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DOI: 10.1590/1413-81232018232.

08562016 449

Escalas de percepção da insegurança alimentar validadas:

REVISÃO REVIEW
a experiência dos países da América Latina e Caribe

Perception scales of validated food insecurity:


the experience of the countries in Latin America and the Caribbean

Naiara Sperandio 1
Dayane de Castro Morais 2
Silvia Eloiza Priore 2

Abstract The scope of this systematic review was Resumo Objetivou-se nesta revisão sistemática
to compare the food insecurity scales validated comparar as escalas de insegurança alimentar va-
and used in the countries in Latin America and lidadas e utilizadas nos países latino-americanos
the Caribbean, and analyze the methods used e caribenhos, e analisar os métodos empregados
in validation studies. A search was conducted in nos estudos de validação. Realizou-se busca nas
the Lilacs, SciELO and Medline electronic data- bases eletrônicas Lilacs, SciELO e Medline. As
bases. The publications were pre-selected by titles publicações foram pré-selecionas pelos títulos e re-
and abstracts, and subsequently by a full reading. sumos, e posteriormente pela leitura integral. Dos
Of the 16,325 studies reviewed, 14 were selected. 16.325 estudos revisados, selecionou-se 14. Foram
Twelve validated scales were identified for the fol- identificadas 12 escalas validadas para os seguin-
lowing countries: Venezuela, Brazil, Colombia, tes países: Venezuela, Brasil, Colômbia, Bolívia,
Bolivia, Ecuador, Costa Rica, Mexico, Haiti, the Equador, Costa Rica, México, Haiti, República
Dominican Republic, Argentina and Guatemala. Dominicana, Argentina e Guatemala. Além des-
Besides these, there is the Latin American and Ca- sas, tem-se a escala latino-americana e caribenha
ribbean scale, the scope of which is regional. The cuja abrangência é regional. As escalas variaram
scales ranged from the standard reference used, em relação ao padrão de referência utilizado, nú-
number of questions and diagnosis of insecuri- mero de questões e diagnóstico da insegurança. Os
ty. The methods used by the studies for internal métodos empregados pelos estudos para validação
validation were calculation of Cronbach’s alpha interna foi o cálculo do coeficiente alfa de Cronba-
and the Rasch model; for external validation the ch e o modelo Rasch; para validação externa os
authors calculated association and /or correlation autores calcularam associação e/ou correlação
with socioeconomic and food consumption vari- com variáveis socioeconômicas e de consumo ali-
ables. The successful experience of Latin America mentar. A exitosa experiência da América Latina
1
Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Av. Aluízio and the Caribbean in the development of national e Caribe no desenvolvimento de escalas nacionais
da Silva Gomes, Granja and regional scales can be an example for other e regionais pode ser exemplo para outros países
dos Cavaleiros. 27930- countries that do not have this important indica- que ainda não possuem esse importante indicador
560 Macaé RJ Brasil.
naiarasperandio@ tor capable of measuring the phenomenon of food capaz de dimensionar o fenômeno da insegurança
yahoo.com.br insecurity. alimentar.
2
Departamento de Nutrição Key words Food and nutrition security, Valida- Palavras-chave Segurança alimentar e nutricio-
e Saúde, Universidade
Federal de Viçosa. Viçosa tion studies, Latin America nal, Estudos de validação, América Latina
MG Brasil.
450
Sperandio N et al.

Introdução Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO),


que culminaram na elaboração da Escala Latino
A segurança alimentar e nutricional (SAN) pode -americana e Caribenha de Segurança Alimentar
ser definida como o direito de todos ao acesso (ELCSA)6,7.
regular e permanente a alimentos de qualidade, Na América Latina e Caribe muitos estudos
em quantidade suficiente, sem comprometer o fazem uso de escalas validadas de percepção da
acesso a outras necessidades essenciais e que res- insegurança alimentar para avaliação e monito-
peitem a diversidade cultural, sendo ambiental, ramento desse fenômeno, sendo a única região
cultural, econômica e socialmente sustentáveis1,2. do mundo a apresentar escala de abrangência
A abrangência desse conceito torna complexo regional (ELCSA)6,7,8. Isso reflete o compromisso
sua mensuração e monitoramento, sendo neces- da comunidade latino-americana e caribenha em
sária a utilização de diferentes indicadores, com identificar e monitorar a população em insegu-
comprovada validade e equivalência internacio- rança alimentar, o que pode servir como exemplo
nal, que contemplem as dimensões relacionadas para outras regiões do mundo7,8.
a SAN, sendo elas, a da disponibilidade do ali- Diante disso, o objetivo desta revisão siste-
mento, do acesso físico e econômico, da utiliza- mática foi comparar as escalas de percepção da
ção biológica do alimento/nutriente e da estabili- insegurança alimentar validadas e utilizadas nos
dade que se refere ao elemento temporal das três países da América Latina e Caribe, assim como
dimensões citadas3,4. analisar os métodos empregados nos estudos de
Entre os indicadores comumente utilizados validação das mesmas.
no meio científico de avaliação da SAN, desta-
cam-se as escalas de percepção da insegurança
alimentar, os de produção e consumo de ali- Metodologia
mentos, os antropométricos, socioeconômicos,
bioquímicos e clínicos4. Esses indicadores devem, A pergunta norteadora para realização desta re-
sempre que possível, serem utilizados de maneira visão sistemática foi: “Quais países da América
complementar, uma vez que nenhum utilizado Latina e Caribe possuem escalas de percepção
isoladamente será capaz de abarcar todas as di- para diagnóstico da insegurança alimentar vali-
mensões que compõem o conceito de SAN3,4. dadas, e quais foram os métodos empregados nos
As escalas de percepção da insegurança ali- estudos de validação das mesmas?”
mentar, em relação aos outros indicadores de
avaliação, sobressaem-se por possibilitar diag- Critérios de inclusão e exclusão dos artigos
nóstico direto da situação de SAN, e classificação
da gravidade da insegurança, que pode evoluir do Foram analisados estudos originais, realiza-
nível mais leve (ausência da fome) até de maior dos na América Latina e Caribe, e indexados nas
gravidade (presença da fome)3,4. bases de dados: SciELO, Science Direct e PubMed
Essas escalas são ferramentas importantes (Lilacs e Medline), além de materiais oficiais
para mensuração da dimensão do acesso aos referentes ao processo de validação e utilização
alimentos e vêm ganhando notoriedade interna- dessas escalas em seus respectivos países. Consul-
cional. Algumas características como ser de fácil tou-se também as listas de referências dos artigos
aplicação, baixo custo, e basear-se na experiência (busca reversa), a fim de localizar outros estudos
vivenciada e percebida pelas famílias, reforçam publicados e não identificados na busca inicial.
sua utilização e aplicação em estudos de avaliação Incluiu-se estudos que utilizavam escalas de
e monitoramento da insegurança alimentar5,6. percepção para diagnóstico da insegurança ali-
O Estados Unidos foi pioneiro no desenvol- mentar e que explicitavam o processo de valida-
vimento de escala de percepção para avaliação ção dessas escalas nos países latino-americanos e
da insegurança (experience – based food security caribenhos. Não se limitou o período e o idioma
scales)5. Muitos países, em especial os da Amé- de publicação. Os estudos que não atenderam
rica Latina e Caribe, a partir da exitosa experi- aos critérios de inclusão foram excluídos, assim
ência americana, passaram a desenvolver estu- como artigos de revisão, dissertações ou teses.
dos de validação, para dispor de instrumentos
adequados que pudessem ser utilizados em suas Busca e seleção dos artigos
populações. Essas experiências de validação no
continente americano inspiraram iniciativas re- Os termos indexadores utilizados, de forma
gionais, apoiadas pela Organização das Nações combinada, foram: segurança alimentar, segu-
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rança alimentar e nutricional, estudos de vali- 50 do total. Incluiu-se 20 artigos na última eta-
dação, escala e percepção, assim como seus res- pa de seleção, que foram analisados na íntegra.
pectivos vocábulos em inglês (food security, food O último refinamento excluiu 6 estudos, devido,
and nutrition security, validation studies, scale e principalmente, aos procedimentos metodoló-
perception) e em espanhol (seguridad alimenta- gicos empregados, que não possibilitavam com-
ria, seguridad alimentaria y nutricional, estudios preender o processo de validação das escalas de
de validación, escala e percepción). percepção.
A busca eletrônica em base de dados identi- A partir das três etapas de refinamento, utili-
ficou incialmente 16.325 artigos. A partir da lei- zou-se, para realização desta revisão sistemática,
tura do título realizou-se o primeiro refinamento 14 estudos, sendo que desses, 9 são artigos origi-
da pesquisa, onde excluiu-se 16.259 estudos que nais e 5 referem-se a materiais científicos sobre
não abordavam o tema dessa revisão (trabalhos as escalas da República Dominicana, Argentina,
que utilizavam escalas não validadas, ou que pro- México, Guatemala e ELCSA.
punham novos instrumentos de avaliação da in- Os trabalhos foram agrupados e analisados
segurança alimentar, artigos de revisão, e estudos de acordo com o país e ano de validação da esca-
repetidos) (Figura 1). la, número de questões do instrumento, critérios
Selecionou-se 66 estudos para leitura do re- de classificação propostos para diagnóstico da
sumo, e outros 4 identificados na lista de referên- insegurança alimentar, assim como os padrões
cias dos mesmos. A partir da leitura dos resumos, de referência e métodos utilizados para validação
realizou-se o segundo refinamento, excluindo dos instrumentos.

Busca nas bases de dados eletrônicas: Scielo, Lilacs e Medline


Vocábulos utilizados: segurança alimentar, segurança alimentar e nutricional, estudos
de validação, escala e percepção (e termos correspondentes, em inglês e espanhol)

Estudos identificados
(n = 16.325)
Excluídos a partir da leitura do título (n = 16.259)
• Fora do tema ou dos países de interesse (n = 14.509)
• Teses e dissertações (n = 1694)
• Estudos repetidos (n = 13)
• Artigos de revisão (n = 43)
Selecionados para
leitura do resumo
(n = 66)
Identificados nas Excluídos após leitura dos resumos (n = 50)
referências (busca • Referiam-se apenas a aplicação das escalas (n = 49)
reversa) (n = 4) • Relatórios de pesquisa/resumos de congresso (n = 1)
Lidos na íntegra
(n = 20)
Excluídos, a partir da leitura integral, por não
retratarem os aspectos metodológicos da validação
das escalas (n = 6)
Estudos incluídos na
revisão (n = 14)

Figura 1. Protocolo de elaboração da revisão sistemática.


452
Sperandio N et al.

Resultados Para elaboração da ELCSA foram utilizadas


como padrão de referência as escalas da Vene-
Foram encontradas, nesta revisão: 12 esca- zuela9, Brasil10 e Colômbia12. Os primeiros estu-
las de insegurança alimentar validadas. Os paí- dos que utilizaram essa escala para confirmar
ses que apresentavam essas escalas foram Vene- sua validade foram realizados por Álvarez et al.21
zuela9, Brasil (nas versões longa e reduzida)10,11, (2008), na Colômbia, e Pérez-Escamilla et al.22
Colômbia12, Bolívia13, Equador14, Costa Rica15, (2011), no México e Uruguai.
México16, Haiti17, República Dominicana18, Ar- O tamanho amostral dos estudos variou de
gentina19 e Guatemala20. Ressalta-se, além das 52 domicílios, no Equador14, até 265.212, na
escalas específicas por país, a América Latina e o Guatemala20. O processo de validação interna
Caribe possuem escala própria, denominada Es- envolveu, especialmente, o modelo matemático
cala Latino-americana e Caribenha de Segurança Rasch12,14,16,17,18,20 e o cálculo do Coeficiente Alfa
Alimentar21,22 (Quadro 1). de Cronbach9,10,21,22,15,17, sendo que os valores
Os estudos de validação dessas escalas, nos apresentados foram satisfatórios para ambos os
países latino-americanos e caribenhos, surgiram a testes (valores de infit entre 0,8 a 1,2 no modelo
partir da década de 2000. A “Escala de Seguridad Rasch e coeficiente alfa de Cronbach maior que
Alimentaria Percibida” foi o primeiro instrumento 0,85).
validado, em 2000, na Venezuela9, sendo utiliza- Em alguns países, como na Bolívia13 e Argen-
da com as mesmas características na Colômbia, a tina19 os estudos não apresentaram metodologia
partir de 200612. e resultados acerca da validação interna das es-
Em relação ao número de questões presen- calas. Para testar a validade da versão curta da
tes nas escalas, observou-se variação entre 5 a 16 EBIA, no Brasil, os autores optaram por calcular
itens. Escalas com 5 perguntas são utilizadas na sensibilidade, especificidade e coeficiente de Kap-
Argentina19 e no Brasil11, sendo que nesse último pa11.
caso, trata-se da versão reduzida da Escala Brasi- Em relação a validação externa, que analisa a
leira de Insegurança Alimentar (EBIA). As escalas validade preditiva das escalas, os métodos empre-
com 16 itens são usadas no Haiti17 e República gados foram, principalmente, análises de correla-
Dominicana18. ção e/ou associação com variáveis socioeconômi-
A maioria dos instrumentos possui perguntas cas, enfatizando aquelas relacionadas a pobreza,
adicionais específicas, quando há no domicílio como, por exemplo, renda familiar, e indicadores
presença de crianças ou jovens, exceto a da Bolí- do consumo alimentar.
via13 e a versão curta da EBIA, no Brasil20. O tempo A abrangência dos estudos, em determinados
de referência também variou entre os instrumen- países, envolveu apenas domicílios de áreas urba-
tos (30 dias; 3, 6 e 12 meses). Em relação a pon- nas, como foi o caso da Venezuela9, Costa Rica15 e
tuação, na sua maioria, respostas afirmativas as Argentina19, ou apenas domicílios rurais, que foi
questões contabilizam um ponto, e os critérios de o caso do Equador14, Haiti17 e República Domini-
diagnóstico possibilitam determinar os níveis de cana18. Nos demais estudos a abrangência envol-
gravidade da insegurança (leve, moderada e gra- veu domicílios urbanos e rurais.
ve; insegurança alimentar sem fome e insegurança
alimentar com fome). As escalas da Venezuela9,
Colômbia12, Bolívia13, Equador14 e Argentina19 Discussão
abordam também a frequência de ocorrência do
evento em questão (sempre/muitas vezes; algumas A utilização de escalas psicométricas como in-
vezes/as vezes; raramente). dicador direto de avaliação e monitoramento
Em relação às características dos estudos de da insegurança alimentar representa importante
validação das escalas de percepção da inseguran- avanço para compreensão desse fenômeno mul-
ça alimentar (Quadro 2), a maioria utilizou como tidimensional e a possibilidade de determinação
padrão de referência instrumentos desenvolvidos de grupos populacionais vulneráveis a violação
e utilizados nos Estados Unidos, para avaliação do direito humano à alimentação adequada e
desse fenômeno, sendo eles Community Chil- saudável (DHAA)23.
dhood Hunger Identification Project (CCHIP)9 e Indicadores indiretos, especialmente os re-
Household Food Security Supl.emental Module lacionados a disponibilidade de alimentos, vêm
(HFSSM)10,13,14,15,18. México16, Haiti17, Argentina19 e sendo historicamente utilizados para avaliação
Guatemala20 utilizaram a ELCSA como padrão de da insegurança. No entanto, esses indicadores, de
referência para o desenvolvimento de suas escalas. maneira geral, refletem mais os determinantes da
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Ciência & Saúde Coletiva, 23(2):449-462, 2018


Quadro 1. Características das escalas de percepção de insegurança alimentar utilizadas nos países latino-americanos e
caribenhos.
Escala e ano Países que Classificação, segundo pontuação
Número de questões
de elaboração utilizam (Respostas afirmativas as perguntas)
Escala de Venezuela - 12 questões, quando presença de - Segurança alimentar = 0; Insegurança
Seguridad menor de 10 anos alimentar leve = 1–12; Insegurança alimentar
Alimentaria moderada = 13-24; Insegurança alimentar
Percibida, 20009 - 7 questões, quando não presença de grave = mais do que 25 pontos.
menor de 10 anos
- Segurança alimentar = 0; Insegurança
- Para cada item a pessoa responde alimentar leve = 1–7; Insegurança alimentar
sim ou não. Quando há resposta moderada = 8-14; Insegurança alimentar
afirmativa, pergunta-se se isto ocorre grave = mais do que 15 pontos.
sempre (3 pontos), algumas vezes
(2 pontos), ou raramente (1 ponto), *Tempo de referência: 6 últimos meses
somando máximo de 36 pontos.
Escala Brasileira Brasil - 15 questões, quando presença de - Segurança alimentar = 0; Insegurança
de Insegurança menor de 18 anos alimentar leve = 1–5; Insegurança alimentar
Alimentar (EBIA), moderada = 6–10; Insegurança alimentar
200410 - 8 questão, quando não presença de grave = 11–15.
- versão longa menor de 18 anos
- Segurança alimentar = 0; Insegurança
*Respostas: sim ou não, sendo que alimentar leve = 1–3; Insegurança alimentar
cada resposta afirmativa corresponde moderada = 4–6; Insegurança alimentar
a 1 ponto grave = 7–8.

*Tempo de referência: 3 últimos meses


Escala de Colômbia Idem Venezuela Idem Venezuela
Percepción
de Seguridad
Alimentaria
(EPSA), 200612
U.S. Household Bolívia - 9 questões - Segurança alimentar = 0; Insegurança
Food Security alimentar leve = 1–2; Insegurança alimentar
Supplemental - Para cada item a pessoa responde moderada = 3-5; Insegurança alimentar
Module (HFSSM) sim ou não. Quando há resposta grave = 6-9.
version, 200613 afirmativa, pergunta-se a frequência
de ocorrência (muitas vezes, às *Tempo de referência: últimos 12 meses
vezes, ou raramente). Para respostas
afirmativas e frequência de ocorrência
“muitas vezes” ou “às vezes”, pontua-
se 1; para as respostas negativas, ou
para frequência “raramente” pontua-
se 0.
Adult and Children Equador - 8 questões, quando presença de - Segurança alimentar = 0; Insegurança
Food Security menor de 18 anos alimentar sem fome = 1–3; Insegurança com
Survey, 200714 fome=4-8.
- 7 questões, quando não presença de
menor de 18 anos - Segurança alimentar = 0; Insegurança
alimentar com fome = 1–3; Insegurança sem
*Respostas: sim ou não, sendo que fome=4-7.
cada resposta afirmativa corresponde
a 1 ponto. *Tempo de referência: últimos 12 meses
continua

insegurança alimentar e suas consequências para pelas famílias em relação ao acesso a alimentação
saúde, do que de fato as dificuldades vivenciadas adequada e saudável23,24.
454
Sperandio N et al.

Quadro 1. continuação
Escala e ano Países que Classificação, segundo pontuação
Número de questões
de elaboração utilizam (Respostas afirmativas as perguntas)
Escala Latino- Países da - 15 questões, quando presença de - Segurança alimentar = 0; Insegurança
americana e América menor de 18 anos alimentar leve = 1–5; Insegurança alimentar
Caribenha Latina e moderada = 6–10; Insegurança alimentar
para a Medição Caribe - 8 questão, quando não presença de grave = 11–15.
da Segurança menor de 18 anos
Alimentar - Segurança alimentar = 0; Insegurança
(ELCSA), 200721,22 *Respostas: sim ou não, sendo que alimentar leve = 1–3; Insegurança alimentar
cada resposta afirmativa corresponde moderada = 4–6; Insegurança alimentar
a 1 ponto grave = 7–8.

*Tempo de referência: 3 últimos meses


Food insecurity Costa Rica - 14 questões, quando presença de - Segurança alimentar = 0; Insegurança
of household menor de 15 anos alimentar leve = 1–4; Insegurança alimentar
questionnaire, moderada = 5-9; Insegurança alimentar
200815 - 9 questões, quando não presença de grave = 10-14.
menor de 15 anos
- Segurança alimentar = 0; Insegurança
alimentar leve = 1-4; Insegurança alimentar
*Respostas: sim ou não, sendo que moderada = 5-7; Insegurança alimentar
cada resposta afirmativa corresponde grave = 8-9.
a 1 ponto.
*Tempo de referência: últimos 12 meses
Escala Mexicana México - 12 questões, quando presença de - Segurança alimentar = 0; Insegurança
de Seguridad menor de 18 anos alimentar leve = 1–3; Insegurança alimentar
Alimentaria moderada = 4-7; Insegurança alimentar
(EMSA), 200816 - 6 questões, quando não presença de grave = 8-12.
menor de 18 anos
- Segurança alimentar = 0; Insegurança
*Respostas: sim ou não, sendo que alimentar leve = 1–2; Insegurança alimentar
cada resposta afirmativa corresponde moderada = 3-4; Insegurança alimentar
a 1 ponto grave = 5-6.

*Tempo de referência: 3 últimos meses


Escala Latino- Haiti - 16 questões, quando presença de - Segurança alimentar = 0; Insegurança
americana e menor de 18 anos alimentar leve = 1–5; Insegurança alimentar
Caribenha moderada = 6–10; Insegurança alimentar
para a Medição - 9 questão, quando não presença de grave = 11–16.
da Segurança menor de 18 anos
Alimentar - Segurança alimentar = 0; Insegurança
(ELCSA) no Haiti, *Respostas: sim ou não, sendo que alimentar leve = 1–3; Insegurança alimentar
200817 cada resposta afirmativa corresponde moderada = 4–6; Insegurança alimentar
a 1 ponto grave = 7–9.

*Tempo de referência: 3 últimos meses


continua

Os primeiros estudos de validação de escalas A partir do estudo de Radimer/Cornell5 e a


de percepção da insegurança alimentar na Amé- da Community Childhood Hunger Identification
rica Latina e Caribe utilizaram como padrão de Project – CCHIP26, pesquisadores reunidos pelo
referência escalas desenvolvidas no Estados Uni- United States Department of Agriculture (USDA)
dos (EUA), que foi pioneiro no desenvolvimento desenvolveram uma escala válida para aplicação
desses instrumentos5,25. em âmbito nacional, denominada Household
455

Ciência & Saúde Coletiva, 23(2):449-462, 2018


Quadro 1. continuação
Escala e ano Países que Classificação, segundo pontuação
Número de questões
de elaboração utilizam (Respostas afirmativas as perguntas)
Dominican República - 16 questões, quando presença de - Segurança alimentar = 0; Insegurança sem
Republic Dominicana menor de 18 anos fome = 1–2; Insegurança com fome = 3-16.
Household Food
Security Survey - 8 questões, quando não presença de
Module, 200818 menor de 18 anos - Segurança alimentar = 0; Insegurança sem
fome = 1–2; Insegurança com fome = 3-8.
*Respostas: Até a sétima pergunta,
existem as opções de resposta: * Tempo de referência: últimos 30 dias
“frequentemente verdade”, “algumas
vezes verdade” e “nunca é verdade”; a
partir da oitava pergunta, as opções
de resposta são sim ou não. As opções
de resposta “frequentemente verdade”
e “algumas vezes verdade” pontuam
como respostas afirmativas.
Del Módulo Argentina - 5 questões, quando presença de - Segurança alimentar = 0-3; Insegurança
de Inseguridad menor de 17 anos alimentar moderada = 4-7; Insegurança
Alimentaria alimentar grave = 8-12.
Encuesta - 3 questões, quando não presença de
de la Deuda menor de 17 anos - Segurança alimentar = 0-2; Insegurança
Social (EDSA) alimentar moderada = 3-4; Insegurança
Bicentenario, *Respostas: sim ou não nas questões alimentar grave = 5.
201019 1 a 4, sendo que respostas afirmativas
correspondem a 1, 2, 3 e 4 pontos, *Tempo de referência: 12 últimos meses
respectivamente; e na questão 5 as
respostas “muitas vezes” e “várias
vezes” equivalem a 2 pontos, “alguma
vez” a 1 ponto e “nunca” a 0 ponto,
Escala Latino- Guatemala - 15 questões, quando presença de - Segurança alimentar = 0; Insegurança
americana e menor de 18 anos alimentar leve = 1–5; Insegurança alimentar
Caribenha moderada = 6–10; Insegurança alimentar
para a Medição - 8 questão, quando não presença de grave = 11–15.
da Segurança menor de 18 anos
Alimentar - Segurança alimentar = 0; Insegurança
(ELCSA) na *Respostas: sim ou não, sendo que alimentar leve = 1–3; Insegurança alimentar
Guatemala, 201020 cada resposta afirmativa corresponde moderada = 4–6; Insegurança alimentar
a 1 ponto grave = 7–8.

*Tempo de referência: 3 últimos meses


Escala Brasileira Brasil - 1ª proposta: 7 questões, - Escala de 7 questões: Segurança
de Insegurança independente da presença de menor alimentar=0; Insegurança alimentar = 1-7.
Alimentar (EBIA), de 18 anos
201411 - Escala de 5 questões: Segurança
- 2ª proposta: 5 questões, alimentar=0; Insegurança alimentar = 1-5.
-versão curta independente da presença de menor
de 18 anos *Tempo de referência: 3 últimos meses

*Respostas: sim ou não, sendo que


cada resposta afirmativa corresponde
a 1 ponto
continua
456
Sperandio N et al.

Food Security Survey Module – HFSSM, compos- resultados do Quadro 2, todos os estudos que
ta por 18 itens. A partir de 1995, esse instrumento avaliaram validade pelo alfa de Cronbach, apre-
passou a ser utilizado em pesquisas americanas, sentaram boa consistência interna das escalas.
como por exemplo, a National Health and Nutri- O modelo Rasch, dentre outros objetivos,
tion Examination Survey (NHANES)25. pode ser utilizado para verificação da unidi-
A extensão da HFSSM limitava sua utilização mensionalidade do instrumento, isto é, se todos
em pesquisas americanas, principalmente aque- os itens presentes estão mensurando um único
las com restrições financeiras e de menor dura- constructo ou fator, que no caso seria a insegu-
ção. Em decorrência disso, Blumber et al.27 de- rança alimentar. No modelo, espera-se que fa-
senvolveram uma versão curta de seis itens, que mílias que não vivenciam a insegurança tenham
apresentou boa concordância com a escala longa, menor probabilidade de responder positivamen-
podendo ser usada como screening na avaliação te aos itens, enquanto que, aquelas que vivenciam
da insegurança alimentar. respondam mais positivamente. Como as escalas
Semelhante aos EUA, o Brasil também possui avaliadas mensuravam apenas um constructo
versão curta da EBIA, publicada em 201411, tor- (insegurança alimentar), elas foram analisadas
nando-o pioneiro em relação aos outros países segundo os valores de ajuste (Infit), sendo que
latino-americanos e caribenhos. Além da nova todas que utilizaram este modelo para validação
proposta de versão curta, a EBIA sofreu modi- apresentaram valores adequados (0,8 a 1,2)31.
ficação em 2009, com exclusão de uma questão A FAO recomenda que nos estudos de vali-
que se referia a perda de peso entre os moradores dação de escalas psicométricas sejam calculados
do domicílio, logo, a EBIA utilizada atualmente o coeficiente de alfa de Cronbach e o modelo de
no Brasil, contêm 14 questões28. Isso aconteceu Rasch para garantir maior confiabilidade dos
em decorrência do processo de transição nutri- novos instrumentos propostos32. A maioria dos
cional vivenciado pelo país, onde a prevalência estudos de validação das escalas utilizadas nos
de excesso de peso vem se tornando cada vez países latino-americanos e caribenhos, analisa-
maior, inclusive entre as famílias de baixa renda29. dos nesta revisão, seguiram essa recomendação
Os estudos de validação apresentados, de da FAO.
maneira geral, utilizaram de metodologias que Ressalta-se que no Brasil10,11, Colômbia12,
foram além da simples tradução do padrão de Bolívia13, México16 e Guatemala20, o processo de
referência para o idioma do país ao qual se pre- validação envolveu domicílios da zona urbana
tendia desenvolver a escala. Além do processo de e rural dos respectivos países. A participação na
tradução, os estudos realizaram validação interna amostra de domicílios urbanos e rurais é impor-
do instrumento, analisada pelo coeficiente alfa de tante, uma vez que, os mesmos representam dis-
Cronbach e Modelo Rasch, ambos recomendados tintos contextos culturais, sociais e econômicos
para esse tipo de análise30,31; e validação externa que podem influenciar a ocorrência da insegu-
que envolveu a aplicação da escala em inquéritos rança alimentar. Além disso, o país poderá dispor
populacionais e o uso de métodos de associação de um instrumento único que poderá ser aplica-
e correlação com variáveis socioeconômicas e de do independentemente da situação dos domicí-
consumo alimentar. lios (urbano ou rural).
Alguns estudos não apresentaram resultados A exitosa experiência no processo de valida-
de validação interna das escalas, como foi o caso ção das escalas de insegurança alimentar, espe-
da Bolívia e Argentina. Em relação a validação da cialmente na Venezuela, Colômbia e Brasil, foram
versão curta da EBIA no Brasil, os autores opta- referência para elaboração da ELCSA, que contou
ram pela utilização de testes de diagnóstico (ava- com o apoio da FAO21,22,32. A ELCSA representa
liação da sensibilidade e especificidade do instru- importante ferramenta para compreensão da
mento) e testes de concordância (coeficiente de distribuição, causas e consequências da insegu-
Kappa). rança alimentar na América Latina e Caribe. Des-
O processo de validação interna de um ins- de sua publicação em 2007, a ELCSA vem sendo
trumento, como no caso de escalas psicométri- utilizada em estudos sobre segurança alimentar,
cas, é essencial para garantir confiabilidade e pesquisas nacionais e em avaliações de políticas
adequabilidade do mesmo. O coeficiente alfa de e programas sociais32. Análises recentes confir-
Cronbach permite avaliar a consistência interna mam a confiabilidade e a validade dessa escala,
das respostas aos itens da escala e indicar se as que somado ao seu baixo custo, a fácil aplicação e
mesmas estavam correlacionadas entre si, sendo uniformidade em toda América Latina e Caribe,
o valor mínimo aceitável de 0,730. Conforme os a tornou importante indicador regional21,22.
457

Ciência & Saúde Coletiva, 23(2):449-462, 2018


Quadro 2. Características dos estudos que validaram as escalas de percepção em países latino-americanos e caribenhos.
Padrão de
Método de validação e
Referência Escala País, ano referência para Principais resultados
amostra utilizada
validação
Dellohain e Escala de Venezuela, Community - Calculou-se o alfa - Valor do alfa de
Sanjur9 Seguridad 2000 Childhood Hunger de Cronbach para Cronbach foi de 0,87;
Alimentaria Identification validação interna; variáveis preditoras,
Percibida Project (CCHIP - realizou-se análise de suficiência energética,
EUA) regressão múltipla renda mensal per capita,
relacionando possíveis classe social e número
determinantes, de filhos no domicílio,
econômicos, sociais e associaram-se, em direção
comportamentais com esperada, com a escala de
o nível de insegurança insegurança (R2 = 0,343)
alimentar medido pela
escala

- Primeira etapa do
processo de validação
foi um estudo piloto
para testar a adaptação
e a confiabilidade da
nova escala com 65
mulheres. A segunda
etapa foi um estudo de
campo envolvendo 238
famílias
Pérez- Escala Brasileira Brasil, 2004 U.S. Household - Realização de grupos - Alfa de Cronbach variou
Escamilla et de Insegurança Food Security focais para avaliação de 0,91 a 0,94; famílias
al.10 Alimentar (EBIA) Supplemental qualitativa; Calculou- consideradas inseguras
Module (HFSSM) se alfa de Cronbach possuíam menor renda,
para validação menor consumo diário
interna; relacionou-se de carne, derivados de
a insegurança com leite, frutas e verduras (p
a renda familiar e < 0,01)
frequência de consumo
diário de alimentos

- Inquérito
populacional em 4
cidades brasileiras,
totalizando: 717
famílias urbanas e 1.150
rurais
Álvarez et Escala de Colômbia, Escala de Seguridad - Realização de grupos - Valores de ajuste
al.12 Percepción 2006 Alimentaria focais para avaliação (infit) para cada um
de Seguridad Percibida (Escala qualitativa; Aplicação dos itens no modelo
Alimentaria venezuelana) da escala revisada nos Rasch foram adequados;
(EPSA) domicílios; validação a escala apresentou
interna pelo modelo correção inversa (r =
Rasch e análise de -0,650, p < 0,000) com
correlação com outras a disponibilidade de
variáveis. alimentos no domicílio

- Participaram 1.624
domicílios com crianças
menores de 10 anos
continua
458
Sperandio N et al.

Quadro 2. continuação
Padrão de
Método de validação e
Referência Escala País, ano referência para Principais resultados
amostra utilizada
validação
Melgar- 9-item U.S. Bolívia, 2006 U.S. Household - Utilizou-se ANOVA e - Os domicílios seguros,
Quinonez et Household Food Security análise de correlação em comparação aos
al.13 Food Security Supplemental inseguros, tiveram
Supplemental Module (HFSSM) - 327 domicílios maior gasto diário (p
Module < 0,01) com os grupos
(HFSSM) version alimentares analisados;
a insegurança alimentar
foi inversamente
correlacionada (r = -0,39;
p=0,001) com o gasto
com os alimentos
Hackett et Adult and Equador, U.S. Household - Validação interna pelo -Os resultados indicaram
al.14 Children Food 2007 Food Security Modelo Rasch; ANOVA que quanto maior o nível
Security Supplemental para comparação das de insegurança alimentar,
Survey Module (HFSSM) médias de aquisição menor a quantidade
de alimentos, entre os de alimentos adquirida
diferentes níveis de (p = 0,003); A maioria
insegurança alimentar das perguntas (> 75%)
apresentaram valores de
-52 domicílios infit apropriados segundo
o Modelo Rasch
Álvarez et Escala Latino- Colômbia, U.S. Household - Para validação interna - Valores de alfa de
al.21, americana e 2008; Food Security da ELCSA os estudos Cronbach:
Pérez- Caribenha México e Supplemental calcularam o coeficiente - Colômbia: 0,96
Escamilla et para a Medição Uruguai, Module (HFSSM); alfa de Cronbach - México: 0,91
al.22, da Segurança 2011; Escala Brasileira - Uruguai: 0,93
Alimentar de Insegurança - Colômbia: 13.602
(ELCSA) Alimentar (EBIA); domicílios
Escala de Percepción - México: 1.544
de Seguridad - Uruguai: 700
Alimentaria (EPSA)
González et Food insecurity Costa Rica, U.S. Household - Calculou-se alfa - Valor de alfa de
al.15 of household 2008 Food Security de Cronbach para Cronbach foi de 0,89
questionnaire Supplemental validação interna
Module (HFSSM)
-213 domicílios
Melgar- Escala Mexicana México, 2008 Escala Latino- - Modelo Rasch para - Valores de ajuste
Quinonez et de Seguridad americana e validação interna próximos (infit)
al.20 Alimentaria Caribenha para apresentaram resultados
(EMSA) a Medição da - 1.511 domicílios adequados
Segurança Alimentar
(ELCSA)
Pérez- Latin American Haiti, 2008 Escala Latino- - Calculou-se alfa de - Valor do alfa de
Escamilla et and Caribbean americana e Cronbach; Modelo Cronbach foi de 0,92;
al.17 Household Food Caribenha para Rasch; e análises de Valores de ajuste
Security Scale no a Medição da correlação próximos (infit)
Haiti Segurança Alimentar apresentaram resultados
(ELCSA) - 153 domicílios adequados; correlação da
insegurança alimentar
com ausência de energia
elétrica, falta de acesso
à terra, e domicílios
chefiados por mulheres
continua
459

Ciência & Saúde Coletiva, 23(2):449-462, 2018


Quadro 2. continuação
Padrão de
Método de validação e
Referência Escala País, ano referência para Principais resultados
amostra utilizada
validação
Bezuneh et Dominican República U.S. Household - Grupo focal para - Valores de ajuste
al.18 Republic Dominicana, Food Security avaliação qualitativa; próximos (infit)
Household Food 2008 Supplemental Modelo Rasch para apresentaram resultados
Security Survey Module (HFSSM) validação interna adequados
Module
- 110 domicílios
Salvia etl al.19 Del Módulo Argentina, Escala Latino- -Calculou-se a - A insegurança alimentar
de Inseguridad 2010 americana e prevalência de foi mais prevalente em
Alimentaria Caribenha para insegurança alimentar domicílios de menor
Encuesta a Medição da e sua distribuição renda, maior número
de la Deuda Segurança Alimentar segundo indicadores de morados e cujos
Social (EDSA) (ELCSA) socioeconômicos chefes encontravam-se
Bicentenario desempregados (p < 0,05)
- 5.712 domicílios
Melgar- Escala Latino- Guatemala, Escala Latino- - Modelo Rasch - Valores de ajuste (infit)
Quinonez20 americana e 2010 americana e para validação para cada um dos itens
Caribenha Caribenha para interna; associação no modelo Rasch foram
para a Medição a Medição da com variáveis adequados
da Segurança Segurança Alimentar socioeconômicas - Associou-se à pobreza,
Alimentar (ELCSA) (validação externa) condições de vida, acesso
(ELCSA) na a serviços públicos e posse
Guatemala - 265.212 domicílios de bens
urbanos e rurais
Santos et al.11 Escala Brasileira Brasil, 2014 Escala Brasileira - Calculou-se - Valor de sensibilidade da
de Insegurança de Insegurança sensibilidade, escala de cinco questões
Alimentar – Alimentar (EBIA) – especificidade, acurácia foi de 95,7% e 99,5% na
versão curta versão longa e concordância (teste amostra de Pelotas e da
de kappa) entre os dois PNDS, respectivamente.
instrumentos. O resultado do teste de
kappa foi de 95%, na
- Os autores utilizaram amostra de Pelotas, e 99%
duas amostras para na amostra da PNDS
testar os resultados (230
famílias de baixa renda
de Pelotas-RS e 15.575
mulheres da PNDS)
Nota: PNDS: Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (2006).

A ELCSA apresenta tempo de referência de dos EUA, poderão usufruir de um indicador mais
três meses para as questões da escala, semelhante condizente com realidade regional. A utilização
à EBIA10 e Escala Mexicana de Seguridad Alimen- de um mesmo indicador para toda a região pos-
taria16; 15 questões sobre a percepção do indiví- sibilitará comparabilidade entre países, o que
duo em relação ao alimento, sendo que os itens 9 poderá contribuir para tomada de decisões po-
a 15 são específicos para domicílios com presença líticas.
de menor de 18 anos. A experiência mundial com o uso de esca-
Com a ELCSA, países latino-americanos e las de insegurança alimentar, em especial a EL-
caribenhos que ainda não dispunham de escalas CSA, levou a FAO, por meio do projeto “Vozes
validadas para sua população poderão utilizar da Fome” a desenvolver a Escala de Vivência da
essa ferramenta, assim como aqueles que valida- Insegurança Alimentar (FIES – Food Insecuri-
ram suas escalas utilizando padrões de referência ty Experience Scale)33. Tradicionalmente, a FAO
460
Sperandio N et al.

monitora a situação de insegurança alimentar nal a ELCSA, que possibilitará comparabilidade


mundial através das folhas de balanço de alimen- dos resultados entre os países. A análise desses re-
tos, que são utilizadas para o cálculo da disponi- sultados fornecerá informações para tomada de
bilidade de energia em mais de 150 países. Essa decisão e criação de políticas adequadas para o
metodologia possibilita o cálculo da prevalência fortalecimento do direito humano a alimentação
de subalimentação que representa a proporção adequada.
de indivíduos que não possuem suas necessida- A insegurança alimentar é um problema
des energéticas atendidas34. que afeta milhares de pessoas em todo mundo.
A FAO, por meio da FIES, poderá monitorar Conhecer com exatidão sua localização, distri-
e assegurar comparabilidade global da vivência buição, determinantes e consequências é essen-
da insegurança alimentar. Esse novo indicador cial para seu controle. Diante disso, destaca-se a
constitui ferramenta eficaz para avaliar as novas importância da utilização de indicadores válidos,
metas dos Objetivos de Desenvolvimento Susten- confiáveis e internacionalmente aceitos, em espe-
tável (ODS)35, que se referem especificamente ao cial os que possibilitam dimensionar a magnitu-
acesso a alimentos seguros e saudáveis, além de de desse fenômeno.
sedimentar a importância da avaliação da inse- A experiência acumulada, desde a publicação
gurança alimentar através de escalas de vivência das primeiras escalas de insegurança nos Estados
que possibilitam dimensionar esse fenômeno. Unidos, demostrou a importância desse instru-
mento e gerou o interesse de outros países para
validação dessas escalas, em especial os da Amé-
Considerações finais rica Latina e Caribe. A exitosa experiência dos
países latino-americanos e caribenhos, no de-
Sendo a segurança alimentar e nutricional um senvolvimento de escalas nacionais e uma regio-
fenômeno complexo, nenhum indicador isolado nal, pode fortalecer o interesse dos países dessa
é capaz de mensurar todos seus componentes. Os região, e de outras partes do mundo, que ainda
países da América Latina e Caribe, além das suas não possuem escalas de insegurança alimentar
escalas nacionais, contam com indicador regio- validadas para sua população.

Colaboradores

N Sperandio e DC Morais participaram da con-


cepção e delineamento do estudo, redação e revi-
são crítica do conteúdo intelectual, aprovação da
versão final do manuscrito; e SE Priore da revisão
crítica do conteúdo e aprovação da versão final
do manuscrito.
461

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Agenda2030completo_PtBR.pdf

Artigo apresentado em 28/03/2016


Aprovado em 09/05/2016
Versão final apresentada em 11/05/2016

CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons

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