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Ética Profissional em

Serviço Social
Profª. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

2013
Copyright © UNIASSELVI 2013

Elaboração:
Profª. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

362.850981
P615e Pieritz, Vera Lúcia Hoffmann
Ética profissional em serviço social/ Vera Lúcia Hoffmann Pieritz.
Indaial : Uniasselvi, 2013.

197 p. : il

ISBN 978-85-7830-817-9

I. Ética profissional.
1.Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a)!

Iniciamos os estudos de Ética Profissional em Serviço Social.


Entraremos no mundo intrínseco do relacionamento e do comportamento
humano e suas regras de conduta, no qual trabalharemos a questão
da formação dos princípios morais e éticos dos homens que vivem em
sociedade. Portanto, esta disciplina aborda a compreensão dos significados
dos princípios norteadores da ética, além de propiciar um conhecimento dos
fundamentos ético-morais do exercício profissional do Assistente Social e
promover uma reflexão e uma discussão sobre as questões ético-morais, na
relação indivíduo e sociedade.

Esta disciplina pretende, também, fomentar o debate sobre as


diversas dimensões ético-morais da vida social e profissional, promover uma
consciência crítica referente aos valores e princípios norteadores do exercício
profissional e apresentar os fundamentos e significados do código de ética
dos Assistentes Sociais.

Para que você possa compreender estes conceitos de ética, valores e


moral e os assuntos pertinentes às questões éticas do cotidiano profissional
do Assistente Social, proporcionaremos uma reflexão acerca do espaço da
ética na relação indivíduo e sociedade, de modo que você possa trabalhar
estes conceitos, permitindo que os mesmos interajam nas dimensões ético-
morais da vida social e profissional.

De modo prático, sobre os assuntos abordados, esta disciplina será


dividida em três unidades principais.

Na primeira unidade, você discutirá questões em torno das principais


definições da ética, no intuito de compreender o seu significado e os seus
princípios norteadores; aprofundar os conhecimentos acerca dos princípios
e valores morais de nossa sociedade e identificar as diversas questões éticas
contemporâneas.

No Tópico 1, discutiremos os significados da ética profissional do


Assistente Social, trabalhando os aspectos básicos, correlacionados à ética e à
moral do comportamento humano em sociedade.

No Tópico 2, abordaremos as questões referentes à ética como um


modo de viver e conviver, no qual trabalhamos as diferenças entre ética e
moral; as origens ou bases fundamentais da existência humana e a conduta
moral, ou seja, trabalhamos o significado do bem e mal, do certo e errado.

III
No Tópico 3, procuraremos trabalhar a compreensão dos conceitos e
características dos valores e virtudes morais, que formam os princípios norteadores
da ética. Além de tratarmos da questão da essência da moral, com embasamentos
éticos para a vida cotidiana e os valores e princípios morais dos seres humanos.

No Tópico 4, abordaremos as questões da ética no nosso dia a dia,


ou seja, como se processam as questões éticas, na contemporaneidade, além
de trabalharmos a questão da escolha e da responsabilidade, por meio da
liberdade, como a capacidade humana.

Na segunda unidade, você conhecerá os fundamentos ético-morais


do exercício profissional dos Assistentes Sociais; promoverá a reflexão e
discussão sobre as questões ético-morais na relação indivíduo e sociedade;
fomentará o debate sobre as diversas dimensões ético-morais da vida social
e profissional e promoverá uma consciência crítica referente aos valores e
princípios norteadores do exercício profissional do Assistente Social.

No Tópico 1, abordaremos, com detalhes, a natureza, o significado


e as características fundamentais da ética profissional, além de trabalhar
as questões relativas ao cotidiano da prática profissional e das finalidades
ético-morais da reprodução social.

No Tópico 2, trabalharemos como se processa o espaço da ética


na relação indivíduo versus sociedade, no qual perpassamos por alguns
aspectos históricos da construção ética-moral da sociedade. Demonstramos,
ainda, a inter-relação natural do comportamento moral entre os homens,
principalmente na questão da construção subjetiva do homem, ou seja, o
homem como ser individual.

No Tópico 3, trabalharemos os vários aspectos das relações entre o


trabalho, a ética e o ser social, verificando as relações éticas no mundo do
trabalho.

No Tópico 4, abordaremos a questão da ética profissional do serviço


social e seu projeto ético-político, no qual se trabalhou como se processam as
intervenções éticas na prática profissional do Assistente Social e seu objeto
de trabalho, as expressões da questão social.

Na terceira unidade, você compreenderá os fundamentos e


significados do código de ética dos Assistentes Sociais. Além de ter um link
com os Conselhos de Fiscalização do Serviço Social.

No Tópico 1, abordaremos os principais fundamentos e significados


do código de ética dos Assistentes Sociais.

No Tópico 2, abordaremos uma discussão referente aos direitos e


deveres gerais do Assistente Social. Direitos e deveres assegurados pelo
Código de Ética do Assistente Social.

IV
No Tópico 3, somente apresentaremos, na íntegra, o Código de Ética
do Assistente Social.

No Tópico 4, apresentaremos os diversos Conselhos de Fiscalização


do Serviço Social, o CFESS – Conselho Federal do Serviço Social e o CRESS
– Conselho Regional do Serviço Social.

Prontos para começar a compreender o significado da ética


profissional em serviço social?

Então, mãos à obra!

Bons estudos, e sucesso!

Profª. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS.......................................................................... 1

TÓPICO 1 – O QUE É ÉTICA?............................................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 PROBLEMAS MORAIS E ÉTICOS.................................................................................................... 3
3 O CAMPO DA ÉTICA: SEU SIGNIFICADO E A FORMAÇÃO DO SUJEITO ÉTICO-
MORAL................................................................................................................................................... 5
4 OS IDEAIS ÉTICOS: UMA INVESTIGAÇÃO DOS FUNDAMENTOS ÉTICOS................... 8
LEITURA COMPLEMENTAR 1............................................................................................................. 9
LEITURA COMPLEMENTAR 2............................................................................................................. 10
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 17

TÓPICO 2 – ÉTICA: UM MÉTODO DE VIVER E CONVIVER...................................................... 19


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 19
2 DIFERENÇA ENTRE ÉTICA E MORAL........................................................................................... 19
3 A GÊNESE DA CONSCIÊNCIA MORAL: A NECESSIDADE DO DESENVOLVIMENTO
HUMANO............................................................................................................................................... 21
4 CONDUTA MORAL: O BEM E O MAL, O CERTO E O ERRADO............................................ 23
LEITURA COMPLEMENTAR 1............................................................................................................. 26
LEITURA COMPLEMENTAR 2............................................................................................................. 27
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 34
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 35

TÓPICO 3 – OS VALORES E A MORAL COMO PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ÉTICA.. 37


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 37
2 A ESSÊNCIA DA MORAL COM EMBASAMENTOS ÉTICOS PARA A VIDA COTIDIANA..37
3 OS VALORES E PRINCÍPIOS MORAIS.......................................................................................... 40
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 45
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 48
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 50

TÓPICO 4 – A ÉTICA NA CONTEMPORANEIDADE.................................................................... 51


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 51
2 ALGUMAS QUESTÕES ÉTICAS POLÊMICAS DA ATUALIDADE......................................... 51
2.1 FAMÍLIA............................................................................................................................................ 52
2.2 SOCIEDADE CIVIL.......................................................................................................................... 52
2.3 ESTADO............................................................................................................................................. 53
3 ÉTICA E LIBERDADE: A LIBERDADE COMO CAPACIDADE HUMANA............................ 54
LEITURA COMPLEMENTAR 1............................................................................................................. 54
LEITURA COMPLEMENTAR 2............................................................................................................. 58
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 61
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 62

VII
UNIDADE 2 - A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO
ASSISTENTE SOCIAL.................................................................................................. 63

TÓPICO 1 – OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO


ASSISTENTE SOCIAL...................................................................................................... 65
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 65
2 A NATUREZA E OS FUNDAMENTOS DA ÉTICA PROFISSIONAL....................................... 65
3 O SIGNIFICADO DA ÉTICA PROFISSIONAL............................................................................. 67
4 ÉTICA, O COTIDIANO E A PRÁTICA PROFISSIONAL............................................................ 69
LEITURA COMPLEMENTAR 1............................................................................................................. 72
LEITURA COMPLEMENTAR 2............................................................................................................. 73
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 77
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 79

TÓPICO 2 – O ESPAÇO DA ÉTICA NA RELAÇÃO INDIVÍDUO E SOCIEDADE.................. 81


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 81
2 AS BASES HISTÓRICAS DA SOCIEDADE NA CONSTRUÇÃO DA ÉTICA........................ 81
LEITURA COMPLEMENTAR 1............................................................................................................. 84
LEITURA COMPLEMENTAR 2............................................................................................................. 85
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 90
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 91

TÓPICO 3 – A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA.................................... 93


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 93
2 O QUE É TRABALHO?......................................................................................................................... 93
3 A ÉTICA DO TRABALHO................................................................................................................... 94
LEITURA COMPLEMENTAR 1............................................................................................................. 97
LEITURA COMPLEMENTAR 2............................................................................................................. 98
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 101
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 103

TÓPICO 4 – A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU PROJETO ÉTICO-


POLÍTICO..........................................................................................................................105
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................105
2 AS INTERVENÇÕES ÉTICAS NA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE
SOCIAL..............................................................................................................................................................105
3 O OBJETO DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL...............................106
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................111
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................123
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................125

UNIDADE 3 – O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS


CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO.........................................................................127

TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS


ASSISTENTES SOCIAIS................................................................................................129
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................129
2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA....................................................... 130
2.1 LIBERDADE.................................................................................................................................... 130
2.2 DIREITOS HUMANOS.................................................................................................................. 132
2.3 CIDADANIA................................................................................................................................... 134
2.4 DEMOCRACIA............................................................................................................................... 136

VIII
2.5 EQUIDADE E JUSTIÇA SOCIAL.................................................................................................137
2.6 RESPEITO À DIVERSIDADE........................................................................................................138
2.7 PLURALISMO.................................................................................................................................139
2.8 PROJETO PROFISSIONAL...........................................................................................................140
2.9 MOVIMENTOS SOCIAIS..............................................................................................................141
2.10 QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS..........................................................................142
2.11 INDISCRIMINAÇÃO...................................................................................................................143
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................145
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................150
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................154

TÓPICO 2 – DOS DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES GERAIS DO ASSISTENTE


SOCIAL.............................................................................................................................157
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................157
2 DOS DIREITOS GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL................................................................157
3 DOS DEVERES GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL.................................................................158
4 O QUE O ASSISTENTE SOCIAL NÃO PODE FAZER................................................................159
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................161
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................162

TÓPICO 3 – O CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL BRASILEIRO.....................163


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................163
2 O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS/DAS ASSISTENTES SOCIAIS....................166
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................179
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................180

TÓPICO 4 – OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL..........................181


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................181
2 CFESS – CONSELHO FEDERAL DO SERVIÇO SOCIAL..........................................................181
3 CRESS – CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL...........................................184
4 OUTRAS ENTIDADES CORRELACIONADAS AO SERVIÇO SOCIAL....................186
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 187
RESUMO DO TÓPICO 4...................................................................................................................... 193
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 194
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................ 195

IX
X
UNIDADE 1

A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• compreender o significado da ética e seus princípios norteadores;

• aprofundar os conhecimentos acerca dos princípios e valores morais de


nossa sociedade;

• identificar as diversas questões éticas contemporâneas.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 1 está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles,
você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos, realizando as
atividades propostas.

TÓPICO 1 – O QUE É ÉTICA?

TÓPICO 2 – ÉTICA: UM MÉTODO DE VIVER E CONVIVER

TÓPICO 3 – OS VALORES E A MORAL COMO PRINCÍPIOS


NORTEADORES DA ÉTICA

TÓPICO 4 – A ÉTICA NA CONTEMPORANEIDADE

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

O QUE É ÉTICA?

1 INTRODUÇÃO
No processo de compreensão dos significados da ética profissional do
Assistente Social, faz-se necessário discutir, primeiramente, alguns aspectos básicos
correlacionados à ética e à moral do comportamento humano em sociedade.

Neste sentido, segundo Tomelin e Tomelin (2002, p. 89) “a ética é uma das
áreas da filosofia que investiga sobre o agir humano na convivência com os outros
[...]”, ou seja, pode-se compreender que os nossos costumes e as nossas ações
humanas em sociedade formam uma consciência moral do certo e do errado, do
bem e do mal.

NOTA

A Filosofia, de modo geral, investiga a racionalidade dos princípios fundamentais


dos seres humanos.

Assim, pretendemos apresentar algumas ponderações no que tange aos


principais significados da ética e da moral.

2 PROBLEMAS MORAIS E ÉTICOS


Com relação aos problemas éticos e morais do comportamento humano,
observamos que a ética não é facilmente explicável, ao sermos indagados, mas
todos nós sabemos o que é, pois está diretamente relacionada aos nossos costumes
e às ações em sociedade, ou seja, ao nosso comportamento, ao nosso modo de
vida e de convivência com os outros integrantes da sociedade.

Observa-se que todos nós possuímos princípios e valores que foram e são
constituídos por nossa sociedade. E, com relação a estes valores, cada um de nós
possui uma visão do que é certo e errado, do que é o bem e o mal.

3
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

Contudo, esta consciência moral é determinada por um consenso coletivo


e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas
de conduta que o regem. Como exemplo, temos a nossa Constituição Federal e
outras regras e normas de nossa sociedade.

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar os seus conteúdos sobre os princípios e


valores, sugerimos a leitura dos artigos 1º, 3º e 5º da Constituição da República Federativa do
Brasil, promulgada em 1988. Ele está disponível no seguinte site: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>.

Didaticamente, segundo Valls (2003, p. 8)

[...] costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois


campos: num, os problemas gerais e fundamentais (como liberdade,
consciência, bem, valor, lei e outros); e no segundo os problemas
específicos, de aplicação concreta, como os problemas da ética
profissional, de ética política, de ética sexual, de ética matrimonial, de
bioética etc.

FIGURA 1 – O BEM E O MAL

FONTE: Disponível em: <www.dialogosuniverstarios.com.br>. Acesso


em: 25 fev. 2009.

4
TÓPICO 1 | O QUE É ÉTICA?

UNI

Contudo, como saber: o que é certo e errado, se estamos fazendo o bem ou o mal?

Finalizando este item, podemos observar que:


[...] os problemas éticos se distinguem da moral pela sua característica
genérica, enquanto que a moral se caracteriza pelos problemas da
vida cotidiana. O que há de comum entre elas é fazer o homem pensar
sobre a responsabilidade das consequências de suas ações. A ética faz
pensar sobre as consequências universais, sempre priorizando a vida
presente e futura, local e global. A moral faz pensar as consequências
grupais, adverte para normas culturalmente formuladas ou pode estar
fundamentado num princípio ético. A ética pode, desta forma, pautar
o comportamento moral. (TOMELIN; TOMELIN, 2002, p. 90).

AUTOATIVIDADE

PROBLEMAS DA VIDA COTIDIANA


VALORES E PRINCÍPIOS PROBLEMAS ÉTICO-MORAIS

LIBERDADE

IGUALDADE

DEMOCRACIA

3 O CAMPO DA ÉTICA: SEU SIGNIFICADO E A FORMAÇÃO


DO SUJEITO ÉTICO-MORAL
Todos os homens fazem parte de uma sociedade, de um grupo social,
portando, podemos dizer que os homens em sociedade convivem em grupo. Cada
grupo social possui diferentes características culturais e morais, como, por exemplo:
os povos indígenas, os orientais, os africanos, os alemães, os franceses, os italianos, os
americanos, os brasileiros, entre muitos outros. Cada sociedade possui suas normas de
conduta comportamental e seus princípios morais, ou seja, cada grupo social constituiu
o que é certo e errado, o que é o bem e o mal para o seu povo, portanto, nem sempre o
que é certo para nós pode ser certo para um outro grupo social e vice-versa.

Podemos pegar como exemplo a cultura do nascimento de crianças. Existem


algumas sociedades indígenas em que a mãe, ao dar à luz, se embrenha na mata
sozinha e se o filho não for perfeito, segundo os seus princípios morais, ela o abandona
à sua própria sorte. À luz de nossos princípios morais, esta ação seria considerada um
crime de abandono.

5
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

Como você pode observar na seguinte figura, cada povo possui sua
tradição, hábitos, costumes e cultura, desencadeando valores e princípios morais
diferentes, que conduzem o seu comportamento social e moral.

FIGURA 2 – DIFERENTES CULTURAS

FONTE: A autora

UNI

Se você quiser saber mais sobre o comportamento moral destes grupos sociais/
povos, pesquise, na internet, sobre a CULTURA de cada povo. Assim, você poderá observar as
diferenças culturais de cada um e identificar seus princípios morais.

FIGURA 3 – INDECISÃO

FONTE: Disponível em: <www.dificilescolher.blogspot.com>. Acesso


em: 25 fev. 2009.

6
TÓPICO 1 | O QUE É ÉTICA?

UNI

Afinal o que é ética?

De acordo com Tomelin e Tomelin (2002, p. 89), “a palavra ética provém


do grego ethos e significa hábitos, costumes e se refere à morada de um povo
ou sociedade. A palavra moral provém do latim morális e significa costume,
conduta.”

A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento


que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo
ou errado, o que é bom ou mau. Porém, este comportamento sempre partirá do
ponto de vista dos princípios morais de cada sociedade, ou seja, seu grupo social.
A ética auxilia no esclarecimento e na explicação da realidade cotidiana de cada
povo, procurando sempre elaborar seus conceitos conforme o comportamento
correspondente de cada grupo social.

E
IMPORTANT

“O ético transforma-se assim numa espécie de legislador do comportamento


moral dos indivíduos ou da comunidade.” (VÁZQUEZ, 2005, p. 20).

Complementando, Vazquez (2005, p. 21) coloca-nos que “a ética é teoria,


investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de
comportamento dos homens [...]”, ou seja, o valor de ética está naquilo que ela
explica – o fato real daquilo que foi ou é –, e não no fato de recomendar uma ação
ou uma atitude moral.

Como todos sabem, existem grandes transformações históricas no decorrer


dos tempos em nossa sociedade. E com estas mudanças, o nosso comportamento
também muda e, consequentemente, os nossos princípios morais também.

Outro fator que não podemos esquecer é a questão de julgar o


comportamento dos outros grupos sociais, pois a realidade cotidiana destes foi
formada por outro conjunto de normas e princípios morais, diferente dos nossos.
Mesmo que em alguns aspectos estes princípios se pareçam com os nossos.

7
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

4 OS IDEAIS ÉTICOS: UMA INVESTIGAÇÃO DOS


FUNDAMENTOS ÉTICOS
Agora, prezado(a) acadêmico(a), apresentamos mais alguns aspectos
correlacionados à etica, realizando assim uma investigação dos fundamentos que
norteiam a ética.
A ética não se restringe a normas! [...] A moral expressa uma resposta
as necessidades, mas [...] de onde vem a possibilidade de determinar o
que é bom ou ruim, ou ainda de onde vem a possibilidade de escolher
entre coisas diferentes? Para responder a essas questões, devemos
agora entender os valores e escolhas com capacidades humanas.
(BARROCO, 2000, p. 53-54).

Como realmente podemos definir as questões morais em nossa sociedade,


ou seja, quais os critérios da conduta moral humana? Como ela se constitui?

E
IMPORTANT

“Será que agir moralmente significaria agir de acordo com a própria consciência?”
(VALLS, 2003, p. 43).

Pois bem, partindo do princípio de que a conduta humana é formada


por um conjunto de ações no intuito de obter alguma coisa, ou atingir alguma
meta, observamos que nós, homens, agimos de acordo com os nossos interesses
e os interesses do coletivo. Portanto, só agimos quando somos motivados ou
impulsionados por um desejo ou na busca constante da realização e do prazer,
pois é o caráter das pessoas e seus costumes, hábitos e virtudes que determinam
a sua conduta social, a sua maneira de viver. E é neste comportamento que a ética
regula o agir humano.

8
TÓPICO 1 | O QUE É ÉTICA?

LEITURA COMPLEMENTAR 1

AS TRÊS PENEIRAS DE SÓCRATES

Certa vez um homem chegou até Sócrates e disse:

— Mestre, escute-me, pois tenho que contar-lhe algo importante a respeito


de seu amigo!

— Espera um pouco – interrompe o sábio – fez passar aquilo que quer


contar pelas três peneiras?

— Que três peneiras, Mestre?

— Então escute bem! A primeira é a peneira da Verdade. Está convicto de


que tudo que quer me dizer é verdade?
— Não exatamente, Mestre. Somente o ouvi de outros.

— Mas então certamente fez passar pela segunda peneira. Trata-se da


peneira da Bondade.

— O homem ficou ruborizado e respondeu:

— Devo confessar-lhe que não, Mestre.

— E pensou na terceira peneira? Seria-me útil o que quer falar a respeito


de meu amigo? Seria esta a peneira da Utilidade.

— Útil? Na verdade, não.

—Vê? – disse-lhe o sábio – se aquilo que quer contar-me não é Verdadeiro,


nem Bom, nem Útil, então é melhor que o guarde somente para si.

FONTE: TOMELIN, Janes Fidélis; TOMELIN, Karina Nones. Do mito para a razão: uma dialética
do saber. 2. ed. Blumenau: Nova Letra, 2002. p. 92-93.

9
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

LEITURA COMPLEMENTAR 2

ÉTICA E MORAL

Sandro Dennis

Existe alguma confusão entre o Conceito de Moral e o Conceito de Ética.


A etimologia destes termos ajuda a distingui-los, sendo que Ética vem do grego
“ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de
“mores”, significando costumes.

Esta confusão pode ser resolvida com o estudo em paralelo dos dois temas,
sendo que Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem
em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo
cotidiano. É a “ciência dos costumes”. A Moral tem caráter normativo e obrigatório.

Já a ÉTICA é “conjunto de valores que orientam o comportamento do


homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo,
assim, o bem-estar social”, ou seja, ÉTICA É A FORMA QUE O HOMEM DEVE
SE COMPORTAR NO SEU MEIO SOCIAL.

A MORAL sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência


Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo
realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é,
surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria surgido com
Sócrates, pois se exige maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas
morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas
principalmente por convicção e inteligência. Ou seja, enquanto a Ética é teórica e
reflexiva, a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra.

Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do ato de um


traidor? Em situações como esta, os indivíduos se deparam com a necessidade
de organizar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas
ou mais dignas de ser cumpridas. Tais normas são aceitas como obrigatórias, e
desta forma, as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela
10
TÓPICO 1 | O QUE É ÉTICA?

maneira. Porém o comportamento é o resultado de normas já estabelecidas,


não sendo, então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá um
julgamento. E a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais,
assim ÉTICA É UMA ESPÉCIE DE LEGISLAÇÃO DO COMPORTAMENTO
MORAL DAS PESSOAS.

Ainda podemos dizer que a ética é um conjunto de regras, princípios ou


maneiras de pensar que guiam, ou chamam para si a autoridade de guiar, as
ações de um grupo em particular, ou, também, o estudo da argumentação sobre
como nós devemos agir.

Também a simples existência da moral não significa a presença explícita


de uma ética, entendida como filosofia moral, pois é preciso uma reflexão que
discuta, problematize e interprete o significado dos valores morais.

Podemos dizer, a partir dos textos de


PLATÃO e ARISTÓTELES, que no Ocidente, a
ética ou filosofia moral inicia-se com Sócrates.

Para SÓCRATES, o conceito de ética iria além


do senso comum da sua época, o corpo seria a prisão
da alma, que é imutável e eterna. Existiria um “bem
em si” próprio da sabedoria da alma e que podem
ser rememorados pelo aprendizado. Esta bondade
absoluta do homem tem relação a uma ética anterior
à experiência, pertencente à alma e que o corpo para
reconhecê-la terá que ser purificado.

ARISTÓTELES subordina sua ética à política, acreditando que na


monarquia e na aristocracia se encontraria a alta virtude, já que esta é um
privilégio de poucos indivíduos. Também diz que na prática ética, nós somos o
que fazemos, ou seja, o Homem é moldado na medida em que faz escolhas éticas
e sofre as influências dessas escolhas.

O Mundo Essencialista é o mundo da contemplação, ideia compartilhada


pelo filósofo grego antigo Aristóteles. No pensamento filosófico dos antigos, os seres
humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela conduta
virtuosa. Para a ética essencialista o homem era visto como um ser livre, sempre
em busca da perfeição. Esta por sua vez, seria equivalente aos valores morais que
estariam inscritos na essência do homem. Dessa forma – para ser ético – o homem
deveria entrar em contato com a própria essência, a fim de alcançar a perfeição.

Costuma-se resumir a ética dos antigos, ou ética essencialista, em três


aspectos: 1) o agir em conformidade com a razão; 2) o agir em conformidade
com a natureza e com o caráter natural de cada indivíduo; 3) a união permanente
entre ética (a conduta do indivíduo) e política (valores da sociedade). A ética era
uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no intuito de propiciar a
harmonia entre o mesmo e os valores coletivos, sendo ambos virtuosos.
11
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

Com o cristianismo romano, através de S.


TOMÁS DE AQUINO e SANTO AGOSTINHO,
incorpora-se a ideia de que a virtude se define a
partir da relação com Deus e não com a cidade ou
com os outros. Deus nesse momento é considerado
o único mediador entre os indivíduos. As duas
principais virtudes são a fé e a caridade.

Através deste cristianismo, se afirma na ética


o livre-arbítrio, sendo que o primeiro impulso da
liberdade dirige-se para o mal (pecado). O homem
passa a ser fraco, pecador, dividido entre o bem e o
mal. O auxílio para a melhor conduta é a lei divina.
A ideia do dever surge nesse momento. Com isso,
a ética passa a estabelecer três tipos de conduta;
a moral ou ética (baseada no dever), a imoral ou
antiética e a indiferente à moral.

As profundas transformações que o mundo


sofre a partir do século XVII com as revoluções
religiosas, por meio de LUTERO; científica, com
COPÉRNICO e filosófica, com DESCARTES, oprimem
um novo pensamento na era Moderna, caracterizada
pelo Racionalismo Cartesiano – agora a razão é o
caminho para a verdade, e para chegar a ela é preciso
um discernimento, um método. Em oposição à fé surge
agora o poder exclusivo da razão de discernir, distinguir
e comparar. Este é um marco na história da humanidade
que a partir daí acolhe um novo caminho para se chegar
ao saber: o saber científico, que se baseia num método e
o saber sem método é mítico ou empírico.

A ética moderna traz à tona o conceito de que os


seres humanos devem ser tratados sempre como fim da
ação e nunca como meio para alcançar seus interesses. Essa
ideia foi contundentemente defendida por Emmanuel
Kant. Ele afirmava que: “não existe bondade natural.
Por natureza somos egoístas, ambiciosos, destrutivos,
agressivos, cruéis, ávidos de prazeres que nunca nos
saciam e pelos quais matamos, mentimos, roubamos”.

12
TÓPICO 1 | O QUE É ÉTICA?

De acordo com esse pensamento, para nos tornarmos seres morais era
necessário nos submetermos ao dever. Essa ideia é herdada da Idade Média na
qual os cristãos difundiram a ideologia de que o homem era incapaz de realizar o
bem por si próprio. Por isso, ele deve obedecer aos princípios divinos, cristalizando
assim a ideia de dever. Kant afirma que se nos deixarmos levar por nossos
impulsos, apetites, desejos e paixões não teremos autonomia ética, pois a Natureza
nos conduz pelos interesses de tal modo que usamos as pessoas e as coisas como
instrumentos para o que desejamos. Não podemos ser escravos do desejo.

No século XIX, FRIEDRICH HEGEL traz uma


nova perspectiva complementar e não abordada pelos
filósofos da Modernidade. Ele apresenta a perspectiva
Homem – Cultura e História, sendo que a ética
deve ser determinada pelas relações sociais. Como
sujeitos históricos culturais, nossa vontade subjetiva
deve ser submetida à vontade social, das instituições
da sociedade. Desta forma, a vida ética deve ser
“determinada pela harmonia entre vontade subjetiva
individual e a vontade objetiva cultural”.

Através desse exercício, interiorizamos os valores culturais de tal maneira


que passamos a praticá-los instintivamente, ou seja, sem pensar. Se isso não
ocorrer é porque esses valores devem estar incompatíveis com a nossa realidade
e por isso devem ser modificados. Nesta situação podem ocorrer crises internas
entre os valores vigentes e a transgressão deles.

Já na atualidade o conceito de ética se fundiu nestas duas correntes de


pensamento:

A ÉTICA PRAXISTA, em cuja visão o homem tem a capacidade de


julgar, ele não é totalmente determinado pelas leis da natureza, nem possui uma
consciência totalmente livre. O homem tem uma corresponsabilidade frente as
suas ações.

A ÉTICA PRAGMÁTICA, Com raízes na apropriação de coisas e espaços,


na propriedade, tem como desafio à alteridade (misericórdia, responsabilização,
solidariedade), para transformar o Ter, o Saber e o Poder em recursos éticos para
a solidariedade, contribuindo para a igualdade entre os homens: “distribuição
equitativa dos bens materiais, culturais e espirituais”.

O homem é visto, como sujeito histórico-social, e como tal, sua ação não
pode mais ser analisada fora da coletividade. Por isso, a ética ganha novamente um
dimensionamento político: uma ação eticamente boa é politicamente boa, e contribui
para o aumento da justiça, distribuição igualitária do poder entre os homens. Na
ética pragmática o homem é politicamente ético, – “todos os aspectos da condição
humana, têm alguma relação com a política” – há uma corresponsabilidade em
prol de uma finalidade social: a igualdade e a justiça entre os homens.

13
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

Na Contemporaneidade, NIETZSCHE atribui


a origem dos valores éticos, não à razão, mas à emoção.
Para ele, o homem forte é aquele que não reprime
seus impulsos e desejos, que não se submete à moral
demagógica e repressora. E para coroar essa mudança
radical de conceitos, surge FREUD com a descoberta
do inconsciente, instância psíquica que controla o
homem, burlando sua consciência para trazer à tona
a sexualidade represada e que o neurotiza. Porém,
FREUD, em momento algum afirma dever o homem
viver de acordo com suas paixões, apenas buscar
equilibrar e conciliar o id com o superego, ou seja, o
ser humano deve tentar equilibrar a paixão e a razão.

Hoje, em uma era em que cada vez mais se


fala de globalização, da qual somos todos funcionários
e insumos de produção, o conhecimento de nossa
cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento de
outras culturas. Entretanto essa tarefa antropológica
não é suficiente para o homem comum superar a crise
da ética atual conhecendo o outro e suas necessidades
para se chegar a sua convivência harmônica. Ao
contrário, ser feliz hoje é dominar progresso técnico e
científico, ser feliz é ter. Não há mais espaço para uma
ética voltada para uma comunidade. Hoje se aposta no
individualismo, no consumo, na rapidez de produção.

No momento histórico em que vivemos existe um problema ético-político


grave. Forças de dominação têm se consolidado nas estruturas sociais e econômicas,
mas através da crítica e no esclarecimento da sociedade seria possível desvelar
a dissimulação ideológica que existe nos vários discursos da cultura humana,
sabendo disso, essas mesmas forças têm procurado controlar a mídia.

Em lugar da felicidade pura e simples há a obrigação do dever e a ética


fundamenta-se em seguir normas. Trata-se da “Ética da Obediência”. Que impede o
Homem de pensar, e descobrir uma nova maneira de se ver, e assim encontrar uma
saída em relação ao conformismo de massa que está na origem da banalidade do mal,
do mecanismo infernal em que estão ausentes o pensamento e a liberdade do agir.

Pois assim determina Vasquez (1998) ao citar Moral como um “sistema de


normas, princípios e valores, segundo os quais são regulamentados as relações mútuas
entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas,
dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por
uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal”.

Enfim, Ética e Moral são os maiores valores do homem livre. O homem,


com seu livre arbítrio, vai formando seu meio ambiente ou o destruindo, ou ele

14
TÓPICO 1 | O QUE É ÉTICA?

apoia a natureza e suas criaturas, ou ele subjuga tudo que pode dominar, e assim
ele mesmo se forma no bem ou no mal neste planeta.

FONTE: DENIS, Sandro. Ética e moral. Círculo Cúbico. Endereço Eletrônico: <Http://
Circulocubico.Wordpress.Com/2008/04/04/Tica-E-Moral/>. Acesso em: 9 set. 2011.

AUTOATIVIDADE

1 Qual a função das regras e normas em nossa sociedade?

2 Procure identificar a diferença entre ética e moral.

3 Como podemos aplicar a fábula das “três peneiras de


Sócrates”, em nosso dia a dia?

DICAS

Para um aprofundamento destes temas, sugiro que você leia os seguintes livros
e assista ao filme indicado:

VALLS, Álvaro L. M. O que é VÁSQUEZ, Adolfo S. Ética. 26. COACHI CARTER: Treino para a vida.
Ética. São Paulo: Brasiliense,ed. Rio de Janeiro: Civilização Título Original: Coach Carter.
2003. (Coleção Primeiros Brasileira, 2005. Gênero: Drama.
Passos, 177). Tempo de Duração: 136 minutos.
Ano de Lançamento (EUA /
Alemanha): 2005.
Site Oficial: <www.coachcarter
movie.com>.
TOMELIN, Janes Fidélis; TOMELIN, Karina Nones. Do mito Estúdio: MTV Films / Tollin/
para a razão: uma dialética do saber. 2 ed. Blumenau: Robbins Productions / MMDP
Novaletra, 2002. Munich Movie Development &
Production GmbH & Co.
Distribuição: Paramount Pictures
/ UIP. Direção: Thomas Carter.

15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, podemos observar uma discussão acerca do significado da
ética, no qual foram abordados os seguintes itens:

 A ética investiga o agir humano, o seu comportamento em sociedade.

 Nossas ações, hábitos e costumes formam uma consciência moral do que nos
faz bem ou mal e o do que é certo ou errado.

 Todos os seres humanos possuem valores e princípios diferentes, porque


vivem em sociedades diferentes, que possuem características culturais e morais
diferentes.

 Cada um de nós possui uma visão do que é certo e errado, do bem e do mal.

 Todos os homens fazem parte de uma sociedade, um grupo social, portanto,


podemos dizer que os homens em sociedade convivem em grupo.

 A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento que cada


pessoa ou grupo social tem ou venha a ter.

 A ética auxilia no esclarecimento e explicação da realidade cotidiana de cada


povo, procurando sempre elaborar seus conceitos conforme o comportamento
correspondente de cada grupo social.

 O valor de ética está naquilo que ela explica – o fato real daquilo que foi ou é – e
não no fato de recomendar uma ação ou uma atitude moral.

 São o caráter das pessoas e seus costumes, hábitos e virtudes que determinam
a conduta social, a sua maneira de viver. E é neste comportamento que a ética
regula o agir humano.

16
AUTOATIVIDADE

1 Pesquise a diferença entre comportamento amoral e comportamento imoral.

2 Quais as diferenças entre cultura e valores?

3 Como você vê a ética em sua profissão?

17
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2

ÉTICA: UM MÉTODO DE VIVER E CONVIVER

1 INTRODUÇÃO
Sabemos que vivemos em sociedade, mas para que possamos viver
harmoniosamente com os outros, necessitamos compreender o como viver e
conviver com o outro. Neste sentido, este tópico realizará algumas reflexões
pertinentes a esta questão, pois:

Quando começamos a questionar a sensatez, ou mesmo a sanidade, de


alguns de nossos mais acalentados modos de pensar – por exemplo,
considerar o conhecimento como poder, em vez de sabedoria; afirmar
a conveniência do progresso material, apesar de sua influência
corrosiva em nossas almas, ou justificar a manipulação antropocêntrica
da natureza, mesmo à custa de destruir o sistema de proteção de vida,
a consciência primordial emerge como fonte inspiradora. (TU WEI-
MING apud TOMELIN; TOMELIN, 2002, p. 89).

Assim, a compreensão das diferenças entre ética e moral, proporcionará


a você prezado(a) acadêmico(a), maior compreensão da realidade social em que
vivemos.

2 DIFERENÇA ENTRE ÉTICA E MORAL


Com relação à ética e à moral, já estudadas no tópico 1 desta Unidade,
podemos afirmar que a ética estuda e investiga o comportamento moral dos seres
humanos. E esta moral é constituída pelos diferentes modos de viver e agir dos
homens em sociedade, que é formada por suas diretrizes morais da vida cotidiana,
transformando-se no decorrer dos tempos.

Nesta perspectiva, apresentamos as suas principais diferenças a seguir:

19
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

QUADRO 1 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL

ÉTICA MORAL

• É o modo de viver e agir de cada povo,


em cada cultura.
• É a ciência que estuda a moral.
• É o conjunto de normas, prescrição e
• É a reflexão sistemática sobre o
valores reguladores da ação cotidiana.
comportamento moral.
• Varia no tempo e no espaço.
• É a parte da filosofia que trata da
reflexão dos princípios universais da
• São os valores concernentes ao bem e ao
humanidade.
mal, permitindo ou proibindo.
• São os valores humanos universais e
• Conjunto de normas e regras reguladoras
fundamentais.
da relação entre os homens de uma
determinada comunidade.
• É a teoria do comportamento moral.
• Nasce da necessidade de ajudar cada
• É a compreensão subjetiva do ato moral.
membro aos interesses coletivos do
grupo.

FONTE: TOMELIN, Janes Fidélis; TOMELIN, Karina Nones. Do mito para a razão: uma dialética
do saber. 2. ed. Blumenau: Nova Letra, 2002. p. 89-90.

Ou seja, podemos verificar que existe uma distinção entre ética e moral e
cada qual possui suas características norteadoras, que de acordo com Paulo Netto
(apud BONETTI et al, 2010, p. 23) a:

FIGURA 4 – MORAL E ÉTICA

FONTE: Adaptado de: Tomelin e Tomelin, 2002, p.89-90.

20
TÓPICO 2 | ÉTICA: UM MÉTODO DE VIVER E CONVIVER

Assim, podemos expor que a moral vem se constituindo historicamente,


mudando no decorrer da própria evolução do homem em sociedade. Em que
seus hábitos e costumes são constituídos por esta relação social, em que a essência
humana é pautada por estes princípios morais. E estes por sua vez constituem o
ser social que somos. E a ética nesta questão chega para simplesmente regular e
analisar estes preceitos morais.

A ética é percussora da TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos diversos


sistemas ou estruturas sociais. Sistemas estes que imprimiam suas mudanças
sociais, tais como:

• Capitalismo.

• Socialismo.

Então, podemos dizer que quando é constituída uma nova estrutura


social, a ética, os vilões e princípios morais são modificados para constituir assim
esta nova concepção de sociedade. Em outros termos, o sistema de valores morais
se transforma no processo de constituição de um novo padrão sócio-histórico.

Mas, nos diversos processos e projetos de transformações sociais devem


permear os valores da solidariedade, igualdade e fraternidade, para assim poder
constitui uma sociedade mais justa e democrática.

3 A GÊNESE DA CONSCIÊNCIA MORAL: A NECESSIDADE DO


DESENVOLVIMENTO HUMANO
Neste item, trabalharemos algumas questões que apresentam as origens
ou bases fundamentais da existência humana, ou seja, a gênese da consciência
moral, aquilo que possibilita os seres humanos a serem considerados homens.

ATENCAO

Lembre-se, o ditado popular cita que “O HOMEM É HOMEM, PORQUE É UM


SER RACIONAL!” A questão não é tão simples assim, pois não podemos dizer que a ética só
depende da razão e que a racionalidade é o seu fator constituinte.

Entretanto, antes de tudo, precisamos compreender o significado das


ações ético-morais na vida dos seres humanos, indagando se o simples fato
de pensar e estabelecer normas de conduta da realidade cotidiana pode ser

21
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

compreendido como a realização de uma atividade prática em sua vida, ou seria


possível que a vida dos homens fosse estabelecida apenas por sua racionalidade
ou pela composição de regras, normas e valores sociais?

Partindo desta indagação, podemos afirmar que o homem vive num


mundo real, estabelecendo diversas relações com a natureza, transformando-a
segundo às suas necessidades reais, sobrevivendo, ao longo de sua história, a
partir dessas relações.

DICAS

Como sugestão, inicialmente leia o seguinte livro:

FURNARI, Eva. Lolo Barnabé. São Paulo: Moderna, 2000.

Os seres humanos estão ligados à natureza e dela dependem para se


constituírem como seres sociais, pois, à medida que utilizam sua consciência sobre
a natureza, desenvolvem necessidades práticas de sobrevivência, ou seja, não basta
apenas pensar e observar, faz-se necessário que os homens ajam sobre sua realidade
cotidiana, realizem seus desejos e vontades e transformem a sua vida conforme
suas necessidades e as necessidades de sua sociedade.

Marx e Engels (1987, p. 22) colocam-nos que:

[...] o primeiro pressuposto de toda existência humana e, portanto, de


toda história, é que os homens devem estar em condições de viver para
poder fazer história. Mas, para viver, antes de tudo comer, beber, ter
habitação, vestir-se e algumas coisas a mais. O primeiro ato histórico
é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas
necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um
ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda
hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprida todos os dias e
todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos.

22
TÓPICO 2 | ÉTICA: UM MÉTODO DE VIVER E CONVIVER

Assim, podemos observar que a realização de nossas necessidades é


compreendida como um fato social e histórico, primordial para compreendermos
a própria existência humana. E estas necessidades, conforme a história do “Lolo
Barnabé” (FURNARI, 2000), são criadas e recriadas constantemente, fazendo parte
da constituição histórica dos seres humanos. Por consequência, determinando o
modo de vida, os princípios, hábitos e valores sociais.

Este desenvolvimento humano, pela busca da realização das suas


necessidades, é feito primordialmente por meio do trabalho, no qual, o homem
além de se adaptar à natureza, começa a agir sobre ela, transformando-a de
acordo com seus propósitos e necessidades.

Então, podemos concluir que é por meio do trabalho que os seres humanos
colocam em prática suas capacidades humanas. Assim, o trabalho é a base
fundamental na formação da consciência moral de todos os seres humanos,
pois, segundo Barroco (2000, p. 45) “[...] o trabalho é uma atividade social, cuja
realização cria valores e costumes, desenvolve habilidades e sentimentos, formas
de comunicação, de intercâmbio e de conhecimento, em outras palavras, cria a
cultura e sua própria história.” É por meio do trabalho que os homens desenvolvem
seus princípios e sua cultura, consequentemente, seus valores sociais e éticos.

AUTOATIVIDADE

1 A partir da história do “Lolo Barnabé” (FURNARI, 2000), reflita sobre as


determinações da construção social através do trabalho, na constituição dos
seres humanos.

2 Por que é o trabalho que permite a construção dos valores éticos?

3 Qual é o papel da ação humana na produção e reprodução da vida em


sociedade?

4 CONDUTA MORAL: O BEM E O MAL, O CERTO E O


ERRADO
Com relação ao comportamento moral dos homens, chegamos numa
encruzilhada que é a nossa própria consciência moral, pois como saber o que
devemos fazer? O que é certo ou errado perante a sociedade? O que é o bem e
como evitar o mal?

De acordo com Valls (2003, p. 67-68):


[...] agir eticamente é agir de acordo com o bem. A maneira de como
se definirá o que seja este bem, é um segundo problema, mas a opção
entre o bem e o mal, distinção levantada já há alguns milênios, parece
continuar válida. [...] Neste sentido, poderíamos continuar dizendo

23
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

que uma pessoa ética é aquela que age sempre a partir da alternativa
bem ou mal, isto é, aquela que resolveu pautar seu comportamento
por uma tal opção, uma tal disjunção. E quem não vive dessa maneira,
optando sempre, não vive eticamente.

Pois bem, para efetuarmos um julgamento concreto sobre alguma


situação da vida em sociedade, devemos nos pautar sobre todos os pressupostos
éticos daquela sociedade em si, ou seja, seus princípios morais e seus costumes.
Entretanto, sem esquecer que o que todo ser humano busca em suas ações
cotidianas na sociedade é fazer sempre e somente o bem, pois é por causa e em
nome deste bem maior que eles realizam tudo.

Todas as nossas ações possuem um propósito, ou seja, um fim. Este fim


somente é alcançado quando os homens realizam uma atividade para alcançá-lo,
vão em busca de seus objetivos e metas. Portanto, se realmente existe um motivo
que visa tudo o que fazemos, este fim só poderá ser realizado se nós, seres humanos,
o realizarmos através de ações/atividades. Elas, por sua vez, sempre estão na busca
constante da realização do bem e da verdade e procurando a felicidade e o prazer.

AUTOATIVIDADE
Em nome de um bem maior, da realização de um prazer ou em nome da
felicidade, as pessoas realizam muitas ações na sociedade. Às vezes, estas ações
podem prejudicar outras pessoas. Procure identificar pelo menos uma destas
ações que você conhece, que, em nome deste bem maior, acaba prejudicando
as outras pessoas.

DICAS

Como sugestão de leitura para fixação deste conteúdo, leia o seguinte livro e
assista aos filmes a seguir:

PERREIRA, Otaviano. O que é moral.


São Paulo: Brasiliense, 1991.

24
TÓPICO 2 | ÉTICA: UM MÉTODO DE VIVER E CONVIVER

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO (Brave New World)


Direção: Leslie Libman e Larry Williams.
Elenco: Peter Gallagher, Leonard Nimoy, Tim
Guinee, Rya Kihlstedt, Sally Kirkland, Patrick J.
Dancy, Daniel Dae Kim, Miguel Ferrer.
Gênero: Ficção Científica.

SÁ, Antônio Lopes de. Ética e valores


humanos. São Paulo: Juruá, 2011.

BLADE RUNNER: O CAÇADOR DE ANDROIDES


Diretor: Ridley Scott.
Elenco: FORD, HARRISON, HAUER, RUTGER,
HANNAH, DARYL, e YOUNG, SEAN.
Gênero: Ficção Científica.

25
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

LEITURA COMPLEMENTAR 1

OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO

Mas ele desconhecia Notou que sua marmita


Esse fato extraordinário: Era prato do patrão
Que o operário faz a coisa Que sua cerveja preta
E a coisa faz o operário. Era o uísque do patrão
De forma que, certo dia Que seu macacão de zuarte
À mesa, ao cortar o pão Era o terno do patrão
O operário foi tornado
De uma súbita emoção Que o casebre onde morava
Ao constatar assombrado Era a mansão do patrão
Que tudo naquela mesa Que os seus dois pés andarilhos
-garrafa, prato, facão Eram as rodas do patrão
Era ele quem o fazia Que a dureza do seu dia
Ele, um humilde operário, Era a noite do patrão
Um operário em construção. Que sua imensa fadiga
Olhou em torno: gamela Era amiga do patrão.
Banco, enxada, caldeirão
Vidro, parede, janela E o operário disse: não!
Casa, cidade, nação! E o operário fez-se forte
Tudo, o que existia Na sua resolução
Era ele quem o fazia ---------------------------------
Ele, um humilde operário Uma esperança sincera
Um operário que sabia Cresceu no seu coração
Exercer a profissão. E dentro da tarde mansa
------------------------- Agigantou-se a razão
E foi assim que o operário De um homem pobre e esquecido
Do edifício em construção Razão porém que fizera
Que sempre dizia sim Em operário construído
Começou a dizer não. O operário em construção.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção: (Vinícius de Moraes)

FONTE: MORAES, Vinícius de. In: TOMELIN, Janes Fidélis; TOMELIN, Karina Nones. Do mito para
a razão: uma dialética do saber. 2. ed. Blumenau: Nova Letra, 2002. (p.24)

26
TÓPICO 2 | ÉTICA: UM MÉTODO DE VIVER E CONVIVER

LEITURA COMPLEMENTAR 2

ÉTICA E MORAL

UMA REFLEXÃO SOBRE A ÉTICA E OS PADRÕES DE MORALIDADE


OCIDENTAL

Israel Alexandria

1. A MORALIDADE ENQUANTO OBJETO DA ÉTICA

Gosto não se discute. Correntemente essa frase é utilizada quando se quer


estabelecer a ideia de que gosto é algo radicalmente subjetivo e imutável. Ora,
a imensa variedade de sujeitos com preferências e opiniões distintas entre si e o
fato de um mesmo sujeito mudar de preferências e opiniões fazem prova de que
a complexa estrutura psíquica humana é capaz de aprender e de modificar o que
se aprendeu. SUBJETIVIDADE não combina com IMUTABILIDADE, logo a frase
em questão é contraditória.

Diz-se também que PERSONALIDADE vem da natureza. Quando atribuímos


à natureza a existência de alguma coisa, estamos simplesmente dizendo que
esta coisa não foi criada pela cultura, nasce-se com ela. Não há necessidade de
aprender o que é natural. O natural é inato. Essa coisa chamada personalidade
é inerente à pessoa. Pessoa e personalidade vêm da mesma palavra: persona.
Ninguém nasce pessoa. Ninguém se refere a um bebê como "aquela pessoa", pois
sabe-se que personalidade tem a ver com um sistema mais ou menos definido de
gostos, preferências que se vai adquirindo com o tempo.

Embora as preferências e as condições que formam a personalidade sejam


tão subjetivas e mutáveis, há uma constante que não podemos desprezar. É o
princípio do prazer. Todo ser dotado de sensibilidade tem a propensão natural
de afastar o que lhe está associado à dor e buscar o que lhe é prazeroso. O gato
morde o homem que lhe pisa a cauda e o vegetal cresce em direção ao sol. Para o
gato é bom que não lhe pisem na cauda. Para a planta, é bom crescer em direção ao
sol. O ser humano não foge a essa regra. O bebê humano é capaz de manifestar
sua percepção de prazer e dor e essa capacidade não se perde com a idade. O que
muda é a forma como se dá essa manifestação e o objeto do prazer ou o da dor
que, por sua vez, dependem das circunstâncias. O que permanece imutável é o
fato dos sujeitos estarem sempre buscando o que lhes parece bom, e afastando o
que lhes parece mal. É sobre esses dois conceitos que trata a ética.

A ética é uma ciência comprometida com a busca aprofundada das


relações entre o homem e os conceitos de bem e de mal. Trata-se de uma
ciência da qual não podemos nos esquivar, pois o bem e o mal, o certo e o errado
impregnam nossa conduta prática. Embora a maioria não pense no assunto, o
comportamento humano é uma contínua resposta às questões éticas. É nesse
ponto que nasce a distinção entre ética e moral.
27
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

O dicionarista e pensador Nicola Abbagnano (1901-1990) afirma que


MORAL é "atinente à conduta" (1982: 652) enquanto a ÉTICA é "a ciência com
vistas a dirigir e disciplinar a mesma conduta" (1982: 360). A moral seriam
as regras práticas e a ética, o fundamento teórico da moral. Dizem-se moral
aristotélica,  moral kantiana para enfatizar os respectivos aspectos práticos; ética
aristotélica, ética kantiana estariam mais relacionados aos seus aspectos teóricos.
Alguns autores, entretanto, ressaltam que, embora haja uma infinidade de morais:
moral cristã, moral judaica, moral platônica, moral kantiana etc., a ética seria uma
só. É que, sendo esta uma ciência, trabalha apenas com conceitos universais.

Basicamente, são três os modelos de moralidade: aristocrático, utilitarista


e kantiano.

2. A MORAL ARISTOCRÁTICA

A moral aristocrática visa fazer com que o indivíduo se aproxime, cada


vez mais, de um homem ideal e transcendente. Nesse sentido, são morais
aristocráticas a moral judaica, baseada no modelo de homem de fé (Abraão),
a moral cristã, no amor ao próximo (Jesus), a moral platônica, no ascetismo
(filósofo-rei), a moral budista, na eliminação dos desejos (Buda). Mas, na maioria
das vezes, esses modelos ideais são apenas descrições sem referências a nomes
de personagens históricos. A moral aristocrática propõe que cada indivíduo seja
dotado das virtudes adequadas (a palavra virtude vem de virtu, que significa
força) para imitar o modelo ou um ideal de vida proposto. A felicidade plena é
obtida quando o indivíduo realiza o ideal proposto. Quanto mais virtuoso for o
indivíduo, maior o seu grau de felicidade.

Sócrates (470-399 a.C.) inventou o ideal cínico (palavra derivada de canino),


cuja principal virtude é o desprezo às comodidades, às riquezas e às convenções
sociais, enfim a tudo aquilo que afasta o homem da simplicidade natural de que
dão exemplo os animais (no caso o cão). Cínico é aquele que vive o descaramento
da vida canina. Relata-se que Sócrates caminhava nos mercados apenas para
saber do que ele não precisava. Outros curiosos relatos envolvendo Diógenes,
tais como o da "visita do imperador", "a mão e a cuia", "a lanterna" etc. indicam
que este teria sido o maior cínico da história.

Platão (428-348 a.C.) propôs o ideal asceta. A prática da ascese consiste


em viver na contemplação do mundo das ideias ao tempo que se afasta de tudo
o que é corpóreo. "É evidente que o trabalho do filósofo consiste em se ocupar
mais particularmente que os demais homens em afastar sua alma do contato com o
corpo" (Platão: Fédon, 65, a). O sábio educa-se para a morte, ou seja, para o dia em
que sua alma se separará definitivamente do corpo, migrando para o outro mundo.

Aristóteles (384-322 a.C.) definia o homem ideal como aquele que consegue
pôr em prática tanto a sua animalidade natural como a sua sociabilidade natural,
pois o homem é um animal social por natureza. "Mesmo quando não precisam
da ajuda dos outros, os homens continuam desejando viver em sociedade."

28
TÓPICO 2 | ÉTICA: UM MÉTODO DE VIVER E CONVIVER

(Aristóteles. Política: III, 6). Reprimir a animalidade ou a sociabilidade distancia o


homem da felicidade. Para encontrar um termo médio entre essas duas naturezas,
o homem vale-se da razão.

Os estoicos são outro exemplo de moral aristocrática. No séc. IV a.C.


Acredita-se que o nome estoico tenha sido inspirado no local onde Zenão de Cício
(335-263 a.C.) ensinava: os pórticos (stoa, em grego). Costuma-se atribuir a razão
do surgimento dessa doutrina ao fato da cidade de Atenas haver perdido sua
independência para os macedônicos, prolongada depois pelo império romano.
O estoicismo foi uma espécie de refúgio espiritual, uma via filosófica para se
conseguir a independência em nível individual. Não obstante, o estoicismo
atravessou séculos, sendo adotado pelos cristãos e até pelo imperador romano
Marco Aurélio (121-180 d.C.).  Segundo os estoicos, nenhum evento acontece por
acaso (teoria da necessidade). Até mesmo o trajeto de uma folha que se desprende
da árvore já foi milimetricamente traçado pelo Logos, princípio inteligente do
cosmos. O ideal de sabedoria estoica é a completa apatia: indiferença-acomodação
diante dos acontecimentos da vida, é o que revela Sêneca (4 a.C. 65 d.C.) um dos
expoentes do estoicismo.

Toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua condição,


queixando-se o menos possivel e não deixando escapar nenhuma das vantagens que
ela possa oferecer: nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não
encontre qualquer coisa para consolo. Vê-se frequentemente um terreno diminuto
prestar-se, graças ao talento do arquiteto, às mais diversas e incríveis aplicações, e
um arranjo hábil torna habitável o menor canto. Para vencer os obstáculos, apela
à razão: verás abrandar-se o que resistia, alargar-se o que era apertado e os fardos
tornarem-se mais leves sobre os ombros que saberão suportá-los. (1973: 216)

Não se interprete indiferença por alienação: um sábio pode engajar-se na


vida política até mesmo porque estava escrito. Nesse ponto, os povos muçulmanos
parecem estar em franco acordo com a doutrina estoica pois regularmente repetem
a expressão maktub (estava escrito), particípio passado do verbo catab (escrever). A
virtude do sábio é o controle absoluto de suas emoções. Segundo sua parenética
(termo que diz respeito aos aconselhamentos práticos), quando as circunstâncias
tornam impossível o controle das emoções, é aconselhável a prática do suicídio.

Epicuro de Samos (341-270 a.C.) criou o modelo de sábio epicurista: o


homem que pratica plenamente a virtude da ataraxia (despreocupação; ausência
de aborrecimentos, de dores ou medos).

Nem a posse das riquezas nem a abundância das coisas nem a obtenção
de cargos ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-na a
ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito que se mantenha
nos limites impostos pela natureza.

A ausência de perturbação e de dor são prazeres estáveis; por seu turno,


o gozo e a alegria são prazeres de movimento, pela sua vivacidade. Quando

29
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

dizemos, então, que o prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres
dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como creem certos
ignorantes, que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem,
mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações
da alma. (Epicuro.1993: 25).

Efetivamente, a ideia de que os epicuristas pregavam a volúpia do corpo


é falsa. Eles praticavam uma espécie de otimismo profilático que se aproxima
muito do famoso "jogo do contente" da personagem Poliana. Eram iconoclastas
em relação aos mitos sobre morte, religião e política. Isolados em jardins afastados
das agitações da vida citadina, cultivavam a amizade (a prática de viver em
seletos círculos de amigos era considerada condição fundamental na vida do
sábio epicurista). O modus vivendi de Epicuro e seus discípulos foi chamado de
aurea mediocritas (mediocridade dourada) por Horácio.

3. A MORAL UTILITARISTA

A moral utilitarista caracteriza-se pela ausência do transcendente e de


modelos a priori a serem imitados. Todas as ações devem ser medidas pelo bem maior
para o maior número. Ao definir o utilitarismo, o filósofo irlandês Francis Hutcheson
(1694-1746) assim se expressa: "a melhor ação é aquela que produz a maior felicidade
ao maior número de pessoas." O utilitarismo é a moral dos números.

Nicolau Maquiavel (1469-1527), pensador italiano, tem sobre si a culpa de


haver defendido que os fins justificam os meios embora, segundo o Dicionário de
Filosofia de Abbagnano (1962: 614), tal máxima tenha origem jesuíta. A injustiça
que recai sobre Maquiavel vem da dificuldade que se tem de separar o mero
descrever e o opinar. Ele tinha horror a governos de ocasiões, golpes sucessivos,
casuísmos, enfim à política do dia a dia que tanto permeava a agitada vida nos
bastidores políticos de Florença. Em O Príncipe ele faz uma descrição em forma
de aconselhamento, com base em seus conhecimentos de história, da conduta
do governante que pretende permanecer no poder por um tempo relativamente
longo, mas chega mesmo a confessar que, para atingir tal permanência, o ideal
seria que as coisas não ocorressem da forma como a história demonstrara. Não
obstante, a tradição nos legou o termo maquiavélico como designativo de um
modelo que se firmou como um dos marcantes exemplos de moral utilitarista: a
que visa um maior número de dias no poder.

Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, parte do princípio de que


quanto menor for o número de invasões, mortes violentas e desapossamentos
mútuos, mais feliz será a espécie humana. Esta condição só pode ser arranjada
com a existência de um contrato social e de um Leviatã. Vamos explicar melhor: Para
Hobbes, o homem é, naturalmente, o lobo do homem (homo homini lupus), ou seja,
não é um ser naturalmente cordial e sociável, não está naturalmente aparelhado

30
TÓPICO 2 | ÉTICA: UM MÉTODO DE VIVER E CONVIVER

para sentir-se incomodado com a dor alheia quando sua sobrevivência está em
jogo. "Se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível
ela ser gozada por ambos, eles se tornam inimigos." (Hobbes, 1651: 43). Relegados
ao estado de natureza, os homens promovem uma guerra de todos contra todos
(bellum omnium contra omnes), guerra inútil porque põe em risco a própria
conservação humana. Os homens portanto perceberam e admitiram entre si a
vantagem em cada um reprimir sua animalidade natural em prol de uma mútua
convivência pacífica, bem mais útil, produtiva, confortável e segura. A civilização
nasce desse contrato social. Essa nova situação, entretanto, só pode ser mantida
com a existência de um Leviatã (monstro amedrontador e forte) que se expressa
preferencialmente na figura de um rei, comandante autoritário e único que gera
em todos o sentimento generalizado de medo da punição, garantindo assim a
continuidade do Estado civil.

A base da moral utilitária de Hobbes sofreu inúmeras críticas, a principal


partiu de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, que via na animalidade
humana não lobos e sim cordeiros. Tais quais cordeiros livres, os homens, no
estado de natureza, vivem em plena felicidade. Foi a civilização que fez com que
muitos cordeiros se tornassem violentos e pensassem ser lobos. A soberania do
Leviatã não é desejável porque além de retirar do homem a sua liberdade natural
impossibilita a construção de uma liberdade civil, que só é possível quando a
vontade geral é soberana. A conquista da liberdade civil estaria na reeducação
por meio de leis "corderiais" que, metaforicamente, fizessem com que os cordeiros
reconhecessem que são cordeiros.

Ainda a respeito da dicotomia lobo/cordeiro há outras observações


curiosas. Para Frederich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, a natureza
produz homens-lobos e homens-cordeiros e não podemos ignorar que lobos
estão aparelhados para devorar cordeiros. Quando só restarem lobos, as forças
naturais produzirão superlobos que devorarão antigos lobos numa progressão
infinita de vidas cada vez mais fortes. A moral nietzschiana é a da exuberância
da força e do vitalismo das potências naturais ou superhumanas. É uma moral
que pretende ir além do bem e do mal (se é que isso é possível). Nietzsche
afirma que dicotomia entre bem e mal não passa de invencionice resultante do
ressentimento e da fraqueza dos cordeiros. "Toda moral é [...] uma espécie de
tirania contra a 'natureza' e também contra a 'razão'". (Nietzsche, 1886: 110).

Michel Foucault (1926-1984) diria que lobos e cordeiros habitam cada um


de nós e ambos teriam desenvolvido estratégias de sobrevivência que tornariam
extremamente complexa a luta entre os dois, uma complexidade tal que o cordeiro,
em determinados momentos, poderia estar sob a condição de ataque. Nesse caso
a questão moral só poderia ser definida dentro de um contexto muito específico
onde se levariam em conta os sujeitos envolvidos, suas estratégias, suas relações
de poder... Foucault é o criador da microética.

31
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

4. A MORAL KANTIANA

A moral kantiana é a concebida por Immanuel Kant (1724-1804), filósofo


prussiano. Sua intuição principal foi que o indivíduo deve estar livre para agir
"não em virtude de qualquer outro motivo prático ou de qualquer vantagem
futura, mas em virtude da ideia de dignidade de um ser racional que não obedece
a outra lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente se dá" (Kant, 1785: 16).
A ação moral exige a autonomia do agente. Ser autônomo é obedecer a si mesmo
ou ao que vem de dentro. É o inverso do heterônomo (o que obedece ordem do
outro, obedece ao que vem de fora). Não se pode falar em ética sem autonomia
pois a ação heterônoma (cuja vontade vem de fora) não é uma ação ética. A moral
aristocrática e a utilitarista não são eticamente válidas porque dependem de algo
exterior: a primeira, de ideais transcendentes e a segunda, de ideais imanentes.

Para realizar a autonomia, a ação moral deve obedecer apenas ao imperativo


categórico: o bom senso interior que todos nós temos de perceber que não somos
instrumentos e sim agentes. Nunca instrumentalizar o homem é a exigência maior
do imperativo categórico. Kant fornece uma regra para  saber se uma decisão
nossa obedece ou não ao imperativo categórico: indague a si mesmo se a razão
que te faz agir de determinada maneira pode ser convertida em lei universal,
válida para todos os homens. Se não puder, esta tua ação não é digna de um ser
racional, não é eticamente boa porque falta-te a autonomia, estás agindo premido
por circunstâncias exteriores a ti. O bem ético é um bem em si mesmo.

Ao realçar a exigência da autonomia da ação moral, Kant desperta a


questão da liberdade ética. O conceito de liberdade ética parte da distinção
entre ação reflexa e ação deliberada. A ação deliberada é aquela que resulta de
uma decisão, de uma escolha, é o mesmo que ação autônoma. A ação reflexa é
"instintiva", independe da vontade do agente. Apenas as ações deliberadas podem
ser analisadas sob o ponto de vista ético. Voltemos ao exemplo do gato que morde
o homem que lhe pisou a cauda. O gato tentou afastar o que lhe era um mal, mas
não podemos dizer que ele escolheu morder o homem. Logo, não se pode dizer
que o gato agiu de forma imoral ou antiética. A questão da liberdade ética pode
ser assim resumida: Levando-se em conta que somos animais e ocasionalmente
agimos de forma reflexa, em que condições nossa ação pode ser considerada uma
ação deliberada?

Henri Bergson (1859-1941) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) respondem a


essa pergunta de forma radical: O livre-arbítrio é a qualidade que melhor define
o homem. A própria condição humana exige que todo ato humano seja um ato de
escolha, seja uma ação deliberada. O homem está condenado à liberdade porque
nunca pode decidir não escolher. Diante da consciência de que nos vemos forçado
a realizar algo por imposição exterior, passamos a ter liberdade de escolher entre
entregar-se à ação ou ir de encontro a ela.

32
TÓPICO 2 | ÉTICA: UM MÉTODO DE VIVER E CONVIVER

Bibliografia Específica

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad., coord. e rev. por Alfredo


Bosi e Maurice Cunio et alii. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
ARISTÓTELES. Política. Livro I, cap. 1. Brasília: UnB, 1988.
EPICURO. Ética. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 25. (Coleção Os Pensadores).
GOLDIM, José Roberto. Ética. moral e direito. Disponível em: <http://orion.ufrgs.
br/HCPA/gppg/eticmor.htm>. Acesso em: 7 jun.2000.
HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Coleção Os
Pensadores).
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes (1785). São
Paulo: Abril Cultural, 1980. (Coleção Os Pensadores).
LIMA VAZ, Henrique C. Escritos de Filosofia II:  ética e cultura. São Paulo:
Loyola, 1993.
NIETZSCHE, F.W. Além do Bem e do Mal - Prelúdio a Uma Filosofia do Porvir.
Traduzido por Paulo José de Souza. São Paulo: Cia das Letras, 1996.
PLATÃO. Fédon ou da alma. Tradução por Márcio Pugliesi e Edson Bini. São
Paulo: Hemus,199?.
SÊNECA. Da tranquilidade da alma. São Paulo: Abril Cultural. 1973. p. 216.
(Coleção Os Pensadores).

FONTE: ALEXANDRIA, Israel. Ética e moral: uma reflexão sobre a ética e os padrões de
moralidade ocidental. 2001. Endereço Eletrônico: <http://ialexandria.sites.uol.com.br/textos/
israel_textos/etica_e_moral.htm>. Acesso em: 20 set. 2011.

33
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, trabalhamos a distinção entre ética e moral e como são
formados os princípios morais humanos, no qual foram abordados os seguintes
itens:

 Verificamos que a ética estuda e investiga o comportamento moral dos seres


humanos.

 Observamos que a moral é constituída pelos diferentes modos de viver e agir


dos homens em sociedade, no decorrer dos tempos.

 Estudamos que as origens ou bases fundamentais da existência humana, ou


seja, a gênese da consciência moral, é formada por meio do trabalho.

 O trabalho é a base fundamental na formação da consciência moral de todos os


seres humanos.

 Para realizarmos um julgamento concreto sobre alguma situação da vida em


sociedade, devemos nos pautar sobre todos os pressupostos éticos daquela
sociedade em si, ou seja, seus princípios morais e seus costumes.

 Todo homem busca em suas ações cotidianas fazer sempre e somente o bem.

 Todas as ações humanas possuem um propósito, um fim.

34
AUTOATIVIDADE

A partir do conhecimento que você adquiriu sobre ética e moral, sugiro que
você encontre 10 palavras relacionadas ao tópico estudado, neste seguinte
passatempo.

A C O M P O R T A M E N T O P
K E L D A F P B B J L O S X R
R Q X C E B Q O K P Q R S L I
S A M O R A L Q E L M M O D N
D A F N L E B S R P O A B F C
J Q I D E P S E R A S X F O I
H N U U Q I L I A I P H L L P
C E R T O X B A D B S E Q O I
A S D A N D S B O L U T A S O
R O B L O F A S X U D I A P S
V A L O R E S Q A I O C Q X K
H Q A L I S O C I E D A D E P

35
36
UNIDADE 1
TÓPICO 3

OS VALORES E A MORAL COMO PRINCÍPIOS


NORTEADORES DA ÉTICA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, procurar-se-á compreender os conceitos e características
dos valores e virtudes morais, que formam os princípios norteadores da ética.

Porém, o que é a moral?

Segundo Aranha e Martins (2003, p. 301), “a MORAL vem do Latim mos,


moris, que significa “costume”, “maneira de se comportar regulada pelo uso”, e
de moralis, morale, adjetivo referente ao que é “relativo aos costumes”. Portanto,
podemos considerar que a moral é “um conjunto de regras de conduta admitidas
em determinada época ou por um grupo de pessoas.”

A moralidade dos homens é um reflexo direto do modo de ser e conviver


em sociedade, no qual o caráter, os sentimentos e os costumes determinam o
seu comportamento individual e social, que foi ou está sendo perpetuado num
espaço de tempo.

2 A ESSÊNCIA DA MORAL COM EMBASAMENTOS ÉTICOS


PARA A VIDA COTIDIANA
Partimos do entendimento de que todo homem pode ser considerado um
ser ético e que nossas raízes éticas advêm da nossa própria história por meio do
trabalho, podemos questionar a sua forma de ser, ou seja, qual a natureza da
moral? Por que a moral é necessária? E como ela é?

Pois sabemos que, “a (re)produção da vida social coloca necessidades de


interação entre os homens, modos de ser constitutivos da cultura, produtos do
trabalho, tais como a linguagem, os costumes, os hábitos, as atividades simbólicas,
religiosas, artísticas e políticas.” (BARROCO, 2000, p. 25).

A partir disso, podemos destacar alguns exemplos:

37
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

● Na questão da linguagem, hábitos e costumes: pode-se observar que toda


região do Brasil forma grupos ligados por seus costumes sociais, tais como:
o nosso tipo de comida, o estilo de vida, as atitudes, determinando o nosso
convívio social.

● Na questão das atividades simbólicas: a aplicação de histórias de conto de


fadas serve para o desenvolvimento emocional de crianças.

● Na questão artística: a dança, a pintura, o teatro possibilitam a liberação da


imaginação e criatividade dos homens, além de ser utilizada no tratamento
de algumas questões de recuperação social e moral, como no tratamento de
dependentes químicos e terapias ocupacionais.

Também devemos compreender que o homem, quando desenvolve e cria


seus valores sociais e individuais, os classificam em certos ou errados, bons ou maus,
de acordo com o conjunto de necessidades e possibilidades de cada grupo social.

Contudo, quais são as formas de ser da moral?

Como nos mostra Barroco (2000, p. 25-26):

[...] o campo da moral é um espaço de criação e realização de normas e


deveres, de atitudes, desejos e sentimentos de valor. Na vida cotidiana,
julgamos as ações práticas como corretas ou incorretas; fazemos juízo
de valor sobre nosso comportamento e dos outros; nos deparamos com
situações em que ficamos em dúvida sobre a melhor escolha; projetamos
nossa vida a partir de valores que julgamos positivos e negamos as ações
que se orientam por valores que consideramos negativos.

Podemos observar, no nosso dia a dia, a existência de pessoas que não


respeitam as normas de conduta da sociedade em que vivem, por isso, elas
possuem um comportamento imoral ou antiético, ou seja, negam as normas e
diretrizes morais constituídas e legitimadas pela própria sociedade.

AUTOATIVIDADE

1 Escreva como você se comporta diante de uma situação na qual certo cidadão
de seu município transgride alguma norma ou diretriz de conduta social.
_____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

38
TÓPICO 3 | OS VALORES E A MORAL COMO PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ÉTICA

2 Como você se sente quando deixa de cumprir com um compromisso, ou


mente sobre alguma situação, ou quando deixa de lado afazeres e obrigações?
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____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

3 Você fica indignado(a) diante da injustiça e da irresponsabilidade em nossa


sociedade? ( ) Sim ( ) Não. Justifique.
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____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

Segundo Barroco (2000, p. 26):

Todos esses julgamentos, sentimentos, escolhas e desejos constituem o


campo da moral; referem-se a valores, normas e deveres que orientam o
comportamento dos indivíduos em sociedade, reproduzindo um dever
ser que possa fazer parte do seu ethos, de seu caráter, determinando
sua consciência moral, influenciando as escolhas, os projetos, as ações
práticas dirigidas à realização do que se considera bom. É também
no âmbito da moral que falamos do senso moral, pois se considera
que os indivíduos estão socializados quando têm capacidade para se
autodeterminar em face de situações de conflito, podem distinguir o
que é bom e o que não é, podem ser responsabilizados pelos seus atos.

AUTOATIVIDADE

● Medite: O que você compreende ser bom ou mau para você e sua família?

Sabemos que a moral sugere, constantemente, a valorização de nossas


ações e de nossos comportamentos em sociedade, mas é a moral que determina
quais são os nossos direitos e deveres perante a sociedade em que vivemos.
Estes deveres são conectados ao nosso modo de ser e conviver em sociedade,
gerando certas responsabilidades com relação a si próprio e aos outros, tais
como:

 sentimentos;

39
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

 escolhas;

 desejos;

 atitudes;

 posicionamentos diante da realidade;

 juízo de valor;

 senso moral;

 consciência moral.

AUTOATIVIDADE

● Relacione algumas características ao termo central:

Não podemos esquecer que a moral, seus hábitos, princípios e costumes


são constituídos em sociedade e no decorrer de nossa história. Estas construções
são baseadas no dia a dia das relações sociais, que compõem a produção e
reprodução da vida em sociedade.

Finalizando o item, entendemos que todos nós, enquanto indivíduos, temos


um senso moral da realidade em que estamos inseridos, adquirido pelo convívio
social e assim reproduzido.

3 OS VALORES E PRINCÍPIOS MORAIS


Primeiramente, faz-se necessário compreender o significado de valor,
pois, ao refletir sobre ética, também falamos sobre os nossos valores e virtudes e,
consequentemente, no comportamento dos homens.

Pois, quando falamos em ética nos reportamos instantaneamente na vida


moral dos homens, e esta moralidade social é permeada de valores, valores estes
também constituídos em sociedade.
40
TÓPICO 3 | OS VALORES E A MORAL COMO PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ÉTICA

José Paulo Netto expõe que Agnes Heller cita que “VALOR é tudo
aquilo que contribui para explicar e para enriquecer o ser genérico do homem,
entendendo como ser genérico um conjunto de atributos que constituiriam a
essência humana.” (PAULO NETTO apud BONETTI ET AL, 2010, p. 22-23).

E estes atributos na perspectiva de Heller são:

FIGURA 5 – ATRIBUTOS NA PERSPECTIVA DE HELLER

OBJETIVAÇÃO:

- que expressa prioritariamente


por intermédio dotrabalho.

- que proporciona sair do subjetivo


e passar para o real e concreto.

http://gracynhakellyblogspotcom/2006
_04_01_arc hive.html

SOCIALIDADE:

- que se expressa com a convivência


com o outro, em grupo.

- aprendizagem com o outro.

- assimilação de normas sociais.

<http://tretas_nuas.blogs.sapo.pt/1774.html>.

CONSCIÊNCIA:

- tomar ciência dos fatos ou de alguma


coisa.

- reconhecimento da realidade;

- descoberta de algo;

- capacidade de perceber as coisas.


<http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_
info.php?term=Consci%C3%AAncia&lang=3>.

41
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

UNIVERSALIDADE:

- universal;

- o todo;

- fazer parte de um determinado


grupo.

<http://numerologiatododia.blogspot.
com/2010_10_01_archive.html>.

LIBERDADE:

http://www.caiofabio.net/conteudo.
asp?codigo=02158

FONTE: Adaptado de: Paulo Netto (apud BONETTI et al, 2010, p. 23)

E
IMPORTANT

Estes atributos, segundo muitos estudiosos, são os elementos constitutivos do


ser humano, do ser social.

Portanto, conclui-se que a ética é formada pelo estudo e investigação do


comportamento e dos juízos de valores, estabelecendo ponderações de valor
para o que está de acordo ou não com as normas e regras de convivência dos
homens em sociedade, pontuando o que é certo e errado em cada postura social,
observando sempre as normas de convivência social de cada sociedade ou povo.

42
TÓPICO 3 | OS VALORES E A MORAL COMO PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ÉTICA

E
IMPORTANT

Contudo, o que são os valores sociais?

Diariamente, analisamos e fazemos julgamentos de valores tanto de


coisas como dos seres humanos. Por exemplo, “Aquela flor tem muitos espinhos,
pode me machucar”. “Este sabonete é ruim para mim, pois me dá alergia”. “Este
chocolate é ruim, pois derrete fácil”. “Gosto muito daquele chocolate, porque é
muito gostoso”. “Acho que a Samanta agiu bem ao ajudar você no trabalho de
aula”. “Aquele profissional é competente”. Essas afirmações se referem ao juízo
de valor da realidade em que estamos inseridos, pois quando partimos do fato
que a flor, o sabonete, o chocolate, a moça e o profissional existem realmente,
atribuímos algumas qualidades a eles, que podem nos atrair ou repelir.

Empregamos diversos tipos de valores, tais como: utilidade, estético,


afetividade, do bem e mal, religiosos, aspectos econômicos, sociais e políticos.

Os valores são, num primeiro momento, herdados por nós. Ao


nascermos, o mundo cultural é um sistema de significados já estabelecido, de tal
modo que aprendemos desde cedo como nos comportar à mesa, na rua, diante de
estranhos, como, quando e quanto falar em determinadas circunstâncias; como
andar, correr, brincar; como cobrir o corpo e quando desnudá-lo; qual o padrão
de beleza; que direito e deveres temos. Conforme atendemos ou transgredimos
os padrões, os comportamentos são avaliados como bons ou maus.

A partir da valoração, as pessoas podem achar bonito ou feio o desenho


que acabamos de fazer, ou criticar-nos por não termos cedido lugar à pessoa
mais velha no metrô; ou acham bom o preço que pagamos pela bicicleta; ou
nos elogiam por termos mantido a palavra dada; ou nos criticam por termos
faltado com a verdade.

Nós próprios nos alegramos ou nos arrependemos de nossas ações


ou até sentimos remorsos, dependendo do que praticamos. Isso quer dizer
que o resultado de nossos atos está sujeito à sanção, ou seja, ao elogio ou à
reprimenda, à recompensa ou à punição, nas mais diversas intensidades: a
crítica de um amigo, “aquele” olhar da mãe, a indignação ou até a coerção
física (isto é, a repressão pelo uso da força, por exemplo, quando alguém é
preso por assassinato).

FONTE: Aranha e Martins (2003, p. 300-301)

Alguns exemplos dos valores e virtudes humanas:

43
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

AMIZADE JUSTIÇA OBEDIÊNCIA RESPEITO SIMPLICIDADE


LEALDADE COMPREENSÃO SINCERIDADE PUDOR GENEROSIDADE
PACIÊNCIA ORDEM HUMILDADE AUTOESTIMA LIBERDADE

Pois:

FIGURA 6 – SOBRE O SER HUMANO

• Entendemos o ser humano como um ser:


Que vai se construindo a partir das relações
- DIALÓGICO que vai estabelecendo com os outros seres
- RELACIONAL humanos.

• Sem perder sua SINGULARIDADE,


- pois continua sempre sendo um ser único e irrepetível,

• Sua SUBJETIVIDADE
- é composta dos milhões de relações que ele estabelece durante toda a sua
existência.

• A DIMENSÃO ÉTICA
- se apoia diretamente sobre essa antropologia personalista e dialógica.

• RECONHECEMOS O "OUTRO" como:


- pessoa com quem esntramos em diálogo, e
- com um simples "indivíduo" que:
• está ao nosso lado,
• com quem entramos em contato pelo simples motivo de sobrevivência,
e, competição potencial conosco.

• No reconhecimento dessa alteridade


- "CONSISTE TODA A ETICIDADE DA EXISTÊNCIA".

FONTE: GUARESCHI, Pedrinho A. et al. Psicologia social contemporânea. 3. ed. São Paulo:
Vozes, 1999, p. 98.

44
TÓPICO 3 | OS VALORES E A MORAL COMO PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ÉTICA

LEITURA COMPLEMENTAR

PRINCÍPIOS, VALORES E VIRTUDES

Jerônimo Mendes

Existe uma grande diferença entre princípios, valores e virtudes embora


sua efetividade seja válida apenas quando os conceitos estão alinhados. No
mundo corporativo em geral, noto que muitos profissionais são equivocados com
relação aos conceitos e, apesar de defenderem o significado de um ou outro, a
prática se revela diferente.

Princípios são preceitos, leis ou pressupostos considerados universais


que definem as regras pela qual uma sociedade civilizada deve se orientar. Em
qualquer lugar do mundo, princípios são incontestáveis, pois, quando adotados
não oferecem resistência alguma. Entende-se que a adoção desses princípios está
em consonância com o pensamento da sociedade e vale tanto para a elaboração
da constituição de um país quanto para acordos políticos entre as nações ou
estatutos de condomínio. Vale no âmbito pessoal e profissional.

Amor, felicidade, liberdade, paz e plenitude são exemplos de princípios


considerados universais. Como cidadãos – pessoas e profissionais -, esses
princípios fazem parte da nossa existência e durante uma vida estaremos lutando
para torná-los inabaláveis. Temos direito a todos eles, contudo, por razões
diversas, eles não surgem de graça. A base dos nossos princípios é construída no
seio da família e, em muitos casos, eles se perdem no meio do caminho.

De maneira geral, os princípios regem a nossa existência e são comuns a


todos os povos, culturas, eras e religiões, queiramos ou não. Quem age diferente
ou em desacordo com os princípios universais acaba sendo punido pela sociedade
e sofre todas as consequências. São as escolhas que fazemos com base em valores
equivocados, não em princípios.

Valores são normas ou padrões sociais geralmente aceitos ou mantidos


por determinado indivíduo, classe ou sociedade, portanto, em geral, dependem
basicamente da cultura relacionada com o ambiente onde estamos inseridos. É
comum existir certa confusão entre valores e princípios, todavia, os conceitos e as
aplicações são diferentes.

Diferente dos princípios, os valores são pessoais, subjetivos e, acima de


tudo, contestáveis. O que vale para você não vale necessariamente para os demais
colegas de trabalho. Sua aplicação pode ou não ser ética e depende muito do
caráter ou da personalidade da pessoa que os adota.

Pessoas de origem humilde definem valores de maneira diferente das


pessoas de origem mais abastada. De um lado, a escassez pode gerar a ideia de

45
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

que dinheiro não traz felicidade, portanto, mesmo sem dinheiro, é possível ser
feliz utilizando-se valores como amizade, por exemplo. Do outro, o apego ao
dinheiro e a convivência harmoniosa com o conforto pode gerar a ideia de que
sem dinheiro não é possível ser feliz, ou seja, o dinheiro traz felicidade, amizade,
conforto e, se houver mais dinheiro do que o necessário, valores como filantropia
e voluntariado podem ser praticados.

Essa comparação não define o certo e o errado. Ela apenas levanta uma
questão interessante sobre o conceito de valores e depende do ponto de vista de
cada cultura ou de cada pessoa, em particular. Na prática, é muito mais simples
ater-se aos valores do que aos princípios, pois este último exige muito de nós. Os
valores completamente equivocados da nossa sociedade – dinheiro, sucesso, luxo
e riqueza - estão na ordem do dia, infelizmente. Todos os dias somos convidados
a negligenciar os princípios e adotar os valores ditados pela sociedade.
Virtudes, segundo o Aurélio, são disposições constantes do espírito, as quais, por
um esforço da vontade, inclinam à prática do bem. Aristóteles afirmava que há
duas espécies de virtudes: a intelectual e a moral. A primeira deve, em grande
parte, sua geração e crescimento ao ensino, e por isso requer experiência e tempo;
ao passo que a virtude moral é adquirida com o resultado do hábito.

Segundo Aristóteles, nenhuma das virtudes morais surge em nós por


natureza, visto que nada que existe por natureza pode ser alterado pela força
do hábito, portanto, virtudes nada mais são do que hábitos profundamente
arraigados que se originam do meio onde somos criados e condicionados através
de exemplos e comportamentos semelhantes.

Uma pessoa pode ter valores e não ter princípios. Hitler, por exemplo,
conhecia os princípios, mas preferiu ignorá-los e adotar valores como a supremacia
da raça ariana, a aniquilação da oposição e a dominação pela força. Significa que
também não dispunha de virtudes, pois as virtudes são decorrentes dos princípios
e o seu legado foi um dos mais nefastos da história. Sua ambição desmedida o
tornou obcecado por valores que contrastam com os princípios universais.

Diferente de Hitler, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce e Mahatma


Gandhi tinham princípios, valores e virtudes integralmente alinhados com a
sua concepção de vida. Todos lutavam por causas nobres e tinham um ponto
comum: a dignidade humana. Enquanto Hitler, Milosevic e Karadzic entraram
para o rol das figuras mais odiadas da humanidade, Madre Teresa, Irmã Dulce
da Bahia e Gandhi são personalidades singulares que inspiram exemplos para a
humanidade.

Existem pessoas que nunca seguiram princípio algum e, apesar de


tudo, continuam enriquecendo, fazendo sucesso na televisão, conquistando
cargos importantes nas empresas e assumindo papéis relevantes na sociedade.
Entretanto, riqueza material não é a única medida de sucesso. Avalie, por si
mesmo, quais os exemplos deixados por elas, a sua contribuição para o mundo e
o seu triste legado para os descendentes.

46
TÓPICO 1 | O QUE É ÉTICA?

No mundo corporativo não é diferente. Embora a convivência seja, por


vezes, insuportável, deparamo-nos com profissionais que atropelam os princípios,
como se isso fosse algo natural, um meio de sobrevivência, e adotam valores
que nada têm a ver com duas grandes necessidades corporativas: a convivência
pacífica e o espírito de equipe. Nesse caso, virtude é uma palavra que não faz
parte do seu vocabulário e, apesar da falta de escrúpulo, leva tempo para destituí-
los do poder.

Valores e virtudes baseados em princípios universais são inegociáveis e,


assim como a ética e a lealdade, ou você tem, ou não tem. Entretanto, conceitos
como liberdade, felicidade ou riqueza não podem ser definidos com exatidão.
Cada pessoa tem recordações, experiências, imagens internas e sentimentos que
dão um sentido especial e particular a esses conceitos.

O importante é que você não perca de vista esses conceitos e tenha em


mente que a sua contribuição, no universo pessoal e profissional, depende da
aplicação mais próxima possível do senso de justiça. E a justiça é uma virtude tão
difícil, e tão negligenciada, que a própria justiça sente dificuldades em aplicá-la,
portanto, lute pelos princípios que os valores e as virtudes fluirão naturalmente.
O que vale em casa vale no trabalho. Não existe paz de espírito nem crescimento
interior sem o triunfo dos princípios. Pense nisso e seja feliz!

FONTE: MENDES, Jerônimo. Princípios, valores e virtudes. Gestão de Carreira, 17 de agosto de


2008. Endereço Eletronico: <http://www.gestaodecarreira.com.br/coaching/reflexao/principios-
valores-e-virtudes.html>. Acesso em: 9 set. 2011.

DICAS

Como sugestão, assista ao filme:

Patch Adams.
Gênero: Drama.
Site Oficial: <www.patchadams.com>.
Direção: Tom Shadyac.
Elenco: Robin Williams. Daniel London, Monica Potter,
Philip Seymour Hoffman, Bob Gunton, entre outros.

47
RESUMO DO TÓPICO 3
O tema aqui abordado foi a questão da compreensão dos conceitos
e características dos valores e virtudes morais, que formam os princípios
norteadores da ética. Para tanto, discutimos que:

 A moralidade dos homens é um reflexo direto do modo de ser e conviver em


sociedade, que foi ou está sendo perpetuada num espaço de tempo.

 Todo ser humano pode ser considerado um ser ético.

 As nossas raízes éticas advêm da nossa própria história, por meio do trabalho.

 Existe uma interação entre os homens, em sua vida social.

 Em cada sociedade, existem diferentes modos constitutivos da cultura, tais


como: a linguagem, os costumes, os hábitos, as atividades simbólicas, religiosas,
artísticas e políticas.

 Também devemos compreender que o homem, quando desenvolve e cria seus


valores sociais e individuais, os classificam como certos ou errados, bons ou maus,
de acordo com o conjunto de necessidades e possibilidades de cada grupo social.

 No nosso dia a dia, existem pessoas que não respeitam as normas de conduta
da sociedade em que vivem. Estas pessoas possuem um comportamento imoral
ou antiético.

 A moral sugere, constantemente, a valorização de nossas ações e de nossos


comportamentos em sociedade.

 A construção da moral, seus hábitos, princípios e costumes são baseados e


construídos no dia a dia das relações sociais.

 Todos os indivíduos possuem um senso moral da realidade em que estão


inseridos.

48
 A ética é formada pelo estudo e investigação do comportamento e dos juízos de
valores, estabelecendo ponderações de valor para o que está de acordo ou não
com as normas e regras de convivência dos homens em sociedade, pontuando
o que é certo e errado em cada postura social e observando sempre as normas
de convivência social de cada sociedade ou povo.

 Diariamente, analisamos e fazemos julgamentos de valores tanto de coisas


como dos seres humanos.

 Empregamos diversos tipos de valores, tais como: utilidade, estético,


afetividade, do bem e mal, religiosos, aspectos econômicos, sociais e políticos

49
AUTOATIVIDADE

1 Escreva uma lista das suas principais virtudes.

2 Agora, tente identificar as principais virtudes de seu(sua) melhor amigo(a).

50
UNIDADE 1
TÓPICO 4

A ÉTICA NA CONTEMPORANEIDADE

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos as questões da ética no nosso dia a dia, ou
seja, como se processam as questões éticas, na contemporaneidade, além de
trabalharmos a questão da escolha e responsabilidade por meio da liberdade
como capacidade humana.

“Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há


ninguém que explica, e ninguém que não entenda.” (Cecília Meireles).

Mas, também apresentaremos algumas questões polêmicas sobre a ética


na atualidade, na família, na sociedade civil e no estado, além de traçarmos uma
discussão acerca da liberdade.

2 ALGUMAS QUESTÕES ÉTICAS POLÊMICAS DA ATUALIDADE


Agora, prezados(as) acadêmicos(as), verificaremos algumas polêmicas
referentes às questões éticas na contemporaneidade, então vejamos que de acordo
com Valls (2003, p. 70):

[...] a ética foi reduzida a algo de privado. [...] Ora, nos tempos da
grande filosofia, a justiça e todas as demais virtudes éticas referiam-
se ao universal (no caso, ao povo ou à polis), eram virtudes políticas,
sociais. Numa formulação de grande filosofia, poderíamos dizer que o
lema máximo de ética é o bem comum. E se hoje a ética ficou reduzida
ao particular, ao privado, isto é um mau sinal.

Porém, não se pode esquecer que os valores, os hábitos e os princípios formam


a consciência moral dos seres humanos, e esta consciência moral torna-se um fator
preocupante nos dias de hoje, pois os indivíduos possuem suas responsabilidades
individuais e coletivas perante a sociedade em que vivem, contudo, muitas vezes,
o dever ético respalda muito mais no indivíduo do que na coletividade, mesmo que
os valores éticos sejam constituídos pela sociedade como um todo.

Entretanto, o que é ter uma vida ética?

Nesta esfera, segundo Valls (2003, p. 71) “a liberdade se realiza eticamente


dentro das instituições históricas e sociais, tais como a família, a sociedade civil
e o Estado.”

51
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

2.1 FAMÍLIA
Segundo Valls (2003, p. 71):

Em relação à família, hoje se colocam de maneira muito aguda as


questões das exigências éticas do amor. O amor não tem de ser livre?
O que dizer então da noção tradicional do amor livre? Ele é realmente
livre? E como definir, hoje, o que seja a verdadeira fidelidade, sem
identificá-la como formas criticáveis de possessividade masculina
ou feminina? Como fundamentar, a partir dos progressos das
ciências humanas, os compromissos do amor, como se expressam
na resolução (no sim) matrimonial? E como desenvolver uma nova
ética para as novas formas de relacionamento heterossexual? E como
fundamentar hoje as preferências por formas de vida celibatária, casta
ou homossexual?

Pois bem, verificamos que estamos em constantes transformações sociais


e estas mudanças refletem diretamente na relação entre pais e filhos.

Podemos observar estas transformações, quando Valls (2003, p. 72) expõe


que:

As transformações histórico-sociais exigem, hoje, igualmente


reformulações nas doutrinas tradicionais éticas sobre o relacionamento dos
pais com os filhos. Novos problemas surgiram com a presença maior da escola
e dos meios de comunicação na vida diária dos filhos. As figuras tradicionais,
paterna e materna, não exigem, hoje, uma nova reflexão sobre os direitos e os
deveres dos pais e dos filhos?

Em especial, a reflexão sobre a dominação das chamadas minorias sociais


chamou a atenção para a necessidade de novas formas de relacionamento
dentro do próprio casal. O feminismo, ou a luta pela libertação da mulher, traz
em si exigências éticas, que até agora não encontraram talvez as formulações
adequadas, justas e fortes. A libertação da mulher, a libertação de todos os
grupos oprimidos, é uma exigência ética, das mais atuais. E, como lembraria
Paulo Freire, em seu Pedagogia do Oprimido, a libertação não se dá pela simples
troca de papéis: a libertação da mulher liberta igualmente o homem.

2.2 SOCIEDADE CIVIL


No que tange às questões da sociedade civil, podemos verificar que,
atualmente, os principais problemas enfrentados estão correlacionados ao mundo
do trabalho e à propriedade, pois, de acordo com Valls (2003, p. 72):

52
TÓPICO 4 | A ÉTICA NA CONTEMPORANEIDADE

Como falar de ética num país onde a propriedade é um privilégio


tão exclusivo de poucos? E não é um problema ético a própria falta
de trabalho, o desemprego, para não falar das formas escravizadoras
de trabalho, com salários de fome, nem da dificuldade de uma
autorrealização no trabalho, quando a maioria não recebe as condições
mínimas de preparação para ele, e depois não encontram, no sistema
capitalista, as mínimas oportunidades para um trabalho criativo e
gratificante? Num país de analfabetos, falar de ética é sempre pensar
em revolucionar toda a situação vigente.

Nesta perspectiva, observamos que se faz necessário algumas reformas


políticas e éticas, no que tange às regras de conduta referente ao modo de
aquisição da propriedade e do trabalho. Esta reforma deve partir da reformulação
dos nossos princípios morais e éticos e através da vontade política de nossos
governantes.

Valls (2003, p. 73) expõe ainda que:

A crítica atual insiste muito mais, agora, sobre a injustiça que reside no
fato de só alguns possuírem os meios da riqueza, e a crítica à propriedade
se reduz sempre mais apenas aos meios de produção. [...] A propriedade
particular aparece agora, nas doutrinas éticas, principalmente como
uma forma de extensão da personalidade humana, como extensão do
seu corpo, como forma de aumentar sua segurança pessoal, e de afirmar
a sua autodeterminação sobre as coisas do mundo.

2.3 ESTADO
No que tange aos problemas éticos do Estado, os mesmos denotam ser
muito mais complexos, pois os ideais políticos são um tanto mais complicados
de se compreender. Principalmente, quando tratamos da questão liberdade. De
acordo com Valls (2003, p. 74):

[...] a liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do


cidadão de um Estado livre e de direito. As leis, a Constituição, as
declarações de direitos, a definição dos poderes, a divisão destes
poderes para evitar abusos, e a própria prática das eleições periódicas
aparecem hoje como questões éticas fundamentais. Ninguém é livre,
numa ditadura [...].

Contudo, qual é a função do Estado?

Complementando, Valls (2003, p. 75) expõe que “os Estados que existem de
fato são a instância do interesse comum universal, acima das classes e dos interesses
egoístas privados e de pequenos grupos. [...] Em outras palavras, o Estado real
resolve o problema das classes, ou serve a um dos lados, na luta de classes?”

53
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

3 ÉTICA E LIBERDADE: A LIBERDADE COMO CAPACIDADE


HUMANA
De que maneira podemos entender que a liberdade possa ser compreendida
como uma capacidade humana nestes grupos sociais?

Devemos sempre partir do princípio de que a ética denota regras, normas e


responsabilidades, mas também não podemos esquecer que a ética é um espaço de
reflexão sobre a nossa vida cotidiana. Esta vida, que está pautada nos alicerces da
moral humana em sociedade, deve também supor que todos os homens sejam livres.

A partir disso tudo, o que é liberdade?

Quantas vezes tivemos o sentimento de estarmos presos, ou seja, não tendo


liberdade para fazer aquilo que realmente desejamos; ou simplesmente poder
escolher entre uma ou mais opções; ou ainda sentir-se livre para querer realizar
as nossas mais subjetivas necessidades, tais como: escolher uma boa comida,
comprar aquela roupa desejada, fazer aquele curso desejado e não imposto pela
família ou sociedade, andar de bicicleta, fazer um esporte etc.

Então, prezados(as) acadêmicos(as), vejamos no texto a seguir alguns


aspectos importantes referentes à liberdade e à ética:

LEITURA COMPLEMENTAR 1

LIBERDADE E ÉTICA

Liberdade e ética, binômio fascinante. A mentalidade medíocre vê apenas


uma face do ser humano. A mentalidade sábia vê o ser humano em todos os seus
aspectos. A mediocridade é disjuntiva: liberdade ou ética, ética ou liberdade. A
sabedoria é conjuntiva: liberdade com ética é ética com liberdade. A visão estreita
fragmenta o ser humano. A visão ampla é arquitetônica. Engloba liberdade e ética.

LIBERDADE E ÉTICA POSSUEM RECIPROCIDADE POSITIVA.


Intercomunicam-se e interfecundam-se. A liberdade acelera a ética e a ética
tonifica a liberdade. Interligadas, estimulam a “mútua criação”.

A ética pressupõe a liberdade. A pedra, a planta, o animal e o homem


coagido não exercem ato ético, porque não dispõem de liberdade para a atividade
ética. Por outra parte, sem ética, a liberdade pode adotar procedimentos tortuosos.
A LIBERDADE REQUISITA REFERENCIAIS ÉTICOS PARA MOVER-SE
COM LEGITIMIDADE. A ética oferece balizas aos passos livres. Valores éticos
são flechas que apontam rumos à liberdade. A ética sinaliza trânsito aberto ou
fechado para a arrancada da liberdade.

54
TÓPICO 4 | A ÉTICA NA CONTEMPORANEIDADE

Liberdade e ética não são infalíveis. Podem tropeçar no percurso da


vida. Estão sujeitas a falhas e a deformações. O eticismo é vazio de sentido. O
autoritarismo ético veta inovações. A ética negativa proíbe iniciativas construtivas
e condena atitudes lícitas. O fundamentalismo ético revela rigorismo patológico.
Por outra parte, o libertarismo ilimita pretensões abusivas da liberdade. E não
leva em conta a liberdade e os direitos dos outros. Também a liberdade pode
ensandecer na irracionalidade.

A ética ditatorial avisa: “Aqui mando eu”. E a liberdade destemperada


ameaça: “Sou livre e faço o que quero”. Ora, a ética tem a função de encaminhar
a liberdade, e não de bloqueá-la arbitrariamente. E, por sua vez a liberdade nem
sempre pode justificar-se a si mesma, porque acerta, mas também desacerta.
Não basta ser livre para ter o direito de fazer tudo o que é executável. Com
liberdade fazem-se maravilhas, mas também se faz o pior. Se bastasse ser livre
para agir retamente, então matar com liberdade, estuprar com liberdade e
rapinar dinheiro público com liberdade seriam procedimentos legítimos. Mas
são execráveis. Apesar de livres, são totalmente imorais. Pico della Mirandola,
protagonista do “humanismo orgulhoso”, confessa que se pode fazer “uso
funesto da livre escolha”. Todo ser humano honesto reconhece que o direito à
liberdade não sanciona ações criminosas praticadas livremente.

Sartre mostra que a liberdade é inerente ao ser humano. E, ao mesmo


tempo, aponta o caráter ético da liberdade ao escrever que o “homem é livre
porque, lançado no mundo, é responsável por tudo quanto fizer”. A liberdade
possibilita a ética, e a ética salvaguarda a liberdade. Liberdade madura não
dispensa a ética, e ética lúcida não amordaça a liberdade. O sujeito humano
unifica, em si, liberdade e ética. Não se deve divorciá-las. Há que mantê-las
organicamente articuladas.

Orientar eticamente a liberdade não é aprisioná-la, mas consolidá-la. O


mundo atual pede mais liberdade e mais ética. Juntas contribuem para que a
humanidade seja autônoma e justa. Sem liberdade, a humanidade é submetida
à escravidão. E, sem ética, é submetida a crueldades repugnantes.  Rousseau diz
que “só a liberdade moral torna o homem senhor de si mesmo”. A humanidade,
quanto mais livre, deve ser mais ética. E quanto mais ética, deve ser mais livre. E
concretizemos, com o pensamento e as mãos, a utopia de uma nova humanidade
livremente ética e eticamente livre.

“O que mais irrita um tirano é a impossibilidade de pôr a ferros também


o pensamento do homem.” Poul Volarey.

FONTE: ARDUINI, Juvenal – Antropologia: ousar para reinventar a humanidade – São Paulo:
Editora Paulus, 2002. Contribuição: Marisa Viana Pereira – Endereço eletrônico: <http://www.qir.
com.br/?p=6180>. Acesso em: 7 set. 2011.

Sabemos que todos os homens necessitam de liberdade. Os animais


também precisam dela. A liberdade pode ser entendida como um processo de
poder fazer escolhas. Estas escolhas devem ser sempre pautadas sobre os nossos
princípios morais e éticos, para que, assim, não possamos prejudicar os outros.
55
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

De acordo com Barroco (2000, p. 54):

A liberdade como capacidade humana é, portanto, o fundamento de


ética. Assim, agir eticamente, em seu sentido mais profundo, é agir
com liberdade, é poder escolher conscientemente entre alternativas,
é ter condições objetivas para criar alternativas e escolhas. Por sua
importância na vida humana, a liberdade é também um valor, algo
que valoramos positivamente, de acordo com as possibilidades de
cada momento histórico. Por tudo isso, podemos perceber que a
liberdade é também uma questão ética das mais importantes, pois
nem todos os indivíduos sociais têm condições de escolher e de criar
novas alternativas de escolha.

O formato da vida em que estamos inseridos demonstra a situação de que


os homens estão sempre tomando decisões sobre onde, como, para onde, o que
estão fazendo ou vão realizar. A nossa própria existência pode ser considerada
instável e incerta, porque mudamos de opinião o tempo todo. O mundo está
em constante transformação e, por consequência, os nossos hábitos e costumes
também, devido ao fato de que os seres humanos estão o tempo todo em
movimento.

Não sabemos se choverá amanhã ou fará sol, não sabemos realmente o que
pode acontecer no dia seguinte e nem o caminho que vamos tomar daqui para
frente. De acordo com Tomelin e Tomelin (2002, p. 128) “nosso existir se constitui
a cada dia, pois o homem não é algo pronto e acabado, é um ser em movimento
e que tem possibilidades de escolha. O nosso existir revela uma escolha. Uma
escolha de nossos pais, ao terem um filho e uma escolha nossa, de optarmos todos
os dias pela vida.”

Então, podemos compreender que somos livres, temos o poder de escolha


entre as inúmeras possibilidades que o universo nos proporciona. Só que não
podemos esquecer que toda escolha denota uma responsabilidade, não vivemos
isolados, mas numa sociedade e, perante ela, podemos, de certa maneira,
influenciar os outros conforme as nossas próprias escolhas.

Lembre-se de que toda escolha que fazemos determinará a nossa própria


existência.

56
TÓPICO 4 | A ÉTICA NA CONTEMPORANEIDADE

AUTOATIVIDADE

Escreva um acróstico a partir da palavra: LIBERDADE


Acróstico é uma composição, em versos, na qual as letras iniciais de cada verso
formam um termo.

L ________________________________________________
I ________________________________________________
B ________________________________________________
E ________________________________________________
R ________________________________________________
D ________________________________________________
A ________________________________________________
D ________________________________________________
E ________________________________________________

Verificamos que a moral, por meio das normas de conduta, determina


como devemos agir perante a sociedade em que vivemos. E se devemos agir deste
modo, conforme as diretrizes morais e éticas, é porque existe a possibilidade das
pessoas fazerem o contrário, ou seja, não agirem conforme as normas de conduta
preestabelecidas pela sociedade.

Temos a liberdade de escolha, pois muitas vezes nos indagamos se


realmente devemos obedecer ou não a estas regras, pois cabe a cada um de nós
decidirmos o que é certo ou errado, o que é fazer o bem ou o mal. É claro, esta
decisão deve ser tomada à luz de nossos valores e princípios éticos, que foram e
são constituídos pela sociedade como um todo.

57
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

LEITURA COMPLEMENTAR 2

A ÁGUIA E A GALINHA

Numa tarde sonolenta de verão, voltava um criador de cabras, do alto


de uma planura verde. Quando passava ao pé de uma montanha, encontra um
ninho de águias todo estraçalhado. Semicoberta por gravetos havia uma jovem
águia ferida na cabeça, parecia morta. Era uma águia-harpia brasileira, ameaçada
de extinção no Brasil.

Recolheu a águia com cuidado e pensou em levá-la ao seu vizinho, que


empalhava animais. Este ficou admirado por se tratar de uma águia-harpia.
Também supôs que estivesse morta e a colocou ternamente debaixo de uma cesta.

Na manhã seguinte teve grata surpresa. Percebeu que a águia mexia


levemente. Havia feridas em várias partes do corpo e a águia estava cega.

Sentiu muita pena da jovem águia. Por misericórdia, quase quis sacrificá-
la. Até encontrava razões para isso, visto que matam muitos animais pequenos,
especialmente macacos e preguiças, lebres, patos. Sabia que na Austrália, as
águias são mortas às centenas por serem prejudiciais aos cangurus e outros
animais pequenos.

Pensou muito, mas lembrou-se da tradição espiritual de Buda e de à


mente: “escolha a vida e viverá.”

Por todos esses argumentos, decidiu preservá-la e tratá-la com carinho.


Todo dia partia-lhe pedaços de pão e carne e a alimentava com dificuldade.
Depois de um ano, começou a perceber que os sentidos despertavam para a vida.
Primeiro os ouvidos. Depois, começou a se mover por si mesma. Andava pela
sala e pelo jardim. Recuperou sua voz, mas continuava cega. Os olhos são tudo
para uma águia. Seu olhar vê oito vezes mais que o olho humano.

Por fim, o empalhador decidiu colocá-la junto às galinhas. Durante dois


anos circulava cega entre elas. Andava com dificuldade, pois suas garras não
foram feitas para andar.

Eis que um dia, a águia começou a enxergar. Depois de três anos de


paciente cuidado, ela recuperara seu corpo de águia. Porém, vivia como uma
galinha.

Certo dia, um casal de águias passou por ali. Deu voos rasantes. Ao
perceber as águias no céu, a águia-galinha espalmava as asas e sacudia a cauda.
Seu coração de águia voltava a pulsar aos poucos.

58
TÓPICO 4 | A ÉTICA NA CONTEMPORANEIDADE

Passado algum tempo, o empalhador recebeu a visita de um naturalista,


que ficou perplexo ao ver a águia-galinha. Decidiram fazer um teste. O empalhador
colocou-a no braço e falou-lhe: — Águia, nunca deixará de ser águia, estenda
suas asas e voe. Porém, vendo as galinhas, a águia deixou-se cair pesadamente.
Fizeram nova tentativa, no terraço de sua casa, mas não funcionou.

Aí ambos lembraram-se da importância do sol para uma águia, e a levaram


no alto da montanha, de frente para o sol. O empalhador sustentou fortemente
a águia sob o olhar confiante do naturalista e disse: — Águia, você é amiga da
montanha, filha do sol, eu lhe suplico: desperte de seu sono! Revele sua força
interior. Abra suas asas e voe para o alto!

A águia ergueu-se soberba sobre o próprio corpo, abriu as longas asas,


esticou o pescoço e alçou voo. Voou na direção do sol nascente. Voou até fundir-
se no azul do firmamento.

(Adaptação da fábula contada por Leonardo Boff no Livro a “Águia e a


galinha”)

FONTE: BOFF, Leonardo. In: TOMELIN, Janes Fidélis; TOMELIN, Karina Nones. Do mito para a
razão: uma dialética do saber. 2. ed. Blumenau: Nova Letra, 2002. p.129-130.

DICAS

Como sugestão de leitura, para fixação deste conteúdo, leia o seguinte livro.
Você pode, também, assistir ao seguinte filme:

BOFF, Leonardo. A águia e HAPPI FEET: O PINGUIN


a galinha: uma metáfora da
condição humana. 27. ed.
Petrópolis: Vozes, 1997.

59
UNIDADE 1 | A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS

WAGNER, Eugênia Sales. Mais informações sobre ética, você


Hanna Arent: Ética e política. pode encontrar no site: <http://
Cotia: Ateliê Editorial, 2006. www.espacoetica.com.br>.

60
RESUMO DO TÓPICO 4
Foram abordadas as questões da ética no dia a dia, ou seja, como se
processam as questões éticas na família, na sociedade civil e no Estado, além de
verificarmos alguns aspectos da liberdade dos homens. No qual discutimos que:

 Não se pode esquecer de que os nossos valores, hábitos e princípios formam a


consciência moral dos seres humanos.

 Esta consciência moral se torna um fator preocupante nos dias de hoje, por
causa das responsabilidades sobre os nossos atos.

 Como as transformações sociais são constantes em nossa história, existem


algumas mudanças que refletem diretamente na relação entre pais e filhos,
marido e mulher, entre outros.

 Com relação às questões da sociedade civil, verificamos que, atualmente, os


principais problemas que enfrentamos estão correlacionados ao trabalho e à
propriedade.

 No que tange aos problemas éticos no Estado, os mesmos são mais complexos,
pois os ideais políticos são mais complicados de se compreender, principalmente
quando tratamos da questão da liberdade.

 Partimos do princípio de que a ética denota regras, normas e responsabilidades,


um espaço de reflexão sobre a nossa vida cotidiana. Esta vida está pautada
nos alicerce da moral humana em sociedade, deve também supor que todos os
homens sejam livres.

 Todos os homens necessitam de liberdade, inclusive os animais.

 A liberdade pode ser entendida como um processo de poder fazer escolhas.

 Estas escolhas devem ser sempre pautadas sobre os nossos princípios morais e
éticos, para que, assim, não possamos prejudicar os outros.

 Temos a liberdade de escolha, pois muitas vezes nos indagamos se realmente


devemos obedecer ou não a estas regras, pois cabe a cada um de nós decidirmos
o que é certo ou errado, o que é fazer o bem ou o mal.

61
AUTOATIVIDADE

1 Todo homem pode ser considerado um ser livre. Reflita sobre o significado
desta afirmação.

2 Escreva o que você considera uma ação proibida em seu município ou em


seu bairro.

3 Por meio de seus valores subjetivos, como você vê a Liberdade?

4 Será que podemos ser realmente livres? Justifique.

62
UNIDADE 2

A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS
DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO
ASSISTENTE SOCIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• conhecer os fundamentos ético-morais do exercício profissional do Assis-


tente Social;

• promover a reflexão e discussão sobre as questões ético-morais, na relação


indivíduo e sociedade;

• fomentar o debate sobre as diversas dimensões ético-morais da vida social


e profissional;

• promover uma consciência crítica referente aos valores e princípios norte-


adores do exercício profissional.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 2 está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles, você
terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos, realizando as atividades
propostas.

TÓPICO 1 – OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO


PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

TÓPICO 2 – O ESPAÇO DA ÉTICA NA RELAÇÃO INDIVÍDUO E


SOCIEDADE

TÓPICO 3 – A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA

TÓPICO 4 – A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU


PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

63
64
UNIDADE 2
TÓPICO 1

OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO


PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Com a própria evolução histórica da humanidade, pode-se dizer que,
hoje em dia, quando tratamos das questões éticas e morais, estamos falando que
o comportamento social dos homens vem atravessando todos os espaços da vida
social do mesmo. Pautando-se neste comportamento que vem se transformando
constantemente, encontramos muitos desafios no exercício profissional do
Assistente Social.

Neste tópico, abordaremos, com detalhes, a natureza e as características


fundamentais da ética profissional, além de trabalhar as questões relativas ao
cotidiano da prática profissional e das finalidades ético-morais da reprodução social.

2 A NATUREZA E OS FUNDAMENTOS DA ÉTICA PROFISSIONAL


Sabe-se que o principal problema da ética é a definição do que é certo
ou errado, bom ou mau, e que todos os homens desejam fazer o bem e a justiça,
observando sempre que esta problemática permeia toda a história da humanidade.
Compreendemos que “fazer o bem” pode ser considerado uma virtude social.

Porém, o que é fazer o bem?

Todos os nossos atos, que permeiam nosso comportamento social,


são frutos diretos e indiretos de uma consciência social e esta, por sua vez, é
constituída sobre os valores, princípios e hábitos morais do povo que a compõe.

Existe uma ligação química e muito forte no modo comportamental subjetivo


de cada homem, com relação à sociedade em que vive, pois se nossas ações visam,
constantemente, fazer o bem perante os outros, então, estamos sendo eticamente
bons sem, necessariamente, ser bom ou mau para alguém ou vice e versa.

Contudo, devemos compreender que não existe um bem ou mal absoluto,


pois as diversas subjetividades humanas apresentam inúmeras diferenças, ou
seja, a subjetividade é relativa de acordo com a visão de mundo e sociedade de
cada ser humano.

65
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Neste contexto, observa-se que a ética trabalha e avalia as diferentes


alternativas de preferência dos homens que vivem em sociedade, principalmente
no que tange à indicação do que devemos realmente fazer, ou não, em vez do que
devíamos ter feito, ou não, pois não podemos deixar de lado que todos os atos
dos homens que vivem em sociedade possuem suas restrições e consequências.
Estas, por sua vez, devem ser avaliadas constantemente, principalmente no que
tange à questão da escolha entre as diversas alternativas que estão postas pela
própria sociedade em que vivemos.

Portanto, compreende-se que a ética avalia as diversas escolhas conscientes


dos homens e trabalha com as consequências subjetivas de cada ser humano em
sociedade. Estas escolhas e suas consequências podem ser consideradas objeto da
prática profissional do Assistente Social. Como expõe Barroco 2008a, p. 67:

[...] a ética profissional é um modo particular de objetivação da vida


ética. Suas particularidades se inscrevem na relação entre o conjunto
complexo de necessidades que legitimam a profissão na divisão
sociotécnica do trabalho, conferindo-lhe determinadas demandas
[...]. Ou seja, estas demandas, fruto direto das escolhas subjetivas dos
homens e suas consequências, é que legitima o agir ético profissional
do Assistente Social. Pois, a consciência moral é formada pelos valores
culturais de uma determinada sociedade, e estes são legitimados pela
própria sociedade, ou seja, pelos seus integrantes. No qual, criam e
recriam constantemente novas necessidades, papéis e valores sociais.

Neste sentido, segundo Barroco (2008a, p. 68), o “ethos profissional é um


modo de ser constituído na relação complexa entre as necessidades socioeconômicas
e ídeo-culturais e a possibilidade de escolha inseridas nas ações ético-morais, o
que aponta para sua diversidade, mutabilidade e contraditoriedade.”

Assim, observa-se que a ética profissional do Assistente Social está recheada


de conflitos e contradições sociais que se remodelam ao passar dos tempos.

AUTOATIVIDADE

Baseado(a) nas informações adquiridas até o presente momento, forme


uma equipe, de no máximo quatro acadêmicos, e escreva quais os principais
CONFLITOS e CONTRADIÇÕES SOCIAIS que os seres humanos enfrentam
na atualidade.

66
TÓPICO 1 | OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Podemos, assim, compreender que, o conhecimento concebido pelos


homens propicia o seu modo de vida e de convivência em sociedade, pois buscam,
constantemente, seus fundamentos e suas posturas críticas da realidade em que
estão inseridos, além de transformar sua própria realidade. Complementando,
Lukacs (apud BARROCO, 2008b, p. 16) expõe que:

[...] o homem torna-se um ser que dá respostas precisamente na medida


em que – paralelamente ao desenvolvimento social e em proporção
crescente – ele generaliza, transformando em perguntas seus próprios
carecimentos e suas possibilidades de satisfazê-los; e quando, em sua
resposta ao carecimento que a provoca, funda e enriquece a própria
atividade com tais mediações bastante articuladas. De modo que não
apenas a resposta, mas também a pergunta é um pouco imediato na
consequência que guia a atividade.

Podemos compreender, então, que a ética supõe a compreensão e


análise da subjetividade do seres humanos e de suas relações sociais, através da
formação da práxis humana como um todo e não somente compreendida como a
formação de um conhecimento, ou seja, a ética está baseada nos relacionamentos,
comportamentos e práticas sociais tanto dos homens quanto das mulheres em seu
convívio cotidiano, no qual forma uma consciência moral global.

3 O SIGNIFICADO DA ÉTICA PROFISSIONAL


Agora, prezados(as) acadêmicos(as) iremos estudar diversos significados
da ética na práxis profissional do Assistente Social.

De acordo com Sá (2001, p. 129):

[...] a expressão profissão provém do Latim professione, do substantivo


professio, que teve diversas acepções naquele idioma, mas foi empregado
por Cícero como “ação de fazer profissão de”. O conceito de profissão,
na atualidade, aquele que aceito, representa: “trabalho que se pratica
com habitualidade a serviço de terceiros”, ou seja,”‘prática constante
de um ofício”.

TUROS
ESTUDOS FU

Você verá, no Tópico 3, A Relação entre Trabalho, Ser Social e Ética, uma reflexão
mais profunda referente à ética no trabalho.

67
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

O que vem a ser, então, a ética profissional?

Segundo Brites e Sales (2000, p. 8):

A ética das profissões não está dissociada do contexto sociocultural e


do debate filosófico. A ética profissional guarda uma profunda relação
com a ética social e, consequentemente, com os projetos sociais. Não
há, portanto, um hiato entre a ética profissional e a ética social, pois
seria cindir a própria vida do homem na sua totalidade, isto é, em seus
diversos pertencimentos: trabalho, gênero, família, ideologia, cultura,
desejos etc. Na verdade, é o “homem inteiro”, na acepção lukacsiana,
que participa da cotidianidade. Isto significa que o homem, no
processo de produção de sua vida material e cultural, constrói valores
que passam nortear as relações consigo mesmo e com os outros
homens, constituindo-se, assim, como sujeito ético no processo de
sociabilidade.

Observamos, então, que a constituição de um homem, enquanto indivíduo,


só pode ser feita por meio de suas relações com os outros. E é nesta interação social
que o indivíduo forma sua consciência moral, além de constituir seus anseios,
desejos e sonhos, fazendo suas escolhas de certo ou errado perante a sociedade em
que vive. Assim, pode-se dizer que é por meio da ética que o homem é um ser de
consciência, pois valora seus atos de forma autônoma e responsável, qualificando
e enriquecendo todo o processo complexo de produção e reprodução humana.

Partindo deste entendimento, verificamos que a ética proporciona


maior visibilidade no esclarecimento da direção social e, em consequência, da
qualificação da prática profissional de uma determinada sociedade, ou seja, por
meio da ética, existe todo um posicionamento social que forma e determina seus
valores, hábitos e princípios e estes, por sua vez, compõem as normas e diretrizes
profissionais daquela comunidade.

Nesta perspectiva, Brites e Sales (2000, p. 9) colocam-nos que:

[...] a ética profissional tem a ver com a imagem que a profissão quer que
seja reconhecida pela sociedade. [...] Em outras palavras, a profissão
constrói, historicamente, uma identidade e adquire uma legitimidade
social tanto a partir da explicação da função social da profissão quanto
dos contornos éticos que assume o trabalho profissional. Esse processo
é atravessado por contradições e tensões que envolvem disputas
políticas e ideológicas na sociedade. Não esqueçamos que o nosso
exercício profissional realiza-se numa sociedade capitalista, logo, há
demandas diferenciadas ou entendimentos diversos do que seja a
função social da profissão, no que concerne aos interesses das classes
em relação. Desse modo, há vários projetos societários em confronto
e o posicionamento da categoria, ao qual nos referimos, expressando
exatamente a opção por um determinado projeto social.

68
TÓPICO 1 | OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

AUTOATIVIDADE

Tudo isto nos leva a fazer a seguinte indagação: Será que quando estou
exercendo minhas atividades laborais, estou reforçando diretamente um projeto
ético de sociedade? Reflita esta questão em um dos encontros presenciais.

4 ÉTICA, O COTIDIANO E A PRÁTICA PROFISSIONAL


“A cabeça da gente é uma só e as coisas que há e que estão para haver
são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de
aumentar a cabeça, para o total.” (Guimarães Rosa)

Conforme a frase de Guimarães Rosa, é a partir da totalidade, que


podemos entender as particularidades subjetivas de cada ser humano, pois é
a sociedade como um todo que forma e constitui todos os nossos princípios e
valores ético-morais.

Contudo, quais as correlações entre o Código de Ética, o projeto


profissional do Assistente Social e sua práxis?

O que deve ficar bem claro aqui é que o objeto da prática profissional se dá
no dia a dia de nossa sociedade, ou seja, são nos diversos modos comportamentais
dos homens que se formam as questões sociais, ou seja, o objeto da práxis
profissional do Assistente Social.

O que é esta tal de questão social?

Pois bem, a questão social, a priori, forma-se na relação direta do trabalho


versus capital, principalmente na formação moral do trabalhador (classe operária),
perante a sociedade, o qual almeja ser reconhecido como tal por parte dos
detentores do capital (os patrões), ou seja, é nas contradições deste relacionamento
(trabalhador x patrão) que se forma o objeto de trabalho do Assistente Social. Esta
contradição é estabelecida diretamente na produção, reprodução e apropriação
da riqueza constituída em sociedade, ou seja, os trabalhadores, por meio do
trabalho, produzem a riqueza, em contrapartida, os patrões apropriam-se dela.
Portando, nesta dinâmica, o trabalhador não tem muitas vezes a possibilidade de
usufruir e obter as riquezas que produziu.

Complementando, Iamamoto (1997, p. 14) define o objeto do Serviço


Social nos seguintes termos:

Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas


mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos
as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na

69
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

saúde, na assistência social pública etc. Questão social que sendo


desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam
as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre
produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência,
que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido
por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou
deles fugir porque tecem a vida em sociedade. [...] a questão social,
cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do
Assistente Social.

Voltando à questão principal, pode-se observar que a vida cotidiana dos


seres humanos denota certa alienação dos mesmos ao sistema societal que estão
inseridos, ou seja, devemos saber distinguir as nossas ações de prática profissional
das atividades cotidiana em que estamos envolvidos. De acordo com Heller (apud
BRITES; SALES, 2000, p. 69):

[...] o cotidiano é o território da espontaneidade, das motivações


efêmeras e particulares, da fixação repetitiva do ritmo e da rigidez
do modo de vida. Consequentemente, o pensamento cotidiano é
um pensamento fixado, tão somente, na experiência, na dimensão
empírica da realidade e dos acontecimentos da vida; logo, pragmático e
ultrageneralizador, assentado na unidade imediata entre pensamento e
ação. Opera, portanto, corretamente, num nível de aproblematicidade
em detrimento da razão e das intimações humano-genéricas.

Contudo, o que é alienação?

Compreendemos que é por meio do trabalho que se forma a consciência


moral dos homens, denotando a sua sobrevivência social. Porém, como esta
atividade laboral pode ser considerada uma alienação de sua própria constituição
moral?

Podemos considerar que a alienação proporciona uma diminuição da


capacidade do agir consciente dos seres humanos, ou seja, os homens, muitas
vezes, não conseguem assimilar o seu próprio comportamento e suas atitudes
perante sua própria produção e reprodução social, no qual acabam bloqueando
sua autonomia de agir.

No que tange à alienação social, podemos citar que muitas vezes os


seres humanos não se dão conta que são eles que produzem as riquezas de sua
sociedade, por meio de suas atividades laborativas. Diante disto, apresentam duas
posturas, tais como: veem este processo de produção de riquezas como uma ação
natural e espontânea ou rejeitam esta situação, verificando que nós possuímos
muito mais capacidades de julgamento do que simplesmente acatar tudo o que
vem dos donos do capital (os patrões).

70
TÓPICO 1 | OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Nos dois casos, de acordo com Brites e Sales (2000, p. 69) “a sociedade é o
outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente de nós e com poder
total ou nenhum poder sobre nós.”

Segundo Brites e Sales (2000, p. 69):

No debate da práxis profissional, vemos, então, as possibilidades


de atuação dos assistentes sociais, consideradas particularmente,
inseridas nas contradições e tensões do cotidiano, mas vincadas e
içadas pelo projeto ético-político profissional – uma vez assimiladas
com consciência as suas exigências – ao plano do humano genérico.
A riqueza e desafios das situações radicalmente humanas posta pelo
exercício profissional listam aqueles a se orientar e conduzir sua vida
pela vida da eticidade; logo, a se posicionar diante de alternativas e
a realizar escolhas, postas na esfera do cotidiano, submetendo a sua
particularidade ao genérico.

Heller (apud BRITES; SALES, 2000, p. 69) expõe ainda que:

[...] quanto maior é a importância da moralidade, do compromisso


pessoal, da individualidade e do risco (que vão sempre juntos) na
decisão acerca de uma alternativa dada, tanto mais facilmente essa
decisão eleva-se acima da cotidianidade e tanto menos se pode falar
de uma decisão cotidiana.

Então, pode-se observar que não existe um divisor entre o comportamento


cotidiano e do não cotidiano, pois o desenvolvimento da práxis profissional
está interligado com a convivência do dia a dia do grupo social em que estamos
inseridos, ou seja, o trabalho profissional do Assistente Social se dá sobre as
questões sociais advindas deste convívio em sociedade. Contudo, não podemos
confundir que a prática profissional seja também as atividades cotidianas que
realizamos, pois estas se transformam na práxis profissional só quando nós
tomamos consciência deste fato.

No entanto, de acordo com Brites e Sales (2000, p. 70) “a práxis aqui


reivindicada decorre de uma construção coletiva expressa na direção social do
projeto ético-político do Serviço Social e que ganha tessitura e substância por
meio da adesão consciente e crítica aos princípios e valores presentes no código
de ética dos assistentes coletivos desenvolvidos país afora”.

71
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR 1

ÉTICA NO COTIDIANO

A.Augusta Soares

[...] O nosso país está [sempre] nos chamando para comparecermos às


urnas, período de mudanças políticas [...].

Período propício para questionamentos, principalmente sob um aspecto


cultural importante: a Ética em nosso cotidiano e as consequências de nossas ações.

Vivemos em sociedade, influenciamos e somos influenciados, através da


mídia escrita e falada (rádio, TV, jornais, propagandas e revistas), convivemos e
interagimos socialmente, portanto, cabe pensarmos e respondermos, intimamente,
a seguinte pergunta:

Como agimos em nosso cotidiano perante os Outros?

Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser


respondida. Está intimamente ligada à questão ÉTICA e, consequentemente, ao
julgamento do caráter moral de uma determinada pessoa.

Sabemos que a ética está presente em todos os povos, independente de


raça. Ela é um conjunto de regras, princípios, formas de pensar e se expressar.

A palavra de origem grega pode ser traduzida, dentro da sociedade, como


propriedade de caráter.

Ser ético envolve integridade, honestidade em qualquer situação, coragem


para assumir seus erros e decisões, tolerância, flexibilidade, humildade, posturas
e procedimentos que não causem prejuízo ao meio social em que está inserido. É
estar tranquilo com a consciência pessoal, cumprindo com os valores no espaço
em que vive, ou seja, onde mora, trabalha, estuda e convive socialmente.

A ética reflete diretamente sobre as ações, diferentemente de MORAL, que


estabelece regras para garantir a ordem social, sem levar em conta as fronteiras
geográficas. Mas é através da ética que o indivíduo é levado a refletir, questionar,
percorrer sobre todas as causas e consequências de suas ações no exercício de uma
PROFISSÃO, postura que deve ser iniciada antes mesmo da prática profissional,
a que está se propondo a exercer.

Ser ético, ter postura ética, é fazer algo que te beneficie e, no mínimo, não
prejudique o “outro”, ou o meio social em que convive.

FONTE: SOARES, A. Augusta. Ética no cotidiano. Disponível em: <http://www.revistafatosregionais.


com.br/conteudo/edicao-002/etica-no-cotidiano.html>. Acesso em: 25 fev. 2009.

72
TÓPICO 1 | OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR 2

ÉTICA E PROFISSIONALISMO

Maria Elizabete Silva D`Elia

Ética e profissionalismo deveriam andar de mãos dadas, principalmente,


num mundo em que qualidade é sobrevivência.

Deveria ser algo implícito, explícito e matéria obrigatória do Ensino


Fundamental ao Superior.

Mesmo que haja, atualmente, um movimento de resgate da ética e discussão


sobre a sua importância em todos os segmentos da sociedade, a distância entre o
discurso e a prática é ainda muito grande.

Como profissionais de desenvolvimento humano, um dos nossos


compromissos é trazer sempre à tona a Ética, mostrando-a de forma simples,
didática, como prática diária em nossa casa, escritório, grupo, comunidade e a
sociedade como um todo.

A Ética permeia todas as relações e colabora decisivamente para o bem-


estar individual, coletivo e também atua diretamente na “ecologia” do ambiente
e do universo.

Empresas e profissionais vencedores têm expresso em sua missão e


“tatuado” nas atitudes o valor da ética, como característica primordial para o
sucesso e felicidade.

Por ser a Ética um assunto complexo, amplo e de entendimento subjetivo,


uma grande maioria associa seu entendimento e prática como algo distante,
filosófico, de responsabilidade do governo, da Sociedade, isentando-se de trazê-la
para o seu cotidiano e para o âmbito da sua responsabilidade, enquanto cidadão.

Quando deixamos à Ética num plano muito filosófico, abrimos mão do


nosso poder de praticá-la e passamos a colocar “a culpa” da falta de ética no país,
nos governantes, nas leis, ou seja, sempre no “outro”.

O grande desafio é colocar a Ética como parte do nosso “ritual de


qualidade diária”. Quando nos cuidamos, nos respeitamos, respeitamos o outro,
o meio ambiente, estamos praticando a Ética.

O Conceito que está na nossa esfera de atuação e que pode ser exercitado
24 horas por dia é entender Ética como “o bem comum”.

73
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Quando queremos saber se algo ou alguma atitude é ética, basta que


questionemos se ela atende ao bem comum. Se a resposta for SIM, a ética está
presente.

Esclarecendo o sentido de Bem comum para situações do dia a dia:

● É bom para a empresa e para o cliente?

● É bom para o profissional e para a empresa?

● É bom para a empresa, para os profissionais, para os clientes, para a sociedade,


para o meio ambiente?

Se só um dos lados for beneficiado, não houve ética.

Logo, entende-se que o bem comum passa pela negociação ganha-ganha,


pelo diálogo, pela transparência.

E esses quesitos fazem parte hoje do que se exige de um profissional.

Dentro do nosso cotidiano, há zonas claras de entendimento coletivo,


sobre situações que são entendidas como falta de ética. Exemplos:

● Falar mal da empresa e/ou de alguém da empresa para o cliente.

● Reclamar de salário ou de condições de trabalho para o cliente.

● Fazer confidências da vida pessoal para o cliente.

● Pedir algo para o cliente (favor, presente, empréstimo etc.).

● Revelar informações confidenciais para ter favoritismo ou demonstrar poder.

● Legislar em causa própria, por ter acesso a dados de salário da empresa, por
conta da função.

- Aceitar presentes, para favorecer um fornecedor ou cliente.


- Sabotar informações, por questões pessoais.
- Prejudicar a equipe, os pares, por “fazer fofocas” pessoais e/ou
profissionais.
- Outros similares.

Há outras situações, consideradas cinzentas, que são também antiéticas,


mas que podem gerar dúvidas. Exemplos:

● Avançar o limite saudável entre relação “amistosa” com o cliente para uma
relação próxima e privada.

74
TÓPICO 1 | OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

● Não colaborar com uma ideia ou projeto, por “não gostar” do dono da ideia.

● Tratar com parcialidade pessoas da equipe ou pares, simplesmente, por ter


mais afinidade pessoal.

● Abrir mão de contribuir com a qualidade de relacionamento do seu ambiente.

● Ficar passivo e/ou concordar com críticas feitas a colegas e/ou a procedimentos
da empresa.

● Utilizar mala direta da empresa e/ou dados do negócio, para fins particulares.

● Usar para fins particulares materiais da empresa (papel, impressora, disquete


etc.).

● Usar telefone da empresa, sem reembolsar despesas, para responder recados


de celular particulares, para ligações interurbanas etc.

● Usar Internet para fins particulares, sem autorização do Coordenador/Gerente.

● Outras situações similares.

Outro direcionamento que confirma se há ou não ética é o exercício diário


da missão e valores da empresa em que atua e dos próprios valores como pessoa.

Profissionalismo é a simbiose entre competência técnica e humana.

E sem ética, é impossível ter competência humana.

Esses princípios devem estar presentes na conduta diária, junto a clientes,


equipe, coordenadores, gerentes, Diretoria, parceiros.

Ética dá lucro e faz bem a todos.

Se tivermos dúvida de alguma situação, o diálogo é sempre bem-vindo.

O Clube Rotary dá uma excelente contribuição sobre Ética nos seus


princípios. Podemos também nos inspirar nos valores que pregam, que se baseiam
em três perguntas:

É bom?
É verdade?
É justo?

A ajuda coletiva e o respeito mútuo são irmãos gêmeos da ética e, sem


dúvida, podem ser a diretriz para o bem-estar e para a ecologia do nosso planeta.

FONTE: D’ELIA, Maria Elizabete Silva. Ética e profissionalismo. Disponível em: <www.betedelia.
com.br>. Acesso em: 25 fev. 2009.

75
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

DICAS

Para um melhor aprendizado, sugerimos a leitura do seguinte artigo e do livro.


Assista, também, ao filme indicado.

● Artigo: Questão Social: Objeto do Serviço Social? De Ednéia Maria Machado. Disponível
em: <http://www.ssrevista.uel.br/c_v2n1_quest.htm>.

● Livro: COUTO, Wanderley. O ● Livro: BRITES, Cristina Maria; SALES,


que é alienação. São Paulo: Mione Apolinário. Ética e práxis
Brasiliense, 1992. profissional. 2. ed. Brasília: CFESS,
2000.

● Filme: Conduta de Risco

76
RESUMO DO TÓPICO 1
Abordamos, neste tópico, as questões fundamentais da ética, no
que tange ao exercício profissional do Assistente Social. Assim, tratamos os
seguintes assuntos:

 Hoje em dia, quando tratamos das questões éticas e morais, estamos falando
que o comportamento social dos homens vem atravessando todos os espaços
da vida social do mesmo, ao longo de sua história.

 Verificamosque o principal problema da ética é a definição do que é certo ou


errado, bom ou mau, e que todos os homens desejam fazer o bem e a justiça.

 Compreendemos que “fazer o bem” pode ser considerado uma virtude social.

 Todos os nossos atos, que permeiam nosso comportamento social, são frutos
diretos e indiretos de uma consciência social e, esta, por sua vez, constituída
sobre os valores, princípios e hábitos morais do povo que a compõe.

 Não existe um bem ou mal absoluto, pois as diversas subjetividades humanas


apresentam inúmeras diferenças, ou seja, a subjetividade é relativa de acordo
com a visão de mundo e sociedade de cada ser humano.

 Compreendemos que a ética avalia as diversas escolhas conscientes dos homens


e trabalha com as consequências subjetivas de cada ser humano em sociedade.

 Estas escolhas e suas consequências podem ser consideradas objeto da prática


profissional do Assistente Social.

 Observamos que a ética profissional do Assistente Social está recheada de


conflitos e contradições sociais que se remodelam ao passar dos tempos.

 A ética está baseada nos relacionamentos, comportamentos e práticas sociais


tanto dos homens como das mulheres em seu convívio cotidiano, no qual
forma uma consciência moral global.

 Observamos que a constituição de um homem, enquanto indivíduo, só pode ser


feita por meio de suas relações com os outros em sociedade. E é nesta interação
social que o indivíduo forma sua consciência moral, além de constituir seus
anseios, desejos e sonhos.

77
 A ética proporciona maior visibilidade no esclarecimento da direção social e,
em consequência, da qualificação da prática profissional de uma determinada
sociedade, ou seja, por meio da ética, existe todo um posicionamento social
que forma e determina seus valores, hábitos e princípios e estes, por sua vez,
compõem as normas e diretrizes profissionais do homem.

 É a partir da totalidade que podemos entender as particularidades subjetivas


de cada ser humano, pois é a sociedade como um todo que forma e constitui
todos os nossos princípios e valores ético-morais.

 O objeto da prática profissional se dá no dia a dia de nossa sociedade, ou


seja, são nos diversos modos comportamentais dos homens, que se formam
as questões sociais e estas, por sua vez, são o objeto da práxis profissional do
Assistente Social.

 A questão social forma-se na relação direta do trabalho versus capital.

 A vida cotidiana dos seres humanos denota certa alienação dos mesmos ao
sistema societal que estão inseridos, pois, muitas vezes, os seres humanos não
se dão conta que são eles que produzem as riquezas de sua sociedade, por meio
de suas atividades laborativas.

 Verificamos que o trabalho profissional do Assistente Social se dá sobre as


questões sociais advindas do convívio em sociedade. Contudo, as nossas
atividades cotidianas se transformam na práxis profissional só quando nós
tomamos consciência deste fato.

78
AUTOATIVIDADE

Em equipe, de no máximo quatro acadêmicos, liste todas as questões sociais


que conseguirem identificar. Em seguida, realizem um debate, no grande
grupo, sobre esse tema.

79
80
UNIDADE 2 TÓPICO 2

O ESPAÇO DA ÉTICA NA RELAÇÃO INDIVÍDUO E


SOCIEDADE

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, trabalhar-se-á como se processa o espaço da ética na relação
indivíduo versus sociedade, no qual perpassaremos por alguns aspectos históricos
da construção ética-moral da sociedade. Assim, segundo Barroco (2008b, p. 19):

[...] é nesse processo histórico que são tecidas as possibilidades de


o homem se comportar como um ser ético: enquanto o animal se
relaciona com a natureza a partir do instinto, o ser social passa a
construir mediações – cada vez mais articuladas –, ampliando seu
domínio sobre a natureza e sobre si mesmo. Desse modo, sem deixar
de se relacionar com a natureza – pois precisa dela para se manter vivo
–, vai moldando sua natureza social.

Demonstrando, ainda, a inter-relação natural do comportamento moral


entre os homens, principalmente na questão da construção subjetiva do homem,
ou seja, o homem como tal, ser individual.

2 AS BASES HISTÓRICAS DA SOCIEDADE NA CONSTRUÇÃO


DA ÉTICA
Pelo comportamento humano e, principalmente, por meio de seu modo
de ser, hábitos e costumes é que determinamos e consolidamos nossa moral e, por
conseguinte, a ética. A sua constituição advém historicamente das relações do dia a
dia de cada ser humano que vive em sociedade.

Complementando, Barroco (2008b, p. 20) escreve que:

A história não é uma abstração dotada de uma existência independente


dos homens. Os homens reais – entre suas relações entre si e com a
natureza – são os portadores da objetividade sócio-histórica. E nesse
sentido pode-se dizer que o ser social fundamenta-se em categorias
ontológico-sociais, pois os modos de ser que o caracterizam são
construções sócio-históricas que se interdeterminam de forma
complexa e contraditória, em seu processo de constituição.

81
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Então, podemos compreender que o homem social nasce da natureza e


de sua inter-relação com os outros de sua espécie, em que suas habilidades e
aptidões são desenvolvidas por ele no decorrer de seu processo de humanização,
ou seja, é o próprio homem o autor e produto da sua construção.

FIGURA 7 – FRASE REFLEXIVA

FONTE: A autora

Nesta perspectiva, podemos citar que o homem desenvolve suas


capacidades de forma consciente e livre. E, por meio do trabalho, ele é capaz de
transformar a natureza, em consequência ao seu meio e a si próprio, mantendo
sua própria vida em sociedade. Então, podemos dizer que “[...] o trabalho é, antes
de tudo, em termos genéricos, o ponto de partida da humanização do homem, do
refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio
sobre si mesmo” (LUKÁCS apud BARROCO, 2008b, p. 21).

Portanto, a sociabilidade humana pode ser compreendida como o berço


da constituição do homem social ou ser social, pois é por meio de nossas atividades
humanas que nos constituímos como homens e, assim, nos perpetuamos
historicamente.

De acordo com Barroco (2008b, p. 22) “constituir-se cada vez mais


socialmente quer dizer dominar a natureza, criar novas alternativas, dar respostas
sociais, e daí decorre a transformação de todos os sentidos humanos.” Isto só
pode ser viável, se o homem tiver consciência de seus atos e de sua própria
transformação social.

Contudo, qual o papel da consciência humana na prática profissional


dos mesmos?

Antes de tudo, precisamos compreender o significado da consciência


humana. Portanto, segundo Cavalcanti (2007, p. 2) para Susan Greenfield,
pesquisadora da Universidade de Oxford:

82
TÓPICO 2 | O ESPAÇO DA ÉTICA NA RELAÇÃO INDIVÍDUO E SOCIEDADE

A consciência não é um lampejo, mas um contínuo de conexões dos


seus [...] [...] neurônios, que vão ocorrendo do momento em que você
nasce até o fim da experiência, seu cérebro faz uma representação
mental que é armazenada da sua vida. A cada nova em sua memória.
Ao comer uma comida diferente, por exemplo, surgiria uma mudança
nas conexões do seu cérebro. Quanto mais o mundo passa a ter
significado para você, mais conexões são feitas em seu cérebro.

Ou seja, é por meio da constituição de consciência que analisamos,


calculamos e aspiramos ideias, realizando um processo de escolha do que pode ou
não ser feito, do que é bom ou não para nós e para os outros. Então, se partirmos
do princípio de que a nossa constituição ético-moral advém do trabalho, podemos
assim dizer que a nossa prática profissional só se processa quando a realizamos
de forma consciente em prol da realização do bem.

Portanto, por meio da transformação consciente da natureza, o homem cria


sempre novas alternativas de valorações em seu processo de escolha e tomada de
decisões, pois as realizam conscientemente, por meio de comparações do certo e
errado, do fazer o bem ou o mal.

Assim, Barroco (2008b, p. 25-26) expõe que:

[...] quando os homens transformam um dado elemento da natureza,


por exemplo, um pedaço de madeira criando fogo ou um instrumento
de trabalho, passa a instituir alternativas antes inexistentes. Os
instrumentos de trabalho não modificam apenas a atividade humana;
transformam toda a vida dos homens, instituindo novas possibilidades.
No caso do fogo, alteram-se todos os sentidos – pois com o alimento
cozido, por exemplo, o paladar, o tato, o olfato etc. são modificados;
atendem-se a necessidades, pois é possível aquecer-se com o fogo;
criam-se hábitos culturais, desencadeando novos sentimentos e
comportamentos; a natureza já não se apresenta como um mistério; o
homem se vê como sujeito de sua transformação.

Acarretando, assim, para o homem, a possibilidade de realizar suas


escolhas de forma livre e consciente. E estas escolhas podem ser consideradas a
constituição da liberdade humana.

Para Lukács (apud BARROCO 2008b, p. 26):

A liberdade, bem como sua possibilidade, não é algo dado por


natureza, não é um dom do “alto” e nem sequer uma parte integrante
– de origem misteriosa – do ser humano. É o produto da própria
atividade humana, que decerto sempre atinge concretamente
alguma coisa diferente daquilo que se propusera, mas que nas suas
consequências dilata – objetivamente e de modo contínuo – o espaço
no qual a liberdade se torna possível.

Finalizando, podemos observar que a liberdade de escolha dos homens


proporciona autonomia. E esta autonomia denota que o ser humano é um ser
livre, tendo plena consciência em suas escolhas. Portanto, por meio do trabalho,
o ser humano se constitui um homem consciente e livre.

83
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR 1

“DECIFRA-ME OU TE DEVORO”: O ENIGMA DA ESFINGE

Maria Lúcia Silva Barroco

Na tragédia grega clássica Édipo Rei, escrita por Sófocles, Édipo se


encaminha para Tebas, quando uma esfinge, monstro que devora a todos que
não conseguem decifrar seus enigmas, profere-lhe um enigma. De sua resposta
depende a vida da cidade e também o seu destino [...].

Antes de se deparar com a esfinge, Édipo já consultara o oráculo, forma


de comunicação com os deuses através de uma consulta que também deve ser
decifrada. No caso de Édipo, o oráculo já dissera a seu pai, Laio, que seu filho
o mataria e se casaria com a própria mãe, ou seja, com a mulher de Laio. Para
evitar este destino trágico, Laio abandonara Édipo nas montanhas, com os pés
atravessados por um ferro e ligados por uma tira de couro (daí seu nome Édipo,
que significa “pés inchados”).

Adotado por Pólipo, Édipo, já adulto, resolve consultar o oráculo sobre sua
origem. O oráculo repete a previsão anterior: Édipo mataria o pai e se casaria com
a mãe. Édipo foge de Pólipo para que não se cumprisse o destino. No caminho
para Tebas, encontra Laio e, numa briga, mata o rei e sua comitiva. Em seguida,
encontra a esfinge, que lhe propõe o enigma que nenhum homem conseguira
responder até então: “Qual é o ser que anda de manhã com quatro patas, no meio
do dia com duas e à noite com três e que, contrariamente à lei mais geral, é mais
fraco quando tem mais pernas?”. Édipo responde: “É o homem que engatinha
quando criança, quando adulto usa suas duas pernas e quando velho usa uma
bengala”. Diante disso, a esfinge morre e os tebanos reconhecem Édipo como rei,
oferecendo-lhe a viúva de Laio como esposa.

Passados muitos anos, uma peste assola a cidade e o oráculo novamente


é consultado. Quando Édipo indaga sobre as causas da peste, obtém a resposta
de que a morte de Laio não fora vingada e que o responsável era ele, Édipo. Ao
descobrir que matara o próprio pai e que Jocasta, sua mulher, é sua mãe, Édipo
arranca os olhos com uma joia de Jocasta, que se enforca. Então sai, cego, errante
pelo mundo, acompanhado por uma de suas filhas, Antígona.

Assim, Édipo não teve êxito em suas sucessivas tentativas de fugir do seu
destino. Determinado pelos deuses, o destino não pode ser transformado pelos
homens, como bem mostra Sófocles. Porém, é parte da natureza humana, dizem
também os mitos, questionar o poder dos deuses; por isso, mesmo que a palavra
divina seja revelada através do oráculo, os humanos sempre buscam um desvio
desse caminho “predestinado”.

Mais adiante, veremos como tudo isso tem a ver com a concepção ética
dos gregos, herança fundamental da civilização ocidental.

84
TÓPICO 2 | O ESPAÇO DA ÉTICA NA RELAÇÃO INDIVÍDUO E SOCIEDADE

E você, acredita em destino?

FONTE: BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética: fundamentos sócio-históricos. 6. ed. São Paulo:
Cortez, 2008. p. 47-48.

Agora, prezado(a) acadêmico(a), vamos verificar no texto a seguir a questão


da discussão em torno de uma ética universal para toda a sociedade contemporânea.

Então leia com atenção esta leitura complementar 2, pois ela propiciará
um panorama geral desta ética universal.

LEITURA COMPLEMENTAR 2

ÉTICA E SOCIEDADE: EM BUSCA DE UMA ÉTICA UNIVERSAL

José Carlos S. de Mesquita

ÉTICA: Do grego, ETHOS. Significa costumes, extrai-se Ética. Do latim,


MORES. Donde moral. Ciência da moral. "Estudo dos juízos de apreciação referente
à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja
relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto."¹. "Em outras palavras,
ética e moral referem-se ao conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade."²

INTRODUÇÃO

A Ética moral, enquanto ciência que estuda as virtudes da humanidade, vem


sendo especulada desde os tempos antigos até os nossos dias, pelos mais ilustres
filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Rousseau, Kant, Hegel, Kierkegaard
e outros. Contudo, sabemos que o primeiro código ético, enquanto regras a serem
cumpridas, data, segundo a Bíblia, dos tempos do antigo testamento com os Dez
Mandamentos, mas mesmo assim já havia quem os transgredia. Ainda dentro
de uma visão bíblica, entende-se que o descumprimento das leis divinas, tem
origem desde a criação da terra com Adão e Eva. Há quem fale que o contraste de
moralidade hoje, reflete o pecado cometido no início dos tempos.

Numa abordagem mais filosófica, comentaremos sobre o ético na


concepção de alguns filósofos, fazendo entre eles uma relação de modo a deixar
claras as divergências e convergências de pensamentos no que tange as suas
concepções de Ética. Abordaremos também, a partir de um prisma mais social, as
desigualdades de pensamento que legitimam a relativização do comportamento
ético, desde as sociedades gregas, fazendo uma reflexão histórica nas épocas que
mais transpareceu o amoral. Ainda numa visão sociológica, analisaremos alguns
fatores que fortalecem o descaso da virtude moral com as sociedades de hoje.
Entraremos no Brasil de 64 relembrando a mobilização e o sofrimento dos contras-

1. HOLANDA, Aurélio B. de. Novo dicionário da língua portuguesa.


2 . CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, p. 340.

85
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

ditadura por uma realidade social igualitária e chegaremos até o Brasil dos anos
90 abordando verdadeiros exemplos de cidadania expressa na mobilização da
sociedade por uma política Ética.

A ÉTICA E SOCIEDADE: Em busca de uma Ética universal

A ÉTICA como "[...] reflexão científica, filosófica e até teológica [...]"³ , vem
sendo estudada desde a antiguidade pelos mais renomados filósofos. Sócrates,
consagrado "fundador da moral"4, destacou-se nesta área da filosofia por buscar
em suas indagações, a convicção pessoal dos transeuntes para obter uma melhor
compreensão da justiça. Sócrates acreditava nas leis, mas como pensador capaz de
pôr em prova o próprio subjetivo, às questionava, gerando um descontentamento
aos conservadores gregos da época. A condenação de Sócrates a beber veneno
ainda é um questionamento, cuja resposta possa estar nas entrelinhas dos
argumentos conservadores do poder: "[...] as leis existiam para serem obedecidas
e não para serem justificadas."5

Já Platão (427-347 a.C.), admirável discípulo de Sócrates, articulava em suas


inspirações teóricas a ideia de se encontrar a felicidade no centro das questões éticas.
A sabedoria para Platão, não está expressa no saber pelo saber, ou melhor, não se
identifica o sábio pela sua grandeza de conhecimentos teóricos, mas pela sua grandeza
de virtudes. O homem virtuoso tende a encontrar e contemplar o mundo ideal.

Aristóteles (384-322 a.C.), também pensador da Grécia antiga, fundamentou


maior parte de seu postulado teórico no empirismo onde, baseado no tipo de
sociedade, desenvolveu algumas obras que enfocam as questões éticas daquele
tempo: Ética a Eudemo, Ética a Nicômaco e uma Magna Moral. Aristóteles não
descarta a relação entre Ser e o Bem, porém enfatiza que não é um único bem,
mas vários bens, e que esse bem deve variar de acordo com a complexidade do
ser. Para o homem, por exemplo, há a necessidade de se ter vários bens, para que
este possa alcançar a felicidade humana. A virtude em Aristóteles está entre os
melhores dos bens.

Com o cristianismo, percebemos que se encerra o papel da filosofia


moral enquanto determinante do que é ou não ético. As ações humanas agora
se norteiam na divindade de um único Deus, e não mais no politeísmo como na
cultura grega. O ético reflete agora a consciência interior de cada um, é o que
estabelece o coração do indivíduo. Em coerência com essa visão cristã de ação
moral, Rousseau, já, por volta do século XVIII, argumenta que a moralidade é
obra divina. O agir naturalmente dentro dos mais puros princípios éticos, reflete
a existência de Deus em nossos corações. Em Rousseau, ao obedecermos ao dever
externo, estamos obedecendo aos nossos corações. Para ele, os homens nascem
puros e bons, a sociedade é quem os corrompe.

"[...] se o dever parece ser uma imposição e uma obrigação externa, imposta

3. Álvaro L. M. VALLS, O que é Ética, p. 7.


4. Id. Ibid., p. 17.
5. Idem.

86
TÓPICO 2 | O ESPAÇO DA ÉTICA NA RELAÇÃO INDIVÍDUO E SOCIEDADE

por Deus aos humanos, é porque nossa bondade foi pervertida pela sociedade
quando criou a propriedade privada e os interesses privados [...]".6

Em oposição a essa concepção, encontramos Kant no final do séc. XVIII.


Kant se contrapõe a Rousseau por negar a existência da "bondade natural"7. Nos
corações dos homens só existem sentimentos negativos e para conseguirmos
superar todos esses males, devemos almejar uma Ética racional e universal
identificada no dever moral.

Ao contrário de Rousseau e Kant, vamos encontrar Hegel, que encara


a questão Ética de outro prisma. Opondo-se ao argumento do coração como
determinante da vontade individual de Rousseau, e a da moral racional de Kant,
Hegel diz que somos seres indissociáveis.

O ser humano é histórico e vive o coletivo em todas as suas ações, associado


aos seus costumes e as suas manifestações culturais. É por esse ângulo que Hegel
argumenta sobre a vontade coletiva que guia nossas ações e comportamentos. A
família, o trabalho, a escola, as artes, a religião etc. norteiam nossos atos morais e
determinam o cumprimento do dever. É também por essa linha de pensamento
que tentaremos direcionar nosso raciocínio enfocando as relações éticas no contexto
político-social, expondo a relativização do comportamento ético nos últimos tempos.

A Ética, como conjunto de normas e valores que regem uma sociedade


deve necessariamente refletir a consciência e as ações desse povo, assim como
trazer consigo o tipo de organização que alimenta essa sociedade. Acreditamos
na universalidade do comportamento e das ações éticas, assim como na sua
transformação relativa às transformações das sociedades que as impera, mas
se voltarmos às sociedades da Grécia antiga e fizermos o percurso histórico até
os nossos dias, vamos encontrar diversidade de virtudes e comportamentos,
ao ponto de colocarmos em cheque essa virtude que tanto sonhamos para
todos. Se analisarmos a educação espartana e a ateniense, ambas vividas numa
mesma época, e entrarmos no feudalismo e verificar o contraste entre os servos
e os senhores feudais, os dogmas da Igreja enquanto posicionamento do clero
como meio de conservar seu poder em detrimento à vida dos que questionavam
tais dogmas, continuar caminhando até o séc. XVIII e nos depararmos com as
injustiças sociais nas quais a miserável classe proletariada subordinava-se em
plena revolução industrial, trabalhando 14 a 15 horas por dia, sem restrição de cor,
raça, sexo e idade, com alguns ficando até neuróticos em decorrência do volume
de trabalho que havia, e tudo para beneficiar um pequeno grupo de capitalistas
que emergia em detrimento à vida dos necessitados. Nesse caso, seria essa a Ética
do capitalismo? E no caso do clero, a Ética da Igreja? Sim, certamente, mas é
importante também refletirmos sobre o lado moral e o princípio Ético universal
idealizado por Kant. Os costumes e as regras morais impostas pelo clero na idade
média e pelos capitalistas no sec. XVIII, não refletiam com certeza, a consciência
da maioria da população, de suas respectivas épocas, nem tão pouco, o dever
moral dos submissos não atendia e nem atende aos interesses dos dominadores.

6. CHAUÍ, Marilena, Convite à filosofia, p. 344.


7. Idem.

87
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Hoje, à beira do século XXI, ainda nos deparamos com situações que fogem
aos anseios de uma Ética universal, onde pessoas injustiçadas perdem a vida,
morrem de fome, passam as piores necessidades e situações de constrangimento
por serem negras ou pobres. Instituições como a família, Igreja e organizações
culturais ainda cultivam no seio de suas atividades valores representativos de uma
Ética padrão e de valores condizentes com a noção humanitária de vida, porém por
outro lado, sentimos na pele ações de uma minoria que infringe as normas legais
e ultrapassam as barreiras do Ético na ânsia de adquirir ou conservar seu poder.
Em apoio e como cúmplice deste processo de decadência moral, encontramos os
meios de comunicação de massa. Com enorme força de poder de conscientização,
eles funcionam de maneira a levar aos lares da sociedade, as situações mais
ilusórias e pervertidas do social, fazendo com que seu público caia no abismo
do amoral. Lamentavelmente, a televisão como meio de comunicação que atinge
em maior proporção a população em todas as camadas, desponta na frente como
meio que mais distorce a realidade e infiltra na população a ideologia dominante,
quando ao invés disso, poderia utilizar tal poder no sentido de esclarecer, educar
e conscientizar a população, almejando uma sociedade igualitária onde o branco,
o negro, o rico e o pobre tenham direitos iguais.

Particularmente, o Brasil dos últimos 50 anos enfrentou algumas altas e


baixas no que tange à liberdade de vida de maneira digna. A que mais repercutiu
foi o golpe de 64 que originou o despertar da comunidade estudantil e da
sociedade em geral para questões primárias como liberdade e democracia. A
repressão originada pelo golpe sacrificou toda uma geração com todos os meios
possíveis de tortura e constrangimento. Uns mortos, outros torturados e outros
para não serem mortos ou presos passaram a viver no exílio, mesmo assim não
escapavam das perseguições. Os quase 10 mil brasileiros que viviam no exterior,
principalmente na América latina, não se intimidaram com essas repressões,
mesmo exilados em países diferentes, formaram uma corrente contraditadura não
deixando o espírito do patriotismo morrer. Pessoas como Paulo Freire, Gilberto
Gil, Herbert de Souza e outros, trouxeram do exílio verdadeiras lições de vida e
conhecimentos, contribuindo com a educação, cultura e dando sua participação
de solidariedade humana. Está expresso aí nas ações dessa gente o verdadeiro
significado de comprometimento moral com a sociedade.

Hoje, final da década de 90, sentimos que alcançamos algumas melhorias


na sociedade, principalmente no que tange à conscientização de uns poucos para
as questões morais que norteiam a sensibilidade do homem às situações críticas
e polêmicas da sociedade. Projetos como a “Ação da cidadania contra a miséria
e pela vida” e a própria tentativa de dar um basta na corrupção política do país,
resgatou a confiança do povo para um Brasil melhor onde habita o dever do valor
moral e de uma postura socialmente Ética

Com certeza, disparidades sociais são vividas em todo o mundo. A


existência de dominantes e dominados parece ser o requisito principal para se
viver em sociedade. Mas estamos caminhando para essa superação, e certamente,
a educação é a melhor maneira de montarmos a nossa estratégia no sentido de
alcançarmos uma padronização nas ações e comportamentos dos homens.

88
TÓPICO 2 | O ESPAÇO DA ÉTICA NA RELAÇÃO INDIVÍDUO E SOCIEDADE

O ideal seria alcançarmos o idealismo kantiano, de uma Ética universal onde


todos sejam norteados pelos mesmos princípios e eticamente puros. Entendemos que
isso há de ser conseguido aos poucos dentro de um processo educativo e cauteloso.
A nosso ver, é somente através da educação, que conseguiremos concretizar o
nosso projeto de "homenização" e de adquirirmos essa conscientização política.

BIBLIOGRAFIA

VALLS, Álvaro L. M. O que é Ética, Coleção primeiros passos, 3. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1989.
SOUZA, Herbert de & RODRIGUES, Carla. Ética e cidadania. Coleção polêmica,
4. ed. Moderna, 1994.
RIOS, Terezinha Azevedo. Ética e competência. Coleção questões da nossa época.
V.16. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia in filosofia moral. São Paulo: Ática, 1994.

FONTE: MESQUITA, José Carlos S. de. Ética e sociedade: em busca de uma ética universal.
Disponível em: <http://www.doutrina.linear.nom.br/cientifico/Filosofia/%C9TICA%20E%20
SOCIEDADE.htm>.

DICAS

Para compreendermos melhor o que acabamos de estudar, sugerimos que você


realize a seguinte leitura e assista ao filme indicado:

● BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética: ● A PROCURA DA FELICIDADE.


fundamentos sócio-históricos. 6. ed. Gênero: Drama.
v.4 São Paulo: Cortez, 2008. Tempo de Duração: 117 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 2006.
Site Oficial: <www. aprocurada
felicidade.com.br>.
Direção: Gabriele Muccino.
Elenco: Will Smith (Chris Gardner),
Jaden Smith (Christopher), entre
outros.

89
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, trabalhou-se como se processa o espaço da ética na
relação indivíduo versus sociedade, abordando alguns aspectos históricos da
construção ético-moral dos homens em sociedade. Demonstrando que:

 É pelo comportamento humano e, principalmente, por meio de seu modo de


ser, hábitos e costumes que determinamos e consolidamos nossa moral e, por
conseguinte, a ética.

 Esta constituição advém da história de cada ser humano que vive em sociedade.

 O homem social nasce da natureza e de sua inter-relação com os outros de sua


espécie, em que suas habilidades e aptidões são desenvolvidas no decorrer de
seu processo de humanização.

 É o próprio homem o “autor e produto” de sua construção.

 O homem desenvolve suas capacidades de forma consciente e livre.

 Por meio do trabalho, o homem é capaz de transformar a natureza, o seu meio


e a si próprio, mantendo sua própria vida em sociedade.

 A sociabilidade humana pode ser compreendida como o berço da constituição


do homem social ou ser social.

 Épor meio de nossas atividades humanas que nos constituímos como homens,
perpetuando-nos historicamente.

 É por meio da constituição de consciência que analisamos, calculamos e


aspiramos ideias, realizando um processo de escolha do que pode ou não ser
feito, do que é bom ou não para nós e para os outros.

 O homem tem a possibilidade de realizar suas escolhas de forma livre e


consciente. E estas escolhas podem ser consideradas a constituição da liberdade
humana.

 A liberdade de escolha dos homens proporciona autonomia.

 A autonomia dos homens denota que o ser humano é um ser livre e tem o
poder de escolha.

 As escolhas humanas devem ser sempre conscientes.

 É por meio do trabalho que o ser humano se constitui um homem consciente e


livre.
90
AUTOATIVIDADE

 Baseado(a) na afirmação que “O homem é que escreve sua própria história”,


responda:

a) O que você compreende por SOCIABILIDADE HUMANA?


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

b) O que você compreende por liberdade incondicional e livre-arbítrio?


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

c) A partir do conceito de liberdade, interprete o ditado: “Se eu não for por


mim mesmo, quem será por mim? Se eu for apenas por mim, que serei eu?
Se não agora – quando?”
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

d) Qual o papel da CONSCIÊNCIA HUMANA na prática profissional dos


homens? Justifique.
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

91
92
UNIDADE 2 TÓPICO 3

A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, prezado(a) acadêmico(a), iremos desvendar as questões do
mundo do trabalho, e como o homem, enquanto um ser social se comporta e se
desenvolve como ser social por intermédio do trabalho, além de verificarmos como
a ética está envolvida neste processo.

O processo de trabalho é atividade dirigida com o fim de criar valores


de uso, de apropriar os elementos naturais às necessidades humanas;
é condição necessária do intercâmbio material entre o homem e a
natureza; é condição natural e eterna da vida humana, sem depender,
portanto, de qualquer forma dessa vida, sendo antes comum a todas as
suas formas sociais. (MARX, 1987, p. 27).

Verificamos que a ética e o trabalho podem ser considerados uma extensão


do exercício profissional, que denota uma ação real, concreta, transformadora
da realidade da sociedade em que estamos inseridos. A ética e o trabalho vêm
se transformando historicamente, pois nossos costumes, princípios e hábitos se
transformam no decorrer dos tempos.

Neste contexto, abordaremos vários aspectos das relações entre o trabalho,


a ética e o ser social.

2 O QUE É TRABALHO?
Pode-se compreender que é por meio do trabalho dos homens que a
sociedade se forma, se organiza tanto política, econômica e socialmente. É o
trabalho que estrutura as nossas relações sociais. O trabalho se torna fundamental
para o desenvolvimento dos princípios ético-morais de uma sociedade, pois é ele
que medeia todas as nossas relações. Em outras palavras, o trabalho é a mola
propulsora da vida em comunidade.

De acordo com Gonçalves e Wyse (1997, p. 61-62):

O trabalho pode ser visto como lugar de autorrealização do homem,


extensão de sua personalidade, espaço de criatividade, onde ele fala de
si, mostra-se diante do seu grupo social, expressa sua identidade, presta
um serviço social e contribui para o bem comum. Mas também pode
ser encarado como uma maldição, lugar de tortura, suportado pela
necessidade do salário ao final do mês.
93
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Por meio do trabalho, desenvolvemos vínculos tanto sociais como


comunitários com as outras pessoas. Estas relações sociais podem ser consideradas
a base fundamental à própria vida dos seres humanos.

Segundo Tomelin e Tomelin (2002, p. 118) “através do trabalho, o homem


se diferenciou dos outros animais, produzindo bens e transformando a natureza.
Pelo trabalho o homem fundamentou a sua vida cultural e a civilização. Para os
outros animais, o trabalho visa satisfação imediata e instintiva, sem acúmulo de
saberes”.

Complementando, Aranha e Martins (2003, p. 24) colocam-nos que:

O trabalho humano é uma ação transformadora da realidade, dirigida


por finalidades conscientes. Ao reproduzir técnicas já usadas e ao
inventar outras novas, a ação humana se torna fonte de ideias e, portanto,
experiência propriamente dita. Por isso dizemos que o animal não
trabalha – mesmo quando cria resultados materiais com essa atividade
–, pois sua ação não é deliberada, intencional. Dessa forma, o animal
não produz propriamente sua existência, apenas a conserva agindo
instintivamente ou, quando se trata de animal de maior complexidade
orgânica, resolvendo problemas por meio da inteligência concreta. [...]
Esses atos visam a defesa, a procura de alimentos e de abrigo. Assim,
não devemos pensar que o castor, ao construir o dique, e o João-de-
barro, a sua casinha, estejam “trabalhando”.

Portanto, pode-se observar que quando o homem transforma a natureza


por meio do trabalho, ele próprio está se transformando.

E
IMPORTANT

Lembra da história do LOLO BARNABÉ, de Eva Furnari, que você leu na Unidade
1 deste Caderno? O mesmo demonstra claramente esta transformação da natureza. Então,
aproveite para rever a história. (FURNARI, Eva. Lolo Barnabé. São Paulo: Moderna, 2000).

3 A ÉTICA DO TRABALHO
Com a evolução humana e, em consequência, com a evolução da própria
sociedade, observamos que, por intermédio do trabalho, começou a surgir uma
nova concepção de classe social, denominada burguesia, a qual desenvolve novos
hábitos, princípios e valores morais perante a sociedade, mediando, diretamente,
as relações sociais entre todos os seres humanos.

94
TÓPICO 3 | A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA

Estes novos interesses, que dependem diretamente do trabalho e do


desenvolvimento de uma produção que garanta a expansão do comércio,
na produção incondicional de novas riquezas, acabaram exigindo, dos seres
humanos, uma dedicação exclusiva ao trabalho, no intuito de angariar maior
produtividade e prosperidade dos detentores do capital. De acordo com Gonçalves
e Wyse (1997, p. 23), “a nova classe em ascensão tem como característica as
virtudes de laboriosidade, honradez, puritanismo, amor à pátria e à liberdade,
em contraposição aos vícios da aristocracia – desprezo ao trabalho, ociosidade,
libertinagem”.

Portanto, o trabalho, hoje, se tornou um fato social que determina a própria


existência do homem em sociedade, legitimando-o como um ser humano.

Segundo Gonçalves e Wyse (1997, p. 23-24):

Antes, o trabalho sempre foi visto de forma negativa. Na sua origem, a


palavra trabalho vem do Latim tripalium, que significa um instrumento
de tortura. Mesmo na Bíblia o trabalho é proposto como castigo pela
culpa de Adão e Eva (nos termos bíblicos, o homem é condenado a
trabalhar e a ganhar o pão com o suor do seu rosto, ficando a mulher
condenada ao trabalho de parto). Na Grécia Antiga e na Idade Média,
[o trabalho] é desvalorizado por estar reservado aos escravos e aos
servos. A sociedade moderna declara o trabalho uma expressão de
liberdade, uma vez que, por meio dele (seja pela força física, pela
ciência, pelas artes) o homem modifica a natureza, inventa a técnica,
cria nova realidade, enfim, altera o curso das coisas, alterando a si
próprio e a sociedade onde ele vive.

Outro fator relevante nesta discussão é a questão de que, por meio do


trabalho, os homens constituem seus laços sociais, pois começam a pertencer a
um determinado grupo social, acontecendo de acordo com o poder aquisitivo,
status que o trabalhador obtém por meio de seu trabalho, ou seja, conforme o
seu salário e sua formação do capital, este trabalhador estabelece determinados
vínculos sociais, que determinam a que classe social eles pertencem.

Por meio do comportamento humano nas relações de trabalho, e seu papel


em sociedade, desenvolve-se a ética do trabalho.

E
IMPORTANT

A ÉTICA DO TRABALHO consiste em entender essa atividade – o trabalho – como


fator fundamental à construção da identidade e da realização pessoal e ao estabelecimento
de uma ordem social, onde prevaleçam relações fundadas na dignidade, na liberdade e na
igualdade entre os homens. (GONÇALVES; WYSE, 1997, p. 24).

95
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Verificamos que o trabalho denota alguns valores morais que são


constituídos pela própria sociedade (capitalista) em que estamos inseridos, tais
como: disciplina, obediência, atenção e segurança pessoal.

Porém, como fica a questão da liberdade, igualdade e autonomia do


trabalhador?

Observamos que, na modernidade, a questão da autonomia, liberdade


e igualdade entre os seres humanos são tidas como uma condição da própria
natureza humana. E que este valor é considerado como um fator necessário para
o desenvolvimento da ética do trabalho.

Entretanto, será que, por natureza, os homens são realmente iguais entre
si?

Historicamente, podemos observar que todos os homens apresentam


muitas diferenças, pois cada um possui um modo de vida, uma etnia e visão
de mundo diferentes, como: opção sexual, etnia, religião, força física, sonhos,
desejos, objetivos de vida, entre muitas outras diferenças, que são resguardadas
como direito de igualdade em nossa sociedade. É só observar o que prediz a nossa
Constituição Federal.

NOTA

Caro(a) acadêmico(a), para compreender melhor esta questão, sugerimos a


releitura dos artigos 1º, 3º e 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada
em 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.
htm>.

Segundo Gonçalves e Wyse (1997, p. 25-26), “na defesa desses interesses,


o homem moderno lança Mão de uma teoria – a teoria liberal – que utiliza os
conceitos de igualdade e de liberdade natural para justificar sua prática social,
sua ordem econômica e inclusive, a forma de organização do estado moderno”.

Finalizando, podemos entender que esta teoria liberal, por sua vez,
formula e regula suas próprias leis com relação à economia de uma sociedade, na
qual estas leis e normas preconizam um equilíbrio das relações de mercado, de
compra e venda.

96
TÓPICO 3 | A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA

LEITURA COMPLEMENTAR 1

TRABALHO E REALIZAÇÃO HUMANA

Silvio Gallo

Se, por um lado, o trabalho torna-se elemento de alienação do homem,


não tornando possível a ele uma participação ativa na transformação do objeto,
percebemos, por outro lado, que o trabalho pode ser motivo de realização do
ser humano. Para Marx, o homem se define pela produção. Pelo simples fato de
o homem produzir, ele se diferencia dos animais, porque a realidade humana é
explicada por fatores reais: produção em relação ao humano. Por isso, ao produzir
seus meios de vida, o homem produz indiretamente sua própria vida, material e
espiritual. Desde que há homem, há produção e desde que ele produz e transforma
a natureza, há história. Uma história real: nem essência humana indiferente à vida
social, humana e histórica e nem existência separada da essência e, sim, a essência
que só pode ser descoberta na existência social e histórica dos indivíduos.

Mas a essência do homem nunca se manifestou de fato ao longo da história,


porque sua existência sempre foi negada ante sua essência, porque o homem
encontrou-se sempre alienado ao trabalho. A essência é concebida no trabalho;
num trabalho oposto ao alienado, no trabalho criador, consciente e livre. Se o
trabalho é fonte de alienação e não de criação, o homem desumaniza-se. Marx viu
a essência do trabalho com os olhos de um artista.

O trabalho deve espelhar a atividade artística: uma expressão da


criatividade e da inteligência humanas, que possibilita a transformação da
natureza, constituindo uma fonte de prazer e alegria. No mundo atual, e da
forma como as relações de trabalho estão constituídas, são poucos os que
podem participar efetivamente da alegria do trabalho. Há um trabalho maldito,
desgastante e sofrido. E o próprio Marx denunciou isso, dizendo que não há
salário que possa pagar a degradação do corpo e da alma, o uso do ser humano
para fins lucrativos.

Para que a história não seja a da negação do homem, precisamos entender


que a relação existente entre essência e existência é uma relação dominada por
interesses que regem uma sociedade. Trata-se, portanto, dos homens e das relações
entre eles. No caso da sociedade capitalista, esses homens são os burgueses, de
um lado, e os operários, de outro. Como vimos anteriormente, o burguês é o dono
do objeto, e o operário é o dono da força de produção que vai transformar o objeto
em riquezas para a sociedade. Portanto, o homem é um ser produtor que produz
e transforma os objetos e que não participa deles, porque o produto pertence
a outro homem, dominante nas relações sociais. Mas os homens são os sujeitos
dessas relações, e estas podem ser transformadas pela própria ação humana,
de modo a possibilitar o exercício de um trabalho livre e criativo, expressão da
grandeza humana.
97
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

O trabalho é, portanto, em primeiro lugar, um processo de transformação


material entre a natureza e o homem. Num segundo momento, é o processo pelo
qual ele realiza, regula e controla sua ação física de necessidades e consumos
produtivos. E, num terceiro momento, o trabalho se encontra como um elemento
importante de realização humana, pois pela ação humana no trabalho o objeto se
transforma e o trabalhador também, pois é da sua força de produção que o objeto
ganha forma, arte e riqueza que serão marcadas e contempladas pela existência
humana através dos tempos [...].

FONTE: GALLO, Silvio (coord.) Ética e cidadania: caminhos da filosofia. Campinas: Papirus, 1999. p.
49.

LEITURA COMPLEMENTAR 2

A seguir, disponibilizamos a letra da Música Construção, do cantor e


compositor Chico Buarque de Hollanda.

Amou daquela vez como se fosse a última Tijolo com tijolo num desenho
Beijou sua mulher como se fosse a última lógico
E cada filho seu como se fosse o único Seus olhos embotados de cimento
E atravessou a rua com seu passo tímido e tráfego
Subiu a construção como se fosse máquina Sentou pra descansar como se
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas fosse um príncipe
Tijolo com tijolo num desenho mágico Comeu feijão com arroz como se
Seus olhos embotados de cimento e fosse o máximo
lágrima Bebeu e soluçou como se fosse
Sentou pra descansar como se fosse sábado máquina
Comeu feijão com arroz como se fosse um Dançou e gargalhou como se fosse
príncipe o próximo
Bebeu e soluçou como se fosse um E tropeçou no céu como se ouvisse
náufrago música
Dançou e gargalhou como se ouvisse E flutuou no ar como se fosse
música sábado

98
TÓPICO 3 | A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA

E tropeçou no céu como se fosse um E se acabou no chão feito um pacote


bêbado tímido
E flutuou no ar como se fosse um Agonizou no meio do passeio náufrago
pássaro Morreu na contramão atrapalhando o
E se acabou no chão feito um pacote público
flácido
Agonizou no meio do passeio público Amou daquela vez como se fosse
Morreu na contramão atrapalhando o máquina
tráfego Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes
Amou daquela vez como se fosse a flácidas
última Sentou pra descansar como se fosse um
Beijou sua mulher como se fosse a única pássaro
E cada filho como se fosse o pródigo E flutuou no ar como se fosse um
E atravessou a rua com seu passo príncipe
bêbado E se acabou no chão feito um pacote
Subiu a construção como se fosse sólido bêbado
Ergueu no patamar quatro paredes Morreu na contramão atrapalhando o
mágicas sábado.

FONTE: HOLLANDA, Chico Buarque de. Construção. Disponível em: <http://www.


chicobuarque.com.br/discos/mestre.asp?pg=construcao_71.htm>. Acesso em: 18 mar. 2009.

DICAS

Para melhorar o seu entendimento sobre todos os assuntos que discutimos


neste tópico, utilize as seguintes sugestões de leitura e filme:

● Artigo: A estrutura da vida inteira e os embaraços da alienação, de José César dos


Santos. Disponível em: <http://www.insite.pro.br/2005/31-A%20estrutura%20da%20vida%20
inteira%20e%20os%20embara%C3%A7os%20da%20aliena%C3%A7%C3%A3o.pdf>.

● GONÇALVES, Maria H.B; WYSE,


Nely. Ética e trabalho. Rio de Janeiro:
Ed. SENAC Nacional, 1997.

99
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

POESIA: “O operário em construção” de Vinicius


de Moraes. Disponível em: <http://letras.terra.
com.br/vinicius-de-moraes/87332/>. ou
pelo livro: MORAES, Vinicius. O operário em
construção. Don Quixote, 2001.

O DIABO VESTE PRADA


Gênero: Comédia.
Tempo de Duração: 109 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 2006.
Site Oficial: <www.devilwearspradamovie.com>.
Direção: David Frankel.
Elenco: Meryl Streep (Miranda Priestly), Anne Hathaway
(Andrea “Andy” Sachs), Emily Blunt (Emily), Stanley
Tucci (Nigel) entre outros.

TEMPOS MODERNOS (dir. Charles Chaplin).


Título Original: Modern Times.
Gênero: Comédia.
Tempo de Duração: 87 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 1936.
Estúdio: United Artists / Charles Chaplin Productions.
Distribuição: United Artists.
Direção: Charles Chaplin.
Elenco: Charles Chaplin (Trabalhador) e outros.

100
RESUMO DO TÓPICO 3
Em se tratando da relação entre trabalho, ser social e ética, demonstramos
que:

 A ética e o trabalho podem ser considerados uma extensão do exercício


profissional.

 A práxis profissional denota ser uma ação real, concreta, transformadora da


realidade da sociedade em que estamos inseridos.

 A ética e o trabalho vêm se transformando historicamente, pois nossos costumes,


princípios e hábitos se transformam no decorrer dos tempos.

 É por meio do trabalho dos homens que a nossa sociedade se forma, se organiza
tanto política, econômica e socialmente.

 É o trabalho que estrutura as nossas relações sociais.

 Otrabalho se torna fundamental para o desenvolvimento dos princípios ético-


morais de uma sociedade, pois é ele que medeia todas as nossas relações sociais.

 O trabalho é a mola propulsora da vida em sociedade.

 Por meio do trabalho, desenvolvemos vínculos tanto sociais como comunitários


com os outros homens que também vivem em sociedade.

 As relações sociais entre os homens podem ser consideradas a base fundamental


à própria vida dos seres humanos.

 Quando o homem transforma a natureza por meio do trabalho, ele próprio está
se transformando.

 Por intermédio do trabalho, começou a surgir uma nova concepção de classe


social, denominada burguesia, a qual desenvolve novos hábitos, princípios e
valores morais perante a sociedade, que medeia diretamente as relações sociais
entre todos os seres humanos.

 Os interesses burgueses dependiam diretamente do trabalho e do


desenvolvimento de uma produção que garantisse a expansão do comércio e a
produção incondicional de novas riquezas.

 O trabalho, hoje, tornou-se um fato social que determina a própria existência


do homem em sociedade e assim o legitima como um ser humano.

 Por meio do trabalho, os homens constituem seus laços sociais, pois começam a
pertencer a um determinado grupo social, isto acontece de acordo com o poder
aquisitivo, status que o trabalhador obtém por meio de seu trabalho.

101
 Por meio do comportamento humano nas relações do trabalho e seu papel em
sociedade, desenvolve-se a ética do trabalho.

 Os homens apresentam muitas diferenças entre si, pois cada um possui um


modo de vida, uma etnia e visão de mundo também diferente, como: opção
sexual, etnia, religião, força física, sonhos, desejos, objetivos de vida, entre
muitas outras diferenças.

 Estas diferenças são resguardadas como direito de igualdade em nossa


sociedade.

 Podemos entender, então, que a teoria liberal, por sua vez, formula e regula
suas próprias leis com relação à economia de uma sociedade, na qual estas
leis e normas preconizam um equilíbrio das relações de mercado, de compra e
venda.

102
AUTOATIVIDADE

1 A partir da leitura dos dois textos de apoio (Trabalho e realização humana,


de Silvio Gallo, e Construção, de Chico Buarque de Hollanda), reflita sobre
o TRABALHO ALIENADO na sociedade em que vivemos. Analise se as
questões expostas nestes dois textos estão relacionadas à nossa vida do dia
a dia em sociedade, com nossa família, nosso trabalho, nossos amigos, na
escola etc. No dia de seu encontro presencial, discuta esta questão com os
seus colegas de sala de aula.

2 Leia o texto a seguir:

As mais significantes ações que afetam o crédito de um homem devem


ser consideradas. O som de teu martelo às cinco da manhã, ou às oito da noite,
ouvido por um credor o fará conceder-te seis meses a mais de crédito; ele
procurará, porém, por seu dinheiro no dia seguinte, se te vir em uma mesa de
bilhar ou escutar tua voz, em uma taverna, quando deverias estar no trabalho;
exigi-lo-á de ti antes que possa dispor dele.

Isto mostra, além do mais, que estais consciente do que possuis; fará
com que pareças um homem tão cuidadoso quanto honesto e isto ainda
aumentará mais o teu crédito.

(Retrato da Cultura Americana, Benjamin Franklin)

Você pode perceber que o texto manifesta valores que o autor atribui
ao trabalho. Após essa constatação, responda:

a) Quais são esses valores?

b) Até que ponto esses valores são compatíveis com aqueles propostos pela
ética da modernidade (ética do trabalho)?

103
104
UNIDADE 2
TÓPICO 4

A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU


PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

1 INTRODUÇÃO
Verificamos que o homem possui uma necessidade de interagir com os
outros homens em sociedade, pois, por meio do trabalho, o homem produz e
reproduz sua vida na sociedade em que está inserida. Só assim, os seres humanos
desenvolvem sua cultura, hábitos e costumes, além de seu poder de valorar seu
próprio comportamento, decidindo o que é certo ou errado, bom ou mau nas
relações dentro da comunidade de vivência. Desta relação advém as questões
sociais, objeto da prática profissional do Assistente Social, que é regulada por
meio de seu projeto ético-político.

Portanto, prezado(a) acadêmico(a), agora estudaremos como se processam


as intervenções éticas dos profissionais do serviço social e qual é o seu objetivo de
sua práxis profissional.

2 AS INTERVENÇÕES ÉTICAS NA PRÁTICA PROFISSIONAL


DO ASSISTENTE SOCIAL
A prática profissional do Assistente Social dos últimos anos ganhou
grande relevância teórica, política e ética, após a promulgação do Código de
Ética Profissional dos Assistentes Sociais, através da Resolução CFESS nº 273,
de 13 de março de 1993 (BRASIL, 2009a). Esta resolução determina os princípios
e valores determinantes para a prática profissional do Assistente Social,
diretamente inseridos em seu projeto ético-político profissional.

TUROS
ESTUDOS FU

Você verá na próxima unidade um debate acerca do Código de Ética do


Assistente Social (Resolução CFESS nº 273, de 13 de março de 1993).

105
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

O projeto ético-político profissional do Assistente Social, de acordo


com Iamamoto (1999, p. 12) trata de um “projeto profissional indissociável da
democracia, da equidade, da liberdade, da defesa do trabalho, dos direitos sociais
e humanos, contestando discriminações de todas as ordens”.

Nesta perspectiva, a práxis profissional do Assistente Social está


permeada numa direção social, ou seja, nas questões sociais advindas das
relações comportamentais dos homens em sociedade, mais precisamente de suas
contradições.

3 O OBJETO DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE


SOCIAL
Como já observamos anteriormente, o objeto da prática profissional do
Assistente Social são as expressões das questões sociais.

Contudo, o que é uma questão social? E o que é uma expressão da


questão social?

Podemos compreender que a questão social está diretamente vinculada


aos conflitos advindos do capital versus trabalho, ou seja, são todos os problemas
sociais, políticos e econômicos que surgem das relações cotidianas do trabalho,
formando as desigualdades sociais.

De acordo com Iamamoto e Carvalho (1996, p. 77):

A questão social não é senão as expressões do processo de formação


e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário
político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por
parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da
vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual
passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e
repressão.

Teles (1996, p. 85), complementa, afirmando que:

[...] a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em


foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a
dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos
de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade
e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das
relações de poder e dominação.

Também se torna relevante pontuarmos que estas desigualdades sociais se


apresentam de forma diferente no decorrer da própria história da humanidade,
pois o modo de produção, o desenvolvimento e a dinâmica econômica, política
e social vêm se transformando conforme a própria evolução do homem em sua
convivência em sociedade.

106
TÓPICO 4 | A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Em cada momento histórico, as questões sociais vão ganhando novas formas.


Formas estas que chamamos de expressões da questão social, ou seja, a questão social
sempre foi a mesma desde os tempos mais remotos da humanidade e independem de
classe social. O que vem mudando são suas formas de apresentação, pois, de acordo
com as transformações do modo de produção, vão surgindo contradições sociais,
que se transformam nas diversas formas de expressão da questão social.

Então, as expressões da questão social se apresentam de formas diferentes


conforme a classe social em que o homem está inserido. Estas expressões se
formam diretamente nas contradições da produção e apropriação da riqueza que
foi e é gerada pela sociedade, pois nem sempre o trabalhador que produz esta
riqueza pode usufruir da mesma.

Citamos, nos quadros a seguir, as questões sociais e algumas de suas


expressões:

QUADRO 2 – QUESTÕES SOCIAIS

TRABALHO HABITAÇÃO ALIMENTO SAÚDE

SEGURANÇA EDUCAÇÃO JUSTIÇA POLÍTICA

FONTE: A autora

QUADRO 3 – EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

QUESTÃO SOCIAL EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

• a pobreza;
• o trabalho escravo;
• o trabalho infantil;
• o trabalho informal;
Trabalho
• o desemprego;
• a doença ocupacional;
• a inadimplência;
• entre outros.
• brigas conjugais;
• violência doméstica;
• delinquência juvenil;
• pedofilia;
Família
• estupro;
• divórcio;
• discórdias familiares;
• entre outros.

107
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

• favelas;
• moradores de ruas;
Habitação • movimento dos Sem-Terra (MST);
• reforma agrária;
• entre outros.

• saúde pública;
• alimento;
• fome;
• desnutrição;
• a falta de leitos em hospitais;
Saúde • drogas;
• alcoolismo;
• mortalidade infantil;
• entre outros.

• violência;
• a delinquência juvenil;
Segurança
• criminalidade;
• entre outros.

• a baixa escolarização;
Educação • analfabetismo;
• entre outros.

• a ineficiência da justiça;
Justiça • questão da igualdade de direitos e deveres;
• entre outros.

• analfabetismo político;
• política do Idoso;
Política • política da infância e juventude;
• política da assistência social;
• entre outros.

FONTE: A autora

Será que a QUESTÃO SOCIAL é realmente objeto profissional do Assistente


Social?

108
TÓPICO 4 | A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Iamamoto (1997, p. 14) define o objeto do Serviço Social nos seguintes


termos:
Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas
mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as
experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na
saúde, na assistência social pública etc. Questão social que sendo
desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam
as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre
produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência,
que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido
por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou
deles fugir, porque tecem a vida em sociedade. [...] a questão social,
cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do
Assistente Social.

De acordo com Faleiros (1997, p. 37):


[...] a expressão questão social é tomada de forma muito genérica,
embora seja usada para definir uma particularidade profissional. Se
for entendida como sendo as contradições do processo de acumulação
capitalista, seria, por sua vez, contraditório colocá-la como objeto
particular de uma profissão determinada, já que se refere a relações
impossíveis de serem tratadas profissionalmente, através de estratégias
institucionais/relacionais próprias do próprio desenvolvimento
das práticas do Serviço Social. Se forem as manifestações dessas
contradições o objeto profissional, é preciso também qualificá-las
para não colocar em pauta toda a heterogeneidade de situações que,
segundo Netto, caracteriza, justamente, o Serviço Social.

Finalizando, podemos afirmar que é imprescindível que o serviço social


intervenha também na esfera das desigualdades sociais, em suas mais diversas
expressões, pois sua atuação se dá intrinsecamente na busca constante das
transformações da sociedade, através da luta dos direitos sociais e de cidadania,
desejando o equilíbrio e a mediação dos conflitos advindos da relação do trabalho
versus capital, por meio de diversas políticas sociais do Estado.

DICAS

Como leitura complementar deste tópico, sugiro que você leia o texto intitulado
“A Construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social”, de José Paulo Netto. Você pode
encontrar este texto no seguinte site: <http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/
texto2-1.pdf>.

109
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

DICAS

Para aprofundarmos o nosso estudo sobre tudo o que vimos nesse tópico,
sugiro que você leia o seguinte texto:
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A Questão Social no Brasil. Disponível em: <http://
www.hottopos.com/vdletras3/vitoria.htm>. Acesso em: 27 mar. 2009.
E os seguintes livros:

BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética SÁ, Antônio Lopes de. Ética
e serviço social: fundamentos Profissional. 4. ed.. São Paulo: Atlas,
ontológicos. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
2008.

110
TÓPICO 4 | A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

LEITURA COMPLEMENTAR

O DEBATE SOBRE O OBJETO DO SERVIÇO SOCIAL:


REFLEXÃO SOBRE A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À
QUESTÃO SOCIAL

Andréia Cristina da Silva ALMEIDA

INTRODUÇÃO

A grande discussão que ocorre no campo da profissão do Serviço Social,


diz respeito a seus elementos constituintes, sendo o objeto, a teoria, o método e a
especificada. Vários são os autores que discutem as questões, porém cada qual com
seus argumentos e defesas.

Pensar no objeto do Serviço Social requer conhecimento e estudo e reflexões,


embasadas teoricamente na direção dos pensamentos dos estudiosos referente ao
Serviço Social. A questão social vem sendo posta como objeto do Serviço Social
desde a nova proposta do currículo profissional, marcado com vários debates,
contradições e afinidades entre aqueles que discutem o referido tema.

Aqui, neste breve estudo, trataremos sobre alguns pensamentos de autores


sobre o objeto do serviço social, levantando sobre as defesas e contradições postas
nas principais bases teóricas que o Serviço Social possui em seu acervo teórico.
Também elucidaremos a importância do método de intervenção do assistente
social sobre esse objeto, sendo este um assunto de fundamental relevância para
enriquecer a prática profissional.

Contudo, esse breve estudo, objetiva refletir sobre alguns posicionamentos


defendidos pelos estudiosos, autores e militantes que abordam a questão do
objeto do Serviço Social. É objetivo também desse artigo discutir sobre a relação
do Serviço Social com a questão social, visto que este fenômeno é colocado como
objeto de intervenção da profissão, conforme defendido na base teórica elaborada
por Marilda Vilela Iamamoto e demais autores que apoiam esse pensamento.

Diante desse objetivo, é fundamental afirmar que compreendemos o objeto


de intervenção do Serviço Social sendo este construído e reconstruído, mediante a
intencionalidade da atuação do profissional e a realidade que intervém, devendo este
ser desvelado, ou seja, eliminado as impregnações e os fetiches existentes sobre este
objeto. O objeto do Serviço Social deve ser desmistificado, através de aproximações
sucessivas, saindo do concreto aparente e indo para o concreto pensado.

Compreendemos também que, pensar nos elementos que fundamentam


o Serviço Social, requer compreender suas particularidades, uma vez que é
imprescindível o aprofundamento intelectual da base teórica referente a esses
elementos. Assim, é possível perceber uma precarização do conhecimento teórico

111
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

da profissão, no interior da categoria, ficando aparente o desconhecimento do


real espaço de intervenção, diante das contradições que operam o Serviço Social.

No circuito dinâmico, as mudanças globalizadas do mundo do trabalho,


com o impacto da reestruturação produtiva, a introdução da tecnologia e
da informatização, a consciência dos empresários referente à produção e ao
trabalho, onde objetivam cada vez mais a rentabilidade do capital. Tais provocam
significantes mudanças na prática dos profissionais, incluindo o Serviço Social
que lida diretamente na relação capital e trabalho.

Assim, pensar o objeto da profissão do serviço social requer cautela e


principalmente coerência ao mercado de trabalho que este profissional está
inserido, sem deixar para traz os princípios éticos e as lutas e defesas assumidas
deste profissional, conforme é posto na legislação que permeia a profissão: Projeto
Ético Político, Código de Ética e Lei que Regulamente a Profissão.

Por outro lado, o assistente social necessita ter uma prática sustentada por
uma teoria calcada em certeza, coerências, compromissos e princípios éticos, para
que no cotidiano a prática profissional não se torne um mero “fazer por fazer”,
distanciando assim de uma prática com compromisso ético-político-social.

I - O SERVIÇO SOCIAL E SEU OBJETO

Discutir sobre o objeto de intervenção do Serviço Social é sempre


um grande desafio, uma vez que as profissões são originadas para atender às
necessidades dos homens, diante de um contexto histórico e de uma sociedade
em constante movimento.

Esse movimento da sociedade traz novas demandas, novas necessidades


sociais e consequentemente novas exigências profissionais, além de novas
profissões, onde umas emergem e outras desaparecem, num movimento dialético.
O Serviço Social nessa lógica vem ao longo de sua história, principalmente após
o movimento de reconceituação, um lugar de destaque nas discussões, debates e
reflexões acerca da sua composição.

Tratando, mais especificamente do objeto do Serviço Social, muitas são as


divergências e debates entre os autores, uns defendem que a profissão não possui
um objeto próprio como afirma Montaño (2007, p. 136) que define da seguinte
forma: “... o Serviço Social não possui um objeto de conhecimento próprio” outros
debatem dizendo que o Serviço Social possui um objeto específico, como afirma
Iamamoto. (2000, p. 62).

O objeto de trabalho (...) é a questão social. É ela em suas múltiplas


expressões, que provoca a necessidade da ação profissional junto à criança e
ao adolescente, ao idoso, a situações de violência contra a mulher, à luta pela
terra etc. Essas expressões da questão social são a matéria-prima ou o objeto do
trabalho profissional.

112
TÓPICO 4 | A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Também, nessa direção a questão social é afirmada como posto por


Yasbeck (1999, p. 91) “é a matéria-prima e a justificativa da constituição do espaço
do Serviço Social na divisão sociotécnica do trabalho e na construção/atribuição
da identidade da profissão”.

Também essa defesa é apresentada por Guerra (2000) que destaca que o
aparecimento do Serviço Social como profissão surge com o agravamento das
expressões da questão social. “O Serviço Social, sendo um trabalho, e como tal
de natureza não liberal, tem nas questões sociais a base de sustentação da sua
profissionalidade e sua intervenção se realiza pela mediação organizacional
de instituições públicas, privadas ou entidades de cunho filantrópico.”
(GUERRA, p. 18).

Nas perspectivas de outros autores, como Ezequiel Ander-Egg (apud,


MONTAÑO, 2007, p. 132) concede que haja efetivamente um objeto próprio
do Serviço Social, no entanto, este é construído pelo profissional por meio da
sua perspectiva interdisciplinar, por outro lado, a autora Josefa Batista (apud,
MONTAÑO, 2000, p. 132) contradiz, afastando a “qualquer hipótese no sentido
da apropriação pelo Serviço Social, ao nível do real, de um fenômeno social que
seja de sua única e especifica competência, como se fosse possível um divisão
real do real” Sobre a perspectiva de Ezequiel Ander-Egg, a construção do objeto
do Serviço Social, também é defendida por Bachelard (apud MONTAÑO 2007,
p. 133) onde defende a ideia de que o “objeto é construído” por cada profissão
a partir de determinada “perspectiva”, que lhe outorgaria sua especificidade.
Essa especificidade, compreendida como “formas particulares assumidas pela
disciplina nesta relação, é o próprio projeto na sua totalidade” (BATISTA LOPES,
apud MONTAÑO, 2007, p. 133). A autora ainda afirma que “só identificando a
especificidade identifica-se o objeto”.

Percebe-se, portanto, na ideia de Batista Lopes, compreende que as


realidades como resultantes de um processo de construção, tornam-se objeto
do Serviço Social quando este propõe a essas realidades, uma relação de
conhecimentos e intervenção, sempre direcionados por uma perspectiva. (idem:
p. 134).

Diante dessa defesa da autora, na direção da construção do objeto diante


de uma “perspectiva”, existe uma discussão em que Carlos Montaño (2007, p.
134) define da seguinte forma:

Na medida em que se entende que o objeto de estudo e intervenção de uma


dada profissão é construído a partir de certa “perspectiva” esta é construída a partir
de uma relação que o sujeito estabelece com a realidade, mediada pelo projeto
profissional e na medida em que se suponha que esta dita “perspectiva” própria a
cada profissão, demarca sua “especificidade”, então estará se realizando também
um “recorte” da realidade. Recorte este que, no entanto, poderá nesta perspectiva
“reconstruir” a totalidade do real desde que se trabalhe interdisciplinarmente.

113
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Na direção de um trabalho interdisciplinar, soma-se a essa ideia, as


defesas de Mitjavila, (apud, MONTAÑO, 2007, p. 132) em que o “trabalhador
social constrói um objeto próprio a partir de um ponto de vista interdisciplinar”.

Em síntese, são várias as discussões pertinentes ao Serviço Social, que


percorrem sobre seu objeto, sua especificidade, suas teorias, sendo que cada autor
apresenta suas ideias e suas defesas, contribuindo para um debate com muita
riqueza, que nos propicia refletir sobre tais elementos pertinentes a essa profissão.

O Serviço Social compreendido como uma profissão que tem uma função
social, inserida na divisão social do trabalho, de caráter sociopolítico, interventivo
e crítico, é imprescindível conhecer, discutir sobre qual objeto se debruça, ou seja,
qual o objeto de trabalho a profissão nos dias de hoje?

Tais questionamentos são debatidos desde o início do Serviço Social


no Brasil (1937) onde definiu o homem caracterizado como pobre, favelado,
marginalizado, dentre outros, como sendo o objeto de sua intervenção, cuja
finalidade da profissão era moldá-lo, enquadrá-lo na filosofia neotomista.

Posteriormente a esse período, a profissão pôde perceber que essa ideia de


homem era equivocada, transferindo a ele uma noção de resultado das situações
que exigia a intervenção do Serviço Social e não objeto dessa profissão.

Na década de 70, pós-movimento de reconceituação, e com as manifestações


populares contra a ditadura, o Serviço Social na busca do seu objeto de intervenção,
equivocadamente define a transformação social, sendo o real objeto de sua
intervenção. Com esse equívoco, que não se efetivou, foi possível a profissão buscar,
então, à aproximação com as lutas e defesas dos interesses das classes subalternas e
excluídas pelo capitalismo, o que permanece até os dias de hoje.

Nessa lógica, no processo de reconceituação o Serviço Social orientado


pela lógica da teoria marxista, se apropria da questão social, como objeto de sua
intervenção.

Tal discussão, ainda presente nos dias de hoje, é compreendido por alguns
autores de formas distintas, o que enriquece a teoria do Serviço Social frente a
discussões de seu objeto.

II - A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS EXPRESSÕES DA


QUESTÃO SOCIAL – DEFENDIA COMO OBJETO DO SERVIÇO SOCIAL

A questão social, compreendida como um fenômeno que emerge no


século XIX, com a era da industrialização, concomitante com a pauperização, na
contradição do modo de produção capitalista, onde uma parcela da sociedade
(trabalhadores) produz a riqueza, enquanto outra parcela (capitalistas) se
apropria dela, na qual o trabalhador não usufrui da riqueza que produz.

114
TÓPICO 4 | A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Discutir sobre a questão social nos obriga entender o seu conceito,


onde nos apropriamos das explicações apresentada por Iamamoto (2000) que é
considerada uma das concepções mais difundidas do Serviço Social.

A questão social não é senão as expressões do processo da formação


e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da
sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado
e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o
proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais
além da caridade e repressão. (CARVALHO; IAMAMOTO, 2000, p. 77).

Nesse contexto, é possível contextualizar a questão social não somente


diante das desigualdades sociais, mas também perante o processo de resistência
das lutas dos movimentos dos trabalhadores, ou seja, das classes subalternas, em
busca da garantia dos seus direitos.

Pensando na questão social, também tratamos de refletir sobre aspectos


da pobreza, favelização, fome, analfabetismo, trabalho escravo, violência,
desemprego, trabalho infantil, dentre outros, que são consideradas expressões
da questão social, provocada por um modelo econômico totalmente excludente e
desigual. Marilda Iamamoto (2000, p. 38) afirma que tais expressões da questão
social “vêm afetando não só os direitos sociais, mas o próprio direito à vida”,
mesmo com os esforços e lutas dos movimentos das classes subalternas em busca
de impedir que esse quadro agrave e se amplie.

Tratando da questão social e o serviço social, nos apropriamos, mais uma


vez, das reflexões de Iamamoto (2000) que afirma que o assistente social trabalha
diretamente com as expressões da questão social nas mais variadas expressão do
cotidiano, ou seja, nas diversas áreas de atuação profissional: saúde, educação,
habitação, criança e adolescente, dentre outras. Afirma ainda que esse fenômeno
é “a matéria-prima do trabalho profissional, sendo a prática profissional
compreendida como uma especialização do trabalho participe de um processo de
trabalho”. (IAMAMOTO, 2000, p. 59).

É nesse contexto que ocorre a intervenção do assistente social, diante desse


cenário de acúmulo de capital em que poucos têm acesso e muitos vendem sua
força de trabalho, para sobreviver, ou seja, uma relação desigual entre capital e
trabalho, caracterizado como um campo de tensão e desconforto, na qual exige o
envolvimento do Assistente Social, apreendendo formas de mediar essa relação.

Um fator de fundamental importância nessa discussão é compreender que a


questão social como “lócus” de trabalho do Serviço Social, traz para este profissional,
grandes desafios em sua atuação. Tais desafios referem-se às diversas expressões
manifestadas na vida individual e/ou coletiva dos sujeitos, e que de certa forma,
estes sujeitos se rebelam com resistências e rebeldias, como forma de manifestação
contraria as tais expressões. É aí que se exige do assistente social alguns requisitos
do assistente social a fim mediar essa relação entre capital e trabalho.

115
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Esse sujeito é o principal elemento para demonstrar os agravantes que


a questão social provoca na vida individual e coletiva, violando seus direitos,
desprotegendo-os de uma vida com segurança de renda, de alimentação, de saúde,
de educação, de segurança pública, enfim de segurança de uma vida com digna.

Pensar na intervenção do Serviço Social, tendo como objeto a questão


social, é relevante aclarar qual o posicionamento necessário desse profissional,
diante do direcionamento de sua prática. Compreendo que a partir da década de
70, a categoria profissional, na perspectiva de ruptura com o conservadorismo,
“propõe colocar a profissão a serviço dos interesses dos explorados e dominados,
buscando novos fundamentos, novos conteúdos e objetivos e novas bases de
legitimação da ação profissional”. (SILVA, 2007, p. 15).

Diante disso, o profissional é possibilitado a construir ações no horizonte


dos interesses das classes subalternas, com inovações e com perspectivas de
criação de um espaço profissional renovado, que desmistifica a sua neutralidade
diante das ações profissionais.

Reconhecemos que para essa propensa “ruptura” com o conservadorismo, é


necessário que profissionais capacitados para criar outras formas de desvelamento
da realidade, das expressões da questão social, apreender a questão social é
também captar as múltiplas formas de pressão social, de inversão e de reinversão
da vida, construídas no cotidiano, pois é no presente que estão sendo recriadas
as novas formas de viver, que apontam um futuro que está sendo germinado.
(IAMAMOTO, 2000, p. 28).

Nessa direção, ressaltamos que dar conta das expressões da questão


social requer muito mais que os instrumentos práticos, já utilizados no cotidiano
profissional, como: técnicas, reuniões, entrevistas, dentre outros, mas sim
conhecimentos, acúmulo de saberes, novas habilidades, além da capacidade de
manter envolver sistematicamente com os debates referentes às expressões da
questão social e as proposições relativas às políticas sociais, compreendido uma
exigência fundamental dada ao assistente social.

A apropriação de conhecimento deve ser um exercício constante como


suporte para o profissional desvelar a realidade da qual o individuo vive, além
de apresentar novas propostas de superação da desigualdade social, “solidárias
ao modo de vida daqueles que a vivenciam, não só como vitimas, mas como
sujeitos que lutam pela preservação e conquista da sua vida, da humanidade.”
(IAMAMOTO, 2000, p. 75).

O conhecimento da realidade em que essa profissão intervém é


fundamental, pois “se não tem domínio da realidade que é objeto do trabalho
profissional, como é possível construir propostas de ações inovadoras? Construí-
las, com base em quê?” (IAMAMOTO, 2000, p. 41) [...] o conhecimento não é só
um verniz que se sobrepõe superficialmente à prática profissional, podendo ser
dispensado: mas é um meio pelo qual é possível decifrar a realidade e clarear a
condução do trabalho a ser realizado. (IAMAMOTO, 2000, p. 63).
116
TÓPICO 4 | A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Os assistentes sociais são profissionais capazes de manter um acervo


de informações e saberes suficientes para conhecer como essas expressões da
questão social se manifestam e como o individuo experimenta tais expressões em
seu cotidiano.

Para tanto, compreende-se que o conjunto de conhecimentos, teórico-


metodológico e empírico são elementos fundamentais para descobrir novas
formas de desvelamento da realidade, bem como criar em seu cotidiano, espaços
democráticos e participativos, pois é imprescindível a necessidade de um
profissional com conhecimentos e habilidades aprimorados, visto que este deve
ser apropriado em seu cotidiano, iluminando e aprimorando sua intervenção, e
também contribuir para a leitura da realidade em que está inserida.

Para tanto, o processo de desvelamento da realidade requer conhecimento


e capacidade profissional, além de envolvimento com o sujeito e/ou grupo em que
está ser relacionando, podendo exemplificar com o trabalho do assistente social no
campo da política de assistência social, mais especificamente no CRAS – Centro de
Referência de Assistência Social, localizado em um território onde os indivíduos
se encontram em situação de vulnerabilidade social, exigindo do profissional
conhecimento da realidade, das necessidades e das expectativas da comunidade
local, e para tal conhecimento se faz necessário envolvimento, Iamamoto, Marilda
V., O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional, 3º
ed.; São Paulo, Cortez, 2000, p. 75, articulação, compromisso ético-político, além
de capacidade de apresentar junto a essa comunidade, propostas de superação da
realidade vivenciada e novas alternativas de superação.

Importante salientar que, na perspectiva de apontar novas propostas de


superação das expressões da questão social, requer do profissional a capacidade
de acompanhar o movimento da sociedade, que se altera e apresenta, a cada
momento, novas características e necessidades diferenciadas, vivenciadas pelos
sujeitos e pelo coletivo, alterando também o direcionamento metodológico e
intelectual do profissional, ou seja, requer do assistente social novos olhares,
novos conhecimentos e novas práticas, conforme a realidade e o momento
histórico em que está intervindo.

Para tanto o assistente social deve se apresentar como um agente político


crítico, capacitado, informado, culto e crítico, deixando de ser somente um
mero executor das ações, e assumindo um papel de propositor de propostas de
superação das expressões da sociedade que se manifesta na vida dos sujeitos.

Diante dessas requisições, se faz necessário o rompimento o teoricismo,


bem como romper com “o fazer por fazer”, compreendendo que prática e a teoria
são condições que requer a apropriação um da outra.

“A teoria do Serviço Social como “sistematização abstrata que deve


ser remetida ao campo das Ciências Sociais ou do marxismo, em particular, e
entendem que o nível do conhecimento do ser social, objeto da construção teórica,

117
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

é o mesmo nível de intervenção da ação profissional, ficando desautorizada a


separação metodologia do conhecimento e metodologia da ação”. (SILVA, 2007).

Contudo, é justo afirmar que tais competências, configuram-se como um


dos elementos essenciais para novas respostas profissionais, capaz de construir
espaços democráticos, e incentivar, bem como fortalecer, lutas e movimentos
sociais, direcionados a conquistas de uma sociedade justa e democrática.

III - O ASSISTENTE SOCIAL E O MÉTODO DE DESVELAMENTO DA


REALIDADE

Diante do contexto da necessidade de acumulo de saberes, envolvimento


profissional, enfim uma prática pensada, rumo à construção de possibilidades
em descobrir e conhecer a realidade da qual está intervindo, é imprescindível
abordarmos sobre o método na qual possibilitará o alcance desse objetivo.

Para tanto, é necessário ir além do que é “visível”, ou seja, buscar


aprofundar, conhecer, apreender os fenômenos, para que de fato conheça a
realidade que irá intervir, assim o assistente social precisa incorporar um método
de trabalho, na qual possa lhe dar respostas a estes questionamentos.

Nessa direção, o autor Reinaldo Nobre Pontes (1995, p. 16) destaca, para a
ação profissional se manter dentro do estatuto de profissional idade, tem que compor
o suporte de um corpo de conhecimento científico, expresso na seguinte matriz:

1 – a teoria social traz no seu bojo um método, um arcabouço categorial


organizadamente articulado, propiciador de um conhecimento do ser social, bem
como da possibilidade de captação de direções a serem assumidas na intervenção
no real;

2 – o projeto de sociedade constitui a utopia (LÖWY, 1987), que se deseja atingir,


ou melhor, a direção teleológica que busca a construção de uma ordem social
superior. É, portanto, uma dimensão de natureza eminentemente teórico-política;

3 – o projeto profissional não se identifica com o anterior, como querem alguns


segmentos da profissão, porque esta dimensão ilumina a especificidade mesma da
profissão; sua inserção socioconstitutiva; sua particularidade em face da divisão
sociotécnica do trabalho; a complexa relação entre demanda institucional e
demanda profissional; as perspectivas teórico-metodológicas próprias dos vários
projetos profissionais particularizados no interior da profissão; as perspectivas
historicamente construídas pelos profissionais no direcionamento político-
institucional da área de intervenção privilegiada no âmbito das políticas sociais;
a assistência social;

4 – o instrumental teórico-técnico de intervenção constitui o corpo de conhecimento


imediatamente ligado à dimensão operativa propriamente dita da profissão.

118
TÓPICO 4 | A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Esses são os domínios necessários, compreendido pelo autor, para


propiciar ao assistente social um plano cognitivo-operativo em sua atuação, o que
também depende do projeto societário que o profissional apresenta, sendo esses
elementos fundamentais para direcionar a atuação profissional.

Portanto, a mediação possibilita o profissional ir além da operacionalização,


conhecer as particularidades dessa realidade, desvelando o que se está “oculto”,
além de revelar os nexos entre a teoria e a prática profissional, pois o conhecimento
adquirido na ação cotidiana, no campo empírico não traz um conhecimento pronto
e acabado, requer ser sustentado por embasamento da teoria, compreendendo
assim que o conhecimento empírico se constrói, traduz, codifica e decodifica
um conjunto de questões que se colocam à prática profissional em determinado
momento (BAPTISTA, 1986: 4), e dela extrai um saber.

O cotidiano deve ser compreendido como um espaço a ser explorado


como “campo de conhecimento”, onde o assistente social possa desenvolver suas
ações, sob uma prática pensada, com possibilidades da construção do “novo” e
da apropriação de saberes.

Para tanto, a ação profissional perante o seu objeto, requer um método


de trabalho que possibilite sair do concreto, daquilo que está aparente, visível,
e limitado, possibilitando a reconstrução desse objeto. Perante a esse contexto, é
necessário conhecer as categorias de analise que o Assistente Social se apropria para
decodificar o seu objeto de trabalho, visto que a mediação é a categoria principal
da pratica do Assistente Social, compreendida como: “componente estrutural do
ser social” (PONTES, 1995, p. 77) e ainda “expressões históricas das relações que
o homem edificou com a natureza e consequentemente das relações sociais daí
decorrentes, nas várias formações sócio-humanas que a historia registrou”.

Também definida por LuKács (apud PONTES, 1995, p. 79), a categoria


medição na dimensão ontológica: Pontes, Reinaldo Vieira, Mediação e Serviço Social,
São Paulo, Cortez Editora; Belém, Pa: Universidade da Amazônia, 1995, p. 17.

Suguihiro, Vera. L. T. A ação investigativa na prática cotidiana do


Assistente Social, disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br/c_v2n1_invest.
htm>. Acesso em: 29 jul. 2009.

Não pode existir nem na natureza, nem na sociedade nenhum objeto que
neste sentido [...] não seja mediato, não seja resultado de mediações. Deste ponto
de vista, a mediação é uma categoria objetiva, ontológica, que tem que estar
presente em qualquer realidade, independente do sujeito (1979).

E ainda, segundo Pontes (1995, p. 95). A categoria mediação foi


introduzida no discurso profissional inicialmente pela via da análise política, na
sua articulação no bojo das políticas sociais e de uma inserção sócio-profissional.
A pressão das demandas postas pela realidade à profissão pode-se afirmar, foi
a geradora da discussão metodológica da mediação enquanto categoria teórica.

119
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Na questão da mediação perante os debates dos autores de Serviço Social,


Reinaldo Nobre Pontes (1995), em seu livro Mediação e Serviço Social, apresenta as
ideias de Faleiros que, aponta uma preocupação com o “teoricismo”, ou seja, a
categoria mediação discutida entre os intelectuais, mas que não chega à prática
profissional, como afirma nesse trecho: O que mais me intriga na discussão desta
categoria (mediação) é que ela não passa a fazer parte da análise de nenhum objeto
da prática profissional, ela é usada por intelectuais, não se incorporando no cabedal
da prática, o que, aliás, é uma das características do teoricismo dito reconceituado,
que é incapaz de incorporar esta categoria na prática. (FALEIROS, 1992).

Assim, diante dessa citação de Faleiros, compreende-se que, devemos


evitar sim o “teoricismo”, mas também por outro lado o “pratiquismo”, que deve
ser abolido na profissão, pois as necessidades atuais requerem um profissional
que ofereça uma prática pensada, com embasamento teórico, desmistificando
o velho pensamento de que “teoria e prática não se combinam” ou “na prática
é outra coisa”, mostrando uma ideia que a prática não se apropria da teoria, e
nem vice-versa, assim, nesta direção, deve-se buscar uma apropriação de saberes
profissionais, na qual a discussão sobre mediação é elemento primordial.

Perante a categoria mediação, ainda são necessários estudos, pesquisas,


que possibilitem a ampliação da base teoria sobre esse assunto, pois, sabe-se que
somente no final da década de 80, se inicia uma discussão mais avançada sobre
Pontes, Reinaldo Vieira, Mediação e Serviço Social, São Paulo, Cortez Editora;
Belém, Pa: Universidade da Amazônia, 1995, p. 95, esse tema, onde até os dias de
hoje, a discussão é ainda tímida, porém, percebe-se mais presente, nas propostas
de aquisição de novos saberes profissionais. As categorias mediação na prática
do Serviço Social são imprescindíveis e necessárias, a fim de possibilitar um
pensamento crítico profissional, a qualidade nas respostas oferecidas à realidade
que intervém, a melhor compreensão da totalidade do objeto, a possibilidade
de sair do imediatismo, do visível e ir para uma prática pensada, embasada
teoricamente e com possibilidade de construção de novos conhecimentos.

Em síntese, as categorias são elementos fundamentais para desmistificarem,


explicarem e reconstruírem o objeto de intervenção, como afirma Iamamoto (2000,
p. 191), é meio de “detectar as dimensões da universalidade, particularidade e
singularidade na análise dos fenômenos presentes no contexto da prática profissional.”

Assim, a categoria mediação é um elemento fundamental para conhecer


o objeto de intervenção em sua totalidade, bem como reconstruir o objeto através
de uma prática pensada, saindo do imediato, do visível, do aparente.

V- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendo que em se tratando do objeto do serviço social, a relação


dessa profissão com a questão social vem sendo afirmada desde o currículo de
1982, porém com muita ênfase nos pressupostos das novas diretrizes curriculares
de 1996, uma vez que a questão social é defendida como fundamento do processo

120
TÓPICO 4 | A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

histórico da profissão, porém tal afirmação requer precaução e maior discussão


para ser defendidas nos diversos processos de trabalho do Serviço Social.

Compreendo que a relação do serviço social com a questão social, não


deve ser vista como um posicionamento único e acabado, pois é uma discussão
que deve acompanhar o movimento da própria realidade, aonde novas demandas
e novas atribuições vai surgindo à profissão.

Assim entendo que os assistentes sociais trabalham com as expressões da


questão social em seu cotidiano, trabalham também diretamente com os sujeitos
que vivenciam as expressões da questão social, que requer um profissional
criativo, competente, e que desvele as expressões da questão social, como também
desvele quais as alternativas, opções e caminhos para revertê-la.

As demandas que o Serviço Social tem foco a atender são diversas, portanto
todas emergidas do sistema capitalista, onde a divisão de classe tem sido cada
vez mais fortalecida e diferenciada. Assim o profissional tem várias dimensões
para atender as necessidades que esse sujeito, grupos, comunidades, enfim esse
público requer, como a organização em grupos para o acesso e defesa dos direitos
civis, sociais e políticos; a melhoria das condições de vida da comunidade; a
ampliação de espaços democráticos e participativos, dentre outros.

Para isso, busca-se um profissional capacitado, criativo e comprometido, a


fim de romper com o feitiço da caridade, da ajuda, do filantropismo. O trabalho do
assistente social está interligado às relações sociais vigentes nessa sociedade, onde
o desenvolvimento capitalista traz muitas alterações na realidade em que intervém.

Em fim, compreendo que a profissão tem sua intervenção direcionada,


principalmente, pelos parâmetros ético-políticos coletivamente construídos, na
direção de afirmação dos direitos sociais, e para a contribuição de uma sociedade
que supere a questão social como matéria de trabalho, a fim de se conquistas uma
sociedade mais justa e igualitária.

BIBLIOGRAFIA

CAPACITAÇÃO em Serviço Social e política social: módulo 1: a crise


contemporânea, questão social e serviço social. Brasília. Ed. Da UnB. Centro de
Educação Aberta, Continuada a Distância, 1999.

CAPACITAÇÃO em serviço social e política social: módulo 2 : reprodução


social, trabalho e serviço social. Brasília: Ed. da UnB, Centro de Educação Aberta,
Continuada a Distância, 1999.

GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade do processo de trabalho e serviço social.


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05-34.

121
UNIDADE 2 | A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e


formação profissional. 3. ed. São Paulo, Cortez, 2000.
__________. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma
interpretação histórico-metodológico. 13. ed. São Paulo, Cortez; (Lima, Peru):
CELATS, 2000.

MONTAÑO, Carlos. A natureza do serviço social, São Paulo, Cortez, 2007.

NETO, José P. Ditadura e serviço social: uma analise do Serviço Social no Brasil
pós 64, 12. ed., São Paulo, Cortez, 2008.

__________. Capitalismo monopolista e serviço social, 6. ed., São Paulo, Cortez,


2007.

PONTES, Reinaldo Vieira, Mediação e Serviço Social, São Paulo, Cortez Editora;
Belém, Pa: Universidade da Amazônia, 1995, p. 17.

SILVA, Maria O. da S.; O serviço social e o popular: resgate teórico-metodológico


do projeto profissional de ruptura, 4. ed., São Paulo, Cortez, 2007.

SUGUIHIRO, Vera. L.T. A ação investigativa na prática cotidiana do assistente


social. Disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br/c_v2n1_invest.htm>. Acesso
em: 29 jul. 2009.

FONTE: ALMEIDA, Andreia Cristina da Silva. O debate sobre o objeto do serviço social: reflexão
sobre a atuação do serviço social frente à questão social. Disponível em: <http://intertemas.
unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2167/2347>. Acesso em: 20 set. 2011.

122
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico trabalhamos as questões éticas do profissional do Serviço
Social e seu projeto ético-político. Para tanto, abordamos os seguintes assuntos:

● Verificamos que o homem possui uma necessidade de interagir com os outros


homens, em sociedade.

● É por meio do trabalho que o homem produz e reproduz sua vida na sociedade
em que está inserido.

● Só por meio da interação social os seres humanos desenvolvem sua cultura,


hábitos e costumes.

● Da relação dos homens em sociedade é que advém as questões sociais, objeto


da prática profissional do Assistente Social, regulada por meio de seu projeto
ético-político.

● O Código de Ética do Assistente Social, Resolução CFESS nº 273, de 13 de março


de 1993 (BRASIL, 2009a), determina os princípios e valores determinantes para
a prática profissional do Assistente Social, que estão diretamente inseridos em
seu projeto ético-político profissional.

● A práxis profissional do Assistente Social está permeada nas questões sociais


advindas das relações comportamentais dos homens em sociedade, mais
precisamente, de suas contradições.

● A questão social está diretamente vinculada aos conflitos advindos do capital


versus trabalho.

● Todos os problemas sociais, políticos e econômicos, que surgem das relações


cotidianas do trabalho, formam as desigualdades sociais.

● As desigualdades sociais apresentam-se de forma diferente no decorrer da


própria história da humanidade, pois o modo de produção, o desenvolvimento
e a dinâmica econômica, política e social vêm se transformando conforme a
própria evolução do homem em sua convivência em sociedade.

● Em cada momento histórico, as questões sociais vão ganhando novas formas,


que chamamos de expressões da questão social.

123
● A questão social sempre foi a mesma desde os tempos mais remotos da
humanidade, independentemente da classe social.

● Conforme as transformações do modo de produção, surgem contradições


sociais e estas, por sua vez, se transformam nas diversas formas de expressão
da questão social.

● O serviço social intervém na esfera das desigualdades sociais, em suas mais


diversas expressões, pois sua atuação se dá intrinsecamente na busca constante
das transformações da sociedade.

● Com a práxis profissional, o Assistente Social vem buscando sempre o equilíbrio


e a mediação dos conflitos advindos da relação do trabalho versus capital.

124
AUTOATIVIDADE

● Reflita e debata no grande grupo, a partir de sua própria experiência, sobre


as suas escolhas e projetos individuais, além de expor o que você espera da
sociedade em que vive.

125
126
UNIDADE 3

O CÓDIGO DE ÉTICA DOS


ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E
OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• apresentar os fundamentos e significados do Código de Ética dos Assis-


tentes Sociais;

• apresentar conteúdos de ligação com os Conselhos de Fiscalização do Ser-


viço Social.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 3 está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles, você
terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos, realizando as atividades
propostas.

TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA


DOS ASSISTENTES SOCIAIS

TÓPICO 2 – DOS DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES GERAIS DO


ASSISTENTE SOCIAL

TÓPICO 3 – O CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL BRASILEIRO

TÓPICO 4 – OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

127
128
UNIDADE 3
TÓPICO 1

FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO


DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

1 INTRODUÇÃO
A Conduta Profissional do Assistente deverá ser regida por seu Código
de Ética, especialmente, pelos seguintes princípios e valores:

QUADRO 4 – PRINCÍPIOS E VALORES FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA DO


ASSISTENTE SOCIAL

Princípios e Valores Fundamentais


do Código de Ética do
Assistente Social

FONTE: A autora

Além destes princípios e valores morais que determinam o modus


operandi dos Assistentes Sociais, o código de ética do Assistente Social possui
onze princípios fundamentais que norteiam sua prática profissional, no qual
trataremos a seguir cada um deles.

129
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA

São princípios fundamentais do Código de Ética:

QUADRO 5 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE


SOCIAL

Princípios Fundamentais
do Código de Ética do
Assistente Social

Liberdade Respeito à Diversidade

Direitos Humanos Pluralismo

Projeto Profissional
Cidadania
Movimentos Sociais
Democracia
Qualidade dos serviços
prestados
Equidade e Justiça Social
Indiscriminação

FONTE: A autora

2.1 LIBERDADE

FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DO SENTIMENTO DE LIBERDADE

FONTE: Disponível em: <www.casaldogalo.com>. Acesso em: 25


fev. 2009.

130
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

“Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas


políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos
indivíduos sociais”. (BRASIL, 2009a)

Observamos, na Unidade 2 deste Livro Didático, que todo homem pode


fazer suas escolhas de forma livre e consciente, em que podem ser consideradas a
constituição da liberdade humana.

A liberdade é constituída no relacionamento direto entre os homens


em sociedade, por meio de suas atividades humanas. Podemos considerar que
o ser humano é um ser livre e tem o poder de escolha, desde que seja sempre
consciente. Portanto, por meio do trabalho, o ser humano se constitui um homem
consciente e livre.

E
IMPORTANT

“LIBERDADE, essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém
que explique, e ninguém que a entenda.” (Cecília Meireles)

Contudo, o que é liberdade?

No que tange à questão de liberdade, vejamos o que prediz Tomelin e


Tomelin (2002, p. 127), quando tratam desta questão em seu livro “Do mito para
a razão: uma dialética do saber”.

Você, por muitas vezes, deve ter se sentido preso, sem liberdade para
sair de casa ou fazer o que quer. Ou que, muitas vezes, ao ser livre para
querer, acabam-se querendo o que os outros querem que se queira.
[...] A liberdade sempre foi uma questão fundamental na história da
humanidade. Todos nós queremos ser livres. Através da história,
percebemos que muitas pessoas tiveram que pagar um preço alto
pela sua liberdade. Muitos queimados em fogueiras, outros presos,
perseguidos e torturados. Todos necessitam de liberdade. Até os
animais. Você já reparou como o cachorro fica feliz quando o soltamos
para correr?

Podemos assim compreender que a liberdade é um poder de escolhas.

Nesta perspectiva, observamos que a existência do ser humano, nas suas


relações cotidianas, acaba revelando escolhas, ou seja, todos os dias escolhemos
entre inúmeras possibilidades postas pela sociedade, o que é bom ou mau para
nós e para os outros. Assim, podemos considerar que todo homem é livre para
escolher, por si só, uma determinada possibilidade e renunciar outras.

131
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

Não podemos esquecer de que vivemos em sociedade, portanto, todas


as nossas escolhas, direta ou indiretamente, influenciarão os demais membros
da comunidade em que estamos inseridos. As nossas decisões refletem também
diretamente sobre nós, ou seja, se por ventura eu decidir não mais estudar e trabalhar,
isso influenciará diretamente a minha vida e a da minha família e dos amigos.

Nesta perspectiva, Tomelin e Tomelin (2002, p. 128) expõem que “[...]


quando escolho, torno-me humano, e escolho não apenas a mim, mas a toda
humanidade. Nossas escolhas é que determinarão o nosso existir”.

Partindo desta premissa, os profissionais do Serviço Social tomam como


uma de suas bases fundamentais, para a práxis profissional, a LIBERDADE,
conforme estabelecido no Código de Ética que regulamenta sua profissão
(BRASIL, 1997). Podemos observar que a liberdade é tida como um valor ético,
que determina, como um todo, a atuação profissional do Assistente Social,
principalmente na tratativa das demandas políticas, buscando, constantemente,
autonomia, desenvolvimento e emancipação dos indivíduos que vivem em
sociedade, procurando sempre melhorar sua qualidade de vida.

2.2 DIREITOS HUMANOS

FIGURA 9 – DIREITOS HUMANOS

FONTE: Disponível em: <www.pedrowilson.com.br>. Acesso em: 25 fev. 2009.

“Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do


autoritarismo.” (BRASIL, 2009a).

Outro princípio fundamental do Código de Ética Profissional do Assistente


Social é a defesa e conservação incondicional dos direitos humanos. Direitos,
estes, inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 2009), que
foi promulgada pela ONU – Organização das Nações Unidas, em 1948.

132
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

DICAS

Como sugestão, entre no site da ONU/Brasil – Nações Unidas no Brasil, seu link
é: <http://www.onu-brasil.org.br> , e procure mais informações referente a este assunto.

Conforme o preâmbulo desta declaração, o Assistente Social, em sua


prática profissional, deve desenvolver atividades laborais a partir das seguintes
considerações:

CONSIDERANDO que o reconhecimento da dignidade inerente


a todos os membros da família humana e seus direitos iguais e
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
CONSIDERANDO que o desprezo e o desrespeito pelos direitos do
homem resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da
Humanidade, e que o advento de um mundo em que os homens gozem
de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do
temor e da necessidade, CONSIDERANDO ser essencial que os direitos
do homem sejam protegidos pelo império da lei, para que o homem
não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a
opressão, CONSIDERANDO ser essencial promover o desenvolvimento
de relações amistosas entre as nações, CONSIDERANDO que os povos
das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos do homem
e da mulher, e que decidiram promover o progresso social e melhores
condições de vida em uma liberdade mais ampla, CONSIDERANDO
que os Estados Membros se comprometeram a promover, em cooperação
com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades
fundamentais do homem e a observância desses direitos e liberdades,
CONSIDERANDO que uma compreensão comum desses direitos e
liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse
compromisso. (ONU, 2009, p. 1).

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Versão Popular de Frei Betto

 Todos nascemos livres e somos iguais em dignidade e direitos.


 Todos temos direitos à vida, à liberdade e à segurança pessoal e social.

 Todos temos direito de resguardar a casa, a família e a honra.

 Todos temos direito ao trabalho digno e bem remunerado.

 Todos temos direito ao descanso, ao lazer e às férias.

 Todos temos direito à saúde e assistência médica e hospitalar.

 Todos temos direito à instrução, à escola, à arte e à cultura.

 Todos temos direito ao amparo social na infância e na velhice.

 Todos temos direito à organização popular, sindical e política.

133
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

 Todos temos direito de eleger e ser eleito às funções de governo.


 Todos temos direito à informação verdadeira e correta.

 Todos temos direito de ir e vir, mudar de cidade, de Estado ou país.

 Todos temos direito de não sofrer nenhum tipo de discriminação.

 Ninguém pode ser torturado ou linchado. Todos somos iguais perante a lei.

 Ninguém pode ser arbitrariamente preso ou privado do direito de defesa.

 Toda pessoa é inocente até que a justiça, baseada na lei, prove o contrário.

 Todos temos liberdade de pensar, de nos manifestar, de nos reunir e de crer.

 Todos temos direito ao amor e aos frutos do amor.

 Todos temos o dever de respeitar e proteger os direitos da comunidade.

 Todos temos o dever de lutar pela conquista e ampliação destes direitos.

FONTE: DHNET. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.
dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm>. Acesso em: 26 mar. 2009.

Portanto, podemos dizer que os direitos humanos norteiam a base ética


profissional do Assistente Social, pois estes desenvolvem suas atividades com
base na liberdade, igualdade, justiça e paz do mundo e na defesa dos direitos
fundamentais dos seres humanos, procurando sempre promover o progresso
social e a ampliação da qualidade de vida de cada cidadão.

2.3 CIDADANIA

FIGURA 10 – CIDADANIA

FONTE: Disponível em: <www.vivaterra.org.br>. Acesso em: 26 mar. 2009.

134
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

“Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial


de toda a sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos
das classes trabalhadoras.” (BRASIL, 2009a).

Podemos entender que, cidadania é um conjunto de direitos e deveres


que denotam e fundamentam as condições do comportamento de cada indivíduo
em relação à sociedade, ou seja, a cidadania designa normas de conduta para
o convívio social, determinando nossas obrigações e direitos perante os outros
integrantes da nossa sociedade.

Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade, para


melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca
esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser
divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação,
para o bem-estar e desenvolvimento da nação.
A cidadania consiste desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar
os muros, respeitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim
como todas as outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber
dizer obrigado, desculpe, por favor e bom-dia quando necessário [...],
até saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas,
o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que
enfrentamos em nosso país.
“A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre para
garantir os interesses coletivos: mas é também o mais imperioso dos
deveres impostos aos cidadãos.” Juarez Távora - Militar e político
brasileiro. (WEB CIÊNCIA, 2009, p. 1)

Podemos observar três dimensões da cidadania:


 
 Cidadania civil: são aqueles direitos advindos da liberdade de cada indivíduo,
como, por exemplo: o livre-arbítrio para expressar nossos pensamentos; o
direito de propriedade (venda e compra de um imóvel, um bem ou serviço);
entre outros.

 Cidadania política: podemos considerar que a cidadania política se legitima


quando os homens exercem seu poder político de eleger e ser eleito para o
exercício do poder político, independentemente da instituição pública ou
privada na qual venha exercer suas atribuições.

 Cidadania social: compreendida como o conjunto de direitos concernentes ao


conforto de cada cidadão, no que tange à sua vida econômica e social, ou seja,
do seu bem-estar social.

E é nesta perspectiva da garantia dos direitos e deveres de cada cidadão,


que o Assistente Social desenvolve sua prática profissional.

135
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

2.4 DEMOCRACIA
FIGURA 11 – DEMOCRACIA

FONTE: Disponível em: <www.mises.org.br>. Acesso em: 16 mar.


2009.

“Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da


participação política e da riqueza socialmente produzida.” (BRASIL, 2009a).

Podemos considerar que a democracia nada mais é do que um sistema


de governo, no qual o povo governa para sua própria sociedade. Este sistema de
governo democrático possui formatos diferentes nas diversas sociedades, pois,
em cada uma, existem regas e normas diferentes e isto acontece por causa da
constituição dos princípios ético-morais de cada localidade.

Então, podemos dizer que, num governo democrático, o povo determina


suas relações de poder sobre os demais integrantes, mas, mesmo assim, podemos
distinguir a democracia em duas formas distintas:

 Democracia direta: na qual o povo decide diretamente, por meio de referendo/


plebiscito, se aceita ou não determinadas questões políticas e administrativas
de sua localidade, Estado ou país.

 Democracia indireta: nesta, o povo participa democraticamente, por meio do


voto, elegendo seu representante político, ou seja, uma pessoa que os represente
nas diversas esferas governamentais, para tomar decisões cabíveis em nome do
povo que os elegeu.

Outro fator que não podemos esquecer é que, quando falamos em


democracia, também falamos de distribuição democrática, das riquezas
socialmente produzidas por meio do trabalho dos homens.

136
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

Assim, o Assistente Social possui a premissa de defender,


incondicionalmente, a democracia política, econômica e social da sociedade, na
qual desenvolve suas atividades por meio da socialização direta dos direitos de
participação democrática em todas as esferas de poder.

2.5 EQUIDADE E JUSTIÇA SOCIAL

FIGURA 12 – EQUIDADE

FONTE: Disponível em: <www.sericosocialhoje.blogsport.com>.


Acesso em: 26 mar. 2009.

“Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure


universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas
sociais, bem como, sua gestão democrática.” (BRASIL, 2009a).

Podemos dizer que a equidade nada mais é do que fazer justiça com
imparcialidade, pois todos os seres humanos possuem direitos e deveres perante
a sociedade em que vivem. Estes direitos, por sua vez, denotam um conjunto de
princípios morais, que acabam igualando todos os homens de uma mesma sociedade.

E
IMPORTANT

Equidade é a igualdade de direitos entre os iguais.

Contudo, devemos tomar cuidado, pois muita gente pensa que equidade
é sinônimo de igualdade, mas não é bem assim, pois a equidade é vista por dois
prismas:

137
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

 Equidade horizontal: denota que existe um tratamento igualitário para todos


os indivíduos, ou seja, não há distinção, pois o problema a ser resolvido é o
mesmo, independentemente da classe social.

 Equidade vertical: denota que existem tratamentos diferentes para


determinados grupos sociais, ou seja, dependendo da situação social do
homem, o mesmo problema é tratado de forma diferente.

Então, podemos dizer que a prática profissional do Assistente Social se


processa na garantia da equidade e da justiça social, procurando assegurar a
universalidade de direitos e o acesso aos bens produzidos por meio do trabalho a
todos os indivíduos, sem distinção de cor, raça, etnia e classe social.

2.6 RESPEITO À DIVERSIDADE


FIGURA 13 – DIVERSIDADE

FONTE: Disponível em: <www.planetaeducacao.com.br>. Acesso em: 26


mar. 2009.

“Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando


o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e
à discussão das diferenças.” (BRASIL, 2009a).

Conforme exposto nesta citação do Código de Ética Profissional do


Assistente Social, podemos observar que outro princípio fundamental de sua
práxis profissional se processa na mediação direta com todos os indivíduos de
uma determinada sociedade, com intuito de eliminar toda e qualquer forma de
preconceito e discriminação, seja ele racial, étnico, cultural, religioso entre outros,
além de incentivar, constantemente, o respeito às diferenças e diversidades
humanas.

Entretanto, o que é diversidade?

Pois bem, ao tratarmos da questão da diversidade, devemos, primeiramente,


compreender o significado de tolerância, porque a diversidade denota que todos
os homens devem aceitar e compreender as diferenças humanas.
138
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

E
IMPORTANT

Nenhum homem na face da Terra é igual a outro homem.

Neste sentido, podemos compreender que o respeito à diversidade humana


não significa apenas tolerar o outro, mas respeitá-lo como ele realmente é.

Devemos olhar o outro, por meio dos olhos dele e não por meio dos
nossos olhos, ou seja, devem-se compreender as diferenças do outro, ver como
ele realmente é, qual são seus princípios e valores morais. Nunca devemos ver o
outro a partir de nossa visão de mundo, de nossos valores morais, pois, assim,
acabamos prejulgando-o.

Assim, podemos afirmar que o respeito às diferenças humanas também


pode ser compreendido como o respeito às diversas identidades que compõe
uma sociedade, pois cada ser humano possui sua singularidade, ou seja, suas
características pessoais.

2.7 PLURALISMO

FIGURA 14 – PLURALISMO

FONTE: Disponível em: <www.lacoctelera.com>. Acesso em: 26


mar. 2009.

139
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

“Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais


democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o
constante aprimoramento intelectual.” (BRASIL, 2009a).

Podemos compreender que o pluralismo é reconhecer a existência da


diversidade humana. Diversidade que pode ser cultural, religiosa, política,
econômica, ambiental e social.

E
IMPORTANT

Não existe uma realidade única e absoluta.

O pluralismo denota que não existe somente uma concepção conceitual,


ou seja, existem várias referências e doutrinas conceituais, pois, como abordamos
anteriormente, todos os seres humanos são diferentes, possuem diversas
subjetividades, que denotam visões de mundo diferenciadas, ou seja, sobre um
mesmo fato, uma mesma realidade poderá suscitar diversas opiniões, diversos
conceitos, porque cada homem analisa um fato conforme sua constituição moral.

Nesta perspectiva, pode-se dizer que a prática profissional do Assistente


Social deve, constantemente, buscar e garantir o pluralismo conceitual, para seu
constante aperfeiçoamento pessoal e intelectual.

2.8 PROJETO PROFISSIONAL

FIGURA 15 – PROJETO PROFISSIONAL

FONTE: Disponível em: <www.cress-ms.org.br>. Acesso em: 26 mar. 2009.

140
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

“Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção


de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e
gênero.” (BRASIL, 2009a).

Com relação ao projeto profissional do Assistente Social, podemos citar


que o mesmo possui um caráter sociopolítico, crítico e interventivo, que vem,
historicamente, utilizando um instrumental técnico operativo multidisciplinar,
para análise e intervenção junto às inúmeras expressões da questão social, como na
educação, justiça, saúde, lazer, previdência, habitação, assistência social, entre outros.

O Assistente Social busca sempre prestar seus serviços em prol do


desenvolvimento e da construção de uma sociedade mais justa, igualitária e sem
discriminação e exploração das classes sociais e suas diversidades.

TUROS
ESTUDOS FU

Você verá mais adiante, em outra disciplina, a questão do instrumental técnico


operativo do Assistente Social.

DICAS

Como sugestão, leia o artigo: A Construção do Projeto Ético-Político do Serviço


Social, por José Paulo Netto. Disponível em: <http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_
saude/texto2-1.pdf>.

2.9 MOVIMENTOS SOCIAIS

FIGURA 16 – MOVIMENTOS SOCIAIS

FONTE: Disponível em: <www.spsoul.blogspot.com>. Acesso em: 26 mar. 2009.

141
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

“Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que


partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores.”
(BRASIL, 2009a).

Porém, o que é um movimento social?

Podemos compreender que um movimento social denota a organização


de um grupo social que possue interesses comuns, que, de forma estruturada,
busca desenvolver suas atividades, conforme suas finalidades e objetivos.

Conforme Gohn (1995, p. 44), movimentos sociais:

[...] são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por


atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles
politizam suas demandas e criam um campo político de força social
na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios
criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios
e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-
cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de
interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio
da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores
culturais e políticos compartilhados pelo grupo.

DICAS

Como sugestão, leia o artigo: O Papel dos Movimentos Sociais na Construção de


Outra Sociabilidade, de Sandra Maria Marinho Siqueira. Disponível em: <http://www.anped.
org.br/reunioes/25/excedentes25/sandramariamarinhosiqueirat03.rtf>.

Nesta perspectiva, os assistentes sociais também desenvolvem suas


atividades laboratoriais em prol da articulação e mediação constante entre a
sociedade civil, os diversos movimentos sociais e o Estado.

2.10 QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS

FIGURA 17 – QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS

FONTE: Disponível em: <www.verzani.com.br>. Acesso em: 26 mar. 2009.

142
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

“Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e


com aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional.”
(BRASIL, 2009a).

Esta questão é indiscutível, pois todo trabalho, produto ou prestação de


serviço deve ter, como premissa, a qualidade, ou seja, todo profissional deve
exercer sua profissão com ética, responsabilidade e qualidade.

Por meio de seu desempenho profissional, o Assistente Social


proporcionará, ao seu público-alvo, possibilidades de melhoria de qualidade de
vida, além de mediar, com serenidade e propriedade, as expressões da questão
social, objeto de seu trabalho.

2.11 INDISCRIMINAÇÃO

FIGURA 18 – INDISCRIMINAÇÃO

FONTE: Disponível em: <www.infinitoemaisalem.blogs.sapo.pt>. Acesso


em: 26 mar. 2009.

“Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar,


por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,
opção sexual, idade e condição física.” (BRASIL, 2009a).

Para entendermos esta questão da indiscriminação, faz-se necessário


compreendermos o significado de preconceito.

Então, o que é preconceito?

Bem, o preconceito pode ser compreendido como uma atitude, um


julgamento de valores, formação de juízo ou ideias preconcebidas, a partir do qual
nós recriminamos ou rotulamos uma situação, lugares, pessoas, objetos e culturas,
conforme nossos valores ético-morais, ou seja, nós, seres humanos, geralmente

143
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

quando nos deparamos com “o diferente”, o repulsamos e discriminamos, sem,


muitas vezes, conhecer melhor a pessoa ou situação que estamos julgando.

Existem muitas formas de discriminação ou preconceito, mas podemos


citar que hoje, na sociedade em que vivemos, as questões raciais, sociais, sexuais
e religiosas são as principais formas de preconceito que enfrentamos.

Finalizando, podemos expor que o PRECONCEITO HUMANO leva os


homens a agirem de forma violenta, acarretando discriminação e marginalização
dos homens.

NOTA

Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar os seus conteúdos com relação aos


princípios e valores gerais dos cidadãos brasileiros, sugerimos a releitura dos artigos 1º, 3º e
5º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>.

DICAS

Como sugestão, leia o seguinte livro:

BONETTI, Dilséia Adeodata et al. Serviço social e ética: convite a uma nova práxis. 11ª Edição.
São Paulo: Cortez, 2010.

144
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

ÉTICA PROFISSIONAL

Edite Jendreick Franke


[...]
No momento em que se diz que o Brasil está passando por uma crise ética,
oportuno se faz falar sobre a Ética Profissional.

Necessário se faz lembrar que, quem não tem ética pessoal, não terá
ética profissional.

A palavra Ética, do grego ethos, designa:

 os costumes;
 a condução da vida;
 as regras de comportamento.

A Ética é o estudo da moralidade do agir humano; é o estudo da bondade


ou da maldade dos atos humanos, a retidão dos atos humanos frente à ordem
moral.

É justificada pela Moral enquanto esta estabelece regras que são assumidas
pela pessoa, como uma forma de garantir o bem viver, um agir segundo o bem,
remetendo estas regras ao agir humano, aos comportamentos cotidianos, às
escolhas existenciais [...]

[...] a Ética se coloca como um questionamento sobre o agir, uma reflexão


sobre o que é preciso fazer, uma procura pelo que é bom ou justo.

A Ética não estabelece regras, mas propõe uma reflexão sobre a ação
humana, sobre sua retidão frente à ordem moral.

A Ética, espontaneamente, gera:

1. Questionamentos: a ética nos leva a refletir sobre as normas ou regras de


comportamento, nos leva a analisar princípios, valores que fundamentam
nossa obrigação na sociedade.

2. Sistematização da reflexão: encontrada em teorias ou escolas que tratam da


moral e da ética, ou o conjunto de normas de grupos específicos, como é o caso
dos códigos de ética profissional.

3. Prática concreta: ou a realização de valores que exige o processo de deliberação,


a decisão, a atitude subjacente e a ação propriamente dita.

145
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

Toda herança da reflexão sobre a Ética e a Moral se apresenta subjacente


à Ética Profissional.

Isto é, a Ética Profissional só se efetivará se houver a Ética Pessoal.

Importante identificarmos, refletirmos aqui: quem é o Sujeito Ético?

Sujeito Ético é todo ser humano que se depara com a necessidade de


decidir, pois onde há [...] decisões a serem tomadas; reflexões a serem feitas; e
liberdades a serem alcançadas [...] há a Ética.

A Ética não existe sem a responsabilidade.

Uma Ética de Responsabilidade é a do sujeito livre, autônomo, que


reflete, dotado de prudência, coragem e convicção.

A responsabilidade dá cada vez mais lugar à interrogação e à discussão


democrática.

Assim, cada vez mais a Ética recorre à prudência, que é vigilância e


previsão, e à solidariedade.

A Ética profissional pode ser definida como:

A reflexão sobre as exigências do profissional em sua relação:

 com o cliente/usuário;
 com o público;
 com seus colegas;
 com sua corporação;
 com os demais profissionais. (DURAND, p. 85).

Estas exigências remetem ao conjunto de direitos e de obrigações


expressos no Código de Ética da profissão.

A reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão, [...]


no que consistem [...], [...] a quem se destinam [...], [...] para que se destinam [...],
deve iniciar antes da prática profissional .

A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência, muitas vezes,


já deve ser permeada por esta reflexão.

A escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto de


deveres profissionais passa a ser obrigatório.

Geralmente, quando se é jovem, escolhe-se a carreira sem conhecer


o conjunto de deveres que está prestes a assumir ao se tornar parte daquela
categoria que escolheu.
146
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

Toda a fase de formação profissional, [...] o aprendizado das competências


e habilidades referentes à prática específica numa determinada área, [...] deve
incluir a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos.

Ao completar a formação em nível superior, a pessoa faz um juramento,


que significa sua adesão e comprometimento com a categoria profissional em que
formalmente ingressa.

Isto caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional. Seja, esta


adesão, voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais
adequadas para o seu exercício.

No período de formação e mesmo depois no decorrer da prática, o


profissional deve estar sempre se perguntando:

1. Que deveres assumi? O que a entidade, a chefia, e o usuário esperam de mim?


Estes deveres são compatíveis com a profissão? Ou é a chamada exigência
generalista do mercado?

2. Estou assumindo uma função institucional ou a profissão mesma?

3. Como estou conduzindo os deveres assumidos? Como estou cumprindo


minhas responsabilidades? Estou me conduzindo nos valores previstos pelo
Código de Ética da Profissão?

4. O que devo fazer e como fazer? Planejo, organizo, sistematizo, avalio minhas
ações? Que resultados produzo? Em benefício de quem?

5. E tão importante quanto os aspectos acima: Estou sendo bom profissional?


Competente, coerente? Estou agindo adequadamente nas relações pessoais e
profissionais? Isto inclui:

● respeitar e exigir respeito;

● atitudes de generosidade e cooperação, trabalho em equipe;

● uma postura pró-ativa (que é compromisso/ é contribuir para o engrandecimento


do trabalho);

● estar preocupado, com as PESSOAS, que é ser coerente com os deveres


profissionais.

Acredito na profissão de Assistente Social a qual defendi durante toda


minha vida de prática profissional e como docente.

Sempre busquei apresentar o quanto é importante e bom ser Assistente


Social, e como se faz necessário o esmerado preparo profissional e o compromisso
com a realidade, alvo de nossa intervenção. O trabalho profissional não permite
acomodação e o profissional comprometido não se acomoda.
147
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

Só se acomoda e se arrisca a virar fóssil aquele que não tem amor por si
mesmo e pelo próximo.

O Serviço Social é uma profissão que tem sua legitimidade regulamentada


em Lei e fundamentada em seu Código de Ética, e este defende a equidade e a
justiça social.

O processo de renovação pelo qual o Serviço Social tem passado, no


transcorrer de sua história, vem compromissado com esses valores e princípios
que são defendidos por seus profissionais, na conquista de direitos sociais, na
defesa dos direitos já alcançados e na ampliação destes.

Apegados a estes valores, não poderemos deixar de ser Éticos.

● Ser Assistente Social é fazer Serviço Social:

A identidade profissional é construída pelos grupos profissionais de que


fazemos parte. Como o grupo existe? Passa a existir através das relações que
estabelecem seus membros entre si e com o meio em que vivem, isto é, pela sua
prática, seu agir, seu trabalhar, fazer, pensar, sentir [...].

O indivíduo (Assistente Social) vai sendo representado previamente


na graduação e vai assimilando em um processo interno a representação desta
identidade.

Esta identidade pressupõe o fazer, as práticas de serviço social que realiza,


mas é a aceitação da identidade que força comportamentos, ações compatíveis
com a profissão. É a aceitação que leva a assumir a postura ética exigida pela
profissão.

Por isto, a identidade precisa ser continuamente re-posta, que significa


“agir como”. Comparecer perante o outro como portador de um papel, mas como
representante de si e de um grupo profissional.

● Ser Assistente Social ético exige:

Competência técnica, aprimoramento constante, respeito às pessoas,


confidencialidade, privacidade, tolerância, flexibilidade, fidelidade, envolvimento,
afetividade, correção de conduta, boas maneiras, relações genuínas com as
pessoas, responsabilidade, corresponder à confiança que lhe é depositada [...]
pois o comportamento ético de um profissional reflete em todos os demais da
profissão.

Vale lembrar que comportamento eticamente adequado e sucesso


continuado são indissociáveis!

148
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

Empregabilidade é sinônimo de bom profissional.

E só pode ser ético profissionalmente aquele que o é pessoalmente.

Lembro aqui a passagem de Lucas, que em seu Capítulo 16, traz a palavra
de Jesus:

“Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é
injusto nas pequenas, também é injusto nas grandes.” (BRASIL, 16:10).

Obrigada, e vamos em frente pela Ética agora e sempre!

FONTE: FRANKE, Edite Jendreick. Ética Palestra proferida na III Jornada de Estágio do Curso de
Serviço Social da UEPG (PR), Ponta Grossa, 25 set. 2007. Disponível em: <http://www.uepg.br/
uepg_departamentos/deservi/pdf/TEXTOS%20PARA%20REFLEXAO%2002.pdf>. Acesso em: 26
mar. 2009.

149
RESUMO DO TÓPICO 1

Com relação aos princípios fundamentais do Código de Ética dos


Assistentes Sociais, abordamos, neste tópico, as seguintes questões:

● Vimos que o Código de Ética do Assistente Social possui onze princípios


fundamentais que norteiam sua prática profissional. Estes princípios são:

Liberdade:

● Observamos que todo homem pode fazer suas escolhas de forma livre e
consciente.

● A liberdade é constituída no relacionamento direto entre os homens em


sociedade, por meio de suas atividades humanas.

● O ser humano é um ser livre e tem o poder de escolha, feita de maneira


consciente.

● Por meio do trabalho, o ser humano se constitui um homem consciente e livre.

● A liberdade é um poder de escolhas.

● Vimos que os profissionais do serviço social tomam como uma de suas bases
fundamentais, para a práxis profissional, a LIBERDADE.

● A liberdade é tida como um valor ético, que determina, como um todo, a


atuação profissional do Assistente Social.

Direitos Humanos:

● Outro princípio fundamental do Código de Ética Profissional do Assistente


Social é a defesa e conservação incondicional dos direitos humanos.

● Direitos inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU –


Organização das Nações Unidas.

● Os direitos humanos norteiam, diretamente, a base ética profissional do


Assistente Social.

● Os Assistentes Sociais desenvolvem suas atividades com base na liberdade,


igualdade, justiça e paz do mundo e na defesa dos direitos fundamentais dos
seres humanos, procurando sempre promover o progresso social e a ampliação
da qualidade de vida de cada cidadão.

150
Cidadania:

● A cidadania é um conjunto de direitos e deveres que denotam e fundamentam


as condições do comportamento de cada indivíduo, em relação à sociedade em
que está inserido.

● A cidadania designa normas de conduta para o convivio social, em que


determina nossas obrigações e direitos perrante os outros integrantes da nossa
sociedade.

● Temos três dimensões da cidadania: civil, política e social.

● E é nesta perspectiva da garantia dos direitos e deveres de cada cidadão, que o


Assistente Social desenvolve sua prática profissional.

Democracia:

● A democracia nada mais é do que um sistema de governo, no qual o povo


governa para sua própria sociedade.

● Este sistema de governo democrático possui formatos diferentes nas diversas


sociedades.

● Temos a democracia direta e indireta.

● Quando falamos em democracia, também falamos de distribuição democrática


das riquezas socialmente produzidas, por meio do trabalho dos homens.

● O Assistente Social possui a premissa de defender incondicionalmente a


democracia política, econômica e social da sociedade.

Equidade e Justiça Social:

● A equidade nada mais é do que fazer justiça com imparcialidade.

● Todos os seres humanos possuem direitos e deveres iguais perante a sociedade


em que vivem.

● Estes direitos, por sua vez, denotam um conjunto de princípios morais, que
acabam igualando todos os homens de uma mesma sociedade.

● Equidade é a igualdade de direitos entre os iguais.

● A prática profissional do Assistente Social processa-se na garantia da equidade


e da justiça social, em que procura assegurar a universalidade de direitos e o
acesso aos bens produzidos por meio do trabalho de todos os indivíduos, sem
distinção de cor, raça, etnia e classe social.

151
Respeito à Diversidade:

● Outro princípio fundamental da práxis profissional do Assistente Social se


processa na mediação direta com todos os indivíduos de uma determinada
sociedade, com o intuito de eliminar toda e qualquer forma de preconceito e
discriminação.

● A diversidade denota que todos os homens devem aceitar e compreender as


diferenças humanas.

● Nenhum homem na face da Terra é igual a outro homem.

● O respeito à diversidade humana não significa apenas tolerar o outro, mas


respeitá-lo como ele realmente é.

● Devemos olhar o outro por meio dos olhos dele e não por meio dos nossos
olhos.

Pluralismo:

● O pluralismo significa reconhecer a existência da diversidade humana.

● A diversidade pode ser: cultural, religiosa, política, econômica, ambiental e


social.

● Não existe uma realidade única e absoluta.

● O pluralismo denota que não existe somente uma concepção conceitual, ou


seja, existem várias referências e doutrinas conceituais.

● A prática profissional do Assistente Social deve, constantemente, buscar e


garantir o pluralismo conceitual, para seu constante aperfeiçoamento pessoal e
intelectual.

Projeto Profissional:

● O projeto profissional do Assistente Social possui um caráter sociopolítico,


crítico e interventivo, no qual vem, historicamente, utilizando um instrumental
técnico operativo multidisciplinar, para análise e intervenção junto às inúmeras
expressões da questão social.

● O Assistente Social busca sempre prestar seus serviços em prol do


desenvolvimento e da construção de uma sociedade mais justa, igualitária e
sem discriminação e exploração das classes sociais e suas diversidades.

152
Movimentos Sociais:

● Um movimento social denota a organização de um grupo social que possui


interesses comuns, que, de forma estruturada, busca desenvolver suas
atividades conforme suas finalidades e objetivos.

● Nesta perspectiva, os Assistentes Sociais também desenvolvem suas atividades


laboratoriais, em prol da articulação e mediação constante entre a sociedade
civil, os diversos movimentos sociais e o Estado.

Qualidade dos Serviços prestados:

● Todo trabalho, produto ou prestação de serviço deve ter, como premissa, a


qualidade, ou seja, todo profissional deve exercer sua profissão com ética,
responsabilidade e qualidade.

Indiscriminação:

● O preconceito pode ser compreendido como uma atitude, julgamento de


valores, formação de juízo ou ideias preconcebidas, a partir do qual nós
recriminamos ou rotulamos uma situação, lugares, pessoas, objetos e culturas,
conforme nossos valores ético-morais.

● Quando nos deparamos com “o diferente”, o repulsamos e discriminamos, sem,


muitas vezes, conhecer melhor a pessoa ou a situação que estamos julgando.

● Existem muitas formas de discriminação ou preconceito. Hoje, as questões


raciais, sociais, sexuais e religiosas são as principais formas de preconceito que
enfrentamos.

● O preconceito humano leva os homens a agirem de forma violenta, acarretando


na discriminação e marginalização dos homens.

153
AUTOATIVIDADE

Em grupo, reflitam sobre cada um dos onze Princípios Fundamentais do


Código de Ética do Assistente Social. Em seguida, realizem as seguintes
atividades.

1 Explique a frase: “A liberdade é um poder de escolhas”.


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

2 Escolha dois dos direitos humanos expostos na Declaração Universal dos


Direitos Humanos da ONU – Organização das Nações Unidas – e explique-os.
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

3 Temos três dimensões da cidadania: a civil, a política e a social. Explique


cada uma delas.
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

4 O que você compreende por democracia?


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

5 Equidade é a igualdade de direitos entre os iguais. Justifique esta indagação.


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

6 A diversidade denota que todos os homens devem aceitar e compreender as


diferenças humanas. Exemplifique esta indagação.

154
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

7 Será que existe uma realidade única e absoluta? Justifique.


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

8 Quando nos deparamos com “o diferente”, o repulsamos e discriminamos,


sem, muitas vezes, conhecer melhor a pessoa ou a situação que estamos
julgando. O que você faria nesta situação, ou seja, como você agiria diante
de uma pessoa que você não conhece?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

155
156
UNIDADE 3
TÓPICO 2

DOS DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES GERAIS DO


ASSISTENTE SOCIAL
1 INTRODUÇÃO
Observamos que o Código de Ética do Assistente Social foi constituído na
perspectiva de garantir os princípios fundamentais da profissão, além de dispor
sobre os direitos e deveres do profissional, mas, também, prediz como se devem
processar, eticamente, as relações diretas com os usuários.

Neste tópico, abordar-se-á uma discussão referente aos direitos e deveres


gerais do Assistente Social. Direitos e deveres assegurados pelo Código de Ética do
Assistente Social - Resolução CFESS nº 273, de 13 de março de 1993 (BRASIL, 1997).

2 DOS DIREITOS GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL


Art. 2º - Constituem direitos do Assistente Social:

a) garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de


Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código;

b) livre exercício das atividades inerentes à Profissão;

c) participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na


formulação e implementação de programas sociais;

d) inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação,


garantindo o sigilo profissional;

e) desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;

f) aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos


princípios deste Código;

g) pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se


tratar de assuntos de interesse da população;

h) ampla autonomia no exercício da Profissão, não sendo obrigado a prestar


serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou funções;

i) liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos


de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.

FONTE: Brasil (2011)

157
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

Como vocês observaram, o Artigo 2 do Código de Ética do Assistente


Social compreende que os direitos gerais do Assistente Social prediz todas as
atribuições e prerrogativas que compõe o regulamento da profissão (Lei n° 8.662,
de 7 de junho de 1993), garantindo-os.

O Assistente Social poderá exercer sua atividade profissional de forma


ética e livre, participando constantemente do desenvolvimento, elaboração e
gestão de políticas sociais.

Também é garantido o sigilo profissional e a dignidade do Assistente


Social, ou seja, não é permitido que haja violação tanto do local de trabalho
quanto dos arquivos e documentos provenientes da prática profissional, além da
segurança à honra profissional do Assistente Social.

Todo Assistente Social deve ter como premissa fundamental o


constante aprimoramento técnico operativo. Buscando sempre novas formas de
melhoramento de sua prática profissional.

Somos corresponsáveis pela divulgação direta dos assuntos


correlacionados à nossa prática, ou seja, devemos fazer declarações públicas de
matérias pertinentes ao interesse da sociedade.

Finalizando, podemos expor que todo Assistente Social possui plena


autonomia e liberdade na execução de sua prática profissional, não sendo obrigado
ou coagido a fazer algum serviço que não seja pertinente à sua capacidade técnico-
operativa, cargo ou função.

3 DOS DEVERES GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL

Art. 3º - São deveres do Assistente Social:

a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e


responsabilidade, observando a legislação em vigor;

b) utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da


profissão;

c) abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a


censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos,
denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes;

d) participar de programas de socorro à população em situação de calamidade


pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades.

FONTE: Brasil (2011)

158
TÓPICO 2 | DOS DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL

Como exposto no Artigo 3 do Código de Ética do Assistente Social, o


Assistente Social deve realizar sua prática profissional com eficiência, eficácia e
responsabilidade, mas sempre norteado pelas normas e princípios ético-morais.

Para atuação da prática profissional, todo Assistente Social deve se registrar


no Conselho Regional do Serviço Social (CRESS) de sua região de atuação, para,
assim, se legitimar enquanto profissional.

Todo Assistente Social deve se abster da prática profissional que seja


contra os princípios fundamentais de sua conduta profissional, ou seja, afastar-se e
denunciar, aos órgãos competentes, as ações que cerceiam os direitos de liberdade,
democracia, cidadania, igualdade, direitos humanos, equidade e justiça social.

Devemos sempre estar prontos e aptos a participar ativamente de


programas e projetos de socorro emergencial à sociedade que esteja em situação
de risco, calamidade pública, no intuito de atender e defender os interesses e as
necessidades da comunidade.

4 O QUE O ASSISTENTE SOCIAL NÃO PODE FAZER


Art. 4º - É vedado ao Assistente Social:

a) transgredir qualquer preceito deste Código, bem como da Lei de


Regulamentação da Profissão;

b) praticar e ser conivente com condutas antiéticas, crimes ou contravenções


penais na prestação de serviços profissionais, com base nos princípios deste
Código, mesmo que estes sejam praticados por outros profissionais;

c) acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes deste


Código;

d) compactuar com o exercício ilegal da Profissão, inclusive nos casos de estagiários


que exerçam atribuições específicas, em substituição aos profissionais;

e) permitir ou exercer a supervisão de aluno de Serviço Social em Instituições


Públicas ou Privadas que não tenham em seu quadro Assistente Social que
realize acompanhamento direto ao aluno estagiário;

f) assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja capacitado


pessoal e tecnicamente;

g) substituir profissional que tenha sido exonerado por defender os princípios


da ética profissional, enquanto perdurar o motivo da exoneração, demissão
ou transferência;

h) pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam


sendo exercidos por colega;

159
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

i) adulterar resultados e fazer declarações falaciosas sobre situações ou


estudos de que tome conhecimento;

j) assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros,


mesmo que executados sob sua orientação.
FONTE: Brasil (2011)

Conforme o Artigo 4 do Código de Ética do Assistente Social, observou-se que


o Assistente Social possui algumas atribuições que não podem ser exercidas, como:

 não levar a sério ou não respeitar o que prediz o Código de Ética da profissão e seu
Regulamento;

 não ter posturas antiéticas no seu exercício profissional;

 não praticar crimes e contravenções penais, na realização da prática profissional;

 nunca aceitar ou praticar ações impostas, muitas vezes, pelas organizações,


que infrinjam as diretrizes do Código de Ética;

 nunca condescender ou aceitar práticas profissionais que sejam ilegais, ou seja,


contra os princípios legais da profissão;

 nunca devemos assumir responsabilidades de coisas e ações que não estejam


norteadas por nossas capacidades técnicas operativas, ou seja, só devemos
exercer as atividades das quais possuímos conhecimento técnico.

DICAS

– Para um aprofundamento destes temas, sugiro que você leia os seguintes


livros:

SOUZA, Herbert. Ética e


cidadania. São Paulo: Moderna,
2000.

GALLO, Silvio. Ética e cidadania:


caminhos da filosofia. Papirus,
2002.

160
RESUMO DO TÓPICO 2
Observamos que o Código de Ética do Assistente Social prediz como se
devem processar, eticamente, as relações diretas com usuários, principalmente
no que se refere aos direitos e deveres gerais do Assistente Social. Portanto,
neste tópico abordamos que:

 Os direitos gerais do Assistente Social predizem todas as atribuições e


prerrogativas que compõe o regulamento da profissão, garantindo-os.

 O Assistente Social poderá exercer sua atividade profissional de forma ética e livre.

 É garantido o sigilo profissional e a dignidade do Assistente Social.

 Todo Assistente Social deve ter, como premissa fundamental, o constante


aprimoramento técnico operativo.

 Devemos fazer declarações públicas de matérias pertinentes ao interesse da


sociedade.

 Todo Assistente Social possui plena autonomia e liberdade na execução de sua


prática profissional, não sendo obrigado ou coagido a fazer algum serviço que
não seja pertinente à sua capacidade técnico-operativa, cargo ou função.

 O Assistente Social deve realizar sua prática profissional com eficiência, eficácia
e responsabilidade.

 Todo Assistente Social deve se registrar no Conselho Regional do Serviço


Social (CRESS).

 Todo Assistente Social deve se abster da prática profissional que seja contra os
princípios fundamentais de sua conduta profissional.

 Devemos sempre estar prontos e aptos a participar ativamente de programas


e projetos de socorro emergencial à sociedade que esteja em situação de risco e
calamidade pública.

 O Assistente Social possui algumas atribuições que não podem ser exercidas,
como:

 não levar a sério ou não respeitar o que prediz o Código de Ética da profissão
e seu Regulamento;

 não ter posturas antiéticas no seu exercício profissional;

não praticar crimes e contravenções penais, na realização da prática profissional;


 nunca aceitar ou praticar ações que infrinjam as diretrizes do Código de Ética;

 nunca aceitar práticas profissionais ilegais;

 só devemos exercer as atividades que possuímos conhecimento técnico.


161
AUTOATIVIDADE

Escreva o que você compreendeu a respeito dos direitos e deveres gerais dos
Assistentes Sociais.

162
UNIDADE 3
TÓPICO 3

O CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL BRASILEIRO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, somente apresentaremos, na íntegra, o Código de Ética do
Assistente Social.

Mas, primeiramente, apresentamos uma síntese histórica do seu


surgimento e adaptações.

O Código de Ética profissional dos assistentes sociais brasileiros já


passou por diversas edições e atualizações. Agora, prezados acadêmicos, lhes
apresentarei uma síntese de casa fase.

Primeira edição: Em setembro de 1947 foi aprovado em São Paulo pela


Assembleia Geral da Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS), o
primeiro Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais no Brasil – que foi
um marco histórico para a categoria profissional do Serviço Social. Apresentava
somente:

• os deveres fundamentais do assistente social;

• os deveres para com o beneficiário do serviço social;

• os deveres para com os colegas;

• os deveres para com a organização onde trabalha.

Segunda edição: aprovada em 8 de maio de 1965 pelo Conselho Federal


de Assistentes Sociais (CFAS), em que baseado nos direitos fundamentais do
homem e as exigências do bem comum da sociedade brasileira institui um novo
código de ética, que apresentava:

• a profissão;

• os deveres fundamentais do assistente social;

• o segredo profissional;

• os deveres para com as pessoas, grupos e comunidades atingidos pelo serviço


social;

163
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

• os deveres para com os serviços empregadores;

• os deveres para com os colegas;

• as associações de classe;

• o trabalho em equipe;

• a responsabilidade e da preservação da dignidade profissional;

• a aplicação e observância do código.

Terceira edição: aprovado em 30 de janeiro de 1975, pelo Conselho


Federal de Assistentes Sociais (CFAS), em que nos traz toda uma introdução ao
Código de Ética Profissional do Assistente Social. Esta apresenta os princípios
e valores fundamentais para a atuação profissional que são: autodeterminação,
participação, subsidiariedade, bem comum e justiça social. Em que apresentou:

• os direitos e deveres do assistente social –


em que se trabalharam os direitos com
relação ao exercício e status profissional e os deveres no que tange as questões
do exercício profissional, nas relações com os clientes, colegas, entidades de
classe, instituições, comunidade, justiça, à publicação de trabalhos científicos,
além de apontarem o que o assistente social não poderia fazer.

• o segredo profissional;

• as medidas disciplinares.

UNI

Segundo Paiva et. al (APUD BONETTI ET AL, 2010, p. 159-160), “desde a primeira
formulação do nosso Código de ética Profissional, em 1947, até a reelaboração de 1975,
permaneceram vigentes as mesmas concepções filosóficas assentadas no neotomismo,
a partir das quais consagrávamos valores abstratos e metafísicos como “BEM COMUM”
e “PESSOA HUMANA”. E somente com a reformulação de 1986 essas concepções foram
superadas, com a explicitação de PRINCÍPIOS ÉTICOS HISTORICAMENTE SITUADOS:
foram negados conceitos abstratos e indicada a urgência de objetivar os sujeitos históricos
para apreender suas necessidades concretas.”

Quarta edição: aprovado em 9 de maio de 1986, pelo Conselho Federal


de Assistentes Sociais (CFAS), que também nos traz uma breve introdução e nos
apresenta:

164
TÓPICO 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL BRASILEIRO

• os direitos e das responsabilidades gerais do assistente social;


• o sigilo profissional;
• as relações profissionais (com: usuários, instituições, entre profissionais
do serviço social, entidades da categoria e demais organizações da classe
trabalhadora, justiça;
• a observância, aplicação e cumprimento do código de ética.

Quinta edição: foi feita uma revisão do código de ética em 1991 no


Seminário Nacional de ética.

Sexta edição: também o código de ética foi revisto em 1992, pelos encontros
estaduais, além da 7ª CBAS, XII ENESS, XX Encontro nacional CFESS/CRESS.

Sétima edição: resolução CFESS N.º 273/93, de 13 março 1993, que Institui
o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais e dá outras providências,
promulgado pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). Que primeiramente
apresenta os princípios fundamentais da profissão e depois:

• os direitos e das responsabilidades gerais do assistente social;


• as relações profissionais, com o usuário, instituições empregadoras e outras,
assistentes sociais e outros profissionais, entidades da categoria e demais
organizações da sociedade civil;
• o sigilo profissional.

Oitava edição: em 1996 o Código de Ética foi revisitado e ampliado.


Buscou-se enriquecê-lo, incluindo as características da Resolução do CFESS nº
333/96, que incidiu sobre o Art. 25 do Código de Ética, de acordo com a deliberação
do XXV Encontro Nacional CFESS/CRESS (Setembro de 1996 - Fortaleza/CE).

UNI

Nesta nova edição tivemos o intuito também de apresentar uma nova


programação visual deste instrumento normativo, que possa propiciar uma percepção mais
completa e imediata dos valiosos conteúdos que emanam dos artigos, alíneas e incisos aqui
reunidos.
Assim sendo, a concepção da capa não é, em absoluto, aleatória. A figura lendária de Arthur
Bispo do Rosário significa a homenagem do CFESS a cada usuário das políticas e serviços
sociais, em nome do respeito, qualidade e responsabilidade nos termos dos princípios
firmados por este Código que nossa ética profissional pretende assegurar. A imagem de Bispo
procura ainda reconhecer e enaltecer os esforços dos vários segmentos sociais, políticos
e profissionais que se mobilizam pelo compromisso ético com a liberdade, equidade e
democracia.
Fonte: Conselho Federal de Serviço Social – CFESS Gestão 1996/99.

165
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

Nona edição: em 2011, o Código de ética sofreu nova modificação, pois:

A 9ª edição do Código de Ética do/a Assistente Social [vem]


Incorporando as alterações discutidas e aprovadas no 39º Encontro Nacional
do Conjunto CFESS/CRESS, realizado em setembro de 2010 em Florianópolis
(SC), a nova edição do documento foi publicada pelo CFESS nesta sexta-feira,
11 de fevereiro de 2011.

[...] As alterações no Código de Ética se adéquam às correções formais e


de conteúdo, conforme consignadas na Resolução CFESS 594, de 21 de janeiro
de 2011, publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 24 de janeiro deste ano.

"As correções formais dizem respeito à incorporação das novas regras


ortográficas da língua portuguesa, assim como à numeração sequencial dos
princípios fundamentais do Código e, ainda, ao reconhecimento da linguagem
de gênero, adotando-se em todo o texto a forma masculina e feminina
simultaneamente", [...]

Além disso, houve mudanças de nomenclatura, com a substituição do


termo "opção sexual" por "orientação sexual", incluindo ainda no princípio XI
a "identidade de gênero", quando se refere ao exercício do serviço social sem
ser discriminado/a nem discriminar por essa condição. Ainda, a 9ª edição do
Código, conforme consta da Apresentação à Edição de 2011 do instrumento
normativo, traz alterações que "reafirmam princípios e valores do Projeto Ético-
Político e incorporam avanços nas discussões acerca dos direitos da população
LGBT pela livre orientação e expressão sexual".

(Código de Ética do/a Assistente Social. 9ª Edição Revista e


Atualizada, 2011).

2 O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS/DAS ASSISTENTES


SOCIAIS
Prezados(as) acadêmicos(as)! Segue na íntegra a 9ª EDIÇÃO REVISTA E
ATUALIZADA do Código de Ética profissional do/da assistente social, publicada
em janeiro de 2011. Que foi Aprovado em 13 de março de 1993, mas segue com as
alterações introduzidas pelas Resoluções CFESS nº290/94, 293/94, 333/96 e 594/11.
Além do mais, o texto vem com adequação de LINGUAGEM DE GÊNERO,
conforme deliberação do 39º Encontro Nacional CFESS/CRESS.

166
TÓPICO 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL BRASILEIRO

CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL


RESOLUÇÃO CFESS Nº 273, DE 13 DE MARÇO DE 1993

Princípios Fundamentais

I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas


políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos
indivíduos sociais;

II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do


autoritarismo;

III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de


toda a sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos
das classes trabalhadoras;

IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da


participação política e da riqueza socialmente produzida;

V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure


universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e
políticas sociais, bem como sua gestão democrática;

VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o


respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados
e à discussão das diferenças;

VII. Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais


democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o
constante aprimoramento intelectual;

VIII. Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção


de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia
e gênero;

IX. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que


partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores;

X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com


aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;

XI. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,
opção sexual, idade e condição física.

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TÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 1º - Compete ao Conselho Federal de Serviço Social:

a) zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando


as ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais,
instituições e organizações na área do Serviço Social;

b) introduzir alteração neste Código, através de uma ampla participação da


categoria, num processo desenvolvido em ação conjunta com os Conselhos
Regionais;

c) como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na


observância deste Código e nos casos omissos.

Parágrafo único – Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas


respectivas jurisdições, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste
Código, e funcionar como órgão julgador de primeira instância.

TÍTULO II – DOS DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES


GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL

Artigo 2º - Constituem direitos do Assistente Social

a) garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de


Regulamentação da Profissão, e dos princípios firmados neste Código;

b) livre exercício das atividades inerentes à Profissão;

c) participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na


formulação e implementação de programas sociais;

d) inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação,


garantindo o sigilo profissional;

e) desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;

f) aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos


princípios deste Código;

g) pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se


tratar de assuntos de interesse da população;

h) ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a prestar


serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou
funções;

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i) liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos


de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.

Artigo 3º - São deveres do Assistente Social:

a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade,


observando a legislação em vigor;

b) utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da


Profissão;

c) abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a


censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos,
denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes;

d) participar de programas de socorro à população em situação de calamidade


pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades.

Artigo 4º - É vedado ao Assistente Social:

a) transgredir qualquer preceito deste Código, bem como da Lei de


Regulamentação da Profissão;

b) praticar e ser conivente com condutas antiéticas, crimes ou contravenções


penais na prestação de serviços profissionais, com base nos princípios deste
Código, mesmo que estes sejam praticados por outros profissionais;

c) acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes deste


Código;

d) compactuar com o exercício ilegal da Profissão, inclusive nos casos de


estagiários que exerçam atribuições específicas, em substituição aos
profissionais;

e) permitir ou exercer a supervisão de aluno de Serviço Social em Instituições


Públicas ou Privadas, que não tenham em seu quadro Assistente Social que
realize acompanhamento direto ao aluno estagiário;

f) assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja capacitado


pessoal e tecnicamente;

g) substituir profissional que tenha sido exonerado por defender os princípios


da ética profissional, enquanto pendurar o motivo da exoneração, demissão
ou transferência;

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h) pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam sendo
exercidos por colega;

i) adulterar resultados ou fazer declarações falaciosas sobre situações ou


estudos de que tome conhecimento;

j) assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros, mesmo


que executados sob sua orientação.

TÍTULO III – DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS

CAPÍTULO I – Das relações com os Usuários

Artigo 5º - São deveres do Assistente Social nas suas relações com os


usuários:

a) contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária


nas decisões institucionais;

b) garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e


consequências das situações apresentadas, respeitando democraticamente as
decisões dos usuários, mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças
individuais dos profissionais resguardados os princípios deste Código;

c) democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço


institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos
usuários;

d) devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no


sentido de que estes possam usá-las para o fortalecimento dos seus interesses;

e) informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro


audiovisual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos
dados obtidos;

f) fornecer à população usuária, quando solicitado, informações concernentes ao


trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas conclusões, resguardado o
sigilo profissional;

g) contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar


a relação com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços
prestados;

h) esclarecer aos usuários, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a amplitude


de sua atuação profissional;

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Artigo 6º - É vedado ao Assistente Social:

a) exercer sua autoridade de maneira a limitar ou cercear o direito do usuário


de participar e decidir livremente sobre seus interesses;

b) aproveitar-se de situações decorrente da relação Assistente Social-usuário,


para obter vantagens pessoais ou para terceiros;

c) bloquear o acesso dos usuários aos serviços oferecidos pelas instituições,


através de atitudes que venham coagir e/ou desrespeitar aqueles que buscam o
atendimento de seus direitos.

CAPÍTULO II – Das Relações com as Instituições Empregadoras e


Outras

Artigo 7º - Constituem direitos do Assistente Social:

a) dispor de condições de trabalho condignas, sejam em entidade pública ou


privada, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional;

b) Ter livre acesso à população usuária;

c) Ter acesso a informações institucionais que se relacionem aos programas


e políticas sociais, e sejam necessárias ao pleno exercício das atribuições
profissionais;

d) integrar comissões interdisciplinares de ética nos locais de trabalho do


profissional, tanto no que se refere à avaliação da conduta profissional, como
em relação às decisões quanto às políticas institucionais.

Artigo 8º - São deveres do Assistente Social:

a) programar, administrar, executar e repassar os serviços sociais assegurados


institucionalmente;

b) denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas da instituição em que


trabalha, quando os mesmos estiverem ferindo os princípios e diretrizes desse
Código, mobilizando, inclusive, o Conselho Regional, caso se faça necessário;

c) contribuir para a alteração da correlação de forças institucionais, apoiando


as legítimas demandas de interesse da população usuária;

d) empenhar-se na viabilização dos direitos sociais dos usuários, através dos


programas e políticas sociais;

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e) empregar com transparência as verbas sob a sua responsabilidade, de acordo


com os interesses e necessidades coletivas dos usuários.

Artigo 9º - É vedado ao Assistente Social:

a) emprestar seu nome e registro profissional a firmas, organizações ou


empresas para simulação do exercício efetivo do Serviço Social;

b) usar ou permitir o tráfico de influência para obtenção de emprego,


desrespeitando concurso ou processos seletivos;

c) utilizar recursos institucionais (pessoal e/ou financeiro) para fins partidários,


eleitorais e clientelistas.

CAPÍTULO III – Das Relações com Assistentes Sociais e Outros


Profissionais

Artigo 10 - São deveres do Assistente Social:

a) ser solidário com outros profissionais, sem, todavia, eximir-se de denunciar


atos que contrariem os postulados éticos contidos neste Código;

b) repassar ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do


trabalho;

c) mobilizar sua autoridade funcional, ao ocupar uma chefia, para a liberação


de carga horária de subordinado, para fim de estudos e pesquisas que visem
ao aprimoramento profissional, bem como de representação ou delegação
de entidade de organização da categoria e outras, dando igual oportunidade
a todos;

d) incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar;

e) respeitar as normas e princípios éticos das outras profissões;

f) ao realizar crítica pública a colega e outros profissionais, fazê-lo sempre


de maneira objetiva, construtiva e comprovável, assumindo sua inteira
responsabilidade.

Artigo 11 - É vedado ao Assistente Social:

a) intervir na prestação de serviços que estejam sendo efetuados por outro


profissional, salvo a pedido desse profissional; em caso de urgência, seguido
da imediata comunicação ao profissional; ou quando se tratar de trabalho
multiprofissional e a intervenção fizer parte da metodologia adotada;

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b) prevalecer-se de cargo de chefia para atos discriminatórios e de abuso de


autoridade;

c) ser conveniente com falhas éticas de acordo com os princípios deste Código
e com erros técnicos praticados por Assistente Social e qualquer outro
profissional;

d) prejudicar deliberadamente o trabalho e a reputação de outro profissional;

CAPÍTULO IV – Das Relações com Entidades da Categoria e demais


Organizações da Sociedade Civil

Artigo 12 - Constituem direitos do Assistente Social:

a) participar em sociedades científicas e em entidades representativas e de


organização da categoria que tenham por finalidade, respectivamente, a
produção de conhecimento, a defesa e a fiscalização do exercício profissional;

b) apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizações populares


vinculados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos
de cidadania.

Artigo 13 - São deveres do Assistente Social:

a) denunciar ao Conselho Regional as instituições públicas ou privadas, onde


as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar os usuários
ou profissionais;

b) denunciar, no exercício da profissão, às entidades de organização da categoria,


às autoridades e aos órgãos competentes, casos de violação da Lei e dos
Direitos Humanos, quanto a: corrupção, maus-tratos, torturas, ausência de
condições mínimas de sobrevivência, discriminação, preconceito, abuso de
autoridade individual e institucional, qualquer forma de agressão ou falta de
respeito à integridade física, social e mental do cidadão;

c) respeitar a autonomia dos movimentos populares e das organizações das


classes trabalhadoras.

Artigo 14 - É vedado ao Assistente Social valer-se de posição ocupada


na direção de entidade da categoria para obter vantagens pessoais, diretamente
ou através de terceiros.

CAPÍTULO V – Do Sigilo Profissional

Artigo 15 - Constitui direito do Assistente Social manter o sigilo


profissional.

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Artigo 16 - O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o


Assistente Social tome conhecimento, como decorrência do exercício da
atividade profissional.

Parágrafo único - Em trabalho multidisciplinar só poderão ser prestadas


informações dentro dos limites do estritamente necessário.

Artigo 17 - É vedado ao Assistente Social revelar sigilo profissional.

Artigo 18 - A quebra do sigilo só é admissível, quando se tratarem


de situações cuja gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer
prejuízo aos interesses do usuário, de terceiros e da coletividade.

Parágrafo único – A revelação será feita estritamente o necessário, quer


em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele
devam tomar conhecimento.

CAPÍTULO VI – Das Relações do Assistente Social com a Justiça

Artigo 19 - São deveres do Assistente Social:

a) apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou


testemunha, as conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o
âmbito da competência profissional e violar os princípios éticos contidos
neste Código.

b) comparecer perante a autoridade competente, quando intimado a prestar


depoimento, para declarar que está obrigado a guardar sigilo profissional
nos termos deste Código e da Legislação em vigor.

Artigo 20 - É vedado ao Assistente Social:

a) depor como testemunha sobre situação sigilosa do usuário de que tenha


conhecimento no exercício profissional, mesmo quando autorizado;

b) aceitar nomeação como perito e/ou atuar em perícia, quando a situação não se
caracterizar como área de sua competência ou de sua atribuição profissional,
ou quando infringir os dispositivos legais relacionados a impedimentos ou
suspeição.

TÍTULO IV – DA OBSERVÂNCIA, PENALIDADES, APLICAÇÃO


E CUMPRIMENTO DESTE CÓDIGO

Artigo 21 - São deveres do Assistente Social:

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TÓPICO 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL BRASILEIRO

a) cumprir e fazer cumprir este Código;

b) denunciar ao Conselho Regional de Serviço Social, através de comunicação


fundamentada, qualquer forma de exercício irregular da Profissão, infrações
a princípios e diretrizes deste Código e da legislação profissional;

c) informar, esclarecer e orientar os estudantes, na docência ou supervisão,


quanto aos princípios e normas contidas neste Código.

Artigo 22 - Constituem infrações disciplinares:

a) exercer a Profissão quando impedido de fazê-lo ou facilitar, por qualquer


meio, o seu exercício aos não inscritos ou impedidos;

b) não cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou


autoridade dos Conselhos, em matéria destes, depois de regularmente
notificado;

c) deixar de pagar, regularmente, as anuidades e contribuições devidas ao


Conselho Regional de Serviço Social a que esteja obrigado;

d) participar de instituição que, tendo por objeto o Serviço Social, não esteja
inscrita no Conselho Regional;

e) fazer ou apresentar, declaração, documento falso ou adulterado, perante o


Conselho Regional ou Federal.

Das Penalidades

Artigo 23 - As infrações a este Código acarretarão penalidades, desde a


multa a cassação do exercício profissional, na forma dos dispositivos legais e/
ou regimentais.

Artigo 24 - As penalidades aplicáveis são as seguintes:

a) multa;

b) advertência reservada;

c) advertência pública;

d) suspensão do exercício profissional;

e) cassação do registro profissional.

Parágrafo único - Serão eliminados dos quadros dos CRESS, aqueles


que fizerem falsa prova dos requisitos exigidos nos Conselhos.

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Artigo 25 - A pena de suspensão acarreta ao Assistente Social a interdição


do exercício profissional em todo o território nacional, pelo prazo de 30 (trinta)
dias a 2 (dois) anos.

Parágrafo único - A suspensão por falta de pagamento de anuidades e


taxas só cessará com a satisfação do débito, podendo ser cancelada a inscrição
profissional, após decorridos três anos da suspensão.

Artigo 26 - Serão considerados na aplicação das penas os antecedentes


profissionais do infrator e as circunstâncias em que ocorreu a infração.

Artigo 27 - Salvo nos casos de gravidade manifesta, que exigem


aplicação de penalidades mais rigorosas, a imposição das penas obedecerá à
gradação estabelecida pelo artigo 24.

Artigo 28 - Para efeito da fixação da pena, serão consideradas


especialmente graves as violações que digam respeito às seguintes disposições:

 Artigo 3º – alínea c
 Artigo 4º – alíneas a, b, c, g, i, j
 Artigo 5º – alíneas b, f
 Artigo 6º – alíneas a, b, c
 Artigo 8º – alíneas b, e
 Artigo 9º – alíneas a, b, c
 Artigo 11 – alíneas b, c, d
 Artigo 13 – alínea b
 Artigo 14
 Artigo 16
 Artigo 17
 Parágrafo único do artigo 18
 Artigo 19 – alínea b
 Artigo 20 – alíneas a, b

Parágrafo único - As demais violações não previstas no caput, uma vez


consideradas graves, autorizarão aplicação de penalidades mais severas, em
conformidade com o artigo 26.

Artigo 29 - Advertência reservada, ressalvada a hipótese no artigo 32,


será confidencial, sendo que a advertência pública, a suspensão e a cassação do
exercício profissional serão efetivadas através de publicação em Diário Oficial
e em outro órgão da imprensa, e afixado na sede do Conselho Regional onde
estiver inserido o denunciado e na Delegacia Seccional do CRESS da jurisdição
de seu domicílio.

Artigo 30 - Cumpre ao Conselho Regional a execução das decisões


proferidas nos processos disciplinares.

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TÓPICO 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL BRASILEIRO

Artigo 31 - Da imposição de qualquer penalidade caberá recurso com


efeito suspensivo ao CFESS .

Artigo 32 - A punibilidade do Assistente Social, por falta sujeita ao


processo ético e disciplinar, prescreve em 5 (cinco) anos, contados da data da
verificação do fato respectivo.

Artigo 33º - Na execução da pena de advertência reservada, não sendo


encontrado o penalizado ou se este, após duas convocações, não comparecer
no prazo fixado para receber a penalidade, será ela tornada pública.

§ 1º - A pena de multa, ainda que o penalizado compareça para tomar


conhecimento da decisão, será publicada nos termos do artigo 29, deste Código,
se não for devidamente quitada no prazo de 30 (trinta) dias, sem prejuízo da
cobrança judicial.

§ 2º - Em caso de cassação do exercício profissional, além dos editais e


das comunicações feitas às autoridades competentes interessadas no assunto,
proceder-se-á a apreensão da Carteira e Cédula de Identidade Profissional do
infrator.

Artigo 34 - A pena de multa variará entre o mínimo correspondente ao


valor de uma anuidade e o máximo do seu décuplo.

Artigo 35 - As dúvidas na observância deste código e os casos omissos


serão resolvidos pelos Conselhos Regionais do Serviço Social ad referendum do
Conselho Federal de Serviço Social, a quem cabe firmar jurisprudência.

Artigo 36 - O presente Código entrará em vigor na data de sua publicação


no Diário Oficial da União, revogando-se as disposições em contrário.

Brasília, 13 de março de 1993.

MARLISE VINAGRE SILVA


Presidente do CFESS
FONTE: Publicada no DOU, Seção 1, de 8.6.1993, p. 7.613-7.614. Disponível em: <http: // www.
cfess.org.br >. Acesso em: 26 mar. 2009.

Publicada no DOU, Seção 1, n. 60, de 30.3.1993, p. 4.004-4.007 e alterada pela Resolução


CFESS, n. 290, publicada no DOU, Seção 1, de 11.2.1994. Disponível em: <http:// www.cfess.org.
br >. Acesso em: 26 mar. 2009.

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UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

DICAS

Para um aprofundamento destes temas, sugiro que você leia os


seguintes livros:

Código de Ética do/a Assistente Social. 9ª Edição Revista e


Atualizada, 2011. - Aprovado em 13 de março de 1993 - Com as
alterações introduzidas pelas Resoluções CFESS nº 290/94, 293/94,
333/96 e 594/11 - podendo ser baixado do site: <http://www.cfess.
org.br/arquivos/CEP2011_ CFESS.pdf>.

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RESUMO DO TÓPICO 3
O Código de Ética Profissional do Assistente Social está dividido nos
seguintes capítulos:

 Introdução.

 Princípios Fundamentais.

 Título I - Disposições Gerais.

 Título II - Dos Direitos e das Responsabilidades Gerais do Assistente Social.

 Título III - Das Relações Profissionais.

 Capítulo I - Das Relações com os Usuários.

 Capítulo II - Das Relações com as Instituições Empregadoras e Outras.

 Capítulo III - Das Relações com Assistentes Sociais e Outros Profissionais.

 Capítulo IV - Das Relações com Entidades da Categoria e Demais Organizações


da Sociedade Civil.

 Capítulo V - Do Sigilo Profissional.

 Capítulo VI - Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento.

 Título IV - Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento.

179
AUTOATIVIDADE

Escreva um resumo do presente Código de Ética Profissional do Assistente


Social, apresentando somente os principais tópicos.

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UNIDADE 3
TÓPICO 4

OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, apresentaremos os diversos Conselhos de fiscalização do
Serviço Social.

2 CFESS – CONSELHO FEDERAL DO SERVIÇO SOCIAL


O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) pode ser compreendido
como um órgão regulador da profissão, no qual fiscaliza a práxis profissional dos
Assistentes Sociais em todo o território nacional, devidamente regulamentado
pela Lei nº 8662/93.

O Conselho Federal do Serviço Social (CFESS) vem desenvolvendo suas


atividades em prol da regulamentação e garantia dos direitos e deveres da
profissão do Serviço Social.

A estrutura de atuação do Conselho Federal do Serviço Social é a seguinte:

O Brasil tem hoje aproximadamente 80.000 profissionais que atuam,


predominantemente, na formulação, planejamento e execução de políticas
públicas como educação, saúde, previdência, assistência social, habitação,
transporte, entre outras, movidos/as pela perspectiva de defesa e ampliação dos
direitos da população brasileira. [...]

[...] o Conjunto CFESS/CRESS reafirma e fortalece, em sua programática,


o debate e ações estratégicas em torno da valorização da ética, da socialização
da riqueza e da defesa dos direitos, na perspectiva de reconhecer, analisar e se
contrapor às formas de mercantilização de todas as dimensões da vida social.

Nosso compromisso com o projeto ético-político profissional, expresso nos


valores e princípios estabelecidos no Código de Ética dos/as Assistentes Sociais, nos
mobiliza para a luta em defesa de uma cultura política com direção emancipatória
e respeito à diversidade, além de nos sensibilizar, em nosso cotidiano profissional,
para conhecer as reais condições de vida da população e buscar formas de intervir
contra todos os processos de degradação da vida humana.

FONTE: Brasil (2009b, p. 1)

181
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

As frentes de atuação do Conselho Federal do Serviço Social (CFESS) são:

 Comissão de Orientação e Fiscalização Profissional – COFI:

Enfatiza e normatiza ações de orientação e fiscalização do exercício


profissional, na perspectiva de valorizar, defender, garantir e ampliar
os espaços de atuação profissional, e propiciar condições adequadas
de trabalho e qualidade de atendimento e defesa dos direitos da
população. Acompanha e formula estratégia para desenvolvimento
e implementação da Política Nacional de Fiscalização do Conjunto
CFESS/CRESS, atuando como instância de orientação e apoio aos
CRESS e Seccionais, de modo a unificar procedimentos relativos à
fiscalização profissional. Para tanto, observa as deliberações aprovadas
no Encontro Nacional CFESS/CRESS. (BRASIL, 2009b, p. 1).

 Comissão de Formação Profissional:

Atua na perspectiva de fortalecer a articulação entre a formação e o


exercício profissional, estimulando a criação de mecanismos para
qualificação profissional como requisito para valorização da profissão.
Defende o projeto de formação profissional, referenciado nas
diretrizes curriculares aprovadas pela ABEPSS e estabelece articulação
com ABEPSS e ENESSO para defesa da formação profissional com
qualidade. (BRASIL, 2009b, p. 1).

 Comissão de Ética e Direitos Humanos :

Pauta-se na análise crítica e estratégica dos direitos humanos


como mediação para a defesa de uma cultura política com direção
emancipatória e respeito à diversidade, com a perspectiva de conhecer
as reais condições de vida da população e buscar formas de intervir
na defesa de direitos e contra todos os processos de degradação da
vida humana. Atua como instância recursal nos julgamentos éticos e
na capacitação de agentes multiplicadores, por meio do curso Ética
em Movimento, oferecido anualmente aos representantes de todos os
CRESS e Seccionais. Atua também na divulgação do código de ética e
na defesa dos princípios contidos no projeto ético-político profissional,
articulando-se com movimentos em defesa dos direitos humanos.
(BRASIL, 2009b, p. 1).

 Comissão de Seguridade Social:

Defende a intervenção qualificada e crítica dos assistentes como


trabalhadores que atuam em todas as políticas sociais e em diversos
campos sócio-ocupacionais, formulando respostas às múltiplas
expressões da questão social que constituem objeto de trabalho
profissional. Reafirma a postura contundente de defesa dos direitos
e de políticas sociais públicas universais, com ênfase na concepção de

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TÓPICO 4 | OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

um amplo padrão de seguridade social, universal, redistributivo e de


responsabilidade estatal e fortalecimento das políticas de trabalho e
emprego, habitação e educação, na perspectiva de estabelecimento
de um padrão universal de direitos e políticas públicas. Por meio da
representação de conselheiros/as em Fóruns, Conselhos de Direitos
e de Políticas defende a socialização da política e participação
democrática dos assistentes sociais nos espaços de controle social
democrático. (BRASIL, 2009b, p. 1).

 Comissão de Relações Internacionais:

Objetiva fortalecer o Serviço Social para além das fronteiras nacionais,


e dar visibilidade ao projeto Ético-Político e à direção social da
profissão. Articula o Serviço Social na América Latina e Caribe e se
dedica a debater e formular parâmetros éticos comuns no âmbito dos
países do Mercosul, por meio da participação no Comitê Mercosul de
Trabalhadores Sociais. Veicula os princípios e valores do Projeto Ético-
Político Profissional no mundo por meio de participação na direção
da Federação Internacional de Trabalhadores Sociais (FITS). (BRASIL,
2009b, p. 1).

 Comissão de Comunicação:
Busca criar mecanismos para engajar o CFESS na luta pela
democratização da comunicação no Brasil, em diálogo com outros
movimentos sociais, entidades e demais instâncias de trabalhadores/
as organizados/as, buscando assegurar o direito humano à
comunicação como um direito da categoria e da sociedade. Elabora
e coordena estratégias comunicativas que viabilizem e ampliem o
acesso à informação qualificada sobre as causas, pautas e lutas da
categoria, tais como campanhas e veiculação de notícias em rádios,
jornais, informativos, cartilhas, entre outros. Viabiliza edição de
livros, divulgação de eventos e assessoria de imprensa. Tem a
responsabilidade de colocar a voz dos assistentes sociais nos diversos
espaços públicos democráticos disponíveis (rádio, televisão, jornais,
revistas e entre outros). (BRASIL, 2009b, p. 1).

 Comissão Administrativo-financeira:

Acompanha as receitas devidas aos Conselhos pelas pessoas físicas


e jurídicas, propondo a adoção de medidas administrativas, legais
e estratégias políticas para que mantenham a sua capacidade de
arrecadação. Por meio de um trabalho articulado com o Conselho
Fiscal, o controle fiscal interno vem conduzindo uma política de
qualificação gerencial e aprimoramento dos mecanismos de gestão
e controle democráticos, com resultados significativos expressos no
equilíbrio fiscal do CFESS. Essa ação tem como referência fundamental
os princípios de transparência, gestão democrática, competência
técnica, compromisso político, responsabilidade, postura ética,
direção social da política e participação de todos os conselheiros nas
discussões e viabilização das ações. (BRASIL, 2009b, p. 1).

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UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

3 CRESS – CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL


O Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) pode ser compreendido
como um órgão que regula a profissão do Assistente Social, mas no âmbito
Estadual, ou seja, regional. Sendo que o mesmo está diretamente vinculado ao
CFESS – Conselho Federal do Serviço Social.

O CRESS possui como norte ou princípio fundamental: disciplinar,


orientar, fiscalizar e defender a prática profissional do Assistente Social.

No Brasil, o Conselho Regional do Serviço Social foi dividido em 25


regiões e cada região possui sua regulamentação e suas diretrizes básicas.

UNI

Os 25 Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) e as duas Seccionais de


Base Estadual (Acre e Amapá) são responsáveis pelo desenvolvimento das políticas elaboradas
e aprovadas pelo Conjunto CFESS/CRESS, de forma a estreitar, cada vez mais, a interação com
a categoria.

Maiores informações, vocês podem acessar os seguintes sites do CRESS de


sua região de atuação. Observe o seguinte quadro:

QUADRO 6 – SITES DOS CRESS

CRESS 1ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


PA
do Pará: <http://www.cress-pa.org.br>

CRESS 2ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


MA
do Maranhão: <http://www.cressma.org.br>

CRESS 3ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


CE
do Ceará: <http://www.cress-ce.org.br>

CRESS 4ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


PE
do Pernambuco: <http://www.cresspe.org.br>

184
TÓPICO 4 | OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

CRESS 5ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


BA
da Bahia: <http://www.cress-ba.org.br>

CRESS 6ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


MG
de Minas Gerais: <http://www.cress-mg.org.br>

CRESS 7ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


RJ
do Rio de Janeiro: <http://www.cressrj.org.br>

CRESS 8ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado de


DF
Brasília – Distrito Federal: <http://www.cressdf.org.br>

CRESS 9ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


SP
de São Paulo: <http://www.cress-sp.org.br>

CRESS 10ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


RS
do Rio Grande do Sul: <http://www.cressrs.org.br>

CRESS 11ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


PR
do Paraná: <http://www.cresspr.org.br>

CRESS 12ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


SC
de Santa Catarina: <http://www.cress-sc.org.br>

CRESS 13ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


PB
de Paraíba: <www.cress-pb.org.br>

CRESS 14ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


RN
de Rio Grande do Norte: <www.cressrn.org.br>

CRESS 15ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


AM
do Amazonas: <www.cress-am.org.br>

CRESS 16ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


AL
de Alagoas: <www.cress16.hpg.com.br>

CRESS 17ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


ES
do Espírito Santo: <www.cress-es.org.br>

CRESS 18ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


SE
de Sergipe: <www.cress-se.org.br>

185
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

CRESS 19ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


GO
de Goiás: <http://www.cressgo.org.br>

CRESS 20ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


MT
do Mato Grosso: <www.cressmt.org.br>

CRESS 21ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


MS
do Mato Grosso do Sul: <www.cress-ms.org.br/>

CRESS 22ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


PI
do Piauí: <www.cresspi.org.br/>

CRESS 23ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


RO
de Rondônia: <www.cress-ro.org.br>

CRESS 24ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


CRESS 24ª Região AP
de Amapá: <www.cressap.org.br>

CRESS 25ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


AP
do Tocantins: <www.cressto.org.br>

FONTE: Adaptado do site: <http://www.cfess.org.br/cfess_diretorias.php>. Acesso em: 17 fev.


2012.

4 OUTRAS ENTIDADES CORRELACIONADAS AO SERVIÇO


SOCIAL
ENTIDADES DE SERVIÇO SOCIAL:

 Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS): <http://


www.abepss.org.br>.

 Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO): <http://www.


enesso.net>.

 Fórum Nacional de Assistência Social (FNAS): <fnas.forum@gmail.com>.

186
TÓPICO 4 | OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

HISTÓRICO DO CFESS E CRESS

ANTECEDENTES: A ORIGEM SOB CONTROLE ESTATAL

A criação e funcionamento dos Conselhos de fiscalização das profissões no


Brasil têm origem nos anos 1950, quando o Estado regulamenta profissões e ofícios
considerados liberais. Nesse patamar legal, os Conselhos têm caráter basicamente
corporativo, com função controladora e burocrática. São entidades sem autonomia,
criadas para exercerem o controle político do Estado sobre os profissionais, num
contexto de forte regulação estatal sobre o exercício do trabalho.

O Serviço Social foi uma das primeiras profissões da área social a ter
aprovada sua lei de regulamentação profissional, a Lei nº 3252 de 27 de agosto de
1957, posteriormente regulamentada pelo Decreto nº 994 de 15 de maio de 19621.
Foi esse decreto que determinou, em seu artigo 6º, que a disciplina e fiscalização
do exercício profissional caberiam ao Conselho Federal de Assistentes Sociais
(CFAS) e aos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais (CRAS).

Esse instrumento legal marca, assim, a criação do então CFAS e dos CRAS,
hoje denominados CFESS e CRESS2. Para efeito da constituição e da jurisdição
dos CRESS, o território nacional foi dividido inicialmente em 10 Regiões,
agregando em cada uma delas mais de um estado e/ ou território (exceto São
Paulo), que progressivamente se desmembraram e chegaram em 2008 a 25 CRESS
e 2 Seccionais de base estadual.

Os Conselhos profissionais nos seus primórdios se constituíram como


entidades autoritárias, que não primavam pela aproximação com os profissionais
da categoria respectiva, nem tampouco se constituíam num espaço coletivo de
interlocução. A fiscalização se restringia à exigência da inscrição do profissional
e pagamento do tributo devido. Tais características também marcaram a origem
dos Conselhos no âmbito do Serviço Social.

OProcessoderenovaçãodoCFESSedeseusinstrumentosnormativos:OCódigo
de Ética, a Lei de Regulamentação Profissional e a Política Nacional de Fiscalização.
A concepção conservadora que caracterizou a entidade nas primeiras décadas de sua
existência era também o reflexo da perspectiva vigente na profissão, que se orientava
por pressupostos acríticos e despolitizados face às relações econômico-sociais. A
concepção conservadora da profissão também estava presente nos Códigos de Ética
de 1965 e 1975: “Os pressupostos neotomistas e positivistas fundamentam os Códigos
de Ética Profissional, no Brasil, de 1948 a 1975” (Barroco, 2001, p. 95)3.

O Serviço Social, contudo, já vivia o movimento de reconceituação e um


novo posicionamento da categoria e das entidades do Serviço Social é assumido

187
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

a partir do III CBAS (Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais), realizado em


São Paulo em 1979, conhecido no meio profissional como o Congresso da Virada,
“pelo seu caráter contestador e de expressão do desejo de transformação da práxis
político-profissional do Serviço Social na sociedade brasileira” (CFESS, 1996).
Embora o tema central do Congresso ressaltasse uma temática da grande relevância
– Serviço Social e Política Social – o seu conteúdo e forma não expressavam nenhum
posicionamento crítico quanto aos desafios da conjuntura do país. 4

Sintonizada com as lutas pela redemocratização da sociedade, parcela


da categoria profissional, vinculada ao movimento sindical e às forças mais
progressistas, se organiza e disputa a direção dos Conselhos Federal e Regionais,
com a perspectiva de adensar e fortalecer esse novo projeto profissional. Desde
então, as gestões que assumiram o Conselho Federal de Serviço Social imprimiram
nova direção política às entidades, por meio de ações comprometidas com a
democratização das relações entre o Conselho Federal e os Regionais, bem como
articulação política com os movimentos sociais e com as demais entidades da
categoria, e destas com os profissionais.

A partir de 1983, na esteira desse novo posicionamento da categoria


profissional, teve início um amplo processo de debates conduzido pelo CFESS
visando à alteração do Código de Ética vigente desde 1975. Desse processo,
resultou a aprovação do Código de Ética Profissional de 1986, que superou
a “perspectiva a-histórica e acrítica onde os valores são tidos como universais
e acima dos interesses de classe” (CFESS, 1986). Essa formulação nega a base
filosófica tradicional conservadora, que norteava a “ética da neutralidade” e
reconhece um novo papel profissional competente teórica, técnica e politicamente.

Em que pese esse significativo avanço, já em 1991, o Conjunto CFESS/


CRESS apontava para a necessidade de revisão desse instrumento para dotá-lo
de “maior eficácia na operacionalização dos princípios defendidos pela profissão
hoje” (CFESS, 1996). Essa revisão considerou e incorporou os pressupostos
históricos, teóricos e políticos da formulação de 1986, e avançou na reformulação do
Código de Ética Profissional, concluída em 1993. Mais uma vez, sob coordenação
do CFESS, o debate foi aberto com os CRESS e demais entidades da categoria em
vários eventos ocorridos entre 1991/1993: Seminários Nacionais de Ética, ENESS,
VII CBAS e Encontros Nacionais CFESS/CRESS.

A necessidade de revisão da Lei de Regulamentação vigente desde 1957 já


se fazia notar, ainda que de forma incipiente, desde 1966, quando da realização do
I Encontro Nacional CFESS/CRESS, que colocara em pauta a discussão acerca da
normatização do exercício profissional, constatando-se, na ocasião, a fragilidade
da legislação em vigor em relação às atribuições profissionais.

Porém, somente em 1971 se discute o primeiro anteprojeto de uma nova


lei no IV Encontro Nacional CFESS/CRESS e apenas em 1986 o deputado Airton
Soares encaminha o PL 7669, arquivado sem aprovação, devido à instalação
da Assembleia Nacional Constituinte. O tema volta ao debata nos Encontros

188
TÓPICO 4 | OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Nacionais, onde se elabora a versão final do PL, apresentado desta vez, pelas
deputadas Benedita da Silva e Maria de Lourdes Abadia. O processo legislativo
foi longo em face da apresentação de um substitutivo o que retardou a aprovação
final. O Conjunto CFESS/ CRESS, no entanto, não se deixou abater tendo
acompanhado e discutido o substitutivo nos seus fóruns até a aprovação da Lei
nº 8.662 em 7 de junho de 1993.

A nova legislação assegurou à fiscalização profissional possibilidades


mais concretas de intervenção, pois define com maior precisão as competências
e atribuições privativas do Assistente Social. Inova também ao reconhecer
formalmente os Encontros Nacionais CFESS/CRESS como o fórum máximo de
deliberação da profissão.

Além desses importantes instrumentos normativos, há que se ressaltar


a existência de outros que dão suporte às ações do Conjunto para a efetivação
da fiscalização do exercício profissional. Portanto, podemos afirmar que todos
os instrumentos normativos se articulam e mantêm coerência entre si: a Lei de
Regulamentação, o Código de Ética, o Estatuto do Conjunto, os Regimentos Internos,
o Código Processual de Ética, o Código Eleitoral, dentre outros, além das resoluções
do CFESS que disciplinam variados aspectos. Dentre as resoluções destacam-se: a)
Resolução nº 489/2006 que veda condutas discriminatórias ou preconceituosas, por
orientação e expressão sexual por pessoas do mesmo sexo, reafirmando importante
princípio ético contido na formulação de 1993; b) Resolução nº 493/2006 que
dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional, que possibilita
aos profissionais e aos serviços de fiscalização a exigência do cumprimento das
condições institucionais que possibilite o desempenho da profissão junto aos
usuários de forma ética e tecnicamente qualificada.

Esse conjunto de instrumentos legais constitui a base estruturante da


fiscalização do exercício profissional. Daí a importância de sua atualização para
sustentar a Política Nacional de Fiscalização conectada com o novo projeto
profissional, sintonizado com os anseios democráticos dos profissionais e seus
usuários. A partir dessa ótica, o Conjunto redimensiona a concepção de fiscalização,
compreendendo a sua centralidade como eixo articulador das dimensões política,
formativa e normativa. A fiscalização passa a ter o caráter de instrumento de luta
capaz de politizar, organizar e mobilizar a categoria na defesa do seu espaço de
atuação profissional e defesa dos direitos sociais.

As primeiras experiências de fiscalização, embora com diferenciações entre


os diversos CRESS, remontam a meados dos anos 1980. Inicialmente, os CRESS
se preocuparam com sua organização administrativo-financeira, entendida como
suporte fundamental às ações da fiscalização; avançaram para a identificação das
demandas da categoria, conhecimento da realidade institucional, discutindo-se
condições de trabalho, autonomia, defesa de espaço profissional, atribuições e
capacitação, assim como a necessária articulação política do Conjunto com outros
sujeitos coletivos. Nesse momento, metade dos CRESS então existentes, criou
suas Comissões de Fiscalização, inicialmente formadas por conselheiros, sendo

189
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

posteriormente ampliadas com a contratação de agentes fiscais. Mas, dificuldades


se evidenciavam nos limites dos instrumentos legais (as primeiras ações de
fiscalização tiveram lugar sob a vigência da Lei nº 3.252/57) e também financeiros.

Como forma de superação desses limites, o Conjunto apostava


na construção coletiva, fazendo emergir novos espaços para discussão e
aprimoramento das experiências entre os CRESS, a exemplo dos Encontros
Nacionais de Fiscalização, que se sucederam a partir do primeiro deles realizado
em Aracaju (1988). Encontros Regionais também se organizaram visando a
preparação para o Encontro Nacional. No 1º. Encontro Regional do Nordeste,
em Fortaleza (1991) já se destacava a necessidade da construção de uma Política
Nacional de Fiscalização (PNF). Com base nessa experiência, houve, a partir da
gestão 1996-1999, a instituição dos Encontros Regionais Descentralizados, que
ampliando sua pauta, incluíram a discussão de outras temáticas para além da
fiscalização: ética, seguridade social, administrativo-financeira, comunicação,
formação e relações internacionais.

A Comissão Nacional de Fiscalização e Ética do CFESS (COFISET) assume


então a responsabilidade de elaborar as diretrizes e estratégias para uma Política
Nacional de Fiscalização do Exercício Profissional do Assistente Social, incorporando
as principais demandas e discussões dos Encontros Regionais, que foram aprovadas
no 25º. CFESS/CRESS, em Fortaleza, em 1996. Nos Encontros Nacionais dos anos
seguintes (1997/1998) a discussão da PNF foi aprofundada, bem como outras
normativas do Conjunto que se relacionavam com a fiscalização do exercício
profissional. Esse processo culminou com a aprovação da Resolução CFESS 382
de 21/02/1999, que dispôs sobre as normas gerais para o exercício profissional e
instituiu a Política Nacional de Fiscalização, sistematizada a partir dos seguintes
eixos: potencialização da ação fiscalizadora para valorizar e publicizar a profissão;
capacitação técnica e política dos agentes fiscais e COFIs para o exercício da fiscalização;
articulação com as unidades de ensino e representações locais da ABEPSS e ENESSO;
inserção do Conjunto CFESS / CRESS nas lutas referentes às políticas públicas. Tais
eixos se articulam em torno de três dimensões, a saber: afirmativa de princípios e
compromissos conquistados; político-pedagógica; normativa-disciplinadora.5

A partir de então, a PNF vem sendo um instrumento fundamental para


impulsionar e organizar estratégias políticas e jurídicas conjuntas e unificadas para
a efetivação da fiscalização profissional em todo o território nacional, levando-se
em consideração, no entanto, as particularidades e necessidades regionais.

Os espaços de discussões do Conjunto relativos à Política de Fiscalização


têm sido ampliados, a exemplo dos Seminários Nacionais de Capacitação
das COFIs que acontecem a cada 2 anos (realizados a partir de 2002), além da
continuidade dos Seminários Regionais de Fiscalização que ocorrem juntamente
com os Encontros Descentralizados, preparatórios para o Encontro Nacional.
Outro espaço previsto é a Plenária Ampliada, para aprofundamento de alguma
temática, e ainda o Projeto Ética em Movimento, espaço privilegiado para a
ampliação do debate e reflexão ética. 

190
TÓPICO 4 | OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

A atualização da PNF ocorrida em 2007 visou incorporar os aperfeiçoamentos


necessários decorridos 10 anos da sua aprovação. O processo envolveu as Comissões
de Fiscalização e culminou com a aprovação da Resolução CFESS 512 de 29/09/2007
que reformulou as normas gerais para o exercício da fiscalização profissional e
atualizou a Política Nacional de Fiscalização, após intensas e profícuas discussões
nos espaços deliberativos do Conjunto. Essa revisão manteve os pressupostos
anteriormente definidos, conservando os eixos e dimensões estruturantes e
avançou, por exemplo, na elaboração de um Plano Nacional de Fiscalização que se
apresenta como um instrumento político e de gestão.

NOTAS

1
Esta data ficou instituída como o Dia do Assistente Social e passou a
ser comemorada anualmente pela categoria profissional com a organização de
eventos pelas suas entidades representativas.

2
Com a aprovação da lei nº 8.662/93, que revogou a nº 3.252/57, as
designações passaram a ser Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e
Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS). No decorrer do texto utilizaremos
as novas designações.

3
O primeiro Código de Ética Profissional do Assistente Social foi elaborado
pela ABAS – Associação Brasileira de Assistentes Sociais, em 1948. A partir da
criação do CFAS, em 1962, um novo Código é aprovado em 1965, passando a ter
um caráter legal, assim como as reformulações posteriores em 1975, 1986 e 1993.

4
Resgate desse processo pode ser encontrado em ABRAMIDES, M. B. C.
& CABRAL, M. S.R. O novo sindicalismo e o serviço social. São Paulo, Cortez,
1995 e CFESS. “Serviço Social a caminho do século XXI: o protagonismo ético-
político do Conjunto CFESS-CRESS”. In: Serviço Social e Sociedade (50). São
Paulo, Cortez, 1996,

5
Para maior aprofundamento desse processo, consultar Relatório de
Deliberações do 26º. Encontro Nacional CFESS/CRESS (1997) e seus anexos.

REFERÊNCIAS

BARROCO, M. L. S. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. São Paulo,


Cortez, 2001.

BRASIL. Lei nº 8.662/93 de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de


Assistente Social e dá outras providências.

CFESS. Código de Ética Profissional do Assistente Social. 1986.

_______ Código de Ética Profissional do Assistente Social. 1993.

191
UNIDADE 3 | O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

_______ “Serviço Social a caminho do século XXI: o protagonismo ético-político


do Conjunto CFESS-CRESS”. In: Serviço Social e Sociedade (50). São Paulo,
Cortez, 1996.

_______ Relatório de Deliberações do 26º. Encontro Nacional CFESS/ CRESS.


1997.

_______ Resolução nº 382/99 de 21/02/1999. Dispõe sobre normas gerais para o


exercício da Fiscalização Profissional e institui a Política Nacional de Fiscalização.

_______ Resolução nº 512/07 de 29/09/2007. Reformula as normas gerais para o


exercício da fiscalização profissional e atualiza a Política Nacional de Fiscalização.

_______ Instrumentos para a fiscalização do exercício profissional do Assistente


Social. Brasília, 2007.

FONTE: BRASIL. Conselho Federal do Serviço Social – CFESS. Brasília: CFESS, 2009b. Disponível
em: <http://www.cfess.org.br>. Acesso em: 16 mar. 2009.

192
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico apresentamos os diversos Conselhos de fiscalização do


Serviço Social.

 O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) é um órgão regulador da


profissão, que fiscaliza a práxis profissional dos Assistentes Sociais em todo o
território nacional, devidamente regulamentado pela Lei nº 8.662/93.

 O Conselho Federal do Serviço Social (CFESS) vem desenvolvendo suas


atividades em prol da regulamentação e garantia dos direitos e deveres da
profissão do Serviço Social.

 O Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) é um órgão que regula a


profissão do Assistente Social, mas no âmbito Estadual, ou seja, regional.

 O CRESS está diretamente vinculado ao CFESS – Conselho Federal do Serviço


Social.

 O CRESS possui como norte ou princípio fundamental: disciplinar, orientar,


fiscalizar e defender a prática profissional do Assistente Social.

 No Brasil, o Conselho Regional do Serviço Social foi dividido em 24 regiões, no


qual cada região possui sua regulamentação e diretrizes básicas.

193
AUTOATIVIDADE

Acesse os sites do CFESS e do CRESS de sua região e pesquise mais


sobre a profissão do Assistente Social.

194
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003.

BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética e serviço social: fundamentos ontológicos. 6.


ed. São Paulo: Cortez, 2008a.

______. Ética: fundamentos sócio-históricos. 6. ed.. São Paulo: Cortez, 2008b. v.4.

______. A inscrição da ética e dos direitos humanos no projeto ético-político do


serviço social. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 79, 2004.

______. Ética e sociedade. Brasília: CFESS, 2000.

BRASIL. Resolução CFESS n. 273, de 13 de março de 1993. Institui o Código de


Ética Profissional dos Assistentes Sociais e dá outras providências. Disponível
em: <http://www.cress-se.org.br/pdfs/legislacao_etica_cfess.pdf>. Acesso em: 28
mar. 2009a.

______. Conselho Federal do Serviço Social – CFESS. Brasília: CFESS, 2009.


Disponível em: <http://www.cfess.org.br>. Acesso em: 16 mar. 2009b.

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da profissão. 3. ed. Brasília: CFESS, 1997.

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197

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