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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Atualizado em 07/02/2018: novos julgados.

1. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA


1.1. Negativa de que o réu tenha acesso a termos de declaração prestados por
colaborador premiado e que não digam respeito aos fatos imputados ao acusado –
(Info 814)

Não viola o entendimento da SV 14-STF a decisão do juiz que nega a réu


denunciado com base em um acordo de colaboração premiada o acesso a outros
termos de declarações que não digam respeito aos fatos pelos quais ele está sendo
acusado, especialmente se tais declarações ainda estão sendo investigadas, situação
na qual existe previsão de sigilo, nos termos do art. 7º da Lei nº 12.850/2013.
STF. 2ª Turma. Rcl 22009 AgR/PR, rel. Min. Teori Zavascki, j. 16/2/16 (Info 814).
OBS1:
Conforme entendimento do STF, a SV 14 assegura ao defensor legalmente constituído
o direito de acesso às “provas já produzidas e formalmente incorporadas ao
procedimento investigatório, excluídas, consequentemente, as informações e
providências investigatórias ainda em curso de execução e, por isso mesmo, não
documentados no próprio inquérito ou processo judicial” (STF. 2ª Turma. HC 93.767,
Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 01-04-2014).

Os dois termos de colaboração premiada que o reclamante pretende ter acesso não se
encontram nos autos da ação penal porque dizem respeito a outros fatos diferentes
daqueles narrados na denúncia contra o réu "ASRA". Além disso, tais fatos ainda estão
sob investigação.

Outro motivo que impediu o acesso do referido réu está no fato de que os outros dois
termos de declaração ainda estavam sob sigilo prévio, conforme determina o art. 7º da
Lei nº 12.850/2013:
Art. 7º O pedido de homologação do acordo será
sigilosamente distribuído, contendo apenas informações que
não possam identificar o colaborador e o seu objeto.
§ 1º As informações pormenorizadas da colaboração serão
dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuição, que
decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
§ 2º O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério
Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o
êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no
interesse do representado, amplo acesso aos elementos de
prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa,
devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados
os referentes às diligências em andamento.
§ 3º O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso
assim que recebida a denúncia, observado o disposto no art.
5º.
Este sigilo tem dois objetivos básicos:
a) preservar os direitos assegurados ao colaborador, dentre
os quais o de “ter nome, qualificação, imagem e demais
informações pessoais preservados” (art. 5º, II) e o de “não ter
sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser
fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por
escrito” (art. 5º, V, da Lei nº 12.850/2013); e
b) garantir o êxito das investigações (art. 7º, § 2º e art. 8, § 3º).

2. PRINCÍPIO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO


2.1. É possível que o STF, reconhecendo que há uma demora muito grande,
determine ao STJ que julgue o recurso pendente – (Info 848)

Em virtude do grande volume de trabalho que assoberba o STJ, é necessário


flexibilizar o princípio constitucional da razoável duração do processo. Dessa
forma, em regra, tolera-se que haja uma natural demora no julgamento dos recursos
que tramitam naquele Tribunal.
Além disso, o STF entende que se a demora no julgamento do recurso pelo STJ
deveu-se ao fato de que houve a troca do Ministro Relator do caso, isso, em regra,
justifica o atraso.
No entanto, no caso concreto, o Resp estava aguardando julgamento no STJ há 5
anos, demora muito grande, o que caracteriza evidente constrangimento ilegal e
negativa de prestação jurisdicional.
Diante disso, o STF determinou ao STJ que apresente o recurso especial para ser
julgado em, no máximo, cinco sessões daquele Tribunal, prazo a ser contado da
comunicação da ordem.
STF. 2ª Turma. HC 136435/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 22/11/16 (Info
848).

3. USO DE ALGEMAS
3.1. Não cabe reclamação por uso indevido de algemas se este ocorreu por ordem
de autoridade policial – (Info 827) – TEMA POLÊMICO!

A apresentação do custodiado algemado à imprensa pelas autoridades policiais não


afronta o Enunciado 11 da Súmula Vinculante.
A SV 11 refere-se apenas a situações em que o emprego abusivo da algema decorre
de decisão judicial, ou seja, no âmbito de um ato processual. Não abrange hipóteses
em que seu uso decorreu de ato administrativo da autoridade policial.
STF. 1ª Turma. Rcl 7116/PE, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 24/5/16 (Info 827).
OBS:
NÃO CABE RECLAMAÇÃO POR USO INDEVIDO DE ALGEMAS SE ESTE
OCORREU POR ORDEM DE AUTORIDADE POLICIAL
Imagine a seguinte situação adaptada: Foi praticado um crime de grande repercussão
na cidade. Os policiais, após minuciosa investigação, conseguiram descobrir o
responsável pelo delito. O juiz deferiu a prisão preventiva do suspeito, que foi
efetivada. No dia seguinte à prisão, a Polícia Civil convocou a imprensa para uma
entrevista coletiva, ocasião em que foi feita a apresentação do preso para os jornalistas
ali presentes, que efetuaram diversas fotos e filmagens. Ocorre que o suspeito
permaneceu algemado durante a apresentação. Diante disso, após alguns dias, o preso
ingressou com reclamação no STF, nos termos do art. 103-A, § 1º, da CF/88, alegando
que houve desrespeito à SV 11 e pedindo a nulidade de todos os atos processuais
realizados a partir do uso arbitrário das algemas, bem como do decreto de prisão
preventiva e do ato que implicou o recebimento da denúncia.
Súmula vinculante 11-STF: Só é lícito o uso de algemas em
casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo
à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou
de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual
a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
estado.

O pedido do preso foi julgado procedente? Houve desrespeito à SV 11? Os atos devem
ser anulados? NÃO. É o que foi decidido no Info 827 do STF.

Decisão da 1ª Turma do STF publicado no Info 827: O uso da algema na presente


situação foi injustificado, ou seja, não deveria ter ocorrido. No entanto, apesar disso,
a decisão de manter o preso algemado não foi do juiz, mas sim da autoridade
policial responsável pela apresentação do suspeito à imprensa.

Para o Min. Marco Aurélio, a SV 11 refere-se apenas a situações em que o emprego


abusivo da algema decorre de decisão judicial, ou seja, no âmbito de um ato
processual. Não abrange hipóteses em que seu uso decorreu de ato administrativo da
autoridade policial. Logo, os atos processuais, inclusive o decreto de prisão, não
devem ser anulados.

Dessa forma, o referido preso tem o direito de questionar o uso das algemas e até de
pedir, eventualmente, a responsabilização do Estado ou dos agentes envolvidos. Isso,
no entanto, terá que ser feito por meio de ação própria e não por intermédio de
reclamação alegando desrespeito à SV.

OBS do Site Dizer o Direito: O argumento acima exposto consta expressamente do


Informativo original. A íntegra do acórdão ainda não foi publicada. No entanto, com
a devida vênia, penso que a SV 11 não se limita aos casos em que o uso indevido de
algemas decorreu de ato processual, abrangendo sim atos administrativos. Para fins
de concurso, contudo, pelo menos por enquanto, deve-se guardar o que foi decidido e
está no Informativo.

DECRETO 8.858/16: Em 2016, foi publicado o Decreto 8.858/16, que trata sobre o
emprego de algemas. Vamos entender o tema.

Histórico:
Código de Processo Penal Militar (1969): O CPPM possui uma regra sobre o uso de
algemas:
Art. 234 (...)
Emprego de algemas
1º O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja
perigo de fuga ou de agressão da parte do preso, e de modo
algum será permitido, nos presos a que se refere o art. 242.
Segundo o entendimento majoritário, contudo, esta regra somente valia para as
prisões envolvendo crimes militares, não sendo aplicadas para os crimes "comuns"
(não militares).

Lei 7.219/84 (LEP): Assim, a primeira lei que tratou sobre o uso de algemas no Brasil
de forma geral foi a Lei 7.210/84 (Lei de Execuções Penais). Ela, no entanto, não ajudou
muito porque afirmou que o tema deveria ser disciplinado por meio de decreto.
Confira:
Art. 199. O emprego de algemas será disciplinado por decreto
federal.

A LEP é de 1984 e até 2016 este decreto não havia sido editado.

Lei 11.689/2008: Em junho de 2008, foi editada Lei 11.689/08, que alterou o
procedimento do Júri previsto no CPP. Esta Lei aproveitou a oportunidade e tratou
também sobre o uso de algemas, porém apenas no plenário do Júri. Veja os
dispositivos que foram inseridos por ela:
Art. 474 (...)
§ 3º Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o
período em que permanecer no plenário do júri, salvo se
absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança
das testemunhas ou à garantia da integridade física dos
presentes. (Incluído pela Lei 11.689/2008)

Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena


de nulidade, fazer referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que
julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de
algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado; (Incluído pela Lei 11.689/2008)

Como se vê, tirando a hipótese do Plenário do Júri, a legislação continuava sem


disciplinar o uso de algemas.

SV 11-STF: Em razão dessa lacuna normativa, em 2008, o STF, diante do uso abusivo
de algemas em determinadas pessoas, viu-se obrigado a dispor sobre o tema e editou
uma súmula vinculante que mais parecia um artigo de lei tratando a respeito do
assunto. Confira:
Súmula vinculante 11-STF: Só é lícito o uso de algemas em
casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo
à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou
de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual
a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
estado.

Decreto 8.858/16: Agora, com 32 anos de atraso, finalmente é editado o Decreto federal
mencionado pelo art. 199 da LEP e que trata sobre o emprego de algemas.
Sobre o que trata o Decreto nº 8.858/2016? Regulamenta o art. 199 da LEP com o
objetivo de disciplinar como deve ser o emprego de algemas.

Diretrizes: O emprego de algemas terá como diretrizes:


 A dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88);
 A proibição de que qualquer pessoa seja submetida a tortura, tratamento
desumano ou degradante (art. 5º, III, da CF/88);
 A Resolução 2010/16, de 22 de julho de 2010, das Nações Unidas sobre o
tratamento de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para
mulheres infratoras (Regras de Bangkok); e
 O Pacto de San José da Costa Rica, que determina o tratamento humanitário
dos presos e, em especial, das mulheres em condição de vulnerabilidade.

A pessoa presa pode ser algemada? Como regra, NÃO.

Existem três exceções. Quais são elas? É permitido o emprego de algemas apenas em
casos de:
• resistência;
• fundado receio de fuga; ou
• perigo à integridade física própria ou alheia, causado pelo preso ou por terceiros.

Formalidade que deve ser adotada no caso do uso de algemas: Caso tenha sido
verificada a necessidade excepcional do uso de algemas, com base em uma das três
situações acima elencadas, essa circunstância deverá ser justificada, por escrito.

Situação especial das mulheres em trabalho de parto ou logo após: É proibido usar
algemas em mulheres presas:
• durante o trabalho de parto
• no trajeto da parturiente entre a unidade prisional e a unidade hospitalar; e
• após o parto, durante o período em que se encontrar hospitalizada.

A proibição das algemas vale somente no momento da prisão? NÃO. Essa regra vale
para todas as situações. A vedação quanto ao uso de algemas incide tanto no
momento da prisão (seja em flagrante ou por ordem judicial) como também nas
hipóteses em que o réu preso comparece em juízo para participar de um ato
processual (ex: réu durante a audiência). Em outras palavras, a pessoa que acaba de
ser presa, em regra, não pode ser algemada. Se ela tiver que ser deslocada para a
delegacia, por exemplo, em regra, não pode ser algemada. Se tiver que comparecer
para seu interrogatório, em regra, não pode ser algemada.

Quais são as consequências caso o preso tenha sido mantido algemado fora das
hipóteses mencionadas ou sem que tenha sido apresentada justificativa por escrito?
O Decreto 8.858/16 não prevê consequências ou punições para o descumprimento das
regras impostas para o emprego de algemas. No entanto, a SV 11 do STF impõe as
seguintes consequências:
a) Nulidade da prisão;
b) Nulidade do ato processual no qual participou o preso;
c) Responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da
autoridade responsável pela utilização das algemas;
d) Responsabilidade civil do estado.
Vale ressaltar que, se durante audiência de instrução e julgamento o juiz recusa, de
forma motivada, o pedido para que sejam retiradas as algemas do acusado, não haverá
nulidade processual (STJ HC 140.718-RJ).

A SV 11-STF continua valendo mesmo após o Decreto 8.858/16? SIM. O Decreto


8.858/16 praticamente repetiu as mesmas hipóteses previstas na súmula vinculante,
acrescentando, contudo, a proibição das algemas para mulheres em trabalho de
parto e logo após. Apesar disso, a SV 11 continua tendo grande importância porque
ela prevê, em sua parte final, as consequências caso o preso tenha sido mantido
algemado fora das hipóteses mencionadas ou sem que tenha sido apresentada
justificativa por escrito.

Vamos comparar os dois documentos:

DECRETO 8.858/2016 SV 11

Art. 2º É permitido o emprego de Súmula vinculante 11-STF: Só é lícito o


algemas apenas em casos de resistência uso de algemas em casos de resistência e
e de fundado receio de fuga ou de perigo de fundado receio de fuga ou de perigo
à integridade física própria ou alheia, à integridade física própria ou alheia,
causado pelo preso ou por terceiros, por parte do preso ou de terceiros,
justificada a sua excepcionalidade por justificada a excepcionalidade por
escrito. escrito, (...)

Não prevê qualquer consequência ou (...) sob pena de responsabilidade


punição em caso de descumprimento disciplinar, civil e penal do agente ou da
das regras impostas para o emprego de autoridade e de nulidade da prisão ou
algemas. do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do
estado.

Art. 3º É vedado emprego de algemas A súmula vinculante não trata sobre esta
em mulheres presas em qualquer situação específica das mulheres em
unidade do sistema penitenciário trabalho de parto ou que tiveram seus
nacional durante o trabalho de parto, no filhos.
trajeto da parturiente entre a unidade
prisional e a unidade hospitalar e após o
parto, durante o período em que se
encontrar hospitalizada.

Quadro-resumo:
EMPREGO DE ALGEMAS
Decreto 8.858/2016 e Súmula vinculante 11
1) Dignidade da pessoa humana
2) Proibição de tortura, tratamento desumano,
DIRETRIZES QUE GUIAM
degradante
O USO DE ALGEMAS
3) Regras de Bangkok
4) Pacto de San José da Costa Rica
1) Resistência da pessoa à prisão
CASOS EM QUE
2) Fundado receio de fuga
SE PODE USAR
3) Perigo à integridade física (própria ou alheia),
ALGEMAS
causado pelo preso ou por terceiros
1) Durante o trabalho de parto
PROIBIDO USO DE
2) No trajeto da grávida do presídio para o hospital
ALGEMAS EM
3) Após o parto (durante o tempo em que estiver
MULHERES
hospitalizada)
1) Nulidade da prisão
2) Nulidade do ato processual no qual participou o
preso
SANÇÕES PARA O USO
3) Responsabilidade disciplinar, civil e penal do
ABUSIVO DE ALGEMAS
agente ou da autoridade responsável pela utilização
das algemas
4) Responsabilidade civil do Estado

4. INQUÉRITO POLICIAL
4.1. Possibilidade de reabertura de inquérito policial arquivado por excludente de
ilicitude – (Info 858)

O arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com


base em provas fraudadas não faz coisa julgada material.
STF. Plenário. HC 87395/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 23/3/17 (Info 858).

Obs1: o STF entende que o inquérito policial arquivado por excludente de ilicitude
pode ser reaberto mesmo que não tenha sido baseado em provas fraudadas. Se for
com provas fraudadas, como no caso acima, com maior razão pode ser feito o
desarquivamento.
Obs2: ao contrário do STF, o STJ entende que o arquivamento do inquérito policial
baseado em excludente de ilicitude produz coisa julgada material e, portanto, não
pode ser reaberto. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. RHC 46.666/MS, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, j. 05/02/15.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João ceifou a vida de Pedro. Foi instaurado
inquérito policial para apurar o ocorrido. Após as diligências investigatórias, o MP
entendeu que estava demonstrado que João agiu em legítima defesa, razão pela qual
pugnou pelo arquivamento do IP. O juiz concordou com o pedido do MP e
determinou o arquivamento dos autos com base na excludente de ilicitude. Anos mais
tarde, o Procurador-Geral de Justiça afirma que surgiram provas novas que poderão
mudar o caso e pugna pelo desarquivamento do IP. O requerimento do Procurador-
Geral foi fundamentado no art. 18 do CPP e na Súmula 524 do STF. Confira:

Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela


autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a
autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de
outras provas tiver notícia.
Súmula 524-STF: Arquivado o inquérito policial, por
despacho do juiz, a requerimento do Promotor de Justiça, não
pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.

O juiz deverá concordar? Deverá ser determinado o desarquivamento no presente


caso? É possível a reabertura da investigação e o oferecimento de denúncia se o
inquérito policial havia sido arquivado com base em excludente de ilicitude?
Atualmente, é possível identificar a existência de divergência entre o STJ e o STF:

STJ: NÃO STF: SIM


Para o STJ, o arquivamento do inquérito Para o STF, o arquivamento de inquérito
policial com base na existência de causa policial em razão do reconhecimento de
excludente da ilicitude faz coisa julgada excludente de ilicitude não faz coisa
material e impede a rediscussão do caso julgada material. Logo, surgindo novas
penal. provas, seria possível reabrir o inquérito
O mencionado art. 18 do CPP e a Súmula policial, com base no art. 18 do CPP e na
524 do STF realmente permitem o Súmula 524 do STF.
desarquivamento do inquérito caso STF. 1ª Turma. HC 95211, Rel. Min.
surjam provas novas. No entanto, essa Cármen Lúcia, julgado em 10/03/2009.
possibilidade só existe na hipótese em STF. 2ª Turma. HC 125101/SP, rel. orig.
que o arquivamento ocorreu por falta de Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão
provas, ou seja, por falta de suporte Min. Dias Toffoli, julgado em 25/8/2015
probatório mínimo (inexistência de (Info 796).
indícios de autoria e certeza de
materialidade).
STJ. 6ª Turma. REsp 791.471/RJ, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, j. 25/11/2014 (Info
554).

Caso concreto divulgado no Info 858: João foi investigado pela suposta prática do
crime de homicídio. O inquérito policial foi arquivado porque houve a conclusão de
que o homicídio praticado por João teria sido em legítima defesa. Posteriormente,
diante de diversas denúncias, constatou-se que o relatório foi adulterado pelo
Delegado que presidia o IP, e que testemunhas assinaram documentos com
declarações que não prestaram. Com base em novos depoimentos das testemunhas, o
MP reabriu a investigação. A defesa impetrou habeas corpus alegando que estaria
havendo violação à coisa julgada.O STF, contudo, não acolheu o pedido e decidiu que:

O arquivamento de inquérito policial por excludente de


ilicitude realizado com base em provas fraudadas não faz
coisa julgada material. STF. Plenário. HC 87395/PR, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, j. 23/3/2017 (Info 858).

MOTIVO DO ARQUIVAMENTO É POSSÍVEL DESARQUIVAR?


1) Insuficiência de provas SIM (Súmula 524-STF)
2) Ausência de pressuposto processual ou de SIM
condição da ação penal
3) Falta de justa causa para a ação penal (não SIM
há indícios de autoria ou prova da
materialidade)
4) Atipicidade (fato narrado não é crime) NÃO
5) Existência manifesta de causa excludente STJ: NÃO (REsp 791471/RJ)
de ilicitude
STF: SIM (HC 125101/SP)
6) Existência manifesta de causa excludente NÃO (Posição da doutrina)
de culpabilidade*
7) Existência manifesta de causa extintiva da NÃO
punibilidade (STJ HC 307.562/RS)
(STF Pet 3943)
Exceção: certidão de óbito falsa

* Situação ainda não apreciada pelo STF. Esta é a posição defendida pela doutrina.

4.2. É incabível a anulação de processo penal em razão de suposta irregularidade


verificada em inquérito policial – (Info 824)

A suspeição de autoridade policial não é motivo de nulidade do processo, pois o


inquérito é mera peça informativa, de que se serve o Ministério Público para o
início da ação penal.
Assim, é inviável a anulação do processo penal por alegada irregularidade no
inquérito, pois, segundo jurisprudência firmada no STF, as nulidades processuais
estão relacionadas apenas a defeitos de ordem jurídica pelos quais são afetados os
atos praticados ao longo da ação penal condenatória.
STF. 2ª Turma. RHC 131450/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info
824).
OBS:
O investigado, durante o inquérito policial, poderia ter arguido junto ao Poder
Judiciário, a suspeição do Delegado? Prevalece que não por falta de previsão legal.
Essa é a posição da doutrina majoritária.

"(...) funcionando o inquérito policial como um procedimento


investigatório de caráter inquisitorial e preparatório da ação
penal, cujos elementos informativos devem ser reproduzidos
em juízo sob o crivo do contraditório e da ampla defesa para
que possam ser tratados como prova, prevalece o
entendimento de que não se pode opor suspeição às
autoridades policiais nos atos do inquérito." (LIMA, Renato
Brasileiro de. Código de Processo Penal comentado. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 361).

Vale ressaltar a posição de Nucci, para quem seria possível arguir essa suspeição junto
aos órgãos administrativos da Polícia (Delegado Geral de Polícia, no caso da Polícia
Civil):

“Cremos, pois, que, havendo motivação para a consideração


da suspeição do delegado, não podendo o magistrado afastá-
lo, por falta de previsão legal, deve a parte interessada solicitar
o afastamento da autoridade policial ao Delegado Geral de
Polícia ou, sendo o pleito recusado, ao Secretário da Segurança
Pública. A questão torna-se, então, administrativa, pois existe
recomendação legal para que o afastamento ocorra”. (NUCCI,
Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado.
13ª ed. Forense, Rio de Janeiro: 2014, p. 298).

Informação complementar. Art. 7º, XXI, do EOAB: Em regra, as irregularidades


ocorridas no inquérito policial não contaminam os elementos informativos que serão
utilizados no processo penal. No entanto, o art. 7º, XXI, do Estatuto da OAB,
recentemente alterado pela Lei nº 13.245/2016, prevê uma exceção:

Art. 7º São direitos do advogado:


(...) XXI - assistir a seus clientes investigados durante a
apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do
respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente,
de todos os elementos investigatórios e probatórios dele
decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo,
inclusive, no curso da respectiva apuração:
a) apresentar razões e quesitos;
b) (VETADO).

O inciso XXI prevê que, se for negado o direito de o advogado participar do


interrogatório ou depoimento, haverá nulidade absoluta desses atos e, por
consequência, nulidade também de todas as "provas" (elementos informativos) que,
direta ou indiretamente, decorrerem deles.

Ex: o Delegado não permitiu que o advogado participasse do depoimento de uma


testemunha do inquérito policial. Durante o depoimento, a testemunha revela que viu
o investigado, no dia do crime, em um determinado endereço. A partir desse
depoimento, a autoridade policial pede a realização de uma busca e apreensão no local
e ali descobre a arma utilizada pelo investigado no crime, além de objetos pessoais a
ele pertencentes. Pela redação do inciso XXI, haveria nulidade absoluta da oitiva da
testemunha e também das "provas" obtidas com a busca e apreensão, uma vez que tal
diligência foi decorrente das informações passadas pela testemunha.

4.3. (Im)possibilidade de reabertura de inquérito policial arquivado por


excludente de ilicitude – (Info 796) – ATUALIZE O INFO 554 DO STJ!!!

É possível a reabertura da investigação e o oferecimento de denúncia se o inquérito


policial havia sido arquivado com base em excludente de ilicitude?
 STJ: NÃO. Para o STJ, o arquivamento do inquérito policial com base na
existência de causa excludente da ilicitude faz coisa julgada material e impede
a rediscussão do caso penal. O mencionado art. 18 do CPP e a Súmula 524 do
STF realmente permitem o desarquivamento do inquérito caso surjam provas
novas. No entanto, essa possibilidade só existe na hipótese em que o
arquivamento ocorreu por falta de provas, ou seja, por falta de suporte
probatório mínimo (inexistência de indícios de autoria e certeza de
materialidade). STJ. 6ª Turma. REsp 791.471/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
em 25/11/2014 (Info 554).
 STF: SIM. Para o STF, o arquivamento de inquérito policial em razão do
reconhecimento de excludente de ilicitude não faz coisa julgada material. Logo,
surgindo novas provas seria possível reabrir o inquérito policial, com base no
art. 18 do CPP e na Súmula 524 do STF. STF. 1ª Turma. HC 95211, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 10/03/2009. STF. 2ª Turma. HC 125101/SP, rel. orig.
Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 25/8/2015
(Info 796).

4.4. Tramitação direta do IP entre Polícia e MP – (Info 741) - Atenção! MP e


Delegado!

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a tramitação direta do inquérito


policial entre a polícia e o Ministério Público.
É CONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a possibilidade de o MP requisitar
informações quando o inquérito policial não for encerrado em 30 dias, tratando-se
de indiciado solto.
STF. Plenário. ADI 2886/RJ, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, j. 3/4/14 (Info
741).

4.5. Indiciamento é ato privativo da autoridade policial

O indiciamento é ato privativo da autoridade policial, segundo sua análise técnico-


jurídica do fato. O juiz não pode determinar que o Delegado de Polícia faça o
indiciamento de alguém.
STF. 2ª Turma. HC 115015/SP, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2013.

5. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
5.1. Denúncia anônima – (Info 819) – (TRF2-2017) (TJMS-2012) (MPF-2012)

As notícias anônimas ("denúncias anônimas") não autorizam, por si sós, a


propositura de ação penal ou mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego
de métodos invasivos de investigação, como interceptação telefônica ou busca e
apreensão. Entretanto, elas podem constituir fonte de informação e de provas que
não podem ser simplesmente descartadas pelos órgãos do Poder Judiciário.
Procedimento a ser adotado pela autoridade policial em caso de “denúncia
anônima”:
1) Realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade da
“denúncia”;
2) Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui aparência mínima de
procedência, instaura-se inquérito policial;
3) Instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá buscar outros meios de
prova que não a interceptação telefônica (esta é a ultima ratio). Se houver indícios
concretos contra os investigados, mas a interceptação se revelar imprescindível
para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao
magistrado.
STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info
819).

(TRF2-2017): Delegado da Polícia Federal recebe carta apócrifa, na qual é


reportado esquema de fraude, consistente em produzir atestados falsos para
obtenção, junto ao INSS, de benefícios de auxílio-doença. Após diligências
preliminares destinadas a verificar a verossimilhança das informações da carta, o
Delegado instaura inquérito policial para completa apuração dos fatos.
Consideradas tal narrativa e a jurisprudência do STF, assinale a opção correta: É
legal a instauração de inquérito policial em virtude de denúncia anônima, desde
que realizadas diligências preliminares para verificar a verossimilhança das
informações. BL: Info 819, STF.

(TJMS-2012): A notitia criminis inqualificada, de per si, é considerada pelos


tribunais superiores como fundamento insuficiente capaz de ensejar a instauração
de inquérito policial.

OBS:
O que é a chamada "denúncia anônima"? Ocorre quando alguém, sem se identificar,
relata para as autoridades (ex: Delegado de Polícia, MP etc.) que determinada pessoa
praticou um crime. É o caso, por exemplo, dos serviços conhecidos como "disk-
denúncia" ou, então, dos aplicativos de celular por meio dos quais se "denuncia" a
ocorrência de delitos.
O termo "denúncia anônima" não é tecnicamente correto porque em processo penal
denúncia é o nome dado para a peça inaugural da ação penal proposta pelo MP.
Assim, a doutrina prefere falar em "delação apócrifa", "notícia anônima" ou "notitia
criminis inqualificada".

É possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em “denúncia


anônima”? NÃO. A medida de busca e apreensão representa uma restrição ao direito
à intimidade. Logo, para ser decretada, é necessário que haja indícios mais robustos
que uma simples notícia anônima.

É possível decretar interceptação telefônica com base unicamente em “denúncia


anônima”? NÃO. A Lei 9296/96 (Lei de Interceptação Telefônica) estabelece:

Art. 2º Não será admitida a interceptação de comunicações


telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;

Desse modo, a doutrina defende que a interceptação telefônica deverá ser considerada
a ultima ratio, ou seja, trata-se de prova subsidiária.

Tendo como fundamento esse dispositivo legal, a jurisprudência pacífica do STF e do


STJ entende que é ilegal que a interceptação telefônica seja determinada apenas com
base em “denúncia anônima”.

Logo, se a autoridade policial ou o MP recebe uma “denúncia anônima” (“delação


apócrifa”) contra determinada pessoa, não é possível que seja requerida, de imediato,
a interceptação telefônica do suspeito. Isso seria uma grave interferência na esfera
privada da pessoa, sem que houvesse justificativa idônea para isso.

É possível a propositura de ação penal com base unicamente em “denúncia anônima”?


NÃO. A propositura de ação penal exige indícios de autoria e prova de materialidade.
Logo, não é possível oferecimento de denúncia com base apenas em "denúncia
anônima".
É possível instaurar investigação criminal (inquérito policial, investigação pelo MP
etc.) com base em “denúncia anônima”? SIM, mas a jurisprudência afirma que, antes,
a autoridade deverá realizar uma investigação prévia para confirmar se a "denúncia
anônima" possui um mínimo de plausibilidade.

Veja o que diz Renato Brasileiro: "Diante de uma denúncia anônima, deve a
autoridade policial, antes de instaurar o inquérito policial, verificar a procedência e
veracidade das informações por ela veiculadas. Recomenda-se, pois, que a autoridade
policial, de proceder à instauração formal do inquérito policial, realize uma
investigação preliminar a fim de constatar a plausibilidade da denúncia anônima.
Afigura-se impossível a instauração de procedimento criminal baseado única e
exclusivamente em denúncia anônima, haja vista a vedação constitucional do
anonimato e a necessidade de haver parâmetros próprios à responsabilidade, nos
campos cível e penal." (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal.
Salvador: Juspodivm, 2015, p. 129).

5.2. Investigação criminal envolvendo autoridades com foro privativo no STF –


(Info 812)

As investigações envolvendo autoridades com foro privativo no STF somente


podem ser iniciadas após autorização formal do STF.
De igual modo, as diligências investigatórias envolvendo autoridades com foro
privativo no STF precisam ser previamente requeridas e autorizadas pelo STF.
Diante disso, indaga-se: depois de o PGR requerer alguma diligência
investigatória, antes de o Ministro-Relator decidir, é necessário que a defesa do
investigado seja ouvida e se manifeste sobre o pedido?
NÃO. As diligências requeridas pelo Ministério Público Federal e deferidas pelo
Ministro-Relator são meramente informativas, não suscetíveis ao princípio do
contraditório.
Desse modo, não cabe à defesa controlar, “ex ante”, a investigação, o que acabaria
por restringir os poderes instrutórios do Relator.
Assim, o Ministro poderá deferir, mesmo sem ouvir a defesa, as diligências
requeridas pelo MP que entender pertinentes e relevantes para o esclarecimento
dos fatos.
STF. 2ª Turma. Inq 3387 AgR/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/12/2015 (Info
812).

6. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO


6.1. Legitimidade do MP para promover, por autoridade própria, investigações de
natureza penal – (Info 787) – (TJAL-2015) (MPPR-2012)

O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade


própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que
respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer
pessoa sob investigação do Estado.
A controvérsia sobre a legitimidade constitucional do poder de investigação do
Ministério Público foi pacificada pelo STF com o julgamento do RE 593.727/MG
(Info 785).
STF. 1ª Turma. HC 85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, j. 26/5/15 (Info
787).
(TJAL-2015-FCC): A investigação de uma infração penal poderá ser conduzida
pelo Ministério Público, conforme recente decisão do STF. BL: Infos 785 e 787 do
STF.

(MPPR-2012): Quando a Constituição da República, ao tratar das funções da


Polícia Federal, utiliza a expressão “exercer com exclusividade as funções de
polícia judiciária da União” deve ser interpretada no sentido de excluir das demais
polícias (Civil, Militar, etc.) a destinação de exercer as funções de Polícia Judiciária
da União e não no sentido de afastar o Ministério Público da atividade
investigativa em procedimento próprio. (TJPB-2011)

6.2. STF fixa requisitos para atuação do Ministério Público em investigações penais
– (Info 785) – (TJAL-2015)

O STF reconheceu a legitimidade do MP para promover, por autoridade própria,


investigações de natureza penal, mas ressaltou que essa investigação deverá
respeitar alguns parâmetros que podem ser a seguir listados:
1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais dos investigados;
2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente documentados e praticados
por membros do MP;
3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, ou
seja, determinadas diligências somente podem ser autorizadas pelo Poder
Judiciário nos casos em que a CF/88 assim exigir (ex: interceptação telefônica,
quebra de sigilo bancário etc);
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais asseguradas por lei aos
advogados;
5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante 14 do STF (“É
direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos
de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por
órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito
de defesa”);
6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável;
7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao permanente
controle do Poder Judiciário.
A tese fixada em repercussão geral foi a seguinte:
“O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria,
e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os
direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob
investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva
constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se
acham investidos, em nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º, notadamente
os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre
presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional
dos atos, necessariamente documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante),
praticados pelos membros dessa Instituição.”
STF. Plenário. RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min.
Gilmar Mendes, j. 14/5/15 (repercussão geral) (Info 785).
(Técnico do MPRJ-2016-FGV): Chega notícia através da Ouvidoria do Ministério
Público da prática de determinado crime e que possivelmente haveria omissão da
Delegacia de Polícia na apuração. Em razão disso, o Promotor de Justiça instaura
procedimento de investigação criminal no âmbito da própria Promotoria. Sobre o
poder investigatório do Ministério Público, de acordo com a atual jurisprudência
dos Tribunais Superiores, a conduta do promotor foi legal, pois tem o Ministério
Público poder de investigação direta, respeitados os direitos constitucionais do
investigado, assim como eventual foro por prerrogativa de função. BL: STF, Infos
785 e 787.

(TJAL-2015-FCC): A investigação de uma infração penal poderá ser conduzida


pelo Ministério Público, conforme recente decisão do STF. BL: Infos 785 e 787 do
STF.

7. INDICIAMENTO
7.1. Indiciamento envolvendo autoridades com foro por prerrogativa de função –
(Info 825)

Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada.
Há duas exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser indiciadas:
a) Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79);
b) Membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/73 e art. 40,
parágrafo único, da Lei nº 8.625/93).
Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o indiciamento de
autoridades com foro por prerrogativa de função. No entanto, para isso, é
indispensável que a autoridade policial obtenha uma autorização do Tribunal
competente para julgar esta autoridade.
Ex: em um inquérito criminal que tramita no STJ para apurar crime praticado por
Governador de Estado, o Delegado de Polícia constata que já existem elementos
suficientes para realizar o indiciamento do investigado. Diante disso, a autoridade
policial deverá requerer ao Ministro Relator do inquérito no STJ autorização para
realizar o indiciamento do referido Governador. Não é o Ministro Relator quem irá
fazer o indiciamento. Este ato é privativo da autoridade policial. O Ministro Relator
irá apenas autorizar que o Delegado realize o indiciamento.
STF. Decisão monocrática. HC 133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
18/04/2016 (Info 825).
OBS:
Investigação envolvendo autoridades com foro por prerrogativa de função: As
investigações envolvendo autoridades com foro privativo só podem ser iniciadas após
autorização formal do Tribunal competente para julgá-las. Assim, se durante uma
investigação, a autoridade policial ou o Promotor de Justiça/Procurador da República
descobrem indícios do envolvimento de um Governador do Estado, antes que se
iniciem as investigações envolvendo a referida autoridade, o STJ deverá ser provocado
e dizer se autoriza ou não o inquérito. Caso seja autorizado, este inquérito criminal
(não é chamado inquérito "policial") deverá tramitar no STJ, sob a supervisão de um
Ministro-Relator que irá autorizar as diligências que se fizerem necessárias.
Diz-se que o STJ realiza a "supervisão judicial" das investigações envolvendo
autoridades que serão, posteriormente, julgadas pela Corte. Este controle exercido
pelo STJ ocorre durante toda a tramitação das investigações (isto é, desde a abertura
dos procedimentos investigatórios até o eventual oferecimento, ou não, de denúncia
pelo MP). Significa que a autoridade policial ou o MP não podem investigar eventuais
crimes cometidos por autoridades com foro privativo no STJ, salvo se houver uma
prévia autorização da Corte.

O que é o indiciamento? De quem é a atribuição para fazer o indiciamento? “É o ato


resultante das investigações policiais por meio do qual alguém é apontado como
provável autor de um fato delituoso.” (LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo
Penal. Niterói: Impetus, 2013, p. 111).

O indiciamento é um ato privativo da autoridade policial (Delegado de Polícia). Essa


característica foi reforçada recentemente pela Lei 12.830/2013, que previu no § 6º do
art. 2º a seguinte regra:

§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-


á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do
fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas
circunstâncias.

Sendo o ato de indiciamento privativo do Delegado de Polícia, é equivocado e


inadmissível que o juiz, o membro do Ministério Público ou a CPI requisitem o
indiciamento de qualquer suspeito: STF. 2ª Turma. HC 115015/SP, rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 27/8/2013 (Info 717).

A autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada? Em regra, a
autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada. Existem duas
exceções previstas em lei:
 Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79);
 Membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/73 e art.
40, parágrafo único, da Lei nº 8.625/93).

A lei determina que, havendo indícios da prática de crime por Magistrados ou


membros do MP, a autoridade policial não poderá realizar a investigação (não
podendo, por consequência, indiciar), devendo encaminhar os autos imediatamente
ao Tribunal competente (no caso de Magistrados), ao PGR (no caso de MPU) ou ao
PGJ (se for MPE).

O simples fato de alguém ser indiciado constitui constrangimento ilegal? NÃO. A


realização do ato de indiciamento, quando este for promovido com observância dos
pressupostos essenciais à sua legitimação, notadamente com respeito às formalidades
previstas em nosso ordenamento positivo, não constitui, por si só, situação
configuradora de constrangimento ilegal impugnável mediante “habeas corpus” nem
reveladora de comportamento policial abusivo (Min. Celso de Mello). Por outro lado,
se o fato em apuração não constituir crime ou não houver indícios contra o
investigado, aí sim, neste caso, o indiciamento gera constrangimento ilegal.

8. SIGILO BANCÁRIO
8.1. Validade da utilização do RMF no processo penal – (Info 822) –
IMPORTANTE!!!

Não é nula a condenação criminal lastreada em prova produzida no âmbito da


Receita Federal do Brasil por meio da obtenção de informações de instituições
financeiras sem prévia autorização judicial de quebra do sigilo bancário. Isso
porque o STF decidiu que são constitucionais os arts. 5º e 6º da LC 105/2001, que
permitem o acesso direto da Receita Federal à movimentação financeira dos
contribuintes.
STF. 2ª Turma. RHC 121429/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/4/2016 (Info
822).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Samuel era sócio administrador de uma
empresa. A Receita Federal instaurou procedimento fiscal contra a sociedade
empresária sob a suspeita de que estaria havendo sonegação de tributos. No curso do
procedimento, a Receita, sem autorização judicial, requisitou diretamente do banco os
extratos bancários da empresa. A título de curiosidade, essa determinação é chamada
de requisição de informações sobre movimentação financeira (RMF). A Receita
fundamentou sua requisição no art. 6º da LC 105/2001:

Art. 6º As autoridades e os agentes fiscais tributários da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
somente poderão examinar documentos, livros e registros de
instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de
depósitos e aplicações financeiras, quando houver processo
administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e
tais exames sejam considerados indispensáveis pela
autoridade administrativa competente.

De posse dos extratos, o Fisco constatou que realmente houve sonegação de tributos
e, por conta disso, autuou a pessoa jurídica e fez a constituição definitiva do crédito
tributário.

Ação penal: A Receita Federal encaminhou cópia integral do processo administrativo-


fiscal, inclusive dos extratos bancários, e o MPF, com base nesses elementos
informativos (“provas”), denunciou Samuel como incurso no art. 1º, I, da Lei 8.137/90.

Alegação de prova ilícita: Ao se defender, Samuel sustentou a ilicitude da "prova"


colhida (extratos bancários), alegando que teria havido uma quebra de sigilo bancário
sem autorização judicial. Desse modo, essa "prova" não poderia ser utilizada no
processo penal.

A tese do réu é aceita pela jurisprudência do STF? NÃO.

9. DENÚNCIA
9.1. Inépcia caso a denúncia se baseie apenas no fato de que o réu era Diretor-
Presidente da empresa – (Info 850)
O MP ofereceu denúncia contra alguns sócios da empresa, dentre eles o Diretor-
Presidente, afirmando, quanto a este, que praticou o crime de evasão de divisas
porque detinha o domínio do fato e que não seria crível que a empresa
movimentasse altos valores para o exterior sem que ele soubesse.
O STF entendeu que esta denúncia é inepta.
Não há óbice para que a denúncia invoque a teoria do domínio do fato para dar
suporte à imputação penal, sendo necessário, contudo, que, além disso, ela aponte
indícios convergentes no sentido de que o Presidente da empresa não só teve
conhecimento do crime de evasão de divisas, como dirigiu finalisticamente a
atuação dos demais acusados.
Assim, não basta que o acusado se encontre em posição hierarquicamente superior.
Isso porque o próprio estatuto da empresa prevê que haja divisão de
responsabilidades e, em grandes corporações, empresas ou bancos há controles e
auditorias exatamente porque nem mesmo os sócios têm como saber tudo o que se
passa.
STF. 2ª Turma. HC 127397/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/12/2016 (Info
850).

(MPMG-2013): É insuficiente, nos crimes societários, a denúncia atribuir


responsabilidade penal à pessoa física, considerando apenas o cargo ou função
desempenhados na empresa.

OBS:
Atenção: não se exige descrição pormenorizada: Importante esclarecer que, nos crimes
societários não se exige a descrição minuciosa e detalhada das condutas de cada autor,
bastando a descrição do fato típico, das circunstâncias comuns, os motivos do crime e
indícios suficientes da autoria, ainda que sucintamente, a fim de garantir o direito à
ampla defesa e contraditório (STF. 1ª Turma. HC 136822 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, j.
09/12/16).

É fundamental, no entanto, que haja o mínimo de individualização da conduta para


permitir o recebimento da denúncia (STF. 2ª Turma. HC 127415, Rel. Min. Gilmar
Mendes, j. 13/09/16).

Se a denúncia se limita a descrever a posição hierárquica do denunciado na empresa,


ela deverá ser considerada inepta (STF. 1ª Turma. Pet 5629, Rel. Min. Rosa Weber,
julgado em 24/05/2016).

O ordenamento processual penal veda a responsabilidade penal objetiva, aquela que


decorre exclusivamente da relação de propriedade entre a pessoa física e jurídica
mediante a qual se praticou o crime (STF. 1ª Turma. HC 122450, Rel. Min. Luiz Fux,
Dje 19/11/14).

Assim, imputar a alguém uma conduta penal tão somente pelo fato de ocupar
determinado cargo significa, na prática, adotar a responsabilização objetiva na esfera
penal (STF. 2ª Turma. AP 898, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe 12/4/16).

Resumindo. Denúncia em crimes societários:


 Não se exige descrição minuciosa e detalhada da conduta.
 Exige-se que haja o mínimo de individualização da conduta. É necessário que
o MP estabeleça o vínculo entre o denunciado e a empreitada criminosa a ele
imputada.
 Não é possível imputar a alguém uma conduta penal tão somente pelo fato de
ocupar determinado cargo. Isso seria adotar a responsabilização objetiva na
esfera penal.

10. AÇÃO PENAL


10.1. Empate no julgamento de ação penal – (Info 888)

Verificado empate no julgamento de ação penal, deve prevalecer a decisão mais


favorável ao réu.
Esse mesmo entendimento deve ser aplicado em caso de empate no julgamento dos
embargos de declaração opostos contra o acórdão que julgou a ação penal.
Terminando o julgamento dos embargos empatado, aplica-se a decisão mais
favorável ao réu.
STF. Plenário. AP 565 ED-ED/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac. Min. Dias
Toffoli, j. 14/12/17 (Info 888).
OBS:
Se, durante o julgamento de uma ação penal no STF, o julgamento ficar empatado, o
que acontecerá? Deverá prevalecer a decisão mais favorável ao acusado.

Seria possível o Presidente do Plenário (ou Presidente da Turma) proferir voto de


desempate? NÃO. Conforme explica o Min. Celso de Mello:
“Tratando-se de matéria penal, o empate somente pode
beneficiar aquele que sofre a persecução estatal, de tal modo
que, em não havendo maioria em sentido contrário, o empate
importará, necessariamente, em respeito à presunção
constitucional de inocência (CF, art. 5º, LVII) (...) em rejeição
da denúncia, ou, então, em absolvição, ou, na hipótese de
“habeas corpus”, em concessão do próprio “writ”
constitucional.
(...)
A norma regimental que confere ao Presidente do Plenário
ou ao Presidente de cada uma das Turmas o voto de
qualidade não pode nem deve incidir na hipótese de empate
que eventualmente se registre em julgamentos penais, como
sucede na espécie.
E a razão é simples: mera norma de índole regimental jamais
poderá prevalecer, em situação de antinomia, sobre o texto
normativo da Constituição...” (voto no Inq 3670/RR).

Esse entendimento acima vale também para o julgamento de embargos de declaração


opostos contra o acórdão que julgou a ação penal? SIM.

Imagine a seguinte situação hipotética: João, Deputado Federal, foi condenado pelo
voto da maioria dos Ministros do STF em julgamento originário de ação penal. Contra
este acórdão, João opôs embargos de declaração alegando que houve erro material na
dosimetria da pena e que, por conta disso, sua reprimenda deveria ser diminuída.
Houve empate no julgamento desses embargos de declaração. Neste caso, deve-se
aplicar a solução mais favorável ao réu, aceitando-se a tese de que houve erro
material e de que a sua pena deve ser reduzida.

11. AÇÃO PENAL PRIVADA


11.1. QUEIXA-CRIME: O proprietário da rádio não pode ser processado
criminalmente por ofensas proferidas por radialista pelo simples fato de ser o titular
da empresa e inimigo político do ofendido – (Info 857)

Em um programa de maior audiência da rádio, o apresentador proferiu uma série


de acusações contra determinado político, afirmando que ele desviou dinheiro
público na construção da escola, que se trata de um corrupto, de um ladrão etc.
O ofendido ajuizou queixa-crime contra o radialista e contra o proprietário da rádio
afirmando que todos sabem que o dono deste meio de comunicação é seu inimigo
político, de forma que é intuitivo crer que foi o sócio-proprietário da rádio quem
orientou e ordenou que o apresentador proferisse as agressões verbais contra o
querelante.
Em uma situação semelhante a esta, o STF rejeitou a queixa-crime afirmando que
o querelante não individualizou, minimamente, a conduta do querelado detentor
de prerrogativa de foro e lhe imputou fatos criminosos em razão da mera condição
de sócio-proprietário do veículo de comunicação social, o que não é admitido.
A mera posição hierárquica do querelado como titular da empresa de comunicação
não é suficiente para o recebimento da queixa-crime. Seria necessário que o
querelante tivesse descrito e apontado elementos indiciários que evidenciassem a
vontade e consciência do querelado de praticar os crimes imputados. Não tendo
isso sido feito, a queixa-crime deve ser rejeitada por manifesta ausência de justa
causa.
STF. 1ª Turma. Pet 5660/PA, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/3/2017 (Info 857).

11.2. Princípio da indivisibilidade da ação penal privada – (Info 813)

Não oferecida a queixa-crime contra todos os supostos autores ou partícipes da


prática delituosa, há afronta ao princípio da indivisibilidade da ação penal, a
implicar renúncia tácita ao direito de querela, cuja eficácia extintiva da
punibilidade estende-se a todos quantos alegadamente hajam intervindo no
cometimento da infração penal.
STF. 1ª Turma. Inq 3526/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 2/2/2016 (Info 813).
OBS:
O princípio da indivisibilidade significa que a ação penal deve ser proposta contra
todos os autores e partícipes do delito. Encontra-se previsto no art. 48 do CPP.
Ex: se o crime foi cometido por “A” e por “B”, a ação penal deverá ser ajuizada contra
os dois, não podendo, em regra, ser proposta apenas contra um deles, salvo se houver
algum motivo jurídico que autorize (um deles já morreu, é doente mental, é menor de
18 anos, não há provas contra ele etc.).

Qual é a consequência do desrespeito ao princípio da indivisibilidade na ação penal


privada?
 Se a omissão foi VOLUNTÁRIA (DELIBERADA): se o querelante deixou,
deliberadamente, de oferecer queixa contra um dos autores ou partícipes, o
juiz deverá rejeitar a queixa e declarar a extinção da punibilidade para todos
(arts. 104 e 109, V, do CP). Todos ficarão livres do processo.
 Se a omissão foi INVOLUNTÁRIA: o MP deverá requerer a intimação do
querelante para que ele faça o aditamento da queixa-crime e inclua os demais
coautores ou partícipes que ficaram de fora.

Assim, conclui-se que a não inclusão de eventuais suspeitos na queixa-crime não


configura, por si só, renúncia tácita ao direito de queixa. Para o reconhecimento da
renúncia tácita ao direito de queixa, exige-se a demonstração de que a não inclusão de
determinados autores ou partícipes na queixa-crime se deu de forma deliberada pelo
querelante.

11.3. Conselho indigenista não pode ajuizar queixa-crime subsidiária por delito
supostamente praticado contra índios – (Info 768) - Atenção! Concursos federais!

Determinado indivíduo teria proferido discurso racista contra um grupo de índios


que teria invadido uma fazenda na região
O Ministério Público não ofereceu denúncia nem instaurou qualquer
procedimento.
Em virtude disso, o Conselho dos Povos Indígenas (organização não-
governamental indígena) ajuizou uma queixa-crime subsidiária (art. 5º, LIX, da
CF/88) contra o indivíduo, imputando-lhe a prática dos crimes de racismo (art. 20
da Lei 9.459/97) e incitação à violência e ódio contra os povos indígenas (arts. 286 e
287 do CP).
Essa queixa-crime deverá ser rejeitada porque os conselhos indigenistas não
possuem legitimidade ativa em matéria penal.
Na ação penal privada (mesmo sendo a subsidiária da pública), a queixa-crime
somente pode ser promovida pelo ofendido ou por quem tenha qualidade para
representá-lo (art. 100, § 2º do CP e art. 30 do CPP). A suposta vítima dos crimes não
foi o conselho indigenista, mas sim os próprios índios que participaram da invasão.
STF. 1ª Turma. Inq 3862 ED/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 18/11/14 (Info 768).

12. INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL


12.1. Se o acusado se recusa a participar do incidente, não pode ser obrigado a fazer
o exame – (Info 838) – IMPORTANTE!!!

O incidente de insanidade mental é prova pericial constituída em favor da defesa.


Logo, não é possível determiná-lo compulsoriamente na hipótese em que a defesa
se oponha à sua realização.
STF. 2ª Turma. HC 133.078/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 6/9/2016 (Info 838).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João respondia a ação penal por roubo. O
Ministério Público suspeitou da integridade mental do acusado. Diante disso,
requereu a instauração de incidente de insanidade mental, nos termos do art. 149 do
CPP:

Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental


do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do
Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente,
descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este
submetido a exame médico-legal.
O pedido foi deferido pelo magistrado. Ocorre que o réu impetrou habeas corpus
afirmando que não deseja ser submetido ao exame.

O acusado pode ser submetido ao incidente de insanidade mental mesmo contra a sua
vontade? NÃO. No direito brasileiro, adotou-se o critério biopsicológico para a análise
da inimputabilidade do acusado, nos termos do art. 26 do CP:

Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.

Regra semelhante é encontrada no Código Penal Militar:

Art. 48. Não é imputável quem, no momento da ação ou da


omissão, não possui a capacidade de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acôrdo com êsse
entendimento, em virtude de doença mental, de
desenvolvimento mental incompleto ou retardado.

Assim, havendo dúvida sobre a imputabilidade, é indispensável a realização de exame


médico-pericial no réu. Ocorre que, se o acusado se recusa a participar do incidente,
não pode ser obrigado a fazer o exame. O privilégio contra a autoincriminação,
garantia constitucional, permite ao réu o exercício do direito de silêncio, não estando,
por essa razão, obrigado a se submeter a prova pericial que entende, por qualquer
motivo, lhe ser desfavorável. A jurisprudência do STF não admite a produção de
prova que exija a condução coercitiva do réu para dela participar.

13. INDULTO NATALINO


13.1. Condenado que pratica falta grave nos 12 meses antes da publicação do decreto
de indulto natalino não terá direito ao benefício mesmo que a homologação ocorra
após o decreto – (Info 842)

O art. 5º do Decreto 8.380/2014 prevê que a pessoa não pode ser beneficiada com o
indulto natalino se tiver recebido sanção disciplinar grave no período de 24/12/2013
até 24/12/2014:
“Art. 5º A declaração do indulto e da comutação de penas previstos neste Decreto
fica condicionada à inexistência de aplicação de sanção, reconhecida pelo juízo
competente, em audiência de justificação, garantido o direito ao contraditório e à
ampla defesa, por falta disciplinar de natureza grave, prevista na Lei de Execução
Penal, cometida nos doze meses de cumprimento da pena, contados
retroativamente à data de publicação deste Decreto.”
Se o condenado praticou falta grave no período de 12 meses antes da publicação do
decreto de indulto natalino, ele não poderá receber o benefício mesmo que a
homologação judicial desta sanção disciplinar tenha ocorrido em data posterior à
publicação do decreto.
Dessa forma, a falta disciplinar é que tem que ter ocorrido antes da publicação do
Decreto, não importando que a homologação judicial seja posterior.
STF. 2ª Turma. HC 132236/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 30/8/16 (Info 837).
STF. 2ª Turma. RHC 133443/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 04/10/16 (Info 842).
13.2. Interpretação do art. 4º do Decreto 7.873/2012 – (Info 837)

O art. 4º do Decreto 7.873/12 prevê que a pessoa não pode ser beneficiada com o
indulto natalino se tiver recebido sanção disciplinar grave no período de 26/12/2011
até 26/12/2012:
“Art. 4º A declaração do indulto e da comutação de penas previstos neste Decreto
fica condicionada à inexistência de aplicação de sanção, homologada pelo juízo
competente, em audiência de justificação, garantido o direito ao contraditório e à
ampla defesa, por falta disciplinar de natureza grave, prevista na Lei de Execução
Penal, cometida nos doze meses de cumprimento da pena, contados
retroativamente à data de publicação deste Decreto.”
Se o condenado praticou falta grave no período de 12 meses antes da publicação do
decreto de indulto natalino, ele não poderá receber o benefício mesmo que a
homologação judicial desta sanção disciplinar tenha ocorrido em data posterior à
publicação do decreto.
Dessa forma, a falta disciplinar é que tem que ter ocorrido antes da publicação do
Decreto, não importando que a homologação judicial seja posterior.
STF. 2ª Turma. HC 132236/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 30/8/2016 (Info 837).
OBS:
Indulto: É um benefício concedido pelo Presidente da República por meio do qual as
pessoas condenadas por determinados crimes ficarão livres dos efeitos executórios da
condenação, desde que se enquadrem nas condições previstas no decreto presidencial.

Indulto natalino: É bastante comum o Presidente da República editar um decreto, no


final de todos os anos, concedendo indulto. Esse decreto é conhecido como “indulto
natalino”. No decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do
benefício. Caso o apenado atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve
reconhecer o direito, extinguindo a pena.

13.3. Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena
(Info 808)

Em 2013, a Presidente da República editou o Decreto 8.172/2013 concedendo o


indulto natalino para os condenados que cumprissem os requisitos ali
estabelecidos.
No art. 1º, XIII e XIV, o Decreto concedeu indulto para os réus condenados a pena
privativa de liberdade, desde que tivessem cumprido, até 25/12/2013, 1/4 (um
quarto) da pena.
Se o condenado foi beneficiado com sursis e já cumpriu mais de 1/4 do período de
prova ele poderá ser beneficiado com o indulto? É possível afirmar que
cumprimento do período de prova no sursis é a mesma coisa que cumprimento de
pena?
NÃO. Não é possível o cômputo do período de prova cumprido em suspensão
condicional da pena para preenchimento do requisito temporal objetivo do indulto
natalino. O sursis não tem natureza de pena. Ao contrário, trata-se de uma
alternativa à pena, ou seja, um benefício que o condenado recebe para não ter que
cumprir pena. Por essa razão, não se pode dizer que a pessoa beneficiada com sursis
e que esteja cumprindo período de prova se encontre cumprindo pena.
Cumprimento de período de prova não é cumprimento de pena.
STF. 1ª Turma. RHC 128515/BA, Rel. Min. Luiz Fux, j. 30/6/15 (Info 792).
STF. 2ª Turma. HC 123698/PE, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 17/11/15 (Info 808).

13.4. Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena –
(Info 794)

Em 2013, a Presidente da República editou o Decreto 8.172/2013 concedendo o


indulto natalino para os condenados que cumprissem os requisitos ali
estabelecidos.
No art. 1º, XIII e XIV, o Decreto concedeu indulto para os réus condenados a pena
privativa de liberdade, desde que tivessem cumprido, até 25/12/2013, 1/4 (um
quarto) da pena.
Se o condenado foi beneficiado com sursis e já cumpriu mais de 1/4 do período de
prova ele poderá ser beneficiado com o indulto? É possível afirmar que
cumprimento do período de prova no sursis é a mesma coisa que cumprimento de
pena?
NÃO. O sursis não tem natureza de pena. Ao contrário, trata-se de uma alternativa
à pena, ou seja, um benefício que o condenado recebe para não ter que cumprir
pena. Por essa razão, não se pode dizer que a pessoa beneficiada com sursis e que
esteja cumprindo período de prova se encontre cumprindo pena. Cumprimento de
período de prova não é cumprimento de pena.
STF. 1ª Turma. RHC 128515/BA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/6/2015 (Info
792).

14. TRANSAÇÃO PENAL


14.1. Em caso de transação penal, não se aplicam os efeitos do art. 91 do CP – (Info
787) – IMPORTANTE!!!

As consequências jurídicas extrapenais previstas no art. 91 do Código Penal são


decorrentes de sentença condenatória. Tal não ocorre, portanto, quando há
transação penal, cuja sentença tem natureza meramente homologatória, sem
qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do aceitante. As consequências
geradas pela transação penal são essencialmente aquelas estipuladas por modo
consensual no respectivo instrumento de acordo.
STF. Plenário. RE 795567/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 28/5/15 (Info 787).

15. INDULTO
15.1. O indulto da pena privativa de liberdade não alcança a pena de multa se o
condenado parcelou este valor para ter direito à progressão de regime – (Info 884)

O indulto da pena privativa de liberdade não alcança a pena de multa que tenha
sido objeto de parcelamento espontaneamente assumido pelo sentenciado.
O acordo de pagamento parcelado da sanção pecuniária deve ser rigorosamente
cumprido sob pena de descumprimento de decisão judicial, violação ao princípio
da isonomia e da boa-fé objetiva.
STF. Plenário. EP 11 IndCom-AgR/DF, rel. Min. Roberto Barroso, j. 8/11/17 (Info
884).
OBS:
Anistia, graça e indulto:
- são formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir;
- classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP);
- a anistia, a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Legislativo (no primeiro caso)
ou pelo Poder Executivo (nos dois últimos), mas somente geram a extinção da
punibilidade com a decisão judicial;
- podem atingir crimes de ação penal pública ou privada.

ANISTIA GRAÇA (ou indulto Indulto (ou indulto


individual) coletivo)

É um benefício concedido pelo Concedidos por Decreto do Presidente da


Congresso Nacional, com a sanção do República.
Presidente da República (art. 48, VIII,
Apagam o efeito executório da condenação.
CF/88), por meio do qual se “perdoa”
a prática de um fato criminoso. A atribuição para conceder pode ser delegada
ao(s):
Normalmente, incide sobre crimes
políticos, mas também pode abranger  Procurador Geral da República;
outras espécies de delito.  Advogado Geral da União;
 Ministros de Estado.

É concedida por meio de uma lei É concedida por meio de um Decreto.


federal ordinária

Pode ser concedida: Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais


benefícios só podem ser concedidos após o trânsito
 antes do trânsito em julgado
em julgado da condenação. Esse entendimento, no
(anistia própria);
entanto, está cada dia mais superado,
 depois do trânsito em julgado
considerando que o indulto natalino, por exemplo,
(anistia imprópria).
permite que seja concedido o benefício desde que
tenha havido o trânsito em julgado para a acusação
ou quando o MP recorreu, mas não para agravar a
pena imposta (art. 5º, I e II, do Decreto 7.873/2012).

Classificação Classificação
a) Propriamente dita: quando a) Pleno: quando extingue totalmente a pena.
concedida antes da condenação.
b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a
b) Impropriamente dita: quando pena (comutação).
concedida após a condenação.

a) Incondicionado: quando não impõe qualquer


a) Irrestrita: quando atinge condição.
indistintamente todos os autores do
b) Condicionado: quando impõe condição para
fato punível.
sua concessão.
b) Restrita: quando exige condição a) Restrito: exige condições pessoais do agente. Ex.:
pessoal do autor do fato punível. Ex.: exige primariedade.
exige primariedade.
b) Irrestrito: quando não exige condições pessoais
do agente.
a) Incondicionada: não se exige
condição para a sua concessão.
b) Condicionada: exige-se condição
para a sua concessão. Ex.: reparação
do dano.
a) Comum: atinge crimes comuns.
b)Especial: atinge crimes políticos.

Extingue os efeitos penais (principais Só extinguem o efeito principal do crime (a pena).


e secundários) do crime.
Os efeitos penais secundários e os efeitos de
Os efeitos de natureza civil natureza civil permanecem íntegros.
permanecem íntegros.

O réu condenado que foi anistiado, se O réu condenado que foi beneficiado por graça ou
cometer novo crime, não será indulto, se cometer novo crime, será reincidente.
reincidente.

É um benefício coletivo que, por É um benefício É um benefício coletivo


referir-se somente a fatos, atinge individual (com (sem destinatário
apenas os que o cometeram. destinatário certo). certo).
Depende de pedido do É concedido de ofício
sentenciado. (não depende de
provocação).

Vale ressaltar que a concessão do indulto está inserida no exercício do poder


discricionário do Presidente da República (STF. ADI 2.795-MC, Rel. Min. Maurício
Corrêa).

Indulto natalino: É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no


final de todos os anos, concedendo indulto. Esse Decreto é conhecido como “indulto
natalino”. No Decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do
benefício. Caso o apenado atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve
reconhecer o direito, extinguindo a pena pelo indulto.

Imagine agora a seguinte situação: João foi condenado a 5 anos de reclusão, em regime
inicial semiaberto, e ao pagamento de 200 dias-multa. Após algum tempo, ele
progrediu para o regime aberto, com base no preenchimento dos requisitos objetivos
e subjetivos, entre os quais o compromisso do pagamento da multa, por meio de
parcelamento acordado com a Fazenda Nacional. Assim, ele estava no regime aberto
e pagando, parceladamente, todos os meses, a multa. Foi aí que o Presidente da
República editou um Decreto concedendo indulto natalino. João atendeu aos
requisitos e, em razão disso, o magistrado declarou extinta a pena privativa de
liberdade imposta a ele. O julgador, contudo, manteve a exigência do pagamento da
multa. A defesa recorreu contra a decisão alegando que no Decreto de indulto havia
previsão expressa de que o indulto alcançava também a pena de multa. Veja o artigo
do Decreto:
Art. 7º O indulto ou a comutação da pena privativa de
liberdade ou restritiva de direitos alcança a pena de multa
aplicada cumulativamente.
Parágrafo único. A inadimplência da pena de multa cumulada
com pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos não
impede a declaração do indulto ou da comutação de penas.

A tese da defesa foi acolhida pelo STF? NÃO.

O réu voluntariamente aderiu ao parcelamento para que pudesse ter direito à


progressão de regime, que só pode ocorrer com o pagamento integral da multa ou
com o compromisso de seu pagamento parcelado. Nesse caso, não se aplica
integralmente o decreto de indulto, que extingue todas as penas, inclusive a de multa,
pois, para que se obtivesse a progressão, houve a substituição da pena pecuniária pelo
compromisso de pagamento parcelado.
A automática concessão do indulto da multa a condenado que tenha condições
econômicas de quitá-la, sem sacrifício dos recursos indispensáveis ao sustento próprio
ou de sua família, constituiria, em última análise, injustificável descumprimento de
decisão judicial e indesejável tratamento privilegiado em relação àqueles sentenciados
que tempestivamente pagaram a sanção pecuniária.
A liberalidade contida no parágrafo único do art. 7º do Decreto Presidencial somente
deve ser admitida na hipótese em que a defesa comprovar a extrema carência
econômica do condenado, que sequer tenha tido condições de firmar compromisso de
parcelamento do débito. Essa interpretação mais restritiva leva em consideração:
(i) o fato de que a pena de multa, embora convertida em dívida
de valor, não perdeu o seu caráter de sanção criminal e o seu
injustificado inadimplemento interfere no gozo dos benefícios
da execução penal (como, por exemplo, na progressão de
regime);
(ii) o caráter essencialmente igualitário que permeia a
concessão, pelo Presidente da República, da clemência estatal.

15.2. Possibilidade de concessão para pessoas submetidas a medida de segurança –


(Info 806) – IMPORTANTE!!!

Indulto é um ato do Presidente da República (art. 84, XII, da CF/88), materializado


por meio de um Decreto, por meio do qual é extinto o efeito executório da
condenação imposta a alguém. Em outras palavras, mesmo havendo ainda pena a
ser cumprida, o Estado renuncia ao seu direito de punir, sendo uma causa de
extinção da punibilidade (art. 107, II, CP).
Tradicionalmente, o indulto é concedido a pessoas que receberam uma pena por
terem sido condenadas pela prática de infração penal. No entanto, é possível que o
indulto seja concedido a pessoas que receberam medida de segurança.
Sobre o tema, o STF definiu a seguinte tese:

"Reveste-se de legitimidade jurídica a concessão, pelo Presidente da República, do


benefício constitucional do indulto (CF, art. 84, XII), que traduz expressão do poder
de graça do Estado, mesmo se se tratar de indulgência destinada a favorecer pessoa
que, em razão de sua inimputabilidade ou semi-imputabilidade, sofre medida de
segurança, ainda que de caráter pessoal e detentivo."
STF. Plenário. RE 628658/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4 e 5/11/2015
(Info 806).

16. FIANÇA
16.1. Concessão de liberdade provisória sem fiança a flagranteado assistido pela
Defensoria Pública – (Info 800)

O indivíduo foi preso em flagrante pela prática do crime de tráfico de drogas.


O magistrado concedeu liberdade provisória com a fixação de 2 salários-mínimos
de fiança.
Como não foi paga a fiança, o indivíduo permaneceu preso.
A Defensoria Pública impetrou habeas corpus e o STF deferiu a liberdade
provisória em favor do paciente com dispensa do pagamento de fiança.
Os Ministros afirmaram que era injusto e desproporcional condicionar a expedição
do alvará de soltura ao recolhimento da fiança.
Segundo entendeu o STF, o réu não tinha condições financeiras de arcar com o
valor da fiança, o que se poderia presumir pelo fato de ser assistido pela Defensoria
Pública, o que pressuporia sua hipossuficiência.
Assim, não estando previstos os pressupostos do art. 312 do CPP e não tendo o preso
condições de pagar a fiança, conclui-se que nada justifica a manutenção da prisão
cautelar.
STF. 1ª Turma. HC 129474/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 22/9/2015 (Info
800).

16.2. Impossibilidade de se manter o valor da fiança sem analisar a situação


econômica do agente – (Info 741)

O CPP prevê que o valor da fiança poderá ser reduzido ou até dispensado se assim
recomendar a situação econômica do preso. Logo, o juiz, para indeferir o pedido da
defesa para dispensa da fiança, deverá fundamentar sua decisão na análise da
capacidade econômica do agente. Não se pode, portanto, manter a fiança sem levar
em consideração esse fator essencial.
STF. 2ª Turma. HC 114731, rel. Min. Teori Zavascki, j. 1º/4/2014 (Info 741).

17. BUSCA E APREENSÃO


17.1. Em regra, a busca em veículo é equiparada à busca pessoal e não precisa de
mandado judicial para a sua realização – (Info 843)

A apreensão de documentos no interior de veículo automotor constitui uma espécie


de "busca pessoal" e, portanto, não necessita de autorização judicial quando houver
fundada suspeita de que em seu interior estão escondidos elementos necessários à
elucidação dos fatos investigados.
Exceção: será necessária autorização judicial quando o veículo é destinado à
habitação do indivíduo, como no caso de trailers, cabines de caminhão, barcos,
entre outros, quando, então, se inserem no conceito jurídico de domicílio.
STF. 2ª Turma. RHC 117767/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 11/10/16 (Info 843).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João estava sendo investigado pela polícia e o
juiz autorizou a realização de medida de busca e apreensão em sua casa. A polícia
cumpriu o mandado e realizou a busca na residência do investigado. Quando
voltaram à Delegacia, os policiais verificaram que não havia sido apreendida uma
agenda que constantemente era mencionada nas interceptações telefônicas e que
ficaria sempre em poder do investigado. O Delegado lembrou que algumas vezes foi
mencionado nos diálogos que a agenda estava no carro. Diante disso, voltaram ao
local para procurar no interior do veículo de João, que estava estacionado na frente da
casa, em via pública.
O mandado expedido pelo juiz não mencionava autorização para fazer buscas em
veículos. Mesmo assim, os policiais abriram o carro e apreenderam a agenda que
estava dentro dele. Posteriormente, João foi denunciado e o referido documento foi
prova fundamental para a condenação. A defesa alegou que houve nulidade
considerando que, como o carro estava estacionado, trancado e sem condutor,
somente poderia ser realizada busca em seu interior com autorização judicial.

Primeira pergunta: após ser encerrado o cumprimento do mandado de busca e


apreensão, seria possível reabrir a diligência e realizar nova busca na casa do
investigado? NÃO. O art. 245, § 7º, do CPP determina que, finda a busca domiciliar,
os executores da medida lavrarão auto circunstanciado, assinando-o com duas
testemunhas presenciais. Neste momento se considera encerrada a diligência. Após o
encerramento da busca domiciliar, as autoridades responsáveis por sua execução não
podem, horas depois, reabri-la e realizar novas buscas e apreensões sem nova ordem
judicial autorizadora. Assim, se os policiais, após o encerramento da diligência,
tivessem retomado as buscas na casa do investigado, tal diligência seria, em tese,
ilegal.
STJ. 6ª Turma. HC 216.437/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 20/09/12.

Segunda pergunta: a apreensão da agenda no carro do investigado foi ilegal? Houve


nulidade? NÃO.

Existem duas espécies de busca (art. 240 do CPP):


a) a busca domiciliar, que é realizada na casa do investigado ou acusado;
b) a busca pessoal, que é efetivada no corpo da pessoa ou em objetos que a ela
pertençam.

A busca em automóvel é equiparada à busca pessoal e, por isso, prescinde (dispensa)


de autorização judicial, nos termos do art. 244 do CPP:
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso
de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa
esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, ou quando a medida for
determinada no curso de busca domiciliar.

Assim, não é necessário mandado judicial para que a polícia realize busca por objetos
em interior de veículo de propriedade do investigado se houver fundadas suspeitas
de que a pessoa esteja na posse de material que possa constituir corpo de delito. Isso
se justifica porque o veículo da pessoa, em regra, não pode ser considerado domicílio.

Exceção: será indispensável mandado judicial se o veículo é utilizado pelo investigado


para moradia, como é o caso de cabines de caminhão, barcos, trailers etc.
18. SUSPEIÇÃO
18.1. Arguição de suspeição de Rodrigo Janot em relação a Michel Temer – (Info 877)

É possível a arguição de suspeição de membros do Ministério Público, inclusive do


Procurador-Geral da República nos processos que tramitam no âmbito do STF.
O STF entendeu que o então Procurador-Geral da República Rodrigo Janot não era
suspeito para investigar e denunciar Michel Temer. Entendeu-se que o fato de o
PGR dar entrevistas falando sobre o caso, requerer que o inquérito fosse dirigido
para determinado Delegado e ainda que um determinado Procurador, em tese,
tenha orientado o advogado do réu acerca da colaboração premiada não
caracterizam hipóteses de suspeição.
STF. Plenário. AS 89/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 13/9/17 (Info 877).
OBS:
Primeira pergunta: é cabível arguição de suspeição contra membro do Ministério
Público? SIM.
É possível a arguição de suspeição de membros do Ministério
Público, inclusive do Procurador-Geral da República nos
processos que tramitam no âmbito do STF. STF. Plenário. AS
89/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/9/2017 (Info
877).

Em um Estado Democrático de Direito, ninguém pode ficar subtraído da jurisdição. O


dever de investigar é da instituição, e não de um de seus membros. Assim, sendo
reconhecida a suspeição de um determinado membro, a investigação continuaria
normalmente, mas agora sendo conduzida por outro integrante do Ministério Público.
Vale ressaltar que a própria Lei Orgânica do MPU (LC 75/93) reconhece a
possibilidade de serem arguidas situações de impedimento e suspeição dos membros
do MP:
Art. 238. Os impedimentos e as suspeições dos membros do
Ministério Público são os previstos em lei.

O CPP determina que as mesmas causas de impedimento e suspeição previstas ao juiz


devem também ser aplicadas aos membros do Ministério Público:
Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos
processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu
cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem,
no que lhes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição
e aos impedimentos dos juízes.

Importante esclarecer que é possível arguir a suspeição do membro do Ministério


Público tanto quando ele atua como parte como também como custos legis (LIMA,
Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 1211).

Deve-se mencionar, por fim, que o simples fato de o membro do MP ter participado
da investigação criminal, não faz com que ele seja impedido ou suspeito para oferecer
a denúncia e atuar na ação penal. Nesse sentido:
Súmula 234-STJ: A participação de membro do Ministério
Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu
impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.
Esse é também o entendimento do STF: HC 85011, Relator p/ Acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 26/05/2015.

E quanto ao mérito da suspeição, o STF concordou com os argumentos da defesa? O


Procurador Rodrigo Janot foi reconhecido como suspeito para conduzir as
investigações e a ação penal contra Michel Temer? NÃO.
O STF entendeu que o então Procurador-Geral da República
Rodrigo Janot não era suspeito para investigar e denunciar
Michel Temer.
Entendeu-se que o fato de o PGR dar entrevistas falando sobre
o caso, requerer que o inquérito fosse dirigido para
determinado Delegado e ainda que um determinado
Procurador, em tese, tenha orientado o advogado do réu
acerca da colaboração premiada não caracterizam hipóteses
de suspeição. STF. Plenário. AS 89/DF, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 13/9/2017 (Info 877).

A emissão de opinião por parte do chefe do Ministério Público da União, por si só,
não se qualifica como hipótese de inimizade capital.
Para que se caracterize como “inimigo capital”, “é indispensável que o sentimento seja
grave, que remeta ao ódio, a um sentimento de rancor ou de vingança. Não basta uma
simples antipatia ou malquerença” (LIMA, Renato Brasileiro de. Código de Processo
Penal Comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 695).
O Procurador-Geral da República, ao manifestar em entrevistas, congressos etc. as
ações que o Ministério Público tem realizado na chamada operação “Lava Jato” adota
conduta consentânea com a transparência que deve caracterizar o agir republicano.
O requerimento do Procurador-Geral para que o inquérito fosse distribuído e ficasse
restringido apenas ao Delegado que já estava trabalhando na investigação não
significa uma interferência ministerial na Polícia Federal. Além disso, isso não indica
inimizade capital entre o PGR e o réu.
Por fim, a alegação de que um determinado Procurador (Marcelo Miller) teria
orientado o advogado da parte sobre a colaboração premiada não significa suspeição
por dois motivos: um, porque essa versão de que houve essa orientação ainda não está
sendo apurada, não havendo prova efetiva; dois, porque não há como presumir que o
arguido (PGR) tivesse o conhecimento dessa cogitada circunstância. As causas de
impedimento e suspeição são sempre pessoais, de forma que não é possível acolher a
alegação de que eventual esclarecimento prestado por um Procurador da República
contaminaria, automaticamente, a higidez da atuação do Procurador-Geral da
República.

19. PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA


19.1. Oitiva antecipada de testemunhas apenas pelo fato de serem policiais – (Info
806)

Existe um argumento no sentido de que se as testemunhas forem policiais, deverá


haver autorizada a sua oitiva como prova antecipada, considerando que os policiais
lidam diariamente com inúmeras ocorrências e, se houvesse o decurso do tempo,
eles iriam esquecer dos fatos. Esse argumento é aceito pela jurisprudência? A oitiva
das testemunhas que são policiais é considerada como prova urgente para os fins
do art. 366 do CPP?

1ª corrente: SIM. O fato de o agente de segurança pública atuar constantemente no


combate à criminalidade faz com que ele presencie crimes diariamente. Em virtude
disso, os detalhes de cada uma das ocorrências acabam se perdendo em sua
memória. Existem vários precedentes do STJ nesse sentido.

2ª corrente: NÃO. Não serve como justificativa a alegação de que as testemunhas


são policiais responsáveis pela prisão, cuja própria atividade contribui, por si só,
para o esquecimento das circunstâncias que cercam a apuração da suposta autoria
de cada infração penal.
STF. 2ª Turma. HC 130038/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 3/11/2015 (Info 806).

20. PROVA EMPRESTADA


20.1. INQUÉRITO CIVIL: Compartilhamento no inquérito civil das provas colhidas
em investigação criminal mesmo que acobertadas pelo sigilo – (Info 815) –
IMPORTANTE!!!

É possível compartilhar as provas colhidas em sede de investigação criminal para


serem utilizadas, como prova emprestada, em inquérito civil público e em outras
ações decorrentes do fato investigado. Esse empréstimo é permitido mesmo que as
provas tenham sido obtidas por meio do afastamento ("quebra") judicial dos sigilos
financeiro, fiscal e telefônico.
STF. 1ª Turma. Inq 3305 AgR/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, j. 23/2/16 (Info 815).

21. PROVAS
21.1. PROVA TESTEMUNHAL: Ordem de inquirição das testemunhas – (Info 885)

Segundo a redação atual do art. 212 do CPP, quem primeiro começa fazendo
perguntas à testemunha é a parte que teve a iniciativa de arrolá-la. Em seguida, a
outra parte terá direito de perguntar e, por fim, o magistrado.
Assim, a inquirição de testemunhas pelas partes deve preceder à realizada pelo
juízo.
Em um caso concreto, durante a audiência de instrução, a magistrada primeiro
inquiriu as testemunhas e, somente então, permitiu que as partes formulassem
perguntas.
O STF entendeu que houve violação ao art. 212 do CPP e, em razão disso,
determinou que fosse realizada uma nova inquirição das testemunhas, observada
a ordem prevista no CPP.
STF. 1ª Turma. HC 111815/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz
Fux, j. 14/11/17 (Info 885).

21.2. Antecipação da prova testemunhal pela gravidade do crime e possibilidade


concreta de perecimento – (Info 851)

A antecipação da prova testemunhal prevista no art. 366 do CPP pode ser justificada
como medida necessária pela gravidade do crime praticado e possibilidade
concreta de perecimento, haja vista que as testemunhas poderiam se esquecer de
detalhes importantes dos fatos em decorrência do decurso do tempo.
Além disso, a antecipação da oitiva das testemunhas não traz nenhum prejuízo às
garantias inerentes à defesa. Isso porque quando o processo retomar seu curso, caso
haja algum ponto novo a ser esclarecido em favor do réu, basta que seja feita nova
inquirição.
STF. 2ª Turma. HC 135386/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac.
Min. Gilmar Mendes, j. 13/12/16 (Info 851).
OBS:
Esta decisão do STF neste HC 135386/DF vai de encontro à Súmula 455 do STJ? NÃO.
O STF entendeu que havia possibilidade concreta de perecimento. Desse modo, para
o Tribunal, a decisão foi concretamente fundamentada. No caso, o juiz não decidiu
apenas com base no decurso do tempo, tendo ele também suscitado outros
argumentos, como o fato de que houve dificuldade na localização das testemunhas e
que os endereços que havia nos autos eram apenas profissionais (e não residenciais).
Assim, não significa que neste HC 135386/DF tenha havido mudança de
entendimento sobre o tema.
Vale ressaltar, inclusive, que a defesa, antes de impetrar o HC no STF, já havia
manejado o writ no STJ, tendo ali sido igualmente negado o pedido de nulidade,
conforme se pode observar pela ementa abaixo:
(...) 1. A antecipação da produção de prova, com base no art.
366 do Código de Processo Penal, encontra-se, no caso em
exame, concretamente fundamentada em razão do decurso do
tempo aliado à condição de policial militar de uma das
testemunhas, circunstância fática relevante que autoriza a
medida antecipatória e que não implica ofensa ao teor do
Enunciado n. 455 da Súmula do STJ.
2. Em relação às demais testemunhas, também há motivação
concreta a justificar a oitiva antecipada, uma vez que as
instâncias ordinárias embasaram-se na dificuldade de
localização, por não possuírem vínculo com a vítima ou com
o acusado, especialmente porque constam dos autos apenas os
endereços profissionais e não residenciais. (...)
STJ. 6ª Turma. HC 346.603/DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel.
p/ Acórdão Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em
24/05/2016.

21.3. As peças processuais que fazem referência à prova declarada ilícita não devem
ser desentranhadas do processo – (Info 849)

Se determinada prova é considerada ilícita, ela deverá ser desentranhada do


processo. Por outro lado, as peças do processo que fazem referência a essa prova
(exs: denúncia, pronúncia etc.) não devem ser desentranhadas e substituídas.
A denúncia, a sentença de pronúncia e as demais peças judiciais não são "provas"
do crime e, por essa razão, estão fora da regra que determina a exclusão das provas
obtidas por meios ilícitos prevista art. 157 do CPP.
Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não determina a
exclusão de "peças processuais" que a elas façam referência.
STF. 2ª Turma. RHC 137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 29/11/16 (Info 849).
21.4. Entrega voluntária de computador do órgão público para ser periciado em
investigação. Autorização para acesso de e-mails baixados no computador que foi
objeto de busca e apreensão – (Info 849)

Não há nulidade se, em mandado de busca e apreensão, o titular do órgão entrega


para ser periciado pela Polícia o computador utilizado pela chefia e, após esse fato,
antes de a perícia ser iniciada, o magistrado responsável pela investigação autoriza
a diligência na máquina.
Não há violação do sigilo de correspondência eletrônica se o magistrado autoriza a
apreensão e perícia de computador e nele estão armazenados os e-mails do
investigado que, então, são lidos e examinados. A proteção a que se refere o art. 5º,
XII, da CF/88, é da 'comunicação de dados' e não dos 'dados em si mesmos', ainda
quando armazenados em computador.
STF. 1ª Turma. RHC 132062/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Edson Fachin, j. 29/11/16 (Info 849).

21.5. A tradução dos documentos em idioma estrangeiro só será realizada quando


for necessário – (Info 831)

A tradução para o vernáculo de documentos em idioma estrangeiro juntados aos


autos só deverá ser realizada se tal providência for absolutamente “necessária”.
É o que prevê o CPP: "Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo
de sua juntada imediata, serão, se necessário, traduzidos por tradutor público, ou,
na falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade."
A decisão sobre a necessidade ou não da tradução dos documentos cabe ao juiz da
causa.
STJ. Corte Especial. AgRg na APn 675/GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/0/15.
STF. Plenário. Inq 4146/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 22/6/16 (Info 831).

21.6. Legitimidade da prova obtida por meio de cooperação jurídica internacional –


(Info 831)

A utilização pelo MP de documentos enviados por outros países para fins de


investigação por meio de cooperação jurídica internacional é legítima mesmo não
havendo ainda legislação específica no Brasil regulamentando o tema. Isso porque
a transferência de procedimento criminal encontra abrigo em convenções
internacionais sobre cooperação jurídica, cujas normas, quando ratificadas,
assumem status de lei federal.
Dessa forma, é legítima a providência da autoridade brasileira de, com base em
material probatório obtido da Confederação Suíça, por sistema de cooperação
jurídica internacional, investigar e processar o congressista em questão pelo delito
de evasão de divisas, já que se trata de fato delituoso diretamente vinculado à
persecução penal objeto da cooperação, que tem como foco central delitos de
corrupção e lavagem de capitais.
STF. Plenário. Inq 4146/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 22/6/16 (Info 831).

21.7. Indeferimento de oitiva das vítimas e inexistência de cerceamento de defesa –


(Info 823)
Não há direito absoluto à produção de prova. Em casos complexos, há que se confiar
no prudente arbítrio do juiz da causa, mais próximo dos fatos, quanto à avaliação
da pertinência e relevância das provas requeridas pelas partes.
Assim, não há nulidade se o juiz indefere, de modo fundamentado, a oitiva das
vítimas do crime.
Em regra, o ofendido deverá ser ouvido na audiência de instrução. No entanto, a
obrigatoriedade de oitiva da vítima deve ser compreendida à luz da razoabilidade
e da utilidade prática da colheita da referida prova.
STF. 1ª Turma. HC 131158/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 26/4/2016 (Info
823).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Em janeiro de 2013 ocorreu um incêndio na
boate Kiss, em Santa Maria (RS), no qual morreram 241 pessoas e 636 sobreviveram
com ferimentos. Um dos sócios da boate foi denunciado por homicídio qualificado e
por tentativa de homicídio qualificado. A defesa do sócio requereu ao juiz que, na
instrução processual, fossem ouvidos todos os 636 sobreviventes. O magistrado negou
o pedido, o que fez com que o advogado impetrasse sucessivos habeas corpus
alegando cerceamento de defesa até que o tema chegasse ao STF.

O que decidiu o Supremo? Houve cerceamento de defesa pelo fato de o juiz ter
indeferido a oitiva das vítimas? NÃO.

O art. 411 do CPP determina que:

Art. 411. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada


de declarações do ofendido, se possível (...)

Dessa forma, em regra, o ofendido deverá ser ouvido. No entanto, a obrigatoriedade


de oitiva da vítima deve ser compreendida à luz da razoabilidade e da utilidade
prática da colheita da referida prova.

No caso concreto, o magistrado, em observância ao sistema da persuasão racional,


proferiu decisão motivada dispensando a oitiva de todas as vítimas do homicídio
tentado. Segundo o juiz, a produção dessa prova, diante da peculiaridade do caso
concreto, acarretaria, em síntese, a necessidade de mais de 954 horas de audiência para
a tomada de declarações das 638 vítimas, a nova exposição delas ao cenário traumático
em que os fatos teriam se desenvolvido e a repetição de relatos que não auxiliariam
no esclarecimento dos fatos.

O STF acrescentou, ainda, que o rito especial do tribunal do júri limita o número de
testemunhas a serem inquiridas e, ao contrário do procedimento comum, não exclui
dessa contagem as testemunhas que não prestam compromisso legal.

21.8. Prova insuficiente para condenação – (Info 743)

A delação de corréu e depoimento de informante não poderiam servir como


elementos decisivos para a condenação, porque não seria exigido o compromisso
legal de falar a verdade.
STF. Plenário. AP 465/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/4/2014 (Info 743).
22. CONFISSÃO
22.1. Réu só tem direito à atenuante caso a autoria criminosa seja ignorada ou
imputada a outrem – (Info 824) – IMPORTANTE!!!

A atenuante da confissão tratada no art. 72, III, "d", do Código Penal Militar está
vinculada à revelação da autoria criminosa ignorada ou imputada a outrem.
A atenuante de pena prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal comum exige
apenas a espontaneidade, mas não pode ser aplicada para os crimes militares em
virtude do critério da especialidade.
STF. 1ª Turma. HC 115189/AM, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/5/2016 (Info
824).
OBS:
Confissão espontânea e crimes militares: Nos crimes militares, as atenuantes estão
previstas no art. 72 do Código Penal Militar.
Dentre elas está a confissão espontânea. Ocorre que a confissão no CPM é tratada de
forma diferente e mais rigorosa do que no Código Penal comum. Compare:

Código Penal Código Penal Militar


Art. 65. São circunstâncias que sempre Art. 72. São circunstâncias que sempre
atenuam a pena: atenuam a pena:
III - ter o agente: III - ter o agente:
d) confessado espontaneamente, perante d) confessado espontaneamente, perante
a autoridade, a autoria do crime; a autoridade, a autoria do crime,
ignorada ou imputada a outrem;
Exige apenas a espontaneidade. Além da espontaneidade, exige que o
crime estivesse com sua autoria
ignorada ou sendo imputada a outrem.

Dessa forma, o indivíduo acusado de um crime militar somente terá direito a esta
atenuante se o crime por ele confessado:
 tinha autoridade ignorada; ou
 se ele estava sendo imputado a outra pessoa.

Assim, se o crime já estava praticamente esclarecido e, desde a sua prática, sempre se


soube que o réu era o seu autor, não incidirá a atenuante mesmo que ele tenha
confessado. Ex: crime praticado na frente de diversas testemunhas.

É possível aplicar a regra do art. 65, III, "d", do Código Penal comum para os crimes
militares? NÃO.

22.2. Direito de permanecer calado e confissão feita por pessoa convocada para ser
testemunha – (Info 754) – IMPORTANTE!!!

Se o indivíduo é convocado para depor como testemunha em uma investigação e,


durante o seu depoimento, acaba confessando um crime, essa confissão não é válida
se a autoridade que presidia o ato não o advertiu previamente de que ele não era
obrigado a produzir prova contra si mesmo, tendo o direito de permanecer calado.
STF. 2ª Turma. RHC 122279/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 12/8/14 (Info 754).
23. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
23.1. Crime achado – (Info 869) – IMPORTANTE!!!

O réu estava sendo investigado pela prática do crime de tráfico de drogas.


Presentes os requisitos constitucionais e legais, o juiz autorizou a interceptação
telefônica para apurar o tráfico.
Por meio dos diálogos, descobriu-se que o acusado foi o autor de um homicídio.
A prova obtida a respeito da prática do homicídio é LÍCITA, mesmo a interceptação
telefônica tendo sido decretada para investigar outro delito que não tinha relação
com o crime contra a vida.
Na presente situação, tem-se aquilo que o Min. Alexandre de Moraes chamou de
“crime achado”, ou seja, uma infração penal desconhecida e não investigada até o
momento em que, apurando-se outro fato, descobriu-se esse novo delito.
Para o Min. Alexandre de Moraes, a prova é considerada lícita, mesmo que o “crime
achado” não tenha relação (não seja conexo) com o delito que estava sendo
investigado, desde que tenham sido respeitados os requisitos constitucionais e
legais e desde que não tenha havido desvio de finalidade ou fraude.
STF. 1ª Turma. HC 129678/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, j. 13/6/17 (Info 869).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Foi instaurada operação policial para
investigar o crime de tráfico de drogas que seria praticado por João. O juiz deferiu a
intercepção telefônica do número de aparelho celular utilizado pelo investigado. No
curso da referida interceptação, pelos diálogos mantidos, ficou constatado que João
ordenou o homicídio de um inimigo seu, o que foi cumprido por um comparsa. O
Ministério Público ofereceu denúncia contra João e seu comparsa pela prática de
homicídio qualificado. A defesa do réu arguiu a nulidade da prova colhida,
considerando que a interceptação foi autorizada pelo juiz com o objetivo de apurar o
delito de tráfico de drogas (e não eventual homicídio).

O STF acolheu a tese de defesa? As provas relativas ao homicídio são ilegais? NÃO.

Obs.: a expressão “crime achado” é encontrada no Curso de Direito Constitucional do


Min. Alexandre de Moraes e nada mais é do que aquilo que a doutrina denomina
“serendipidade” ou “encontro fortuito de crime”.

Serendipidade: A serendipidade consiste na descoberta fortuita de delitos que não são


objeto da investigação. A serendipidade (tradução literal da palavra inglesa
serendipity), também é conhecida como “descoberta casual” ou “encontro fortuito”.
Para Luiz Flávio Gomes, “serendipidade é o ato de fazer descobertas relevantes ao
acaso, em forma de aparentes coincidências. De acordo com o dicionário Houaiss, a
palavra vem do inglês serendipity: descobrir coisas por acaso.”

Obs.: Apesar de ser a hipótese mais comum, a serendipidade não se dá apenas no caso
de interceptação telefônica. Assim, é possível que ocorra a descoberta fortuita de
crimes durante a execução de outras medidas de investigação, como, por exemplo,
durante a quebra de sigilo bancário ou fiscal. Nesse sentido confira o seguinte julgado:
A Polícia Federal instaurou inquérito policial para apurar o
suposto delito de fraude contra licitação (art. 90 da Lei nº
8.666/90) praticado por João e outros.
A requerimento da autoridade policial e do MPF, o juiz
decretou uma série de medidas cautelares, dentre elas a
quebra do sigilo bancário e fiscal.
Durante o cumprimento dessas medidas, a Polícia detectou a
existência de indícios de que João teria praticado também o
delito de peculato (art. 312 do CP).
As provas do peculato são lícitas.
O fato de elementos indiciários acerca da prática de crime
surgirem no decorrer da execução de medida de quebra de
sigilo bancário e fiscal determinada para apuração de outros
crimes não impede, por si só, que os dados colhidos sejam
utilizados para a averiguação da suposta prática daquele
delito.
Com efeito, pode ocorrer o que se chama de fenômeno da
serendipidade, que consiste na descoberta fortuita de delitos
que não são objeto da investigação.
STJ. 6ª Turma. HC 282.096-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 24/4/2014 (Info 539).

Aprofundando: Alguns autores fazem a seguinte distinção:


a) Serendipidade objetiva: ocorre quando, no curso da medida, surgirem indícios da
prática de outro crime que não estava sendo investigado.

b) Serendipidade subjetiva: ocorre quando, no curso da medida, surgirem indícios


do envolvimento criminoso de outra pessoa que inicialmente não estava sendo
investigada. Ex: durante a interceptação telefônica instaurada para investigar João,
descobre-se que um de seus comparsas é Pedro (Deputado Federal).
Nesse sentido: MASSON, Cleber; MARÇAL, Vinicius. Crime organizado. São Paulo:
Método, 2017, p. 274.

Há ainda uma outra classificação que fala que a serendipidade pode ser dividida em
“graus”:
a) Serendipidade de primeiro grau: é o encontro fortuito de provas quando houver
conexão ou continência com o fato que se apurava.
b) Serendipidade de segundo grau: é o encontro fortuito de provas quando não
houver conexão ou continência com o fato que se apurava.

23.2. Renovação das interceptações – (Info 855) – (TJAM-2016)

A Lei nº 9.296/96 prevê que a interceptação telefônica "não poderá exceder o prazo
de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade
do meio de prova." (art. 5º).
A interceptação telefônica não pode exceder 15 dias. Contudo, pode ser renovada
por igual período, não havendo restrição legal ao número de vezes para tal
renovação, se comprovada a sua necessidade.
STF. 2ª Turma. HC 133148/ES, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 21/2/2017 (Info
855).
(PCAC-2017-IBADE): Quanto ao número de vezes em que o prazo da
interceptação telefônica pode ser renovado, entende a doutrina, bem com o
Superior Tribunal de Justiça, em seu mais recente julgado acerca do tema, no início
de 2013, que o prazo da interceptação pode ser renovado indefinidamente, desde
que comprovada a indispensabilidade do meio de prova.

OBS:
É possível a prorrogação da interceptação por mais de uma vez? SIM, é plenamente
possível. A jurisprudência do STF e do STJ consolidou o entendimento segundo o qual
as interceptações telefônicas podem ser prorrogadas, desde que devidamente
fundamentadas pelo juízo competente em relação à necessidade do prosseguimento
das investigações, especialmente quando o caso for complexo e a prova indispensável.

Entende-se que a redação deste art. 5º foi mal elaborada e que, quando fala em
“renovável por igual tempo” não está limitando a possibilidade de renovações
sucessivas, mas tão somente dizendo que as renovações não poderão exceder, cada
uma delas, o prazo de 15 dias.

De igual modo, a expressão “uma vez”, presente no dispositivo legal, deve ser
entendida como sinônima de “desde que”, não significando que a renovação da
interceptação somente ocorre “1 (uma) vez”.

23.3. Interceptação do número do advogado do investigado e consequências


processuais – (Info 832)

O simples fato de o advogado do investigado ter sido interceptado não é causa, por
si só, para gerar a anulação de todo o processo e da condenação que foi imposta ao
réu.
Se o Tribunal constatar que houve indevida interceptação do advogado do
investigado e que, portanto, foram violadas as prerrogativas da defesa, essa
situação poderá gerar três consequências processuais:
1ª) Cassação ou invalidação do ato judicial que determinou a interceptação;
2ª) Invalidação dos atos processuais subsequentes ao ato atentatório e com ele
relacionados;
3ª) Afastamento do magistrado caso se demonstre que, ao assim agir, atuava de
forma parcial.

Se o próprio juiz, ao perceber que o advogado do investigado foi indevidamente


"grampeado", anula as gravações envolvendo o profissional e, na sentença, não
utiliza nenhuma dessas conversas nem qualquer prova derivada delas, não há
motivo para se anular a condenação imposta.
STF. 2ª Turma. HC 129706/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/6/2016 (Info 832).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João, líder de organização criminosa, estava
sendo investigado juntamente com dezenas de outras pessoas pela Polícia Federal.
Após diversas diligências que confirmaram a existência de indícios da prática de
crimes, o Delegado de Polícia Federal pediu ao Juiz a interceptação telefônica de
dezenas de terminais (números) que estariam sendo utilizados para diálogos
suspeitos envolvendo João e outros indivíduos. Após manifestação favorável do MPF,
o magistrado deferiu as interceptações. Foram gravadas conversas por 15 dias, até que
a operação policial foi deflagrada e inúmeras pessoas foram presas. Após a
deflagração, percebeu-se que um dos números interceptados era o do advogado de
João (Dr. Luis) que, no entanto, não foi preso.

Em regra, é possível a interceptação telefônica do advogado da pessoa que está sendo


investigada?
Regra geral: NÃO.
As conversas mantidas entre o investigado e seu advogado são protegidas pelo sigilo
profissional e, portanto, em regra, não podem ser objeto de interceptação telefônica.
Esta garantia encontra-se prevista no art. 7º, II, do Estatuto da OAB (Lei 8.906/94):
Art. 7º São direitos do advogado:
II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho,
bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua
correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática,
desde que relativas ao exercício da advocacia;

Exceção: será possível que o juiz autorize a interceptação telefônica do advogado se


houver indícios concretos de que este profissional também está participando da
prática dos crimes em conjunto com seu cliente. Neste caso, o próprio advogado se
torna um dos investigados. A garantia prevista no art. 7º, II, da Lei 8.906/94 não é
absoluta e só pode ser invocada se o advogado estiver no exercício legítimo da
advocacia, não servindo como manto para o cometimento de delitos. Nesse sentido:
(...) 1. Como se sabe, não existem direitos absolutos no
ordenamento jurídico pátrio, motivo pelo qual a suspeita de
que crimes estariam sendo cometidos por profissional da
advocacia permite que o sigilo de suas comunicações
telefônicas seja afastado, notadamente quando ausente a
demonstração de que as conversas gravadas se refeririam
exclusivamente ao patrocínio de determinado cliente.
2. Há que se considerar, ainda, que o exercício da advocacia
não pode ser invocado com o objetivo de legitimar a prática
delituosa, ou seja, caso os ilícitos sejam cometidos valendo-se
da qualidade de advogado, nada impede que os diálogos
sejam gravados mediante autorização judicial e,
posteriormente, utilizados como prova em ação penal, tal
como sucedeu no caso dos autos. (...)
STJ. 5ª Turma. RHC 51.487/SP, Rel. Min. Leopoldo de Arruda
Raposo (Desembargador Convocado do TJ/PE), j. 23/06/15.

Voltando ao exemplo: Imaginemos que Dr. Luis estava agindo corretamente, ou seja,
atuava como advogado, mas sem participar dos crimes que estavam sendo cometidos
pelo seu cliente. Quando teve conhecimento que foi "grampeado", Dr. Luis peticionou
ao Juiz requerendo que tais elementos probatórios fossem declarados ilícitos e
desentranhados dos autos. O Juiz concordou com o requerimento do advogado e
determinou o desentranhamento de todos os diálogos interceptados que envolviam o
Dr. Luis. Segundo justificou o magistrado, no momento da autorização da
interceptação ele não teria notado que um dos telefones grampeados era do advogado
do réu. Ao final do processo, João (o cliente do Dr. Luis) foi condenado. Dr. Luis
recorreu alegando que a interceptação do advogado do investigado tornou todo o
processo nulo, por violação ao direito de defesa e às prerrogativas contidas no Estatuto
da OAB.
O simples fato de o advogado do réu ter sido interceptado é causa suficiente para
gerar a anulação de todo o processo? NÃO. Se o Tribunal constatar que houve
indevida interceptação do advogado do investigado e que, portanto, foram violadas
as prerrogativas da defesa, essa situação poderá gerar três consequências processuais:

1ª) Cassação ou invalidação do ato judicial que determinou a interceptação


No caso concreto, esta primeira providência não poderia mais ser tomada pelo STF,
considerando que o próprio juiz que autorizou a interceptação anulou a decisão na
parte que se referia ao advogado e o resultado da interceptação foi desentranhado e
destruído após a defesa informar que o terminal interceptado pertencia ao patrono do
acusado. Desse modo, não há mais nulidade a ser decretada, visto que o ato já se
tornou ineficaz.

2ª) Invalidação dos atos processuais subsequentes ao ato atentatório e com ele
relacionados
O Tribunal, ao analisar a situação, além de anular a decisão que decretou a
interceptação do advogado, poderá também anular os atos processuais posteriores,
desde que estejam diretamente relacionados com a interceptação do advogado. Assim,
se algum elemento probatório foi colhido a partir dos diálogos captados com o
advogado, este elemento probatório derivado também deverá ser anulado. Ex: na
conversa com seu advogado, o investigado menciona o nome de uma pessoa que era
desconhecida da Polícia. A partir desta informação, a Polícia convoca esta pessoa para
depor e, no depoimento, surgem novos elementos contra o investigado. Este
depoimento deverá ser invalidado porque está diretamente relacionado com a prova
ilícita. Este depoimento pode ser considerado como "prova ilícita por derivação".
Nesse sentido, veja o que dispõe o CPP:
Art. 573. (...) § 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada,
causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam
consequência.

No exemplo dado, os diálogos interceptados com o advogado não geraram novos


elementos de prova que foram utilizados contra o réu. As conversas que foram
coletadas não se mostraram úteis à instrução e, ao serem descartadas, não
contaminaram as demais provas.

3ª) Afastamento do magistrado caso se demonstre que, ao assim agir, atuava de forma
parcial
Se o magistrado intercepta conscientemente o advogado do investigado mesmo
sabendo que ele não participava do projeto criminoso, este juiz revela indícios de que
atua de forma parcial, em prejuízo da defesa. Logo, isso pode servir como fundamento
para se arguir a parcialidade e a recusa do magistrado. No entanto, no exemplo dado,
restou demonstrado que a interceptação ocorreu sem que a qualidade de advogado
tenha sido percebida previamente. A interceptação foi determinada pelo magistrado
atendendo representação policial, de forma que não foi o juiz quem selecionou o
telefone como alvo da investigação. Os elementos indicaram que o magistrado não
buscou, conscientemente, afrontar os direitos da defesa, tanto que, no momento em
que soube da situação, determinou a anulação das provas e o seu desentranhamento
dos autos. Dessa forma, a atuação do juiz não fugiu da conduta que se espera de um
magistrado imparcial.
23.4. Validade da interceptação decretada por Juiz da Central de Inquéritos
Criminais que não será o competente para julgar a ação penal – (Info 816) –
IMPORTANTE!!!

É possível que a interceptação telefônica seja decretada por um juiz que atue em
Vara de Central de Inquéritos Criminais mesmo que ele não seja o competente para
conhecer da futura ação penal que será proposta.
Não há, neste caso, nulidade na prova colhida, nem violação ao art. 1º da Lei nº
9.296/96, considerando que este dispositivo não fixa regra de competência, mas sim
reserva de jurisdição para quebra do sigilo das comunicações. Em outras palavras,
ele não trata sobre qual juízo é competente, mas apenas quer dizer que a
interceptação deve ser decretada pelo magistrado (Poder Judiciário).
Admite-se a divisão de tarefas entre juízes que atuam na fase de inquérito e na fase
da ação penal. Assim, um juiz pode atuar na fase pré-processual decretando
medidas que dependam da intervenção do Poder Judiciário, como a interceptação
telefônica, mesmo que ele não seja o competente para julgar a ação penal que será
proposta posteriormente.
STF. 2ª Turma. HC 126536/ES, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 1º/3/2016 (Info
816).
OBS:
Este também é o entendimento do STJ:
(...) 1. O art. 50, I, "e" da LC nº 234/2002, especializou a Vara de
Inquéritos Criminais para o acompanhamento judicial e de
garantias na fase investigatória, nesse limite compreendendo-se as
questionadas decisões de quebra do sigilo telefônico.
2. A especialização de varas é forma de racionalização do trabalho
jurisdicional e, tratando-se de separação da fase investigatória,
inclusive salutar à garantia da imparcialidade do juiz das garantias,
que não atuará na no juízo da culpa, com valoração das provas no
feito criminal contraditório.
3. A previsão contida no art. 1º da Lei nº 9.296/96 é simples
reiteração da regra geral de que as medidas cautelares são solvidas
pelo juízo competente para a ação principal, e não determinação de
diferenciado tratamento de competência para a quebra do sigilo
telefônico.
4. Nenhuma nulidade há na deliberação sobre cautelares e
jurisdição de garantias por magistrado da Vara de Inquéritos, que
como tal não atuará na futura ação principal. (...)
STJ. 6ª Turma. RHC 49.380/ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
04/11/2014.

23.5. Possibilidade de compartilhamento das provas obtidas em outro processo


criminal – (Info 811)

O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra prática delituosa não
impede a sua utilização em persecução criminal diversa por meio do
compartilhamento da prova.
STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info
811).
23.6. Ausência de autos apartados configura mera irregularidade – (Info 811)

Segundo o art. 8º da Lei 9.296/96, o procedimento de interceptação telefônica


(requerimento, decisão, transcrição dos diálogos etc.) deverá ser instrumentalizado
em autos apartados.
Haverá nulidade caso a interceptação não seja formalizada em autos apartados?
NÃO. Preenchidas as exigências previstas na Lei nº 9.296/96 (ex: autorização
judicial, prazo etc.), não deve ser considerada ilícita a interceptação telefônica pela
simples ausência de autuação. A ausência de autos apartados configura mera
irregularidade que não viola os elementos essenciais à validade da interceptação.
STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info
811).

23.7. Desnecessidade de transcrição das conversas interceptadas – (Info 742) –


IMPORTANTE!!!

Não é necessária a transcrição integral das conversas interceptadas, desde que


possibilitado ao investigado o pleno acesso a todas as conversas captadas, assim
como disponibilizada a totalidade do material que, direta e indiretamente, àquele
se refira, sem prejuízo do poder do magistrado em determinar a transcrição da
integralidade ou de partes do áudio.
STF. Plenário. Inq 3693/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/4/2014 (Info
742).

23.8. O caráter subsidiário e excepcional da interceptação telefônica

A interceptação telefônica é subsidiária e excepcional, só podendo ser determinada


quando não houver outro meio para se apurar os fatos tidos por criminosos, nos
termos do art. 2º, inc. II, da Lei n. 9.296/1996.
Desse modo, é ilegal que a interceptação telefônica seja determinada apenas com
base em “denúncia anônima”.
STF. Segunda Turma. HC 108147/PR, rel. Min. Cármen Lúcia, 11/12/2012.

23.9. Condução dos procedimentos de interceptação telefônica

Segundo o art. 6º, da Lei n. 9.296/96, os procedimentos de interceptação telefônica


serão conduzidos pela autoridade policial (Delegado de Polícia Civil ou Federal).
O STJ e o STF, contudo, entendem que tal acompanhamento poderá ser feito por
outros órgãos, como, por exemplo, a polícia militar (o que ocorreu no caso concreto),
não sendo atribuição exclusiva da autoridade policial.
STF. 2ª Turma. HC 96986/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 15/5/2012.

24. COLABORAÇÃO PREMIADA


24.1. Descumprimento de colaboração premiada não justifica, por si só, prisão
preventiva – (Info 609) – IMPORTANTE!!!

O descumprimento de acordo de delação premiada ou a frustração na sua


realização, isoladamente, não autoriza a imposição da segregação cautelar.
Não se pode decretar a prisão preventiva do acusado pelo simples fato de ele ter
descumprido acordo de colaboração premiada.
Não há, sob o ponto de vista jurídico, relação direta entre a prisão preventiva e o
acordo de colaboração premiada. Tampouco há previsão de que, em decorrência do
descumprimento do acordo, seja restabelecida prisão preventiva anteriormente
revogada.
Por essa razão, o descumprimento do que foi acordado não justifica a decretação de
nova custódia cautelar.
É necessário verificar, no caso concreto, a presença dos requisitos da prisão
preventiva, não podendo o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra
do acordo.
STJ. 6ª Turma. HC 396.658-SP, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, j. 27/6/17 (Info
609).
STF. 2ª Turma. HC 138207/PR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 25/4/17 (Info 862).

24.2. O § 3º do art. 7º da Lei nº 12.850/2013 prevê um limite máximo de duração do


sigilo, sendo possível que ele seja retirado antes do recebimento da denúncia – (Info
877)

O sigilo sobre o conteúdo de colaboração premiada deve perdurar, no máximo, até


o recebimento da denúncia (art. 7º, § 3º da Lei 12.850/13). Esse dispositivo não traz
uma regra de observância absoluta, mas sim um termo final máximo.
Para que o sigilo seja mantido até o recebimento da denúncia, deve-se demonstrar
a existência de uma necessidade concreta. Não havendo essa necessidade, deve-se
garantir a publicidade do acordo.
STF. 1ª Turma. Inq 4435 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 12/9/17 (Info 877).
OBS:
Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual...
- um investigado ou acusado da prática de infração penal
- decide confessar a prática do delito
- e, além disso, aceita colaborar com a investigação ou com o processo
- fornecendo informações que irão ajudar,
- de forma efetiva,
- na obtenção de provas contra os demais autores dos delitos e contra a organização
criminosa,
- na prevenção de novos crimes,
- na recuperação do produto ou proveito dos crimes ou
- na localização da vítima com integridade física preservada,
- recebendo o colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais (ex:
redução de sua pena).

Atenção: A colaboração premiada possui natureza jurídica de "meio de obtenção de


prova" (art. 3º, I, da Lei 12.850/13). A colaboração premiada não é um meio de prova
propriamente dito. A colaboração premiada não prova nada (ela não é uma prova). A
colaboração premiada é um meio, uma técnica, um instrumento para se obter as
provas.
“Enquanto os meios de prova são aptos a servir, diretamente,
ao convencimento do juiz sobre a veracidade ou não de uma
afirmação fática (p. ex., o depoimento de uma testemunha, ou
o teor de uma escritura pública), os meios de obtenção de
provas (p. ex.: uma busca e apreensão) são instrumentos para
a colheita de elementos ou fontes de provas, estes sim, aptos a
convencer o julgador (p. ex.: um extrato bancário [documento]
encontrado em uma busca e apreensão domiciliar). Ou seja,
enquanto o meio de prova se presta ao convencimento direto
do julgador, os meios de obtenção de provas somente
indiretamente, e dependendo do resultado de sua realização,
poderão servir à reconstrução da história dos fatos”
(BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro. Campus:
Elsevier. 2012, p. 270).

MOMENTO: A colaboração premiada e a concessão dos benefícios dela decorrentes


podem ocorrer em três momentos:
1) Na fase de investigação criminal (inquérito policial ou investigação conduzida pelo
MP);
2) Durante o curso do processo penal (ainda que já em instância recursal);
3) Após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

PROCEDIMENTO ATÉ A ASSINATURA DO ACORDO DE COLABORAÇÃO:


1) Negociação do acordo
O investigado (ou acusado), assistido por advogado, negocia o acordo de colaboração
premiada com o Delegado de Polícia ou com o Ministério Público.
O juiz não participará, em hipótese alguma, das negociações realizadas entre as partes
para a formalização do acordo de colaboração (§ 6º do art. 4º).
Caso o magistrado interagisse nas negociações, haveria uma grave violação do sistema
acusatório e um seríssimo risco de contaminação da sua imparcialidade, considerando
que as informações enunciadas pelo eventual colaborador iriam incutir no julgador
preconcepções sobre o próprio delator e seus comparsas.
Se as negociações não culminassem com um acordo, a opinião do julgador a respeito
do investigado/denunciado já estaria construída em seu psicológico, considerando
que teria ouvido confissões sobre os fatos criminosos.
Ademais, a simples presença do juiz da causa na tentativa de acordo poderia exercer
uma indevida coerção velada para que o investigado/acusado aceitasse eventual
proposta, o que contraria a natureza do instituto, já que a colaboração deve ser
voluntária.

A colaboração é um meio de obtenção de prova cuja iniciativa


não se submete à reserva de jurisdição (não exige autorização
judicial), diferentemente do que ocorre nas interceptações
telefônicas ou na quebra de sigilo bancário ou fiscal.
Nesse sentido, as tratativas e a celebração da avença são
mantidas exclusivamente entre o Ministério Público e o
pretenso colaborador.
O Poder Judiciário é convocado ao final dos atos negociais
apenas para aferir os requisitos legais de existência e validade,
com a indispensável homologação.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 21, 22,
28 e 29/6/2017 (Info 870).

2) Formalização do acordo e envio à Justiça


Caso as negociações tenham êxito, as declarações do colaborador serão registradas
(em meio escrito ou audiovisual) e será elaborado um termo de acordo de colaboração
premiada, a ser assinado por todas as partes e, então, remetido ao juiz para
homologação.

3) Requisitos formais do acordo


Segundo o art. 6º, o termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por
escrito e conter os seguintes requisitos formais:
I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados;
II - as condições da proposta do Ministério Público ou do
delegado de polícia;
III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu
defensor;
IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou
do delegado de polícia, do colaborador e de seu defensor;
V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e
à sua família, quando necessário.

Na proposta encaminhada ao Judiciário já deverá ser especificado o benefício que


deverá ser concedido ao colaborador (ex: redução de 2/3 da pena). Deve-se esclarecer,
contudo, que o magistrado não está vinculado aos termos da proposta, podendo
adequá-la ao caso concreto (§ 8º do art. 4º).

4) O pedido de homologação do acordo é autuado como processo sigiloso


O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo apenas
informações que não possam identificar o colaborador e o seu objeto (art. 7º).
As informações pormenorizadas da colaboração serão dirigidas diretamente ao juiz a
que recair a distribuição, que decidirá no prazo de 48 horas. Obs: se já houver um
juízo que estiver funcionando no caso (ex: tiver deferido interceptação telefônica,
recebido a ação penal etc.), este será o competente para apreciar o acordo, sendo
distribuído a ele por prevenção.
O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao Delegado de
Polícia, como forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao
defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que
digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de
autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento.
O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que recebida a denúncia
(§ 3º do art. 7º).

5) Análise da homologação pelo juiz


As negociações do acordo de colaboração premiada ocorrem em âmbito extrajudicial,
sendo vedada, como vimos, a participação do magistrado. Repetindo: o magistrado
não participa da negociação do acordo.
Ocorre que, após celebrado, o pacto somente terá eficácia processual se for
homologado pelo juiz.
Na análise da homologação do acordo, o juiz deverá examinar os seguintes aspectos:
a) Regularidade: se os aspectos formais e procedimentais foram atendidos;
b) Legalidade: se a pactuação celebrada ofende algum dispositivo legal;
c) Voluntariedade: se o investigado/acusado não foi coagido a assinar o acordo.

Art. 4º (...) § 8º O juiz poderá recusar homologação à proposta


que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso
concreto.
"A homologação não representa juízo de valor sobre as declarações eventualmente já
prestadas pelo colaborador à autoridade judicial ou ao Ministério Público." (Min. Dias
Toffoli, no HC 127483/PR). Isso significa que, quando o juiz homologa o acordo de
colaboração premiada, não está necessariamente concordando ou afirmando que as
declarações prestadas pelo colaborador são verdadeiras. Tais declarações ainda serão
objeto de apuração.

A decisão do magistrado que homologa o acordo de


colaboração premiada não julga o mérito da pretensão
acusatória, mas apenas resolve uma questão incidente. Por
isso, esta decisão tem natureza meramente homologatória,
limitando-se ao pronunciamento sobre a regularidade,
legalidade e voluntariedade do acordo (art. 4º, § 7º, da Lei nº
12.850/2013).
O juiz, ao homologar o acordo de colaboração, não emite
juízo de valor a respeito das declarações eventualmente
prestadas pelo colaborador à autoridade policial ou ao
Ministério Público, nem confere o signo da idoneidade a
seus depoimentos posteriores.
A análise se as declarações do colaborador são verdadeiras ou
se elas se confirmaram com as provas produzidas será feita
apenas no momento do julgamento do processo, ou seja, na
sentença (ou acórdão), conforme previsto no § 11 do art. 4º da
Lei.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

SIGILO LEVANTADO ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA:


O § 3º do art. 7º da Lei nº 12.850/2013 prevê o seguinte:
Art. 7º (...)
§ 3º O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso
assim que recebida a denúncia, observado o disposto no art.
5º.

É possível que esse sigilo seja retirado antes do recebimento da denúncia? SIM. O §
3º do art. 7º da Lei nº 12.850/2013 prevê um limite máximo de duração do sigilo,
sendo possível que ele seja levantado (retirado) antes do recebimento da denúncia.
Esse dispositivo não traz uma regra de observância absoluta, mas sim um termo final
máximo. Para que o sigilo seja mantido até o recebimento da denúncia, deve-se
demonstrar a existência de uma necessidade concreta. Não havendo essa necessidade,
deve-se garantir a publicidade do acordo. Assim, nada impede que o sigilo do acordo
seja afastado em momento anterior ao recebimento da denúncia, possibilitando
conhecer aquele que subscreveu o acordo, bem assim o conteúdo do que declarado.

Depois que forem realizadas as diligências cautelares, em regra, não subsiste mais
razão para o sigilo, mesmo que ainda não tenha sido recebida a denúncia. Não há
direito subjetivo do colaborador a que se mantenha, indefinidamente, a restrição de
acesso ao conteúdo do acordo. Isso porque no âmbito da administração pública a
regra é a publicidade e o sigilo é exceção, conforme estabelece o art. 5º, LX, da CF/88:
Art. 5º (...)
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
social o exigirem;

24.3. Diversos aspectos relacionados com a homologação do acordo – (Info 870) –


IMPORTANTE!!!

Natureza jurídica do acordo de colaboração premiada


A colaboração premiada é um negócio jurídico processual entre o Ministério
Público e o colaborador, sendo vedada a participação do magistrado na celebração
do ajuste entre as partes.

Papel do Poder Judiciário no acordo de colaboração premiada


A colaboração é um meio de obtenção de prova cuja iniciativa não se submete à
reserva de jurisdição (não exige autorização judicial), diferentemente do que ocorre
nas interceptações telefônicas ou na quebra de sigilo bancário ou fiscal.
Nesse sentido, as tratativas e a celebração da avença são mantidas exclusivamente
entre o Ministério Público e o pretenso colaborador.
O Poder Judiciário é convocado ao final dos atos negociais apenas para aferir os
requisitos legais de existência e validade, com a indispensável homologação.

Natureza da decisão que homologa o acordo de colaboração premiada


A decisão do magistrado que homologa o acordo de colaboração premiada não
julga o mérito da pretensão acusatória, mas apenas resolve uma questão incidente.
Por isso, esta decisão tem natureza meramente homologatória, limitando-se ao
pronunciamento sobre a regularidade, legalidade e voluntariedade do acordo (art.
4º, § 7º, da Lei 12.850/2013).
O juiz, ao homologar o acordo de colaboração, não emite juízo de valor a respeito
das declarações eventualmente prestadas pelo colaborador à autoridade policial ou
ao Ministério Público, nem confere o signo da idoneidade a seus depoimentos
posteriores.
A análise se as declarações do colaborador são verdadeiras ou se elas se
confirmaram com as provas produzidas será feita apenas no momento do
julgamento do processo, ou seja, na sentença (ou acórdão), conforme previsto no §
11 do art. 4º da Lei.

Na decisão homologatória, magistrado examina se as cláusulas contratuais


ofendem manifestamente o ordenamento jurídico
No ato de homologação da colaboração premiada, não cabe ao magistrado, de forma
antecipada e extemporânea, tecer juízo de valor sobre o conteúdo das cláusulas
avençadas, exceto nos casos de flagrante ofensa ao ordenamento jurídico vigente.
Ex: o Relator poderá excluir ao acordo a cláusula que limite o acesso à justiça, por
violar o art. 5º, XXXV, da CF/88.
Neste momento, o Relator não realiza qualquer controle de mérito, limitando-se
aos aspectos formais e legais do acordo.

Em caso colaboração premiada envolvendo investigados ou réus com foro no


Tribunal, qual é o papel do Relator?
É atribuição do Relator homologar, monocraticamente, o acordo de colaboração
premiada, analisando apenas a sua regularidade, legalidade e voluntariedade, nos
termos do art. 4º, § 7º da Lei nº 12.850/2013:
§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º, o respectivo
termo, acompanhado das declarações do colaborador e de
cópia da investigação, será remetido ao juiz para
homologação, o qual deverá verificar sua regularidade,
legalidade e voluntariedade, podendo para este fim,
sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu
defensor.
Não há qualquer óbice à homologação do respectivo acordo mediante decisão
monocrática. O art. 21, I e II, do RISTF confere ao Ministro Relator no STF poderes
instrutórios para ordenar, de forma singular, a realização de quaisquer meios de
obtenção de provas.

Em caso colaboração premiada envolvendo investigados ou réus com foro no


Tribunal, qual é o papel do órgão colegiado?
Compete ao órgão colegiado, em decisão final de mérito, avaliar o cumprimento
dos termos do acordo homologado e a sua eficácia, conforme previsto no art. 4º, §
11 da Lei nº 12.850/2013:
§ 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado
e sua eficácia.
Assim, é possível que o órgão julgador, no momento da sentença ou acórdão, ou
seja, após a conclusão da instrução probatória, avalie se os termos da colaboração
foram cumpridos e se os resultados concretos foram atingidos, o que definirá a sua
eficácia.

Acordo de colaboração homologado pelo Relator deve, em regra, produzir seus


efeitos, salvo se presente hipótese de anulabilidade
O acordo de colaboração devidamente homologado individualmente pelo relator
deve, em regra, produzir seus efeitos diante do cumprimento dos deveres
assumidos pelo colaborador.
Vale ressaltar, no entanto, que o órgão colegiado detém a possibilidade de analisar
fatos supervenientes ou de conhecimento posterior que firam a legalidade do
acordo, nos termos do § 4º do art. 966do CPC/2015:
§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas
partes ou por outros participantes do processo e
homologados pelo juízo, bem como os atos
homologatórios praticados no curso da execução, estão
sujeitos à anulação, nos termos da lei.

Direitos do colaborador somente serão assegurados se ele cumprir seus deveres


O direito subjetivo do colaborador nasce e se perfectibiliza na exata medida em
que ele cumpre seus deveres.
Assim, o cumprimento dos deveres pelo colaborador é condição sine qua non para
que ele possa gozar dos direitos decorrentes do acordo.
Por isso diz-se que o acordo homologado como regular, voluntário e legal gera
vinculação condicionada ao cumprimento dos deveres assumidos pela colaboração,
salvo ilegalidade superveniente apta a justificar nulidade ou anulação do negócio
jurídico.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 21, 22, 28 e 29/6/17 (Info 870).

24.4. Se a colaboração do agente não foi tão efetiva ele terá direito apenas a redução
da pena, e não ao perdão judicial – (Info 861)
A colaboração premiada foi tratado com detalhes pela Lei 12.850/13. No entanto, o
julgado do STF envolveu fatos que aconteceram antes da Lei 12.850/13. Desse
modo, o julgamento foi feito com base na colaboração premiada disciplinada pela
Lei 9.807/99.
A Lei 9.807/99 prevê o instituto da colaboração premiada, assegurando ao
colaborador a redução da pena (art. 14) ou até mesmo o perdão judicial (art. 13)
O réu colaborador não terá direito ao perdão judicial, mas apenas à redução da
pena, caso a sua colaboração não tenha tido grande efetividade como meio para
obter provas, considerando que as investigações policiais, em momento anterior ao
da celebração do acordo, já haviam revelado os elementos probatórios acerca do
esquema criminoso integrado.
STF. 1ª Turma. HC 129877/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 18/4/2017 (Info 861).

24.5. Forma de registro das declarações do colaborador premiado – (Info 831)

Não existe obrigatoriedade legal absoluta de que as declarações do colaborador


premiado sejam registradas em meio audiovisual.
O § 13 do art. 4º da Lei 12.850/13 prevê que "sempre que possível, o registro dos atos
de colaboração será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética,
estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter
maior fidelidade das informações".
Desse modo, existe sim uma recomendação da Lei no sentido de que as declarações
sejam registradas em meio audiovisual, mas isso não é uma obrigação legal
absoluta a ponto de gerar nulidade pelo simples fato de o registro não ter sido feito
dessa forma.
STF. Plenário. Inq 4146/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 22/6/16 (Info 831).
OBS:
Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual...
- um investigado ou acusado da prática de infração penal
- decide confessar a prática do delito
- e, além disso, aceita colaborar com a investigação ou com o processo
- fornecendo informações que irão ajudar,
- de forma efetiva,
- na obtenção de provas contra os demais autores dos delitos e contra a organização
criminosa,
- na prevenção de novos crimes,
- na recuperação do produto ou proveito dos crimes ou
- na localização da vítima com integridade física preservada,
- recebendo o colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais (ex:
redução de sua pena).

Atenção: A colaboração premiada possui natureza jurídica de "meio de obtenção de


prova" (art. 3º, I, da Lei 12.850/13). A colaboração premiada não é um meio de prova
propriamente dito. A colaboração premiada não prova nada (ela não é uma prova). A
colaboração premiada é um meio, uma técnica, um instrumento para se obter as
provas.

“Enquanto os meios de prova são aptos a servir, diretamente,


ao convencimento do juiz sobre a veracidade ou não de uma
afirmação fática (p. ex., o depoimento de uma testemunha, ou
o teor de uma escritura pública), os meios de obtenção de
provas (p. ex.: uma busca e apreensão) são instrumentos para
a colheita de elementos ou fontes de provas, estes sim, aptos a
convencer o julgador (p. ex.: um extrato bancário [documento]
encontrado em uma busca e apreensão domiciliar). Ou seja,
enquanto o meio de prova se presta ao convencimento direto
do julgador, os meios de obtenção de provas somente
indiretamente, e dependendo do resultado de sua realização,
poderão servir à reconstrução da história dos fatos”
(BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro. Campus:
Elsevier. 2012, p. 270).

Previsão normativa: Podemos encontrar algumas previsões embrionárias de


colaboração premiada em diversos dispositivos legais esparsos. Confira a relação:
 Código Penal (arts. 15, 16, 65, III, 159, § 4º);
 Crimes contra o Sistema Financeiro – Lei 7.492/86 (art. 25, § 2º);
 Crimes contra a Ordem Tributária – Lei 8.137/90 (art. 16, parágrafo único);
 Lei dos Crimes Hediondos – Lei 8.072/90 (art. 8º, parágrafo único);
 Convenção de Palermo – Decreto 5.015/2004 (art. 26);
 Lei de Lavagem de Dinheiro – Lei 9.613/98 (art. 1º, § 5º);
 Lei de Proteção às Testemunhas – Lei 9.807/99 (arts. 13 a 15);
 Lei de Drogas – Lei 11.343/2006 (art. 41);
 Lei Antitruste – Lei 12.529/2011 (art. 87, parágrafo único).

O instituto, no entanto, foi tratado com maior riqueza de detalhes pela Lei 12.850/2013
(Lei do Crime Organizado), em seus arts. 4º a 7º. Este é, atualmente, o diploma que
rege, de forma geral, a colaboração premiada em nosso país.

OBS: E a questão da voluntariedade x espontaneidade?


O que diz a doutrina e a jurisprudência amplamente majoritária:
Voluntariedade é diferente de espontaneidade.
Quando se diz que a colaboração deve ser voluntária, o que se está querendo afirmar
é que o colaborador não pode ter sido coagido. Não importa que a ideia do acordo de
colaboração tenha partido da polícia ou do MP.
Espontâneo significa que a ideia surgiu da própria pessoa.
A colaboração premiada precisa ser voluntária, mas não é necessário que seja
espontânea.
A colaboração é considerada válida mesmo que a proposta não tenha partido do
investigado/acusado. Isso porque não se exige que a colaboração seja espontânea, ou
seja, que tenha partido do colaborador a ideia, a iniciativa.
Assim, basta que seja voluntária (que ele aceite livremente). Se a polícia ou o MP
propõem o acordo e este é aceito livremente pelo colaborador, esta colaboração é tida
como voluntária.

24.6. Impugnação do acordo de colaboração – (Info 796) – IMPORTANTE!!!

Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual um


investigado ou acusado da prática de infração penal decide confessar a prática do
delito e, além disso, aceita colaborar com a investigação ou com o processo
fornecendo informações que irão ajudar, de forma efetiva, na obtenção de provas
contra os demais autores dos delitos e contra a organização criminosa, na prevenção
de novos crimes, na recuperação do produto ou proveito dos crimes ou na
localização da vítima com integridade física preservada, recebendo o colaborador,
em contrapartida, determinados benefícios penais (ex: redução de sua pena).
"EMF", um dos réus na operação Lava-Jato impetrou no STF habeas corpus contra
ato do Min. Teori Zavascki, que homologou o acordo de delação premiada de
Alberto Youssef.
No HC, a defesa do réu alegou, dentre outras teses, que o colaborador não teria
idoneidade para firmar o acordo e que, por isso, as informações por ele repassadas
não seriam confiáveis. Afirmou-se, ainda, que ele já descumpriu um outro acordo
de colaboração premiada, demonstrando, assim, não ter compromisso com a
verdade.
Em razão disso, o acordo seria ilícito e todas as provas obtidas a partir dele também
seriam ilícitas por derivação, devendo ser anuladas.
O STF concordou com o HC? A ordem foi concedida? NÃO. O STF indeferiu o
habeas corpus.
 A colaboração premiada é apenas meio de obtenção de prova, ou seja, é um
instrumento para colheita de documentos que, segundo o resultado de sua
obtenção, poderão formar meio de prova. A colaboração premiada não se
constitui em meio de prova propriamente dito.
 O acordo de colaboração não se confunde com os depoimentos prestados
pelo colaborador com o objetivo de fundamentar as imputações a terceiros.
Uma coisa é o acordo, outra é o depoimento prestado pelo colaborador e que
será ainda valorado a partir da análise das provas produzidas no processo.
 Homologar o acordo não significa dizer que o juiz admitiu como verídicas
ou idôneas as informações prestadas pelo colaborador. Quando o
magistrado homologa o acordo, ele apenas afirma que este cumpriu sua
regularidade, legalidade e voluntariedade.
 O STF entendeu que o acordo não pode ser impugnado por terceiro, mesmo
que seja uma pessoa citada na delação. Isso porque o acordo é
personalíssimo e, por si só, não vincula o delatado nem afeta diretamente
sua situação jurídica. O que poderá atingir eventual corréu delatado são as
imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador.
 A personalidade do colaborador ou o fato de ele já ter descumprido um
acordo anterior de colaboração premiada não têm o condão de invalidar o
acordo atual. Não importa a idoneidade do colaborador, mas sim a
idoneidade das informações que ele fornecer e isso ainda será apurado no
decorrer do processo.
STF. Plenário. HC 127483/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26 e 27/8/2015 (Info
796).

25. CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES


25.1. Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR –
(Info 826)

Compete ao PGR, na condição de órgão nacional do Ministério Público, dirimir


conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais.
STF. Plenário. ACO 924/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 19/5/16 (Info 826).

26. CITAÇÃO
26.1. Citação por hora certa é constitucional – (Info 833)

É constitucional a citação com hora certa no âmbito do processo penal.


STF. Plenário. RE 635145/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Luiz Fux, j. 1º/8/16 (Info 833).
OBS: Segundo o Min. Rel. Marco Aurélio, deixar de reconhecer a constitucionalidade
da norma do CPP, que tem como objetivo exatamente assegurar a continuidade do
processo nas situações em que o réu deliberadamente se esconde para evitar a citação,
representaria um prêmio à sua atuação ilícita.

27. COMPETÊNCIA
27.1. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: Excepcionalmente, o STF
mantém no Tribunal a apuração dos fatos envolvendo pessoas sem foro por
prerrogativa de função caso o desmembramento cause prejuízo às investigações –
(Info 885)

Em regra, o STF entende que deverá haver o desmembramento dos processos


quando houver corréus sem prerrogativa. Em outras palavras, permanece no STF
apenas a apuração do investigado com foro por prerrogativa de função e os demais
são julgados em 1ª instância.
No entanto, no caso envolvendo o Senador Aécio Neves, sua irmã, seu primo e mais
um investigado, o STF decidiu que, no atual estágio, não deveria haver o
desmembramento e a apuração dos fatos deveria permanecer no Supremo para
todos os envolvidos. Isso porque entendeu-se que o desmembramento
representaria inequívoco prejuízo às investigações.
STF. 1ª Turma. Inq 4506 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, j. 14/11/17 (Info 885).
OBS:
STF analisa a conveniência do desmembramento:
Vale ressaltar que compete ao STF decidir quanto à
conveniência de desmembramento de procedimento de
investigação ou persecução penal quando houver pluralidade
de investigados e um deles tiver prerrogativa de foro perante
a Corte.
Em outras palavras, se, durante a investigação criminal,
houver investigados com foro por prerrogativa de função no
STF e outros sem foro privativo, o STF poderá decidir
desmembrar os feitos e permanecer investigando apenas as
autoridades, circunstância em que a investigação dos demais
será feita em 1ª instância.
STF. 2ª Turma. AP 871, 872, 873, 874, 875, 876, 877 e 878
QO/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 10/6/2014
(Info 750).

Qual é a regra geral em pedidos como esse? Em regra, o STF entende que deverá haver
o desmembramento dos processos quando houver corréus sem prerrogativa. Nesse
sentido:
O desmembramento de inquéritos ou de ações penais de
competência do STF deve ser a regra geral, admitida exceção
nos casos em que os fatos relevantes estejam de tal forma
relacionados, que o julgamento em separado possa causar
prejuízo relevante à prestação jurisdicional. STF. Plenário. Inq
3515 AgR/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/2/2014
(Info 735).

Exceção no caso concreto: No caso concreto, a 1ª Turma do STF entendeu que, neste
momento, o desmembramento prejudicaria o andamento das investigações. O STF
entendeu que as acusações e a conduta de cada um dos investigados relaciona-se com
um único fato supostamente delituoso – a solicitação de R$ 2 milhões a Joesley Batista
para ajudar a pagar a defesa de Aécio Neves em investigações da Operação Lava-Jato.
Desse modo, a investigação se refere a fato único, com diversidade de funções entre
os acusados, o que justifica a manutenção das investigações no STF. Neste estágio das
investigações, as condutas dos quatro investigados estão indissociavelmente unidas à
do Senador e o desmembramento representaria “inequívoco prejuízo às
investigações”. Conforme já explicado, a regra é o desmembramento, mas, no caso
concreto, as condutas estão de tal forma imbricadas que a separação prejudicaria as
investigações.

27.2. CRIME MILITAR: Militar que inseriu declaração falsa em documento


liberando indevidamente embarcação sem as vistorias necessárias – (Info 881)

Compete à Justiça Militar julgar militar acusado de autorizar a navegação de uma


balsa sem a realização de vistorias necessárias.
Essa conduta caracteriza-se como sendo falsidade ideológica (art. 312 do CPM),
sendo crime militar, nos termos do art. 9º, II, “e”, do CPM.
STF. 1ª Turma. HC 110233/AM, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco
Aurélio, j. 10/10/17 (Info 881).

27.3. Competência para julgar Procurador da República – (Info 871)

Compete ao TRF julgar os crimes praticados por Procurador da República, salvo


em caso de crimes eleitorais, hipótese na qual a competência é do TRE.
Vale ressaltar que o Procurador da República é julgado pelo TRF em cuja área
exerce suas atribuições, sob pena de ofensa ao princípio do juiz natural. Ex: o
Procurador da República lotado em Recife (PE) pratica um crime em Brasília. Ele
será julgado pelo TRF da 5ª Região (Tribunal que abrange o Município onde ele
atua) e não pelo TRF da 1ª Região (que abrange Brasília).
Imagine agora que João, Procurador da República, é lotado na Procuradoria de
Guarulhos (SP), área de jurisdição do TRF-3. Ocorre que este Procurador estava no
exercício transitório de função no MPF em Brasília. O Procurador pratica um crime
neste período. De quem será a competência para julgar João: do TRF3 ou do TRF1?
Do TRF1. A 2ª Turma, ao apreciar uma situação semelhante a essa, decidiu que a
competência seria do TRF1, Tribunal ao qual o Procurador da República está
vinculado no momento da prática do crime, ainda que esse vínculo seja temporário.
STF. 2ª Turma. Pet 7063/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 1º/8/17 (Info 871).

Obs: houve empate na votação (2x2) e a conclusão acima exposta prevaleceu em


virtude de a decisão ter sido tomada em habeas corpus no qual, em caso de empate,
prevalece o pedido formulado em favor do paciente.
27.4. Conduta de um dos pedófilos conexa com um grupo maior localizado em outro
juízo – (Info 868)

Se o crime do art. 241-A do ECA for praticado por meio do computador da


residência do agente localizada em São Paulo (SP), mesmo assim ele poderá ser
julgado pelo juízo de Curitiba (PR) se ficar demonstrado que a conduta do agente
ocorreu com investigações que tiveram início em Curitiba, onde um grupo de
pedófilos ligados ao agente foi preso e, a partir daí, foram obtidas todas as provas.
Neste caso, a competência do juízo de Curitiba ocorrerá por conexão, não havendo
ofensa ao princípio do juiz natural.
STF. 1ª Turma. HC 135883/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, j. 6/6/17 (Info 868).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: João praticou conjunção carnal com menina de
8 anos em sua residência na cidade de São Paulo. Além disso, ficou provado que ele
enviou para um site russo, do computador de sua casa, fotografias e vídeos contendo
cenas pornográficas envolvendo crianças. Diante disso, João foi condenado pela
Justiça Federal de Curitiba (PR) pela prática dos seguintes delitos:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

ECA/Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar


ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Por que tais crimes foram julgados pela Justiça Federal? Os delitos dos arts. 240 e 214-
A do ECA, quando praticados por meio de sites na internet, são de competência da
Justiça Federal:
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241,
241-A e 241-B do ECA), quando praticados por meio da rede
mundial de computadores (internet).
STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio,
Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28 e
29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805).

O estupro de vulnerável também foi julgado na Justiça Federal em virtude da conexão


(art. 76 do CPP). Isso porque os três delitos estavam diretamente ligados,
considerando que o réu mantinha relação sexual com a criança, registrava isso em
vídeo e depois publicava no site russo.
Por que tais crimes foram julgados pela Justiça Federal de Curitiba (e não pela JFSP)?
Porque a descoberta das condutas de João ocorreu com investigações que tiveram
início em Curitiba, onde um grupo de pedófilos ligados a João foi preso e, a partir
daí, foram obtidas todas as provas sobre este site russo bem como sobre as condutas
de João.
Os investigados trocavam informações no eixo Curitiba–São Paulo, o que evidencia
a conexão entre os crimes de uns e de outros. Em razão disso, o STF concluiu que o
juízo federal de Curitiba tinha competência para julgar João, sem que houvesse
ofensa ao princípio do juiz natural.

27.5. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: Simples menção do nome de


autoridade detentora de prerrogativa de foro não obriga a remessa da investigação ao
Tribunal – (Info 854) – IMPORTANTE!!!

A simples menção ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa de foro, seja


em depoimentos prestados por testemunhas ou investigados, seja em diálogos
telefônicos interceptados, assim como a existência de informações, até então,
fluidas e dispersas a seu respeito, são insuficientes para o deslocamento da
competência para o Tribunal hierarquicamente superior.
STF. 2ª Turma. Rcl 25497 AgR/RN, rel. Min. Dias Toffoli, j. 14/2/2017 (Info 854).
OBS:
Assim, por exemplo, não é porque um dos investigados mencionou o nome de uma
autoridade com foro privativo, que deverá haver o deslocamento da competência.
Somente deverá haver a remessa da investigação para o foro por prerrogativa de
função se ficar constatada a existência de indícios da participação ativa e concreta do
titular da prerrogativa em ilícitos penais. No caso concreto, o Deputado Federal não
foi alvo de nenhuma medida cautelar autorizada pelo juiz de 1ª instância. Além disso,
os fatos verificados sobre o parlamentar não tinham relação direta com o objeto da
investigação que estava sendo conduzida pela Polícia.

27.6. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: Arquivamento da investigação


com relação à autoridade com foro privativo e remessa dos autos para a 1ª instância
para continuidade quanto aos demais – (Info 853)

Se o STF entende que não há indícios contra a autoridade com foro privativo e se
ainda existem outros investigados, a Corte deverá remeter os autos ao juízo de 1ª
instância para que continue a apuração da eventual responsabilidade penal dos
terceiros no suposto fato criminoso.
STF. 1ª Turma. Inq 3158 AgR/RO, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Rosa Weber, j. 7/2/17 (Info 853).

27.7. Competência para julgar crimes ambientais envolvendo animais silvestres, em


extinção, exóticos ou protegidos por compromissos internacionais – (Info 853) –
IMPORTANTE!!!
Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter
transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de extinção e espécimes
exóticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
STF. Plenário. RE 835558/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 9/2/17 (repercussão geral) (Info
853)

27.8. Ex-militar que continua recebendo e sacando indevidamente o soldo mesmo


após ter sido desincorporado pratica crime militar – (Info 842)

Compete à Justiça Militar julgar a conduta de ex-militar acusado do crime de


“apropriação de coisa havida acidentalmente” (art. 249 do CPM) pelo fato de ele,
mesmo depois de desincorporado das fileiras, ter continuado sacando o soldo que
era depositado por engano em sua conta.
STF. 2ª Turma. HC 136539/AM, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 04/10/16 (Info
842).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João era Soldado do Exército e foi
desincorporado das fileiras em 2010. Por um erro no sistema, continuou ativo na folha
de pagamento, mesmo após o seu desligamento. Assim, todos os meses, o Exército
depositava em sua conta o soldo e ele sacava os valores, mesmo sabendo que era
indevido. Depois de um ano foi descoberto o fato. João foi notificado a devolver
voluntariamente os valores recebidos, mas se recusou a fazer. Diante disso, o
Ministério Público o denunciou pela prática do crime previsto no art. 249 do CPM:
Apropriação de coisa havida acidentalmente
Art. 249. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu
poder por êrro, caso fortuito ou fôrça da natureza:
Pena - detenção, até um ano.

O réu suscitou, contudo, incompetência da Justiça Militar, alegando que, como ele é
ex-Soldado, não poderia mais ser julgado pela Justiça Castrense. A alegação do réu
foi acolhida pelo STF? NÃO.

Em regra, o civil não é julgado pela Justiça Militar. No entanto, existem algumas
situações excepcionais em que isso ocorre. O caso em análise é uma delas,
considerando que a conduta praticada amolda-se à previsão do art. 9º, III, letra “a” do
CPM:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado,
ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se
como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do
inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra
a ordem administrativa militar;

O fato de o ex-militar apropriar-se de numerário que não lhe pertencia, a despeito de


já se encontrar na condição civil, é crime militar que atenta contra as instituições
militares, pois praticado contra o patrimônio sob a administração militar.
27.9. Crime praticado por militar da ativa contra militar na mesma situação durante
atividade militar no interior da caserna – (Info 840)

Compete à Justiça Militar julgar crime cujo autor e vítima sejam militares, desde
que ambos estejam em serviço e em local sujeito à administração militar.
O mero fato de a vítima e de o agressor serem militares não faz com que a
competência seja obrigatoriamente da Justiça Militar. O cometimento de delito por
militar contra vítima militar somente será de competência da Justiça Castrense nos
casos em que houver vínculo direto com o desempenho da atividade militar.
STF. 1ª Turma. HC 135019/SP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 20/09/2016 (Info 840).

27.10. Civil que saca indevidamente benefício de pensão militar comete crime militar
– (Info 831)

Compete à Justiça Militar julgar a conduta de civil que saca valores oriundos de
pensão militar depositados na conta bancária de ex-militar que faleceu e a
Administração Militar, por desconhecer a morte, continuou depositando, por
engano, o valor da pensão durante meses após o óbito.
O saque indevido por civil de benefício de pensão militar afeta bens e serviços das
instituições militares, estando justificada a competência da Justiça Militar.
STF. 2ª Turma. HC 125777/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 21/6/16 (Info 831).
OBS:
Em regra, o civil não é julgado pela Justiça Militar. No entanto, existem algumas
situações excepcionais em que isso ocorre. O caso em análise é uma delas,
considerando que a conduta praticada amolda-se à previsão do art. 9º, III, letra “a” do
CPM:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado,
ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se
como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do
inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra
a ordem administrativa militar;

O crime foi cometido não contra o falecido, mas sim contra patrimônio que estava “sob
a administração militar”, tendo em vista que, por já ter morrido o beneficiário, não
cabia mais o pagamento da pensão, devendo os valores depositados ser devolvidos ao
Exército.

Observação quanto à tipificação oferecida na denúncia: No caso concreto, o MPM


denunciou a ré pela prática do crime de furto (art. 240 do CPM). No entanto, existem
inúmeras outras situações análogas em que a Justiça Militar reconheceu que o delito
praticado nesta hipótese seria o estelionato (art. 251 do CPM). O STF não ingressou na
análise deste ponto e se limitou a examinar a questão da competência. Em outras
palavras, não se afirmou que a conduta em tela seria realmente furto ou estelionato.

27.11. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: Aposentadoria da autoridade e


manutenção do processo no Tribunal em razão de conexão com outros réus – (Info 827)
Em regra, havendo a aposentadoria do Desembargador, ele deixa de ter foro por
prerrogativa de função no STJ e passa a ser julgado em 1ª instância.
Se houver, no entanto, outros réus com foro privativo no STJ, é possível que este
Tribunal reconheça que existe conexão entre os fatos e que será útil ao deslinde da
causa que os réus continuem a ser julgados conjuntamente. Neste caso, não haverá
desmembramento e o réu sem foro privativo será julgado também no Tribunal com
os demais.
Este procedimento não viola a CF/88, conforme definido na Súmula 704-STF.
STF. 1ª Turma. HC 131164/TO, rel. Min. Edson Fachin, j. 24/5/16 (Info 827).
OBS:
Imagine a seguinte situação: João e Pedro são Desembargadores e estão respondendo
a uma ação penal no STJ (art. 105, I, "a", da CF/88) por crime que teriam praticado
conjuntamente. João se aposenta.

Com a aposentadoria, cessa o foro por prerrogativa de função? SIM. O foro especial
por prerrogativa de função não se estende a magistrados aposentados. Desse modo,
após se aposentar, o magistrado (seja ele juiz, Desembargador, Ministro) perde o
direito ao foro por prerrogativa de função, mesmo que o fato delituoso tenha ocorrido
quando ele ainda era magistrado. Assim, deverá ser julgado pela 1ª instância (STF.
Plenário. RE 549560/CE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22/3/2012. Info
659).

Mesmo com a aposentadoria de um dos réus, o STJ poderá se dizer competente e


continuar a julgar os dois? SIM.
 Regra geral: É a de que, cessando o exercício do cargo com a aposentadoria,
haja um desmembramento dos processos e o réu que perdeu o foro por
prerrogativa de função seja julgado pela 1ª instância.
 Exceção: o Tribunal pode reconhecer que existe conexão entre os fatos e
entender que será útil ao deslinde da causa que os dois réus continuem a ser
julgados conjuntamente. Neste caso, não haverá desmembramento e o réu sem
foro privativo será julgado também no Tribunal juntamente com o réu que tem
foro por prerrogativa de função.

Quem decide se haverá o julgamento conjunto ou o desmembramento? É o próprio


Tribunal competente para a causa (em nosso exemplo, o STJ). A decisão pela
manutenção da unidade de julgamento ou pelo desmembramento da ação penal é do
Tribunal competente para julgar a autoridade e esta escolha está sujeita a questões de
conveniência e oportunidade.

Se o réu que não tem foro por prerrogativa de função for julgado pelo Tribunal, isso
não irá ofender o princípio do juiz natural? Em nosso exemplo, o fato de João, mesmo
não sendo mais autoridade, ser julgado pelo STJ, não ofende a Constituição Federal?
NÃO. O STF possui, inclusive, uma súmula a respeito do tema:

Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da


ampla defesa e do devido processo legal a atração por
continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por
prerrogativa de função de um dos denunciados.
27.12. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: Decisão sobre desmembramento
das investigações e sobre levantamento do sigilo compete ao Tribunal competente
para julgar a autoridade – (Info 819)

Durante a investigação, conduzida em 1ª instância, de crimes praticados por


pessoas sem foro privativo, caso surja indício de delito cometido por uma
autoridade com foro no STF, o juiz deverá paralisar os atos de investigação e
remeter todo o procedimento para o Supremo. O juiz não pode decidir separar os
procedimentos e remeter ao Tribunal apenas os elementos colhidos contra a
autoridade, permanecendo com o restante.
Chegando ao STF, compete a este decidir se deverá haver o desmembramento ou
se o Tribunal irá julgar todos os suspeitos, incluindo as pessoas que não têm foro
privativo.
Em suma, cabe apenas ao STF decidir sobre a necessidade de desmembramento de
investigações que envolvam autoridades com prerrogativa de foro.
De igual forma, se surgem diálogos envolvendo autoridade com foro no STF, o juiz
que havia autorizado a interceptação não poderá levantar o sigilo do processo e
permitir o acesso às conversas porque a decisão quanto a isso é também do STF.
STF. Plenário. Rcl 23457 Referendo-MC/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
31/3/2016 (Info 819).
OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE PLURALIDADE DE INVESTIGADOS SENDO UM
DELES COM FORO PRIVATIVO NO STF:
Imagine a seguinte situação adaptada: Havia uma investigação criminal em curso
sendo conduzida pela Polícia Federal, com a supervisão do MPF, e que envolvia
inúmeros suspeitos de terem praticado diversos crimes de competência federal. O juiz
federal que acompanhava o caso já havia deferido diversas medidas cautelares, como
interceptação telefônica e telemática. No relatório de monitoramento telemático
datado de 17/04/14, a equipe de analistas da Polícia Federal noticiou que houve trocas
de mensagens suspeitas entre um dos investigados e um Deputado Federal. O
Deputado Federal não era alvo das investigações e não tinha seus telefones
interceptados, sendo captado seu diálogo por conta de ter se comunicado com uma
pessoa investigada. Desse modo, houve “encontro fortuito de provas” contra o
Parlamentar federal. Ressalte-se que o Deputado não poderia ser investigado em 1ª
instância porque desfruta de foro por prerrogativa de função, de forma que eventual
interceptação ou qualquer ato de investigação contra ele somente poderia ser
autorizado pelo STF (art. 102, I, “b”, da CF/88).

Diante da descoberta de eventual participação de Deputado Federal nos crimes, qual


é a providência a ser adotada pelo juiz? Deverá comunicar ao STF sobre esse fato.

O juiz pode continuar investigando o Parlamentar federal? NÃO. Isso porque essa
investigação deverá ser autorizada e conduzida pelo STF. Caso o magistrado
continuasse as diligências investigatórias, estas seriam ilegais, podendo ser anuladas,
por violação ao foro por prerrogativa de função.

Nesse caso concreto, as diligências investigatórias que ocorreram antes de 17/04/2014


devem ser anuladas? NÃO. Em princípio, tais diligências são válidas porque os alvos
da investigação eram pessoas sem foro por prerrogativa de função. Houve um
encontro fortuito de provas contra o Deputado Federal. A teoria do encontro fortuito
de provas é utilizada quando, no cumprimento de uma diligência para investigar
determinados delitos envolvendo certas pessoas, a autoridade policial casualmente
encontra provas relacionadas com outra infração penal ou com outros alvos que não
estavam na linha de desdobramento normal da investigação. Se o encontro foi
realmente casual (fortuito), a prova será lícita. Por outro lado, a defesa pode tentar
provar que a autoridade policial sabia que iria encontrar aquelas provas e que, de
maneira informal, estava investigando aqueles outros crimes ou pessoas. Nessa
segunda hipótese, a “descoberta” seria forjada e a prova seria reputada como ilícita,
devendo ser anulada, considerando que teria havido desvio de finalidade.

A investigação de todos continuará no STF? Não necessariamente. A investigação da


autoridade com foro privativo deverá ser feita, obrigatoriamente, no STF. No entanto,
a Corte poderá decidir desmembrar o feito, a fim de conduzir apenas a investigação
da autoridade, determinando a remessa do restante da investigação para a 1ª
instância. Assim, compete ao STF decidir quanto à conveniência do desmembramento
de procedimento de investigação ou persecução penal, quando houver pluralidade de
investigados e um deles tiver prerrogativa de foro perante a Corte. STF. 2ª Turma. AP
871, 872, 873, 874, 875, 876, 877 e 878 QO/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em
10/6/2014 (Info 750).

Em regra, o STF determina o desmembramento ou faz a investigação/julgamento


unificado? Segundo já decidiu a Corte, o desmembramento de inquéritos ou de ações
penais de competência do STF deve ser a regra geral, admitida exceção nos casos em
que os fatos relevantes estejam de tal forma relacionados, que o julgamento em
separado possa causar prejuízo relevante à prestação jurisdicional. STF. Plenário. Inq
3515 AgR/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/2/2014 (Info 735).

JULGAMENTO DO STF ENVOLVENDO CONVERSA TRAVADA ENTRE DILMA E


LULA:
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: Uma das fases da operação "Lava
Jato" investigava se Lula praticou ou não determinados crimes. Diante disso, o Juiz
Federal Sérgio Moro autorizou a interceptação dos telefones utilizados pelo ex-
Presidente. A Presidente Dilma ligou para Lula e, como o telefone de Lula estava
interceptado, a conversa foi gravada. No diálogo, Dilma fala em enviar para Lula o
termo de posse para ele utilizar caso fosse necessário. Os investigadores da operação
"Lava Jato" interpretaram esta frase como sendo indício de uma eventual tentativa de
Dilma de evitar a prisão de Lula. Isso porque se a polícia chegasse para cumprir
mandado de prisão expedido pelo Juiz, Lula poderia mostrar o termo de posse no
cargo de Ministro e, assim, evitar a execução da medida, já que ele teria, neste caso,
foro privativo no STF. Sem entrar no mérito da configuração ou não dos crimes, vamos
supor, hipoteticamente, que existam indícios da prática de crimes cometidos por Lula.
Ele não possuía foro por prerrogativa de função. Logo, sua investigação e processo é
na 1ª instância. Durante esta investigação, surge, em tese, indício de que a Presidente
da República praticou crime. Ocorre que a Presidente possui foro privativo no STF.
Diante deste cenário, qual deve ser a atitude do Juiz que está conduzindo a
investigação?
 1ª opção: ele deve desmembrar os processos, ou seja, tirar cópia das eventuais
provas que foram coletadas contra a autoridade com foro privativo e remetê-
las para o Tribunal competente (no caso, o STF), deixando consigo a
investigação que estava sendo conduzida contra os demais suspeitos sem foro
privativo.
 2ª opção: ele deve remeter para o Tribunal toda a investigação, ou seja, tanto
aquela envolvendo a autoridade com foro privativo, como também as
diligências relacionadas com os suspeitos sem foro.

Atenção: O STF entende que deverá ser adotada a 2ª opção.

O STF já possuía outros precedentes no mesmo sentido:

Até que esta Suprema Corte proceda à análise devida, não cabe ao
Juízo de primeiro grau, ao deparar-se, nas investigações com
suspeitos detentores de prerrogativa de foro, determinar a cisão das
investigações e a remessa a esta Suprema Corte da apuração relativa
a esses últimos. Se isso ocorre, o Juízo de primeiro grau usurpa a
competência do STF para analisar se é cabível ou não o
desmembramento (STF. Plenário. Rcl 7913 AgR, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 12/05/2011).

Levantamento do sigilo: Ainda tratando do caso acima, o Juiz Federal, quando


decretou o fim das interceptações, retirou o sigilo do processo, fazendo com que ele se
tornasse público e pudesse ser consultado por qualquer pessoa. Com isso, diversos
órgãos de imprensa tiveram acesso aos diálogos e os divulgaram. O STF decidiu que
o Juiz não poderia ter tomado esta decisão, considerando que a decisão sobre o
levantamento do sigilo, por envolver autoridade com foro no Tribunal, não competia
ao magistrado.

27.13. O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não
atrai a competência da justiça federal – (Info 819) – IMPORTANTE!!!

O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a
competência da justiça federal.
STF. 1ª Turma. HC 105461/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/3/2016 (Info
819).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: João morava em Ribeirão Preto (SP) e decidiu
se mudar para Rivera (Uruguai), onde passou a chefiar uma organização criminosa.
Carlos morava em Santana do Livramento (Brasil) e integrava a mesma organização
criminosa, mas estava tentando enganar João. Depois que este descobriu a traição,
decidiu matá-lo. Para disfarçar, João mandou um capanga ir até a casa de Carlos
pedindo que este fosse a uma reunião no Uruguai, onde supostamente o chefe iria lhe
dar uma nova missão. Quando Carlos chegou na sede da organização criminosa em
Rivera, foi morto por João. Alguns dias depois, João resolveu visitar sua mãe, que
mora em Santana do Livramento, quando, então, foi preso pela Polícia, que já o
investigava há algum tempo.

Em tese, o homicídio praticado por João poderá ser julgado no Brasil? SIM. A hipótese
pode, em tese, ser no art. 7º, II, "b", do Código Penal:

Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no


estrangeiro:
II - os crimes:
b) praticados por brasileiro;

Vale ressaltar, no entanto, que é necessário que sejam cumpridas as condições


previstas no § 2º do art. 7º:

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do


concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira
autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí
cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro
motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais
favorável.

Pelo fato de o crime ter sido cometido no exterior, a competência para julgá-lo é da
Justiça Federal? NÃO. Nada a ver. O crime só pode ser julgado pela Justiça Federal
caso se amolde a uma das hipóteses previstas no art. 109 da CF/88. No caso, o delito
não foi praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades autárquicas ou empresas públicas (inciso IV). De igual modo, não se aplica
o inciso V: "os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro,
ou reciprocamente". Isso porque no Brasil houve a prática de atos meramente
preparatórios. O ato criminoso fora inteiramente cometido no exterior, a afastar a
incidência da mencionada regra constitucional, cuja interpretação há de ser estrita. Os
demais incisos do art. 109 nem de longe geram dúvida e não se aplicam ao caso
concreto. Dessa forma, não sendo hipótese de incidência da Justiça Federal, a
competência para julgar o delito em questão é da Justiça Estadual, que tem caráter
residual.

E de quem será a competência territorial? Qual é a comarca competente para julgar o


crime? Uma das varas do Tribunal do Júri de São Paulo (SP) porque esta é a capital do
Estado que foi o último domicílio do réu no país, conforme prevê o art. 88 do CPP:

Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território


brasileiro, será competente o juízo da Capital do Estado onde
houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido
no Brasil, será competente o juízo da Capital da República.

27.14. Redução a condição análoga à de escravo – (Info 809) – IMPORTANTE!!!

Compete à justiça federal processar e julgar o crime de redução à condição análoga


à de escravo (art. 149 do CP). O tipo previsto no art. 149 do CP caracteriza-se como
crime contra a organização do trabalho e, portanto, atrai a competência da justiça
federal (art. 109, VI, da CF/88).
STF. Plenário. RE 459510/MT, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min.
Dias Toffoli, julgado em 26/11/2015 (Info 809).
27.15. Disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou
adolescente (Info 805) – IMPORTANTE!!!

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em


disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou
adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando praticados por meio da rede
mundial de computadores (internet).
STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. Orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min.
Edson Fachin, julgado em 28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805).

27.16. Menção ao investigado com foro por prerrogativa de função no depoimento do


réu que está sendo processado em 1ª instância – (Info 802)

Na chamada "operação Lava Jato", o STF decidiu desmembrar um dos feitos,


ficando no STF a investigação relacionada com o Deputado Federal "EC" e sendo
remetido de volta para a Vara Federal de Curitiba o processo que apura a conduta
dos demais réus (supostos comparsas do parlamentar).
Depois do desmembramento, durante a oitiva de um réu colaborador na 1ª
instância, este revelou novos fatos criminosos que teriam sido praticados por "EC".
Essa oitiva foi correta e não houve usurpação de competência do STF.
Só se poderia dizer que houve violação da competência do STF se o juiz federal
tivesse realizado medidas investigatórias dirigidas ao Deputado Federal, não
podendo ser considerada medida de investigação o simples fato de ele ter ouvido
réu colaborador e este ter mencionado a participação de "EC" durante a audiência.
É comum que, em casos de desmembramento, ocorra a produção de provas que se
relacionem tanto com os indivíduos investigados na 1ª instância, como o dos
demais réus com foro privativo. A existência dessa coincidência não caracteriza
usurpação de competência.
Em suma, a simples menção do nome do reclamante em depoimento de réu
colaborador, durante a instrução em 1ª instância, não caracterizaria ato de
investigação, ainda mais quando houve prévio desmembramento, como no caso.
STF. Plenário. Rcl 21419 AgR/PR, Rel. Min.Teori Zavascki, julgado em 7/10/2015
(Info 802).

27.17. Criação de nova vara e “perpetuatio jurisdictionis” – (Info 783) –


IMPORTANTE!!!

Em 2004, três Auditores-Fiscais do Trabalho foram assassinados na zona rural do


Município de Unaí (MG) em virtude do trabalho de fiscalização que vinham
realizando no local.
Na época dos fatos, não havia vara federal em Unaí, motivo pelo qual a denúncia
do MPF foi recebida pelo juízo da 9ª Vara Federal de Belo Horizonte (MG).
Alguns anos depois, foi criada a Vara Federal de Unaí (MG) e, em razão disso, o
juízo da 9ª Vara Federal de Belo Horizonte declinou a competência para julgar o
processo para a recém criada Vara Federal.
Tanto o STF como o STJ discordaram da decisão declinatória e reafirmaram o
entendimento de que a criação superveniente de vara federal na localidade de
ocorrência de crime doloso contra a vida não enseja a incompetência do juízo em
que já se tenha iniciado a ação penal.
Incide, no caso, o princípio da “perpetuatio jurisdictionis” que, apesar de só estar
previsto no CPC (art. 87 do CPC 1973 / art. 43 do CPC 2015), é aplicável também ao
processo penal por força do art. 3º do CPP.
Assim, o juízo da Vara de Belo Horizonte, que recebeu a denúncia (iniciando a ação
penal), continua sendo competente para julgar o processo mesmo tendo sido criada
nova vara.
STF. 1ª Turma. HC 117871/MG e HC 117832/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/
o acórdão Min. Rosa Weber, julgados em 28/4/2015 (Info 783).

27.18. Mesmo tendo cessada a competência do STF para julgar a ação penal, é possível
a concessão de habeas corpus de ofício em caso de flagrante atipicidade – (Info 781) –
IMPORTANTE!!!

Determinado réu foi denunciado pela prática de crime contra a Lei de Licitações.
Como ele era Deputado Federal, seu processo estava tramitando no STF. Após toda
a instrução, o Ministério Público apresentou alegações finais, no final de 2014,
pedindo a absolvição por atipicidade da conduta. O STF designou a sessão para
julgar o réu. Ocorre que essa sessão somente foi marcada para abril de 2015 e o
problema é que o referido réu não conseguiu se reeleger Deputado Federal e deixou
o cargo em 31/12/2014. Desse modo, no dia marcado para a sessão de julgamento, o
acusado já não era mais Deputado Federal.
Como o réu deixou de ser Deputado Federal, a solução tecnicamente “mais correta”
a ser tomada pelo STF seria reconhecer que não era mais competente para a ação
penal e declinar o processo para ser julgado por um juiz de direito de 1ª instância.
A Corte adotou, no entanto, uma postura mais “moderna” ou de “vanguarda” para
o caso: o STF reconheceu que não era mais competente para julgar a ação penal,
mas considerou que a situação era de flagrante atipicidade (tanto que o PGR pediu
a absolvição) e, por isso, entendeu que deveria ser concedido habeas corpus, de
ofício, em favor do réu, extinguindo o processo penal.
STF. 1ª Turma. AP 568/SP, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/4/2015 (Info
781).

27.19. Súmula vinculante 45 – (Info 780)

Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do tribunal do júri


prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela
Constituição Estadual.
STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).

27.20. Furto praticado por militar contra outro militar dentro das instalações militares
– (Info 778)

Militar do Exército subtraiu de seu colega de farda, em quartel militar, cartão


magnético, juntamente com a respectiva senha. Após, efetuou empréstimo em
nome da vítima, bem como saques de valores. A competência para julgar esse crime
é da Justiça Militar?
SIM. Compete à Justiça castrense processar e julgar militar pela prática de crime de
furto (art. 240 do CPM) perpetrado contra outro militar em ambiente sujeito à
administração militar (art. 9º, II, “a” do CPM).
STF. 1ª Turma. HC 125326/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/3/2015 (Info
778).

27.21. Competência para julgar falsificação de documentos navais expedidos pela


Marinha – (Info 763)

Súmula vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar


civil denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando
se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira
de Habilitação de Arrais-Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do
Brasil.
STF. Plenário. Aprovada em 16/10/2014.

27.22. Competência no caso de crimes cometidos contra sociedades de economia


mista federal – (Info 759) – IMPORTANTE!!!

Em regra, os crimes cometidos contra as sociedades de economia mista federal são


julgados pela Justiça Estadual.
Excepcionalmente, competirá à Justiça Federal julgar o delito praticado contra
sociedade de economia mista federal quando ficar demonstrado que existe
interesse jurídico da União no fato. Isso ocorre nos casos em que os delitos
praticados contra a sociedade de economia mista estiverem relacionados com:
a) os serviços de concessão, autorização ou delegação da União; ou
b) se houver indícios de desvio das verbas federais recebidas por sociedades de
economia mista e sujeitas à prestação de contas perante o órgão federal.
STF. 1ª Turma. RE 614115 AgR/PA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/9/2014
(Info 759).

27.23. Competência para julgar civil que usa documento falso junto à Marinha – (Info
755) – ATENÇÃO!!!

Compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares, assim definidos


em lei (art. 124 da CF/88).
A lei que prevê os crimes militares é o Código Penal Militar (Decreto-Lei
1.001/1969) que, em seu art. 9º, define os crimes militares, em tempo de paz, e no
art. 10 os crimes militares em tempo de guerra.
Em regra, os crimes militares em tempo de paz são praticados somente por
militares. No entanto, excepcionalmente, é possível que civis também cometam
crimes militares.
O art. 9º, III, do CPM define os crimes militares impróprios, ou seja, aqueles em
que a Justiça Militar irá julgar condutas ilícitas praticadas por civis, ainda que em
tempo de paz.
O delito militar praticado por civil, em tempo de paz, deve ser encarado de forma
excepcional e interpretado restritivamente. Assim, a Justiça Militar somente terá
competência para julgar condutas de civis quando ofenderem os bens jurídicos
tipicamente associados à função castrense, tais como a defesa da Pátria e a garantia
dos poderes constitucionais, da lei e da ordem.
Compete à Justiça Federal comum julgar o civil que falsifica ou utiliza documento
falso perante a Marinha do Brasil.
STF. 1ª Turma. HC 121189/PR, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 19/8/2014 (Info 755).

27.24. Renúncia ao mandato de réu com foro por prerrogativa de função – (Info 754)
– TEMA AINDA POLÊMICO!!!

Determinado Senador respondia a uma ação penal que tramitava no STF em


virtude do cargo que ocupava (art. 102, I, “b”, da CF/88). Antes de terminarem os
atos de instrução, o réu renunciou ao seu mandato.
A 1ª Turma do STF decidiu, neste caso concreto, declinar a competência e remeter
o processo para que o juízo de 1º grau faça o julgamento da ação penal.
Limite temporal para que a renúncia produza efeitos no processo: segundo posição
defendida pelos Ministros Roberto Barroso e Rosa Weber, nas ações penais
originárias do STF, se o parlamentar renunciar ao mandato após o encerramento da
instrução, a competência para o processo e julgamento da ação penal continua
sendo do STF (essa renúncia não gerará o efeito de cessar a competência do
Supremo para julgar o processo).
STF. Plenário. AP 606 QO/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12/7/2014
(Info 754).

27.25. Pluralidade de investigados sendo um deles com foro privativo no STF- (Info
750)

Compete ao STF decidir quanto à conveniência de desmembramento de


procedimento de investigação ou persecução penal quando houver pluralidade de
investigados e um deles tiver prerrogativa de foro perante a Corte.
Em outras palavras, se, durante a investigação criminal, houver investigados com
foro por prerrogativa de função no STF e outros sem foro privativo, o STF poderá
decidir desmembrar os feitos e permanecer investigando apenas as autoridades,
circunstância em que a investigação dos demais será feita em 1ª instância.
STF. 2ª Turma. AP 871, 872, 873, 874, 875, 876, 877 e 878 QO/PR, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgados em 10/6/2014 (Info 750).

27.26. Renúncia ao mandato de réu com foro por prerrogativa de função – (Info 740) -
Atenção! Concursos federais!

Determinado Deputado Federal respondia a uma ação penal que tramitava no STF
em virtude do cargo que ocupava (art. 102, I, “b”, da CF/88).
Foram praticados todos os atos de instrução. Após o Ministério Público apresentar
alegações finais, o réu renunciou ao seu mandato.
O STF decidiu que cessou sua competência para julgar o réu. Como consequência,
determinou a remessa do feito ao juízo de 1º grau.
Para o STF, a situação dos autos é diferente do precedente firmado na AP 396/RO,
no qual o réu (também ex-Deputado Federal) renunciou ao mandato um dia antes
do julgamento. Segundo a Corte, naquele caso, o processo já estava pronto para ser
julgado. Ademais, afirmou-se que não havia, na presente hipótese, perigo de
prescrição da pena em abstrato.
STF. Plenário. AP 536 QO/MG, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/3/2014
(Info 740).
27.27. Competência para julgar o crime de incitação à discriminação pela internet –
(Info 744) – IMPORTANTE!!!

Compete à justiça ESTADUAL processar e julgar crime de incitação à


discriminação cometido via internet, quando praticado contra pessoas
determinadas e que não tenha ultrapassado as fronteiras territoriais brasileiras.
STF. 1ª Turma. HC 121283/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/4/2014
(Info 744)

27.28. A regra geral é de que haja o desmembramento dos processos quando houver
corréus sem prerrogativa de foro no STF – (Info 735) – IMPORTANTE!!!

O desmembramento de inquéritos ou de ações penais de competência do STF deve


ser regra geral, admitida exceção nos casos em que os fatos relevantes estejam de
tal forma relacionados que o julgamento em separado possa causar prejuízo
relevante à prestação jurisdicional.
STF. Plenário. Inq 3515 AgR/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/2/2014
(Info 735)

27.29. Réu que, durante o julgamento na instância ordinária, passou a ter foro
privativo no STF – (Info 734)

Se o TJ inicia o julgamento criminal de um réu, esse julgamento é suspenso por um


pedido de vistas e, antes de ser retomado, o acusado assume um mandato eletivo
que lhe garante foro privativo no STF, nessa hipótese, o TJ deverá remeter o
processo imediatamente ao STF para que lá seja julgado.
Entretanto, no caso concreto noticiado neste Informativo, tendo em conta as
particularidades da situação, o STF decidiu, excepcionalmente, afastar seu
entendimento sobre o tema e declarar que o acórdão do TJ que continuou o
julgamento da apelação foi válido.
Em outras palavras, pelo entendimento consolidado do STF, o TJ, mesmo tendo
iniciado o julgamento, não deveria tê-lo continuado. A providência correta seria
remeter o recurso para ser julgado pelo STF logo após a diplomação do réu no cargo
de Deputado Federal.
Ocorre que, como já dito, o STF entendeu que o caso concreto possuía duas
peculiaridades que permitiriam convalidar esse julgamento:
1ª) Atualmente, o réu não é mais Deputado Federal. Isso significa que, mesmo
anulado o acórdão do TJ, se fosse ser realizado novo julgamento da apelação, esta
seria apreciada novamente pelo TJ.
2ª) A defesa sabia que deveria imediatamente informar o TJ quando o réu foi
diplomado Deputado Federal. No entanto, optou por comunicar ao Tribunal
somente após o término do julgamento, que não fora favorável ao réu. Desse modo,
isso indica que houve má-fé processual a fim de protelar o julgamento.
STF. Plenário. AP 634 QO/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/2/2014 (Info
734).
27.30. Competência para o processamento de crimes dolosos contra a vida praticados
no contexto de violência doméstica – IMPORTANTE!!!

A Lei de Organização Judiciária poderá prever que a 1ª fase do procedimento do


júri seja realizada na Vara de Violência Doméstica em caso de crimes dolosos
contra a vida praticados no contexto de violência doméstica. Não haverá usurpação
da competência constitucional do júri.
Apenas o julgamento propriamente dito é que, obrigatoriamente, deverá ser feito
no Tribunal do Júri.
STF. 2ª Turma. HC 102150/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/5/2014.

27.31. Competência para julgar o crime do art. 297, § 4º, do CP

De quem é a competência para julgar o crime de omissão de anotação de vínculo


empregatício na CTPS (art. 297, § 4º, do CP)?
STJ: Justiça FEDERAL. Nesse sentido: 3ª Seção. CC 135.200-SP, Rel. originário Min.
Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 22/10/2014
(Info 554).
1ª Turma do STF: Justiça ESTADUAL. Nesse sentido: 1ª Turma. Ag.Reg. na Pet 5084,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/11/2015.

27.32. Competência para julgamento: teoria do resultado x teoria da atividade

Em regra, o CPP acolhe a teoria do resultado, considerando como lugar do crime o


local onde o delito se consumou (crime consumado) ou onde foi praticado o último
ato de execução (no caso de crime tentado), nos termos do art. 70 do CPP.
Excepcionalmente, no caso de crimes contra a vida (dolosos ou culposos), se os atos
de execução ocorreram em um lugar e a consumação se deu em outro, a competência
para julgar o fato será do local onde foi praticada a conduta (local da execução).
Adota-se a teoria da atividade.
STF. 1ª Turma. RHC 116200/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/8/2013.

28. IMPEDIMENTO
28.1. O magistrado que atuou como corregedor em processo administrativo não está
impedido de julgar o réu em processo criminal – (Info 824)

O magistrado que atuou como corregedor em processo administrativo instaurado


contra o réu não está impedido de participar como julgador no processo criminal
que tramita contra o acusado. A situação não se amolda em nenhuma das hipóteses
do art. 252 do CPP.
O STF entende que não é possível criar, por meio de interpretação, novas causas de
impedimento que não estejam descritas expressamente nesse dispositivo.
STF. 2ª Turma. RHC 131735/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info
824).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Determinado servidor da Justiça Federal foi
acusado da prática de crime. Ele foi condenado pelo Juiz Federal e interpôs apelação
para o Tribunal Regional Federal. No TRF, a apelação foi distribuída para o
Desembargador João da Silva. A defesa arguiu o impedimento do Desembargador sob
o argumento de que ele já atuou como Corregedor em processo administrativo
instaurado contra o réu. Logo, ele estaria impedido, com base no art. 252, III, do CPP:

Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em


que:
III - tiver funcionado como juiz de outra instância,
pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;

A suspeição deverá ser acatada? NÃO. A situação relatada não se enquadra no inciso
III do art. 252 do CPP. Quando o inciso III fala em “funcionado como juiz em outra
instância”, ele está se referindo à instância JUDICIAL.

Ex: o juiz “X” condena, em 1ª instância, o réu. O condenado apela. Nesse meio tempo,
o juiz é promovido a Desembargador. Este magistrado, que já apreciou o caso em 1ª
instância, não poderá julgar o recurso do réu.

Logo, o inciso III não abrange a situação relatada, uma vez que o Desembargador
havia julgado o réu na instância administrativa, não estando, portanto, impedido de
julgá-lo novamente, agora na instância judicial.

Segundo o STF, o rol do art. 252 do CPP é taxativo (numerus clausus) e deve ser
interpretado restritivamente, não podendo esse inciso III ser alargado.

Veja outro precedente no mesmo sentido:

(...) O disposto no inciso III do art. 252 do Código de Processo


Penal merece interpretação restritiva, circunscrevendo-se o
impedimento do juiz às causas em que tenha atuado em graus
de jurisdição distintos, não comportando a norma ampliação
da hipótese taxativamente estabelecida. (...)
STF. 1ª Turma. HC 120017, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
27/05/2014.

28.2. Magistrado que julgou PAD contra o réu não está impedido de julgar o
processo criminal sobre os mesmos fatos – (Info 748)

Determinado magistrado praticou um fato que se enquadra como crime e infração


disciplinar.
Foram instaurados um PAD e um processo criminal contra o juiz.
O Desembargador que participou do julgamento do PAD que condenou o
magistrado NÃO está impedido de também julgar o processo criminal contra esse
juiz.
Essa situação não se enquadra no inciso III do art. 252 do CPP.
STF. 1ª Turma. HC 120017/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 27/5/2014 (Info 748)

29. PRISÃO E LIBERDADE


29.1. Prisão domiciliar em caso de mulher com filho até 12 anos de idade
incompletos – (Infos 831 e 887) – (TJSP-2017)
O Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/16), ao alterar as hipóteses
autorizativas da concessão de prisão domiciliar, permite que o juiz substitua a
prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for gestante ou mulher com
filho até 12 anos de idade incompletos (art. 318, IV e V, do CPP).
STF. 1ª Turma. HC 136408/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/12/17 (Info 887).
STF. 2ª Turma. HC 134069/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 21/6/16 (Info 831).
OBS:
Lei de Proteção à Primeira Infância: A Lei 13.257/16 prevê a formulação e
implementação de políticas públicas voltadas para as crianças que estão na “primeira
infância”. A Lei 13.257/16 promoveu alterações no Código de Processo Penal, em
especial no regime de prisão domiciliar.

Prisão domiciliar: O CPP, ao tratar da prisão domiciliar, prevê a possibilidade de o


réu, em vez de ficar em prisão preventiva, permanecer recolhido em sua residência.
Trata-se de uma medida cautelar que substitui a prisão preventiva pelo recolhimento
da pessoa em sua residência.
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do
indiciado ou acusado em sua residência, só podendo dela
ausentar-se com autorização judicial.

As hipóteses em que a prisão domiciliar é permitida estão elencadas no art. 318 do


CPP. A Lei 13.257/16 promoveu importantíssimas alterações neste rol. Veja:

Inciso IV - prisão domiciliar para GESTANTE independente do tempo de gestação e


de sua situação de saúde

CPP
ANTES DA LEI 13.257/2016 ATUALMENTE
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão
preventiva pela domiciliar quando o preventiva pela domiciliar quando o
agente for: agente for:
(...) (...)
IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês IV - gestante;
de gravidez ou sendo esta de alto risco.

Desse modo, agora basta que a investigada ou ré esteja grávida para ter direito à prisão
domiciliar. Não mais se exige tempo mínimo de gravidez nem que haja risco à saúde
da mulher ou do feto.

Inciso V - prisão domiciliar para MULHER que tenha filho menor de 12 anos
A Lei nº 13.257/2016 acrescentou o inciso V ao art. 318 com a seguinte redação:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela
domiciliar quando o agente for:
(...)
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos;

Inciso VI - prisão domiciliar para HOMEM que seja o único responsável pelos
cuidados do filho menor de 12 anos
A Lei nº 13.257/2016 acrescentou o inciso VI ao art. 318 com a seguinte redação:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela
domiciliar quando o agente for:
(...)
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do
filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos.

Esta hipótese também não existia e foi incluída pela Lei 13.257/16.

As hipóteses de prisão domiciliar previstas nos incisos do art. 318 do CPP são sempre
obrigatórias? Em outras palavras, se alguma delas estiver presente, o juiz terá que,
automaticamente, conceder a prisão domiciliar sem analisar qualquer outra
circunstância? NÃO. O art. 318 do CPP, que traz as hipóteses de prisão domiciliar,
deve ser aplicado de forma restrita e diligente, verificando-se as peculiaridades de
cada caso (Min. Gilmar Mendes, no HC 134069/DF, j. 21/6/16). Existem julgados do
STJ afirmando isso expressamente:
Concessão da prisão domiciliar do art. 318 do CPP deverá ser
analisada no caso concreto, não sendo automática nem
obrigatória.
O art. 318 do CPP, alterado pela Lei 13.257/16, traz a previsão
de hipóteses nas quais é permitida a conversão da prisão
preventiva em domiciliar.
O caput do art. 318 afirma que o Juiz poderá substituir a prisão
preventiva pela domiciliar.
Dessa forma, a substituição da prisão cautelar pela
domiciliar não é de caráter puramente objetivo e automático,
devendo ser analisada em cada caso concreto, não se
tratando, em absoluto, de regra a ser aplicada de forma
indiscriminada.
Vale ressaltar, no entanto, que a recusa também deve ser
devidamente motivada, cabendo ao magistrado justificar a
excepcional não incidência da prisão domiciliar.
STJ. 5ª Turma. HC 381.655/AC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j.
9/5/17.
STJ. 6ª Turma. RHC 81.300/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j.
6/4/17.

A doutrina majoritária também defende que as hipóteses do art. 318 do CPP não são
sempre obrigatórias. Veja o que diz Renato Brasileiro:
"(...) a presença de um dos pressupostos indicados no art. 318,
isoladamente considerado, não assegura ao acusado,
automaticamente, o direito à substituição da prisão
preventiva pela domiciliar.
O princípio da adequação também deve ser aplicado à
substituição (CPP, art. 282, II), de modo que a prisão
preventiva somente pode ser substituída pela domiciliar se
se mostrar adequada à situação concreta. Do contrário,
bastaria que o acusado atingisse a idade de 80 (oitenta) anos
para que tivesse direito automático à prisão domiciliar, com o
que não se pode concordar. Portanto, a presença de um dos
pressupostos do art. 318 do CPP funciona como requisito
mínimo, mas não suficiente, de per si, para a substituição,
cabendo ao magistrado verificar se, no caso concreto, a prisão
domiciliar seria suficiente para neutralizar o periculum
libertatis que deu ensejo à decretação da prisão preventiva do
acusado." (Manual de Direito Processual Penal. Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 998).

Esta é a posição também de Eugênio Pacelli e Douglas Fischer (Comentários ao Código


de Processo Penal e sua jurisprudência. 4ª ed., São Paulo: Atlas, 2012, p. 645-646) e de
Norberto Avena (Processo Penal. 7ª ed., São Paulo: Método, 2012, p. 487) para quem é
necessário analisar as circunstâncias do caso concreto para saber se a prisão domiciliar
será suficiente.

Desse modo, segundo o entendimento doutrinário acima exposto, não basta, por
exemplo, que a investigada ou ré esteja grávida (inciso IV) para ter direito,
obrigatoriamente, à prisão domiciliar. Ela estando grávida, será permitida a sua prisão
domiciliar, mas para tanto é necessário que a concessão desta medida substitutiva não
acarrete perigo à garantia da ordem pública, à conveniência da instrução criminal ou
implique risco à aplicação da lei penal. Assim, além da presença de um dos
pressupostos listados nos incisos do art. 318 do CPP, exige-se que, analisando o caso
concreto, não seja indispensável a manutenção da prisão no cárcere.

De igual modo, no caso do inciso V, não basta que a mulher presa tenha um filho
menor de 12 anos de idade para que receba, obrigatoriamente, a prisão domiciliar.
Será necessário examinar as demais circunstâncias do caso concreto e, principalmente,
se a prisão domiciliar será suficiente ou se ela, ao receber esta medida cautelar, ainda
colocará em risco os bens jurídicos protegidos pelo art. 312 do CPP.

29.2. PRISÃO: Há excesso de prazo em caso de réu preso há mais de quatro anos sem
ter sido sequer realizado seu interrogatório – (Info 878)

Em um caso concreto, o réu foi preso preventivamente pela suposta prática de


delitos previstos na Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas).
Ocorre que já se passaram mais de quatro anos desde a prisão preventiva sem haver,
sequer, audiência de interrogatório.
Diante disso, o STF entendeu que havia flagrante excesso de prazo na segregação
cautelar e, por essa razão, concedeu habeas corpus para determinar a soltura do
paciente.
Embora a razoável duração do processo não possa ser considerada de maneira
isolada e descontextualizada das peculiaridades do caso concreto, diante da demora
no encerramento da instrução criminal, sem que o paciente, preso preventivamente,
tenha sido interrogado e sem que tenham dado causa à demora, não se sustenta a
manutenção da constrição cautelar.
STF. 2ª Turma. HC 141583/RN, Rel. Min. Edson Fachin, j. 19/9/17 (Info 878).

29.3. PRISÃO: Réu pronunciado e que aguarda Júri há 7 anos preso, sem culpa da
defesa, deverá ter direito à revogação da preventiva – (Info 868)

Em um caso concreto, os réus, embora pronunciados, estavam aguardando presos


há 7 anos serem julgados pelo Tribunal do Júri.
Diante disso, o STF concedeu ordem em “habeas corpus” para revogar prisão
preventiva em razão do excessivo prazo de duração da prisão. Além disso,
determinou que o STJ julgue recurso especial interposto contra o acórdão que
confirmou a sentença de pronúncia referente no prazo máximo de dez sessões (entre
ordinárias e extraordinárias), contado da comunicação da decisão.
Em nosso sistema jurídico, a prisão meramente processual do indiciado ou do réu
reveste-se de caráter excepcional, mesmo que se trate de crime hediondo ou de
delito a este equiparado.
O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho judiciário – não
derivando, portanto, de qualquer fato procrastinatório causalmente atribuível ao
réu –, traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo.
Além de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadão, frustra uma
prerrogativa básica que assiste a qualquer pessoa: o direito à resolução do litígio
sem dilações indevidas (art. 5º, LXXVIII, da CF/88).
Ademais, a duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão cautelar ofende, de
modo frontal, o postulado da dignidade da pessoa humana, que representa
significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira
todo o ordenamento constitucional.
STF. 2ª Turma. HC 142177/RS, Rel. Min. Celso de Mello, j. 6/6/2017 (Info 868).

29.4. PRISÃO: Advogado condenado em 2ª instância ainda tem direito à prisão em


sala de Estado-maior? – (Info 865) – IMPORTANTE!!!

A prerrogativa conferida ao advogado da prisão em sala de Estado-Maior (art. 7º, V,


da Lei 8.906/94) continua existindo mesmo que já estejamos na fase de execução
provisória da pena?
 Redação literal da Lei: SIM. O art. 7º, V, afirma que o advogado terá direito
de ser preso em sala de Estado-Maior até que haja o trânsito em julgado.
 STJ: NÃO. A prerrogativa conferida aos advogados pelo art. 7º, V, da Lei
8.906/94, refere-se à prisão cautelar, não se aplicando para o caso de execução
provisória da pena (prisão-pena). STJ. 6ª Turma. HC 356.158/SP, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/05/2016.
 STF: ainda não tem posição expressa sobre o tema. No entanto, a Corte não
admite reclamação contra decisões dos Tribunais que determinam a prisão
dos advogados condenados em 2ª instância em unidades prisionais comuns
(STF. 2ª Turma. Rcl 25111 AgR/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/5/2017. Info
865).
OBS: Vale ressaltar que já existe uma decisão monocrática do Min. Celso de Mello no
mesmo sentido do STJ, ou seja, afirmando que não mais existe direito à sala de Estado-
Maior se o advogado foi condenado em 2ª instância: STF. Decisão monocrática. HC
135711, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 24/10/2016.

29.5. PRISÃO PREVENTIVA: Descumprimento de colaboração premiada não


justifica, por si só, prisão preventiva – (Info 862) – IMPORTANTE!!!

Não se pode decretar a prisão preventiva do acusado pelo simples fato de ele ter
descumprido acordo de colaboração premiada.
Não há, sob o ponto de vista jurídico, relação direta entre a prisão preventiva e o
acordo de colaboração premiada. Tampouco há previsão de que, em decorrência do
descumprimento do acordo, seja restabelecida prisão preventiva anteriormente
revogada.
Por essa razão, o descumprimento do que foi acordado não justifica a decretação de
nova custódia cautelar.
É necessário verificar, no caso concreto, a presença dos requisitos da prisão
preventiva, não podendo o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra
do acordo.
STF. 1ª Turma. HC 138207/PR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 25/4/17 (Info 862).

29.6. Decisão no HC que substituiu a prisão preventiva dos réus da operação Lava
Jato por outras medidas cautelares (art. 319 do CPP) – (Info 783)

O STF concedeu parcialmente a ordem em “habeas corpus” para os réus da


operação “Lava Jato” substituindo a prisão preventiva por outras medidas
cautelares (art. 319 do CPP).
A prisão é a medida acauteladora mais grave no processo penal, razão pela qual
somente deve ser decretada quando absolutamente necessária.
A prisão somente é legítima em situações nas quais seja o único meio eficiente para
preservar os valores jurídicos que a lei penal visa a proteger, segundo o art. 312 do
CPP (garantia da ordem pública, da ordem econômica, conveniência da instrução
criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal). Fora dessas hipóteses
excepcionais, a prisão representa mera antecipação de pena, o que é inadmissível.
O STF entendeu que o fato de o réu ser dirigente de empresa com filial no exterior
e de fazer constantemente viagens internacionais, por si só, não é suficiente para a
decretação da preventiva.
Não há risco à conveniência da instrução penal, considerando que a instrução
criminal está praticamente concluída, tendo sido colhida toda a prova acusatória, e
resta apenas a tomada de alguns depoimentos da defesa.
Por mais graves e reprováveis que sejam as condutas praticadas, isso não é
suficiente para justificar a prisão processual. Da mesma maneira, não é legítima a
decretação da preventiva unicamente com o argumento da credibilidade das
instituições públicas. Ainda que a sociedade esteja, justificadamente, indignada
com a notícia dos crimes em comento, a exigir resposta adequada do Estado,
também deve compreender que a credibilidade das instituições somente se
fortalece na exata medida em que seja capaz de manter o regime de estrito
cumprimento da lei, seja na apuração e julgamento dos delitos, seja na preservação
dos princípios constitucionais em jogo.
STF. 2ª Turma. HC 127186/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/4/2015 (Info
783).

30. PRISÃO DE ADVOGADO


30.1. Conceito de sala de Estado-Maior – (Info 778) – IMPORTANTE!!!

Os advogados, membros da Magistratura, do MP e da Defensoria Pública, se forem


presos antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, possuem o
direito de ficar recolhidos não em uma cela com grades, mas sim em uma sala de
Estado-Maior.
A palavra “Estado-Maior” representa o grupo de Oficiais que assessora o
Comandante das Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros ou da Polícia Militar.
Logo, sala de Estado-Maior é o compartimento localizado na unidade militar que é
utilizado por eles para o exercício de suas funções.
A jurisprudência do STF confere uma interpretação teleológica a essa garantia e
afirma que os integrantes dessas carreiras, quando forem presos provisoriamente,
não precisam ficar em uma sala dentro do Comando das Forças Armadas, mas
devem ser recolhidos em um local equiparado à sala de Estado-Maior, ou seja, em
um ambiente separado, sem grades, localizado em unidades prisionais ou em
batalhões da Polícia Militar, que tenha instalações e comodidades adequadas à
higiene e à segurança do preso.
STF. Plenário. Rcl 5826/PR e Rcl 8853/GO, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o
acórdão Min. Dias Toffoli, julgados em 18/3/2015 (Info 778).

31. PRISÃO CAUTELAR DE SENADOR


31.1. Análise dos principais aspectos jurídicos – (Info 809) – IMPORTANTE!!!

No caso envolvendo a prisão do Senador Delcídio do Amaral, podemos apontar


algumas conclusões:
1) Como regra, os membros do Congresso Nacional não podem ser presos antes da
condenação definitiva. Exceção: poderão ser presos caso estejam em flagrante delito
de um crime inafiançável (art. 53, § 2º da CF/88).
2) Segundo entendeu o STF, o Senador e as demais pessoas envolvidas teriam
praticado, no mínimo, dois crimes: a) integrar organização criminosa (art. 2º, caput,
da Lei 12.850/2013); b) embaraçar investigação envolvendo organização criminosa
(art. 2º, § 1º da Lei 12.850/2013).
3) O STF entendeu que as condutas do Senador configurariam crime permanente,
considerando que ele, até antes de ser preso, integrava pessoalmente a organização
criminosa (art. 2º, caput) e, além disso, estaria, há dias, embaraçando a investigação
da Lava Jato (art. 2º, § 1º). Desse modo, ele estaria por todos esses dias cometendo
os dois crimes acima, em estado, portanto, de flagrância.
4) Os crimes do art. 2º, caput e do § 1º da Lei nº 12.850/2013 que, em tese, foram
praticados pelo Senador, não são, a princípio, inafiançáveis considerando que não
se encontram listados no art. 323 do CPP. Não se tratam, portanto, de crimes
absolutamente inafiançáveis. No entanto, como, no caso concreto, estariam
presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (tentativa de
calar o depoimento de colaborador, tentativa de influenciar os julgadores e
planejamento de fuga), havia uma situação que não admite fiança, com base no art.
324, IV, do CPP.
5) O STF admite a prisão preventiva de Deputado Federal ou Senador? Surgiram
duas correntes: 1ª) SIM. Para Rogério Sanches e Marcelo Novelino, o STF teria
autorizado a prisão preventiva do Senador, relativizando o art. 53, § 2º da CF/88. 2ª)
NÃO. Não é possível a prisão preventiva de Deputado Estadual, Deputado Federal
ou Senador porque a única prisão cautelar que o art. 53, § 2º da CF/88 admite é a
prisão em flagrante de crime inafiançável. É a posição que entendo mais acertada.
6) É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos
interlocutores sem conhecimento do outro. Assim, se “A” e “B” estão conversando,
“A” pode gravar essa conversa mesmo que “B” não saiba. Para o STF, a gravação de
conversa feita por um dos interlocutores sem o conhecimento dos demais é
considerada lícita, quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva da
conversação.
7) Depois de concretizada a prisão em flagrante do parlamentar, qual é o
procedimento que deverá ser adotado em seguida? A CF determina que os autos
deverão ser remetidos dentro de 24 horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da
maioria de seus membros, resolva sobre a prisão (art. 53, § 2º). Esse voto é aberto.
Assim, o STF remeteu os autos ao Senado Federal que, por 59 votos contra 13,
decidiu manter a prisão do Senador.
STF. 2ª Turma. AC 4036 e 4039 Referendo-MC/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados
em 25/11/2015 (Info 809)

32. PROGRESSÃO DE REGIME


32.1. Data da prisão preventiva como marco inicial do tempo para a progressão de
regime – (Info 877) – IMPORTANTE!!!

Se o condenado estava preso preventivamente, a data da prisão preventiva deve ser


considerada como termo inicial para fins de obtenção de progressão de regime e
demais benefícios da execução penal, desde que não ocorra condenação posterior
por outro crime apta a configurar falta grave.
STF. 1ª Turma. RHC 142463/MG, Rel. Min. Luiz Fux, j. 12/9/17 (Info 877).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João praticou um crime e foi preso
preventivamente em 10/10/10. Em 11/11/11, ele foi condenado pelo juiz a uma pena
de 12 anos de reclusão. Em 12/12/12, o Tribunal de Justiça manteve a sentença. A
defesa interpôs recursos especial e extraordinário contra o acórdão do TJ. Em
15/12/12, antes que o Resp e o RE tivessem sido julgados, a defesa do réu pediu a
progressão do regime fechado para o semiaberto alegando que ele já cumpriu 1/6 da
pena e que apresenta bom comportamento. Segundo a defesa, esse 1/6 da pena
(equivalente a 2 anos) deve ser contado desde a data em que ele foi preso
preventivamente (10/10/10). Logo, ele teria cumprido o requisito objetivo em
10/10/12. O Ministério Público manifestou-se contrariamente ao pedido, afirmando
que esse 1/6 da pena deve ser contado da data da sentença condenatória.

A questão chegou até o STF. O que foi decidido? Qual será o termo inicial para a
obtenção do benefício da progressão: a data em que o réu foi preso preventivamente
(tese da defesa) ou o dia da publicação da sentença condenatória (tese do MP)? A data
em que o réu foi preso preventivamente (tese da defesa).

Assim, em caso de crime único, o marco para progressão de regime é contado da


prisão cautelar (e não da publicação da sentença condenatória). O próprio STF possui
uma súmula que, indiretamente, prevê a possibilidade de se computar o tempo da
custódia provisória para fins de progressão de regime.
Súmula 716-STF: Admite-se a progressão de regime de
cumprimento de pena ou a aplicação imediata de regime
menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado
da sentença condenatória.

O preso provisório deve fazer jus aos mesmos direitos que o preso definitivo, salvo se
o benefício for incompatível com o texto expresso da lei. Não há qualquer
mandamento legal impedindo o cômputo do período em que o sentenciado ficou
preso cautelarmente para fins de progressão do regime fechado para o semiaberto.

32.2. Condenado que cumpre pena em presídio federal não pode ser beneficiado
com progressão de regime enquanto persistirem os motivos que o levaram a ser
transferido para esta unidade – (Info 838) – IMPORTANTE!!!
O cumprimento de pena em penitenciária federal de segurança máxima por motivo
de segurança pública não é compatível com a progressão de regime prisional.
STF. 2ª Turma. HC 131.649/RJ, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, rel. p/ac. Min. Dias
Toffoli, j. 6/9/2016 (Info 838).

O Juízo competente para processar e julgar os incidentes da execução é o que detém


a custódia do apenado, no caso, o Juízo responsável pelo presídio federal. Não lhe
é permitido, contudo, conceder a progressão de regime prisional ao condenado que
esteja recolhido em presídio federal de segurança máxima, uma vez que os motivos
que justificaram sua transferência ou manutenção no sistema federal mostram-se
totalmente incompatíveis com a concessão do benefício, ficando condicionado o
deferimento da progressão à ausência dos motivos que justificaram a sua remoção
para o estabelecimento federal.
STJ. 3ª Seção. CC 137.110/RJ, Rel. MIn. Ericson Maranho (Desembargador Convocado
do TJ/SP), julgado em 22/4/2015.
OBS:
Para ficar mais fácil de compreender, podemos assim resumir:
 Se já não há mais motivos para ele permanecer no presídio federal: significa
que ele poderá receber a progressão de regime.
 Se ainda há motivos para ele permanecer no presídio federal: ele não poderá
progredir.

32.3. Novo requisito para progressão de regime: pagamento integral da pena de


multa – (Info 780) – IMPORTANTE!!! NÃO TEM NOS LIVROS!!!

O não pagamento voluntário da pena de multa impede a progressão no regime


prisional?
SIM. O Plenário do STF decidiu o seguinte:
 Regra: o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente
aplicada ao sentenciado impede a progressão no regime prisional.
 Exceção: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se
ficar comprovada a absoluta impossibilidade econômica do apenado em
quitar a multa, ainda que parceladamente.
STF. Plenário. EP 12 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 8/4/15 (Info
780).

32.4. Estrangeiro com pedido de extradição já deferido – (Info 777) –


IMPORTANTE!!!

O estrangeiro que cumpre pena no Brasil pode ser beneficiado com a progressão
de regime?
SIM. Não existe motivo para negar aos estrangeiros que cumprem pena no Brasil
os benefícios da execução penal, dentre eles a progressão de regime. Isso porque a
condição humana da pessoa estrangeira submetida a pena no Brasil é protegida
constitucionalmente e no âmbito dos direitos humanos. Assim, em regra, é
plenamente possível a progressão de regime para estrangeiros que cumpram pena
no Brasil.
Vale ressaltar, no entanto, que essa providência (progressão) será ineficaz até que
o STF delibere acerca das condições da prisão para extradição. Em outras palavras,
é possível que seja deferida a progressão de regime ao apenado que aguarda o
cumprimento da ordem de extradição, mas isso só poderá ser concretizado pelo
juízo das execuções (juiz de 1ª instância) depois que o STF concordar. Cabe ao STF
deliberar acerca de eventual adaptação das condições da prisão para extradição ao
regime prisional da execução penal. Assim, depois que o juízo da execução afirmar
que os requisitos para a progressão estão preenchidos, deverá ainda o STF verificar
se a concessão do regime semiaberto ou aberto ao extraditando não irá causar risco
à garantia da ordem garantia da ordem pública, da ordem econômica, à
conveniência da instrução criminal, nem à aplicação da lei penal pública (art. 312
do CPP).
STF. 2ª Turma. Ext 893 QO/República Federal da Alemanha, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 10/3/2015 (Info 777).

32.5. Condenado que permanece preso mesmo tendo sido determinado que
cumprisse medida de segurança – (Info 753)

Passados quase três anos do recolhimento do réu em estabelecimento prisional, o


Estado não lhe garantiu o direito de cumprir a medida de segurança estabelecida
pelo juízo sentenciante. Diante da falta de estabelecimento adequado para
internação, o condenado permaneceu custodiado por tempo superior ao que
disposto pelo juízo sentenciante e não foi submetido ao tratamento médico
determinado no decreto condenatório.
Diante disso, o STF concedeu HC de ofício para determinar que ele seja incluído
em tratamento ambulatorial, sob a supervisão do juízo da execução criminal.
STF. 2ª Turma. HC 122670/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 5/8/2014
(Info 753).

32.6. Progressão de regime para estrangeiro que cumpre pena no Brasil e que está
aguardando o cumprimento da extradição – (Info 748) – ATENÇÃO! DPU!

O apenado poderá progredir para o regime semiaberto, mesmo havendo uma


ordem de extradição ainda não cumprida.
Segundo decidiu o STF, o fato de estar pendente a extradição do estrangeiro não é
motivo suficiente para impedir a sua progressão de regime.
STF. Plenário. Ext 947 QO/República do Paraguai, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 28/5/2014 (Info 748)

33. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA


33.1. Constitucionalidade do Provimento do TJ que regulamentou a audiência de
custódia – IMPORTANTE!!!

Audiência de custódia consiste no direito que a pessoa presa em flagrante possui


de ser conduzida (levada), sem demora, à presença de uma autoridade judicial
(magistrado) que irá analisar se os direitos fundamentais dessa pessoa foram
respeitados (ex: se não houve tortura), se a prisão em flagrante foi legal e se a prisão
cautelar deve ser decretada ou se o preso poderá receber a liberdade provisória ou
medida cautelar diversa da prisão.
A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos
(CADH), que ficou conhecida como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada
no Brasil pelo Decreto 678/92 e ainda não regulamentada em lei no Brasil.
Diante dessa situação, o TJSP editou o Provimento Conjunto nº 03/2015
regulamentando a audiência de custódia no âmbito daquele Tribunal.
O STF entendeu que esse Provimento é constitucional porque não inovou na ordem
jurídica, mas apenas explicitou conteúdo normativo já existente em diversas
normas da CADH e do CPP.
Por fim, o STF afirmou que não há que se falar em violação ao princípio da
separação dos poderes porque não foi o Provimento Conjunto que criou obrigações
para os delegados de polícia, mas sim a citada convenção e o CPP.
STF. Plenário. ADI 5240/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/8/2015 (Info 795).

34. PROCEDIMENTOS
34.1. Não aplicação do art. 396-A do CPP ao processo penal militar – (Info 831)

O art. 396-A do CPP não se aplica ao rito do processo penal militar.


STF. 2ª Turma. HC 125777/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 21/6/16 (Info 831).

34.2. Não se aplica o prazo em dobro do caput do art. 229 do CPC/2015 aos processos
em autos eletrônicos – (Info 829)

Em regra, é cabível a aplicação analógica do prazo em dobro previsto no art. 229 do


CPC/2015 ao prazo previsto no art. 4º da Lei nº 8.038/90 (“Apresentada a denúncia
ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a notificação do acusado para oferecer resposta no
prazo de quinze dias”).
"Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de
advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas
manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de
requerimento."
No entanto, não cabe a aplicação subsidiária do art. 229, caput, do CPC/2015 em
inquéritos e ações penais originárias em que os atos processuais das partes são
praticados por via eletrônica e todos os interessados — advogados e membros do
MP — têm acesso amplo e simultâneo ao inteiro teor dos autos. Incide aqui a regra
de exceção do § 2º do art. 229: "§ 2º Não se aplica o disposto no caput aos processos
em autos eletrônicos."
STF. 2ª Turma. Inq 3980 QO/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 7/6/16 (Info 829).
OBS:
O procedimento da Lei 8.038/90 é, resumidamente, o seguinte:
1. Oferecimento de denúncia (ou queixa).
2. Notificação do acusado para oferecer resposta preliminar no prazo de 15 dias (antes
de receber a denúncia) (art. 4º).
3. Se, com a resposta, o acusado apresentar novos documentos, a parte contrária (MP
ou querelante) será intimada para se manifestar sobre esses documentos, no prazo de
5 dias.
4. O Tribunal irá se reunir e poderá (art. 6º):
a) receber a denúncia (ou queixa);
b) rejeitar a denúncia (ou queixa);
c) julgar improcedente a acusação se a decisão não depender de outras provas
(neste caso, o acusado é, de fato, absolvido).
Importante: a decisão quanto ao recebimento ou não da denúncia ocorre após o
denunciado apresentar resposta.
5. Se a denúncia (ou queixa) for recebida, o Relator designa dia e hora para audiência.
Ao contrário do que ocorre no procedimento do CPP, a Lei 8.038/90 não prevê a
existência de uma fase para absolvição sumária, tal qual existente no art. 397 do CPP.

OBS: No caso concreto, os acusados, representados por advogados distintos,


requisitavam prazo em dobro para a resposta prevista no art. 4º da Lei 8038/90. Ocorre
que todos os acusados tiveram acesso amplo e simultâneo aos atos processuais
praticados por via eletrônica, uma vez que junto com o mandado de notificação dos
réus foi enviada uma mídia digital em CD, contendo cópia integral dos autos. Aliado
a isso, constantemente é realizada a atualização do material digital, sendo permitido
e utilizado o peticionamento eletrônico.

34.3. Possibilidade de realização de interrogatório por meio de carta precatória –


(Info 824)

No processo penal militar não há nulidade na realização de interrogatório do réu


por meio de carta precatória.
Uma vez solto, não é ônus do Estado providenciar o seu transporte até a sede do
órgão julgador para lá ser interrogado.
O CPPM não prevê expressamente a possibilidade de interrogatório por meio de
carta precatória, mas é possível a sua realização pela aplicação subsidiária do CPP.
STF. 1ª Turma. HC 115189/AM, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 3/5/16 (Info 824).

34.4. Interrogatório no processo penal militar passa a ser o último ato da instrução –
(Info 816) – IMPORTANTE!!! ATUALIZE LIVRO 2014!

A exigência de realização do interrogatório ao final da instrução criminal, conforme


o art. 400 do CPP, é aplicável no âmbito de processo penal militar.
A realização do interrogatório ao final da instrução criminal, prevista no art. 400 do
CPP, na redação dada pela Lei nº 11.719/2008, também se aplica às ações penais em
trâmite na Justiça Militar, em detrimento do art. 302 do Decreto-Lei nº 1.002/69.
Logo, na hipótese de crimes militares, o interrogatório também deve ser realizado
depois da oitiva das testemunhas, ao final da instrução.
Obs: este entendimento acima só se tornou obrigatório a partir de 10/03/2016. Os
interrogatórios realizados antes desta data são válidos, ainda que não tenham
observado o art. 400 do CPP, ou seja, ainda que tenham sido realizados como
primeiro ato da instrução.
STF. Plenário. HC 127900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2016 (Info
816).
OBS:
Mudança de entendimento. Tese fixada com efeitos prospectivos: Vale ressaltar que,
antes deste julgamento, o Tribunal estava dividido. Por conta disso, o STF, por
questões de segurança jurídica, afirmou que a tese fixada (interrogatório como último
ato da instrução no processo penal militar) só se tornou obrigatória a partir da data de
publicação da ata deste julgamento (10/03/2016). Logo, os interrogatórios realizados
antes de tal data são válidos, ainda que não tenham observado o art. 400 do CPP, ou
seja, ainda que tenham sido realizados como primeiro ato da instrução.

E quanto à Lei de Drogas? Durante os debates, os Ministros assinalaram que, no


procedimento da Lei de Drogas e no processo de crimes eleitorais, o interrogatório também
deverá ser o último ato da instrução mesmo não havendo previsão legal neste sentido. Assim,
quando o STF for novamente chamado a se manifestar sobre esses casos, ele deverá
afirmar isso expressamente.

34.5. Aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo
penal – (Info 797) – IMPORTANTE!!!

É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao
processo penal.
Se no processo civil, em que se discutem direitos disponíveis, concede-se prazo em
dobro, com mais razão no processo penal, em que está em jogo a liberdade do
cidadão.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min.
Luiz Fux, j. 3/9/15 (Info 797).
STF. Plenário. Inq 4112/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min.
Gilmar Mendes, julgado em 1º/9/2015 (Info 797).

34.6. INTERROGATÓRIO: Momento do interrogatório no rito do CPPM – (Info 791)

A Lei 11.719/2008 alterou o art. 400 do CPP estabelecendo que o interrogatório deve
ser feito depois da inquirição das testemunhas e da realização das demais provas.
Essa alteração repercutiu no CPPM? No procedimento do CPPM, o interrogatório
deve ser o último ato da instrução?
 SIM (1ª Turma do STF)
 NÃO (2ª Turma do STF)

E se o interrogatório foi realizado no começo da instrução, mas este ato ocorreu


antes da Lei 11.719/2008, haverá nulidade?
NÃO. Não haverá nulidade porque a Lei 11.719/2008 não pode ser aplicada para
atos processuais praticados antes de sua entrada em vigor (20/8/2008). Incide o
princípio do tempus regit actum, de forma que deve ser aplicada a legislação em
vigor no momento da sua prática.
Ex: João foi denunciado pela prática do crime de concussão (art. 305 do CPM). Em
2007, foi realizado seu interrogatório como primeiro ato do processo (antes da oitiva
das testemunhas). Em 2009, o réu foi condenado e a defesa suscitou nulidade
afirmando que a Lei 11.719/2008 teria alterado o momento do interrogatório para o
final. O STF considerou que não houve nulidade, já que, quando o ato processual
foi aplicado, não havia nenhuma dúvida de que o interrogatório era o primeiro ato
do processo, pois assim dispunha a legislação.
STF. Plenário. HC 123228/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2015 (Info
791).

34.7. O interrogatório do corréu não poderá ser acompanhado pelo acusado, mesmo
que este seja advogado e atue em causa própria – (Info 747) – IMPORTANTE!!!

Se houver mais de um acusado, cada um dos réus não terá direito de acompanhar o
interrogatório dos corréus. Segundo o CPP, havendo mais de um acusado, eles
deverão ser interrogados separadamente (art. 191).
Ex: João e Pedro são réus em uma ação penal. No momento em que forem ser
interrogados, um não poderá ouvir o depoimento do outro. Logo, quando João for
ser interrogado, Pedro terá que sair da sala, ficando, contudo, seu advogado
presente. No instante em que Pedro for prestar seus esclarecimentos, será a vez de
João deixar o recinto, ficando representado por seu advogado.
Se o réu for advogado e estiver atuando em causa própria, mesmo assim deverá ser
aplicada a regra do art. 191 do CPP. Em outras palavras, quando o corréu for ser
interrogado, o acusado (que atua como advogado) terá que sair da sala de audiência.
STF. 2ª Turma. HC 101021/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/5/2014 (Info
747).

34.8. Defesa preliminar do art. 514 do CPP – (Info 743)

Se o acusado, à época do oferecimento da denúncia, não era mais funcionário


público, não terá direito à defesa preliminar de que trata o art. 514 do CPP.
STF. Plenário. AP 465/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/4/2014 (Info 743).

34.9. Pedido de adiamento de julgamento de ação penal privada e prescrição – (Info


742)

O STF decidiu que seria possível adiar o julgamento de ação penal privada mesmo
que isso gerasse a prescrição da pretensão punitiva.
O pedido de adiamento foi formulado pelo próprio advogado do querelante e teve
a anuência do advogado do querelado.
STF. Plenário. AP 584 QO/PR, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/4/2014 (Info 742).

34.10. Comunicações processuais por DJe e início da contagem dos prazos – (Info 738)

No caso de intimação por Diário de Justiça eletrônico, o termo inicial dos prazos
processuais será o primeiro dia útil seguinte ao da data da publicação.
Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da
disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico.
STF. 1ª Turma. HC 120478/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 11/3/2014
(Info 738).

34.11. Não é possível aplicar a fase de absolvição sumária do art. 397 do CPP para o
procedimento previsto na Lei n. 8.038/90 – (Info 736)

No procedimento previsto na Lei n. 8.038/90 não é necessário que seja aplicada, por
analogia, a fase de absolvição sumária estabelecida no art. 397 do CPP. Isso porque
o rito previsto nessa lei especial já traz a previsão do denunciado apresentar uma
resposta preliminar e a possibilidade do Tribunal julgar improcedente a acusação
antes mesmo da ação penal se iniciar.
Dessa forma, o art. 4º da Lei n. 8.038/1990 tem a mesma finalidade e substitui a
absolvição sumária do art. 397 do CPP.
Não é cabível, em se tratando de ação penal originária (Lei n. 8.038/90), que seja
assegurado ao acusado citado para a apresentação da defesa prévia prevista no art.
8º da Lei n. 8.038/90 o direito de se manifestar nos moldes preconizados no art. 396-
A do CPP, com posterior deliberação acerca de absolvição sumária prevista no art.
397 do CPP.
STJ. Corte Especial. AgRg na APN 697-RJ, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado
em 3/10/2012.
STF. 2ª Turma. HC 116653/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2014 (Info
736).

35. TRIBUNAL DO JÚRI


35.1. Anulação da pronúncia por excesso de linguagem – (Info 795)

Havendo excesso de linguagem, o Tribunal deverá ANULAR a sentença de


pronúncia e os consecutivos atos processuais, determinando-se que outra seja
prolatada.
Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a sentença e
determinar que outra seja prolatada.
STF. 1ª Turma. RHC 127522/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/8/2015
(Info 795).
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.442.002-AL, Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
28/4/2015 (Info 561).

35.2. Referência ou leitura da decisão de pronúncia durante os debates no júri – (Info


779) – IMPORTANTE!!!

O art. 478, I, do CPP afirma que, durante os debates, as partes não poderão, sob
pena de nulidade, fazer referências à decisão de pronúncia ou às decisões
posteriores que julgaram admissível a acusação como argumento de autoridade
para beneficiar ou prejudicar o acusado. Isso não significa, contudo, que qualquer
referência ou leitura da decisão acarretará, obrigatoriamente, a nulidade do
julgamento.
Na verdade, somente haverá nulidade se a leitura ou as referências forem feitas
como argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.
Assim, por exemplo, não haverá nulidade se o MP simplesmente ler, no Plenário,
trecho da decisão do Tribunal que manteve a sentença de pronúncia contra o réu,
sem fazer a utilização do artifício do “argumento de autoridade”.
STF. 2ª Turma. RHC 120598/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015
(Info 779).
STJ. 5ª Turma. HC 248.617-MT, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/9/2013 (Info
531).
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.235.899-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 5/11/2013 (Info 531).

35.3. Referência ou leitura de sentença prolatada em desfavor do corréu – (Info 774)


– IMPORTANTE!!!

Imagine que duas pessoas tenham praticado, em conjunto, homicídio. Uma delas
foi julgada primeiro, tendo sido condenada. No julgamento do segundo réu,
durante os debates no Plenário do Júri, o Promotor de Justiça leu a sentença que
condenou o primeiro réu. Houve nulidade por violação do art. 478, I, do CPP?
NÃO. A leitura, pelo Ministério Público, da sentença condenatória de corréu
proferida em julgamento anterior não gera nulidade de sessão de julgamento pelo
conselho de sentença.
Segundo decidiu o STF, o art. 478, I, não proíbe que se leia a sentença condenatória
de corréu no mesmo processo. Logo, não é possível falar que houve
descumprimento da regra prevista nesse dispositivo.
STF. 1ª Turma. RHC 118006/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info
774).

35.4. Votação no Tribunal do Júri – (Info 758)

Na votação do Tribunal do Júri, um dos quesitos formulados aos jurados é o


seguinte: “O jurado absolve o acusado?”
O § 2º do art. 483 do CPP prevê que é essa a redação que deve ser dada ao quesito.
Em um determinado caso concreto, o juiz presidente do Júri redigiu esse quesito
da seguinte forma: “Pelo que ouviu em Plenário, o jurado absolve o acusado?”.
A defesa alegou que houve nulidade, mas o STF não concordou.
Embora não tenha sido empregada a redação prevista no § 2º do art. 483 do CPP, o
STF concluiu que não houve nulidade, pois a redação foi formulada com conteúdo
similar ao mencionado no texto legal. Logo, não houve prejuízo.
STF. 2ª Turma. HC 123307/AL, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/9/2014 (Info
758).

36. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO


36.1. Transação penal – (Info 763) – IMPORTANTE!!!

Súmula vinculante 35-STF: A homologação da transação penal prevista no artigo


76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas,
retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a
continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou
requisição de inquérito policial.
STF. Plenário. Aprovada em 16/10/2014.

37. PROCEDIMENTO NA LEI DE DROGAS


37.1. No procedimento da Lei de Drogas, o interrogatório continua sendo o primeiro
ato da audiência – (Info 750) – IMPORTANTE!!!

O rito previsto no art. 400 do CPP NÃO se aplica à Lei de Drogas. Assim, o
interrogatório do réu processado com base na Lei n. 11.343/2006 deve observar o
procedimento nela descrito (arts. 54 a 59).
O art. 57 da Lei n. 11.343/2006 estabelece que o interrogatório ocorre em momento
anterior à oitiva das testemunhas, diferentemente do que prevê o art. 400 do CPP,
que dispõe que o interrogatório seria realizado ao final da audiência de instrução e
julgamento.
No confronto entre as duas leis, aplica-se a lei especial quanto ao procedimento,
que, no caso, é a Lei de Drogas.
Logo, não gera nulidade o fato de, no julgamento dos crimes previstos na Lei n.
11.343/2006, a oitiva do réu ocorrer antes da inquirição das testemunhas.
Segundo regra contida no art. 394, § 2º, do CPP, o procedimento comum será
aplicado no julgamento de todos os crimes, salvo disposições em contrário do
próprio CPP ou de lei especial. Logo, se para o julgamento dos delitos disciplinados
na Lei 11.343/2006 há rito próprio (art. 57, da Lei 11.343/2006), no qual o
interrogatório inaugura a audiência de instrução e julgamento, é de se afastar o rito
ordinário (art. 400 do CPP) nesses casos, em razão da especialidade.
STF. 2ª Turma. HC 121953/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
10/6/2014 (Info 750).

37.2. Vedação ao indulto para o traficante privilegiado – (Info 745)

Não é possível o deferimento de indulto a réu condenado por tráfico de drogas,


ainda que tenha sido aplicada a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei
11.343/2006 à pena a ele imposta, circunstância que não altera a tipicidade do crime.
Os condenados por crimes hediondos e equiparados não podem ser contemplados
com o indulto, mesmo o chamado “indulto humanitário”.
O fato de o condenado estar doente ou ser acometido de deficiência não é causa de
extinção da punibilidade nem de suspensão da execução da pena.
STF. 2ª Turma. HC 118213/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 6/5/2014 (Info
745).

37.3. O crime de tráfico de drogas, com a redução do § 4º do art. 33, é equiparado a


hediondo, estando sujeito a progressão com requisitos objetivos mais rígidos – (Info
734) – IMPORTANTE!!!

A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei


11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas, limitando-se, por
critérios de razoabilidade e proporcionalidade, a abrandar a pena do pequeno e
eventual traficante, em contrapartida com o grande e contumaz traficante, ao qual
a Lei de Drogas conferiu punição mais rigorosa que a prevista na lei anterior.
Assim, se o indivíduo é condenado por tráfico de drogas e recebe a diminuição
prevista no § 4º do art. 33, mesmo assim terá cometido um crime equiparado a
hediondo.
STF. 1ª Turma. RHC 118099/MS e HC 118032/MS, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
4/2/2014 (Info 734).

37.4. Inconstitucionalidade do art. 44 da Lei de Drogas

É inconstitucional o art. 44 da Lei n. 11.343/2006 na parte em que proíbe a liberdade


provisória para os crimes de tráfico de drogas. Assim, é permitida a liberdade
provisória para o tráfico de drogas, desde que ausentes os requisitos do art. 312 do
CPP.
STF. Plenário. HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 10/5/2012.

38. FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA REPARAÇÃO DOS DANOS (ART.


387, IV DO CPP)
38.1. O inciso IV do art. 387 do CPP não pode ser aplicado a fatos anteriores à Lei
11.719/08 – (Info 772)
A Lei 11.719/2008 alterou o CPP, prevendo que o juiz, ao condenar o réu, já
estabeleça na sentença um valor mínimo que o condenado estará obrigado a pagar
a título de reparação dos danos causados.
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fixará valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido;
A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei
11.719/2008. Se o crime ocorreu antes dessa Lei e foi sentenciado após a sua
vigência, o juiz não poderá aplicar esse dispositivo e fixar o valor mínimo de
reparação dos danos.
Segundo entendimento majoritário, o inciso IV do art. 387 do CPP é norma híbrida
(de direito material e processual) e, por ser mais gravosa ao réu, não pode ser
aplicada a fatos praticados antes da vigência da Lei 11.719/2008.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info
772).

39. INTIMAÇÃO PESSOAL DA DEFENSORIA PÚBLICA


39.1. Intimação da Defensoria Pública quanto ao julgamento do habeas corpus –
(Info 839) - Atualize o Info 830-STF

A intimação pessoal da Defensoria Pública quanto à data de julgamento de habeas


corpus só é necessária se houver pedido expresso para a realização de sustentação
oral.
STF. 2ª Turma. HC 134.904/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 13/9/16 (Info 839).
OBS:
A defesa precisa ser intimada da data em que o Tribunal irá julgar o habeas corpus
por ela impetrada? Ex: a Defensoria Pública impetrou habeas corpus em favor de um
assistido; o Tribunal marcou o dia 12/12 para julgar o writ; é necessário intimar o
Defensor Público? Depende:
 Se o Defensor Público requereu a realização de sustentação oral: SIM (será
necessária a intimação).
 Se não houve requerimento de sustentação oral: NÃO (não será necessária a
intimação).

39.2. Ausência de intimação pessoal da Defensoria Pública deverá ser alegada na


primeira oportunidade, sob pena de preclusão – (Info 830)

A não observância da intimação pessoal da Defensoria Pública deve ser impugnada


imediatamente, na primeira oportunidade processual, sob pena de preclusão.
STF. 2ª Turma. HC 133476, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 14/6/16 (Info 830).
OBS:
É necessário intimar a defesa do dia em que será julgada apelação? SIM. É
indispensável a intimação sobre o dia em que será julgada a apelação, considerando
que é direito da defesa acompanhar, se quiser, o julgamento, podendo, inclusive, antes
de serem proferidos os votos, fazer sustentação oral. Assim, o defensor do réu deve
ser intimado da data marcada para julgamento da apelação criminal. Há, inclusive,
uma súmula nesse sentido:
Súmula 431-STF: É nulo o julgamento de recurso criminal, na
segunda instância, sem prévia intimação, ou publicação da
pauta, salvo em habeas-corpus.

Apesar de a Súmula 431-STF dizer que não é necessária a intimação da pauta do


habeas corpus, essa parte do enunciado não vale para os Defensores Públicos. Em
outras palavras, tratando-se de Defensoria Pública, esta deverá ser intimada inclusive
da data em que será julgado o habeas corpus. Veja:
(...) A falta de intimação pessoal do Defensor Público da data
provável de julgamento do habeas corpus consubstancia
nulidade processual que viola o exercício do direito de defesa.
(...)
STF. 1ª Turma. RHC 117029, Rel. Min. Dias Toffoli, Rel. p/
Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 17/11/2015.

Se o Defensor Público não é intimado pessoalmente do dia em que será julgada a


apelação, isso, em princípio, enseja a nulidade do julgamento? SIM. A ausência de
intimação para a data da sessão de julgamento é considerada causa de nulidade do
ato praticado nessa condição, inclusive por ter sido frustrada eventual possibilidade
de sustentação oral (STF. 1ª Turma. HC 98357, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 21/06/2011).

No caso concreto acima relatado, o julgamento da apelação deverá ser anulado?


NÃO. Isso porque o vício (ausência de intimação pessoal) não foi alegado na primeira
oportunidade que a defesa falou nos autos após a sua ocorrência. Logo, houve
preclusão. O STF e o STJ entendem que a defesa prejudicada pela ausência de
intimação pessoal deverá manifestar sua irresignação na primeira oportunidade que
falar nos autos.

40. NULIDADES
40.1. Situação na qual não houve violação ao Princípio do Promotor Natural – (Info
880) – IMPORTANTE!!!

Não viola o Princípio do Promotor Natural se o Promotor de Justiça que atua na


vara criminal comum oferece denúncia contra o acusado na vara do Tribunal do
Júri e o Promotor que funciona neste juízo especializado segue com a ação penal,
participando dos atos do processo até a pronúncia.
No caso concreto, em um primeiro momento, entendeu-se que a conduta não seria
crime doloso contra a vida, razão pela qual os autos foram remetidos ao Promotor
da vara comum. No entanto, mais para frente comprovou-se que, na verdade,
tratava-se sim de crime doloso.
Com isso, o Promotor que estava no exercício ofereceu a denúncia e remeteu a ação
imediatamente ao Promotor do Júri, que poderia, a qualquer momento, não ratificá-
la.
Configurou-se uma ratificação implícita da denúncia.
Não houve designação arbitrária ou quebra de autonomia.
STF. 1ª Turma. HC 114093/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, j. 3/10/17 (Info 880).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: João, médico, prescreveu remédio para
obesidade, não autorizado pela ANVISA para a sua paciente que veio a falecer em
virtude de efeitos colaterais decorrentes do medicamento. Foi instaurado inquérito
policial para apurar os fatos. Ao final da investigação, Dr. Carlos, Promotor de Justiça
da Vara Privativa do Tribunal do Júri, entendeu que não se tratava de crime doloso
contra a vida e ofereceu promoção pedindo a remessa dos autos a uma das varas
criminais do Município. Após promover diligências, inquirir testemunhas e juntar
novas provas, Dr. Vitor, Promotor que atua na 6ª Vara Criminal comum concluiu que
houve sim crime doloso contra a vida e ofereceu denúncia por homicídio doloso
contra João, requerendo o retorno dos autos para o Juízo da Vara Privativa do Júri,
que teria competência para analisar a ação penal. O Juiz da Vara do Tribunal do Júri
recebeu a denúncia oferecida por Dr. Vitor. Houve instrução processual e, ao final
desta fase, o Promotor que atua no Júri (Dr. Carlos) pediu a pronúncia de João, o que
foi acolhido pelo Juiz da Vara do Tribunal do Júri. Diante disso, a defesa do réu
impetrou habeas corpus alegando que houve nulidade da sentença de pronúncia. Isso
porque a denúncia por homicídio doloso recebida foi oferecida por Promotor de
Justiça que não está vinculado ao Tribunal do Júri, tendo havido, portanto, violação
ao princípio do “Promotor Natural”.

O pedido da defesa foi acolhido pelo STF? NÃO. Não houve neste caso violação ao
“Princípio do Promotor Natural”.

O STF admite a existência do Princípio do Promotor Natural? SIM. Segundo o STF,


o postulado do Promotor Natural “consagra uma garantia de ordem jurídica,
destinada tanto a proteger o membro do Ministério Público, na medida em que lhe
assegura o exercício pleno e independente do seu ofício, quanto a tutelar a própria
coletividade, a quem se reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas,
apenas o Promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e pré-
determinados, estabelecidos em lei” (STF. 2ª Turma. HC 103038, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, DJ 27/10/2011).

Em concursos públicos, as alternativas também apontam no sentido da existência


deste princípio:
 (Cartório-TJRR-2013-CESPE): O fundamento constitucional do princípio do
promotor natural assenta-se nas cláusulas da independência funcional e na
inamovibilidade do s membros do MP. (CERTO)
 (Técnico do TST-2012-FCC): Ao discorrer sobre os princípios constitucionais
que devem informar a atuação do Ministério Público, Pedro Lenza afirma que
o acusado “tem o direito e a garantia constitucional de somente ser processado
por um órgão independente do Estado, vedando-se, por consequência, a
designação arbitrária, inclusive, de promotores ‘ad hoc’ ou por encomenda”
(Direito Constitucional Esquematizado, Saraiva, 2011, p. 766). Trata-se do
princípio do promotor natural. (CERTO)
 (Procurador TCE/PB 2014 CESPE): Apesar do direito de não ser processado
nem sentenciado senão pela autoridade competente, não se admite a figura do
promotor natural, tendo em vista a unidade do MP. (ERRADO)
 (Promotor MPESC-2016): Dentre os princípios institucionais do Ministério
Público encontram-se os da unidade e o da indivisibilidade. Esses princípios
afastam, conforme posicionamento mais recente do Supremo Tribunal Federal,
a incidência do denominado princípio do promotor natural. (ERRADO)

Dessa forma, o Princípio do Promotor Natural é admitido pelo STF.


No caso concreto não houve violação a este princípio: O “Princípio do Promotor
Natural” destina-se a assegurar a imparcialidade na atuação do Ministério Público
tanto em favor da sociedade quanto do acusado. O objetivo do princípio, derivado da
intepretação do devido processo legal, é evitar indicações casuísticas ou retiradas
arbitrárias de Promotores em casos importantes de forma a orientar o resultado de
determinadas ações. Uma das finalidades do Princípio do Promotor Natural é
assegurar a atuação no processo-crime do membro do Ministério Público com
competência para oferecer denúncia, sendo possível haver atenuações, desde que de
acordo com as previsões legais. No caso dos autos, não houve designação arbitrária
ou quebra de autonomia, mas apenas a observância de regras objetivas para
preservar a atuação daquele que se supunha o Promotor competente. O Promotor do
Júri poderia a qualquer momento não ter ratificado a denúncia ou suscitar conflito
positivo de atribuições para seu oferecimento, mas ele seguiu com a ação penal, de
forma que ratificou implicitamente a denúncia, atuando no processo até a sentença de
pronúncia.

40.2. A investigação criminal contra Prefeito deverá ser feita com o controle
jurisdicional do TJ. Declarações colhidas em âmbito estritamente privado sem
acompanhamento de autoridade pública não apresentam confiabilidade. A denúncia
contra Prefeito por crime em licitação municipal deve indicar sua participação ou
conhecimento acerca dos fatos. Em caso de denúncia envolvendo crime do DL 201/67
e delito diverso, deverá ser assegurada a defesa prévia para ambas as imputações –
(Info 856)

Neste julgado, podemos destacar quatro importantes conclusões:


I – O prefeito detém prerrogativa de foro, constitucionalmente estabelecida. Desse
modo, os procedimentos de natureza criminal contra ele instaurados devem
tramitar perante o Tribunal de Justiça (art. 29, X, da CF/88). Isso significa dizer que
as investigações criminais contra o Prefeito devem ser feitas com o controle
(supervisão) jurisdicional da autoridade competente (no caso, o TJ).

II – Deve ser rejeitada, por ausência de justa causa, a denúncia que, ao arrepio da
legalidade, baseia-se em supostas declarações, colhidas em âmbito estritamente
privado, sem acompanhamento de qualquer autoridade pública (autoridade
policial, membro do Ministério Público) habilitada a conferir-lhes fé pública e
mínima confiabilidade.

III – A denúncia contra Prefeito por crime ocorrido em licitação municipal deve
indicar, ao menos minimamente, que o acusado tenha tido participação ou
conhecimento dos fatos supostamente ilícitos. O Prefeito não pode ser incluído
entre os acusados unicamente em razão da função pública que ocupa, sob pena de
violação à responsabilidade penal subjetiva, na qual não se admite a
responsabilidade presumida.

IV – Se o réu é denunciado por crime previsto no art. 1º do DL 201/67 em concurso


com outro delito cujo rito segue o CPP, ex: art. 312 do CP, art. 90 da Lei nº 8.666/93,
o magistrado ou Tribunal, antes de receber a denúncia, deverá dar oportunidade
para que o denunciado ofereça defesa prévia. Não pode a defesa prévia ser
concedida apenas para a imputação referente ao art. 1º do DL 201/67. A defesa
prévia antes do recebimento da denúncia é prevista no art. 2º, I, do DL 201/67, que
é considerado procedimento especial e, portanto, prevalece sobre o comum.
STF. 1ª Turma. AP 912/PB, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/3/2017 (Info 856).

40.3. "Denúncia anônima" e interceptação telefônica – (Info 855)

Após receber diversas denúncias de fraudes em licitações realizadas no Município,


o Ministério Público Estadual promoveu diligências preliminares e instaurou
Procedimento Investigativo.
Segundo a jurisprudência do STJ e do STF, não há ilegalidade em iniciar
investigações preliminares com base em "denúncia anônima" a fim de se verificar
a plausibilidade das alegações contidas no documento apócrifo.
Após confirmar a plausibilidade das "denúncias", o MP requereu ao juízo a
decretação da interceptação telefônica dos investigados alegando que não havia
outro meio senão a utilização de tal medida, como forma de investigação dos
supostos crimes.
O juiz acolheu o pedido.
O STJ e o STF entenderam que a decisão do magistrado foi correta considerando
que a decretação da interceptação telefônica não foi feita com base unicamente na
"denúncia anônima" e sim após a realização de diligências investigativas por parte
do Ministério Público e a constatação de que a interceptação era indispensável
neste caso.
STJ. 6ª Turma. RHC 38.566/ES, Rel. Min. Ericson Maranho (Des. Conv. do TJ/SP), j.
19/11/15.
STF. 2ª Turma. HC 133148/ES, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 21/2/17 (Info 855).
(TJAM-2016-CESPE): A interceptação telefônica é medida subsidiária e
excepcional, só podendo ser determinada quando não houver outro meio para se
apurar os fatos tidos por criminosos, sendo ilegal quando for determinada apenas
com base em notícia anônima, sem investigação preliminar.

(DPEMG-2014): A denúncia anônima não é por si só idônea a embasar a decisão


que determina a interceptação telefônica.

OBS:
O que é a chamada "denúncia anônima"? Denúncia anônima ocorre quando alguém,
sem se identificar, relata para as autoridades (ex: Delegado de Polícia, MP etc.) que
determinada pessoa praticou um crime. É o caso dos serviços conhecidos como "disk-
denúncia" ou, então, dos aplicativos de celular por meio dos quais se "denuncia" a
ocorrência de delitos.

O termo "denúncia anônima" não é tecnicamente correto porque em processo penal


denúncia é o nome dado para a peça inaugural da ação penal proposta pelo Ministério
Público. Assim, a doutrina prefere falar em "delação apócrifa", "notícia anônima" ou
"notitia criminis inqualificada".

É possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em “denúncia


anônima”? NÃO. A medida de busca e apreensão representa uma restrição ao direito
à intimidade. Logo, para ser decretada, é necessário que haja indícios mais robustos
que uma simples notícia anônima.
É possível decretar interceptação telefônica com base unicamente em “denúncia
anônima”? NÃO. A Lei n. 9.296/96 (Lei de Interceptação Telefônica) estabelece:
Art. 2º Não será admitida a interceptação de comunicações
telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;

Desse modo, a doutrina defende que a interceptação telefônica deverá ser considerada
a ultima ratio, ou seja, trata-se de prova subsidiária.
Tendo como fundamento esse dispositivo legal, a jurisprudência pacífica do STF e do
STJ entende que é ilegal que a interceptação telefônica seja determinada apenas com
base em “denúncia anônima”.

Logo, se a autoridade policial ou o Ministério Público recebe uma “denúncia


anônima” (“delação apócrifa”) contra determinada pessoa, não é possível que seja
requerida, de imediato, a interceptação telefônica do suspeito. Isso seria uma grave
interferência na esfera privada da pessoa, sem que houvesse justificativa idônea para
isso.

É possível a propositura de ação penal com base unicamente em “denúncia anônima”?


NÃO. A propositura de ação penal exige indícios de autoria e prova de materialidade.
Logo, não é possível oferecimento de denúncia com base apenas em "denúncia
anônima".

É possível instaurar investigação criminal (inquérito policial, investigação pelo MP


etc.) com base em “denúncia anônima”? SIM, mas a jurisprudência afirma que, antes,
a autoridade deverá realizar uma investigação prévia para confirmar se a "denúncia
anônima" possui um mínimo de plausibilidade. Veja o que diz Renato Brasileiro:
"Diante de uma denúncia anônima, deve a autoridade policial, antes
de instaurar o inquérito policial, verificar a procedência e veracidade
das informações por ela veiculadas. Recomenda-se, pois, que a
autoridade policial, de proceder à instauração formal do inquérito
policial, realize uma investigação preliminar a fim de constatar a
plausibilidade da denúncia anônima. Afigura-se impossível a
instauração de procedimento criminal baseado única e
exclusivamente em denúncia anônima, haja vista a vedação
constitucional do anonimato e a necessidade de haver parâmetros
próprios à responsabilidade, nos campos cível e penal." (LIMA,
Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 129).

Segundo o STF, não é possível desprezar a utilidade da "denúncia anônima". Isso


porque em um mundo no qual o crime torna-se cada vez mais complexo e organizado,
é natural que a pessoa comum tenha receio de se expor ao comunicar a ocorrência de
delito. Daí a admissibilidade de notícias crimes anônimas.

Procedimento a ser adotado pela autoridade policial em caso de “denúncia anônima”:


1) Realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade da
“denúncia”;
2) Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui credibilidade (aparência
mínima de procedência), instaura-se inquérito policial (IP) ou procedimento de
investigação criminal conduzida pelo Ministério Público (PIC);
3) Instaurado o IP ou o PIC, a autoridade policial ou o MP deverá buscar outros
meios de prova que não a interceptação telefônica (como visto, esta é a ultima ratio). Se
houver indícios concretos contra os investigados, mas a interceptação se revelar
imprescindível para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico
ao magistrado.

40.4. Inexistência de nulidade se o advogado constituído, mesmo regularmente


intimado, não apresenta contrarrazões – (Info 837)

Não há que se falar em nulidade do julgamento da apelação interposta pelo


Ministério Público se a defesa, regularmente intimada para a apresentação de
contrarrazões, permanece inerte.
Em outras palavras, a ausência de contrarrazões à apelação do Ministério Público
não é causa de nulidade por cerceamento de defesa se o defensor constituído pelo
réu foi devidamente intimado para apresentá-las, mas não o fez.
STF. 1ª Turma. RHC 133121/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/o acórdão Min.
Edson Fachin julgado em 30/8/2016 (Info 837).

40.5. Inexistência de nulidade na atuação de juízes instrutores nas ações penais no


STF/STJ – (Info 827)

É possível que os Ministros do STJ e STF, em ações penais originárias destes


Tribunais, deleguem a realização de atos de instrução aos chamados juízes
instrutores, não havendo nulidade nesta prática.
Os juízes instrutores atuam como “longa manus” do magistrado relator e, nessa
condição, procedem sob sua supervisão. Trata-se, portanto, de delegação limitada
a atos de instrução, com poder decisório restrito ao alcance desses objetivos.
A atuação dos juízes instrutores encontra respaldo no art. 3º da Lei 8.038/90.
STF. 1ª Turma. HC 131164/TO, rel. Min. Edson Fachin, j. 24/5/16 (Info 827).
OBS:
A atuação dos juízes instrutores no STJ encontra respaldo no art. 3º da Lei 8.038/90,
que preconiza:

Art. 3º Compete ao relator:


(...)
III – convocar desembargadores de Turmas Criminais dos
Tribunais de Justiça ou dos Tribunais Regionais Federais, bem
como juízes de varas criminais da Justiça dos Estados e da
Justiça Federal, pelo prazo de 6 (seis) meses, prorrogável por
igual período, até o máximo de 2 (dois) anos, para a realização
do interrogatório e de outros atos da instrução, na sede do
tribunal ou no local onde se deva produzir o ato.

O auxílio que os Juízes prestam aos Tribunais Superiores contribui para a


racionalização das forças dirigidas à consecução da razoável duração do processo, sem
que se subtraia a competência para julgamento insculpida na Constituição Federal.

40.6. Pessoa ouvida como testemunha e posteriormente denunciada como ré – (Info


816)
Determinada pessoa foi convocada a depor na condição de testemunha. Antes de
iniciar o depoimento, ela assinou termo no qual assumiu o compromisso de dizer
a verdade. O termo dizia que "a depoente compromete-se a dizer a verdade,
ressalvadas as garantias constitucionais aplicáveis".
Posteriormente, descobriu-se que essa pessoa também estaria envolvida no
esquema criminoso, razão pela qual foi denunciada.
O STF entendeu que não houve nulidade neste depoimento porque, embora a
denunciada tenha sido ouvida na condição de testemunha, assumindo o
compromisso de dizer a verdade, consta do termo de depoimento que ela foi
informada de que estavam ressalvadas daquele compromisso “as garantias
constitucionais aplicáveis”. Logo, foi a ela conferido o direito de não responder a
perguntas cujas respostas pudessem eventualmente acarretar sua
autoincriminação.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e 03/03/2016
(Info 816).

40.7. Designação de defensor dativo para audiência em que Defensor Público não
pode participar e inexistência de violação ao princípio do Defensor Público natural –
(Info 814) – IMPORTANTE!!!

Juiz negou pedido da Defensoria Pública para adiar audiência de instrução


considerando que, naquela data, o Defensor Público que fazia a assistência jurídica
do réu já possuía audiência marcada em outra comarca. O magistrado, diante da
ausência do Defensor, designou defensor dativo para acompanhar o réu na
audiência.
O STF entendeu que não houve violação aos princípios da ampla defesa e do
"Defensor Público natural" considerando que:
a) o inciso VI do art. 4º da LC 80/94 não garante exclusividade à Defensoria para
atuar nas causas em que figure pessoa carente;
b) o indeferimento do pedido da defesa não causou prejuízo ao réu, já que o
defensor dativo teve entrevista prévia reservada com o acusado e formulou
perguntas na audiência, participando ativamente do ato processual;
c) a impossibilidade de a Defensoria atuar na comarca não acarreta direito à
redesignação dos atos processuais designados.
STF. 2ª Turma. HC 123494/ES, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 16/2/2016 (Info
814).

40.8. Julgamento por órgão colegiado formado por maioria de juízes convocados não
viola o princípio do juiz natural – (Info 814)

Não viola o princípio do juiz natural o julgamento de apelação por órgão colegiado
presidido por desembargador, sendo os demais integrantes juízes convocados.
STF. 1ª Turma. HC 101473/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 16/2/2016 (Info 814).
OBS1: A convocação excepcional e transitória de juízes de primeiro grau para fazer
frente ao excessivo número de processos e substituir Desembargadores nas câmaras
julgadoras, com respaldo em lei específica, não significa ofensa ao princípio do juiz
natural. Ao contrário, essa solução, longe de caracterizar a criação de juízos de exceção
ou “ad hoc”, tem a virtude de tentar concretizar uma prestação jurisdicional célere e
efetiva, em plena conformidade com a garantia constitucional da razoável duração do
processo (art. 5º, LXXVIII, da CF/88). Não há, portanto, ofensa às garantias
fundamentais do processo, especialmente porque são observados critérios objetivos e
com expressa autorização legal. Existe precedente do Plenário do Tribunal
confirmando que esta prática é constitucional:

(...) I - Esta Corte já firmou entendimento no sentido da


constitucionalidade da Lei Complementar 646/1990, do Estado de
São Paulo, que disciplinou a convocação de juízes de primeiro grau
para substituição de desembargadores do TJ/SP.
II - Da mesma forma, não viola o postulado constitucional do juiz
natural o julgamento de apelação por órgão composto
majoritariamente por juízes convocados na forma de edital
publicado na imprensa oficial.
III - Colegiados constituídos por magistrados togados, que os
integram mediante inscrição voluntária e a quem a distribuição de
processos é feita aleatoriamente.
IV - Julgamentos realizados com estrita observância do princípio da
publicidade, bem como do direito ao devido processo legal, à ampla
defesa e ao contraditório. (...)
(STF. Plenário. HC 96821, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 08/04/2010)

40.9. Julgamento adiado e intimação de julgamento a ser realizado no dia seguinte


– (Info 796)

A Defensoria Pública, ao tomar ciência de que o processo será julgado em data


determinada ou nas sessões subsequentes, não pode alegar cerceamento de defesa
ou nulidade de julgamento quando a audiência não realizada no dia previamente
marcado, ocorrer no dia seguinte à nova intimação.
Ex: no dia 17/06/2014, o Defensor Público se fez presente para realizar a sustentação
oral, no entanto, não houve tempo para julgamento do recurso e este foi adiado sem
que fosse informada nova data. No dia 15/09/2014, o Defensor Público foi intimado
pessoalmente de uma lista de 90 processos que seriam julgados no dia seguinte,
entre eles a apelação que havia sido adiada. No dia 16/09/2014, o recurso foi julgado
sem que o Defensor Público tenha comparecido para fazer a sustentação oral.
Entendeu-se que não houve qualquer nulidade, já que a Defensoria Pública foi
intimada quanto à nova inclusão dos autos para julgamento em sessão do dia
seguinte e mesmo assim não requereu adiamento ou qualquer outra providência.
STF. 1ª Turma. HC 126081/RS, Rel. Min. Rosa Weber, j. 25/8/15 (Info 796).

40.10. Intimação da Defensoria Pública com remessa dos autos mesmo que a decisão
tenha sido proferida em audiência – (Info 791) – IMPORTANTE!!!

A LC 80/94 (Lei Orgânica da Defensoria Pública) prevê, como uma das


prerrogativas dos Defensores Públicos, que eles devem receber intimação pessoal
(arts. 44, I, 89, I e 128, I).
Se uma decisão ou sentença é proferida pelo juiz na própria audiência, estando o
Defensor Público presente, pode-se dizer que ele foi intimado pessoalmente
naquele ato ou será necessário ainda o envio dos autos à Defensoria para que a
intimação se torne perfeita?
Para que a intimação pessoal do Defensor Público se concretize, será necessária
ainda a remessa dos autos à Defensoria Pública.
Segundo decidiu o STF, a intimação da Defensoria Pública, a despeito da presença
do defensor na audiência de leitura da sentença condenatória, se aperfeiçoa com
sua intimação pessoal, mediante a remessa dos autos.
STF. 2ª Turma. HC 125270/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 23/6/15 (Info 791).
STJ. 3ª Seção. HC 296.759-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, j. 23/8/17 (Info 611).

40.11. Constituição de novo mandatário, sem qualquer ressalva, enseja a revogação


tácita da procuração anterior – (Info 786) – IMPORTANTE!!!

João respondeu a ação penal e foi condenado em 1ª instância. Seu advogado


constituído na época era Dr. Pedro que interpôs recurso de apelação.
Algumas semanas depois, João outorga procuração para outro advogado (Dr.
Carlos) conferindo-lhe poderes para representá-lo neste processo criminal. Vale
ressaltar que nesta segunda procuração não há qualquer menção ao mandato que
havia sido dado a Dr. Pedro.
Dr. Carlos peticiona, então, ao Tribunal de Justiça (onde tramita a apelação)
juntando a procuração e informando que deseja ser intimado de todos os atos
judiciais.
Ocorre que a petição do Dr. Carlos foi ignorada e, quando marcaram o dia do
julgamento da apelação, o advogado intimado foi o Dr. Pedro.
No julgamento da apelação, que não foi acompanhado nem pelo Dr. Carlos nem
pelo Dr. Pedro, o TJ manteve a sentença condenatória. Houve nulidade no presente
caso?
SIM. Houve nulidade do julgamento da apelação considerando que o novo
advogado constituído do réu não foi intimado. A jurisprudência do STF é firme no
sentido de que a não intimação de advogado constituído configura cerceamento de
defesa e, portanto, nulidade dos atos processuais.
Mesmo sem ter havido revogação expressa do mandato outorgado ao primeiro
advogado, ficou clara a intenção do réu de alterar seu causídico. Podemos dizer que
houve revogação tácita.
Para o STF, a constituição de novo mandatário para atuar em processo judicial, sem
ressalva ou reserva de poderes, enseja a revogação tácita do mandato anteriormente
concedido.
STF. 2ª Turma. RHC 127258/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 19/5/2015
(Info 786).

40.12. Mandado de busca e apreensão com endereço incorreto – (Info 772)

O juiz deferiu mandado de busca e apreensão tendo como alvo o escritório de um


banco, localizado no 28º andar de um prédio comercial. Quando os policiais
chegaram para cumprir a diligência, perceberam que a sede do banco ficava no 3º
andar. Diante disso, entraram em contato com o juiz substituto que autorizou, por
meio de ofício sem maiores detalhes, a apreensão do HD na sede do banco.
A 2ª Turma do STF declarou a ilegalidade da apreensão por ausência de mandado
judicial específico.
STF. 2ª Turma. HC 106566/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/12/2014
(Info 772).

40.13. Nulidade pela juntada posterior do voto vencido na apelação – (Info 740)

A apelação interposta pelo réu foi julgada improvida. Essa decisão foi publicada
no Diário eletrônico. Ocorre que somente após a publicação, houve a juntada do
voto vencido.
Para o STF, juntada do voto vencido em momento posterior à publicação do acórdão
afronta o princípio da ampla defesa.
STF. 2ª Turma. HC 118344/GO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18/3/14 (Info 740).

41. SENTENÇA
41.1. Princípio da correlação (congruência), causa de aumento e emendatio libelli –
(Info 882) – IMPORTANTE!!!

O princípio da congruência preconiza que o acusado defende-se dos fatos descritos


na denúncia e não da capitulação jurídica nela estabelecida.
Assim, para que esse princípio seja respeitado é necessário apenas que haja a
correlação entre o fato descrito na peça acusatória e o fato pelo qual o réu foi
condenado, sendo irrelevante a menção expressa na denúncia de eventuais causas
de aumento ou diminuição de pena.
Ex: o MP ajuizou ação penal contra o réu por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº
8.137/90). Na denúncia, o MP não pediu expressamente que fosse reconhecida a
majorante do art. 12, I. Pediu-se apenas a condenação do acusado pelo crime do art.
1º, I. No entanto, apesar disso, na exordial o membro do MP narrou que o réu
sonegou tributos em montante superior a R$ 4 milhões. O juiz, na sentença, ao
condenar o réu, poderá reconhecer a incidência da causa de aumento de pena
prevista no art. 12, I, porque o fato que ela representa (vultosa quantia sonegada
que gera dano à coletividade) foi narrado, apesar de não haver menção expressa ao
dispositivo legal.
STF. 2ª Turma. HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 17/10/17 (Info
882).

41.2. Princípio da correlação (congruência), causa de aumento e emendatio libelli –


(Infos 759 e 747)

Para que a causa de aumento de pena seja reconhecida pelo julgador é necessário
que ela tenha sido narrada na denúncia ou queixa.
Se na peça acusatória estiver narrada a circunstância que configura a causa de
aumento de pena, não é indispensável que o MP (ou o querelante) requeira a
condenação com base no dispositivo legal no qual está prevista a causa de aumento.
Ex: o MP ajuizou ação penal contra o réu por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei n.
8.137/90). Na denúncia, o MP não pediu expressamente que fosse reconhecida a
majorante do art. 12, I (quando o crime causa grave dano à coletividade). Pediu-se
apenas a condenação do acusado pelo crime do art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90. Vale
ressaltar, no entanto, que o MP narrou na denúncia que o réu reduziu Imposto de
Renda em montante superior a 2 milhões de reais.
O juiz, na sentença, condenou o réu apenas pelo art. 1º, I, da Lei. No entanto, o TRF,
em um recurso do MP, reconheceu a aplicação da causa de aumento prevista no art.
12, I.
STF. 1ª Turma. HC 120587/SP e RHC 119962/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 20/5/14 (Info
747).
STF. 2ª Turma. HC 123733/AL, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 16/9/14 (Info 759).

42. RECURSOS
42.1. Situações nas quais não se aplica a regra do art. 580 do CPP – (Info 867)

O art. 580 do CPP afirma que, no caso de concurso de agentes, a decisão favorável
que um dos réus conseguir no julgamento do seu recurso poderá ser aproveitada
pelos demais acusados, salvo se a decisão tiver se fundamentado em motivos que
sejam de caráter exclusivamente pessoal.

Esse dispositivo não pode ser aplicado quando:


a) o réu que estiver requerendo a extensão da decisão não participar da mesma
relação jurídico-processual daquele que foi beneficiado. O requerente será, neste
caso, parte ilegítima;
b) se invoca extensão da decisão para outros processos que não foram examinados
pelo órgão julgador. Isso porque, neste caso, o que o requerente está pretendendo
é obter a transcendência dos motivos determinantes para outro processo, o que não
é admitido pela jurisprudência do STF.
STF. 1ª Turma. HC 137728 EXTN/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 30/5/2017 (Info 867).
OBS:
Habeas corpus em favor de José Dirceu: Em maio de 2017, a 2ª Turma do STF concedeu
habeas corpus para revogar a prisão preventiva de José Dirceu, condenado pelo juízo
da 13ª Vara Federal de Curitiba no âmbito da “Operação Lava-Jato” e que está
aguardando julgamento da apelação pelo TRF. Naquela ocasião, a 2ª Turma entendeu
que não estavam mais presentes as razões que fundamentaram a prisão cautelar do
réu.

Habeas corpus impetrado por Renato Duque: Diante disso, a defesa de Renato Duque,
ex-diretor da Petrobrás, ingressou no STF com pedido de extensão da revogação da
prisão preventiva deferida a José Dirceu. A defesa alegou que haveria identidade de
partes e de imputação em duas ações penais nas quais ele e Dirceu foram condenados
pelo juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) e pediu, ainda, a extensão da decisão
a outras três ações penais, duas delas pendentes de julgamento de apelação pelo TRF-
4 e outra aguardando julgamento em 1º grau.
Em outras palavras, Renato Duque é réu em cinco ações penais. Em duas delas, ele
responde juntamente com José Dirceu e, nas outras três, o ex-Ministro não é réu.
Duque pediu para a decisão de revogação de Dirceu ser aplicada também para ele e
que fosse determinada a sua liberdade em todos os cinco processos. O pedido de
Duque foi baseado no art. 580 do CPP, aplicável por analogia. Isso porque esse
dispositivo fala em “recurso” e a decisão de soltura de José Dirceu foi proferida em
um habeas corpus (que não é recurso). Veja a redação do dispositivo legal:
Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art.
25), a decisão do recurso interposto por um dos réus, se
fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente
pessoal, aproveitará aos outros.
O STF concordou com o pedido de Renato Duque? NÃO.

Necessidade de identidade de situações: Assim, a situação foi analisada apenas em


relação às ações penais nas quais Duque figurou como corréu de José Dirceu (dois
processos).

Primeiro processo no qual Duque figura como réu ao lado de Dirceu: Neste caso, a
custódia preventiva de Duque foi mantida na sentença sob o argumento de que o ex-
Diretor da Petrobrás apresentava habitualidade na prática delitiva. Além disso, o
magistrado afirmou que Duque é “titular de ativos secretos milionários no exterior” e
que continuou a movimentar tais valores buscando dissipá-los mesmo durante as
investigações. Esses fundamentos são específicos e relacionados apenas à situação de
Duque. Esses motivos que justificaram a prisão de Duque não existiam para José
Dirceu. Logo, há circunstâncias fáticas incomunicáveis na prisão de Duque em relação
ao do corréu Dirceu. Em outros termos, não há identidade de situação (as
circunstâncias fáticas são diferentes), o que torna impossível permitir a extensão do
benefício, na forma do artigo 580 do CPP. O art. 580 do CPP é a norma processual
penal garantidora de tratamento jurídico isonômico para corréus que apresentarem
idêntica situação quanto aos demais.

Segundo processo no qual Duque figura como réu ao lado de Dirceu: Quanto a este
segundo processo, o STF entendeu que não havia interesse de agir por parte de
Duque. Isso porque nesta ação penal não existe nenhuma decisão decretando a sua
prisão preventiva. Logo, ele está preso por força do primeiro processo.

Outros três processos que Duque responde sem ter Dirceu como corréu: Quanto a esses
processos, o pedido de extensão feito por Duque não foi conhecido (não teve o mérito
apreciado). Isso porque Dirceu não é corréu juntamente com Duque. A extensão de
que trata o art. 580 do CPP só vale para os réus que integrem a mesma relação
jurídica processual daquele que foi beneficiado. Em outras palavras, a pessoa presa
somente pode pedir para si a extensão do benefício se o réu que foi beneficiado
também fizer parte do mesmo processo do requerente. Assim, Duque não pode pedir
para aplicar a decisão favorável de Dirceu nestes três processos porque Dirceu não faz
parte deles. Logo, são outros fatos, outras circunstâncias.

42.2. Não é possível a interposição de recurso por e-mail – (Info 857)

O art. 1º da Lei 9.800/99 prevê que "é permitida às partes a utilização de sistema de
transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a prática de
atos processuais que dependam de petição escrita."
É possível a interposição de recurso por e-mail, aplicando-se as regras da Lei
9.800/99? NÃO. A ordem jurídica não contempla a interposição de recurso via e-
mail.
O e-mail não configura meio eletrônico equiparado ao fax, para fins da aplicação
do disposto no art. 1º da Lei 9.800/99, porquanto não guarda a mesma segurança de
transmissão e registro de dados.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 919.403/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j.
13/09/16.
STF. 1ª Turma. HC 121225/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/3/2017 (Info 857).
42.3. Prazo do agravo contra a decisão do Tribunal de origem que nega seguimento
ao RE – (Info 845) – IMPORTANTE!!!

Se o Presidente do tribunal de origem nega seguimento ao RE ou Resp (em matéria


criminal) e a parte deseja interpor agravo contra esta decisão, ela terá o prazo de 15
dias (art. 1.003, § 5º, do CPC/2015).
Antes do CPC/2015, este prazo era de 5 dias, conforme previa o art. 38 da Lei
8.038/90.
Com o novo CPC e a revogação do art. 38 da Lei 8.038/90, ficou superada a Súmula
699-STF.
Vale ressaltar que o prazo deste agravo acima mencionado é contado em dias
CORRIDOS (não são dias úteis). Não se aplica o art. 219 do CPC/2015, considerando
que existe regra específica no processo penal determinando que todos os prazos
serão contínuos, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado (art. 798
do CPP).
Resumindo: se o Presidente do tribunal de origem nega seguimento ao RE ou Resp
(em matéria criminal) e a parte deseja interpor agravo contra esta decisão, ela terá
o prazo de 15 dias CORRIDOS (não são dias úteis).
STF. 1ª Turma. ARE 993407/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 25/10/16 (Info 845).
OBS: Se o Tribunal de Justiça ou o Tribunal Regional Federal proferirem acórdão em
matéria penal, contra esta decisão cabe, em tese, Recurso Especial e Extraordinário. A
parte que deseja interpor um Recurso Extraordinário ou Recurso Especial deve
protocolizá-lo no juízo a quo (recorrido) e não diretamente no juízo ad quem
(STF/STJ), nos termos do art. 1.029 do CPC. Imagine que o réu interponha RE contra
o acórdão do TJ que manteve a sua condenação criminal. O Presidente ou o Vice-
Presidente do Tribunal de origem (TJ) irá fazer o juízo de admissibilidade do recurso,
nos termos do art. 1.030 do CPC.

Se o juízo de admissibilidade for Se o juízo de admissibilidade for


POSITIVO NEGATIVO
Significa que o Presidente (ou Vice) do Significa que o Presidente (ou Vice) do
Tribunal entendeu que os pressupostos Tribunal entendeu que algum
do REsp estavam preenchidos e, então, pressuposto do REsp não estava
remeterá o recurso para o STF. presente e, então, não admitirá o recurso.
Contra esta decisão, não cabe recurso, Contra esta decisão, a parte prejudicada
considerando que o STF ainda irá poderá interpor recurso.
reexaminar novamente esta
admissibilidade.

Motivos da inadmissibilidade: O Presidente (ou Vice) do Tribunal de origem poderá


fazer o juízo negativo de admissibilidade com base em dois fundamentos:

Inciso I do art. 1.030 Inciso V do art. 1.030


O Presidente (ou Vice) negará Este inciso V é utilizado para todas as
seguimento ao recurso especial com base demais hipóteses de inadmissibilidade.
neste inciso se o acórdão atacado estiver Exs: cabimento, legitimidade,
em conformidade com entendimento do tempestividade, interesse, regularidade
STJ exarado em recurso repetitivo. formal etc.
Ex: o STF, em um recurso sob o rito da Ex: o recorrente interpôs o recurso
repercussão geral, disse que a extraordinário, mas o Presidente do
reincidência é um instituto compatível Tribunal recorrido negou seguimento
com a CF/88. No caso dos autos, o TJ afirmando que não houve
aplicou a reincidência e disse que ela é prequestionamento. A decisão será com
constitucional. O réu não se conformou base no inciso V do art. 1.030.
e interpôs RE alegando que é
inconstitucional. O Presidente do TJ
negará seguimento ao recurso.
Recurso cabível contra esta decisão: Recurso cabível contra esta decisão:
agravo interno, que será julgado pelo agravo em recurso especial e
próprio Tribunal de origem. extraordinário (art. 1.042).

Veja o que diz o art. 1.042:


Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do
vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso
extraordinário ou recurso especial (nas hipóteses genéricas do
inciso V do art. 1.030), salvo quando fundada na aplicação de
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em
julgamento de recursos repetitivos (situação do inciso I do art.
1.030, quando caberá agravo interno).

Qual é o prazo deste agravo?


Antes do CPC/2015: 5 dias Depois do CPC/2015: 15 dias
Fundamento: art. 28 da Lei nº 8.038/90 Fundamento: art. 1.003, § 5º, do novo
Súmula 699-STF: O prazo para CPC.
interposição de agravo, em processo O CPC/2015 revogou expressamente o
penal, é de cinco dias, de acordo com a art. 38 da Lei nº 8.038/90. Logo, o
Lei 8.038/90, não se aplicando o argumento de que havia um prazo
disposto a respeito nas alterações da Lei especial para os agravos envolvendo
8.950/94 ao Código de Processo Civil. recurso extraordinário em matéria
criminal deixou de existir. A Súmula 699
do STF está superada.

O CPC/2015 previu, em seu art. 219, que os prazos devem ser contados somente em
dias úteis. Esta regra vale também para o agravo envolvendo processos criminais? Se
o Presidente do tribunal de origem nega seguimento ao RE ou Resp (em matéria
criminal) e a parte interpõe agravo, o prazo deste agravo será contado em dias úteis?
NÃO. Não se aplica o art. 219 do CPC/2015, considerando que existe regra específica
no processo penal determinando que todos os prazos serão contínuos, não se
interrompendo por férias, domingo ou dia feriado (art. 798 do CPP). As regras do
processo civil somente se aplicam ao processo penal subsidiariamente. No caso, existe
regra expressa de contagem do prazo no processo penal (art. 798 do CPP). Logo, se o
Presidente do tribunal de origem nega seguimento ao RE ou Resp (em matéria
criminal) e a parte deseja interpor agravo contra esta decisão, ela terá o prazo de 15
dias CORRIDOS (não são dias úteis).

Atenção: apesar de eu achar que sim, não se pode ter ainda certeza que o
entendimento exposto restará consolidado no STF. Isso porque no julgado acima
mencionado, os Ministros Luiz Fux, Roberto Barroso e Rosa Weber acompanharam o
Relator quanto à intempestividade do recurso para não o conhecer, mas não quanto
aos fundamentos. Desse modo, é necessário que este tema seja novamente debatido
para termos uma posição mais tranquila.
Não confundir: Importante fazer um último alerta. A Súmula 699 do STF e a explicação
acima não têm nada a ver com agravos internos interpostos contra decisões
monocráticas de Ministros do STF e STJ. No caso de agravo interposto contra decisão
monocrática do Ministro Relator no STF e STJ, em recursos ou ações originárias que
versem sobre matéria penal ou processual penal, o prazo continua sendo de 5 dias,
nos termos do art. 39 da Lei nº 8.038/90 (não se aplicando o art. 1.070 do CPC/2015).
Para maiores informações sobre este último agravo, veja STF. Decisão monocrática.
HC 134554 Rcon, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 10/06/2016 (Info 830); STJ. 3ª
Seção. AgRg nos EDcl nos EAREsp 316.129-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 25/5/2016 (Info 585).

42.4. O prazo do agravo interno contra decisão monocrática do Ministro Relator em


matéria criminal no STF e STJ continua sendo de 5 dias contínuos – (Info 830) –
IMPORTANTE!!!

O agravo interposto contra decisão monocrática do Ministro Relator no STF e STJ,


em recursos ou ações originárias que versem sobre matéria penal ou processual
penal NÃO obedece às regras no novo CPC. Isso significa que:
 O prazo deste agravo é de 5 dias, nos termos do art. 39 da Lei 8.038/90 (não
se aplicando o art. 1.070 do CPC/2015);
 Este prazo é contado em dias corridos, conforme prevê o art. 798 do CPP (não
se aplicando a regra da contagem em dias úteis do art. 219 do CPC/2015).
STF. Decisão monocrática. HC 134554 Rcon, Rel. Min. Celso de Mello, j. 10/06/16
(Info 830).
STJ. 3ª Seção. AgRg na Rcl 30.714/PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j.
27/04/16.

42.5. Situação de reformatio in pejus mesmo tendo havido redução da pena final –
(Info 797)

João foi condenado em 1ª instância a uma pena de 2 anos pela prática do crime de
furto qualificado pela escalada (art. 155, § 4º, II, do CP). O MP não recorreu,
transitando em julgado a sentença para a acusação. A defesa do réu interpôs
apelação. O Tribunal de Justiça entendeu que não estavam presentes os requisitos
necessários para a configuração da qualificadora da escalada (art. 155, § 4º, II) e, por
isso, a retirou, transformando em furto simples. Até aí, tudo bem. Esse era um dos
pedidos do recurso. Ocorre que os Desembargadores foram além e decidiram
reconhecer a presença da causa de aumento prevista no § 1º do art. 155 do CP, em
virtude de estar provado nos autos que o furto ocorreu durante o repouso noturno.
Assim, o TJ afastou a condenação pelo art. 155, § 4º, II, do CP e condenou o réu pelo
art. 155, § 1º, do CP. Com base nessa nova capitulação, o TJ fixou a pena do réu em
1 ano e 4 meses. Agiu corretamente o TJ?
NÃO. O STF entendeu que a decisão do TJ violou o princípio do non reformatio in
pejus, devendo ser refeita a dosimetria. O TJ acrescentou uma causa de aumento de
pena (art. 155, § 1º) que não havia sido reconhecida na sentença em 1ª instância.
Como o recurso era exclusivo da defesa, o TJ não poderia ter inserido na
condenação uma circunstância contrária ao réu e que não estava presente
anteriormente. Assim, mesmo aparentemente a decisão do TJ tendo sido benéfica ao
réu (por ter reduzido a pena), na verdade, houve, na parte referente à causa de
aumento, uma reforma para pior.
STF. 2ª Turma. RHC 126763/MS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min.
Gilmar Mendes, julgado em 1º/9/2015 (Info 797).

42.6. Inexistência de reformatio in pejus na manutenção da condenação, mas com


base em fundamentos diversos da sentença – (Info 774)

Não caracteriza reformatio in pejus a decisão de tribunal de justiça que, ao julgar


recurso de apelação exclusivo da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo
magistrado de primeiro grau, porém, com fundamentos diversos daqueles
adotados na sentença.
STF. 1ª Turma. RHC 119149/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info
774).

42.7. Possibilidade de emendatio libelli desde que não haja reformatio in pejus –
(Info 770)

O réu foi condenado, em 1ª instância, pela prática de furto qualificado (art. 155, §
4º, II, do CP).
O MP conformou-se com a sentença, mas a defesa interpôs apelação. O Tribunal
entendeu que os fatos ocorreram realmente na forma como narrada pelo MP, mas
que, em seu entendimento, isso configurou peculato (art. 312, § 1º do CP) e não
furto qualificado. Vale ressaltar que, a fim de não prejudicar o réu/recorrente, o TJ
manteve o quantum da pena imposta na sentença.
O Tribunal fez uma emendatio libelli, mas isso não era permitido no caso concreto.
Em princípio, é possível que o Tribunal, no julgamento de um recurso contra a
sentença, faça emendatio libelli. No entanto, se o recurso era exclusivo da defesa, o
Tribunal não pode causar uma piora na situação do réu, já que isso significa
reformatio in pejus. No caso concreto, a pena imposta permaneceu a mesma. No
entanto, mesmo assim houve um agravamento na situação do réu. Isso porque uma
condenação por crime contra a Administração Pública (peculato) é mais grave e traz
maiores efeitos deletérios do que uma condenação por crime contra o patrimônio
(furto). Segundo o art. 33, § 4º do CP, os condenados pela prática de crime contra a
Administração Pública somente podem obter a progressão de regime se efetuarem
previamente a reparação do dano causado ou a devolução do produto do ilícito
praticado. A análise da ocorrência ou não de reformatio in pejus não pode ficar
restrita ao quantum da pena aplicada, devendo ser analisados os outros efeitos da
condenação.
STF. 2ª Turma. HC 121089/AP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/12/2014
(Info 770).

42.8. Se o réu que aguarda julgamento da apelação é diplomado Deputado Federal,


esse recurso deverá ser remetido ao STF – (Info 769)

O réu foi condenado, em 1ª instância, pela prática de crime. A defesa interpôs


apelação ao Tribunal de Justiça. Ocorre que, antes de ser julgado o apelo, o réu foi
diplomado Deputado Federal. Esse recurso deverá ser imediatamente remetido ao
STF para que lá seja julgado em virtude do foro por prerrogativa de função previsto
no art. 102, I, “b”, da CF/88.
STF. 1ª Turma. AP 595/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/11/2014 (Info 769).
42.9. Abuso do direito de recorrer – (Info 766) – IMPORTANTE!!!

O abuso do direito de recorrer no processo penal, com o escopo de obstar o trânsito


em julgado da condenação, autoriza a determinação monocrática de baixa imediata
dos autos por Ministro do STF, independentemente de publicação da decisão.
A interposição de recurso cujo único propósito é protelar o trânsito em julgado da
decisão caracteriza abuso do direito de recorrer e autoriza a certificação do trânsito
em julgado do pronunciamento judicial.
STF. Plenário. RE 839163 QO/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 5/11/2014 (Info
766).

43. JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DO RESP E RE


43.1. A suspensão dos processos em virtude de reconhecimento de repercussão geral
(§ 5º do art. 1.035 do CPC) pode ser aplicada para processos criminais – (Info 868) –
IMPORTANTE!!!

O § 5º do art. 1.035 do CPC/2015 preconiza:


§ 5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo
Tribunal Federal determinará a suspensão do
processamento de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e
tramitem no território nacional.

O STF fixou as seguintes conclusões a respeito desse dispositivo:


a) a suspensão prevista nesse § 5º não é uma consequência automática e necessária
do reconhecimento da repercussão geral. Em outras palavras, ela não acontece
sempre. O Ministro Relator do recurso extraordinário paradigma tem
discricionariedade para determiná-la ou modulá-la;
b) a possibilidade de sobrestamento se aplica aos processos de natureza penal. Isso
significa que, reconhecida a repercussão geral em um recurso extraordinário que
trata sobre matéria penal, o Ministro Relator poderá determinar o sobrestamento
de todos os processos criminais pendentes que versem sobre a matéria;
c) se for determinado o sobrestamento de processos de natureza penal, haverá,
automaticamente, a suspensão da prescrição da pretensão punitiva relativa aos
crimes que forem objeto das ações penais sobrestadas. Isso com base em uma
interpretação conforme a Constituição do art. 116, I, do Código Penal;
d) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com
fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC abrangerá inquéritos policiais ou
procedimentos investigatórios conduzidos pelo Ministério Público;
e) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com
fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC abrangerá ações penais em que haja réu
preso provisoriamente;
f) em qualquer caso de sobrestamento de ação penal determinado com fundamento
no art. 1.035, § 5º, do CPC, poderá o juízo de piso, no curso da suspensão, a partir
de aplicação analógica do disposto no art. 92, caput, do CPP, proceder, conforme a
necessidade, à produção de provas de natureza urgente.
STF. Plenário. RE 966.177 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 7/6/2017 (Info 868).
44. EMBARGOS INFRINGENTES
44.1. Não cabem embargos infringentes no STF para discutir o quantum da pena
aplicada – (Info 735)

A divergência estabelecida na fixação da dosimetria da pena não enseja o


cabimento de embargos infringentes no STF.
STF. Plenário. AP 470 EI-décimos quartos-AgR/MG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j.
13/2/14 (Info 735).

45. HABEAS CORPUS


45.1. É cabível habeas corpus para questionar a imposição de medidas cautelares
diversas da prisão – (Info 888) – IMPORTANTE!!!

O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de


natureza criminal diversas da prisão.
STF. 2ª Turma. HC 147426/AP e HC 147303/AP, Rel. Min. Gilmar Mendes, j.
18/12/17 (Info 888).
OBS:
Medidas cautelares diversas da prisão: A prisão preventiva é uma espécie de “prisão
cautelar”. A prisão cautelar, por sua vez, é uma das espécies de “medida cautelar”.
Assim, além da prisão, existem outras espécies de medidas cautelares. As medidas
cautelares são providências urgentes que devem ser decretadas na fase pré-processual
ou durante o processo penal com o objetivo de assegurar a apuração do fato delituoso,
a instrução processual, a aplicação da sanção penal, a proteção da ordem pública ou o
ressarcimento do dano causado pelo delito. Como já disse, a prisão processual é uma
espécie de medida cautelar. As demais medidas cautelares diversas da prisão estão
elencadas no art. 319 do CPP:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas
condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar
atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o
indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o
indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a
permanência seja conveniente ou necessária para a
investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e
trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade
de natureza econômica ou financeira quando houver justo
receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos
concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do
Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem
judicial;
IX - monitoração eletrônica.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João é suspeito de ter praticado crimes
contra a Administração Pública. O juiz, a requerimento do Ministério Público,
determina que João deverá:
1) comparecer mensalmente à Secretaria da Vara para informar e justificar suas
atividades;
2) ficar afastado do cargo público que ocupa.

Dessa forma, o magistrado impôs ao investigado duas medidas cautelares diversas da


prisão.

É possível que João impetre habeas corpus para questionar a imposição dessas
medidas cautelares? O investigado/réu poderá se valer do habeas corpus para
impugnar decisão que lhe impõe medidas cautelares diversas da prisão? SIM. O
habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza
criminal diversas da prisão. STF. 2ª Turma. HC 147426/AP e HC 147303/AP, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgados em 18/12/2017 (Info 888).

O habeas corpus deve ser admitido para impugnar medidas criminais que, embora
diversas da prisão, afetem interesses não patrimoniais importantes da pessoa física.
Se, por um lado, essas medidas são menos gravosas do que a prisão, por outro, são
também onerosas ao investigado/réu. Além disso, se essas medidas forem
descumpridas, podem ser convertidas em prisão processual, de forma que existe o
risco à liberdade de locomoção. Caso fechada a porta do “habeas corpus”, restaria o
mandado de segurança. Nos processos em 1ª instância, talvez fosse suficiente para
conferir proteção judicial recursal efetiva ao alvo da medida cautelar. No entanto,
naqueles de competência originária de tribunal, confundem-se, na mesma instância,
as competências para decretá-la e para analisar a respectiva ação de impugnação. Isso,
na prática, esvazia a possibilidade de impugná-la em tempo hábil. Podem ser
encontrados alguns precedentes do STJ no mesmo sentido:
"Conquanto o afastamento do cargo público não afete
diretamente a liberdade de locomoção do indivíduo, o certo é
que com o advento da Lei 12.403/2011 tal medida pode ser
imposta como alternativa à prisão preventiva do acusado,
sendo que o seu descumprimento pode ensejar a decretação
da custódia cautelar" (HC-262.103/AP, Rel. Min. Jorge Mussi,
Quinta Turma, DJe de 15/9/2014).

45.2. Não cabe HC para obter direito à visita íntima – (Info 887)

O habeas corpus não é o meio adequado para se buscar o reconhecimento do direito


a visitas íntimas. Isso porque não está envolvido no caso o direito de ir e vir.
STF. 1ª Turma. HC 138286, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/12/17 (Info 887).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João, condenado em processo criminal,
cumpre pena privativa de liberdade na penitenciária. Maria, sua esposa, deseja fazer
uma visita íntima para seu marido. Ocorre que a direção do presídio não autorizou e
permitiu apenas que Maria tenha contato indireto com seu cônjuge por meio do
parlatório. Maria requereu ao juiz das execuções penais que revisse a recusa do diretor
do presídio, mas o magistrado também negou o pedido.

Diante disso, Maria impetrou um habeas corpus contra a decisão do juiz. O habeas
corpus teve êxito? NÃO. O STF entendeu que não há, neste caso, restrição ao direito
de liberdade. A decisão atacada tem natureza administrativa. Portanto, o habeas
corpus não é o meio processual adequado para discutir direito de visitas.

E se o pedido tivesse sido feito por João, haveria possibilidade de êxito? Também não.
A 2ª Turma do STF também já decidiu que o habeas corpus não é meio processual
adequado para o apenado obter autorização de visita de sua companheira no
estabelecimento prisional. STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 30/6/2015 (Info 792).

Esse é o entendimento atualmente pacífico na jurisprudência.

45.3. Não cabe habeas corpus para discutir processo criminal envolvendo o art. 28
da LD – (Info 887) – IMPORTANTE!!!

O art. 28 da LD não prevê a possibilidade de o condenado receber pena privativa


de liberdade. Assim, não existe possibilidade de que o indivíduo que responda
processo por este delito sofra restrição em sua liberdade de locomoção.
Diante disso, não é possível que a pessoa que responda processo criminal
envolvendo o art. 28 da LD impetre habeas corpus para discutir a imputação.
Não havendo ameaça à liberdade de locomoção, não cabe habeas corpus.
Em suma, o habeas corpus não é o meio adequado para discutir crime que não
enseja pena privativa de liberdade.
STF. 1ª Turma. HC 127834/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, j. 5/12/17 (Info 887).

45.4. Não cabe HC para pedir autorização de visita – (Info 871)

Não cabe habeas corpus para tutelar o direito à visita em presídio.


STF. 1ª Turma. HC 128057/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, j. 1º/8/17 (Info 871).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João, condenado em processo criminal,
cumpre pena privativa de liberdade na penitenciária. Maria, sua esposa, deseja fazer
uma visita íntima para seu marido. Ocorre que a direção do presídio não autorizou e
permitiu apenas que Maria tenha contato indireto com seu cônjuge por meio do
parlatório. Isso porque Maria possui uma prótese metálica e, em virtude disso, ela não
consegue passar pelo detector de metais. Maria requereu ao juiz das execuções penais
que revisse a recusa do diretor do presídio, mas o magistrado também negou o pedido.
Diante disso, Maria impetrou um habeas corpus contra a decisão do juiz. O habeas
corpus teve êxito? NÃO. O STF entendeu que não há, neste caso, restrição ao direito
de liberdade. A decisão atacada tem natureza administrativa. Portanto, o habeas
corpus não é o meio processual adequado para discutir direito de visitas.

E se o pedido tivesse sido feito por João, haveria possibilidade de êxito? Também não.
A 2ª Turma do STF também já decidiu que o habeas corpus não é meio processual
adequado para o apenado obter autorização de visita de sua companheira no
estabelecimento prisional. STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j.
30/6/2015 (Info 792).

45.5. Não cabimento de habeas corpus contra decisão monocrática de Ministro do


STJ – (Infos 862 e 868) – (PCGO-2017)

Em regra, não cabe habeas corpus para o STF contra decisão monocrática do
Ministro do STJ que não conhece ou denega habeas corpus que havia sido
interposto naquele Tribunal. É necessário que primeiro o impetrante exaure
(esgote), no tribunal a quo (no caso, o STJ), as vias recursais ainda cabíveis (no caso,
o agravo regimental).

Exceção: essa regra pode ser afastada em casos excepcionais, quando a decisão
atacada se mostrar teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente
contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia conceder de
ofício o habeas corpus.
STF. 1ª Turma. HC 139612/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/4/17 (Info 862).
STF. 2ª Turma. HC 143476/RJ, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min.
Ricardo Lewandowski, j. 6/6/17 (Info 868).

45.6. Não cabimento de HC contra ato de Ministro do STF – (Info 865) – (PCGO-
2017)

Não cabe habeas corpus se a impetração for ajuizada em face de decisões


monocráticas proferidas por Ministro do Supremo Tribunal Federal.
STF. Plenário. HC 115787/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli,
j. 18/5/17 (Info 865).
OBS: Caso a parte deseje impugnar decisão monocrática proferida por Ministro do
STF, o instrumento processual cabível é o agravo regimental, no prazo de 5 dias, nos
termos do art. 39 da Lei nº 8.038/90 e art. 317 do Regimento Interno do STF.

O STF é dividido em duas Turmas (1ª e 2ª), cada uma com 5 Ministros e mais o
Plenário (composto pelos 11 Ministros). Se uma das Turmas toma uma decisão
contrária ao réu, é possível impetrar habeas corpus para ser julgado pelo Plenário?
NÃO. Este entendimento encontra-se cristalizado em uma súmula:
Súmula 606-STF: Não cabe habeas corpus originário para o
Tribunal Pleno de decisão de turma, ou do plenário, proferida
em habeas corpus ou no respectivo recurso.

45.7. Não se admite habeas corpus para reexame dos pressupostos de


admissibilidade de recurso interposto no STJ – (Info 858)
Não cabe habeas corpus para reexame dos pressupostos de admissibilidade de
recurso interposto no STJ.

Ex: o STJ deu provimento ao recurso interposto pelo MP e, com isso, piorou a
situação do réu; a defesa impetra HC no STF contra o acórdão alegando que o STJ,
no recurso especial, reexaminou provas, o que é vedado pela Súmula 7 da Corte (A
pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.). Esse HC não
será conhecido pelo STF porque o impetrante busca questionar os pressupostos de
admissibilidade do Resp.
STF. 2ª Turma. HC 138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 21/3/17 (Info 858).

45.8. Possibilidade de decisão do HC de forma monocrática pelo Ministro Relator –


(Info 857)

É possível que o Ministro Relator do STJ ou do STF decida monocraticamente o


habeas corpus nas hipóteses autorizadas pelo regimento interno?
 Precedente divulgado no Info 857: NÃO. Cabe ao colegiado o julgamento
de habeas corpus.
 Posição majoritária no STF: SIM. O Ministro Relator pode decidir
monocraticamente habeas corpus nas hipóteses autorizadas pelo regimento
interno, sem que isso configure violação ao princípio da colegialidade.
Nesse sentido: STF. 1ª Turma. HC 137265 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso,
j. 07/03/17; STF. 2ª Turma. HC 131550 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j.
15/12/15.
STF. 1ª Turma. HC 120496/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/3/17 (Info 857).
OBS:
O que é habeas corpus substitutivo? O habeas corpus substitutivo ocorre quando o
impetrante, em vez de interpor o recurso cabível contra a decisão, opta por questioná-
la ajuizando novo habeas corpus, dirigido à instância superior.

Exemplo: O Ministério Público ofereceu denúncia contra João. O juiz recebeu a


denúncia. Contra a decisão que recebe a denúncia não cabe recurso, razão pela qual a
defesa impetrou habeas corpus para o Tribunal de Justiça. O TJ denegou a ordem
(rejeitou o pedido contido no HC). Contra a decisão do TJ seria cabível recurso
ordinário para o STJ, conforme previsto no art. 105, II, "a", da CF/88. Ocorre que, em
vez de interpor este recurso, a defesa impetrou novo habeas corpus, desta vez no STJ
pedindo o “trancamento” da ação penal instaurada. Este writ proposto no STJ é
considerado um habeas corpus substitutivo. Na prática, os advogados e Defensores
Públicos preferem valer-se do HC substitutivo por ser este mais simples e rápido que
o recurso.

A jurisprudência admite o “habeas corpus substitutivo”? Trata-se de tema


extremamente polêmico:
 STJ e 1ª Turma do STF: NÃO admitem. Sustentam que não é possível a
impetração de habeas corpus substitutivo de recurso próprio. No entanto, se a
ilegalidade exposta for flagrante, ou então a decisão combatida for
teratológica, é possível que Tribunal conceda habeas corpus de ofício.
 2ª Turma do STF: ADMITE.
Voltando ao nosso exemplo: Chegando o HC no STJ, foi sorteado um Ministro para
ser o relator. Em regra, o Ministro Relator deverá analisar o HC, preparar um relatório
e um voto e levar o processo para ser analisado pela Turma da qual ele faz parte.
Assim, o Ministro Relator leva seu voto e os demais Ministros que compõem a Turma
decidem se acompanham o entendimento ou se abrem divergência, apresentando
outra decisão. Suponhamos, no entanto, que este Ministro Relator, monocraticamente,
ou seja, sozinho, sem levar o processo para a Turma, decidiu não conhecer do pedido
feito pela defesa argumentando que o HC foi utilizado como substitutivo de recurso
ordinário e que isso não é admitido.

Apenas para ficar mais fácil visualizar, imagine que a decisão monocrática do Ministro
tenha sido esta:
"Trata-se de habeas corpus impetrado em lugar do recurso
próprio, situação na qual se impõe o não conhecimento da
impetração.
Vale ressaltar que, constatada a existência de ilegalidade
flagrante, nada impede que seja deferido habeas corpus de ofício,
como forma de fazer cessar o constrangimento ilegal.
No presente caso, contudo, não vislumbro qualquer
ilegalidade considerando que o Tribunal de origem decidiu conforme
a jurisprudência...
Ante o exposto, não conheço do habeas corpus."

Qual foi o fundamento invocado para que o Ministro do STJ decidisse


monocraticamente? O art. 34, XVIII, do Regimento Interno do STJ:
Art. 34. São atribuições do relator:
XVIII - negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente
intempestivo, incabível, improcedente, contrário a súmula do
Tribunal, ou quando for evidente a incompetência deste.

O STF concordou com o procedimento adotado pelo Ministro do STJ? É possível que
o Ministro do STJ, monocraticamente, decida não conhecer do habeas corpus
impetrado naquele Tribunal (sem levar o processo para colegiado)? Pode isso? Aqui
temos uma polêmica. No caso concreto que foi divulgado no Info 857, a 1ª Turma do
STF decidiu que o Ministro do STJ não poderia ter decidido o habeas corpus de forma
monocrática e que isso violaria o princípio da colegialidade. Existem outros julgados
mais antigos com o mesmo entendimento:
(...) A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é no
sentido de não caber ao Relator examinar o mérito da causa
para negar seguimento ao habeas corpus, sob pena de
indevida ofensa ao princípio da colegialidade. 3. Habeas
corpus não conhecido. Concessão da ordem de ofício para
cassar a decisão questionada e determinar a apreciação do
mérito pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça.
STJ. 2ª Turma. HC 116499, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 03/12/2013.

Ocorre que existem inúmeros outros precedentes em sentido diverso, ou seja,


afirmando que é possível sim que o Ministro Relator decida monocraticamente habeas
corpus, conforme autoriza o regimento interno. Nesse sentido:
(...) 2. A jurisprudência consolidada da Primeira Turma do
Supremo Tribunal Federal não admite a impetração de habeas
corpus em substituição ao recurso extraordinário, previsto no
art. 102, III, da Constituição Federal (HC 110.055, Rel. Min.
Marco Aurélio; HC 106.158, Rel. Min. Dias Toffoli; e HC
118.568, Rel.ª Min.ª Rosa Weber).
3. Inexiste violação ao princípio da colegialidade na utilização,
pelo Ministro relator, das faculdades previstas nos arts. 38 da
Lei nº 8.038/1990 (atualmente revogado pela Lei nº
13.105/2015) e no art. 21, § 1º, do RI/STF (...)
STF. 1ª Turma. HC 137265 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, j.
07/03/2017.

(...) Não há falar em ofensa ao princípio da colegialidade, já


que a viabilidade do julgamento por decisão monocrática do
relator se legitima quando se tratar de pedido manifestamente
inadmissível, improcedente ou contrário à jurisprudência
dominante ou a Súmula do Tribunal (art. 21, § 1º, do RISTF).
(...)
STF. 2ª Turma. HC 136751 AgR, Re. Min. Teori Zavascki,
julgado em 18/11/2016.

Além disso, no exemplo que demos acima, a defesa, em vez de ter impetrado novo
habeas corpus no STF, deveria ter interposto agravo regimental contra a decisão do
Ministro do STJ, recurso que seria julgado por uma das Turmas criminais do STJ. Em
situações assim normalmente o STF nem conhece do HC:
(...) 3. Decisão monocrática do STJ. Ausência de interposição
de agravo regimental. Não exaurimento da jurisdição e
inobservância ao princípio da colegialidade. Precedentes. (...)
STF. 2ª Turma. HC 131550 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 15/12/2015.

Em suma, é possível que o Ministro Relator decida monocraticamente o habeas corpus


nas hipóteses autorizadas pelo regimento interno?
 Precedente divulgado no Info 857: NÃO. Cabe ao colegiado o julgamento de
habeas corpus. STF. 1ª Turma. HC 120496/MS, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 14/3/2017 (Info 857).
 Posição majoritária no STF: SIM. O Ministro Relator pode decidir
monocraticamente habeas corpus nas hipóteses autorizadas pelo regimento
interno, sem que isso configure violação ao princípio da colegialidade.

45.9. Nulidade cujo tema não foi trazido antes do trânsito em julgado – (Info 837)

Não se admite habeas corpus para se questionar nulidade cujo tema não foi trazido
antes do trânsito em julgado da ação originária e tampouco antes do trânsito em
julgado da revisão criminal.
A nulidade não suscitada no momento oportuno é impassível de ser arguida através
de habeas corpus, no afã de superar a preclusão, sob pena de transformar o writ em
sucedâneo da revisão criminal.
STF. 1ª Turma. RHC 124041/GO, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, j. 30/8/2016 (Info 837).
45.10. Não cabimento de HC para trancar impeachment – (Info 830) –
IMPORTANTE!!!

Habeas corpus não é o instrumento adequado para pleitear trancamento de


processo de impeachment.
A finalidade constitucional do habeas corpus é a da proteção do indivíduo contra
qualquer ato limitativo ao direito de locomoção (art. 5º, LXVIII, da CF/88).
O processo de impeachment pode resultar na aplicação de sanções de natureza
político-administrativa.
Dessa forma, ao se impetrar um HC contra o processo de impeachment, o que se
está fazendo é buscando proteger o exercício de direitos políticos e não o direito de
ir e vir.
STF. Plenário. HC 134315 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 16/6/16 (Info 830).

45.11. HC não é meio processual adequado para se discutir direito de visita a preso –
(Info 827 e 792)

Não cabe habeas corpus contra decisão que negou direito de familiar de preso
internado em unidade prisional de com ele ter encontro direto, autorizando apenas
a visita por meio do parlatório.
STF. 2ª Turma. HC 133305/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 24/5/16 (Info 827).
No mesmo sentido, vide STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 30/6/2015 (Info 792).

45.12. Inviabilidade de HC para se discutir se houve dolo eventual ou culpa


consciente em homicídio praticado na direção de veículo automotor – (Infos 826 e 819)

É incabível a utilização do “habeas corpus” com a finalidade de se obter a


desclassificação de imputação de homicídio doloso, na modalidade dolo eventual,
para homicídio culposo, na hipótese em que apurada a prática de homicídio na
direção de veículo automotor. Isso porque os limites estreitos dessa via processual
impossibilitam a análise apurada do elemento subjetivo do tipo penal para que se
possa afirmar que a conduta do réu foi pautada por dolo eventual ou pela culpa
consciente.
Em outras palavras, não cabe HC para se discutir se houve dolo eventual ou culpa
consciente em homicídio praticado na direção de veículo automotor.
STF. 1ª Turma. HC 131029/RJ, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 17/5/2016 (Info 826).
STF. 2ª Turma. HC 132036/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 29/3/2016 (Info
819).
OBS: Para fins de concurso, guarde o que foi decidido acima porque poderá ser
cobrado desta forma na prova. No entanto, apenas a título de curiosidade, saiba que,
na prática, o STF já admitiu habeas corpus para decidir este tema em outras
oportunidades. Exemplo disso é o STF. 2ª Turma. HC 113598/PE, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 15/12/2015 (Info 812).

45.13. Não cabimento de HC contra ato de Ministro do STF – (Info 814) –


IMPORTANTE!!! Atualize o Info 796-STF
NÃO é cabível habeas corpus em face de decisão monocrática proferida por
Ministro do STF.
STF. Plenário. HC 105959/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Edson Fachin, julgado em 17/2/2016 (Info 814).
OBS1: Caso a parte deseje impugnar decisão monocrática proferida por Ministro do
STF, o instrumento processual cabível é o agravo regimental, no prazo de 5 dias, nos
termos do art. 39 da Lei nº 8.038/90 e art. 317 do Regimento Interno do STF.

OBS2: Atualize o Info 796 do STF porque no HC 127483/PR ali noticiado a Corte havia
admitido o tema, mas agora voltou atrás. O que vale é esta última decisão (HC
105959/DF). Assim, NÃO cabe HC em face de decisão monocrática proferida por
Ministro do STF.

45.14. Não cabimento para reexame dos pressupostos de admissibilidade dos


recursos – (Info 810) – IMPORTANTE!!!

Não é cabível habeas corpus para o reexame dos pressupostos de admissibilidade


dos recursos. A jurisprudência admite o “habeas corpus substitutivo”?
• STJ e 1ª Turma do STF: NÃO (mas pode ser conhecido habeas corpus de ofício).
• 2ª Turma do STF: SIM.
STF. 1ª Turma. HC 114293/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Edson Fachin, julgado em 1º/12./2015 (Info 810).

45.15. Pedido para autorização de visita – (Info 792)

O habeas corpus não é meio processual adequado para o apenado obter autorização
de visita de sua companheira no estabelecimento prisional.
STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/6/2015 (Info
792).

45.16. Proibição da reformatio in pejus – (Info 791)

A proibição da “reformatio in pejus”, princípio imanente ao processo penal, aplica-


se ao “habeas corpus”, cujo manejo jamais poderá agravar a situação jurídica
daquele a quem busca favorecer.
STF. 2ª Turma. HC 126869/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/6/2015 (Info
791).

45.17. Desnecessidade de prequestionamento em HC – (Info 778)

O réu impetrou habeas corpus contra determinada decisão do TRF.


O STJ não conheceu da impetração afirmando que a tese alegada no habeas corpus
não foi previamente enfrentada pelo TRF. Assim, para o STJ, somente após o
Tribunal enfrentar e rechaçar essa tese é que a defesa poderia impetrar HC
questionando a decisão.
O entendimento do STJ foi correto?
NÃO. É desnecessária a prévia discussão acerca de matéria objeto de habeas corpus
impetrado originariamente no STJ, quando a coação ilegal ou o abuso de poder
advierem de ato de TRF no exercício de sua competência penal originária.
Ao fazer essa exigência, o STJ está impondo para o habeas corpus o requisito do
“prequestionamento”, que somente é aplicável nos casos de recurso especial ou
recurso extraordinário.
STF. 1ª Turma. RHC 118622/ES, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/3/2015
(Info 778).

45.18. Não cabimento de HC quando não está em jogo a liberdade de locomoção –


(Info 753)

Não cabe habeas corpus contra a decisão do juiz que nega o pedido do réu preso
(que é advogado) para que atue sozinho em seu processo criminal. No caso, o juiz
determinou que esse réu/advogado deverá atuar em conjunto com outro causídico
nomeado pelo juízo em virtude de ele se encontrar preso, o que dificultaria a
realização da defesa.
Segundo o STF, o HC não é o instrumento processual adequado a postular o direito
de exercer a autodefesa técnica, uma vez que não está em jogo a liberdade de
locomoção do paciente.
STF. 2ª Turma. HC 122382/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 5/8/14 (Info 753).

45.19. (In)dispensabilidade de capacidade postulatória para recurso ordinário em HC


– (Info 747)

A pessoa, sem ter capacidade postulatória, impetra um HC e este é negado. Essa


mesma pessoa poderá ingressar com recurso contra a decisão? Para se interpor o
recurso contra a decisão denegatória do HC, a capacidade postulatória também é
dispensada?
 1ª Turma do STF: SIM
 2ª Turma do STF e STJ: NÃO.

STF. 1ª Turma. HC 102836 AgR, Relator p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, j. 08/11/11.
STF. 2ª Turma. RHC 121722/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/5/14 (Info
747)
STJ. 5ª Turma. AgRg no Ag 1431146/RO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
21/11/13.
STJ. 6ª Turma. RHC 42.925/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 08/05/2014

45.20. HABEAS CORPUS IMPETRADO NO ÂMBITO DE PROCESSO DE


REVISÃO CRIMINAL – (Info 733)

I – Em se tratando de habeas corpus impetrado no âmbito de processo de revisão


criminal, a controvérsia deve ser examinada e decidida à luz e nos limites admitidos
para a revisão de sentenças, estabelecidos no art. 621 do CPP. A ação de habeas
corpus não se mostra adequada para formular pretensões que ultrapassem esses
limites, ampliando as hipóteses de revisão criminal.
II – É inviável a discussão sobre eventual impedimento ou suspeição de magistrado
ou membro do Ministério Público na via estreita desse habeas corpus por envolver
aprofundada análise de elementos fático-probatórios.
III – Fica afastada a tese de delito único, se os autos evidenciam a continuidade
delitiva. Ainda que se trate de apenas um único contrato de fornecimento de
refeições por determinado prazo, o certo é que um novo crime de desvio de
dinheiro público se consumou a cada nota fiscal emitida pela empresa do corréu
sem a devida entrega das refeições à Prefeitura.
STF. 2ª Turma. RHC 116947/SP, rel. Min. Teori Zavascki, j. 18/12/13 (Info 733).

46. RECLAMAÇÃO E HABEAS CORPUS


46.1. Reclamação não é atalho processual destinado a submeter o processo ao STF
per saltum. A regra prevista no art. 654, § 2º, do CPP não dispensa a observância do
quadro de distribuição constitucional das competências para conhecer do “habeas
corpus” – (Info 854)

Neste julgado, duas conclusões devem ser destacadas:


I - A reclamação ao STF somente é cabível se houver necessidade de preservação da
competência da Corte ou para garantia da autoridade de suas decisões (art. 102, I,
“l”, da CF/88). A reclamação não se destina a funcionar como sucedâneo recursal
("substituto de recurso") nem se presta a atuar como atalho processual destinado a
submeter o processo ao STF “per saltum”, ou seja, pulando-se todas as instâncias
anteriores. As competências originárias do STF se submetem ao regime de direito
estrito, não admitindo interpretação extensiva. Em outras palavras, o rol de
competências originárias do STF não pode ser alargado por meio de interpretação.
II - A regra prevista no art. 654, § 2º, do CPP não dispensa a observância do quadro
de distribuição constitucional das competências para conhecer do “habeas corpus”.
Assim, somente o órgão jurisdicional competente para a concessão da ordem a
pedido pode conceder o “writ” de ofício. Em outras palavras, o Tribunal pode
conceder habeas corpus de ofício, mas para isso acontecer é necessário que ele seja
o Tribunal competente para apreciar eventual pedido de habeas corpus relacionado
com este caso.
STF. Plenário. Rcl 25509 AgR/PR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 15/2/17 (Info 854).

47. REVISÃO CRIMINAL


47.1. Impossibilidade de reiteração de teses já apreciadas no processo originário –
(Info 772)

A revisão criminal é instrumento excepcional, não podendo ser utilizado para


reiteração de teses já vencidas pelo acórdão revisando, seja quanto a matéria de
direito, seja quanto a matéria de fato.
Em outras palavras, na revisão criminal não se pode querer rediscutir os
argumentos que já foram alegados e rejeitados durante o processo criminal.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 17/12/14 (Info 772).

48. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA


48.1. Não é possível a execução provisória de penas restritivas de direito – (Info 609)
– IMPORTANTE!!!
Não é possível a execução da pena RESTRITIVA DE DIREITOS antes do trânsito
em julgado da condenação.
Assim, é cabível execução provisória de penas privativas de liberdade, mas não de
penas restritivas de direito.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.619.087-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para
acórdão Min. Jorge Mussi, j. 14/6/17 (Info 609).
OBS:
O STF, ao modificar sua jurisprudência, e decidir que cabe a execução provisória da
pena (HC 126292/SP) analisou casos envolvendo penas privativas de liberdade,
tratando exclusivamente sobre “prisão”.
Assim, não existe ainda uma decisão do Plenário do STF afirmando que é possível a
execução provisória de penas restritivas de direito.
Diante da ausência de decisão do STF autorizando o cumprimento imediato, o STJ
entendeu que se deveria continuar adotando a posição tradicional segundo a qual
não cabe execução provisória de penas restritivas de direito.
Vale ressaltar, inclusive, que existe expressa previsão na Lei de Execuções Penais (Lei
nº 7.210/84) exigindo o prévio trânsito em julgado. Confira:
Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena
restritiva de direitos, o Juiz da execução, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, promoverá a execução,
podendo, para tanto, requisitar, quando necessário, a
colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares.

Dessa forma, o STJ entende que, até que haja a declaração de inconstitucionalidade
do art. 147 da LEP, não se pode afastar sua incidência, sob pena de violação literal à
disposição expressa de lei (STJ. 5ª Turma. AgRg na PetExe no AREsp 971.249/SP, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/03/2017).

48.2. Não cabimento de habeas corpus contra decisão do Ministro do STJ que nega
a liminar em ação cautelar – (Info 872)

Não cabe habeas corpus para o STF contra decisão monocrática do Ministro do STJ
que negou o pedido da defesa formulado em ação cautelar (medida cautelar)
proposta com o objetivo de conferir efeito suspensivo ao recurso especial. Incide,
no caso, o óbice previsto na Súmula 691 do STF.
STF. 1ª Turma. HC 138633/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, j. 8/8/17 (Info 872).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a uma pena de 8 anos de
reclusão, tendo sido a ele assegurado na sentença o direito de recorrer em liberdade.
O réu interpôs apelação, mas o Tribunal de Justiça manteve a condenação. O TJ
determinou a expedição de mandado de prisão contra João e o início da execução
provisória da pena. Contra o acórdão do TJ, João interpôs recurso especial. Além disso,
a defesa do réu ingressou com ação cautelar no STJ para dar efeito suspensivo ao
recurso especial e, assim, impedir o início da execução provisória da pena. Em outras
palavras, a defesa afirmou o seguinte: eu sei que é possível dar início à execução
provisória da pena conforme o novo entendimento do STF. No entanto, no presente
caso, existe uma manifesta ilegalidade, de forma que se deve dar efeito suspensivo ao
Resp para que o réu aguarde em liberdade o julgamento do recurso. No STJ, o Ministro
Relator da medida cautelar, monocraticamente, indeferiu o pedido de liminar por não
vislumbrar, em sede de cognição sumária, manifesta ilegalidade a ensejar o seu
deferimento. A defesa impetrou, então, habeas corpus para o STF contra essa decisão
do Ministro do STJ.

O habeas corpus terá êxito? NÃO. Em regra, não cabe habeas corpus para o STF contra
decisão monocrática do Ministro do STJ. Aplica-se aqui o raciocínio da súmula 691 do
STF:
Súmula 691-STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal
conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do
Relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior,
indefere a liminar.

Exceções: A regra acima exposta pode ser afastada em casos excepcionais, quando a
decisão atacada se mostrar teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou
manifestamente contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia
conceder de ofício o habeas corpus.

Por que não cabe? O que a defesa deveria fazer? O STF entende que não cabe HC
porque não se exauriu a apreciação do tema no STJ. Assim, a defesa, em vez de
impetrar habeas corpus no STF, deve interpor agravo regimental contra a decisão do
Ministro do STJ, recurso a ser julgado pela 5ª ou 6ª Turmas do STJ (art. 258 do RISTJ).
Dessa forma, o exaurimento da instância antecedente é, como regra, pressuposto para
ensejar a competência do STF.

48.3. É possível o início da execução da pena condenatória após a prolação de


acórdão condenatório em 2º grau – (Info 842) – IMPORTANTE!!!

A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de


apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não ofende o
princípio constitucional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88) e não
viola o texto do art. 283 do CPP.
STF. Plenário. ADC 43 e 44 MC/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Edson Fachin, j. 05/10/16 (Info 842).
OBS:
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito
ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, em decorrência de sentença condenatória
transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão
preventiva. (Redação dada pela Lei nº 12.403/2011).

Os arts. 995 e 1.029, § 5º, do CPC/2015 preveem que, em regra, os recursos especial e
extraordinário possuem efeito meramente devolutivo. Em casos excepcionais, será
possível atribuir efeito suspensivo a esses recursos, especialmente se ficar constatada
a existência de teratologia ou abuso de poder. Apesar de estar prevista no CPC, esta
regra vale também para processos criminais.

As decisões judiciais que forem impugnadas por recursos que não têm efeito
suspensivo possuem eficácia imediata. Assim, após esgotadas as instâncias ordinárias,
a condenação criminal poderá provisoriamente surtir efeito imediato do
encarceramento, uma vez que o acesso às instâncias extraordinárias se dá por meio de
recursos que são ordinariamente dotados de efeito meramente devolutivo.

O STF não concordou com a tese de que o art. 283 do CPP, com a redação dada pela
Lei nº 12.403/2011, tenha revogado todas as espécies de prisão, com exceção daquelas
que foram expressamente nele mencionadas, ou seja, prisão em flagrante, temporária,
preventiva e decorrente de sentença condenatória transitada em julgado. Isso porque,
apesar de a redação do art. 283 ser posterior ao restante do CPP, não se pode levar em
consideração apenas o critério temporal para solução de antinomias.

Além disso, ainda que se leve em conta o critério temporal, é preciso lembrar que o
CPC/2015 é posterior ao art. 283 do CPP e os arts. 995 e 1.029, § 5º, do CPC determinam
que os recursos especial e extraordinário não possuem efeito suspensivo.

Portanto, não há antinomia entre o que dispõe o art. 283 do CPP e a regra que confere
eficácia imediata aos acórdãos proferidos por tribunais de apelação ("tribunais de 2º
grau julgando apelação").

Como votaram os Ministros:


 Votaram a favor da execução provisória da pena 6 Ministros: Teori Zavascki,
Edson Fachin, Roberto Barroso, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes.
 Ficaram vencidos 4 Ministros: Rosa Weber, Marco Aurélio, Celso de Mello e
Ricardo Lewandowski.

O Min. Dias Toffoli, no julgamento do HC 126292/SP havia votado pela possibilidade


de execução provisória da pena. No julgamento das ADCs 43 e 44 MC/DF, ele mudou
parcialmente de posição. Para ele, não deveria haver execução provisória da pena caso
o réu tivesse interposto recurso especial contra o acórdão do TJ/TRF questionando a
culpa. Em outras palavras, não deveria haver execução provisória da pena enquanto
estivesse pendente recurso especial no STJ questionando a "culpa" (aqui empregada
em sentido amplo, ou seja, no sentido de ter ou não cometido o crime).

O entendimento acima é aplicado aos processos que já estão em andamento, inclusive


com condenações proferidas? SIM. Apesar de ter havido uma brutal alteração da
jurisprudência do STF, não houve modulação dos efeitos (pelo menos até agora).
Dessa forma, o entendimento proferido tem plena aplicabilidade, considerando que,
para o STF, não existe proibição de se aplicar nova jurisprudência a casos em
andamento, mesmo que mais prejudiciais ao réu, salvo se houver modulação dos
efeitos. O Min. Fachin, por exemplo, afirmou isso expressamente entendendo que a
regra da irretroatividade só se aplica às leis penais, mas não à jurisprudência.

Medida cautelar no recurso especial ou recurso extraordinário ou HC: Vale ressaltar


que o réu condenado que interpuser recurso especial ou recurso extraordinário poderá
tentar evitar a execução provisória da pena. Para isso, deverá propor uma medida
cautelar pedindo que seja conferido efeito suspensivo ao recurso, nos termos do art.
1.029, § 5º do CPC 2015. Outra opção é a defesa, após interpor o RE ou REsp, impetrar
habeas corpus pedindo que o STJ ou STF suspenda o cumprimento da pena enquanto
se aguarda o julgamento do recurso. Importante esclarecer que a concessão desta
medida cautelar ou de liminar no HC só ocorrerá em casos excepcionais, em que ficar
evidentemente constatada alguma ilegalidade flagrante ou injustiça praticada no
acórdão condenatório.
48.4. É possível o início da execução da pena condenatória após a prolação de
acórdão condenatório em 2º grau – (Info 814) – IMPORTANTE!!!

A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de


apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o
princípio constitucional da presunção de inocência.
Em outras palavras, é possível o início da execução da pena condenatória após a
prolação de acórdão condenatório em 2º grau e isso não ofende o princípio
constitucional da presunção da inocência.
STF. Plenário. HC 126292/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 17/2/2016 (Info 814).
OBS1: É possível o início da execução da pena condenatória após a prolação de
acórdão condenatório em 2º grau e isso não ofende o princípio constitucional da
presunção da inocência. O recurso especial e o recurso extraordinário não possuem
efeito suspensivo (art. 637 do CPP e art. 27, § 2º da Lei nº 8038/90). Isso significa que,
mesmo a parte tendo interposto algum desses recursos, a decisão recorrida continua
produzindo efeitos. Logo, é possível a execução provisória da decisão recorrida
enquanto se aguarda o julgamento do recurso.

OBS2: O Min. Teori Zavascki defendeu que, até que seja prolatada a sentença penal,
confirmada em 2º grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas, após esse momento,
exaure-se o princípio da não culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da decisão
de segundo grau ao STJ ou STF não se prestam a discutir fatos e provas, mas apenas
matéria de direito.

OBS3: É possível o estabelecimento de determinados limites ao princípio da


presunção de não culpabilidade. Assim, a presunção da inocência não impede que,
mesmo antes do trânsito em julgado, o acórdão condenatório produza efeitos contra
o acusado. A execução da pena na pendência de recursos de natureza extraordinária
não compromete o núcleo essencial do pressuposto da não culpabilidade, desde que
o acusado tenha sido tratado como inocente no curso de todo o processo ordinário
criminal, observados os direitos e as garantias a ele inerentes, bem como respeitadas
as regras probatórias e o modelo acusatório atual.

OBS4: Há o exemplo recente da LC 135/10 - Lei da Ficha Limpa, que, em seu art. 1º,
I, expressamente consagra como causa de inelegibilidade a existência de sentença
condenatória por crimes nela relacionados, quando proferidas por órgão colegiado. A
presunção de inocência não impede que, mesmo antes do trânsito em julgado, o
acórdão condenatório produza efeitos contra o acusado.

OBS5: É necessário equilibrar o princípio da presunção de inocência com a efetividade


da função jurisdicional penal. Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas os
interesses dos acusados, como também da sociedade diante da realidade do intrincado
e complexo sistema de justiça criminal brasileiro. O Ministro Teori, citando a ex-
Ministra Ellen Gracie (HC 85.886) afirmou que “em país nenhum do mundo, depois
de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa
aguardando referendo da Suprema Corte”.

OBS6: Para que seja iniciado o cumprimento da pena, é necessário que o réu tenha
sido condenado em 1ª instância (pelo juiz) e esta sentença tenha sido confirmada pelo
Tribunal (2ª instância) ou ele poderá ser obrigado a cumprir a pena mesmo que o juiz
o tenha absolvido e o Tribunal reformado a sentença para condená-lo? Para início do
cumprimento provisório da pena o que interessa é que exista um acórdão de 2º grau
condenando o réu, ainda que ele tenha sido absolvido pelo juiz em 1ª instância. Para
o início da execução provisória não se exige dupla condenação (1ª e 2ª instâncias), mas
apenas que exista condenação em apelação e a interposição de recursos sem efeito
suspensivo.

OBS7: Imagine que o réu, após ser condenado pelo Tribunal em apelação, iniciou o
cumprimento provisório da pena (foi para a prisão). O STF, ao julgar o recurso
extraordinário, concorda com os argumentos da defesa e absolve o réu. Ele terá direito
de ser indenizado pelo período em que ficou preso indevidamente? Segundo a
jurisprudência atual, a resposta é, em regra, não há direito à indenização. Se formos
aplicar, por analogia, a jurisprudência atual sobre prisão preventiva, o que os
Tribunais afirmam é que se a pessoa foi presa preventivamente e depois, ao final,
restou absolvida, ela não terá direito, em regra, à indenização por danos morais, salvo
situações excepcionais.

OBS8: A decisão do STF proferida no HC 126292/SP acima explicado é vinculante?


Tecnicamente, não. A decisão foi tomada pelo Plenário da Corte em um habeas corpus,
de forma que não goza de efeito vinculante. No entanto, na prática, o entendimento
será obrigatoriamente adotado. Isso porque, ainda que o TJ ou o TRF que condenarem
o réu não impuserem o início do cumprimento da pena, o Ministro Relator do recurso
extraordinário no STF irá fazê-lo. Na prática, mesmo os Tribunais que tinham
posicionamento em sentido contrário acabarão se curvando à posição do STF.

OBS9: O entendimento acima é aplicado aos processos que já estão em andamento,


inclusive com condenações proferidas? SIM. Apesar de ter havido uma brutal
alteração da jurisprudência do STF, não houve modulação dos efeitos (pelo menos até
agora). O entendimento proferido tem plena aplicabilidade, considerando que, para o
STF, não existe proibição de se aplicar nova jurisprudência a casos em andamento,
mesmo que mais prejudiciais ao réu, salvo se houver modulação dos efeitos.

OBS10: Medida cautelar no recurso especial ou recurso extraordinário ou HC: O réu


condenado que interpuser recurso especial ou extraordinário poderá tentar evitar a
execução provisória da pena. Para isso, deverá propor uma medida cautelar pedindo
que seja conferido efeito suspensivo ao recurso, nos termos do art. 1.029, § 5º do CPC
2015. Outra opção é a defesa, após interpor o RE ou REsp, impetrar habeas corpus
pedindo que o STJ ou STF suspenda o cumprimento da pena enquanto se aguarda o
julgamento do recurso. Importante esclarecer que a concessão desta medida cautelar
ou de liminar no HC só ocorrerá em casos excepcionais, em que ficar evidentemente
constatada alguma ilegalidade flagrante ou injustiça praticada no acórdão
condenatório.

• Votaram a favor da execução provisória da pena 7 Ministros: Teori Zavascki, Edson


Fachin, Roberto Barroso, Luiz Fux, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes.
• Ficaram vencidos 4 Ministros: Rosa Weber, Marco Aurélio, Celso de Mello e Ricardo
Lewandowski.

49. EXECUÇÃO PENAL


49.1. Não viola a SV 56 a situação do condenado ao regime semiaberto que está
cumprindo pena em presídio do regime fechado, mas em uma ala destinada aos presos
do semiaberto – (Info 861)

João foi condenado a pena em regime semiaberto. Diante da falta de vagas em


colônia agrícola ou industrial, ele se encontra cumprindo a reprimenda em um
presídio do regime fechado. Vale ressaltar, contudo, que neste presídio existe uma
ala destinada somente aos sentenciados dos regimes semiaberto e aberto,
concedendo-lhes os benefícios próprios destes regimes.
João encontra-se preso justamente nesta ala do presídio.
A situação de João viola a SV 56 ("A falta de estabelecimento penal adequado não
autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-
se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.")?
NÃO. Segundo o STF decidiu no RE 641.320, "os juízes da execução penal podem
avaliar os estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e aberto, para
qualificação como adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que
não se qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa
de albergado ou estabelecimento adequado” (regime aberto) (art. 33, §1º, “b” e “c”, do
CP). No entanto, não deverá haver alojamento conjunto de presos dos regimes
semiaberto e aberto com presos do regime fechado."
Assim, os presos do regime semiaberto podem ficar em outra unidade prisional
que não seja colônia agrícola ou industrial, desde que se trate de estabelecimento
similar (adequado às características do semiaberto).
No caso de João, embora o presídio onde ele está não seja efetivamente uma colônia
penal agrícola, esse estabelecimento preenche, na medida do possível, as condições
do regime semiaberto, inclusive dando condições para que internos se ausentem
nas ocasiões legalmente previstas.
STF. 2ª Turma. Rcl 25123/SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 18/4/2017 (Info
861).
OBS:
Regimes de cumprimento de pena: Pela Lei (Código Penal e Lei 7.210/84), existem três
regimes de cumprimento de pena que seguem às seguintes regras:
FECHADO SEMIABERTO ABERTO
A pena é cumprida na A pena é cumprida em A pena é cumprida na
Penitenciária. colônia agrícola, Casa do Albergado ou
industrial ou estabelecimento
Obs.: apesar de, na estabelecimento similar adequado (art. 33, § 1º, "c",
prática, isso ser (art. 33, § 1º, "b", CP). CP).
desvirtuado, a chamada A Casa do Albergado
Cadeia Pública destina-se deverá estar localizada
apenas ao recolhimento em centro urbano,
de presos provisórios (art. separado dos demais
102, LEP), considerando estabelecimentos
que as pessoas presas prisionais, e caracteriza-se
provisoriamente devem pela ausência de
ficar separadas das que já obstáculos físicos contra a
tiverem sido fuga. Isso porque o regime
definitivamente aberto baseia-se na
condenadas (art. 300, autodisciplina e senso de
CPP). responsabilidade.
O condenado fica sujeito a O condenado fica sujeito a Durante o dia, o
trabalho, dentro da trabalho, dentro da condenado trabalha,
própria Penitenciária, no colônia, durante o período frequenta cursos ou
período diurno, e a diurno. realiza outras atividades
isolamento durante o autorizadas, fora do
repouso noturno. estabelecimento e sem
vigilância.
Durante o período
noturno e nos dias de
folga, permanece
recolhido na Casa do
Albergado.

Na prática, contudo, é muito comum que não existam colônias agrícolas e industriais
e casas de albergado, unidades prisionais previstas na Lei como sendo as adequadas
para o cumprimento da pena nos regimes semiaberto e aberto.

O STF debateu este tema no RE 641.320/RS e editou uma Súmula Vinculante sobre o
tema:
Súmula vinculante 56: A falta de estabelecimento penal
adequado não autoriza a manutenção do condenado em
regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa
hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.

E quais foram os parâmetros fixados no RE 641.320?


a) A falta de estabelecimento penal adequado não
autoriza a manutenção do condenado em regime prisional
mais gravoso;
b) Os juízes da execução penal poderão avaliar os
estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e
aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São
aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como
“colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa
de albergado ou estabelecimento adequado” (regime aberto)
(art. 33, §1º, alíneas “b” e “c”, do CP);
c) Havendo déficit de vagas, deverá determinar-se:
(i) a saída antecipada de sentenciado no regime
com falta de vagas;
(ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao
sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão
domiciliar por falta de vagas;
(iii) (iii) o cumprimento de penas restritivas de
direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime
aberto;
d) Até que sejam estruturadas as medidas
alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão
domiciliar ao sentenciado.
STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 11/5/2016 (repercussão geral) (Info 825).

Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação: João foi condenado a cumprir
pena em regime semiaberto. Diante da falta de vagas em colônia agrícola ou industrial,
João encontra-se cumprindo pena no presídio destinado ao regime fechado. Vale
ressaltar, contudo, que neste presídio existe uma ala destinada somente aos
sentenciados do regime semiaberto e aberto, concedendo-lhes os benefícios próprios
destes regimes. João encontra-se preso nesta ala do presídio. O apenado, contudo, não
se conformou com a situação e pediu ao juiz das execuções penais que, diante da
inexistência de colônia agrícola, ele tivesse direito à prisão domiciliar ou à antecipação
do regime aberto. O magistrado negou o pleito e João ingressou com reclamação no
STF alegando que a decisão violou a SV 56.

O STF concordou com a reclamação proposta? NÃO. O Código Penal, ao tratar sobre
os regimes semiaberto e aberto, prevê o seguinte:
Art. 33 (...)
§ 1º - Considera-se:
b) regime semiaberto a execução da pena em colônia
agrícola, industrial ou estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado
ou estabelecimento adequado.

Há importante discussão acerca do que vem a ser estabelecimento similar e


estabelecimento adequado. A Lei de Execuções Penais trata do tema nos arts. 91 a 95,
mas também não define em que consistem tais estabelecimentos. Na prática, existem
pouquíssimas colônias agrícolas e industriais no país. Dessa forma, alguns Estados
mantêm os presos do regime semiaberto em estabelecimentos similares, ou seja,
unidades prisionais diferentes do regime semiaberto, onde os presos possuem um
pouco mais de liberdade.
No julgamento do RE 641320, o STF decidiu que os magistrados possuem competência
para verificar, no caso concreto, se o estabelecimento onde o preso do regime
semiaberto e aberto fica pode ser enquadrado como "estabelecimento similar" ou
"estabelecimento adequado".
Assim, os presos do regime semiaberto podem ficar em outra unidade prisional que
não seja colônia agrícola ou industrial, desde que se trate de estabelecimento similar
(adequado às características do semiaberto).
De igual forma, os presos do regime aberto podem cumprir pena em outra unidade
prisional que não seja casa de albergado, desde que se trate de um estabelecimento
adequado.
Veja como o STF resumiu este entendimento em uma tese:
b) Os juízes da execução penal podem avaliar os
estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e
aberto, para qualificação como adequados a tais regimes.
São aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem
como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou
“casa de albergado ou estabelecimento adequado” (regime
aberto) (art. 33, §1º, “b” e “c”, do CP). No entanto, não deverá
haver alojamento conjunto de presos dos regimes
semiaberto e aberto com presos do regime fechado.
STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 11/5/2016 (repercussão geral) (Info 825).

No caso de João, embora o presídio onde ele está não seja efetivamente uma colônia
penal agrícola, esse estabelecimento preenche, na medida do possível, as condições do
regime semiaberto, inclusive dando condições para que internos se ausentem nas
ocasiões legalmente previstas. Diante dessa situação, a decisão do magistrado que
indeferiu o pedido de João não violou a SV 56.

49.2. Trabalho cumprido em jornada inferior ao mínimo legal pode ser aproveitado
para fins de remição caso tenha sido uma determinação da direção do presídio – (Info
860) – IMPORTANTE!!!

Segundo o art. 30 da LEP, a jornada diária de trabalho do apenado deve ser de, no
mínimo, 6 horas e, no máximo, 8 horas.
Apesar disso, se um condenado, por determinação da direção do presídio, trabalha
4 horas diárias (menos do que prevê a Lei), este período deverá ser computado para
fins de remição de pena.
Como esse trabalho do preso foi feito por orientação ou estipulação da direção do
presídio, isso gerou uma legítima expectativa de que ele fosse aproveitado, não
sendo possível que seja desprezado, sob pena de ofensa aos princípios da
segurança jurídica e da proteção da confiança.
Vale ressaltar, mais uma vez, o trabalho era cumprido com essa jornada por conta
da determinação do presídio e não por um ato de insubmissão ou de indisciplina
do preso.
STF. 2ª Turma. RHC 136509/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 4/4/2017 (Info 860).
OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE A REMIÇÃO: O art. 126 da Lei de Execuções Penais (Lei
nº 7.210/84) estabelece:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado
ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo,
parte do tempo de execução da pena.

O art. 126 da LEP trata, portanto, da remição (ato de remir).

O que é a remição? Remição é...


 o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente
 de reduzir o tempo de cumprimento da pena
 mediante o abatimento
 de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou
 de 1 dia de pena a cada 3 dias de trabalho.

É uma forma de estimular e premiar o condenado para que ocupe seu tempo com uma
atividade produtiva (trabalho ou estudo), servindo, ainda, como forma de
ressocialização e de preparação do apenado para que, quando termine de cumprir sua
pena, possa ter menos dificuldades de ingressar no mercado de trabalho.

O tempo remido será considerado como pena cumprida, para todos os efeitos (art.
128).

Obs: a remição de que trata a LEP é com “ç” (remição). Remissão (com “ss”) significa
outra coisa, qual seja, perdão, renúncia etc., sendo muito utilizada no direito civil
(direito das obrigações) para indicar o perdão do débito.

Remição pelo TRABALHO Remição pelo ESTUDO


A cada 3 dias de trabalho, diminui 1 dia A cada 12 horas de estudo, diminui 1
de pena. dia de pena.

Obs.: somente poderão ser Obs.: as 12 horas de estudo deverão ser


considerados, para fins de remição, os divididas em, no mínimo, 3 dias.
dias em que o condenado cumprir a
jornada normal de trabalho, que não
pode ser inferior a 6h nem superior a 8h
(art. 33).
Somente é aplicada se o condenado Pode ser aplicada ao condenado que
cumpre pena em regime fechado ou cumpra pena em regime fechado,
semiaberto. semiaberto, aberto ou, ainda, que esteja
em livramento condicional.
Obs.: não se aplica se o condenado
estiver cumprindo pena no regime Atenção: perceba a diferença em relação
aberto ou se estiver em livramento à remição pelo trabalho.
condicional.

É possível a remição para condenados que cumprem pena em regime aberto?


 Remição pelo trabalho: NÃO.
 Remição pelo estudo: SIM.

Outras regras importantes sobre a remição:


 As atividades de estudo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por
metodologia de ensino à distância e deverão ser certificadas pelas autoridades
educacionais competentes dos cursos frequentados (§ 2º do art. 126).
 É possível que o condenado cumule a remição pelo trabalho e pelo estudo,
desde que as horas diárias de trabalho e de estudo sejam compatíveis (§ 3º do
art. 126).
 O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos
estudos, continuará a beneficiar-se com a remição (§ 4º do art. 126).
 O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um
terço) caso o condenado consiga concluir o ensino fundamental, médio ou
superior durante o cumprimento da pena (§ 5º do art. 126).
 A remição pode ser aplicada para a pessoa presa cautelarmente (§ 7º do art.
126). Assim, se o indivíduo está preso preventivamente e decide trabalhar, esse
tempo será abatido de sua pena caso venha a ser condenado no futuro.
 A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público
e a defesa (§ 8º do art. 126).

REMIÇÃO DE PENA E JORNADA DE TRABALHO INFERIOR A 6 HORAS


Imagine a seguinte situação hipotética: João cumpria pena em regime fechado. A
administração da unidade prisional autorizou que ele trabalhasse na oficina do
presídio fazendo artesanato, de segunda a sexta-feira, com jornada diária de 4 horas.
Depois de alguns meses, João pediu a remição dos dias trabalhados. O juiz das
execuções penais indeferiu o pedido afirmando que a Lei 7.210/84 (LEP) exige que,
em caso de trabalho do preso, a jornada diária mínima seja de 6 horas. Confira o
dispositivo invocado pelo magistrado:
Art. 33. A jornada normal de trabalho não será inferior a 6
(seis) nem superior a 8 (oito) horas, com descanso nos
domingos e feriados.
Parágrafo único. Poderá ser atribuído horário especial de
trabalho aos presos designados para os serviços de
conservação e manutenção do estabelecimento penal.

Dessa forma, o dia trabalhado somente pode ser considerado, para fins de remição,
caso o preso tenha cumprido uma jornada de, no mínimo, 6 horas. João trabalhava
apenas 4 horas diárias. Logo, isso não pode ser computado como dia de trabalho para
remição.

O apenado não se conformou e o caso chegou até o STF. O que decidiu a Corte? É
possível reconhecer a remição neste caso mesmo a jornada de trabalho sendo inferior
a 4 horas diárias? SIM.

Realmente, o art. 33 da LEP estabelece que a jornada normal de trabalho do


reeducando não poderá ser inferior a 6 horas diárias. No entanto, no caso concreto, o
condenado trabalhava apenas 4 horas (jornada inferior à legal) por uma determinação
do diretor do presídio, e não por um ato de insubmissão ou de indisciplina de sua
parte.

Tratando-se de jornada de trabalho definida pela própria direção do presídio, não


há como se desprezar as horas trabalhadas, ainda que inferiores ao mínimo legal de
6 horas, em prejuízo do condenado.

Dito de outro modo, não há como se considerar que o trabalho prestado pelo preso,
por orientação ou estipulação da direção do presídio, constitua um nada jurídico,
sob pena de ofensa aos princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança.

49.3. Condenado que pratica fato definido como crime doloso deverá sofrer
regressão de regime mesmo antes do trânsito em julgado – (Info 832) –
IMPORTANTE!!!

O inciso I do art. 118 da LEP afirma que o apenado deverá regredir de regime se
"praticar fato definido como crime doloso".
Não é necessário que o juiz das execuções penais aguarde que a pessoa seja
condenada com trânsito em julgado para determinar a sua regressão.
A regressão de regime pela prática de fato definido como crime doloso, durante a
execução da pena, não depende do trânsito em julgado da condenação.
STJ. 5ª Turma. HC 333.615/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 15/10/15.
STF. Plenário. EP 8 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 1º/7/16 (Info
832).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Pedro foi condenado definitivamente e estava
cumprindo pena, no regime semiaberto, pela prática do crime 1, ocorrido em 2015. Em
2016, Pedro praticou, em tese, novo delito (crime 2) e foi denunciado pelo Ministério
Público.

O processo pelo segundo delito ainda está tramitando. Mesmo assim, isso irá
interferir na execução penal relativa ao crime 1? SIM. Haverá a regressão do
sentenciado para o regime fechado, na forma do art. 118, I, da Lei nº 7.210/84:
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará
sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer
dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;

A regressão de regime é um incidente de execução, de natureza punitiva, por meio do


qual o apenado é transferido de um regime menos grave para outro mais grave em
razão de ter incidido em uma das hipóteses previstas na LEP.

O inciso I do art. 118 afirma que haverá a regressão se o apenado praticar fato
definido como crime. É necessário que o juiz das execuções penais aguarde que a
pessoa seja condenada com trânsito em julgado para determinar a sua regressão com
base nesta hipótese? NÃO. Para que haja a regressão com fundamento neste inciso
não é necessário o trânsito em julgado quanto ao novo crime cometido, bastando a sua
prática. Este é o entendimento pacífico do STF.

49.4. Inadimplemento injustificado das parcelas da pena de multa autoriza a


regressão de regime – (Info 832)

Como regra, o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente


aplicada ao sentenciado impede a progressão no regime prisional. Em outras
palavras, a pessoa só poderá progredir se pagar a pena de multa.
Exceção: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se ficar
comprovada a absoluta impossibilidade econômica do apenado em quitar a multa,
ainda que parceladamente.
Se o juiz autorizar que o condenado pague a pena de multa parceladamente, o
apenado poderá progredir de regime, assumindo o compromisso de quitar todas as
prestações da multa.
Caso deixe de pagar injustificadamente o parcelamento, haverá a regressão de
regime.
O inadimplemento injustificado das parcelas da pena de multa autoriza a regressão
no regime prisional.
STF. Plenário. EP 16 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 1º/7/16 (Info
832).
OBS:
O condenado tem o dever jurídico (e não a faculdade) de pagar integralmente o valor
da multa. Pensar de modo diferente seria o mesmo que ignorar que esta espécie de
pena é prevista, expressamente, de forma autônoma, no art. 5º, inciso XLVI, alínea “c”
da CF/88. O não recolhimento da multa por condenado que tenha condições
econômicas de pagá-la constitui deliberado descumprimento de decisão judicial e
deve impedir a progressão de regime. Além disso, admitir-se o não pagamento da
multa configuraria tratamento privilegiado em relação ao sentenciado que
espontaneamente paga a sanção pecuniária.

Ressalte-se, ainda, que, em matéria de criminalidade econômica, a pena de multa


desempenha um papel muito relevante, sendo mais importante até mesmo que a pena
de prisão, que, nas condições atuais, é relativamente breve e não é capaz de promover
a ressocialização. Desse modo, cabe à multa a função retributiva e preventiva geral da
pena, desestimulando, no próprio infrator ou em infratores potenciais, a prática dos
crimes.
No caso concreto, a defesa não comprovou a impossibilidade do sentenciado de
cumprir a pena de multa, de forma que é incabível aplicar a ele a exceção.

O pagamento da multa está previsto no art. 112 da LEP como sendo um requisito para
a progressão? NÃO. O pagamento da multa não está previsto expressamente no art.
112 como um dos requisitos necessários para a progressão de regime. Apesar disso, o
STF entendeu que esse pagamento poderá ser exigido porque a análise dos requisitos
necessários para a progressão de regime não se restringe ao referido art. 112 da LEP.
Em outras palavras, outros elementos podem, e devem, ser considerados pelo julgador
na decisão quanto à progressão. Assim, para o STF, o julgador, atento às finalidades
da pena e de modo fundamentado, está autorizado a lançar mão de outros requisitos,
não necessariamente enunciados no art. 112 da LEP, mas extraídos do ordenamento
jurídico, para avaliar a possibilidade de progressão no regime prisional, tendo como
objetivo, sobretudo, o exame do merecimento do sentenciado.

Essa decisão não viola o art. 51 do CP, que proíbe a conversão da pena de multa em
prisão? NÃO. O art. 51 do Código Penal previa que se o condenado, deliberadamente,
deixasse de pagar a pena de multa, ela deveria ser convertida em pena de detenção.
Essa regra foi alterada pela Lei 9.268/96 e, atualmente, se a multa não for paga, ela
será considerada dívida de valor e deverá ser cobrada do condenado pela Fazenda
Pública por meio de execução fiscal. Importante esclarecer que, mesmo com essa
mudança feita pela Lei 9.268/96, a multa continua tendo caráter de sanção criminal,
ou seja, permanece sendo uma pena.

Esse entendimento não viola a regra constitucional segundo a qual não existe prisão
civil por dívida? NÃO. Não se está prendendo alguém por causa da dívida, mas
apenas impedindo que ela tenha direito à progressão de regime em virtude do
descumprimento de um dever imposto ao condenado. O benefício da progressão exige
do sentenciado “autodisciplina e senso de responsabilidade” (art. 114, II da LEP), o
que pressupõe o cumprimento das decisões judiciais que a ele são aplicadas.

Mais um novo requisito objetivo: Desse modo, o STF “cria” um novo requisito
objetivo para a progressão de regime: o apenado deverá pagar integralmente o valor
da multa que foi imposta na condenação ou, então, provar a sua absoluta
impossibilidade econômica em quitar a multa, ainda que parceladamente.

49.5. Calendário de saídas temporárias (saídas temporárias automatizadas) – (Infos


793 e 831)

Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve ser
formulado um pedido ao juiz que, então, ouve o MP e a administração
penitenciária, e, após, decide.
Em algumas partes do Brasil, no entanto, como é o caso do RJ, os juízes da execução
penal adotaram um procedimento para simplificar a concessão dessas saídas
temporárias.
Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz ouve
o MP e o diretor do Presídio, e, se estiverem preenchidos os requisitos, concede o
benefício. No entanto, nesta primeira decisão o juiz já fixa um calendário de saídas
temporárias.
Desse modo, após o juiz deferir o benefício para o apenado nesta primeira vez, as
novas saídas temporárias deste mesmo reeducando não mais precisarão ser
analisadas pelo juiz e pelo MP, sendo concedidas automaticamente pela direção do
Presídio, desde que a situação disciplinar do condenado permaneça a mesma, ou
seja, que ele tenha mantido o comportamento adequado no cumprimento da pena.
Se cometer falta grave, por exemplo, é revogado o benefício. A esse procedimento
simplificado deu-se o nome de “saída temporária automatizada” ou “calendário de
saídas temporárias”.
O calendário de saídas temporárias é permitido? A prática da saída temporária
automatizada é válida?
 STJ: NÃO. O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é
ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do
estabelecimento prisional (Súmula 520-STJ).
 STF: SIM. É legítima a decisão judicial que estabelece calendário anual de
saídas temporárias para visita à família do preso.
STF. 1ª Turma. HC 130502/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 21/6/16 (Info 831).
STF. 2ª Turma. HC 128763/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 4/8/15 (Info 793).

49.6. A contagem da saída temporária é feita em dias e não em horas – (Info 828) –
IMPORTANTE!!!

A contagem do prazo do benefício de saída temporária de preso é feita em dias e


não em horas.
O apenado pedia que o prazo para a saída temporária fosse computado em horas.
Segundo alegou, ele só é liberado do presídio às 12 horas do primeiro dia do
benefício, o que lhe é prejudicial, já que assim ele perde algumas horas e, na
prática, usufrui de apenas 6 dias e meio.
A 2ª Turma do STF entendeu que, na esfera penal, a contagem do prazo é feita em
dias (art. 10 do CP), não sendo possível fazê-la em horas.
CP/Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os
meses e os anos pelo calendário comum.
STF. 2ª Turma. HC 130883/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 31/5/16 (Info 828).

49.7. Falta de vagas nos regimes semiaberto e aberto e cumprimento da pena – (Info
825) – IMPORTANTE!!!

e) A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do


condenado em regime prisional mais gravoso;
f) Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos
regimes semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes.
São aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como “colônia
agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou
estabelecimento adequado” (regime aberto) (art. 33, §1º, alíneas “b” e “c”, do
CP);
g) Havendo déficit de vagas, deverá determinar-se:
(iv) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas;
(v) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai
antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas;
(vi) (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao
sentenciado que progride ao regime aberto;
h) Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser
deferida a prisão domiciliar ao sentenciado.
STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2016
(repercussão geral) (Info 825).
OBS:
Regimes de cumprimento de pena: Pela Lei (Código Penal e Lei 7.210/84), existem três
regimes de cumprimento de pena que seguem às seguintes regras:
FECHADO SEMIABERTO ABERTO
A pena é cumprida na A pena é cumprida em A pena é cumprida na
Penitenciária. colônia agrícola, Casa do Albergado ou
Obs.: apesar de, na industrial ou estabelecimento
prática, isso ser estabelecimento similar adequado (art. 33, § 1º, "c",
desvirtuado, a chamada (art. 33, § 1º, "b", CP). CP).
Cadeia Pública destina-se A Casa do Albergado
apenas ao recolhimento deverá estar localizada
de presos provisórios (art. em centro urbano,
102, LEP), considerando separado dos demais
que as pessoas presas estabelecimentos
provisoriamente devem prisionais, e caracteriza-se
ficar separadas das que já pela ausência de
tiverem sido obstáculos físicos contra a
definitivamente fuga. Isso porque o regime
condenadas (art. 300, aberto baseia-se na
CPP). autodisciplina e senso de
responsabilidade.
O condenado fica sujeito a O condenado fica sujeito a Durante o dia, o
trabalho, dentro da trabalho, dentro da condenado trabalha,
própria Penitenciária, no colônia, durante o período frequenta cursos ou
período diurno, e a diurno. realiza outras atividades
isolamento durante o autorizadas, fora do
repouso noturno. estabelecimento e sem
vigilância.
Durante o período
noturno e nos dias de
folga, permanece
recolhido na Casa do
Albergado.

Na prática, contudo, é muito comum que não existam colônias agrícolas e industriais
e casas de albergado, unidades prisionais previstas na Lei como sendo as adequadas
para o cumprimento da pena nos regimes semiaberto e aberto.

O STF debateu este tema em sede de repercussão geral e firmou três teses a respeito
do assunto:

TESE 1: AUSÊNCIA DE VAGAS NA UNIDADE PRISIONAL ADEQUADA E


CUMPRIMENTO DA PENA NO REGIME MAIS GRAVOSO

Imagine agora a seguinte situação: João foi condenado à pena de 5 anos de reclusão,
tendo o juiz fixado o regime semiaberto. Ocorre que, no momento de cumprir a pena,
verificou-se que não havia no local estabelecimento destinado ao regime semiaberto
que atendesse todos os requisitos da LEP.
João poderá cumprir a pena no regime fechado enquanto não há vagas no semiaberto?
NÃO. No Brasil, adota-se o sistema progressivo. De acordo com o CP e com a LEP,
PPL’s deverão ser executadas (cumpridas) em forma progressiva, com a transferência
do apenado de regime mais gravoso para menos gravoso tão logo ele preencha os
requisitos legais. O STF destacou, no entanto, que este sistema progressivo de
cumprimento de penas não está funcionando na prática. Isso porque há falta de vagas
nos regimes semiaberto e aberto. Desse modo, os presos dos referidos regimes estão
sendo mantidos nos mesmos estabelecimentos que os presos em regime fechado e
provisórios. Essa situação viola duas garantias constitucionais da mais alta relevância:
 a individualização da pena (art. 5º, XLVI) e;
 a legalidade (art. 5º, XXXIX).

A manutenção do condenado em regime mais gravoso do que é devido caracteriza-se


como "excesso de execução", havendo, no caso, violação ao direito do apenado.

TESE 2: CONCEITO DE "ESTABELECIMENTO SIMILAR" E DE


"ESTABELECIMENTO ADEQUADO"

O Código Penal, ao tratar sobre os regimes semiaberto e aberto, prevê o seguinte:

Art. 33 (...)
§ 1º - Considera-se:
b) regime semiaberto a execução da pena em colônia agrícola,
industrial ou estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou
estabelecimento adequado.

O que vêm a ser estabelecimento similar e estabelecimento adequado? A LEP trata do


tema nos arts. 91 a 95, mas também não define em que consistem tais estabelecimentos.
Na prática, existem pouquíssimas colônias agrícolas e industriais no país. Dessa
forma, alguns Estados mantêm os presos do regime semiaberto em estabelecimentos
similares, ou seja, unidades prisionais diferentes do regime semiaberto, onde os presos
possuem um pouco mais de liberdade. De igual forma, em muitos Estados não existem
casas de albergado e os detentos que estão no regime aberto ficam em unidades
diferentes dos demais presos. Há discussão se essa prática é válida ou não.
O STF decidiu que os magistrados possuem competência para verificar, no caso
concreto, se tais estabelecimentos onde os presos do regime semiaberto e aberto ficam
podem ser enquadrados como "estabelecimento similar" ou "estabelecimento
adequado". Assim, os presos do regime semiaberto podem ficar em outra unidade
prisional que não seja colônia agrícola ou industrial, desde que se trate de
estabelecimento similar (adequado às características do semiaberto). De igual forma,
os presos do regime aberto podem cumprir pena em outra unidade prisional que não
seja casa de albergado, desde que se trate de um estabelecimento adequado.

TESE 3: DÉFICIT DE VAGAS NO ESTABELECIMENTO ADEQUADO E


MEDIDAS QUE DEVERÃO SER TOMADAS

O que fazer em caso de déficit de vagas no estabelecimento adequado? Havendo


“déficit” de vagas, deve ser determinada:
1) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas;
2) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente
ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas;
3) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que
progrida ao regime aberto.
STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2016
(repercussão geral) (Info 825).

Objetivo das medidas acima é o de que surjam novas vagas nos regimes semiaberto e
aberto: As vagas nos regimes semiaberto e aberto são insuficientes. De um modo geral,
a falta de vagas decorre do fato de que já há um sentenciado ocupando o lugar. O STF
determinou, como alternativa para resolver o problema, antecipar a saída de
sentenciados que já estão no regime semiaberto ou aberto, abrindo vaga para aquele
que acaba de progredir.

Exemplo de como essas medidas fazem surgir vaga no regime semiaberto: João estava
cumprindo pena no regime fechado e progrediu para o regime semiaberto. Não há
vagas na unidade prisional destinada ao regime semiaberto. João não poderá
continuar cumprindo pena no fechado porque haveria excesso de execução. Nestes
casos, o que acontecia normalmente é que João seria colocado em prisão domiciliar.
No entanto, o STF afirmou que essa alternativa (prisão domiciliar) não deve ser a
primeira opção para o caso. Diante disso, o STF entendeu que o juiz das execuções
penais deverá antecipar a saída de um detento que já estava no regime semiaberto,
fazendo com que surja a vaga para João. Em nosso exemplo, Francisco, que estava
cumprindo pena no regime semiaberto, só teria direito de ir para o regime aberto em
2018. No entanto, para dar lugar a João, Francisco receberá o benefício da "saída
antecipada" e ficará em liberdade eletronicamente monitorada, ou seja, ficará livre
para trabalhar e estudar, recolhendo-se em casa nos dias de folgas, sendo sempre
monitorado com tornozeleira eletrônica. Com isso, surgirá mais uma vaga no regime
semiaberto e esta será ocupada por João.

E se a ausência de vaga for no regime aberto? Ex: Pedro progrediu para o regime
aberto, mas não há vagas, o que fazer? Neste caso, o Juiz deverá conceder a um preso
que está no regime aberto a possibilidade de cumprir o restante da pena não mais no
regime aberto (pena privativa de liberdade), mas sim por meio de pena restritiva de
direitos e/ou estudo. Ex: Tiago, que estava no regime aberto, só acabaria de cumprir
sua pena em 2018. No entanto, para dar lugar a Pedro, o Juiz oferece a ele a
oportunidade de sair do regime aberto e cumprir penas restritivas de direito e/ou
estudo. Com isso, surgirá nova vaga no aberto. Assim, se não há estabelecimentos
adequados ao regime aberto, a melhor alternativa não é a prisão domiciliar, mas a
substituição da pena privativa de liberdade que resta a cumprir por penas restritivas
de direito e/ou estudo.

Benefícios devem ser concedidos aos detentos que estão mais próximos de progredir
ou de acabar a pena: Os apenados que serão beneficiados com a saída antecipada ou
com as penas alternativas deverão ser escolhidos com base em critérios isonômicos.
Tais benefícios deverão ser deferidos aos sentenciados que satisfaçam os requisitos
subjetivos (bom comportamento) e que estejam mais próximos de satisfazer o
requisito objetivo, ou seja, aqueles que estão mais próximos de progredir ou de
encerrar a pena.
Para isso, o STF determinou que o CNJ faça um "Cadastro Nacional de Presos", com
as informações sobre a execução penal de cada um deles. Isso permitirá verificar os
apenados com expectativa de progredir ou de encerrar a pena no menor tempo e, em
consequência, organizar a fila de saída com observação da igualdade.

Por que o STF afirma que a prisão domiciliar não pode ser a primeira opção, devendo-
se adotar as medidas acima propostas? Segundo o STF, a prisão domiciliar apresenta
vários inconvenientes, que irei aqui resumir:
1º) Para ter esse benefício, cabe ao condenado providenciar uma casa, na qual vai ser
acolhido. Nem sempre ele tem meios para manter essa residência. Nem sempre tem
uma família que o acolha.
2º) O recolhimento domiciliar puro e simples, em tempo integral, gera dificuldades
de caráter econômico e social. O sentenciado passa a necessitar de terceiros para
satisfazer todas as suas necessidades – comida, vestuário, lazer. De certa forma, há
uma transferência da punição para a família, que terá que fazer todas as atividades
externas do sentenciado. Surge a necessidade de constante comunicação com os
órgãos de execução da pena, para controlar saídas indispensáveis – atendimento
médico, manutenção da casa etc.
3º) Existe uma dificuldade grande de fiscalização se o apenado está realmente
cumprindo a restrição imposta.
4º) A prisão domiciliar pura e simples não garante a ressocialização porque é
extremamente difícil para o apenado conseguir um emprego no qual ele trabalhe
apenas em casa.

MEDIDAS QUE O STF DETERMINOU AO CNJ: A fim de tentar minimizar os


problemas acima expostos e conseguir implementar as teses que foram definidas, o
STF determinou que o CNJ apresente:
A) em 180 dias, contados da conclusão do julgamento:
 projeto de estruturação do Cadastro Nacional de Presos, com etapas e prazos
de implementação, devendo o banco de dados conter informações suficientes
para identificar os mais próximos da progressão ou extinção da pena;
 relatório sobre a implantação das centrais de monitoração e penas alternativas,
acompanhado, se for o caso, de projeto de medidas ulteriores para
desenvolvimento dessas estruturas; e

B) em um ano, relatório com projetos para:


 expansão do Programa Começar de Novo e adoção de outras medidas
buscando o incremento da oferta de estudo e de trabalho aos condenados; e
 aumento do número de vagas nos regimes semiaberto e aberto.

DECISÃO MANIPULATIVA
Decisão manipulativa (manipuladora): A decisão tomada pelo STF e acima explicada
pode ser classificada como uma "decisão manipulativa".
Gilmar Mendes, citando a doutrina italiana de Riccardo Guastini, afirma que decisão
manipulativa é aquela mediante a qual "o órgão de jurisdição constitucional modifica
ou adita normas submetidas a sua apreciação, a fim de que saiam do juízo
constitucional com incidência normativa ou conteúdo distinto do original, mas
concordante com a Constituição" (RE 641320/RS).

Decisão manipulativa, portanto, como o nome indica, é aquela em que o Tribunal


Constitucional manipula o conteúdo do ordenamento jurídico, modificando ou
aditando a lei a fim de que ela se torne compatível com o texto constitucional. Trata-
se de instituto que surgiu no direito italiano, sendo, atualmente, no entanto, adotada
em outros Tribunais constitucionais no mundo.

Espécies de decisões manipulativas: As decisões manipulativas podem ser divididas


em:
1) Decisão manipulativa de efeitos aditivos (SENTENÇA ADITIVA): Verifica-se
quando o Tribunal declara inconstitucional certo dispositivo legal não pelo que
expressa, mas pelo que omite, alargando o texto da lei ou seu âmbito de incidência.

"A sentença aditiva pode ser justificada, por exemplo, em


razão da não observância do princípio da isonomia,
notadamente nas situações em que a lei concede certo
benefício ou tratamento a determinadas pessoas, mas exclui
outras que se enquadrariam na mesma situação.
Nessas hipóteses, o Tribunal Constitucional declara
inconstitucional a norma na parte em que trata desigualmente
os iguais, sem qualquer razoabilidade e/ou nexo de
causalidade.
Assim, a decisão se mostra aditiva, já que a Corte, ao decidir,
'cria uma norma autônoma'', estendendo aos excluídos o
benefício. " (LENZA, Pedro. Direito Constitucional
Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 177).

Ex1: ADPF 54, Min. Marco Aurélio, j. em 12/4/12, na qual o STF julgou
inconstitucional a criminalização dos abortos de fetos anencéfalos atuando de forma
criativa ao acrescentar mais uma excludente de punibilidade – no caso de o feto
padecer de anencefalia – ao crime de aborto. Ao decidir o mérito da ação, assentando
a sua procedência e dando interpretação conforme aos arts. 124 a 128 do CP, o STF
proferiu uma típica decisão manipulativa com eficácia aditiva em matéria penal.

Ex2: MI 670, Red. para o acórdão Min. Gilmar Mendes, j. em 25/10/07, na qual o STF
determinou a aplicação aos servidores públicos da Lei 7783/89, que dispõe sobre o
exercício do direito de greve na iniciativa privada, pelo que promoveu extensão
aditiva do âmbito de incidência da norma.

2) Decisão manipulativa de efeitos substitutivos (SENTENÇA SUBSTITUTIVA):


Nessa espécie, a Corte Constitucional declara a inconstitucionalidade de parte de uma
lei (ou outro ato normativo) e, além disso, substitui a regra inválida por outra, criada
pelo próprio Tribunal, a fim de que se torne consentânea com a Constituição. Há, neste
caso, uma forma de direito judicial, considerando que se trata de um direito criado
pelo Tribunal.

Ex: a MP 2183-56 alterou o Decreto-lei 3.365/41 e estabeleceu que, no caso de imissão


prévia na posse, na desapropriação por necessidade ou utilidade pública e interesse
social, havendo divergência entre o preço ofertado em juízo e o valor do bem, fixado
na sentença, deverá incidir juros compensatórios de até 6% ao ano. Ao julgar ADI
contra esta MP, o STF afirmou que esse percentual de 6% era inconstitucional e
determinou que este percentual deveria ser de 12% ao ano (ADI 2332, Rel. Min.
Moreira Alves, julgado em 05/09/01).
49.8. PROGRESSÃO DE REGIME (execução penal): O § 4º do art. 33 do CP é
constitucional – (Info 772) – IMPORTANTE!!!

Segundo o § 4º do art. 33 do CP, para que o condenado por crime contra a


Administração Pública tenha dreito à progressão de regime e necessário que ele
faça a reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito
praticado, com os acréscimos legais.
O STF decidiu que essa previsão do § 4º do art. 33 do CP é CONSTITUCIONAL.
Vale ressaltar, no entanto, que deve ser permitido que o condenado faça o
parcelamento do valor da dívida.
STF. Plenário. EP 22 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
17/12/2014 (Info 772).

49.9. Trabalho externo – (Info 752)

A exigência de que o condenado cumpra 1/6 da pena para ter direito ao trabalho
externo aplica-se para os regimes fechado, semiaberto e aberto? Em outras palavras,
o art. 37, caput, da LEP é regra válida para as três espécies de regime?
NÃO. A exigência objetiva do art. 37 de que o condenado tenha cumprido no
mínimo 1/6 da pena, para fins de trabalho externo, aplica-se apenas aos condenados
que se encontrem em regime fechado.
Assim, o trabalho externo é admissível aos apenados que estejam no regime
semiaberto ou aberto mesmo que ainda não tenham cumprido 1/6 da pena.
Em tese, o condenado ao regime semiaberto ou aberto poderia ter direito ao
trabalho externo já no primeiro dia de cumprimento da pena.
O art. 37 da LEP (que exige o cumprimento mínimo de 1/6 da pena) somente se
aplica aos condenados que se encontrem em regime inicial fechado.
STF. Plenário. EP 2 TrabExt-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
25/6/2014 (Info 752).

49.10. Prescrição de infrações disciplinares na execução penal é de 3 anos – (Info 745)


– IMPORTANTE!!!

Se o Estado demorar muito tempo para punir o condenado que praticou uma falta
disciplinar, haverá a prescrição da infração disciplinar. Não existe lei federal
prevendo de quanto será esse prazo prescricional. Por essa razão, a jurisprudência
aplica, por analogia, o menor prazo prescricional existente no Código Penal, qual
seja, o de 3 anos, previsto no art. 109, VI, do CP. Assim, se entre o dia da infração
disciplinar e a data de sua apreciação tiver transcorrido prazo superior a 3 anos, a
prescrição restará configurada.
STF. 2ª Turma. HC 114422/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 6/5/2014 (Info
745).

49.11. Não havendo Casa do Albergado, é permitido o cumprimento da pena em


prisão domiciliar – (Info 736) – IMPORTANTE!!!

Constatada pelo juízo da execução a inexistência, no Estado-membro, de


estabelecimento prisional para cumprimento de pena em regime aberto, permite-
se o início do cumprimento em prisão domiciliar, até ser disponibilizada vaga no
regime adequado.
STF. 1ª Turma. HC 113334/RS, red. p/ acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
18/2/2014 (Info 736).

49.12. MAGISTRADO NÃO PODE EXIGIR QUE O RÉU FAÇA EXAME


CRIMINOLÓGICO PARA CONCEDER O INDULTO SE ESSA CONDIÇÃO NÃO
FOI PREVISTA NO DECRETO – (Info 733)

O Presidente da República editou um Decreto Presidencial concedendo o “indulto


natalino”.
O TJ condicionou a concessão do indulto à realização, pelo sentenciado, de exame
criminológico.
Ocorre que o Decreto Presidencial em nenhum momento estabeleceu, como um dos
requisitos para a concessão do indulto, que o apenado fosse submetido a exame
criminológico.
Logo, tal condição é indevida. Preenchidos os requisitos previstos no Decreto, não
pode o Judiciário exigir a realização do exame criminológico para aferição do
mérito do sentenciado, por absoluta falta de previsão legal.
STF. 2ª Turma. HC 116101/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/12/2013
(Info 733).

49.13. REVOGAÇÃO DO TEMPO REMIDO EM CASO DE FALTA GRAVE

O art. 127 da LEP determina que, em caso de falta grave, o juiz poderá revogar, no
máximo, até 1/3 (um terço) do tempo remido.
Da leitura desse dispositivo legal se infere que o legislador pretendeu limitar
somente a revogação DOS DIAS REMIDOS (benefício da remição), razão pela qual
não merece acolhida a pretensão de se estender o referido limite aos demais
benefícios da execução.
STF. 2ª Turma. HC 110921/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 22/5/2012.

49.14. Impossibilidade de execução provisória da medida de segurança

A medida de segurança se insere no gênero sanção penal, do qual figura como


espécie, ao lado da pena. Logo, não é cabível a execução provisória (antecipada) da
medida de segurança, à semelhança do que ocorre com a pena aplicada aos
imputáveis.
STJ. 5ª Turma. HC 226.014-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/4/2012.
STF. 2ª Turma. HC 90226, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/12/2007.

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