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Os cinco Diani budas – As cinco sabedorias búdicas

“Vamos olhar o ensinamento dos cinco Diani budas, lembrando que a origem dele se dá posteriormente ao Buda
Sakiamuni. Na época do Buda Sakiamuni as pessoas tinham a própria imagem do Buda. Os alunos do Buda tinham o
Buda diante deles, já imaginaram? O próprio Buda! Ocorre que quando o Buda passou para o parinirvana ele
desapareceu em presença física, mas curiosamente, as pessoas praticantes visualizavam o Buda e as bênçãos da
presença do Buda surgiam de novo. Com o tempo, eles começaram a ver o Buda e mais duas imagens: uma, de
Manjushri; a outra, de Chenrezig, porque o Buda manifestava essas sabedorias sempre. Uma sabedoria cortante, cortava
a ignorância, e outra compassiva, que acolhia as pessoas sempre de modo amoroso. Depois, com o tempo, passaram a
ver o Buda na forma de cinco imagens, os cinco Diani budas. Ao olharmos os cinco Diani budas vemos que eles são o
próprio Buda, cada um com uma cor diferente, um mudra diferente, significando uma característica diferente dos
ensinamentos. Então quais são essas características?” Lama Padma Samten
Sabedoria do espelho – Buda Akshobya
Ação: acolher Cor: azul
“Nossa mente é como um espelho: não muda; apenas as imagens e formas refletidas mudam. Ela reflete
incessantemente os fenômenos, mas não se apega a eles. Quando avidya, responsividade e separatividade
cessam, surge a sabedoria do espelho como a lucidez da inseparatividade e coemergência. Nas relações, surge
a liberdade frente ao próprio conjunto de carmas e responsividades, e disso a capacidade de entender o outro
em seu contexto. Só agora o verdadeiro acolhimento se torna possível. Nesse acolhimento não há julgamento,
mas a lucidez completa.”
“A primeira delas corresponde à sabedoria do espelho. Enquanto digo isso a vocês, localizem dentro se já
não tinham percebido isso, porque essas sabedorias não estão só no Buda, estão em todos nós, de algum jeito
estão lá! A nossa natureza também é a natureza de Buda, então vamos fazer isso aflorar até o ponto em
que decidamos tomar essas sabedorias como base da nossa manifestação. Quando decidirmos isso,
começaremos a olhar tudo em volta com esses olhos, o mundo surgirá diante desses olhos especiais dos
cinco Diani budas, surgirá como uma mandala, não mais como samsara. É dentro dessa mandala que nós nos
protegemos. Quando as coisas acontecerem já estaremos dentro da mandala. As coisas vêm e só tomamos
cuidado para não sermos arrastados para dentro de onde as coisas são oferecidas. Logo, a sustentação da
mandala se torna nossa prática principal, e não algum ponto específico de mente que tentamos segurar,
esquecendo o resto. Para entendermos isso é preciso fazer um exercício de olhar para tudo a partir de cada
sabedoria, primeiro com os olhos da primeira sabedoria, depois com os olhos da segunda sabedoria... Para
isso precisamos praticar a visão correspondente. Fazendo estas práticas ganhamos estabilidade nessa
mandala, nessa visão.
Quando as coisas aparecem temos a sabedoria pronta para olhar para elas, brota a sabedoria específica, seja o
que for, e não os enganos correspondentes aos seis reinos. Em vez de surgirem os seis reinos, surge sempre a
mandala de sabedoria. O processo é sem esforço, pois uma vez que nos colocamos dentro da mandala, não
tem esforço para isso funcionar. Depois vamos ter uma mandala das cinco sabedorias em conjunto. A
sabedoria do espelho tem a compreensão associada à Prajnaparamita. A noção de coemergência é uma
chave dentro disso, eu faço surgir um mundo interno e tem um mundo externo correspondente, as imagens
internas e externas não têm separação. Se eu estou no reino dos infernos tudo parece ruim, se estou no reino
dos deuses tudo parece bom. Tudo surge dentro e fora, simultaneamente, e então a coemergência nos permite
entender com detalhes o outro, porque a forma comum dos seis reinos de entender o outro é a partir do reino
onde nós estamos, a partir da visão que nós temos.
Na sabedoria do espelho nos habilitamos a entender o outro dentro do mundo que ele está
experimentando. Podemos até distinguir o que é a mente de sabedoria e o que é a mente comum. A mente
comum vê os outros seres dentro do seu próprio mundo, no mundo de quem está olhando; a mente de
sabedoria vê o outro no mundo dele, mas já está embutida a noção de vacuidade, aquilo é a experiência
dele, não é fixo. É a experiência do outro, logo isto já está embutido, vê-se o outro com a natureza livre e
pode-se ver de outras formas. Essa é a sabedoria do espelho, e eu vou perguntar a vocês se já perceberam
isso em algum momento. Então, vocês vão fazer o mesmo exercício, vamos olhar situações que já vimos e
tomar uma situação corrente que não está resolvida e tentar olhar com esse olho da sabedoria do espelho.
Tatata - Agora vou introduzir outra palavra, que é tatata, a expressão de como opera a mente do Buda,
como opera a sua própria mente. Isso pode ser traduzido como dupla realidade, é novamente a sabedoria do
espelho: nós entendemos o outro no mundo dele, mas estamos livres da fixação à forma dele entender o
mundo. Esse é o aspecto da verdade absoluta, nós temos a verdade absoluta e a verdade relativa. A verdade
absoluta é a grande espacialidade. Eu vejo a onda no lago, mas sigo entendendo que a realidade do lago não
são as ondas. Por exemplo, um terapeuta diagnostica o que ele tem, mas não prende o outro no que ele
apresenta, ele segue livre para imaginar como o outro sairia daquilo. Não fica preso no diagnóstico, senão
não seria sabedoria do espelho, seria uma tentativa de falar de algo absoluto e externo independente, fixo. Na
visão budista, isso seria um engano, seria incompreensão da vacuidade.
A essência da sabedoria primordial, que é uma das faces de tatata (o outro lado é a sabedoria comum), é o
ponto da vacuidade em que se reconhece que as coisas são todas construídas, não há algo que não
possa ser construído, logo não há algo que não possa ser desatado. É a compreensão da noção do lenço
com um nó; a sabedoria primordial vê as coisas como nós atados sobre um lenço original. Nós podemos
sempre desatar. Nós podemos não saber como desatar, mas aquilo é desatável. Então, dupla realidade é
isso, entender a configuração de um lado que está operando, e de outro lado que aquela configuração pode se
dissolver. Aqui eu descrevi a sabedoria do espelho.” Lama Padma Samten
Comentários de João Vale:
[…] As cinco sabedorias descrevem a própria natureza primordial. Em um sentido muito profundo, elas
descrevem nós mesmos. Podemos experimentar Akshobya como a própria qualidade espaçosa e acolhedora
em que estamos inseridos. Essa qualidade espaçosa e acolhedora está presente em nós o tempo todo [...] Está
presente na nossa mente como a qualidade espaçosa que é capaz de fazer tudo surgir. Está presente na nossa
energia, na qualidade espaçosa que faz com que sintamos tantas coisas diferentes. Essa qualidade acolhedora
acolhe todos os fenômenos, sem hesitar. […]
Quando o Lama fala de Akshobya, o Buda Azul, ele está falando de vermos o mundo como Akshobya
olharia. Ele propõe que ofereçamos a qualidade acolhedora de volta aos seres. Ele propõe que tentemos
entender os seres no mundo deles, oferecendo espaço para eles serem quem são, sem julgamentos ou críticas.
Muitas vezes o Lama associa isso à ideia de “dar nascimento”, que significa não prender o outro em
julgamentos rasteiros, mas oferecer para ele a visão da potência. Isto é, apesar de tudo, sei que você é um
ser potente. Dar nascimento significa dizer “acolho você em sua dimensão potente”.
Isso é um desafio, porque os rótulos e os julgamentos são muito grandes. Às vezes, nossa própria fixação aos
nossos personagens é muito grande. Se me fixo demais em mim ou em algum papel, não posso acolher o
outro. Se entendo bem essa sabedoria, entendo também que tudo o que surge na minha mente também pode
surgir na mente do outro e vice-versa. Há espaço. Isso me faz mais humilde também. Me faz ser capaz de
entender que, sob determinadas condições, eu também posso me sentir preso a alguma emoção específica.
Sob determinadas condições, eu também poderia agir de uma forma equivocada.
Então, Akshobya compreende e acolhe. A atividade dele é acolher e dizer: “apesar de tudo, você é potente”.
É uma sabedoria de muita importância nos dias de hoje, em que os diagnósticos parecem ter muito poder
sobre as pessoas a ponto de elas acharem: “eu sou isso”. Akshobya insiste – e acumula dia após dia – o olhar
de acolhimento, sem oscilar, guardando a resposta: “eu sei que você é potente”. Uma boa prática é passar a
vida sob os olhos de Akshobya: onde preciso me acolher, onde preciso acolher mais. E apenas descansar aí
sentindo essa dimensão acolhedora onde todos nós estamos inseridos.
Comentários de Henrique Lemes:
[…] Quando olhamos para a sabedoria do espelho, entendemos o outro no mundo dele. É uma sabedoria
impessoal, não há espaço para uma individualidade, para o jogo de alguém querendo ganhar alguma coisa.
Aquilo que nós e os outros manifestamos é sempre como uma imagem refletida em um espelho. Nossa
natureza é como um espelho, não somos as imagens que manifestamos, mas a capacidade de manifestar
muitas aparências. Através da sabedoria do espelho, vemos como o outro constrói as realidades a partir do
conteúdo da mente dele, dos olhos dele. O outro é vítima do espelho dele mesmo. Disso brota compaixão em
nós e, consequentemente, amor, a capacidade de ajudar o outro. Surge também alegria e equanimidade.
A sabedoria do espelho nos ajuda a ultrapassar a visão utilitária que desenvolvemos quando operamos a
partir dos seis reinos. No Samsara, não olhamos para o que quer seja no seu próprio mundo, mas sempre a
partir de como podemos nos beneficiar daquela pessoa ou situação. O ponto mais importante aqui é o lung da
sabedoria, é o que a sustenta, e não o esforço próprio de um galo, associado a um javali e a uma cobra. É a
diferença entre as sabedorias búdicas e as inteligências dos seis reinos. A terra pura de Akshobia é sustentada
naturalmente.
Fontes: “Nascendo no lótus, um guia teórico e prático para o surgimento da Bodicita”, Lama Padma Samten
– p. 24/25); “Meditando com as cinco sabedorias”, roteiro de prática elaborado por João Vale; “As cinco
sabedorias búdicas”, Cebb Darmata, Henrique Lemes.
Sabedoria da igualdade ou equanimidade – Buda Ratnasambhava
Cor: amarela Ação: sustentar Resultado: desapego
Lama Padma Samten:
“Havendo a superação do apego a um eu (bhava e jeti) como referencial de nossas vidas, podemos entender a igualdade
de todos os seres. Neste ponto, a capacidade de efetivamente se mover para beneficiar os seres surge de modo natural.
Cuidar deles ou cuidar de nós passa a significar a mesma coisa. Essa é a base da noção de onisciência do Buda: colocar-
se no lugar do outro e operar a partir daí”.
A igualdade é experimentada pela nossa capacidade de entender que, ao trazer benefícios aos outros seres,
nós também nos beneficiamos diretamente. Está ligada à nossa capacidade de manifestarmos felicidade
por beneficiar os outros seres. Beneficiar os outros seres é essencialmente sustentá-los no esforço de
superarem as suas dificuldades e manifestarem suas qualidades positivas em níveis mais e mais
profundos. Quando isto ocorre, estamos manifestando a sabedoria da igualdade. Esta é uma atividade sem
esforço. O fato de que não precisamos fazer esforço é uma manifestação natural e não fabricada desta
sabedoria da igualdade, que trata da sustentação das qualidades positivas dos outros e da proteção frente aos
obstáculos. Ela vem como se fosse algo para nós mesmos, algo natural.
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Essa é uma habilidade que não pode faltar em nós: se há alguém que está em dificuldades, aquele alguém nos
interessa. Se não somos tocados pela sabedoria da igualdade, simplesmente dizemos: “bem, isso é um
problema dele, aliás, isso é o carma dele”, e nós vamos escapando. Ou então podemos não ter propriamente
um interesse maior pelos outros e dizemos: “olha, a vastidão dos carmas é infinito, o que posso fazer? Eu,
quando muito, lido com o meu próprio carma”. Essa seria uma posição Hinayana, uma posição do caminho
do ouvinte, do caminho estreito, onde não há compaixão.
No caminho Mahayana, nós temos os cinco Diani Budas. O segundo deles é a sabedoria da igualdade. Então,
mais do que apenas nos interessarmos pelos outros, é necessário que comecemos a gerir a nossa
própria energia a partir disso. Por exemplo: se nós ajudamos os outros, isso produz em nós um interesse e
uma sustentação de energia.
De um modo geral, a nossa energia se sustenta de um outro modo, ela se sustenta pelo gostar ou não gostar
das coisas com as quais fazemos contato. Mas agora não mais. Não importa se estamos vendo alguém que
gostamos ou não gostamos, isso não vem ao caso. Vemos alguém em dificuldade e vamos ajudar. E aí nós
precisaríamos contemplar: essa energia brota ou não? Se essa energia brotar, isso é a bênção do buda
Ratnasambhava, esse é o lung do buda Ratnasambhava. Isso é a sabedoria da igualdade operando de modo
real.
[…] Algumas vezes se faz uso de imagens fortes para produzir esse interesse, por exemplo: imagine sua mãe
em sofrimento. Ou então imagine que aquele ser foi sua mãe em uma vida passada. Agora esse ser cruzou
por você, o que é um momento muito raro, e está em grande dificuldade, por isso se aproximou de você. Ele
está pedindo ajuda. Aí, você não reconhece que esse ser é a sua mãe, vira as costas e segue. Começamos a
sentir isso! Então, essa mudança entre o entender e o sentir é a diferença entre a abordagem sutrayana e
tantrayana. Precisamos tornar o ensinamento vivo em nós.

Comentários de João Vale:


Saber sustentar e oferecer. A sabedoria de Ratnasambhava, o segundo dos cincos diani budas, é semelhante
a um raio de sol chegando no corpo. Você sente a chegada do sol. É algo concreto. Você entende que algo
está se doando para você. Se você respirar esse momento, é muito precioso.
Os olhos usuais da sustentação e do oferecimento estão viciados em jogos de trocas específicas, ligadas aos
nossos mundos de origem. Mas a pura sabedoria é sustentada por ela mesma, como o sol ou o brilho da lua
cheia. […] Entender a sabedoria da igualdade é entender a riqueza interna que não pode nunca ser roubada.
Não é possível roubar o calor do sol porque ele sempre tem mais. E ele não pensa: “oh, como eu sou
grandioso, eu ofereço...”. Longe disso: é o silêncio doador do sol que é potente.
Sobre as relações, o Lama diz: “entenda a sabedoria da igualdade pelo fato de que todos são iguais a você. Se
você entende isso, você se alegra pelos outros e se alegra por você, não há diferença”. Nesse sentido, muitas
vezes encontramos pessoas que possuem a própria noção sobre elas subnutridas. Áreas ou partes da vida
subnutridas. Outras partes inflamadas. Então, o primeiro passo é ser capaz de desenvolver uma cultura de
paz consigo: isto é, saber desinflamar e saber se nutrir. Esse é um grande ponto. Criar, dentro de si, um
ecossistema favorável, reconhecendo a particularidade de cada personagem, mas sendo capaz de nutrir todos
com o que acreditam que precisam e também com o desejo de felicidade verdadeira, sem subterfúgios.
Fazemos assim, como uma oxigenação, a prática de metabhavana para cada lugar, parede e ser que criamos
e que nos visitou. De tanto amar e lançar amor, deixamos para trás o nosso personagem usual e entendemos
que somos apenas um corpo de doação, que sempre recebeu e sempre ofereceu amor.
Se a gente entender direitinho as sabedorias são formas de existir. Para entender isso, preciso descobrir o que
há além do eu. Não posso usar os velhos jogos mentais de identificação. Isso não diz respeito a mim
propriamente, mas à própria natureza da realidade. O ponto todo é entendê-las como aspectos constituintes
da experiência da realidade. Aspectos estes que estão dentro de nós. Por sermos arrogante e presunçoso, não
vemos as sabedorias. Mas elas estão lá.
[…] Podemos operar uma sustentação limitada ou podemos operar uma sustentação mais ampla. Essa
sustentação mais ampla é a sabedoria de Ratnasambava, que é o segundo dos cinco diani budas. Ela surge
como uma consequência natural do Buda Akshobya, o acolhimento.
Muitas vezes nossa vida está cheia de questões. Mas essas questões estão totalmente associadas à falta dessas
duas qualidades: acolhimento e sustentação. Quanto mais realizo acolhimento, mais dou espaço. Quando
mais realizo acolhimento, mas sei o que a pessoa - e eu mesmo - estou sentindo. Uma floresta é acolhedora
para os vários animais. Há muito espaço para eles. Por isso ela é tão fértil, há tanta sustentação. Nossa vida
às vezes parece um deserto. Ou deixamos um fantasma faminto tomando conta de uma área. Sob a tutela da
forma dele de ver, as coisas vão minguar. Não tem jeito. Treinar ver com as sabedorias, treinar respirar com
elas, é um exercício de abertura e sustentação diferente. É admitir o milagre. Esse corpo é acolhimento. Ele
acolhe os órgãos todos. Esse corpo é sustentação. Ele apoia a vida toda que há aqui dentro de mim. Nesse
sentido, sou extensão de Akshobya e de Ratnasambhava. Compartilho com eles a mesma qualidade.
Entender Ratnasambhava é entender que quando realizo auto-amor, auto-apreciação, quando deixo de julgar
e de me criticar, posso realmente aprender a amar de maneira mais ampla. Amar significa apreciar,
agradecer, oferecer. Estabelecer um vínculo no qual eu nutro e enriqueço a minha experiência e a
experiência dos seres ao meu redor. Estamos, portanto, falando de dois tipos de olhos. Olhos que acolhem e
olhos que apoiam, enriquecem. Nesse sentido, qual o laboratório das cinco sabedorias? Os seres ao nosso
redor. Todos eles. Treinar acolhimento pode ser revelador. Treinar olhos de nutrição, de apoio, também. No
acolhimento, os olhos se tornam ouvidos. Na sustentação, os olhos se tornam mãos, tocam.
Acolhimento e sustentação! Outras formas de ser e viver! [...] Não preciso levar o nome - bolha cármica
inicial, identidade construída a partir dos referenciais de pai e mãe - o tempo todo […] Então, o nosso
exercício vai ser ser capaz de relaxar, abrir mão disso e ser capaz de ir além. Ir além é simplesmente relaxar.
Relaxar significa soltar. Quando solto, verifico que posso buscar formas mais amplas e potentes. É aí que
surge as cinco sabedorias como uma forma natural de atuação no mundo.
Comentários de Henrique Lemes:
[…] O aspecto mais importante desta sabedoria é que não estamos presos às nossas identidades. No samsara,
nossas alegrias surgem sempre dentro de jogos particulares, onde somos movidos por identidades em busca
de vitórias. Se conseguirmos nos alegrar com as qualidades que outros seres manifestam, ultrapassamos
nosso autocentramento e vemos que não há diferença entre nós e os outros. Podemos manifestar essa
dimensão de igualdade, pois não somos algo sólido e rígido, mas uma plasticidade capaz de aderir às
inteligências e se alegrar com o outro.
A Sabedoria da Igualdade abarca metabhavana e tudo de positivo que pudermos oferecer aos outros. É
uma poderosa prática de generosidade. Olhamos para os seres e perguntamos: “quais qualidades ele possui?
O que ele tem de positivo que eu posso ajudar a florescer?” Esta sabedoria cura a depressão, o
autocentramento. Quando olhamos para nós mesmos e para os outros, não nos fixamos nas dificuldades e nos
aspectos condicionados e rígidos, mas pensamos: “o que eu posso oferecer? O que eu posso ajudar a
pontencializar?” Estamos na mandala de Ratnasambhava, leves, operando a partir da energia da mandala.
Cuidamos dos outros como se estivéssemos cuidando de nós mesmos. Temos possibilidade de encontrar
felicidade, porque este movimento nos alegra
Fontes: “Nascendo no lótus, um guia teórico e prático para o surgimento da Bodicita”, Lama Padma Samten – p. 24/25); “Meditando
com as cinco sabedorias”, roteiro de prática elaborado por João Vale; “As cinco sabedorias búdicas”, Cebb Darmata, Henrique
Lemes.
Sabedoria DISCRIMINATIVA – Buda AMITABA

Cor: vermelho Ação: estruturar Resultado: onisciência

Lama Padma Samten:

“[…] Esta compreensão produz o referencial, o eixo que nos permite estruturar uma forma adequada de relação com as
manifestações cármicas do mundo. É a inteligência que olha para o samsara e nos permite manter lucidez e serenidade
em meio à Roda da Vida. É o olhar a partir das Quatro Nobres Verdades e do Nobre Caminho de Oito Passos.”

“A sabedoria discriminativa do Buda Amitaba está baseada nas Quatro Nobres Verdades e no Nobre
Caminho de Oito Passos. Ela oferece o eixo, a estrutura para as nossas vidas, e também é o fio que une
nossas experiências atuais com o caminho e o resultado. Portanto, esta é a sabedoria que estrutura a nossa
vida quando queremos ajudar os outros seres. É a estrutura budista que podemos oferecer após ter acolhido
os seres e iniciado a sustentação de suas qualidades positivas e de sua proteção frente ao sofrimento. Através
da sabedoria discriminativa, nós ajudamos as pessoas a se conectarem por si mesmas, de modo independente
e lúcido, numa estrutura de caminho que dá sentido às suas vidas.”

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Essa sabedoria é assim: nós olhamos para as coisas e essencialmente entendemos as causas do sofrimento,
a base da compreensão das causas do sofrimento e como podemos ultrapassar essas causas.
Entendemos as causas da felicidade e sabemos como encontrá-las. Nesse caso isto significa que
entendemos as Quatro Nobres Verdades, o Nobre Caminho Óctuplo e os 12 elos. Isso está claro para
nós, como as coisas se complicam. […] É assim, eu entendo o sofrimento, as causas do sofrimento, que o
sofrimento não tem base, portanto ele pode ser liberado, entendo que há um caminho para isso, que esse
caminho tem motivação, purificação, ações positivas, meditação, compreensão da vacuidade, compreensão
da natureza primordial. Entendo que devo estabilizar, entendo estrutura cármica, como superar o carma.
Tudo isso é sabedoria discriminativa.
Entendemos como as pessoas não obterão êxito dentro dos seis reinos, sem chance. A única chance de atingir
algum resultado definitivo é ultrapassando os seis reinos. O aspecto mais sofisticado é utilizar os seis reinos
para sair dos seis reinos, não temos muita escolha, temos que fazer isso. A grande habilidade é não rejeitar os
seis reinos, mas usá-los para que possamos impulsionar nossa saída. Porque tem tatata junto: de um lado
raciocinamos as coisas, tem o aspecto comum, convencional, relativo, por outro lado estamos distantes das
coisas, por isso conseguimos raciocinar sobre elas, temos a sabedoria que dissolve os nós, conseguimos ver
através da vacuidade como aquilo tudo que estamos olhando, que parece sólido, não é sólido, pode ser
desmanchado, por isso brota toda essa compreensão do sofrimento.
[…] Devemos ver se isso brotou em nós. Eventualmente temos sabedoria do mundo, temos como fazer para
obter um lugar dentro de tal empresa [...]. Isso não é fácil, é algo discriminativo também, mas não
corresponde à sabedoria discriminativa nesse sentido. A noção de livre-arbítrio está ligada à base que nos
permite surgir como o talo, quando estamos com o lodo e as lágrimas, e a água no lago, podemos ser
simplesmente arrastados por algum dos seis reinos; o livre-arbítrio é olharmos para isso e decidirmos o
próprio rumo sem sermos arrastados, é alguém vir nos agredir e não precisarmos responder com agressão
também. Aqui, nesse caso, eu tenho uma liberdade que me permite compreender situações. Isso é
sabedoria discriminativa – eu sei onde estou, para onde deveria ir e agora entendo como ir. Também
desenvolvo isso na compreensão das outras pessoas, eu olho para elas e vejo como ajudá-las, minimamente
que seja, vejo como brota essa sabedoria dentro de nós. É uma lucidez cognitiva.

Comentários de João Vale:


[…] Amitaba é responsável por orientar as pessoas no caminho da lucidez, da compreensão de quem elas
realmente são. […] O sentido de ser uma sabedoria discriminativa, como é atribuído a Amitaba (sabedoria
discriminativa), corresponde à capacidade de se auto-orientar.
O Lama nos convida a ver Amitaba nas relações. Ele diz que depois que acolhemos e oferecemos, só assim
podemos verdadeiramente realizar um encontro verdadeiro. Isto é, apenas quando realmente realizamos
acolhimento e oferecimento é que podemos convidar alguém a ver a verdade junto conosco. A
orientação, portanto, não é um processo impositivo, de cima para baixo (às vezes, nosso orgulho ou
ansiedade gostaria que fosse assim), mas sim algo que é cultivado como a delicada expansão das narinas e a
nutrição correspondente que surge no ar dentro do corpo. […]
O Lama e outros mestres falam da necessidade de fazer surgir a sabedoria discriminativa dentro de nós
como um diálogo interior. Esse diálogo é feito a partir da nossa verdadeira face. Nossa verdadeira face
aponta para isso. Por isso, muitas vezes precisamos ser capazes de criar essa orientação lúcida interna. Não a
temos. Nossa bússola aponta para a busca externa. A busca externa nos deixa sempre fraturados,
hipersaturados, fragmentados, exaustos.
Analisar as aparências (como na prática da motivação, onde conhecemos os nossos personagens vinculados
às emoções) e observar a realidade (com os quatro pensamentos que transformam a mente) são,
portanto, formas de acumular a visão para fazer nascer Amitaba dentro de nós.
Quando Amitaba nasce, sabemos o que fazer. Algumas coisas podemos adiar, mas sabemos que terão que ser
transformadas. A meditação se torna, portanto, uma atividade natural, o momento em que posicionamos
nossa bússola interna para dentro, sinalizando que sentimos que este é um bom caminho. A meditação,
portanto, não nasce de uma imposição, mas de uma capacidade de auto-acolhimento e de auto-
oferecimento que provocam o surgimento da própria orientação lúcida, outro nome de Amitaba.
Quando observamos nossa verdadeira face, o brilho é forte. Quando olhamos para os seres, verificamos que
podemos, a partir desta base, nos movimentar na direção deles. É nesse sentido que se diz que Chenrezig, o
Buda da Compaixão, nasce de Amitaba. É nesse sentido que quando encontramos nossa verdadeira face,
estamos brilhando e ao mesmo tempo, desejando que todos possam brilhar também.
O ponto todo que desejo que a gente entenda é que as sabedorias são naturais. Movimentos inevitáveis
porque são os componentes da própria natureza última que está presente aqui e agora. É através delas que
vivemos. É através do acolhimento, sustentação, orientação, transformação e liberação que vivemos. Esse é o
movimento do ar no nosso corpo. Não as utilizamos, ela nos compõem. Reconhecendo que elas nos
compõem, posso utilizá-las com maestria. Caso contrário, vira uma prática de esforço. Observem no próprio
corpo, as sabedorias estão lá. Reconhecê-las é o ponto!

Comentários de Henrique Lemes:


Entendemos o sofrimento, suas causas e como ultrapassá-lo. Entendemos as causas da felicidade e como
encontrá-las. Entendemos como os seres não terão êxito dentro dos seis reinos.
Ao nos colocarmos no lugar do outro e nos relacionarmos com o que ele tem de positivo, passamos a nos
relacionar com essa dimensão de sabedoria, e não mais com os aspectos condicionados que o outro
manifesta. Não só propiciamos um nascimento positivo como ajudamos e potencializamos o que o outro
tem de bom para oferecer, utilizando a lucidez e o bom senso. O budismo inteiro cabe aqui. Se o
sofrimento é vazio, como é que ele opera, como é que prende as pessoas, como é que parece real? É dessa
pergunta que surge Amitaba, a corporificação da Sabedoria Discriminativa, pois ao olharmos para o mundo
com esses olhos, naturalmente compassivos, geramos meios hábeis sobre como ajudar as pessoas. Assim que
surge o Budismo.

Fontes:
“Nascendo no lótus, um guia teórico e prático para o surgimento da Bodicita”, Lama Padma Samten – p. 27/28);
http://www.cebb.org.br/como-funcionam-as-5-sabedorias/
http://www.cebb.org.br/o-casamento-e-as-cinco-sabedorias/
“Meditando com as cinco sabedorias”, roteiro de prática elaborado por João Vale;
“As cinco sabedorias búdicas”, Cebb Darmata, Henrique Lemes.
Sabedoria CAUSALIDADE – Buda Amogasidi

Cor: verde Ação: destruir a negatividade (qualidade da transformação) Resultado: meios hábeis

Lama Padma Samten:


“Através da purificação da ignorância que se manifesta no contato sensorial com o mundo, surge a sabedoria
búdica de ajudar as pessoas a seguir o caminho, sem se perturbar pela sensorialidade ou pelo que quer que
seja. Capacidade de atravessar a barreira (o que é agradável e o que é desagradável) e fazer o que precisa ser
feito. É o esforço de olhar para dentro dos carmas e superá-los. Adversidade como caminho. É a
inteligência que compreende a causalidade: toda ação tem uma consequência. Assim, entendemos como
cuidar de nossas ações e colher resultados positivos”.

“Para cada ação, existe uma reação. Se agirmos de modo positivo, de modo geral, receberemos coisas boas
de volta. Se agirmos de modo negativo, de modo geral, receberemos coisas negativas. Ao agirmos de
maneira negativa, podemos criar problemas para nós de três maneiras com o corpo, fala e mente. Esta
também pode ser entendida como a sabedoria da transmutação. O que vier de negativo para nós, podemos
transformar e devolver a ação de modo positivo. Purifica a inveja.

4 formas de ação:
Ação de poder – Não se abalar, não se perturbar, energia constante.
Ação pacificadora – Entender a bolha de realidade do outro, apoiar, pacificar a si mesmo entendendo melhor
o outro.
Ação incrementadora – Mostrar as qualidades do outro, e sempre há.
Ação irada – A partir da confiança gerada, cortar as negatividades do outro. ser enérgico, mas sem raiva ou
algo contra o outro. A motivação deve ser sempre compassiva, de ajudar, de “tirar o espinho do outro”.
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“A causalidade é assim: nós fazemos um tipo de ação e aquilo produz resultados. Então, muito cuidado!
Precisamos entender como se dão os resultados, em níveis mais profundos e mais superficiais – em todos os
níveis! Precisamos entender como os resultados são manifestados e aprender a produzir resultados positivos
e evitar resultados negativos.
Em uma condição extrema, a sabedoria da causalidade potencializa a ação irada. Assim, podemos, por
exemplo, como pais e mães, interromper ou determinar o que os filhos podem ou não fazer. Seria falta de
compaixão deixarmos os pequenos fazerem o que eles bem entendessem. Eles podem perder a vida, vão se
ferir, vão ter problemas rapidamente. Nós precisamos estar o tempo todo próximos para impedir que eles, na
falta da sabedoria discriminativa, criem grandes complicações para eles mesmos. Então, é necessário que
estejamos dispostos a usar esta sabedoria e interromper o que precisa ser interrompido”.
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“O aspecto mais importante da sabedoria da causalidade é que não estamos presos à causalidade, é o ponto
mais importante. Nós não estamos presos nem ao carma, de fato. Precisamos entender isso. (…) Então,
fica a pergunta: se já vimos brotar isso em nós – a capacidade de transmutar a negatividade, se em algum
momento ajudamos alguém que nos respondeu de forma negativa. Na verdade, nós vamos refinar a nossa
ação (…). Nós temos o poder de subverter o próprio carma. Se não tivéssemos esse poder a liberação
seria impossível. O carma é uma tendência, não é uma lei infalível.
Como tatata está aqui? O aspecto absoluto está exatamente nesta liberdade. Podemos absorver a
negatividade, e as práticas de tonglen, de metabavana vão trabalhar com isso. Não importa o que o outro
faça, vamos sempre dizer: Que seja feliz! É unilateral. Não tem nada a ver com a causalidade, nós vamos
chamar de ação não-causal, produz a ação e pronto, não é porque algo veio que vai me condicionar como vou
agir. Eu já tenho uma decisão unilateral previamente tomada, eu só preciso saber como vou encaixar. Nós
podemos ter várias estruturas cármicas dos seis reinos, mas não vamos segui-las. As pessoas às vezes
adoecem porque a desgraça cai sobre elas, e a vida toma outro rumo, a pessoa transmuta a negatividade em
algo positivo, e isso é a sabedoria da causalidade.”
Comentários de João Vale:

Amogasidi é a qualidade de transformação.


O Lama diz que o grande ponto de Amogasidi não é a causalidade, é o fato dele estar além das causas. Por
estar além das causas, ele faz as transformações de todas as causas. Essa é a capacidade dele. A capacidade
de se posicionar a partir de quem somos de verdade (natureza criativa e potente) é o ponto onde
realizamos tudo o que precisa ser realizado. É daí que surge a ideia de ‘destruir as negatividades’, atribuída a
Amogasidi.
Às vezes, achamos que nós, nossas identidades pessoais e viciadas em algum dos seis estados emocionais,
vamos realizar ações iradas e nos inspiramos em Amogasidi. O resultado é mais confusão porque estamos
utilizando uma visão pessoal em algo que não é pessoal.
A sabedoria de Amogasidi destrói as negatividades naturalmente e também metodologicamente, mas ela nos
convida sempre a olhar o ponto livre de causas e condições. É como se quiséssemos tocar o fogo, capturar a
água com as mãos, reter o ar, esmurrar a terra. Não adianta.
Então, quando estamos na mandala de Amogasidi, ações negativas não são o ponto. Ver o outro como
negativo não é o ponto. Vemos o espaço de possibilidades e vemos que algumas coisas podem ser feitas
para ressaltar a potência do outro.
O Lama indicou quatro ações: ação de poder, onde repouso sem me abalar na dimensão criativa e potente;
ação pacificadora, na qual utilizo a visão da compaixão e do amor e me conecto com o outro; ação
incrementadora, na qual valorizo os aspectos do outro, dando nascimento elevado; ação irada, na qual
realizo um movimento de convocar o outro a perceber a sua condição elevada ou diminuir a sua busca inútil
por felicidade externa.
O ponto é percebermos que essas ações são a reaplicação das outras sabedorias, como habilidades específicas
que surgem a partir da mente criativa de Amogasidi, que nem de perto se compara com a mente reativa da
raiva e do ódio. Amogasidi é a sabedoria prática do xamã, a mente multi-habilidosa do cirurgião, é o mestre
dos remédios que precisam ser tomados.
Muitas vezes achamos que as pessoas devem mudar rapidamente e nossa primeira abordagem para elas é um
diagnóstico crítico preciso. Às vezes achamos que deveríamos ser reconhecidos ou que elas deveriam nos
acolher e por isso a criticamos. Ora, não é da busca pela felicidade externa que vai surgir a plenitude.
Deveríamos desistir disso. Se quisermos realmente ajudar, precisamos desenvolver o acolhimento total,
nosso e do outro; a sustentação e apoio total, nosso e do outro, a capacidade de fazer surgir a própria
chama (lucidez) em nós e desejar que isso surja no outro.
Só assim é possível que a sabedoria que vê as causalidades se revele como um processo transformador de
fato. Só assim, depois de nos acolhermos, apoiarmos e brilharmos é que, naturalmente, vamos nos
transformar, sem tanta criticidade sobre nós e os outros.
Não é através da culpa ou da condenação que vamos crescer nem ajudar os outros a crescer. É através
do ouvir, do apoiar e do saber brilhar, sem procurar mais nada fora, que vamos sinalizar a possibilidade de
um movimento novo em nós e nos outros.

Fontes:
“Nascendo no lótus, um guia teórico e prático para o surgimento da Bodicita”, Lama Padma Samten – p. 28/29);
https://budismopetropolis.wordpress.com/2015/02/25/as-5-sabedorias-budicas/
http://www.cebb.org.br/as-cinco-sabedorias/
“Meditando com as cinco sabedorias”, roteiro de prática elaborado por João Vale;
Sabedoria de DARMATA – Buda Vairocana

Cor: branca Ação: liberar

Lama Padma Samten:


“A sabedoria de Darmata é a sabedoria de ver o que nós verdadeiramente somos. É o olhar que atravessa a aparência e vê
a natureza livre que cria as nossas manifestações. Quando a mente Alayavijnana* é purificada em Darmata, espaço básico,
surge a liberação completa de todo o conteúdo cármico dentro da espacialidade ilimitada e, daí, a operação livre de
Darmata. Assim, nascimento, vida, decrepitude e morte são superados, e a natureza que não nasce e não morre é realizada.
Abandonamos todos os apegos e identidades e repousamos na nossa natureza última”.

*consciência substrato. A base da mente comum, um continuum que migra de uma vida para outra e do qual brota toda a
atividade mental comum (Alan Wallace in: Aquietando a mente. Editora Lúcida Letra, 2014, p. 194)

Depois temos a sabedoria de Darmata, a quinta sabedoria. Ela diz que além de todos os aspectos
transitórios há uma natureza incessantemente presente, luminosa que não é atingida pelas coisas. Não
importa quantas ondas haja, o lago está lá. O lago corresponde a Darmata, aquilo que não se move em meio
às coisas que se movem. Lama Padma Samten (Nascendo no Lótus, p. 29)
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Finalmente, temos a cor branca, a sabedoria de Darmata, a compreensão do espaço básico. Isso é
realmente maravilhoso. Por exemplo, podemos começar pensando que, no passado, nós nos descrevíamos de
um jeito ou de outro. Nós já moramos em diferentes lugares, já fizemos diferentes coisas. Agora dizemos:
“eu não sou aquilo! Aliás, de fato, eu nunca fui aquilo, aquilo foi alguma coisa que se manifestou”. “No
passado eu manifestei fraudes sucessivas. Não era eu! Eu me apresentei de um jeito, mas eu não era aquilo. E
agora eu estou me manifestando de um outro jeito. Seria esse jeito também uma fraude, ou não?”
Então, nós olhamos deste modo. Quando entendemos que aquilo que está se manifestando hoje também é
uma fraude, entendemos Darmata. Compreendemos que todos os jeitos particulares que manifestarmos
são construções; porém, existe uma natureza livre de onde as construções brotam. Nós nunca seremos
nenhuma das construções, mesmo que juremos de pés e mãos juntas: “eu sou isso, eu faço isso, pode
confiar!”
Todos esses aspectos são transitórios, construídos. A nossa natureza é uma natureza livre, que ri dos nossos
votos samsáricos. Quando olha paras nossas construções samsáricas, nossa natureza sabe que elas não
perduram. Se ainda assim insistimos – “não, eu sou sério, é isso mesmo” – aí, a natureza de Darmata
despacha Maharaja e …. bum!…derruba aquele ser que insiste em ficar fixado em alguma coisa. Então, no
mínimo vocês pensem: nós envelhecemos e morremos. Aí aquilo que nós éramos se dissolve. Então não
adianta nós nos fixarmos teimosamente. Nós não somos isso.
A sabedoria de Darmata é a sabedoria de ver o que nós verdadeiramente somos. É o olhar que
atravessa a aparência e vê a natureza livre que cria as nossas manifestações. Nós não atingiríamos a
liberação sem a sabedoria de Darmata. Não é possível, porque não há nenhuma identidade que possa se
construir livre. A liberdade não é uma construção, não é uma identidade, ela é nossa condição natural.
As nossas prisões, as nossas manifestações comuns são manifestações dessa liberdade. Essa liberdade
permite que a gente se construa de muitos modos. A sabedoria de Darmata é isso. Por exemplo, uma
professora, olhando um pestinha dentro de sala de aula, através da sabedoria de Darmata, pode dizer: “oh, a
natureza dele é a natureza de Buda. A natureza de Buda é a natureza livre. Todos os seres tem a natureza
livre”.
A etapa mais profunda do acolhimento é nós entendermos que o outro tem a natureza de Buda. O olho mais
benigno, mais amoroso que podemos ter em relação a qualquer pessoa é não acreditar na cara que a pessoa
está manifestando. É dizer: “você é livre, você tem uma natureza livre, você pode fazer outras coisas”. Por
exemplo, uma professora, olhando um pestinha dentro de sala de aula, através da sabedoria de Darmata, pode
dizer: “oh, a natureza dele é a natureza de Buda. A natureza de Buda é a natureza livre. Todos os seres tem a
natureza livre.
Meios hábeis no mundo
Eu falei dos cinco Diani Budas, a origem das cinco sabedorias, que é essencialmente aquilo que vamos tomar
como referencial para nossas ações. Precisamos disso, de saída. Essas cinco sabedorias geram imediatamente
a possibilidade de nós utilizarmos os meios hábeis, que são as Quatro Qualidades Incomensuráveis
(compaixão, amor, alegria, equanimidade), e as Seis Perfeições (generosidade, moralidade, paz, energia
constante, concentração e sabedoria).
Vamos utilizar esses dez itens, somados às cinco sabedorias, tomados em quatro diferentes níveis:
corpo, fala/energia, mente e paisagem. Por exemplo, nós precisamos praticar essas ações e essas visões
com o nosso próprio corpo. Ao nos movermos, vamos precisar utilizar esses referenciais. Mas não só com o
corpo, nós precisamos agir a partir desses referenciais com nossa energia e nossa fala, ou seja, nossas
emoções e nossos impulsos. E também a nossa mente precisa estar comandada por isso, e a nossa
compreensão, a nossa visão de mundo, a visão das circunstâncias onde nós estamos, todos estes aspectos
devem estar harmonizados com essa visão. Se isso não ocorrer, podemos pensar: “os ensinamentos budistas
não servem para o mundo de hoje, não servem na Receita Federal onde eu trabalho, não servem na
universidade onde eu estudo. Eles são bons aqui, mas não em algum outro lugar”.
É necessário que o lugar no qual vivamos seja um lugar onde possamos sentir que esses ensinamentos são
úteis. Nossa visão de mundo, em todas as circunstâncias, tem que estar harmonizada a esse tipo de ação.
Fonte: http://www.cebb.org.br/as-cinco-sabedorias/
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Comentários de João Vale:
Usualmente, no caminho do samsara, após estabelecermos relações com os seres, nós os retemos mais e
mais. Quanto mais eles fazem juras ao nosso apego, mais nos sentimos confortáveis. Tomamos o apego
como caminho. Entender a sabedoria de Darmata é entender a liberação como caminho. [...] a natureza
incessante, luminosa, está presente em nós de maneira livre e também está presente nos outros seres. O
apego não faz sentido.
Perceber a criatividade natural, a dimensão criativa do espaço, é entender que algo em nós não nasce e
não morre. Ser capaz de colocar os olhos aí e fazer surgir um corpo a partir dessa compreensão é
aprender, também, a sorrir para todas as circunstâncias. É entender que, apesar de estarmos o tempo
todo ocupados com milhares de funções e personagens, sabemos onde é que realmente estamos em casa.
Nossa casa não tem chão. Está suspensa no espaço criativo, na visão mágica e espaçosa da vida.
Assim, passamos a devolver aos seres espaço e criatividade, não mais ganchos. Passamos a saber que as
ondas rotineiras são relativas porque estamos com a visão no horizonte amplo, onde as muitas
possibilidades acontecem. Dessa forma, após acolher, sustentar/apoiar, orientar e aprimorar, não damos
sequência a uma visão estreita de ‘eu’, nem esperamos ser reconhecidos. Isso só aconteceria se estivéssemos
realizando essas ações com algum tipo de expectativa (e é certo, por isso, o nosso sofrimento, em algum
momento).
Acolhemos porque é isso que a natureza última faz conosco. Apoiamos porque é isso que a natureza última
faz conosco. Orientamos porque é isso que a natureza última faz conosco. Aprimoramos porque isso é o que
natureza última faz conosco. E, por fim, liberamos, abençoamos, soltamos, porque é isso que a natureza
última faz conosco.
Vairocana, a sabedoria de Darmata, sabe que as aparências são apenas parte da história e não hesita em
brincar, em criar personagens, em ressurgir como qualquer um dos outros diani budas. Ele é como alguém
que se sabe mágico e, por isso, brincante. Como o ar, que entra em nós e sem pudor, entra no corpo de
todos os seres, enchendo-os de alegria, sendo enriquecido por eles.
Relaxe, então, solte, veja a diversidade das aparências. Sorria, como Vairocana, em meio a isso tudo. Esse é
o sorriso que pode ajudar todas as pessoas que você ama a pararem tanto de sofrer por estarem agarradas a
alguma coisa na esperança de um tipo de felicidade ou recompensa externa.
Fonte: “Meditando com as cinco sabedorias”, roteiro de prática elaborado por João Vale.
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A liberdade natural da mente é a base que permite todas as manifestações de inteligências. Somos livres para
nos construir e desconstruir como diferentes personagens. O problema é que nos fixamos de alguma maneira
à própria situação do personagem e, quando ela se altera, vamos sofrer.
[…] há uma natureza incessantemente presente, luminosa, que não é atingida pelas coisas. Uma boa analogia
é pensar que não importa quantas ondas existam, o lago está lá. Esta região de lucidez, coragem,
estabilidade, criatividade e segurança está presente em cada um.
Fonte: Revista Bodisatva n. 25, p. 29.

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