Sie sind auf Seite 1von 12

“EXPLORANDO OS SONS DA MINHA VOZ E OS MOVIMENTOS DO MEU CORPO”

MUSICOTERAPIA IMPROVISACIONAL COM ABORDAGEM FLOORTIME


COM UMA CRIANÇA COM AUTISMO DE 10 ANOS – UM ESTUDO DE CASO*

"EXPLORING THE SOUNDS OF MY VOICE AND THE MOVEMENTS OF MY BODY"


IMPROVISATIONAL MUSIC THERAPY WITH FLOORTIME APPROACH WITH A
CHILD WITH 10 YEARS OF AUTISM - A CASE STUDY
Alessandra de O. Matias de Vasconcellos 1 & Salomé Filipa Magalhães Ferreira 2,
____________________________________________________________________
Resumo - Este estudo de caso descreve o processo musicoterapêutico de 8 meses
com “Antônio", um menino de 10 anos de idade, com autismo, não verbal e com
dificuldade de seguir regras. O trabalho apoia-se no modelo de musicoterapia
improvisacional integrado à abordagem DIRfloortime. O estudo pretende refletir sobre
algumas estratégias que podem ser usadas na interação com uma criança autista. O
estudo mostrou que a musicoterapia improvisacional/DIR traz benefícios significativos
no que se refere à comunicação não verbal e o estabelecimento de limites.
Palavras-Chave: Musicoterapia improvisacional, Transtorno do Espectro Autista,
Estudo de Caso, DIRFloortime, IMCAP-ND

Abstract - This case study describes a 8-month music therapy process with "Antônio",
a 10-year-old boy with autism, non-verbal and with difficulty to follow rules. The work is
based on the improvisational music therapy model integrated with the DIRfloortime
approach. The study aimed to reflect on some strategies that can be used in the
interaction with an autistic child. The study showed that improvisational / DIR music
therapy has significant benefits in terms of nonverbal communication and limits.
Keywords: Improvisational Music Therapy, Autism Spectrum Disorder, Case Study,
DIRFloortime, IMCAP-ND

INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma desordem do


neurodesenvolvimento, comportamental e complexa, com etiologias múltiplas e
diferentes níveis de gravidade (APA, 2014). Tem início precoce e curso crônico, não
degenerativo. O diagnóstico baseia-se na observação clínica do paciente juntamente
com o uso de escalas diagnósticas de avaliação específicas para o Autismo. O
diagnóstico abarca prejuízos na interação social, comunicação verbal e não verbal e

*Artigo elaborado como trabalho de conclusão de curso da Especialização em Musicoterapia da


Faculdade de Candeias, FAC.
1
Aluna do curso de especialização em musicoterapia da Faculdade de Candeias, Balneário
Camboriú, SC.
2
Aluna do curso de especialização em musicoterapia da Faculdade de Candeias, Balneário
Camboriú, SC
padrões restritos e repetitivos de comportamento, dentre outros sinais e sintomas.
(GATTINO, 2015).

Indivíduos com TEA apresentam desafios relacionados às habilidades sócio -


comunicativas que impactam as habilidades individuais em compartilhar a atenção,
expressar e entender comunicação verbal e não verbal, manter relacionamentos e se
envolver socialmente. (CARPENTE, 2016). Evidências apontam o Autismo como um
transtorno de causa multifatorial genética e ambiental. O manejo terapêutico é obtido
por vários tratamentos e a Musicoterapia propõe melhorar a qualidade de vida
aumentando a autonomia e melhorando a convivência social do indivíduo com autismo.
(GATTINO, 2015).

A musicoterapia é um processo interpessoal no qual o terapeuta usa música e


todas as suas facetas para ajudar os clientes a melhorar, restaurar ou manter a saúde
(BRUSCIA, 1996). Além de promover o desenvolvimento físico, mental, social e
cognitivo nas crianças com autismo, a musicoterapia atua como facilitadora das relações
inter-pessoais. Também se pode afirmar que a musicoterapia é uma abordagem
terapêutica que busca prevenir, desenvolver e/ou restaurar funções e potenciais do
indivíduo (TREURNICHT apud MAUAT, 2012) por meio de um processo no qual
terapeuta e paciente se manifestam através da música, dos sons, da voz, do corpo e
dos instrumentos musicais (PORTER apud MAUAT, 2012).

Os autores Paul Nordoff e Clive Robbins, criadores do modelo Improvisacional


Nordoff-Robbins, conhecido também como Musicoterapia Criativa, partem da premissa
que toda pessoa possui um núcleo que permite a capacidade de responder às Commented [D1]: às

experiências musicais: a music child. As crianças com Autismo interagiriam por meio da
improvisação musical a partir dessa habilidade não comprometida de criar e fazer
música.(GATTINO, 2015; CHAGAS, PEDRO, 2008).

Utilizando os recursos musicais, a Musicoterapia Improvisacional pode


estabelecer uma comunicação, desenvolver relações humanas, iniciar ou incrementar a
fala, diminuir padrões de comportamento patológicos e construir personalidades mais
fortes e ricas. (NORDOFF e ROBBINS apud BRUSCIA, 1999)

Experiências musicais ativas, ou seja, quando a pessoa toca um instrumento


musical, canta, compõe ou improvisa, favorecem o desenvolvimento dos sentidos das
crianças.
"Ao trabalhar com os sons, ela desenvolve acuidade auditiva; ao
acompanhar gestos ou dançar, ela trabalha a coordenação
motora, o ritmo e a atenção; ao cantar ou imitar sons, ela
descobre as suas capacidades e estabelece relações com o
ambiente em que vive” (AZEVEDO, 2012).

A música improvisada na prática clínica deve ser livre de convenções musicais,


pois depende da observação e escuta do paciente. O terapeuta precisa estar pronto
para improvisar verbal e/ou instrumentalmente e manter-se aberto aos diferentes usos
dos elementos musicais. (NORDOFF e ROBBINS apud BRUSCIA,1999). Na
improvisação clínica, segundo Carpente (2016):

...o terapeuta se coloca em cada resposta que o cliente oferece,


intencionalmente ou por reflexo, dentro de uma estrutura musical,
que então lhes permite interagir e desenvolver a sua própria (e
única) relação terapeuta-cliente.

O modelo DIRFloortime (Developmental Individual Difference Relationship) é um


dos muitos modelos desenvolvimentistas. É uma intervenção que envolve treinamento
de pais e terapeutas no intuito de maximizar interações com suas crianças através de
gestos, palavras e brincadeiras. (CARPENTE, 2016).

O modelo DIRFloortime busca facilitar as habilidades de comunicação social por


meio de experiências baseadas no interesse da criança. O objetivo é desenvolver as
capacidades fundamentais da criança como a atenção compartilhada, autoregulação,
engajamento, comunicação bidirecional intencional, resolução de problemas,
pensamento simbólico e abstrato. De acordo com Greenspan (1992), essas
capacidades são os tijolos que formam a base para níveis mais elaborados de pensar e
relacionar, como a capacidade de sustentar círculos de comunicação, criar e
compartilhar ideias e desenvolver um pensamento simbólico e abstrato.(CARPENTE,
2016) . Entende-se por círculo de comunicação uma conversação (verbal, não verbal ou
musical) envolvendo reciprocidade entre os participantes através do jogo musical,
gestos, olhares e brincadeiras. O círculo de comunicação acontece quando o receptor
do diálogo responde de volta para o iniciador do círculo. (CARPENTE, 2016)

Dentro do modelo DIRFloortime existe o jogo musical, ou seja, uma forma de


interação que envolve o cliente/terapeuta em fazer música co-ativamente, oferecendo
oportunidades criativas e criando acontecimentos musicais no aqui-e-agora. Uma
ampla gama de elementos musicais tais como ritmo, andamento, dinâmica, harmonia e
melodia devem ser oferecidos ao cliente de forma que ele possa exibir seus pontos
fortes e áreas de dificuldade. (CARPENTE, 2016).

MÉTODO
Utilizou-se o delineamento de estudo de caso de caráter naturalístico descritivo
(BRUSCIA, 1996), que busca descrever a efetividade de uma intervenção de
musicoterapia improvisacional com abordagem floortime no atendimento à uma criança
com autismo.

INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

O programa “Música para todos” da Universidade do Estado de Santa Catarina


(UDESC) recebe estudantes da pós-graduação de musicoterapia para atender pais e
crianças com autismo. Como procedimento inicial, existia uma lista de pessoas
interessadas em receber este atendimento, onde as famílias eram chamadas pela
ordem de chegada. As estudantes atuavam em duplas como terapeuta e co-terapeuta
podendo atender a criança ou a mãe/cuidador da criança.

Como fundamentos foi usado o Perfil de Avaliação Individual Músico-Centrada


dos Transtornos do Neurodesenvolvimento (IMCAP-ND), do Musicoterapeuta John
Carpente, sendo feita uma descrição e análise segundo o método fenomenológico.

"O IMCAP-ND é uma avaliação sustentada por critérios de


interação musical, comunicação, cognição, percepção e pela
capacidade de resposta dentro do fazer musical para indivíduos
com transtornos do neurodesenvolvimento.” (CARPENTE, 2013)

Inicialmente, realizamos uma entrevista com a mãe para aplicar o formulário de


admissão da escala IMCAP-ND (Music-Centred Assessment Profile for
Neurodevelopmental Disorders), da escala IMTAP (Individualized Music Therapy
Assessment Profile) (SILVA, 2012) e o questionário MEL (Music in Everyday Life)
(GOTTFRIED et al., 2016) para entender o contexto musical familiar. Os pais assinaram
o termo de autorização do uso de imagem para que esse estudo fosse realizado. O
objetivo era que todos os atendimentos fossem filmados para serem relatados com
maior detalhe, porém, não foi possível filmar algumas sessões, uma vez que era
necessário alguém, além das terapeutas, para segurar a máquina devido ao
comportamento da criança, que tentava quebrar tudo que via.

PARTICIPANTE

Este caso foi atendido no Programa “Música para Todos”, criado e coordenado
pelo professor Gustavo Schulz Gattino na UDESC, sediada na cidade de Florianópolis.
Este programa oferece atendimentos de musicoterapia gratuitos para crianças e pais de
crianças com autismo. Os atendimentos às crianças são individuais, semanais, com
duração de 30 minutos. Os atendimentos da criança em estudo tiveram início em
setembro de 2015, com uma pausa entre os meses de dezembro à abril de 2016, e
reinício em junho de 2016 até novembro do mesmo ano. No mês de julho de 2016 não
houve atendimentos. Em resumo, foram 8 meses de intervenções musicoterapêuticas.

As informações sobre o paciente foram relatadas pela mãe através dos


formulários de admissão IMTAP, IMCAP-ND e do questionário MEL. O paciente com
nome fictício de “Antônio” recebeu o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista em
2016 quando tinha 3 anos. Atualmente, está com 10 anos de idade. Antônio frequenta
uma escolar regular e também a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais)
duas vezes por semana. Além da musicoterapia, realiza sessões de fonoaudiologia e
equoterapia uma vez por semana. Antônio não possui dificuldades relacionadas à
motricidade ampla, e sim alguma dificuldade em relação à motricidade fina. Não se opõe
ao contato físico e não foi diagnosticado com qualquer dificuldade de audição. Apesar
de não se comunicar verbalmente, expressa-se através de gestos, apontando e
pegando os objetos que lhe interessam. Tem dificuldade de demonstrar emoções
apropriadamente e se descontrola facilmente quando é contrariado, gerando
dificuldades de interagir socialmente. Antônio é bem estimulado musicalmente no
ambiente familiar, pois a mãe costuma cantar, tocar e ouvir música com ele quase todos
os dias da semana. A mãe de Antônio comunicou que esperava que a musicoterapia
trouxesse “tranquilidade” para seu filho e o ajudasse a desenvolver sua concentração.

No período de avaliação foram utilizados diferentes instrumentos musicais, como


o violão, piano, voz, tambor, pandeiro, tamborim e reco-reco, para sondar possíveis
preferências, rejeições, interesses, desinteresses e também observar a maneira pela
qual ele se aproximava, manuseava ou tocava os instrumentos. A música improvisada
focou principalmente na maneira de Antônio se movimentar pelo espaço: andando,
correndo, pulando, parando, deitando, e também em quaisquer sons vocais expressos
por ele.

Antônio apresenta algumas estereotipias, como rodar objetos, pular


esporadicamente, jogar objetos para o alto e para o chão e rasgar papéis e tudo que
seja passível de ser rasgado. Expressa muita vontade de correr e uma necessidade de
contato físico tão intensa que já chegou a derrubar as terapeutas no chão.
Na primeira sessão, quebrou um tambor ao jogá-lo com força no chão. Rasgou
todos os papéis que estavam expostos na sala, inclusive avisos da Universidade que
estavam fixados nos murais. Não respondeu aos estímulos musicais e não demostrou
interesse por tocar nenhum instrumento.

DESCRIÇÃO DO TRATAMENTO MUSICOTERAPÊUTICO


O plano de tratamento foi estabelecido principalmente a partir de objetivos
positivos (desenvolvimento de habilidades): Investir na construção de um vínculo
terapêutico com Antônio, oferecendo a ele um ambiente musical agradável que lhe
inspire confiança para que possa desenvolver e/ou ampliar sua auto-expressão. Ajudá-
lo a perceber seus limites, sua força física e o respeito a certas regras, aumentar o seu
leque de interesses e desenvolver as habilidades de comunicação e a interação social.
As sessões foram semanais e individuais, com duração aproximada de trinta
minutos. Cabe colocar que alguns atendimentos duraram menos tempo, pois sempre se
levou em conta a tolerância do paciente naquele determinado momento.

Tendo em vista a necessidade de mais espaço, os atendimentos de Antônio


foram transferidos para outra sala, sem carteiras (apenas cadeiras e um piano), com o
assoalho de madeira, proporcionando a ele um local mais agradável e amplo para
mover-se à vontade. Antônio passava uns momentos contemplando a paisagem pela
janela. Momentos “dele”, onde a terapeuta silenciosamente se colocava ao seu lado e
apreciava o céu, a luz do sol, o balanço das árvores ao vento. Commented [D2]: Vcs repetem este mesmo parágrafo lá
embaixo. Rever.

A Musicoterapia Improvisacional se utiliza de muitas técnicas clínicas. Dentre as


técnicas identificadas por Bruscia (1999), foram utilizadas nas sessões principalmente
as técnicas de empatia, de intimidade, de estruturação, de redirecionamento e de
exploração emocional.
Através da linguagem musical, com os instrumentos e /ou vocalmente e/ou
corporalmente buscou-se captar e reproduzir impressões da criança, como a expressão
facial, o modo de caminhar, a postura e comportamentos.
Usando as Técnicas de Empatia, as terapeutas faziam eco de alguma resposta
de Antônio, imitando-o. Também faziam o que ele estava fazendo ao mesmo tempo,
sincronizando com ele. Antônio se engajava em comportamentos perseverativos,
picando papel sem parar. As terapeutas juntavam-se a ele picando revistas e mais
revistas. O papel rasgando fazia um som, que era então explorado. O movimento do
papel caindo no chão sugeria uma dança e a criação de uma música, como por exemplo,
a música da "Chuva de Papel”. Depois disso, chegava a hora de todos juntos com as
mãos cheias de pedaços de papel, colocá-los na lixeira.
De forma geral, as interações musicais foram lideradas e direcionadas por
Antônio, baseadas nas sugestões e emoções dele. Entretanto, na falta de respostas ou
reações da criança, novas ideias musicais foram lançadas. Em algumas situações, um
comportamento ou som emitido por Antônio foi incorporado e tomado como tema para
a improvisação das terapeutas. Antônio foi imitindo algumas vogais em uma
determinada tonalidade e a partir de um som único ou já apresentando um intervalo
entre dois sons, as terapeutas incorporavam esses sons vocalizando com ele, criando
frases musicais e/ou harmonizando-as ao piano ou violão onde ele entendeu que
estavam criando e que estava cantando.
As Técnicas de Intimidade foram usadas ao compartilhar um mesmo instrumento
com Antônio, ou quando foi oferecido a ele um presente musical, como uma
performance ao piano. Quanto às Técnicas de Estruturação, muitas vezes a terapeuta
forneceu uma base rítmica ou um centro tonal reforçando a música da criança.
Numa das sessões, Antônio chegou animado e bem agitado. A mãe já havia
corrido bastante atrás dele antes do atendimento. Após ele jogar o pandeiro longe e
para o alto, a terapeuta começou a segurar o instrumento enquanto ele o percutia de
forma muita intensa com uma baqueta. Em seguida, a terapeuta levou a improvisação
para uma direção diferente. Ao som de um chocalho bem próximo da criança e com o
piano tocando melodias descendentes e suaves, Antônio foi se acalmando e quase
dormiu. Tocou um pouco de piano com os ovinhos na mão. Na verdade, foi das poucas
vezes durante todo o tratamento que se aproximou do piano. Saiu muito tranquilo da
sessão.
Antônio tem um interesse especial pelos instrumentos de percussão. A
intensidade do seu toque vai de forte à fortíssimo. No último mês de atendimentos, as
sessões realizaram-se em outro local. Antônio foi calmamente de braços dados até a
outra sala onde havia uma bateria instalada. Foi diretamente para a bateria tocando a
caixa com as duas baquetas. Fez um ritmo intercalando as mãos e também tocando
com elas ao mesmo tempo. Fez um breve diálogo rítmico com a terapeuta, onde tocava,
parava, olhava e voltava a tocar. Deu um toque no xilofone e ARRUMOU a tecla que
saiu do lugar. Demonstrou CUIDADO ao reposicionar o tambor que estava no chão e
colocá-lo em cima da cadeira. Explorou todos os tambores e pratos disponíveis na sala.
SEGUROU as baquetas praticamente o tempo todo (geralmente jogava as baquetas
para o alto). Demonstrou alegria ao dar as mãos para a terapeuta e embalar de um lado
para o outro. Quis fechar o piano, pedindo para ir embora.
O jogo musical foi uma forma de interação utilizada para tentar envolver Antônio
em fazer música co-ativamente, oferecendo oportunidades criativas e criando
acontecimentos musicais no aqui-e-agora. (CARPENTE, 2016) No jogo musical foram Commented [D3]: Colocar em maiúsculo

utilizados como meios de expressão: lenços, canos, revistas, instrumentos, voz e


movimentos corporais. Frequentemente, Antônio chegava nas sessões bem agitado.
Um jogo era proposto usando o ritmo, andamento e dinâmica de acordo com sua
movimentação pela sala. A terapeuta movia-se como ele ou reproduzia num instrumento
seu jeito de se movimentar. Em alguns momentos, ele percebia a brincadeira, sorria e
provocava correndo mais, como se estivesse testando a terapeuta e se divertindo com
o jogo.
Em uma sessão, após ter corrido bastante e atirado instrumentos no chão, parou,
olhou pela janela e deitou-se no chão. Riu com as brincadeiras de rodar deitado no chão.
A terapeuta ergueu as pernas dele e mexeu seus braços para cima e para baixo como
um boneco fazendo-o abraçar ele mesmo. Saiu bem calmo e sorrindo.
Na sua relação com as terapeutas, manifesta satisfação com o encontro e desejo
de um forte abraço.
Na penúltima sessão do ano, sorriu muito. Ficou uns minutos contemplando a
paisagem pela janela e no restante do tempo manteve contato visual. Pegava a mão
das terapeutas fazendo-as tocar o atabaque. Não se interessou pelas brincadeiras de
roda, porém sorriu. Esperou pacientemente a canção de despedida, onde foi cantado o
nome de todos que estavam na sala.
Apesar de ser uma criança não verbal, Antônio está se comunicando, mostrando
o que quer, levando as terapeutas pela mão ou pegando os objetos desejados. Tal
comportamento vale também à nível musical onde ele mostra o que quer tocar. Antônio
demonstra maior interesse por instrumentos de percussão e quando toca neles, toca
com vigor, de forma impulsiva e compulsiva. Ele toca os tambores para liberar energia
ou fazer ruído e não tem a intenção de fazer sons ordenados, porém vem apresentando
com muito mais frequência respostas não-musicais expressas através do olhar e do
sorriso. (NORDOFF e ROBBINS apud BRUSCIA, 1999).

DISCUSSÃO
Durante o processo musicoterapêutico buscamos experiências musicais que
envolvessem seguir a liderança do cliente; fazer um jogo musical intencional de duas
vias e sincronizar afetivamente no jogo musical que são as três fases estruturadas no
modelo baseado no Desenvolvimento, nas Diferenças Individuais e na Relação
DIRFloortime.
Aconteceram várias evoluções e mudanças de comportamento positivas, o que
inicialmente víamos como um trabalho de grande tensão, onde tínhamos que tirar todos
os objetos e instrumentos que pudessem estragar devido ao comportamento de Antônio,
com o passar do tempo essa tensão foi diminuindo e tudo ficou mais leve.
Carpente apresenta cinco áreas descritas pelos Níveis de Desenvolvimento Funcional-
Emocional baseado no modelo de Greenspan e faz uma análise relativamente ao que
diz respeito à dificuldade em cada capacidade musical. (CARPENTE, 2016)
O nível I fala sobre a atenção musical, onde admite que através de experiências
musicais e sensoriais, a criança se envolva significativa e intencionalmente, mantendo
a calma e controlando os seus impulsos. A atenção musical lida com a compreensão
de como o cliente presta atenção com base em quatro categorias que são: focaliza,
mantém, compartilha e realiza mudanças. Verificamos que nas sessões iniciais Antônio
realizava mudanças no foco de atenção e que compartilha a atenção em alguns aspetos
em particular. Como já foi descrito, no momento de rasgar papel houve um foco num
jogo que foi compartilhado por ambas as partes. Várias questões foram surgindo e
levadas em conta para os atendimentos seguintes: Será que Antônio apresenta um
interesse nos instrumentos e em quais está mais ou menos interessado no que diz
respeito à atenção musical? O que podemos fazer para melhorar nossa conexão com
ele?
O nível II fala sobre o afeto musical e como o cliente pode experimentar o jogo
musical à um nível afetivo, avaliando a resposta musical sobre quatro áreas: facial,
prosódia, corpo e movimento. No caso de Antônio, pudemos verificar que inicialmente
a expressão facial não respondia tanto ao jogo musical e à relação com as terapeutas,
demonstrando seus sentimentos. Nas sessões do final do processo verificamos isso de
forma muito clara, chegando até a ouvir a voz de Antônio (não verbal) rindo alto em
algumas brincadeiras. Quanto à prosódia, ele respondia ao jogo musical através da voz,
emitindo sons em forma de vogais e explorando tons graves. Essas tonalidades foram
se moldando com o decorrer das sessões, e no último mês de tratamento escutamos
sons mais agudos e até gritos que anteriormente não se escutavam. A expressão
corporal também sofreu modificações em resposta às terapeutas, música ou jogo
musical. Inicialmente se verificava somente uma agitação dele correndo de um lado para
o outro. Com o passar das sessões, passou a ter mais momentos de calma, onde
conseguia contemplar a natureza e escutar os sons emitidos pelos instrumentos e voz
das terapeutas. Sua movimentação corporal passou a expressar afeto movendo-se para
perto ou para longe em resposta aos estímulos musicais.
O nível III fala da adaptação ao jogo musical, onde os contextos musicais fazem
com que o cliente aprenda novas formas de se relacionar e comunicar através do jogo
musical, seguindo a liderança do terapeuta. Segundo Carpente (2016), existem quatro
áreas de adaptação ao jogo musical a serem avaliadas pelo terapeuta: junta-se, ajusta,
realiza revezamentos e interrompe. Neste nível, nos dois últimos meses de tratamento
conseguimos verificar um progresso em Antônio. Quando a terapeuta propôs fazer uma
casinha com um colchonete sobre a cabeça dela, ele juntou-se ao jogo, tirou o
colchonete dela e colocou sobre a cabeça dele. Verificamos que se ajusta, pois várias
vezes adapta a sua participação no jogo musical liderado pelo terapeuta, parando para
escutar o que está sendo tocado e respondendo com o canto. Podemos afirmar que
realiza revezamentos, uma vez que tanto inicia cantando na sessão (tomando a
liderança), quanto responde ao jogo musical liderado pela terapeuta, cantando na
tonalidade. Também percute o tambor, para, espera uma resposta e volta a tocar.
O nível IV fala sobre o engajamento musical e enquanto que a adaptação ao jogo
musical foca na capacidade do cliente seguir pistas do terapeuta como um parceiro de
jogo não especificamente para elementos musicais, o engajamento musical centra-se
na capacidade do cliente corresponder e se envolver na música do terapeuta, específico
para elementos musicais.
O engajamento musical (nível IV) é como um jogo paralelo onde o cliente se
envolve com a música do terapeuta, utilizando elementos musicais específicos para
combinar e envolver-se. São quatro áreas de engajamento musical avaliadas: imita;
sincroniza; prevê e sinaliza. No caso de Antônio podemos afirmar que ele sincroniza
uma vez que corresponde à liderança das terapeutas, ainda que esporadicamente, com
elementos musicais da música proposta.
O último nível (nível V) fala da Inter-relação Musical, onde se refere a capacidade
criativa, expressiva e comunicativa do cliente enquanto engajado no fazer musical
relacional. Este nível de inter-relação é dividido e avaliado em oito áreas: inicia, modifica,
diferencia, assimila, conecta, interpõe, completa, lidera ou segue. Aqui, não
conseguimos identificar Antônio, porque mesmo iniciando algumas vezes o jogo
musical, não temos certeza que o fez de forma intencional para apresentar uma nova
ideia ao terapeuta.
O que podemos verificar é que Antônio avançou alguns níveis e ainda está em
fase de consolidação nos que se insere. Apesar do nível I e II serem os que melhor o
descrevem, observamos que outros níveis permeiam os comportamentos de Antônio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As experiências musicais citadas no IMCAP-ND foram estruturadas no modelo


baseado no Desenvolvimento, nas Diferenças Individuais e na Relação (DIR®) /
Floortime ™ (GREENSPAN, 1992) e no modelo de Musicoterapia Nordoff-Robbins
(NRMT) (NORDOFF &ROBBINS, 2007). Estas experiências musicais envolvem três
fases de trabalho (seguir a liderança do cliente; o jogo musical intencional de duas vias
e sincronia afetiva no jogo musical) que fornecem ao terapeuta um guia para aproximar-
se e analisar musicalmente o cliente. Baseadas neste modelo, estruturamos nossos
atendimentos fazendo com que através da improvisação a criança pudesse se
expressar livremente. O estudo mostrou que esta abordagem mostrou resultados
significativos para a comunicação não verbal e estabelecimento de limites. Acredita-se
que tal abordagem possa ser aplicada em crianças com autismo com idades diferentes
e em outros contextos dentro do contexto brasileiro para que se possa verificar a
eficiência da musicoterapia improvisacional dentro da perspectiva do modelo
DIRFloortime.
REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, DSM-5: Manual Diagnóstico e


Estatístico de Transtornos Mentais. Artmed Editora, 2014. ISBN 9788582710890.

AZEVEDO, J. C. J. D. A aplicação da musicoterapia numa criança com espectro do


Autismo: estudo de caso. Monografia. Faculdade de Ciências Sociais. Centro Regional
de Braga. Universidade Católica Portuguesa. 2012.

BRUSCIA, K. E. Case Studies in Music Therapy. Barcelona Publishers, 1996.


Disponível em: < https://books.google.com.br/books?id=VQCImIuKh0EC >.

CARPENTE, J. Versão Brasileira da escala Individual Music-Centered Assessment


Profile for Neurodevelopmental Disorders (IMCAP-ND): Manual de Aplicação. New
York: Regina Publishers, 2016.

GATTINO, G. Musicoterapia e Autismo: teoria e prática. São Paulo: Memnon 2015.

GOTTFRIED, T. et al. Music in everyday life by parents with their children with autism.
Nordic Journal of Music Therapy, v. 25, n. sup1, p. 89-90, 2016. ISSN 0809-8131.

SILVA, A. M. D. Tradução para o português brasileiro e validação da escala


Individualized Music Therapy Assessment Profile (IMTAP) para uso no Brasil.
Dissertação de Mestrado. PPG em Saúde da Criança e do Adolescente, Faculdade de
Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2012.

Das könnte Ihnen auch gefallen