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Batata: preparo profundo do solo

A batata (Solanum tuberosun L.) é uma hortaliça da família Solanaceae produzida no Brasil desde
1920 e considerada uma das mais importantes hortaliças produzidas e consumidas no país, junto com
o tomate. Na safra de 2014 foi produzido 3.741.591 de toneladas de batatas em uma área cultivada de
131.538 ha, atingindo o rendimento de aproximadamente 29.000 kg/ha, sendo a região sudeste
responsável pela maior produção do país, destacando o estado de Minas Gerais com uma produção
de 1.201.000 de toneladas.

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O cultivo da batata se inicia com a preparação da estrutura do solo antes da semeadura.

Tradicionalmente o solo é revolvido de forma superficial apenas nos primeiros 20 cm de
profundidade, descompactando a região em busca do aumento nos teores de oxigênio e melhoria da
drenagem do solo. Porém, essa técnica convencional não vem se mostrando um sistema de cultivo
sustentável. O produtor tem a necessidade de intercalar o cultivo de outras culturas com o da batata
por um período de 2 a 3 anos, devido à permanência de patógenos na área cultivada e que atacam a
batata, inviabilizando seu cultivo constante. A rotação da batata com outras culturas busca a redução
dos microrganismos inimigos da batata que impossibilitam o cultivo sucessivo dessa cultura na
mesma área, obrigando também o produtor a fazer uso de novas áreas que, após serem cultivadas,
são geralmente abandonadas em condições de degradação física, química e biológica. O preparo
convencional também compacta a camada de subsuperfície do solo, região logo abaixo dos 20 cm,
dificultando o crescimento e a infiltração da raiz nas camadas inferiores a 20 cm, atuando como uma
barreira física.

Uma alternativa ao método convencional de preparo do solo (método horizontal) foi criada pelo grupo
PACES (Projetando Agricultura Compromissada em Sustentabilidade), grupo de extensão formado por
alunos de graduação em engenharia agronômica, coordenado pelo Prof. Dr. Paulo Cesar Tavares de
Melo, do Departamento de Produção Vegetal, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz –
Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). O grupo tem o objetivo de realizar experimentos com foco
em práticas sustentáveis de produção e, desenvolveu uma forma de preparo do solo para cultivo de
batatas chamado de preparo vertical ou profundo, onde o solo é corrigido profundamente por meio
de um implemento projetado especificamente para esse tipo de preparo. Os implementos são
puxados por um trator e possuem uma haste de subsolagem que revolve o solo a uma profundidade
de 80 cm, possibilitando total liberdade para o crescimento das raízes, que podem atingir cerca de 1m
de profundidade. Através desse subsolador o produtor pode também realizar a correção química do
solo, pois na haste do implemento existem dois canos por onde pode ser aplicado o fertilizante. Os
tratores necessitam de 90 cv de potência para puxar o implemento quando o solo não estiver em
condições severas de compactação. Caso contrário a solução é realizar duas passagens do
implemento na área, onde a primeira é feita a uma profundidade de 40 cm e outra a 80 cm ou então
optar por um trator com 110 cv de potência. Os fatores que irão interferir na escolha do trator são o
grau de compactação do solo, teor de argila, tamanho da haste do implemento a ser puxado e o
tamanho da sapata (parte apical da haste que revolve o solo). Quanto maior os fatores, maior será a
exigência do trator.

Figura 1 – Comparação do crescimento radicular entre os preparos convencional e profundo. Fonte:

PACES
Estudos relatam que, no Brasil, o preparo profundo do solo contribui positivamente para a
produtividade da batata promovendo um aumento de produção de 16% quando comparado aos
sistemas de cultivo convencional da batata. O preparo profundo é um conjunto de ações realizadas no
solo onde, além do uso da haste de revolvimento profundo, são realizados também o Tráfego dirigido
e o Cultivo preciso (Figura 2). O tráfego dirigido consiste na delimitação de “caminhos” ou “estradas”
por onde passarão os pneus das máquinas agrícolas utilizadas no decorrer do ciclo da cultura e
também nos próximos ciclos. Com isso apenas esses “caminhos” se compactarão, não interferindo no
grau de estruturação do espaço do solo delimitado e facilitando a entrada dos tratores na área,
tornando os processos mais rápidos. O cultivo preciso consiste no preparo do solo entre os caminhos
por onde os pneus das máquinas passam e com isso ocorre uma economia de adubos, pois não há
necessidade de corrigir as linhas laterais.

Figura 2 – Ilustração de tráfego dirigido e cultivo preciso em sistema de preparo profundo (A)
comparado ao preparo convencional (B). Fonte: PACES

O manejo profundo do solo é vantajoso para o produtor, pois propicia à planta maior disponibilidade
de água, maior concentração de oxigênio, diminuição da compactação e aumento da porosidade do
solo, exigências para um bom desenvolvimento radicular da planta. A necessidade de oxigênio da
batata pode chegar a quase 5 vezes mais que a exigida em outras culturas (como: trigo, cevada,
ervilha), e quando a disponibilidade fica limitada ocorre o comprometimento da respiração da planta
e da absorção de nutrientes pelas raízes, afetando diretamente a produtividade da planta.

A sucessão com gramíneas é uma prática utilizada no preparo profundo com o intuito de melhorar as
propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. As gramíneas possuem considerável capacidade
de estruturação do solo devido à elevada densidade do seu sistema radicular que aproxima as
partículas de solo e estimulam a atividade microbiana, contribuindo para a manutenção da estrutura
do solo, promovendo estabilidade e formação de agregados de modo que o solo adquira a aeração
adequada para a respiração da planta. Após seu cultivo, as gramíneas serão secadas no solo e
cortadas ao máximo até adquirirem tamanhos muito pequenos para serem incorporados ao solo,
necessariamente antecedente ao plantio da batata, e quanto menor forem os pedaços, maior será a
área de contato com o solo e maior será a disponibilidade de nutrientes para a planta.
Outra opção de cultivo anterior à batata é o uso do sistema Santa Fé, que consiste em um consórcio
onde pode ser utilizada, pelo produtor, outra espécie de cultivo junto com a gramínea, como por
exemplo, o cultivo de milho com braquiária. O milho se desenvolverá antes da braquiária e após a sua
colheita, que ocorrerá aproximadamente 2 meses antes do plantio da batata, a braquiária terá o final
do seu desenvolvimento com o intuito de incorporar massa ao solo. Uma vantagem do uso do milho é
a possibilidade do produtor comercializar os grãos a fim de colaborar com os demais custos
existentes na cultura da batata.

A incorporação da matéria vegetal seca no solo em sistema de preparo profundo é feita através da
enxada rotativa a 40 cm de profundidade, diferentemente do sistema convencional que utiliza grades
e arados. A vantagem desse tipo de incorporação é que a enxada rotativa incorpora melhor a matéria
orgânica tornando os solos mais homogêneos, podendo ser realizada em solos com condições de
maior umidade, além de evitar a formação de “pés de arado” e “pés de grade”, que se caracterizam
por camadas compactadas no solo que não são interessantes para o cultivo da batata. Após a
incorporação da matéria orgânica no solo é realizado o plantio da batata, sendo recomendado a
realização da amontoa antecipada, logo após a emergência das plantas, evitando que a batata esteja
em condições que favoreçam o ataque dos patógenos e para que não haja contato direto entre as
plantas jovens e herbicidas pré-emergentes.

A sucessão de gramíneas no solo também reduz a utilização de defensivos e fertilizantes durante o

manejo da batata, promovendo a estruturação do solo e recomposição da microflora, apresentando
alta atividade biológica de microrganismos benéficos às plantas (solo supressivo). Essa condição é
obtida naturalmente após longos períodos de cultivo da batata e aumento da eficiência da matéria
orgânica incorporada no solo, proporcionando a possibilidade de cultivos sucessivos da batata na
mesma área.

O acúmulo de água (encharcamento) no solo provocado pela compactação ocasiona o apodrecimento

dos tubérculos, diminuindo a produção da lavoura. O excesso de água sobre a batata proporciona em
seu entorno condições anaeróbicas para a abertura das lenticelas, condição propícia para a ocorrência
de doenças como a canela preta e a podridão do tubérculo, além disso, pode causar demora no
crescimento da planta, que prejudicará o tamanho da área foliar, prejudicando a interceptação da luz
para realização da fotossíntese. A área em questão ficaria submetida ao uso de agrotóxicos, como é
comumente realizado, e contribuiria para a posterior degradação do solo.

Comparando-se os sistemas de cultivos da batata observou-se que, ao se utilizar o método

convencional, as limitações condicionadas às raízes passaram a ocorrer a partir dos 40 cm de
profundidade. Já no sistema onde o preparo utilizado foi o manejo profundo do solo, os efeitos das
limitações ao crescimento das raízes começaram a surtirem apenas a partir da faixa entre 60 e 80 cm,
propiciando consequentemente maior crescimento da raiz e melhor desempenho da planta na
formação do tubérculo.

A adoção do sistema de preparo profundo apresenta-se como uma excelente alternativa para os
produtores que buscam melhoria em sua produção, assim como a redução no uso de defensivos e
fertilizantes minerais, contribuindo positivamente para a manutenção de microrganismos benéficos
no solo, tornando-se uma produção sustentável.

Fontes Consultadas
EMBRAPA. A Cultura da Batata, Coleção Plantar nº42, Brasilia – DF. 184p. 1999.
IBGE. Estatística da Produção Agrícola. Janeiro 2015.

RAGASSI, C.F. et al. Adubação verde com gramíneas e preparo profundo de solo para cultura da
batata. Revista Horticultura Brasileiranº27: S47-S53. 2009.

RAGASSI C. F. et al. Efeito da descompactação profunda de solo na produção da cultura da batata.

Revista Horticultura Brasileira nº27: p484-489. 2009.

RAGASSI C. F. et al. Qualidade do solo e sustentabilidade na cultura da batata. Revista Scientia

Agraria Paranaensis. Volume 10, número 2 - 2011, p 88-103.

RAGASSI, C. F. Sistema de preparo profundo do solo e sucessão de gramíneas para o plantio da batata
(Solanum tuberosun L.). Piracicaba – SP. 84p. 2009.

RÓS, A. B. et al. Propriedades físicas de solo em diferentes sistemas de preparo para o cultivo da
batata-doce. Reviste Semina: Ciências Agrárias, Londrina - PR, v. 35, n. 1, p. 227-238, jan./fev.
2014.

SALUSTIO, P. E. B. Efeito do preparo de solo na produtividade e qualidade da batata. Ibicoara – BA.

Junho 2011.

Elaborado por
Casa do Produtor Rural
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP

Douglas Augusto de Lima Cavalli

Graduando em Engenharia Agronômica
Estagiário - Casa do Produtor Rural - ESALQ/USP

Colaboração
PACES - Projetando Agricultura Compromissada em Sustentabilidade
ESALQ/USP

Acompanhamento técnico
Fabiana Marchi de Abreu
Engenheira Agrônoma
CREA 5061273747
Casa do Produtor Rural

Coordenação editorial
Marcela Matavelli
Agente de Comunicação
DRT 5421SP
Casa do Produtor Rural

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