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Teoria da Literatura II
Ana Santana Souza e
Ilane Ferreira Cavalcante
Aula 05
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
RIO GRANDE DO NORTE
Campus EaD
Ficha Catalográfica
Aula 5
Mito e texto narrativo
Apresentação
Apresentação e
e Objetivos
Objetivos
Olá! Dando continuidade às nossas reflexões sobre a literatura, nesta aula vamos
discutir um pouco sobre os mitos, sua origem e sua influência para a literatura, tanto
dos mitos tradicionais e primitivos, quanto dos mitos modernos. Pois bem, ao final
desta aula, esperamos que você possa:
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Para Começar
Mito de Édipo
Casaram. Édipo foi proclamado Rei e tiveram dois filhos e duas filhas,
reinando sem grandes dificuldades, até o dia em que se instala a peste na cidade
e Édipo decide consultar o Oráculo, que lhe refere que a peste cessaria quando
fosse expulso o assassino de Laio. Édipo dispôs-se a encontrá-lo, mas quando se
apercebeu que ele próprio fora o assassino de Laio, seu pai, e o esposo de sua mãe,
e vendo que apesar de fugir contra a profecia, esta acabou por se realizar, arrancou
os olhos e deixou a sua pátria.
A narrativa que você acabou de ler é um mito, como o próprio nome já diz.
Conta uma história antiga, de que praticamente todos nós, pelo menos os ocidentais, já
ouvimos contar, falar ou fazer referência. A história de Édipo já fundamentou, inclusive,
um importante conceito da psicanálise. Essa história nasce na cultura grega e explica
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alguns valores que fundamentam essa cultura, principalmente, a ideia de que o destino
está acima da vontade humana. Afinal, o erro de Édipo é tentar fugir ao seu destino,
que estava traçado desde antes do seu nascimento, por um erro cometido por seu
pai contra as leis dos deuses e dos homens e pelo qual os filhos de Édipo também
pagarão.
Sobre mitos como esse e mitos do mundo moderno é que nos debruçaremos
nesta aula. Vamos à aula?
Assim é
1. Sobre mito
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tempo fora da História, caindo numa atemporalidade absoluta e que pressupunha uma
unidade entre os seres e as coisas. Sob esse prisma, “o mito encadeia-se ao sagrado,
traduz o profundo vínculo entre o biológico e o religioso, e contém regras para ação,
descortinadas no rito” (MOISÉS, 1985, p. 343).
Para Cassirer (1985), o mito e a linguagem têm uma mesma concepção mental:
o pensamento metafórico. Porém, se antes o mito era uma tentativa de racionalização
sobre as coisas e servia para explicar o mundo e o homem a si mesmo, com a evolução
do pensamento lógico-científico, a relação entre mito e linguagem ficou mais restrita
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ao campo das artes. Na literatura, o mito encontrou seu
lugar. Ela absorve o mito enquanto uma representação da
relação primitiva entre o homem e a natureza. O mito passa
a representar o sentido profundo das coisas e o representa
a partir de uma narrativa.
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Mãos à obra
2. Os mitos na modernidade
Com a evolução da sociedade, o impulso criador do homem inventa a mitopoética,
criando mitos a partir da utilização da transfiguração e da junção de mitos originais
e a imaginação criadora de poetas e escritores. Ou seja, nas narrativas fundadoras da
sociedade, como é o caso das narrativas épicas, há uma junção de mitos originais e a
criação de novos mitos por parte dos poetas criadores.
O termo mitopoética significa fazer mitos, o fazer dos mitos, o estudo de como
surgem os mitos.
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Os mitos também podem ser criados, ou seja, surgirem a partir da imaginação
autoral, do escritor ou do homem moderno. Refletindo sobre o mito na modernidade,
Roland Barthes afirma que o mito, hoje, seria uma “representação coletiva” e se deixa
perceber “nos enunciados anônimos da imprensa, da publicidade, do objeto de grande
consumo” (BARTHES, 1977, p. 11).
O mito não está livre da manipulação política e/ou social. Portanto, tem um
fundamento histórico, isto é, não é uma essência. É uma fala escolhida pela história,
portanto, é cultural. Mas, depois de tornada mito, a fala faz parecer natural aquilo
que é cultural. Assim, se o mito é uma invenção, pode ocorrer, em qualquer tempo, a
criação de mitos, ou a revitalização de antigos mitos por novas narrativas, podendo ter
como objetivo, de acordo com Smaniotto (2008, p. 74), “validar os interesses daquele
que conta a história”. É um modo de autoafirmação e de busca do reconhecimento
pelo outro. É o caso das narrativas míticas fundadoras da nação. Europeias, asiáticas,
africanas e americanas, as culturas nacionais têm sempre um mito que explicam seus
costumes.
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As semelhanças são bem evidentes, não é mesmo?
Ambos possuem um olhar significativo, ambos têm bigode
e barba, ambos trazem, em sua representação visual, as
marcas da morte pelos seus semelhantes. É muito evidente
que a imagem de Tiradentes tenha sido criada a partir
da de Jesus Cristo. Mas, por que isso? Ora, como todos
sabemos, ao estudar História do Brasil, aprendemos que
Tiradentes era um Alferes, ou seja, um militar. Militares
não usavam barba no Brasil, na época. E Tiradentes não
ficou tanto tempo preso a ponto de deixar crescer uma
barba tão grande. Muito provavelmente, a imagem mais
adequada de sua pessoa seria a apresentada na Fig. 08.
Fig. 07 - Jesus Cristo. Evidentemente, ele deveria estar mais mal vestido
e, talvez, com o cabelo solto ou mesmo, com evidentes
marcas de sofrimento ao ser levado à forca. Mas, isso não
justifica a semelhança com Jesus Cristo exposta na figura
06. A questão é que, na passagem da Monarquia para a
República, a nova nação que nascia no Brasil precisava
de mitos, de imagens que representassem o seu valor e
a sua luta pela liberdade. Onde buscar essa imagem?
Evidentemente, em uma sociedade preconceituosa como
a nossa, os mitos não poderiam ser negros nem índios. Os
índios funcionaram muito bem como mitos fundadores
de nossa história, mas não como representações de um
país que se queria republicano, moderno e urbano. Ao
refletir sobre a criação do mito de Tiradentes, Ballaroti
afirma: “Tiradentes não foi criado pela República, mas sua
imagem foi apropriada pelos vencedores, uma vez que o
novo regime necessitava de uma figura forte que apagasse
o então herói D. Pedro I, a imagem forte da monarquia”
(2009, p.202).
Por mais que louvemos esse herói de nossa pátria e aquilo que ele representa,
precisamos reconhecer que a sua imagem e a sua história, passada a nós pelos livros
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escolares, passou a fazer parte da História do Brasil a partir do surgimento da República
e foi forjada por ela para representar a nova nação.
De certa forma, é assim que nascem os mitos modernos. Hoje em dia, esses mitos
surgem com ainda mais velocidade, assim como desaparecem e são criados pela mídia,
pois estamos na era da informação, não é verdade?
O jornal, a televisão, revistas e outros meios de comunicação são os inter-
mediários entre a ficção e a realidade. O ponto de partida estaria no real, ter-
ritório fluido e por onde as fabulações têm o seu referente, mas que por uma
série de transformações acabam por ser tornar algo totalmente diferente. As-
sim, temos a construção de mitos a partir da imbricação da esfera do público
na do privado. Os famosos “quinze minutos de fama” disputados por todos
que querem aparecer, são a oportunidade para a transformação de simples
mortais em “imortais” (MACHADO, 2012, p. 25).
Já sei!
Nesta aula, você estudou o conceito de mito, sua origem e sua reatualização
na modernidade, bem como a criação de novos mitos. Viu que eles são criados, a
princípio, com uma conotação que o associa ao sagrado, como forma de explicação
do mundo ao próprio homem. Com o progresso do pensamento lógico, o mito ficou
restrito ao universo da linguagem metafórica, como a literatura. Porém, ressurge no
conhecimento científico da psicanálise e em outras configurações na modernidade,
mantendo, assim, sua força de construção identitária.
Autoavaliação
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Referências
BARTHES, Roland. Mudar o próprio objeto. Trad. Carlos Arthur R. do Nascimento. In:
Barthes et al. Atualidade do mito. São Paulo: Duas Cidades, 1977.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 4 ed. São Paulo: Cultrix, 1985.
SÓFOCLES. Édipo rei. Trad. Domingos Paschoal Cegalla. 3ª edição. Rio de Janeiro:
DIFEL, 2005.
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Fonte das figuras
Fig. 01 - http://3.bp.blogspot.com/_W5jtq0y8vwA/TFzUW_05tAI/AAAAAAAADJ0/KiAj02pIBmk/s1600/edipoesfingevati-
cano.jpg
Fig. 02 - http://s3.amazonaws.com/data-prod/data/4711/original/Mito%20-%20Avatar.png
Fig. 03 - http://opontodemutacao.blog.com/files/2005/06/prometeu.jpg
Fig. 04 - http://www.superdownloads.com.br/imagens/telas/edipo-rei-sofocles-129664,1.jpg
Fig. 05 - http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI210694-17779,00-JOGADORES+VIRAM+SUPERHOMEM
+COM+HACK+DE+KINECT.htmlFig. 06 - http://www.matutando.com/wp-content/uploads/2008/12/Tiradentes.jpg
Fig. 07 - https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQP4Z9Jo5ksgR4ePgiXrhawxUWSeMc7TtetnPmZ_
DXn4Gys5swB0g
Fig. 08 - http://seguindopassoshistoria.blogspot.com.br/2009/09/tiradentes-o-homem-por-tras-do-mito.html
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