial da conduta praticada pelo acusado com relação ao bem jurídico tutelado.
Esse perigo real não se verificou no caso concreto.

2.5. Princípio da insignificância e outras ações penais – (Info 793)

É possível aplicar o princípio da insignificância em favor de um réu reincidente?


A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto.
Apesar disso, na prática, observa-se que, na maioria dos casos, o STF e o STJ negam
a aplicação do princípio da insignificância caso o réu seja reincidente ou já
responda a outros inquéritos ou ações penais. De igual modo, nega o benefício em
situações de furto qualificado.
STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto
Barroso, j. 3/8/2015 (Info 793).
OBS:
Ex: o STF negou o princípio da insignificância para réu que praticou furto simples de
um chinelo avaliado em R$ 16. Embora o bem tenha sido restituído à vítima, a Corte
não aplicou o referido princípio em razão de ele ser reincidente específico,
costumeiro na prática de crimes contra o patrimônio. Segundo afirmou o Min. Teori
Zavascki, a reiteração criminosa do agente faz com que seja alta a carga de
reprovabilidade da conduta, servindo para impedir a concessão do benefício (HC
123.108/MG).

2.6. Valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários – (Info


749)

Qual é o valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários?


 Para o STJ: 10 mil reais (art. 20 da Lei n. 10.522/2002).
 Para o STF: 20 mil reais (art. 1º, II, da Portaria MF n. 75/2012).
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.406.356-PR, Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 6/2/14.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.402.207-PR, Min. Rel. Assusete Magalhães, j. 4/2/14.
STF. 1ª Turma. HC 121717/PR, Rel. Min. Rosa Weber, j. 3/6/14 (Info 749).
STF. 2ª Turma. HC 120620/RS e HC 121322/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j.
18/2/2014 (Info 740).

2.7. Contrabando – (Sem Info)

Não se aplica o princípio da insignificância no caso de contrabando, tendo em vista


o desvalor da conduta do agente.
STF, HC 110964, Relator Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, julgado em 07/02/2012.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1472745/PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 1/9/15.

3. TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO


3.1. O superior hierárquico não pode ser punido com base na teoria do domínio do
fato se não tiver sido demonstrado o dolo – (Info 880)

A teoria do domínio do fato não permite que a mera posição de um agente na escala
hierárquica sirva para demonstrar ou reforçar o dolo da conduta.
Do mesmo modo, também não permite a condenação de um agente com base em
conjecturas. Assim, não é porque houve irregularidade em uma licitação estadual
que o Governador tenha que ser condenado criminalmente por isso.
STF. 2ª Turma. AP 975/AL, Rel. Min. Edson Fachin, j. 3/10/17 (Info 880).
OBS: Sobre o tema, confira outro precedente semelhante:
Não há óbice para que a denúncia invoque a teoria do domínio
do fato para dar suporte à imputação penal, sendo necessário,
contudo, que, além disso, ela aponte indícios convergentes no
sentido de que o Presidente da empresa não só teve
conhecimento do crime de evasão de divisas, como dirigiu
finalisticamente a atuação dos demais acusados.
Assim, não basta que o acusado se encontre em posição
hierarquicamente superior. Isso porque o próprio estatuto da
empresa prevê que haja divisão de responsabilidades e, em
grandes corporações, empresas ou bancos há controles e
auditorias exatamente porque nem mesmo os sócios têm como
saber tudo o que se passa.
STF. 2ª Turma. HC 127397/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, j.
6/12/16 (Info 850).

4. DOSIMETRIA DA PENA
4.1. Correto conceito de culpabilidade, princípio da não-culpabilidade e vedação
ao bis in idem – (Info 851)

Determinado réu foi condenado por furto qualificado por rompimento de


obstáculo (art. 155, § 4º, I, do CP).
O STF considerou incorreta a sentença do juiz que, na 1ª fase da dosimetria da
pena, aumentou a pena-base com fundamento em três argumentos:
a) Culpabilidade. O magistrado afirmou que era patente a culpabilidade do réu
considerando que ele tinha plena consciência da ilicitude de seu ato.
O juiz confundiu os conceitos. Para fins de dosimetria da pena, culpabilidade
consiste na reprovação social que o crime e o autor do fato merecem. Essa
culpabilidade de que trata o art. 59 do CP não tem nada a ver com a culpabilidade
como requisito do crime (imputabilidade, potencial consciência da ilicitude do fato
e inexigibilidade de conduta diversa).

b) Antecedentes. O juiz aumentou a pena pelo fato de o agente já responder a


quatro outros processos criminais.
A jurisprudência entende que, em face do princípio da presunção de não
culpabilidade, os inquéritos policiais e ações penais em curso não podem ser
considerados maus antecedentes (Súmula 444-STJ e STF RE 591054/SC).

c) Circunstâncias do crime. O julgador considerou que as circunstâncias do crime


eram negativas porque o crime foi praticado com rompimento de obstáculo à
subtração da coisa.
Aqui, o erro do magistrado foi utilizar como circunstância judicial (1ª fase da
dosimetria) um elemento que ele já considerou como qualificadora (inciso I do § 4º
do art. 155). Houve, portanto, bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato).
STF. 2ª Turma. HC 122940/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 13/12/16 (Info 851).

4.2. Elevados custos da investigação e enriquecimento do réu não são argumentos


para aumentar a pena-base – (Info 845)

Os elevados custos da atuação estatal para apuração da conduta criminosa e o


enriquecimento ilícito obtido pelo agente não constituem motivação idônea para a
valoração negativa do vetor "consequências do crime" na 1ª fase da dosimetria da
pena.
Em outras palavras, o fato de o Estado ter gasto muitos recursos para investigar os
crimes (no caso, era uma grande operação policial) e de o réu ter obtido
enriquecimento ilícito com as práticas delituosas não servem como motivo para
aumentar a pena-base.
STF. 2ª Turma. HC 134193/GO, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 26/10/16 (Info 845).
4.3. Aumento da pena-base pelo fato de a concussão ter sido praticada por policial
– (Info 835)

É legítima a utilização da condição pessoal de policial civil como circunstância


judicial desfavorável para fins de exasperação da pena-base aplicada a acusado
pela prática do crime de concussão.
Aquele que está investido de parcela de autoridade pública — como é o caso de um
juiz, um membro do Ministério Público ou uma autoridade policial — deve ser
avaliado, no desempenho da sua função, com maior rigor do que as demais pessoas
não ocupantes de tais cargos.
STF. 1ª Turma. HC 132990/PE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Edson
Fachin, j. 16/8/16 (Info 835).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: João, policial civil, foi condenado pela prática
do crime de concussão (art. 316 do CP). No momento da dosimetria, na 1ª fase
(circunstâncias judiciais), o magistrado aumentou a pena-base sob o argumento de
que havia acentuada culpabilidade, já que o delito foi cometido por policial, pessoa
encarregada de garantir a segurança pública dos cidadãos. A defesa recorreu contra
este ponto alegando que a majoração da pena com base neste argumento configura bis
in idem. Isso porque a concussão é um crime que só pode ser praticado por funcionário
público. Logo, o fato de o agente ser policial teria sido utilizado duas vezes.

O argumento invocado pela defesa foi aceito pelo STF? Houve bis in idem neste caso?
A decisão do magistrado foi equivocada? NÃO.

O delito previsto no art. 316 do CP realmente só pode ser praticado por funcionário
público. No entanto, é possível que o magistrado, ao fazer a dosimetria da pena,
analisando as circunstâncias do art. 59 do CP, aumente a pena invocando a qualidade
específica ou a qualificação do funcionário público.

4.4. Condenações anteriores transitadas em julgado não podem ser utilizadas como
conduta social desfavorável – (Info 825)

A circunstância judicial "conduta social", prevista no art. 59 do CP, representa o


comportamento do agente no meio familiar, no ambiente de trabalho e no
relacionamento com outros indivíduos.
Os antecedentes sociais do réu não se confundem com os seus antecedentes
criminais. São circunstâncias distintas, com regramentos próprios. Não se mostra
correto o magistrado utilizar as condenações anteriores transitadas em julgado
como "conduta social desfavorável".
STF. 2ª Turma. RHC 130132, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/5/2016 (Info
825).
OBS:
Critério trifásico: A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art.
59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.
Este critério trifásico, elaborado por Nelson Hungria, foi adotado pelo Código Penal,
sendo consagrado pela jurisprudência pátria: STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1021796/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães,julgado em 19/03/2013.

Primeira fase (circunstâncias judiciais): Na primeira fase, as chamadas circunstâncias


judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes: a) culpabilidade, b) antecedentes, c)
conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos do crime, f) circunstâncias do
crime, g) consequências do crime, h) comportamento da vítima.

Imagine agora a seguinte situação: João possui quatro condenações transitadas em


julgado. Ele está agora sendo julgado pela prática do crime 5. No momento da
dosimetria da pena, o juiz aumentou a pena-base com base em duas circunstâncias
judiciais:
 Utilizo a condenação do crime 1 como maus antecedentes;
 Os crimes 2 a 4 indicam que sua conduta social é péssima, pois já se viu
envolvido em vários outros episódios que não aqueles valorados no item
anterior e que demonstram que o réu não se adéqua às regras sociais.

A defesa impugnou a decisão afirmando que o magistrado valorou negativamente


circunstâncias judiciais diversas com fundamento na mesma base empírica (registros
criminais), conferindo-lhes conceitos jurídicos assemelhados.

A tese da defesa foi aceita pelo STF? Houve erro na dosimetria da pena? SIM. Teori
explicou que, antes da reforma da Parte Geral do CP (1984), a análise dos antecedentes
abrangia todo o passado do agente, incluindo, além dos registros criminais, o seu
comportamento na sociedade. Após a aprovação da Lei 7.209/84, a conduta social
passou a ter significado próprio. A conduta social passou a ser utilizada apenas para
avaliar o comportamento do condenado no meio familiar, no ambiente de trabalho e
no relacionamento com outros indivíduos. Ou seja, os antecedentes sociais do réu não
mais se confundem com os seus antecedentes criminais. Trata-se de circunstâncias
diversas. Assim, a análise da circunstância judicial da conduta social não tem relação
com a vida criminal do acusado. O histórico criminal já é utilizado para aferir os
antecedentes (primeira fase de aplicação da pena) ou a reincidência (segunda fase de
aplicação da pena). A conduta social está relacionada com aspectos extrapenais.

5. MAUS ANTECEDENTES
5.1. Cinco anos após o cumprimento ou extinção da pena, a condenação pretérita
ainda poderá ser utilizada como maus antecedentes? – (Info 799) – IMPORTANTE!!!

A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a cinco anos,


contado da extinção da pena, poderá ser considerada como maus antecedentes?
Após o período depurador, ainda será possível considerar a condenação como maus
antecedentes?
1ª corrente: SIM. Posição do STJ.
2ª corrente: NÃO. Posição do STF.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 323.661/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 01/09/2015.
STF. 2ª Turma. HC 126315/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/9/2015 (Info
799).
5.2. Inquéritos policiais e ações penais sem trânsito em julgado – (Infos 791 e 772)
– IMPORTANTE!!!

A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não


podem ser considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena.
STF. Plenário. HC 94620/MS e HC 94680/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgados em 24/6/2015 (Info 791).
STF. Plenário. RE 591054/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2014
(repercussão geral) (Info 772).

6. AGRAVANTES
6.1. As agravantes (tirando a reincidência) não se aplicam aos crimes culposos –
(Info 735)

As circunstâncias agravantes genéricas não se aplicam aos crimes culposos, com


exceção da reincidência.
STF. 1ª Turma. HC 120165/RS, rel. Min. Dias Toffoli, j. 11/2/14 (Info 735).

7. PRESCRIÇÃO
7.1. Inadmissibilidade da prescrição em perspectiva – (Info 831)

A prescrição em perspectiva (ou prescrição virtual) não é admitida nos crimes


militares, assim como ocorre também nos crimes comuns.
STF. 2ª Turma. HC 125777/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 21/6/16 (Info 831).
OBS:
O que é a chamada prescrição virtual? Ocorre quando o juiz, verificando que já se
passaram muitos anos desde o dia em que o prazo prescricional começou ou voltou a
correr, entende que mesmo que o inquérito ou processo continue, ele não terá
utilidade porque muito provavelmente haverá a prescrição pela pena em concreto.
Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse condenado
e, a partir daí, examina se, entre os marcos interruptivos presentes no processo, já se
passaram mais anos do que o permitido pela lei.

Sinônimos: A prescrição virtual é também chamada de prescrição “em perspectiva”,


“por prognose”, “projetada” ou “antecipada”.

A prescrição virtual possui previsão na lei? NÃO. Apesar de ser comum na prática, a
prescrição virtual não tem previsão na lei, sendo considerada uma “criação” dos juízes
e Tribunais.

A prescrição virtual é admitida pelo STF e pelo STJ? NÃO. O STF e o STJ afirmam que
é inadmissível a prescrição virtual por dois motivos principais:
 em virtude da ausência de previsão legal;
 porque representaria uma afronta ao princípio da presunção de não-
culpabilidade.
7.2. Redução do prazo prescricional para condenados maiores de 70 anos e
momento de sua aferição – (Info 822) – IMPORTANTE! Cuidado com alguns livros!

Para que incida a redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP, é
necessário que, no momento da sentença, o condenado possua mais de 70 anos. Se
ele só completou a idade após a sentença, não terá direito ao benefício, mesmo que
isso tenha ocorrido antes do julgamento de apelação interposta contra a sentença.
Existe, no entanto, uma situação em que o condenado será beneficiado pela redução
do art. 115 do CP mesmo tendo completado 70 anos após a sentença: isso ocorre
quando o condenado opõe embargos de declaração contra o acórdão condenatório
e esses embargos são conhecidos. Nesse caso, o prazo prescricional será reduzido
pela metade se o réu completar 70 anos até a data do julgamento dos embargos.
Nesse sentido: STF. Plenário. AP 516 ED/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o
acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 5/12/2013 (Info 731).
STF. 2ª Turma. HC 129696/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/4/2016 (Info
822).
OBS:
Redução do prazo prescricional para condenados maiores de 70 anos: O art. 115 do
CP preconiza:

Art. 115. São reduzidos de metade os prazos de prescrição


quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21
(vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70
(setenta) anos.

Situação 1. Imagine o seguinte exemplo hipotético: João, com 69 anos, foi condenado,
em 1ª instância, no dia 02/02/2010. O condenado interpôs apelação. O TJ julgou a
apelação em 03/03/2014 e manteve, na íntegra, a sentença. Nesta data, ele já tinha 73
anos.

O réu terá direito ao art. 115 do CP? NÃO. Isso porque, na data da sentença, ele tinha
menos de 70 anos.

Este é também o entendimento do STJ:

(...) A Terceira Seção desta Corte, no julgamento dos


Embargos de Divergência em Recurso Especial n. 749.912/PR,
pacificou o entendimento de que o benefício previsto no artigo
115 do Código Penal não se aplica ao réu que completou 70
anos de idade após a data da primeira decisão condenatória
(...)
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 332.735/RJ, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/02/2016.

Situação 2. Imagine agora o exemplo um pouco diferente: João, com 69 anos, foi
condenado, em 1ª instância, no dia 02/02/2010. O condenado opôs embargos de
declaração. O juiz conheceu dos embargos, mas os julgou improvidos em 05/05/2010,
mantendo a sentença. Nesta data, o condenado já tinha mais de 70 anos.

O réu terá direito ao art. 115 do CP? SIM. O STF admite a redução do prazo
prescricional pela metade quando o réu completa 70 anos após a sentença
condenatória, mas antes de terem sido julgados os embargos de declaração opostos
contra a decisão (se conhecidos). Isso porque se entende que a decisão dos embargos
integra a sentença.

7.3. Não se admite a denominada prescrição em perspectiva – (Info 788)

A prescrição virtual ocorre quando o juiz, verificando que já se passaram muitos


anos desde o dia em que o prazo prescricional começou ou voltou a correr, entende
que mesmo que o inquérito ou processo continue, ele não terá utilidade porque
muito provavelmente haverá a prescrição pela pena em concreto.
Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse
condenado e, a partir daí, examina se, entre os marcos interruptivos presentes no
processo, já se passaram mais anos do que o permitido pela lei.
A prescrição virtual é também chamada de prescrição “em perspectiva”, “por
prognose”, “projetada” ou “antecipada”.
O STF e o STJ afirmam que é inadmissível a prescrição virtual por dois motivos
principais:
a) em virtude da ausência de previsão legal;
b) porque representaria uma afronta ao princípio da presunção de não-
culpabilidade.
O STJ tem, inclusive, um enunciado proibindo expressamente a prática (Súmula
438-STJ).
STF. 1ª Turma. Inq 3574 AgR/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2015
(Info 788).

7.4. A publicação do acórdão condenatório para fins de prescrição ocorre no dia da


sessão de julgamento – (Info 776) – IMPORTANTE!!!

A prescrição da pretensão punitiva do Estado, em segundo grau de jurisdição, se


interrompe na data da sessão de julgamento do recurso e não na data da publicação
do acórdão.
Para efeito de configuração do marco interruptivo do prazo prescricional a que se
refere o art. 117, IV, do CP, considera-se como publicado o “acórdão condenatório
recorrível” na data da sessão pública de julgamento, e não na data de sua veiculação
no Diário da Justiça ou em meio de comunicação congênere.
A publicação do acórdão nos veículos de comunicação oficial deflagra o prazo
recursal, mas não influencia na contagem do prazo da prescrição.
STF. 1ª Turma. RHC 125078/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2015 (Info
776).

7.5. O § 1º do art. 110 do CP, alterado pela Lei 12.234/2010, é constitucional – (Info
771) – IMPORTANTE!!!

A Lei 12.234/2010 alterou o § 1º do art. 110 do CP, acabando, parcialmente, com a


prescrição retroativa.
Atualmente, não mais existe prescrição retroativa com relação ao período
compreendido entre a data do fato e o recebimento da denúncia (ou queixa). No
entanto, ainda pode ocorrer a prescrição retroativa na fase processual, ou seja, após
o recebimento da denúncia ou queixa.
Surgiu uma tese sustentando que a alteração promovida pela Lei 12.234/2010 seria
inconstitucional em virtude de praticamente ter eliminado as possibilidades de se
reconhecer a prescrição retroativa, o que violaria diversos princípios
constitucionais.
O STF não concordou com a tese e decidiu que o § 1º do art. 110 do CP, com redação
dada pela Lei 12.234/2010, é CONSTITUCIONAL.
O sistema de justiça criminal no Brasil ainda é pouco eficiente e a taxa de
esclarecimento de crimes é baixa, não se conseguindo investigar, com eficiência,
todos os delitos praticados.
Diante disso, o legislador optou por não mais prestigiar um sistema de prescrição
da pretensão punitiva retroativa que culminava por esvaziar a efetividade da tutela
jurisdicional penal. Vale ressaltar que a chamada prescrição retroativa é uma
peculiaridade existente somente na lei brasileira, não havendo similar no direito
comparado. Isso demonstra que a definição sobre as espécies de prescrição é
questão de política criminal, ficando a cargo do legislador.
STF. Plenário. HC 122694/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 10/12/14 (Info 771).

7.6. Durante a suspensão condicional da pena não corre prazo o prescricional –


(Info 744)

Durante a suspensão condicional da pena (art. 77 do CP), não corre o prazo


prescricional.
STF. 2ª Turma. Ext 1254/Romênia, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 29/4/2014
(Info 744)
OBS: Ao analisar um pedido de extradição, o STF confirmou que a conclusão (pacífica)
de que durante a suspensão condicional da pena (art. 77 do CP), não corre prazo o
prescricional. Segundo o art. 112, I, do CP, a prescrição somente começa a correr do
dia em que for revogada a suspensão condicional da pena (sursis).

8. FIXAÇÃO DO REGIME PRISIONAL


8.1. Fixada a pena-base no mínimo legal, não é possível a imposição de regime
inicial mais severo do que aquele abstratamente imposto – (Info 881)

Se todas as circunstâncias judiciais são favoráveis, de forma que a pena-base foi


fixada no mínimo legal, então, neste caso, não cabe a imposição de regime inicial
mais gravoso.
STF. 2ª Turma. RHC 131133/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 10/10/2017 (Info 844).
Obs: o STJ possui um enunciado nesse sentido:
Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de
regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com
base apenas na gravidade abstrata do delito.

8.2. Fixada a pena-base no mínimo legal, não é possível a imposição de regime


inicial mais severo do que aquele abstratamente imposto – (Info 844)
Se a pena-base foi fixada no mínimo legal (circunstâncias judiciais favoráveis), o
juiz deverá estabelecer o regime inicial semiaberto para o condenado a pena
superior a 4 e que não exceda a 8 anos.
Aplica-se ao caso a Súmula 440 do STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é
vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em
razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.
STF. 2ª Turma. RHC 135298/SP, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac.
Min. Teori Zavascki, j. 18/10/16 (Info 844).
OBS:
Fixação do regime inicial: O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, deverá fixar o
regime no qual o condenado iniciará o cumprimento da pena privativa de liberdade.
A isso se dá o nome de fixação do regime inicial. Os critérios para essa fixação estão
previstos no art. 33 do Código Penal.

O que o juiz deve observar na fixação do regime inicial? O juiz, quando vai fixar o
regime inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade, deve observar quatro
fatores:
1) o tipo de pena aplicada: se reclusão ou detenção;
2) o quantum da pena definitiva;
3) se o condenado é reincidente ou não;
4) as circunstâncias judiciais (art. 59 do CP).

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a 5 anos e 4 meses de


reclusão pela prática do crime previsto no art. 157, § 2º, I e II, do CP.

Na dosimetria, o juiz fixou a pena-base no mínimo legal. Apesar disso, estabeleceu o


regime inicial fechado. Agiu corretamente o magistrado? NÃO. Se o réu não
reincidente foi punido com pena de reclusão maior que 4 e menor que 8 anos, o CP
prevê que, em regra, deverá ser imposto a ele o regime inicial semiaberto. Confira:

Art. 33 (...) § 2º As penas privativas de liberdade deverão ser


executadas em forma progressiva, segundo o mérito do
condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as
hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar
a cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4
(quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o
princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;

É possível que seja imposto ao condenado primário um regime inicial mais rigoroso
do que o previsto para a quantidade de pena aplicada? Ex.: se uma pessoa pode ser
condenada a 6 anos de reclusão e o juiz fixar o regime inicial fechado? SIM, é possível,
desde que o juiz apresente motivação idônea na sentença.

Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento


mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação
idônea.

O juiz pode fundamentar a imposição do regime mais severo devido ao fato do crime
praticado ser, abstratamente, um delito grave? Ex.: o juiz afirma que, em sua opinião,
no caso de tráfico de drogas o regime deve ser o fechado em razão da gravidade desse
delito. NÃO. A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime NÃO
constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o
permitido segundo a pena aplicada (Súmula 718-STF).

O que é considerado, então, motivação idônea para impor ao condenado regime mais
gravoso? Exige-se que o juiz aponte circunstâncias que demonstrem que o fato
criminoso, concretamente, foi grave. Se as circunstâncias judiciais do art. 59 forem
desfavoráveis, é possível que o juiz se fundamente nesses dados para impor ao
condenado regime inicial mais gravoso que o previsto para a quantidade de pena
aplicada. Nesse sentido:

(...) Se as penas-base de ambos os crimes são fixadas acima do


mínimo legal em face da valoração negativa das
circunstâncias do art. 59 do Código Penal, não há ilegalidade
na imposição de regime inicial mais gravoso do que o
abstratamente previsto de acordo com a quantidade de pena
aplicada. (...)
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1471969/RN, Rel. Min. Jorge
Mussi, j. 20/11/14)

Se a pena privativa de liberdade foi fixada no mínimo legal, é possível a fixação de


regime inicial mais severo do que o previsto pela quantidade de pena? Ex.: Paulo, réu
primário, foi condenado a uma pena de seis anos de reclusão. As circunstâncias
judiciais foram favoráveis. Pode o juiz fixar o regime inicial fechado? NÃO. A
posição que prevalece no STJ é a de que, fixada a pena-base no mínimo legal e sendo
o acusado primário e sem antecedentes criminais não se justifica a fixação do regime
prisional mais gravoso. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 303.275/SP, Rel. Min. Jorge Mussi,
j. 03/02/15.

O STJ possui um enunciado no mesmo sentido:


Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é
vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso
do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas
na gravidade abstrata do delito.

Esse é também o entendimento do STF:

Habeas corpus. Penal. Processual penal. Roubo. Artigo 33, §


2º, do CP. Imposição de regime inicial de cumprimento de pena
mais gravoso. Possibilidade, desde que seja a decisão devida
e concretamente fundamentada. Circunstâncias judiciais
reconhecidamente favoráveis. Pena-base fixada no mínimo
legal. Ausência de fundamentação apta ao agravamento do
regime prisional. Habeas corpus deferido.
(...)
3. A Corte tem entendido que a fixação de regime mais severo
do que aquele abstratamente imposto pelo art. 33, § 2º, do CP
não se admite senão em virtude de razões concretamente
demonstradas nos autos.
4. Ausência, no caso concreto, de fundamentação válida, nas
razões de convencimento, para a fixação do cumprimento da
pena em regime inicialmente fechado.
STF. 1ª Turma. HC 118.230, Rel. Min. Dias Toffoli, j.
08/10/2013.

8.3. Fixação de regime inicial de cumprimento de pena e circunstâncias judiciais –


(Info 775)

Se a pena-base é fixada acima do mínimo legal em virtude de as circunstâncias


judiciais do art. 59 do CP serem desfavoráveis, é possível que o juiz determine
regime inicial mais gravoso do que o abstratamente previsto de acordo com a
quantidade de pena aplicada.
Ex.: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de 2 anos e 6 meses de detenção.
Em regra, o regime inicial seria o aberto (art. 33, § 2º, “c”, do CP). Ocorre que duas
circunstâncias judiciais foram desfavoráveis a ele, conforme fundamentação do
juiz (circunstâncias e consequências do crime). Nesse caso, o magistrado,
fundamentando sua decisão nesses dados, pode impor ao condenado o regime
inicial semiaberto.
STF. 2ª Turma. HC 124876/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 24/2/15 (Info 775).

8.4. Regime inicial de cumprimento de pena para o condenado por crime hediondo
ou equiparado

Qual é o regime inicial de cumprimento de pena do réu que for condenado por
crime hediondo ou equiparado?
O regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (como é o
caso do tráfico de drogas) não tem que ser obrigatoriamente o fechado, podendo
ser também o regime semiaberto ou aberto, desde que presentes os requisitos do
art. 33, § 2º, alíneas “b” e “c”, do Código Penal.
STF. Plenário. HC 111840/ES, rel. Min. Dias Toffoli, 27/6/2012.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.285.631-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em
24/10/2012.

9. HOMICÍDIO
9.1. Entrega de veículo automotor a pessoa embriagada e inexistência de homicídio
doloso – (Info 812)

Se houver incorreto enquadramento fático-jurídico na capitulação penal, que


repercuta na competência do órgão jurisdicional, admite-se, excepcionalmente, a
possibilidade de o magistrado, antes da pronúncia e submissão do réu ao júri
popular, efetuar a desclassificação para outro tipo penal e encaminhar o feito ao
órgão competente.
No caso, o STF considerou que não havia homicídio doloso na conduta de um
homem que entregou o seu carro a uma mulher embriagada para que esta dirigisse
o veículo, tendo havido acidente por conta do excesso de velocidade e da
embriaguez, resultando na morte da mulher (condutora).
STF. 2ª Turma. HC 113598/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2015
(Info 812).

9.2. O dolo eventual e a qualificadora do art. 121, §2º, IV do CP – (Info 677)

O dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, § 2º, IV


(traição, emboscada, dissimulação).
STF. 2ª Turma. HC 111.442/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/8/2012 (Info 677).

10. ABORTO
10.1. Interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação – (Info 849) –
IMPORTANTE!!!

A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada pela


própria gestante (art. 124) ou com o seu consentimento (art. 126) não é crime.
É preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos arts. 124 a 126 do
Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir do seu âmbito de
incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre.
A criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher,
bem como o princípio da proporcionalidade.
STF. 1ª Turma. HC 124306/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, j. 29/11/16 (Info 849).
OBS:
Exceções em que o aborto não é crime: O Código Penal, em seu art. 128, traz duas
hipóteses em que o aborto é permitido:
 1ª) se não há outro meio de salvar a vida da gestante. É o chamado aborto
“necessário” ou “terapêutico”, previsto no inciso I.
 2ª) no caso de gravidez resultante de estupro. Trata-se do aborto
“humanitário”, “sentimental”, “ético” ou “piedoso”, elencado no inciso II.
Segundo o texto expresso do CP, essas são as duas únicas hipóteses em que o
aborto é permitido no Brasil.
 3ª) Interrupção da gravidez de feto anencéfalo: O STF, no julgamento da ADPF
54/DF, criou uma nova exceção e decidiu que a interrupção da gravidez de
feto anencéfalo é conduta atípica (Plenário. ADPF 54/DF, rel. Min. Marco
Aurélio, 11 e 12/4/2012). Assim, por força de interpretação jurisprudencial,
realizar aborto de feto anencéfalo também não é crime.
 4ª) Interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação: A 1ª Turma do
STF, no julgamento do HC 124306, mencionou a possibilidade de se admitir
uma quarta exceção: a interrupção da gravidez no primeiro trimestre da
gestação provocado pela própria gestante (art. 124) ou com o seu
consentimento (art. 126) também não seria crime (HC 124306/RJ, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/11/2016.
Info 849).

Vamos entender o julgado veiculado no Info 849.

INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ NO PRIMEIRO TRIMESTRE DA GESTAÇÃO


Requisitos para que a tipificação de uma conduta seja compatível com a
Constituição: Segundo o Min. Roberto Barroso, para ser compatível com a
Constituição, a criminalização de uma conduta exige o preenchimento de três
requisitos:
a) este tipo penal deverá proteger um bem jurídico relevante;
b) o comportamento incriminado não pode constituir exercício legítimo de um direito
fundamental; e
c) deverá haver proporcionalidade entre a ação praticada e a reação estatal.

Em outras palavras, se determinada conduta for prevista como crime, mas não atender
a algum desses três requisitos, este tipo penal deverá ser considerado inconstitucional.

Verifique abaixo os argumentos invocados pelo Min. Relator Roberto Barroso:

VIOLAÇÃO A DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS MULHERES


Violação à autonomia da mulher: A criminalização viola, em primeiro lugar, a
autonomia da mulher, que corresponde ao núcleo essencial da liberdade individual,
protegida pelo princípio da dignidade humana (art. 1º, III, da CF/88). Autonomia
significa a autodeterminação das pessoas (o direito de elas fazerem suas escolhas
existenciais básicas e de tomarem as próprias decisões morais sobre o rumo de sua
vida). Quando se trata de uma mulher, um aspecto central de sua autonomia é o poder
de controlar o próprio corpo e de tomar as decisões a ele relacionadas, inclusive a de
cessar ou não uma gravidez.

Violação do direito à integridade física e psíquica: Em segundo lugar, a


criminalização do aborto afeta a integridade física e psíquica da mulher. A integridade
física é abalada porque é o corpo da mulher que sofrerá as transformações, riscos e
consequências da gestação. Aquilo que pode ser uma bênção quando se cuide de uma
gravidez desejada, transmuda-se em tormento quando indesejada. A integridade
psíquica, por sua vez, é afetada pelo fato de ela estar sendo obrigada a assumir uma
obrigação para toda a vida, exigindo renúncia, dedicação e comprometimento
profundo com outro ser. Também aqui, o que seria uma bênção se decorresse de
vontade própria, pode se transformar em provação quando decorra de uma imposição
heterônoma. Ter um filho por determinação do direito penal constitui grave violação
à integridade física e psíquica da mulher.

Violação aos direitos sexuais e reprodutivos da mulher: A criminalização viola,


também, os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, que incluem o direito de toda
mulher de decidir sobre se e quando deseja ter filhos, sem discriminação, coerção e
violência, bem como de obter o maior grau possível de saúde sexual e reprodutiva. O
reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres como direitos
humanos percorreu uma longa trajetória, que teve como momentos decisivos a
Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (CIPD), realizada em
1994, conhecida como Conferência do Cairo, e a IV Conferência Mundial sobre a
Mulher, realizada em 1995, em Pequim. A partir desses marcos, vem se
desenvolvendo a ideia de liberdade sexual feminina em sentido positivo e
emancipatório. A criminalização do aborto afeta a capacidade de autodeterminação
reprodutiva da mulher, ao retirar dela a possibilidade de decidir, sem coerção, sobre
a maternidade, sendo obrigada pelo Estado a manter uma gestação indesejada.

Violação à igualdade de gênero: A punição do aborto traduz-se, ainda, em quebra da


igualdade de gênero. Na medida em que é a mulher que suporta o ônus integral da
gravidez, e que o homem não engravida, somente haverá igualdade plena se a ela for
reconhecido o direito de decidir acerca da sua manutenção ou não. "Se os homens
engravidassem, não tenho dúvida em dizer que seguramente o aborto seria
descriminalizado de ponta a ponta" (Min. Ayres Britto, na ADPF 54-MC, j. 20.10.2004).

Discriminação social e impacto desproporcional sobre mulheres pobres: A tipificação


penal do aborto produz também discriminação social, já que prejudica, de forma
desproporcional, as mulheres pobres, que não têm acesso a médicos e clínicas
particulares, nem podem se valer do sistema público de saúde para realizar o
procedimento abortivo. Por meio da criminalização, o Estado retira da mulher a
possibilidade de submissão a um procedimento médico seguro. Não raro, mulheres
pobres precisam recorrer a clínicas clandestinas sem qualquer infraestrutura médica
ou a procedimentos precários e primitivos, que lhes oferecem elevados riscos de
lesões, mutilações e óbito.

Em suma: A criminalização da interrupção da gestação no primeiro trimestre vulnera


o núcleo essencial de um conjunto de direitos fundamentais da mulher. Trata-se,
portanto, de restrição que ultrapassa os limites constitucionalmente aceitáveis.

VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE


Funções do princípio da proporcionalidade nos crimes e penas: O legislador, ao definir
crimes e penas, deverá fazê-lo levando em consideração dois valores essenciais:
 o respeito aos direitos fundamentais dos acusados;
 a necessidade de garantir a proteção da sociedade, cabendo-lhe resguardar
valores, bens e direitos fundamentais dos indivíduos.
Assim, o princípio da razoabilidade-proporcionalidade funciona com uma dupla
dimensão, tendo por objetivo proibir os excessos e também a insuficiência.

Divisão do princípio da proporcionalidade: O princípio da proporcionalidade divide-


se em três subprincípios:
a) subprincípio da ADEQUAÇÃO: no qual deve ser analisado se a medida adotada é
idônea (capaz) para atingir o objetivo almejado;
b) subprincípio da NECESSIDADE: consiste na análise se a medida empregada é ou
não excessiva; e
c) subprincípio da PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO: representa a
análise do custo-benefício da providência pretendida, para se determinar se o que se
ganha é mais valioso do que aquilo que se perde.

Subprincípio da adequação: Aqui, deve-se analisar se os tipos penais previstos nos


arts. 124 e 126 do CP protegem realmente o feto. A medida adotada (punir o aborto
consensual) é idônea para proteger o feto? O STF entendeu que não. De acordo com
estudos da OMS a criminalização não produz impacto relevante sobre o número de
abortos. As taxas de aborto nos países onde esse procedimento é permitido são muito
semelhantes àquelas encontradas nos países em que ele é ilegal. Atualmente, existem
medicamentos que são facilmente encontrados e que a mulher, ao usá-los, consegue
interromper a gravidez sem que o Poder Público tenha meios para tomar
conhecimento e impedir a sua realização. Assim, a criminalização não gera uma
diminuição na quantidade de abortos. Eles continuam sendo realizados
constantemente, de forma clandestina e perigosa para a saúde da mulher. Por outro
lado, se não houvesse a punição haveria a possibilidade de estes procedimentos serem
realizados de forma segura e sem tantos riscos. Na prática, portanto, a criminalização
do aborto é ineficaz para proteger o direito à vida do feto. Do ponto de vista penal, ela
constitui apenas uma reprovação “simbólica” da conduta.

Subprincípio da necessidade: Aqui, a pergunta a ser analisada e respondida é a


seguinte: existe meio alternativo à criminalização que proteja igualmente o direito à
vida do nascituro, mas que produza menor restrição aos direitos das mulheres? O Min.
Barroso defendeu que sim. Há instrumentos que são eficazes à proteção dos direitos
do feto e, simultaneamente, menos lesivos aos direitos da mulher. Uma política
alternativa à criminalização implementada com sucesso em diversos países
desenvolvidos do mundo é a descriminalização do aborto em seu estágio inicial (em
regra, no primeiro trimestre), desde que se cumpram alguns requisitos
procedimentais que permitam que a gestante tome uma decisão refletida. É assim na
Alemanha, em que a grávida que pretenda abortar deve se submeter a uma consulta
de aconselhamento e a um período de reflexão prévia de três dias. Procedimentos
semelhantes também são previstos em Portugal, na França e na Bélgica. Além disso, o
Estado deve atuar sobre os fatores econômicos e sociais que dão causa à gravidez
indesejada ou que pressionam as mulheres a abortar. As duas razões mais comumente
invocadas para o aborto são a impossibilidade de custear a criação dos filhos e a
drástica mudança na vida da mãe (que a faria, p. ex., perder oportunidades de
carreira). Nessas situações, é importante a existência de uma rede de apoio à grávida
e à sua família, como o acesso à creche e o direito à assistência social. Além disso,
muitas gestações não programadas são causadas pela falta de informação e de acesso
a métodos contraceptivos. Isso pode ser revertido, por exemplo, com programas de
planejamento familiar, com a distribuição gratuita de anticoncepcionais e assistência
especializada à gestante e educação sexual. Logo, a criminalização do aborto também
não é aprovada no teste relacionado com o subprincípio da necessidade.

Subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito: As restrições aos direitos


fundamentais das mulheres decorrentes da criminalização são ou não compensadas
pela proteção à vida do feto? O fato de as mulheres serem privadas do direito de
abortar gera uma maior proteção ao feto? O STF entendeu que não. Conforme
demonstrado, a tipificação penal do aborto produz um grau elevado de restrição a
direitos fundamentais das mulheres. Por outro lado, a criminalização do aborto
promove um grau reduzido (se algum) de proteção dos direitos do feto, uma vez que
não tem sido capaz de reduzir o índice de abortos. Dessa forma, não há
proporcionalidade em sentido estrito em se manter a punição do aborto consentido
nos três primeiros meses da gravidez. Praticamente nenhum país democrático e
desenvolvido do mundo trata a interrupção da gestação durante a fase inicial da
gestação como crime, aí incluídos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Canadá,
França, Itália, Espanha, Portugal, Holanda e Austrália.

Primeiro trimestre da gravidez: Ressalta-se que, pela decisão do STF, só não será
punido o aborto consentido (realizado pela mulher ou por terceiro com sua
concordância) e desde que feito nos três primeiros meses da gravidez. Se for realizado
após o primeiro trimestre, continua sendo crime.

Por que este critério de três meses? Existe uma intensa e polêmica discussão sobre
quando se inicia a vida e qual é o status jurídico do embrião durante a fase inicial da
gestação. Dentre outras, há duas posições principais e antagônicas em relação a isso:
1ª) de um lado, os que sustentam que existe vida desde a concepção, desde que o
espermatozoide fecundou o óvulo, dando origem à multiplicação das células.
2ª) de outro lado, estão os que sustentam que antes da formação do sistema nervoso
central e da presença de rudimentos de consciência (o que geralmente se dá após o
terceiro mês da gestação) não é possível ainda falar-se em vida em sentido pleno.

ESCLARECIMENTOS SOBRE OS EFEITOS DA DECISÃO COMENTADA: Tão logo


esta decisão foi proferida, surgiram várias notícias na imprensa no sentido de que o
STF teria descriminalizado o aborto realizado nos três primeiros meses de gravidez.
Esta afirmação não é tecnicamente correta. No caso concreto, o STF analisava um
habeas corpus impetrado por dois médicos que foram presos em flagrante no
momento em que supostamente estariam realizando um aborto com o consentimento
da gestante (art. 126 do CP). No HC impetrado, os pacientes buscavam a liberdade
provisória. O Min. Barroso, ao analisar o writ, entendeu que não estavam presentes os
pressupostos da prisão preventiva. Um desses pressupostos é a existência de crime, o
que é exigido na parte final do art. 312 do CPP:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria.

Segundo o Ministro, não havia motivo para a prisão preventiva, considerando o fato
de que a gravidez da mulher estava ainda no primeiro trimestre, razão pela qual a
punição prevista nos arts. 124 e 126 do CP não seria compatível com a CF/88, ou seja,
não teria sido recepcionada pela atual Carta Magna. Por conta disso, o Ministro
concedeu a ordem de habeas corpus para afastar a prisão preventiva dos pacientes,
concedendo-lhes liberdade provisória.

É importante, no entanto, pontuar três observações:


1) Esta decisão foi tomada pela 1ª Turma do STF (não se sabe como o Plenário
decidiria);
2) A discussão sobre a criminalização ou não do aborto nos três primeiros meses da
gestação foi apenas para se analisar se seria cabível ou não a manutenção da prisão
preventiva;
3) O mérito da imputação feita contra os réus ainda não foi julgado e o STF não
determinou o "trancamento" da ação penal. O habeas corpus foi concedido apenas
para que fosse afastada a prisão preventiva dos acusados.

Atenção: Obviamente, esta decisão representa um indicativo muito claro do que o STF
poderá decidir caso seja provocado de forma específica sobre o tema, tendo o Min.
Roberto Barroso proferido um substancioso voto que foi acompanhado pelos
Ministros Edson Fachin e Rosa Weber. Os demais Ministros da 1ª Turma (Marco
Aurélio e Luiz Fux) não se comprometeram expressamente com a tese da
descriminalização e discutiram apenas a legalidade da prisão preventiva. Dessa
forma, existem três votos a favor da tese, não se podendo afirmar que o tema esteja
resolvido no STF. Ao contrário, ainda haverá muita discussão a respeito.

11. CRIMES CONTRA A HONRA


11.1. DIFAMAÇÃO: Difamação pode ser praticada mediante a publicação de vídeo
no qual o discurso da vítima seja editado – (Info 876)
Configura, em tese, difamação a conduta do agente que publica vídeo de um
discurso no qual a frase completa do orador é editada, transmitindo a falsa ideia de
que ele estava falando mal de negros e pobres.
A edição de um vídeo ou áudio tem como objetivo guiar o espectador e, quando
feita com o objetivo de difamar a honra de uma pessoa, configura dolo da prática
criminosa.
Vale ressaltar que esta conduta do agente, ainda que praticada por Deputado
Federal, não estará protegida pela imunidade parlamentar.
STF. 1ª Turma. Pet 5705/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/9/2017 (Info 876).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: Durante a reunião de uma CPI instaurada para
apurar a violência contra jovens negros e pobres no Brasil, o Deputado Federal Jean
Wyllys (PSOL-RJ) proferiu a seguinte frase: “tem um imaginário impregnado,
sobretudo nos agentes das forças de segurança, de que uma pessoa negra e pobre é
potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média.
Esse é um imaginário que está impregnado na gente”. O Deputado Eder Mauro (PSD-
PA) publicou, em sua página no Facebook, um vídeo no qual o discurso do Deputado
Jean Wyllys é editado. No vídeo publicado, a parte inicial e final da frase são cortadas
e ouve-se apenas: “Uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais
perigosa do que uma pessoa branca de classe média”. Assim, o vídeo editado dá a
entender, falsamente, que o Deputado estaria defendendo essa afirmação pejorativa
contra pessoas negras e pobres. Diante disso, o Deputado Federal Jean Wyllys
ingressou com queixa-crime contra o Deputado Eder Mauro afirmando que o
querelado praticou contra ele o crime de difamação (art. 139 do CP):

Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua


reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

O STF analisou se deveria receber ou não a queixa-crime. O que decidiu o Supremo?


A 1ª Turma do STF recebeu a queixa-crime contra o Deputado Eder Mauro. O Min.
Luiz Fux afirmou que a edição do discurso de Wyllys foi feita com “a clara intenção
de difamar”. Ele observou que a edição de um vídeo ou áudio tem como objetivo guiar
o espectador e, quando feita com o objetivo de difamar a honra de uma pessoa,
configura dolo da prática criminosa. Segundo o Ministro, a edição buscou imputar ao
parlamentar do PSOL o crime de racismo, o que poderia dar motivação, inclusive, a
uma denúncia pelo crime de calúnia. No entendimento do relator, ficou constatada a
vontade de difamar (animus difamandi), o que leva, nesta fase, ao recebimento da
queixa. Os ministros entenderam, ainda, que a divulgação do vídeo editado não
estaria abrangido pela imunidade parlamentar.
STF. 1ª Turma. Pet 5705/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/9/2017 (Info 876).

11.2. INJÚRIA: Não deve ser punido Deputado Federal que profere palavras
injuriosas contra adversário político que também o ofendeu imediatamente antes –
(Info 838)

Determinado Governador afirmou, em rede social, que certo Deputado Federal


estava financiando, com a utilização de “dinheiro sujo”, a produção de injúrias
contra ele e que o parlamentar estava sendo processado pelos crimes de tortura,
corrupção e estupro.
No dia seguinte, o Deputado, em resposta, afirmou, também em uma rede social,
que o Governador era acusado de corrupção eleitoral, que tinha como costume fazer
acusações falsas para tentar incriminar seus desafetos políticos, que costumava
espancar seu pai e que era desequilibrado mental.
O STF entendeu que o Deputado Federal praticou fato típico, antijurídico e
culpável, mas que não deveria ser punido, com base no art. 140, § 1º, II, do CP.
O Deputado postou as mensagens ofensivas menos de 24 horas depois de o
Governador publicar a manifestação também injuriosa. Dessa forma, as mensagens
do parlamentar foram imediatamente posteriores às veiculadas pelo ofendido e
elaboradas em resposta a elas. Ao publicá-las, o acusado citou parte do conteúdo
da mensagem postada pelo ofendido, comprovando o nexo de pertinência entre as
condutas. Dessa maneira, o ofendido não só, de forma reprovável, provocou a
injúria, como também, em tese, praticou o mesmo delito, o que gerou a retorsão
imediata do acusado. Logo, o STF entendeu que não havia razão moral para o
Estado punir o Deputado.
STF. 1ª Turma. AP 926/AC, Rel. Min. Rosa Weber, j. 6/9/2016 (Info 838).
OBS:
O motivo para isso foi a imunidade parlamentar? Ao proferir estas palavras o
Deputado estava sob o abrigo da imunidade material? NÃO. O STF entendeu que não
deveria se falar em imunidade parlamentar no presente caso. Isso por conta de dois
motivos:
1) As declarações foram proferidas fora do recinto
parlamentar e em ambiente virtual.
2) Não havia relação entre as declarações e o exercício do
mandato. As postagens atacaram a dignidade e o decoro do
Governador, sem qualquer relação com o exercício do
mandato. Mesmo sendo adversários políticos, o que se contata
é que nas declarações proferidas pelo Deputado não há um
propósito de crítica ou de debate. O seu intuito é apenas o de
atribuir condutas negativas ao Governador.

Obs: se o STF tivesse reconhecido que o Deputado Federal


estava acobertado pela imunidade parlamentar, a conduta por
ele praticada seria considerada atípica (STF Inq 3677).

Qual foi o motivo, então, para o Deputado não ser condenado? Perdão judicial.

Perdão judicial na injúria: O perdão judicial é um instituto do direito penal, segundo


o qual mesmo constatando que o fato praticado é típico, antijurídico e culpável, o juiz,
com base em hipóteses previstas na lei, deixa de punir o agente por entender que,
naquele caso concreto, a punição seria desnecessária ou ilegítima. O perdão judicial
consiste em uma causa de extinção da punibilidade (art. 107, IX, do CP). A sentença
que concede o perdão judicial não é considerada condenatória nem absolutória, mas
sim declaratória da extinção da punibilidade. Nesse sentido:

Súmula 18-STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é


declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo
qualquer efeito condenatório.
No § 1º do art. 140 são previstas duas hipóteses de perdão judicial para o crime de
injúria, ou seja, duas situações em que se reconhece que o agente praticou injúria, mas
mesmo assim ele não será punido. Veja:

Art. 140 (...)


§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

Retorsão imediata (inciso II): O STF deixou de aplicar a pena ao Deputado com base
no inciso II do § 1º do art. 140 (retorsão imediata). Conforme explica Cleber Masson:
"A retorsão é a injúria proferida pelo ofendido contra quem
antes o injuriou. É o revide: tão logo ofendida, a vítima
também ataca a honra de seu agressor. Deve ser imediata, ou
seja, efetuada tão logo o injuriado tiver conhecimento da
ofensa. Assim, tratando-se de injúrias verbais, a retorsão deve
se verificar na mesma ocasião em que o ofendido suportar a
ofensa.
Admite-se também o perdão judicial no tocante a injúrias
escritas. Nessa hipótese, a relação de imediatidade impõe o
revide quando o injuriado conhecer a sua existência, pois
somente a partir de então surge a possibilidade de retorsão
imediata." (Direito Penal esquematizado. São Paulo: Método,
2014, p. 199).

11.3. Deputado que, em entrevista à imprensa, afirma que determinada Deputada


"não merece ser estuprada" pratica, em tese, injúria (art. 140 do CP) – (Info 831)

O Deputado Federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) afirmou que a também Deputada


Federal Maria do Rosário (PT-RS), “não merece ser estuprada por ser muito ruim,
muito feia, não faz meu gênero”. E acrescentou que, se fosse estuprador, "não iria
estuprá-la porque ela não merece".
O STF entendeu que a conduta do parlamentar configura, em tese, para fins de
recebimento de denúncia, o crime de injúria: "Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-
lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa."
As declarações do Deputado atingiram a honra subjetiva da Deputada porque
rebaixaram sua dignidade moral, expondo sua imagem à humilhação pública, além
de associar as características da mulher à possibilidade de ser vítima de estupro.
STF. 1ª Turma. Inq 3932/DF e Pet 5243/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/6/16 (Info 831).

12. FURTO
12.1. Causa de aumento do § 1º pode ser aplicada tanto para furto simples como
qualificado – (Info 851) – IMPORTANTE!!!

É legítima a incidência da causa de aumento de pena por crime cometido durante o


repouso noturno (art. 155, § 1º) no caso de furto praticado na forma qualificada (art.
155, § 4º).
Não existe nenhuma incompatibilidade entre a majorante prevista no § 1º e as
qualificadoras do § 4º. São circunstâncias diversas, que incidem em momentos
diferentes da aplicação da pena.
Assim, é possível que o agente seja condenado por furto qualificado (§ 4º) e, na
terceira fase da dosimetria, o juiz aumente a pena em 1/3 se a subtração ocorreu
durante o repouso noturno.
A posição topográfica do § 1º (vem antes do § 4º) não é fator que impede a sua
aplicação para as situações de furto qualificado (§ 4º).
STF. 2ª Turma. HC 130952/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 13/12/16 (Info 851).
STJ. 6ª Turma. HC 306.450-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 4/12/14
(Info 554).
OBS:
Exemplo: Se João e Pedro, durante a madrugada, invadem a residência da vítima
enquanto esta dormia, e de lá subtraem a televisão, eles irão ter praticado furto
qualificado:
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o
crime é cometido:
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

Além disso, na 3ª fase da dosimetria da pena, ao analisar as causas de aumento, o juiz


irá aumentar a pena em 1/3 pelo fato de o crime ter sido cometido durante o repouso
noturno, conforme prevê o § 1º.

13. ROUBO
13.1. Arma utilizada no roubo e a majorante do art. 157, §2º, I do CP

É necessário que a arma utilizada no roubo seja apreendida e periciada para que
incida a majorante do art. 157, § 2º, I, do Código Penal?
NÃO. O reconhecimento da referida causa de aumento prescinde (dispensa) da
apreensão e da realização de perícia na arma, desde que o seu uso no roubo seja
provado por outros meios de prova, tais como a palavra da vítima ou mesmo de
testemunhas.
STF. 1ª Turma. HC 108034/MG, rel. Min. Rosa Weber, 7/8/2012.

No entanto, se a arma é apreendia e periciada, sendo constatada a sua inaptidão


para a produção de disparos, neste caso, não se aplica a majorante do art. 157, § 2º,
I, do CP, sendo considerado roubo simples (art. 157, caput, do CP). O legislador, ao
prever a majorante descrita no referido dispositivo, buscou punir com maior rigor
o indivíduo que empregou artefato apto a lesar a integridade física do ofendido,
representando perigo real, o que não ocorre na hipótese de instrumento
notadamente sem potencialidade lesiva. Assim, a utilização de arma de fogo que
não tenha potencial lesivo afasta a mencionada majorante, mas não a grave ameaça,
que constitui elemento do tipo “roubo” na sua forma simples.
STJ. 6ª Turma. HC 247.669-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 4/12/2012.

13.2. Participação de menor de idade em roubo e a sua majoração pelo concurso de


pessoas
Se um maior de idade pratica o roubo juntamente com um inimputável, esse roubo
será majorado pelo concurso de pessoas (art. 157, § 2º do CP).
A participação do menor de idade pode ser considerada com o objetivo de
caracterizar concurso de pessoas para fins de aplicação da causa de aumento de
pena no crime de roubo.
STF. 1ª Turma. HC 110425/ES, rel. Min. Dias Toffoli, 5/6/2012.
STJ. 6ª Turma. HC 150.849/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
16/08/2011.

14. LATROCÍNIO
14.1. O que fazer se foi atingido um único patrimônio, mas houve pluralidade de
mortes? – (Info 855) – IMPORTANTE!!!

Carlos e Luiza estão entrando no carro quando são rendidos por João, assaltante
armado, que deseja subtrair o veículo. Carlos acaba reagindo e João atira contra ele
e Luiza, matando o casal. João foge levando o carro. Haverá dois crimes de
latrocínio em concurso formal de ou um único crime de latrocínio?
 STJ: concurso formal impróprio.
 STF e doutrina majoritária: um único crime de latrocínio.
STJ. 5ª Turma. HC 336.680/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 17/11/2015.
STF. 1ª Turma. RHC 133575/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 21/2/17 (Info 855).

(DPE-RN-2015-CESPE): Plínio praticou um crime de latrocínio (previsto no art.


157, § 3.º, parte final, do CP) no qual houve uma única subtração patrimonial, com
desígnios autônomos e com dois resultados mortes (vítimas). Nessa situação,
segundo o entendimento do STJ, Plínio praticou o crime de latrocínio em concurso
formal impróprio, disposto no art. 70, caput, parte final, do CP, no qual se aplica a
regra do concurso material, de forma que as penas devem ser aplicadas
cumulativamente.

14.2. Agente que participou do roubo pode responder por latrocínio ainda que o
disparo que matou a vítima tenha sido efetuado pelo corréu – (Info 855) –
IMPORTANTE!!!

Aquele que se associa a comparsa para a prática de roubo, sobrevindo a morte da


vítima, responde pelo crime de latrocínio, ainda que não tenha sido o autor do
disparo fatal ou que sua participação se revele de menor importância.
Ex: João e Pedro combinaram de roubar um carro utilizando arma de fogo. Eles
abordaram, então, Ricardo e Maria quando o casal entrava no veículo que estava
estacionado. Os assaltantes levaram as vítimas para um barraco no morro. Pedro
ficou responsável por vigiar o casal no cativeiro enquanto João realizaria outros
crimes utilizando o carro subtraído. Depois de João ter saído, Ricardo e Maria
tentaram fugir e Pedro atirou nas vítimas, que acabaram morrendo. João pretendia
responder apenas por roubo majorado (art. 157, § 2º, I e II) alegando que não
participou nem queria a morte das vítimas, devendo, portanto, ser aplicado o art.
29, § 2º do CP. O STF, contudo, não acatou a tese. Isso porque João assumiu o risco
de produzir resultado mais grave, ciente de que atuava em crime de roubo, no qual
as vítimas foram mantidas em cárcere sob a mira de arma de fogo.
STF. 1ª Turma. RHC 133575/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 21/2/2017 (Info 855).
OBS: Imagine a seguinte situação adaptada: João e Pedro combinaram de roubar um
carro utilizando arma de fogo. Eles abordaram, então, Ricardo e Maria quando o casal
entrava no veículo que estava estacionado. Os assaltantes levaram as vítimas para um
barraco no morro. Pedro ficou responsável por vigiar o casal no cativeiro enquanto
João realizaria outros crimes utilizando o carro subtraído. Depois de João ter saído,
Ricardo e Maria tentaram fugir e Pedro atirou nas vítimas, que acabaram morrendo.

Qual foi o crime praticado por Pedro? Latrocínio (art. 157, § 3º, 2ª parte) em concurso
com sequestro e cárcere privado (art. 148 do CP):
Art. 157 (...)
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de
reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta
morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da
multa.
Art. 148. Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro
ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de um a três anos.

João também foi denunciado por latrocínio, mas alegou em sua defesa que deveria
responder apenas por roubo majorado (art. 157, § 2º, I e II), considerando que não
participou nem queria a morte das vítimas, devendo, portanto, ser aplicado o art. 29,
§ 2º do CP. A tese de João foi aceita pelo STF? NÃO. O art. 29, § 2º prevê:
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime
menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será
aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave.

No caso concreto, o juiz sentenciante julgou que o réu contribuiu ativamente para a
realização do delito, em unidade de desígnios e mediante divisão de tarefas, com
pleno domínio do fato. O STF entendeu que a decisão do magistrado foi correta.
Segundo decidiu a Corte:
Aquele que se associa a comparsa para a prática de roubo,
sobrevindo a morte da vítima, responde pelo crime de
latrocínio, ainda que não tenha sido o autor do disparo fatal
ou que sua participação se revele de menor importância. O
agente assumiu o risco de produzir resultado mais grave,
ciente de que atuava em crime de roubo, no qual as vítimas
foram mantidas em cárcere sob a mira de arma de fogo. STF.
1ª Turma. RHC 133575/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 21/2/2017 (Info 855).

No caso concreto, o magistrado sentenciante utilizou a seguinte argumentação: No


concurso de pessoas não é necessário que todos os agentes pratiquem os mesmos atos
executivos, sendo suficiente o encontro de vontades para a prática da infração penal.
Assim, embora não existam provas de que João tenha ordenado que o corréu Pedro
matasse as vítimas, não há dúvidas de que ele assumiu o risco de produzir o resultado
mais grave, pois, após terem juntos praticado a subtração e mantido os ofendidos em
cárcere, os deixou com seu comparsa enquanto levava o veículo para a prática de
outros crimes.

Assim, João tinha domínio do fato e sua conduta não pode ser considerada meramente
acessória ou de menor importância, estando ciente de que atuava em um roubo, no
qual as vítimas era mantidas em cárcere sob a mira de uma arma de fogo, tendo anuído
e aderido à conduta violenta do corréu, sendo a sua ação fundamental para a
concretização da subtração do patrimônio visado.

Não tendo havido rompimento do liame subjetivo entre os agentes, não há que se falar
em participação de menor importância, tampouco em responsabilização por crime
menos grave, pois em se tratando de roubo, respondem pelo resultado morte todos
aqueles que, mesmo não tendo de mão própria realizado o ato letal, planejaram e
executaram o tipo básico, assumindo o risco do resultado mais grave durante a ação
criminosa.

15. DANO
15.1. Destruição de acessões feitas em terras indígenas pode configurar dano
qualificado – (Info 760)

Se um indivíduo que tinha uma fazenda em uma terra indígena, ao receber ordem
para desocupar o local, destrói as acessões (construções e plantações) que havia
feito no local, ele pratica, em tese, o delito de dano qualificado (art. 163, parágrafo
único, III, do CP). Isso porque essas terras pertencem à União (art. 20, XI, da CF/88),
de forma que, consequentemente, as acessões também são patrimônio público
federal.
STF. 2ª Turma. Inq 3670/RR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/9/2014 (Info
760).

16. ESTELIONATO
16.1. Estelionato e devolução da vantagem indevida antes do recebimento da
denúncia – (Info 796) – IMPORTANTE!!!

O art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal
realizado pelo réu é causa de extinção de sua punibilidade.
Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato causando prejuízo
aos cofres públicos. Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente
os danos produzidos. Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º, § 2º
da Lei 10.684/2003?
NÃO. A causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da
Lei nº 10.684/2003, relativamente ao pagamento integral do crédito tributário, não
se aplica ao delito de estelionato (CP, art. 171).
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras:
a) arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita
previdenciária); c) Art. 337-A do CP (sonegação de contribuição previdenciária).
Repare, portanto, que o estelionato (art. 171 do CP) não está listado nessa lei.

Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas
regras por analogia em favor do réu?
NÃO. O art. 9º da Lei 10.684/2003 somente abrange crimes tributários materiais,
delitos que são ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que
protegem bens jurídicos diferentes. Dessa forma, não há lacuna involuntária na lei
penal a demandar analogia.

O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal?
SIM. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento
posterior, tendo sua pena reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 18 do CP).
STF. 2ª Turma. RHC 126917/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 25/8/2015
(Info 796).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
24/3/2015 (Info 559).

17. APROPRIAÇÃO INDÉBITA


17.1. Ressarcimento do prejuízo em acordo homologado no juízo cível e sua
repercussão no processo criminal – (Info 793)

A advogada ficou com o dinheiro recebido pelo cliente e só devolveu a quantia


após ser demandada judicialmente e fazer acordo em ação de cobrança.
Vale ressaltar que, a esta altura, já havia um inquérito policial instaurado para
apurar eventual crime de apropriação indébita.
O STF, com base em peculiaridades do caso concreto, decidiu trancar a ação penal
por falta de justa causa.
Salientou-se que o acordo firmado no juízo cível que colocou fim à pendência
ocorreu em novembro de 2012 e a denúncia só foi formalizada quase um ano após.
Além disso, o juiz do processo cível determinou a comunicação à Delegacia de
Polícia sobre o acordo. Diante desses fatos, a 1ª Turma entendeu que a situação
seria excepcional e suficiente para se trancar a ação penal. Entendeu-se que a
relação jurídica cível repercute porque o acerto de contas se deu em data anterior à
propositura da ação penal.
STF. 1ª Turma. RHC 125283/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/8/2015 (Info
793).

18. RECEPTAÇÃO
18.1. Constitucionalidade do §1º do art. 180 do Código Penal

O STF entende que o § 1º do art. 180 do CP é CONSTITUCIONAL.


O objetivo do legislador ao criar a figura típica da receptação qualificada foi
justamente a de punir de forma mais gravosa o comerciante ou industrial que, em
razão do exercício de sua atividade, pratica alguma das condutas descritas no
referido § 1°, valendo-se de sua maior facilidade para tanto devido à infraestrutura
que lhe favorece.
O crime foi qualificado pelo legislador em razão da condição do agente que, por
sua atividade profissional, merece ser mais severamente punido com base na maior
reprovabilidade de sua conduta.
Para o STF, o § 1º do art. 180 pune tanto o agente que atua com dolo eventual como
também no caso de dolo direto.
STF. 1ª Turma. RHC 117143/RS, rel. Min. Rosa Weber, 25/6/2013.
19. CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
19.1. Bisavô é considerado ascendente para os fins da causa de aumento do
art. 226, II, do CP – (Info 866)

No caso de crimes contra a liberdade sexual (arts. 213 a 216-A) e crimes sexuais
contra vulnerável (arts. 217-A a 218-B), se o autor do delito for ascendente da vítima,
a pena deverá ser aumentada de metade (art. 226, II, do CP).
O bisavô está incluído dentro dessa expressão “ascendente”.
O bisavô está no terceiro grau da linha reta e não há nenhuma regra de limitação
quanto ao número de gerações.
Assim, se o bisavô pratica estupro de vulnerável contra sua bisneta, deverá incidir
a causa de aumento de pena prevista no art. 226, II, do CP.
STF. 2ª Turma. RHC 138717/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 23/5/17 (Info
866).
OBS:
Causa de aumento de pena: No caso de crimes contra a liberdade sexual (arts.
213 a 216-A) e crimes sexuais contra vulnerável (arts. 217-A a 218-B), se o autor
do delito for ascendente da vítima, a pena deverá ser aumentada de metade
(art. 226, II, do CP). É o que prevê o art. 226, II, do CP:
Art. 226. A pena é aumentada:
(...)
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou
madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
curador, preceptor ou empregador da vítima ou por
qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

O bisavô está incluído dentro dessa expressão “ascendente”? Claro. O bisavô


está no terceiro grau da linha reta e não há nenhuma regra de limitação quanto
ao número de gerações.

19.2. Passar as mãos nas coxas e seios da vítima – (Info 837)

O agente que passa as mãos nas coxas e seios da vítima menor de 14 anos, por
dentro de sua roupa, pratica, em tese, o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A
do CP).
Não importa que não tenha havido penetração vaginal (conjunção carnal).
STF. 1ª Turma. RHC 133121/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/o acórdão Min.
Edson Fachin j. 30/8/2016 (Info 837).

20. INCITAÇÃO AO CRIME


20.1. Deputado que, em entrevista à imprensa, afirma que determinada Deputada
"não merece ser estuprada" pratica, em tese, incitação ao crime (art. 286 do CP) – (Info
831)

O Deputado Federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) afirmou que a também Deputada


Federal, Maria do Rosário (PT-RS), “não merece ser estuprada por ser muito ruim,
muito feia, não faz meu gênero”. E acrescentou que, se fosse estuprador, "não iria
estuprá-la porque ela não merece".
O STF entendeu que a conduta do parlamentar configura, em tese, para fins de
recebimento de denúncia, o delito do art. 286 do CP (incitação ao crime): "Art. 286.
Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena - detenção, de três a seis meses, ou
multa."
A manifestação do Deputado tem o potencial de incitar outros homens a expor as
mulheres à fragilidade e à violência física, sexual, psicológica e moral,
considerando que foi proferida por um parlamentar, que não pode desconhecer os
tipos penais.
O crime de estupro tem consequências graves, e sua ameaça constante mantém
todas as mulheres em situação de subordinação. Portanto, discursos que
relativizam essa gravidade e a abjeção do delito contribuem para agravar a
vitimização secundária produzida pelo estupro.
O parlamentar, ao utilizar o vocábulo “merece” transformou o estupro em algo
como se fosse um prêmio, um favor, uma benesse à mulher. Além disso, transmitiu
a ideia de que as vítimas podem merecer os sofrimentos a elas infligidos pelo
estupro. Essa fala reflete os valores de uma sociedade desigual, que ainda tolera e
até incentiva a prática de atitudes machistas e defende a naturalidade de uma
posição superior do homem, nas mais diversas atividades.
Para que se consuma o tipo penal do art. 286 do CP, não é necessário que o agente
incentive, verbal e literalmente, a prática de determinado crime. Este delito pode
ser praticado por meio de qualquer conduta que seja apta a provocar ou a reforçar
em terceiros a intenção da prática criminosa.
Ademais, o delito do art. 286 do CP é crime formal, de perigo abstrato, e independe
da produção de resultado. Além disso, não exige o fim especial de agir, mas apenas
o "dolo genérico", consistente na consciência de que o comportamento do agente
instigará outros a praticar crimes.
No caso, a frase do parlamentar tem potencial para estimular a perspectiva da
superioridade masculina e a intimidação da mulher pela ameaça de uso da
violência. Assim, a afirmação pública do Deputado tem, em tese, o potencial de
reforçar a ideia eventualmente existente em outros homens de praticarem violência
contra a mulher.
STF. 1ª Turma. Inq 3932/DF e Pet 5243/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em
21/6/2016 (Info 831).

21. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO


21.1. Prefeito que insere artigo em projeto de lei aprovado pelo Parlamento – (Info
832)

Prefeito que, ao sancionar lei aprovada pela Câmara dos Vereadores, inclui artigo
que não constava originalmente no projeto votado pratica o crime de falsificação
de documento público (art. 297, § 1º do CP).
No momento da dosimetria, o fato de o réu ser Prefeito não pode ser utilizado como
circunstância desfavorável para aumentar a pena-base na primeira fase e, em
seguida, ser empregado como causa de aumento do § 1º do art. 297 do CP. Se ele for
utilizado duas vezes, haverá bis in idem.
Assim, essa circunstância (condição de Prefeito) deve ser considerada apenas uma
vez, na terceira fase da pena, como majorante (causa de aumento).
STF. 1ª Turma. AP 971/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, j. 28/6/2016 (Info 832).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: A Câmara dos Vereadores aprovou
determinada lei municipal. João, Prefeito, quando foi sancionar a lei, incluiu um artigo
que não constava originalmente no projeto aprovado pelo Parlamento. O objetivo foi
possibilitar a prorrogação da dotação orçamentária sem a necessidade de nova
aprovação legislativa.

Qual foi o delito praticado pelo Prefeito? Falsificação de documento público, previsto
no art. 297, § 1º do CP:
Art. 297. Falsificar, no todo ou em parte, documento público,
ou alterar documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime
prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

O Tribunal aumentou a pena na primeira fase da dosimetria (circunstâncias judiciais)


alegando que a culpabilidade do réu era intensa, já que ele, na qualidade de Prefeito,
deveria respeitar a vontade do Poder Legislativo. Além disso, aplicou-se a majorante
do § 1º do art. 297 do CP. Esta dosimetria foi feita corretamente? NÃO. Houve bis in
idem. Como a regra do art. 297, § 1º, do CP, estabelece que a pena deve ser aumentada
de um sexto quando o agente for funcionário público e cometer o crime prevalecendo-
se do cargo, essa circunstância deveria ser considerada apenas por ocasião da
majorante, na terceira fase da dosimetria e não na primeira fase.

22. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR


22.1. Falsidade de contrato social para ocultar o verdadeiro sócio – (Info 758)

O contrato social de uma sociedade empresária é documento particular. Assim, caso


seja falsificado, haverá o crime de falsificação de documento particular (e não de
documento público).
Não se pode condenar o réu pelo crime de uso de documento falso quando ele
próprio foi quem fez a falsificação do documento. A pessoa deverá ser condenada
apenas pela falsidade, e o uso do documento falso configura mero exaurimento do
crime de falso.
STF. 1ª Turma. AP 530/MS, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 9/9/2014 (Info 758).

23. FALSIDADE IDEOLÓGICA


23.1. Necessidade de prova de que o Prefeito que assinou documentos do Município
tinha ciência inequívoca de que a declaração era falsa – (Info 868)

Prefeito que assina documentos previdenciários com conteúdo parcialmente falso


não deve ser condenado por falsidade ideológica se não foram produzidas provas
de que ele tinha ciência inequívoca do conteúdo inverídico da declaração. Neste
caso, ele deverá ser absolvido, nos termos do art. 386, III, do CPP, por ausência de
dolo, o que exclui o crime.
STF. 1ª Turma. AP 931/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 6/6/2017 (Info 868).

23.2. Pratica falsidade ideológica (art. 299 do CP) o candidato que deixa de
contabilizar despesas em sua prestação de contas no TER – (Info 765)
Determinado Parlamentar federal, quando foi candidato ao Senado, ao entregar a
prestação de contas ao TRE, deixou de contabilizar despesas com banners e cartazes
no valor de 15 mil reais.
O STF considerou que havia indícios suficientes para receber a denúncia contra ele
formulada e iniciar um processo penal para apurar a prática do crime de falsidade
ideológica (art. 299 do CP).
STF. 1ª Turma. Inq 3767/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 28/10/2014 (Info
765).

24. CRIME DE ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO


AUTOMOTOR (ART. 311 DO CP)
24.1. Colocação de fita adesiva ou isolante para alterar o número ou as letras da placa
do carro

Segundo a jurisprudência atual do STJ e do STF, a conduta de colocar uma fita


adesiva ou isolante para alterar o número ou as letras da placa do carro e, assim,
evitar multas, pedágio, rodízio etc, configura o delito do art. 311 do CP.
STF. 2ª Turma. RHC 116371/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/8/2013.

25. PECULATO
25.1. STF recebeu denúncia contra o Senador Renan Calheiros em razão de ter
desviado recursos públicos da verba parlamentar para pagamento de pensão
alimentícia à filha – (Info 849)

O MP ofereceu denúncia contra o Senador Renan Calheiros pelas seguintes


condutas:
 o denunciado teria desviado recursos públicos da chamada verba
indenizatória (destinada a despesas relacionadas ao exercício do mandato
parlamentar) para pagar pensão alimentícia à filha. Com isso, teria praticado
peculato (art. 312 do CP).
 além disso, ele teria inserido e feito inserir, em documentos públicos e
particulares, informações diversas das que deveriam ser escritas, com o
propósito de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante (sua
capacidade financeira para custear despesas da referida pensão). Isso
porque o parlamentar, ao prestar contas dos valores recebidos a título de
verba indenizatória, teria apresentado notas fiscais fictícias, ou seja, de
serviços que não teriam sido prestados. Ademais, ele teria apresentado
livros-caixa de suas atividades como pecuarista com informações
supostamente falsas. Por conta desses fatos, foi denunciado pelos crimes de
falsidade ideológica (art. 299) e de uso de documento falso (art. 304).
Quanto ao art. 312 do CP, a denúncia foi recebida porque o STF entendeu estarem
presentes indícios de autoria e materialidade minimamente suficientes.
No que tange aos arts. 299 e 304 do CP, a denúncia foi rejeitada em virtude de os
delitos imputados estarem prescritos.
STF. Plenário. Inq 2593/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 1º/12/16 (Info 849).

25.2. Deputado Federal que utiliza do trabalho de assessor parlamentar para


serviços particulares pratica crime de peculato? – (Info 834)
O servidor público (ex: um Deputado Federal) que se utiliza do trabalho de outro
servidor público (ex: assessor parlamentar) para lhe prestar serviços particulares
pratica crime de peculato (art. 312 do CP)?
Situação 1. Servidor público que se utiliza da mão-de-obra de outro servidor
público (normalmente seu subordinado) para, em determinados momentos, fazer
com que este preste serviços particulares a ele. Esta conduta não configura peculato
nem qualquer outro crime. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. Inq 3776, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 07/10/2014. Atenção: se o indivíduo que se utilizou do servidor
público for Prefeito, ele cometerá o delito do art. 1º, II, do DL 201/67.

Situação 2. Servidor público que utiliza a Administração Pública para pagar o


salário de empregado particular. Aqui o chefe contrata um indivíduo supostamente
para ser servidor público (cargo comissionado), mas, na verdade, ele manda que a
pessoa contratada preste exclusivamente serviços particulares ao seu superior. Esta
conduta, em tese, configura peculato. Isso porque o dinheiro público está sendo
desviado para o pagamento de um "servidor" que, formalmente está vinculado à
Administração Pública, mas que, na prática, apenas executa serviços para outro
servidor público no interesse particular deste último.

Caso concreto: o Deputado Federal Celso Russomanno (PRB-SP) contratou para o


cargo de secretária parlamentar, com remuneração paga pela Câmara dos
Deputados, a senhora "SJ". Ocorre que, de acordo com a acusação, "SJ" trabalhava,
na verdade, não na Câmara, mas sim na produtora de vídeo do Deputado, em São
Paulo. Assim, para o MP, o Deputado utilizou a assessora para o exercício de
atividade privada, embora recebendo pelos cofres públicos. A 2ª Turma do STF
absolveu o réu. Segundo ficou decidido, "SJ", ainda que tenha exercido algumas
atividades de interesse particular do Deputado na produtora, dedicou-se
preponderantemente ao cargo de secretária parlamentar no escritório político de
Celso Russomano em São Paulo, atendendo cidadãos que se sentiam lesados em
suas relações de consumo. Assim, a prova dos autos demonstrou que “SJ” exercia
as atribuições inerentes ao cargo de assessora parlamentar, ainda que também,
algumas vezes, desempenhasse outras atividades no estrito interesse particular do
parlamentar. Dessa forma, pela prova colhida, a conduta do Deputado foi
penalmente atípica, uma vez que consistiu no uso de funcionário público que, de
fato, exercia as atribuições inerentes ao seu cargo para, também, prestar outros
serviços de natureza privada. Em outras palavras, o caso de Russomano se
enquadrou na situação 1 acima explicada.
STF. 2ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias
Toffoli, j. 9/8/2016 (Info 834).
OBS:
Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor
ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que
tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Usar servidor público em atividade privada X usar a Administração para pagar


salário de empregado privado: Existe, portanto, diferença entre usar funcionário
público em atividade privada e usar a Administração Pública para pagar salário de
empregado particular. O primeiro é conduta atípica (salvo para o Prefeito). O segundo
configura peculato.
A utilização dos serviços de um funcionário público por outro funcionário público no
seu interesse particular não é conduta típica na órbita penal, por não encontrar perfeita
subsunção ao art. 312 do CP.
Este tipo penal descreve como criminosa a conduta consistente em apropriar-se ou
desviar em proveito próprio ou alheio "dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel",
público ou particular.
A utilização, em proveito próprio ou alheio, dos serviços executados por quem é
remunerado pelos cofres públicos não se configura em desvio ou apropriação de bem
móvel. Não se pode, sob pena de malferir o princípio da taxatividade (art. 5º, XXXIX,
da CF/88) ampliar o tipo penal para situações que estritamente não se amoldem a ele.
Situação diversa ocorre quando o dinheiro público é desviado para o pagamento de
empregado que, apenas formalmente, está vinculado à Administração Pública, mas
que, na verdade, desempenha e executa serviços para outro servidor público no
interesse particular deste último.
O objeto material do peculato, nessas situações, é o valor desviado para o pagamento
do salário.
Nessas hipóteses, tem-se um pseudo funcionário público, que, na verdade, é um
empregado privado de um outro funcionário, o qual está formalmente na condição de
funcionário apenas como meio para o desvio do dinheiro público utilizado no
pagamento de seus salários.
(STF. 1ª Turma. Inq 3776, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 07/10/2014)

26. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA


26.1. Denunciação caluniosa exige dolo direto do agente – (Info 753)

Para configuração do delito de denunciação caluniosa, exige-se que o agente saiba


que a pessoa é inocente, ou seja, é necessário dolo direto.
O simples fato de a pessoa “investigada” ou “denunciada” ter sido absolvida não
significa que o autor da “denúncia” deverá responder por denunciação caluniosa,
sendo necessário comprovar a sua má-fé, ou seja, que a sua única intenção era a de
atribuir fato criminoso a pessoa que ele sabia ser inocente.
STF. 1ª Turma. Inq 3133/AC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/8/2014 (Info 753).

27. FUNCIONÁRIO PÚBLICO


27.1. Causa de aumento do art. 327, § 2º, do CP – (Info 816)

O simples fato de o réu exercer um mandato popular não é suficiente para fazer
incidir a causa de aumento do art. 327, § 2º, do CP. É necessário que ele ocupe uma
posição de superior hierárquico (o STF chamou de "imposição hierárquica").
STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e 03/03/2016
(Info 816).

27.2. Causa de aumento do art. 327, § 2º do CP – (Info 757)

A causa de aumento de pena prevista no § 2º do art. 327 do CP aplica-se ao Chefe


do Poder Executivo (ex: Governador do Estado) e aos demais agentes políticos.
STF. Plenário. Inq 2606/MT, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/9/2014 (Info 757).
OBS:
Essa causa de aumento aplica-se também para agentes políticos detentores de
mandato eletivo? SIM. É o caso, por exemplo, de um Governador do Estado que,
valendo-se de seu cargo, pratique crime contra a Administração Pública. Como ele
desempenha uma função de direção do Estado, contra ele incidirá a causa de aumento
do § 2º do art. 327 do CP.

27.3. Agentes detentores de mandato eletivo (agentes políticos)

A causa de aumento prevista no § 2º do art. 327 do Código Penal é aplicada aos


agentes detentores de mandato eletivo (agentes políticos).
STF. 2ª Turma. RHC 110513/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 29/5/2012.

28. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


28.1. Receber propina sob o disfarce de doações eleitorais oficiais e tipificação penal
– (Info 856)

Determinado Senador solicitou e recebeu de uma construtora R$ 500 mil, valor


destinado à sua campanha política. A quantia foi repassada pela construtora não
diretamente ao Senador, mas sim ao partido político, como se fossem doações
eleitorais oficiais. Ao pedir o valor, o Senador teria se comprometido com a
construtora a manter João como Diretor da Petrobrás.
Isso era de interesse da construtora porque João, em nome da estatal, celebrava
contratos fraudulentos com a empresa. O Senador foi reeleito e, com sua influência
decorrente do cargo, conseguiu manter João na Diretoria.
Em um juízo preliminar, para fins de recebimento da denúncia, o STF entendeu
que a conduta do Senador, em tese, configura a prática dos seguintes crimes:
 Corrupção passiva (art. 317, caput e § 1º, do CP);
 Lavagem de dinheiro (art. 1º, caput, da Lei nº 9.613/98).
STF. 2ª Turma. Inq 3982/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 7/3/2017 (Info 856).
OBS:
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-
la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da
vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever
funcional.

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,


disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos
ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração
penal.

Segundo entendeu o STF, o repasse de propina ao parlamentar teve por finalidade a


manutenção do Diretor no cargo, fosse pela não interferência nessa nomeação e no
funcionamento do esquema criminoso, fosse pelo apoio político, para sua sustentação,
por parte do parlamentar, forte candidato à reeleição e nome de relevo de partido
político, agremiação partidária da base do Governo Federal e uma das responsáveis
pela Diretoria de Abastecimento da estatal.
A propina foi paga sob o disfarce de doações eleitorais “oficiais” realizadas por
empresa empreiteira que fazia parte do esquema criminoso em questão em favor do
diretório estadual do partido do parlamentar.
Os Ministros entenderam que havia indícios suficientes para o recebimento da
denúncia.

Se condenado, o Senador poderá receber a causa de aumento de pena prevista no art.


327, § 2º do CP? NÃO. O § 2º do art. 327 do CP prevê:
Art. 327 (...)
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores
dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de
cargos em comissão ou de função de direção ou
assessoramento de órgão da administração direta, sociedade
de economia mista, empresa pública ou fundação instituída
pelo poder público.

Conforme a jurisprudência pacífica do STF:


O simples fato de o réu exercer um mandato popular não é
suficiente para fazer incidir a causa de aumento do art. 327, §
2º, do CP. É necessário que ele ocupe uma posição de superior
hierárquico (o STF chama de "imposição hierárquica").
STF. 2ª Turma. Inq 3982/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 7/3/2017 (Info 856).

No caso concreto, o Senador não exercia função de superior hierárquico na Petrobrás,


de forma que não se deve aplicar a referida causa de aumento.

28.2. Empréstimos consignados retidos pelo Município e dinheiro utilizado para


pagamento de despesas da Administração, sem repasse ao banco mutuante – (Info 826)

Diversos servidores municipais tinham empréstimos consignados cujos valores


eram descontados da folha de pagamento. O Prefeito ordenou que fosse feita a
retenção, mas que tais valores não fossem repassados à instituição e sim gastos com
o pagamento de despesas do Município. Isso foi feito no último ano do mandato
do Prefeito, quando não havia mais recursos para pagar o banco, o que só foi feito
no mandato seguinte.
O STF entendeu que, nesta situação, restou configurada a prática de dois delitos:
arts. 312 e 359-C do Código Penal.
STF. 1ª Turma. AP 916/AP, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 17/5/16 (Info 826).
OBS:
Peculato-desvio, delito previsto no art. 312 do CP e também do art. 359-C do CP:

Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor


ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que
tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos
dois últimos quadrimestres do último ano do mandato ou
legislatura, cuja despesa não possa ser paga no mesmo
exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no
exercício seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de
disponibilidade de caixa:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

28.3. Desvio de recursos de convênio e sua aplicação em finalidade diversa – (Info


813)

Secretária de Estado que desvia verbas de convênio federal que tinha destinação
específica e as utiliza para pagamento da folha de servidores não pratica o crime de
peculato (art. 312 do CP), mas sim o delito de emprego irregular de verbas ou rendas
públicas (art. 315).
STF. 2ª Turma. Inq 3731/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2016 (Info
813).
OBS: A 2ª Turma do STF rejeitou a alegação de prática de peculato, uma vez que os
recursos desviados foram incorporados ao Tesouro estadual, não havendo utilização
em proveito próprio ou alheio. O STF reconheceu que a conduta da Secretária amolda-
se, em tese, ao crime do art. 315 do CP. No caso concreto, contudo, já havia ocorrido a
prescrição quanto ao delito do art. 315 do CP.

29. CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS


29.1. Ordenação de despesa não autorizada (art. 359-D do CP) – (Info 760)

O art. 359-D do CP prevê, como crime, ordenar despesa não autorizada por lei. Não
comete esse delito o Governador do Estado que faz o remanejamento das verbas
destinadas aos precatórios para outras despesas do Poder Judiciário se a legislação
estadual dava margem para intepretações de que isso seria permitido.
STF. 1ª Turma. Inq 3393/PB, Rel. Min. Luiz Fux, j. 23/9/2014 (Info 760).

30. LEI DE DROGAS


30.1. A grande quantidade de droga, isoladamente, não constitui fundamento
idôneo para afastar a causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º da LD – (Info 866)

Se o réu é primário e possui bons antecedentes, o juiz pode, mesmo assim, negar o
benefício do art. 33, § 4º da LD argumentando que a quantidade de drogas
encontrada com ele foi muito elevada?
O tema é polêmico.

 1ª Turma do STF: encontramos precedentes afirmando que a grande


quantidade de droga pode ser utilizada como circunstância para afastar o
benefício. Nesse sentido: não é crível que o réu, surpreendido com mais de
500 kg de maconha, não esteja integrado, de alguma forma, a organização
criminosa, circunstância que justifica o afastamento da causa de diminuição
prevista no art. 33, §4º, da Lei de Drogas (HC 130981/MS, Rel. Min. Marco
Aurélio, j. 18/10/16. Info 844).
 2ª Turma do STF: a quantidade de drogas encontrada não constitui,
isoladamente, fundamento idôneo para negar o benefício da redução da
pena previsto no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (RHC 138715/MS, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/5/2017. Info 866).
STF. 2ª Turma. RHC 138715/MS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 23/5/17 (Info
866).

Obs: o tema acima não deveria ser cobrado em uma prova objetiva, mas caso seja
perguntado, penso que a 2ª corrente é majoritária.

30.2. CONFISCO DE BENS: O confisco de bens apreendidos em decorrência do


tráfico pode ocorrer ainda que o bem não fosse utilizado de forma habitual e mesmo
que ele não tenha sido alterado – (Info 865)

É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em


decorrência do tráfico de drogas, sem a necessidade de se perquirir a habitualidade,
reiteração do uso do bem para tal finalidade, a sua modificação para dificultar a
descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito
além daqueles previstos expressamente no art. 243, parágrafo único, da
Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 638491/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17/5/17 (repercussão geral) (Info
865).
OBS: Art. 243, § único, CF:
Art. 243 (...)
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico
apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes
e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será
confiscado e reverterá a fundo especial com destinação
específica, na forma da lei. (Redação dada pela EC 81/2014)

Mandados constitucionais de criminalização: Os preceitos constitucionais sobre o


tráfico de drogas e o respectivo confisco de bens constituem parte dos mandados de
criminalização previstos pelo poder constituinte originário a exigir uma atuação
enérgica do Estado sobre o tema, sob pena de o ordenamento jurídico brasileiro
incorrer em proteção deficiente dos direitos fundamentais.

Princípios da unidade e da supremacia da Constituição: O confisco previsto no art.


243, parágrafo único, da CF/88, deve ser interpretado à luz dos princípios da unidade
e da supremacia da Constituição, ou seja, não se pode ler o direito de propriedade em
separado, sem considerar a restrição feita a esse direito. Assim, a habitualidade do uso
do bem na prática criminosa ou sua adulteração para dificultar a descoberta do local
de acondicionamento não são pressupostos para o confisco de bens.

Confisco de bens previsto na legislação infraconstitucional: O julgado acima foi


proferido tendo como parâmetro de exame unicamente o texto do art. 243, parágrafo
único, da CF/88. No entanto, que, para a explicação ficar completa, seja necessário
mencionar que a legislação infraconstitucional também prevê hipóteses de confisco
dos bens.

É o caso, por exemplo, do Código Penal:


Art. 91. São efeitos da condenação:
(...)
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado
ou de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas
cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato
ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que
constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato
criminoso.

A Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) também traz uma previsão nesse sentido:
Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer
outros meios de transporte, os maquinários, utensílios,
instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para
a prática dos crimes definidos nesta Lei, após a sua regular
apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia
judiciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma
de legislação específica.
(...)

Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre


o perdimento do produto, bem ou valor apreendido,
sequestrado ou declarado indisponível.

30.3. Se o réu, não reincidente, for condenado a pena superior a 4 anos e que não
exceda a 8 anos, e se as circunstâncias judiciais forem favoráveis, o juiz deverá fixar o
regime semiaberto – (Info 859)

O condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda a 8
anos, tem o direito de cumprir a pena corporal em regime semiaberto (art. 33, § 2°,
b, do CP), caso as circunstâncias judiciais do art. 59 lhe forem favoráveis.

Obs: não importa que a condenação tenha sido por tráfico de drogas.

A imposição de regime de cumprimento de pena mais gravoso deve ser


fundamentada, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime,
bem como ao comportamento da vítima (art. 33, § 3°, do CP)
A gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para justificar a
fixação do regime mais gravoso.
STF. 2ª Turma. HC 140441/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 28/3/17 (Info
859).
OBS:
A situação em tela se amolda ao art. 33, § 2º, "c", do Código Penal, que é aplicável
também aos condenados por tráfico de drogas:
Art. 33 (...)
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas
em forma progressiva, segundo o mérito do condenado,
observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de
transferência a regime mais rigoroso:
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou
inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em
regime aberto.

Mas o § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90 afirma que o regime inicial no caso de crimes
hediondos e equiparados deverá ser o fechado... O STF decidiu que o § 1º do art. 2º da
Lei nº 8.072/90, ao impor o regime inicial fechado, é inconstitucional. HC 111.840/ES,
Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 27/6/2012 (Info 672).

Assim, o regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (ex:
tráfico de drogas) não tem que ser obrigatoriamente o fechado, podendo ser também
o regime semiaberto ou aberto, desde que presentes os requisitos do art. 33, § 2º,
alíneas “b” e “c”, do Código Penal.
Logo, o juiz poderá condenar o réu por crime hediondo ou equiparado e fixar o regime
semiaberto ou aberto, desde que cumpridos os requisitos do Código Penal.

30.4. Ocorrendo o tráfico de drogas nas imediações de presídio, incidirá a causa de


aumento do art. 40, III, da LD, não importando quem seja o comprador – (Info 858) –
IMPORTANTE!!!

Se o agente vende a droga nas imediações de um presídio, mas o comprador não


era um dos detentos nem qualquer pessoa que estava frequentando o presídio,
ainda assim deverá incidir a causa de aumento do art. 40, III, da Lei 11.343/06?
SIM. A aplicação da causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei 11.343/06 se
justifica quando constatada a comercialização de drogas nas dependências ou
imediações de estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante se o agente infrator
visa ou não aos frequentadores daquele local.
Assim, se o tráfico de drogas ocorrer nas imediações de um estabelecimento
prisional, incidirá a causa de aumento, não importando quem seja o comprador do
entorpecente.
STF. 2ª Turma. HC 138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 21/3/17 (Info 858).
OBS:
A Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006), em seu art. 40, traz sete causas de aumento de
pena. Veja a hipótese do inciso III, com destaque para a parte grifada:
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são
aumentadas de um sexto a dois terços, se:
(...) III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou
imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou
hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais,
culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de
trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou
diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de
dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades
militares ou policiais ou em transportes públicos;

30.5. A grande quantidade de droga, isoladamente, não constitui fundamento


idôneo para afastar a causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º da LD – (Info 849)
Se o réu é primário e possui bons antecedentes, o juiz pode, mesmo assim, negar o
benefício do art. 33, § 4º da LD argumentando que a quantidade de drogas encontrada
com ele foi muito elevada? O tema é polêmico.
1ª Turma do STF: encontramos precedentes afirmando que a grande quantidade de
droga pode ser utilizada como circunstância para afastar o benefício. Nesse sentido:
não é crível que o réu, surpreendido com mais de 500 kg de maconha, não esteja
integrado, de alguma forma, a organização criminosa, circunstância que justifica o
afastamento da causa de diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei de Drogas (HC
130981/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/10/2016. Info 844).
2ª Turma do STF: a quantidade de drogas encontrada não constitui, isoladamente,
fundamento idôneo para negar o benefício da redução da pena previsto no art. 33,
§ 4º, da Lei 11.343/06 (HC 138138/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/11/16.
Info 849).
STF. 2ª Turma. HC 138138/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/11/16 (Info
849).

30.6. A grande quantidade de droga pode justificar o afastamento da causa de


diminuição de pena do art. 33, § 4º da LD – (Info 844)

Não é crível que o réu, surpreendido com mais de 500 kg de maconha, não esteja
integrado, de alguma forma, a organização criminosa, circunstância que justifica o
afastamento da causa de diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei de Drogas.
STF. 1ª Turma. HC 130981/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 18/10/16 (Info 844).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi preso enquanto transportava 500kg
de maconha, tendo sido denunciado pela prática de tráfico de drogas (art. 33, caput,
da Lei 11.343/06). A defesa alegou que o réu é primário, possui bons antecedentes e
que agiu na condição de “mula”, de forma que merece ser beneficiado com a
minorante prevista no § 4º do art. 33:

Art. 33 (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste


artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois
terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos,
desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não
se dedique às atividades criminosas nem integre organização
criminosa.

Requisitos para aplicação da causa de diminuição: Para que o juiz deixe de aplicar a
minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/06 é necessário que demonstre na
sentença a existência de conjunto probatório que possa afastar ao menos um dos
seguintes critérios, que são autônomos:
a) primariedade;
b) bons antecedentes;
c) não dedicação a atividades criminosas; e
d) não integração à organização criminosa.

Em suma, se o réu não preencher algum desses requisitos, não terá direito à
minorante.
O que são as chamadas “mulas”? “Mula” é o nome dado a pessoa, geralmente
primária e de bons antecedentes (para que não desperte suspeitas), que é cooptada
pelas quadrilhas de tráfico de drogas para que realize o transporte do entorpecente de
uma cidade, estado, país, para outros, em troca de uma contraprestação pecuniária,
ou por conta de ameaças. Normalmente, a droga é transportada pela “mula” de forma
dissimulada, escondida em fundos falsos de bolsas, junto ao corpo ou até mesmo em
cápsulas dentro do estômago da pessoa. A “mula” também é conhecida como “avião”
ou “transportador”.

É possível aplicar o § 4º do art. 33 da LD às “mulas”?


 STF: SIM. Segundo o entendimento que prevalece no STF é possível aplicar o
§ 4º do art. 33 da LD às “mulas”. O fato de o agente transportar droga, por si
só, não é suficiente para afirmar que ele integre a organização criminosa.
Assim, é possível aplicar a causa de diminuição, não se podendo fundamentar
tal negativa em mera suposição de que o réu se dedique a atividades
criminosas em face da quantidade de droga apreendida. Confira:
(...) O exercício da função de mula, embora indispensável para
o tráfico internacional, não traduz, por si só, adesão, em
caráter estável e permanente, à estrutura de organização
criminosa, até porque esse recrutamento pode ter por
finalidade um único transporte de droga. (...)
STF. 1ª Turma. HC 124107, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 04/11/14.

(...) A atuação da agente no transporte de droga, em atividade


denominada “mula”, por si só, não constitui pressuposto de
sua dedicação à prática delitiva ou de seu envolvimento com
organização criminosa. Impõe-se, para assim concluir, o
exame das circunstâncias da conduta, em observância ao
princípio constitucional da individualização da pena (art. 5º,
XLVI, da CF). (...)
STF. 2ª Turma. HC 131795, Rel. Min. Teori Zavascki, j.
03/05/16.

No mesmo sentido: STF. 1ª Turma. RHC 118008/SP, Rel. Min.


Rosa Weber, j. 24/9/13 (Info 721); STF. 1ª Turma. HC 124107,
Rel. Min. Dias Toffoli, j. 04/11/14.

 STJ: NÃO. O STJ possui vários precedentes afirmando que, em regra, a "mula"
integra a organização criminosa e, portanto, não faz jus ao benefício:
(...) O atual entendimento jurisprudencial do Pretório Excelso
e desta Corte Superior é no sentido de que, regra geral, o
agente que transporta drogas, na qualidade de 'mula' do
tráfico, integra organização criminosa. Na hipótese, a
concessão da minorante em sua fração mínima configura ato
benéfico, já que, considerando o entendimento ora firmado, o
recorrente sequer faria jus à tal redução. (...)
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1407115/SP, Rel. Min. Felix
Fischer, j. 18/08/16.

(...) A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme


em assinalar que o agente que transporta entorpecentes, no
exercício da função de "mula", integra organização criminosa,
o que afasta a incidência do § 4º do art. 33 da Lei n.
11.343/2006, de maneira que a atrair a incidência da Súmula
n. 83 do STJ. (...)
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 411.424/SP, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, j. 02/02/16.

Fique atento(a) como a redação do tema pode aparecer na sua prova. Na prática, o que
vale é a análise das circunstâncias do caso concreto, não sendo possível conceder ou
afastar a minorante pelo simples fato de o agente ter desempenhado a função de
"mula".

E no caso concreto acima relatado, o STF concordou com a tese da defesa? Deverá ser
concedido o benefício a João? NÃO. É o que foi decidido no Info 844 do STF. Desse
modo, o Tribunal entendeu que, embora primário, o agente transportava grande
quantidade de entorpecente o que demonstra envolvimento com a organização
criminosa. Existe outro precedente do STF no mesmo caminho:
(...) In casu, a paciente, na condição de “mula”, foi
surpreendida transportando expressiva quantidade de droga
ao exterior. Tal fato afasta o preenchimento dos requisitos do
art. 33, § 4°, da Lei de Drogas (...)
STF. 1ª Turma. HC 123430, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/10/14.

30.7. Regime inicial para condenado não reincidente a pena de até 4 anos com
circunstâncias judiciais favoráveis – (Infos 821 e 843) – (MPAM-2016) (TJRS-2016)

Se o réu, não reincidente, for condenado, por tráfico de drogas, a pena de até 4 anos,
e se as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP forem positivas (favoráveis), o juiz
deverá fixar o regime aberto e deverá conceder a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, preenchidos os requisitos do art. 44 do CP.
A gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para justificar a
fixação do regime mais gravoso.
STF. 1ª Turma. HC 129714/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 11/10/16 (Info 843).
STF. 1ª Turma. HC 130411/SP, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, j. 12/4/16 (Info
821). STF. 2ª Turma. HC 133028/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 12/4/16 (Info 821).
(MPAM-2016): Segundo o entendimento do STF, o crime de tráfico de drogas,
conforme o caso concreto, enseja a possibilidade de fixação de regime inicial
diferente do fechado, devendo o magistrado atentar à regra do artigo 33 do Código
Penal.

Imagine que o réu foi condenado a 1 ano e 8 meses de reclusão por tráfico de drogas
(art. 33 da LD). O juiz fixou o regime inicial semiaberto. Vale ressaltar que o
condenado era primário e as circunstâncias judiciais favoráveis a ele. Como
argumento para fixar o regime semiaberto, o juiz alegou que o crime de tráfico de
drogas é muito grave, sendo extremamente nocivo para a sociedade. Agiu
corretamente o magistrado? NÃO.

A situação em tela se amolda ao art. 33, § 2º, "c", do Código Penal, que é aplicável
também aos condenados por tráfico de drogas:
Art. 33 (...)
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas
em forma progressiva, segundo o mérito do condenado,
observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de
transferência a regime mais rigoroso:
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou
inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em
regime aberto.

Mas o § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90 afirma que o regime inicial no caso de crimes
hediondos e equiparados deverá ser o fechado... O STF decidiu que o § 1º do art. 2º da
Lei 8.072/90, ao impor o regime inicial fechado, é inconstitucional. STF. Plenário. HC
111.840/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 27/6/2012 (Info 672).

Assim, o regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (ex:
tráfico de drogas) não tem que ser obrigatoriamente o fechado, podendo ser também
o regime semiaberto ou aberto, desde que presentes os requisitos do art. 33, § 2º,
alíneas “b” e “c”, do Código Penal.
Logo, o juiz poderá condenar o réu por crime hediondo ou equiparado e fixar o regime
semiaberto ou aberto, desde que cumpridos os requisitos do Código Penal acima
explicados.

Obs: no caso do exemplo dado, o réu não foi condenado por crime hediondo ou
equiparado considerando que o STF entende que o chamado "tráfico privilegiado",
previsto no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/06 não deve ser considerado crime equiparado
a hediondo (HC 118533, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/06/2016. Info 831).

30.8. O crime de tráfico privilegiado de drogas não tem natureza hedionda – (Info
831) – IMPORTANTE!!! ATUALIZAR LIVROS!!!

O chamado tráfico privilegiado, previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei


de Drogas) não deve ser considerado crime de natureza hedionda.
STF. Plenário. HC 118533/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/06/2016.

O STJ possui um enunciado em sentido contrário (Súmula 512-STJ). Vejamos o que o


Tribunal irá decidir depois desta mudança de entendimento do STF.
Súmula 512-STJ: A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, §
4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas.
OBS:
Tráfico privilegiado: A Lei de Drogas prevê, em seu art. 33, § 4º, a figura do “traficante
privilegiado”, também chamada de “traficância menor” ou “traficância eventual”:

Art. 33 (...)
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as
penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços,
vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde
que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se
dedique às atividades criminosas nem integre organização
criminosa.
Qual é a natureza jurídica deste § 4º? Trata-se de uma causa de diminuição de pena.

Surgiu uma tese defensiva sustentando que o art. 33, § 4º da Lei 11.343/06 não seria
tão grave e, por isso, não poderia ser equiparado a hediondo. A jurisprudência atual
do STF acolhe esta posição? SIM. O principal argumento invocado pelo STF foi o de
que não seria proporcional tratar o tráfico privilegiado como equiparado a hediondo,
sendo esta conduta incompatível com a natureza hedionda. Além disso, foram feitas
considerações sobre política criminal, aumento da população carcerária etc.

Houve uma mudança de entendimento do STF? SIM. Houve um overruling, ou seja, a


superação de um entendimento jurisprudencial anterior da Corte. Antes deste
julgamento, o STF decidia que o § 4º do art. 33 da Lei 11343/06 era também equiparado
a hediondo. O argumento era o de que a causa de diminuição de pena prevista no art.
33, § 4º não constituía tipo penal distinto do caput do mesmo artigo, sendo o mesmo
crime, no entanto, com uma causa de diminuição. Em outras palavras, o § 4º não era
um delito diferente do caput. Logo, também deveria ser equiparado a hediondo. Nesse
sentido: STF. 1ª Turma. RHC 114842, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/02/14.

E o STJ? O STJ seguia o mesmo caminho do entendimento anterior do STF, ou seja,


também decidia que o § 4º do art. 33 seria equiparado a hediondo. A posição era tão
consolidada que o STJ editou um enunciado:

Súmula 512-STJ: A aplicação da causa de diminuição de pena


prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a
hediondez do crime de tráfico de drogas.

O que acontece agora com a Súmula 512 do STJ? Fica SUPERADA e, certamente, será
cancelada em breve. A decisão do STF foi tomada em um HC e, por isso, não possui
eficácia erga omnes e efeitos vinculantes. Apesar disso, como foi proferida pelo
Plenário, na prática, tem uma força de persuasão enorme e, por isso, é extremamente
provável que o STJ acompanhe o novo entendimento do STF e cancele a súmula
passando a também decidir que o § 4º do art. 33 não é equiparado a hediondo.

Na prática, o que muda para o réu condenado por tráfico privilegiado (art. 33, § 4º, da
LD)? Podemos apontar três mudanças principais:

Segundo a posição anterior Conforme o entendimento ATUAL


Não tinha direito à concessão de anistia, Passa a ter, em tese, direito à concessão
graça e indulto. de anistia, graça e indulto, desde que
cumpridos os demais requisitos.
Para a concessão do livramento Para a concessão do livramento
condicional, o condenado não podia ser condicional, o apenado deverá cumprir
reincidente específico em crimes 1/3 ou 1/2 da pena, a depender do fato
hediondos ou equiparados e teria que de ser ou não reincidente em crime
cumprir mais de 2/3 da pena. doloso.
Para que ocorresse a progressão de Para que ocorra a progressão de regime,
regime, o condenado deveria cumprir: o condenado deverá cumprir 1/6 da
- 2/5 da pena, se fosse primário; e pena.
- 3/5, se fosse reincidente.
Vale ressaltar, por fim, que a tese defensiva acolhida pelo STF e acima explicada foi
sustentada levada à Corte pela DPU.

30.9. Valoração negativa da natureza e quantidade da droga autoriza a fixação de


regime inicial de pena mais gravoso – (Info 819)

É legítima a fixação de regime inicial semiaberto, tendo em conta a quantidade e a


natureza do entorpecente, na hipótese em que ao condenado por tráfico de
entorpecentes tenha sido aplicada pena inferior a 4 anos de reclusão. A valoração
negativa da quantidade e da natureza da droga representa fator suficiente para a
fixação de regime inicial mais gravoso.
STF. 2ª Turma. HC 133308/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 29/3/2016 (Info
819).
OBS:
Imagine que o réu foi condenado a 3 anos de reclusão por tráfico de drogas (art. 33 da
LD). O juiz fixou o regime inicial semiaberto sob o argumento de que foi muito grande
a quantidade de droga comercializada e que se tratava de crack, substância
entorpecente cuja natureza é altamente viciante. Agiu corretamente o magistrado? Ele
poderia ter feito isso? SIM.

Segundo entendeu o STF, a decisão respeitou o disposto no art. 33, § 2º, “b”, e § 3º, do
CP c/c o art. 42 da Lei nº 11.343/2006:

CP/Art. 33 (...)
§ 2º As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em
forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os
seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a
regime mais rigoroso:
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro)
anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la
em regime semi-aberto;
(...)
§ 3º A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-
se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código.

LD/Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com


preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a
natureza e a quantidade da substância ou do produto, a
personalidade e a conduta social do agente.

Dessa forma, conjugando o § 3º do art. 33 do CP com o art. 42 da LD, é possível fixar


o regime inicial mais gravoso, no caso de tráfico, com base na natureza e quantidade
da droga.

Existem outros precedentes do STF no mesmo sentido:

(...) 1. É pacífico o entendimento do STF de que a natureza e a


quantidade da droga constituem motivação idônea para a
exasperação da pena-base, nos termos do art. 59 do Código Penal e
do art. 42 da Lei nº 11.343/06. Precedentes.
2. Como o regime inicial de cumprimento de pena deve observar o
disposto no art. 33, § 3º, do Código Penal, e no art. 42 da Lei nº
11.343/06, que expressamente remetem às circunstâncias do crime
(art. 59, CP) e à natureza e quantidade da droga, não há que se falar
em bis in idem na valoração negativa desses mesmos vetores na
majoração da pena-base e na fixação do regime prisional mais
gravoso. (...)
STF. 2ª Turma. HC 131887, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
02/02/2016.

(...) A valoração negativa da quantidade, natureza e diversidade do


entorpecente apreendido representa fator suficiente para a fixação
de regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade
mais gravoso e para obstar a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos. (...)
STF. 2ª Turma. HC 131761, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
02/02/2016.

(...) A determinação do regime inicial de cumprimento da pena deve


levar em conta dois fatores: (a) o quantum da reprimenda imposta
(CP, art. 33, § 2º); e (b) as condições pessoais do condenado
estabelecidas na primeira etapa da dosimetria (CP, art. 59 c/c art. 33
§ 3º). Nesse contexto, não há ilegalidade na decisão que, mediante
fundamentação jurídica adequada, estabelece o regime inicial mais
grave, como medida necessária e suficiente para reprovação e
prevenção do crime. (...)
STF. 2ª Turma. RHC 129811, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
24/11/2015.

30.10. Pureza da droga é irrelevante na dosimetria da pena – (Info 818) –


IMPORTANTE!!!

O grau de pureza da droga é irrelevante para fins de dosimetria da pena.


De acordo com a Lei 11343/06, preponderam apenas a natureza e a quantidade da
droga apreendida para o cálculo da dosimetria da pena.
STF. 2ª Turma. HC 132909/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2016 (Info
818).
OBS:
O juiz, ao condenar o réu por tráfico de drogas, no momento da dosimetria da pena,
poderá aumentar a pena-base (1ª fase) utilizando como argumento a natureza e a
quantidade do entorpecente? SIM. A natureza e quantidade da droga são fatores
preponderantes no momento da dosimetria da pena, conforme previsto
expressamente no art. 42 da Lei 11.343/2006:

Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com


preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a
natureza e a quantidade da substância ou do produto, a
personalidade e a conduta social do agente.
Algumas drogas são mais nocivas e têm maior potencial viciante do que outras. Ex: a
maconha é considerada uma substância entorpecente mais "leve"; por outro lado, a
heroína é altamente viciante. Assim, o juiz pode aumentar a pena-base (1ª fase da
dosimetria) sob o argumento de que a heroína possui alto potencial destrutivo. De
igual forma, se a quantidade da droga for muito grande, isso também poderá ser
utilizado como fundamento para se aumentar a pena-base.

E o grau de pureza da droga? Pode ser utilizado como argumento para aumentar ou
diminuir a reprimenda? NÃO. No caso concreto julgado, a defesa pediu ao juiz que
realizasse exame pericial para aferir o grau de pureza da droga, tendo sido indeferido
pelo magistrado. Diante da negativa, a defesa alegou que houve nulidade, pedido que
foi rejeitado pelo STF, que entendeu ser desnecessário determinar a pureza do
entorpecente.

30.11. A causa de aumento prevista no inciso V do art. 40 não exige a efetiva


transposição da fronteira (Info 808) – IMPORTANTE!!!

O art. 40, V, da Lei de Drogas prevê que a pena do tráfico e de outros delitos deverá
ser aumentada se ficar "caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre
estes e o Distrito Federal".
Para que incida essa causa de aumento não se exige a efetiva transposição da
fronteira interestadual pelo agente, sendo suficiente a comprovação de que a
substância tinha como destino localidade em outro Estado da Federação.
Ex: João pegou um ônibus em Campo Grande (MS) com destino a São Paulo (SP);
algumas horas depois, antes que o ônibus cruzasse a fronteira entre os dois Estados,
houve uma blitz da polícia no interior do coletivo, tendo sido encontrados 10kg de
cocaína na mochila de João, que confessou que iria levá-la para um traficante de
São Paulo.
STF. 1ª Turma. HC 122791/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info
808).

30.12. Tráfico privilegiado e “mulas” – (Info 766)

É possível aplicar o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas às “mulas”.


STF. 1ª Turma. HC 124107/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/11/2014 (Info
766).

30.13. Natureza e quantidade da droga: o mesmo fato só pode ser utilizado para
aumentar a pena base ou para analisar o benefício do tráfico privilegiado – (Info 759)
– IMPORTANTE!!!

A natureza e a quantidade da droga NÃO podem ser utilizadas para aumentar a


pena-base do réu e também para afastar o tráfico privilegiado (art. 33, § 4º) ou para,
reconhecendo-se o direito ao benefício, conceder ao réu uma menor redução de
pena. Haveria, nesse caso, bis in idem.
STF. 2ª Turma. RHC 122684/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 16/9/2014
(Info 759).
30.14. Dosimetria da pena no caso de tráfico de drogas – (Info 759)

Na dosimetria da pena de tráfico, o juiz não pode aumentar a pena base utilizando
como argumento o fato de terem sido encontradas muitas trouxinhas com o réu, se
o peso delas era pequeno (7,1 gramas), sendo esse fato preponderante.
De igual modo, o magistrado não pode aumentar a pena pelo simples fato de a
venda da droga ocorrer dentro da própria casa do condenado. Isso porque esse fato,
por si só, não enseja uma maior reprovabilidade da conduta delituosa.
Por fim, o julgador não pode aumentar a pena do réu porque este declarou, em seu
interrogatório, que era usuário frequente de droga. O uso contumaz de drogas não
pode ser empregado como indicativo de necessidade de agravamento da
reprimenda, visto que a conduta do réu que vende drogas para sustentar o próprio
vício é menos reprovável do que a daquele que pratica esse crime apenas com
intuito de lucro.
STF. 2ª Turma. RHC 122469/MS, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min.
Celso de Mello, julgado em 16/9/2014 (Info 759).

30.15. Droga transportada em transporte público e causa de aumento do art. 40 da Lei


11.343/2006 – (Info 749)

O art. 40, III, da Lei de Drogas prevê como causa de aumento de pena o fato de a
infração ser cometida em transportes públicos.
Se o agente leva a droga em transporte público, mas não a comercializa dentro do
meio de transporte, incidirá essa majorante?
1ª) SIM. Basta utilizar o transporte público para fazer circular a droga. É a posição
do STJ.
2ª) NÃO. Exige-se que haja comercialização no transporte público. É a posição do
STF.
STF. 1ª Turma. HC 119782, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 10/12/2013.
STF. 2ª Turma. HC 120624/MS, Red. p/ o acórdão, Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 3/6/2014 (Info 749).
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1392139/PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. em
19/09/2013.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1416431/PR, Min. Sebastião Reis Júnior, j. em
18/02/2014.

30.16. Vedação ao indulto para o traficante privilegiado – (Info 745) –


IMPORTANTE!!!

Não é possível o deferimento de indulto a réu condenado por tráfico de drogas,


ainda que tenha sido aplicada a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei
11.343/2006 à pena a ele imposta, circunstância que não altera a tipicidade do crime.
Os condenados por crimes hediondos e equiparados não podem ser contemplados
com o indulto, mesmo o chamado “indulto humanitário”.
O fato de o condenado estar doente ou ser acometido de deficiência não é causa de
extinção da punibilidade nem de suspensão da execução da pena.
STF. 2ª Turma. HC 118213/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 6/5/2014.
30.17. A NATUREZA E A QUANTIDADE DA DROGA PODEM SER UTILIZADAS
PARA AUMENTAR A PENA-BASE E TAMBÉM PARA AFASTAR O TRÁFICO
PRIVILEGIADO? – (Info 733)

A natureza e a quantidade da droga podem ser utilizadas para aumentar a pena-base


e também para afastar o tráfico privilegiado?
1ª corrente: SIM. Utiliza-se a mesma regra em finalidades e momentos distintos.
Posição do STJ.
2ª corrente: NÃO. Isso porque haveria, no caso, bis in idem. Posição do STF.
STF. Plenário. HC 112776/MS e HC 109193/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados
em 19/12/2013 (Info 733).

30.18. Dever ou não de demonstrar que a droga encontrada consigo seria utilizada
apenas para consumo próprio

O réu não tem o dever de demonstrar que a droga encontrada consigo seria
utilizada apenas para consumo próprio.
Cabe à acusação comprovar os elementos do tipo penal, ou seja, que a droga
apreendida era destinada ao tráfico. Ao Estado-acusador incumbe demonstrar a
configuração do tráfico, que não ocorre pelo simples fato dos réus terem comprado
e estarem na posse de entorpecente.
Em suma, se a pessoa é encontrada com drogas, cabe ao Ministério Público
comprovar que o entorpecente era destinado ao tráfico. Não fazendo esta prova,
prevalece a versão do réu de que a droga era para consumo próprio.
STF. 1ª Turma. HC 107448/MG, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 18.6.2013.

31. LEI MARIA DA PENHA


31.1. Impossibilidade de pena restritiva de direitos em caso de contravenção penal
envolvendo violência doméstica contra a mulher – (Info 884) – IMPORTANTE!!!

Cabe substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos em caso


de contravenção penal envolvendo violência doméstica contra a mulher?
NÃO. Posição majoritária do STF e Súmula 588 do STJ.
SIM. Existe um precedente da 2ª Turma do STF (HC 131160, Rel. Min. Teori
Zavascki, j. 18/10/16).
STF. 1ª Turma. HC 137888/MS, Rel. Min. Rosa Weber, j. 31/10/17 (Info 884).
OBS:
Cuidado: Decisão da 2ª Turma do STF:
Afirma que é possível a conversão da pena privativa de
liberdade por restritiva de direito, nos moldes previstos no art.
17 da Lei Maria da Penha, aos condenados pela prática de
contravenção penal. Isso porque a contravenção penal não
está na proibição contida no inciso I do art. 44 do CP, que fala
apenas em crime. Logo, não existe proibição no ordenamento
jurídico para a aplicação de pena restritiva de direitos em caso
de contravenções. Nesse sentido: STF. 2ª Turma. HC 131160,
Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/10/2016.
O STJ e a 1ª Turma do STF fazem, portanto, uma ampliação do inciso I do art. 44 do
CP para abranger também os casos de contravenção penal praticados com violência
ou grave ameaça (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1607382/MS, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, julgado em 27/09/2016). A 2ª Turma do STF não admite essa ampliação e
trabalha com o texto literal do art. 44, I, do CP.

Resumindo:
É possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos nos
casos de crimes ou contravenções praticadas contra a mulher com violência ou grave
ameaça no ambiente doméstico?
1) Crime: NÃO. Posição tanto do STJ como do STF.
2) Contravenção penal:
• 2ª Turma do STF: entende que é possível a substituição.
• 1ª Turma do STF e STJ: afirmam que também não é permitida a substituição.

Em concursos, se o enunciado não estiver fazendo qualquer distinção, fiquem com a


posição exposta na súmula e que também é adotada pela 1ª Turma do STF.

31.2. Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em violência


doméstica – (Info 825) – IMPORTANTE!!!

Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em situação de


violência doméstica.
Os delitos praticados com violência contra a mulher, devido à expressiva
ofensividade, periculosidade social, reprovabilidade do comportamento e lesão
jurídica causada, perdem a característica da bagatela e devem submeter-se ao
direito penal.
O STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da insignificância e da
bagatela imprópria aos crimes e contravenções praticados com violência ou grave
ameaça contra a mulher, no âmbito das relações domésticas, dada a relevância penal
da conduta.
O fato de o casal ter se reconciliado não significa atipicidade material da conduta
ou desnecessidade de pena.
STJ. 5ª Turma. HC 333.195/MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 12/4/2016.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 318.849/MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 27/10/15.
STF. 2ª Turma. RHC 133043/MT, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 10/5/16 (Info 825).

31.3. Impossibilidade de penas restritivas de direito – (Info 804)

Não é possível a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de


direitos ao condenado pela prática do crime de lesão corporal praticado em
ambiente doméstico (art. 129, § 9º do CP).
A substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos pressupõe,
entre outras coisas, que o crime não tenha sido cometido com violência ou grave
ameaça (art. 44, I, do CP).
STF. 2ª Turma. HC 129446/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 20/10/15 (Info 804).
31.4. Competência para o processamento de crimes dolosos contra a vida praticados
no contexto de violência doméstica – (Info 748)

A Lei de Organização Judiciária poderá prever que a 1ª fase do procedimento do


júri seja realizada na Vara de Violência Doméstica em caso de crimes dolosos
contra a vida praticados no contexto de violência doméstica. Não haverá usurpação
da competência constitucional do júri.
Apenas o julgamento propriamente dito é que, obrigatoriamente, deverá ser feito
no Tribunal do Júri.
STF. 2ª Turma. HC 102150/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/5/2014 (Info
748).

31.5. Princípio da Igualdade e proteção das mulheres

Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato de a Lei n.


11.340/06 ser voltada apenas à proteção das mulheres.
STF. Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012.

31.6. Crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher e a Lei
dos Juizados Especiais

Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher não se
aplica a Lei dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95), mesmo que a pena seja menor
que 2 anos.
STF. Plenário. ADI 4424/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012.

32. ESTATUTO DO DESARMAMENTO


32.1. Posse ou porte apenas da munição configura crime – (Info 844)

A posse (art. 12 da Lei 10.826/03) ou o porte (art. 14) de arma de fogo configura crime
mesmo que ela esteja desmuniciada. Da mesma forma, a posse ou o porte apenas
da munição (ou seja, desacompanhada da arma) configura crime. Isso porque tal
conduta consiste em crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa
o resultado concreto da ação.
STF. 1ª Turma. HC 131771/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 18/10/16 (Info 844).
OBS:
A posse ou o porte de arma de fogo desmuniciada configura crime? SIM. A posse (art.
12 da Lei 10.826/03) ou o porte (art. 14) de arma de fogo configura crime mesmo que
ela esteja desmuniciada. Trata-se, atualmente, de posição pacífica tanto no STF como
no STJ. Para a jurisprudência, a simples posse ou porte de arma, munição ou acessório
de uso permitido — sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar — configura os crimes previstos nos arts. 12 ou 14 da Lei 10.826/03. Isso
porque, por serem delitos de perigo abstrato, é irrelevante o fato de a arma apreendida
estar desacompanhada de munição, já que o bem jurídico tutelado é a segurança
pública e a paz social.
STJ. 3ª Seção. AgRg nos EAREsp 260.556/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j.
26/03/14.
STF. 2ª Turma. HC 95073/MS, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 19/3/13 (Info
699).

A posse ou porte apenas da munição configura crime? SIM. A posse ou o porte apenas
da munição (ou seja, desacompanhada da arma) configura crime. Isso porque tal
conduta consiste em crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa o
resultado concreto da ação. O objetivo do legislador foi o de antecipar a punição de
fatos que apresentam potencial lesivo à população, prevenindo a prática de crimes.
STF. 2ª Turma. HC 119154, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 26/11/13.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1442152/MG, Min. Maria Thereza de Assis Moura, j.
07/08/14.

32.2. Uso de munição como pingente e aplicação do princípio da insignificância –


(Info 826) – IMPORTANTE!!!

É atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente, munição


desacompanhada de arma.
STF. 2ª Turma. HC 133984/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 17/5/16 (Info 826).
Obs: vale ressaltar que, em regra, a jurisprudência não aplica o princípio da
insignificância aos crimes de posse ou porte de arma ou munição.
OBS:
A posse ou porte apenas da munição configura crime? SIM. A posse ou o porte apenas
da munição (ou seja, desacompanhada da arma) configura crime. Isso porque tal
conduta consiste em crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa o
resultado concreto da ação. O objetivo do legislador foi o de antecipar a punição de
fatos que apresentam potencial lesivo à população, prevenindo a prática de crimes.
STF. 2ª Turma.HC 119154, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/11/2013. STJ. 6ª
Turma. AgRg no REsp 1442152/MG, Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
07/08/2014.

Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de posse ou porte de arma ou


munição? Em regra não. O STJ possui posição consolidada no sentido de que o
princípio da insignificância não é aplicável aos crimes de posse e de porte de arma de
fogo, por se tratarem de crimes de perigo abstrato, sendo irrelevante inquirir a
quantidade de munição apreendida (STJ. 5ª Turma. HC 338.153/RS, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 03/05/2016).

Caso excepcional de uma munição utilizada como pingente: Os entendimentos acima


expostos configuram a regra geral e devem ser adotados nos concursos caso não seja
feito nenhum esclarecimento adicional. No entanto, em um caso concreto, o STF
reconheceu a incidência do princípio da insignificância para o crime de porte ilegal de
munição de uso restrito.

A situação foi a seguinte: determinado indivíduo foi parado em uma blitz e os


policiais encontraram em seu poder um cartucho de munição calibre 0.40, que é de
uso restrito.
Não foi encontrada nenhuma arma ou outras munições com o homem, que afirmou
que usaria o cartucho para fazer um pingente que utilizaria como colar. O indivíduo
foi denunciado pela prática do crime previsto no art. 16 da Lei 10826/03 (Estatuto do
Desarmamento). O STF aplicou o princípio da insignificância afirmando que as
peculiaridades do caso concreto justificavam a flexibilização do entendimento
tradicional da jurisprudência. Na situação julgada, o cartucho ainda seria utilizado
para fazer o pingente.

32.3. O porte ilegal de arma de fogo deve ser absorvido pelo crime de homicídio? –
(Info 775) – IMPORTANTE!!!

Se o agente, utilizando arma de fogo, atira e mata alguém, haverá homicídio e porte
de arma de fogo ou apenas homicídio? Se uma pessoa pratica homicídio com arma de
fogo, a acusação por porte deverá ser absorvida? Aplica-se o princípio da consunção?
Depende da situação:
 Situação 1: NÃO. O crime de porte não será absorvido se ficar provado nos
autos que o agente portava ilegalmente a arma de fogo em outras
oportunidades antes ou depois do homicídio e que ele não se utilizou da
arma tão somente para praticar o assassinato. Ex: a instrução demonstrou
que João adquiriu a arma de fogo três meses antes de matar Pedro e não a
comprou com a exclusiva finalidade de ceifar a vida da vítima.

 Situação 2: SIM. Se não houver provas de que o réu já portava a arma antes
do homicídio ou se ficar provado que ele a utilizou somente para matar a
vítima. Ex: o agente compra a arma de fogo e, em seguida, dirige-se até a
casa da vítima, e contra ela desfere dois tiros, matando-a.

No caso concreto julgado pelo STF, ficou provado que o réu havia comprado a arma
3 meses antes da morte da vítima. Além disso, também se demonstrou pelas
testemunhas que o acusado, várias vezes antes do crime, passou na frente da casa
da vítima, mostrando ostensivamente o revólver utilizado no crime. Desse modo,
restou provado que os tipos penais consumaram-se em momentos distintos e que
tinham desígnios autônomos, razão pela qual não se pode reconhecer o princípio
da consunção entre o homicídio e o porte ilegal de arma de fogo.

STF. 1ª Turma. HC 120678/PR, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco
Aurélio, j. 24/2/15 (Info 775).

32.4. A posse ou o porte apenas de munição configura crime

A posse ou o porte apenas da munição (ou seja, desacompanhada da arma)


configura crime. Isso porque tal conduta consiste em crime de perigo abstrato, para
cuja caracterização não importa o resultado concreto da ação.
STF. 2ª Turma. HC 113295/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 13/11/2012.

33. RACISMO
33.1. Análise do caso "Jonas Abib" – (Info 849) – IMPORTANTE!!!

Determinado padre escreveu um livro, voltado ao público da Igreja Católica, no


qual ele faz críticas ao espiritismo e a religiões de matriz africana, como a umbanda
e o candomblé.
O MP da Bahia ofereceu denúncia contra ele pela prática do art. 20, § 2º da Lei
7.716/89 (Lei do racismo).
No caso concreto, o STF entendeu que não houve o crime.
A CF/88 garante o direito à liberdade religiosa. Um dos aspectos da liberdade
religiosa é o direito que o indivíduo possui de não apenas escolher qual religião irá
seguir, mas também o de fazer proselitismo religioso.
Proselitismo religioso significa empreender esforços para convencer outras pessoas
a também se converterem à sua religião.
Desse modo, a prática do proselitismo, ainda que feita por meio de comparações
entre as religiões (dizendo que uma é melhor que a outra) não configura, por si só,
crime de racismo.
Só haverá racismo se o discurso dessa religião supostamente superior for de
dominação, opressão, restrição de direitos ou violação da dignidade humana das
pessoas integrantes dos demais grupos. Por outro lado, se essa religião
supostamente superior pregar que tem o dever de ajudar os "inferiores" para que
estes alcancem um nível mais alto de bem-estar e de salvação espiritual e, neste
caso não haverá conduta criminosa.
Na situação concreta, o STF entendeu que o réu apenas fez comparações entre as
religiões, procurando demonstrar que a sua deveria prevalecer e que não houve
tentativa de subjugar os adeptos do espiritismo.
Pregar um discurso de que as religiões são desiguais e de que uma é inferior à outra
não configura, por si, o elemento típico do art. 20 da Lei 7.716/89. Para haver o crime,
seria indispensável que tivesse ficado demonstrado o especial fim de supressão ou
redução da dignidade do diferente, elemento que confere sentido à discriminação
que atua como verbo núcleo do tipo.
STF. 1ª Turma. RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/11/16 (Info 849).

34. CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO


34.1. Crime de dirigir sem habilitação é absorvido pela lesão corporal culposa na
direção de veículo – (Info 796)

Se um indivíduo, que não possui habilitação para dirigir (art. 309 do CTB), conduz
seu veículo de forma imprudente, negligente ou imperita e causa lesão corporal em
alguém, ele responderá pelo crime do art. 303, parágrafo único, do CTB, ficando o
delito do art. 309 do CTB absorvido por força do princípio da consunção.
O delito de dirigir veículo sem habilitação é crime de ação penal pública
incondicionada. Por outro lado, a lesão corporal culposa (art. 303 do CTB) é crime
de ação pública condicionada à representação. Imagine que a vítima não exerça seu
direito de representação no prazo legal.
Diante disso, o Ministério Público poderá denunciar o agente pelo delito do art.
309?
NÃO. O delito do art. 309 já foi absorvido pela conduta de praticar lesão corporal
culposa na direção de veículo automotor, tipificada no art. 303 do CTB, crime de
ação pública condicionada à representação. Como a representação não foi
formalizada pela vítima, houve extinção da punibilidade, que abrange tanto a lesão
corporal como a conduta de dirigir sem habilitação.
STF. 2ª Turma. HC 128921/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 25/8/15 (Info 796).

35. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (LEI 8.137/90)


35.1. Causa de aumento do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 – (Info 882) –
IMPORTANTE!!!

O art. 12, I, da Lei 8.137/90 prevê que a pena do crime de sonegação fiscal (art. 1º, I,
da Lei nº 8.137/90) deverá ser aumentada no caso de o delito “ocasionar grave dano
à coletividade”.
A jurisprudência entende que se configura a referida causa de aumento quando o
agente deixa de recolher aos cofres públicos uma vultosa quantia. Em outras
palavras, se o valor sonegado foi alto, incide a causa de aumento do art. 12, I.
A Portaria nº 320, editada pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, prevê que
os contribuintes que estão devendo acima de R$ 10 milhões são considerados
“grandes devedores” e devem receber tratamento prioritário na atuação dos
Procuradores.
Diante disso, surgiu uma tese defensiva dizendo que somente as dívidas acima de
R$ 10 milhões poderiam ser consideradas de grande porte, justificando a incidência
da causa de aumento do art. 12, I.
Essa tese não foi acolhida pelo STF e STJ.
Não é razoável dizer que somente deverá incidir a causa de aumento de pena do
art. 12, I, se o valor dos tributos sonegados for superior a R$ 10 milhões, previsto
no art. 2º da Portaria nº 320/PGFN. Isso porque este dispositivo define "quantia
vultosa" para fins internos de acompanhamento prioritário pela Fazenda Nacional
dos processos de cobrança, não limitando ou definindo o que seja grave dano à
coletividade.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1274989/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 19/08/14.
STF. 2ª Turma. HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 17/10/17 (Info
882).
OBS:
Art. 12. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um
terço) até a metade as penas previstas nos arts. 1°, 2° e 4° a 7°:
I - ocasionar grave dano à coletividade;

35.2. Não se pode invocar a teoria do domínio do fato, pura e simplesmente, sem
nenhuma outra prova – (Info 866)

O diretor-geral da empresa de telefonia Vivo foi denunciado pelo fato de que na


filial que funciona no Estado de Pernambuco teriam sido inseridos elementos
inexatos em livros fiscais.
Diante disso, o Ministério Público denunciou o referido diretor pela prática de
crime contra a ordem tributária (art. 1º, II, da Lei nº 8.137/90).
A denúncia aponta que, na condição de diretor da empresa, o acusado teria domínio
do fato, o poder de determinar, de decidir, e de fazer com que seus empregados
contratados executassem o ato, sendo responsável pelo delito.
O STF determinou o trancamento da ação penal afirmando que não se pode invocar
a teoria do domínio do fato, pura e simplesmente, sem nenhuma outra prova,
citando de forma genérica o diretor estatutário da empresa para lhe imputar um
crime fiscal que teria sido supostamente praticado na filial de um Estado-membro
onde ele nem trabalha de forma fixa.
Em matéria de crimes societários, a denúncia deve apresentar, suficiente e
adequadamente, a conduta atribuível a cada um dos agentes, de modo a possibilitar
a identificação do papel desempenhado pelos denunciados na estrutura jurídico-
administrativa da empresa.
Não se pode fazer uma acusação baseada apenas no cargo ocupado pelo réu na
empresa.
STF. 2ª Turma. HC 136250/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 23/5/17 (Info 866).

OBS:
Teoria do domínio do fato: Nos crimes tributários, é muito comum o Ministério
Público invocar a aplicação da teoria do domínio do fato para pedir a condenação do
réu. Isso porque, na maioria dos casos, quem pratica a conduta de suprimir ou reduzir
tributo é o empregado, gerente ou contador da pessoa jurídica. No entanto, o MP alega
que a orientação para essa conduta partiu de um sócio-administrador ou diretor-geral
da empresa.

Pela teoria tradicional, o autor é aquela pessoa que pratica o verbo nuclear do tipo.
Logo, o empregado, gerente ou contador seriam os autores do delito.

A teoria do domínio do fato, criada na Alemanha, em 1939, por Hans Welzel, teve a
finalidade de ampliar o conceito de autor. Por força dessa teoria, pode também ser
considerado autor aquele que, mesmo não realizando o núcleo do tipo, domina
finalisticamente todo o seu desenrolar. Welzel dizia que autor é o “senhor do fato”.
Dessa forma, pela teoria do domínio do fato, o autor seria o sócio-administrador que
decidiu e determinou que fossem praticados os atos necessários à supressão ou
redução do tributo.

35.3. Investigação preliminar antes da constituição definitiva do crédito tributário –


(Info 819)

Imagine que determinada empresa deixou de pagar tributos, fraudando a


fiscalização tributária (inciso II do art. 1º da Lei nº 8.137/90). Ocorre que o Fisco
ainda não terminou o processo administrativo-fiscal instaurado para apurar o fato.
É possível que seja instaurado inquérito policial para apurar o crime mesmo não
tendo havido ainda a constituição definitiva do crédito tributário?
SIM. Nos crimes de sonegação tributária, apesar de a jurisprudência do STF
condicionar a persecução penal à existência do lançamento tributário definitivo, o
mesmo não ocorre quanto à investigação preliminar. Em outras palavras, mesmo
não tendo havido ainda a constituição definitiva do crédito tributário, já é possível
o início da investigação criminal para apurar o fato.
STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info
819).
Sonegação fiscal: O art. 1º da Lei nº 8.137/90 tipifica o chamado delito de sonegação
fiscal:

Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir


tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as
seguintes condutas: (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000)
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades
fazendárias;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos,
ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro
exigido pela lei fiscal;
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda,
ou qualquer outro documento relativo à operação tributável;
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que
saiba ou deva saber falso ou inexato;
V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou
documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou
prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em
desacordo com a legislação.
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade,
no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser convertido em horas em
razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da
dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a
infração prevista no inciso V.

Os crimes dos incisos I a IV do art. 1º da Lei nº 8.137/90 são materiais. Assim, para
que se configurem, é indispensável a constituição definitiva do crédito tributário, nos
termos da SV 24-STF:

Súmula vinculante 24: Não se tipifica crime material contra a ordem


tributária, previsto no artigo 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90,
antes do lançamento definitivo do tributo.

Imagine que determinada empresa deixou de pagar tributos, fraudando a fiscalização


tributária (inciso II do art. 1º da Lei nº 8.137/90). Ocorre que o Fisco ainda não
terminou o processo administrativo-fiscal instaurado para apurar o fato. É possível
que seja instaurado inquérito policial para apurar o crime mesmo não tendo havido
ainda a constituição definitiva do crédito tributário? SIM. A 1ª Turma do STF decidiu
que nos crimes de sonegação tributária, apesar de a jurisprudência do STF condicionar
a persecução penal à existência do lançamento tributário definitivo, o mesmo não
ocorre quanto à investigação preliminar. Em outras palavras, mesmo não tendo
havido ainda a constituição definitiva do crédito tributário, já é possível o início da
investigação criminal para apurar o fato.

O argumento utilizado pelo STF foi o de que, mesmo antes da constituição definitiva,
já teria havido o início da execução e, portanto, seria possível a investigação.

Obs: A decisão acima é polêmica e se mostra contrária a alguns precedentes anteriores


do STJ. Será necessário aguardar para ver se irá se consolidar. Por enquanto, fique
atento(a) porque poderá ser cobrada em concursos no sentido do que foi decidido.

35.4. Dosimetria da pena – (Info 799)

Determinado réu foi condenado por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei 8.137/90).
O STF considerou correta a sentença do juiz que, na 1ª fase da dosimetria da pena,
aumentou a pena-base com fundamento em dois argumentos:
1) Na análise das circunstâncias, o magistrado aumentou a pena sob a alegação de
que o réu omitiu seu nome do quadro societário da empresa com o objetivo de
esconder que era ele quem realmente administrava a empresa.
O STF afirmou que o ardil utilizado pelo réu (omissão do seu nome do quadro
societário da empresa) teve como objetivo acobertar sua real condição de
administrador da empresa investigada e, com isso, furtar-se de possível aplicação
da lei penal. Essa omissão do nome do réu no quadro societário não é a mesma
omissão de que trata o inciso I do art. 1º.
A omissão que é elementar do tipo é a omissão para suprimir ou reduzir tributo. A
omissão do nome do réu foi para evitar que ele fosse descoberto. Logo, punir a
omissão do nome do réu não significa punir o condenado duas vezes pelo mesmo
fato.
2) No exame das consequências do crime, o juiz também majorou a pena
argumentando que o crime praticado gerou um grande prejuízo ao erário (mais de
2 milhões de reais), o que autorizaria a elevação da pena-base. Segundo entende o
STF, em se tratando de infrações penais contra a ordem tributária, a extensão do
dano causado pode ser invocada na 1ª fase da dosimetria como critério para
exasperação da pena-base, sem que tanto implique bis in idem.
STF. 2ª Turma. HC 128446/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info
799).

35.5. Sonegação fiscal e art. 42 da Lei 9.430/96 – (Info 750) – IMPORTANTE!!!


CONCURSOS FEDERAIS!!!

A Lei n. 9.430/96 trata sobre procedimentos de fiscalização tributária realizados pela


Receita Federal. Em alguns dispositivos, a Lei define omissão de receita, ou seja,
situações em que a fiscalização considera que o contribuinte não declarou
corretamente as receitas ou rendimentos obtidos. Veja o que diz o art. 42:
Art. 42. Caracterizam-se também omissão de receita ou de rendimento os valores
creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição
financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente
intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos
recursos utilizados nessas operações.

Em outras palavras, se é depositada uma determinada quantia na conta bancária do


indivíduo e este não consegue provar a origem desses recursos, a Receita Federal
irá presumir que são rendimentos e, consequentemente, irá lavrar auto de infração
e cobrar o valor do imposto de renda sobre tais quantias.
Se o contribuinte não se defender administrativamente ou se a sua defesa não for
acatada, haverá a constituição definitiva desse crédito tributário.
A partir daí, a RFB comunica o fato ao MPF que, então, irá formular denúncia (ação
penal) contra o contribuinte alegando que ele praticou o delito do art. 1º, I, da Lei
n. 8.137/90.

Caso o contribuinte/réu seja condenado por esse fato, haverá violação ao princípio
da presunção de inocência?
NÃO. Não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência a exigência
de comprovação da origem de valores estabelecida no art. 42 da Lei n. 9.430/96.
Para o STF, o contribuinte, ao não comprovar a origem dos recursos depositados
em sua conta bancária, cria, contra si, uma presunção relativa de que houve omissão
de rendimentos, ensejando a condenação criminal.
Não há ofensa ao princípio da presunção de inocência porque se trata de um
procedimento legalmente estabelecido e disciplinado, sendo certo que ao
contribuinte é garantido o contraditório e a ampla defesa.
STF. 2ª Turma. HC 121125/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/6/2014 (Info
750).

36. CRIMES TRIBUTÁRIOS


36.1. Aplicação da SV 24-STF a fatos anteriores à sua edição – (Info 786) –
IMPORTANTE!!!

A SV 24-STF diz que o crime tributário material só se consuma com o lançamento


definitivo do tributo. Em outras palavras, não existe crime antes da constituição
definitiva do crédito tributário. Logo, indiretamente, a SV afirma que o prazo
prescricional só começa a ser contado no dia da constituição definitiva do crédito
tributário já que é nessa data que o delito se consuma (art. 111, I, do CP).
Perceba, portanto, que sob o ponto de vista da prescrição, a SV 24-STF é prejudicial
para o réu porque mesmo ele tendo praticado a conduta anos antes, o prazo
prescricional nem começou a correr se ainda não houve constituição definitiva do
crédito tributário. Fica assim mais difícil de o agente escapar da prescrição. O
Estado-acusação acaba “ganhando” mais tempo para oferecer a denúncia antes que
o crime prescreva.
Desse modo, surgiu a tese defensiva de que a SV 24-STF, por ser mais gravosa ao
réu, não poderia retroagir para ser aplicada a fatos anteriores à sua edição, sob pena
de isso ser considerado aplicação retroativa “in malam partem”. Esse argumento foi
aceito? É proibido aplicar a SV 24-STF para fatos anteriores à sua edição?
NÃO. A tese não foi aceita. A SV 24-STF pode sim ser aplicada a fatos anteriores à
sua edição.
Não se pode concordar com o argumento de que a aplicação da SV 24-STF a fatos
anteriores à sua edição configura retroatividade “in malam partem”. Isso porque o
aludido enunciado apenas consolidou interpretação reiterada do STF sobre a
matéria.
A súmula vinculante não é lei nem ato normativo, de forma que a SV 24-STF não
inovou no ordenamento jurídico. O enunciado apenas espelhou (demonstrou) o
que a jurisprudência já vinha decidindo.
STF. 1ª Turma. RHC 122774/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/5/2015 (Info
786).

37. EVASÃO DE DIVISAS


37.1. Dinheiro mantido no exterior integrando trust revogável cujo instituidor e
beneficiário é a mesma pessoa deverá ser declarado ao Banco Central – (Info 831)

Foi encontrada conta bancária em nome de um Deputado Federal no exterior na


qual estavam depositados milhões de dólares. Vale ressaltar que o Parlamentar não
comunicou a existência dessa conta ao Banco Central e que, na declaração que os
candidatos a cargos eletivos devem prestar à Justiça Eleitoral sobre seus bens, ele
também não mencionou a existência desse dinheiro no exterior.
Diante disso, ele foi denunciado pela prática de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei
9.613/98), evasão de divisas (art. 22, § único, da Lei 7.492/86) e falsidade ideológica
para fins eleitorais (art. 350 do Código Eleitoral).
Em sua defesa, o denunciado alegou que a conta bancária encontrada não está em
nome dele. A sua titularidade pertence a um trust e, portanto, ele não teria
obrigação de declará-la ao BACEN nem à Justiça Eleitoral.
Esta tese não foi aceita pelo STF no momento do recebimento da denúncia.
O Deputado Federal foi o instituidor do trust e figura como beneficiário. Além
disso, o trust era revogável, de forma que a relação contratual poderia ser a
qualquer momento desfeita e o patrimônio voltaria à sua titularidade. Logo, para o
STF, ele detém a plena disponibilidade jurídica e econômica dos valores que
integram o trust.
Assim, se ele não declarou a existência de tais valores ao Banco Central e à Justiça
Eleitoral, praticou, em tese, os crimes de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei
9613/98), evasão de divisas (art. 22, § único, da Lei 7.492/86) e falsidade ideológica
para fins eleitorais (art. 350 do Código Eleitoral).
O fato de as quantias não estarem formalmente em seu nome é absolutamente
irrelevante para a tipicidade da conduta.
A manutenção de valores em contas no exterior, mediante utilização de interposta
pessoa ou forma de investimento (trust), além de não desobrigar o beneficiário de
apresentar a correspondente declaração ao BACEN, revela veementes indícios do
ilícito de lavagem de dinheiro.
STF. Plenário. Inq 4146/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 22/6/16 (Info 831).

38. LAVAGEM DE DINHEIRO


38.1. Lavagem de dinheiro, na modalidade “ocultar”, é crime permanente – (Info
866)

O delito de lavagem de bens, direitos ou valores (“lavagem de dinheiro”), previsto


no art. 1º da Lei nº 9.613/98, quando praticado na modalidade de ocultação, tem
natureza de crime permanente.
A característica básica dos delitos permanentes está na circunstância de que a
execução desses crimes não se dá em um momento definido e específico, mas em
um alongar temporal. Quem oculta e mantém oculto algo, prolonga a ação até que
o fato se torne conhecido.
Assim, o prazo prescricional somente tem início quando as autoridades tomam
conhecimento da conduta do agente.
STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 23/5/17 (Info 866).

38.2. Culpabilidade de parlamentar que exerce mandato há muitos anos é mais


intensa – (Info 866)

Na primeira fase da dosimetria em caso de condenação por lavagem de dinheiro, o


órgão julgador poderá aumentar a pena-base do Deputado Federal que exerce
mandato há muitos anos, sob o argumento de que sua culpabilidade é mais intensa.
A transgressão da lei por parte de quem usualmente é depositário da confiança
popular para o exercício do poder enseja juízo de reprovação muito mais intenso
do que seria cabível em se tratando de um cidadão comum.
STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 23/5/17 (Info 866).

38.3. Reprovabilidade do crime cometido por “homem público” é maior – (Info 866)
Se um Deputado Federal que exerce mandato há muitos anos é condenado, o órgão
julgador poderá aumentar a pena-base atribuindo destaque negativo para a
“reprovabilidade”.
A circunstância de o réu ser homem de longa vida pública, acostumado com regras
jurídicas, enseja uma maior reprovabilidade em sua conduta considerando a sua
capacidade acentuada de conhecer e compreender a necessidade de observar as
normas.
STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 23/5/2017 (Info 866).

38.4. Pena pode ser aumentada se o crime de lavagem envolveu grandes somas de
valores – (Info 866)

Se a lavagem de dinheiro envolveu valores vultosos, a pena-base poderá ser


aumentada (“consequências do crime”) tendo em vista que, neste caso, considera-
se que o delito violou o bem jurídico tutelado de forma muito mais intensa do que
o usual.
STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 23/5/17 (Info 866).

38.5. Pena pode ser aumentada se a lavagem de dinheiro ocorreu por meio de várias
transações financeiras envolvendo diversos países – (Info 866)

A pena-base pode ser aumentada, no que tange às “circunstâncias do crime”, se a


lavagem de dinheiro ocorreu num contexto de múltiplas transações financeiras e
de múltipla transnacionalidade, o que interfere na ordem jurídica de mais de um
Estado soberano.
STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 23/5/2017 (Info 866).

38.6. Condenação por lavagem no “caso Maluf” – (Info 866)

Pratica o crime de lavagem de dinheiro o Deputado Federal que encobre (oculta) o


dinheiro recebido decorrente de corrupção passiva, utilizando-se, para tanto, de
contas bancárias e fundos de investimentos situados na Ilha de Jersey, abertos em
nome de empresas “offshores”, com o objetivo de encobrir a verdadeira origem,
natureza e propriedade dos referidos aportes financeiros.
STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 23/5/2017 (Info 866).

39. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS (DL 201/67)


39.1. Para a configuração do delito do art. 1º, XIV, é indispensável a inequívoca
ciência do Prefeito – (Info 802)

O art. 1º, XIV, do DL 201/67 prevê que o Prefeito pratica crime quando nega
execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixa de cumprir ordem judicial,
sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade
competente.
Vale ressaltar, no entanto, que, segundo entende o STF, para a configuração do
delito em tela é indispensável que o MP comprove a inequívoca ciência do Prefeito
a respeito da ordem judicial.
Ex: em Joinville (SC), o juiz expediu ordem judicial determinando que o Município
se abstivesse de praticar determinado ato administrativo. A ordem judicial foi
endereçada à Procuradoria do Município. Mesmo após a intimação ser efetivada, o
ato administrativo questionado foi praticado. Diante disso, o Ministério Público
ofereceu denúncia contra o Prefeito, imputando-lhe a prática do crime previsto no
art. 1º, XIV, do DL 201/67. O STF absolveu o réu. Segundo entenderam os Ministros,
não foram produzidas provas de que o réu tenha tido conhecimento da ordem
judicial ou que tenha concorrido para seu descumprimento. Para configuração do
delito em tela, é indispensável que o MP comprove a inequívoca ciência do Prefeito
a respeito da ordem judicial, não sendo suficiente que a determinação judicial
tenha sido comunicada a terceiros. Para que o Prefeito pudesse ser
responsabilizado criminalmente, seria indispensável a sua intimação pessoal.
STF. 1ª Turma. AP 555/SC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/10/2015 (Info 802).

39.2. Delito do inciso I do DL 201/67 – (Info 788)

O crime do art. 1º, I, do Decreto-Lei 201/1967 é próprio, somente podendo ser


praticado por prefeito, admitida, porém, a participação, nos termos do art. 29 do CP.
Ex: Deputado Federal apresentou emenda parlamentar ao orçamento da União
autorizando o repasse de recursos para o Município “X”, verba destinada à
aquisição de uma ambulância. O recurso foi transferido, foi realizada a licitação,
mas o certame foi direcionado em favor de determinada empresa que superfaturou
o preço. Ficou demonstrado que o Prefeito, o Deputado e os donos da empresa
vencedora estavam em conluio para a prática dessa conduta. Desse modo, todos
eles irão responder pelo delito do art. 1º, I, do DL 201/67.
STF. 2ª Turma. Inq 3634/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 2/6/15 (Info 788).

40. LEI DE SEGURANÇA NACIONAL


40.1. Transporte de granada sem motivação política não configura crime contra a
segurança nacional – (Info 827) – IMPORTANTE!!!

O agente que é preso com duas granadas de uso exclusivo do Exército que seriam
utilizadas para roubar um banco não pratica crime do art. 12 da Lei 7.170/83. Isso
porque não há, no presente caso, a motivação política, que consiste no "dolo
específico" (elemento subjetivo especial do tipo) exigido para a configuração dos
crimes de que trata a Lei de Segurança Nacional.
Se o sujeito praticar uma conduta semelhante a esta, em tese, ele deverá responder
pelo crime do art. 16 do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03).
STF. Plenário. RC 1472/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 25/5/16 (Info 827).
OBS:
O agente não responderá por tentativa de roubo? NÃO. Isso porque ele não chegou a
praticar nenhum ato executório do crime de roubo. Não houve início de execução. O
agente percorreu apenas as fases de cogitação e de preparação, tendo sido
interrompido nos atos preparatórios. Como regra, os atos preparatórios não são
punidos.

41. CRIMES HEDIONDOS


41.1. Natureza hedionda do estupro e do antigo atentado violento ao pudor – (Info
835)

Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, mesmo que cometidos antes da


edição da Lei 12.015/09, são considerados hediondos, ainda que praticados na forma
simples.
Em outras palavras, seja antes ou depois da Lei 12.015/09, toda e qualquer forma de
estupro (ou atentado violento ao pudor) é considerada crime hediondo, sendo
irrelevante que a prática de qualquer deles tenha causado, ou não, lesões corporais
de natureza grave ou morte.
STF. 1ª Turma. HC 100612/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, j. 16/8/16 (Info 835).
OBS:
Atualmente, o crime de estupro simples (art. 213, caput, do CP) e de estupro de
vulnerável são considerados hediondos? SIM. Isso está previsto expressamente no art.
1º, V e VI, da Lei nº 8.072/90:
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos
tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940
- Código Penal, consumados ou tentados:
(...)
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º); (Redação dada pela Lei
nº 12.015/2009)
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º);
(Redação dada pela Lei nº 12.015/2009)

E antes da Lei 12.015/09, o estupro e o atentado violento ao pudor eram considerados


hediondos? SIM.

42. TORTURA
42.1. Regime inicial de cumprimento de pena – (Info 789)

O STF já decidiu que é inconstitucional a Lei que impõe o regime inicial fechado
para os crimes hediondos e equiparados (STF. HC 111.840-ES).
Para o STJ, isso se aplica também ao delito de tortura, por ser este equiparado a
crime hediondo. Logo, o juiz deve desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da
Lei nº 9.455/1997, por ser esta norma também inconstitucional. Assim, não é
obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no
regime prisional fechado. O juiz, no momento da dosimetria da pena, deverá seguir
as regras do art. 33 do CP.
No julgado noticiado neste Informativo, o Min. Marco Aurélio manifesta posição
pessoal de que o art. 1º, § 7º, da Lei nº 9.455/1997 seria constitucional, ou seja, seria
legítima a regra que impõe o regime inicial fechado para o crime de tortura. O
inteiro teor do julgado ainda não foi divulgado, mas penso que se trata de uma
posição minoritária e isolada do Min. Marco Aurélio. Os demais Ministros
acompanharam o Relator mais por uma questão de praticidade do que de tese
jurídica. Isso porque os demais Ministros entendiam que, no caso concreto, nem
caberia habeas corpus considerando que já havia trânsito em julgado. No entanto,
eles não aderiram expressamente à tese do Relator.
STF. 1ª Turma. HC 123316/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 9/6/15 (Info 789).
43. CRIMES NA LEI DE LICITAÇÕES
43.1. Se o software adquirido sem licitação tinha mais especificações do que os das
concorrentes e era mais adequado ao seu objeto, não há o crime do art. 89 – (Info 861)

Determinado Secretário de Educação fez contratação direta, com inexigibilidade de


licitação, com a empresa "X", por meio da qual adquiriu mil licenças de uso do
software "XX" para organizar os horários e grades escolares da rede de ensino
estadual, no valor total de R$ 1 milhão.
O Ministério Público denunciou o Secretário pela prática do crime do art. 89 da Lei
8.666/93 argumentando que outras empresas ofereciam softwares diferentes, mas
com as mesmas funcionalidades, por preço menor. Dessa forma, o Parquet alegou
que seria possível sim a concorrência entre as empresas, não sendo caso de
inexigibilidade de licitação.
O STF entendeu que não houve crime.
O laudo pericial constatou que o “software” da empresa escolhida tinha mais
especificações do que os das concorrentes e era mais adequado ao seu objeto.
O STF afirmou também que não há nos autos prova de conluio com a empresa
escolhida e de recebimento de qualquer vantagem econômica pelo então Secretário.
Por fim, asseverou que o crime previsto no art. 89 da Lei nº 8.666/1993 exige o dolo,
consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar o ilícito penal, que não
se faz presente quando o acusado atua com fulcro em parecer da Procuradoria
Jurídica no sentido da inexigibilidade da licitação.
STF. 1ª Turma. Inq 3753/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/4/2017 (Info 861).
OBS: A Lei de Licitação (Lei nº 8.666/93) prevê alguns tipos penais. O art. 89 tipifica
como crime a dispensa ou inexigibilidade indevida de licitação. Veja:
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses
previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
Pena — detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo
comprovadamente concorrido para a consumação da
ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade
ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.

43.2. Administrador que contrata empresa para reforma de ginásio sem situação de
emergência e que depois faz aditivo para ampliar o objeto pratica, em tese, os delitos
dos arts. 89 e 92 – (Info 859)

Determinado Deputado Federal, na época em que era Secretário de Estado,


contratou, sem licitação, empresa para a realização de obras emergenciais em um
ginásio. Depois de o contrato estar assinado, o Secretário celebrou termo aditivo
com a empresa para que ela fizesse a demolição e reconstrução das instalações do
ginásio.
O parlamentar foi denunciado pelos crimes dos arts. 89 e 92 da Lei nº 8.666/93.
Algumas conclusões do STF no momento do recebimento da denúncia:
1) A declaração de emergência feita por Governador do Estado, por si só, não
caracteriza situação que justifique a dispensa de licitação;

2) O crime do art. 89 da Lei de Licitações não é inconstitucional nem viola o


princípio da proporcionalidade;
3) O aditamento realizado descaracterizou o contrato original e, portanto,
configura, em tese, a prática do art. 92. O aditamento, neste caso, ao contrário do
que permite a Lei, foi qualitativo. Além disso, houve uma ampliação contratual
acima de 50% do valor original do contrato, o que é proibido pelo art. 65, § 1º da
Lei nº 8.666/93.

4) O fato de a dispensa de licitação e de o aditamento do contrato terem sido


precedidos de parecer jurídico não é bastante para afastar o dolo caso outros
elementos externos indiciem a possibilidade de desvio de finalidade ou de conluio
entre o gestor e o responsável pelo parecer.
STF. 1ª Turma. Inq 3621/MA, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, j. 28/3/2017 (Info 859).
OBS:
Art. 89 (dispensa indevida de licitação):
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses
previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo
comprovadamente concorrido para a consumação da
ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade
ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.

Art. 92 (modificação ilegal do contrato administrativo)


Art. 92. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer
modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual,
em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos
celebrados com o Poder Público, sem autorização em lei, no
ato convocatório da licitação ou nos respectivos instrumentos
contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preterição da ordem
cronológica de sua exigibilidade, observado o disposto no art.
121 desta Lei:
Pena - detenção, de dois a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide na mesma pena o contratado que,
tendo comprovadamente concorrido para a consumação da
ilegalidade, obtém vantagem indevida ou se beneficia,
injustamente, das modificações ou prorrogações contratuais.

Art. 65, §1º (vedação à ampliação contratual acima de 50% do valor original do
contrato)
Art. 65 (...)
§ 1º O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas
condições contratuais, os acréscimos ou supressões que se
fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e cinco
por cento) do valor inicial atualizado do contrato, e, no caso
particular de reforma de edifício ou de equipamento, até o
limite de 50% (cinquenta por cento) para os seus acréscimos.
43.3. O crime do art. 89 da Lei 8.666/93 exige dano ao erário? Critérios para
verificação judicial da viabilidade da denúncia pelo art. 89 – (Info 856)

O crime do art. 89 da Lei 8.666/93 exige resultado danoso (dano ao erário) para se
consumar?
1ª corrente: SIM. Posição do STJ e da 2ª Turma do STF.

2ª corrente: NÃO. Entendimento da 1ª Turma do STF (Info 813).

O objetivo do art. 89 não é punir o administrador público despreparado, inábil, mas


sim o desonesto, que tinha a intenção de causar dano ao erário ou obter vantagem
indevida. Por essa razão, é necessário sempre analisar se a conduta do agente foi
apenas um ilícito civil e administrativo ou se chegou a configurar realmente crime.
Deverão ser analisados três critérios para se verificar se o ilícito administrativo
configurou também o crime do art. 89:
1º) existência ou não de parecer jurídico autorizando a dispensa ou a
inexigibilidade. A existência de parecer jurídico é um indicativo da ausência de
dolo do agente, salvo se houver circunstâncias que demonstrem o contrário.

2º) a denúncia deverá indicar a existência de especial finalidade do agente de lesar


o erário ou de promover enriquecimento ilícito.

3º) a denúncia deverá descrever o vínculo subjetivo entre os agentes. Assim, a


imputação do crime definido no art. 89 da Lei 8.666/93 a uma pluralidade de agentes
exige a descrição da existência de vínculo subjetivo entre os participantes para a
obtenção do resultado criminoso. Não basta que a denúncia narre o ato
administrativo formal eivado de irregularidade.
STF. 1ª Turma. Inq 3674/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, j. 7/3/2017 (Info 856).
OBS:
A Lei de Licitação (Lei nº 8.666/93) prevê alguns tipos penais.
O art. 89 tipifica como crime a dispensa ou inexigibilidade indevida de licitação. Veja:
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses
previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
Pena — detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo
comprovadamente concorrido para a consumação da
ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade
ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.

Tipo subjetivo: Para a configuração da tipicidade subjetiva do crime previsto no art.


89 da Lei 8.666/93, exige-se o especial fim de agir, consistente na intenção específica
de lesar o erário ou obter vantagem indevida. Esse entendimento é pacífico na
jurisprudência do STF e STJ:
Para a caracterização da conduta tipificada no art. 89 da Lei
8.666/1993, é indispensável a demonstração, já na fase de
recebimento da denúncia, do elemento subjetivo consistente
na intenção de causar dano ao erário ou obter vantagem
indevida. STF. 2ª Turma. Inq 3965, Rel. Min. Teori Zavascki, j.
22/11/2016.
43.4. Requisitos para a configuração do crime do art. 89 – (Info 813)

Para que haja a condenação pelo crime do art. 89 da Lei nº 8.666/93, exige-se a
demonstração de que houve prejuízo ao erário e de que o agente tinha a finalidade
específica de favorecimento indevido.
Assim, mesmo que a decisão de dispensa ou inexigibilidade da licitação tenha sido
incorreta, isso não significa necessariamente que tenha havido crime, sendo
necessário analisar o prejuízo e o dolo do agente.
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar
de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
STF. 2ª Turma. Inq 3731/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2016 (Info
813).
OBS:
A jurisprudência do STF, ao interpretar o art. 89 da Lei 8666/93, exige a demonstração
do prejuízo ao erário e a finalidade específica de favorecimento indevido para
reconhecer a adequação típica.
O objetivo desse entendimento é separar os casos em que ocorre interpretação
equivocada das normas, ou mesmo puro e simples erro do administrador daqueles
em que a dispensa buscara efetivo favorecimento dos agentes envolvidos.
As provas constantes dos autos não demonstram que a denunciada tenha agido com
intenção de causar prejuízo ao erário ou favorecer a empresa contratada. Não há
elementos que indiquem que a denunciada tenha pessoalmente exercido influência na
escolha.
Em princípio, a denunciada agiu com a crença de que a contratação seria conveniente
e adequada e de que a licitação seria inexigível de acordo com os critérios jurídicos.
Por fim, não se vislumbrou elementos suficientes a indicar vontade de causar prejuízo
ao erário ou favorecer a contratada.

43.5. Art. 89 da Lei n. 8.666/93 – (Info 756)

O STF julgou denúncia contra ex-prefeito pela prática do delito previsto no art. 89
da Lei n. 8.666/93.
Para ser válida, a contratação direta de escritório de advocacia por inexigibilidade
de licitação precisa atender aos seguintes requisitos:
a) é necessário que se instaure um procedimento administrativo formal;
b) deverá ser demonstrada a notória especialização do profissional a ser contratado;
c) deverá ser demonstrada a natureza singular do serviço;
d) deverá ser demonstrado que é inadequado que o serviço a ser contratado seja
prestado pelos integrantes do Poder Público (no caso, pela PGM); e
e) o preço cobrado pelo profissional contratado deve ser compatível com o
praticado pelo mercado.
Sendo cumpridos esses requisitos, não há que se falar em crime do art. 89 da Lei n.
8.666/93.
STF. 1ª Turma. Inq 3074/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 26/8/14 (Info 756).

44. CRIMES POLÍTICOS


44.1. Para a configuração do crime político exige-se o preenchimento de requisitos
objetivo e subjetivo – (Info 885) – Atenção! Concursos Federais!

O réu ingressou clandestinamente em uma Usina Hidrelétrica e alterou a posição


da chave da bomba de alta pressão de óleo.
O MPF denunciou o agente pela prática do delito de sabotagem, previsto no art. 15
da Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), que consiste em crime político.
O STF entendeu que não houve crime político considerando que:
 Não houve lesão real ou potencial a um dos bens jurídicos listados no art.
1º da Lei nº 7.170/83 (requisito objetivo); e
 O agente não tinha motivação política (requisito subjetivo).
Além disso, o Tribunal entendeu que se tratava de crime impossível, considerando
que essa alteração da posição da chave não tinha condão de provocar qualquer
embaraço ao funcionamento da Usina.
STF. 1ª Turma. RC 1473/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/11/17 (Info 885).
OBS:
(...) O Supremo Tribunal Federal, a partir de interpretação
sistemática da Lei nº 7.170/83, assentou que, para a tipificação
de crime contra a segurança nacional, não basta a mera
adequação típica da conduta, objetivamente considerada, à
figura descrita no art. 12 do referido diploma legal. 2. Da
conjugação dos arts. 1º e 2º da Lei nº 7.170/83, extraem-se dois
requisitos, de ordem subjetiva e objetiva: i) motivação e
objetivos políticos do agente, e ii) lesão real ou potencial à
integridade territorial, à soberania nacional, ao regime
representativo e democrático, à Federação ou ao Estado de
Direito. (...)
STF. Plenário. RC 1472, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 25/5/16.

45. PEDERASTIA
45.1. Inconstitucionalidade das expressões que mencionem homossexualismo (Info
805)

O tipo penal do art. 235 do CPM continua sendo crime mesmo com a CF/88. No
entanto, devem ser consideradas incompatíveis com a CF/88 as expressões
empregadas que falem em homossexualismo. Isso porque o crime em tela se
configura tanto quando o militar pratica relação sexual com alguém do mesmo sexo,
como também de sexo diferente, não devendo haver distinção de tratamento.
Assim, as expressões “pederastia ou outro” — mencionada na rubrica enunciativa
referente ao art. 235 do CPM — e “homossexual ou não” — contida no aludido
dispositivo — não foram recepcionadas pela CF/88.
STF. Plenário. ADPF 291/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 28/10/2015
(Info 805).

46. HOMOFOBIA
46.1. Manifestação homofóbica é conduta ATÍPICA – (Info 754) – IMPORTANTE!!!
– (MPBA-2015)
Proferir manifestação de natureza discriminatória em relação aos homossexuais
NÃO configura o crime do art. 20 da Lei n. 7.716/86, sendo conduta atípica.
STF. 1ª Turma. Inq 3590/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/8/2014 (Info
754).
(MPBA/15): A L.7.716/89 tipifica e estabelece punição de crimes resultantes de
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional,
estando excluída a discriminação ou preconceito relativo à orientação sexual.

(PCRN/09): A L.7.716/89 não considera crime de racismo o ato preconceituoso


contra homossexual praticado em razão da opção sexual da vítima.

(GDF/15): De acordo com o que dispõe a L.7.716/89, não caracteriza crime de


discriminação ou preconceito: c) Patrão que ameace causar a empregado, por meio
de palavra, gesto ou qualquer outro meio simbólico, mal injusto e grave, em
virtude de esse empregado ser homossexual.

47. CRIMES AMBIENTAIS


47.1. PESCA ILEGAL: Pessoa presa sem peixes, mas com equipamentos, em local
onde a pesca é proibida comete crime? – (Info 845)

A Lei de Crimes Ambientais tipifica a pesca ilegal, nos seguintes termos:


"Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados
por órgão competente:"
Se a pessoa é flagrada sem nenhum peixe, mas portando consigo equipamentos de
pesca, em um local onde esta atividade é proibida, ela poderá ser absolvida do delito
do art. 34 da Lei de Crimes com base no princípio da insignificância?
A 2ª Turma do STF possui decisões conflitantes sobre o tema:
SIM. Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 1°/3/16 (Info 816).

NÃO. RHC 125566/PR e HC 127926/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 26/10/16 (Info 845).

STF. 2ª Turma. RHC 125566/PR e HC 127926/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 26/10/16
(Info 845).

47.2. Aplica-se o princípio da insignificância aos crimes ambientais – (Info 816)

É possível aplicar o princípio da insignificância para crimes ambientais.


Ex: pessoa encontrada em uma unidade de conservação onde a pesca é proibida,
com vara de pescar, linha e anzol, conduzindo uma pequena embarcação na qual
não havia peixes.
STF. 2ª Turma. Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1°/3/2016 (Info
816).
OBS:
A jurisprudência do STF é no sentido da aplicabilidade do princípio da insignificância
aos crimes ambientais, tanto com relação aos de perigo concreto — em que haveria
dano efetivo ao bem jurídico tutelado —, quanto aos de perigo abstrato, como no art.
34, caput, da Lei nº 9.605/98.
No processo em exame, não se produziu prova material de que tenha havido qualquer
dano efetivo ao meio ambiente. Ademais, mesmo diante de crime de perigo abstrato,
não é possível dispensar a verificação “in concreto” do perigo real ou mesmo potencial
da conduta praticada pelo acusado com relação ao bem jurídico tutelado. Esse perigo
real não se verificou no caso concreto.

47.3. Responsabilidade penal da pessoa jurídica – (Info 566) – IMPORTANTE!!!

É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais


independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia
em seu nome. A jurisprudência não mais adota a chamada teoria da "dupla
imputação".
STJ. 6ª Turma. RMS 39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 6/8/15 (Info
566).
STF. 1ª Turma. RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, j. 6/8/13 (Info 714).

48. ATIVIDADE CLANDESTINA DE TELECOMUNICAÇÕES (LEI 9.472/97)


48.1. Transmitir sinal de internet como provedor sem autorização da ANATEL
configura o crime do art. 183 da Lei nº 9.472/97? – (Info 883) – Atenção! Concursos
Federais!

A conduta de transmitir sinal de internet, via rádio, como se fosse um provedor de


internet, sem autorização da ANATEL, configura o crime do art. 183 da Lei nº
9.472/97?
STJ: SIM. A transmissão clandestina de sinal de internet, via radiofrequência, sem
autorização da ANATEL, caracteriza, em tese, o delito previsto no art. 183 da Lei nº
9.472/97. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1077499/SP, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, j. 26/9/17.

STF: NÃO. A oferta de serviço de internet é concebida como serviço de valor


adicionado e, portanto, não pode ser considerada como atividade clandestina de
telecomunicações, não caracterizando o crime do art. 183 da Lei nº 9.472/97. Foi o
que decidiu a 1ª Turma do STF no HC 127978, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 24/10/17
(Info 883).
STF. 1ª Turma. HC 127978, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 24/10/17 (Info 883).
OBS:
Art. 183. Desenvolver clandestinamente atividades de
telecomunicação:
Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade
se houver dano a terceiro, e multa de R$ 10.000,00 (dez mil
reais).

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