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Disciplina: Literatura Brasileira III

Conteúdo: Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida

Texto 1
“Todos sabem — para dar mais um exemplo — a influência decisiva do jornal sobre a literatura,
criando gêneros novos, como a chamada crônica, ou modificando outros já existentes, como o
romance. Com a invenção do folhetim romanesco por Gustave Planche na França, no decênio de
1820, houve uma alteração não só nos personagens, mas no estilo e técnica narrativa. É o
clássico "romance de folhetim", com linguagem acessível, temas vibrantes, suspensões para nutrir
a expectativa, diálogo abundante com réplicas breves. Por sua vez, este gênero veio a influir
poderosamente, quase um século depois, sobre a nova arte do cinema, que se difundiu em
grande parte, na fase muda, graças aos seriados, que obedeciam mais ou menos aos mesmos
princípios, ajustados à tela” (Antônio Cândido, “Literatura e vida social”. In: Literatura e
sociedade).

Texto 2
A verdadeira filiação das Memórias de um sargento de milícias é essa [Petrônio, Apuleio,
Cervantes]. Existe em todos esses livros um qual ou tal realismo. Porém, este se manifesta quase
exclusivamente na descrição dos costumes e nunca no entrecho, nos casos e nos retratos dos
personagens, que tudo é pândego, caricato e inventado para obter a burla da realidade. Nada
existe, nesses livros, do Realismo e Naturalismo de escola, tais como eles se apresentam no
século XIX. Estes mantinham um caráter moral irredutível: eram sérios (ópera séria, ópera
cômica…) e acreditavam em sua finalidade social acreditavam na verdade da ficção. (Mário de
Andrade, “Manuel Antônio de Almeida”. In: Aspectos da literatura brasileira)

Texto 3
[…] devemos começar verificando que o romance de Manuel Antônio de Almeida é constituído por
alguns veios descontínuos, mas discerníveis, arranjados de maneira cuja eficácia varia: (1) os
fatos narrados, envolvendo os personagens; (2) os usos e costumes descritos; (3) as observações
judicativas do narrador e de certas personagens. Quando o autor or organiza de modo integrado,
o resultado é satisfatório e podemos sentir a realidade. Quando a integração é menos feliz,
parece-nos ver uma justaposição mais ou menos precária de elementos não suficientemente
fundidos, embora interessantes e por vezes encantadores como quadros isolados. Neste último
caso é que os usos e costumes aparecem como documento, prontos para a ficha dos folcloristas
[…] (Antônio Cândido, “Dialética da malandragem”. In: O discurso e a cidade).

Texto 4
Um dia de procissão foi sempre nesta cidade um dia de grande festa, de lufa-lufa, de movimento e
de agitação; e se ainda é hoje o que os nossos leitores bem sabem, na época em que viveram as
personagens desta história a coisa subia de ponto; enchiam-se as ruas de povo, especialmente de
mulheres de mantilha; armavam-se as casas, penduravam-se às janelas magníficas colchas de
seda, de damasco de todas as cores, e armavam-se coretos em quase todos os cantos. E quase
tudo o que ainda hoje se pratica, porém em muito maior escala e grandeza, porque era feito por
fé, como dizem as velhas desse bom tempo, porém nós diremos, porque era feito por moda: era
tanto do tom enfeitar as janelas e portas em dias de procissão, ou concorrer de qualquer outro
modo para o brilhantismo das festividades religiosas, como ter um vestido de mangas de
presunto, ou trazer à cabeça um formidável trepa-moleque de dois palmos de altura.

Nesse tempo as procissões eram multiplicadas, e cada qual buscava ser mais rica e ostentar
maior luxo: as da quaresma eram de uma pompa extraordinária, especialmente quando el-rei se
dignava acompanhá-las, obrigando toda a corte a fazer outro tanto: a que primava porém entre
todas era a chamada procissão dos ourives. Ninguém ficava em casa no dia em que ela saia, ou
na rua ou nas casas dos conhecidos e amigos que tinham a ventura de morar em lugar por onde
ela passasse, achavam todos meio de vê-la. Alguns haviam tão devotos, que não se contentavam
vendo-a uma só vez; andavam de casa deste para a casa daquele, desta rua para aquela, até
conseguir vê-la desfilar de principio a fim duas, quatro e seis vezes, sem o que não se davam por
satisfeitos. A causa principal de tudo isto era, supomos nós, além talvez de outras, o levar esta
procissão uma coisa que não tinha nenhuma das outras: o leitor há de achá-la sem dúvida
extravagante e ridícula; outro tanto nos acontece, mas temos obrigação de referi-la. Queremos
falar de um grande rancho chamado das-Baianas,-que caminhava adiante da procissão, atraindo
mais ou tanto como os santos, os andores, os emblemas sagrados, os olhares dos devotos; era
formado esse rancho por um grande número de negras vertidas à moda da província da Bahia,
donde lhe vinha o nome, e que dançavam nos intervalos dos Deo-gratias uma dança lá a seu
capricho. Para falarmos a verdade, a coisa era curiosa: e se não a empregassem como primeira
parte de uma procissão religiosa, certamente seria mais desculpável. Todos conhecem o modo
por que se vestem as negras na Batia; é um dos modos de trajar mais bonito que temos visto, não
aconselhamos porém que ninguém o adote; um país em que todas as mulheres usassem desse
traje, especialmente se fosse desses abençoados em que elas são alvas e formosas, seria uma
terra de perdição e de pecados. Procuremos descrevê-lo.

As chamadas Baianas não usavam de vestido; traziam somente umas poucas de saias presas à
cintura, e que chegavam pouco abaixo do meio da perna, todas elas ornadas de magníficas
rendas; da cintura para cima apenas traziam uma finíssima camisa, cuja gola e mangas eram
também ornadas de renda; ao pescoço punham um cordão de ouro ou um colar de corais, os mais
pobres eram de miçangas; ornavam a cabeça com uma espécie de turbante a que davam o nome
de trunfas, formado por um grande lenço branco muito teso e engomado; calçavam umas
chinelinhas de salto alto, e tão pequenas, que apenas continham os dedos dos pés, ficando de
fora todo o calcanhar; e além de tudo isto envolviam-se graciosamente em uma capa de pano
preto, deixando de fora os braços ornados de argolas de metal simulando pulseiras. (Manuel
Antônio de Almeida, D. Maria”, Memórias de um sargento de milícias)

Texto 5
Nas Memórias, o segundo estrato [universo restrito nacional] é constituído pela dialética da ordem
e da desordem, que manifesta concretamente as relações humanas no plano do livro, do qual
forma o sistema de referência. O seu caráter de princípio estrutural, que gera o esqueleto de
sustentação, é devido à formalização estética de circunstâncias de caráter social profundamente
significativas como modos de existência; e que por isso contribuem para atingir essencialmente os
leitores.

Esta afirmativa só pode ser esclarecida pela descrição do sistema de relações dos personagens,
que mostra: (1) a construção, na sociedade descrita pelo livro, de uma ordem comunicando-se
com uma desordem que a cerca de todos os lados; (2) a sua correspondência profunda, muito
mais que documentária, a certos aspectos assumidos pela relação entre a ordem e a desordem
na sociedade brasileira da primeira metade do século XIX. (Antônio Cândido, “Dialética da
malandragem”. In: O discurso e a cidade).

Texto 6
Partiram pois as três para a casa do major, que morava então na rua da Misericórdia, uma das
mais antigas da cidade. O major recebeu-as de rodaque de chita e tamancos, não tendo a
princípio suposto o quilate da visita; apenas porém reconheceu as três, correu apressado à
camarinha vizinha, e envergou o mais depressa que pôde a farda; como o tempo urgia, e era uma
incivilidade deixar sós as senhoras, não completou o uniforme, e voltou de novo à sala de farda,
calças de enfiar, tamancos, e um lenço de Alcobaça sobre o ombro, segundo seu uso. A comadre,
ao vê-lo assim, apesar da aflição em que se achava, mal pôde conter uma risada que lhe veio aos
lábios. Os cumprimentos da recepção passaram sem novidade. Na atropelação em que entrara o
major a comadre enxergou logo um bom agouro para o resultado do seu negócio. Acrescia ainda
em seu favor que o major guardava na sua velhice doces recordações da mocidade, e apenas se
via cercado por mulheres, se não era um lugar público e em circunstâncias em que a disciplina
pudesse ficar lesada, tornava-se um babão, como só se poderia encontrar segundo no velho
Leonardo. Se estas lhe davam então no fraco, se lhe faziam um elogio, se lhe faziam uma carícia
por mais estupidamente fingida que fosse, arrancavam dele tudo quanto queriam; ele próprio
espontaneamente se oferecia para o que podiam desejar, e ainda em cima ficava muito obrigado.
Contudo, posto que a comadre soubesse já desta circunstância com antecipação, ou a
pressentisse pelas aparências, a gravidade do negócio de que se tratava era tal, que nem isso
bastou para tranqüilizá-la. Dispôs-se para o ataque, ajudada por suas companheiras, que, apesar
de mais estranhas à sorte do Leonardo, nem por isso se ligavam menos à sua causa. Houve um
momento de perplexidade para decidir-se quem seria o orador da comissão. O major percebeu
isto, e teve um lampejo de orgulho por ver assim três mulheres confundidas e atrapalhadas diante
de sua alta pessoa; fez um movimento como para animá-las, arrastando sem querer os tamancos.
(Manuel Antônio de Almeida, “As três em comissão”, Memórias de um sargento de milícias)

Texto 7 Texto 8
ENÇO NO PESCOÇO - 1933 O Malandro 2 (Chico Buarque)
(Wilson Batista)
O malandro/Tá na greta
Meu chapéu do lado Na sargeta/Do país
Tamanco arrastando E quem passa/Acha graça
Lenço no pescoço Na desgraça/Do infeliz
Navalha no bolso
Eu passo gingando O malandro/Tá de coma
Provoco e desafio Hematoma/No nariz
Eu tenho orgulho E resgando/Sua bunda
Em ser tão vadio Um funda/Cicatriz

Meu chapéu do lado... O seu rosto/Tem mais mosca


Que a birosca/Do Mané
Sei que eles falam O malandro/É um presunto
Deste meu proceder De pé junto/E com chulé
Eu vejo quem trabalha
Andar no miserê O coitado/Foi encontrado
Eu sou vadio Mais furado/Que Jesus
Porque tive inclinação E do estranho/Abdômen
Eu me lembro, era criança Desse homem/Jorra pus
Tirava samba-canção
Comigo não O seu peito/Putrefeito
Eu quero ver quem tem razão Tá com jeito/De pirão
O seu sangue/Forma lagos
Meu chapéu do lado... E os seus bagos/Estão no chão

E ele toca O cadáver/Do indigente


E você canta É evidente/Que morreu
E eu não dou E no entanto/Ele se move
Ai, meu chapéu do lado... Como prova/O Galileu

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