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Ignição de Misturas
Ar-Combustível
A ignição de misturas ar-combustível pode ser provocada
ou espontânea.
A ignição provocada tem origem num fornecimento
localizado de energia à mistura ar-combustível.
A ignição espontânea tem origem no aquecimento
progressivo da mistura ar-combustível causado pelas
reacções químicas que ela vai sofrendo.
Entre as formas mais habituais de ignição provocada
temos: a descarga eléctrica (faísca), a chama piloto e a
superfície quente.
Distância de Extinção
A relação entre a distância de extinção característica e a
geometria do tubo de extinção foi desenvolvida
teoricamente e confirmada experimentalmente em muitas
ocasiões. A teoria prevê que o diâmetro de extinção de um
tubo circular deve-se relacionar com a distância de
extinção de placas paralelas pela Eq. (6.2).
d || 0,65d 0 (6.2)
Distância de Extinção
Existe ainda uma correlação entre a energia mínima de ignição
e a distância de extinção entre duas placas planas paralelas,
para misturas ar-hidrocarboneto, que é traduzida pela Eq. (6.3)
e está representada na Fig. 6.2.
Emin 0,095d||
2, 06 2, 06
0,035d|| (6.3)
1/ 2, 06 1/ 2, 06
Emin E
d|| min (6.4)
0,095 0,035
Limites de Inflamabilidade
Salvo raras excepções, qualquer mistura gasosa
combustível-oxidante suportará propagação de chama de
pré-mistura somente se a concentração de combustível
estiver dentro de determinado intervalo, limitado por
algum limite superior e algum limite inferior. Fora deste
intervalo uma chama não se propagará uma grande
distância desde a fonte de ignição. Do ponto de vista da
segurança, quando o oxidante é o ar, o mais importante
destes limites é o limite de inflamabilidade inferior (lower
flammability limit, LFL, ou lower explosion limit, LEL,
usando a nomenclatura inglesa) LFL.
Pedro de F. V. Carvalheira, DEM-FCTUC 21
Combustão - Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica - 4º Ano - Ano Lectivo 2012-2013
Limites de Inflamabilidade
Do ponto de vista da segurança, quando o oxidante é o ar,
o mais importante destes limites é o limite de
inflamabilidade inferior (lower flammability limit, LFL, ou
lower explosion limit, LEL, usando a nomenclatura
inglesa) LFL.
O limite de inflamabilidade superior (upper flammability
limit, UFL, ou upper explosion limit, UEL, usando a
nomenclatura inglesa) UFL, pode ser importante sob
determinadas condições, mas elas não são importantes de
um ponto de vista de segurança porque a diluição com
mais ar pode levar a que uma mistura rica não inflamável
se torne inflamável.
Pedro de F. V. Carvalheira, DEM-FCTUC 22
Combustão - Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica - 4º Ano - Ano Lectivo 2012-2013
Limites de Inflamabilidade
O U.S. Bureau of Mines em Pittsburgh, Pennsylvania,
identificou uma técnica particular para determinar os
limites de inflamabilidade como sendo a sua técnica
padrão. Nesta técnica um tubo com 2“ (50,8 mm) de
diâmetro interior e 5 ft (1,524 m) de comprimento é
montado verticalmente e fechado na extremidade superior
ficando a extremidade inferior aberta para a atmosfera.
Limites de Inflamabilidade
Fig. 6.5. (a) Tubo padrão em vidro para medição experimental dos
limites de inflamabilidade de gases pré-misturados e (b) a celeridade
de chama laminar em função da relação F/A e da temperatura inicial
Limites de Inflamabilidade
A mistura ar-combustível cuja inflamabilidade se pretende
testar é colocada no tubo e inflamada na extremidade
inferior. Se a chama se propaga ao longo de todo o
comprimento do tubo até à extremidade superior a mistura
é dita inflamável.
Se a chama se extingue algures ao longo do tubo durante a
propagação a mistura é dita não inflamável. A escolha
desta técnica como técnica padrão é o resultado de muita
investigação. Concretamente, sabe-se que a propagação na
direcção ascendente num tubo deste tipo exibe limites de
inflamabilidade mais largos que na direcção descendente.
Limites de Inflamabilidade
De facto se colocarmos uma mistura cuja composição fica
entre a do limite na direcção ascendente e a do limite na
direcção descendente e a iniciarmos ao centro verifica-se
que a chama se propaga até ao topo do vaso e queima
somente uma fracção do material presente no vaso antes de
se extinguir, deixando uma quantidade bastante razoável
de mistura ar-combustível por queimar.
Limites de Inflamabilidade
Tabela 6.1. Limites de inflamabilidade de algumas misturas ar-combustível e
O2-combustível comuns (% em moles de combustível)
Combustível Oxidante Limite de Inflamabilidade Limite de Inflamabilidade
Inferior Superior
Hidrogénio (H2) Ar 4,0 75,0
CO (Saturado em Ar 12,5 74,0
água a 18 °C)
Acetileno (C2H2) Ar 2,5 100,0
Metano (CH4) Ar 5,0 15,0
Propano (C3H8) Ar 2,1 9,5
Butano (C4H10) Ar 1,8 8,4
Hidrogénio (H2) O2 4,0 95,0
Obtido de M.G. Zabetakis, Flammability Characteristics of Combustible Gases and Vapors, U.S. Department of Mines Bulletin 627 (1965).
Regra de Le Châtelier
Em 1898 Le Châtelier e Boudouard propuseram uma regra
para determinar o limite de inflamabilidade inferior de uma
mistura de dois gases combustíveis, a partir dos limites de
inflamabilidade conhecidos dos constituintes da mistura.
Se designarmos por LFLm a percentagem em volume da
mistura de combustível no limite de operação pobre e por
LFL1, LFL2, …, LFLn a percentagem em volume dos
limites de inflamabilidade inferiores dos n constituintes
combustíveis e por x1, x2, …, xn a fracção molar de cada
constituinte combustível na mistura, uma forma
generalizada da Regra de Le Châtelier é dada pela Eq.
(6.4).
Pedro de F. V. Carvalheira, DEM-FCTUC 28
Combustão - Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica - 4º Ano - Ano Lectivo 2012-2013
Regra de Le Châtelier
Regra de Le Châtelier
1
LFLm
x1 x x (6.4)
2 ... n
LFL1 LFL2 LFLn
Regra de Le Châtelier
Por exemplo o limite pobre para o metano no ar é 5 %. Se
o metano for diluído com um inerte e esta mistura for
usada como combustível o limite pobre para esta mistura
será:
1 5
LFLm
x1 x1 (6.5)
0
5
Onde x1 é a fracção molar de CH4 na mistura combustível.
Regra de Le Châtelier
A Eq. de Le Châtelier funciona bastante bem se a mistura
combustível contém hidrogénio, monóxido de carbono ou
hidrocarbonetos vulgares. Não dá bons resultados para
compostos fora do comum como disulfido de carbono, ou
quando estão presentes inibidores.
Regra de Le Châtelier
Fig. 6.6. O efeito de inertes e
inibidores nos limites de
inflamabilidade do metano e
dos alcanos. (adaptado de M.G.
Zabetakis, Flammability
Characteristics of Combustible
Gases and Vapors, U.S.
Department of Mines Bulletin
627 (1965).
Efeito da Pressão
Fig. 6.7. Zona de
inflamabilidade de
misturas ar-gás natural
a pressões
subatmosféricas
(adaptado de Lewis e
von Elbe, baseado no
trabalho original de
Jones e Kennedy do
Bureau of Mines,
Report of Investigation
No. 3798, 1945).
Efeito da Pressão
Fig. 6.8. Limites de
inflamabilidade de
misturas ar-gás natural a
pressões superiores à
pressão atmosférica
(adaptado de Lewis e von
Elbe, baseado no trabalho
original de Jones,
Kennedy e Spolan do
Bureau of Mines, Report
of Investigation No. 4557,
1949).
Efeito da Pressão
Fig. 6.9. Limites de
inflamabilidade de
misturas ar-combustível
em função da pressão e
da riqueza da mistura.
Ignição Térmica
A ignição espontânea tem origem no aquecimento
progressivo da mistura ar-combustível causado pelas
reacções químicas que ela vai sofrendo. Um parâmetro que
serve para caracterizar a ignição espontânea de uma
mistura oxidante-combustível é a temperatura de ignição
espontânea, designada na literatura anglo-saxónica por
autoignition temperature. A temperatura de ignição
espontânea varia com as características dos aparelhos (por
exemplo a geometria da superfície aquecida), as condições
do ensaios (por exemplo a pressão), e com o procedimento
utilizados para a sua medição.
Pedro de F. V. Carvalheira, DEM-FCTUC 36
Combustão - Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica - 4º Ano - Ano Lectivo 2012-2013
Flash Point
O flash point é um indicador da temperatura máxima à qual um
combustível líquido pode ser armazenado e manipulado sem um sério
risco de incêndio. O flash point é a temperatura mínima à qual um
combustível se inflamará rapidamente quando exposto a uma chama
aberta localizada acima do líquido. Um exemplo da importância do
flash point é a inflamabilidade da mistura acima do combustível
líquido num reservatório de combustível parcialmente cheio. A
gasolina, que tem um flash point de -43 ºC, é tão volátil que a mistura
é demasiado rica para queimar. O gasóleo (Diesel fuel nº 2), que tem
um flash point de 52 ºC, é tão pouco volátil que a mistura é demasiado
pobre para queimar. Contudo, misturas de gasolina-gasóleo ou
combustíveis alternativos como o metanol podem colocar um
problema.
Flash Point
Há dois tipos básicos de medições do flash point. Taça aberta e taça fechada.
Em dispositivos de taça aberta a amostra é contida numa taça aberta que é
aquecida, e em intervalos uma chama é trazida sobre a superfície.
Os dois tipos de medidores de taça fechada são; os de não equilíbrio, como o
de Pensky-Martens onde os vapores acima do líquido não estão em equilíbrio
térmico com o líquido; e os de equilíbrio, tais como os de pequena escala onde
os vapores do líquido são obrigados a estar em equilíbrio térmico com o
líquido. Os testadores de taça fechada dão normalmente valores de flash point
inferiores aos dos testadores de taça aberta (tipicamente 5-10 ºC).
Os métodos para medir o flash point de um líquido estão especificados em
muitas normas. Por exemplo testar pelo método da taça fechada de Pensky-
Martens está especificado nas normas ASTM D93, ISO 2719, DIN 51758 e
outras. A determinação do flash point pelo método da taça fechada de pequena
escala está especificado nas normas ASTM D3828, ASTM 3278, EN ISO
3679 e 4680, DIN 51758 e outras.
Temperatura de
Ignição Espontânea
A temperatura de ignição espontânea é a menor temperatura requerida
para iniciar uma combustão auto-sustentada num recipiente padrão em
ar atmosférico na ausência de uma faísca ou chama. Por exemplo a
temperatura de ignição espontânea da gasolina é 370 ºC. A tabela 6.1
apresenta valores para o flash point e a temperatura de ignição
espontânea de combustíveis líquidos e gases puros seleccionados em ar
a 1 atm. A temperatura de ignição espontânea dos alcanos (parafínicos)
diminui com o aumento da massa molar. O isooctano tem uma
temperatura de ignição espontânea muito superior ao n-octano. O
etano, o etileno e o etanol têm temperaturas de ignição espontânea
progressivamente decrescentes. O monóxido de carbono tem uma
temperatura de ignição espontânea elevada. Em geral a temperatura de
ignição espontânea é um indicador da dificuldade relativa de queimar
um combustível.
Bibliografia
[1] Turns, S. R., An Introduction to Combustion, Concepts and
Applications, 2nd Ed., McGraw-Hill, 2000.
[2] Strehlow, R. A., Combustion Fundamentals, McGraw-Hill, 1985.
[3] B. Lewis and G. von Elbe, Combustion, Flames and Explosions of
Gases, 2nd ed., Academic, New York, 1961
[4] M.G. Zabetakis, Flammability Characteristics of Combustible
Gases and Vapors, U.S. Department of Mines Bulletin 627 (1965).
[5] Incropera, Frank P., and DeWitt, David P., Introduction to Heat
Transfer, 3rd Ed. John Wiley & Sons, Inc., New York, 1996.