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Armas On­Line

Seu Portal sobre Armas, Tiro e Colecionismo na WEB

Submetralhadoras Thompson

Numa  fria  e  chuvosa  noite  de  outono  na  Chicago  de  1928,  confluências  da  Washington  Boulevard
com  a  Green  Street,  o  restaurante  de  Joe  Leoni  estava  quase  vazio;  nem  meia  dúzia  de  clientes  se
espalhavam  pelas  mesas.  Um  Mercury  coupé  preto  estaciona  defronte  ao  local  e  tres  homens
desembarcam. Em pouco menos de um minuto, o cenário do restaurante se transforma em um mar
de  sangue.  O  Mercury  arranca  em  disparada,  quase  deixando  um  dos  homens  para  trás,  ainda
tentando fechar a porta traseira. Dois desses tres homens exibiam a silhueta de uma arma com uma
característica  inconfundível,  uma  espécie  de  “panela”  redonda,  montada  sob  o  cano;  tratava‑se  da
“Tommy Gun”, “Chicago Piano” ou “Trench Sweeper”, seja lá mais quantos apelidos ela recebeu.

Cenas como essa se repetiram durante os
anos  da  era  da  “Proibição”,  a  Lei  Seca
nos Estados Unidos, a também chamada
Noble  Experiment  que  vigorou  no  país
de  1920  a  1933,  com  o  governo
controlando  a  fabricação,  transporte  e
comercialização de bebidas alcoólicas.

Ao lado, cena bastante comum, presente nos
filmes sobre a “Lei Seca”; um gangster com
sua “Tommy Gun”

A  sub‑metralhadora  Thompson  nasceu


em 1919, da mente criativa de um grupo
de  projetistas  norte‑americanos:  o
General  John  T.  Thompson,  que  acabou
perpetuando seu nome à arma, John Bell
Blish e Thomas Ryan que juntos, fundaram a Auto Ordnance Corporation, no ano de 1916, em Nova
York.  Credita‑se  também  a  outros  tres  engenheiros  a  participação  no  desenvolvimento  do  projeto:
Theodore H. Eickhoff, Oscar V. Payne, and George E. Goll.

O brigadeiro general Thompson tinha sido, na época em que era coronel, figura importante na área
de  armamentos  militares,  pois  foi  um  dos  coordenadores  e  chefe  do  Depto.  de  Ordenança  do
Governo  dos  Estados  Unidos,  responsável  pelo  famoso  teste  de  1907,  objeto  de  um  artigo  aqui,  no
nosso  site,  que  definiu  a  adoção  da  pistola  Colt  modelo  1911  como  arma  regulamentar  do  Exército
dos USA.

Apesar  de  que  há  controvérsias  sobre  John  Thompson  ter  sido  ou  não,  somente  ele,  o  projetista  da
Apesar  de  que  há  controvérsias  sobre  John  Thompson  ter  sido  ou  não,  somente  ele,  o  projetista  da
arma,  o  fato  é  que  foi  ele,  provavelmente,  o  criador  do    termo  “sub‑machine  gun“,  até  então  nunca
utilizado em uma arma de fogo.

Controvérsias à parte, o fato é que essa arma, em seu início de carreira, não
fez  sucesso  comercial  e  nem  militar.  Diga‑se  de  passagem,  quando
começou  a  se  tornar  popular  foi  da  forma  mais  estranha,  pois  se  tornou
durante os anos 20 e 30 um verdadeiro ícone nas mãos de contraventores e
“gangsters” americanos.

O “lado da lei” em Chicago – policial treina com a Thompson modelo 1921

Nem mesmo as vendas efetuadas para várias unidades policiais civis e do
FBI foram suficientes para alavancar o sucesso da arma. Só com a chegada
da  II  Guerra  Mundial  que  a  produção  das  Thompson  atingiu  patamates
lucrativos.  Em  1928  morre  Thomas  Ryan  e  John  Thompson  deixa  a  Auto
Ordnance,  vindo  a  falecer  em  1940,  com  80  anos  de  idade.  A  empresa
passou  então  para  Russell  Maguire  que  a  manteve  em  mãos  até  1951,
quando  George  Numrich  Jr.  a  adquiriu  para  incorporá‑la  à  sua  Numrich
Arms Corporation.

PROTÓTIPOS

Depois de uma tentativa frustrada de desenvolver um fuzil semi‑automático em calibre .30, a equipe
de Thompson resolveu se dedicar a uma arma de fogo automático, utilizando uma munição menos
potente e conseguindo assim uma arma mais leve, sem as complicações inerentes à munição de alta
pressão,  como  culatras  trancadas  e  dispositivos  de  captação  de  gases  no  cano,  o  que  aumentaria  o
peso  e  comprometeria  a  meta  principal:  a  maneabilidade  e  a  portabilidade,  principalmente  em
trincheiras.

O  primeiro  modelo
desenvolvido  era  uma  arma
de  aparência  estranha,
alimentada  por  uma  fita  de
cartuchos,  aos  moldes  das
metralhadoras  Browning  cal.
30.  Porém,  o  cartucho  a  ser
empregado  seria  o  existente
.45  ACP,  desenvolvido  para
ser  usado  na  recém  adotada
pistola  Colt  mod.  1911,  pelo
Exército.

Inicialmente,  em  1919,  a


produção começou em escala
quase  que  artesanal  nas
instalações  da  firma  Warner
& Swassey.

Os  primeiros  testes  com  a  arma  indicaram  uma  cadência  de  tiro  muito  elevada,  algo  em  torno  de
Os  primeiros  testes  com  a  arma  indicaram  uma  cadência  de  tiro  muito  elevada,  algo  em  torno  de
1.000  tiros  por  minuto,  o  que  foi  julgado  inaceitável.Este  protótipo  ainda  não  tinha  coronha  e  nem
opção de montá‑la; ao invés disso, possuía dois punhos‑pistola.

Defronte  ao  punho  traseiro  havia  uma  armação  em  metal  onde  se  montava  um  alimentador  para
comportar a cinta de cartuchos. O cano posuía uma espécie de manga externa, a qual era perfurada
na  parte  próxima  à  câmara  para  melhorar  a  refrigeração.  As  miras  eram  fixas,  o  que  a  bem  da
verdade não tinham quase nenhuma utilidade. Com o ciclo de tiros alto, era uma arma virtualmente
incontrolável.

O sistema de ferrolho era bem simples, com percussor fixo e sistema de ferrolho aberto, “blow‑back“, o
que era, na verdade, o grande responsável pela alta velocidade dos diparos.

MODELO 1919

Em  1919  sai  da  prancheta  um  modelo  para  se  tornar  a  primeira  “Thompson”  real.  Ainda  não
dispunha de miras nem de coronha, o que comprometia muito a precisão da arma. Os dois punhos
pistola  foram  mantidos  e  a  princípio,  manteve‑se  a  opção  de  utilizar  a  cinta  de  projéteis  e  um
magazine vertical do tipo “box”. Posteriormente, eliminou‑se definitivamente a utilização da cinta de
projéteis. Poucas unidades foram produzidas, sendo que as últimas incorporaram uma alça de mira e
opção de montagem de uma coronha de madeira.

O modelo 1919, denominada de Thompson Nº 1, com seu sistema de carregamento híbrido por magazine tipo
O modelo 1919, denominada de Thompson Nº 1, com seu sistema de carregamento híbrido por magazine tipo
box e por uma cinta de projéteis

O modelo 1919 foi o que incorporou, pela primeira vez, uma tentativa de baixar a alta cadência de
tiro. O Capitão John Blish, sócio de Thompson na empresa, havia patenteado alguns anos antes um
sistema  que  denominou  de  “hesitation  lock  system“.  Através  de  uma  peça  de  bronze  em  formato  da
letra  H,  inserido  num  rasgo  a  ser  feito  no  ferrolho,  de  forma  inclinada,  agia  como  um  elemento  de
fricção,  o  que  retardava  ligeiramente  o  movimento  do  ferrolho  ao  se  fechar;  pode  ser  considerado
como  um  sistema  “delayed  blow‑back”  utilizado  em  algumas  pistolas  semi‑automáticas  (veja  mais
sobre  isso  em  nosso  artigo  sobre  sistema  de  culatras).  Com  o  sistema  de  Blish,  a  arma  baixou  sua
cadência para cerca de 800 disparos por minuto, o que mudou substancialmente suas características.

Detalhe do ferrolho e a ranhura para a montagem da peça projetada por Blish, o “Hesitation Lock System”

A Thompson 1919 de Nº 8, uma configuração definitiva para o uso de carregadores “box” e os futuros tambores
de 50 e 100 cartuchos de capacidade

MODELO 1921

Em  1920,  a  Auto  Ordnance  resolve  demonstrar  seu  produto  para  o  Exército  Americano,  em  Camp
Em  1920,  a  Auto  Ordnance  resolve  demonstrar  seu  produto  para  o  Exército  Americano,  em  Camp
Perry, um campo de treinamento situado às margens do Lago Erie, em Ohio. Surpreendentemente o
resultado  dos  testes  foi  mais  do  que  satisfatório  deixando  o  pessoal  técnico  do  Exército  muito
animado.  Como  a  Auto  Ordnance  não  tinha  alta  capacidade  de  produção,  ela  sub‑contratou  a  Colt
Firearms para a produção de 15.000 dos agora chamados modelos 1921.

A Thompson modelo 1921 com magazine “box” montado, tambor para 50 cartuchos e a alça de mira da Lyman

Porém,  o  entusiasmo  inicial  não  se  manteve  por  muito  tempo,  e  dessa  produção  inicial  de  15.000
peças,  várias  delas  foram  aproveitadas  para  uso  nos  modelos  futuros.  A  bem  da  verdade,  esses
excedentes conseguiram suprir a Auto Ordnance por quase 20 anos! O modelo 1921 possuía uma alça
de  mira  da  empresa  Lyman,  com  graduações  de  50  e  100  metros.  Foi  eliminado  o    sistema  de  cano
provido  de  uma  manga  de  refrigeração  em  favor  de  um  cano  dotado  de  aletas  circulares  de
refrigeração, cujo diâmetro ia elegantemente diminuindo ao longo do cano, até desaparecerem.

Também agora, era oferecido como opção aos magazines tipo “box”, aqueles que viriam a se tornar a
“marca registrada” das Thompson: os carregadores de tambor, para 50 e 100 cartuchos, conhecidos
como “drum magazines“, popularmente conhecidos no Brasil como “latas de goiabada“.

Alça de mira produzida pela Lyman, com graduações até 100 metros
Uma caixa para venda comercial do modelo 1921, contendo dois carregadores para 50 cartuchos – com a
remoção do adaptador que vemos à direita, um tambor para 100 cartuchos podia ser ali guardado

Mesmo  com  a  redução  do  ciclo  de  disparos  para  cerca  de  800  por  minuto,  a  arma  ainda  era  muito
difícil  de  se  controlar  e  as  vendas  não  foram  animadoras.  Apenas  alguns  pequenos  contratos  com
agências de segurança do governo e unidades policiais mantinham a linha de produção na ativa. O
modelo 1921 continuou sendo produzido até 1933 e várias outras opções de calibres começaram a ser
oferecidas para abrir mais o leque de compradores. Mesmo assim, com seu peso em torno de 4,400
Kg.  e  um  comprimento  total  de  802  mm,  a  arma  era  muito  desajeitada  e  continuou  não  fazendo  o
sucesso esperado. Afinal, desembolsar na época cerca de US$ 200,00, isso em 1920, não era coisa que
se menosprezasse.
A Thompson mod. 1921 parcialmente desmontada onde se percebe as seguintes peças: acionador do ferrolho,
cano e armação, guias da mola recuperadora, ferrolho, mola recuperadora, o bloco em forma de H, a
empunhadura com o sistema de gatilho e a coronha destacável. 

O  modelo  1921  que  chegou  a  ser  fornecido  em  pequena  escala  ao  Exército  sofreu  algumas
modificações,  várias  delas  exigências  do  Depto.  de  Ordenança,  tais  como  a  troca  do  punho‑pistola
dianteiro  por  um  fuste  horizontal  de  madeira,  anéis  para  a  montagem  de  uma  bandoleira,  encaixe
dianteiro para uma baioneta de 16″ de comprimento (a mesma do fuzil Springfield 1903) e até uma
opção  estranha:  um  silenciador  desenvolvido  pelo  famoso  projetista  de  metralhadoras  pesadas,  Sir
Hiram Maxim, norte‑americano de nascimento e posteriormente tornando‑se cidadão britânico.

A versão militar da 1921 com baioneta, bandoleira, fuste horizontal e carregador “box” para 20 cartuchos
Acessórios da 1921 versão militar: baioneta, bainha e silenciador tipo Maxim

MODELO 1923

O modelo 1923, que é o mais raro e tecnológicamente interessante modelo da Thompson, introduziu
o uso de um cartucho desenvolvido especificamente para a arma, em conjunto com a Remington: o
cartucho  .45  Remington‑Thompson,  destinado  a  suprir  a  sub‑metralhadora  com  um  cartucho  bem
superior em potência e velocidade do que o utilizado pela pistola Colt 1911.

Tratava‑se  de  um  cartucho  de  diâmetro  idêntico  ao  .45ACP,  mas  com  um
comprimento  de  26mm  contra  os  23mm  do  .45  ACP,  com  projétil  de  250
grains  e velocidade inicial de 1.450 pés/seg., uma enorme diferença quando
comparado  aos  850  pés/seg.  do  seu  concorrente.  Um  carregador  especial
teve que ser desenvolvido para se utilizar este novo cartucho, comportando
18 deles ao invés dos 20 como os que utilizavam os cartuchos .45.

À esquerda,o cartucho .45ACP e o Remington‑Thompson .45

Além  dessa  interessante  modificação,  o  catálogo  da  Thompson  de  1923


oferecia  a  sub‑metralhadora  em  uma  variedade  de  outros  calibres:  o  .351,
desenvolvido  pela  Winchester  para  seu  rifle  semi‑automático  de  1907,  o  9mm  Mauser  Export,
cartucho  desenvolvido  para  as  pistolas  Mauser  C96,  o  9mm  Parabellum,  de  longe  o  mais  popular
cartucho  para  sub‑metralhadoras  já  utilizado,  e  um  cartucho  tipo  “shot‑shell“,  carregado  com
chumbinhos  de  caça.  Não  se  sabe  ao  certo  a  quantidade  de  armas  produzidas  nesses  calibres,  mas
pelo que se avalia hoje em dia, devem ter sido muito poucas as Thompson fabricadas para uso desses
cartuchos.  O modelo 1923 também teve sua versão militar, praticamente idêntica ao modelo 1921 que
foi fornecido ao Exército, agora com a adição de um bipé.
Acima, relação dos cartuchos fornecidos no modelo 1923: 1) Remington‑Thompson .45, 2) .351 Winchester, 3)
.45 ACP, 4) 9mm Mauser, 5) 9mm Parabellum, 6) Thompson Shot e 7) cartucho de manejo ou festim. 

No  início  da  década  de  50,  a  Numrich  Arms,  proprietária  da  Auto  Ordnance  colocou  em  seus
catálogos  a  oferta  da  sub‑metralhadora  em  calibres  9mm  Parabellum,  7,63mm  Mauser  e  7,65mm
Parabellum  e  é  possível  de  que  essas  armas  tenham  sido  originalmente  produzidas  com  base  no
modelo 1923.

MODELO 1927

O modelo 1927 foi outra tentativa de se aproveitar o estoque existente da 1921 e lançar uma versão
com  tiro  semi‑automático.  O  motivo  pelo  qual  a  Auto  Ordnance  imaginou  que  uma  sub‑
metralhadora com tiro semi‑automático venderia mais, é um mistério. O fato é que, de acordo com
algumas leis de alguns estados, policiais eram impedidos de usar armas automáticas, o que em parte
explica o fato. As marcações externas da 1927 especificavam bem o funcionamento da arma: “Model
1927  –  Thompson  semi‑automatic  carbine”.  As  alterações  mecânicas  não  foram  de  grande  monta,  o
que permitia a conversão desse modelo para tiro automático com certa facilidade.

MODELO 1928

Em 1928, o Governo dos Estados Unidos, através do Departamento da Marinha, faz um pedido em
pequena quantidade de sub‑metralhadoras, para uso em caráter experimental pelos Fuzileiros Navais
em missão na Nicarágua. Este foi a primeira demonstração real da Thompson em combate, após os
testes feitos em Camp Perry.

Também  baseada  no  modelo  1921,  as  armas  destinadas  ao  Exército  possuíam  as  mesmas
características, como o fuste horizontal no lugar do punho‑pistola dianteiro, encaixe para baioneta e
anilhos  para  bandoleiras.  Com  algumas  sutís  alterações  no  ferrolho  e  na  mola,  o  ciclo  de  disparos
caiu  de  cerca  de  800  tiros  por  minuto  para  700.  Uma  das
principais  inovações  da  1928  foi  a  incorporação  de  um
dispositivo  destinado  a  reduzir  a  tendência  da  arma  em  subir,
quando  em  fogo  mais  contínuo.  Entra  em  cena  um
compensador  frontal,  o  chamado  Cuീ�s  Compensator,
desenvolvido e patenteado pelo Coronel Richard M. Cuീ�s.

À esquerda, o Cuീ�s Compensator

O dispositivo era um prolongamento de aço, como um pequeno tubo sem raiamento, a ser encaixado
O dispositivo era um prolongamento de aço, como um pequeno tubo sem raiamento, a ser encaixado
na extremidade do cano, com um orifício que o trespassava de lado a lado para servir de alojamento a
um  pino  de  retenção.  O  diâmetro  interno  deste  tubo  era  pouco  acima  do  calibre  utilizado  nos
projéteis.  Na  parte  superior  haviam  quatro  recortes  usinados  para  permitirem  que  os  gases  por  ali
escapassem,  assim  que  o  projétil  atravessava  o  dispositivo.  Com  esse  escape  de  gases  direcionado
para  cima,  havia  uma  tendência  da  arma  se  manter  na  horizontal.  Esses  engenhosos  e  simples
dispositivos  foram  largamente  usados  posteriormente,  e  até  hoje  são  montados  em  armas  de
competição, como nas pistolas semi‑automáticas destinadas ao Tiro Prático.

A Thompson modelo 1928 com o Cuീ�s Compensator, duplo punho pistola e carregador “drum” para 50
cartuchos

Modelo 1928 mostrada aqui sem o carregador – nota‑se bem aqui as aletas de refrigeração do cano

MODELO 1928A1

A Cavalaria do Exército dos Estados Unidos resolve solicitar à Auto Ordnance o fornecimento de 400
sub‑metralhadoras, com mínimas alterações em relação às anteriormente fornecidas para a Marinha,
a  fim de equipar a guarnição de seus veículos. Não foi uma grande demanda mas ajudou a aliviar
um pouco os estoques da empresa.
Desenho esquemático da Thompson modelo 1928A1 – nota‑se o reservatório no interior da coronha para alojar
uma lata de óleo lubrificante – clique na foto para maior ampliação.

Nesta  oportunidade  e  sempre  visando  aumentar  seu  leque  de  ofertas  para  vender  mais,  a  Auto
Ordnance lança um controverso cartucho, baseado no próprio .45ACP, sem projétil mas com um uma
cápsula  plástica  contendo  alguns  bagos  de  chumbo  de  caça.  Claro  que  a  intenção  não  era  de  caçar
pequenas aves, mas há de se convir que aumentava em quase tres vezes a eficácia da arma, pois após
serem  disparados,  as  capsulas  se  rompiam  e  os  bagos  de  chumbo  se  espalhavam  de  forma
desordenada. Não se sabe  se em alguma ocasião chegou‑se a utilizar esse tipo de munição.
Uma Thompson 1928 com carregador “drum” de 100 cartuchos

Foi também nesta ocasião que decidiu‑se eliminar definitivamente a opção do carregador de tambor
para  100  cartuchos.  Depois  de  muitas  experiências  e  testes  na  utilização  deles,  afirmava‑se  que  não
eram confiáveis, provocando falhas de alimentação constantes, além de possuir um peso excessivo e
ser muito grande.

Detalhe superior da abertura e encaixe do carregador tipo tambpr para 50 cartuchos

O  carregador  tipo  tambor  sempre  foi  crítico  em  todas  as  armas  onde  foi  utilizado,  pois  exigia  um
cuidado  especial  durante  a  carga,  com  o  correto  alinhamento  dos  cartuchos.  Tratava‑se  de  um
mecanismo sensível, por ação de mola e suscetível de falhar na medida em que fosse muito utilizado.

Instruções  para  seu  carregamento  eram  impressas  no  próprio  tambor,  e  requeriam  uma  operação
algo complexa. As munições tinham que ser encaixadas uma a uma, em pé, numa ordem sequencial
estabelecida, em grupos de 5 cartuchos, formando‑se 6 sub‑grupos de 15 cartuchos cada, sendo que o
último grupo ficava com somente 10 cartuchos. Após a tampa ser cuidadosamente fechada, dava‑se a
último grupo ficava com somente 10 cartuchos. Após a tampa ser cuidadosamente fechada, dava‑se a
corda  no  dispositivo,  com  exatamente  nove  voltas,  por  intermédio  de  sua  chave.  Em  seguida,
deslizava‑se  a  parte  superior  do  carregador  na  ranhura  existente  na  armação  da  arma  que  ali  se
encaixava por ação de uma mola.

Detalhe da lateral esquerda de uma 1928A1, onde se nota o seletor de tiro acima do gatilho, botão serrilhado
para extração do carregador, e seletor de segurança (fire e safe). 

Os pesos dos carregadores utilizados pelas Thompson 1928 e 1928A1 eram os seguintes:

a) para o tambor de 50 cartuchos, 1,420 Kg. vazio, 2,240 Kg. cheio.

b) para o tambor de 100 cartuchos, 1,940 Kg. vazio, 3,740 Kg. cheio.

Detalhe do carregador tipo tambor da Thompson 1921, para 100 cartuchos, abandonado posteriormente devido a
constantes enguiços e excesso de peso
II GUERRA MUNDIAL

Submetralhadora Auto‑Ordnance Thompson 1928A1 – (coleção particular)

O  Governo  Francês  foi  o  primeiro  a  fazer  um  pedido  de  fornecimento  dessas  armas,  e  em  1939
encomendou 3.750 Thompson modelo 1928. Porém, durante a II Guerra, após a fatídica retirada de
Dunquerque,  os  militares  britânicos  repensaram  na  sua  posição  anterior  de  que  “não  apreciavam
armas  usadas  por  gangsters,  nas  mãos  de  seus  soldados”,  e  solicitaram  com  urgência  à  Auto
Ordnance o fornecimento de sub‑metralhadoras, na maior quantidade que poderiam produzir. Desde
1930,  sempre  passando  por  conturbados  problemas  financeiros,  a  Auto  Ordnance  já  estava  sob  as
mãos de Russell Maguire, homem visionário mas que já antecipava os tempos difíceis que viriam em
breve, mas com boas perspectivas no ramo de armamento militar. Russell fez um convite à Colt para
participar de um incremento na produção das Thompson mas recebeu uma posição negativa .

Assim, após a encomenda do Governo Britânico, a empresa sub‑contratou outra grande fabricantes
de armas nos Estados Unidos, a Savage Arms Co., de Utica, NY. Esse contrato permaneceu até que o
Governo Americano assumiu a responsabilidade de fornecimento de armas ao Império Britânico em
1941, com o advento da chamada Lease Lend. A Savage e a Auto Ordnance continuaram fornecendo
as Thompson, agora sob contrato norte‑americano.

MODELO 1928A2

O projeto e processos de manufatura do modelo 1928A1 não eram, na verdade, indicados para uma
produção  em  massa,  em  tempos  de  guerra,  pois  requeriam  inúmeras  operações  de  usinagem  e
acabamento manual. Assim sendo, a Auto Ordnance e a Savage se dedicaram a um minucioso estudo
de simplificação da arma. O resultado foi a chamada 1928A2 onde se eliminou o Cuീ�s Compensator,
as  miras  Lyman  e  as  aletas  de  refrigeração  do  cano.  Peças  como  a  alavanca  da  trava  de  segurança
foram  substituídas  por  processo  de  estamparia  bem  como  mais  algumas  peças  internas  de  menor
comprometimento.  O  acabamento  geral  foi  muito  simplificado,  eliminando‑se  caras  operações  de
polimento que só serviam para melhorar a aparência externa.

MODELO M1

O  modelo  M1,  baseado  na  1928A2,  foi  planejado  especificamente  para  a  produção  em  tempo  de
O  modelo  M1,  baseado  na  1928A2,  foi  planejado  especificamente  para  a  produção  em  tempo  de
guerra  e  suprir  a  alta  demanda  do  Exército  Norte  Americano,  agora  às  voltas  com  a  guerra  no
Pacífico.  Neste  tipo  de  cenário,  as  sub‑metralhadoras  iriam  se  afirmar  como  armas  ideais  para  o
combate  corpo  a  corpo  e  no  ambiente  da  selva,  onde  o  alcance  da  munição  utilizada  não  era  uma
necessidade.

O modelo M1, com alavanca de ferrolho movida da parte de cima para a lateral direita, simplificação da alça de
mira, eliminação do compensador Cuീ�s, coronha fixa, dentre outras simplificações

Na M1 eliminou‑se a peça retardadora projetada por Blish, o que derrubou uma antiga crença de que
as Thompson não poderiam funcionar bem sem ela. Outra simplificação de processo foi a eliminação
do rasgo de encaixe existente na armação para a montagem dos carregadores de tambor. Doravante,
somente carregadores retilíneos de 20 e 30 cartuchos seriam montados na arma. Em 1942, um modelo
que foi muito pouco fabricado chegou a incorporar um percussor móvel ao invés do tradicionalmente
fixo dos modelos anteriores, na tentativa de baixar ainda mais a cadência de tiro. Foi denominada de
modelo 42M1 .
Detalhe da lateral esquerda da M1A1 onde se nota o retém do carregador, extendido até a empunhadura, seletor
de tiro automático (FULL AUTO) ou semi‑automático (SINGLE) e seletor de segurança com as posições SAFE
e FIRE. 

A Thompson M1A1, última série a ser fornecida para o Exército Americano durante a II Guerra Mundial
Sub metralhadora Thompson M1A1, modelo de produção durante a II Guerra

Detalhe da lateral direita da M1A1, mostrando o novo posicionamento da alavanca do ferrolho e a ausência das
ranhuras na armação, que aceitavam a entrada dos carregadores do tipo tambor.

O  modelo  final  das  Thompson  foi  o  M1A1,  com  mínimas  alterações  em  relação  à  antecessora,  que
atingiu uma produção de 515.000 armas, antes de começar a ser gradualmente substituída pela sub‑
metralhadora  M3,  a  conhecida  “Grease  Gun”.  A  partir  daí,  as  Thompson  passaram  a  receber  um
status  de  “arma  padrão  limitada”,  com  sua  distribuição  às  unidades  em  combate  cada  vez  mais
escassa.
Sub‑metralhadora M3, a conhecida “Grase‑Gun” (Engraxadeira), projeto desenvolvido durante a II Guerra
destinada a suprir as tropas de forma rápida e barata com uma arma confiável

Cumpre citar aqui as Thompson que foram modificadas na Inglaterra, pela B.S.A. (Birmingham Small
Arms  Company),    tradicional  fabricante  de  armas  e  de  motocicletas.  Essas  modificações  foram
efetuadas  sobre  o  modelo  1921  para  trabalhar    com  opções  de  tiro  seletivo,  ou  seja,  um  dispositivo
que  permitia  selecionar  entre  tiro  totalmente  automático  e  tiro  semi‑automático.  O  calibre  das
Thompson modificadas na B.S.A era o
9mm  Parabellum,  o  mesmo
empregado  nas  sub‑metralhadoras
Sten,  que  foram  desenvolvidas  na
Inglaterra alguns anos mais tarde.

Ao  lado  ,  uma  1921  modificada  pela


B.S.A.

Esses  modelos  tiveram  o  gatilho  e  o  guarda‑mato  movidos  para  a  parte  posterior  da  armação  e  a
coronha, similar aos do rifle S.M.L.E. Enfield, era montada diretamente na parte traseira da armação.
O fuste também foi alterado para um outro de dimensão maior do que os utilizados pelas Thompson
em  uso  Estados  Unidos.  Note  que  o  modelo  da  foto  possuía  um  compensador  de  recuo  similar  ao
Cuീ�s Compensator. 

O APÓS GUERRA

Apesar do sucesso com as vendas para o governo entre 1940 e 1945, com o fim da II Guerra, os ativos
Apesar do sucesso com as vendas para o governo entre 1940 e 1945, com o fim da II Guerra, os ativos
da  companhia  acabaram  passando  às  mãos  de  George  Numrich,  em  1951,  presidente  da  Numrich
Arms Corp. de West Hurley, no estado de Nova York.  A Numrich Arms se especializou na venda de
peças  de  armas  principalmente  oriundas  de  estoques  remanescentes  de  empresas  que  faliram.  Até
1961,  a  empresa  dispunha  de  grande  quantidade  de  componentes  das  Thompson  para  serem
montadas  e  vendidas  à  órgaos  governamentais,  quando  então,  sem  mais  peças,  abandonou  esse
mercado.

Em  1974,  após  obter  aprovação  do  Treasury  Department’s  Bureau  of  Alcohol,  Tobacco  and  Firearms,  a
Numrich  começou  a  fabricar  as  Thompson  novamente,  na  versão  semi‑automática  e  baseada  no
modelo 1928. A maior parte dos componentes eram peças novas mas várias delas eram sobreviventes
pós guerra da linha de produção da Savage e da fábrica de West Hurley.

As submetralhadoras Thompson são, até hoje, objeto de desejo de diversos colecionadores de armas
militares,  atingindo  valores  bem  altos  no  mercado  de  coleção,  principalmente  os  modelos  da  época
áurea, as 1921 e 1928 pré‑guerra.
Uma variedade de réplicas existem no mercado norte‑americano,
como  também  “originais”    fabricadas  pela  firma  Kahr  Arms  de
Blauvalt,  N.Y.,  atual  detentora  dos  direitos  obtidos  pela
negociação  da  Auto  Ordnance  pela  Numrich.  Algumas  réplicas
são inoperantes e outras  oferecidas somente com opção do tiro
semi‑automático.

Carabinas baseadas nas sub‑metralhadoras Thompson, produzidas pela
empresa Kahr Arms Co.

Uma coisa, porém, é inquestionável: poucas armas como as sub‑
metralhadoras  Thompson  sofreram  tantos  reveses  comerciais  e
conseguiram  se  erguer  posteriormente,  seja  pela  incansável  insistência  de  seus  fabricantes  ou  por
razões alheias ao mercado, como a eclosão de um conflito bélico a nível mundial.

De uma forma ou de outra, a Thompson foi uma dessas armas e que, com o passar do tempo, criou
para si mesma uma imagem mais digna do que possuía nos idos da Lei Seca; participou ativamente
de  dois  grandes  conflitos,  a  II  Guerra  e  a  Guerra  da  Coréia,  com  alto  índice  de  confiabilidade,
ajudando de alguma maneira a preservar a vida de muitos soldados.

Wriീ�en by Carlos F P Neto

04/05/2011 às 16:30

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