Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
ISSN: 1984-5510
revista@sbd.org.br
Sociedade Brasileira de Dermatologia
Brasil
DOI: http://dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20157301
Autores:
Ada Regina Trindade de Almeida1, 2
Ana Flávia Nogueira Saliba1
RESUMO 1.
Médica dermatologista - São Paulo (SP),
Os preenchedores de ácido hialurônico (AH) se tornaram o tratamento de escolha para Brasil.
volumização facial.
2.
Assistente e preceptora de ensino da Clí-
A hialuronidase é proteína solúvel que promove a degradação enzimática do AH. As prepa- nica Dermatológica do Hospital do Servi-
rações comerciais disponíveis diferem de acordo com a origem da substância (bovina, ovina dor Público Municipal de São Paulo - São
ou recombinante humana). Paulo (SP), Brasil.
Embora o uso cosmético ainda não tenha sido aprovado pelo FDA, o emprego off-label na
dermatologia é cada vez mais frequente. O objetivo deste artigo é revisar a literatura médica
e informações de prescrição (bulas) existentes sobre os produtos comercialmente disponí-
veis, a fim de fornecer visão atualizada das indicações, dosagem, técnicas de injeção e efeitos
adversos.
Palavras-chave: ácido hialurônico; hyaluronoglucosaminidase; estética; uso off-label
ABSTRACT
Hyaluronic acid (HA) based cutaneous filling substances have become the treatment of choice for
facial volumization. Hyaluronidase is a soluble protein that promotes the enzymatic degradation of Correspondência para:
Ada Regina Trindade de Almeida
HA. Commercially available preparations differ according to the substance’s origin (bovine, ovine or Rua Turiassú, 390, cjs. 113/114, Perdizes,
human recombinant). Although cosmetic use has not yet been approved by the FDA, off-label use São Paulo - SP. CEP: 05005-000.
E-mail: artrindal@uol.com.br
in dermatology is increasingly common. The purpose of the present article is to review the medical E-mail: anaflaviasaliba@yahoo.com.br
literature and prescribing information (package inserts) over existing commercially available products
in order to provide an up-to-date view of the indications, dosage, injection techniques, and adverse
effects.
Keywords: hyaluronic acid; hyaluronoglucosaminidase; esthetics; off-label use
INTRODUÇÃO
O ácido hialurônico é glicosaminoglicano de alto peso hialuronidase de uso injetável são classificadas de acordo com sua
molecular que representa o principal componente da matriz origem. As de origem testicular bovina são: Wydase® (Wyeth-
extracelular, influenciando sua permeabilidade. É composto AyerstPharmaceuticals), Hydase® (PrimaPharmInc – 150UI/
por ácido D-glicurônico e N-acetil-D-glicosamina, unidos ml), Amphadase® (AmphastarPharmaceuticals – 150UI/ml) e
alternadamente por ligações ß.1-6 Hyalozima® (Apsen – 400UI/ml).10-13 Wydase® e Hydase® não
Com o envelhecimento, ocorre reabsorção de gordura, são mais fabricadas devido a seu alto poder imunogênico,2 e a
ossos e redução do AH cutâneo, resultando na perda de Hyalozima®, que era a hialuronidase disponível no Brasil, foi
volume facial e surgimento de rítides e rugas. Atualmente, o retirada do mercado em setembro de 2013.
preenchimento com AH se tornou o tratamento de escolha para A Vitrase® (ISTAPharmaceuticals – 200UI/ml) é a forma
o aumento do tecido facial por várias razões: está disponível em purificada, originada do testículo de ovinos. A Hyalase® (Sanofi
todas as espécies, seu efeito é imediato, em mãos bem treinadas, o Aventis – 1.500UI/ml), disponível na Austrália, também é de
resultado confere aparência natural, pode ser reproduzido e, além origem ovina.14 A Hylenex® (HalozymeTherapeutics – 150UI/
disso, quando necessário, pode também ser reversível.7 ml) é a hialuronidase recombinante humana, produzida através
A hialuronidase é proteína solúvel responsável pela de células do ovário de hamster, que contém albumina humana
degradação enzimática das glicosaminoglicanas.1-6 Essa enzima e apresenta o custo mais elevado3-5,10,11,13 (Quadro 1 e Figura 1).
hidrolisa o ácido hialurônico, rompendo a ligação ß-14 entre
os resíduos N-acetil-D-glicosamina e o ácido D-glicurônico, INDICAÇÕES
gerando aumento da permeabilidade na pele e tecido conectivo.4,8
A substância é amplamente encontrada na natureza e está O FDA (Food and Drug Administration) só aprova a
envolvida em diversas condições fisiopatológicas como difusão de utilização da hialuronidase em três situações.3-5 A primeira é o
toxinas/venenos, fertilização, metástases, infecções microbianas uso da enzima para facilitar a absorção e dispersão de outras
e cicatrização.1-3 No genoma humano foram reconhecidos seis drogas injetadas, sendo comumente utilizada no bloqueio
genes codificadores de hialuronidase (Hyal-1, Hyal-2, Hyal-3, anestésico retrobulbar em cirurgias oftalmológicas.
Hyal-4 e PH-20/Spam 1).9 Outra indicação é como auxiliar na infusão de fluidos no
A meia-vida sérica da hialuronidase é de 2,1 ± 0,2 subcutâneo, técnica empregada nas décadas de 1940 e 1950 para
minutos, sendo inativada no fígado e nos rins.4 A administração casos de desidratação. A terceira indicação é como adjuvante na
subcutânea da hialuronidase tem ação imediata, com duração urografia subcutânea, facilitando a absorção do agente radiopaco.
variável entre 24 e 48 horas. A reconstituição da barreira Na dermatologia, a hialuronidase é utilizada de forma
dérmica, alterada pela injeção intradérmica da hialuronidase, é off-label. Ela é empregada em alguns procedimentos, como na
completamente recuperada após 48 horas.3,8,10,11 anestesia do transplante capilar e da lipoaspiração tumescente,15
assim como no tratamento de algumas patologias, por exemplo,
APRESENTAÇÕES COMERCIAIS mixedema pré-tibial, esclerodermia, linfedema e queloides.3
Essa enzima tem sido legalmente comercializada nos Devido ao aumento crescente do número de
Estados Unidos desde 1948.2 As apresentações comerciais da preenchimentos cutâneos com ácido hialurônico, essa enzima
TÉCNICA
Após correta assepsia e antissepsia do local, deve-se fazer
a marcação da área a ser tratada.
Hylenex®,Amphadase® eVitrase® são preparações prontas
para uso.10-12 A Hyalozima® precisa ser preparada, dissolvendo
o pó da hialuronidase (2.000UTR) em 5ml do diluente que
acompanha o produto. A solução resultante apresenta 400UI/
ml.13 A Hyalase® pode ser diluída em 1ml de água destilada ou
acrescentada diretamente à solução a ser utilizada.14
Figura 3: Injeção da hialuronidase diretamente dentro do nódulo,
utilizando seringa de insulina
Figura 4: Resultado imediato com desaparecimento do nódulo, observan- Figura 5: Eritema importante de toda a região periorbital, imediatamente
do-se leve enrugamento da pele e discreto eritema no local após injeção da hialuronidase na região infraorbital, que durou uma hora
REFERÊNCIAS
1. Wohlrab J, Finke R, Franke WG, Wohlrab A. Clinical trial for safety evalua- 14. Hyalase® [package insert]. Sanofi-Aventis, Inc: Macquarie Park, Nova Ga-
tion of hyaluronidase as diffusion enhancing adjuvant for infiltration les do Sul, Austrália, 2010.
analgesia of skin with lidocaine. Dermatol Surg. 2012;38(1):91–6. 15. Costa IMC, Gadelha AR. Cirurgia Dermatológica em Consultório. 2ª ed.
2. Bordon KCF. Caracterização funcional e estrutural da hialuronidase São Paulo: Atheneu; 2009.
isolada da peçonha de serpente Crotalus durissus terrificus [Tese de 16. Hirsch RJ, Brody HJ, Carruthers JD. Hyaluronidase in the office: a neces-
Doutorado]. Ribeirão Preto: Faculdade de Ciências Farmacêuticas de sity for every dermasurgeon that injects hyaluronic acid. J Cosmet Laser
Ribeirão Preto-Universidade de São Paulo; 2012. Ther. 2007;9(3):182–5.
3. Lee A, Grummer SE, Kriegel D, Marmur E. Hyaluronidase. Dermatol Surg. 17. Hirsch RJ, Cohen JL, Carruthers JD. Successful management of an unu-
2010;36(7):1071-77. sual presentation of impending necrosis following a hyaluronic acid
4. Dunn AL, Heavner JE, Racz G, Day M. Hyaluronidase: A review of appro- injection embolus and a proposed algorithm for management with
ved formulations, indications and off-label use in chronic pain manage- hyaluronidase. Dermatol Surg. 2007;33(3):357–60.
ment. Expert Opin Biol Ther. 2010;10(1):127-31. 18. Kim DW, Yoon ES, Ji YH, Park SH, Lee BI, Dhong ES. Vascular complica-
5. Rzany B, Becker-Wegerich P, Bachmann F, Erdmann R, Wollina U. Hyalu- tions of hyaluronic acid fillers and the role of hyaluronidase in manage-
ronidase in the correction of hyaluronic acid-based fillers: a review and ment. J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2011;64(12):1590-5.
recommendation for use. J Cosmet Dermatol. 2009;8(4):317-23. 19. Soparkar CN, Patrinely JR, Tschen J. Erasing restylane. Ophthal Plast Re-
6. Pierre A, Levy PM. Hyaluronidase offers an efficacious treatment constr Surg. 2004;20(4):317–8.
for inaesthetic hyaluronic acid overcorrection. J Cosmet Dermatol. 20. Lambros V. The use of hyaluronidase to reverse the effects of HA filler.
2007;6(3):159-62. Plast Reconstr Surg. 2004;114(1):277.
7. Cassuto D, Sundaram H. A problem-oriented approach to nodular 21. DeLorenzi C. Transarterial degradation of hyaluronic acid filler by hyalu-
complications from hyaluronic acid and calcium hydroxylapatite fillers: ronidase. Dermatol Surg. 2014;40(8):832-41.
Classification and recommendations for treatment. Plastic and Recons- 22. Soparkar CN, Patrinely JR, Skibell BC, Tower RN. Hyaluronidase and res-
tructive Surgery. 2013;132(4 suppl 2):48S-58S. tylane. Arch Facial Plast Surg. 2007;9(4):299–300.
8. Brody HJ. Use of hyaluronidase in the treatment of granulomatous 23. Menon H, Thomas M, D’silva J. Low dose of Hyaluronidase to treat over
hyaluronic acid reactions or unwanted hyaluronic acid misplacement. correction by HA filler - a case report. J Plast Reconstr Aesthet Surg.
Dermatol Surg. 2005;31(8 Pt 1):893–7. 2010;63(4):e416-7.
9. Stern R, Jedrzejas MJ. The hyaluronidases: Their genomics, structures, 24. Jones D, Tezel A, Borrell M. In vitro resistance to degradation of hyaluro-
and mechanisms of action. Chem Rev. 2006; 106(3):818-39. nic acid dermal fillers by ovine testicular hyaluronidase. Dermatol Surg.
10. Hylenex® [package insert]. Halozyme Therapeutics, Inc: San Diego, Ca- 2010;36(Suppl 1):804–809.
lifornia, USA, 2012. 25. Rao V, Chi S, Woodward J. Reversing facial fillers: Interactions between
11. Vitrase® [package insert]. Bausch & Lomb, Inc: Tampa, Florida, USA, 2012. hyaluronidase and commercially available hyaluronic-acid based fillers.
12. Amphadase® [package insert]. Amphastar Pharmaceuticals, Inc: Ran- J Drugs Dermatol. 2014;13(9):1053-6.
cho Cucamonga, California, USA, 2013.
13. Hyalozima® [package insert]. Apsen, Inc: São Paulo, São Paulo, Brasil,
2012.