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IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
INTRODUÇÃO
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A Convenção no 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre Povos Indígenas e Tribais em
Estados Independentes, consolida avanços importantes ao reconhecer os direitos indígenas coletivos, com
significativos aspectos de direitos econômicos, sociais e culturais. Ela foi adotada em Genebra, em 27 de junho de
1989, e entrou em vigor no âmbito internacional em 5 de setembro de 1991.
O Congresso Nacional aprovou o texto da Convenção no 169 da OIT por meio do Decreto Legislativo no 143, de
20 de junho de 2002. O instrumento de ratificação foi depositado junto ao Diretor Executivo da OIT em 25 de
julho de 2002, e começou a vigorar para o Brasil em 25 de julho de 2003.
A promulgação pela Presidência da República ocorreu com a publicação do Decreto no 5051, em 19 de abril de
2004.
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JUSTIFICATIVA
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BENATTI, ROCHA, PACHECO (2015), em “Populações tradicionais e o Reconhecimento de seus Territórios:
Uma Luta Sem Fim”, discutem quem são populações tradicionais, sobretudo no contexto amazônico, e evidenciam
as suas constantes lutas no que concerne ao reconhecimento dos seus direitos territoriais.
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OBJETIVOS
MATERIAIS E MÉTODOS
RESULTADOS
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A guisa de citação ressalta-se que o caput do art. 231 da CF/88, in verbis: “São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”, bem
como o art. 68 da ADCT: “ Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras
é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”.
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Não apenas à justiça social, mas a própria Constituição, em seu art. 216, II, elenca os diferentes modos de fazer,
viver e criar como patrimônio cultural brasileiro, o que abrange as comunidades tradicionais, senão vejamos:
“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou
em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem: os modos de criar, fazer e viver;”.
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Das decisões judiciais analisadas, cumpre inicialmente destacar, depreende-se que nem
sempre as comunidades tradicionais têm sua autonomia considerada quando abarcadas por
unidades de conservação, extensões territoriais com características naturais relevantes objeto
de proteção integral e especial, não obstante estejam intrinsicamente coligadas à própria
compreensão de território e de uso sustentável, por exemplo.
Ademais, por vezes as discussões versam unicamente entre partes que não populações
tradicionais, o que já indica, em alguma proporção, o grau de relevância fático que elas possuem
em espaços e contextos decisórios, a despeito de serem sistematicamente afetadas por
interferências desproporcionadas nas suas dinâmicas diferenciadas de relação com o meio
ambiente, em específico com o território.
Desse modo, percebe-se certo distanciamento entre as previsões legais e os parâmetros
que o Poder Público engendra suas decisões quando confrontado com conflitos que versem
sobre os direitos territoriais das populações tradicionais, de modo que, como analisaremos mais
pormenorizadamente adiante, não reconhece a amplitude da autonomia dessas comunidades,
porquanto não participam efetivamente dos processos decisórios que as atravessam.
Nesse sentido, Joaquim Shiraishi Neto (2007) informa o corpo legal que deveria pautar
o trato frente ao direito dos povos e das comunidades tradicionais, salientando normativas
internacionais ratificadas pelo estado brasileiro, como a Convenção 169 da OIT, que em seu
art. 14 preceitua que “dever-se-á reconhecer aos povos interessados os direitos de propriedade
e de posse sobre as terras que tradicionalmente ocupam”, de acordo, cumpre registrar, com os
elementos de autoidentificação dessas comunidades, as quais devem ser apreendidas numa
acepção coletiva e que considere as especificidades de cada grupo, sem noções universalizadas
e hegemônicas5.
Ainda, não se pode olvidar, conforme doutrina o aludido autor, da força dos movimentos
sociais na construção desse corpo normativo, dada a pressão das suas requisições. Nesse
contexto de tensão, deve-se compreender que a própria dogmática jurídica, pautada numa
política de universalização dos grupos, não contempla as demandas e reivindicações das
comunidades tradicionais, porquanto a sua lógica preexistente apresenta-se como obstáculo na
garantia da reprodução física e social dessas populações (BENATTI, ROCHA, PACHECO:
2015).
Inclusive, Alfredo Wagner Berno de Almeida (2004) sinaliza que a própria Constituição
de 1988 previu maior reconhecimento jurídico-formal de direitos territoriais em decorrência
5 Registre que mais adiante será demonstrado o entendimento de determinado ministro do STF no que se refere a
essas normativas internacionais.
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das intensas mobilizações, inflamados conflitos e constantes lutas dos movimentos sociais, a
despeito da substancial dificuldade de se implementar, efetivamente, as diretrizes
constitucionalmente dispostas no que tange às diferentes modalidades de apropriação dos
recursos naturais, seja pelos entraves políticos e/ou impasses burocrático-administrativos.
Neste diapasão, reforça-se a necessidade de mobilização para que não se limite a
autonomia das populações tradicionais na gestão de territórios já reconhecidos, por exemplo,
frente à atuação transversal das forças estatais no que se refere ao aumento de extensões
territoriais para especulação fundiária e empreendimentos de mercado, o que acirra, sobretudo
na Amazônia Legal, os conflitos por terra envolvendo populações tradicionais (BENATTI,
ROCHA, PACHECO: 2015).
Nessas circunstâncias de conflito, portanto, as movimentações político-sociais foram
fundamentais para uma construção legiferante menos impeditiva ao reconhecimento dos
direitos territoriais das comunidades tradicionais, termo que neste trabalho é compreendido de
maneira amplificada, de modo a abarcar as especificidades configuradas num cenário complexo
e diverso, a fim de que não se inviabilize os diferentes modos de fazer, viver e criar dessas
comunidades auto identificáveis.
Assim, verificar-se-á os fundamentos jurídicos utilizados para embasar as decisões dos
STF que impliquem em interferências nos direitos territoriais das populações tradicionais.
6STF. Ag.reg. na Medida Cautelar na Ação Cautelar 1.255 Roraima. Relator: Min. Celso de Mello. Julgamento:
27.06.2007.
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STF. Mandado de Segurança 25.284 Distrito Federal. Relator: Min. Marco Aurélio. Julgamento: 17.06.2010.
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STJ. Agravo Regimental no Recurso Especial Nº 311.513 São Paulo. Relator: Min. Humberto Gomes de Barros.
Julgamento: 18.11.2003.
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STF. Recurso Ordinário em Mandando de Segurança 29.087 Distrito Federal. Relator: Min. Ricardo
Lewandowski. Julgamento: 16.09.2014.
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STF. Petição 3.388-4 Roraima. Relator: Min. Carlos Ayres Britto. Julgamento: 27.08.2008.
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anos sem conflitos interétnicos, o que preenche o marco temporal de ocupação tradicional e
permanente, ainda que tenha se observado o fator monoétnico, em razão da miscigenação e da
dificuldade prática em estabelecer limites precisos para as cinco etnias. Asseverou-se, ademais,
que a extensão da área demarcada é compatível com as diretrizes constitucionais e que se logrou
em retirar os não-índios, sendo a área demarcada de quase absoluta presença indígena. Assim,
são nulas quaisquer titulações na área em comento e aduziu-se que os rizicultores privados não
possuem qualquer direito adquirido em relação à posse.
Pelos fundamentos encadeados, portanto, o Ministro Relator votou pela improcedência
da ação popular, assentando a condição indígena da área demarcada em sua totalidade.
Igualmente, revogou a liminar concedida na Ação Cautelar nº 2009, ordenando a retirada das
terras em questão todos os indivíduos não-índios.
Ressalta-se que durante o voto do ministro relator, admitiu-se violações e restrições ao
uso do território tradicionalmente ocupado pelos povos indígenas, violências que têm impedido
a efetivação desse direito originário, o que já dá ensejo ao questionamento acerca da
consistência da utilização de marcos referenciais para aferição da existência de terras indígenas.
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STF. Ação Cível Originária 312 Bahia. Relator: Min. Eros Grau. Julgamento: 02.05.2012.
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Entendimento constante às folhas 39 e 40 do voto do Ministro Relator. Registre-se que o contexto discursivo
consubstancia-se na ilação de que a Constituição Federal de 1988 é o corpo normativo que deve orientar a aplicação
dos direitos pertinentes aos povos indígenas.
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Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Caso Salvador Chiriboga vs Equador. Mérito, Reparações
e Custas. Julgamento em 06 de maio de 2008.
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Cumpre registrar que para a análise deste caso contou-se com o levantamento jurisprudencial internacional
elaborado pela Clínica de Direitos Humanos da Amazônia, vinculada ao programa de pós-graduação da
Universidade Federal do Pará.
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Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos seus bens. A lei pode subordinar esse uso e gozo ao interesse local.
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Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo mediante o pagamento de indenização justa, por motivo
de utilidade pública ou de interesse social e nos casos e na forma estabelecidos pela lei.
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Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Caso Comunidade Indígena Yakye Axa vs Paraguai. Mérito,
Reparações e Custas. Sentença 17 de junho de 2005.
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Art. 13.1 “Na aplicação das disposições desta parte da Convenção, os governos respeitarão a importância
especial para as culturas e valores espirituais dos povos interessados, sua relação com as terras ou territórios, ou
ambos, conforme o caso, que ocupam ou usam para outros fins e, particularmente, os aspectos formais coletivos
dessa relação” e Art. 13.2 “O uso do termo terras nos artigos 15 e 16 incluirá o conceito de territórios, que abrange
todo o ambiente das áreas que esses povos ocupam ou usam para outros fins“.
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Quando esse retorno não for possível, como definido em acordo ou, na falta de um acordo, por meio de
procedimentos adequados, esses povos deverão receber, sempre que possível, terras de qualidade e situação
jurídica pelo menos iguais às das terras que ocupavam anteriormente e que possam satisfazer suas necessidades
presentes e garantir seu desenvolvimento futuro. Quando os povos interessados manifestarem preferência por
receber uma indenização em dinheiro ou espécie, essa indenização deverá ser adequadamente garantida.
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9. Considerações Finais
Por toda pesquisa desenvolvida, portanto, atesta-se que os tribunais superiores pátrios,
não obstante a previsão formal do direito ao território e dos direitos territoriais das populações
tradicionais, além de normativas internacionais às quais o país está vinculado por ser signatário,
emitem decisões não raro controvertidas. Inclusive, por vezes as comunidades sequer têm suas
demandas visibilizadas; noutras, nem são ouvidas ou consideradas em suas pretensões.
Verificou-se que na análise do mérito, priorizam-se os aspectos formais e burocráticos
da lide, tendo os elementos substanciais de proteção aos direitos humanos dessas comunidades
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COSTA RICA. Corte Interamericana de direitos Humanos. Caso da Comunidade Yanomami vs Brasil.
Resolução 12/85. Julgamento em 05 de março de 1885.
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Salienta-se que o caso em comento foi uma das primeiras discussões feita pela CADH acerca dos direitos dos
povos indígenas, conforme se verificou em https://www.escr-net.org/es/caselaw/2006/comunidad-yanomami-
caso-no-7615-resolucion-no-1285 (Acessado em 05.08.2017).
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Referências bibliográficas.
PARECER DO ORIENTADOR:
O trabalho de pesquisa foi realizado com esforço, conforme comprova este relatório. O
discente demonstrou capacidade para desenvolver pesquisa. A limitação foi a dificuldade em
poder participar de eventos ou publicar. Teve um atraso no cronograma, mas no final conseguiu
cumprir o que estava programado. Precisa aperfeiçoar a linguagem escrita que ainda “sofre”
influência do estilo excessivamente jurídico, com termos técnicos e jargões da área. Aprovo-o
com conceito Excelente.