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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LRIAB
Nº 70065453698 (Nº CNJ: 0230747-17.2015.8.21.7000)
2015/CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE


CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
PENSIONAMENTO. DESCONTO EM FOLHA.
SALÁRIO. IMPENHORABILIDADE AFASTADA.
Possível a penhora sobre os proventos salariais em
hipóteses excepcionais, pois a regra do art. 649, IV, do
CPC, não é absoluta. Hipótese concreta em que a
penhora diz respeito à pensionamento, que possui
natureza alimentar, tal como ocorre com o salário. A
penhora da verba salarial se mostra como o único
meio de evitar a frustração do procedimento executivo
atinente à verba alimentar acumulada, tendo em vista
que em momento algum o devedor demonstrou
interesse em saldar o débito. Precedentes do Superior
Tribunal de Justiça e deste Tribunal.
Agravo de instrumento desprovido.

AGRAVO DE INSTRUMENTO DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL

Nº 70065453698 (Nº CNJ: 0230747- COMARCA DE CAXIAS DO SUL


17.2015.8.21.7000)

MARCOS DOS SANTOS PINHEIRO AGRAVANTE

LUCIANE ANDREIA NERES AGRAVADO


FONTANA E OUTROS

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Primeira
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar
provimento ao agravo de instrumento.
Custas na forma da lei.

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Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes


Senhores DES. ANTÔNIO MARIA RODRIGUES DE FREITAS ISERHARD
(PRESIDENTE) E DES.ª KATIA ELENISE OLIVEIRA DA SILVA.
Porto Alegre, 19 de agosto de 2015.

DES. LUIZ ROBERTO IMPERATORE DE ASSIS BRASIL,


Relator.

R E L AT Ó R I O
DES. LUIZ ROBERTO IMPERATORE DE ASSIS BRASIL (RELATOR)
Trata-se de agravo de instrumento interposto por MARCOS
DOS SANTOS PINHEIRO em face da decisão que, nos autos do
cumprimento de sentença n° 010/1.10.0036203-5, que lhe movem LUCIANE
ANDREIA NERES FONTANA, ANDERSON ANDRÉ FONTANA e MARCOS
VINICIUS FONTANA, deferiu pedido formulado pelos credores, autorizando
o desconto, no salário do agravante, do valor correspondente a 2/3 do
salário mínimo vigente, referente aos alimentos a que foi condenado a pagar.
Sustenta que o salário se trata de verba alimentar, sendo descabido o
pretendido desconto para pagamento de débito ou condenação judicial, eis
que a renda que aufere, na condição de tecelão, é de aproximadamente
R$1.300,00, que seu salário já está comprometido com despesas e dívidas e
necessita do valor para auxiliar sua genitora, pessoa de parcas condições
econômicas. Assevera que existe a possibilidade de conseguir auxílio
financeiro com familiares para custear a condenação e pretende assim
buscar outros meios, inclusive mediante financiamentos bancários. Sustenta
a impenhorabilidade da verba salarial. Pugna pela atribuição de efeito
suspensivo e, no mérito, a revogação da decisão que autorizou o desconto
em folha.

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O recurso foi recebido e o pedido de efeito suspensivo


indeferido, consoante decisão de fls. 644/653.
Intimados, os agravados apresentaram contrarrazões recursais
(fls. 658/661). Asseveram que o agravante argúi a impenhorabilidade do
salário por se tratar de verba alimentar, mas esquece que o valor cujo
desconto foi determinado refere-se ao pensionamento a que foi condenado.
Aduzem que em momento algum o agravante demonstrou interesse em
arcar com o pagamento da verba alimentar, que em caráter provisória havia
sido fixada em um salário mínimo e em sentença foi reduzida para 2/3 do
salário mínimo. Pedem o improvimento do recurso.
O Ministério Público, nesta instância, opinou pelo improvimento
do recurso (promoção de fls. 750/756).
Vieram os autos conclusos para julgamento.
É o relatório.

VOTOS
DES. LUIZ ROBERTO IMPERATORE DE ASSIS BRASIL (RELATOR)
Na decisão de fls. 644/653 assim referi:
“Analisando os autos, verifica-se que o agravante foi
condenado a pagar indenização por danos materiais e morais, bem como
pensionamento mensal no valor correspondente a 2/3 do salário mínimo ao
autor Anderson André Fontana até que o mesmo complete 24 anos de
idade.
Com o retorno dos autos à origem o autor/agravado promoveu
o cumprimento de sentença. O réu/agravante foi intimado para cumprimento
voluntário da obrigação através da nota de expediente n° 176/2015,
expedida em 11/02/2015 e disponibilizada em 18/02/2015, porém manteve-
se inerte, constatação que depõe contra a afirmação do agravante, na inicial

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do presente recurso, que possui o objetivo de buscar meios para cumprir a


obrigação (inclusive com financiamentos bancários e empréstimos de
familiares), pois se assim efetivamente fosse, teria se utilizado do prazo que
dispunha para tanto, mas manteve-se silente.
Não obstante a regra do art. 649, IV do CPC e o veto
presidencial ao parágrafo 3º mesmo dispositivo legal, não se pode deixar de,
em casos de antinomias no sistema, buscar solução, através de
interpretação teleológica da norma e dos princípios gerais de direito, sempre
com o intuito de lhe conferir a maior efetividade possível, não descurando da
responsabilidade patrimonial do devedor (art. 591 do CPC), mas também
atentando a que a execução se faça pelo modo menos gravoso (art. 620 do
CPC).
A jurisprudência tem aceitado a mitigação da
impenhorabilidade sobre os proventos salariais em casos excepcionais.
Do ponto de vista constitucional, há de se respeitar o princípio
da efetividade do processo (art. 5º, XXXV, da CF, com a garantia de
reparação de lesão ou ameaça a direito), cuja finalidade é a atribuição dos
efeitos práticos do processo a quem de direito. Dele se extrai a lição de
Cassio Scarpinella Bueno:
“...repousa em verificar que, uma vez obtido o reconhecimento
do direito indicado como ameaçado ou lesado, e que, por isto mesmo,
justifique a atuação do Estado-juiz (a prestação da tutela jurisdicional), seus
resultados devem ser efetivos, isto é, concretos, palpáveis, sensíveis no
1
plano exterior do processo, isto é, ‘fora’ do processo”
Na aparente antinomia de regras, princípios e valores a
solução deve ser alcançada com base no princípio da proporcionalidade, no
dizer de Cassio Scarpinella Bueno:

1
Curso Sistematizado de Direito Processual Civil, v. 1, Ed. Saraiva, 2007, p. 146).
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“...Assim, quando houver bens jurídicos de valores diversos em


conflito, o magistrado está autorizado a aplicar o que lhe parece, consoante
as características do caso concreto, o mais importante, o mais relevante, o
que, na sua visão - e consoante as características de cada caso concreto
que se apresente para solução -, tem condições de tutelar melhor e mais
adequadamente o direito. Pela regra da proporcionalidade, cria-se para o
magistrado condições concretas e reais de bem aquilatar as variadas
situações que lhe são apresentadas no dia-a-dia forense e que o mais
criativo dos legisladores não teria condições de colocar, exaustivamente,
numa lista a ser seguida pelo juiz. Como não é possível o estabelecimento
prévio e unívoco de qualquer prevalência entre os diversos princípios
jurídicos (relativos ao processo civil ou, mais amplamente, entre quaisquer
princípios do direito), é que se faz mister que o magistrado, ao considerar
sua aplicação em cada caso concreto, faça-o motivadamente, explicando as
razões pelas quais entende que um deve prevalecer sobre o outro, dando
especial destaque às considerações acima identificadas, vale dizer:
justificando por que o princípio prevalecente é o mais adequado, por que é o
mais necessário, dizendo, em última análise, por que a solução é mais justa
para o caso concreto (regra da proporcionalidade em sentido estrito)...” (op.
cit., p. 100).
E com apoio neste princípio da proporcionalidade Francisco
Giordani discorre sobre a possibilidade da penhora de salário em casos
especiais2:
“Enfim, existindo uma questão de
impenhorabilidade de salário reclamando solução, a
mesma não pode ser encontrada apenas nos
horizontes, hoje estreitos e/ou insuficientes, do quanto
disposto no art. 649, IV, do CPC, a não ser assim, de
acrescentar, a própria Constituição Federal será
atropelada.
2
O princípio da proporcionalidade e a penhora de salário, Revista do Tribunal Superior do
Trabalho, v. 72, nº 1, jan-abr/2006, p. 15 e SS.
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Volto a socorrer-me dos grandes


mestres.
Com esse escopo, de vir à tona o
quanto, a respeito do assunto, afirmou o afamado
José Martins Catharino, referindo, inclusive,
posicionamentos e lei bem anteriores ao que então
manifestou:
‘Como criticamos no nosso Tratado
jurídico do salário (nºs 554, 555, 558 e 559), a
impenhorabilidade total e ilimitada é demasiada,
produzindo efeitos contraproducentes. O ideal seria a
impenhorabilidade parcial e limitada.
Impenhorabilidade total e ilimitada até certo valor do
salário, e, daí para cima, penhorabilidade progressiva.
Não é justa ausência de distinção, por força do
princípio constitucional da igualdade. O caráter
alimentar da remuneração - fundamento da
impenhorabilidade - decresce em proporção inversa
do seu valor. Por conseqüência, impenhorabilidade
total e ilimitada, impenhorabilidade regressiva e
penhorabilidade progressiva deveriam ser
coordenadas (no mesmo sentido: MARIANI, José
Bonifácio de Abreu. Da penhora. Tese, Bahia, n. 4,
1949. p. 90 e 91; na França, penhorabilidade e
impenhorabilidade parciais existem desde 1895, por
lei de 12 de janeiro, datando sua última modificação
de 02.08.1949, sendo que a Loi de Finances, de
20.12.1972, estabeleceu regras relativas às contas
bancárias)’ - Compêndio de direito do trabalho. 3. ed.
São Paulo: Saraiva, v. 2, 1982. p. 111.
Dessa orientação não destoam os
notáveis Orlando Gomes e Elson Gottschalk, como se
percebe da leitura atenta de seus ensinamentos:
‘As divergências entre os autores
surgem quando se trata de determinar a extensão que
deve ser dada à medida protetora. Sustentam alguns
que a proteção deve ser absoluta, cobrindo todo o
salário do empregado, qualquer que seja a sua
importância, origem ou forma. Entendem outros que
só se justifica parcialmente, quer em relação ao
montante da remuneração, quer em relação à forma
do pagamento. Para os adeptos dessa corrente
doutrinária, a impenhorabilidade somente deve existir
em relação a determinada parte do salário, podendo a
outra ser objeto de penhora. Outros se inclinam para
um sistema de penhorabilidade progressiva pelo qual

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a percentagem penhorável será tanto maior quanto


maior for o salário que o empregado percebe.
Finalmente, há quem pense que certas formas de
remuneração, como, por exemplo, a participação nos
lucros da empresa, posto que tenham natureza de
salário, não devem estar isentas de penhora. A
impenhorabilidade absoluta não se justifica para
empregados que percebem salário de alto padrão,
muito superior ao necessário para atender à sua
subsistência. Por isso, é vitoriosa na doutrina a
tendência para admitir a penhorabilidade parcial ou
progressiva’. - Curso de direito do trabalho. 15. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1998. p. 269.
(...)
O ilustrado Procurador Max Möller, em
substancioso artigo intitulado ‘O Direito à
Impenhorabilidade e a Nova Interpretação
Constitucional’, assevera que a regra da
impenhorabilidade do art. 649 do Estatuto Processual
deve ter afastada a sua aplicação em razão das
peculiaridades do caso concreto’ (in GORCZEVSKI,
Clovis; REIS, Jorge Renato dos (coords.). Direito
constitucional - constitucionalismo contemporâneo.
Porto Alegre: Norton, 2005. p. 208), asserto esse que
vem ao encontro do quanto ao longo deste vem
sendo dito.
Francisco Fernandes de Araújo, ao
cuidar da impenhorabilidade de vencimentos
estabelecida no art. 649, IV, do CPC, muito
lucidamente, dilucida que os respectivos devedores:
‘Não podem gozar da situação de
forma absoluta, a ponto de ofender princípios da
isonomia e da efetividade da justiça, e igualmente o
princípio da dignidade da pessoa humana, no caso de
o credor estar necessitado, também previstos como
direitos fundamentais (art. 5o, XXXV, da CF), em
detrimento do credor.’ (in Princípio da
proporcionalidade - significado e aplicação
prática. Campinas: Copola, 2002. p. 90/1).

Fala-se, inclusive, em interpretação corretiva da lei, conforme


lição do Juiz de Direito, Dr. Jorge de Oliveira Vargas 3:
3
A impenhorabilidade e a Interpretação corretiva da Lei. Execução Civil: Estudos em
Homenagem ao Professor Humberto Theodoro Júnior, Ed. Revista dos Tribunais, 2007, p.
478.
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“Destas lições conclui-se que a criação do direito não


é obra apenas do legislativo, principalmente quando
as leis são elaboradas para proteger determinados
segmentos sociais privilegiados e não ao interesse
geral da coletividade; é obra também do Estado-juiz,
que pode e deve lançar mão da interpretação
corretiva, qual assim descrita por José Oliveira
Ascenção:
“Pode acontecer que, como resultado
da interpretação, concluamos que a lei
tem sentido nocivo. A razão da lei será
contrária aos interesses que
pretenderem preponderantes. A fonte
pode ser taxada de injusta ou
inoportuna, representando um elemento
negativo naquela comunidade. Como
proceder então?
“Admitem alguns que nestas hipóteses
o intérprete poderia afastar a norma
inadequada, considerando que o
legislador certamente a não teria
querido se tivesse previsto o resultado.
Fala-se então em interpretação
correctiva”.
Para o citado doutrinador a interpretação corretiva é
inadmissível na ordem jurídica portuguesa, mas
admitida na nossa em razão do contido no art. 5º da
LICC.
A interpretação corretiva, em nosso ordenamento, tem
não apenas base infra-constitucional, de vez que o
constituinte originário positivou, no art. 3º, I, da nossa
Carta da República, o valor justiça como objetivo
fundamental, o que significa dizer que uma lei ou
resultado injusto da aplicação de uma lei é
inconstitucional.
Não se pode esquecer ainda de que, entre os direitos
e garantias fundamentais, consagra-se no Texto
Magno, no art. 5º, LIV, o devido processo legal, que na
sua atual interpretação alcança tanto o devido
processo legal procedimental como o substantivo,
sendo que este se constitui na garantia de que a lei
seja razoável, justa e contida nos limites da
Constituição.”

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Destaca, também, ainda que sob outro enfoque, Gryecos


Attom Valente Loureiro4:
“Como se pode perceber, as normas deverão ser
analisadas por aspectos de razoabilidade interna,
externa e da proporcionalidade em sentido estrito,
sempre em foco nos motivos, nos fins e nos meios
para o alcance do direito violado.
Cada vez mais, verifica-se a tendência da tradicional
doutrina civilista para o enfoque constitucional da
matéria. A busca pela preservação dos direitos
fundamentais, pela preservação dos valores mais
caros à sociedade integralmente considerada, culmina
por entrar em rota de colisão com a multiplicidade de
normas infraconstitucionais atuais. Muitas vezes,
essas normas são editadas sem nenhum
compromisso com os dogmas das relações privadas
insculpidos em nosso Código Civil, demandando a
utilização como preservação do equilíbrio sistêmico,
dos paradigmas constitucionais.
Não podemos descurar que eles, os paradigmas
constitucionais, são como porto seguro para a
coerência do sistema legal, se constituindo,
inegavelmente, como principal norte para a
hermenêutica infraconstitucional.”

A doutrina vem, reiteradamente, reconhecendo a possibilidade


de penhora parcial dos salários, invocando, inclusive, como margem
consignável, o percentual de 30%, comumente utilizado para pagamento de
empréstimos tomados junto a instituições financeiras. Vale-se, também, do
Direito Comparado para justificar a constrição, consoantes referências
selecionadas a seguir.
Demócrito Reinaldo Filho consigna5:

4
A (im)penhorabilidade do salário. Revista de Direito da Advocef. Ano VI, n° 12, mai/2011,
p. 39.
5
“Da possibilidade de Penhora de saldos de contas bancárias de origem salarial –
interpretação do inciso IV do art. 649 do CPC em face da alteração promovida pela Lei
11.382, de 06.12.2006”. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil, Porto Alegre,
v.4, n.24, p. 67, maio de 2008.
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“1. O inciso IV do art. 649 do CPC, que prevê a


impenhorabilidade de verbas remuneratórias e de
pensionamento, não deve ser interpretado em sentido
literal, sob pena de criar um alargamento impróprio da
garantia processual e privilegiar de forma injustificada
o devedor. Uma interpretação excessivamente
abrangente em termos de restrição à penhora de bens
do devedor acaba por criar proteções excessivas,
diminuindo a responsabilidade pelo pagamento de
dívidas e comprometendo a própria tutela jurisdicional
executiva.
2. Os valores obtidos a título de salário, vencimentos,
proventos e pensões são impenhoráveis somente nos
limites do eventual comprometimento da receita
mensal necessária à subsistência do devedor e da sua
família. Preserva-se, dessa forma, um mínimo para a
sua sobrevivência, mas ao mesmo tempo entrega-se a
prestação jurisdicional pleiteada pelo exequente.
Interpretação contrária provocaria evidentes
distorções e criaria indevida proteção ao executado.”

No mesmo sentido, Fredie Didier Jr. e Outros6:


“b) De acordo com as premissas teóricas
desenvolvidas acima, é possível mitigar essa regra de
impenhorabilidade, se, no caso concreto, o valor
recebido a título de verba alimentar (salário,
rendimento de profissional liberal, etc) exceder
consideravelmente o que se impõe para a proteção do
executado. É possível penhorar parcela desse
rendimento. Restringir a penhorabilidade de toda a
“verba salarial”, mesmo quando a penhora de uma
parcela desse montante não comprometa a
manutenção do executado, é interpretação
inconstitucional da regra, pois prestigia apenas o
direito fundamental do executado, em detrimento do
direito fundamental do exequente. (...)
Assim, corretamente, o Tribunal de Justiça do Distrito
Federal vem entendendo que 30% do salário podem
ser penhorados, exatamente porque se permite que
esse percentual possa ser utilizado como garantia em
contrato de empréstimo bancário consignado em folha
salarial. O raciocínio é bem simples: se o sujeito pode

6
Curso de Direito Processual Civil. Volume 5. Execução. Salvador: Editora Juspodivm,
2009, p. 554/555.
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dispor de uma parcela do seu salário para contrair


uma dívida, essa parcela não pode ser considerada
impenhorável.”

Bruno Dantas Nascimento e Marcos Antônio Köhler, por sua


vez, destacam7:
“Parece-nos, portanto, que a razão está com Cândido
Rangel Dinamarco e Marcelo Abelha, quando afirmam
categoricamente que a impenhorabilidade dos salários
deve ser observada cum granu salis, ou seja,
cotejando, de um lado, o princípio da dignidade da
pessoa humana, que milita em favor do executado, e,
de outro, a promessa constitucional de acesso à
ordem jurídica justa, efetiva e célere, na qual creu o
exequente, e os efeitos nefastos que a manutenção da
impenhorabilidade irrestrita acarreta para toda a
sociedade. A solução, como parece óbvio, deve estar
no equilíbrio entre os dois valores postos em jogo,
aplicado caso a caso pelo Estado-juiz.”

José Miguel Garcia Medina também registra 8:


“(...) não tendo sido localizados outros bens
penhoráveis, pensamos que deve ser admitida a
penhora de parte da remuneração recebida pelo
executado, em percentual razoável, que não
prejudique seu acesso aos bens necessários à sua
subsistência e à de sua família. Já se decidiu nesse
sentido, que “o artigo que veda a penhora sobre os
salários, soldos e proventos deve ser interpretado
levando-se em consideração as outras regras
processuais civis. Serão respeitados os princípios da
própria execução, entre eles o de que os bens do
devedor serão revertidos em favor do credor, a fim de
pagar os débitos assumidos. A penhora de apenas
uma porcentagem da verba de natureza alimentar não
fere o espírito do art. 649 do Código de Processo Civil”
(TJMG, AgIn 1.0024.05.731211-8/001(1). J.

7
Aspectos jurídicos e econômicos da impenhorabilidade de salários no Brasil:
contribuição para um debate necessário. Execução Civil: Estudos em Homenagem ao
Professor Humberto Theodoro Júnior, Ed. Revista dos Tribunais, 2007, p. 456.
8
Código de Processo Civil Comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p.
758.
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25.09.2007. rel. Des. José de Antônio Braga). No


mesmo sentido, TJMT AgIn 109046/2009, j.
18.11.2009, rel. Des. Sebastião de Moraes Filho.”

Na mesma linha Bruno Garcia Redondo9:


“O instante especial em que o magistrado realiza a
distinção entre os bens que podem ser objeto de
penhora, e os que de seu rol estão excluídos,
configura momento processual de grande relevância
prática. A análise do tema objeto do presente estudo,
a partir de uma leitura constitucional do Direito
Processual Civil, impõe a revisão de certas premissas
em que se baseiam as correntes de viés mais
tradicional.
Aparentemente ainda a salvo da grave crise
econômico-social que as grandes economias vêm
experimentando, crise de outra natureza, conjuntural,
nos tem atingido, agravada pelo crescente e
generalizado inadimplemento. O descumprimento das
obrigações é verificado tanto na fase pré-processual
quanto na fase de encerramento das execuções
judiciais que, em grande parte, veem-se frustradas ao
final, pelo que o exequente jamais chega a receber o
crédito que lhe foi judicialmente reconhecido.
Por essa razão, a impenhorabilidade da remuneração
do executado, prevista no inciso IV do art. 649 do
CPC, não se revela absoluta, sendo, na realidade,
claramente relativa.
Evidentemente, deverá ser sempre reservada ao
executado, sob o manto da impenhorabilidade, uma
parcela de sua remuneração que seja capaz de lhe
proporcionar uma sobrevivência digna, sendo, assim,
plenamente atendida a mens legis do incido IV do art.
649.
Entretanto, a outra parcela restante, que exceder o
mínimo indispensável à digna subsistência do
executado, poderá ser objeto de penhora, mormente
quando o executado não dispuser de outros bens
livres e desimpedidos, para que possa ser satisfeito o
crédito exequendo – independentemente de sua
natureza, isto é, se alimentar ou não.”
9
Penhora da remuneração do executado: relativização da regra da impenhorabilidade
independentemente da natureza do crédito. Revista Brasileira de Direito Processual. Ano
15, n. 59, jul/set, 2007, Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 191/192.
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Destaca esse mesmo autor, em artigo publicado em coautoria


com Mário Vitor Suarez Lojo10:
“Nessa hipótese, compete ao magistrado fixar, em
patamar razoável, o percentual da remuneração a ser
penhorado, para que sejam assegurados, ao mesmo
tempo, o mínimo necessário à sobrevivência digna do
executado e a dignidade do exequente, que faz jus a
receber o bem da vida do qual foi indevidamente
privado. Seguindo essa linha, o PL n. 2.139/2007 (em
trâmite na Câmara dos Deputados), se convertido em
Lei, permitirá expressamente a penhora de um terço
dos ganhos do executado.”

Daniel Amorim Assumpção Neves refere11:


“Continua muito presente a perfeita análise crítica feita
ao sistema brasileiro pelo grande jurista português
José Alberto dos Reis: “O sistema brasileiro parece-
nos inaceitável. Não se compreende que fiquem
inteiramente isentos os vencimentos e soldos, por
mais elevados que sejam. Há aqui um desequilíbrio
manifesto entre o interesse do credor e do devedor;
permite-se a este que continue a manter o seu teor de
vida, que não sofra restrições algumas no seu conforto
e nas suas comodidades, apesar de não pagar as
dívidas que contraiu.”

Jaqueline Mielke Silva e outros fazem referência ao Direito


Comparado, registrando que a maioria dos países tem admitido a penhora
parcial de salários12:
“Ademais, não é demasiado referir que
penhorabilidade de parte do salário é aceita pela
maioria dos países. No direito alemão, há previsão
10
Ainda e sempre a penhora on line: Constitucionalidade, princípios e procedimento.
Leituras Complementares de Processo Civil. Organizador: Fredie Didier Jr. 8ª Edição.
Salvador: Editora JusPodivm, 2010, p. 117.
11
Reforma do CPC 2: nova sistemática processual civil. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2007, p. 202.
12
A nova execução de títulos extrajudiciais: as alterações da Lei nº 11.382/2006. Porto
Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p. 108/109.
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expressa na ZPO sobre a possibilidade de penhora


parcial de salários, já que, no art. 811, n. 8, considera-
se impenhorável apenas o mínimo para preservar as
necessidades básicas e imediatas do executado,
sendo impenhoráveis somente os valores necessários
para suprir o lapso temporal entre a penhora e o
próximo pagamento.
No direito português, há previsão no Código de
Processo Civil Português, art. 823, n. 1, letra e, de que
somente 2/3 do salário são impenhoráveis, admitindo-
se que a penhora incide sobre o 1/3 restante.
Na Espanha, a Ley de Enjuiciamiento Civil determina
uma progressão de percentagens dos vencimentos,
determinando-se a penhora, dependendo do valor do
salário do executado.
Já no direito argentino, existe previsão expressa de
possibilidade em até 20% do valor do salário que
exceder o valor estritamente necessário para a
subsistência do alimentante.
Por outro lado, também nos países da família da
common law, é possível a penhora de parte de salário
do executado. Nos Estados Unidos, existe verdadeira
discricionariedade judicial no arbitramento da
porcentagem do salário, que pode ser objeto de
penhora, levando o magistrado em consideração as
necessidades mínimas do devedor e de sua família no
caso concreto.”

Antônio Carlos Marcondes13 acrescenta:


“(...) o direito francês regulamenta essa situação
desde 1895, através da lei de 12 de janeiro desse ano,
alterada pelas leis de 27 de julho de 1921, de 4 de
agosto de 1930 e, finalmente, pela lei de 2 de agosto
de 1949.
(...)
Desta maneira, a lei procura harmonizar o interesse
do credor e do devedor, assegurando a este último
uma parcela de sua remuneração que não se sujeita à
penhora, garantindo-lhe a subsistência e da sua
família, isto é, assuner au debiteus la sauvagarde
d’um certain minun vital (ANDRE JOLY “Procédure

13
A penhora recainte sobre salário; anotações fundadas no direito francês. Revista
Forense, Rio de janeiro, 1976, v. 254, p. 477-478.
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civile et voies d’exécution”, Sirey, Paris, 1969, p. 40),


esse bem, que é o salário ou o que lhe é
assemelhado, para a efetiva realização de seu direito.”

Márcio Manoel Maidame faz, ainda, as seguintes referências 14:


“Bélgica, e Luxemburgo adotam sistemas muito
parecidos, que permitem a penhorabilidade dos
vencimentos por “bandas” ou “faixas”, cujo percentual
cresce conforme cresce o valor dos ganhos do
devedor.”

Este mesmo autor consigna15 e faz a seguinte proposição16:


“Diz-se que o legislador está em mora por conta de
uma observação muito simples. Se o devedor não
possui outras atividades ou outros bens que lhe
convertam renda mensal, e vive apenas do salário, a
presente situação equivale a dizer que este cidadão
tem um salvo-conduto para não pagar nenhuma das
suas dívidas judiciais.
(...)
Tal situação é ofensiva aos direitos fundamentais do
credor e exige do poder judiciário postura corretiva
dos privilégios do devedor, em vencimentos
intangíveis, e pode utilizar-se disse para obter imorais
vantagens em acordos judiciais, ou simplesmente não
pagar seus títulos e condenações.”

“Se a interpretação literal, então, não serve para a


resolução da questão, uma modalidade de
interpretação que pode ser útil ao deslinde da questão
é a teleológica, pois “considera-se o Direito como uma
ciência primariamente normativa ou finalística; por isso
mesmo a sua interpretação há de ser, na essência,
teleológica. O hermeneuta sempre terá em vista o fim
da lei, o resultado que a mesma precisa atingir em sua
situação prática.
Neste sentido, a impenhorabilidade de salários tem
como fim a preservação da subsistência digna do
devedor, pela manutenção de um mínimo existencial,
14
Impenhorabilidade e Direitos do Credor. Curitiba: Juruá, 2007, p. 253/254.
15
Ob. cit. p. 255.
16
Ob. cit. 259/262.
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como ressaltam Bruno Garcia Redondo e Mário Vitor


Suarez Lojo. (...)
A aplicação da interpretação teleológica ao caso
concreto demonstra que, se a regra protetiva
transforma-se em abuso, admissível sua relativização.
Ademais, como demonstra Guilherme Freira de Barros
Teixeira, com apoio em Giuseppe Tarzia, teleológica
também deve ser a interpretação do processo, que
deve ter a qualidade de entregar a tutela jurisdicional
requerida.
Deve-se considerar que a legislação brasileira já
permite o comprometimento do salário para
pagamento de dívidas, diversas da alimentar. A Lei
10.820/03 instituiu a possibilidade de concessão de
empréstimos bancários cujo pagamento e a garantia
se fundam no salário do mutuário; trata-se da
denominado “empréstimo consignado”. (...).
O raciocínio para defender a penhorabilidade é
exatamente este. Se se considera que o crédito
consignado é modalidade de penhora de salários (e,
como vimos, a jurisprudência assim o considera), não
existe mais polêmica sobre a penhorabilidade de
percentual dos ganhos mensais. A polêmica fica
somente circunscrita à recepção, ou não, pelo
ordenamento jurídico brasileiro, desta modalidade de
pagamento/garantia inaugurada pela Lei 10.820/03.
A Lei 10.820/03, como têm afirmado as Cortes
brasileiras, é regra constitucional, e com evidente
finalidade social, pois permite acesso ao crédito de
maneira simples e barata, mediante a disposição pelo
beneficiário da quantia, de bem que não é inalienável
(salário, pensão, pecúlio etc).
Inquinar de inconstitucional e abusivo o desconto em
folha configura gravíssimo equívoco, posto que o
empréstimo só é realizado a juros inferiores aos do
mercado, por conta da garantia que voluntariamente o
mutuário oferece (parcela do salário).
A jurisprudência, de maneira correta, tem mantido a
validade destes contratos, afastando os pedidos de
retirada do gravame mensal (aplicando, ainda que
implicitamente, o princípio da vedação de venire conta
factum proprium), exatamente porque tal conduta
feriria os direitos do credor, que só realizou o mútuo
nas condições entabuladas, por conta da privilegiada
garantia.

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(...)
Afigura-se bastante plausível que o magistrado,
quando por outras diligências não se obteve sucesso
em encontrar bens penhoráveis, utilize-se das regras
da Lei 10.820/03 para proceder à penhora de parcela
dos vencimentos do devedor, independentemente de
qual seja a natureza jurídica do débito. Se o devedor
pode, sponte própria, alhear parcela de seu salário, a
fortiori, pode o juiz fazê-lo, em busca de efetivar a
tutela jurisdicional, desde que mantenha garantindo-a
ao executado parcela suficiente da remuneração para
sobrevivência.
(...)
Parece-nos que os limites utilizados pela Receita
Federal na cobrança do imposto de renda da pessoa
física servem de paradigma para estabelecer limites
mínimos, máximos e percentuais de desconto mensal.
Assim, nos valores de hoje, defende-se a
impenhorabilidade de vencimentos inferiores a R$
1.164,00 mensais, e a partir deste valor, uma
penhorabilidade crescente, até o limite de 30%
previsto na Lei 10.820/03. Trata-se de aplicação das
regras observáveis na maioria dos países estudados,
com ampla aceitação da doutrina e da jurisprudência.
Obviamente, estes limites sugeridos hão de passar
por um crivo do magistrado no caso concreto, pois
fatores sociais, regionais e o próprio embate entre os
direitos do credor e do devedor podem indicar que
deve-se penhorar o salário em patamares superiores
ou inferiores ao que se sugere (ponderação dos
interesses em conflito). ”

Este Tribunal de Justiça, em casos específicos, já entendeu por


mitigar a regra do art. 649, IV do CPC:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE
CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. FASE
EXECUTIVA. PENSÃO ALIMENTÍCIA. 1- Pensão
decorrente de ato ilícito: deve ser excepcionada a
regra constante no IV do artigo 649 do CPC,
porquanto se aplica o §2º do aludido dispositivo legal.
Nada obsta a penhora de parte do salário (30%) da
devedora, sem prejuízo de sua manutenção digna,
considerando que se trata do único meio de evitar a
frustração do procedimento executivo atinente à verba
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alimentar acumulada, tendo em vista a inexistência de


outros bens ou rendimentos passíveis de constrição.
2- Parcelas vencidas do pensionamento: o fato de as
parcelas não serem atuais não altera o caráter
alimentar da verba, sobretudo pelas particularidades
do caso concreto, em que o próprio procedimento
judicial acarreta tal circunstância. Agravo de
instrumento desprovido, por maioria. (Agravo de
Instrumento Nº 70035417013, Décima Segunda
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 10/06/2010).

AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO.


EXECUÇÃO DE SENTENÇA. CONSTRIÇÃO SOBRE
VERBA SALARIAL. IMPENHORABILIDADE. ART.
649, IV DO CPC. Em regra, o dinheiro proveniente do
salário do devedor é absolutamente impenhorável.
Inteligência do art. 649, IV do CPC. Aplicação do
princípio da menor onerosidade ao devedor. A
penhora sobre parcela do salário do devedor pode
ocorrer, contudo, tão-somente quando se apresentar
como única forma de satisfação do crédito do
exeqüente Na espécie, o agravado ofereceu bens à
penhora, negados pelo credor em razão de serem
gravados com cláusula de incomunicabilidade. Ocorre
que a incomunicabilidade, por si só, não implica
inalienabilidade ou impenhorabilidade do bem.
Possibilidade de venda judicial dos imóveis indicados
pelo devedor. Afastada a argüição quanto à preclusão
da matéria. DECISÃO QUE SE MANTÉM POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS, TENDO EM VISTA A
AUSÊNCIA DE ELEMENTOS CAPAZES DE
ALTERAR A CONVICÇÃO FORMADA. POR
MAIORIA, NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO
INTERNO. (Agravo Nº 70023776826, Décima Oitava
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Nelson José Gonzaga, Julgado em 18/06/2009).

EXECUÇÃO. PENHORA SOBRE PARCELA DO


SALÁRIO DO DEVEDOR. MEDIDA EXCEPCIONAL.
CABIMENTO. A despeito de não se admitir, de regra,
penhora sobre salário, cabível a medida excepcional
de contrição sobre parte dos vencimentos do devedor
quando se apresentar como única forma de satisfação
do crédito. Caso em que a credora conta mais de 85
anos de idade e a Execução tramita há mais de quatro

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anos. Recurso provido. Decisão monocrática. (Agravo


de Instrumento Nº 70026849521, Décima Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge
Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 14/10/2008).

SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. PENHORA DE


PARCELA DO SALÁRIO. EXCEPCIONALIDADE.
Considerando a demonstração de que a penhora de
parte do salário do devedor se mostra como o único
meio capaz de evitar a frustração completa da
atividade executiva, bem como a gravidade da
conduta que deu origem ao crédito em execução,
admite-se, de modo excepcional, a prática do ato.
Peculiaridades do caso concreto. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de Instrumento
Nº 70021928163, Décima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Luiz Ary Vessini de Lima,
Julgado em 29/05/2008).

A própria Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça


recomenda temperamentos ao caráter absoluto das impenhorabilidades
constantes no rol do artigo 649 do CPC.
Leia-se:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. QUANTIA DEPOSITADA EM
CADERNETA DE POUPANÇA.
IMPENHORABILIDADE. PRECLUSÃO TEMPORAL.
1- A própria lei processual sugere temperamentos ao
caráter absoluto das impenhorabilidades, de modo
que se revela fragilizada a ideia de que as constrições
sobre os bens constantes no rol do art. 649 do CPC
são, em quaisquer situações, descabidas.
2- A impenhorabilidade de bem arrolado no art. 649 do
CPC, com exceção feita ao bem de família, deve ser
arguida pelo executado no primeiro momento em que
lhe couber falar nos autos, sob pena de preclusão.
Precedentes.
3- Há necessidade, em certas hipóteses, de se impor
limites a arguições extemporâneas do devedor, para
que o debate a respeito da questão não se prolongue

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indefinidamente, garantindo-se, assim, segurança


jurídica e celeridade aos atos processuais, bem como
evitando-se que a lide se converta numa disputa
desordenada, sem freios ou garantias pré-
estabelecidas.
4- No particular, a irresignação contra a penhora de
numerário que integrava o acervo patrimonial
disponível da embargada foi manifestada mais de dois
anos após sua intimação, o que evidencia que a
constrição não teve como efeito comprometer a
manutenção digna da devedora e de sua família -
objetivo da proteção garantida pela norma do art. 649
do CPC.
5- Embargos de divergência acolhidos.
(AREsp 223196/RS – Relatora: Ministra Nancy
Andrighi – Corte Especial, julgado em 20 de novembro
de 2013)”

Utilizo os fundamentos acima como razões de decidir.


Ante o exposto, voto pelo improvimento do agravo de
instrumento.

DES.ª KATIA ELENISE OLIVEIRA DA SILVA - De acordo com o(a)


Relator(a).
DES. ANTÔNIO MARIA RODRIGUES DE FREITAS ISERHARD
(PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. ANTÔNIO MARIA RODRIGUES DE FREITAS ISERHARD -


Presidente - Agravo de Instrumento nº 70065453698, Comarca de Caxias do
Sul: "À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO."

Julgador(a) de 1º Grau: LUCIANA FEDRIZZI RIZZON

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