Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Os dois termos de colaboração premiada que o reclamante pretende ter acesso não se
encontram nos autos da ação penal porque dizem respeito a outros fatos diferentes
daqueles narrados na denúncia contra o réu "ASRA". Além disso, tais fatos ainda estão
sob investigação.
Outro motivo que impediu o acesso do referido réu está no fato de que os outros dois
termos de declaração ainda estavam sob sigilo prévio, conforme determina o art. 7º da
Lei nº 12.850/2013:
Art. 7º O pedido de homologação do acordo será
sigilosamente distribuído, contendo apenas informações que
não possam identificar o colaborador e o seu objeto.
§ 1º As informações pormenorizadas da colaboração serão
dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuição, que
decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
§ 2º O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério
Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o
êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no
interesse do representado, amplo acesso aos elementos de
prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa,
devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados
os referentes às diligências em andamento.
§ 3º O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso
assim que recebida a denúncia, observado o disposto no art.
5º.
Este sigilo tem dois objetivos básicos:
a) preservar os direitos assegurados ao colaborador, dentre
os quais o de “ter nome, qualificação, imagem e demais
informações pessoais preservados” (art. 5º, II) e o de “não ter
sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser
fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por
escrito” (art. 5º, V, da Lei nº 12.850/2013); e
b) garantir o êxito das investigações (art. 7º, § 2º e art. 8, § 3º).
3. USO DE ALGEMAS
3.1. Não cabe reclamação por uso indevido de algemas se este ocorreu por ordem
de autoridade policial – (Info 827) – TEMA POLÊMICO!
O pedido do preso foi julgado procedente? Houve desrespeito à SV 11? Os atos devem
ser anulados? NÃO. É o que foi decidido no Info 827 do STF.
Dessa forma, o referido preso tem o direito de questionar o uso das algemas e até de
pedir, eventualmente, a responsabilização do Estado ou dos agentes envolvidos. Isso,
no entanto, terá que ser feito por meio de ação própria e não por intermédio de
reclamação alegando desrespeito à SV.
DECRETO 8.858/16: Em 2016, foi publicado o Decreto 8.858/16, que trata sobre o
emprego de algemas. Vamos entender o tema.
Histórico:
Código de Processo Penal Militar (1969): O CPPM possui uma regra sobre o uso de
algemas:
Art. 234 (...)
Emprego de algemas
1º O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja
perigo de fuga ou de agressão da parte do preso, e de modo
algum será permitido, nos presos a que se refere o art. 242.
Segundo o entendimento majoritário, contudo, esta regra somente valia para as
prisões envolvendo crimes militares, não sendo aplicadas para os crimes "comuns"
(não militares).
Lei 7.219/84 (LEP): Assim, a primeira lei que tratou sobre o uso de algemas no Brasil
de forma geral foi a Lei 7.210/84 (Lei de Execuções Penais). Ela, no entanto, não ajudou
muito porque afirmou que o tema deveria ser disciplinado por meio de decreto.
Confira:
Art. 199. O emprego de algemas será disciplinado por decreto
federal.
A LEP é de 1984 e até 2016 este decreto não havia sido editado.
Lei 11.689/2008: Em junho de 2008, foi editada Lei 11.689/08, que alterou o
procedimento do Júri previsto no CPP. Esta Lei aproveitou a oportunidade e tratou
também sobre o uso de algemas, porém apenas no plenário do Júri. Veja os
dispositivos que foram inseridos por ela:
Art. 474 (...)
§ 3º Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o
período em que permanecer no plenário do júri, salvo se
absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança
das testemunhas ou à garantia da integridade física dos
presentes. (Incluído pela Lei 11.689/2008)
SV 11-STF: Em razão dessa lacuna normativa, em 2008, o STF, diante do uso abusivo
de algemas em determinadas pessoas, viu-se obrigado a dispor sobre o tema e editou
uma súmula vinculante que mais parecia um artigo de lei tratando a respeito do
assunto. Confira:
Súmula vinculante 11-STF: Só é lícito o uso de algemas em
casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo
à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou
de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual
a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
estado.
Decreto 8.858/16: Agora, com 32 anos de atraso, finalmente é editado o Decreto federal
mencionado pelo art. 199 da LEP e que trata sobre o emprego de algemas.
Sobre o que trata o Decreto nº 8.858/2016? Regulamenta o art. 199 da LEP com o
objetivo de disciplinar como deve ser o emprego de algemas.
Existem três exceções. Quais são elas? É permitido o emprego de algemas apenas em
casos de:
• resistência;
• fundado receio de fuga; ou
• perigo à integridade física própria ou alheia, causado pelo preso ou por terceiros.
Formalidade que deve ser adotada no caso do uso de algemas: Caso tenha sido
verificada a necessidade excepcional do uso de algemas, com base em uma das três
situações acima elencadas, essa circunstância deverá ser justificada, por escrito.
Situação especial das mulheres em trabalho de parto ou logo após: É proibido usar
algemas em mulheres presas:
• durante o trabalho de parto
• no trajeto da parturiente entre a unidade prisional e a unidade hospitalar; e
• após o parto, durante o período em que se encontrar hospitalizada.
A proibição das algemas vale somente no momento da prisão? NÃO. Essa regra vale
para todas as situações. A vedação quanto ao uso de algemas incide tanto no
momento da prisão (seja em flagrante ou por ordem judicial) como também nas
hipóteses em que o réu preso comparece em juízo para participar de um ato
processual (ex: réu durante a audiência). Em outras palavras, a pessoa que acaba de
ser presa, em regra, não pode ser algemada. Se ela tiver que ser deslocada para a
delegacia, por exemplo, em regra, não pode ser algemada. Se tiver que comparecer
para seu interrogatório, em regra, não pode ser algemada.
Quais são as consequências caso o preso tenha sido mantido algemado fora das
hipóteses mencionadas ou sem que tenha sido apresentada justificativa por escrito?
O Decreto 8.858/16 não prevê consequências ou punições para o descumprimento das
regras impostas para o emprego de algemas. No entanto, a SV 11 do STF impõe as
seguintes consequências:
a) Nulidade da prisão;
b) Nulidade do ato processual no qual participou o preso;
c) Responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da
autoridade responsável pela utilização das algemas;
d) Responsabilidade civil do estado.
Vale ressaltar que, se durante audiência de instrução e julgamento o juiz recusa, de
forma motivada, o pedido para que sejam retiradas as algemas do acusado, não haverá
nulidade processual (STJ HC 140.718-RJ).
DECRETO 8.858/2016 SV 11
Art. 3º É vedado emprego de algemas A súmula vinculante não trata sobre esta
em mulheres presas em qualquer situação específica das mulheres em
unidade do sistema penitenciário trabalho de parto ou que tiveram seus
nacional durante o trabalho de parto, no filhos.
trajeto da parturiente entre a unidade
prisional e a unidade hospitalar e após o
parto, durante o período em que se
encontrar hospitalizada.
Quadro-resumo:
EMPREGO DE ALGEMAS
Decreto 8.858/2016 e Súmula vinculante 11
1) Dignidade da pessoa humana
2) Proibição de tortura, tratamento desumano,
DIRETRIZES QUE GUIAM
degradante
O USO DE ALGEMAS
3) Regras de Bangkok
4) Pacto de San José da Costa Rica
1) Resistência da pessoa à prisão
CASOS EM QUE
2) Fundado receio de fuga
SE PODE USAR
3) Perigo à integridade física (própria ou alheia),
ALGEMAS
causado pelo preso ou por terceiros
1) Durante o trabalho de parto
PROIBIDO USO DE
2) No trajeto da grávida do presídio para o hospital
ALGEMAS EM
3) Após o parto (durante o tempo em que estiver
MULHERES
hospitalizada)
1) Nulidade da prisão
2) Nulidade do ato processual no qual participou o
preso
SANÇÕES PARA O USO
3) Responsabilidade disciplinar, civil e penal do
ABUSIVO DE ALGEMAS
agente ou da autoridade responsável pela utilização
das algemas
4) Responsabilidade civil do Estado
4. INQUÉRITO POLICIAL
4.1. Possibilidade de reabertura de inquérito policial arquivado por excludente de
ilicitude – (Info 858)
Obs1: o STF entende que o inquérito policial arquivado por excludente de ilicitude
pode ser reaberto mesmo que não tenha sido baseado em provas fraudadas. Se for
com provas fraudadas, como no caso acima, com maior razão pode ser feito o
desarquivamento.
Obs2: ao contrário do STF, o STJ entende que o arquivamento do inquérito policial
baseado em excludente de ilicitude produz coisa julgada material e, portanto, não
pode ser reaberto. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. RHC 46.666/MS, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, j. 05/02/15.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João ceifou a vida de Pedro. Foi instaurado
inquérito policial para apurar o ocorrido. Após as diligências investigatórias, o MP
entendeu que estava demonstrado que João agiu em legítima defesa, razão pela qual
pugnou pelo arquivamento do IP. O juiz concordou com o pedido do MP e
determinou o arquivamento dos autos com base na excludente de ilicitude. Anos mais
tarde, o Procurador-Geral de Justiça afirma que surgiram provas novas que poderão
mudar o caso e pugna pelo desarquivamento do IP. O requerimento do Procurador-
Geral foi fundamentado no art. 18 do CPP e na Súmula 524 do STF. Confira:
Caso concreto divulgado no Info 858: João foi investigado pela suposta prática do
crime de homicídio. O inquérito policial foi arquivado porque houve a conclusão de
que o homicídio praticado por João teria sido em legítima defesa. Posteriormente,
diante de diversas denúncias, constatou-se que o relatório foi adulterado pelo
Delegado que presidia o IP, e que testemunhas assinaram documentos com
declarações que não prestaram. Com base em novos depoimentos das testemunhas, o
MP reabriu a investigação. A defesa impetrou habeas corpus alegando que estaria
havendo violação à coisa julgada.O STF, contudo, não acolheu o pedido e decidiu que:
* Situação ainda não apreciada pelo STF. Esta é a posição defendida pela doutrina.
Vale ressaltar a posição de Nucci, para quem seria possível arguir essa suspeição junto
aos órgãos administrativos da Polícia (Delegado Geral de Polícia, no caso da Polícia
Civil):
5. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
5.1. Denúncia anônima – (Info 819) – (TRF2-2017) (TJMS-2012) (MPF-2012)
OBS:
O que é a chamada "denúncia anônima"? Ocorre quando alguém, sem se identificar,
relata para as autoridades (ex: Delegado de Polícia, MP etc.) que determinada pessoa
praticou um crime. É o caso, por exemplo, dos serviços conhecidos como "disk-
denúncia" ou, então, dos aplicativos de celular por meio dos quais se "denuncia" a
ocorrência de delitos.
O termo "denúncia anônima" não é tecnicamente correto porque em processo penal
denúncia é o nome dado para a peça inaugural da ação penal proposta pelo MP.
Assim, a doutrina prefere falar em "delação apócrifa", "notícia anônima" ou "notitia
criminis inqualificada".
Desse modo, a doutrina defende que a interceptação telefônica deverá ser considerada
a ultima ratio, ou seja, trata-se de prova subsidiária.
Veja o que diz Renato Brasileiro: "Diante de uma denúncia anônima, deve a
autoridade policial, antes de instaurar o inquérito policial, verificar a procedência e
veracidade das informações por ela veiculadas. Recomenda-se, pois, que a autoridade
policial, de proceder à instauração formal do inquérito policial, realize uma
investigação preliminar a fim de constatar a plausibilidade da denúncia anônima.
Afigura-se impossível a instauração de procedimento criminal baseado única e
exclusivamente em denúncia anônima, haja vista a vedação constitucional do
anonimato e a necessidade de haver parâmetros próprios à responsabilidade, nos
campos cível e penal." (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal.
Salvador: Juspodivm, 2015, p. 129).
6.2. STF fixa requisitos para atuação do Ministério Público em investigações penais
– (Info 785) – (TJAL-2015)
7. INDICIAMENTO
7.1. Indiciamento envolvendo autoridades com foro por prerrogativa de função –
(Info 825)
Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada.
Há duas exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser indiciadas:
a) Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79);
b) Membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/73 e art. 40,
parágrafo único, da Lei nº 8.625/93).
Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o indiciamento de
autoridades com foro por prerrogativa de função. No entanto, para isso, é
indispensável que a autoridade policial obtenha uma autorização do Tribunal
competente para julgar esta autoridade.
Ex: em um inquérito criminal que tramita no STJ para apurar crime praticado por
Governador de Estado, o Delegado de Polícia constata que já existem elementos
suficientes para realizar o indiciamento do investigado. Diante disso, a autoridade
policial deverá requerer ao Ministro Relator do inquérito no STJ autorização para
realizar o indiciamento do referido Governador. Não é o Ministro Relator quem irá
fazer o indiciamento. Este ato é privativo da autoridade policial. O Ministro Relator
irá apenas autorizar que o Delegado realize o indiciamento.
STF. Decisão monocrática. HC 133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
18/04/2016 (Info 825).
OBS:
Investigação envolvendo autoridades com foro por prerrogativa de função: As
investigações envolvendo autoridades com foro privativo só podem ser iniciadas após
autorização formal do Tribunal competente para julgá-las. Assim, se durante uma
investigação, a autoridade policial ou o Promotor de Justiça/Procurador da República
descobrem indícios do envolvimento de um Governador do Estado, antes que se
iniciem as investigações envolvendo a referida autoridade, o STJ deverá ser provocado
e dizer se autoriza ou não o inquérito. Caso seja autorizado, este inquérito criminal
(não é chamado inquérito "policial") deverá tramitar no STJ, sob a supervisão de um
Ministro-Relator que irá autorizar as diligências que se fizerem necessárias.
Diz-se que o STJ realiza a "supervisão judicial" das investigações envolvendo
autoridades que serão, posteriormente, julgadas pela Corte. Este controle exercido
pelo STJ ocorre durante toda a tramitação das investigações (isto é, desde a abertura
dos procedimentos investigatórios até o eventual oferecimento, ou não, de denúncia
pelo MP). Significa que a autoridade policial ou o MP não podem investigar eventuais
crimes cometidos por autoridades com foro privativo no STJ, salvo se houver uma
prévia autorização da Corte.
A autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada? Em regra, a
autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada. Existem duas
exceções previstas em lei:
Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79);
Membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/73 e art.
40, parágrafo único, da Lei nº 8.625/93).
8. SIGILO BANCÁRIO
8.1. Validade da utilização do RMF no processo penal – (Info 822) –
IMPORTANTE!!!
De posse dos extratos, o Fisco constatou que realmente houve sonegação de tributos
e, por conta disso, autuou a pessoa jurídica e fez a constituição definitiva do crédito
tributário.
9. DENÚNCIA
9.1. Inépcia caso a denúncia se baseie apenas no fato de que o réu era Diretor-
Presidente da empresa – (Info 850)
O MP ofereceu denúncia contra alguns sócios da empresa, dentre eles o Diretor-
Presidente, afirmando, quanto a este, que praticou o crime de evasão de divisas
porque detinha o domínio do fato e que não seria crível que a empresa
movimentasse altos valores para o exterior sem que ele soubesse.
O STF entendeu que esta denúncia é inepta.
Não há óbice para que a denúncia invoque a teoria do domínio do fato para dar
suporte à imputação penal, sendo necessário, contudo, que, além disso, ela aponte
indícios convergentes no sentido de que o Presidente da empresa não só teve
conhecimento do crime de evasão de divisas, como dirigiu finalisticamente a
atuação dos demais acusados.
Assim, não basta que o acusado se encontre em posição hierarquicamente superior.
Isso porque o próprio estatuto da empresa prevê que haja divisão de
responsabilidades e, em grandes corporações, empresas ou bancos há controles e
auditorias exatamente porque nem mesmo os sócios têm como saber tudo o que se
passa.
STF. 2ª Turma. HC 127397/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/12/2016 (Info
850).
OBS:
Atenção: não se exige descrição pormenorizada: Importante esclarecer que, nos crimes
societários não se exige a descrição minuciosa e detalhada das condutas de cada autor,
bastando a descrição do fato típico, das circunstâncias comuns, os motivos do crime e
indícios suficientes da autoria, ainda que sucintamente, a fim de garantir o direito à
ampla defesa e contraditório (STF. 1ª Turma. HC 136822 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, j.
09/12/16).
Assim, imputar a alguém uma conduta penal tão somente pelo fato de ocupar
determinado cargo significa, na prática, adotar a responsabilização objetiva na esfera
penal (STF. 2ª Turma. AP 898, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe 12/4/16).
Imagine a seguinte situação hipotética: João, Deputado Federal, foi condenado pelo
voto da maioria dos Ministros do STF em julgamento originário de ação penal. Contra
este acórdão, João opôs embargos de declaração alegando que houve erro material na
dosimetria da pena e que, por conta disso, sua reprimenda deveria ser diminuída.
Houve empate no julgamento desses embargos de declaração. Neste caso, deve-se
aplicar a solução mais favorável ao réu, aceitando-se a tese de que houve erro
material e de que a sua pena deve ser reduzida.
11.3. Conselho indigenista não pode ajuizar queixa-crime subsidiária por delito
supostamente praticado contra índios – (Info 768) - Atenção! Concursos federais!
O acusado pode ser submetido ao incidente de insanidade mental mesmo contra a sua
vontade? NÃO. No direito brasileiro, adotou-se o critério biopsicológico para a análise
da inimputabilidade do acusado, nos termos do art. 26 do CP:
O art. 5º do Decreto 8.380/2014 prevê que a pessoa não pode ser beneficiada com o
indulto natalino se tiver recebido sanção disciplinar grave no período de 24/12/2013
até 24/12/2014:
“Art. 5º A declaração do indulto e da comutação de penas previstos neste Decreto
fica condicionada à inexistência de aplicação de sanção, reconhecida pelo juízo
competente, em audiência de justificação, garantido o direito ao contraditório e à
ampla defesa, por falta disciplinar de natureza grave, prevista na Lei de Execução
Penal, cometida nos doze meses de cumprimento da pena, contados
retroativamente à data de publicação deste Decreto.”
Se o condenado praticou falta grave no período de 12 meses antes da publicação do
decreto de indulto natalino, ele não poderá receber o benefício mesmo que a
homologação judicial desta sanção disciplinar tenha ocorrido em data posterior à
publicação do decreto.
Dessa forma, a falta disciplinar é que tem que ter ocorrido antes da publicação do
Decreto, não importando que a homologação judicial seja posterior.
STF. 2ª Turma. HC 132236/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 30/8/16 (Info 837).
STF. 2ª Turma. RHC 133443/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 04/10/16 (Info 842).
13.2. Interpretação do art. 4º do Decreto 7.873/2012 – (Info 837)
O art. 4º do Decreto 7.873/12 prevê que a pessoa não pode ser beneficiada com o
indulto natalino se tiver recebido sanção disciplinar grave no período de 26/12/2011
até 26/12/2012:
“Art. 4º A declaração do indulto e da comutação de penas previstos neste Decreto
fica condicionada à inexistência de aplicação de sanção, homologada pelo juízo
competente, em audiência de justificação, garantido o direito ao contraditório e à
ampla defesa, por falta disciplinar de natureza grave, prevista na Lei de Execução
Penal, cometida nos doze meses de cumprimento da pena, contados
retroativamente à data de publicação deste Decreto.”
Se o condenado praticou falta grave no período de 12 meses antes da publicação do
decreto de indulto natalino, ele não poderá receber o benefício mesmo que a
homologação judicial desta sanção disciplinar tenha ocorrido em data posterior à
publicação do decreto.
Dessa forma, a falta disciplinar é que tem que ter ocorrido antes da publicação do
Decreto, não importando que a homologação judicial seja posterior.
STF. 2ª Turma. HC 132236/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 30/8/2016 (Info 837).
OBS:
Indulto: É um benefício concedido pelo Presidente da República por meio do qual as
pessoas condenadas por determinados crimes ficarão livres dos efeitos executórios da
condenação, desde que se enquadrem nas condições previstas no decreto presidencial.
13.3. Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena
(Info 808)
13.4. Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena –
(Info 794)
15. INDULTO
15.1. O indulto da pena privativa de liberdade não alcança a pena de multa se o
condenado parcelou este valor para ter direito à progressão de regime – (Info 884)
O indulto da pena privativa de liberdade não alcança a pena de multa que tenha
sido objeto de parcelamento espontaneamente assumido pelo sentenciado.
O acordo de pagamento parcelado da sanção pecuniária deve ser rigorosamente
cumprido sob pena de descumprimento de decisão judicial, violação ao princípio
da isonomia e da boa-fé objetiva.
STF. Plenário. EP 11 IndCom-AgR/DF, rel. Min. Roberto Barroso, j. 8/11/17 (Info
884).
OBS:
Anistia, graça e indulto:
- são formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir;
- classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP);
- a anistia, a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Legislativo (no primeiro caso)
ou pelo Poder Executivo (nos dois últimos), mas somente geram a extinção da
punibilidade com a decisão judicial;
- podem atingir crimes de ação penal pública ou privada.
Classificação Classificação
a) Propriamente dita: quando a) Pleno: quando extingue totalmente a pena.
concedida antes da condenação.
b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a
b) Impropriamente dita: quando pena (comutação).
concedida após a condenação.
O réu condenado que foi anistiado, se O réu condenado que foi beneficiado por graça ou
cometer novo crime, não será indulto, se cometer novo crime, será reincidente.
reincidente.
Imagine agora a seguinte situação: João foi condenado a 5 anos de reclusão, em regime
inicial semiaberto, e ao pagamento de 200 dias-multa. Após algum tempo, ele
progrediu para o regime aberto, com base no preenchimento dos requisitos objetivos
e subjetivos, entre os quais o compromisso do pagamento da multa, por meio de
parcelamento acordado com a Fazenda Nacional. Assim, ele estava no regime aberto
e pagando, parceladamente, todos os meses, a multa. Foi aí que o Presidente da
República editou um Decreto concedendo indulto natalino. João atendeu aos
requisitos e, em razão disso, o magistrado declarou extinta a pena privativa de
liberdade imposta a ele. O julgador, contudo, manteve a exigência do pagamento da
multa. A defesa recorreu contra a decisão alegando que no Decreto de indulto havia
previsão expressa de que o indulto alcançava também a pena de multa. Veja o artigo
do Decreto:
Art. 7º O indulto ou a comutação da pena privativa de
liberdade ou restritiva de direitos alcança a pena de multa
aplicada cumulativamente.
Parágrafo único. A inadimplência da pena de multa cumulada
com pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos não
impede a declaração do indulto ou da comutação de penas.
16. FIANÇA
16.1. Concessão de liberdade provisória sem fiança a flagranteado assistido pela
Defensoria Pública – (Info 800)
O CPP prevê que o valor da fiança poderá ser reduzido ou até dispensado se assim
recomendar a situação econômica do preso. Logo, o juiz, para indeferir o pedido da
defesa para dispensa da fiança, deverá fundamentar sua decisão na análise da
capacidade econômica do agente. Não se pode, portanto, manter a fiança sem levar
em consideração esse fator essencial.
STF. 2ª Turma. HC 114731, rel. Min. Teori Zavascki, j. 1º/4/2014 (Info 741).
Assim, não é necessário mandado judicial para que a polícia realize busca por objetos
em interior de veículo de propriedade do investigado se houver fundadas suspeitas
de que a pessoa esteja na posse de material que possa constituir corpo de delito. Isso
se justifica porque o veículo da pessoa, em regra, não pode ser considerado domicílio.
Deve-se mencionar, por fim, que o simples fato de o membro do MP ter participado
da investigação criminal, não faz com que ele seja impedido ou suspeito para oferecer
a denúncia e atuar na ação penal. Nesse sentido:
Súmula 234-STJ: A participação de membro do Ministério
Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu
impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.
Esse é também o entendimento do STF: HC 85011, Relator p/ Acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 26/05/2015.
A emissão de opinião por parte do chefe do Ministério Público da União, por si só,
não se qualifica como hipótese de inimizade capital.
Para que se caracterize como “inimigo capital”, “é indispensável que o sentimento seja
grave, que remeta ao ódio, a um sentimento de rancor ou de vingança. Não basta uma
simples antipatia ou malquerença” (LIMA, Renato Brasileiro de. Código de Processo
Penal Comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 695).
O Procurador-Geral da República, ao manifestar em entrevistas, congressos etc. as
ações que o Ministério Público tem realizado na chamada operação “Lava Jato” adota
conduta consentânea com a transparência que deve caracterizar o agir republicano.
O requerimento do Procurador-Geral para que o inquérito fosse distribuído e ficasse
restringido apenas ao Delegado que já estava trabalhando na investigação não
significa uma interferência ministerial na Polícia Federal. Além disso, isso não indica
inimizade capital entre o PGR e o réu.
Por fim, a alegação de que um determinado Procurador (Marcelo Miller) teria
orientado o advogado da parte sobre a colaboração premiada não significa suspeição
por dois motivos: um, porque essa versão de que houve essa orientação ainda não está
sendo apurada, não havendo prova efetiva; dois, porque não há como presumir que o
arguido (PGR) tivesse o conhecimento dessa cogitada circunstância. As causas de
impedimento e suspeição são sempre pessoais, de forma que não é possível acolher a
alegação de que eventual esclarecimento prestado por um Procurador da República
contaminaria, automaticamente, a higidez da atuação do Procurador-Geral da
República.
21. PROVAS
21.1. PROVA TESTEMUNHAL: Ordem de inquirição das testemunhas – (Info 885)
Segundo a redação atual do art. 212 do CPP, quem primeiro começa fazendo
perguntas à testemunha é a parte que teve a iniciativa de arrolá-la. Em seguida, a
outra parte terá direito de perguntar e, por fim, o magistrado.
Assim, a inquirição de testemunhas pelas partes deve preceder à realizada pelo
juízo.
Em um caso concreto, durante a audiência de instrução, a magistrada primeiro
inquiriu as testemunhas e, somente então, permitiu que as partes formulassem
perguntas.
O STF entendeu que houve violação ao art. 212 do CPP e, em razão disso,
determinou que fosse realizada uma nova inquirição das testemunhas, observada
a ordem prevista no CPP.
STF. 1ª Turma. HC 111815/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz
Fux, j. 14/11/17 (Info 885).
A antecipação da prova testemunhal prevista no art. 366 do CPP pode ser justificada
como medida necessária pela gravidade do crime praticado e possibilidade
concreta de perecimento, haja vista que as testemunhas poderiam se esquecer de
detalhes importantes dos fatos em decorrência do decurso do tempo.
Além disso, a antecipação da oitiva das testemunhas não traz nenhum prejuízo às
garantias inerentes à defesa. Isso porque quando o processo retomar seu curso, caso
haja algum ponto novo a ser esclarecido em favor do réu, basta que seja feita nova
inquirição.
STF. 2ª Turma. HC 135386/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac.
Min. Gilmar Mendes, j. 13/12/16 (Info 851).
OBS:
Esta decisão do STF neste HC 135386/DF vai de encontro à Súmula 455 do STJ? NÃO.
O STF entendeu que havia possibilidade concreta de perecimento. Desse modo, para
o Tribunal, a decisão foi concretamente fundamentada. No caso, o juiz não decidiu
apenas com base no decurso do tempo, tendo ele também suscitado outros
argumentos, como o fato de que houve dificuldade na localização das testemunhas e
que os endereços que havia nos autos eram apenas profissionais (e não residenciais).
Assim, não significa que neste HC 135386/DF tenha havido mudança de
entendimento sobre o tema.
Vale ressaltar, inclusive, que a defesa, antes de impetrar o HC no STF, já havia
manejado o writ no STJ, tendo ali sido igualmente negado o pedido de nulidade,
conforme se pode observar pela ementa abaixo:
(...) 1. A antecipação da produção de prova, com base no art.
366 do Código de Processo Penal, encontra-se, no caso em
exame, concretamente fundamentada em razão do decurso do
tempo aliado à condição de policial militar de uma das
testemunhas, circunstância fática relevante que autoriza a
medida antecipatória e que não implica ofensa ao teor do
Enunciado n. 455 da Súmula do STJ.
2. Em relação às demais testemunhas, também há motivação
concreta a justificar a oitiva antecipada, uma vez que as
instâncias ordinárias embasaram-se na dificuldade de
localização, por não possuírem vínculo com a vítima ou com
o acusado, especialmente porque constam dos autos apenas os
endereços profissionais e não residenciais. (...)
STJ. 6ª Turma. HC 346.603/DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel.
p/ Acórdão Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em
24/05/2016.
21.3. As peças processuais que fazem referência à prova declarada ilícita não devem
ser desentranhadas do processo – (Info 849)
O que decidiu o Supremo? Houve cerceamento de defesa pelo fato de o juiz ter
indeferido a oitiva das vítimas? NÃO.
O STF acrescentou, ainda, que o rito especial do tribunal do júri limita o número de
testemunhas a serem inquiridas e, ao contrário do procedimento comum, não exclui
dessa contagem as testemunhas que não prestam compromisso legal.
A atenuante da confissão tratada no art. 72, III, "d", do Código Penal Militar está
vinculada à revelação da autoria criminosa ignorada ou imputada a outrem.
A atenuante de pena prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal comum exige
apenas a espontaneidade, mas não pode ser aplicada para os crimes militares em
virtude do critério da especialidade.
STF. 1ª Turma. HC 115189/AM, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/5/2016 (Info
824).
OBS:
Confissão espontânea e crimes militares: Nos crimes militares, as atenuantes estão
previstas no art. 72 do Código Penal Militar.
Dentre elas está a confissão espontânea. Ocorre que a confissão no CPM é tratada de
forma diferente e mais rigorosa do que no Código Penal comum. Compare:
Dessa forma, o indivíduo acusado de um crime militar somente terá direito a esta
atenuante se o crime por ele confessado:
tinha autoridade ignorada; ou
se ele estava sendo imputado a outra pessoa.
É possível aplicar a regra do art. 65, III, "d", do Código Penal comum para os crimes
militares? NÃO.
22.2. Direito de permanecer calado e confissão feita por pessoa convocada para ser
testemunha – (Info 754) – IMPORTANTE!!!
O STF acolheu a tese de defesa? As provas relativas ao homicídio são ilegais? NÃO.
Obs.: Apesar de ser a hipótese mais comum, a serendipidade não se dá apenas no caso
de interceptação telefônica. Assim, é possível que ocorra a descoberta fortuita de
crimes durante a execução de outras medidas de investigação, como, por exemplo,
durante a quebra de sigilo bancário ou fiscal. Nesse sentido confira o seguinte julgado:
A Polícia Federal instaurou inquérito policial para apurar o
suposto delito de fraude contra licitação (art. 90 da Lei nº
8.666/90) praticado por João e outros.
A requerimento da autoridade policial e do MPF, o juiz
decretou uma série de medidas cautelares, dentre elas a
quebra do sigilo bancário e fiscal.
Durante o cumprimento dessas medidas, a Polícia detectou a
existência de indícios de que João teria praticado também o
delito de peculato (art. 312 do CP).
As provas do peculato são lícitas.
O fato de elementos indiciários acerca da prática de crime
surgirem no decorrer da execução de medida de quebra de
sigilo bancário e fiscal determinada para apuração de outros
crimes não impede, por si só, que os dados colhidos sejam
utilizados para a averiguação da suposta prática daquele
delito.
Com efeito, pode ocorrer o que se chama de fenômeno da
serendipidade, que consiste na descoberta fortuita de delitos
que não são objeto da investigação.
STJ. 6ª Turma. HC 282.096-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 24/4/2014 (Info 539).
Há ainda uma outra classificação que fala que a serendipidade pode ser dividida em
“graus”:
a) Serendipidade de primeiro grau: é o encontro fortuito de provas quando houver
conexão ou continência com o fato que se apurava.
b) Serendipidade de segundo grau: é o encontro fortuito de provas quando não
houver conexão ou continência com o fato que se apurava.
A Lei nº 9.296/96 prevê que a interceptação telefônica "não poderá exceder o prazo
de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade
do meio de prova." (art. 5º).
A interceptação telefônica não pode exceder 15 dias. Contudo, pode ser renovada
por igual período, não havendo restrição legal ao número de vezes para tal
renovação, se comprovada a sua necessidade.
STF. 2ª Turma. HC 133148/ES, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 21/2/2017 (Info
855).
(PCAC-2017-IBADE): Quanto ao número de vezes em que o prazo da
interceptação telefônica pode ser renovado, entende a doutrina, bem com o
Superior Tribunal de Justiça, em seu mais recente julgado acerca do tema, no início
de 2013, que o prazo da interceptação pode ser renovado indefinidamente, desde
que comprovada a indispensabilidade do meio de prova.
OBS:
É possível a prorrogação da interceptação por mais de uma vez? SIM, é plenamente
possível. A jurisprudência do STF e do STJ consolidou o entendimento segundo o qual
as interceptações telefônicas podem ser prorrogadas, desde que devidamente
fundamentadas pelo juízo competente em relação à necessidade do prosseguimento
das investigações, especialmente quando o caso for complexo e a prova indispensável.
Entende-se que a redação deste art. 5º foi mal elaborada e que, quando fala em
“renovável por igual tempo” não está limitando a possibilidade de renovações
sucessivas, mas tão somente dizendo que as renovações não poderão exceder, cada
uma delas, o prazo de 15 dias.
De igual modo, a expressão “uma vez”, presente no dispositivo legal, deve ser
entendida como sinônima de “desde que”, não significando que a renovação da
interceptação somente ocorre “1 (uma) vez”.
O simples fato de o advogado do investigado ter sido interceptado não é causa, por
si só, para gerar a anulação de todo o processo e da condenação que foi imposta ao
réu.
Se o Tribunal constatar que houve indevida interceptação do advogado do
investigado e que, portanto, foram violadas as prerrogativas da defesa, essa
situação poderá gerar três consequências processuais:
1ª) Cassação ou invalidação do ato judicial que determinou a interceptação;
2ª) Invalidação dos atos processuais subsequentes ao ato atentatório e com ele
relacionados;
3ª) Afastamento do magistrado caso se demonstre que, ao assim agir, atuava de
forma parcial.
Voltando ao exemplo: Imaginemos que Dr. Luis estava agindo corretamente, ou seja,
atuava como advogado, mas sem participar dos crimes que estavam sendo cometidos
pelo seu cliente. Quando teve conhecimento que foi "grampeado", Dr. Luis peticionou
ao Juiz requerendo que tais elementos probatórios fossem declarados ilícitos e
desentranhados dos autos. O Juiz concordou com o requerimento do advogado e
determinou o desentranhamento de todos os diálogos interceptados que envolviam o
Dr. Luis. Segundo justificou o magistrado, no momento da autorização da
interceptação ele não teria notado que um dos telefones grampeados era do advogado
do réu. Ao final do processo, João (o cliente do Dr. Luis) foi condenado. Dr. Luis
recorreu alegando que a interceptação do advogado do investigado tornou todo o
processo nulo, por violação ao direito de defesa e às prerrogativas contidas no Estatuto
da OAB.
O simples fato de o advogado do réu ter sido interceptado é causa suficiente para
gerar a anulação de todo o processo? NÃO. Se o Tribunal constatar que houve
indevida interceptação do advogado do investigado e que, portanto, foram violadas
as prerrogativas da defesa, essa situação poderá gerar três consequências processuais:
2ª) Invalidação dos atos processuais subsequentes ao ato atentatório e com ele
relacionados
O Tribunal, ao analisar a situação, além de anular a decisão que decretou a
interceptação do advogado, poderá também anular os atos processuais posteriores,
desde que estejam diretamente relacionados com a interceptação do advogado. Assim,
se algum elemento probatório foi colhido a partir dos diálogos captados com o
advogado, este elemento probatório derivado também deverá ser anulado. Ex: na
conversa com seu advogado, o investigado menciona o nome de uma pessoa que era
desconhecida da Polícia. A partir desta informação, a Polícia convoca esta pessoa para
depor e, no depoimento, surgem novos elementos contra o investigado. Este
depoimento deverá ser invalidado porque está diretamente relacionado com a prova
ilícita. Este depoimento pode ser considerado como "prova ilícita por derivação".
Nesse sentido, veja o que dispõe o CPP:
Art. 573. (...) § 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada,
causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam
consequência.
3ª) Afastamento do magistrado caso se demonstre que, ao assim agir, atuava de forma
parcial
Se o magistrado intercepta conscientemente o advogado do investigado mesmo
sabendo que ele não participava do projeto criminoso, este juiz revela indícios de que
atua de forma parcial, em prejuízo da defesa. Logo, isso pode servir como fundamento
para se arguir a parcialidade e a recusa do magistrado. No entanto, no exemplo dado,
restou demonstrado que a interceptação ocorreu sem que a qualidade de advogado
tenha sido percebida previamente. A interceptação foi determinada pelo magistrado
atendendo representação policial, de forma que não foi o juiz quem selecionou o
telefone como alvo da investigação. Os elementos indicaram que o magistrado não
buscou, conscientemente, afrontar os direitos da defesa, tanto que, no momento em
que soube da situação, determinou a anulação das provas e o seu desentranhamento
dos autos. Dessa forma, a atuação do juiz não fugiu da conduta que se espera de um
magistrado imparcial.
23.4. Validade da interceptação decretada por Juiz da Central de Inquéritos
Criminais que não será o competente para julgar a ação penal – (Info 816) –
IMPORTANTE!!!
É possível que a interceptação telefônica seja decretada por um juiz que atue em
Vara de Central de Inquéritos Criminais mesmo que ele não seja o competente para
conhecer da futura ação penal que será proposta.
Não há, neste caso, nulidade na prova colhida, nem violação ao art. 1º da Lei nº
9.296/96, considerando que este dispositivo não fixa regra de competência, mas sim
reserva de jurisdição para quebra do sigilo das comunicações. Em outras palavras,
ele não trata sobre qual juízo é competente, mas apenas quer dizer que a
interceptação deve ser decretada pelo magistrado (Poder Judiciário).
Admite-se a divisão de tarefas entre juízes que atuam na fase de inquérito e na fase
da ação penal. Assim, um juiz pode atuar na fase pré-processual decretando
medidas que dependam da intervenção do Poder Judiciário, como a interceptação
telefônica, mesmo que ele não seja o competente para julgar a ação penal que será
proposta posteriormente.
STF. 2ª Turma. HC 126536/ES, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 1º/3/2016 (Info
816).
OBS:
Este também é o entendimento do STJ:
(...) 1. O art. 50, I, "e" da LC nº 234/2002, especializou a Vara de
Inquéritos Criminais para o acompanhamento judicial e de
garantias na fase investigatória, nesse limite compreendendo-se as
questionadas decisões de quebra do sigilo telefônico.
2. A especialização de varas é forma de racionalização do trabalho
jurisdicional e, tratando-se de separação da fase investigatória,
inclusive salutar à garantia da imparcialidade do juiz das garantias,
que não atuará na no juízo da culpa, com valoração das provas no
feito criminal contraditório.
3. A previsão contida no art. 1º da Lei nº 9.296/96 é simples
reiteração da regra geral de que as medidas cautelares são solvidas
pelo juízo competente para a ação principal, e não determinação de
diferenciado tratamento de competência para a quebra do sigilo
telefônico.
4. Nenhuma nulidade há na deliberação sobre cautelares e
jurisdição de garantias por magistrado da Vara de Inquéritos, que
como tal não atuará na futura ação principal. (...)
STJ. 6ª Turma. RHC 49.380/ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
04/11/2014.
O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra prática delituosa não
impede a sua utilização em persecução criminal diversa por meio do
compartilhamento da prova.
STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info
811).
23.6. Ausência de autos apartados configura mera irregularidade – (Info 811)
É possível que esse sigilo seja retirado antes do recebimento da denúncia? SIM. O §
3º do art. 7º da Lei nº 12.850/2013 prevê um limite máximo de duração do sigilo,
sendo possível que ele seja levantado (retirado) antes do recebimento da denúncia.
Esse dispositivo não traz uma regra de observância absoluta, mas sim um termo final
máximo. Para que o sigilo seja mantido até o recebimento da denúncia, deve-se
demonstrar a existência de uma necessidade concreta. Não havendo essa necessidade,
deve-se garantir a publicidade do acordo. Assim, nada impede que o sigilo do acordo
seja afastado em momento anterior ao recebimento da denúncia, possibilitando
conhecer aquele que subscreveu o acordo, bem assim o conteúdo do que declarado.
Depois que forem realizadas as diligências cautelares, em regra, não subsiste mais
razão para o sigilo, mesmo que ainda não tenha sido recebida a denúncia. Não há
direito subjetivo do colaborador a que se mantenha, indefinidamente, a restrição de
acesso ao conteúdo do acordo. Isso porque no âmbito da administração pública a
regra é a publicidade e o sigilo é exceção, conforme estabelece o art. 5º, LX, da CF/88:
Art. 5º (...)
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
social o exigirem;
24.4. Se a colaboração do agente não foi tão efetiva ele terá direito apenas a redução
da pena, e não ao perdão judicial – (Info 861)
A colaboração premiada foi tratado com detalhes pela Lei 12.850/13. No entanto, o
julgado do STF envolveu fatos que aconteceram antes da Lei 12.850/13. Desse
modo, o julgamento foi feito com base na colaboração premiada disciplinada pela
Lei 9.807/99.
A Lei 9.807/99 prevê o instituto da colaboração premiada, assegurando ao
colaborador a redução da pena (art. 14) ou até mesmo o perdão judicial (art. 13)
O réu colaborador não terá direito ao perdão judicial, mas apenas à redução da
pena, caso a sua colaboração não tenha tido grande efetividade como meio para
obter provas, considerando que as investigações policiais, em momento anterior ao
da celebração do acordo, já haviam revelado os elementos probatórios acerca do
esquema criminoso integrado.
STF. 1ª Turma. HC 129877/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 18/4/2017 (Info 861).
O instituto, no entanto, foi tratado com maior riqueza de detalhes pela Lei 12.850/2013
(Lei do Crime Organizado), em seus arts. 4º a 7º. Este é, atualmente, o diploma que
rege, de forma geral, a colaboração premiada em nosso país.
26. CITAÇÃO
26.1. Citação por hora certa é constitucional – (Info 833)
27. COMPETÊNCIA
27.1. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: Excepcionalmente, o STF
mantém no Tribunal a apuração dos fatos envolvendo pessoas sem foro por
prerrogativa de função caso o desmembramento cause prejuízo às investigações –
(Info 885)
Qual é a regra geral em pedidos como esse? Em regra, o STF entende que deverá haver
o desmembramento dos processos quando houver corréus sem prerrogativa. Nesse
sentido:
O desmembramento de inquéritos ou de ações penais de
competência do STF deve ser a regra geral, admitida exceção
nos casos em que os fatos relevantes estejam de tal forma
relacionados, que o julgamento em separado possa causar
prejuízo relevante à prestação jurisdicional. STF. Plenário. Inq
3515 AgR/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/2/2014
(Info 735).
Exceção no caso concreto: No caso concreto, a 1ª Turma do STF entendeu que, neste
momento, o desmembramento prejudicaria o andamento das investigações. O STF
entendeu que as acusações e a conduta de cada um dos investigados relaciona-se com
um único fato supostamente delituoso – a solicitação de R$ 2 milhões a Joesley Batista
para ajudar a pagar a defesa de Aécio Neves em investigações da Operação Lava-Jato.
Desse modo, a investigação se refere a fato único, com diversidade de funções entre
os acusados, o que justifica a manutenção das investigações no STF. Neste estágio das
investigações, as condutas dos quatro investigados estão indissociavelmente unidas à
do Senador e o desmembramento representaria “inequívoco prejuízo às
investigações”. Conforme já explicado, a regra é o desmembramento, mas, no caso
concreto, as condutas estão de tal forma imbricadas que a separação prejudicaria as
investigações.
Por que tais crimes foram julgados pela Justiça Federal? Os delitos dos arts. 240 e 214-
A do ECA, quando praticados por meio de sites na internet, são de competência da
Justiça Federal:
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241,
241-A e 241-B do ECA), quando praticados por meio da rede
mundial de computadores (internet).
STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio,
Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28 e
29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805).
Se o STF entende que não há indícios contra a autoridade com foro privativo e se
ainda existem outros investigados, a Corte deverá remeter os autos ao juízo de 1ª
instância para que continue a apuração da eventual responsabilidade penal dos
terceiros no suposto fato criminoso.
STF. 1ª Turma. Inq 3158 AgR/RO, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Rosa Weber, j. 7/2/17 (Info 853).
O réu suscitou, contudo, incompetência da Justiça Militar, alegando que, como ele é
ex-Soldado, não poderia mais ser julgado pela Justiça Castrense. A alegação do réu
foi acolhida pelo STF? NÃO.
Em regra, o civil não é julgado pela Justiça Militar. No entanto, existem algumas
situações excepcionais em que isso ocorre. O caso em análise é uma delas,
considerando que a conduta praticada amolda-se à previsão do art. 9º, III, letra “a” do
CPM:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado,
ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se
como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do
inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra
a ordem administrativa militar;
Compete à Justiça Militar julgar crime cujo autor e vítima sejam militares, desde
que ambos estejam em serviço e em local sujeito à administração militar.
O mero fato de a vítima e de o agressor serem militares não faz com que a
competência seja obrigatoriamente da Justiça Militar. O cometimento de delito por
militar contra vítima militar somente será de competência da Justiça Castrense nos
casos em que houver vínculo direto com o desempenho da atividade militar.
STF. 1ª Turma. HC 135019/SP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 20/09/2016 (Info 840).
27.10. Civil que saca indevidamente benefício de pensão militar comete crime militar
– (Info 831)
Compete à Justiça Militar julgar a conduta de civil que saca valores oriundos de
pensão militar depositados na conta bancária de ex-militar que faleceu e a
Administração Militar, por desconhecer a morte, continuou depositando, por
engano, o valor da pensão durante meses após o óbito.
O saque indevido por civil de benefício de pensão militar afeta bens e serviços das
instituições militares, estando justificada a competência da Justiça Militar.
STF. 2ª Turma. HC 125777/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 21/6/16 (Info 831).
OBS:
Em regra, o civil não é julgado pela Justiça Militar. No entanto, existem algumas
situações excepcionais em que isso ocorre. O caso em análise é uma delas,
considerando que a conduta praticada amolda-se à previsão do art. 9º, III, letra “a” do
CPM:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado,
ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se
como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do
inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra
a ordem administrativa militar;
O crime foi cometido não contra o falecido, mas sim contra patrimônio que estava “sob
a administração militar”, tendo em vista que, por já ter morrido o beneficiário, não
cabia mais o pagamento da pensão, devendo os valores depositados ser devolvidos ao
Exército.
Com a aposentadoria, cessa o foro por prerrogativa de função? SIM. O foro especial
por prerrogativa de função não se estende a magistrados aposentados. Desse modo,
após se aposentar, o magistrado (seja ele juiz, Desembargador, Ministro) perde o
direito ao foro por prerrogativa de função, mesmo que o fato delituoso tenha ocorrido
quando ele ainda era magistrado. Assim, deverá ser julgado pela 1ª instância (STF.
Plenário. RE 549560/CE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22/3/2012. Info
659).
Se o réu que não tem foro por prerrogativa de função for julgado pelo Tribunal, isso
não irá ofender o princípio do juiz natural? Em nosso exemplo, o fato de João, mesmo
não sendo mais autoridade, ser julgado pelo STJ, não ofende a Constituição Federal?
NÃO. O STF possui, inclusive, uma súmula a respeito do tema:
O juiz pode continuar investigando o Parlamentar federal? NÃO. Isso porque essa
investigação deverá ser autorizada e conduzida pelo STF. Caso o magistrado
continuasse as diligências investigatórias, estas seriam ilegais, podendo ser anuladas,
por violação ao foro por prerrogativa de função.
Até que esta Suprema Corte proceda à análise devida, não cabe ao
Juízo de primeiro grau, ao deparar-se, nas investigações com
suspeitos detentores de prerrogativa de foro, determinar a cisão das
investigações e a remessa a esta Suprema Corte da apuração relativa
a esses últimos. Se isso ocorre, o Juízo de primeiro grau usurpa a
competência do STF para analisar se é cabível ou não o
desmembramento (STF. Plenário. Rcl 7913 AgR, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 12/05/2011).
27.13. O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não
atrai a competência da justiça federal – (Info 819) – IMPORTANTE!!!
O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a
competência da justiça federal.
STF. 1ª Turma. HC 105461/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/3/2016 (Info
819).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: João morava em Ribeirão Preto (SP) e decidiu
se mudar para Rivera (Uruguai), onde passou a chefiar uma organização criminosa.
Carlos morava em Santana do Livramento (Brasil) e integrava a mesma organização
criminosa, mas estava tentando enganar João. Depois que este descobriu a traição,
decidiu matá-lo. Para disfarçar, João mandou um capanga ir até a casa de Carlos
pedindo que este fosse a uma reunião no Uruguai, onde supostamente o chefe iria lhe
dar uma nova missão. Quando Carlos chegou na sede da organização criminosa em
Rivera, foi morto por João. Alguns dias depois, João resolveu visitar sua mãe, que
mora em Santana do Livramento, quando, então, foi preso pela Polícia, que já o
investigava há algum tempo.
Em tese, o homicídio praticado por João poderá ser julgado no Brasil? SIM. A hipótese
pode, em tese, ser no art. 7º, II, "b", do Código Penal:
Pelo fato de o crime ter sido cometido no exterior, a competência para julgá-lo é da
Justiça Federal? NÃO. Nada a ver. O crime só pode ser julgado pela Justiça Federal
caso se amolde a uma das hipóteses previstas no art. 109 da CF/88. No caso, o delito
não foi praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades autárquicas ou empresas públicas (inciso IV). De igual modo, não se aplica
o inciso V: "os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro,
ou reciprocamente". Isso porque no Brasil houve a prática de atos meramente
preparatórios. O ato criminoso fora inteiramente cometido no exterior, a afastar a
incidência da mencionada regra constitucional, cuja interpretação há de ser estrita. Os
demais incisos do art. 109 nem de longe geram dúvida e não se aplicam ao caso
concreto. Dessa forma, não sendo hipótese de incidência da Justiça Federal, a
competência para julgar o delito em questão é da Justiça Estadual, que tem caráter
residual.
27.18. Mesmo tendo cessada a competência do STF para julgar a ação penal, é possível
a concessão de habeas corpus de ofício em caso de flagrante atipicidade – (Info 781) –
IMPORTANTE!!!
Determinado réu foi denunciado pela prática de crime contra a Lei de Licitações.
Como ele era Deputado Federal, seu processo estava tramitando no STF. Após toda
a instrução, o Ministério Público apresentou alegações finais, no final de 2014,
pedindo a absolvição por atipicidade da conduta. O STF designou a sessão para
julgar o réu. Ocorre que essa sessão somente foi marcada para abril de 2015 e o
problema é que o referido réu não conseguiu se reeleger Deputado Federal e deixou
o cargo em 31/12/2014. Desse modo, no dia marcado para a sessão de julgamento, o
acusado já não era mais Deputado Federal.
Como o réu deixou de ser Deputado Federal, a solução tecnicamente “mais correta”
a ser tomada pelo STF seria reconhecer que não era mais competente para a ação
penal e declinar o processo para ser julgado por um juiz de direito de 1ª instância.
A Corte adotou, no entanto, uma postura mais “moderna” ou de “vanguarda” para
o caso: o STF reconheceu que não era mais competente para julgar a ação penal,
mas considerou que a situação era de flagrante atipicidade (tanto que o PGR pediu
a absolvição) e, por isso, entendeu que deveria ser concedido habeas corpus, de
ofício, em favor do réu, extinguindo o processo penal.
STF. 1ª Turma. AP 568/SP, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/4/2015 (Info
781).
27.20. Furto praticado por militar contra outro militar dentro das instalações militares
– (Info 778)
27.23. Competência para julgar civil que usa documento falso junto à Marinha – (Info
755) – ATENÇÃO!!!
27.24. Renúncia ao mandato de réu com foro por prerrogativa de função – (Info 754)
– TEMA AINDA POLÊMICO!!!
27.25. Pluralidade de investigados sendo um deles com foro privativo no STF- (Info
750)
27.26. Renúncia ao mandato de réu com foro por prerrogativa de função – (Info 740) -
Atenção! Concursos federais!
Determinado Deputado Federal respondia a uma ação penal que tramitava no STF
em virtude do cargo que ocupava (art. 102, I, “b”, da CF/88).
Foram praticados todos os atos de instrução. Após o Ministério Público apresentar
alegações finais, o réu renunciou ao seu mandato.
O STF decidiu que cessou sua competência para julgar o réu. Como consequência,
determinou a remessa do feito ao juízo de 1º grau.
Para o STF, a situação dos autos é diferente do precedente firmado na AP 396/RO,
no qual o réu (também ex-Deputado Federal) renunciou ao mandato um dia antes
do julgamento. Segundo a Corte, naquele caso, o processo já estava pronto para ser
julgado. Ademais, afirmou-se que não havia, na presente hipótese, perigo de
prescrição da pena em abstrato.
STF. Plenário. AP 536 QO/MG, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/3/2014
(Info 740).
27.27. Competência para julgar o crime de incitação à discriminação pela internet –
(Info 744) – IMPORTANTE!!!
27.28. A regra geral é de que haja o desmembramento dos processos quando houver
corréus sem prerrogativa de foro no STF – (Info 735) – IMPORTANTE!!!
27.29. Réu que, durante o julgamento na instância ordinária, passou a ter foro
privativo no STF – (Info 734)
28. IMPEDIMENTO
28.1. O magistrado que atuou como corregedor em processo administrativo não está
impedido de julgar o réu em processo criminal – (Info 824)
A suspeição deverá ser acatada? NÃO. A situação relatada não se enquadra no inciso
III do art. 252 do CPP. Quando o inciso III fala em “funcionado como juiz em outra
instância”, ele está se referindo à instância JUDICIAL.
Ex: o juiz “X” condena, em 1ª instância, o réu. O condenado apela. Nesse meio tempo,
o juiz é promovido a Desembargador. Este magistrado, que já apreciou o caso em 1ª
instância, não poderá julgar o recurso do réu.
Logo, o inciso III não abrange a situação relatada, uma vez que o Desembargador
havia julgado o réu na instância administrativa, não estando, portanto, impedido de
julgá-lo novamente, agora na instância judicial.
Segundo o STF, o rol do art. 252 do CPP é taxativo (numerus clausus) e deve ser
interpretado restritivamente, não podendo esse inciso III ser alargado.
28.2. Magistrado que julgou PAD contra o réu não está impedido de julgar o
processo criminal sobre os mesmos fatos – (Info 748)
CPP
ANTES DA LEI 13.257/2016 ATUALMENTE
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão
preventiva pela domiciliar quando o preventiva pela domiciliar quando o
agente for: agente for:
(...) (...)
IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês IV - gestante;
de gravidez ou sendo esta de alto risco.
Desse modo, agora basta que a investigada ou ré esteja grávida para ter direito à prisão
domiciliar. Não mais se exige tempo mínimo de gravidez nem que haja risco à saúde
da mulher ou do feto.
Inciso V - prisão domiciliar para MULHER que tenha filho menor de 12 anos
A Lei nº 13.257/2016 acrescentou o inciso V ao art. 318 com a seguinte redação:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela
domiciliar quando o agente for:
(...)
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos;
Inciso VI - prisão domiciliar para HOMEM que seja o único responsável pelos
cuidados do filho menor de 12 anos
A Lei nº 13.257/2016 acrescentou o inciso VI ao art. 318 com a seguinte redação:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela
domiciliar quando o agente for:
(...)
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do
filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos.
Esta hipótese também não existia e foi incluída pela Lei 13.257/16.
As hipóteses de prisão domiciliar previstas nos incisos do art. 318 do CPP são sempre
obrigatórias? Em outras palavras, se alguma delas estiver presente, o juiz terá que,
automaticamente, conceder a prisão domiciliar sem analisar qualquer outra
circunstância? NÃO. O art. 318 do CPP, que traz as hipóteses de prisão domiciliar,
deve ser aplicado de forma restrita e diligente, verificando-se as peculiaridades de
cada caso (Min. Gilmar Mendes, no HC 134069/DF, j. 21/6/16). Existem julgados do
STJ afirmando isso expressamente:
Concessão da prisão domiciliar do art. 318 do CPP deverá ser
analisada no caso concreto, não sendo automática nem
obrigatória.
O art. 318 do CPP, alterado pela Lei 13.257/16, traz a previsão
de hipóteses nas quais é permitida a conversão da prisão
preventiva em domiciliar.
O caput do art. 318 afirma que o Juiz poderá substituir a prisão
preventiva pela domiciliar.
Dessa forma, a substituição da prisão cautelar pela
domiciliar não é de caráter puramente objetivo e automático,
devendo ser analisada em cada caso concreto, não se
tratando, em absoluto, de regra a ser aplicada de forma
indiscriminada.
Vale ressaltar, no entanto, que a recusa também deve ser
devidamente motivada, cabendo ao magistrado justificar a
excepcional não incidência da prisão domiciliar.
STJ. 5ª Turma. HC 381.655/AC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j.
9/5/17.
STJ. 6ª Turma. RHC 81.300/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j.
6/4/17.
A doutrina majoritária também defende que as hipóteses do art. 318 do CPP não são
sempre obrigatórias. Veja o que diz Renato Brasileiro:
"(...) a presença de um dos pressupostos indicados no art. 318,
isoladamente considerado, não assegura ao acusado,
automaticamente, o direito à substituição da prisão
preventiva pela domiciliar.
O princípio da adequação também deve ser aplicado à
substituição (CPP, art. 282, II), de modo que a prisão
preventiva somente pode ser substituída pela domiciliar se
se mostrar adequada à situação concreta. Do contrário,
bastaria que o acusado atingisse a idade de 80 (oitenta) anos
para que tivesse direito automático à prisão domiciliar, com o
que não se pode concordar. Portanto, a presença de um dos
pressupostos do art. 318 do CPP funciona como requisito
mínimo, mas não suficiente, de per si, para a substituição,
cabendo ao magistrado verificar se, no caso concreto, a prisão
domiciliar seria suficiente para neutralizar o periculum
libertatis que deu ensejo à decretação da prisão preventiva do
acusado." (Manual de Direito Processual Penal. Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 998).
Desse modo, segundo o entendimento doutrinário acima exposto, não basta, por
exemplo, que a investigada ou ré esteja grávida (inciso IV) para ter direito,
obrigatoriamente, à prisão domiciliar. Ela estando grávida, será permitida a sua prisão
domiciliar, mas para tanto é necessário que a concessão desta medida substitutiva não
acarrete perigo à garantia da ordem pública, à conveniência da instrução criminal ou
implique risco à aplicação da lei penal. Assim, além da presença de um dos
pressupostos listados nos incisos do art. 318 do CPP, exige-se que, analisando o caso
concreto, não seja indispensável a manutenção da prisão no cárcere.
De igual modo, no caso do inciso V, não basta que a mulher presa tenha um filho
menor de 12 anos de idade para que receba, obrigatoriamente, a prisão domiciliar.
Será necessário examinar as demais circunstâncias do caso concreto e, principalmente,
se a prisão domiciliar será suficiente ou se ela, ao receber esta medida cautelar, ainda
colocará em risco os bens jurídicos protegidos pelo art. 312 do CPP.
29.2. PRISÃO: Há excesso de prazo em caso de réu preso há mais de quatro anos sem
ter sido sequer realizado seu interrogatório – (Info 878)
29.3. PRISÃO: Réu pronunciado e que aguarda Júri há 7 anos preso, sem culpa da
defesa, deverá ter direito à revogação da preventiva – (Info 868)
Não se pode decretar a prisão preventiva do acusado pelo simples fato de ele ter
descumprido acordo de colaboração premiada.
Não há, sob o ponto de vista jurídico, relação direta entre a prisão preventiva e o
acordo de colaboração premiada. Tampouco há previsão de que, em decorrência do
descumprimento do acordo, seja restabelecida prisão preventiva anteriormente
revogada.
Por essa razão, o descumprimento do que foi acordado não justifica a decretação de
nova custódia cautelar.
É necessário verificar, no caso concreto, a presença dos requisitos da prisão
preventiva, não podendo o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra
do acordo.
STF. 1ª Turma. HC 138207/PR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 25/4/17 (Info 862).
29.6. Decisão no HC que substituiu a prisão preventiva dos réus da operação Lava
Jato por outras medidas cautelares (art. 319 do CPP) – (Info 783)
A questão chegou até o STF. O que foi decidido? Qual será o termo inicial para a
obtenção do benefício da progressão: a data em que o réu foi preso preventivamente
(tese da defesa) ou o dia da publicação da sentença condenatória (tese do MP)? A data
em que o réu foi preso preventivamente (tese da defesa).
O preso provisório deve fazer jus aos mesmos direitos que o preso definitivo, salvo se
o benefício for incompatível com o texto expresso da lei. Não há qualquer
mandamento legal impedindo o cômputo do período em que o sentenciado ficou
preso cautelarmente para fins de progressão do regime fechado para o semiaberto.
32.2. Condenado que cumpre pena em presídio federal não pode ser beneficiado
com progressão de regime enquanto persistirem os motivos que o levaram a ser
transferido para esta unidade – (Info 838) – IMPORTANTE!!!
O cumprimento de pena em penitenciária federal de segurança máxima por motivo
de segurança pública não é compatível com a progressão de regime prisional.
STF. 2ª Turma. HC 131.649/RJ, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, rel. p/ac. Min. Dias
Toffoli, j. 6/9/2016 (Info 838).
O estrangeiro que cumpre pena no Brasil pode ser beneficiado com a progressão
de regime?
SIM. Não existe motivo para negar aos estrangeiros que cumprem pena no Brasil
os benefícios da execução penal, dentre eles a progressão de regime. Isso porque a
condição humana da pessoa estrangeira submetida a pena no Brasil é protegida
constitucionalmente e no âmbito dos direitos humanos. Assim, em regra, é
plenamente possível a progressão de regime para estrangeiros que cumpram pena
no Brasil.
Vale ressaltar, no entanto, que essa providência (progressão) será ineficaz até que
o STF delibere acerca das condições da prisão para extradição. Em outras palavras,
é possível que seja deferida a progressão de regime ao apenado que aguarda o
cumprimento da ordem de extradição, mas isso só poderá ser concretizado pelo
juízo das execuções (juiz de 1ª instância) depois que o STF concordar. Cabe ao STF
deliberar acerca de eventual adaptação das condições da prisão para extradição ao
regime prisional da execução penal. Assim, depois que o juízo da execução afirmar
que os requisitos para a progressão estão preenchidos, deverá ainda o STF verificar
se a concessão do regime semiaberto ou aberto ao extraditando não irá causar risco
à garantia da ordem garantia da ordem pública, da ordem econômica, à
conveniência da instrução criminal, nem à aplicação da lei penal pública (art. 312
do CPP).
STF. 2ª Turma. Ext 893 QO/República Federal da Alemanha, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 10/3/2015 (Info 777).
32.5. Condenado que permanece preso mesmo tendo sido determinado que
cumprisse medida de segurança – (Info 753)
32.6. Progressão de regime para estrangeiro que cumpre pena no Brasil e que está
aguardando o cumprimento da extradição – (Info 748) – ATENÇÃO! DPU!
34. PROCEDIMENTOS
34.1. Não aplicação do art. 396-A do CPP ao processo penal militar – (Info 831)
34.2. Não se aplica o prazo em dobro do caput do art. 229 do CPC/2015 aos processos
em autos eletrônicos – (Info 829)
34.4. Interrogatório no processo penal militar passa a ser o último ato da instrução –
(Info 816) – IMPORTANTE!!! ATUALIZE LIVRO 2014!
34.5. Aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo
penal – (Info 797) – IMPORTANTE!!!
É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao
processo penal.
Se no processo civil, em que se discutem direitos disponíveis, concede-se prazo em
dobro, com mais razão no processo penal, em que está em jogo a liberdade do
cidadão.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min.
Luiz Fux, j. 3/9/15 (Info 797).
STF. Plenário. Inq 4112/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min.
Gilmar Mendes, julgado em 1º/9/2015 (Info 797).
A Lei 11.719/2008 alterou o art. 400 do CPP estabelecendo que o interrogatório deve
ser feito depois da inquirição das testemunhas e da realização das demais provas.
Essa alteração repercutiu no CPPM? No procedimento do CPPM, o interrogatório
deve ser o último ato da instrução?
SIM (1ª Turma do STF)
NÃO (2ª Turma do STF)
34.7. O interrogatório do corréu não poderá ser acompanhado pelo acusado, mesmo
que este seja advogado e atue em causa própria – (Info 747) – IMPORTANTE!!!
Se houver mais de um acusado, cada um dos réus não terá direito de acompanhar o
interrogatório dos corréus. Segundo o CPP, havendo mais de um acusado, eles
deverão ser interrogados separadamente (art. 191).
Ex: João e Pedro são réus em uma ação penal. No momento em que forem ser
interrogados, um não poderá ouvir o depoimento do outro. Logo, quando João for
ser interrogado, Pedro terá que sair da sala, ficando, contudo, seu advogado
presente. No instante em que Pedro for prestar seus esclarecimentos, será a vez de
João deixar o recinto, ficando representado por seu advogado.
Se o réu for advogado e estiver atuando em causa própria, mesmo assim deverá ser
aplicada a regra do art. 191 do CPP. Em outras palavras, quando o corréu for ser
interrogado, o acusado (que atua como advogado) terá que sair da sala de audiência.
STF. 2ª Turma. HC 101021/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/5/2014 (Info
747).
O STF decidiu que seria possível adiar o julgamento de ação penal privada mesmo
que isso gerasse a prescrição da pretensão punitiva.
O pedido de adiamento foi formulado pelo próprio advogado do querelante e teve
a anuência do advogado do querelado.
STF. Plenário. AP 584 QO/PR, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/4/2014 (Info 742).
34.10. Comunicações processuais por DJe e início da contagem dos prazos – (Info 738)
No caso de intimação por Diário de Justiça eletrônico, o termo inicial dos prazos
processuais será o primeiro dia útil seguinte ao da data da publicação.
Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da
disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico.
STF. 1ª Turma. HC 120478/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 11/3/2014
(Info 738).
34.11. Não é possível aplicar a fase de absolvição sumária do art. 397 do CPP para o
procedimento previsto na Lei n. 8.038/90 – (Info 736)
No procedimento previsto na Lei n. 8.038/90 não é necessário que seja aplicada, por
analogia, a fase de absolvição sumária estabelecida no art. 397 do CPP. Isso porque
o rito previsto nessa lei especial já traz a previsão do denunciado apresentar uma
resposta preliminar e a possibilidade do Tribunal julgar improcedente a acusação
antes mesmo da ação penal se iniciar.
Dessa forma, o art. 4º da Lei n. 8.038/1990 tem a mesma finalidade e substitui a
absolvição sumária do art. 397 do CPP.
Não é cabível, em se tratando de ação penal originária (Lei n. 8.038/90), que seja
assegurado ao acusado citado para a apresentação da defesa prévia prevista no art.
8º da Lei n. 8.038/90 o direito de se manifestar nos moldes preconizados no art. 396-
A do CPP, com posterior deliberação acerca de absolvição sumária prevista no art.
397 do CPP.
STJ. Corte Especial. AgRg na APN 697-RJ, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado
em 3/10/2012.
STF. 2ª Turma. HC 116653/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2014 (Info
736).
O art. 478, I, do CPP afirma que, durante os debates, as partes não poderão, sob
pena de nulidade, fazer referências à decisão de pronúncia ou às decisões
posteriores que julgaram admissível a acusação como argumento de autoridade
para beneficiar ou prejudicar o acusado. Isso não significa, contudo, que qualquer
referência ou leitura da decisão acarretará, obrigatoriamente, a nulidade do
julgamento.
Na verdade, somente haverá nulidade se a leitura ou as referências forem feitas
como argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.
Assim, por exemplo, não haverá nulidade se o MP simplesmente ler, no Plenário,
trecho da decisão do Tribunal que manteve a sentença de pronúncia contra o réu,
sem fazer a utilização do artifício do “argumento de autoridade”.
STF. 2ª Turma. RHC 120598/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015
(Info 779).
STJ. 5ª Turma. HC 248.617-MT, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/9/2013 (Info
531).
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.235.899-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 5/11/2013 (Info 531).
Imagine que duas pessoas tenham praticado, em conjunto, homicídio. Uma delas
foi julgada primeiro, tendo sido condenada. No julgamento do segundo réu,
durante os debates no Plenário do Júri, o Promotor de Justiça leu a sentença que
condenou o primeiro réu. Houve nulidade por violação do art. 478, I, do CPP?
NÃO. A leitura, pelo Ministério Público, da sentença condenatória de corréu
proferida em julgamento anterior não gera nulidade de sessão de julgamento pelo
conselho de sentença.
Segundo decidiu o STF, o art. 478, I, não proíbe que se leia a sentença condenatória
de corréu no mesmo processo. Logo, não é possível falar que houve
descumprimento da regra prevista nesse dispositivo.
STF. 1ª Turma. RHC 118006/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info
774).
O rito previsto no art. 400 do CPP NÃO se aplica à Lei de Drogas. Assim, o
interrogatório do réu processado com base na Lei n. 11.343/2006 deve observar o
procedimento nela descrito (arts. 54 a 59).
O art. 57 da Lei n. 11.343/2006 estabelece que o interrogatório ocorre em momento
anterior à oitiva das testemunhas, diferentemente do que prevê o art. 400 do CPP,
que dispõe que o interrogatório seria realizado ao final da audiência de instrução e
julgamento.
No confronto entre as duas leis, aplica-se a lei especial quanto ao procedimento,
que, no caso, é a Lei de Drogas.
Logo, não gera nulidade o fato de, no julgamento dos crimes previstos na Lei n.
11.343/2006, a oitiva do réu ocorrer antes da inquirição das testemunhas.
Segundo regra contida no art. 394, § 2º, do CPP, o procedimento comum será
aplicado no julgamento de todos os crimes, salvo disposições em contrário do
próprio CPP ou de lei especial. Logo, se para o julgamento dos delitos disciplinados
na Lei 11.343/2006 há rito próprio (art. 57, da Lei 11.343/2006), no qual o
interrogatório inaugura a audiência de instrução e julgamento, é de se afastar o rito
ordinário (art. 400 do CPP) nesses casos, em razão da especialidade.
STF. 2ª Turma. HC 121953/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
10/6/2014 (Info 750).
40. NULIDADES
40.1. Situação na qual não houve violação ao Princípio do Promotor Natural – (Info
880) – IMPORTANTE!!!
O pedido da defesa foi acolhido pelo STF? NÃO. Não houve neste caso violação ao
“Princípio do Promotor Natural”.
40.2. A investigação criminal contra Prefeito deverá ser feita com o controle
jurisdicional do TJ. Declarações colhidas em âmbito estritamente privado sem
acompanhamento de autoridade pública não apresentam confiabilidade. A denúncia
contra Prefeito por crime em licitação municipal deve indicar sua participação ou
conhecimento acerca dos fatos. Em caso de denúncia envolvendo crime do DL 201/67
e delito diverso, deverá ser assegurada a defesa prévia para ambas as imputações –
(Info 856)
II – Deve ser rejeitada, por ausência de justa causa, a denúncia que, ao arrepio da
legalidade, baseia-se em supostas declarações, colhidas em âmbito estritamente
privado, sem acompanhamento de qualquer autoridade pública (autoridade
policial, membro do Ministério Público) habilitada a conferir-lhes fé pública e
mínima confiabilidade.
III – A denúncia contra Prefeito por crime ocorrido em licitação municipal deve
indicar, ao menos minimamente, que o acusado tenha tido participação ou
conhecimento dos fatos supostamente ilícitos. O Prefeito não pode ser incluído
entre os acusados unicamente em razão da função pública que ocupa, sob pena de
violação à responsabilidade penal subjetiva, na qual não se admite a
responsabilidade presumida.
OBS:
O que é a chamada "denúncia anônima"? Denúncia anônima ocorre quando alguém,
sem se identificar, relata para as autoridades (ex: Delegado de Polícia, MP etc.) que
determinada pessoa praticou um crime. É o caso dos serviços conhecidos como "disk-
denúncia" ou, então, dos aplicativos de celular por meio dos quais se "denuncia" a
ocorrência de delitos.
Desse modo, a doutrina defende que a interceptação telefônica deverá ser considerada
a ultima ratio, ou seja, trata-se de prova subsidiária.
Tendo como fundamento esse dispositivo legal, a jurisprudência pacífica do STF e do
STJ entende que é ilegal que a interceptação telefônica seja determinada apenas com
base em “denúncia anônima”.
40.7. Designação de defensor dativo para audiência em que Defensor Público não
pode participar e inexistência de violação ao princípio do Defensor Público natural –
(Info 814) – IMPORTANTE!!!
40.8. Julgamento por órgão colegiado formado por maioria de juízes convocados não
viola o princípio do juiz natural – (Info 814)
Não viola o princípio do juiz natural o julgamento de apelação por órgão colegiado
presidido por desembargador, sendo os demais integrantes juízes convocados.
STF. 1ª Turma. HC 101473/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 16/2/2016 (Info 814).
OBS1: A convocação excepcional e transitória de juízes de primeiro grau para fazer
frente ao excessivo número de processos e substituir Desembargadores nas câmaras
julgadoras, com respaldo em lei específica, não significa ofensa ao princípio do juiz
natural. Ao contrário, essa solução, longe de caracterizar a criação de juízos de exceção
ou “ad hoc”, tem a virtude de tentar concretizar uma prestação jurisdicional célere e
efetiva, em plena conformidade com a garantia constitucional da razoável duração do
processo (art. 5º, LXXVIII, da CF/88). Não há, portanto, ofensa às garantias
fundamentais do processo, especialmente porque são observados critérios objetivos e
com expressa autorização legal. Existe precedente do Plenário do Tribunal
confirmando que esta prática é constitucional:
40.10. Intimação da Defensoria Pública com remessa dos autos mesmo que a decisão
tenha sido proferida em audiência – (Info 791) – IMPORTANTE!!!
40.13. Nulidade pela juntada posterior do voto vencido na apelação – (Info 740)
A apelação interposta pelo réu foi julgada improvida. Essa decisão foi publicada
no Diário eletrônico. Ocorre que somente após a publicação, houve a juntada do
voto vencido.
Para o STF, juntada do voto vencido em momento posterior à publicação do acórdão
afronta o princípio da ampla defesa.
STF. 2ª Turma. HC 118344/GO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18/3/14 (Info 740).
41. SENTENÇA
41.1. Princípio da correlação (congruência), causa de aumento e emendatio libelli –
(Info 882) – IMPORTANTE!!!
Para que a causa de aumento de pena seja reconhecida pelo julgador é necessário
que ela tenha sido narrada na denúncia ou queixa.
Se na peça acusatória estiver narrada a circunstância que configura a causa de
aumento de pena, não é indispensável que o MP (ou o querelante) requeira a
condenação com base no dispositivo legal no qual está prevista a causa de aumento.
Ex: o MP ajuizou ação penal contra o réu por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei n.
8.137/90). Na denúncia, o MP não pediu expressamente que fosse reconhecida a
majorante do art. 12, I (quando o crime causa grave dano à coletividade). Pediu-se
apenas a condenação do acusado pelo crime do art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90. Vale
ressaltar, no entanto, que o MP narrou na denúncia que o réu reduziu Imposto de
Renda em montante superior a 2 milhões de reais.
O juiz, na sentença, condenou o réu apenas pelo art. 1º, I, da Lei. No entanto, o TRF,
em um recurso do MP, reconheceu a aplicação da causa de aumento prevista no art.
12, I.
STF. 1ª Turma. HC 120587/SP e RHC 119962/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 20/5/14 (Info
747).
STF. 2ª Turma. HC 123733/AL, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 16/9/14 (Info 759).
42. RECURSOS
42.1. Situações nas quais não se aplica a regra do art. 580 do CPP – (Info 867)
O art. 580 do CPP afirma que, no caso de concurso de agentes, a decisão favorável
que um dos réus conseguir no julgamento do seu recurso poderá ser aproveitada
pelos demais acusados, salvo se a decisão tiver se fundamentado em motivos que
sejam de caráter exclusivamente pessoal.
Habeas corpus impetrado por Renato Duque: Diante disso, a defesa de Renato Duque,
ex-diretor da Petrobrás, ingressou no STF com pedido de extensão da revogação da
prisão preventiva deferida a José Dirceu. A defesa alegou que haveria identidade de
partes e de imputação em duas ações penais nas quais ele e Dirceu foram condenados
pelo juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) e pediu, ainda, a extensão da decisão
a outras três ações penais, duas delas pendentes de julgamento de apelação pelo TRF-
4 e outra aguardando julgamento em 1º grau.
Em outras palavras, Renato Duque é réu em cinco ações penais. Em duas delas, ele
responde juntamente com José Dirceu e, nas outras três, o ex-Ministro não é réu.
Duque pediu para a decisão de revogação de Dirceu ser aplicada também para ele e
que fosse determinada a sua liberdade em todos os cinco processos. O pedido de
Duque foi baseado no art. 580 do CPP, aplicável por analogia. Isso porque esse
dispositivo fala em “recurso” e a decisão de soltura de José Dirceu foi proferida em
um habeas corpus (que não é recurso). Veja a redação do dispositivo legal:
Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art.
25), a decisão do recurso interposto por um dos réus, se
fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente
pessoal, aproveitará aos outros.
O STF concordou com o pedido de Renato Duque? NÃO.
Primeiro processo no qual Duque figura como réu ao lado de Dirceu: Neste caso, a
custódia preventiva de Duque foi mantida na sentença sob o argumento de que o ex-
Diretor da Petrobrás apresentava habitualidade na prática delitiva. Além disso, o
magistrado afirmou que Duque é “titular de ativos secretos milionários no exterior” e
que continuou a movimentar tais valores buscando dissipá-los mesmo durante as
investigações. Esses fundamentos são específicos e relacionados apenas à situação de
Duque. Esses motivos que justificaram a prisão de Duque não existiam para José
Dirceu. Logo, há circunstâncias fáticas incomunicáveis na prisão de Duque em relação
ao do corréu Dirceu. Em outros termos, não há identidade de situação (as
circunstâncias fáticas são diferentes), o que torna impossível permitir a extensão do
benefício, na forma do artigo 580 do CPP. O art. 580 do CPP é a norma processual
penal garantidora de tratamento jurídico isonômico para corréus que apresentarem
idêntica situação quanto aos demais.
Segundo processo no qual Duque figura como réu ao lado de Dirceu: Quanto a este
segundo processo, o STF entendeu que não havia interesse de agir por parte de
Duque. Isso porque nesta ação penal não existe nenhuma decisão decretando a sua
prisão preventiva. Logo, ele está preso por força do primeiro processo.
Outros três processos que Duque responde sem ter Dirceu como corréu: Quanto a esses
processos, o pedido de extensão feito por Duque não foi conhecido (não teve o mérito
apreciado). Isso porque Dirceu não é corréu juntamente com Duque. A extensão de
que trata o art. 580 do CPP só vale para os réus que integrem a mesma relação
jurídica processual daquele que foi beneficiado. Em outras palavras, a pessoa presa
somente pode pedir para si a extensão do benefício se o réu que foi beneficiado
também fizer parte do mesmo processo do requerente. Assim, Duque não pode pedir
para aplicar a decisão favorável de Dirceu nestes três processos porque Dirceu não faz
parte deles. Logo, são outros fatos, outras circunstâncias.
O art. 1º da Lei 9.800/99 prevê que "é permitida às partes a utilização de sistema de
transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a prática de
atos processuais que dependam de petição escrita."
É possível a interposição de recurso por e-mail, aplicando-se as regras da Lei
9.800/99? NÃO. A ordem jurídica não contempla a interposição de recurso via e-
mail.
O e-mail não configura meio eletrônico equiparado ao fax, para fins da aplicação
do disposto no art. 1º da Lei 9.800/99, porquanto não guarda a mesma segurança de
transmissão e registro de dados.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 919.403/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j.
13/09/16.
STF. 1ª Turma. HC 121225/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/3/2017 (Info 857).
42.3. Prazo do agravo contra a decisão do Tribunal de origem que nega seguimento
ao RE – (Info 845) – IMPORTANTE!!!
O CPC/2015 previu, em seu art. 219, que os prazos devem ser contados somente em
dias úteis. Esta regra vale também para o agravo envolvendo processos criminais? Se
o Presidente do tribunal de origem nega seguimento ao RE ou Resp (em matéria
criminal) e a parte interpõe agravo, o prazo deste agravo será contado em dias úteis?
NÃO. Não se aplica o art. 219 do CPC/2015, considerando que existe regra específica
no processo penal determinando que todos os prazos serão contínuos, não se
interrompendo por férias, domingo ou dia feriado (art. 798 do CPP). As regras do
processo civil somente se aplicam ao processo penal subsidiariamente. No caso, existe
regra expressa de contagem do prazo no processo penal (art. 798 do CPP). Logo, se o
Presidente do tribunal de origem nega seguimento ao RE ou Resp (em matéria
criminal) e a parte deseja interpor agravo contra esta decisão, ela terá o prazo de 15
dias CORRIDOS (não são dias úteis).
Atenção: apesar de eu achar que sim, não se pode ter ainda certeza que o
entendimento exposto restará consolidado no STF. Isso porque no julgado acima
mencionado, os Ministros Luiz Fux, Roberto Barroso e Rosa Weber acompanharam o
Relator quanto à intempestividade do recurso para não o conhecer, mas não quanto
aos fundamentos. Desse modo, é necessário que este tema seja novamente debatido
para termos uma posição mais tranquila.
Não confundir: Importante fazer um último alerta. A Súmula 699 do STF e a explicação
acima não têm nada a ver com agravos internos interpostos contra decisões
monocráticas de Ministros do STF e STJ. No caso de agravo interposto contra decisão
monocrática do Ministro Relator no STF e STJ, em recursos ou ações originárias que
versem sobre matéria penal ou processual penal, o prazo continua sendo de 5 dias,
nos termos do art. 39 da Lei nº 8.038/90 (não se aplicando o art. 1.070 do CPC/2015).
Para maiores informações sobre este último agravo, veja STF. Decisão monocrática.
HC 134554 Rcon, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 10/06/2016 (Info 830); STJ. 3ª
Seção. AgRg nos EDcl nos EAREsp 316.129-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 25/5/2016 (Info 585).
42.5. Situação de reformatio in pejus mesmo tendo havido redução da pena final –
(Info 797)
João foi condenado em 1ª instância a uma pena de 2 anos pela prática do crime de
furto qualificado pela escalada (art. 155, § 4º, II, do CP). O MP não recorreu,
transitando em julgado a sentença para a acusação. A defesa do réu interpôs
apelação. O Tribunal de Justiça entendeu que não estavam presentes os requisitos
necessários para a configuração da qualificadora da escalada (art. 155, § 4º, II) e, por
isso, a retirou, transformando em furto simples. Até aí, tudo bem. Esse era um dos
pedidos do recurso. Ocorre que os Desembargadores foram além e decidiram
reconhecer a presença da causa de aumento prevista no § 1º do art. 155 do CP, em
virtude de estar provado nos autos que o furto ocorreu durante o repouso noturno.
Assim, o TJ afastou a condenação pelo art. 155, § 4º, II, do CP e condenou o réu pelo
art. 155, § 1º, do CP. Com base nessa nova capitulação, o TJ fixou a pena do réu em
1 ano e 4 meses. Agiu corretamente o TJ?
NÃO. O STF entendeu que a decisão do TJ violou o princípio do non reformatio in
pejus, devendo ser refeita a dosimetria. O TJ acrescentou uma causa de aumento de
pena (art. 155, § 1º) que não havia sido reconhecida na sentença em 1ª instância.
Como o recurso era exclusivo da defesa, o TJ não poderia ter inserido na
condenação uma circunstância contrária ao réu e que não estava presente
anteriormente. Assim, mesmo aparentemente a decisão do TJ tendo sido benéfica ao
réu (por ter reduzido a pena), na verdade, houve, na parte referente à causa de
aumento, uma reforma para pior.
STF. 2ª Turma. RHC 126763/MS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min.
Gilmar Mendes, julgado em 1º/9/2015 (Info 797).
42.7. Possibilidade de emendatio libelli desde que não haja reformatio in pejus –
(Info 770)
O réu foi condenado, em 1ª instância, pela prática de furto qualificado (art. 155, §
4º, II, do CP).
O MP conformou-se com a sentença, mas a defesa interpôs apelação. O Tribunal
entendeu que os fatos ocorreram realmente na forma como narrada pelo MP, mas
que, em seu entendimento, isso configurou peculato (art. 312, § 1º do CP) e não
furto qualificado. Vale ressaltar que, a fim de não prejudicar o réu/recorrente, o TJ
manteve o quantum da pena imposta na sentença.
O Tribunal fez uma emendatio libelli, mas isso não era permitido no caso concreto.
Em princípio, é possível que o Tribunal, no julgamento de um recurso contra a
sentença, faça emendatio libelli. No entanto, se o recurso era exclusivo da defesa, o
Tribunal não pode causar uma piora na situação do réu, já que isso significa
reformatio in pejus. No caso concreto, a pena imposta permaneceu a mesma. No
entanto, mesmo assim houve um agravamento na situação do réu. Isso porque uma
condenação por crime contra a Administração Pública (peculato) é mais grave e traz
maiores efeitos deletérios do que uma condenação por crime contra o patrimônio
(furto). Segundo o art. 33, § 4º do CP, os condenados pela prática de crime contra a
Administração Pública somente podem obter a progressão de regime se efetuarem
previamente a reparação do dano causado ou a devolução do produto do ilícito
praticado. A análise da ocorrência ou não de reformatio in pejus não pode ficar
restrita ao quantum da pena aplicada, devendo ser analisados os outros efeitos da
condenação.
STF. 2ª Turma. HC 121089/AP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/12/2014
(Info 770).
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João é suspeito de ter praticado crimes
contra a Administração Pública. O juiz, a requerimento do Ministério Público,
determina que João deverá:
1) comparecer mensalmente à Secretaria da Vara para informar e justificar suas
atividades;
2) ficar afastado do cargo público que ocupa.
É possível que João impetre habeas corpus para questionar a imposição dessas
medidas cautelares? O investigado/réu poderá se valer do habeas corpus para
impugnar decisão que lhe impõe medidas cautelares diversas da prisão? SIM. O
habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza
criminal diversas da prisão. STF. 2ª Turma. HC 147426/AP e HC 147303/AP, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgados em 18/12/2017 (Info 888).
O habeas corpus deve ser admitido para impugnar medidas criminais que, embora
diversas da prisão, afetem interesses não patrimoniais importantes da pessoa física.
Se, por um lado, essas medidas são menos gravosas do que a prisão, por outro, são
também onerosas ao investigado/réu. Além disso, se essas medidas forem
descumpridas, podem ser convertidas em prisão processual, de forma que existe o
risco à liberdade de locomoção. Caso fechada a porta do “habeas corpus”, restaria o
mandado de segurança. Nos processos em 1ª instância, talvez fosse suficiente para
conferir proteção judicial recursal efetiva ao alvo da medida cautelar. No entanto,
naqueles de competência originária de tribunal, confundem-se, na mesma instância,
as competências para decretá-la e para analisar a respectiva ação de impugnação. Isso,
na prática, esvazia a possibilidade de impugná-la em tempo hábil. Podem ser
encontrados alguns precedentes do STJ no mesmo sentido:
"Conquanto o afastamento do cargo público não afete
diretamente a liberdade de locomoção do indivíduo, o certo é
que com o advento da Lei 12.403/2011 tal medida pode ser
imposta como alternativa à prisão preventiva do acusado,
sendo que o seu descumprimento pode ensejar a decretação
da custódia cautelar" (HC-262.103/AP, Rel. Min. Jorge Mussi,
Quinta Turma, DJe de 15/9/2014).
45.2. Não cabe HC para obter direito à visita íntima – (Info 887)
Diante disso, Maria impetrou um habeas corpus contra a decisão do juiz. O habeas
corpus teve êxito? NÃO. O STF entendeu que não há, neste caso, restrição ao direito
de liberdade. A decisão atacada tem natureza administrativa. Portanto, o habeas
corpus não é o meio processual adequado para discutir direito de visitas.
E se o pedido tivesse sido feito por João, haveria possibilidade de êxito? Também não.
A 2ª Turma do STF também já decidiu que o habeas corpus não é meio processual
adequado para o apenado obter autorização de visita de sua companheira no
estabelecimento prisional. STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 30/6/2015 (Info 792).
45.3. Não cabe habeas corpus para discutir processo criminal envolvendo o art. 28
da LD – (Info 887) – IMPORTANTE!!!
E se o pedido tivesse sido feito por João, haveria possibilidade de êxito? Também não.
A 2ª Turma do STF também já decidiu que o habeas corpus não é meio processual
adequado para o apenado obter autorização de visita de sua companheira no
estabelecimento prisional. STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j.
30/6/2015 (Info 792).
Em regra, não cabe habeas corpus para o STF contra decisão monocrática do
Ministro do STJ que não conhece ou denega habeas corpus que havia sido
interposto naquele Tribunal. É necessário que primeiro o impetrante exaure
(esgote), no tribunal a quo (no caso, o STJ), as vias recursais ainda cabíveis (no caso,
o agravo regimental).
Exceção: essa regra pode ser afastada em casos excepcionais, quando a decisão
atacada se mostrar teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente
contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia conceder de
ofício o habeas corpus.
STF. 1ª Turma. HC 139612/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/4/17 (Info 862).
STF. 2ª Turma. HC 143476/RJ, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min.
Ricardo Lewandowski, j. 6/6/17 (Info 868).
45.6. Não cabimento de HC contra ato de Ministro do STF – (Info 865) – (PCGO-
2017)
O STF é dividido em duas Turmas (1ª e 2ª), cada uma com 5 Ministros e mais o
Plenário (composto pelos 11 Ministros). Se uma das Turmas toma uma decisão
contrária ao réu, é possível impetrar habeas corpus para ser julgado pelo Plenário?
NÃO. Este entendimento encontra-se cristalizado em uma súmula:
Súmula 606-STF: Não cabe habeas corpus originário para o
Tribunal Pleno de decisão de turma, ou do plenário, proferida
em habeas corpus ou no respectivo recurso.
Ex: o STJ deu provimento ao recurso interposto pelo MP e, com isso, piorou a
situação do réu; a defesa impetra HC no STF contra o acórdão alegando que o STJ,
no recurso especial, reexaminou provas, o que é vedado pela Súmula 7 da Corte (A
pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.). Esse HC não
será conhecido pelo STF porque o impetrante busca questionar os pressupostos de
admissibilidade do Resp.
STF. 2ª Turma. HC 138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 21/3/17 (Info 858).
Apenas para ficar mais fácil visualizar, imagine que a decisão monocrática do Ministro
tenha sido esta:
"Trata-se de habeas corpus impetrado em lugar do recurso
próprio, situação na qual se impõe o não conhecimento da
impetração.
Vale ressaltar que, constatada a existência de ilegalidade
flagrante, nada impede que seja deferido habeas corpus de ofício,
como forma de fazer cessar o constrangimento ilegal.
No presente caso, contudo, não vislumbro qualquer
ilegalidade considerando que o Tribunal de origem decidiu conforme
a jurisprudência...
Ante o exposto, não conheço do habeas corpus."
O STF concordou com o procedimento adotado pelo Ministro do STJ? É possível que
o Ministro do STJ, monocraticamente, decida não conhecer do habeas corpus
impetrado naquele Tribunal (sem levar o processo para colegiado)? Pode isso? Aqui
temos uma polêmica. No caso concreto que foi divulgado no Info 857, a 1ª Turma do
STF decidiu que o Ministro do STJ não poderia ter decidido o habeas corpus de forma
monocrática e que isso violaria o princípio da colegialidade. Existem outros julgados
mais antigos com o mesmo entendimento:
(...) A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é no
sentido de não caber ao Relator examinar o mérito da causa
para negar seguimento ao habeas corpus, sob pena de
indevida ofensa ao princípio da colegialidade. 3. Habeas
corpus não conhecido. Concessão da ordem de ofício para
cassar a decisão questionada e determinar a apreciação do
mérito pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça.
STJ. 2ª Turma. HC 116499, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 03/12/2013.
Além disso, no exemplo que demos acima, a defesa, em vez de ter impetrado novo
habeas corpus no STF, deveria ter interposto agravo regimental contra a decisão do
Ministro do STJ, recurso que seria julgado por uma das Turmas criminais do STJ. Em
situações assim normalmente o STF nem conhece do HC:
(...) 3. Decisão monocrática do STJ. Ausência de interposição
de agravo regimental. Não exaurimento da jurisdição e
inobservância ao princípio da colegialidade. Precedentes. (...)
STF. 2ª Turma. HC 131550 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 15/12/2015.
45.9. Nulidade cujo tema não foi trazido antes do trânsito em julgado – (Info 837)
Não se admite habeas corpus para se questionar nulidade cujo tema não foi trazido
antes do trânsito em julgado da ação originária e tampouco antes do trânsito em
julgado da revisão criminal.
A nulidade não suscitada no momento oportuno é impassível de ser arguida através
de habeas corpus, no afã de superar a preclusão, sob pena de transformar o writ em
sucedâneo da revisão criminal.
STF. 1ª Turma. RHC 124041/GO, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, j. 30/8/2016 (Info 837).
45.10. Não cabimento de HC para trancar impeachment – (Info 830) –
IMPORTANTE!!!
45.11. HC não é meio processual adequado para se discutir direito de visita a preso –
(Info 827 e 792)
Não cabe habeas corpus contra decisão que negou direito de familiar de preso
internado em unidade prisional de com ele ter encontro direto, autorizando apenas
a visita por meio do parlatório.
STF. 2ª Turma. HC 133305/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 24/5/16 (Info 827).
No mesmo sentido, vide STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 30/6/2015 (Info 792).
OBS2: Atualize o Info 796 do STF porque no HC 127483/PR ali noticiado a Corte havia
admitido o tema, mas agora voltou atrás. O que vale é esta última decisão (HC
105959/DF). Assim, NÃO cabe HC em face de decisão monocrática proferida por
Ministro do STF.
O habeas corpus não é meio processual adequado para o apenado obter autorização
de visita de sua companheira no estabelecimento prisional.
STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/6/2015 (Info
792).
Não cabe habeas corpus contra a decisão do juiz que nega o pedido do réu preso
(que é advogado) para que atue sozinho em seu processo criminal. No caso, o juiz
determinou que esse réu/advogado deverá atuar em conjunto com outro causídico
nomeado pelo juízo em virtude de ele se encontrar preso, o que dificultaria a
realização da defesa.
Segundo o STF, o HC não é o instrumento processual adequado a postular o direito
de exercer a autodefesa técnica, uma vez que não está em jogo a liberdade de
locomoção do paciente.
STF. 2ª Turma. HC 122382/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 5/8/14 (Info 753).
STF. 1ª Turma. HC 102836 AgR, Relator p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, j. 08/11/11.
STF. 2ª Turma. RHC 121722/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/5/14 (Info
747)
STJ. 5ª Turma. AgRg no Ag 1431146/RO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
21/11/13.
STJ. 6ª Turma. RHC 42.925/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 08/05/2014
Dessa forma, o STJ entende que, até que haja a declaração de inconstitucionalidade
do art. 147 da LEP, não se pode afastar sua incidência, sob pena de violação literal à
disposição expressa de lei (STJ. 5ª Turma. AgRg na PetExe no AREsp 971.249/SP, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/03/2017).
48.2. Não cabimento de habeas corpus contra decisão do Ministro do STJ que nega
a liminar em ação cautelar – (Info 872)
Não cabe habeas corpus para o STF contra decisão monocrática do Ministro do STJ
que negou o pedido da defesa formulado em ação cautelar (medida cautelar)
proposta com o objetivo de conferir efeito suspensivo ao recurso especial. Incide,
no caso, o óbice previsto na Súmula 691 do STF.
STF. 1ª Turma. HC 138633/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, j. 8/8/17 (Info 872).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a uma pena de 8 anos de
reclusão, tendo sido a ele assegurado na sentença o direito de recorrer em liberdade.
O réu interpôs apelação, mas o Tribunal de Justiça manteve a condenação. O TJ
determinou a expedição de mandado de prisão contra João e o início da execução
provisória da pena. Contra o acórdão do TJ, João interpôs recurso especial. Além disso,
a defesa do réu ingressou com ação cautelar no STJ para dar efeito suspensivo ao
recurso especial e, assim, impedir o início da execução provisória da pena. Em outras
palavras, a defesa afirmou o seguinte: eu sei que é possível dar início à execução
provisória da pena conforme o novo entendimento do STF. No entanto, no presente
caso, existe uma manifesta ilegalidade, de forma que se deve dar efeito suspensivo ao
Resp para que o réu aguarde em liberdade o julgamento do recurso. No STJ, o Ministro
Relator da medida cautelar, monocraticamente, indeferiu o pedido de liminar por não
vislumbrar, em sede de cognição sumária, manifesta ilegalidade a ensejar o seu
deferimento. A defesa impetrou, então, habeas corpus para o STF contra essa decisão
do Ministro do STJ.
O habeas corpus terá êxito? NÃO. Em regra, não cabe habeas corpus para o STF contra
decisão monocrática do Ministro do STJ. Aplica-se aqui o raciocínio da súmula 691 do
STF:
Súmula 691-STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal
conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do
Relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior,
indefere a liminar.
Exceções: A regra acima exposta pode ser afastada em casos excepcionais, quando a
decisão atacada se mostrar teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou
manifestamente contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia
conceder de ofício o habeas corpus.
Por que não cabe? O que a defesa deveria fazer? O STF entende que não cabe HC
porque não se exauriu a apreciação do tema no STJ. Assim, a defesa, em vez de
impetrar habeas corpus no STF, deve interpor agravo regimental contra a decisão do
Ministro do STJ, recurso a ser julgado pela 5ª ou 6ª Turmas do STJ (art. 258 do RISTJ).
Dessa forma, o exaurimento da instância antecedente é, como regra, pressuposto para
ensejar a competência do STF.
Os arts. 995 e 1.029, § 5º, do CPC/2015 preveem que, em regra, os recursos especial e
extraordinário possuem efeito meramente devolutivo. Em casos excepcionais, será
possível atribuir efeito suspensivo a esses recursos, especialmente se ficar constatada
a existência de teratologia ou abuso de poder. Apesar de estar prevista no CPC, esta
regra vale também para processos criminais.
As decisões judiciais que forem impugnadas por recursos que não têm efeito
suspensivo possuem eficácia imediata. Assim, após esgotadas as instâncias ordinárias,
a condenação criminal poderá provisoriamente surtir efeito imediato do
encarceramento, uma vez que o acesso às instâncias extraordinárias se dá por meio de
recursos que são ordinariamente dotados de efeito meramente devolutivo.
O STF não concordou com a tese de que o art. 283 do CPP, com a redação dada pela
Lei nº 12.403/2011, tenha revogado todas as espécies de prisão, com exceção daquelas
que foram expressamente nele mencionadas, ou seja, prisão em flagrante, temporária,
preventiva e decorrente de sentença condenatória transitada em julgado. Isso porque,
apesar de a redação do art. 283 ser posterior ao restante do CPP, não se pode levar em
consideração apenas o critério temporal para solução de antinomias.
Além disso, ainda que se leve em conta o critério temporal, é preciso lembrar que o
CPC/2015 é posterior ao art. 283 do CPP e os arts. 995 e 1.029, § 5º, do CPC determinam
que os recursos especial e extraordinário não possuem efeito suspensivo.
Portanto, não há antinomia entre o que dispõe o art. 283 do CPP e a regra que confere
eficácia imediata aos acórdãos proferidos por tribunais de apelação ("tribunais de 2º
grau julgando apelação").
OBS2: O Min. Teori Zavascki defendeu que, até que seja prolatada a sentença penal,
confirmada em 2º grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas, após esse momento,
exaure-se o princípio da não culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da decisão
de segundo grau ao STJ ou STF não se prestam a discutir fatos e provas, mas apenas
matéria de direito.
OBS4: Há o exemplo recente da LC 135/10 - Lei da Ficha Limpa, que, em seu art. 1º,
I, expressamente consagra como causa de inelegibilidade a existência de sentença
condenatória por crimes nela relacionados, quando proferidas por órgão colegiado. A
presunção de inocência não impede que, mesmo antes do trânsito em julgado, o
acórdão condenatório produza efeitos contra o acusado.
OBS6: Para que seja iniciado o cumprimento da pena, é necessário que o réu tenha
sido condenado em 1ª instância (pelo juiz) e esta sentença tenha sido confirmada pelo
Tribunal (2ª instância) ou ele poderá ser obrigado a cumprir a pena mesmo que o juiz
o tenha absolvido e o Tribunal reformado a sentença para condená-lo? Para início do
cumprimento provisório da pena o que interessa é que exista um acórdão de 2º grau
condenando o réu, ainda que ele tenha sido absolvido pelo juiz em 1ª instância. Para
o início da execução provisória não se exige dupla condenação (1ª e 2ª instâncias), mas
apenas que exista condenação em apelação e a interposição de recursos sem efeito
suspensivo.
OBS7: Imagine que o réu, após ser condenado pelo Tribunal em apelação, iniciou o
cumprimento provisório da pena (foi para a prisão). O STF, ao julgar o recurso
extraordinário, concorda com os argumentos da defesa e absolve o réu. Ele terá direito
de ser indenizado pelo período em que ficou preso indevidamente? Segundo a
jurisprudência atual, a resposta é, em regra, não há direito à indenização. Se formos
aplicar, por analogia, a jurisprudência atual sobre prisão preventiva, o que os
Tribunais afirmam é que se a pessoa foi presa preventivamente e depois, ao final,
restou absolvida, ela não terá direito, em regra, à indenização por danos morais, salvo
situações excepcionais.
Na prática, contudo, é muito comum que não existam colônias agrícolas e industriais
e casas de albergado, unidades prisionais previstas na Lei como sendo as adequadas
para o cumprimento da pena nos regimes semiaberto e aberto.
O STF debateu este tema no RE 641.320/RS e editou uma Súmula Vinculante sobre o
tema:
Súmula vinculante 56: A falta de estabelecimento penal
adequado não autoriza a manutenção do condenado em
regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa
hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.
Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação: João foi condenado a cumprir
pena em regime semiaberto. Diante da falta de vagas em colônia agrícola ou industrial,
João encontra-se cumprindo pena no presídio destinado ao regime fechado. Vale
ressaltar, contudo, que neste presídio existe uma ala destinada somente aos
sentenciados do regime semiaberto e aberto, concedendo-lhes os benefícios próprios
destes regimes. João encontra-se preso nesta ala do presídio. O apenado, contudo, não
se conformou com a situação e pediu ao juiz das execuções penais que, diante da
inexistência de colônia agrícola, ele tivesse direito à prisão domiciliar ou à antecipação
do regime aberto. O magistrado negou o pleito e João ingressou com reclamação no
STF alegando que a decisão violou a SV 56.
O STF concordou com a reclamação proposta? NÃO. O Código Penal, ao tratar sobre
os regimes semiaberto e aberto, prevê o seguinte:
Art. 33 (...)
§ 1º - Considera-se:
b) regime semiaberto a execução da pena em colônia
agrícola, industrial ou estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado
ou estabelecimento adequado.
No caso de João, embora o presídio onde ele está não seja efetivamente uma colônia
penal agrícola, esse estabelecimento preenche, na medida do possível, as condições do
regime semiaberto, inclusive dando condições para que internos se ausentem nas
ocasiões legalmente previstas. Diante dessa situação, a decisão do magistrado que
indeferiu o pedido de João não violou a SV 56.
49.2. Trabalho cumprido em jornada inferior ao mínimo legal pode ser aproveitado
para fins de remição caso tenha sido uma determinação da direção do presídio – (Info
860) – IMPORTANTE!!!
Segundo o art. 30 da LEP, a jornada diária de trabalho do apenado deve ser de, no
mínimo, 6 horas e, no máximo, 8 horas.
Apesar disso, se um condenado, por determinação da direção do presídio, trabalha
4 horas diárias (menos do que prevê a Lei), este período deverá ser computado para
fins de remição de pena.
Como esse trabalho do preso foi feito por orientação ou estipulação da direção do
presídio, isso gerou uma legítima expectativa de que ele fosse aproveitado, não
sendo possível que seja desprezado, sob pena de ofensa aos princípios da
segurança jurídica e da proteção da confiança.
Vale ressaltar, mais uma vez, o trabalho era cumprido com essa jornada por conta
da determinação do presídio e não por um ato de insubmissão ou de indisciplina
do preso.
STF. 2ª Turma. RHC 136509/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 4/4/2017 (Info 860).
OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE A REMIÇÃO: O art. 126 da Lei de Execuções Penais (Lei
nº 7.210/84) estabelece:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado
ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo,
parte do tempo de execução da pena.
É uma forma de estimular e premiar o condenado para que ocupe seu tempo com uma
atividade produtiva (trabalho ou estudo), servindo, ainda, como forma de
ressocialização e de preparação do apenado para que, quando termine de cumprir sua
pena, possa ter menos dificuldades de ingressar no mercado de trabalho.
O tempo remido será considerado como pena cumprida, para todos os efeitos (art.
128).
Obs: a remição de que trata a LEP é com “ç” (remição). Remissão (com “ss”) significa
outra coisa, qual seja, perdão, renúncia etc., sendo muito utilizada no direito civil
(direito das obrigações) para indicar o perdão do débito.
Dessa forma, o dia trabalhado somente pode ser considerado, para fins de remição,
caso o preso tenha cumprido uma jornada de, no mínimo, 6 horas. João trabalhava
apenas 4 horas diárias. Logo, isso não pode ser computado como dia de trabalho para
remição.
O apenado não se conformou e o caso chegou até o STF. O que decidiu a Corte? É
possível reconhecer a remição neste caso mesmo a jornada de trabalho sendo inferior
a 4 horas diárias? SIM.
Dito de outro modo, não há como se considerar que o trabalho prestado pelo preso,
por orientação ou estipulação da direção do presídio, constitua um nada jurídico,
sob pena de ofensa aos princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança.
49.3. Condenado que pratica fato definido como crime doloso deverá sofrer
regressão de regime mesmo antes do trânsito em julgado – (Info 832) –
IMPORTANTE!!!
O inciso I do art. 118 da LEP afirma que o apenado deverá regredir de regime se
"praticar fato definido como crime doloso".
Não é necessário que o juiz das execuções penais aguarde que a pessoa seja
condenada com trânsito em julgado para determinar a sua regressão.
A regressão de regime pela prática de fato definido como crime doloso, durante a
execução da pena, não depende do trânsito em julgado da condenação.
STJ. 5ª Turma. HC 333.615/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 15/10/15.
STF. Plenário. EP 8 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 1º/7/16 (Info
832).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Pedro foi condenado definitivamente e estava
cumprindo pena, no regime semiaberto, pela prática do crime 1, ocorrido em 2015. Em
2016, Pedro praticou, em tese, novo delito (crime 2) e foi denunciado pelo Ministério
Público.
O processo pelo segundo delito ainda está tramitando. Mesmo assim, isso irá
interferir na execução penal relativa ao crime 1? SIM. Haverá a regressão do
sentenciado para o regime fechado, na forma do art. 118, I, da Lei nº 7.210/84:
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará
sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer
dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
O inciso I do art. 118 afirma que haverá a regressão se o apenado praticar fato
definido como crime. É necessário que o juiz das execuções penais aguarde que a
pessoa seja condenada com trânsito em julgado para determinar a sua regressão com
base nesta hipótese? NÃO. Para que haja a regressão com fundamento neste inciso
não é necessário o trânsito em julgado quanto ao novo crime cometido, bastando a sua
prática. Este é o entendimento pacífico do STF.
O pagamento da multa está previsto no art. 112 da LEP como sendo um requisito para
a progressão? NÃO. O pagamento da multa não está previsto expressamente no art.
112 como um dos requisitos necessários para a progressão de regime. Apesar disso, o
STF entendeu que esse pagamento poderá ser exigido porque a análise dos requisitos
necessários para a progressão de regime não se restringe ao referido art. 112 da LEP.
Em outras palavras, outros elementos podem, e devem, ser considerados pelo julgador
na decisão quanto à progressão. Assim, para o STF, o julgador, atento às finalidades
da pena e de modo fundamentado, está autorizado a lançar mão de outros requisitos,
não necessariamente enunciados no art. 112 da LEP, mas extraídos do ordenamento
jurídico, para avaliar a possibilidade de progressão no regime prisional, tendo como
objetivo, sobretudo, o exame do merecimento do sentenciado.
Essa decisão não viola o art. 51 do CP, que proíbe a conversão da pena de multa em
prisão? NÃO. O art. 51 do Código Penal previa que se o condenado, deliberadamente,
deixasse de pagar a pena de multa, ela deveria ser convertida em pena de detenção.
Essa regra foi alterada pela Lei 9.268/96 e, atualmente, se a multa não for paga, ela
será considerada dívida de valor e deverá ser cobrada do condenado pela Fazenda
Pública por meio de execução fiscal. Importante esclarecer que, mesmo com essa
mudança feita pela Lei 9.268/96, a multa continua tendo caráter de sanção criminal,
ou seja, permanece sendo uma pena.
Esse entendimento não viola a regra constitucional segundo a qual não existe prisão
civil por dívida? NÃO. Não se está prendendo alguém por causa da dívida, mas
apenas impedindo que ela tenha direito à progressão de regime em virtude do
descumprimento de um dever imposto ao condenado. O benefício da progressão exige
do sentenciado “autodisciplina e senso de responsabilidade” (art. 114, II da LEP), o
que pressupõe o cumprimento das decisões judiciais que a ele são aplicadas.
Mais um novo requisito objetivo: Desse modo, o STF “cria” um novo requisito
objetivo para a progressão de regime: o apenado deverá pagar integralmente o valor
da multa que foi imposta na condenação ou, então, provar a sua absoluta
impossibilidade econômica em quitar a multa, ainda que parceladamente.
Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve ser
formulado um pedido ao juiz que, então, ouve o MP e a administração
penitenciária, e, após, decide.
Em algumas partes do Brasil, no entanto, como é o caso do RJ, os juízes da execução
penal adotaram um procedimento para simplificar a concessão dessas saídas
temporárias.
Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz ouve
o MP e o diretor do Presídio, e, se estiverem preenchidos os requisitos, concede o
benefício. No entanto, nesta primeira decisão o juiz já fixa um calendário de saídas
temporárias.
Desse modo, após o juiz deferir o benefício para o apenado nesta primeira vez, as
novas saídas temporárias deste mesmo reeducando não mais precisarão ser
analisadas pelo juiz e pelo MP, sendo concedidas automaticamente pela direção do
Presídio, desde que a situação disciplinar do condenado permaneça a mesma, ou
seja, que ele tenha mantido o comportamento adequado no cumprimento da pena.
Se cometer falta grave, por exemplo, é revogado o benefício. A esse procedimento
simplificado deu-se o nome de “saída temporária automatizada” ou “calendário de
saídas temporárias”.
O calendário de saídas temporárias é permitido? A prática da saída temporária
automatizada é válida?
STJ: NÃO. O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é
ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do
estabelecimento prisional (Súmula 520-STJ).
STF: SIM. É legítima a decisão judicial que estabelece calendário anual de
saídas temporárias para visita à família do preso.
STF. 1ª Turma. HC 130502/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 21/6/16 (Info 831).
STF. 2ª Turma. HC 128763/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 4/8/15 (Info 793).
49.6. A contagem da saída temporária é feita em dias e não em horas – (Info 828) –
IMPORTANTE!!!
49.7. Falta de vagas nos regimes semiaberto e aberto e cumprimento da pena – (Info
825) – IMPORTANTE!!!
Na prática, contudo, é muito comum que não existam colônias agrícolas e industriais
e casas de albergado, unidades prisionais previstas na Lei como sendo as adequadas
para o cumprimento da pena nos regimes semiaberto e aberto.
O STF debateu este tema em sede de repercussão geral e firmou três teses a respeito
do assunto:
Imagine agora a seguinte situação: João foi condenado à pena de 5 anos de reclusão,
tendo o juiz fixado o regime semiaberto. Ocorre que, no momento de cumprir a pena,
verificou-se que não havia no local estabelecimento destinado ao regime semiaberto
que atendesse todos os requisitos da LEP.
João poderá cumprir a pena no regime fechado enquanto não há vagas no semiaberto?
NÃO. No Brasil, adota-se o sistema progressivo. De acordo com o CP e com a LEP,
PPL’s deverão ser executadas (cumpridas) em forma progressiva, com a transferência
do apenado de regime mais gravoso para menos gravoso tão logo ele preencha os
requisitos legais. O STF destacou, no entanto, que este sistema progressivo de
cumprimento de penas não está funcionando na prática. Isso porque há falta de vagas
nos regimes semiaberto e aberto. Desse modo, os presos dos referidos regimes estão
sendo mantidos nos mesmos estabelecimentos que os presos em regime fechado e
provisórios. Essa situação viola duas garantias constitucionais da mais alta relevância:
a individualização da pena (art. 5º, XLVI) e;
a legalidade (art. 5º, XXXIX).
Art. 33 (...)
§ 1º - Considera-se:
b) regime semiaberto a execução da pena em colônia agrícola,
industrial ou estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou
estabelecimento adequado.
Objetivo das medidas acima é o de que surjam novas vagas nos regimes semiaberto e
aberto: As vagas nos regimes semiaberto e aberto são insuficientes. De um modo geral,
a falta de vagas decorre do fato de que já há um sentenciado ocupando o lugar. O STF
determinou, como alternativa para resolver o problema, antecipar a saída de
sentenciados que já estão no regime semiaberto ou aberto, abrindo vaga para aquele
que acaba de progredir.
Exemplo de como essas medidas fazem surgir vaga no regime semiaberto: João estava
cumprindo pena no regime fechado e progrediu para o regime semiaberto. Não há
vagas na unidade prisional destinada ao regime semiaberto. João não poderá
continuar cumprindo pena no fechado porque haveria excesso de execução. Nestes
casos, o que acontecia normalmente é que João seria colocado em prisão domiciliar.
No entanto, o STF afirmou que essa alternativa (prisão domiciliar) não deve ser a
primeira opção para o caso. Diante disso, o STF entendeu que o juiz das execuções
penais deverá antecipar a saída de um detento que já estava no regime semiaberto,
fazendo com que surja a vaga para João. Em nosso exemplo, Francisco, que estava
cumprindo pena no regime semiaberto, só teria direito de ir para o regime aberto em
2018. No entanto, para dar lugar a João, Francisco receberá o benefício da "saída
antecipada" e ficará em liberdade eletronicamente monitorada, ou seja, ficará livre
para trabalhar e estudar, recolhendo-se em casa nos dias de folgas, sendo sempre
monitorado com tornozeleira eletrônica. Com isso, surgirá mais uma vaga no regime
semiaberto e esta será ocupada por João.
E se a ausência de vaga for no regime aberto? Ex: Pedro progrediu para o regime
aberto, mas não há vagas, o que fazer? Neste caso, o Juiz deverá conceder a um preso
que está no regime aberto a possibilidade de cumprir o restante da pena não mais no
regime aberto (pena privativa de liberdade), mas sim por meio de pena restritiva de
direitos e/ou estudo. Ex: Tiago, que estava no regime aberto, só acabaria de cumprir
sua pena em 2018. No entanto, para dar lugar a Pedro, o Juiz oferece a ele a
oportunidade de sair do regime aberto e cumprir penas restritivas de direito e/ou
estudo. Com isso, surgirá nova vaga no aberto. Assim, se não há estabelecimentos
adequados ao regime aberto, a melhor alternativa não é a prisão domiciliar, mas a
substituição da pena privativa de liberdade que resta a cumprir por penas restritivas
de direito e/ou estudo.
Benefícios devem ser concedidos aos detentos que estão mais próximos de progredir
ou de acabar a pena: Os apenados que serão beneficiados com a saída antecipada ou
com as penas alternativas deverão ser escolhidos com base em critérios isonômicos.
Tais benefícios deverão ser deferidos aos sentenciados que satisfaçam os requisitos
subjetivos (bom comportamento) e que estejam mais próximos de satisfazer o
requisito objetivo, ou seja, aqueles que estão mais próximos de progredir ou de
encerrar a pena.
Para isso, o STF determinou que o CNJ faça um "Cadastro Nacional de Presos", com
as informações sobre a execução penal de cada um deles. Isso permitirá verificar os
apenados com expectativa de progredir ou de encerrar a pena no menor tempo e, em
consequência, organizar a fila de saída com observação da igualdade.
Por que o STF afirma que a prisão domiciliar não pode ser a primeira opção, devendo-
se adotar as medidas acima propostas? Segundo o STF, a prisão domiciliar apresenta
vários inconvenientes, que irei aqui resumir:
1º) Para ter esse benefício, cabe ao condenado providenciar uma casa, na qual vai ser
acolhido. Nem sempre ele tem meios para manter essa residência. Nem sempre tem
uma família que o acolha.
2º) O recolhimento domiciliar puro e simples, em tempo integral, gera dificuldades
de caráter econômico e social. O sentenciado passa a necessitar de terceiros para
satisfazer todas as suas necessidades – comida, vestuário, lazer. De certa forma, há
uma transferência da punição para a família, que terá que fazer todas as atividades
externas do sentenciado. Surge a necessidade de constante comunicação com os
órgãos de execução da pena, para controlar saídas indispensáveis – atendimento
médico, manutenção da casa etc.
3º) Existe uma dificuldade grande de fiscalização se o apenado está realmente
cumprindo a restrição imposta.
4º) A prisão domiciliar pura e simples não garante a ressocialização porque é
extremamente difícil para o apenado conseguir um emprego no qual ele trabalhe
apenas em casa.
DECISÃO MANIPULATIVA
Decisão manipulativa (manipuladora): A decisão tomada pelo STF e acima explicada
pode ser classificada como uma "decisão manipulativa".
Gilmar Mendes, citando a doutrina italiana de Riccardo Guastini, afirma que decisão
manipulativa é aquela mediante a qual "o órgão de jurisdição constitucional modifica
ou adita normas submetidas a sua apreciação, a fim de que saiam do juízo
constitucional com incidência normativa ou conteúdo distinto do original, mas
concordante com a Constituição" (RE 641320/RS).
Ex1: ADPF 54, Min. Marco Aurélio, j. em 12/4/12, na qual o STF julgou
inconstitucional a criminalização dos abortos de fetos anencéfalos atuando de forma
criativa ao acrescentar mais uma excludente de punibilidade – no caso de o feto
padecer de anencefalia – ao crime de aborto. Ao decidir o mérito da ação, assentando
a sua procedência e dando interpretação conforme aos arts. 124 a 128 do CP, o STF
proferiu uma típica decisão manipulativa com eficácia aditiva em matéria penal.
Ex2: MI 670, Red. para o acórdão Min. Gilmar Mendes, j. em 25/10/07, na qual o STF
determinou a aplicação aos servidores públicos da Lei 7783/89, que dispõe sobre o
exercício do direito de greve na iniciativa privada, pelo que promoveu extensão
aditiva do âmbito de incidência da norma.
A exigência de que o condenado cumpra 1/6 da pena para ter direito ao trabalho
externo aplica-se para os regimes fechado, semiaberto e aberto? Em outras palavras,
o art. 37, caput, da LEP é regra válida para as três espécies de regime?
NÃO. A exigência objetiva do art. 37 de que o condenado tenha cumprido no
mínimo 1/6 da pena, para fins de trabalho externo, aplica-se apenas aos condenados
que se encontrem em regime fechado.
Assim, o trabalho externo é admissível aos apenados que estejam no regime
semiaberto ou aberto mesmo que ainda não tenham cumprido 1/6 da pena.
Em tese, o condenado ao regime semiaberto ou aberto poderia ter direito ao
trabalho externo já no primeiro dia de cumprimento da pena.
O art. 37 da LEP (que exige o cumprimento mínimo de 1/6 da pena) somente se
aplica aos condenados que se encontrem em regime inicial fechado.
STF. Plenário. EP 2 TrabExt-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
25/6/2014 (Info 752).
Se o Estado demorar muito tempo para punir o condenado que praticou uma falta
disciplinar, haverá a prescrição da infração disciplinar. Não existe lei federal
prevendo de quanto será esse prazo prescricional. Por essa razão, a jurisprudência
aplica, por analogia, o menor prazo prescricional existente no Código Penal, qual
seja, o de 3 anos, previsto no art. 109, VI, do CP. Assim, se entre o dia da infração
disciplinar e a data de sua apreciação tiver transcorrido prazo superior a 3 anos, a
prescrição restará configurada.
STF. 2ª Turma. HC 114422/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 6/5/2014 (Info
745).
O art. 127 da LEP determina que, em caso de falta grave, o juiz poderá revogar, no
máximo, até 1/3 (um terço) do tempo remido.
Da leitura desse dispositivo legal se infere que o legislador pretendeu limitar
somente a revogação DOS DIAS REMIDOS (benefício da remição), razão pela qual
não merece acolhida a pretensão de se estender o referido limite aos demais
benefícios da execução.
STF. 2ª Turma. HC 110921/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 22/5/2012.