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Rito básico

Este documento é a expressão de uma prática de oferta básica seguindo pressupostos


do simbolismo teúrgico e da espiritualidade hellênica, uma prática que emergiu nos
limites da experiência religiosa de um culto doméstico tanto através da inspiração e
comunhão com os Imortais, do estudo da sabedoria dos antigos e do contato com outros
buscadores.
A estrutura básica deste procedimento ritual consiste na invocação inicial de Héstia,
purificação, oferta, e a invocação final à deusa já aqui citada. Dentro desta estrutura
comum 1 há uma considerável flexibilidade, logo é possível (com sabedoria e reverência
ao sagrado) a adequar às diferentes situações de cada casa e comunidade.

Purificação e Consagração
Em Jâmblico podemos perceber uma divisão em duas seções dos benefícios das práticas
purificativas, a primeira seção (os benefícios “menores”) dizem respeito a uma elevação
do homem em relação à aquilo que é mortal e contingente, já a segunda seção (os
benefícios “maiores”) tem como foco a “reversão” da alma humana, a redirecionando e
a alinhando com o movimento próprio das coisas divinas. Ambos benefícios estão ligados
à propiciação de uma determinada relação entre aqueles que estão envolvidos no rito: o
“benefício menor” prepara o mortal para o contato com aquilo que é imortal, enquanto o
“benefício maior” propicia a comunhão e consonância entre ambos.
O aspecto da purificação ligada ao benefício menor é a neutralização de impurezas
(miasmas) e seus vetores que estão ligados aos aspectos da finitude humana: nascimento,
reprodução e morte 2. Tal neutralização não implica que estes aspectos seriam
essencialmente malignos, mas que as disposições espirituais a eles relacionadas não
teriam lugar nesta modalidade de rito, cujo propósito requer a frutificação de um outro
conjunto de disposições que se colocam acima de tais aspectos.
Já em relação aos benefícios maiores, a purificação adquire o sentido de ordenar
interiormente o adepto. O que se dá primeiramente através da restauração da própria
essência da alma, fazendo esta retomar sua perfeição, completude e independência, a

1Comum a basicamente todos os ritos hellênicos contemporâneos, com exceção de casos específicos
como a celebração de Deuses ctônicos.
2 Jâmblico, Stob. I, 456, 6-8
elevando à causa criativa de todas as coisas e por fim integrando-a na ordem divina 3
fazendo com que a alma possa chegar ao estado de epitedeiotes, o que significa possuir
as disposições adequadas para receber o influxo das atividades (ἐνέργεια) dos Deuses 4.
A purificação sob este aspecto ganha um caráter distintamente positivo ao não
simplesmente suspender ou neutralizar atividades indesejáveis e sim sincronizar as
disposições internas do homem com Thémis, com o regimento divino que estabelece os
laços e arranjos que interconectam todas as coisas 5.
Sob o aspecto do objeto a ser purificado, a primeira modalidade de purificação tem seu
foco tanto no ambiente como no adepto, sendo a segunda modalidade focada nos
aspectos interiores deste último. Não podemos esquecer a purificação do ambiente, pois
é ela que circunscreve o limite físico do rito, estabelecendo um espaço livre de forças ou
atividades que possam influenciar negativamente os procedimentos ali realizados. É
importante notar que o procedimento ritual de purificação aqui exposto segue nas
etapas estabelecidas um movimento do espaço macro- ao micro-, contemplando de
forma satisfatória os elementos pensados por Jâmblico.
O adepto antes deve tomar um banho e vestir roupas limpas, ou lavar as mãos se o
anterior não for possível6. Após isto ele deverá iniciar o rito através de um Hino e uma
Oração a Héstia feita sob sua chama, como o abaixo:

Estíi, íte ánaktos Apóllonos ekátoio


(ἑστίη, ἥτε ἄνακτος Ἀπόλλωνος ἑκάτοιο)
Pythoí en igathéi ierón dómon amfipoléveis
(Πυθοῖ ἐν ἠγαθέῃ ἱερὸν δόμον ἀμφιπολεύεις)
aieí són plokámon apoleívetai ygrón élaion
(αἰεὶ σῶν πλοκάμων ἀπολείβεται ὑγρὸν ἔλαιον)
ércheo tónd᾽ aná oíkon, én᾽ ércheo thymón échousa
(ἔρχεο τόνδ᾽ ἀνὰ οἶκον, ἕν᾽ ἔρχεο θυμὸν ἔχουσα)
sýn Dií mitióenti: chárin d᾽ ám᾽ ópasson aoidí.

3 Jâmblico, Stob. I, 455, 25-456,


4 Jâmblico, DM 238, 17-239,
5Cabe aqui lembrar o parentesco que a palavra grega Themis tem com o sânscrito Dharma, derivando da
mesma raiz indo-européia “dhē-”.
6"Nunca verta uma libação do cintilante vinho a Zeus depois da aurora com mãos não-lavadas, nem a
outros dos deuses imortais; senão eles não só não ouvirão suas preces como também as cuspirão de
volta." Hesíodo, 'Os Trabalhos e os Dias', verso 724ss
(σὺν Διὶ μητιόεντι: χάριν δ᾽ ἅμ᾽ ὄπασσον ἀοιδῇ)

Héstia, que de soberano Apolo longiflecheiro


um sagrado lar na divina Pito assistes,
sempre de tuas madeixas escorre fluido óleo de oliveiras.
chega nesta casa, achega-te, de coração
com Zeus próvido: e ao mesmo tempo infunde graça no canto.7

A oração a Héstia simboliza também o estabelecimento de um primeiro nível do espaço


sagrado, instaurando ali um domínio intermediário entre o mundo dos Deuses e dos
mortais, o que se torna claro no hino de Arístono de Corinto que a coloca como
habitante tanto do Olimpo como do “umbigo da terra”8 , indicando a comunicabilidade
destes domínios. Em Eurípedes ela é retratada como o eixo de uma dança formada por
círculos concêntricos 9, movimento que edifica o domínio do Sagrado, simbolizando a
instauração do temenos como um território consagrado aos Deuses, qual se estende ao
redor do fogo que é símbolo da presença da ígnea deusa 10. Segundo Proclo 11, Héstia
expressa no nível da manifestação do Ser a Unidade divina de cada divindade, ela se
expressa como a mônada, se colocando como símbolo do Ser que flui da divindade 12 de
todos os Deuses 13. Nesta etapa poderá ser acendido folhas de sálvia ou incenso.
Após isso, as mãos e a boca devem ser purificadas por serem os principais instrumentos
do corpo envolvidos nas atividades ritualísticas, o procedimento é realizado com a água
lustral e se desejar pode-se colocar uma pequena folha de loureiro na boca14
simbolizando a oferta da palavra ao domínio de Apollo e de Eupheme, a daimona que no

7 Tradução de Rafael Brunhara


8A associação com o Axis Mundi é inevitável no contexto deste rito, uma compreensão muito adequada
deste conceito pode se encontrada na obra Sagrado e Profano de Mircea Eliade.
9 Eurípedes, Ion, 461–4.
10Por isso Plotino vê Héstia como o princípio intelectivo da Terra na Enéada IV,4,27, e Proclo viu também
na Terra o trono da deusa (Livro V, capítulo 20)
11 Proclo, Teologia Platônica Livro III, Capítulo 9
12Tal imagem do fluir do Ser se adequa também ao testemunho dos Oráculos Caldeus que chamam a
Deusa de “fonte da Virtude”(fr.51&52)
13 Sendo a essência dos seres associada por Platão à Deusa no Crátilo, 401
14Este procedimento tem base em um costume órfico, e sua versão exagerada foi registrada por Teofrasto
em Char. 16.2
Orfismo está relacionada às palavras de louvor, o que é justo de ser feito quando
enunciamos os hiero logoi.
O local do rito e as pessoas envolvidas nele devem ser orvalhadas pela água lustral
enquanto se diz: “O theoi genoisthe apotropoi kakon!” (Ω θεοί γενοισθε αποτροποι
κακών!) “Ó Deuses, retirai daqui todo o mal!”, ordenando que todos os miasmas bem
como influências deletérias e a presença de kakodaimones seja retirada, tal orvalhar é
feito com folhas de sálvia ou louro molhadas pela água. Aqui a purificação estabelece
simbolicamente o naos, a estrutura central do antigo templo aonde a estátua dos deuses
e ofertas votivas eram colocadas, encerrando a parte “exotérica” do templo.
Se retira a lâmina consagrada da bainha. Ela é o fio que rompe o domínio profano através
de seu corte e instaura o eflúvio da luminosidade divina, por isso é levantada em direção
ao céu enquanto se entoa um hino a Hélios:

Hêlie pantokrator (Ἥλιε παντοκράτορ)


Ó todo-poderoso Hélios
Kosmou pneuma (κόσμου πνεῦμα,)
Espírito do mundo
Kosmou dunamis (κόσμου δύνααμις,)
Poder do mundo
Kosmou phôs (κόσμου φῶς)
Luz do mundo 15
Que sua luz por este meio se faça presente.16

Após isto se aponta a lâmina para cada uma das quatro direções 17 se posicionando
inicialmente frente ao altar (estando de costas para o mesmo) seguindo então a
sequência de frases em sentido anti-horário 18:

"Hékas, hékas, éste bebeloi!"(Εκάς, Εκάς, εστέ βέβηλοι!)

15 Macrob. Sat. lib. i. c. 23. (Citado em Corey, Ancient Fragments, pg, 306)
16 Adição nossa.
17Parte considerável desta etapa tem como inspiração práticas de grupos hellenos étnicos como o YSEE,
cujo procedimento ritual pode ser visto no livro “ Ελληνική Εθνική Θρησκεία: Θεολογία και
Πράξις” (Ellinikí Ethnikí Thriskeía: Theología kai Práxis). O uso da lâmina ritual não é comum na maioria
dos grupos hellenos modernos, bem como das outras três frases de banimento.
18 Se for possível, o ideal seria posicionar o altar em direção Leste.
“Que os profanos daqui se afastem!”19
"Hékas, hékas, éste anosioi!"(Εκάς, Εκάς, εστέ ανόσιοι!)
“Que os sacrílegos daqui se afastem!”
"Hékas, hékas, éste dólioi!"(Εκάς, Εκάς, εστέ δόλιοι!)
“Que os traiçoeiros daqui se afastem!”
"Hékas, hékas, éste alitrói!"(Εκάς, Εκάς, εστέ αλιτρόι!)
“Que os assassinos daqui se afastem!”

A lâmina consagrada 20 ou as mãos voltadas paras as quatro direções (no caso da falta do
instrumento) separam desta forma o sagrado e o justo (hosios kai dikaios) do ímpio e
injusto 21. Tal procedimento neste contexto ritual significa não só a demarcação do espaço
sagrado, mas o estabelecimento simbólico da parte do templo denominada adyton
(Άδυτον) cuja entrada era vetada para o público em geral, sendo um espaço reservado
para a estátua de culto, aonde somente aqueles que estavam ligados ao serviço sagrado
poderiam entrar. Walter Burkert cita uma interpretação teológica a partir de Plotino a
respeito deste elemento da arquitetura sagrada grega, qual significaria o domínio
espiritual que se encontra além do que é visível22, sinalizando o estabelecimento do nível
“interno”23 da religião, o que se confirma no relato de que neste lugar a Pítia bebia das
águas de Kassotis antes das práticas ecstáticas 24, dando às práticas exteriores da oração
(euchai), sacrifício (thysiai) e a entrega de ofertas votivas (anathemata) uma profunda
dimensão interna.

19Tal frase seria dita pelos mistagogos dos ritos eleusinos com o objetivo de apartar aqueles que não
estariam preparados para os mistérios. A versão latina desta frase pode ser encontrada na Eneida de
Vírgílio, aonde uma Sibila se utiliza desta fórmula para afugentar os profanos antes de realizar uma profecia
(Aen 6.258). Também é notável a lenda maçônica da presença de uma fórmula semelhante (“eskato
bebeloi”) inscrita em uma estátua de Hermes na entrada da escola pitagórica.
20A consagração deve ser feita anteriormente através do Fogo (em nome de Zeus e sob a chama do altar),
do Ar (em nome de Hera sob a fumaça de incenso), da Água (em nome de Poseidon sob a água lustral) e
da Terra (em nome de Deméter sob ervas aromáticas). Recomendo a leitura da “Cerimônia Maior da
Consagração de Ferramenta” (Η Μείζων Εργαλείο Τελετε) da Alexandra Nikaios, um excelente
procedimento para a consagração desta lâmina.
21O "mal" retirado pelo processo de purificação (que aqui não se limita ao rito, mas é um modo de vida) é a
submissão da alma em relação com as as coisas que são subordinadas a ela (Life of Pythagoras, tradução
de Thomas Taylor, Inner Traditions, p248), propiciando o bem que é a liberdade desta submissão e retorno
da alma á sua fonte.
22 Walter Burkert, The Temple in Classical Greece, em “Temple in Society”, editado por Michael V.Fox, p35
23Preferi escolher o termo “interno” ao invés de esotérico para que não haja confusões com a vulgarização
neo-espiritualista deste termo.
24 Plutarco, De def. orac. 438b
O uso da lâmina consagrada nesta etapa invoca a memória da faca sacrificial clássica
denominada kopis (κοπίς) e outras lâminas ritualísticas das tradições indo-européias 25
carregando neste contexto um caráter simbólico polar e solar ao passo que estabelece
em um novo grau o modo de relação entre as realidades superiores e inferiores através
do banimento da dimensão profana e o faz como a analogia platônica do Sol, cuja
luminosidade extingue as “sombras” das coisas referentes às marcas da finitude para as
revelar sob o ponto de vista da Eternidade 26, pois a expulsão do profano, do sacrílego,
do traiçoeiro e do assassino não se refere simplesmente ao banimento de indivíduos que
possam ser agrupados nestas categorias, mas ao que é propriamente o fundamento
destas categorias que é o obscurecimento do Sagrado e das três dimensões das quais os
Deuses são o fundamento: o Intelecto, o Ser e a Vida 27. O obscurecimento da Intelecto
corresponde ao rompimento da ligação entre inteligibilidade e sensibilidade,
característica central do sacrílego (cuja visão das coisas perdeu seu caráter “teofânico”),
tendo por consequência obscurecimento do Ser pois ao passo que as coisas perdem sua
luminosidade estas também perdem sua verdade, dando lugar assim tanto às sombras da
dissimulação e da trapaça como a transgressão em relação à Vida, sendo o assassinato
não o mero ato pontual de matar e sim de esvaziar o sentido desta pulsão divina (o “pyr
aeizoon”) presente na estrutura da realidade, pois como dizia Heráclito: “Todas as coisas
estão repletas de almas e espíritos divinos”28. Após o uso da lâmina se deve retornar à
posição original, com ela apontada para baixo se diz:

Kaí ekiníthi tís gís tá d´ themeília! (καὶ ἐκινήθη τῆς γῆς τὰ δ´ θεμείλια!)29
“E as quatro bases da Terra foram abaladas!”

Depois ela é guardada na bainha enquanto se diz:

Omnýomen efséveian Theoís


(Ομνύομεν ευσέβειαν Θεοίς)

25 Como o kaplo zoroastrista, a secespita romana e a kila budista


26 Platão, República, VI: 508d
27 Proclo, Elementos de Teologia, proposição 15
28 Diógenes Laércio, De vita et moribus philosophorum, IX:5-12
29Aqui adicionamos a dimensão agatodaemônica, fazendo referência ao PMG VII. 505-28 e o
contextualizando no contexto ritual atual que é o estabelecimento do domínio do divino sob o terreno.
timín írosiv, allilengýin omoíois, kai apéchtheia
(τιμήν ήρωσιv, αλληλεγγύην ομοίοις, και απέχθεια)
chlevataís, yvristaís, katadótaís te kai epiórkois
(χλευαταίς, υβρισταίς, καταδόταίς τε και επιόρκοις)
“Nós juramos devoção aos Deuses, honra aos Heróis, solidariedade aos nossos irmãos e
repulsão aos zombadores, difamadores, delatores e perjuros"

Em seguida é realizada a purificação das três dimensões da alma 30, divisão concebida por
Platão na República, aonde a cidade ideal surge como um símbolo da Alma 31. Segundo
Jâmblico a oração deve estar em consonância com a tríade do Amor, da Esperança e da
Lealdade 32 - as quais se relacionam a estas três dimensões. O procedimento de
purificação tem como foco três pontos do corpo associados a tal divisão, o estômago, o
coração, a cabeça e mais dois pontos adicionais, um referente ao elemento intermediário
entre a alma imortal e mortal que estaria associado ao pescoço 33 e outro localizado no
topo da cabeça qual estaria ligado ao elemento mais elevado do Nous. É importante
dizer que existem um conjunto de outros pontos relacionados à subdivisões destes
domínios 34, porém, o foco nestes outros pontos deve ser desenvolvidos em outras
operações por uma questão de economia ritualística. O procedimento de purificação é
realizado através do contato da água lustral (uma outra porção, diferente da usada na
primeira purificação) com cada um destes pontos seguido de um pedido para que Héstia
e Apollo os purifiquem. Essa etapa adicional referente aos três pontos pode ser adaptada
em certos contextos rituais mais comuns e corriqueiros à primeira purificação, mas seu
desenvolvimento em separado é interessante para ritos de natureza propriamente
teúrgica.
Os pontos e suas associações com os domínios ou dimensões da alma são os seguintes:
1) Apetitivo (epithymetikon)
O domínio da epithymia compreende desde nossos impulsos vegetativos (como a
digestão) aos desejos corporais básicos (como a fome e o desejo sexual). O ímpeto que

30Essa etapa é importante para práticas de cunho propriamente teúrgico, porém na prática corriqueira pode
ser compactada.
31 Platão, República IV
32 Jâmblico, DM 5.26
33 Platão,Timeu, 69e
34 Como a divisão de John Opsopaus que possui em sua totalidade sete pontos: koruphe, enkephalos,
trachelos, phrenes, gaster, gonades e hieron osteon
move esta dimensão é a busca pela satisfação de tais instintos, sendo necessário
desenvolver a virtude da Temperança para impedir que tais impulsos tomem um caráter
destrutivo sob o nome de vícios como o da glutonaria, ganância e outras formas de
desejo desmedido. Gaster (o estômago) é o símbolo central de tal domínio, relacionado
às transformações metabólicas do alimento e aos desejos responsáveis pela nutrição.
2) Irascível (thymoeides)
O domínio de thymos compreende nossas emoções e afetos, quando ajustada pela
virtude de Coragem produz frutos na forma de impulsos nobres como a honra e o senso
de justiça, quando desordenada sucumbe aos excessos da raiva e da violência. Phrenes
identificado com o coração e os pulmões) é o símbolo ideal de tal domínio.
3) Intermediário
O domínio intermediário entre alma mortal e imortal é representado pelo Trachelos
(pescoço) e possui um importante função no rito purificatórico já que este simboliza a
ligação entre a Eternidade e a Finitude, sendo a coluna que une estas duas dimensões. É
notável que o pescoço é o meio pelo qual o alimento é transportado da boca até o
estômago, além de ser o local onde estão localizadas nossas cordas vocais. Em ambos os
casos tais elementos anatômicos demonstram a natureza deste domínio com o da
comunicação.
4) Racional (logistikon)
O domínio do logos compreende desde o domínio da deliberação racional (o que em
geral identificamos com “racionalidade” em nossos dias) até o impulso transcendente em
direção à Verdade, estando isso de acordo com o que foi dito por Héraclito: “Uma só é a
sabedoria: conhecer a razão [logos], na medida em que ela governa todas as coisas por
meio de todas as coisas”35 . Este impulso deve ser guiado de forma com que não
sucumba aos vícios do orgulho e da indolência, afim de desenvolver a virtude da
Sabedoria. Enkephalos (o cérebro) é o símbolo ideal deste domínio, sendo o ponto a ser
tocado localizado na testa.
5) “Espírito” (Nous)
Compreendido como o aspecto mais elevado da alma humana e com o impulso
transcendente localizado no domínio do logos, é compreendido como uma semente da
divindade plantada no homem 36. Sobre o Nous muito se pode falar, mas pouco pode ser
dito, neste esquema ritual ele tem como seu símbolo ideal a coroa da cabeça, Koruphe.

35 Heráclito, 22B4 I DK
36 Walter Burkert, Greek Religion: Archaic and Classical, p
Veneração.
Após o processo de purificação e estabelecimento do espaço sagrado pode-se então
invocar as divindades acendendo o fogo sacrificial correspondente a cada uma delas a
partir da chama de Héstia, sendo as ofertas então queimadas por este fogo. Durante a
queima deve-se entoar hinos e orações às deidades, podendo se entoar seus epítetos
sagrados.
Nestes momentos foque sua atenção sob o fogo sagrado e com uma respiração calma
torne este presente em sua consciência como um ponto no qual o divino se revela
(sunthemata 37), percebendo o fogo em seu calor e movimento como expressão da
presença divina, fazendo com que seu Ser seja irradiado pelas atividades divinas desta
presença em um momento de plena comunhão. A meditação sob o fogo ou outros
símbolos exemplares possuem como fundamento o desenvolvimento de um conjunto
específico de disposições espirituais, as quais ressoam com modos diversos de relação
entre a alma humana, o Cosmos e os Deuses 38. A singularidade de cada um destes
modos não diz respeito somente aos laços analógicos específicos entre as Formas e seus
graus de manifestação na interioridade humana (ou seja, entre os vínculos simbólicos que
unem microcosmo e macrocosmo), mas do caráter único de cada alma humana e cada
divindade, por esta razão é lícito dizer que tais modos são situativos, na medida que
expressam situações possíveis de comunhão entre homens e deuses, e também
situadores na medida que ordenam e atualizam uma relação. Sendo a situação em seu
desvelamento cada modo particular em que a unidade relativa do homem comunga com
a unidade absoluta dos Deuses 39.
Após isto se verte as libações sob o fogo e há o agradecimento à presença dos Deuses,
encerrando este com a palavra: Guenito! (Γένοιτο!) Está feito!

37 Jâmblico, DM, 136.6.ff


38Isso pois segundo Proclo (De Philosophia Chaldaica 5) a alma é constituída tanto dos princípios racionais
ou intelectivos (logoi) provenientes das Formas (mônadas) como de símbolos divinos (sumbolôn)
provenientes dos Deuses (hénadas).
39 "While in the formal relationship the particular is subordinated to the universal, the particular possesses
by virtue of its very particularity a kinship with the Gods, because the Gods transcend form just as particular
beings express the limits of formal determination at the other end of the hierarchy. In this sense, we and the
Gods mirror one another: they are “nonbeings” in a superlative sense, we, qua particulars, in a privative
sense." Edward Butler, Offering to the Gods: a Neoplatonic Perspective
Encerramento.
No encerramento do rito deve ser feita uma nova oração a Héstia agradecendo sua
presença, pois o rito enquanto drama cosmológico tem nela seu centro 40, cujo poder
determina tanto o princípio como o fim de todos os processos, sendo este o motivo do
Alfa e o Ômega serem suas letras sagradas. Encerre novamente com a palavra: Guenito!
(Γένοιτο!) Está feito!
A água lustral que foi utilizada para as purificações devem ser vertidas na terra e as
ofertas retiradas com cuidado do altar para serem então descartadas.

40 Stobaeus, Eclog, Physic 1.22.1

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