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25/07/13 CURTA-METRAGEM: BISTURI

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Q UI NT A - FEI R A , 12 DE J A NEI R O DE 2012 P A R C ER I A C ULT UR A L

BISTURI
"Brando, Pacino, Strasberg: testem unhos da diversidade em um a atuação
realista"

Quando pensamos "ator", entramos em um complexo terreno de


debates. Evidencia-se uma oposição fundamental, construída na S EG UI DO R ES

história do cinema. Uma espécie de cinema que dialoga com


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Meyerhold e Brecht - onde a ênfase se encontra no desenho do corpo Google Friend Connect
do ator. Neste cinema, muitas vezes o diretor se serve de um "rosto-
Membros (133) Mais »
máquina” para, a partir das suas marcas, evocar signos; ou de um
"modelo" (Bresson), a ser moldado por uma coreografia; ou, ainda, o
corpo do ator se torna um suporte plástico para inscrever uma idéia no
discurso fílmico (Eiseisten). Já um cinema chamado realista - ou
naturalista (Lumet, 1975) - necessita, principalmente, da identificação
de um indivíduo imerso no seu cotidiano para dar conta da “mimese de
uma realidade“. São abordagens diferentes do trabalho do ator.

Seria preciso ver a quê os cineastas estavam respondendo quando Já é um membro? Fazer login
formularam suas teorias. É o que faz, por exemplo, Jacqueline
Nacache em "El ator de cine", nos oferecendo rico material para
pensar a arte da atuação no cinema. Se, por um lado, (acredito) a A R Q UI V O DO B LO G
estrutura do trabalho do ator se mantém mesma, por outro, os
► 201 3 (1 07 )
procedimentos são outros e, por conseqüência, as resultantes. O
caráter mimético do realismo exige a construção de ações cotidianas ▼ 201 2 (249)
e uma espécie de "sujeira formal". É interessante pensar que, quando ► Dezembro (4)
se filma alguém, o “humano” não está dado de antemão; ele é ► Nov embro (1 5)
construído. É interessante, também, pensar o que muda para o ator
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não apenas nas diferentes estéticas, mas nas variações dentro de ► Outubro (27 )
uma mesma estética. É o que podemos observar em uma trilogia ► Setembro (1 5)
como "O Poderoso Chefão" (Coppola, 1972, 1974, 1990), por exemplo.
► Agosto (24)
À la Actors Studio, pelo menos três estilos diferentes: Brando, Pacino
e Strasberg. ► Julho (20)
► Junho (1 8)
O nosso foco de interesse está na construção do trabalho de um ator.
► Maio (23)
No entanto, a criação (no cinema) não é uma atividade pedagógica.
► Abril (20)
Em entrevistas com Pacino ou Brando, dificilmente ouviremos uma
sistematização sobre o trabalho. Quem o faz são Strasberg ou Adler - ► Março (25)
professores. Isto porque o campo da criação é, por princípio, nebuloso. ► Fev ereiro (23)
Não é uma matemática. Trata-se de fazer apostas, provocar o corpo,
▼ Janeiro (35)
deixar que surjam resultantes nem sempre calculadas. Apesar disto,
EU CURTO
trabalhamos uma hipótese: o que ocorre em aula - e Brando e Pacino
tiveram uma formação - é assimilado e diluído (agora) em criações Cininha de Paula
múltiplas, que implicam contextos diversos. Y ouTube anuncia competição
de curtas
Adler e Strasberg trazem duas versões de treinamento. No trabalho de Cindy Mendes
Brando em "Sindicato de Ladrões" (Kazan, 1954) - que lhe valeu o
Marcelo V indicatto
Oscar - percebemos um princípio de Adler: uma série de ações físicas
(ou, como ela diz, "atividades") enquanto se "vive" o percurso da Div ulgação
personagem. Neste caso, ele é o ex-lutador Terry Malloy, envolvido em Fernando Muy laert
um crime no porto, onde vive com os demais estivadores. A atuação
Entrev ista na íntegra para a
de Brando é como um documento deste princípio.
Rádio CBN

Silv ia Lourenço
Após retornar de sua experiência com Stanislavski em Paris, Adler
preconizava que o ator deveria "viver circunstâncias" ao invés de "se Div ulgação
emocionar". É preciso dizer a partir de que meios ele consegue isto. Paulo Goulart Filho
Toda a ênfase recai sobre as ações cotidianas e a sua relação com
Maísa Magalhães
um entorno. Um testemunho disto: ao conversar com Edie Doyle (Eva
Marie Saint), Brando brinca com a luvinha que tem nas mãos. As Chico Diaz
palavras, então, sem receber qualquer ênfase, escorregam, 5 Estrelas da Boca: Fim
encontrando livre acesso para a incidência no corpo. Trata-se de um 5 Estrelas da Boca: Eni Helena
princípio (brilhantemente sistematizado por Spolin): a atenção é Nov akoski
desviada. Como se trata de realismo, estas são ações cotidianas, que
5 Estrelas da Boca: Eni Helena
evocam a relação do personagem com o entorno (já no que chamamos
Nov akoski
"teatro físico", por exemplo, seriam outras as modalidades de ação).
BISTURI
Observamos outros exemplos. Assim que termina de contar o dinheiro 5 Estrelas da Boca: Eni Helena
- enquanto é pressionado pelos capangas de Johnny Friendly (Lee J. Nov akoski
Cobb) e em uma ação paralela que divide o foco de atenção - Brando Marco Ricca
brinca com as bolas de biliar. Ao saber da morte do irmão, apóia a
5 Estrelas da Boca: Eni Helena
mão na parede. Isto se dá à luz do que Adler, ao proporma "situação
Nov akoski
paralela", destaca. A imagem de uma situação já vivida pelo ator, que
implica a tão citada "memória emotiva" (Stanislavski) pode ser 5 Estrelas da Boca: Eni Helena
utilizada. No entanto, é na ação física, constituída no momento Nov akoski

passado, que o ator foca (e não na repetição da emoção que esta Cartum
implicava). Isto implica um "não over-acting" preconizado por esta 5 Estrelas da Boca: Eni Helena
escola de atuação - em oposição ao melodrama (de maneira que se Nov akoski

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percebe que a diferença de procedimentos implica a diferença nas Um brev e relato das
resultantes). patologias e trapaças do
cinem...
Se, na medida em que "o foco é desviado" (Spolin, 1992) a emoção 5 Estrelas da Boca: Eni Helena
tem acesso ao corpo, em Adler este corpo é ocupado por ações Nov akoski
transversais, cotidianas, que determinam uma plástica diferente
5 Estrelas da Boca: Eni Helena
daquele de Eiseinstein, Meyerhold, Brecht - ou mesmo Bresson, Nov akoski
Eustache e Kaurismäki (Nacache, 2006). As ações, em Brando,
Cassia Bianco
implicam uma mimesis do cotidiano do porto (e os seus indivíduos,
que tentam se safar dos conflitos) bem aos moldes de um realismo. 5 Estrelas da Boca: Eni Helena
Nov akoski
A célebre dicotomia "realismo x formalismo" implica que a plástica da Joana Cy try nowicz
mimese de um cotidiano se opõe a esta outra plástica, cuja ênfase
5 Estrelas da Boca: Eni Helena
está no desenho abstrato do movimento. Segundo o discurso da Nov akoski
crítica, o desenho do corpo no segundo caso implica uma abstração
Rev ista Cinema Caipira de
ou uma idéia, enquanto o realismo implica a mimese. A pergunta,
janeiro
então, seria: há também idéia ou abstração implicada neste tipo de
plasticidade que vemos em Brando? Não nos ocupamos da resposta, 5 Estrelas da Boca: Eni Helena
pois o que nos interessa é a estrutura do trabalho do ator, que implica Nov akoski
de qualquer forma "uma plástica", por sua vez determinada por Div ulgação
materiais diferentes que entram em foco. 5 Estrelas da Boca: Eni Helena
Nov akoski
Se Brando "puxa a sardinha para a construção de um corpo
Série: 5 Estrelas da Boca
cotidiano", Strasberg, como o mafioso Hyman Roth em "O Poderoso
Chefão II" (Coppola, 1974), nos oferece um documento sobre o seu
► 201 1 (1 49)
método de atuação. Em uma mesma escola, diferentes estilos.
Stanislavski dizia que o ator deveria inventar o próprio método - que ► 201 0 (54)
este deveria ser "pessoal". Nada mais justo, já que se trata de uma ► 2009 (49)
construção que implica os significantes particulares de cada um. Toda ► 2008 (53)
a ênfase de Strasberg está no "relaxamento". E é com verdadeira
obcessão que ele se entrega a uma sistematização passível de
transmissão. No entanto, é possível observar o quanto esta se
Q UEM S O U EU
relaciona com a sua própria maneira de atuar, testemunhada de forma
RA F A E L SP A CA
magistral em "O Poderoso Chefão II".
Radialista e
Na sua primeira aparição - a conversa com Michel Corleone (Al Produtor Cultural.
Pacino), encontro de mafiosos que, com outras escolhas, resultaria Sou autor do blog
em uma atmosfera tensa - Strasberg descansa a perna no braço da Os Curtos Filmes, no "ar" desde
poltrona. Transmite, neste momento, um "é como se estivesse em agosto de 2008. Colaboração em
casa" não sem certo traço de assombro, pois ele é extremo. As tex tos e artigos para ‘Bigorna.net’;
escolhas de Pacino são outras: nos dois primeiros "Chefões", o corpo ‘Rev ista de Cinema Caipira’; ‘Jornal
ereto e a imobilidade do rosto, o grito dos olhos. É um registro oposto do Cinema – Cineclube Cauim’ e;
ao de Strasberg, onde o relaxamento é o ponto zero de onde ‘Punctum’.
explodem as erupções de energia. V I S UA LI Z A R M EU P ER FI L C O M P LET O

Vê-se procedimentos diferentes e uma estrutura da prática. A idéia de


relaxamento entra no foco de atenção do ator (Adler, 2010), implicando
uma plasticidade singular do corpo - assim como as minúsculas
ações cotidianas de Brando ou um elemento interno que Al Pacino

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traz em segredo. Em entrevista no "Inside Actor's Studio", Al Pacino


aconselha: "Ponham questões, mas não respondam". E,
testemunhando o seu trabalho: "Eu não sabia de onde Michel
Corleone vinha"; "O que o faria querer a redenção?"; "Eu não sabia o
que fazia". Levando-se em conta outras falas (making-off de "Um Dia
de Cão") observamos que, nesta fase, fundamentalmente, ele se
apoiava em elementos internos (por exemplo estas "questões").
Apropriando-se de materiais do próprio contexto - "Sou sempre eu
fazendo" (Pacino, 2006) - deixava-se levar pelas resultantes.

Em uma das cenas de "Um Dia de Cão" (Lumet, 1975), Pacino


explode no telefone com a esposa. Lumet diz ter filmado os dois
telefonemas juntos (Sonny falando no telefone com o namorado e
Sonny falando no telefone com a esposa). Depois do take do
telefonema com o namorado, pede para Pacino repetir o telefonema
com a esposa. O ator o olha com ódio. mas repete. Quase no final da
tomada, exausto, olha-o pela segunda vez e chora (Lumet, 1975). A
câmera capta o drama do ator "evocado" como o drama do
personagem (inscrito na leitura que fazemos do seu corpo),
testemunhando que a "primeira instalação" (contexto do ator) evoca a
"segunda instalação" (contexto ficcional) - princípio revelado por
Kusnet (1987). O ator tira proveito disto. O foco se desloca para o
cansaço, a sensação de não agüentar mais, que implica um certo
"fora do controle". Pacino diz, textualmente: "aquilo estava além de
nós, tinha vida própria" (1975). Para além da construção da
personagem, "colocar-se questões" é usufruir de certos materiais do
seu contexto cujas resultantes evocarão a personagem.

Em um filme como O Poderoso Chefão, encontramos a beleza da


diversidade dos estilos (com procedimentos determinantes em uma
mesma escola): o profundo relaxamento em um, as questões em outro
e, ainda, as ações cotidianas que puxam o foco. Strasberg, Pacino e
Brando nos dão o testemunho de que as escolhas dos atores
determinam diferenças. Trata-se de assumir, então, a responsabilidade
da criação de um estilo, experimentando, a cada filme, a formulação
de um método próprio e pessoal de trabalho.

Bibliografia e filmografia de referência:

ADLER, Stella. Técnica da representação teatral. Rio de Janeiro, ed.


Brasiliense, 2010.

KUSNET, Eugênio. Ator e método. São Paulo, ed. Hucitec, 1987.

NACACHE, Jacqueline. El actor de cine. Barcelona, ed. Paidós,


2006.

SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo, ed.


Perspectiva, 1992.

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Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon). Direção de Sidney Lumet.


EUA, Warner Bross, 1975.

O Poderoso Chefão (The Godfather). Direção de Francis Coppola.


EUA, Paramount Pictures, 1972.

O Poderoso Chefão II (The Godfather - Part II). Direção de Francis


Coppola. EUA, Paramount Pictures, 1974.

O Poderoso Chefão III (The Godfather - Part III). Direção de


Francis Coppola. EUA, Paramount Pictures, 1990.

Al Pacino in Inside the Actors Studio. The Actors Studio, Bravo Cable,
Betelgeuse Productions LLC e In the Moment Productions Ltd, EUA.

Rejane Kasting Arruda, é atriz e pesquisadora. Atua em cinema e


teatro. Faz pesquisa na Universidade de São Paulo junto ao Centro de
Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator. Ministra aulas de
atuação para cinema. Participou dos filmes Corpo, O Veneno da
Madrugada, Tanta, Iminente, Edifício do Tesouro e Medo de Sangue,
entre outros. É também colunista do blog Os Curtos Filmes, onde
assina uma coluna mensal.

P O S T A DO P O R R A FA EL S P A C A À S 12: 27

NE NH U M C O M E NT Á RI O :

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