16/06/2018 TJERJ - consulta - Descrição

Processo nº: 0014327-65.2016.8.19.0007

Tipo do Movimento: Sentença

Descrição: AUGUSTO CUSTÓDIO DA SILVA, propôs AÇÃO COM PEDIDO DE RESOLUÇÃO CONTRATUAL C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAL E MORAL em face de AUTO ESCOLA JLM LTDA ME, aduzindo,
em resumo, que contratou com a parte Ré, em 10/08/2015, a prestação de serviços, para que se
submetendo aos procedimentos legais obtivesse autorização para a condução de veículos automotores
terrestres, com a expedição da Carteira Nacional de Habilitação, categoria ´B´, tudo pelo valor de R$
1.500,00. Sustenta que iniciados os procedimentos prévios, foi submetido ao exame psicológico, sem lograr
êxito na aprovação. Salienta que mesmo sendo submetido a novos exames, todos concluíram pela
incapacidade psicológica para conduzir veículos automotores e, em razão disso, pediu a resolução do
contrato com a parte Ré, com a devolução dos valores antecipados. Informa que diante da dificuldade no
contato, expediu, em 12 /05/2016, notificação extrajudicial, requerendo a resolução contratual, sendo
informado que os valores não poderiam ser devolvidos. Por tais razões requer a procedência dos pedidos
com as cominações legais. A inicial veio acompanhada dos documentos do index 10/36. Despacho no index
40 deferindo a JG e determinando a citação. Contestação no index 50/2/74, acompanhada dos documentos
do index 58/72, aduzindo que o autor contratou o réu em 10/08/2015 para processo de 1ª Habilitação e
expedição da CNH - Categoria B, pelo valor de R$1.500,00, para pagamento em 05 parcelas de R$ 300,00.
Relata que em 14/08/2015, o réu efetuou o pagamento da taxa devida ao DETRAN-RJ, ´Inscrição para 1ª
Habilitação inclusive exame´, no valor de R$ 229,36, para início do processo de 1ª Habilitação do autor, com
abertura do processo em 26/08/2015, ressaltando que o processo de 1ª Habilitação tem validade de 01 ano,
com término previsto 26/08/2016. Informa que o autor foi reprovado por mais de uma vez em exames
psicológicos, tendo sido considerado inapto temporariamente para condução de veículos automotores.
Destaca que prestou os serviços contratados, dentre eles, o agendamento dos exames psicológicos, tendo o
autor realizou três exames psicológicos, nas datas de 27/08/2015, 15/09/2015 e 01/03/2016, sendo que em
25/04/2016 foi solicitado o autor laudo médico elaborado por Neurologista. Aduz que somente em
12/05/2016, decorridos 9 meses de contrato e de serviços prestados e a sua disposição, comunicou a
empresa Ré de sua desistência do processo, em razão de sua inaptidão psicológica, solicitando a devolução
integral dos valores pagos. Alega que a reprovação do autor afasta a responsabilidade da empresa que
prestou os serviços na forma contratada, pugnando pela improcedência dos pedidos. Réplica no index 82/84.
Ato ordinatório no index 86, para que as partes se manifestem em provas, tendo somente o autor se
manifestado no index 93, conforme certificado no index 94. Despacho no index 97 deferindo a prova
documental requerida pelo autor. Certificado no index 101 que decorreu o prazo sem manifestação do autor.
É O RELATÓRIO. PASSO A DECIDIR. Existindo nos autos elementos suficientes para o exercício de uma
cognição exauriente, fundada em um juízo de certeza, passo a imediata prolação de sentença. Trata-se de
ação rescisória com pedido de nulidade das cláusulas contratuais abusivas e indenização por dano moral e
material, em razão da reprovação do autor no exame psicológico. Importante ressaltar que se trata de
relação de consumo, devendo ser aplicado o Código de Defesa do Consumidor. Alega a parte autora que
contratou os serviços do réu para que obtivesse autorização para a condução de veículos automotores
terrestres, com a expedição da Carteira Nacional de Habilitação, categoria ´B´, tudo pelo valor de R$
1.500,00, sendo reprovado no exame psicológico. O réu em sua contestação alega que os serviços
contratados foram realizados, não sendo o responsável pela reprovação do autor. O objeto do contrato
consistia na realização de aulas teóricas e práticas necessárias à obtenção de habilitação para a direção de
veículos automotores nos limites da Categoria contratada, incluindo as aulas obrigatórias. É cediço que para
obtenção da primeira habilitação o candidato deverá realizar obrigatoriamente os seguintes exames:
Avaliação Psicológica, Exame de Aptidão Física e Mental, Exame Teórico e Exame Prático de Direção
Veicular. No caso dos autos, diante das três reprovações nos exames psicológicos realizados, o autor sequer
realizou as aulas práticas conforme comprova, inclusive, o documento do index 72 e ao que tudo indica, nem
as teóricas. O contrato foi celebrado em 10/08/2015, sendo que a última parcela seria em 10/12/2015,
consoante index 26, que foi paga em 03/12/2015 (index 27). O art. 51, inciso II, do CDC estabelece que: ´
são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e
serviços que subtraiam ao consumidor a opção de reembolso de quantias já pagas, nos casos previstos no
CDC´. De acordo com a Cláusula Décima Sexta do contrato, dispõe que: ´do mesmo modo, será de inteira
responsabilidade do Contratante a falta nos dias designados para o exame médico, psicológico, teórico e de
direção ou, ainda, em caso de reprovação nos mesmos. Parágrafo único: No caso de falta ou reprovação
nos exames, querendo, deverá o contratante efetuar novamente o pagamento das taxas do DETRAN, para a
realização de novo exame, assim como o aluguel do veículo no valor de__ para o dia, no caso de novos
exames de direção e, ainda, desejando frequentar novamente as aulas teóricas ou realizar novas aulas
práticas, deverá efetuar o pagamento correspondente as mesmas, conforme tabela de preços do CFC. Fato
é que os valores foram pagos na íntegra e não houve a prestação integral dos serviços, implicando, assim,
no enriquecimento ilícito da parte ré. Dispõe o art. 6º do CDC Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:
(...) IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais,
bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. Ainda
se referindo ao contrato entabulado pelas partes: Cláusula Décima Oitava - o contrato poderá ser rescindido
caso uma das partes não cumpra o estabelecido em qualquer das cláusulas deste instrumento, ou ainda,
pela vontade de qualquer das partes, sem que haja direito a multa ou qualquer tipo de indenização, devendo
os serviços ser, imediatamente, interrompidos e o pagamento efetuado de forma proporcional aos serviços
prestados. Denota-se que o contrato prevê a rescisão pela vontade de qualquer das partes, sem que haja
direito a multa ou qualquer tipo de indenização, devendo os serviços ser, imediatamente, interrompidos e o
pagamento efetuado de forma proporcional aos serviços prestados. Consta somente o pagamento realizado
pelo réu referente ao DUDA no valor de R$ 229,36. Assim, restam a ser discutidos o R$ 1.270,64. Entendo
que as reprovações do autor implicaram em prestação de serviços por parte dos réus, gasto de tempo e de
pessoal. Assim, suficiente da retenção de 50% do valor acima mencionado. Não há que se falar em
pagamento de danos morais, até porque, ambas as partes sustentaram posições em desacordo com a Lei,
tratando-se, portanto, de mero inadimplemento contratual decorrente de interpretação da Lei. Pelo exposto,
JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS, na forma do art. 487, I, do CPC, determinando,
que a parte ré promova a restituição ao autor do valor de R$ 635,32, com correção monetária desde Junho
de 2016 e juros legais desde a citação. Considerando que o réu decaiu de parte ínfima do pedido, nos
termos do artigo 86, parágrafo único, do Código de Processo Civil, condeno a parte autora ao pagamento de
custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em R$ 350,00, observada a Gratuidade de Justiça
deferida. P.I. Ao trânsito em julgado, dê-se baixa e arquive-se.

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