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POUSO ALEGRE
2017
1
Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto; Pós-Graduando em Direito
Constitucional pela Faculdade de Direito do Sul de Minas (FDSM/MG); LATTES:
http://lattes.cnpq.br/7477793590602736; Endereço Pessoal: Rua Antenor Viana Braga, 307, apto 202,
bairro Varginha, Itajubá/MG, (35) 3621 8648; itamobs@hotmail.com
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Doutor em Direito Constitucional; Faculdade de Direito do Sul de Minas (FDSM/MG),
LATTES: http://lattes.cnpq.br/3817170289306025; Endereço Pessoal: Avenida São Vicente de Paulo,
379, bairro São Vicente, Itajubá/MG, (35) 3622-3580, regis@jansennogueira.adv.br; Bolsista CAPES,
pós Doutorando em Direito Constitucional.
DIREITO DOS REFUGIADOS NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA
HISTÓRICA, LEGISLATIVA E DE DADOS DA ATUAL CONJUNTURA
RESUMO
Este estudo objetivou compreender os institutos relativos aos Direitos dos Refugiados
no Brasil. Para tanto, fez-se uma análise histórica e legislativa que regem o presente
objeto, sobretudo, sob a perspectiva de renomados doutrinadores. Perpassando por dados
de órgãos responsáveis, nacionais e internacionais, a fim de apurar a real e atual situação
que é dada ao refúgio, e aos refugiados, em solo brasileiro. Concluindo pela contumaz
necessidade de se garantir a efetividade das alterações legislativas, no que concerne ao
Direito dos Refugiados.
ABSTRACT
This study aimed to understand the institutes related to the Rights of Refugees in Brazil.
In order to do so, a historical and legislative analysis was conducted that governs the
present object, especially from the perspective of renowned doctrinators. Passing
through data from responsible national and international agencies, in order to ascertain
the real and current situation that is given to the refuge, and refugees, on Brazilian soil.
Concluding that there is a strong need to ensure the effectiveness of legislative changes,
as far as it concerns to the Refugee Rights.
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Danish Refugee Council. Closing Borders, Shifting Routes: Summary of Regional Migration Trends
Middle East. 2016. Disponível em: https://reliefweb.int/report/world/closing-borders-shifting-routes-
summary-regional-migration-trends-middle-east-may-2016. Acesso em: 03/04/2018
Para tanto, a metodologia utilizada foi a de revisão histórica e bibliográfica, bem
como a análise dos dados oficiais de diversos órgãos, nacionais e internacionais,
responsáveis pelo presente objeto. Utilizando-se de uma análise hipotético-dedutiva, a
fim de apurar a efetividade do instituto na proteção do presente grupo no Brasil.
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Asilo é conceituado como acolhimento de indivíduo estrangeiro perseguido em outro Estado por razões
de perseguição política individualizada. Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública A diferença
do asilo para o refúgio, no caso brasileiro, é o benefício de passaporte que permite a circulação além da
fronteira brasileira, não existem cláusulas de cessação, perda ou exclusão, possuí efeito constitutivo e é
uma medida de caráter político. Enquanto que o refúgio possuí caráter humanitário, tem efeito declaratório
e cláusulas de cessação, perda ou exclusão, resultado da Convenção Internacional sobre Estatuto dos
Refugiados de 1951. Disponível em: http://www.justica.gov.br/noticias/entenda-as-diferencas-entre-
refugio-e-asilo. Acesso em: 27/03/2018
Andrade (1996, pag. 05) aponta que o Direito Internacional dos Refugiados,
possuía duas vertentes na Liga das Nações. A primeira, institucional, baseou-se
justamente na criação de organizações para gerirem a agenda de refúgio. Já a segunda
vertente foi contratual, focada na formulação de documentos internacionais para
estabelecer o conceito refugiado, seus direitos e obrigações.
Todavia o trabalho realizado pela organização manteve o caráter coletiva ao
determinar o refúgio a partir da nacionalidade. Eram de tal forma, igualmente, históricos,
por focar somente em refugiados russos que experenciavam o fluxo migratório forçado
devido a Revolução Bolchevique em 1921. Devido a esse acontecimento criaram o Alto
Comissariado para Refugiados Russos, o qual foi expandido para atender turcos e
assírios. Um detalhe da Liga é sua temporariedade, já que suas instituições tinham prazo
de existência, o Alto Comissariado, por exemplo, foi extinto em 1931.
Em 1930, é fundado o Escritório Internacional Nassen para Refugiados, o qual
já tinha dada de extinção prevista para 1939. O objetivo seria a realização de ações
humanitárias para refugiado, porém a crise econômica de 1929 resultou em aporte
financeiro escasso. Na década seguinte, com a ascensão do Nazismo, houve aumento do
fluxo de refugiados, o que dificultou também as atividades (BARTELEGA, 2007, pag.
11).
Já em 1933, foi realizado o primeiro esboço de uma Convenção que suprisse as
lacunas de proteção aos refugiados, a qual poderia ser identificada como a vertente
contratual delimitada por Andrade (1996, pag. 05) anteriormente. Todavia, teve a adesão
de somente oito Estados. No mesmo ano, igualmente foi criado o Alto Comissariado
para Refugiados Provenientes da Alemanha, nomeado futuramente de Convenção
Referente aos Refugiados Provenientes da Alemanha. Foi o primeiro documento a
regular o refúgio a partir de uma dimensão individual, de tal forma os solicitantes de
refúgio deveriam provar o ato de perseguição por parte do Estado de origem e ausência
de proteção para ter a devida proteção.
Em 1939, foi criado o Alto Comissariado da Liga das Nações para Refugiados
(ACLNR), também tendo data limite para funcionamento, e o Comitê
Intergovernamental para Refugiados, que em conjunto com a ACLNR, deveria cuidar
da proteção jurídica dos migrantes forçados. Todavia, o início da Segunda Guerra
Mundial interrompeu o trabalho desenvolvido, resultando somente na assistência aos
cidadãos dos países aliados. Segundo Waldely (2016, pag. 22), o ACLNR continuou o
trabalho precariamente, até o fim da Liga das Nações. Já Moreira (2006, pag. 47) afirma
que, em 1943, a Administração das Nações Unidas para Auxílio e Restabelecimento
(ANUAR) foi a primeira a realizar ação para agenda de refúgio, atuando por cidadãos
de todos os países afetados pela guerra.
Durante a guerra, o debate sobre o refugio se intensificou, até seu fim sete
milhões de pessoas foram repatriadas pela ANUAR. Devido ao fato que a agência
dependia principalmente do governo estadunidense, surgiram questionamentos sobre a
política desenvolvia, tendo com denúncias de repatriação forçada (MOREIRA, 2006,
pag. 47).
No ano de 1947, a ANUAR foi substituída pela Organização Internacional para
Refugiados (OIR), no âmbito da Assembleia Geral das Nações Unidas. A agência foi
direcionada somente aos refugiados da guerra, não tendo caráter permanente
(BARTELEGA, 2007, pag. 14). Como afirmado por Moreira (2006, pag. 04), “embora
prestasse assistência somente aos refugiados europeus, foi, de fato, o primeiro
organismo internacional a tratar, de forma integrada, de todos os aspectos da
problemática dos refugiados”. A OIR deveria agir até 1952, porém ainda havia 400 mil
pessoas deslocadas no continente, demonstrando a necessidade de maior atividade.
Como Waldely (2016, pag. 25) afirma:
América do
Norte e 417.190 205.564 0 210.000 120 832.874
Caribe
Ҥ2. Para os fins do presente Protocolo, o termo "refugiado", salvo no que diz
respeito à aplicação do §3 do presente artigo, significa qualquer pessoa que
se enquadre na definição dada no artigo primeiro da Convenção, como se as
palavras "em decorrência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro
de 1951 e..." e as palavras "...como consequência de tais acontecimentos" não
figurassem do §2 da seção A do artigo primeiro”. (Protocolo de 1967 Relativo
ao Estatuto dos Refugiados, 1967)
Possivelmente não há lei sobre estrangeiros, no Brasil, mais notória do que a Lei
6.815/1980, conhecida como Estatuto do Estrangeiro. Promulgada durante a Ditadura
Civil-Militar, a lei era reconhecida por tratar imigrantes como ameaça à segurança
nacional, assim não garantido diferentes direitos básicos para os mesmos. No caso dos
refugiados, a lei não destina nenhuma atenção especial, permitindo que as convenções
internacionais continuem sendo o texto principal sobre a temática.
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A OUA, no primeiro artigo, amplia o conceito de refugiado ao adicionar: “O termo refugiado aplica-se
também a qualquer pessoa que, devido a uma agressão, ocupação externa, dominação estrangeira ou a
acontecimentos que perturbem gravemente a ordem pública numa parte ou na totalidade do seu país de
origem ou do país de que tem nacionalidade, seja obrigada a deixar o lugar da residência habitual para
procurar refúgio noutro lugar fora do seu país de origem ou de nacionalidade”. Disponível em:
www.acnur.org/t3/portugues/recursos/documentos. Acesso em: 27/03/2018
Tal realidade foi alterada pela promulgação da Lei 9.474, em 22 de julho de 1997.
Com a lei, houve a incorporação definitiva da Convenção sobre o Estatuto do Refugiado
de 1951 ao ordenamento jurídico brasileiro. Igualmente significativa por ser a primeira
a implementar um Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos.
Ao revermos o desenvolvimento histórico brasileiro no campo, é possível
perceber o desenvolvimento necessário para chegar até a lei. Apesar de ter assinado o
Estatuto do Refugiado em 1952, somente seria promulgado no país, através do decreto
50.215, em 1961. Todavia, no documento indicava uma “reserva geográfica”, que
significa que o país somente aceitaria refugiados proveniente do continente europeu. Na
década seguinte, em 1972, seria promulgado o Protocolo do Estatuto dos Refugiados,
realizado em 1967, através do decreto 70.946.
Já em 1977, foi realizada a primeira missão do ACNUR no país, sendo instalada
na cidade do Rio de Janeiro. Tendo ocorrido durante a ditadura, as atividades da
organização focaram somente no reassentamento de refugiados latino-americanos em
terceiros países, após terem recebido vistas de turistas. Como no Brasil, Argentina,
Chile, Uruguai e Paraguai estavam sob governo militar na época. No total, foi possível
reassentar 20 mil refugiados em outros países.
Apesar da reserva geográfica brasileira, entre 1979-1980, o país acolheu 150
vietnamitas. Como havia a barreira geográfica, foi lhes dado um estatuto migratório
alternativo. O barco com os refugiados foi salvo por navios brasileiros, tendo sua
permanência aceita após a intervenção do ACNUR.
A década de 1980 apresenta diferenças consideráveis no tratamento aos
refugiados. Primeiramente, em 1982, o governo brasileiro decidiu favoravelmente pela
presença do ACNUR no país, embora não tenham concluído um Acordo-Sede. Em
seguida, em 1984, o governo parou de impor limites ao período que os refugiados não-
europeus poderiam permanecer no país, enquanto esperavam chances de reassentamento
em outros países.
Portanto, iniciou-se uma nova fase para aqueles que procuravam proteção no
Brasil, os mesmos poderiam receber documentos expedidos pelo ACNUR, que eram
endossados pelo Departamento de Polícia Federal. Na perspectiva do governo brasileiro,
os refugiados eram responsabilidade da organização, não do governo. Sendo a
organização, que, em 1986, reassenta 200 iraquianos da religião Bahai no país na
condição de imigrantes (ANDRADE e MARCOLINI, 2002, pag. 169).
A transferência e consolidação do escritório da ACNUR para Brasília, me 1989,
estreita a relação entre a organização e as autoridades brasileira. Já em período
democrático, o governo declara, através da promulgação do decreto 98.602, sua opção
pela alternativa (b) da Convenção de 1951. Isso significou a remoção da limitação
geográfica, o que permitiu a possibilidade para refugiados de qualquer lugar fossem
reconhecidos como tais no território brasileiro.
A ACNUR continuou atuando no país e avançando de forma considerável, já
que, no ano seguinte, o Brasil retirou suas reservas aos artigos 15 e 17 da Convenção de
1951. Como resultado, os refugiados tiveram direito de associação e de exercerem
trabalho remunerado. A organização e o governo também buscaram o estabelecimento
de um procedimento e divisão de responsabilidades relativos ao processo de solicitação
de refúgio.
Sobre essas mudanças, Andrade e Marcolini (2002, pag. 170) avaliam que:
Como resultado, a solicitação impede que o solicitante seja deportado para onde
sua vida ou integridade física esteja ameaçada, não importando que sua entrada no país
tenha sido ilegal, como garantido pelo art. 8º. Apesar dessa garantia, a maioria das
pessoas não buscam a Política Federal nas fronteiras para realizar o pedido de refúgio.
Segundo Jubilut (2009, pag. 06), a maioria dos solicitantes de refúgios procuram um dos
Centros de Acolhidas para Refugiados da Cáritas, tanto no Rio de Janeiro quanto São
Paulo pelo medo da deportação ou desconhecimento do procedimento. De tal forma, a
Cáritas realiza o primeiro atendimento, a explicação do procedimento de solicitação de
refúgio e o encaminhamento à Polícia Federal.
O encaminhamento é essencial, por ser preciso de um Termo de Declaração
lavrado pela Polícia Federal para iniciar o procedimento. Segundo o art. 9, a autoridade
a quem for apresentada a solicitação deve realizar o termo que contenham as
circunstâncias relativas à entrada no Brasil e às razões para sua vinda. É complementado
com as informações pessoas básicas do solicitante, como sua qualificação civil, a
existência de cônjuge entre outras.
O Termo não somente inicia o procedimento como atua como um documento
para o solicitante até que seja expedido um Protocolo Provisório. Considerando a chance
da pessoa não ter nenhum documento consigo, o Termo tem importante papel até o
lançamento do Protocolo, o qual leva, em geral, 20 dias para sua expedição. Após o
recebimento do Protocolo, o solicitante tem o direito de receber carteira de trabalho
provisória pelo Ministério do Trabalho.
Após esse processo inicial, usualmente os solicitantes realizam duas entrevistas.
Inicialmente na Cáritas, a qual verifica se o mesmo pode ser considerado refugiado pela
ACNUR para poder gozar da proteção internacional. Em seguida há a entrevista com o
CONARE, o órgão competente exclusivo da decisão final de aceitação da solicitação.
Segundo o Art. 12 (Lei n. 9474/97), as competências do CONARE são:
5. Conclusão
6. Referências
_____. La Evolución Dinâmica Del Desplazamiento. San José, 2000b. Disponível em:
<www.acnur.org/biblioteca/pdf/2051.pdf >. Acesso em: 06 abr. 2018
ACNUR, Alto Comisionado de las Naciones Unidas para los Refugiados; UNIÓN
INTERPARLAMENTARIA. Protección de Los Refugiados: Guía Sobre el
Derecho Internacional de Los Refugiados. Guía Práctica para Parlamentarios, n.
2, 2001. Disponível em: <
http://www.acnur.org/fileadmin/scripts/doc.php?file=fileadmin/Documentos/Publicaci
ones/2012/8951>. Acesso em: 06 abr. 2018