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Temas Básicos de Educação e Ensino

Maria da Graça Nicoletti Mizukami


Coordenadora: Loyde A. Faustini

Ensino
As abordagens do processo

Dados de O.ialogaçiiv na Publlcaç.ãu (Cll') Internacional


(Câmara 8ri>~llrlra do l.h·ro. sr. 8rasll)

Mizukami, Maria <la Crnça Nlr.o>et.ti.


?vl68lt! Ensino : n.s ab<>rdo.Rcns do proccs~o / ?i.1aria <la
Graça Nlcol~ttl Mizukaml. - São raulo : EPU, 1986.
rTema8 báBlco~ d~ o<luca<;!lo e ensino>
Bibl!ogrnfln.
1 Aprendlzag•m 2. Ensino 3. Psir.nlogia educacin·
nal T. Titulo.

8S-1958
11.
IA
cni>no 1s
·l70 152 1\Ili
144636
Ili
fadice5 para catâlogo sl,;t~rnâtlco!

t
2.
Aprcmüzag•m : PsicoloKla cduraclonal 370 15 117 1 170 152 118 !
Ensino-aprendlza~em : Proces.w : Pl\tcoloR•" roucacional 370.IS
E.f? U. ~~ EDIYOIRA PEPAGÓGICA
117.1 370152 1181 ~ E UOIYERSlfAIUI LfDIL
J Processo enslno-aprendua&em : Pslcolo1tla educacional 3'70 IS
117) 370 . 1~2 118 1

Sobre a autora
ColeçOo Temas Básicos
Maria da Graça Nicoletti Ml•ulalmi é pedagoga e atua Junto ll. de Educação e E11si110
Área de Metodologia d e Ensino da Universidade Federal de São Car·
los-SP. Especlal!Zou-se em DldáUca., Tecnologia Educacional e Prática •.\bra.Ol<\\\.:ic21Llel C."ioppo EIU.sf.\l\.·lb Stlvu -A. Altlhon'a do 1._•nsino na.t /~t $êne.s:
de Ensino na República Federal da Alemanha (Karl Ruprecht Uni. tt~frcnrando o de,tujin
verslt.aet e Paedagoglache Hochsehule Heldelberg) . .E mestre em Edu-
cação pela Pontitlcla Universidade Calóllca do Rio de Janeiro, Área Abud -O Eusu10 tia Jeinuv e da tsc-nta no fase i11iC'1ul du tt..n.alan-UJçôo
de Métodos e Técnlca.s de Ensino. Doutorou.se, também, pela PUC- AJei1c3r - J'.~1colog1a ~ Mura('(le> cio s11perdo1.cldo
Rlo de Janeiro, em Clmla.s Humanas, Área de Psicologia Educacional. Boniunihus - P.tlucuç11o romparadt1, C0tJcella. evolução e mt-todos
Dedlca·se atualmente, tanto na docência como na pesquisa. a forma- Can1pos - F.dueardn • Agtul«s forma11 I! ui/CJntt()IS
ção de professores.
Can·albo - Fisiro. propt.>.tto ptJro ""' ~1LU1u> COILtl,.ult\·1skl
Côria/Subini - PJ1eo/og1a op/11:odo a Educaçdo
C.'o:tlB - Por qwe nunwr l111guo t"Slfflll8t1ro na 1._•scola dt' / J:rou
1YAntola - .1f Prú11cu dattnte "" llnhvrsfdtNk
D'Antola - Disefp/utQ 110 eJCO/a: a11I01'1dudt \..,.r.J.,_,. uwtQntunJmo
J·aoo - 1amas de m.J"'° ~ p/a1190ntn1to ~og6t,ico
f erreira/Sil\'a Jr - Rttunti.r au<IJt>t1t.1UUt$ '"' prvcU$tJ e11J1110 • aprendizDgtm
f rav,a -A Afatmwtito 110 tseo/a pnntóna unw oh.ttn'U'-iio tio cQlidiano
Frnuçll - t·duro('tlo ror1SC1ui111t: blftrln(ÍOJ fduca(/011011 du ttoriu da 1/J.$$Qlid1rcW
.:o,;r.:tnu
Glle.' - FilóstJjia ,/a Edut'afil<>
Gomes - F.U11eaçilo im J>'r.t~ctn·u JQ(.10/~1t·1J
Capa: Luls Díaz KrH.)tlcruk -O Proj~JJOr e o eurrlculo (/(Lic tii1" 1u.t
LlldkelAnurt - Pr~qu1$0 rm Educaçllo ·Abordagens qualiru11wu
lvfacian - Treinontentc> ~ d~envr.1Jv1n111110 de r ecursos lt11ma11os
MH.JncJc - En.!inando e ap~ndM,ndo lli.stónu
Mawllil - Trabalho Doee.nte t Forma('dó de Pn1fe.'l.t t11·11v de J::1fu<,·ação Especial
~felchior -() l•i'n1uu·1an1e1110 da ~d"coç(lo uo firo.til
!vhzukan1i - F.11.t1nr>: As al>ot·d11Jl,en.s do processo
ti.-1olinu - Ler para apronder
.,' ~101eirn - Pesquisa""' Ens1110
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Nclli Sili.·:i -A Cons1111('r1o t rtrri<·ulo na sala de aula
Nicolau/lvfawo -1f 1Jal>e1iuuul ó '"'"' su<,·crsso
()Ji ~·cirtt!Bcui/Olivcira - F.dueaçüo Fi.1ica « <> l.;·11s1110 d<> /" gt'<tU
Pa\'Olll - ()s ('ontos" os .•\ 1/tos 110 cusr1u>. 111nô al>tJrdugen111111guiaua
Piletli -l::ns1no de l~Grau: educoçt7o geral 1Ju prrJjl.tsfr>n.uliz<1r;âo?
l2' rc1n1pre~sào, 2001
Raiça/OJiveira -A l;iluM~Oo especial do defic1'11te meurul
Rarn.a - J.egi.tlaçllo de t"11.su1u
TSRN 85-12-30350·6 Rw:nos da Sil\'a - Pet'$ot1a/hlnd11 e escolha projlss10110J
Rille1ro - EducoçtJo S<.nJu/ Além da b!fômmçà<>
~· 1-~ P IJ fd.101:-t Pl.'.:J.agó-&ie.11..· Univ~·r$iW1io.1 J cdi., .$ln Pr.ulo. 1986 TOO-.)S ~ direilull
Ron1eu - Escol.o: Objetivos organiwc:10tw1.t e t.>bJt!.ln•os educaci011ais
ic:&..:-1\õii.loi. A rL"produç.:!o d~ltt.l nh~. nC'I ll'hin 01t t.rn p.;.ittc, flor qu.1lq1:c:r mctQ, ,;~nl I Sc\ Crino -F.duro,ha. ull!Ologia "C'Ollfro . 1dcola-gru
1

_utoriz::..ç.io cxpres~ e pnr CÇ('fil<"I d:t Fd1101a., >'Uj.:il.iroa u 1nfriuor, nos '\'f'll\0$ doi. lei n" 6 895.
tk 17-ll·lqAA, a ptu.didaJt' prc••i.U ~ .;.in:~n• IM1 e 186 i.lu Côdiga Per.ai, a s..bcr. S1pa\'icius - O Proft.uor l 11 ryy.J1me11to t!.SC'Olar tie seu.J alu.no.t
h.·ç}>J$àu Je wn 3 qu.i.un MMX Vetlunc - Educarã<>. Cn sc e .\{udum;u
'PIJ Ttl•fon• (Ot·llPl"8-<>0n. ,·.,. 101 ll)lOi~·~Slll Vianna - Plan~Jâm'"'" pa,.,1c1pnttl-'O na estolu
E.-~1ail: \..7r.i.L:.'.o;çp~com br ~ltc n• lnltrH.:-1: tJJrI\\.""v.-t'p .cooilir Vieira - O Praz.er do 1t.rto: ~"P«i"VJI para o tn.s1110 dt l11t.roCM.rO
Ku.l JNqc:m flon~nn, 1? (t9 •nd.'\t -.·\MtJW11U 6.S:(.X 0.tS34-000 $.io t'wlo- SP
IR'r.'lfõ.:00 no Dfhll Pnntl!J in Kran.

...
Dedicado a
Dorvalino. Porto. Nicoletti e
Pedro Nicoletti Mizukami
Prefác io da coleção . . . . .' ' .. . . . - .. ...... '
' XII I

Prólogo .. ..... ........ ..... .


'
XV

Introdução . . . . . . . . . . . .. . .. \

Abord;<gem t radicional ....... .. ........ ,


Características gerais . . • . . ... ..... . 7
1.1.
1 2. Hom em . .. .... . . ........ .. ..•... 8
1 3. Mundo . .. . . . . . . . . . . .......... . . . 9
1 4. Sociedade·cu ltura . ....... . • 9
)()
1. 5 . Conhecimento . . . .. .. .
1 6. Educação ....... ... ..... . li
l. 7 . Escola ............ . ......... . 12
1.8 . Ensino-aprendizagem . . . ... . 13
1. 9 . Prolessor·aluno 14

'
1
1.10. Metodologia
1. l l. Avaliação
1.12 . Considerações finais
15
17
17
1

Abordagem comportamentalist.a .. .............. . l!I


2.
2. l. Características gerais . . . . . . . . . ..•.. .. ... 19
2 2. Homem . . . . . . . .. ' ..... ' ... 21

IX
2. :1 . Mundo . . . •.... . .. . ........ 22 5.3. Sociedade~ltura ... .. . . ..... . ....... . . . 87
2 .4 . Sociedade-cultura . . ..... . ..... .. . ... . • .. 23 5.4 . Conhecimento ... . . . .... . ......... • ..... 90
2.5. Conhecimento . . . .. .. . .. ... ... . ... ..... . 26 5.5. Educação .... . . .. ...... . .. .. .. .... . . .. . 94
26 Educação .. . . . . . . . ...... .. . . .. . ... ... . . 27 5. 6. Escola . . . ..... .... .... . .. • .. • . ..... .. . .. 95
2.7. Escola .................. . ... ...... .. . .. 29 5.7. Ensino-aprendizagem . .... • .. • . .. ..... ... 96
2.8. Ensino-aprendizagem .. . .. .... . ... .. ... . 30 5.8. Professor-aluno . . . .. .. . . •..... . • .. • .. . .. 99
2.9 . Professor-aluno . .. . .. .. . .. . .. . . . .... .. . . 31 5.9 . Metodologia . .. . .... .... . .. .... . .. . ... . . 100
2 . 10. Metodologia .......... .. . . ..... . . .... .. . 32 5. 10. Avaliação . .. .... .. .. .. .. .•.. ... • . . . . . . . . 102
2.11. AvaUação ..... .... .. ..... . ........ ... .. . 34 5. 11. Considerações finais ..... . .. .. . ....... .. . 102
2 . 12. Considerações finais ......... ... .. . ... . . 35
6. As abordagens d o processo ensln1>-aprendizagem e o
3. Abordagem humanista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . 37 professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
3.1. Características gerais . . . . . . . . . . .. . .. . .. . . 37 Bibliografia .. . .. .. . .. . . ..... .. . .. ..... .... .. : . . . .. . 1\'l'
:i.2. Homem .. .. .. .. .. . .. . . .. .. . .. . . .. .. .. .. 38
3.3. Mundo . .. .. .. .. .. . .. .. . . . . .. . .. . .. .. .. . 41
3. 4 . Sociedade-cultura .. • .. . . . • . .. . . .. . . . . . . . 42
3 . 5. Conhecimento . .. . .. . .. . .. . .. .. . .. . .. . . . 43
3 6. Educação .. .. .. .. .. .. . . • . .. . . • .. .. .. .. . 44
3 . 7. Escola .. .. .. . .. .. .. . .. . . . • . . .. .. .. . .. .. . 47
3. 8. Ensino-aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3. 9. Professor-aluno .. . . . . .. . . . . • .. . . . .. . .. .. 51
3 . 1O. Metodologia . .. . . . . .. . . . . . . . . .. • .. .. .. . .. 53
3 . 11 • A vallação . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 55
3. 12 . Considerações finais .. .. .. .. .. .. .. .. .. . .. 56

4. Abordagem cognltivista . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . 59
4. l. Caracterlsticas gerais .. .. . . . .. . . . .. .. . .. . 59
4. 2 . Homem e mundo . .. .. .. . .. • .. .. .. . .. .. . 60
4. 3 . Sociedade-cultura .. . .. . . . . . .. .. . .. . . • . . . 62
4 4. Conhecimento .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. 63
4.5 . Educação .. .. . . . .. .. . .. .. . . . .. .. .. . .. .. . 70
4.6. Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4 . 7. Ensino-aprendizagem . . . .. .. . . . • . . . .. . . . . 75
4. 8 . Professor-aluno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4. 9. Metodologia .. .. .. .. .. . . • .. .. . • .. . .. .. .. 78
4.10. Avaliação .. .. .. .. . .. .. .. • . .. .. .. .. . .. . .. 82
4. 11. Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . 83

5. Abordagem sócio-cultural .. .. .. . . . .. .. • . . . • .. .. . 85
5. l . Características gerais .. .. . .. .. • .. . .. . .. .. 85
fi.2 . Homem e mundo .. .. .. . . .. .. . .. . . .. .. . .. 86
X XI
Pre.fácio da Coleção

A Coleção Temas B<isicos âe Educação e Ensino tem


por finalidade oferecer subsidic.s e sug<'.stóes para t- ação
dos educadores em geral, que estão atuando junto a esco-
las de !." e de 2.• graus - incluindo a educação pré-escolar,
a educação especial e o ensino supletivo - assim como nos
• • diferentes escalões da. administração dos sistemas de ensino.
Servirá tamliém aos professores das disciplinas dos cursos
superiores de Pedagogia c das matérias ~agógicas dos de-
mais cursos - , também superiores, que preparam profes·
sores para as diferentes àreas do ensino de 1.• e de 2.• graus
l> aos especialistas de educação.

O objetivo é proporcionar uma série de leituras funda-


mentais e de sugestões que ajudem os profissionais da edu·
cação a refletirem sobre suas ações, bem como os professo-
res dos cursos ligados à educação e ensino a desenvolverem
suas programações didáticas, e também aos alunos desses
cursos a terem acesso a livros de textos que possam auxiliá·
-los a desenvolverem-se intelectual e profissionalmente.
Neste momento em que tem havido, por parte dos pro.
fessores em geral e da própria sociedade, uma crescent.e
conscientização da profissionalização do magistério como
carreira autónoma e a conseqüente ênfase na competência
profissional dos nossos mestres, procurou-se dar a esta série

XIII
de publicações um enfoque voltado mais para o desenvolvi·
mento e a capacitação de recursos humanos nessa área
especifica.
Para esse empreendimento, contamos com a colabora·
ção de autores que se dispuseram a slsternatlzar, na forma Prólogo
escrita, reflexões de uma vast.a experiénc.ia na carreira do
magistério, junto às nossas escolas, órgãos técnicos e !a·
culdades., Ao lado dessa experiência prática, reconhecldlL
por seus pares, aliam eles um conhecimento especializado
profundo nas suas respectivas áreas de atuação. Partilham,
ainda, uma grande vivência e conhecimento dos problemas
de nossa realidade educacional e a mesma preocupação da
necessidade de aprimoramento do ensino e de nossas esco-
las em geral.
Em suas atividades profissionais junto a professores,
técnicos, especialistas de educação e alunos de faculdades,
têm sentido as düiculdades de utilizar e de adaptar a litc·
ratura estrangeira à nossa realidade social, cultural e edu· Ao se considerar a intencionalidade de toda ação edu-
cacional. Apontam, por essa. rai;ão, a necessidade e utilida.. cativa exercida por professores em situações planejadas de
de de materiais de fácil manuseio, em linguagem acessivel ensino-aprendizagem. bem como a multidirnensionalidade do
e ricos em sugestões e· .Jropostas. Assim, dispuseram-se a tenõmeno educacional, uma questão fundamental permeia
compartilhar suas experiências, tanto com os que iniciam na as preocupações básicas dos educadores e, em especial, dos
carreira do magistério como com aqueles que lutam para. profiss ionais que atuam em cursos de formação de profes·
melhorar seus próprios rúveis de atuação. sores: o que fundamenta a ação docente?
Para garantir um mínimo de coerência a est..'I série, fO· Na tentativa de conseguir elementos para a análise e
ram realizadas reuniões sistemál.icas e freqüentes, ocasiões
e:"Tl que havia uma fértil ~roca de opiniões c sugestões entre melhor comprecnsllo do processo educativo, consubstancia·
os autores, para que os objetivos estabelecidos cm conjunto do no comportamento do professor numa situação de ensi-
fossem garantidos e atingidos. Por outro la.do, procurou·S" no-aprendizagem. pensou-se que informações advindas de
sempre preservar a pOstura educacional das propostas índi· três fontes diferentes. se analisadas em conjunto, poderiam
viduais e das contribuições de caua um. Acreditamos, assim , possibilitar formas complementares de interpretação da re-.i.-
ler produzido um material de leitura agradável e realmente lidade :iducacional.
útil para o dia-a-dia dos que fazem ou pretendem fazer da Grande pa.r t.e das pesquisas realizadas com o objetivo
educação e do ensino sua profissão. de contribuir para o esclarecimento da questão em pauta
Ao estender essas discussões at.é aos leitores, esperamos centra.se na análise do que ocorre em sala de aula ou do que
estar, de alguma forma, cont:ibuindo para satisfazer a uma acontece nas licenciaturas. Quase sempre a variável relativa
necessidade sentida e para o aperfeiçoamento dos educado- ao professor é apenas caracterizada, não consistindo font.e
res em geral. primária de informações, e isto se sucede devido às difi·
culdades de se trabalhar, empirica ou concretamente. com
Loyde A. Faustini este elemento do processo, principalmente do ponto de vista
Coordenadora ético. Entreta_nto, deve-se considerar que o confronto dos

XIV XV
conteúdos velculndos nns 1. .
fundamentar a prática doce~~nciaturas .com o objetivo de
pelos professores e com 0 "!a~e~~m o d1~curso incorporado rão apenas motivar novas discussões e/ou pesquisas, como
res, poderia fornecer in!orm pedagog1co dos professo- t.ambém gerar hipótese~ importantes para aqueles que est.~­
ª. respeito do "processo d.id;t1 00~· n~ !ninimo interessantes, jam interessados em realizar trabalhos menos global!zantes
s1onal da educação. co ut.íhzado por este profis. ou tenham a intenção de prever e controlar a ocorrência dos
Procurando obter res fenômenos observados.
para a questão "o que !un~ostas, mesm;i que provisórias, O primeiro elemento a ser considerado refere-se ao !a-
zou·se •: uma análise teóric:mcnta a ~çao docente?", reaJi. to de não se ter tido condições de definir se os conteúdos
~ntes abordagens do pr0ce5 de ~once1tos relativos a dite· analisados. relativos às dJversas abordagens do processo
s1v~l.mente são veiculados e so ensmo-apren~izagem que pos. ensino-aprendizagem veiculadas nos cursos de Licenciatura,
analise dos posicionamentos ~e cursos de Licenciatura; uma se situam no limite máximo ou mínimo de profundidade com
ca.s do ensino de l.• au < Professores de escolas púb!i. que foram rcalmen1e l rabalhados em sala de aula. Tampou-
grau da cidade de São~arJo~~~ta a o1~va séries) e do 2.• co se obt~ve informações acerca de dlscussões e 1ou análises
a d!v_ersas interpretações do r eem num~ro de 245) frente efetivas de todos os conceitos de todas as abordagens no
pos1c1onamentos estes q f P acesso ensmo-aprenciizagem cotidiano das disciplinas pedagógicas das licenciaturas.
Mi-~-<-- ue oram e""res
~ ~'°""""' relativas a cada ..,, sos pela ~lha de' Outro ponto a ser considerado é o de que. apesar d.:
um estudo exploratório do ~oncelto. de cada abordagem; e construção do instrumento - que f01 utilizado para coleta
~1tuação de sala de aula d ompor-amento de ensino em de dados referentes aos posicionamentos dos professores
mvers?s posicionamento;, e professores que manüestaram frente a Interpretações do processo ensino-aprendizagem -
Nao se teve a pretensão d . ter implicado a sua validação conjunta, devido ao tipo de
por generalizações de largo al~a:;xau~1; o tema nem de pro- melOdologia de trabalho adotada. e de sua precisão ter sido
balho concebida e adot d ce, Ja que a !arma de tra. bem melhor do Que as normalmente encontradas em tais
~eri!icar, por um lado : 0 ~s~i~:Jstiu em uma tentativa de circunstâncias, o instrumento utilizado não garante a exclu·
hdade sócio-politico-ecÍucaclonal Po :e _estudo, na atual rea. sflo e diferenciaçrio sistêmlca do referencial teórico, ficando,
por outro, se as informa õ · po ena ser viabilizado, e portanto, a cargo do professor definir, em funçflo de suas
o sutidente para que se ~u~se Obtidas seriam en?orajadora; "crenças" ou da tentativa de manutenção de uma certa coe-
pesqwsas sobre a temática sse sugerir a continuidade de rência, a ligação entre os vários conceitos.
todologia adotado. ' em questão, com o tipo de me- Na pesquisa em questão. ent retanto. este ponto não cons-
. Os resultados obtidos du tituiu obstáculo nem sequer interferiu significativamente nos
f1cient.es para justificar tanto r:nate .ª l~vcstigação !oram su- resultados, pois o que se buscava não era a identificação das
balho adotado como também da ce1taçao do modelo de tra- teorias, mas sim de elementos valorados, pelo professor, co-
Faz-se necessário, no entanto contmu1dade da pesquisa. mo importantes no processo ensino-aprendizagem. O instru-
blemas decorrentes deste ti d mencionar alguns dos pro- mento utilizado não possibilita também detectar se o sujei-
po e moctelo, pois estes Pode- to expressou de fato suas crenças e valores "reais". daí ter-
·se caracterizado este lipo de Informação como "opções teó-
. • Esta investigação constitui n ricas declaradas".
c1as Humanas Intitulada E1Uinc . o Tese ele Doutoramento em Clên-
u.m estudo lk IWordager.s do . roe que fundamenta a aç4o docen~? Convém mencionar ainda que a validade do instrumen-
d1da em 1983 na Pontl!'cJ P osso •n.slno..gprendizaçem del to não ga1 ante a representatividade dos conceitos e conteú-
• a Universldad C&tó • en. dos no momento histórico considerado. A escolha de afir-
POr Mana ela Graça Nlcoletli MiZUk e llca cio Rlo de Janeiro,
ria Fem\o Canclau. aml, sob orientação de Vera Ma· mações, contudo, niio implica conhecimento profundo e con.
sistentP das teorias, tampouco em que o sujeito vivencie
XVI e1ou operacionalize na prática o que foi expresso a nível do

XVII
discurso verbal. Também não se têm elementos para de-
tectar se a preferência por esta ou aquela linha teórica se
deveu à compreensão, de fato, da teoria ou apenas à predo.
mínância do "bom senso" ou de !ragmentos do ideário pc.
dagógico veiculado nas disciplinas pedagógicas dos cursos
de Licenciatura. Introdução
Por falta de instrumentos adequados que permitissem a
Identificação de pressupost-0s e/ ou decorrências das várias
abordagens do processo ensino.aprendizagem no contexto
de sala de aula, optou-se por um estudo do tipo anedotário,
onde pudessem ser evidenciadas as tendências mais espe-
cíficas e gerais, de forma tal que possibilitasse caracterizar
adequadamente o tipo de aula e de abordagem subjacente a
cada segmento do cotidiano didático-pedagógico do profes-
sor. Assim sendo, considera-se que a. precisão da caracteri-
zação da aula pode apresentar de!lciéncias, e também que
podem não ter sido considerados elementos importantes do
~omportamento do professor, embora tais elementos, de Há várias rormas de se conceber o fenômeno educath•o.
qualquer forma, não possuíssem força de contexto su!lc!ente Por sua própria natureza, não é uma realidade acabada que
oara mudar o qualitativo gera! da classiticação. se dá a conhecer de forma única e precisa em seus mü!Li·
Por fim, cabe esclarecer que este livro aborda exclusi- pios aspectos . Jt um fenômeno humano, histórico e multi-
vamente a primeira fonte de informação utilizada n a inves- dimensional. Nele estão presentes tanto a dimensão humana
tigação original e, portanto, apresenta apenas as análises re- quanto a t.l>Cnica. a cognitiva. a emocional, a sóciO·pOlit.ica
lativas aos conceitos básicos de diferentes abordagens do e cultural. :-Ião se trai.a de mera justaposição das referidas
proceSS-O ensino.aprendízagem. No último capítulo, entretan- dimensões, mas. ~1m, da aceitação de suas múltiplas impli-
to, além das considerações finais referentes a esta fonte de cações e relações .
informação, foram também incluídas as análises gerais re- Diferentes formas de aproxima<;ão do fenômeno educa-
lativas à confrontação dos dados obtidos a partir das três tivo podem ser consideradas como mediações historicamen-
fontes anteriormente mencionadas, a saber: conceitos refe- te possíveis. que permitem explicá-lo. se não em sua totali-
rentes a diversas abordagens do processo ensino-aprendie:a- dade, pelo menos em alguns de seus aspectos; por isto, de-
gem, opções teóricas declaradas e práticas manifestas. vem ser elas analisadas, contextualizadas e discutidas críti-
camente.
De acordo com determinada teoria/ prop-05ta ou aborda-
gem do processo ensino-aprendizagem, privilegia-se um ou
outro aspecto do fenômeno educacional. Podem-se verificar,
dessa forma, vários tipos de reducionismo: numa abo rdagem
humanista, por exemplo, a relação interpessoal é o centro,
e a ctirnensão humana passa a ser o núcleo do processo ensi·
no-aprendizagem; numa abordagem comp-0rtamentalísta. a
dimensão técnica é privilegiada, ou seja, os aspectos objeti-
vos, mensuráveis e controláveis do processo são enfatizados

XVIII 1

..
em detrimento dos demais. Apesar, no entanto de consti- las que adm item um processo de atualização. Do ponto de
tu~em formas de_ reducionismo, estas proposta; são expli- vista pedagógico, a preocupação estaria, cm grande parte,
~tivas de determinados aspectos do pr<Xess<> ensino-apren- voltada para o que Piaget 0967) denominou de "exerclcio
dizagem, não podendo ser desconsideradas. de uma razão já pré-fabricada". Enquanto no p rimeiro ca-
As teorias de conhecimento, em que são baseadas as so nota-se ênfase numa pré-formação exógena do conheci-
e~las psicológicas e de onde provêm as tomadas de po- mento, no segundo, a ênfase encontrada é numa pré-forma-
s1çoes, podem ser consideradas, apesar de muitas variações ção endógena.
e combinações possíveis, de acordo com três características: Do ponto de vista interacionista (interação sujeito-Obje-
primado do sujeito, primado do objeto e interação sujeito- to), o conhecimento é considerado como uma construção
·Objeto. contínua e, em certa medida, a invenção e a descoberta são
Toda interpretação do fenômeno vil<\!, quer seja bioló- pertinentes a cada ato de compreensão. A passagem de um
gi~, soci?lógica: psicológica etc., resulta de uma relação su- nível de compreensão para o seguinte é sempre caracteriza.
Je1to-amb1ente, isto é, deriva de uma tomada de posição da por rorrnaçflO de novas estruturas, que não existiam an-
epistemológica em relação ao sujeito e ao meio. Subjacentes teriormente no indivíduo. Incluem-se aqui as tendências em
ª? conceito de homem, de mundo, de aprendizagem, conhc- que este interacionismo apare~e quer na modalidade aprio-
crmento, ~ociedadc, cultura etc., estão presentes - implicita rístlca da "Gestait", quer se apresente como um processo
ou explicitamente - algumas dessas posições. Essas düe- caracterizado pelo construtivismo seqüencial. Nessa ültima
rent.es posições, por sua vez, podem implicar, do ponto de tendência, não há pré-formação, nem endóeena (inata), nem
vista lógico, düerent.es aplicações pedagógicas. exógena <empirisfa >. mas um desenvolvimento continuo de
Os empiristas (primado do objeto> consideram o orga- elaborações sucessivas que implicam a interação de ambas
nismo sujeito às contingências do meio, sendo o conhecimen- as posições. Em decorrência dísso, pedagogicamente falan-
to uma cópia de algo dado no mundo externo. Há, portanto, do, dá-se grande importãncia às atividades, espontâneas ou
ênfase na importância do objeto, do meio, quer se leve em não, das crianças, em sua interação com o mundo (físico,
c~nta o individuo como urna "tábula rasa", quer não se seja social et.c.l, Enfatiza-se uma relação dinâmica ontre a ba-
tão ortodoxo e se admita a maturação de alguma atividade gagem genética hereditária. e sua adaptação ao meio em que
cognitiva. se desenvolve.
O conhecimento é uma "descoberta" e é novo para o O conhecimento humano, pois, dependendo dos diferen-
indivíduo que a !az. O que foi descoberto já se encontrava tes referenciais, é explicado diversamente em sua gênese e
presente na realidade exterior. Não há construção de novas desenvolvimento, o que, conseqüentemente, condiciona con-
realidades. Do ponto de vista pedagógico, essa posição é ceitos diversos de homem, mundo. cultura, sociedade, edu-
orientada por um associacionismo empirista, onde todo co- cação etc. Dentro de um mesmo referencia!, ó possível ha-
nhecimento fica reduzido a uma aquisição exógena, a partir ver abordagens diversas, tendo em comum apenas os dife-
de experiências, verbalizações ou recursos e materiais audio- rentes primados: ora do objeto, ora do sujeito, ora da in-
visuais que são simplesmente transmitidos. teração de ambos. Algumas das abordagens, por exemplo,
O nativi.smo, apriorismo ou inatismo (primado do su- en(ati7.arn o momento sõcio-poli~ico-econOmico, numa pala-
jeito) afirma que as formas de conhecimento estão prede- vra, histórico: outras, por sua vez, consideram apenas o
terminadas no su_jeito. Atribuem-se ao sujeito, ao organismo homem em abstrato, desvinculado de um engajamento con-
humano, categorias de conhecimento "já prontas", para as textual de qualquer espécie.
quais toda estimulação sensorial é canalizada. Ocorre ênfa- DUcrentes posicionamentos pessoais deveriam derivar
se na importància do sujeito, incluindo-se tanto as tendên- düerentes arranjos de situações ensino-aprendizagem e cti-
cias que advogam um pré-formismo absoluto quanto aque- !erenles ações educativas em sala de aula, partindo-se do

2 3
pressuposto de que a ação educativa exercida por profes. Tal como a rcpercussflo do Movimento d.a Escola Novn
sores em situações planeJadas de ensino.aprendizagem é na prática educacional brasileira, essa possível abordagem
sempre i~tenc!~nal. Subjacente a esta ação, estaria pre. poderia igualmente ser denominada de didaticista, devido à.
sente - 1mpbc1ta ou explicitamente, de forma articulada grande Importância atribuída aos aspectos didáticos. No
ou não - um referencial U!ór ico que compreendesse concei· entanto, a não inclusão desta tendência como uma aborda·
tos de homem, mundo, sociedade, cultura, conhecimento etc. gcm a ser anaHsada per se se justifica, por um lado, pelo
As disciplinas pedagógicas dos cursos de Licenciatura cato dela advogar direlri:i:es incluldas em outras aborda-
ccralmellte. possibilitam ao futuro professor contato co~ gens, e. por outro, pelo fato das demais abordagens aqui
u~ corpo organizado de idéias que procur11 subsidiar e jus- analisadas apresentarem justificativa teórica ou evidência
t1f1car a prática educativa. Este conjunto, constituJdo pelas emplrica e ela não. Dai sua não inclusrio, como abordagem,
t;eorias pedagógicas ou psicopcdagógicas sobre a educação, neste trubalho, apesar de sua possivel influência na forma-
e denominado por Mello (1982) de ideário pedagógico. Ca· ção de proCessores brasileirns num determinado momento
da professor, por sua vez, filtra tal ideário a pnrtír de suas histórico.
próprias condlções e vivências. Faz.se necessário observar ainda que, levando.se em con-
Interessa, neste trabalho, abordar diferentes linhas pe- ta a complexidade da realidade educacional, sempre aberta
dagógicas ou tendências no ensino brasileiro, aqui denomi- a novas contribuições, e a inexistência até o momento de
nadas abordagrms, que poderiam estar fornecendo diretrizes uma teoria empiricamente validada que explique todas as
à ação docente, mesmo considerando-se que a elaboração manilestações do comportamento humano em situações áe
ensino.aprendiz;agcm, é importante t.er sempre presente o
que cada professor faz delas é individual e Intransferível.
caráter parcial e arbitrário deste tipo de estudo, bem como
Algumas abordagens apresentam claro referencial mosófico
as limitações e problemas decorrentes da delimitação e ca-
e psicológico. ao passo que outras são intuitivas ou funda-
racterização de cada abordagem em consideração, admitin·
mentadas na prática, ou na imitação de modelos, o que do-se. portanto, que outras abordagens possam vir a ser su -
implica diferentes conceituações de homem, mundo, conhe- geridas.
cimento etc.
A análise de cada uma das abordagens !oi realizada a
Partindo·se do pressuposto de que, em situações brasi- partir de categorias (conceitos) consideradas básicas para
leiras, provavelmente tenbam sido cinco as abordagens que a compreensão de cada uma, em seus pressupostos e em
mais possam ter influenciado os proCessores, quer por meio suas decorrências: homem, mundo, sociedade·culturn, conhe·
de informações adquiridas na literatutn especlalizad:•, quer cimento, educação, escola, ensino.aprendizagem, professor-
através de modelos a que foram expostos ao longo de suas .aluno, metodologia e avaliação.
vidas. quer, ainda, através de informações obtidas em cursos Para a realização deste traball10, opt.ou-sc, metodologi-
de formação de professores, serão consideradas aqui as se- camente, pela técnica de sistematização descritiva, excluin-
guintes: abordagem tradicional, abordagem comportamenta- do·se a discussão e/ ou critica de conceitos e/ou práticas di-
lista, abordagem humanista, abordagem cogn!tivista e abor- dático.pedagógicas decorrentes, poi~ se objetiva condensar
dagem sócio-cultural. Idéias e conceitos em forma de ideário pedagógico.
Cumpre justificar a não inclusão de uma sexta aborda- Serão analisadas, a seguir, as cinco abordagen;; propos-
gem que provavelmente teve e tem, como as demais, influén· tas. Na anállse de cada uma áelas, o roteiro adotado impli·
eia na formação de professores e em seu posicionamento ca: caracterís~icas gerais, análise dos dez conceitos e con·
frente ao fenômeno educacional. Trata-se da abordagem siderações finais.
escolanovista, cuja introdução no Brasil está c!Jretamente re-
lacionada com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.

4 5
Capítulo I

Abordagem tradicional

1 .1. Características gerais

Considera-se aqui uma abordagem do processo ensino-


-aprendizagem que não se fundamenta implícita ov explici-
tamente em teorias emplricametne validwas, mas numa prá·
uca educativa e na sua transmissão através dos anos. Este
tipo de abordagem inclui tendências e manüestações diver·
sas.
Não se pretende esgotar compj.itamente os significados
da abordagem, tampouco fazer um estudo histórico desse
tipo de ensino e suas tendências no Brasil, mas tentar ca·
racterizá-Io em suas diferentes m1mifestações, buscando
apreender as implicações dele decorrentes para a ação pe-
dagógica do professor. Trata-se de uma concepção e uma
prática educacionais que persistiram no tempo. em s;;as di·
ferentes formas, e que passaram a fornecer um quadro re-
ferencial para todas as demais abordagens que a ela se se.
guiram.
Englobam-se, portanto, considerações de vários autores
defensores de posições diferentes em relação ao .ensino tra·
dicional, procurando caracterizá-lo tanto em seus aspectos
considerados positivos, QUllllto negativos. Esses aspect05
tornar-se-ão melhor explicitados no decorrer das categorias
que aqui serão ponderadas.

7
Snyders 0974 l. nwn estudo sobre o "ensino tradicio· necessárias, poóe repeti-las a outros que ai:lda não as pos-
nal", defende a necessidade de se compreender esse tipo de suam, assim como pode ser c!iciente em _sua profissão, quan.
ensino e sua5 justificativas. Somente uma avaliação cuida· do de posse dessas informa.çoes e comeudos. O homem, no
dosa e critica tornará possível ultrapassá-lo ou !azé-lo me· Jrúcio de sua vida, é considerado uma espécie de tábula rasa,
lhor. na qual sã.o impressas, progress ivamente, imagens e in!or.
O ensin1,1 tradicional, para Snyders, é ensino verdadeiro. mações romecidas pelo ambiente.
Que~ se considere o ensino verbalista predominante his·
Tem a pretensão de conduzir o aluno até o cont.acto com
as grandC? realizações da humanidade: obras-primas da Ji. toricamente na Idade Média e Renascença, quer se considere
tcratura e da arte, raciocínios e clemonstrações plenamente 0 ensino defendido nos séculos XVIII e XIX, baseado numa
elaborados, aquisições cicntíCicn.s atingidas pelos mé~oclos psicologia sensual - empirista, a ênfase é dada ao externo.
mais seguro5. Dá-se énfase aos modelos, em todos os cam-
pos du saber Privilegiam-se o especialista, os modelos e o 1.3. l1undo
professor, elemento imprcscindivcl na ~ransmissão de con-
teúdos. A realidade é algo que será transmitido ao individuo
Como se sabe, o adulto, na concepção tradicional, é con· principalmente pelo processo de educação formal, além de
siderado como um homem acabado, "pronto" e o aluno um outras agências . tais como tamilia, Igreja. O mundo é exter.
"adulto em minlaturn", que precisa ser atualizado. no ao individuo e este irá apossando-se graêativamente de
O ensino. em todas as suas formas, nessa abordagem, uma compreensão cada vez mais sofisticada dele na me·
será centrado no professor. Esse tipo de ensino volta-se Pll· Cida em que se confronta com os modelos, com os ideais,
ra o que é externo ao aluno: o programa. as disciplinas, o as aquisições cientificas e tecnológicas, os raciocin!os e de·
professor. O aluno o.penas executa prescrições que lhe são rnonstrações, as teorias elaboradas através dos séculos. De
fixadas por autoridades exteriores. posse desse instrumental, o indivíduo contribuirá, por sua
l!:ntre outros, Saviani (1980 . p. 29 ) sugere que o papel vez oara 11."na maior compreensão e dominio do mundo que
do professor se caracteríza pela gn.rantia de que o conheci- o c~~ca, seja este considerado como físico, social etc.
mento seja conseguido e isto independentemente do interes-
~e e vontade do aluno, o qual. por si só, talvez, nem pudesse 1. 4. Sociedade-cultura
manifesta-lo espontaneamente e, sem o qual, suas oportunl·
dadcs de participação social estariam reduzidas. Os tipos de sociedade e cultura podem ser os mais va..
riados na utilização desse tipo de ensino, que visa a sua
perpetuação, ao mesmo tempo que a produção de pessoas
1.2 Homem eficientes que consigam Impulsioná-los em direção a um
maior dominio sobre a narureza, ampliando e aprofundando
Nessa abordagem, podem-se apenas fa;o,er inferências as áreas de conhecimento. Este obJetivo educacional nor·
qun.nto aos conceitos de homem, mundo, sociedade/cultura, malmente se encontra intimamente relacionado aos valores
conhecimento, pois não há nenhuma teoria claramente expil· apregoados pela sociedade na qual se realiza.
citada e a abordagem engloba aspectos diversos de tcnd€n· Os programas exprimem os níveis culturais a serem
elas caracterizadas como "ensino tradicional". adquiridos na trajetória da educação formal. A reprovação
O homem é considerado como inserido num m1mdo que do aluno passa a ser necessária quando o mbimo cultural
irá conhecer através de informações que lhe serão !ornecl· para aquela faixa não foi atingido, e as provas e exames
das e que se decidiu serem as mais importantes e úteis para são necessários para a constatação de que este mínimo exi·
ele. É um receptor passivo até que, repleto dn.s informações gido para cada série foi adquirido pelo aluno.

8 9
O dipioma pode ser tomado, então, como um instru· onde se supõe o papel importante da educação formal e
mento de hierarquização dos indivíduos num contexto social. da instituição escola. A perenidade é justi!icada por si mes-
Essa hierarquia cu!Çural resultante pede ser considerada CO· ma. Há constante preocupação em se conservar o produto
mo fundada no saber, no conhecimento ãa verdade. Dessa obtido o mais próxímo possível do desejado.
forma. o diploma iria desempenhar um papel de mediador Mesmo se considerando o e!'lsino baseado numa psico-
entre a formação cultura! e o exercício de funções sociais logia "sensual-empirista", atribui-se ao sujeito um papel in·
determinadas. significante na elaboração e aquisição do conhecimento. Ao
Socialmente talando, essa posição implica supor que as indivíduo que está "adquirindo" conhecLrnento compete me·
ex:penências e aquisições das gerações adultas são condição morizar definições, enunciados de leis, sínteses e resumos
de sobrevivência das gerações mais novas, como também da aue lhe são oferecidos no processo de educação formal a
sociedade. partir de um esquema atomístico.
Para Paulo Freire (1975cl . este tipo de sociedade man·
tém um sistema de ensino baseado na educação bancária
(tipologia mais aproximada do que se entende por ensino l . 6. Educação
nessa aboráagem), ou seja, uma educação que se caracteriza
por "depositar'', no aluno, conhecimentos, in!onnações, da· A educação é um processo amplo para alguns autores,
dos, fatos etc. mas na :na1oria das vezes, é entendida como instrução, CG·
Pode·se afirmar que as tendências eng.lobadas po~ esse racterizada como transmissão de conhecimentos e restrita à
tipo de aborãagem possuem uma visão individualista do ação da escola. No processo da educação, durante o período
processo educacional, não possibilitando, na maioria das ve· em que o aluno freqüenta a escola, ele se confronta com mo-
zes, trabalhos de cooperação nos quais o futuro cidadão delos que lhe poderão ser úteis no decorrer de sua vida du·
possa experienciar a convergência de esforços. rante e pós.escola. Essa posição é defendida, por exemplo,
por Dürk.11ei.m.
l. 5. Conhecimento Para muitos autores, inclusive Snyders, o modelo não
é considerado como o contrário da original.idade, da indivi.
Parte·se do pressuposto de que a inteligência, ou qual. dualidade, próprias de cada criança, mas condição indispen·
quer outro nome dado â atividade mental, seja uma faculda· sável para que ela desabroche. De toda !onna, porém, é a
de capaz de acumular/armazenar in!orma.ções. A atividade proposição e a defesa de um tipo de educação baseada em
do ser humano é a de incorporar informações sobre o mun· decisões verticais. Alaln (1978), por exemplo, defende uma

=
do (físico, social etc.l, as quais devem ir das mais simples
âs mais complexas. Usualmente hâ decomposição âa
realidade no sentido de sunpli!icá·la. Essa análise simplifi·
•· aris:6cracia de espirito".
Às vezes, coloca-s~ que, para que o aluno possa chegar,
e em condições favoráveis, a uma confrontação com o mo-
cadora. do patrimônio de conhecimento que será transmiti· delo, é indispensável uma intervenção do professor, uma
do ao aluno, âs vezes, leva a urna organização de um ensino crientação do mestre.
preàomin2.!ltemente dedutivo. Aos alunos são apresentados A abordagem tradicional é caracterizada pela concepção
somente os resultados desse processo, para que sejam arma· de educação como um produto, já que os modelos a serem
zenados. alcançados estão pré-estabelecidos, daí a ausência de ênfase
Há aqui preocupação com o passado, como modelo a no processo. Trata·se, pois, da transmissão de idéias sele·
ser imitado e como lição para o futuro. cionadas e organizadas logicamente. Este tipo de concepção
Evldencia·se o caráter cumulativo do conhecimento hu· de educação é encontrado em vários momentos da história,
mano, adquirido pelo individuo por meio de transmissão, de permanecendo atualmente sob d!!erentes formas.
10 11
1.?. Escola 1. 8. Ensino-aprendizagem
A escola., fundada nas concepções dessa abordagem, é A ênfase é dada às situações de sala de aula, onde os
o lugar por excelência onde se realiza a educação, a qual 8" alunos são "Instruídos" e "ensinados" pelo professor. Comu-
restringe, em sua maior parte, a um processo de tra.nSmlssão mente, pois, subordina-se a educação à instrução, conside-
de informações em sala de aula e funciona como uma agên rando a aprendizagem do aluno como um fim em si mesmo:
eia sistematizadora de uma cultura complexa. os conteúdos e as Informações têm de ser adquiridos, os
Segundo Émile Chartier (Alaln, 1978), defensor destê modelos imitados.
tipo de abordagem, a escola é o lugar também por excelên Para este tipo de abordagem, a exlstência de um mode·
eia onde se raciocina. Defende um ambiente físico austero lo pedagógico é de suma Importância para a criança e para
para que o aluno não se distraia. Considera o ato de apren sua educação. Em sua ausência, a criança. permanecerá num
der como uma cerimôrua e acha necessário que o professor mundo que "não foi ilustrado pelas obras dos mestres" e
se mantenha distant~ dos alunos. que não "ultrapassará sua atitude primitiva~. Acredita-se
Para tal tipo de abordagem, a escola não é considerada implicitamente nas virtudes formativas das disciplinas do
como a vida, mas, sim, como fazendo parte dela. O prO!es· currículo.
sor, por sua vez, será o mediador entre o aluno e os mo. Acredita-se ainda que é falsa toda a crença numa con-
delos. tínuidade simples entre a experiência imediata e o conheci-
Em defesa do ensino tradicional, Snyders (1974) afirma mento e é precisamente porque há esse salto a se efetuar
que a escola tradicional, quando não transfonnada em ca· que a mtervenção do professor é neceSSárla.
ricatura, considera que os conhecimentos adquiridos não Justamente no tipo de intervenção é que reside a pro-
valem por si mesmos, mas como meio de formação e de ir blemática do ensino tradicional. Muitas vezes esse tipo dP
mais além. intervenção visa apenas a atuação de um dos pólos da re.
Em grande parte das vezes, no entanto, a escola funcio· lação, o professor. ll: nesse particular que são feitas muitas
na diferentemente do proposto e advogado por Snyders, das críticas a esse modelo de ensino.
chegando ao que ele próprio denomina de caricatura. Uma Analisando concepções psicológicas e práticas educacio.
escola desse tipo é freqüentemente utilitaJ'lsta quanto a re- nais do ensino tradicional, Aebli (1978) comenta que seus
~ultados e programas preestabelecidos.
elementos fundamentais são imagens estáticas que progres-
sivamente serão "impressas" nos alunos, cópias de modelos
O tipo de relação social estabelecido nesta concepção de do exterior que serão gravadas nas mentes individuais.
escola é vertical, do professor (autoridade intelectual e mo- Apesar de desconhecer a natureza da atividade psíqui-
ral) para o aluno. As possibilidades de cooperação entre os ca, o ensino tradicional lança mão, na prática, da atividade
pares são reduzidas, já que a natureza da grande parte das dos alunos (quer recorrendo à apresentação de dados intui-
ta.r etas destinadas aos alunos exige participação mdivldual tivos, quer recorrendo à imaginação dos alunos). Como o
de cada um deles. mecanismo de explicação dessa atividade é desconhecido, o
Considerando.se que uma das vertentes dessa aborda- professor vê-se obrigado, na maioria das vezes, a limitar-se
gem atribuí à educação o papel de ajustamento social, ca.. ao fornecimento de receituários.
beria igualmente à escola oferecer às gerações submetidas Uma das decorrências do ensino tradicional, já que a
ao processo os elementos dominantes num determinado mo. aprendizagem consiste em aquisição de informações e de-
menta sócio-cultural, de forma que fosse garantida a con- monstrações transmitidas, é a que propicia a formação de
tinuidade das Idéias, sem rupturas e sem crises. reações estereotipadas, de automatismos, denominados hábi·
tos, geralmente isolados uns dos outros e aplicáveis, quase

12 13
t 1,
' '
para a reiteração dos dados e informações anteriormente for-
;empre, somente às situações idênticas em que toram ad ui· necidos pelos manuais ou pelos apontamentos dos cursos.
.idos. O aluno que adquiriu o hábito ou que "aprerld~u" O papel do professor está Intimamente ligado à. trans-
apresenta, com !reqüên~ía, compreensão apenas parcial. Es- missão de certo conteúdo que é predefinido e que constitui
sas r:ações estereohpaaas estão sempre ligadas a
pressao simbólica, quer seja verbal, algébrica ou
que as desencadeiam.
n::::::nex·
ca,
o próprio fim da existência escolar. Pede-se ao aluno a re-
petição automática dos dados que a escola forneceu ou a
exploração racional dos mesmos.
O isolamento das escolas e o artificialismo dos pro a. Num tipo mais extremado, as relações sociais são quase
mas não !a.cllitam a tr~nsferência de aprenc:Uzagem. I gro- que praticamente suprimidas e a classe, como conseqüência.,
ram.se as di!erenças individuais, pois os métodos não va:1am permanece intelectual e afetivamente dependen.e do pro·
l, ao longo das classes .nem dentro da mesma classe.
Em tenn~s gerais, é um ensino caracterizado por se
Cessor.
O professor exerce, aqui, o papel de mediadc ~ entre ca-
, preoc~par. mais com a variedade e quantidade de noções/ da aluno e os modelos culturais. A relação predominante é
, conce~tos/intormações que com a formação do pensamento professor-aluno Ondividuall, consistindo a classe, nessa pers-
reOex1vo. Ao cuidar e. enfatizar a correção, a beleza, 0 for. pectiva, apenas justaposição dessas relações duai..;, sendo
ma~mo, acaba reduzindo o valor dos dados senslveis ou essas relações, na maioria das vezes, paralelas, ineidstindo a
mtu1.lvos, o que pode ter como conseqüência a redução do consUtulção de grupo onde haja interação entre os alunos.
ensmo a um processo de L"?lpressão a uma pura ~pti ·
dade. ' ·~ Vl·
A expressão tem um lugar proeminente daí esse ensin l . 10. Metodologia
s~r ~racterizado pelo verbalismo do mesb-e e pela mem: caracterizado o ensino pela transmlssão do patri'l'lônio
nzaçao do aluno. - --- - -
Evidencia-se uma preocupação com a sistematização cultural, pela confrontação com modelos e raclocínir.s ela-
dos conhecimentos apresentados de foml8 acabada As ta borados. a correspondente metodologia se baseia mais fre-
refas de .aprendizagem quase sempre são padio~das. ~ qüentemente na aula expositiva e nas demonstrações do pro-
que ~mpUca poder recorrer-se à rotina para se conseguir a fessor à classe. tomada quase como auditório.
fixaçao de conhecimentos/ conteúdos/in!onnações. O professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se limi·
ta, passivamente, a escutá-lo. O ponto fundamental desse
processo será o produto da aprendizagem. A reprodução
1. 9 . Professor-aluno dos conteúdos feita pelo aluno, de forma automática e sem
variações, na maioria das vezes, é considerada como um
. A relação professor-aluno é vertical, sendo que um dos poderoso e suficiente indicador de que houve aprendizagem
polos <o professor l detém o poder decisório quanto ·
todologia, conteúdo, avaliação, !orma de interação n:
a~~
=~· Ao professor. compete informar e conduzir seus alunos
e de que, portanto, o produto está assegurado. A didática
tradicional quase que poderia ser resumida, pois, em "dar
a lição" e em "tomar a lição". São reprimidos freqüente-
~o a ObJetlvos que lhes são externos, por serem
mente os elementos da vida emocional ou afetiva por se jul·
e~olhldos ~l~ escola e/ ou pela sociedade em que vive e
garem impeditivos de uma boa e útil direção do trabalho
:iao pelos SU)e1tos do processo. de ensino.
O professor detém os meios coletivos de expressão As A utilização freqüente do método expositivo, pelo pro-
r7lações que se exercem na sala de aula são feitas lo~gitu­ fessor, como forma de transmissão de conteúdo, faz com
dlnalmente, em ~~ção do mestre e de seu comando. A maior que muitos concebam o magistério como urna arte centrada
parte dos exerc1c1os de controle e dos de exame se orienta no professor.
15
14
No método expositivo como atividade normal, está im· rie de perguntas que representam, por sua vez, passos para
pllclto o relacionamento professor-aluno: o professor é o se chegar ao objetivo proposto.
agente, o aluno é o ouvinte. O trabalho Intelectual do aluno os defensores do método maiêut!co pensam que ele
será iniciado, propriamente, após a exposição do professor, provoca a pesquisa pessoal do aluno. Ainda atualmente tal
q,uando então realizará os exerclclos propostos. A situação tipo de metodologia é freqüentemente encontrado em nossas
é preparada e, por isso, artificial. Tal tipo de método tem salas de aula.
por pressuposto basear a aprendizagem no exercício do alu· Para que o professor possa utilizar tal método, a ma-
no. A motivação para a realização do trabalho escolar é, téria a ser apreendida deverá ser dividida em vá.rios elemen-
portanto', extrinseca e dependerá de características pessoais tos. A cada elemento correspondem perguntas às quais o
do professor para manter o alwio interessado e atento. aluno deverá responder. Fica visível, em sala de aula, uma
Usualmente. o assunto tratado é terminado quando o troca verbal Intensa entre professor e alunos, em termos
professor conclui a exposição, prolongando-se, apenas, atra· das perguntas do primeiro e das respostas dos segundos,
vés de exercícios de repetição, aplicação e recap!túlação. até que o resultado proposto seja atingido. Como os alunos
O trabalho continua mesmo sem a compreensão do aluno chegam a esse resultado, infere·se que tenham compreendi·
e somente uma verificação a posteriori é que permitirá ao do o conjunto relacionado de idéias tal como foi proposto.
professor tomar consciência desse fato.
Surgem dificuldades no que se refere ao atendimento 1 .11 . Avall~ã-0
individual, pois o resto da classe fica isolado quando se aten·
de a um dos alunos particularmente. Jt igualmente ditfcll A avaliação é realizada predominantemente visando a
para o professor saber se o aluno estâ necessitando de auxl· exatidão da reprodução do conteúdo comunicado em sala
lio, uma vez que usualmente quem fala é o professor. Dessa de aula. Mede-se, portanto, pela quantidade e exatidão de
forma, há a tendência a se tratar a todos igualmente: todos informações que se consegue reproduzir. Daí a consideração
deverão seguir o mesmo ritmo de trabalho, estudar pelos de provas, exames, chamadas ora.is, exercícios etc., que evi·
mesmos livros-texto, utilizar o mesmo material didático, re- denciem a exatidão da reprodução da Informação.
petir as mesmas coisas, adquirir, pois, os mesmos conheci· O exame passa a ter um fim em si mesmo e o ritual é
mentas. mantido. As notas obtidas funcionam, na sociedade, como
Algumas matérias são consideradas mais importantes nlveis de aquisição do patrimônio cultural.
que outras, o que se constata pela diferença de carga horá·
ria entre as disciplinas do currículo. Privilegiam-se igual· 1 . 12 . Considerações finais
mente o verbal (escrito e oral), as atividades intelectuais e
o raciocínio abstrato. Como mencionou-se anteriormente, o termo "ensino tra-
Quanto ao ensino Intuitivo, uma das vertentes do ensino dicional" é ambíguo e engloba vários sentidos. Uma carac·
tradicional e historicamente sucessor do ensino verbalista, terist!ca comum é a prioridade atribulda à dísciplina inte-
verit!cam·se Igualmente problemas no que se refere à me- lectual e aos conhecimentos abstratos. Igualmente comum
todologia. Pretende-se provocar certa atividade no aluno, .; a consideração da missão catequética e unificadora da es·
no entanto, a psicologia sensual-empirista não fornece reS· cola. Programas minuciosos, rigidos e coercitivos. Exames
paldo teórico à fundamentação dessa atividade, pois a igno· seletivos, investidos de caráter sacramental. O diploma con.
ra. siste, nessa visão, em um princípio organizador e na con-
Esta Iorma de ensino pode ser caracterizada pelo uso sagração de todo o ciclo de estudos. O método de recitação
do método "maiêutlco", cujo aspecto básico é o professor e as espécies de conteúdo ensinados derivam de uma con-
dirigir a classe a um resultado desejado, através de ;,ima sé- cepção estática. de conhecimento.

16 17
Não obstante constituir-se essencialmente de uma prá-
tica transmitida de geração a geração (e não baseada em
teorias empiricamente validadas de ensino, aprendizagem,
desenvolvimento humano etc.), está subjacente a esse tipo
de abordagem, apesar de suas diversas manifestações, uma
oplstemologla que consiste, basicamente, em se supor e se A bordagem comportamentalista
aceitar que o conhecimento provém essencialmente do melo,
e, dessa ,forma, é transmitido ao Individuo na escola.
A escola é o local da apropriação do conhecimento, por
melo da transmissão de conteúdos e confrontação com mo-
delos e demonstrações. A ênfase não é colocada no educan-
do, mas na intervenção do professor. para que a aquisição
do patrimônio cultural seja garantida. O individuo nada
mais é do que um ser passivo, um receptáculo de conheci·
mentos escolhidos e elaborados por outros para que ele de.
les se aproprie.
A escola, no entanto, não é estática nem intocável. Está
sujeita a transformações, como o estão outras instituições. 2 .1 . Características gerais
Novas formações sociais surgem a partir das anteriores e
a escola muda, assim como tem seu papel como um possí· Esta abordagem se caracteriza pelo primado do objeto
vel agente de mudança. numa realidade essencialmente di· (empirismo>. O conhecimento é urna "descoberta" e é nova
nAmica. para o Individuo que a faz. O que !oi descoberto, porém,
Historicamente. movimentos denominados de "educação já se encontrava presente na realidade exterior. Considera·
nova" começaram a se desenvolver tomando como ponto de -se o organismo sujeito às contingências do meio, sendo o
partida as decepções e lacunas que se atribulam aos resul- conhecimento urna cópia de algo que simplesmente é dado
tados da educação tradicional ou clássica. Nota-se, nos últi·
mos anos, preocupação acentuada com educação e escola, no mundo externo.
e com a elaboração de teorias e/ ou propostas em decorrên. Os comportamentalistas ou behavioristas, assim como
eia das quais pedagogias alternativas tendem a se desenvol· os denominados lnstrumental!stas e os positivistas lógicos.
ver, mesmo que em direções distintas e confütantes entre si. consideram a experiênci11 ou a experimentação planejadà
As abordagens analisadas a seguir são partes do ideário como a base do conhecimento. Evidencia-se. pols, sua ori·
pedagógico veiculado em cursos de Licenciatura, ao mesmo gem empirista, ou seja. a consideração de que o conheci.
tempo que são as linhas mais delimitadas, no momento, em mento é o resultado direto da experiência.
termos de alternativas pedagógicas ao ensino tradicional. Para os positivistas lógicos. enquadrados nesse t ipo de
Embora haja outras linhas, delimitou-se as que se seguem abordagem, o conhecimento consiste na forma de se orde·
por motivos predominantemente históricos: são as que pro- nar as experiências e os eventos do universo, colocando-os
vavelmente os professores tenham pelo menos ouvido talar. em cóc!Jgos simbólicos. Para os comportamentalistas. a ciên·
ela consiste numa tentativa de descobrir a ordem na natu-
reza e nos eventos. Pretendem demonstrar que certos acon·
teclmentos se relacionam sucessivamente uns cóm os outros.
Tanto a ciência quanto o comportamento são considerados,

18 19
principalmente, como uma forma de conhecer os eventos, o .fixados. Os objetivos de treinamento são as categorias de
que torna possível a s ua utilização e o seu controle. comportamento ou habilidades a serem desenvolvidas. Ha-
Skinner pode ser considerado como um representante bilidades são compreendidas como respostas emitidas, ca-
da "análise funcional'' do comportamento, dos mais difun- racterizadas por formas e seqUências especificadas.
didos no Brasil. Segundo ele, cada parte do comportamen- Finalmente, nesse tipo de abordagem, supõe-se e obJetl-
to é uma "função" de alguma condição que é descritível em va-se que o professor possa aprender a analisar os ·elemen-
termos físicos, da mesma forma que o comportamento. tos específicos de seu comportamento, seus padrões de Inte-
As pesquisas predominantemente norte-americanas. re. ração, para, dessa forma, ganhar controle sobre eles e mo-
!acionadas com o ensino e com a abordagem sistémica da dificá-los em determinadas direções quando necessário, ou
instrução, sistemas ou modelos de instrução, tais como, por mesmo desenvolver outros padrões.
exemplo, os de Popham, Gerlach, Briggs, Glaser, Papay. den-
tre outros, têm seus fundamentos no neobehaviorismo skln·
neriano. 2.2 . Homem
Os modelos são desenvolvidos a partir da análise dos
processos por meio dos quais o comportamento humano é O homem é uma. consequência das in!luências ou torças
modelado e reforçado. Implicam recompensa e controle, existentes no meio ambiente.
assim como o planejamento cuidadoso das contingências de A hipótese de que o homem não é livre é absolutamente
aprendizagem, das seqüências de atividades de aprendiza· necessária para se poder aplicar um método cientifico nC'
gem. e a modelagem do comportamento humano, a partir campo das ciências do comportamento.
da manipulação de reforços, desprezando os elementos não
observáveis ou subjacentes a este mesmo comportamento. Se vamos usar os métodos da ciência no campo dos 1185Wl·
O conteúdo transmitido visa objetivos e habilidades qu~ tos humanos, devemos pressupor que o comportamento é orde-
levem à competência. O aluno é considerado como um re- nado e determinado. Devemos esperar descobrir que o que o
homem faz ê o rosulútdo de condições que podem ser especi-
cipiente de informações e rt!flexões. O uso de máquinas
ficadas e que, wna vez determinadas, poderemos antecipar e
(através das quais é possível apresentar contingências de até certo ponto determinar ""' ~- <Sklnner, 1981, p. 201
maneira controlada ) libera, até certo ponto, o professor de Ao contestar o controle exercido pelo homem autõoomo e
uma série de tarefas. A educação, decorrente disso, se preo- demonstrar o controle exercido pelo ambiente, a ciência do com·
cupa com aspectos mensuráveis e observáveis. portamento parece também questionar a dignidade ou o valor.
Qualquer estratégia instrucional com base nesta abor- Uma P8S803 é responsável por seu comportamento. não &ó no
dagem deve considerar a preocupação cientifica que a caraC· sentido de que merece ser admoestada ou punida quando pro-
teriza, aplicando-a quer no planejamento, quer na condução, cede mal, mas também no sentido em Que merece ser elogúlda
implementação e avaliação do processo de aprendizagem. e admirllda em suas realizações. <Skinner, 1973, p. 21J
Qualquer estratégia instrucional deve, pois, estar baseada em
princípios da tecnologia educacional. O ideal é trans!erir-se o controle da situação ambiental
Para que se possa proceder à análise comportamental para o próprio sujeito de forma que a pessoa se torne auto.
do ensino, é necessário se considerar que tanto os elemen· controlável, auto-suficiente. A recusa em aceitar-se a respon-
tos do ensino como as respostas do aluno podem ser anaU· sabilidade de controle tem como conseqUência deixar que
sàdos em seus componentes comportamentais. O ensino é, este controle seja exercido por outras pessoas.
pois. composto !JOr padrões de comportamento que podem O hOmem autônomo é um dlsposltlvo emprepdo pal'lt ex-
ser mudados através de treinamento, segundo objetivos pré- plicar o que não podemos explicar por outro melo qualQuer.

20 21
Foi produl-0 de nossa ignorância, e, ã modlda que nossa com- quais ele é urna função, ou seja, alterando-se os elementos
preeNiio aumenta, a verdadeira essencla de que se compõe de- ambientais. O meio seleciona.
saparece. A ciênçia não desumaniza o homem, não lhe retira
Para que a formulação das relações entre um organis-
a conellção de homúnculo, e deve fazblo se quiser evitar a abo-
lição da espécie humana. . . . Somente o desapossando <o ho- mo e seu meio ambiente seja adequada, devem-se sempre es-
mem) poderemos voltar-nos para as causas reals do comporb- pecificar três aspectos: a ocasião na qual a resposta ocor-
menl-0 humano. Somente então poderemos voltar-nos do In- reu, a própria resposta e as conseqtiênclas reforçadoras. As
ferido para o observado. do milagroso para o natural. do ma. rel~ões entre esses três elementos constituem as contingên-
cesslvel para o manipulável. (Skinner, 1973. p. 1571 cias de reforço.
O comportamento gerado por um conjunto dado de contin-
O homem, dentro desse referencial, é considerado como o gência.s pode ser considerado cientilicamente. sem que se tenha
quo apelar para estados ou processos Internos hipotéticos, eSkln·
produto de um processo evolutivo no qual essencialmente as ner, 1980. p. 180)
mudanças ncillentals no dote genético toram diferencialmente
selecionadas por características acidentais do nmblente, mas ele A ênfase no ambiente torna-se clara nas seguintes afir-
agora alcançou o ponto a partir do qual pode examinar o pro- mações do Autor:
cesso e tazor algo a respeito, . . , Os arrMjOs adventlcios das
variáveis tanto genéticas quanto ambientais levaram o homem Na transferência do controle do homem autônomo para o
à sua atual posição, e são responsáveis tanl-0 por seus erros ambiente observável, não deixamos atrâs d.e nós wn organismo
quanto por suas virtudes. !Skinner. 1980. p. 2081 v82:1o. Muita coisa ocorre no Interior do ho mem e a llsiologia
acabarei por nos dizer mais sobre esse fato. Expllcarâ porqm
A relação de dependência do homem é colocada como o conhecl.mento realmente se encontra relacionado com acon·
tecimentos anteriores. dos quais pode ser apresentado como fun-
se segue: ção. <Sldnne;, 1973, p. 153 1
Aqueles que se dedicam ao trabalho produtivo devido ao va- Uma análise experimental do comportamento humano de-
lor relorçador do que produzem estão sob o controle sensível veria, por natureza. retirar as runções anteriormente atribui-
e poderoso dos prollutos. Aqueles que aprendem atravês do da.s ao homem autónomo e trans!ert~las, uma a uma, ao arn+
ambiente natural se acham sob uma forma de controle Uío po- biente controlador. ISkinner. 1973. p. 155)
derosa q uanto qualquer tipo de controle exercido por um pro-
fessor. Uma pessoa jamais se toma verdadelrnmente depen-
dente apenas de si mesma, mesmo se lida efetivamente com obje- 2. 4 . Sociedade-cultura
tos, depende necessariamente daqueles que a ensinaram a ta-
zê-lo. Foram eles que selecionaram os objel-Os de que depende Esta categoria é bastante comentada na. obra de Skin-
e determinaram os tipos e os graus dessa dependência (niio po- ner, já que toda a sua proposta visa uma modillcação so-
dendo, portanto, negar responsabilidade pelos resultados). (Skin· cial. Sua proposta só será realizada de forma eficiente
ner, 1973, P- 751 quando uma infra-estrutura sóclo~ultural, coerente com os
significados que ele atribui à sociedade e à cultura, estiver
presente.
2. 3. l\otu.n do Para ele, o
ambiente social é o que chamamos de W'llJI cultura. Dll torma
A realidade, para Skinner, é wn fenómeno objetivo; o
e preserva o comportamento dos que nela vivem. ISkinner, 1973,
mundo Já é construído, e o homem é produto do meio. p, 115)
O melo pode ser manipulado. O comportamento, por .. uma cultura pode-se desenvolver através de uma seqüén·
sua vez, pode ser mudado modificando-se as cond1ções das ela de rases. à medida que se desenvolvem as contingências, mas

22 23
poc!emos !onnular uma ordem di!erente de contingências. !Skln· A noção de mérito pessoal é incompatível com a hipótese
ner, 1973, p. 113> d• que o comportamento humano seja totalmente determinado
Uma cultura se desenvolve quando novas práticas surrem pelas forças genéticas e ambientais. ISk!noer, 1980, p . 208)
• são submetidas a uma seleção, e não podemos esperar que
elas surjàm por acaso. CSklnner, 1973, p. 130) Qualquer ambiente, físico ou social, deve ser avaliado
de acordo com seus efeitos sobre a natureza humana. A cultu·
A cultura é entendida como espaço experimental utili· 1a, em tal abordagem, passa a ser representada pelos usos
zado no estudo do comportamento. É um conjunto de con· e costumes dominantes, pelos comportamentos que se man-
tingência's de reforço. Advoga.se o emprego de uma ciência têm através dos tempos porque são reforça.dos na medida
no planejamento de uma CUitura. cm que servem ao poder.
A sociedade ideal, para Skinner, é aquela que implica-
ria um planejamento social e cultural. Walden II, apesar ProdUZ1Dlos "mutações" culturais q uando Inventamos no-
de datar de 1948, quando os princípios e reali2ações da En· vas práticas sociais • modtlicamos as condições sob as quais
genharla Comportamental e Cultural não estavam tão de- eJa.s são selecionadas, quando alteramos os ambienr;,s em que os
senvolvidos como atualmente, deixa claro o que ele pretende homens vivem. . . . Recusar-se a fazer qualquer uma dessas t:l-
como sociedade. Essa obra retrata uma sociedade ideal, refas equivale a deixar ao acoso as mudanças em oossa cultura e
regida pelas leis da engenharia comportamental. o acaso é o verdadeiro Urano a se temer. ISklnner, 1980, p. 208i
Walden II é uma comunidade caracteri2ada por ausên- O Indivíduo não é a origem ou uma fonte. Ele não inicia
cia de classes sociais e de propriedade privada. Nela não se nada. E nem é ele que sobrevive. O que sobrevivo é a espécie
encontram privilégios, violência e tampouco autoridade. As e a cultura. Elas estão "nlém do individuo'' no sentido de se.
rem respoosavels por ele e de sobreviverem a ele. <Sklnner. 1980,
relações sociais são diversificadas. o trabalho é agradável a p. 210)
o lazer. além de freqüente, é produtivo. Nessa obra, o Autor
defende a tese de que a vida do homem pode ser boa e O controle e o diretivismo do comportamento humano
gratlflcante, na medida em que as tradições da sociedade são considerados como inquestionáveis. O indivíduo tem,
sejam substituídas por um planejamento amplo, que vise contudo, seu papel nesse planejamento sócio-cultural. qul!
maior bem-estar para o maior número de pessoas, apllcan- é ser passivo e respondente ao que dele é esperado. :!:'.: ele
do·se, para isso, a teoria do reforço. uma peça numa máquina planejada e controlada, realizando
Uma cultura bem plnneJad~ é um conjunto de contlneências a função que se espera seja realizada de maneira eficiente.
de reforço, sob o qual os membros se comporf.Am de acordo
com procedimentos que mantêm a cultura, capacitam-na n en- Uma pessoa não se expõe apenas ás contingências que cons-
frentar emergências e modlllcam-na de modo a realizar essas tituem uma cultura; ll]ucla n manté-las e. na proporção em que
mesmas coisas mais eClclentemenlé no futuro. (Skinoer, 1980, J"I. elas induz.em a fazê.lo, a cultura apresenta uma autoperpehJAção.
20S) (Sldnner, 1973, p. 104)
Os que alcançam as contingências terminais serão produti·
vos, criativos e felizes - em uma palavra, eficientes ao máxi· Skinner é favorável ao "relativismo cultural", afirmando
mo. tSldnner, 1980, p. 20t) que cada cultura tem seu próprio conjunto de coisas boas
e o que se considera bom numa cultura pode não o ser em
Numa cultura totalmente gerida outra. As questões do tipo: a ci,uem cabe decidir o que é
seus cidadãos são automaticamente bons, sábios o produtivos, e bom para o homem; como será utilizada uma tecnologia
não temos razões para admlrá·los ou atribuir-lhes méritos. CSkin· mais eClcaz; por que e com que finalidade sã.o, para ele.
ner, 1980, p. 207) lndagações sobre reforços.
24 25
l'azer um julgament-0 de valor. quallflcando algo dl! bom As va.riávels externas, das quaJs o comportamijnf.o é !unção
ou mau, é ctassiticá-lo em termos de seus efeito• re!orçe.doros. dão margem ao que pade ser chamado de anll.llse causal ou run-
ISklnMr, 1973, p . 86) otonal. Tentamos prever e controlar o comportamento de um
Algumas coisas se tomaram boas durante a história da evo- o rganismo individual. Esta é a nossa "varlével dependente"
lução da espécie e podem ser usadas para Induzir as pe$$08S a - o eCeilo para o qual procuramos a causa. Nossas "variáveis
prooe<ler para o vbem de outros". !Slwmer, 1973, p . 101) Independentes" - as causas do componamento - são as con-
dições externas das quais o comportamento é função. Relações
entre as duas - as "relações de causa e etelt.o" no comporui-
2.5. Conhecimento ment.o - as leis de uma ciência. Urna $1nt.ese destas leis ex-
pressa em termos quantitativos desenha um esbOÇo lntellgen-
A experiência planejada. é considerada a base do conhe- 1.e do organismo como um sistema que se comporta. (Skinner.
cimento. Fica clara a orientação empirista dessa aborda- 1980, p. 45)
gem: o conhecimento é o resultado direto da experiência. Para Skinner, o comportamento é um desses objetos
Sklnner não se preocupou com processos, constructos de estudo que não pede método hipotético-dedutivo. O co-
intermediários, com o que hipoteticamente poderia ocorrer nhecimento, portanto, é estruturado Indutivamente, via ex-
na mente do indivíduo durante o processo de aprendizagem. periência.
Preocupou-se com o controle do comportamento observável.
Esses processos, para ele, são neurológicos e obedecem a
certas leis que podem ser identüicadas. Os processos inter- 2. 6. Educação
mediários geram e mantêm relações runclonals entre estí-
mulos e respostas. A educação está intimamente ligada à transmissão cultu-
O que se pode denominar de ontogênese do comporta- ral.
mento pode ser atribuído às contingências de reforço. Uma ~ quase Impossível ao estudante descobrir por si mesmo
determinada resposta do indivíduo é fornecida, num certo qualquer parte substancial da sabedoria de sua cultura . . <Skin-
sentido, por conseqüências que têm a ver com a sobrevivên- ner, 1968, p, 110)
cia do Individuo e da espécie.
A educação, pois, deverá transmitir conhecimentos, as.
. . . U>do repertório de um indivíduo ou espécie precisa existir, sim como comportamentos éticos, práticas sociais, habilida.
ainda que cm tonna de unidades minimas, antes que possa ocor-
rer n SQleçao ontogenétlca ou filogenéllca. CSklnner, 1980, p. 304 l
des consideradas básicas para a manipulação e controle do
Dizer que a inteligência é herdada não é dizer que formas
mundo/ e.mbiente (cultural, social etc.l.
espeoltlcas de comportamentos sejam herdadas. Contingências Ao se tomar consciência do poder controlador que a
moirenétlcas concebivelmente responsáveis pela "seleçiio da in· educação assume, passa-se a se conceber o ensino de ma-
~elig&ncla" não especüicam respostas. O que rol selecionado pa- neira diferente. Muitos se negam a admitir tal poder. Um
rece ser uma suscetibilidade de contingências ontocenéticas, le- problema de natureza epistemológica, no entanto, persiste:
vando particularmente a uma maior rapidez de cond.icinnamen· o de se saber, exatamente, o que se quer ensinar.
lo e da ca1>3cidade de manter um repertório mais amplo sem .e necessário mencionar que, na fixação de critérios de
confusão. ISldnner, 1980. p. 3091 desempenhos adequados, são consideradas igualmente: as
eX:igênclas da agência educacional; as exigências de outras
A objeção que Sklnner faz ao que denomina dl "esta- agências a ela ligadas, tais como familia, grupos etc., as exi-
dos internos" não é propriamente de que não existam, mas gências da própria sociedade. Dessa forma, os centros de-
sim ao rato de não serem relevantes para. uma análise ci&órlos, em sua maioria, encontram-se !ora de cada situação
funcional. particular de ensino-aprendizagem.
26 27
o sistema educacional tem como finalidade básica pro- 2. ? . Escola
mover mudanças nos _Indivíduos, mudanças essas desejáveis
e relativamente permanentes. as quais implicam tanto a aqui- A escola é considerada e aceita como uma agência edu·
sição de novos comportamentos quanto a modificação dos caclonal que deverá adotar !orma peculiar de controle, de
já existentes. acordo com os comportamentos que pretende instalar e
O objetivo último da educação é que os indivíduos se- manter. Cabe a ela, portanto, manter, conservar e em parte
jam os próprios dispensadores dos reforços que elicitam modl!icar os padrões de comportamento aceitos como úteís
seus comportamentos. O uso adequado das técnicas de mo- E: desejáveis para uma sociedade, considerando-se um deter·
dificação de comportamento é aquele em que se passa pro- minado contexto cultural. A escola atende, portanto, aos
gressivamente o controle da estruturação do esquema de objetivos de caráter social, à medida em que atende aos
contingências para cada individuo. objetivos daqueles que lhe conterem o pcder.
Madsen ( 1975, p 82 l afirma ser esta "a maneira mais Para Sk:inner (1980, p. 383-4), a tradição educativa oci-
eficiente e efetiva de educar para a liberdade". dental determina uma educação voltada para o "saber", pa.
o indivíduo dessa forma, será capaz de estruturar as ra o "conhecimento", termos dlficeis de se definir operacio-
contingências d~ seu próprio ambiente de modo que seu nalmente. Estes "constructos" estão intimamente ligados
comportamento leve às conseqüências que deseja. Quanto com o comportamento verbal, enfatizado nas escolas, onde
maior o controle, maior a respcnsabilidade. se nota preocupação com a aquisição do comportamento em
o comportamento é moldado a partir da estimulação lugar da manutenção do mesmo.
externa portanto o indivíduo não participa das decisões Skinner critica a escola existente, pelo uso que esta co-
curricuÍares que são tomadas por um grupo do qual ele não mumente !az do controle aversivo. Este tipo de controle é
faz parte. mais !ãcil de ser obtido, mas não leva à aprendízagem efe-
Referindo-se aos reforços naturais ou primários, Skin- tiva. Suas !unções e conseqüências são incompatíveis com
ner ( 1973, 1980) argumenta que a idéia do homem natural, Ideais habitualmente divulgados: democracia, direitos humo..
bom corrompido pela sociedade, não é o suficiente para os nos, etc., além dos Ideais divulgados por diversas religiões.
indi~íduos se comportarem de certas maneiras desejáveis. A escola está Ugada a outras agências controladoras da
Além disso muitos reforços naturais, se controladores do sociedade, do sistema social (governo, política, economia
comportam~nto do individuo, são multo mais prováveis de etc.) e depende igualmente delas para sobreviver. Essas
levar o Indivíduo à preguiça e ao lazer do que a um estado agências, por sua vez, necessitam da escola. porque é a ins-
ele trabalho e produtividade. Multas vezes esses reforços tituição onde as novas gerações são formadas. A escola é
levam o individuo a demonstrar urna série de comportamen- a agência que educa formalmente. Não é necessário a ela
tos triviais, exaustivos e sem uso para si ou para a socie· oferecer condições ao sujeito para que ele explore o conhe-
dade. cimento, explore o ambiente, Invente e descubra. Ela pro-
O organismo humano pagaria multo caro, diz o Autor, cura direcionar o comportamento humano às finaUda.des de
se ele fosse regulado simplesmente por acidentes e conttn. caráter social, o que é condição para sua sobrevivência co-
mo agência.
gências naturais. Jt importante - e nisso consiste o proces-
so da educação ou treinamento social - aumentar as con- A escola, portanto. aMumlndo-se como agência de controle
tingências de reforço e sua freqüência, utilizando-se de sis- S-OCfal, pode ser vista como uma Afl'ência do limitação do deson-
temas organizados, pragmáticos. que lançam mão de refor· voMmento da lndMdualldadc eia pessoa. porque atua ele modo
ços secundários associados aos naturais, a fim de se obte! que esta seja mascarada ou preenchida per valores sociais e
certos produtos preestabelecidos, com maior ou menor ri- não pessoai.~. quando of~rece ao sujeito as opções permitidas
gor. pelo caráter social, como caminhos para que ele desenvolva suas
caracter1sttcu. <Cosia, p. 113)
28
29
O conteúdo pessoal passa a ser, portanto, o conteúdo so- jeito igualmente a múltiplas causações, presentes e passa-
das, que podem, como decorrência, mascarar os verdadeiroi.
cialmente aceito.
fatores que afetam o comportamento num determinado mo-
mento. Isso pode trazer inúmeras e enormes dificuldades
2. 8 . Ensino-aprendizagem aos analistas de comportamento no planejamento de contin.
gi!ncias.
Encontram·se aqui grande parte das considerações, refe- O importante, dentro de tal processo, seria que o ensino
rências e aplicações da abordagem sklnneriana. promovesse a incorporação, pelo aluno, do controle das con-
Para os behavioristas, a aprendizagem pode ser defini· tingências de retorço, dando lugar a comportamentos auto-
da como gerados.
uma mudança relativamente permanente em uma tendência com· Segundo essa. abordagem, considerando-se a prática edu·
portamental e/ou na vida mental do Individuo, resultantes de cacíonal, não há modelos ou sistemas Ideais de instrução.
uma prática reforçada. (Rocha. 1980, p. 28l A eficiência na. elaboração e utilização dos sistemas, mode-
los de ensino, depende, igualmente, de habilidades do pia.
Ensinar consiste, asslm, num arranjo e planejamento nejador e do professor. Os elementos minlmos a serem con-
de contingência de reforço sob as quais os estudantes apren· siderados para a consecução de um sistema instrucional são:
dem e ê de responsabilidade do professor assegurar a aqui· o aluno, um objetivo de aprendizagem e um plano para al-
sição do comportamento. Por outro lado, consiste na apll· cançar o objetivo propasto.
cação do método cientifico tanto à investigação quanto à Para Skinner, de acordo com os princípios da teoria
elaboração de técnicas e intervenções, as quais, por sua vez, do reforço, é passivei programar o ensino de qualquer dis-
objetivam mudanças comportamentais úteis e adequadas, de ciplina, tanto quanto o de qualquer comportamtlnto, como
acordo com algum centro decisório. O grande problema da o pensamento crítico e criatividade, desde que se possa de-
pesquisa aplicada consiste no controle de variáveis dOt am· finir previamente o repertório final desejado.
biente social. A ênfase da proposta. de aprendizagem dessa aborda-
Os comportamentos desejados dos alunos serão insta- gem se encontra na organização <estruturação) dos elemen·
lados e mantidos por condicionantes e reforçadores arbitrá· tos para as experiências curriculares. Será essa estrutura-
rios, tais como: elogios, graus, notas, prêmios, reconheci· ção que irá dirigir os alunos pelos caminhos adequados que
mentos do mestre e dos colegas, prestigio etc., os quais, por deverão ser percorridos para que eles cheguem ao compor·
sua vez, estão associados com urna outra classe de reforça,. tamento final desejado, ou seja, atinjam o objetivo final.
dores mais remotos e generalizados, tais como: o diploma, A aprendizagem será garantida pela sua programação.
as vantagens da futura profissão, a aprovação final no curso,
possibilidade de ascensão social, monetária, status, presti·
gio da profissão etc. 2. 9. Professor-aluno
O ensino, para Skinner, corresponde ao arranjo ou à
disposição de contingêncías para uma aprendizagem eficaz. Aos educandos caberia o controle do processo de apren-
Esse arranjo, por sua vez, depende de elementos observá- diz.agem, um controle cientifico da educação.
veis na presença dos quais o comportamento ocorre: um . Segundo tal abordagem, o professor teria a responsabi·
evento antecedente, uma resposta, um evento conseqüente lidade de planejar e desenvolver o sistema de ensino-apren-
(reforço) e fatores contextuais. dizagem, de forma tal que o desempenho do aluno seja ma-
1': necessário, no entanto, que se considere que o com· Xlrnizado, considerando-se Igualmente fatores tais como eco-
portamento humano é complexo e fluido, multas vezes su· noJJúa de tempo, esforços e custos.

30 31
Os passos de ensino, assim como os objetivos intcrme- A inStrução individualizada oonsiste, pois, numa estra.
ólários e finais, serão decididos com base em critérios que tégia de ensino, na qual se objetiva a adaptação de procedi-
fixam os comportament-0s de entrada e aqueles os quais o mentos instr11c!onals para que os mesmos se ajustem às
aluno deverá exibir ao longo do processo de ensino. O pro· necessidades individuais de cada aluno, maximizando sua
fessor, neste processo, é considerado como um planejador aprendizagem, desempenho, desenvolvimento. Isso pode im·
e um analista de contingências ou mesmo, como se denomi· plicar tanto instrução em grupo como aprendizagem com.
nou mais recentemente, um engenheiro comportamental. pletamente individualizada. Pode permitir variações em rit-
A função básica do professor consistiria em arranjar as mo de aprendizagem, objetivos a serem alcançados, métodos
conting1focias de reforço de modo a possibilitar ou aumen- e materiais de estudo, nível exigido de rendimento e desem·
tar a probabilidade de ocorrência de uma resposta a se! penho. Igualmente, pode ser utilizada em todas as matérias,
aprendida. Deverá, portanto, dispor e planejar melhor as em algumas matérias, com todos ou alguns alunos.
contingências desses reforços em relação às respostas de· Essa abordagem enfatfaa o uso de estratégias as quais
sejadas. permítem que um maior número possível de alunos atinja
altos níveis de desempenho.
2 . 10 . J\Ietodologla Uma dessas estratégias é o ensino para a competência
que, geralmente, utiliza o módulo instrucional como mate.
Ê uma categoria bastante ampla nessa abordagem, pois rlal de ensino. Houston e Howsam {1972, p. 4-6) colocam
aqui se incluem tanto a aplicação da tecnologia educacional que tal estratégia se fundamenta no fato de que a aprendi-
e estratégias de ensino, quanto formas de reforço no rela- zagem é um fenômeno individual e é favorecida pelo conhe.
cionamento professor-aluno. Não se pretende exaurir as cimento preciso, por parte do aluno, do que dele se espera,
aplicaçê\es, mas apenas situar as prlncipal5 decorrências de assim como dos resultados por ele atingidos.
tal tipo de abordagem para consideração de situações de O ensino baseado na competência é caracterizado por:
ensino concretas, ou seja, as aulas. especificação dos objetivos em termos comportamentais; es·
Decorrente da proposta skinnerlana está a elaboração peciticação dos meios para se determinar se o desempenho
de uma tecnologia de ensino, que pode ser considerada, de está de acordo com os níveis Indicados de critérios; fome.
acordo com a Comission on Instructlonal Technology 0970 > cimento de uma ou mais formas de ensino pertinentes aos
como objetivos; conhecimento público dos objetivos, critérios, for·
urna maneira sistemática de planojnr, conduzir e avallar o prc>- mas de atingi-los e atividades alternativas. A experiência de
cesso total de ensino o aprcndlza~em, em termos do ob,iotivos aprendizagem, pois, é considerada em termos de competên-
específicos, li. base de pesquisas em aprendizagem e comunica- cia.
ção, empregando uma combinação dll meios humanos e não-hu- O .módulo de ensino frequentemente usado neste tipo
manos, pars produzir uma instrução mais eficiente. d~ ensino pode ser C-Onsiderado como um conjunto de ati-
A índivíduallzação do ensino surge, na abordagem com·
vidades que facilitam a aquisição de um ou vários objetivos
de ensino.
portamentalista, como decorrente de uma coerência teórico·
.metodológica. Tal individualização Implica: especificação Skinner não se preocupa em justificar por que o aluno
de objetivos; envolvimento do aluno; controle de contlngên· aprende, mas sim em fornecer uma tecnologia que seja ca-
cias; feedback constante que forneça elementos que especi· P~z. de explicar como fazer o estudante estudar e que seja
fiquem o domínio de uma determinada habilidade; apresen· ef1c1ente na produção de mudanças comportamentais.
tação do material em pequenos passos e respeito ao ritmo Em termos metodológicos, grande ênfase é dada à pro-
individual de cada aluno. gnunação.

32 33
A Instrução Programada, decorrente da proposta skin·
nerlana, consiste num corpo de conceitos que sintetizam as A avaliação é igualmente realizada no decorrer do pro-
idéias básicas sobre a apresentação de estlmuJos para a cesso Já que são definidos objetivos finais (terminais) e
aprendizagem, condensando o planejamento, Implementação lnte~edlárlos. Esta avaliação é elemento constituinte da.
e avaliação do ensino. l!! pr6prtà aprendizagem, uma vez que fornece dados para o
arranjo de contingências de reforços para os próxímos com-
um esquema para !azar erettvo uso de relorços, modelagem e
manutenção de comportamento, de maneira a maximizar os e!ei-
portamentos a serem modelados. Nesse caso, a avaliação
todos de reforço. couveira, 1973, p. 54) surge como parte integrante das próprias condições para a
ocorrência da aprendizagem, pois os comportamentos dos
Como principio tem-se que a mat.éria a ser aprendida alunos são modelados à medida em que estes têm conheci-
seja dividida em pequenos passos a fim de ser possível re. mento dos resultados de seu comportamento.
forçar todas as respostas e todos os comportamentos ope- A avaliação também ocorre no final do processo, com
rantes emitidos pelo aprendiz. a finalidade de se conhecer se os comportamentos finais
Basicamente, o instrutor dispõe de três formas para desejados foram adquiridos pelos alunos.
arranjar ou combinar reforços e contingências: encadeamen·
to, modelagem, fading ou enfraquecimento do estimulo ou 2 .12 . Considerações finais
ainda mudança graduada do estímulo. Dessa forma será
posslvel gerar um alto nível de aprendizagem por parte do As categorias apresentadas colocam em evidência a con·
e.Juno sem se recorrer a contingências averslvas no processo slderação do homem como produto do melo e reativo a ele.
de instrução. o melo pode ser controlado e manipulado e, conseqüente-
Os objetivos de ensino têm importante papel em todo mente, também o homem pode ser controlado e manipula-
planejamento do processo instruclonal. Mager 0971) pro- do. somente dessa forma, compreendendo cada vez mais
põe sejam considerados três elementos q~do do esta~le· e de forma sistemática esse controle e essa manipulação,
cimento de objetivos: o que se quer ensinar, em que ruvel Sltinner pensa que o homem será livre. Subjacente a isso
se quer que o aluno aprenda, e quais as condições (mate· está todo um planejamento sócio-cultural para o qual se de-
riais, procedimentos e estimulos) às quais o aluno deve res- senvolve uma engenharia comportamental e social sofistica-
ponder. da, já que atualmente dispõe-se de t.écnlcas refinadas de con·
trole, assim como de instrumental que possibilite. tal desen-
volvimento.
2.11. Avaliação
Educação, ensino-aprendizagem, Instrução, passam, por-
Decorrente do pressuposto de que o aluno progride em tanto, a significar arranjo de contingências para que a trans·
seu ritmo próprio, em pequenos passos, sem cometer erros, missão cultural seja possível, assim como as modi!lcações
a avaliação consiste, nesta abordagem, em se constatar se que forem Julgadas necessárias pela cúpula decisória.
o aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos quando O ensino é tratado em função de uma tecnologia que,
o programa rol conduzido at-é o final de forma adequada. além da aplicação de conhecimentos clenti!icos à prática pe-
A avaliação está diretamente ligada aos objetivos es~ dagógica, envolve um conjunto de técnicas diretamente apli-
belecldos. Na maioria das vezes, inicia o próprio processo cáveis em situações concretas de sala de aula.
de aprendizagem, uma vez que se procura, através de uma Na concepção skinneriana, pedagogia, educação e ensi-
pré·t~stagem, conhecer os comportamentos prévios, a ~rtl! no são identificados com métodos e tecnologia.
dos quals serão planejadas e executadas as etapas segumtes A metodologia e os princípios utilizados nessa aborda-
do processo de ensino-aprendizagem. gem derivam da análise experimental do comportamento.
A aplicação deste tipo de análise ao ensino produziu, até
34
35
o momento, grande quantidade de pesquisa básica e aplica-
da, o que, a partir dos anos cinqüenta aproximadamente,
permitiu a elaboração de uma tecnologia de ensino, que, por Capítulo 3
sua vez, tem fornecido dados para a própria análise com-
portamental.
Como conseqüência dessa abordagem, tice claro que o Abordagem humanista
que não é programado não é desejável.
Tal como na abordagem tradicional, encontra.se aqui
ênfase no produto obtido, na transmissão cultural, na in-
fluência do meio, no diretivismo, por parte do centro deci-
sório, sobre o que será aprendido e o que deverá ser trans-
mitido às novas gerações. Esta abordagem se baseia, no
entanto, não em uma prática cristalizada através dos tem-
pos, mas em resultados experimentais do planejamento de
contingências de retorço.
A ênCase dada à transmissão de informações, à apresen-
tação de demonstrações do protessor ao ver e escutar do
aluno na abordagem tradicional, é substitulda pela direção 3. t . Características gerais
mais eficiente do ensino fornecida pela programação. Em
ambas as formas, no entanto, nota-se diretivismo e decisões Nesta abordagem, consideram-se as tendências ou enfo-
tomadas para o aluno. ques encontrados predominantemente no sujeito, sem que.
As relações duais simultâneas temporalmente e justa- todavia, essa ênfase signifique nativismo ou apriorismo pu-
postas espacialmente da abordagem tradicional continuam ros. Isso não quer dizer, no entanto, que essas tendências
nesta abordagem duais , onde a cooperação entre os alunos não sejam, de certa forma, interacionistas, na análise do
não é enfatizada. Essas relações duais são mediadas pela desenvolvimento humano e do conhecimento.
programação do ensino, e esta mediação permite, porém, a considerando-se a literatura mais difundida e estudada
consideração de cada aluno em particular, da individualiza- no Brasil, têm-se dois enfoques predominantes: o de C. Ro-
ção do ensino, o que não era possível na abordagem ante- gers e o de A. Neill.
rior. Embora Neill seja classificado comumente como "es-
pontaneista" (propõe Q1:1.~J!Ja:ian_ça se_!!esenvolYa sem lnter-
yenções) e sua obra consista muito mais num relato de uma
ciiperiência e na exposição de idéias sobre homem, educação
e vida, do que uma proposta sistematizada, incluem·se aqui
algumas das suas concepções, dada a ênfase no papel do
sujeito como principal elaborador do conhecimento humano.
A proposta rogeriana é identiCicada como representati-
va da psicologia humanista, a denominada terceira força
ern psi.cologJa:- o "ensino-centrado no aluno" é derivado da
teoria, também rogeriana, sobre p_ersonalidadêê-éonduta.
Essa abordagem dá ênCase a relações interpessoais e ao
crescimento que delas resulta. centrado no desenv9lvimento

36 37
da personalldade do iodi~duo, em seus processos de cons- 2. Ser uma pessoa na qual os sentimentos e as expe-
t'rução e organização pessoal da realidade, e em sua capacl- riência.S exerçam um papel muito importante, como fator
dade de atuar, como uma pessoa integrada. Dá-se igualmen- de crescimento.
te ênfase à vida psicológica e emocional do individuo e à 3. Ser uma pessoa que possui uma capacidade, uma
preocupação com a sua orientação interna, com o autocon- tendência a desenvolver-se, a autodiriglr-se, a reajustar-se,
ceito, com o desenvolvimento de uma visão autêntica de si tendência e capacidade estas que devem ser liberadas não
mesmo, orientada para a realidade lndlvldual e grupal. diretivamente.
O professor em si não transmite conteúdo, dá assistên- 4 . Ser uma pessoa considerada num presente imedia-
cia, sendo uro facilitador da aprendizagem. o conteúdo adv.éJD t-0, aqui e agora.
das próprias experiências dos alunos. A atividade é consi- s. Ser uma pessoa interagindo com outras pessoas, com-
derada um processo natural que se rea1lza através dã lnte. preendida e aceita como tal, por parte de quem a ajud11.
ração com o melo. O conteúdo da educação deveria cbnsis- A crença na fé e a con!iança (termos de Rogers) na capa-
tir em experiências que o aluno reconstról. O professor não cidade da pessoa, em seu próprío crescimento, constituem o
ensina: apenas cria condições para que os ahmos aprendam. pressuposto básico da teoria rogertana.
Em Terapia Centrada no Paciente Cp. 467-506), Rogers
3.2. H omem coloca suas proposições acerca do homem e das possiblli·
dades que esse homem tem de tratar de forma construtiva
O homem é considerado como uma pessoa situada no
a sua situação vital:
mundo. :!!: único, quer j!m sua vida interior, quer em suas 1. Todo o indlv!duo e:dste num mundo de experiência do
percepçes e avaliações do mundo. A pessoa é considerada qual é o centro e que estll em permanente muclança.
em processo continuo de ~~a de seUJ?IQprio se_r. li- 2. O organismo reaae ao campo perceptivo tal como este é
gando-se a outras pessoas e grupos. experimentado e ap~ndldo. Este campo é, para o individuo.
"realidade".
Quanto à epistemologia subjacente a essa posição, a 3. O organismo reaiie ao seu campo fenomenal como um
experiência pessoal e subjetiva é o fundamento sobre o qual todo organizado.
o conhecimento abstrato é construido. Não existem, portan- 4. O organismo tem uma tendência de base: realizar, man·
to, modelos prontos nem regras a seguir, mas um processo ter e realçar a expérlência organlsmica.
de vir-a-ser. O Objetivo último do ser humano é a auto-rea. 5 . .A conduta é f\lndamontaJmente o esrorço dirigido a um
lização ou o uso pleno de suas potencialidades e capaclda· rim do organismo para satisfazer a.s suas neoossldades tal como
des. as experimentadas no campo apreendido.
O homem não nasce com um fim determinado, mas go- 6. A emoção acompanha, e de modo geral facilita, a con-
za de liberdade plena e se apresenta como um projeto per· duta dirigida para um fim.
manente e inacabado. Não é um resultado, cria-se a si pró- 7. O melhor Angulo para a compreensão da conduta é a
partir do quadro de refer!ncta interno do próprio individuo.
prio. :!!:, portanto, possuidor de uma existência não con<ii·
8 . Uma parte do campo total da percepção vai-se dlferen-
cfonada a priori. ciando gradualmente como "eco".
Segundo Puente (1978, p. 53), na abordagem rogeriana, 9 , Como um resultado da Interação com o ambiente e de
ser humano significa: modo particular como rosultado da Interação valorat!va com
os outros, forma-se a e!trutura do ego - um modelo conceí·
1. Ser uma totalidade, um organismo em processo de tua!, organizado, fluido, mM consistente. de percepçõe.s, de ca-
integração; ser independente, diferente, autônomo e, como racterísticas e relações do "eu" ou de "mim", juntamente com
tal, devendo ser aceito e respeitado. valores llradOs a esses conceitos.

38
39
10 . Os valores ligados h experiência e os valores que são bascadô em larga medida em introjeções que foram slmbOliza·
uma parte da estrutura do ego sãO~-;;m alguns casos. valores ex· das de uma forma distorcida - por um processo cont.fnuo de
perimentados diretamente pelo organismo. e em outros casos, valorização organísmicn.
são vutoro.s lntrojetados ou pedldos o. outros, mas captados de
uma torrna distorcida, oorno se fossem experimentados direta- Como básico na concepção de homem, tem-se o con-
mente. ceito de tendência atualizante, que consiste na aceitação do
11 . A medida que vão ooorrendo experiências na vida de pressuposto de que a pessoa pode desenvolver-se, crescer.
um indh1duo, eslAs são: a ) simbolizadas, apreendidas e orp·
nizadas numa certa relação com o ego; b) lgnoradas porque
Essa tendência é comum a todos os viventes e constitui o
não se capta a relação com a estrutura do ego; e) recusndas sistema motor da personalidade humana.
à slmbollznção ou simbolizadas de umo. rorma distorcida por· Na terminologia rogeriana, o homem é o "arquiteto de
que a experiência. é incoerente com a estrutura do ego. si mesmo". !!: consciente da sua incompletude tanto no que
12 . A maior parte das formas de conduta adotadas pelo se refere ao mundo interior tsel/) quanto ao mundo exte·
organismo são as consistentes com o conceito do ego, rior, ao mesmo tempo que sabe que é um ser em transfor-
13. A conduta pOde surgir em alguns casos de experiên- mação e um agente transformador da realidade.
cias orgânicas e de nccossldades que não toram simbolizadas. Apesar da ênfase dada ao sujeito, não se pode dlcoto·
Essa conduta pode ser incoerente com a estrutura do ego, mas mizar rigidamente homem e mundo. O homem está num
nesses casos a conduta nilo é "apropriada" pe' ' !ndlvlduo.
14. A desadaptação psicológica exlste quando o organismo
constante processo de atualização e se atualiza no mundo.
rejeita, da consciência, experiências sensoriais e viscerais lm·
portantes que. por conseau!nte, não se simbolizam nem se or-
ganizam na "Gcstalt" da estrutura do ego. Quando se verifica
3 .3. l\1undo
esta situação. há uma tensão psicológica do base ou potencial.
Para Rogers a realidade é um fenômeno subjetivo, pois
15 . A adaptação psicológica existe quando o conceito do
ego é tal que todas as experiências viscerais e sensoriais do or·
o ser humano reconstrói em si o mundo exterior, partindo
ganismo são. ou podem ser. assimiladas de uma forma simbó-
de sua percepção, recebendo os estímulos, as experiências,
lica dentro do conceito do ego. atribuindo-lhes sígnilicado. Em cada individuo, há uma cons-
16. Qualquer experiência que sej a lnconslswnte com a or- ciência autonôma e Interna que lhe permite slgniíícar e
ganlzação ou eslrutura do ego pode ser apreendida como uma optar, e a educação deverá criar condições para que essa
ameaça e, quanto mais numerosas toren1 essas percepções, mais consciência se preserve e cresça.
rigidamente a estrutura do ego se organlza de modo a manter· O mundo é algo produzido pelo homem diante de si
·se a si mes ma. mesmo. O homem é o seu configurador, que faz com que
17 . Em determinadas condições que impliquem, principal· ele se hlstoricize: é o mundo, o projeto humano em relação
mente. a total ausência de q ualquer ameaça à estrutura do ego, a outros homens e às coisas que ganha historicidade nwna
podem captar-se e aoallsar-se experiências que são coerenw
temporalidade. O mundo teria o papel fundamental de criar
com esst:i. estrutura e cstf' pode ser revista de maneira a assi-
milar e a incluir tllls experiências.
condições de expressão para a pessoa, cuja tarefa vttaJ con·
18. Quando o individuo apreende e aoeltu, num sistema. COO·
siste no pleno desenvolvimento de seu potencial inerente.
rente e integrado, todas as suas experiências viscerais e - 1!: necessário considerar que nem sempre há coincidên-
riais, nooessariamente compreende melhor os outros e -1ta- cia entre a interpretação pessoal do mundo e o mundo obje.
-OS maa como pessoas d lstlntaS. tiva, se é que se pode dlzer que há algo totalmente objetivo.
19 A medida que o ln<liv!duo apreende e aceita na estru· Na realidade, cada representação/ interpretação individual
tura do ego um maior número de experiências orgãnico.s. des- t:m seu grau mais próximo ou mais distante de aproxima-
cobre que está a substituir o seu atual sistema de valores cao com o objetivo.

40 41
Essa proposta coloca ênfase no processo e não nos esta-
um dos aspectos básicos da pessoa, que se desenvolve dos finais de ser e estaria. orientada para a "sociedade aber·
no mundo, é o "eu", que inclui todas as percepções que o ta" como d'lfinlda por Popper ( 1974 >. na qual uma das ca·
indivíduo tem de seu próprio organismo, de sua experiência, racterfsticas básicas seria a de que os indivíduos assumissem
além de considerar a forma como as percepções pessoais se e. responsabilidade das decisões pessoais.
relacionam com as percepções de outros objetos, pessoas, Roger não aceita, num projeto de planificação social, o
acontecimentos de seu ambiente e do contexto espacial e controle e a manipulação das pessoas, ainda que isso seja
temporal mais amplo. O "eu" do Individuo, portanto, irá feito com a justificativa de tomar as pessoas "mais felizes".
perceber diferencialmente o mundo. A ênfase é no sujeito, o homem, par11 Rogers, não deve, de forma alguma, mi-
mas uma das condições necessárias para o desenvolvimento nimizar o papel desempenhado pelo subjetivo, ainda. que
indlvldual é o ambiente. A visão de mundo e da realidade considerado pré-cientüico.
é desenvolvida impregnada de conotações particulares na
medida em que o homem experencia o mundo e os elementos . . . a metodologia e as técnicas clenUtlcas devem ser postas a
experenclados vão adquirindo significados para o indivíduo. servlQo do subjetivo pessoal de cada Individuo. (Puente, 1980,
p. 107)

3. 4. Sociedade-cultura Nelll não tentou educar crianças para que estas se ajus·
tassem adequadamente à ordem vigente tampouco a uma
Rogers não trata ·especificamente da sociedade mas preo- sociedade Idealmente concebida. Seu objetivo consistiu na
cupa-se com o indivíduo e tem enorme confiança neste e educação de crianças para que se tomassem seres hUI.."lBllOS
no pequeno grupo. fellu::, cuja noção de valores não fosse baseada na ·pro-
Tentar Imaginar as contribuições da pslcolocta, ou das ciên- priedade, no consumo, mas no ser. Mesmo quando, como
cias do comportamento, para uma democracia viável é algo ocorreu com grande parte das crianças educadas em Sum·
multo mais dl!lcll. São realmente multo pouco• os psicólogos merhill. não se tomam um sucesso do ponto de vista da
que contribuiram com idéias que ajudam a libertar as pessoas, sociedade contemporânea., Neill presumlu que elas tivessem
tornando-as psicologicamente lh-res e auto.responsáveis, lncen- adquirido senso de autenticidade.
tlvando·as a tomar decisões e solucionar problemas. (Rogers,
em Evans, l979b, p. 87)
3. 5. Conhecimento
Em sua crítica ao planejamento social e cultural pro-
posto por Sklnner, Rogers coloca que a única autoridade ne- A experiência pessoal e subjetiva é o fundamento sobre
cessária aos lndlviduos é a de estabelecer qualidade de re- o qual o conhecimento é construido, no decorrer do proces-
lacionamento interpessoal. Os indlvlduos que são submeti- so de vir-a-ser da pessoa humana.
dos às condições desse tipo de relacionamento tornam-se Para Rogers, a percepção é realidade, no que se refere
mais auto-responsáveis, e apresentam progressos em direção ao Indivíduo. Ele próprio admite não saber se existe uma
à auto-realização, tornando-se igualmente mais flexíveis e realidade objetiva. Caso exista, sua posição é a de que ne-
adaptáveis, criativamente. nhum indivíduo a conhece realmente, pois se conhece ape.
... essa escollla Inicial Inauguraria o começo de um sistema so- nas o que é percebido. É atribuído ao sujeito, portanto, pa-
cial, ou subslstema, no qual valores, conhecimento, capaeldade pel central e primordial na elaboração e criação do conhe-
de adaptação, e até mesmo o conceito de ciência esta.riam con- cimento. Ao experenciar, o homem conhece. A experiência
tinuamente se transronnando e autotranscendendo. A ênfase eY constitui, pois, um conjunto de realidades vividas pelo ho-
tlU'ia no homem como um processo de tornar-se pessoa. (Ro- mem, realidades essas que possuem significados reais e con·
gera, em Evans, 1979b, p. 152)
43
42
eretos para ele e que funciona, ao mesmo tempo. como pon- cto aluno, e como objetivo básico liberar a sua capacidade
to de partida para mudança e crescimento, já que nada é de auto-aprendizagem de forma que seja possível seu desen-
acabado e o conhecimento possui uma característica dinã· volvimento tanto Intelectual quanto emocional. Seria a cria·
mica. ção de condições nas quais os alunos pudessem tornar-se
O único homem que se educa é aquele que aprendeu como apren· pessoas de iniciativa, de responsabilidade, de autodetermi-
der; que aprendeu como se o.dapt.or e mudar; que se capaci- 0BÇão, de discernimento, que soubessem aplicar-se a apren-
tou de que nenhum conhecimento é seguro, que nenhum pro- der as coisas que lhes servirão para a solução de seus pro-
ci!S'IO de buscar conhecimento oferece uma base de segurança. blemas e que tais conhecimentos os capacitassem a se adap·
Mutabilidade. depencUncta de um processo antes que de um ta.r com flexibilidade às novas situações, aos novos proble-
conheclmenlo est,tlco. els a llnlca coisa que tem certo sentido mas, servindo-se da própría experiência, com espírito livre
como objetivo da educação, no mundo moderno. (Rogers, 1972, e criativo. Seria, enfim, a criação de condições nas quais
p. 104·51 o aluno pudesse tom ar-se pessoa que soubesse colaborar
com os outros, sem por Isto deixar de ser indivíduo.
O conhecimento é Inerente à atividade humana. O se-r Tudo o que estiver a serviço do crescimento pessoal.
humano tem curiosidade natural para o conhecimento. interpessoal ou intergrupal é educação. O objetivo da edu-
Fico irritadíssimo com a idéia de que o estudante deve ser ...mo;• cação será urna aprendizagem que abranja conceitos e ex-
livado". O jovem é intrlnslcamente motivado. em alto grau. periências, tendo como pressuposto um processo de apren-
Muitos elementos do seu meio ambiente constituem desafios dizagem pessoal. Nesse processo, os motivos de aprender
para ele. 1'! curioso, tem a Ansia de descobrir, de conhecer, de deverão ser os do próprio aluno. Essa aprendizagem 1mp1J.
resolver problemas. O lado triste da maior parte da edu<11Çâo ca necessariamente mudanças.
está em que. após a criança haver passado anos e anos na es· Tanto em Rogers quanto em NeUI pode-se constatar a
cola, essa motivação lntr!nsoca está muito bem amortecida. Mas
continua a existir, e nossa tarefa. como facilitadores de apren· ênfase na unicidade e dignidade do homem, o primado do
dizagem. é a de suscitar essa motivação, descobrir que desafios sujeito. O processo da educação centrada no sujeito leva à
são reais para o Jovem e proporcionar-lhe a oportunidade de valorização ela busca progressiva de autonomia (dar-se re-
enfrentá-los. <Rogers, 1972, p. 131/ gras a si mesmo, assumir na sua existência as regras que
propõe ao próprio grupo e a si mesmo) em oposição à ano.
mia <ausência de regras) e à heteronomla (normas dadas
3. 6. Educação por outros).
Uma situação formal de educação sería entendida, na.
A educação assume slgniiicado amplo. Trata-se da edu· proposta rogeriana, como um encontro deliberado e inten-
cação do homem e não apenas da pessoa em situação esco· cional entre pessoas que Objetivam experiências significati-
lar, numa Instituição de ensino. Trata-se da educação cen· vas, crescimento, atualização e mudança, que devem carac-
trada na pessoa, já que essa abordagem é caracterizada pe- terizar um processo buscado, escolhido e não obrígado ou
lo primado do sujeito. No ensino, será o "ensino centrado imposto. As características inerentes a este processo são
no aluno". a autodescoberta e a autodeterminação.
A filosofia da educação subjacente ao rogerianismo, de- A obra de NelU, embora não esteja ordenada logicamen-
nominada de !ilosofia da educação democrática. consiste em te em termos de uma teoria, constitui uma reflexão sobre
deixar a responsabilidade da educação fundamentalmente educação, mundo, homem e urna práxis que podem, igual·
ao próprio estudante. A educação tem como finalidade pri· mente, oferecer subsídios para urna ação pedagógica crítica
meira a crl~o de condições que facilitem a aprendizagem e consciente.

44 45
Nelll faz uma análise da educação como tal e considera Pode-se notar, pois, em dois autores cuja literatura é
a educação realizada no século XIX como produto da auto- veiculada em cursos de Licenciatura, onde um _deles parte
ridade manifesta <manipulação exercida direta e expllcl~ da terapia e dela extrapola princípios e _conceitos para a
mente) e a do século XX como autoridade anônima (mani- realidade educacional e o outro que realizou uma_ prática
pulação psíquica: persuasão e sugestão). e tenta fundamen- educacional reduzida a um pequeno grupo, a constderaçã?
tar sua práxis educacional no mais profundo respeito àqui- de educação como um processo envolvente no qual o sujei-
lo que cada ser humano é e manifesta, tentando uma expe- to sempre tem de ocupar posição central e, por outro lado.
riência em que a autoridade não mascara um sistema de uma critica à sociedade atual que cada vez ~ais_coloca si-
manipulação. Cada aluno é único e o relacionamento com tuações de contorno que impedem a auto-reahzaçao.
cada um deles é igualmente único.
E. Fromm, no prefácio de Liberdade sem M edo (Neill,
3 7. Escola
1963), sintetiza os pontos básicos do sistema de Neil, !Or·
necendo uma visão ampla de todo o esplrito subjacente à A escola decorrente de tal posicionamento será uma es-
sua experiência educacional. Dentre eles se destacam os se- cola que respeite a criança tal qual é, e orereça condl~s
guintes: para que ela possa desenvolver-se em s~u processo de. ~1r·a­
1, Nelll mantém uma fé lnquebrantável na "bondade da
·ser. Jt uma escola que ofereça condlçoes que poss1b1litem
ctÍllnça"_ Acredita que a criança nAo nasce deformada, covar· a autonomia do aluno. .
de, nem como autõmato destituído de alma, mas tem amplas po- Analisando suas experiências em relação ao enstno, Ro-
tencialidades de amar a vida e por ela se interessar. gers (1072, p. 152) coloca que:
2. O alvo da educação - o que vem a ser o alvo da vida Se as experiências dos outros Corem !JUS.Is às minhas. e
- d trabalhar jubllosamente e encontrar a felicidade. Ter fe- nelas se descobrirem slgnlllcados Idênticos. dai decorreriam
licidade, SOiUJldo Nelll, significa estar Interessado na vida. multas conscqüênclns:
3 . Na educação, o desenvolvimento inrelectual não é o bas- 1. Tal experiência implica que se deveria abolir o ensino.
tante. A educação deve ser ao mesmo tempo intelectual e emo- As pessoas que quisessem aprender se reuniriam umas com as
cional, considerando-se as necessidades pslquicas da criança. outras.
4 . Disciplina e castigo, dogmaticamente expostos, g<>.ram ~ . Abolir-se-iam os exames. Esres só podem dar a medi-
medo e medo gera hostilidade. Tal hostilidade pode não 11er da ele um Upo de aprendizagem inc<>nseq,Uente.
consciente e manifesta mas, apesar disso, paralisa o esforço 3. Pela. mesma razão, nbOlir.se.. iam notus e créditos.
e autenticidade do sentimento. A disciplina extensiva imp<>S- 4. Em parte, pela mesma razão, abolir·s•-ia.rn os diplomas
ta às crt.ança.s é prejudicial e impede o desenvolvimento i>&· dados como títulos de compeWncia. outra razão está em que
quico sadio. o diploma assinala o ltm ou a conclusão de alguma coisa e o
5. Liberdade não signlllca licenciosidade: o respeito pela aprendiz só se Interessa por um processo continuadO de apren-
pessoa deve ser mútuo. dizagem.
5 , Abolir-se-ia o sistema de expor conclusões, pois se ve·
6. Há necessidade do uso de verdadeira sinceridade por
rif!caria que ninguém adquire conhecimentos significativos. atrll-
parte do professor.
vés de coDClusões.
7. O desenvolvimento humano toma nece.ssllrlo que a
criança corte, eventualmente, os laços essenciais que a ligam Por sua vez, Neill, analisando a escola, afirma que:
a seu pai e a sua mãe, ou a substitutos posteriores, na socle· Obviamente uma escola que faz com que alunos ativos fi-
dade, a fim de tomar-se, de rato, independente. quem sentados em carteiras, estudando assuntos em sua maior
8. Sentimento de culpa tem, antes de mais nada, a !unção pari.o inúteis, e uma escola má. Será boa apenas para os que
de prender a criança à autoridade. acreditam em escolas desse tipo, para os cidadãos não criado-

46 47
res que desejam crianças dóceis, não-criadoras, promas a se que dessa forma, ela possa estruturar-se e Dglr. Esta é . a
adaptarem a uma civilização cujo marco oo sucesso é o dlnhci·
rma'lidade do método não-diretivo.
ro. (Nelll p. 41 A nã<Xliretividade, portanto, consiste num conjunto de
. .criadores aprendem o que desejam aprender para ter os
instrumentos que o seu poder de inventar e o seu gênio exigem.
técnicas que implementa a atitude básica de confiança e res-
Não sabemos quanta capacidade de criação é morta nas aalas peito pelo aluno.
de aula. (Nelll p. 25! A nll.o-<llretlvldade pretende ser um mêtõdo não estruturan·
.. Impor qualquer coisa atrás de autoridade 4 errado. !Neill, ta do processo de aprend.12agem. pelo qual o professor se abs-
p, 111) tém de intervir diretamente no campo cognitivo e afetivo do
aluno, Introduzindo valores. objetivos etc., constituindo-se ape-
A experiência de Neill mostrou a possibilidade de uma nas num mdtodo Jnformante do processo de aprendizagem do
escola se governar pelo princípio da autonomia democráti· aluno, pelo qual o professor não dirige propriamente esse pro·
ca, pois as leis são estabelecidas por um parlamento escolar oei;so, mas apenas se limita a facilitar a comunicação do es-
que se reúne periodicamente. O principio básico consiste na tudante consigo mesmo, para ele mesmo estruturar ~u com·
portamento experiencial. (Puente, 19'78, p. 73)
idéia da não interferência com o crescimento da criança e
de nenhuma pressão sobre ela. Pela própria essência dessa O ensino, numa abordagem como essa, consiste num
abordagem, essa experiência não poderia ser realizada em produto de personalidades únicas, respondendo a clrcunstê.n·
escolas comuns. elas também únicas, num tipo especial de relacionamento.
O caráter utópico da proposta de Neil! fica claro quan. Os conceitos básicos da teoria da aprendizagem resuJtan.
do se considera, dentre outros, o reduzido número de alu· tes da análise realizada por Mahoney (1976, p. 91) são: po-
nos que a escola tem condições de absorver, os rumos que tencialidade para aprender. tendência à realização (desta
a escola tomou após sua morte, as tentativas de contlnul· potencialidade), capacidade organfsmlca de valoração, apren-
dade da experiência, atualmente por parte de sua filha e as dlzagem significativa, resistência, abertura à experiência,
dificuldades de aceitação, mesmo ou principalmente dentro auto-avaliação, criatividade, autoconfiança, independência.
da Inglaterra, do que foi por ele idealizado e praticado. Utilizando estes conceitos básicos, a Autora os reorganizou
Quanto à proposta rogeriana, várias tentativas de apii· pela aplicação do Instrumental lóg!co·formal. A partir da
cação têm sido feitas, at~ o momento, utiiizando·se os espa. análise realizada, !oi·lhe possível afirmar a existência de
ços passiveis dentro de cada escola. uma teoria da aprendizagem na proposta rogeriana para
... trabalhar dentro destes limites, estabelecendo um clima educação. Os princípios básicos resultantes !oram:
de aprendizagem, de compromisso, até que seja possível uma. 1. TOdo aluno tem potencialidade para aprender a lend~n­
inteira liberdade para aprender. <Puente, 1976, p. 17) cia e realizar essa potencialidade.
2 . Todo aluno POSSUI capacidade organJsmlca de valoração.
Esta é a solução apresentada por Rogers no que se re- 3 . Todo aluno manltesta resistência à aprendizagem sig·
fere à utilização de sua proposta na situação institucional nltlcat!va.
escolar atual. t . Se é pequena a resistência do aluno à aprendi%8gem slg·
nlttcatlva, então ele realiza sua potencialidade para aprender.
5. O aluno, ao realizar sua potencialidade para aprender,
3. 8. Ensino.aprendizagem torna.se aberto à experiência. e reolproeamente.
6 A auto.avaliação é função ela capacidade organtsmlca de
Como decorrente elas proposições rogerianas sobre o valoração.
homem e o mundo, está um ensino centrado na pessoa (pri· ? . A criatividade é função da auto-avali!IÇ!lo.
mado do s ujeito), o que implica técnicas de dirigir sem di· 8 . A autocon!lança ti função da auto-avaliação.
rigir , ou seja, dirigir a pessoa à sua próprie. experiência para 9. A Independência ti função da auto-avaliação.

48 49
4. "Acabei por sentir que a única aprendizagem que ln·
As conseqüências lógicss derivadas destes princlpios bá· fiui signillcativamente sobre o comportamento é a que lor au-
slcos segundo Mahoney C1976, p. 96-7) foram: todlriglda e auto-apropriada".
L Tudo o que é slgnjticativo pani os objetivos do aluno s. "Toda aprendizagem autodescobert.a, a verdade pessoal·
tende a roallzar sua potencialidade para aprender. menle apropriada e asstmJlada no curso de uma experl6ncla, não
2. Se o processo de aprendlulgem significativa provoca pode ser c:Uretamente comunic•t1n a outro".
mudança do EU. então essa aprendl2agem é ameaçadora e 6. "Dai chego a sentir que ns conseqüências do ensino ou
provoca reslstencla. não têm importância ou são noel vas",
s, Toda aprendizagem slgnillcattva é ameaçadora. 7 . "Quando revejo os resultados da minha atividade do-
4. Se é pequena a resistência do aluno à aprendl2agem cente, no passado, as conseqllllnclas reais são as mesmas - ou
significativa, ent!o ele torna.se abeno à ~rlêncl&. produziram dano ou nada ocorreu. Isso é lrancamenle afli-
tivo".
A aprendizagem significativa é considerada por ·Rogers s. " ... Só estou interessado em aprender, de preferência, coi·
como a que envolve toda a pessoa. sas que Importam, que têm alguma Influência signiflcat.lva sobre
Aprendizagem assume aqui um significado especial. o rneu comport.a.mento".
9. "Acbo multo compensador o aprencfuado, em crupos, em
A aprendizagem tem a relacionamento lnd!vidual, como na terapia, ou por conta pró-
()ualldade de um envol11imento peuool - a pes.$0$, oomo um priaº.
todo, tanto sob o aspecto senslvel ()uanto sob o aspecto oogni· 10. "Descubro que uma das melhores maneiras, embora das
tlvo. inclui-se de !ato na aprendlzarem. Ela é auto·iniciada. mais diUcels de aprender é, para mim, a de abandonar minhas
Mesmo quando o primeiro impulso ou o estimulo vem de fora, atitudes defensivas, pelo menos temporariamente, e tentar com-
o senso da deacoberta, do alcançar, do captar e do compreen- preender como outni pessoa concebe e sente a sua e.cperlência".
der vem de dentro. li: peneirante. Suscita modificação no com- 11. "Outra maneira de aprender, para mim, consisto em
portamento, nas atitudes, talve'Z mosmo na personalidade do edu- afirmar as minhas rróprias Incertezas, tentar elucidar as ml-
cando. :E avaliada pelo educando. ESte sabe se está Indo ao obas perplexldades e, assim, chegar a aproximar-me do slgni·
encontro de suas necessidades, em direção ao que quer saber, ficado que a minha experlênci'1 parece realmente ter"
se a aprendlza&em projeta luz sobre a sombria área de lgt» 12. "A sensação é a de flutuar numa complexa rede de ex.
rãnc!a da qual ele teve experiência. O !ocus da avaliação, ))Od&- pertencias oom a fa.scinanle posslbllldade de tentar oompreen-
·•e dizer, reside allnal, no educando. Significar é a sua Gssên- der sua complexidade sempre cm mudança". CRogers, 1972, p.
cia. Quando se veriiica a aprendizagem, o element.o ele slgnl· 150-2)
llcação deseovolve·se, para o educando, dentro da sua experiôn·
eia como um todo. (Rogers, 1972, p. 5)
3. 9. Professor .aluno
Rogers chega a algumas afirmações sobre enslno/ apren·
<ilzagem, a partir de sua própria experiência, questionando No que 5e refere à abordagem personalista aplicada.
certas práticas e justificando seus posicionamentos: mais diretamente ao ensino, ao professor, tem-se a obra de
L " Minha experiência tem sido a de ()Ue não posso ensl· A. ~mbs (1965). O professor é, primariamente, uma per.
nar a. outra pessoa como ensinar". sonahdade única. 1!: considerado como um único ser huma-
2. "Parece·me que qualquer coisa que eu possa ensinar a no que aprendeu a usar-se efetiva e eflcientemente para rea-
outro é relativamente irrelevante e tem pouca ou lnslgnl!lcan· lização de seus próprios propósitos e os da sociedade na
le influência sobre seu ·comportamento". educação dos outros. Dai não ser possível ensinar ao ~ro­
3. ~Compreendo, cada vez mais, que só me intereS50 pe- fessor um repertório de estratégias de ensino. Cada profes-
las aprendlzagens que influam significativamente sobre o com- sor, l>Or sua vez, desenvolverá seu próprio repertório, C:~
portamento'•.

51
50
uma forma ünica, decorrente da base perceptual de seu com· o aluno deve responsabilizar·se pelos objetivos referen·
portamento. t.es à aprendizagem, que têm significado para ele, e que, por-
Combs (1965) acredita que o professor não precisa ne· tanto, sàO os mais importantes.
cessariamente obter competências e conhecimentos. Crê A autoconstrução do individuo se fundamenta na ten-
qtte esses se desenvolverão somente em relação às concep. dência atualizante do organismo (procura de auto-realiza·
ções de si próprio e não decorrente de um currículo que lhe ção) e na capacidade de regulação do indivíduo. O aluno,
é imposto. portanto, deve ser compreendido como um ser que se auto.
O pr9cesso de ensino, portanto, irá depender do cará· desenvolve e cujo processo de aprendizagem deve-se facili-
ter Individual do professor, como ele se inter-relaciona com tar.
o caráter Individual do aluno. Não se pode especificar as As qualidades do professor Cfacilitador l podem ser sln·
competências de um professor, pois elas dizem respeito a tetizadas em autenticidade, compreensào empática - com-
uma forma de relacionamento de professor e aluno, que preensão da conduta do outro a partir do referencial desse
sempre é pessoal e única. outro - e o apreço Caceitação e confiança em relação ao
A competência básica consistiria, unicamente. na habl· aluno).
lidade de compreender-se e de compreender os outros. Trel·
nar os professores implicaria ajudá-los a desenvolver um
sei/ adequado, a desenvolver formas fldedjgnas de percepção 3 .10. l\1etodologla
de si próprios e dos outros e habllldade de ensinar conteú- As estratégias instrucionais, nessa proposta, assumem
dos, quando isso for necessário. importância secundária.
O professor, nessa abordagem, assume a função de fa- · Não se enfatiza técnica ou método para se facilitar a
cilitador da aprendizagem, e nesse clima facilitador, o estu- aprendizagem.
dante entrará em contacto com problemas vitais que tenham Rogers parte do pressuposto de que o ensino é uma
repercussão na sua existência. Dai o professor ser compre. "atividade sem Importância enormemente supervalorizada"
endido como um facilitador da aprendizagem, devendo, pa- (1972, p. 103). Cada educador eficiente, por sua vez, deve
ra isso, ser autêntico (aberto às suas experiências) e con· desenvolver um estHo próprio para "facilitar" a aprendiza·
gruente, ou seja, integrado. gem dos alunos.
A autenticidade e a congruência são consideradas con- Neil! é muito mais radical no que se refere a suas con·
dições facilitadoras da aprendizagem, as quais, por sua vez, cepções sobre o ensino:
Irão facilitar um processo de autenticidade ou congruência ... não temos novos mêtodos de ensino. porque não acha-
na pessoa ajudada. Isso igualmente implica que o professor mos que o ensino, em si mesmo. tenha grande ímportiincia. Que
deva aceitar o aluno tal como é e compreender os sentimen- uma escola tenha ou nClo algum método especial pnra ensinar
tos que ele possui. Aceitando o aluno e compreendendo-o a dividir é coisa de somenos, pois a divisão não ó Importante
empaticamente, o professor fará, de sua parte, tudo para a senão para aqueles que querem aprendê-la. E a criança que
criação de um clima favorável de aprendizagem. Dessas quer aprender a dividir aprenderá, seja quol Cor o onslno que
condições, a autenticidade e congruência são pessoais do receba . !Neill. 1963, p. 5J
professor. As demais - aceitação e compreensão - são
emergentes do relacionamento professor-aluno. Todas essas Para Neil!, as técnicas audiovisuais, técnicas didáticas.
condições, no ent.anto, implicam habilidades e um saber ser recursos, meios, mídia etc., têm muito pouca importância.
e ajudar. São passiveis de treinamento. As atitudes podem · .os livros para mim tem pouco valor; ... os livros são
ser implementadas pela prática. 0
materla! menos Importante da escola. INelll. 1963, p. 24)

52 53
Os demais recursos têm, para ele, as mesmas falhas que 3 . 11 . Avaliação
as aulas expositivas do professor apresentam: os alunos
tornam.se rerÁpt.ãculos de informações e se privilegia a dJ. Tanto em Rogers quanto em Neill encontra-se um deS·
mensão cognitiva em detrimento da emocional. prezo por qualquer padronização de produtos de aprendi-
A proposta rogeriana é a de que se proporcione uma zagem e competências do professor.
situação que (Rogers, 1972, p. 182·3): Crianças, como adulcos. aprendem o que desejam aprender.
Toda outorga de prémios e notas e exames desvia o desenvol-
vimento adequado da personalidade. Só os pe(lantes declaram
1. Restaure, esUmule e Intensifique a curiosidade do aluno.
que o aprendizado livresco é educação . , , Os livros são o ma-
2. Encoraje o aluno a escolher seus próprios inieresses.
tGrlal menos importante da escola. Tudo quanto a criança pre-
3, Promova todos os tipos de recursos. cisa l\J'lrCnder é Jer, escrever e contar O rest(') deve ri.a com-
4 Permita ao aluno fazer escolhas responsáveis quanto às por·SO de ferramentas, arf{ila, esporte. teatro, pintura e liber
suas próprias orientações. assim como assumir a responsab!U· dade CNeill. 1963, p. 24l
dado das consequências de suas opções erradas, lanto quanto
Quando reunimos cni um esqucn1n ehnnentos tais como
das certas. currículo prestabeleddo. "deveres idêlltlc-Os" para todos os alu-
5. Dê ao aluno papel participante na formação e na cons. nos, preleções como quase ilni<,o modo de Instrução. testes pa-
truçúo de todo o programa de que ele é parte. dronizados pelos quais são avaliados externn.tnPnte todos os es-
6 . PTomova interação entre meios reais. tu®ntc~. e notas dadas pelo professor, como modo de medir
7. Focalize, por meio de tal interação, problemas reais. a aprendizagem. então, qua_"e poden1QS gHrsntir qup a apren·
8. Desenvolva o aluno autodisciplinado e critico, capaz de dlzaeem dotada de signl!Jcaç;ío seré reduzida à sua expressão
avaliar tanto as suas quanto as contrlbulÇl)eS dos outros. mais simples. 1 Rogers. 19'12, p . S1
9. Capacite o aluno a adaptar·se lntellaente. Oexivel e crtaU-
vamente a novas situações problemáticas do futuro. Rogers defende a auto-avaliação. Considera algumas
proposleões referentes ao processo de avaliaçi!.o, tais como
Cl 972, p. 235·6):
A caract.eristica básica dessa abordagem, no que se re. Há, dentro da pessoa humana. base oraãnica para um
fere ao que ocorre em sala de aula. é a ênfase atribuída à processo organizado de avaliação ccapacl(lude do organismo de
relação pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimen· reorganizar-se const.ante e progressivamente a pnnlr do /eed-
to das pessoas, ao desenvolvimento de um clima que pOS· bock recebido).
sfüílite liberdade para aprender. Isso é decorrência de uma 2. Esse proc.-esso de avaliação, no .ser humano, é eficaz na
atitude de respeito incondicional pela pessoa do outro, con- reall:e11ç60 do aut<l·engrandecimcnto, na medida cm que o indi-
siderada como capaz de se autodiriglr. viduo se abre à experiência que está ocorrendo dentro de si.
3 Nas pessoas que estão se movendo para uma maior
Os objetivos educacionais, nessa abordagem, não são abertura às suas experiéocias. há uma S<>mclhança or~anlsmlca
tratados em seus aspectos formais. nas direções dos valores.
Apesar de criticar a transmissão de conteúdos, essa 4 Essa semelhança nas direções dos valores realça o de-
proposta não defende a supressão do fornecimento de infor- senvolvimento do próprio individuo. o dos outros, dentro de
mações. Estas, no entanto, devem ser significallvas para os sua comunidade. e contribui para a sobrevivência e evolução
da espécie.
alunos e percebidas como mutáveís. A pesquisa dos conteú·
dos será feita pelos alunos. que deverão, por sua vez. ser Conslderando·se, pois, o fato de que só o individuo po-
capazes de criticá·los, aperfeiçoá-los ou até mesmo de subs- de conhecer realmente a sua experiência, esta só pode ser
titul·los. Julgada a partir de critérios internos do organismo; crité·

54 55
rios externos ao organismo podem propiciar o seu desajus- conseqüências do desenvolvimento da ciência que objetiva.
tamento. O aluno, consequentemente, deverá assumir res- 0 controle do comportamento humano: condução a uma di-
ponsabilidade pelas !ormas de controle de sua aprendizagem, tadura social e perda individual da personalldade. O subje;
definir e aplicar os critérios para avaliar até onde estão sen- tivo deve ser levado em consideração e ocupa lugar primor·
do atingidos os objetivos que pretende. dia!. Uma outra metodologia, que não a utilizada nas ciên-
-~ avaliação de cada um do sua própria aprendizagem é um cias exatas e na abordagem comportamentalista deve emer-
dos melhores meios pelo qual a aprendizagem aut.J-iniciada se gir, para que o homem e o mundo possam, gradativamente,
toma aprendlzasem responsável. IRogers, 1972, p . 142) ser conhecidos.
O diretivismo no ensino, característico das abordagens
predecessoras, é aqui substituído pelo não-diretivismo: as
3 . 1:e. Considerações tinais relações verticais e Impostas, por relações EU-TU e nunca
EU-ISTO; as avaliações de acordo com padrões pré-fixados,
A abordagem huma.nista dá ênfase ao sujeito. No está- por auto-avaliação dos alunos.
gio atual desta proposta, veri!lca-se a necessidade de ela!Jo.
ração de uma teoria de Instrução, que seja validada ernpi.
ricamente e que, por sua vez, rorneça subsídios pua urna
ação didática. Não se trata aqui do oferecimento de recel·
tas - o que seria contrário à proposta em questão - mas,
simplesmente, o oferecimento de diretrizes, já que na obra
de Rogers não transparece preocupação com de!inição e
operacionalização de termos, não sendo uma obra realizada
para a educação em si, porém para a terapia.
Tomam-se igualmente necessárias experiências diversas
baseadas em concepções dessa abordagem cujos resultados
possam subsidlar uma ação pedagógica mais sistemática, j á
que o facilitador da. aprendizagem não é um facilitador ina-
to: ele aprende e pode ser treinado nas atitudes que são per-
tinentes a esta função.
Resta, no entanto, a dificuldade de implementação em
larga escala de escolas que se norteiem por esta p roposta,
já que implicaria modificação no sistema escolar vigente e
reestruturação institucional.
Contrariamente às abordagens precedentes, en!atiza-se
aqui o subjetivo, a auto.realização e o vir-a-ser contínuo que
é ca.racteristico da vida humana. Os conteúdos vindos de
fora passam a assumir importância' secundária, e privilegia-
.se a interação estabelecida entre as pessoas envolvidas nu-
ma situação de ensino-aprendizagem.
Formas de planejamento e controle social, assim como
o desenvolvunento de uma tecnologia que as viabilizem, não
são aceitas e sim criticadas. Alerta para uma das grandes
56
57
Capítulo 4
1
Abordagem cognitivista
1

~
1

4 .1 . CaracterísUca.s gerais 1

o termo "cognítivista" se refere a psicólogos que inves-


tigam os denominados "processos centrais'' do individuo.
dificilmente observáveis, tais como: organização do conhe·
cimento, processamento de informações, estilos de pensa-
mento ou estilos cognitivos, comportamentos relativos à to
mada de decisões etc.
Uma abordagem cognitivista implica, dentre outros as-
pectos, se estudar ctent.ificamente a aprendizagem como sen·
do mais que um produto do ambiente, das pessoas ou de
fatores que são externos ao aluno.
Existe ênfase em processos cognitivos e na investigação
científica separada dos problemas sociais contemporáneos.
As emoções são consideradas em suas articulações com o
conhecimento.
Consideram-se aqui formas pelas quais as pessoas lidam
com os estímulos ambientais, organizam dados, sentem e re-
solvem problemas, adquirem conceitos e empregam símbo·
los verbais. Embora se note preocupação com relações so·
ciais, a ênfase dada é na capacidade do aluno de integrar
informações e processá-las.
Este tipo de abordagem é predominantemente interacio-
nista. Como seus principais representantes têm-se o suiço
59
Jean Piaget e o norte-americano Jerome Bruner. Focaliza. superação constante em direção a novas e/ou mais comple·
mos aqui apenas a abordagem piagetiana dada a diiusão xas estruturas) entre o homem e o meio. Esse processo é
que tem tido nos últimos anos em disciplinas de formação inerente à totalidade da vida, seja ela orgânica ou mental.
pedagógica dos cursos de Licenciatura. o ser humano, como todo organismo vital, tende a au-
Grande 11arte das conquistas teórico-experimentais des· mentar seu controle sobre o meio, colocando-O a seu servi·
sa abordagem foi obtida no CIEEG, Centro Internacional ço. Ao fazê-lo, mo~ifica o meio e se modifica. . .
de Estudos de Epistemologia Genética, com sede em Gene- A Inteligência ira desenvolver-se tanto ontogenetica quan-
bra e em !unclonamento desde 1955. to mogeneticamente, sendo considerada, portanto, urna cons-
trução histórica.
o desenvolvimento do ser humano consiste, de forma
4 .2. Homem e mundo genérica, em se alcançar o máximo de operacionalidade em
suas atividades. sejam estas motoras, verbais ou mentals.
Considerando-se o fato de que se trata de uma perspecti· Essa operacionalidade caminha em direção a estruturas de
va ínteracionlsta, homem e mundo serão analisados conjun- funcionamento integrado, tais como grupos e redes mate-
tamente, já que o conhecimento é o produto da interação máticas.
entre eles, entre sujeito e objeto, niio se enfatizando pólo Todo indivíduo, portanto, tem um grau de operatividade
algum da relação, como ocorreu nas abordagens anteriores. - motora, verbal e mental - de acordo com o nível de
Em Piaget, encontra-se a noção de desenvolvimento do desenvolvimento alcançado, assim como possul um grau de
ser humano por !ases que se inter-relacionam e se sucedem visão de organização do mundo.
até que se atinjam estágios da inteligência caracterizados O ser humano, ontogenética e fllogeneticamente, progri-
por maior mobilidade e estabilidade. de de estádios mais primitivos, menos plásticos, menos mó·
O Indivíduo é considerado como um sistema aberto, em ve.is, em direção ao pensamento hipotético-dedutivo, onde
reestruturações sucessivas, em busca de um estágio final adquire instrumentos de adaptação que lhe irão possiblllta r
nunca alcançado por completo. enfrentar qualquer perturbação do meio, podendo usar a
As características dessas fases, segundo Furth (1974), descoberta e a invenção como instrumentos de adaptação
são: às suas necessidades.
1. Cada estágio envol\·e um per!odo de formação lgêne.
No seu desenvolvimento, a criança irá reinventar todo
CJ processo racional da humanidade e, na medlda em que ela
se) e um periodo de realização. Realtzação é caracwrizada pelr.
progressiva organização composta do operações mentais. reir.venta o mundo, desenvolve-se a sua inteligência. Um
2. Cada estrutura constitui ao me.5mo tempo a realização fenômeno básico no desenvolvimento da criança é caracteri-
de um eslág.lo e o começo do estágio seguinte, de um novo pro- zado pela acoplagem do sistema simbólico à atividade real,
cesso evoluclon4rio. o que lhe possibilita por o pensamento a serviço da ação.
3. A ordem de succs&ão dos estágfos é constante. ldade.s Por sua vez, toda atividade do ser humano implica ~
de realização podem vnrinr dentro de certos limites em !unçllo consideração de duas variáveis: inteligência e afetividade.
de fatores tais como motivos, exerclclo, melo cultural e outros. O desenvolvimento da inteUgência implica, portanto, em de-
4. A transição de um 0$\ág!o anterior ao seguinte segue senvolvimento afetivo. A atet.ividade e a inteligência são
a lei de implicação análoga ao processo de integraeã.o. As es- Interdependentes, não havendo autonomia de uma sobre a
truturas precedentes tomam·se parte das estruturas posteriores. outra.
A inteligência consiste, pois (Llma, 1980, p. 73),
O núcleo do processo de desenvolvimento está em con-
siderá-lo como um processo progressivo de adaptação (no em uma forma de coordenação da ação (motora, verbal, ou
sent.ido piagetiano. de assimilação versus acomodação; de mental) a uma situação nova com o objetivo: al de auto-or&a·

60 61
nlzar-se para enfrentar a sltuaçno e bl de encontrar um com- do-se da anomia (própria do egocentrismo) e ela heterono-
partamento (invenção, descoberta) que mantenha o equllibrio en· m!a (aceitação de normas e/ ou pressões externas ao indl·
lre o ora:anismo e o moto.
. . . a evolução da criança procede do ecocentrlsmo à recipro-
víduo) .
cidade, d.li asslmllnção a um eu Inconsciente dele mesmo ll com·
A moral (lógica da conduta) é uma construção gradual,
preensão mútua consUtuUva da personalidade. da indi!erenciaçáo
que vai desde as regras impostas (heteronomia.) até o con-
caótica no grupo à diferenciação baseada na organização discl· trato social, onde haveria deliberação coletiva livre em di·
pUnada. (Piaget, 1970a, p. 177) reção a uma forma conciliatória que satis!izesse ao máximo
os membros do grupo. A deliberação coletiva, a dellberação
grupal, evita que Interesses egocêntricos predominem na
4. 3. Sociedade-cultura decisão. O egocentrismo é caracterizado por imaturidade
intelectual e afetiva.
Da mesma forma que a evolução ontogenétlca ocorre A democracia., pois, é uma conquista gradual e deve ser
no sentido de uma maior mobilidade intelectual e afetiva, praticada desde a infância, até a superação do egocentrismo
de um aduallsmo Inicial até a formação do pensamento hi· básico do homem. Não consiste num esta.do final, pois não
potétlco-dedutivo, a abertura a todos os possíveis, o desen- há moral estática, da mesma forma que não há conheciinen·
volvimento social deve caminhar no sentido da de1T1ocracia, to pronto e acabado da realidade, já que o homem se encon-
que implica deliberação comum e responsabilidade pelas tra sempre em processos contlnuos e sucessivos de reequi-
regras que os individues seguirão. libração. A democracia não seria um produto final, mas
O nível de estruturação lógica dos indivíduos compo- uma tentativa constante de conciliação, estando também,
nentes de qualquer grupo, dessa forma, constitui a infra-es- em constante reequilibração. Seus mecanismos básicos im-
trutura dos fatos sociais. Os fatos sociológicos, pois, tais prescindíveis são e deliberação coletiva, discussão e, atra·
como regras, valores, normas, slmbolos etc. de acordo com vés destes, a continua revisão dos compromissos tomados
este posicionamento, variam de grupo para grupo, de acor- anteriormente.
do com o nlvel mental médio elas pessoas que constituem Pera Piaget Cl973b). a democracia consistirá em supe·
o grupo. ração da teocracia e da gerontocracia.
Da mesma forma que se podem encontrar maneiras dl· Não se tem um modelo de sociedade ideal como produ·
ferentes dos seres humanos viverem juntos, que vão desde to final da evolução humana. O que se considera é em ter-
a anarquia, passando pela tirania (imposição de regras a mos de tendências gerais, ou seja, a otimização do compor.
serem indiscutivelmente obedecidas pelos indivíduos} até a tamento individual e do comportamento coletivo, sendo que
democracia, onde há deliberação comum sobre as regras, este último se refere particularmente à organização social
na base do respeito mútuo, veri!ica-se igualmente, no desen· e pol!tlca da sociedade. Ambas as tendências têm inúmeras
volvimento ontogênico, fases caracterizadas por anomia, pas- PQSslbilida.des de direções. Toda intervenção, no entanto,
sando pela heteronomia até atingir, possível mas não neces- gera desequilíbrio e, naturalmente, a superação do mesmo
sariamente, a autonomia.. O pacto democrático. portanto, em direção a uma reequilibração.
com deliberações comuns e responsáveis, é relativo ao nlvel
de desenvolvimento mental das operações abstratas. Liber-
dade, pois, nesse contexto, implicaria participação ativa na 4.4 .
.
Conhecimento
elaboração de regras comuns para o grupo.
Ao nlvel individual, igualmente, a personalidade consis- . Para os epistemólogos genéticos, conhecimento é con-
tirá numa forma de consciência intelectual caracterizada siderado como uma construção contínua. A passagem de
por autonomia, adaptando-se à reciprocidade e distancian· um estado de desenvolvimento para o seguinte é sempre
62 63
caracterizada pOr fonnação de novas estruturas que não Fase endógena: fase da compreensão das relações, das
existiam anteriormente no individuo. combinações.
De uma parte, o conhooimento não procede, em suas orl- É necessário se considerar que a aprendizagem pode
rens, nem de um sujeito consciente de &l mesmo nem ele obje- parar na primeira etapa do conhecimento. ou seja, na fase
tos já consllluidos Ido ponto de vista do suj eitoJ que a ele exógena. O verdadeiro conhecimento, no entanto, implica
se Imporiam. O conhecimento resultaria ele interações que se no aspecto endógeno, pois pressupõe uma abstração. Essa
produzem a melo caminho entre os dois, dependendo, portan· abstração. para. o Autor, pode ser reflexiva ou empírica.
1
to. dos dois ao mesmo tempo, mas em decorrência de uma in- A abstração empírica retira as informações do próprio
c:llterenciação complet.a e nilo de intercQmbio entre cormas dis- objeto e a reflexiva só é possível graças às operações (ou
tinta"' De outro lado, e, por conseguinte, se não hli, no inicio. seja, coordenações das ações), a partir das próprias ativi-
nem suj eito, no sent.ido epistemológico do termo. nem objetos
concebidos como tais, nem. sobretudo. instrumentos invarian-
dades do sujeito. Esse tipo de abstração implica, pois, re-
tes de troca, o problema Inicial do conhecimento será pois o flexão, que constitui uma reorganização mental.
de elaborar tais mediadores. A partir da 2ona de contato cn. O desenvolvimento ontogênico das estruturas pode ser
tre o corpo próprio e as coisas. eles se empenharão então sem- compreendido como um processo de equilibração ~ucessíva
pre mais adiante nas duas direções complementares do exte- e progressiva em direção a um estado final de equilíbrio que
rior e do Interior. e é desta dupla constroçâo progressiva que nunca é alcançado por completo.
depêllde a elllboração solidária do sujeito e dos objetos. t Pia- As estruturas mentais ou as estruturas orgânicas que cons.
get, 1978, p. 6) cituem a Inteligência não sl\o, para Pi.,ot. nem inatas nem de-
terminadas pelo meio, mas são o produto de uma construção.
A epistemologia genética objetiva conhecer não o sujei- devida à.s perturbações do meio e à capacidade do o rganismo
to em si, mas unicamente as etapas de sua fonnação, e de ser perturbado e de responder a essa perturbação. 2. ~tra­
nem o objeto em si, porém os objetos sucessivos que são vés das ações do indlv!duo. a partir dos esqucmao motores,
reconhecidos pelo sujeito no curso de diferentes etapas. que se dá n compensaçiio a essas perturbações. ou sojn, a troca
O sujeito, cujas diferentes etapas serão por ela estudadas, do organismo com o meio, graças a um processo do adaptação
não constitui o sujeito psicológico tampouco um sujeito progressiva no sentido de uma constante equilibração que per-
coletivo, mas um sujeito epistêmico, que retrata o que há mite a construção de estruturas espectttcas para o ato de co-
de comum em todos os sujeitos, a despeito de variações nhecer. Essas estruturas caracterizam.se de um lado, por se-
individuais. O sujeito epistêmico se identifica com o su- rem um prolongamento das estruturas orgrmlcas já conhecidas
pela ciência e, de oucro lado, por constttulrem uma especializa.
jeito operatório. ção em relação a elas. (Clúarottino. 1980, p. 92J
O conhecimento humano é essencialmente ativo.
Conhecer um objeto 6 agir sobre e Lranstormã-lo, apreen- Considerando-se o construtlvismo lnteracioniSta, carac-
dendo os mocanlsmos dessa transformação vinculados com as teristico dessa abordagem, é importante mencionar que para
ações transformadoras. Conhecer é, pois, assimilar o real às Píaget não há um começo absoluto, pois a teoria da assimJ.
estruturas de transformações. e são as estruturas elaboradas lação que supõe que o que é assimilado o é a um esquema
pela inteligência enquanto prolongamento direto da a<;ãG. (Pia- anterior. de forma que, na realidade, não se aprende nada
&•t, 1970a, p. 301 de realmente novo.
O construtlvismo interacionista apóia-se em teses de
Quanto à aquisição do conhecimento. Piaget a.dmite, Plaget:
pelo menos, duas fases: Toda gênese parte de uma estrutura e chega a uma estrutura.
Fase exógena: Case da constatação, da cópia, da repeti· U!Hi7c, p. 13ô)
ção. TOda estrutura tem uma gênese. IL967c, p . 138)

64 65
e ànalogamente não há gênese sem estrutura. nheclmentos retirados das ações sobre os objetos. Estas
.. . gênese e estrutura sAo Indissociáveis. São Indissociáveis est.ruturas. por sua vez. tomam.se necessárias ~ orga~·
temporalmente, 1$1.0 ó, ostanc:lo.se em presença de uma estrutu- ção e ao registro da experiência. Esta construçao é tlptca
ra como ponto de partida, e de uma estrutura mais complexa, da tntellgênola operatória e niio é Imposta. l1: resultado
como ponto de Chegoda. entre as duas se situa, necessariamen- da equlltbrllQ!o e a cond.lçáo para Que seja obtida é a tnte-
te, um processo de construção, que é a génese. Nunca existe. ração do sujeito com o melo.
portanto, uma sem a outra; mas nlio se •tingem as duas ao 3. Pela estimulação ou lml!Oslção do melo externo social
mesmo momento, poa a &ênese d a passagem de um estado relativas a:
para um ulterior. 0 967c, p. l39/ a i Imposição do nível operatório tias regras, valores e signos
da sociedade em que o Individuo se desenvolve:
Pela própria essência desse construtlvismo sempre se b) Interações realizadas entre os Indivíduos que compõem o
cria algo novo no processo, como condição necessária para grupo social.
a sua existência, o que implica que, no processo da evolu-
ção, a criatividade seja permanente, como processo vital São aquisições em função do meio e que exigem ce~c
Construir, na teoria piagetlana, Implica tornar as estruturas decurso de tempo, sendo distintas da aprendizagem: sao
do comportamento - quer sejam elas motoras, verbais ou aquisições atribuídas à Indução. São processos de ~nsa­
mentais - mais complexas, mais móveis, mais estllveis. mento que t~ndem a organizar os dados da observaçao e
Criar implica realizar novas combinações. A criatividade, ela experiência.
pois, pode ser realizada tanto no aspecto sensório.motor 4. Pelas equilibrações processadas nas reestruturações in·
quanto no verbal e no mental.
ternas, ao longo da conslrução sequencial dos estágios.
Existem múltiplos determinantes do desenvolvimento
humano o que Implica Igualmente diferentes formas de Distinguem-se, portanto, processos vinculados à expe-
aprendu;°agem. O desenvolvimento humano é determinado riência do sujeito em !unção do meio e outros que derivam
(cf. Castro, 1979, p. 84-112; Piaget, l970a, p. 28-43 e Lima, da própria consistência interna de sua organização mental.
1980, p. 233):
A dUerença básica entre desenvolvimento e aprendiza-
l. Pelas maturações Internas do organismo, camplexifica- gem é que, num dado momento do desenvolvimento do
ção biológica ligada h matu.rn9Ao do sistema nervoso. indivíduo, os processos Indutivos poderii;<> tornar-se "formas
2. Pelas aqtúslções vinculadas à éxperlência., que podem de pensamento" aplicadas ao mundo fis1co.
ser de três tipos: A matemática é importante para o estudo do desenvol-
a) Devidas ao cxercicio, resultando nn consolidação e coorde- vimento porque,
nação de ro!lexos hcred.ltárlos. Nesta categoria inclui-se tam-
.. . junto com a lógica formal, a matemática é a única. dis-
bém o exercício de operaçoos intelectuais aplicadas ao ob-
jeto. clplJna inteiramente deduUva. Tudo nela tem origem na atlvl·
dade do sujeito. Ela é !cita pelo homem... Na matemática.
bJ Devidas à experiência tísica., que comporta ações diferen- é a totalidade do que é passivei. E . logicamente, a totalJdade
ciadas em !unção dos objetos. Esse t.ipo de experiência do que é passivei significa a criação do próprio sujeito. (Pia-
Implica em agir sobre os objetos para descobrir as pro- get, em Evans, 1979a, p. 79>.
priedades que silo abstraídas destes próprios objetos. Nes-
se caso, os resultados da ação estão vinculados às proprie- No processo de desenvolvimento e aquisição de conhe-
dades do objeto.
cimento, o mundo deve ser reinventado pela criança. A lei
cl Devidas à experiência Iórlco-matemát.ica: impllca em ação biogenética relativa ao desenvolvimento do conhecimento
sobre os objetos de forma a descobrir propriedades que sãO consiste
ae. em que a /llog~nese é a recapitulaç<io da ontogene-
abstraidas das próprias açOes do sujeito. Consiste em e»

66
67
A biologia é a infra-estrutura da teorla do conheci:r.an- alcançada por esse pensamento no momento atual, como se
to, podendo-se falar até, como se encontra repetidas vezes esta posição presente fosse de alguma forma definitiva ou
na obra piagetiana, de lógica ão organismo. A humanidade estável. O estado atual do pensamento é relativo a um mo-
progride em sua explicação da realidade/ mundo da mesma mento histórico e muda muito depressa, da mesma forma
forma que cada ser humano progride em seu desenvolvi- que o conhecimento passado sempre mudou.
mento mental. Assim, a criança explica o homem, e em ca- Para a compreensão do estado atual do pensamento
da idade a mente tem uma diferente explicação causal da cientUICO. a partir desta perspectiva, são necessárias três
realidade. espécies de pesquisa que se completam e se esclarecem Ccf.
A epistemologia genética parte da hipótese de que há Goldmlln, 1972, p. 200-1):
um paralelismo entre o progresso na organlzaçã.o racional a/ uma pesquisa sobre o Wcrdcn histórico desse pensa-
e. lógica do conhecimento e seus processos correspondentes mento, ou seja, uma história das dllnclAS que procuraria es-
de formação Para que a investigação des ta hipótese seja tudar os aspectos mais importantes do equlllbrlo entre homem
plausível, o ma.is frutífero seria a reconstrução da história e mundo que ocorreram nos diferentes domlnios do pensamen-
humana, ou seja, a história do pensamento humano a par- to cientJ!fco;
tir do homem pré-histórico. b) uma Investigação genética dos diferentes estados do equi-
Piaget diz que intelizmente se sabe multo pouco sobre Ubrio do pensamento ela criança, do seu nasclment-0 at<! as ope-
a psicologia do homem de Neandertal e não muito sobre o rações abstratas;
Homo Simiensis de Teilbard de Chardin. Segundo ele, pelo e> uma investigação da estrutura Interna dos conceitos de
estados de equillbrio no pensament.o cJentifJco atual.
rato dessa dimensão da biogênese não ser acessível, se dedi-
cou. como os biólogos, à ontogênese. Para Piaget nada po.
derá ser mais acessível à investigação do que a ontogênese Segundo o próprio Goldman, na classiticação das ciên-
dos conceitos. cias não há fundamentos, nem pontos altos, nem ponto de
partida nem f!nal, mas um Bewusstwerden de um círculo
Em todo lugar temos crianças à nossa volta, e o desenvol- que envolve o homem e que se alarga sempre e de um equi-
vimento do conhecimento lógico, do conhecimento matemático, Ubrlo nas relações sujeito-objeto. Cada ação é apenas a sín-
dO conhecimento !Jsico, e assim por dlallte, nilo podemos estu- tese de dois pólos sujeito-objeto; homem-mundo.
dar em nenhum lugar melhor do que em crianças. (Piaget, 1973d,
p. 21 )
Torna-se evidente, neste contexto, a Importância da pes-
quisa da gênese hist.órica e individual das estruturas de co-
As relações entre sujeito e objeto são relações epistê-
nhecimento, objetivo da epistemologia genética. Ao se refe-
rir a ela, Piaget a caracteriza como
micas e Pfaget se pergunta de que forma um conhecimento
imperfeito pode converter-se num conhecimento cfentftico . uma epistemologia que é naturallsta sem ser positivista,
altamente rigoroso e, em alguns casos, exato. Piaget estuda que põe em evidência a atividade do sujeito sem ser idealista.
que se apóia também no objeto sem deixar de considerá-lo co-
o individuo, pois num mesmo indivíduo existe uma filogenia mo um limite <existente, portanto, independentemente de nós,
e uma ontogenia do conhecimento. A evolução intelectual mas jamais completamente alingldot e que, sobretudo, vê no
de uma sociedade desaparecida está totalmente fora de con- conhecimento uma elaboração continua tPiacet, 1978, p . 1511
t role experimental. O objetivo é, através do estudo da gê-
nese de algumas noções na criança, esclarecer etapas desc<>- Em relação à formação e ao desenvolvimento do conhe-
nhecldas da história geral do pensamento cientifico. cimento, no que se refere à !üogênese, é Interessante cons-
Para Piaget, o conhecimento científico está em constan- tatar que a ciência aparece tardiamente na história da hu-
te evoluçã.o. Dessa forma, não se poderia. dizer que existe manidade, aproximadamente no século XV. Este surgimen-
de um lado história do conhecimento e do outro a posição to tardio pode Indicar a necessidade de um intervalo tem-

68 69
poral bastante amplo para que a humanidade pudesse, su- do conjunto de relacionamentos a!e\!vos, sociais e morais que
perando as fases de observação meramente ingênua e de oonstttuem n vida da escola . .. cPlnget, 1973f, p. 69)
dedutividade tautológica, chegar à formalização.
No pensamento operacional, é necessário se distinguir O objetivo da educação, portanto, não consistirá na
dois modelos: a Indução (por melo da qual se descobre transmissão de verdades, informações, demonstrações, mo·
tegularidades, causações, leis) e a ::iedução (que consiste em delos etc., e sim em que o aluno aprenda, por si próprio, a
elaboração, criação ou invenção de explicações destinadas à conquistar essas verdades, mesmo que tenha de reallzar to·
compreensão da realidade). dos os tatelos pressupostos por qualquer atividade real.
A partir da abordagem piagetlana constata-se que os A autonomia intelectual será assegurada pelo desenvol-
modelos, os mecanismos de explicação da realidade (carac- vimento da personalidade e pela aquJsição de instrumental
terísticos do pensamento hipotético-dedutivo) possibilitam lógico-racional. A educação deverá visar que cada aluno che·
a observação de dados e ratos por ângulos diversos. Na his- gue a essa autonom.ia.
tória do conhecimento e no seu estágio atual, é necessário A educação pode ser considerada igualmente como um
que se considere, pois, tanto a indução como os processos processo de socialização (que implica equilfbrio nas rela-
hlpotético<ledutivos. ções lnterindlviduais e ausência de regulador externo/ordens
externas), ou seja, um processo de "democratização das re-
lações". Socializar, nesse sentido, implica criar-se condições
4.5 . Educação de cooperação. A aquisição individual das operações pres-
supõe necessariamente a. cooperação, colaboração, trocas e
O processo educacional, consoante a teoria de desenvol- intercâmbio entre as pessoas.
vimento e conhecimento, tem um papel importante, ao pro- A socializa(:ão implica criação de condições que possi-
vocar situações que sejam desequilibradoras parn o aluno, bilitem a superação da coação dos adultos sobre o compor-
desequllíbrios esses adequados ao nível de desenvolvimento tamento das crianças. O sistema escolar, por sua vez, de-
em que se encontram, de torma que seja possível a constru· veria possibilitar a autonomia, circunstância necessária pa-
ção progressiva das noções e operações, ao mesmo tempo ra que os alunos pratiquem e vivam a democracia. A ativi-
em que a criança vive intensamente (intelectual e afetiva- dade em grupo deveria ser implementada e incentivada, pois
mente) cada etapa de seu desenvolvimento. a própria atividade grupal tem um aspecto integrador, vlsw
Para Piaget, a educação é um todo indissociável, consi- que cada membro apresenta urna faceta da realidade.
derando-se dois elementos fundamentais: o intelectual e o Considerando o fato de que a lógica não é inata mas que
moral. se constrói, a primeira tarefa da educação deveria consistir
... não se pode formar personaUClades autônomas no do- em formar o raciocínio. Piaget declara que
mlnlo moral se por outro lado o individuo é submetido a um
constrangimento intelectual de tal ordem que tenha de se U· Todo ser humano tem o din!ito de ser colocado, durante a
mltar a aprender por Imposição sem descobrir por si mesmo sua formação, em um meio escolar de tal ordem que lhe seja
a verdade: 158 é passivo Intelectualmente, não conseguiria aer PQ6sivel cheiar ao ponto de elabOração. até à conclusão, dos
livre moralmente. Reciprocamente, porém, se a sua moral COD· Instrumentos indispensáveis de adaptação que são as opera-
QÕeS da lógica. (1973f, p. 38)
sl5te exclusivamente em uma submissão à autorlelade adulta, e
se os únicos relacionamentos sociais que constituem a vida da
classe são os que ligam cada aluno Individualmente a um me• A educação, portanto, é condição formadora necessária
tre que det~m todos os poderes, ele também não conseguiria ao desenvolvímento natural do ser humano. Este, por sua
Hr ativo intelectualmente. . . . o pleoo desenvolvimento da per· vez, não iria adquirir suas estruturas mentais mais essen-
sonalidade, sob seus aspectos mais Intelectuais, é inseparável ciaJs sem a intervenção do exterior. Sem este tipo de con-

70 71
tribuição o individuo não chegará à autonomia. intelectual educação formal, diz, decorre essencialmente do tato de se
e moral. principiar pela lingua1rem (acompanhada de desenhos, de
.. a lógica é, antes ele tudo, a expressão da coordenação ações ficticiqs ou narradas etc.) ao invés de o fazer pela
geral das ~ões; e esta COôtdcnnçáo gerill das ações impll. ação real e material.
ca necessariamente urna dimensão social, porque a coordenação A escola, dessa Corma, deveria dar a qualquer aluno a
interindividual dos atos e sua coordenação lnt rainclivldual consti· possibilidade de aprender por si próprio, oportunidades de
tuem um único e mesmo processo, sendo as operações do in- investigação individual, possibilitando-lhe todas as tentati-
dividuo socializadas todas elas. e consistindo a cooperação no vas, todos os tatelos, ensaios que wna atividade real pres-
sentido estrito em tornar comum as experiências de cada um. supõe. Isso implica diretamente que a motivação não ve-
CPlaget, 1970a, p. 71 >
nha de fora, mas lhe seja íntrinseca, ou seja, da própria
O conjunto de relações de reciprocidade e de coopera- capacidade de aprender. para que se torne possí.-el a cons-
ção ao mesmo tempo moral e racional raramente é assegu- trução de estruturas do ponto de vista endógeno.
rado pela autoridade do proressor ou pelas tições, informa- Se a criança constTUlu suas catrutuns do p0nto de rata
ções, modelos que ele possa sugerir ou apresentar, mas· pela endógeno, estas rerio necessidade de "alimento", isto ~. neces-
vida social entre os próprios alunos e pelo autogoverno. sidade dos objetos que podem assimilar Dizer que um .ru-
O respeito mútuo irá substituir a heteronomia característica jelto se Interessa por um resultado ou por um obj eto, signillca
de um respeito unllateral, por uma autonomia, consideran- que ele pode asslmllá·lo ou que ele antecipa uma assimilação
e dizer que tem nettssidade de algo, s1gn!Clca que possui es·
do-se a reciprocidade como coordenação dos pontos de vista
truturas exigindo a sua utillzAçilo. \Chlarottino. 1980, p. 98>
e ações entre os membros do grupo.
<.. J a criança obec1lente é por vezes um espírito subme- A escola. deve possibJUtar ao aluno o desenvolvimento
tido a um conformismo exterior. mas que não se apercebe "de de suas possibilidades de ação motora, verbal e mental, de
fato" nem do alcance real da.s reKras às quals obedece, nem da forma que possa, posteriormente, Intervir no processo só-
possibilidndc do adaptli·las ou de construir novas regras em cio-cultural e inovar a sociedade. Deve ser algo que possi-
circunstâncias diferentes. 1P1agct, 19731, p. 76) bilite ao aluno ter um interesse intrinseco à sua própria
o alcance educativo do respeito mutuo e dos m!ltodos ba- ação.
seados na orgnniznçilo social espontânea das crianças entre si
é precisamente o de possibilitar-lhe.• que elaborem uma. dlscl- Na teoria piagetiana pode-se constatar o estabelecimen·
pllna, cuja necessidade é descoberla na própria ação, ao invés to de relações entre a cooperação e a formação/desenvolvi-
de ser percebida inteiramente pronta antes que possa ser com- mento intelectual. Assim, não seria possível existir na esco-
preendida. (Plaget, 19731. p. 771 la uma verdadeira atividade intelectual baseada em ações,
investigações e pesquisas espontâneas, sem que houvesse
Uma educação assim concebida é a que procurará pro- uma livre cooperação dos alunos entre si e não apenas entre
vocar nos alunos, constantemente, busca de novas soluções, professor e alunos.
criar situações que exijam o máximo de exploração por par- O trabalho em grupo, ou melhor, o trabalho em comum
te deles e estimular as novas estratégias de compreensão da - uma forma de cooperação e desenvolvimento - pressu-
realidade. Póe, e tem como condição índispensável, que os indivíduos
se agrupem espontaneamente, e que o tema estudado/pes-
4.6. Escola quisado/Investigado constitua um verdadeiro problema para
o grupo <motivação intrfnseca).
Segundo Piaget, a escola deveria começar ensinando a Um tipo de escola coerente com essa abordagem deve-
criança a observar. A verdadeira causa dos fracassos da rá oferecer às crianças liberdade de ação, e ao mesmo tem-

72 73
po, propor trabalho com conceitos, em níveis operatórios turado, sendo que nenhuma tarefa e nenhum nlvel de de.
consoante o estágio de desenvolvimento do aluno, num pro- ;empenho foram Impostos à criança; experiência de acordo
cesso de equllfbrio-desequUibrlo. Não se concebe, no entan. com caracteristicas estruturais do nível de desenvolvimento
to, que a atividade do aluno e o "como" trabalhar os con- em que o aluno se encontrava; centralização na atividade da
ceitos sejam dirigidos. A forma de solução deverá ser pe. criança, como se tosse ela uma fonte de conhecimentõs; ati-
culiar a cada aluno. vidades realizadas indi vldualmente, mas dentro de um grup.>
As diretrizes que norteariam uma escola piagetiana se. de colegas com os quais cooperava e se relacionava social.
riam, pois: trabalho em grupo, diretividade seqüencial tal mente e, por fim, atividades desafiadoras, tanto para o pro-
como concebida acima e consecução de alto nível de inte- fessor quanto para as crianças. Caberia ao professor desta
resse pela tarefa. Essa diretividade da aprendizagem con- escola manter atividades desafiantes para todas as crianças
sistiria simplesmente em se criar situações onde pudessem de sua classe.
ser operacionalizados os conceitos, - contendo fatos que As atividades principais da Escola para o Pensamento
possam ser ou não contraditórios, dependendo da forma que consistiriam em: jogos de pensamento para o corpo e os
o sujeito cognoscente manipula o conceito ou questão - , sentidos; jogos de pensamento lógico; atividades sociais pa-
que façam que a criança se esforce no sentido de uma re- ra o pensamento: teatro, excursões, jogos de faz.de-çonta;
equilibração. Cada reequilibração é uma ultrapassagem, ler e escrever; aritmética; ciência; arte e ofícios; música;
pois implica a aqulsição de um conceito antes não domi- educação física.
nado, pelo menos operatorlamente.
É interessante se mencionar aqui a proposta de Furth
Wachs 0979), a Escoro para o Pensamento. Trata-se de de- 4 .7 . Ensino-aprendizagem
lineamento de uma "Escola para Pensar", inspirada na Psi·
cología Genética, que não estaria presa a currículos fixos, Um ensino que procura desenvolver a inteligência de·
procurando estruturar o ambiente de modo a desafiar a in· verá priorizar as atividades do sujeito, considerando-o inse-
teligência da criança. A ênfase não seria colocada em con- rido numa situação social.
teúdos, mas em atividades, tais como jogos, leituras, visitas, A concepção plagetlana de aprendizagem tem caráter
excursões, discussão, arte, Oficina, exerclcio tisico, teatro etc. de abertura e comporta posslbUidades de novas indagações,
Segundo estes autores, na construção do currículo, de- assim como toda a sua teoria e epistemologia genética.
ver-se-ia considerar dois tipos de variáveis: a estrutura do Aprender Implica assimilar o objeto a esquemas men.
sujeito (o aluno) e a estrutura da matéria. de ensino. Uma tais. Um dos tipos de aprendizagem comentada por Piaget
Escola para o Pensamento reconheceria a. prioridade psico· é o que consiste numa aquisição em função do desenvolvi·
lógica da inteligência sobre a aprendizagem. A partir desta mento. Este conceito fica, nessa abordagem, incluído num
proposta foi realizada uma experiência de dois anos, com a processo mais amplo de desenvolvimento de estruturas men·
Escola Primária Tyler, Charleston·USA. Segundo os auto- tais.
res, experiências Individualmente desafiadoras, ausência de Todo o ensino deverá assumir formas diversas no de-
tédio e carência de perturbação foram as características curso do desenvolvimento já que o "como" o aluno aprende
observáveis, consideradas como fortes Indicadores de uma depende da esquematlzação presente, do estágio atual, da
atmosfera intelectual psicologicamente saudável. forma de relacionamento atual com o meio. As quatro ca-
Segundo Furth e Wachs (1979, p. 75-104), foram opor· tegorias de aprendizagem por ele propostas são:
tunizadas nesta escola: atividades realizadas pela própria ... aJ a das ações enquanto conteúdos, quer dizer das ações
criança ( ritmo próprio, forma própria); liberdade entendi· llâo-oporatórlas ou de um sentido llnico (hábitos elementares);
da como meio termo entre escola aberta e programa estru· bJ a d.as ações enquanto lormas, quer dlz.er d.as estnituzas

74 75
oper.tórlas e das fonna. de C:eduçiio que lhe são llgoctas. e• ~
constituem a fixação de uma forma de ação, sem reversibi-
das sut·cs.sôes fisicas < re-i;.ulArí'~ ou irrcgul:ire$J, enquanto con-
lidade e associatividade.
teúdos, finalmente d ! a das forma~ aplicadas às sucessí.-es fi·
slcas, quer dizer <ili mdução enquanto dedução aplicada a ex- Diferencia-se, portanto, aprendizagem de desenvolvimen-
perimentação. <Pie.gel. em P!Hgel e Gréco. 1974, p 57 • to. Este último se refere aos mecanismos gerais do ato de
pensar/ conhecer, inerentes à inteligência em seu sentido
O ensino que seja compatível com a teoria p1agetiana mais amplo e completo.
tem de ser baseado no ensaio e no erro. na pesquisa, na O ensino dos fatos deve ser substituído pelo ensino de
investígac;ão, na solução de problemas por parte do aluno. relações. Desenvolve-se a inteligência, já que esta é um
e não em aprendizagem de fórmulas, nomenclaturas, defi· mecanismo de fazer relações e combinatórias.
nições etc. O ensjno. nessa abordagem. deve estar baseado em pro.
A descoberta irá garantir ao sujeito uma compreensão posição de problemas (projetos de ação ou operação que
da estrutura fundamental do conhecimento. Dessa form.a, contenham em si um esquema antecipador).
os processos pelos quais a aprendizagem se realizou assu- Finalmente, é necessário que se considere o "aprender
mem papel preponderante. O ponto fundamental do ensino. a aprender", divulgado como slogan, mas que necessita pro-
portanto, consiste em processos e não em produtos de apren- funda compreensão da teoria de conhecimento de Piaget.
dizagem. É importante se considerar que
Em Plaget encontra-se preocupação com a aprendiza-
, .. aa crianças não aprendem a. pensar, as crianças pensam,
gem, embora não com uma teoria de instrução. Quando pensam ( ... 1 desenvolvem mecanismos mais avançados
Nós lemos que redefinir a aprendizagem. Temos de pen· de pensamento. Por essas razões. pode esperar-se que uma ên·
sar nela de modo dlíerente. Antes de tudo. a aprendizagem depen- fase sistemática sobre o pensamento. durante o periodo prolonga.
de do estágio de desenvolvimento. ou da compelêncla, como os do, !anl seu lmpaclo. ao passo que a preocupação com o apren-
embriologtstos preferem. E desenvolvimento nào é simples- dizado ou estratégias do aprendizado podem deixar de mos-
mente a soma total do que- o individuo aprendeu Em segun· trar efeitos de transferência. (Purth e Wachs, 1979, pp. 321·21
do lu111ar. pensando em retorço, devemos pcn.~nr não só no re-
rorço externo, mas no reforço Interno. através da auto-regula-
ção. < Plagct. em Evans, 1979a, p. 80 t 4. 8. Professor·aluno
A aprendizagem verdadeira se clá no exerciclo operacio- As implicações para uma ação do professor e do aluno
nal da lntellgência. Só se realiza realmente quando o aluno ficam claras nas categorias anteriores, que evidenciam que
elabora seu conhecimento. A aprendizagem. no sentido es- ambos os pólos da relação devem ser compreendidos de for:
trito. se refere às aquisições relacionadas com informações ma diferente da convencional, no sentido de um transmis-
e se dá no decorrer do desenvolvimento. A inteligência é sor e um receptor de informação. Caberá ao professor criar
o instrumento de aprendizagem mais necessário. situações, propiciando condições onde possam se estabele-
Sob tal perspectiva, o ensino consistiria em organização cer reciprocidade intelectual e cooperaçiio ao mesmo tem-
dos dados da experiência. de forma a promover um nível po moral e racional.
desejado de aprendizagem. Cabe ao professor evitar rotina, fixação de respostas,
Tudo o que se ensina à criança a impede de inventar ou hábitos. Deve simplesmente propor problemas aos alunos,
de descobrir. <Pía.;ct. em Bringüier. 19'78, p, 931 sem ensinar-lhes as soluções. Sua função consiste em pro-
vocar desequilíbrios. fazer desafios. Deve orientar o aluno
O ensmo, pois. oeve levar. progressivament.c. uo clesenvol· t' conceder-lhe ampla margem de autocontrole e autonomia.
vimento de operações, evitando a formação de hábitos. que Deve assumir o papel de investigador, pesquisador, orienta-

76 77
dor, coordenador, levando o aluno a trabalhar o mais Inde- do processo e o fator social ou educativo constitui uma con·
pendentemente possível. dição de cieSenvolvimento.
O protessor deve conviver com os alunos, observando H. Aebll 0978) delineou urna didática baseada na teo·
seus comportamentos, conversando com eles, perguntando, ria de Plaget, havendo igualmente, nesse sentido, cont1·lbui·
sendo interrogado por eles, e realizar, também com eles. cões de H. Furth 0972·1979) - dois dos autores mais di·
~uas experiências, para que possa auxiliar sua aprendizagem fundidos no Brasil.
e desenvolvimento. Para Aebll (1978), uma didática cientifica deve ter por
finalidade deduzir do conhecimento psicológico dos proces-
Ora, 6 óbvio que o educador continua Indispensável, a tJ. sos de formação Intelectual as técnicas metodológicas mais
tulo de animador, para CTlar ns situações e construir os dlspo- adequadas para produzir tais processos. Da.I a proposição
slNvo• de partida suscotlvels de apresentar problemas úklls à
criança e, om seguida, orftAnfza.r contra-exemplos que !orçum o.
de uma didática que considera que o ensino deva tender
reflexão e obrigam o controle de soluções 1utli.Z) precoces: o que à. construção de operações pelo aluno, sendo baseado na in·
se deseja ti que o mes~re oolxe de ser apenas um oonfeMnciJI. vestlgaçáo (atividade Intelectual em cujo curso se formam
ta e ..umu:e a pesquisa e esforço, em lugllr do cooteotar·se em as novas operações). O problema será au~regulador da
transmitir os proble111a1; Jli solucionados. 1Plaget, 1974,h, p. 181 Investigação e consiste num projeto de ação, cuja ação não
consiste, no entanto, numa qualquer, mas, sim, num siste-
O aluno deve ser tratado de acordo com as L'aracterls- ma de movimentos impregnados de uma finalidade.
ticas estrutura.Is próprias de sua fase evolutiva e o ensino O trabalho em equipe, como estratégia, adquire com
precisa, conseqüentemente, ser adaptado eo desenvolvimen· Piaget consistência teórica que extrapola a visão do grupo
w mental e social. Cabe ao aluno um pspel essencialmente como um elemento importllntc na socialização do individuo.
ativo (a atividade é uma forma de funcionamento do indivf· O trabalho com os outros lndividuos é decisivo no desen·
duo) e suas atividades básicas, entre outra~. deverão consls· volvimento intelectual do ser humano. A interação social
tir em: observar, experimentar, comparar, relacionar, ana- decorrente do trabalho em grupo, assim como o !ato dos
lisar, justapor, compor, encaix:ar, levantar hlpót.eses, argu· indivíduos atuarem nos grupos compartilhando idéias, lnfor·
mentar etc. mações, responsabtl!dades, decisões, são imprescindíveis ao
E ao protessor caberá a orientação necessária para que desenvolvimento operatório do ser humano. Os demais
os objetos sejam explorados pelos alunos, sem jamais ofe- membros do grupo funcionam como uma forma de controle
recer-lhes a solução pronta. É indispensável, no entanto, que lógico do pensamento individual.
o professor conheça igualmente o conteúdo de sua dlsclpll· O trabalho em grupo, a discussão deliberada em comum,
na, a estrutura da mesma. caso contrárío não lhe será pos- não só é condição para o desenvolvimento mental individual,
sível propor situações realmente desequilibradoras aos alu· para a autonomia dos Indivíduos, como também o é para 1t
nos. superação do egocentrismo natural do comportamento hu-
mano, que s6 ocorre quando há conflitos provenientes de
interesses diferentes dos indivíduos. Deve.se, pois, enfatizar
4. 9. Metudologla as sociedades, os agrupamentos infantis autônomos, para
Não existe um modelo pedagógico plagetiano. O que que o mecanismo social do respeito mútuo, da troca de in·
existe é uma teoria de conhecimento, de desenvolvimento formações e pontos de vista, base da cooperação, possa ser
humano que traz implicações para o ensino. Uma das !m· desenvolvido, como se cnda individuo tivesse uma parcela
da autoridade.
plicações fundamentais é a de que a inteligência se constrói
a partir da troca do organismo com o meio, por melo das O ambiente no qual o aluno está inserido precisa ser
ações do individuo. A ação do individuo, pois, é o centro desafiador, promovendo sempre desequilibrios. A motivação

78 79

J
é caracterizada por desequilíbrio, necessidade, caréncla. con- UmtJ. didática decorrente dessa abordagem irá conside-
tradição. desorganização etc. Um ambiente de tal tipo será rar a introdução da.5 operações fundamentais, inicialmente,
lavorável à motivação intrínseca do aluno. no pl81lO da ação efetiva e só progressiva e posteriormente
O jogo adquire importância fundamental em sua apli- pa~sará à Interiorização desta ação.
cação ao ensino. Tem por objetivo descobrir novas estraté- A utilização de recursos audiovisuais e instrumentos icó-
gias e cada fase de desenvolvimento do ser humano é ca,. nicos não é suficiente para desenvolver atividade operntória,
racterizada por uma contormaçãO única especial, Indo desde pois estes concretl~am as matérias de ensino de modo flgu.
o jogo U;idividuaJ, o Jogo simbólico, o jogo pré-social, ao de ratlvo, sendo uma das características do denominado ensino
regras (social). As regras do jOgO social igualmente são ne. intuitivo, neste trabalho considerado como uma das formas
cessárias para que se supere o egocentrismo Individual e se assumidas pelo ensino tradicional.
Instaure uma atividade cooperativa. O material de ensino deve-se prestar a todas as passi-
Caberá ao pedagogo, eo educador, planejar situações de veis combinações e realizações, sendo adaptável às caracte.
ensino onde os conteudos e os métodos pedagógicos sejam risticas estruturais de cada fase.
coerentes com o desenvolvimento da inteligência e não com Padronizando o material ntnguém ousa experimentar mu.
a idade cronológica dos Indivíduos. dá-lo. E, no entanto. a cotsa realmente tmporuanl<I para a crian·
Considerando-se que a teoria piagetiana demonstrâ que ça ê construir sempre sou próprio material. CPmget, em Evans,
t oda apreensão da realidade, por parte do indivíduo, depen- 1979a, p. 79)
de de seus esquemas anteriores, Infere-se que o uso dê r&
cursos audiovisuais como instrumentos de ensino não é tão As experiências não devem ser feitas na frente do ah1-
relevante como se supôs nos últimos anos. Infere-se Igual- no. Devem ser reitas pelo aluno.
mente que toda proposta didática deve ser feita a partir lt uma questão de apreseniar situações que o!ereç&m no.
de uma sondagem do esquema prévio em que Irá se apoiar: vos problemas. problemas que desencadeiem outros. li: pre-
é necessário que se conheça as estruturas de conhecimento ciso uma mistura de direcionamento e liberdade. (Plagot, er.'I
para que se possa construir uma seqUência epistemológica, Evans, 11>'19a, p . 801
pais toda noção e operação possuem uma história, da qual
são produto. Em relação ao ensino programado pode ocorrer que,
Ums didática baseada em tal abordagem atribu!ni pa- em vez da construção de programas adequados que tenham
pel primordial à pesquisa por part.e do aluno, pois será du- por base o principio de compreensão progressiva, haja trans·
rante este tipo de atividade intelectual que seri>o formadas formação do conteúdo de manuais em termos de programa.
ção mecânica.
as novas noções e operações.
O problema (projeto de ação ) irá constitulr uma. dire- Do ponto de vista pedagógico, o ensino proçamado leva a
triz da pesquisa, funcionando como um esquema antecipa· aprender, mas niio a criar, salvo se . . . 11 programacão 1or reita
pela criança, 1Plaget, 1974h, p. 121
dor. As operações se estruturam durante a pesqui,:;a e adqui-
rem articulações precisas, de forma a que não somente os A individualização do ensino poderia ser Implementada
elementos do novo ato intelectual sejam compreendidos, mas na medida que oportunidades de vida social acompanhas·
também suas articulações e a estrutura de conjunto. sem e~ta Individualização, que consiste, além do respeito ao
Dizer formação de pensamento é dizer forme.cão de opera· Própno ritmo da criança, no respeito 141 seu modo de agir,
ções, e dizer rormação do operações é dlzer construção de ope· de pensar, de descobrir, de Inventar, de criar.
raçõe1. A construção das operações se ele~ua <1uran1e a pes- Um método elaborado segundo os princípios inerentes
quisa e Ioda pesquisa parte ele um problema. (Aeblf, 1978, p. 95) à abordagem em questão Implica programas, técnicas, horá-

80 81
rios suficientemente tlexlvels, adaptáveis às condições dos implicará verirtcar se o aluno Já adquiriu noções, conserva-
alunos, respeitando o ritmo individual de trabalho, de assi- ções. realizou operações, relações etc. O rendimento poderá
milação do conhecimento, ao mesmo tempo que respeitando ser avaliado de acordo com a sua aproximação a uma norma
a atividade grupal, com tarefas e técnicas suficientemente qualitativa pretendida. Uma das formas do se verificar o
diversificadas. Deve procurar estabelecer relações entre os rendimento é através de reproduções livres, com expreSSÕe.S
diferentes ramos do saber e não reduzir formalmente o co. próprias, relacionamentos, reprodução sob diferentes formas
nhecimento a matérias de ensino. O trabalho deve ser apre. e Angulos, explicações práUcas, explicações causaJs ete.
sentado a partir de situações que gerem Investigação por O controle do aproveitamento devo ser apoiado em múl-
parte do aluno. Será um método adequll"do à forma de aqui- Uplos critérios, considerando-se principalmente a assimila-
sição e de!<envolvlmento dos conhecimentos, a parUr de uma ção e a aplicação em situações variadas.
perspectiva de construtivísmo interacionlst.11. O conceito de Caso esta abordagem sirva de diretriz à açãn docente.
aula, em decorrência do que foi colocado, deve ser reelabo- o professor deverá igualmente, nos diversos ramos do co-
rado, já que não se pode prever o tempo que irá durar uma. nhecimento, considerar as soluções erradas, Incompletas ou
investigação Individual e/ ou grupal. distorcidas dos alunos, pois não se pode deixar de levar em
Em re•umo, o principio fundamental dos métodos ativos conta que a interpretação do mundo, dos fatos, da causali-
não seria mals do qu• • ori•ntação no sentldO de se Inspirar dade, é realizada de forma qualitativamente diferente nos
na história das ciências, o qual pode ser expresso da seiulnte di!erentes estágios de desenvolvimento, quer do ser, quer
tonna: compreender ê descobrir, ou reconstruir pelo rcdcseo-- da espécie humana. A solução apresentada, num detenni-
berta e !Mlrtl necessário submeter-5e a esoes prlnctplos se se qui- uado ponto da ontogénese, é peculiar a esse estáiJo em que
ser, no !Uturo, educar indhiduos capnr.es de pMduçáo ou de o aluno se encontra e às fontes de Informação com as quais
cr!Açilo e não apenas de repetição. <Piaget, l974h, p. 21 1 ele pode operar.
Não há, pois, pressão no sentido de desempenho acadê-
mico e desempenhos padronizados, durante o desenvolvimen-
4.10 . Avaliação to cognitivo do ser humano.
No que se refere à avaliação tradicional, realizada. atra·
vés de testes, provas, notas, exames etc., encontra ela pouco
4 .11 . Considerações finais
respaldo nesse tipo de abordagem.
Em seu diálogo com Bringüier, Piaget mantém a seguin-
Esta abordagem di!ere de forma acentuada da aborda.
te posição, qunndo fala sobre o conhecimento:
gem comportarnentalista, tendo implicações outras para o
Piaget: O conbeclmeoto começa a partir do momento em ensino.
que ele ~ comunicável • controlável.
Bringiiter: ~ mensurável?
? conhecimento, para Piaget, progride mecllante a for·
~a.yso de estruturas e isso nega o mecanismo de justapo.
Plaget: Não mesmo! Não mesmo! Há conhecimentos qua· s1çao dos conhecimentos em que se baseiam os behavioris·
litativos. ElD Psicoloçla, em Lógica, nada 6 men.su.nlv•l. Mas, tas e os que advogam o que aqui denominamos de "ensino
o conhecimento começa quando se chega a concUJar os contro- tradicional".
les mútuos e as verificações em aproximaçlles sucessivas. (Brln·
gUior, IP78, p. 25) . Tudo o que se aprende é assimilado por uma estrutura
Já existente e provoca uma reestruturação. No comporta.-
Decorrentes deste posicionamento, resulta.do de inves- mentaUsmo, o que o organismo geralmente persegue é o
tigações teórico-experimentais, a avaliação terá de ser rea· estorço e não a aprendiz.agem em si. Esta Interessa apenas
lizada a partir de parâmetros extraídos da própria teoria e ao Professor.

82 83
A aprendizagem considerada como fixação de respõstas
padronizadas, que ocorre freqüentemente com a abordagem
comportamentallsta, é aqui o processo me.is arcaico de jn.
corporação de modificações, característico de organismos Capitulo 5
elementares e dos primeiros estágios de desenvolvimento do
ser humano.
É igualmente Interessante se mencionar que pesquisas
A bordagen1 s6cio-cultural
do CIEEG têm evldenclDdo que a memória. é opere.tiva, ou
seja, não ·e apenas um depósito de lembranças. mas modifi.
ca as lembranças, de acordo com o nível de desen\•olvirncn·
to mental do ind!~;duo. Essa constatação coloca em ques.
tionamento a aprendizagem de respostas padronizadas e a
sua t ransterencla.
Em relação à proposta rogerlana, o não-diretivismo é
aqui considerado principalmente no que se refere ao respei·
to dado ao aluno quanto à sua própria atividade, quanto ao
"como" ele lrá trabalhar os conceitos, quanto às oportuni.
dades de investigação individual. A forma de solução de
cada problema é pertinente apenas a cada aluno e a ele ca- 5. 1 . Caraderisticas gcrnls
berá encontrá-la. Ocorre ên!ase no aspecto cognitivo, ao
passo que em Rogers esse elemento, embora considerado, Uma das ob ras referentes a esse tipo de abordag_em,
não é exaustivamente trabalhado em forma de teoria. que enfatiza aspeçto~ sócio-polltiCO·CUlturais, mais signifi.
Decorrente da abordagem cognitlvista, nota·se um cuida· c:itivas no contexto brasi(eiro, e igualmente uma das mais
do especial com a educação pré-escolar. A pré.escola deve difundidas, é a de Paulo Freire. ~om sua preocupação com
ser considerada em suas peculla.rldades, visando o desenvol· a cultura popular.
virnento das crianças, e não como propedêutica a qualquer O fenômeno da preocupação com a cultura popular sur·
outro tipo de escola. ge após a II Guerra Mundial e so liga u problemática da
A ecluca<;ão pré-escolar, que se dirige à criança durante o
democrat.lzação da cultura. Em ptlises industrializados_. o
período que precede à Idade da escolaridade obrigatória, deve Movimento de Cu ltura Popular volta se para os valores qu!!.
constituir uma das preocupa9ões éL'IS autoridades escolares e cqraçterizam um povo em geral. Já nos países do Terceiro
tornar-se scesslvel à maioria das crianças. (Ptaget, 19708, p. 9'7J J'!UJ1_dO, esse movimento tem-se voltado freqüentemente._ pol'
exemplo, para as camadas sócio-econômicas inferiores~ e
A educação pré-escolar não tem a flnalldnde de acele· uma de suas tarefas tem sido a de al!abetizaçf10 de adultos.
i·ar a aquisição de noções, mas simplesmente a de criar con- Parte sempre do que é int:rente ao povo, sobretudo do qu~
dições para que a criança possa desenvolver e.s estruturas a_s pessoas assimilaram como sujeitos, não lhes fornecenaõ,
inerentes a essn fnso. JJ?rlanto, coisas pront.a~. mas procurando t.razcr valores_ que
Por último, deve-se mencionar a necessidade de uma sao inerentes a essa.~ camadas da população e criar COJldi·
sistematização mais completa no sentido de urna teoria de Côes para que os individuos os assumam e nâo somente os
instrução com fundamentação pslcogenétlca, que possa for· consumam.
neoer diretrizes à ação pedagógica do professor, tanto em co O Movimento de Cultura Popular no Brasil. até 1964,
diferentes níveis de ensino, quanto em diferentes áreas do ntr1butu para a elaboração de uma verdadeira cultura, a
conhecimento. Partir de uma motivação de cunho vivencial. Tratava-se de
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85
um trabalho com o objetivo de possibuttar umn real Pli:!:Y:. consciência crítica, cujas características serão analisadas
cipacão do povo enquanto sujeito de um processo cultuxat posteriormente, que ele assumirá cada vez mais esse papel
A propostade Pãuio Freire é também aqui anaiÍsada, de sujeito, escolhendo e decidindo, libertando-se, enfim.
pois supõe-se que os educadores brasileiros, ou pelo menos f. O homem é um ser que possui raízes espaço-t.emporais:
parte deles, possam ter tido informações a seu respeito, é um ser situado no e com o mundo. Ê um ser da práxis,
quer nos cursos de formação de professores, quer na lite- compreendida por Freire como ação e rel lexão dos homens
ratura dlsponlvel, o que, igualmente, pode ter Influenciado sobre o mundo, com o objetivo de transformá-lo.
suas concepções de homem, mundo, cultura, educação, as-
sim como a sua ação educativa.
Em termos de posicionamento, a obra de Paulo Freire 5. 3. Sucieda.de-cultura
consiste numa síntese pessoal de tendências tais como: o
neo~imio,, o.Jli:m=!,smo, a fenomenoloiiia, o eldstencia- O homem cria a cultura na medida em que, integrando·
1L!Smo ·e o .neomarx.lsr!ro,_ - .se nas condições éleseucontexto de· vida, reflete sobre ela
e dá respostas aos desafios que encontra, Cultura, aqui, é
entendida como
5.2. Homem e mundo
.. todo o resultado da atJvldade humana, do esforço criador
Consideram-~e aqui ambas as categorias conjuntamente,
e recriador do homem, de seu trabalho por tranSlormar e es·
t•belecer relações dialogais com outros homens. (Freire. 1974a.
pois se trata de abordagem interacionista, embora com ên- p. 41)
fase no sujeito como elaborador e criador do conhecimento.
Na obra de Freire, o homl!_m-é-e .sujeito da eduÇl\ÇãQ e, Desta rornw., cultura constitui a aquisição sistemática da
apesar de uma grande ênfase no sujeito, e'l!idencJ.a.se ~ experiência humana, a.guisição esta que será critica e cria·
ten<mncla Interacionista, já qiieaillteração homem-mundo. dom e não simplesmente armazenamento de Informações
sujeito-objeto é impfêScinWvel.11_ara que- o -ser human~ justapostas, que não foral?!_incorporadas ao Individuo total.
dese?!vOlva e se tome sujeito d~~ua_ práxis. •
Segundo esta abordagem, não existem senão homens Nesse sentido é licito dizer qua o hOmem se eu!Uva e e.ria a
culturn no ato de estabelecer relações, no ato ~ responder aos
concretos, situados no tempo e no espaço, Inseridos liiiiil desatlo.9 que a natureza coloca, como também no próprio ato
contexto sóclo-econômlco-cuJtural·POlltlco, enClm, num con- do crlttcn.r. do incorporar a seu próprio ser o da traduzir por
texto rustórico. - uma. nção criadora a experfencia humana feita pelos homens
Considerando-se esta inserção, a educação, para ser~ I que o rodeiam ou que o precederam. (Freire, 1974a, p, 41)
lida, devo levar em conta necessariamen~e tanto a vocaçfil>_
ontológica do homem (vocação de ser sujeito) quanto as A história consiste, pois, nas respostas dadas pelo hO·
condições nas quais elevive <contexto). mem à natureza, aos outros homens, às estruturas sociais,
o homem chegará a ser "sujeito através da renexão so- e na sua tentativa de ser progressivamente cada vez mais n
bre seu ambiente concreto: quanto mais ele re!lete sobre a. sujeito de sua práxis, ao responder aos desafios de seu con-
realidade, sobre a sua próp<]a situação concreta. mais se texto. Consiste também numa cadeia continua de épocas,
toma progressiva e gradU8Jmente consciente, com.11.~~ caracterizadas por valores, aspirações, necessidades, moti·
do a intervir na realidadepara mudá-la, - vos. Uma época se cumprirá na medida em que seus temas
Sendo o homem..filli.!!!_to de sua_P!..ó_Qria educação~ são captados e suas tarefas rea!Jzadas, e toma..se superada
aç.ão educativa deverá pr.Qi!!qyer o próprio iildlVIduO~­ quando os seus temas e tarefas não são mais pertinentes às
ser instrumento de ajus~ d~ste à sociedade. Será graças à novas necessidades que surgem.

86 87
A participação do homem como sujeito na sociedade, codificada > é necessário que ele reconheça o objeto como
oa_cUJtura, na história, se rãz na mêaida de sua consc1ent1- uma situação na qual se encontra com outros sujeitos. É ne·
zaçliJ>. a qual implica a desmitlficação-:- ()opressor niitü1ca cessária a análise de sua sil.uação concreta, existencial, cO·
a realidade e o oprimido a capta de maneira mitlca e não diflcada. Esta codífícacão exige que se passe do abstrato
crítica. Oaí a necessidade do trabnlho humt.nlzante ser lnl· ao concreto, da parte para o todo, para depois se voltar no·
1 cialmente um trabalho de desmltutcação, consistindo a cons. vamente às partes.
cientização num processo de tomada de consciência critica A distribuição das diversas mOdalidades de consciência
de uma realidade que se desvela progressivamente. Os mJ.I\ varia do ponto de vista de· sua ocorrencia social relativa·
tos ajudljm a manter a realidade da estruturadom.lnnrtte. ,...~ [) mente à conjuntura histórica do pais considerado.
~ 1: , Quando os temas síto ocultos pelas <S1fuaÇões·llnúfe} si- . .. a consciência critica da realidade nacional ,; rÇJ1uislt.o
..; tuações que não são percebidas clarameõt.c, as respostas tm11resclndlvêi" pani . - revoluçao que renha a arrancar--;, _pau-
dos bomens, sob Iorma de uma ação histórica, não poderão do eal&<b de su~nvol".!Jnento ecor.õmico. Mas. é seguro
ser cumpr.das, quer de maneira autêntica, quer crítica. Os tamWm que essa só ocorrerá"PelR Coil"Stttu iç-ão de uma idco·
homens são incapazes de transcender essas sltuacões-llmlte logta que, vincul;\da hs massas, por elos comprcencl.!da e J.ncor-
- para veríficar o que exlste além delas. Quando o ser buma. ,. porada, desencadeia um movimento social, de que o aspecto
~ no percebe estas situações·limite como iC!Tontelra entre ser econõmJco é apenas um setor, quo termina por fazer a comu·
e ser mais humano, comeÇaa- trabalhar ãe maneira- cãdã Didade e.cender a outro plano de existência lúscórlC*. Nisso
vez mais crítica, para alcançãro _possível ainda não eXi)iirC_ oonst.ste a revolução nacional. CVlelm Pinto, 1960, p . 94)
merltado. - -- -
Os indiv!duos que são servidos pela existência e manu· No caso de sociedades latino-americanas, que se apre-
tenção de sit.uações·lirnlte momentâneas consideram o pos- i;entam, em geral, como sociedades Cechadas desde o tempo
5ivel não experimentado como situação ameaçadora, que a da conquista por espanhóís e portugueses, a cultura do si-
todo o cu.~tn deverá ser lmpecljda de realização. Dessa for- lêncio tomou forma. De modo geral, estas sociedades con-
ma, trabalham para a manutenção do status quo. tinuam ainda fechadas, dependentes, sendo que as mudan-
Para Pnulo Freire, o tema CUndamental do nossa época ças que normalmente ocorrem estão relacionadas com os
pôlos de decisão de que essas sociedades são objeto em
constitui o da dominação que supõe ~u contrário, o tema <la diferentes momentos históricos. '
libertaÇAo, como objetivo a ser alcançado. lFrelre, 19'748, p. 30
Tais sociedades, em geral, caracterizam.se por: estrutu·
A libertação não se chegará por acaso, mas pela práxis de ra social hierárquica e rigida; falta de mercados internos já
sua busca. que ~ua economia é controlada pelo exterior; exportação de
matérias.primas e Importação de produtos manuCaturados;
Para realizar • humanização que supõe a ellnúnação da sistema precário e seletivo de educação, sendo a escola um
opressão desumanlzactora, é absoluuimente nece$!árlo tram.len· instrumento de manutenção do status quo; alta porcentagem
der as situações.limite nas quais os homens SÍIO reduzidos ao \ 1 de analfabetismo e de evasão escolar; enfermídades decor-
estado do coisas. cl'retre. 1974a, p. 34)
rentes do subdesenvolvimento e da dependência econômica·
Humanização o dosumanizncão, dentro da História, num
contexto real, concroto. objetivo, são possibllldades dos homens \ tênue espe~ança de vida o elevada taxa .de criminalidade. '
como seres tnconclu.sos e conscientes ele sua inconclusão. cFreJ. te . As wcredades ~ objeto sãq sociedades de~endentes .Ql\TBC·
re. 19'l5c, p. :JOJ te~ por Processos cultur81S aliena~o~onae, obyiaJ:nen.
rufes ~r~pr!o pensamento-linguagem é ahenaâõ. Não há mo.
Sô a humanização é vocação do homem. Muitns vezes, para llttá.dt._aç8:? de pe~samento autêntico. Seu conceito de rea.
que o sujeito se reconheça no objeto (a situaçli.O existencial e nao corresponde à. reallcfade objetiva, mas à. realida-

88 89
.'
de que o homem alienado Imagina. O homem alienado não ra original. Não há rec.!!_~tas ou _!!!odelQ.Li;!e reJmostas. ™
se relaciona com a realidade objetiva, como um verdadeiro jantas i:.espostas_quantos_!_orem _os de11afios,, sendg_igualmen-
sujeito pensante: o pensamento é dissociado da ação. Q~­ te possivel encontrar r.es_postas dlferen~~ 12ara um mesmo
mem alienado é atraido pe.lo estilo de vida da sociedade_c!o- (jeSafiO- A resposta que o homem dâ a cada desalio não só
mlnante e não se compromete- com o seu mundo real. Sua modifica a realidade em que está inserido, como também
torma de pensar é retrexo do pensamento e expressões da modifica a si próprio, cadn vez mais e de maneu-a sempre
sociedade dominante. Por seu lado, as sociedades dominan- diferente <perspectiva interacionista na elaboração do conhe-
tes também sofrem processos de alienação ao se convence- cimento).
rem da jnfallbílldade de seu pensamento. A elaboraçã-0 e o desenvolvi!!lento do conhecimento es·
Durante os processos de transição, no entanto, pelos tão ligados ao processo de conscientlzação. Q !{gnhecimeik.
quais essas sociedades podem passar, e passarão em virtude to é elaborado e criado a partir do mútuo condiciõnrune~
de mudanças econômicas, o caráter estático da sociedade pensamento e prática. Como processo e resultado , consiste
fechnda dá lugar progressivamente a um dinamismo que E:le na superação da dicotomia suje!to-0bjet-0.
se apresenta em todas as dimensões da vida social. AS con- o processo de conscienUzação é sempre inacab3dQ.S<l._!l·
tradições emergem, provocando conflitos e os velhos mcxle- tínuo e -progressivo, é uma::.aprO!l.nm~ãq::tfülca da. realidªgê
los da sociedade fechada jâ não são mais válidos, quando as que vai desde as formas de consciência mais primitivos até
massas se constituem em presença histórica que surge. As a mais crítica e problematizadora e, conseqüentemente, cria-
etapas de transição dessas socit:dades são caracterizadas por dora. Implica a possibilidade de tran..<cender a esfera c!a
períodos históricos, que são os mais problematlzadores e os simples apreensão da realidade ~ara chegar a uma esf~r.a
mais criativos. Numa democracia autêntica. pois, os indi- critica, na qual o homem assume uma posição epistemoló-
víduos não se reduzem a objetos para o poder constituído, gica: a realidade se dá como um objeto cognoscível ac ho-
mas são co-responsáveis e co-particlpantes desse p0der, em mem. Conscientização in!plica e _ç_onslste, portanto~um con.
forma de co-gestão. t,!nuo e progri:ss.fvo .d.eS:Y..eJament_li da _r.elllidade... "qu~ _
Ora. Acontece que existe uma diversidade enorme entre os mais se des-vela a realidade, mais se ~tra...Illl essência
homens não só pol:ticamente, m"8. também, soclal. cuJtural, fenomenológica áo objeto que $epretende analisar'' (Frei-
econõmica e religiosamente. A democracia deve, entAo, buscar re, 1974a, p. 30). A nova realidade toma-se objeto de uma
a unidade nesta dlven;idnde. mcdlondo a todos pelo mesmo
obfe~o t1 nova comunfdac1e a ser instaura.da. Dai que num re·
nova reflexão crítica.
~e ~utenlicamente óemocráUco devem estar lnC:uldos todos Faz.se necessário, pois, identiticar __algµmas caracterís-
os homens como, igualmente, deve haver Jugar pl:U't1 \.Odas as ticas definidoras de cada ;j:lpo gt..i;õnsciênciãl_~ ~i~logia
ideolo~la.•. caso tal nõo se realize, estará acontecendo wna apresentada a seguir é baseada em A. V. Pinto (l!T60).1
miti!i<"Çllo An(!"nadora sob a capa da democracia. 1Jorge, 1981,
- Consciência intransitiva - É caracterizada pela quase.
p. 13)
centralização dos interesses do homem em torno das formas
tJ:aís vegetativas de vida.- As preocupaÇões do indivíduo
5. 4. Conhecimento (se e quando as tem> são circunscritas ao domiiüo do que
nele há de vital, do ponto de vista biológico. :E: um tipo ®
O homem se constrói e chega a ser sujeito na mi:_gjda consciência à qual falta. historicidade e é caracteristlca das
em q_ue;-rntegrado" em ·seu contexto. reflete sõbf~ ele e_ç_Qll'l Populações das regiões pouco desenvolvidas. Representa um
ele se compromete. tomando consclênciã de sua historiei· QUaSe descompromisso do homem com a sua existência, pois
dade. O homéfll é desafiado constantemente pela realidade dele escapa o apreensão dos problemas que extrapolam a
e a cada um desses desafios deve responder de uma manei· esfera estritamente biológica. O individuo não percebe de

90 91
forma cloro - e nem t.em 90ndições para isso - os condi- r sentacão do real de um país é produzido e o faz, não apenas
cionantes das~ ações humanas em ·rêspostã aos- ãêsãflos que 1 para apreciar a génese psicológica. de tal representação, mas
avida lhe apresenta.- ~lc<Js caracterlsttca.s do obje!if- principalmente para descobrir a natureza e a extensão das
e dos est!mulos se_ c9ntun:ç!em.-e.- portanto, as expttcaÇões _ ações que !\Obre ela exercem os fatores que a condicionam.
que dá sobre os fenômenos são- explicações mágicas. "Esse ,_Está permanentemente atenta para denunciar as influêncíàs
tipo de consciência, nó entiln1o, não corresponde a um fe- a que está submetida e para criticá-las. Interessa~ em des-
chamento absoluto e irreversível do homem, esmagado por cobrir os determlnantes de seu conteúdo, pois sabe que ele.s
espaço e tempo todo poderosos. O homem em qualquer ~tem. e tem por tarefa lógica distingui.tos e avalJá-los.
estágio que esteja, é sempre ontologicamente alx:rto. Realiza tal empreendimento indagando sobre a legitimidade
Co~sci.éncia tran!ilip_a_ i_T!Jênua__ - -~ntinuam prese~tes, de seus enunciados e procurando as influências que os ex-
neste mvel, as explfcaçõll.S má_gjCiís- fe-mee1dãs em relaçaQ..L pliquem. A finalidade que impõe a si própria é a de revellà-
transferência da responsabilidade ~~utoridade,.Jl à subes- ção consciente destas iniluências. É uma consciência diri
timação do homem comum. Este tipo de consciência seeã'. gida à objetividade, aberta às coisas e aos acontecimentos,
t'actertza por Corte lrtcltiúÍção ao gregarismo - pertinente à e voltada para a convivência com os homens. Vê a si pró-
massitlcaçl!o - pela impermeabilidade à investigação. pelo pria em !unçüo do mundo, explica-se em termos de depen·
gosto por explicações fabulosas e pela fragilidade de argu· dência histórica, sente-se condicionada pelo processo social
mentação. O individuo atém-se ao passado e exibe saudo· e Justifico-se como variável no processo social, de acordo
sismo, prestândo pQuca atenç~o presente, por ele consi- com as alterações da realidade. Caracteriza.se igualmente
derado como <lp0ca sempre_interior, medíocre e vulgar. Ale- por não renegar a noção de liberdade individual ~ por ten-
ga que o período atual é caracterizado por dissolução de tar concfllá.Ja com os fatores que sobre ela atuam, restrin-
valores e instituições. Manifesta pessimismo e visão catas- gindo-a e condlclonandÇH1. É necessário que se diga que a
trófica do presente, assume atitude de resistência a todos consciência que Investiga a si pró;nia, como é o caso desta
os projetos modificadores da realidade. e expõe-se, conse- modalid3de do consciência, tem como núcleo de todas as
qüentemente, a uma contradição: declara que as condições suas estruturas e reações, a propriedade de ser uma cons-
do pre!lente são miseráveis, mas se opõe a qualquer modi- ciência llistórlcn. Sua representação do real é condicionada
ficação que estabelt:Ça condições inédJtas de elCistência. por Ob.ietlvldade relativa, não possuindo o caráter de ver-
Uma das modalidades deste tipo de consciência é a atitude dade eterna e refletindo, pois, o momento que lhe dá ori-
reacionária, cujos elementos principais impllcam: defender gem. E sen.~fvel ao ritmo das transformações do mundo, à
as regalias de grupos sociais ou de situações econômicas compreensão da queda e do aparecimento de valores que
privllegiadas, em ser cega em relação a esses condiciona· Proponham modificar as condições de vida. Consequente.
mentos, - julga estar falando em nome da verdade, sem mente, é uma consciência anti·reacionária e anteclpadora.
compreender que erigiu em ideologia sua própria condição ~ ·;-- A Passagem da consciência predominantemente fntransi-
privilegiada - e em absolutízar esta situação, fazendo dela t111a para a predominantemente transitiva ingênua se faz.
um paradigma lógico e moral. .<;egundo Paulo Freire, de forma paralela à promoção dos
Plld~s econômicos da comunidade. Esta promoção é au
Consciência transititia - caracteriza.se por man~ tollUitica; no entanto, a promoção da consciência predomi-
consciência ae sua !l@endência, indagando sobre os fatores_ nantemente transitivo-ingênua para a predominantemente
óe que depende e, como ~~ •. não se dá a conhecer-à pri· transitlve>-crftica não se dá automaticamente, mas apenas
meira vista, exlgliido uma análise epistemolóiica. Ê uma-- q~do Inserida num trabalho educativo com esta destina-
forma crítica de pensar;-pois-que4:>usca Identificar !L.coin.-- çao_ A crfticfdade implicará, portanto, uma crescente apro-
preender os motivos e procedimentos pelos quais a repre· Prfação, pelo homem, de seu contexto.
92
93
5. S. Educação
educand06. Gerat~tc. pensamos que estamos 8 trabalhar
para os homens, Isto e, com os homens, para a sua libertação
Toda ação educativa, para que seja vál_idfb dev~,_llEl®·­ para a sua humanização, contudo, estamos a utilizar os mesmo~
saris.mente, serj1feccdída_ldillto de um11-:!éílexãa..&QQ!:ll. o-ho _ ~étodos com os quais lm))âdimos os homens de se tornarem
mem como de uma análise do meio de :d da desse.ll.O!!l.!l!!l- livres. Isto passa-se deste modo precisamenUI porque ostamos
col!.Creto, a quem se quer ajudar para que se eduque. O ho. unpregn"'."os do mil.os que cos tomam inca)>a2"'S de desenvol.
mem se torna, nesta abordagem, o sujeito da educação. •!r um tipo de aç!o .ª.lavor da liberdade, da ll1>ertação. AS&lm.
A ausencia de uma reflexão sobre o homem implica o nao é apenas necessano saber que ê impossível haver neutro·
risco de · adoção de métodos educativos e diretrizes de tra- lida.de da educação, mas ó absolutamente nec.;•~tlrio ddlnir am.
IJalho que o reduzem à condição de objeto. Por outro lado, bas estas ações diferentes, amagOnicas. Por Isso, preciso ""
a ausência de uma análise do meio cultural implica o rlS(O anallsor, de confu><'or, de distinguir esses dircrentes caminhos
de se realizar uma educação pré-fabricada, não adaptada ao no campa da educação. !Freire, 19'15b, p. 241
homem concreto a quem se destina.
A educaç~? é ~ator de suma importância na passagem
E preciso que a educação e.<;tfljA cm sou contcüdo, em seus da;s.rormas mrus pnmltivas de consciência para a consciência
proRrnmlis e tnl seus Jnétodos, Adaptada ao fim que se petseftue: critic?, que, por .sua ''ºz, não é um produto acabado mas
permitir ao homem chegar a ser su,je.lto, construir.se como pes· um v1r·a-stir continuo. '
soa. translormo.r o mundo e es!ab@lecer com os õulros homens
relt\~s de reciprocidade. fazer " cultura e • hbLória.. . (FrcJ• Pnrn l_'nulo Freire, ~ educação ~D!. caráter utópico.
re, 19?4n, p, 42} Quando de1Xa de ser ut6p1c.a. não mais. enfÕcandQ 11 unldaáe
anuncia.r·denunciai; é porq~!_o futuro J~_não sllm.i!i.c a nada
O homem não participará ativamente da história, da par~ o homem..Qll porque este teme arriscar sell.M - -
sociedade, da transformação da realidade. se não tiver con· ter conseguido dominar a Si~uãção prl:'Sentec Essa ::S'-:ei:f.
dições de tomar consclencia da realidade e, mais ainda, da Ç3 utóplca lmpli_ç;i CO~COII!!-~ cheios_Jle _i:iseos- ereli de
sua própria capacidade de transformá-la. ser ~ ato de-conhecune~ealidade denunctaga., tanto
Ê pr~císo que se faça, pois, desta tomado. de consclên· ao ru:_eJ de sua alfabetização como de- sua pós·alfabetizaçüo
eia., o objetivo primeiro de toda a educação: provocar e cri&.!" que sao, em ambos os casos, ação cultural. '
condições para que se desenvolva uma atitude de reflexão
critica. comprometida com a ação.
-- - A educação se dá, enquanto processo, em um contexto
5. 6. Escola
que deve necessariamente ser levado em consideração.
Na obra de Paulo Freire, a educa~ão assumELC.a.Iá~(ll'
Todavia, na verdade, a neu<rolidade da Oducação é iro· amplo, não restrita à escola em si e nem • wn
passivei, como lmposslvel é, por exemplo, a neutralidade di!edu - - - processo
"" rJ&icia. Isso quer dizer Que niio Importa se como edu·
~C!!Çõ.o fo.rmat. Caso a escola seja considerada~-
cad.ore.s somos ou oio conscientes, a nossa ati'\'idade desen. :;,r ~ot um local !>nde seja passivei o cresclmenfu m11h,0
volve-se ou para a libertação dos homens - a sus humanba- 0
P: _ essor e aos alunas, no processo de conscientizacão _
çfio - ou para o. sul\ domesticaçiio - o domínio sobre ele<1. te que .unp!Jca..u~~scola d iferente dâ .ll.íi.ã:Se..tem ãtualrn.J;l~ ~
Precls•inenl.e por causa disso penoo que é mult.o Importante , coin seus cu~1o.s e prio1·idades. ~
esclarecer as düerentes Cormas de ação no campo educacional, a A posição de Paulo Freire tica bastante clara em sua
a fim de tornar po9$lvel a nossa verdadeira opção ou escolha. ~ft~~~~ão contida no livro CUldado, Escola IHarper et
~ a minha escolha é a da liberLação. a da humon!J:ação, ó-mAI
absolutamente necessit.rio ser esclarecido de seus métodos, ide·
nicas e processos que tenho de uoor quando lllltou diante doa de Enquunto categoria abstrata, 1n6t1tu1ção •m s i. portadora
umn natureza imutável da qual se dlgn é boa. é mil. a escola
94
95
não existe. Enquant<> espaço social em que a educação formal. 2. Atitude fataUsta: o oprimido introjeta o opressor.
que nllo é toda a educação, se dá, a escola na verdade niío ó, É ele e ao mesmo tempo o outro, dai assumir atitudes t'ata·
a oscola ESTA SENDO HISTORICAMENTE ... A comproon· listas frente a situnçiio concreta de opressão em que se en·
são do seu ESTAR SENDO, porém. não pode ser lograda !ora contra, quando não ch~ga a Jocauza.r o opressor e não chega
da compreen~n de algo mais abrangente que ela - a socle-
a ter consciência de si. Este fatalismo é muito mais o trut0
dade mesma na qual .se acha. ·" cducaçi.u turmal que é_vivida...
de wna situação rustórica e social do que um traço essencial
na ew>la .t!_ um subSlste~ do sistemã"ma10T. -
da forma de ser do povo.
AJJ relações entre eles - subsistema e Sistema maior -
nlid são contudo mccllnicas. Se não se pode pedir à escoln, 3. Atitude de autodesvalia: há, em certos momentos
o (l.ut vale dizer, ?&. educação !orm~l, que se tome ol~vanc~ dRs da experiência existencial dos oprimidos, uma irresistfvel
tran.stontUlções sociais, nlio se pensa, por outro lado, que ela atração pelo opressor, por sua maneira de viver; passam a
seia um J)UJO reflexo do si.stemA 1111e a engendra querer, em sua alienação, não só parecer com o opressor
como também segui·IO e Imitá-lo.
.A escola. po.!§, para Paulo Freire, é uma_in!;tituiçã.o qu!.- 4. O medo da liberdade ou u submissão do oprimido:
exist:J num contexto hlsoorico de uma determJnacl.a_.sQcieda.·_ na relação opressor·oprinúdo, um dos elementos básicos é
'de. Para que se}a compreendlãa é necessário que se enten· a imposição de uma consciência à ouLrn. A consciência que
-ãa-como õffeer-Be wnstitu1 na soe~ e a serv1ç_o de recebe ordem e se transforma em consciaticla hospedeira
@em está atuando. - - da consciência opressora. Assim, o comportamento do oprl·
mido se situa dentro dos ditame1; dos opressores, manlfcs·
tando por um lado ª .falta de con!ianca em si mesmo e, por
5. 7. Enstno-aprendlzagem outro, a crença mágica no opressor.

A pedagogia do oprimiao, segundo Paulo Freire, é aque- Uoa situ~ de ensino-l!l2_rendizagem, entendida em
la que cem dê -ser rorj11dll -r.om ele e não para ele, enquanto sel!._senfldo global, devera procurar a superação da relação
homem ou povo, na luta incessante de recuperação de sua opressor-oprimido. A superJl.Ção deste tipo de réll\Ção exi-
humanlda-Oe. Uma pedagogia que faça da opressão e de ge condições tais como: reconhccer·se, criticamente, como
suas causas o objeto de sua re!lexão, resultando dai o enga- oprimido engajando-se na práxis libertadora, ondeo- diálo·
jamento do homem na luta por sua Ubertação. go exerce papel fundamental na percepção da realidade
O@"essora; solidarizar·se com o opril!lido._ o que in1j)Iica
A estrutura de pensar do oprimido está condicionada assumir a sua situação e lutar para. transformar arearfcfa.
pela contradição vivida na situaçãc concreta, existencial em d~. que o toma oprimido; transformar radicalmente a s1tua-
que o oprimido se forma. resultando da! conseqUências tais çao objetiva, entend1da como a transformação da situação
como (Freire, 19'15c): cone.reta que gera a opressão <tarefa histórica dos bÕmens ).
1. Seu ideal é ser ma.is homem. mas para ele ser hO· Ensino e a~rendizagem assumem um significado amplo,
mem, na condição em que sempre esteve e cuja superação ~I q_ual o que. e dad.o à educação. Não há restrições às sl-
não lhe está clara, é ser opressor. Assume urna atitude de açoes formais de instrução.
aderência ao opressor e assim niio consegue descobri-lo fora A verdade~~ educ~ão, para Freire, consiste na educa-
de si. Esta aderência ao opressor não permite a consciência çâg_problemati~adora, que ajudará a superação dãl'êl.ação
de si mesmo como pessoa e nem a consciência de classe ~:or-oprimido. ~ educação problematizadors. ou cons-
oprimida. Somente na medida em que o oprimido se des· d izadora, ao contrário da educação bancária, oójê"tiva o
cobrir hOspedeiro do opressor poderá contribuir para ums. .:~.!lVolvlmento ~ consciência critica e- a liberdadêComo
pedagogia libertadora. eios de superar as contradições da educação bal'!Cárllí, e

96 97
responde à essência de ser da eonsciêncla~que é a sua ln- A educação, portanto, é uma pedagogia do conhecimen-
~ 1[ijãfidada--Ã diãfogiêi<!ade é a esS~J:lCin desta
ção. Educadql" 'é educando s!o, portanto, sujeitos qe um
iaú(:ã-:"
\ to, e o dlálogO, a garantia. deste ato de conhecimento. Pa-
ra que sejam atos de conhecimento, o processo de alfabe-
ru:.oces.so em ~ue cresêe!!,l J_untos, .11Q.rgue '.:. .. ningyé_l!l - edU:- 1 tização de adultos, assim como qualquer outro tipo de ação
ca ninguém, ninguém :;~_!lduca; os homens se educam eft7 pedagógica, devem comprometer constantemente os alunos
tre si, media9za<io~ pelo mundo''. (Pfe!.re-;- 1975c, p, 6:f>- com a problemática. de suas situações existenciais.
o educad~é sempre Um. sü)êito cognoS<'.ente, quer
quando. se prepara, quer quando se encontra dlalogicamen-
t.e com os educandos. A educação problematizadora im- 5. 8 . Professor-aluno
• plica um constaote. e.to -dedes-11eTãmento da .realidadê:_ ~~
J[lilii esforço ~rmanente, através do qual os homens vão_ A relação professor-aluno é horizontal e não imposta.
percjl)>endo criticamente como estão scmf<1 no JllUDdQ. E:.- P,!ira que o pr~sso eduGiicional seja _real é necessáno que
' taeducação supera, pois, o autoritarismo do educador ban- o~ueador se torne edu~do e o eduêando, 11orsua vez
cário assim como o intelectualismo nlienante e a falsa cons- educador. Quando esta relaÇão não se efetiva não há ed~ ·
.· ciência do mundo. êâçãO. O hom8!11 assumi~ a PQSlção_ d! suje!ki de sua pró·
A ação do homem, sem objet.lvos, não constitui práxis prla educação e, para que Isto ocorra, deverá estar cons-
e sim uma ação ignorante de seu próprio processo históri- . cieri'tizado do processo: é, portanto, muito diíicil pretender
co e de sua finalidade. A base da ação planificada do ser participar de um processo educativo que, por sua vez, é
humano (inter-relação entre a nonsciência do objeto pro- processo de conscient!zação, a menos que se seja conscien-
posto e o projeto empreendido para alcançá-lo) implica te de si e de tal processo.
opções de valor, métodos e objetivos. ºm professor que esteja engajado numa prática trans-
Em tal contexto, o processo de alfabetização de adul· ro~dora procurará desmitificar e (l!!eStionar, com o alu-
tos é compreendido como um ato de conhecimento, que ím· no, a cultura dominante, valorizando a linguagem e cuJtú.
plica diálogo autêntico entre professor e aluno. "O verda- ra deste, criando condições para que cada um deles ann·
deiro dlálogo une os homens na cognição de um objeto cog· lise seu contexto e produza cultura. Os conteúdos dos tex-
nascível que se antepõe en~re eles'" (Freire, J975d, p. 29). tos utilizados serão constantemente analisados no sentido
Neste processo, os alunm deverão assumir desde o ínlclo de expressarem pontos de vista da autor e da grupo social
o papel de sujeitos criadores. Aqui é necessário que se e cultural que representam, e os conhecimentos cientificas
considere a unidade pensamento-iu;ão, pois, para Paulo Frei- analisados como um produto histórico, representando 1i
l'e, os aspectos cognitivos do processo de al!abetização de· interpretação física, biológica, psicológica etc. dos fenôme-
vem incluir necessariamente as relações dos sujeitos com nos, num determinado momento concreto. O professor
seu mundo. Procurará cnar candlções para que, juntamente com os alu-
Aprer.der a ler e a escrever de,·eria ser uma oportunidade nos, a consciência ingênua seja superada e que estes pos-
par• que o homem sailJa qual é o significado verdadeiro de sam perceber as contradições da sociedade e grupos em
Que vivem.
"falar a palavra''. um ato humano que irnpltctL renex.ão e ação.
oever:am ser considerados como wn direito humano primordial _Haver_ã pr~upação com cada aluno em si, com o pro-
e n1o o privilé!llo da p<>ucos. f\\lor wna palavra não é u:n oto cesso e nao ~m produros de apren~gem acadêl'nica pa.
verdadeiro se n1o esUI ao mesmo tempo associado com o di- ckoJ;úzados. O- diálogo é ~esenvolvider â.a__mesmõ.:Jempo
reito de •·expressnr a si mesmo"...elC'pressão dn mundo", crlan· :am:que são oi:oxtuntzadas -ª- cooperiu;ão, a união, a organl-
do e r~cdando, decidindo, ele~endo e, !inab11cnte, participando pokº' a. s~luça_.fl ~m comum"ToS problemas. Os alunos.
do processo histórico da sociedade. (Freire, 1975d, p. 301 • partlc1parao do process0funtamente com o professor.
98 99
' •'>

5.9. Metodologia verdadeira consiste em transmitir o mundo e em trans!or-


m~to.
O método de alfabetizaçãp elaborado por Paulo Freire · A palavra destituída de ação transformu·se em verba·
reflete sua abordagem sobre eclucação. Ne_s~_método, a_ !ismo. Quando, porém, se enfatiza a ação, sem reflexão, a
codificação inlrla.l consiste numa_ es~cle de figura, um de,,_ palavra se c0nverte em ativismo. E a ação pela ação, ao
senho representativo de urna situa.ç~o existencial real ou minimizar a reflexão, nega a práxis verdadeira, impedindo
cons_~ pelos alll!!os. Ao elaborar e~ repr1Lsentação, 0 dlálogo. Qualquer destas dicotomias gera dlstorçõe.< no
os alunos realizam uma ope~ de distanciament.o do pensar. somente através do diálogo será possível demo·
objeto cognoscíver. -~sta tonna,__p_rofessor e ~ll!!OS- pode· craL!zar a cultura. Esta democratização implica (Maciel,
rão- refletir conju!!1ªwente de forma crítlca sobr~ ou.te- 1963, p. 30): igualdade ontológica de todos os homens, aces·
tos que os mediatizam. slb!lidade ilimitada ao conhecimento e à cultura e comu-
A codificação_ representa uma dimensão da real.idade nicabilidade Ilimitada do conhecimento e da. cultura.
dos indivíduos, e implica ariillisesrelillzada~num cõE_tel!l&l. :E a partir da consciência que se tenha da realidade
diferente daquele no...qual eles Vivem. Transforma, pois, o que se irá buscar o conteúdo programático da eduéação.
que consistia numa maneira de víver , no contexto real, em o diálogo da educação como prática da liberdade é inau-
um objeto do contexto teórico. Os alunos poderão receber gurado no momento em que é realizado o que Paulo Frei-
informacões e analisar os aspectos de S\lfl própria expe. re denomina de universo temático do povo ou o conjunto
riência existencial que foi representada na codificação. de seus temas geradores . A investigação deste universo
A busca do_ tema gerador objetiva explicitar o...Jlen.5&- temático implica uma metodologia que não pode contradl·
mento do homem-~~ reãlidade-·e- sua-ução-sóbre e!Jv, zer a dialoglcldade da educação libertadora. Sendo dialó-
o que _!:onstltul ã s\~a...::práils:.~edida ~~_llo..-­ gica e consclentizadora, proporciona não só a apreensão
meri.s ·participam ativamente da exp]oração de suas temát1' dos temas geradores, mas a conscientizaç!l.o destes.
cas, sua consclênclã crítica da realidade se aprofunda.
A busca da temã'tica implica busca do pensamento dos --
O método de Paulo Frei re Implica nas seguintes fases:
,...__ .--
ievantainento do universo vocabular dos grupos com quem
homens, pensamento este que se encontra somente no melo se trãliaJha; esco!lm da$. palavras-M!:.8doras; enaçao de sJ.
deles, os quais, reunidos, Indagam a realldade. A posição tuaç&s existenciais típicas do gTUllQ... que se~ ~
interacionista de Freire é bastante clara: r os homens, en-
quanto seres em situação, encontram-se Imersos em condl· \ do; criação de fichas-roteiro e elaboração de fichas com
a decomposição das famílias fonêti'Cãs correspondeiites...aos.
ções espaço-temporais que neles influem e nas quais eles vocábUios geradores e ficha de descoberta, contêõdo ~ fa-
Igualmente influem, consistindo o desenvolvimento nesta
Interação construtivista. t
- - Utilizando situações vivenciais do grupo. em forma de
1
vas palavras com aquelas sílabas.- -
milias fonêmlcas, que ê utilizada para a descoberta de no·
-
Na etapa de ªlfabeti23ção.....a_educação problematizado-
debate, Paulo Freire delineou seu método de alfabcti.Ulção,
que tem como características bâsicas: ser ativo, dialóglco hn 6usca investigar a J?.alavra ge.ra~Õra e, na pós-alfabetiz&-
e crítico: criar um conteúdo programático próprio, e usnr çãQ. os temas gerado!_El.S. Apesar de intim!lmcnte ligada à
técnicas tais como redução e codificação. educação de adultos, ao processo de alfabetização, a abor-
O_ diélogo ..implica-xelaçllo _Qorizontal de pess~a pes· dagem de Paulo Freire considera a educação como um pro-
soa~.sol>re alguma coisa, e nisto reside o novo_conteú_do {!?lf cesso continuo de tomada de consciência e de modificação
gram_J!i90 ~ ed.ucação. A pelavra._ é vísta em d•!Jls d!meo:.. de si próprio e do mundo, o que tem profundas implica-
sões:.A...da ação--e...a..da reflexão. Não há palavra verdadeira. ções no ensino de J.•. 2.• e 3.• graus.
que não seja práxis. Dai so afirmar que d.lzer a palavra

100 101
s . 10 . Avaliação na, indivíduos e/ou grupos de indivíduos podem permane-
cer no perlodo simbólico, intuitivo, ou mesmo no opera.tó-
A verdadeira avaliação do processo consiste na auto.
rio concreto. não chegando aos estágios finais de desenvol-
·avaliação e/ ou ava)f~o mútua e permanente da _prática r vimento do pensamento hipotéticCHledutivo.
educa.tiva Por _professor..-ê~ Qualquer processo for-
mal de notas, exames etc. deixa de ter sentido em tal abor- . . por um lado !e ls1o na evolução montai do individuo,

--
dagem. No processo .de _avaliação proj)<)St~ tanto os alu-
nos como os professores saberao quais suas dificuldade~ -
quais sei.is progressos. •·A~}>J!'Bliação li da prátJCJIJdneãti-
como na &uces.são histórica da.s mentalidades), existem escalas
auccealvas de estruturação lógica, Isto é, de lnleUgênela pratica,
intuitiva O\l operatória. Por outro lado. cada uma dessas es-
calas (sendo que várias podem coexistir numa mesma socieda-
' va, e não de um pedaw_~ela.'' (Pre!re, 1982, p. 94)
o de) t cal'!lcterlzada por certo mo<lo de cooperação ou de ln·
,-e> ' t.eração social, cuja sucessão representa o proiresso <la socia-
-., 5. 11 . COn$hleruçõ~~ finais il%ação ~nica ou intelectual me•tnn IPinget, 1973b, p, 103 >
....... \

Numa abordagem sócio-cultural a educação assurtte ca-


ráter amplo e não se restrfu_ge_às_situações forma!saeêil-""
, sino-aprendizagem.
A análise presente no entanto contrapõe-se essencial-
mente ao que foi denominado ensino trad.icional e ao ensi-
no decorrente da abordagem comportamentaUsta, princi-
palmente pelos seus pressupostos relativos a homem, mun-
do, educação etc. A ciência. considerada geralmente neu-
tra nesta última abordagem, é explicitada na abordagem
sócio-cultural como um produto histórico; a educação, sem-
pre como um ato político; o conhecimento como transfor·
mação continua e não transmissão de conteúdos programa-
dos; a regulação da aprendizagem como tendo sempre o
sujeito como centro e não a comprovação de desempenhos
com normas ou critérios pré-fixados.
Na abordagem sócio-cultural, no entanto, o aspecto téc-
nic~ da educação não é descartado. Ê considerado relacio-
nàdo a todo um processo do qual não pode ser enfocado
como Independente, tampouco ser priorizado.
Ê interessante se considerar. ainda, as formas de cons-
ciência e todo o processo de con:scientização analisados por
Freire, em comparação com o processo de desenvolvimen·
to mental propQsto por Piaget, não somente sob a perspec-
tl va ontoienética mas também tilogenética.
?\a proposta de Freire, a promoção da consclenUzação
se faz de estágios mais primitivos aos mais elaborados, po-
dendo tanto o lndh1duo, como toda uma sociedade, perma-
necer ao nível de consciência ingênua. Na teoria plagetJa..

102 103
Capítulo 6

As abordagens
do processo ensino-aprendizagem
e o professor

Com o objetivo de fornecer informações adicionais


referentes à pesquisa realizada, este capítulo contém, num
primeiro momento, reClexões pertinentes às análises feitas
nos capitulos um a cinco deste livro e, num segundo mo-
mento, as relativas às opções teóricas declaradas e práti·
cas manifestas dos professores que participaram da pes-
quisa em questão.
A partir d.as análises relativas às abordagens do pro-
cesso ensino-aprendizagem, pode-se constatar alguns aspec-
tos metateóricos que definem seus elementos idiossincra-
tlcos. Um deles é a Já reilerada multidlmensionalidade do
fenômeno educacional, considerada a n!vel teórico. Outro
refere-se à possibilidade de se analisar as interpretações
do fenômeno educacional em seus pressupostos, decorrên·
cias e/ou implicações principais.
Algumas Unhas teóricas, porém, parecem desconsiderar
alguns aspectos - pressupostos e/ ou implicações - do pro.
cesso ensino-aprendizagem. que só puderam ser carnctcri·
zada.s POr inferência, o que se constitui numa das dificul·
dades deste tipo de trabalho.
Foram. então, identificados dez conceitos que articula·
dos deveriam refletir tanto a multidimensionalidade do fe-
nômeno educacional quanto servir de indicadores para a ca-
racterttação e comparação das diferentes teorias.

105
Como foram mantidas const.antes as categorias de aná- mais consistentes. dentro do estll.gio atual cto desenvolvimen-
lise, verificou-se. pelA sua comparação nas diferentes abor- to de teorias sohrEI ensino-aprendizagem. Constituem elas,
dagens do processo ensino-aprendizagem aqui consideradas pois, o produto de um trabalho que não deve ser desconside-
que determinados aspectos são mais consistentemente tra: rado. Poderão ser refutadas, contestadas e mesmo o real po-
balhados em algumas abordagens do que em outras, da mes- derá, futuramente, contradizê-las. Representam, no entan-
ma forma que se pode notar que certas linhas teóricas são tô, uma aquisição do conhecimento e como tal devem ser
mais explicativas d.e alguns aspectos do que de outros. Po- reconhecicms. Somente desta forma poderão ser aceitas
de-se perceber, então. a possibilidade de articulaçâo das di- ou superadas por outras mais consistentes e de maior po-
versas propostas de explicação do fenômeno educacional, der descritivo e interpretativo, ou definidoras de relações
pelo menos em alguns de seus aspectos, pa.ra explicação e mais amplas e ricas entre o modelo teórico explicativo e o
compreensão daquele fenômeno, de forma a superar os re- concreto disponível.
ducionismos característicos das dflerentes abordagens. Torna,se necessário ainda mencionar que as teorias
Se, por um lado, o tJpo de análise realizada mostra uma não são as únicas fontes de resposta posslveis, completas
certa precariedade e, ao mesmo tempo, se constitui em uma e ineorrigíveis. para as situações de ensino-aprendi1.agem.
tentativa válida de sistematização de conceitos do fenôme- Ela.s são elaborados para explicar, de forma sIStemátlca,
no estudado. por outro. Indica espaços que poderão ser determinados fenômenos. e os dados do real é que irão for-
preenchidos por investigações futuras e mal:; consistentes necer o critério para a sua aceita,_;,.., ou não instalando-se
V- ' '
poSSlbüitando novas articulações com o vivido, com o em'. assim, um processo de discussão permanente entre teoria
pírico. e prática, Seria de se esperar, no entanto, por parte do
O papel da teoria é, muitas vezes, lfmitado. Para al- professor, uma tentativa de utilizá-las na explicaçâo do real
guns aspectos do fenômeno educativo. a t:xplicação das re- ou de f82er com que a sua apreensão do real confirmasse
lações envolvidas pode não ser suficientemente desenvol- ou refutasse determinada aproximação do fenômeno.
vida ou abrangente, e sua incomplelude pode, inclusive, ser- Parece exlravagante, ou pelo menos dillcil de se justi-
vir de guia ou fornecer elementos para reflexão. Não há ficar, que o aprendido durante os cursos de formação de
teoria que, por sua própria nalureza, fins e prioridades, professores permaneça externo u estes profissionais como
seja elaborada A resisti\ às mudanças sociais, filosóífcas e .
se nada tivesse a ver com sua práticu. pedagógica e seu' po-
psicológicas, pelo menos do puntu de vista do ser humano sicionamento !renLe ao fenômeno educacional. l:rna tenta·
que a examina, a utiliza e participa do mundo que 0 cerca. tiva de articulaçiio entre o saber acudêmico e o aprendido,
Finalmente, parece também ficar claro, num tipo de a partir da experiência pessoal retletlria um comportamen·
análise como esta, que as referidas abordagens não cons· to coerente por parte do pro!lssional educador.
t.ituem sistemas fechados, tampouco Implicam necessaria- . Se, por um lado, os problemas e os 1mpasses da expe-
mente ortodoxia, principalmente quando se recorre aos au- riência cotidiana do professor não são resolvidos meramen-
tores originais, ao contrário do que se observa quando a te por algum postulado externo a ele, por outro. há neces.
fonte é secundária ou de adeptos das posições teóricas. stdade de uma ação-reflexão grupal, por parte dos profes·
Apesar de terem muitos aspectos sistematizados, as teo· sorcs. para a compreensão desses problemas e impasses.
rias ou são incompletas no sentido de estarem ainda em Nes:a Interpenetração ação-reflexão é que as superações po-
elaboração ou reelaboração, ou constituem explicações pro- derao ocorrer.
visórias num dctermlnado momento, já que lhes falta, em A desarticulação e a não interferência das linhas teórl-
alguns aspectos, validação emplrlca ou confronto com o ~· estudadas em cursos de formação de professores, na
real. Deve-se salientar, no entanto, que as tendências ou ~ratica. pedagógica poderá indicar que ns teorias que cons-
abordagens estudadas são as que se apresentam como as tiuem o ideárío pedagógico permanecem externas ao pro-

106 107
fessor. Nüo são incorporadas, discutidas, retletldas a pon- um cui·so de formação de professores dovoria possibi·
to de serem vivenciadas. mar confronto entre abordagens, quaisquer que fossem elas,
Esta possível desarticulação sugere a necessidade de entre seus pressupostos e implicações, limites, pontos de
se repensar cursos de formação de professores. Sugere contraste e convergência. Ao mesmo tempo, deveria pos-
!gualmcnto 11 necessidade de análise dos conteúdos usual- sibilitar llO futuro professor a análise do próprio /a:zer pe-
mente veiculados em disciplinas pedagógicas, especialmen- dag6glco, de suas implicações, pressupostos e determinan·
te daquelas que analisam abordagens do processo ensino- tes, no sentido de que ele se conscientizasse do sua ação,
-aprendl~rem. procurando articulá-los com a prática peda.- para que pudesse, além de interpretá-la e contextualizá-la ,
gógica, em suas düerentes manücstaçõcs, possibilitando superá-la constantemente.
assim uma compreensão cada vez mais abrangente e signi- O que mais se espera, pois, não é o domlnlo de uma
ficativa do renl. ou mais abordagens, mas de formas de articulação entre
Trata-se, pois, da necessidade de articulação do apren- as mesmas e o fazer pedagógico do professor. Caso se pro-
der, do analisar, do discutir opções teóricas existentes à. cure uma articulaçflo entre abordagens disponíveis, esta in·
execução, em situações concretas de ensino-aprendizagem, tegração pressuporia repensar essas abordaaens, em seus
destas opções teóricas, de forma a que o discurso (o a.na. pontos de intersecçilo e de contraste, de formil a que aspec·
lisado, o lidoJ e o vivido, se aproximem cada vez mais. tos col(l1i!Jvos, emocionais, comportamentais, técnicos e só-
Ler, escutar, discutir propostas alternativas é diteren· cio-culturais pudessem ser considerados. Dessa forma, a
te de praticá-las e vh•enciá-las. Um dos grandes problemas prática pedagógica. tal como aqui enfocada genericamente,
dos cursos de Licenciatura. é que os futuros professores poderá assumir o sentido de práxis, de uma atividade teó-
raramente chegam a vivenciar propostas que foram dis- rico-prática. Esta prâtica, por sua vez, Irá. fornecer elemen-
cutidas. tos para a compreensão do discurso.
Uma das soluções em que se pode pensar para superar Ao se considerar as opções teóricas declaradas dos pro-
tal problema é a da estruturação dos cursos de Licencia- fessores, partiu-se da constatação de que as opiniões rela.
tura de forma a que teorias e práticas pedagógic;is não fos- tivas ao fenômeno educacional não são únicas, nem verda-
sem consideradas de forma dicotomizada, mas sim que, a deiras em sua totalidade, tampouco definitivas. Houve
partir da prática, se pudesse reOetir, discutir, analisar, ques- preocupação, no entanto, em saber como elas se contiguram
tionar, criticar diferentes opções teóricas em confronto com num determinado contexto histórico.
esta mesma prática. Esta seria, também, uma das formas Os dados obtidos indicam que o professor prefere al-
de se evitar a uWização de receítuários de abordagens es- gumas das abordagens na consideração do !enômeno edu·
tanques e externas a-0 professor que, no máximo, poderão ~~lona!. Em ordem de preferência, as abordagens cogni-
ser lembrados posteriormente, mas que não terão reflexo tivista e s6cio-cultural são as mais escolhidas em nove das
algum no seu cotidiano escolar. Também poderia ser esta dez categorias estudadas, quer em seus pressupostos, quer
uma forma. de evitar o problema da crítica pela critica, des- ei:n suas Implicações. Os conceitos da abordagem huma-
ligada de uma prática pessoal experienciacla em uma reall· nista são escolhidos, de maneira geral, como terceira opção.
dade definida e que sempre vem desacompanhada de pro- As úl~imas escolhas se referem a conceitos da abordagem
postas que objetivem minimizar os efeitos nea-ativos apon- tre.dl01onal e da comportamentalista.
tados pelos próprios criticos. Evidencia-se, pelos resultados obtidos, um pluralismo
Talvez, com um esforço conjunto, fosse igualmente pos- na Interpretação do processo ensino-aprendizagem. Na
sível percorrer o caminho inverso: o de se tentar elaborar tnaloria das vezes, diversas linhas teóricas coexistem como
0
teorias a partir C!a prática e do cotidiano analisado e ques- ~o para um mesmo sujeito. No entanto, mesmo con-
tionado. 51derando este pluralismo pode-se detectar claramente opções
108 109
predominantes no momento histórico considerado, em re. cípios que poderiam ser considerados decorrentes de ou
lação ao grupo de professores estudado. pelo menos compatlvels ºº121 os do escolsnovismo e com
Do quadro geral dos resultados deste trabalho, dois uma visão Uberal da educaçao.
deles podem ser destacados. O primeiro refere.se à pouca Esta visão pode transparecer em diferentes categorias
preferência por conceitos da abordagem compor~menta· concernentes ao desenvolvimento de cada aluno, ao pro-
lista e o segundo, à escolha acentuada de alinnaçoes rela· gresso cognitivo de cada criança, ao advogar oportunlda·
tiv~ às concepções da abordagem cognitivíst.a. des de desenvolvimento para cade. um e para todos (quer
J!: in~eressante constatar que não predomina entre os se enfatize o cognitivo, o emocional, quer o comportamen-
professores uma visão tecnicista do processo educacio~l. c.al), podendo, então, encobrir a idéia liberal de que o de·
A esse dado, que pode ser visto com certa estranhe-.ia prm· senvolvimento pleno é atingido pelo mérito incUvidual.
cipalmente devido a que a sbOrdagem componamentsllsta Na abordagem cognitlvist.a apresentada neste trabalho
passa a ter, a partir do final dos anos sessenta, predoml· (a piaget!ana) e a preferida pelos professores, desde que o
nio entre as tendências da educação brasileira, acrescenta· aluno se encontre em um ambiente que o solicite devida-
-se o fato de que grande parte dos professores de São Car· mente, e que tenha sido constatada a ausência de distúr-
los, independentemente de sua pro~eniência, teve ru:esso 11 bios biolc\glcos ligados preponderantemente à atividade ce-
ela nas disciplinas nos cursos de Licen=tura que fizeram. rebral, ele terá concUções de chegar ao estágio das opera-
Além disso, urna parte slgni!ícstiva de pesquisas sobre apren· ções formai~. Não se justificam nem se lt:gitlmam, por
dizagem nas Universidades das quais estes professores pro- esta abordagem, desigualdades baseadas nas potencialidades
vêm é realizada nesta dlreção <Ull como se pode ter notf· de cada um, tal como poderia decorrer dos princípios es·
cias por depoimentos de professores e alunos, por co~ta· colanovistas. Estaria neste detalhe, talvez de grande im·
tos com pessoas destas insmwções e mesmo por reumoes portãncla, já que o determinismo biológico age mais em
cientülcas. como, por exemplo, a SBPCL função de detennlna.r desenvolvimento. do que de determi-
Em relação à mencionada abordagem, no entanto, é nar máximos de desenvolvimento para cada sujeito a idéia
interessante observar que os professores tendem a aceitar, que despertaria maior interesse para um trabalho' realiza-
e mesmo a escolher. preferivelmente conceitos relacionados, do por um profission11l com as idiossincrasias de um edu.
derivados ou implicitos, relativos a planejamento, execução cador?
e avallaçào do ensino, do que os relativos a, por exemplo, . O sucesso de tal tipo de abordagem, no momento his·
pressupostos sobre concepções de homem, mundo, conhe- lónco considerado, pode ser atribuído supostamente ao fa.
cimento, sociedade-cultura. to dela, em seus conceitos e formulações elaborados sls-
Mais com a intenção de trazer elementos para a dis- ~=maticamente'. poder abranger, num discurso convincen·
cussão do que explicar o ocorrido. iá que o tipo de pesqu1· • tanto Prlnc1p1os do Liberalismo e do escolanovismo dele
se não fornece esse tipo de i.nlormação, serão apontados, de;:rrentes, quanto do ensino tracUcionaJ. É esta, prova·
a seguir, alguns fatores que podem. parcialmente. elucidar
. a açentuada preferéncia pelo cognltiv1smo neste momento
histórico.
:r
~e ente, uma das posições teóricas que mais oferecem po-
.de síntese e continuidade de discussão dos problemas
g ra.ts relativos à educação e ao conhecimento humano.
como mencionamos anteríormente, as cinco aborda. vis Um dos posslveis elos do cognltivlsmo com o escolano-
gens estudadas podem ser cUcotomlzadas, no geral, em: mo é, talvez. a ênfase na participaÇiio ativa do aluno du-
rante a aprendizag
ensino tradlc!onal (abordagem tradicional) e ensino reno- hora . em, no processo de desenvolvimento em.
vado <as demais abordagens). Excetuando.se, principal· Ó~-claro, ~!!1_ nuanças próprias a cada um. '
mente, a abordagem sócio-cultural, as demais do segundo apren~,es-;:olanovi~~o, acentua a importância do aprender·a
grupo estão Impregnadas. em maior ou menor grau, de pdn· __er~ o cogn1tiv1smo, o desenvolvimento de operações.
llO 111
o est.abelecimento de relações, o ato de conhecimento en A abordagem sócio-cultural apresentada neste trabalho
volvido no processo de ensino-aprendizagem. Ambos, no está impregnada de aspectos humanistas caracteristlcos das
entanto, são processualistas. Seria o Interesse cada vez primeiras obras de Paulo Freire.
mais emergente por se conhecer tais processos, o elemen- Resta indagar se ao invés de buscar-se explicações em
to unüicador das opiniões dos professores? elementos conUdos na parte Interna das t->orias, não se de·
De uma forma bastante genérica, igualmente, pode-se veria buscar explicações ao nível externo, em termos de Jo-
considerar que tanto o cognltivismo, quanto o humanismo gos de forças sócio-politlcas. que podem <.Ondicíonar e dJ.
e mesmo o comportameoWismo em alguns de seus aspec. reclonar as escolhas no sentido do melhor, do pior, do de·
tos, pressupostos e lmpllcações para a educaÇão, são, de seJavel e do indesejável.
certo modo, solidários ao movimento escolanovista, pois Nesta parte do estudo não se pode dizer que o idedrio
surgem contra o ensino tradicional. Apresentam, no entan. pedagógico dos professores se manifesta desarticulado e
to, caracteristlcas próprias e sistematizações que a Escola tragmem.ário ao nível do discurso verbal. Há constância
Nova, em sua amplitude e momento histórico, não pos. nas preferências. Isto pode ainda ser constatado pelo fato
sui. Estaria na construção sistemática e avaliada de seus de que poucos professores foram classi!icados como de
conhecimentos, a força que Impulsiona a preferêncill dos tendência lndeJtntda, ou seja, tendência onde não houve pre·
professores? domínio algum de qualquer tipo de abordagem. Em ou-
Um outro elemento a ser considerado. para talvez aju. tros termos, grande parte dos professores segue as mes-
dar na explicação da aceitação quase phma da abordagem mas abordageru; na escolha de afirmações referentes a dJ.
cognltivista pelos professores, é a existência de um elo pos- ferentes categorias. As manifestações, pois, ao nível do
sível de ligação entre o desenvolvimento intelectual e os teórico, podem ser consideradas consistentes.
ideais apregoados pelo ensino tradicional quando este é con· Um outro elemento que Interessa aqul mencionn.r é a
não interferência de variáveis, tais como sexo, idade, anos
cebido de forma não caricata, no que conc~me a: con.
de experíêncla no magistério. disciplina ministrada e aces-
teúdo, processamento e tratamento das informações, raclo· so ou não a cursos de pós-graduação, na opção por esta ou
cínios elaborados através dos séculos, teorias etc. Esta· aquela linha teórica. Sugerem-se estudos no sentido da
ria na preservação dos bens culturaís e na recolocação dos Identificação de outras variáveis no nível macroscópico que
problemas educacionais de forma mais ampla e condizen· possivelmente passam interferir neste tipo de opção.
te com a realidade sóci<>-<:ultural, o ponto de realce que faz ~ relação ao terceiro grupo de análises realizadas,
com que multas pessoas se Interessem por elas? ou &eJa, d~ práticas manifestas pelo professor, que decor·
Resta também uma última extrapotacllo no sentido das reu d.e e unpUcou se considerar ambas as análises prece-
afirmações relativas à abordagem cognitlvist.a serem, de !a· dentes, procurou-se conhecer o comportamento em sala de
to, as mais convincentes, no presente momento, para a ln· a~la dos professores que se manJfestaram. nitidamente ou
terpretação do processo ensino-aprendizagem porque esta nao, por detenninAdas opções teóricas. Este estudo, estru·
abordagem se baseia numa teoria de desenvolvimento em turado de forma anedotária., mostrou, nas aulas observa..
sua grande parte valida.da. A este fato acrescente-se que a das, o .Predomínio do ensino tradicional, quando da aná!Jse
abordagem sócio-cultural freqüentemente a acompanhou em das atividades do professor, das atividades do aluno, das
termos da preterência dos professores e Isso não pode ser fonnas de tratamento do conteúdo e da 11v11liação.
desconsiderado. Se, por um lado, os professores optam por d O ensino tradicional predomina na prática educacional
0
uma teoria de desenvolvimento humano, uma epistemolo- e grupo estudado, pois, na essência, o professor que sabe
gia genética, por outro, a complementam com aspectos a6 que detém as informações transmite o conhecimento e
cio-culturais e personalistas. as informações aos alunos que ainda. não sabem. O conhe-

112 113
cimento, grande parte das vezes, provém ela autorldadf' ou
do professor ou do livro-text.n (quase sempre deste últi- A investigação realizada consisti~ apenas em uma prt.
mo). Raromente o conhecimento é redescoberto ou recria- meira aproxímação que, portanto. nao esgotn totalmente a
do pelo aluno, continuando, portanto, desvinculado de suas questão. Pode-se levantar a lupõtese de que os modelos aos
necessidades e interesses. Nesta conjuntura inexiste a at.í. quais o professor esteve submetido ao longo do seu pró-
vldade do aluno com o objetivo de aprendi?cagem de con- prio processo de escolariaação contribuem multo mais de:
ceitos, rela~s etc. Este aspecto é de suma importância, cislvamente para a estruturação de sua prática pedagógica
pois é um dos critérios mais nítidos para a demarcação do que os modelos pedagógicos aos quais foi exposto ou
entre o ensino tradicional e o ensino renovado. que lhe foram transmitidos nos cursos de formação de pro-
Independentemente de qual seja a opção teórica do fessores. Perm81lece, no entanto, a partir de cada anâllse
professor, sua prática observada, no que se refere aos as- realizada e da análise das suas inter-relações uma questão,
pectos mencionados anteriormente ( atividndo do professor, sem dúvida, ainda não respondida de forma Inequívoca e
do aluno, tratamento do conteúdo e avaliação), é semelhan. que portanto exige novas Investigações: o que fundamenta
e. ação docente?
te em suas características. O ensino tradicional, tal qual
manifesto nas aulas destes professores. ê e~Mncfalmente
verbalista, mecânico, mnemônico e de reprodução do con.
teúdo transmitido via professor ou via livro texto, o que
faz com que a forma utilizada - aula expositiva - seja
bast81lte precária e desestruturada.
Evidencia-se, no trabalho realizado, um descompasso
entre o que fundamentaria a ação pedagógica, em termos
de preferência pelas teorias, e a forma como a práli"a do.
cente se manifesta nas salas de aula. Ao nlvel do teórico,
tal como to! constatado, não se pode dizer que o ideário
pedagógico é fragmentado. Ao nivel do que é manilestado
nas salas de aula, também pode-se concluir pela sua não
fragmentação, já que se cuacteriza como manlie~tru;ão do
ideário tradicional. Entretanto, é nítido o descompasso en·
tre o que os professores declaram preferir em termos teó-
ricos, e o que realizam do fato, na prática.
O estudo realizado permitiu conhecer alguns aspectos
e problemas atualmente existentes quanto à formação e o
contexto teórico e concreto do professor. Ní!o pretendeu
determinar causas, estabelecer relações causais ou fornecer
um quadro completo da situação. Pode-se indagar se os
resultados obtidos não são, de certa forma, atípicos, em ter·
mos dos professores, em geral. Para responder a isto, se-
riam necessárias investJgações com outros grupos e em OU·
tras regiões do país, no sentido de verificar e interpretar
diferentes manifestações específicas.

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A coleção Temas Básicos de Educação e Ensino, coordenada
pela Prof.• Loyde A. Faustini, apresenta subsídios e sugestões
para o.r educadores que atuam nas escolas de 1.0 e 2.° graus
e na administração dos sistemas de ensino e para os professo-
res e estudantes dos cursos de graduação em Pedagogia e dos
demais cursos que preparam professores para as diferentes
áreas do ensino de 1.• e 2.0 graus.
Temas Básicos de Eduraçào e Ensino oferece lí11ros de texto
escritos

por autores
1
brasileiros, para a nossa realidade educa-
c1onal.
Há várias formas de se conceber o fenômeno educativo. Este fe-
nômeno, por sua própria natu~za, é multidimensional e não hA,
até o-momento, uma única teoria que o ex.11liq11e exaustivamente.
Difer.e.ntcs formas de aproximação do fenômeno educativo pod em
Stor,.:onsldcn1das como mediações, possíveis historicamente, que per-
mitem explicá-lo se não em sua totalidade, pelo menos em algu os
aspeClos. Po r isso devem ela.~ ser analisadas, contexl ualizadas e d is-
cutidas· criticamen te.
Ensino: as abordagens do process" analisa dei conceitos háskos
(homem, mondo, sociedade/cultlll1I, conhecimento, educação, es-
cola, ensino-aprendilagem, professor-aluno, metodologia e avalia-
ção) dt-cinco abordagens do processo ensino-aprendizagem (t111dl-
ciomtl, cognilivlsta., comportamenlalista, h umanlb1a e sócio~ult11I111)
atualmente veiculadas cm Cursos de Licenciatura. Tem como pressu-
posto que toda interpretação do fenômeno educacional deriva de uma
tomada de posição epistemológica em relação ao sujeito e ao meio.
Oedkuda a p rofessores e alunos de Cursos d e Licenciatura, esta
obra ofe.rece subsídios para a discussão dos conteúdos das discipli-
nas pedagóg.icas, especialmente IJidállca, A.-111iação, Pnillcll de En·
sino, Metod ologia de Ensino, Psicologia da Aprendizagem, Currl-
culo e Programas, Teorias de Ensino, Modelos de Ensino etc.

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