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Teoria da Literatura II
Ana Santana Souza
Ilane Ferreira Cavalcante
Aula 01
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
RIO GRANDE DO NORTE
Campus EaD
Ficha Catalográfica
Aula 01
A narrativa e suas formas
Apresentação
Apresentação e
e Objetivos
Objetivos
Esta é a primeira Aula de mais uma disciplina teórica sobre literatura. Em Teoria
da Literatura I, você estudou as principais correntes críticas do século XX e a análise
dos gêneros poéticos, principalmente os gêneros líricos. Em teoria da literatura II, o
foco passa a ser os gêneros narrativos e os recursos técnicos para a construção desses
gêneros. Esperamos que você aprecie a disciplina e se encante cada vez mais pela lit-
eratura. Ao final dessa primeira Aula, você deverá ser capaz de:
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Para Começar
O fragmento que você lê acima é a parte inicial de um dos textos mais populares
do escritor americano Edgar Allan Poe. É possível perceber, logo a princípio, que se
trata de um texto narrativo, ou seja, conta uma história, traz um relato de acontecimen-
tos que podem ser fictícios ou não. Você pode ler o texto completo em <http://www.
gargantadaserpente.com/coral/contos/apoe_gatop.shtml>.
Nesse caso específico, o texto é um conto escrito por um escritor do século XIX,
um texto precursor do terror psicológico que faz tanto sucesso hoje em dia tanto em
narrativas literárias quanto em narrativas filmográficas. Com certeza você já leu ou as-
sistiu a Harry Potter ou à série Crepúsculo, não é mesmo? Todas essas séries nasceram a
partir das experiências com narrativas fantásticas ou sobrenaturais de escritores como
Mary Shelley, Edgar Allan Poe, E.T.A. Hoffman, entre outros. Mas, você saberia indicar
o que diferencia um conto, caso desse texto, de um romance ou de uma narrativa em
versos? Nesta Aula, vamos conhecer um pouco desses diferentes gêneros narrativos.
Egar Allan Poe (1809 a 1849) foi autor, poeta, editor e crítico literário
norte-americano e fez parte do movimento romântico nos EUA. Criador do gêne-
ro ficção policial, Poe é um escritor situado historicamente no romantismo norte-
americano. Seus contos de terror psicológico, no entanto, são os mais conhecidos
textos de sua obra.
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Mary Shelley (1797 a 1851), dramaturga, ensaísta, biógrafa e escritora
inglesa mais conhecida por sua novela gótica Frankenstein: ou O Moderno Prom-
eteu (1818).
Assim é
1. Os gêneros narrativos
Para Aristóteles, o que diferencia o trágico, gênero que ele prioriza em contra-
posição aos demais, é que nele os personagens agem diante dos espectadores. E a
poesia épica, o que a torna diferente dos demais gêneros? Aristóteles afirma: “entendo
por épica a que enfeixa muitas fábulas” (2012, p. 28). Ou seja, o gênero épico contém
muitas histórias entrelaçadas em torno de um protagonista: o herói.
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A épica é, portanto, uma narrativa. Um gênero clássico que contém uma longa
narrativa. Vale lembrar que Aristóteles está sempre falando dos textos em verso. Essa
era a principal forma de registar o texto literário na antiguidade, logo é aquele que
Aristóteles considera em sua análise. Ao apresentar a origem das definições dos gêne-
ros narrativos, comentando a divisão aristotélica, Stalloni demonstra a diferença entre
os gêneros narrativos e os demais:
- uma representação defasada, mediatizada – e não direta, como no teatro
(na narrativa, a fala é contada);
- a presença implícita de uma voz, que é a do narrador;
- uma enunciação que varia segundo o poeta fale em seu próprio nome ou
confunda-se com a fala de uma personagem. (STALLONI, 2007, p. 74)
Observe que há um narrador, que pede ajuda às musas para contar a história
daquele que “muitos males padeceu, depois de arrasar Troia”. Nessa narrativa, afirma
ele, irá contar as inúmeras dores, as aventuras e desventuras que ele (o herói) e seus
companheiros viveram até o dia de seu regresso. Esse narrador pede ainda que a de-
usa, filha de Zeus, (ele se refere à Atenas), conte também algumas dessas aventuras
desse herói.
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Observe também que o herói é representado de forma bastante positiva, ele
é forte, valoroso e bom (pois estava “empenhado em salvar a vida e garantir o re-
gresso dos companheiros”), embora nem sempre logre seus intentos. A culpa de seu
fracasso, no entanto, não é dele, mas dos companheiros, que são “vítimas de suas
presunçosas loucuras”.
Outro fato importante é que o narrador, que no poema épico narra, em geral,
narra na terceira pessoa do verbo, uma técnica bastante comum na narrativa tradi-
cional. Ele é senhor do conhecimento de toda a história, do seu início ao fim, pois
narra algo que aconteceu em um passado muito distante, mítico, até. Tanto é que,
afirma Benjamin (1985, p.210), “a memória é a mais épica de todas as faculdades.” É
por meio da memória e da experiência que o narrador épico expõe as aventuras do
seu herói.
A poesia épica é um poema longo, cuja figura central é um herói superior aos
homens comuns, que carrega em si os valores de seu povo (de sua nação) e que sofre
as consequências de uma batalha decorrente de ações humanas e divinas. Sua nar-
rativa, lembra Stalloni(2007, p.78)
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E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
No fragmento, você percebe que o narrador promete espalhar por toda parte a
história heroica do povo lusitano, ao narrar as aventuras daqueles navegantes que via-
jaram “muito além da Trapobana”, que devastaram as terras da África e da Ásia, levan-
do o império lusitano a expandir-se. Esses feitos, diz ele, imortalizaram esses Barões
assinalados – os navegantes.
Agora que você conhece um pouco melhor essa narrativa fundadora, que é a
poesia épica, que tal conhecer outras formas narrativas, igualmente antigas e também
muito importantes para a construção das sociedades? Antes disso, no entanto, dê uma
paradinha e faça um breve exercício de fixação do conteúdo já estudado.
Mãos à obra
a) Poesia épica
b) Tragédia
c) Comédia
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Assim é
2. O caso do romance
Mikhail Bakhtin, em seu ensaio Epos e Romance, também percebe o liame entre a
poesia épica e o romance. Mas, diz ele, o romance, embora marque o fim da narrativa
tradicional, indica o início de uma nova forma de narrar. Ele acredita também que o
romance é o gênero do mundo moderno e, por isso, diz ele, é um gênero em devir, ou
seja, em formação:
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Ao lado dos grandes gêneros, só o romance é mais jovem do que a escritura
e os livros, e só ele está organicamente adaptado às novas formas da percep-
ção silenciosa, ou seja, à leitura. [...] O estudo dos outros gêneros é análogo
ao estudo das línguas mortas; o romance é como o estudo das línguas vivas,
principalmente as jovens.
(BAKHTIN, 1990, p.397)
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qual a imanência do sentido ‘a vida se tornou problema, mas que, apesar de tudo, não
cessou de aspirar à totalidade.” (LUKÁCS, [19- ], p.61).
A própria estrutura do romance está em constante modificação. Ele pode ser uma
longa narrativa, também pode apresentar recursos técnicos inovadores (discurso indi-
reto livre, monólogo interior, fluxo de consciência). O romance pode absorver outros
gêneros (cartas, por exemplo, caso do romance epistolar), enfim, ele pode se construir
de maneiras completamente distintas e ainda assim permanecer um romance, posto
que preso a uma estrutura narrativa longa, com a presença de um herói e de múltiplas
pequenas narrativas que o complementam.
Mas, por enquanto, vamos passar adiante e refletir sobre outras narrativas tam-
bém presentes na modernidade em nossa próxima aula. Antes disso, porém, mais um
pequeno exercício se faz necessário.
Mãos à obra
Narrador
Herói
Estrutura
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Já sei!
Autoavaliação
Faça uma pesquisa entre os gêneros narrativos que você conhece ou já leu e
identifique os traços épicos ou romanescos que esses livros possuem. Para isso, pes-
quise mais acerca da poesia épica e do romance. Por exemplo, que poesia épica você
poderia identificar como base da cultura hispânica? E no Brasil? Você conhece textos
de nossa literatura que possam ser considerados épicos?
Leitura complementar
Que tal conhecer um pouco mais sobre teoria da narrativa? Leia a conferência do
professor e pesquisador Davi Arrigucci Jr sobre Teoria da narrativa: as posições do nar-
rador. Esse material está disponível em <http://pt.scribd.com/doc/61633264/TEORIA-
DA-NARRATIVA>.
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Referências
LUKÁCS, Georg. Teoria do romance. Trad Alfredo Margarido. Lisboa: Editorial Pre-
sença, [19- ].
Fig. 02 - http://www.pequenopolisba.com.br/wp-content/uploads/2012/04/historias.jpg
Fig. 03 - http://3.bp.blogspot.com/_gfzqx7A3CkI/S-MKYiVjf6I/AAAAAAAAAE4/GgKwZt_JgQo/
S724/210420_0_5%5B1%5D.jpg
Fig. 04 - http://viveastuasescolhas.blogspot.com.br/2012/11/os-lusiadas.html
Fig. 05 - http://3.bp.blogspot.com/-GH5L_G4PJoM/ULlUl6nEuCI/AAAAAAAAA70/0MBelyfB1Q0/s1600/Don_Quixote.jpg
Fig. 06 - http://2.bp.blogspot.com/_mXn6WUW8hlk/S1HwNuxkJOI/AAAAAAAACfw/QblJeYqY8bY/s400/jose_
alencar+O+Guarani.jpg
Fig. 07 - http://www.meucinemabrasileiro.com/filmes/vida-secas/vidas-secas-poster01.jpgFig. 08 -
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