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O trabalho foi divido em três partes: a primeira parte consiste em história da
instituição, características do hospital e público alvo; a segunda parte trabalha-se a história e
explora-se os conceitos de medicina social, a medicina social no Brasil, origem dos hospitais,
instituições, análise institucional; a terceira parte relata a observação e análise da instituição.
1- Caracterização
O hospital foi fundado em 1950 e fazia parte da rede hospitalar da Secretária de Saúde
do Distrito Federal. Somente em 1962 que se torna um hospital-escola da Faculdade de
Ciências Médicas da Universidade do Estado da Guanabara (UEG) – mais tarde se tornou
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Até então a faculdade se dedicava a estudar
raridades médicas e doenças em estagio final de evolução e era exclusivamente dedicado a
questões acadêmicas de ensino e pesquisa. A partir de 1975, quando firma-se um acordo com
o ministério da Educação e Previdência Social, o hospital sofre uma mudança e passa a
atender às necessidades mais carentes da população passando a ser um hospital de
atendimento geral.
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2- Problematização da história
Medicina Social
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que representa a força de produção. Para administrar esta força, a sociedade capitalista
investiu no que Focault chamou de bio-política, controle do corpo, utilizando para isso como
estratégia a medicina social.
Na Europa, países como Alemanha, França e Inglaterra utilizaram a medicina como
técnica científica de controle do corpo. Na Alemanha, a medicina social se desenvolveu com
o apoio do estado, que incentivou o controle estatístico de nascimentos e mortes, normatizou
o saber médico e organizou mecanismo para controle administrativo da medicina pelo estado.
Na França, a medicina coletiva evoluiu a partir de medidas sanitaristas baseadas numa política
de urbanização e na Inglaterra, a medicina se desenvolveu a partir de políticas de assistência
social que visavam controlar a saúde dos pobres e para proteger as classes mais ricas do risco
das endemias (Foucault, 2004).
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excluindo os trabalhadores rurais, os empregados domésticos e os servidores públicos e de
autarquias e que tivessem regimes próprios de previdência (Moreira et al, 2016).
Em 1967, já na ditadura militar, o governo implanta o Instituto Nacional de
Previdência social (INPS) que reunia aposentadoria, pensões e assistência médica. Para
atender a toda a população, o governo militar direcionou recursos públicos para área de saúde
da iniciativa privada, para conseguir apoio de setores influentes da sociedade brasileira.
Durante quinze anos, o setor médico privado recebeu vultosos recursos do governo (Moreira
et al, 2016).
Em 1988, no final da ditadura, a partir de uma assembleia nacional constituinte uma
nova constituição foi promulgada, que tinha no seu texto a saúde como direito de todos e
dever do Estado. Dentro deste contexto social, nasce o Sistema Único de Saúde (SUS) com a
finalidade de alterar a situação de desigualdade na assistência à saúde da população, tornando
obrigatório o atendimento público a qualquer cidadão (Moreira et al, 2016).
Do SUS fazem parte os centros e postos de saúde, hospitais (inclusive universitários),
laboratórios, hemocentros (bancos de sangue), além de fundações e institutos de pesquisa. O
acesso da população à rede deve se dar através dos serviços de nível primário de atenção que
devem estar qualificados para atender e resolver os principais problemas que demandam
serviços de saúde. Os que não forem resolvidos a este nível deverão ser referenciados para os
serviços de maior complexidade tecnológica. No nível terciário de atenção à saúde estão os
hospitais de referência e resolvem os 5% restante dos problemas de saúde (Moreira et al,
2016).
O Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), objeto de estudo deste trabalho,
pertence ao SUS e está relacionado ao nível terciário de atenção à Saúde.
O nascimento do hospital
Em sua obra “Microfísica do poder”, Foucault (2014) apresenta uma tecnologia que
ele denominou: disciplina. Segundo sua teoria, os mecanismos disciplinares são antigos e já
tinham sido utilizados pelas religiões, pelas empresas escravistas, na legião Romana, mas foi
na modernidade que nasceu uma nova técnica de gestão de indivíduos para controlar suas
multiplicidades (Foucault, 2014).
A disciplina é antes da mais nada uma forma de organização espacial, para conseguir
controlar um grupo de indivíduos específico, de uma forma que eles possam ser classificados
e analisados. Outra regra básica para o controle disciplinar é a vigilância perpétua e constante
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(inspeção, revistas), o indivíduo precisa ser observado permanentemente para que possam ser
classificados, julgados, medidos, localizados (Focault, 2014).
A inserção dos mecanismos disciplinares nos hospitais foi fundamental para atingir as
necessidades da modernidade: redução de custo por paciente, controle de epidemias,
organização da medicalização. A distribuição interna dos hospitais foi cuidadosamente
estudada levando em consideração o doente, a doença e sua evolução, a arquitetura do
hospital deve ser fator e instrumento de cura (Focault, 2014).
Até meados de XVIII os hospitais eram administrados por religiosos, os médicos
apenas faziam visitas ao leito. A partir do momento que os hospitais se transformam em
instrumento de cura, o médico passa a ser o protagonista na cena do hospital, ele passa a ser
responsável pela organização hospitalar (Focault, 2014).
Surge então, a figura do grande médico de hospital, aquele que será mais sábio quanto
maior a experiência. O discurso da medicina alinhando ao científico que tudo domina, cria as
relações hierárquicas no hospital como, por exemplo, o ritual da visita, em que o médico vai
ao leito de cada doente seguido de toda a hierarquia do hospital: assistentes, alunos,
enfermeiras, etc.
Os hospitais não são apenas lugar de cura, eles são formadores de conhecimento, o
saber médico que o início do século XVIII localizado nos livros, começa a ter lugar no
hospital. Dentro do dia a dia do hospital existe um saber que está além dos livros, a partir
desta análise se normatiza que a formação médica deve ser feita dentro dos hospitais
(Foucault, 2014).
Instituições
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Análise Institucional
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O discurso positivista da modernidade trouxe uma visão de neutralidade e objetividade
para ciência, como se não existisse uma implicação de quem produz ciência, como se a
ciência não fosse influenciada por fatores políticos ou econômicos (Lourau, 2004).
Na análise institucional existe um processo de análise da implicação, que deriva ao
conceito de contratransferência freudiano, os sentimentos do analista pelo seu paciente. O
processo de implicação pressupõe a autoanálise por parte do analista institucional, para que
este possa compreender as suas motivações que o encaminharam para aquela pesquisa. A
análise de implicações traz para o campo da análise sentimentos, percepções, ações,
acontecimentos até então considerados negativos, estranhos, como desvios e erros que
impediriam uma pesquisa/intervenção de ser bem sucedida (Lourau, 2004).
O público é constituído, em sua maioria, por usuários do SUS de baixa renda. Segundo
a psicóloga entrevistada, também há algumas pessoas com renda alta que são indicadas por
médicos particulares pela qualidade do serviço.
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equipados. A organização da unidade é feita de forma que os leitos ficam de frente para uma
ilha, localizada próximo à porta. Da ilha, enfermeiros, médicos e residentes tem uma visão
geral dos pacientes, um meio de controle sobre a situação dos enfermos.
Após a entrevista com a psicóloga sentimos como é difícil trabalhar no hospital, local
do saber médico que, ao longo da história, alinhado ao discurso científico, cria relações
hierárquicas no hospital. A psicóloga relata um estranhamento por parte da equipe sobre o
fazer psicológico nessa instituição. Sua implicação na escolha da profissão vem do fato de
“ser bom ouvido para as amigas (...)”, mas, no decorrer da faculdade, notou que não sabia
onde estava se metendo. Esse desconhecimento da prática e do saber psicológico é notado não
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só nos graduandos, como também nos profissionais da equipe onde este psicólogo irá
trabalhar.
A partir dessa junção hospital e medicina, o médico mais sábio seria aquele que
tivesse mais experiência no campo e não mais aquele profissional atado aos manuais médicos
e transmissão de receitas (Foucault, 2004). Esse fator pode ser observado no discurso da
médica entrevistada quando se refere aos médicos mais antigos. Ela menciona um respeito
maior a estes, mesmo sendo todos concursados haveria, então, uma hierarquia, uma posição
de mais respeito pela experiência.
A fala da médica como um todo nos mostra o instituído: cadeia de regras, normas ao
definir sua rotina: “chego, olho os pacientes, interajo muito com os residentes, os oriento (...)
interajo muito com os residentes e o pessoal da enfermagem (...) participamos do round
diariamente - reunião da equipe sobre os casos clínicos - (...)”. Percebe-se também uma
alienação social nas suas atividades. Ao ser perguntada sobre como realiza seu trabalho e
onde fica ela responde com normalidade e de forma objetiva, sem questionar ou
problematizar: “eu fico aqui, aqui é arrumadinho, ótimo (...)” e “meu trabalho é assim: eu
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chego, verifico os pacientes, dou orientações...”. Sobre dificuldades: “de material de hospital
e dificuldades setoriais, chamar algum especialista”. Não é posto em seu diálogo, por
exemplo, dificuldades no seu trabalho com os pacientes, que são crianças, e com a família.
Esse assunto só vem à tona quando pedimos que citasse um caso difícil e um onde o
psicólogo tenha sido fundamental: “ainda não tive nenhum problema difícil aqui”; sobre a
atuação do psicólogo: “uma mãe que veio transferida com o bebê em clínica de morte
encefálica (...) a médica explicou e a psicóloga também conversou com ela (...) eu sabia que
ele morreria no meu plantão (...) mas quando aconteceu foi mais tranquilo, dentro do
possível”. Percebe-se uma naturalização das relações, das rotinas, como se fosse esperado o
pior ou o melhor e isso não a atingisse.
A partir das duas entrevistas, podemos observar a psicologia como um analisador. Sua
entrada no hospital gera um estranhamento e faz emergir demandas como, conforme citado,
chamarem a psicóloga para ajudar a comunicar alguma informação difícil ou o caso inovador
de acompanhar o paciente até a cirurgia. Na fala da medica ela reconheceu que a intervenção
da psicóloga ajudou uma mãe a lidar da melhor maneira com a perda do filho. Apesar da
morte estar naturalizada para a médica, que alienada na sua função a continua exercendo sem
desvios, notamos um singelo intervalo nesse pensamento automatizado.
Outro ponto que pode ser levantado como um analisador é a situação da crise
financeira do Estado, que afetou o hospital e seus funcionários. Ao ser questionada sobre isso,
a médica diz que foi um momento muito difícil, pois afetou a ordem estabelecida. Houve uma
redução no quadro da equipe para se adaptar a situação de falta de salários, gerando uma
angústia geral. A médica relata também que havia acabado de comprar uma “quentinha” de
uma enfermeira concursada que precisou recorrer a outros meios para se manter
financeiramente. A médica também relata a angustia ao não ter condições para receber uma
criança que estava morrendo em outra cidade, pois o hospital não tinha leitos. A partir desse
analisador crise financeira, faz-se falar algo que incomodava e que não se sustentava mais,
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que seria a ordem estabelecida. Quando perguntamos para médica sobre a organização
sindical ela respondeu: a gente é nada organizado e até riu. A crise do estado chega ao
hospital e eles não possuem nem uma força organizada coletiva que possa fazer resistência ao
descaso dos governantes em relação à saúde pública. Eles estão alienados dentro da rotina de
trabalho, só resta aos funcionários do hospital, frente ao assombro do instituinte, a reação
individual inócua e o desamparo. ‘
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Referências
FINKELMAN, J. Caminhos da saúde pública no Brasil. Editora Fio Cruz: Rio de Janeiro,
2002.
FOUCAULT, M. O nascimento do hospital. In: Microfísica do poder. São Paulo: Ed. Paz e
Terra, 2004, p. 57-66.
FOUCAULT, M. O nascimento da medicina social. In: Microfísica do poder. São Paulo: Ed.
Paz e Terra, 2004, p. 46-56.
LOURAU, R. Objeto e método da análise institucional. In: Altoé, S. (Org.) René Lourau:
Analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec, 2004, p. 66-86.
LOURAU, R. 2004. Uma Apresentação da Análise Institucional. In: Altoé, S. (Org.) René
Lourau: Analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec, 2004, p. 128-
139.
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