Sie sind auf Seite 1von 92

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS


CURSO DE DIREITO

“ADOLESCENTE INFRATOR: uma questão jurídica ou uma


questão social?”

REGIANE MARIA SANTANA

Itajaí (SC), Junho/2006.


UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS
CURSO DE DIREITO

“ADOLESCENTE INFRATOR: uma questão jurídica ou uma


questão social?”

REGIANE MARIA SANTANA

Monografia submetida à Universidade


do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de
Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc. José Ildefonso Bizatto

Itajaí (SC), Junho/2006.


ii

AGRADECIMENTO

À Deus, pela saúde, cuidado e proteção


concedidos a cada dia, mesmo quando
esquecemos de agradecê-lo pelo milagre de
nossa existência.

Aos meus pais, Olímpio Antonio Santana e


Sandra Maria Santana, pelo esforço e
abdicações que se fizeram necessárias para que
este sonho se tornasse realidade.

Aos meus queridos irmãos, Reginaldo, Rinaldo e


Rodrigo, por serem, além de grandes irmãos,
grandes amigos, com os quais sei que sempre
poderei contar.

Ao meu orientador, MSc. José Ildefonso Bizatto,


por ter acreditado em minha capacidade para
produzir este trabalho, pela dedicação e
confiança em mim depositadas, por todas as
palavras de incentivo e, principalmente, por ser
além de excelente mestre, este admirável ser
humano.
DEDICATÓRIA

Ao meu amor, Ataíde João dos Passos, pelo


carinho, compreensão, dedicação e paciência.
pelo amor verdadeiro e pelas esperanças
compartilhadas. por me fazer sentir forte, nos
meus momentos de fraqueza; por não me deixar
desistir, nos momentos em que achei que este
era caminho difícil demais para ser percorrido.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a universidade do
vale do Itajaí, a coordenação do curso de direito, a banca examinadora e o
orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), 02 de Junho de 2006

Regiane Maria Santana


Graduando
PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale


do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Regiane Maria Santana, sob o
título Adolescente Infrator: uma questão jurídica ou uma questão social?, foi
submetida em 02/06/2006 à banca examinadora composta pelos seguintes
professores: Professor MSc. José Ildefonso Bizatto (Presidente da Banca),
Professor Esp. Renato Massoni Domingues, Professor Esp. Fabiano Oldoni , e
aprovada com a nota 9,2 (nove vírgula dois).

Itajaí (SC), 02 de Junho de 2006.

Professor MSc. José Ildefonso Bizatto


Orientador e Presidente da Banca

Professor MSc. Antônio Augusto Lapa


Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ATUAL.
Atualizada

CEJURPS Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

ED Edição
ETC Et cetera
EUA Estados Unidos da América
Nº Número

ONU Organização das Nações Unidas

ORG Organizador

P. Página

REV. Revisada

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e


Cultura

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí


ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à


compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Adolescente

Pessoa entre doze e dezoito anos de idade1.

Ato Infracional

Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção


penal2.

Criança

A pessoa até doze anos de idade incompletos3.

Delinqüência juvenil

É o ato anti-social, a infração à lei penal cometida por menor de idade4.

Inimputável

É a pessoa irresponsável perante a lei penal. Aquele a quem não se pode imputar
crime. Inculpável5.

Medidas Sócio-Educativas

São atividades impostas aos adolescentes quando considerados autores de ato


infracional.6

Políticas de Atendimento

1
ISHIDA,Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência. 4 ed.
São Paulo: Atlas, 2003. p. 24.
2
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.171.
3
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p. 24
4
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 44.
5
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico, p. 843.
6
LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São
Paulo: Malheiros, 2002. p. 82.
São todas as ações governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, bem como as ações não-governamentais que também visam
proteger e assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes7.

7
MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente e Política de Atendimento.
Curitiba: Juruá. p. 51.
SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................... XI

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 4

A DELINQUÊNCIA JUVENIL ............................................................. 4


1.1 ASPECTOS GERAIS DA DELINQUÊNCIA JUVENIL .....................................4
1.1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO MENORISTA NO BRASIL .....8
1.2 CAUSAS , CONSEQUÊNCIAS E PREVENÇÃO DA DELINQUÊNCIA
JUVENIL...............................................................................................................12
1.2.1 CAUSAS ......................................................................................................12
1.2.1.1 falta de amparo familiar .........................................................................13
1.2.1.2 lazer e condição social ...........................................................................16
1.2.1.3 violência doméstica ................................................................................18
1.2.1.4 drogas ......................................................................................................20
1.2.1.5 mudanças físicas e psíquicas................................................................21
1.2.2 CONSEQÜÊNCIAS E PREVENÇÃO DA DELINQÜÊNCIA JUVENIL .........22
1.2.2.1 Diretrizes das Nações Unidas para a prevenção da delinqüência
juvenil (Diretrizes de Riad) .................................................................................23

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 26

DO ADOLESCENTE INFRATOR .................................................... 26


2.1 DEFINIÇÕES ACERCA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE....................26
2.2 CONCEITO DE ADOLESCENTE INFRATOR...............................................28
2.3 O PERFIL DO ADOLESCENTE INFRATOR..................................................32
2.3.1 INADAPTADOS SOCIAIS............................................................................33
2.3.2 ASSOCIAIS..................................................................................................33
2.3.3 PRÉ-DELINQÜENTES.................................................................................34
2.3.4 DELINQÜENTES .........................................................................................34
2.4 DA INIMPUTABILIDADE PENAL DO ADOLESCENTE ................................34
2.5 DO ATO INFRACIONAL.................................................................................37
2.5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS .......................................................................37
2.5.2 PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL .....................39
2.5.3 APLICAÇÃO DA PRESCRIÇÃO PENAL AO ATO INFRACIONAL.............44
CAPÍTULO 3 .................................................................................... 47

ADOLESCENTE INFRATOR: UMA QUESTÃO JURÍDICA OU UMA


QUESTÃO SOCIAL? ....................................................................... 47
3.1 A QUESTÃO JURÍDICA .................................................................................47
3.2 A QUESTÃO SOCIAL ....................................................................................49
3.2.1 A RESSOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE INFRATOR ..........................49
3.2.2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE
INFRATOR............................................................................................................50
3.3 AS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS.............................................................56
3.3.1 ADVERTÊNCIA ...........................................................................................59
3.3.2 OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO ........................................................61
3.3.3 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE .........................................63
3.3.4 LIBERDADE ASSISTIDA.............................................................................64
3.3.5 SEMILIBERDADE........................................................................................67
3.3.6 INTERNAÇÃO .............................................................................................68

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 73

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 76


xi

RESUMO

O presente trabalho monográfico discorre acerca do estudo


do Adolescente Infrator, enfocando os diversos aspectos da delinqüência juvenil.
Apresenta-se um breve histórico sobre a evolução da legislação menorista
brasileira, desde os tempos do Brasil colônia, passando pelas Ordenações
Filipinas, pelo Código Republicano, seguido do Código de Menores, do Projeto
Hungria, da CRFB/88, até os dias atuais com a vigência do Estatuto da Criança e
do Adolescente. Busca-se evidenciar as causas que levam o adolescente a
praticar atos infracionais, dentre as quais se aborda a falta de amparo familiar, o
lazer e a condição social, a violência doméstica, as drogas e as mudanças físicas
e psíquicas sofridas pelo adolescente. Também estuda as Diretrizes das Nações
Unidas para a Prevenção da Delinqüência Juvenil, ou Diretrizes de Riad. Analisa-
se o perfil do adolescente infrator, apresentando-se a classificação doutrinária, na
qual são classificados em Inadaptados Sociais, Associais, Pré-Delinqüentes e
Delinqüentes. Aborda-se o ato infracional, tratando-se do seu procedimento de
apuração e, oportunamente, faz-se uma análise se, ao ato infracional, cabe a
aplicação do instituto da prescrição penal. Enfoca-se, ainda, a questão jurídica e a
questão social, nas quais está inserido o problema do adolescente infrator, e
destacando-se as políticas públicas e as Medidas Sócio-educativas que são
aplicadas ao adolescente, com o objetivo de reintegrá-lo no convívio social.
INTRODUÇÃO

A presente monografia foi elaborada com o objetivo de


investigar o Adolescente Infrator, enfocando-se os aspectos gerais da
delinqüência juvenil e tentando elucidar a problemática do adolescente em conflito
com a lei.

Seus objetivos são: institucional: produção de Monografia


para a obtenção do Título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do
Itajaí, UNIVALI; geral: estudar os diversos aspectos da delinqüência juvenil, as
causas que levam o adolescente a delinqüir, o perfil do adolescente infrator, o ato
infracional e seu procedimento de apuração, as políticas públicas e as Medidas
Sócio-educativas aplicadas ao adolescente, as quais objetivam sua
ressocialização; específico: investigar se a problemática na qual está envolvido o
adolescente infrator trata-se de uma questão de ordem jurídica ou de ordem
social.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando os aspectos


gerais da delinqüência juvenil, apresentando-se um breve histórico da legislação
menorista no Brasil, destacando-se as causas e conseqüências da delinqüência
juvenil. Dentre as causas, serão destacadas a falta de amparo familiar, o lazer e a
condição social, a violência doméstica, o problema das drogas, bem como as
mudanças físicas e psíquicas ocorridas na fase da adolescência. Ao tratar-se da
questão da prevenção, serão estudadas as Diretrizes das Nações Unidas para a
Prevenção da Delinqüência Juvenil.

No Capítulo 2, tratando do Adolescente Infrator, serão


elencadas as definições entre criança e adolescente dadas pela legislação
pertinente, qual seja o ECA, fazendo-se uma análise do perfil do adolescente
infrator. Enfocar-se-á a classificação feita pelos doutrinadores a partir da oscilante
personalidade destes indivíduos, quais sejam: Inadaptados Sociais, Associais,
Pré-Delinquentes e Delinqüentes. Neste capítulo também será estudada a
2

inimputabilidade penal do adolescente, o ato infracional, seu procedimento de


apuração e a possibilidade de a ele aplicar-se o instituto da prescrição penal.

No Capítulo 3, estudando o problema do adolescente infrator


no âmbito jurídico e no âmbito social, serão destacadas a ressocialização e as
políticas públicas de atendimento ao adolescente infrator, cujo objetivo é a sua
reinserção ao meio do qual foi excluído, em conseqüência do seu desvio de
conduta. Finalizando este capítulo, serão estudadas, individualmente, as Medidas
Sócio-educativas, previstas no ECA, e aplicáveis ao adolescente que pratica o ato
infracional.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as


Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos importantes , seguidos
da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o Adolescente
Infrator e a delinqüência juvenil de maneira geral.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes


hipóteses:

No que se refere às principais causas que levam o adolescente


à prática de atos infracionais, poderia-se destacar a falta de
estrutura familiar; a condição social do adolescente que, muitas
vezes, seria fruto de uma realidade miserável, repleta de
privações; possivelmente teria crescido presenciando ou até
mesmo sendo vítima de violência dentro do próprio lar; e, ainda,
o envolvimento com entorpecentes, bem como as próprias
mudanças físicas e psíquicas que ocorrem no indivíduo na fase
da adolescência.

Quanto ao perfil do adolescente que se revela capaz de cometer


as piores atrocidades contra a vida humana, na maioria das
vezes, este indivíduo já traz consigo um histórico bastante
comprometedor, no que tange à formação de sua personalidade.

Independentemente do aspecto social, econômico ou cultural em


que vive o adolescente, frente à prática de um ato infracional
deverá responder em conformidade com a legislação específica
vigente, ou seja, o ECA.
3

Com relação ao problema do adolescente infrator, este pode ser


enfocado como sendo um problema mais de ordem social do
que de ordem jurídica, visto que faltam empregos, há carência
educacional, habitacional, etc.

Na busca pela ressocialização do adolescente infrator, o


principal obstáculo enfrentado é o retorno ao convívio social.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase


de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados
o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as


Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa
Bibliográfica.
CAPÍTULO 1

A DELINQUÊNCIA JUVENIL

1.1 ASPECTOS GERAIS DA DELINQUÊNCIA JUVENIL

Ao iniciar-se a investigação acerca da delinqüência juvenil e


seus aspectos gerais, é válido acolher-se o entendimento de Queiroz8 que,
oportunamente apresenta sua exposição distinguindo a delinqüência da infração:

A delinqüência e a infração são separadas por limites estreitos. A


primeira deve ser entendida como sendo uma estratégia de vida,
enquanto a infração como o fato ilegal. No entanto, elas não são
consideradas em suas especificidades em relação ao contingente
que será recolhido institucionalmente para que se reajustem ao
ambiente social.

Na concepção de Trindade9 “não é possível, (...) partir de um


conceito unitário, universalmente válido e aceito, de delinqüência juvenil”.

Izquierdo apud Trindade10 “entende a delinqüência juvenil


como um fenômeno específico e agudo de desvio e inadaptação, mas admite que
é diversa a visão que tem o jurista, o psicólogo, o educador e o homem de rua”.

Todavia, desde os tempos mais remotos na história da


humanidade, a delinqüência praticada por menores ocupa lugar de destaque no
cenário social, sendo que, nos últimos anos, estes atos vêm crescendo de
maneira assustadora e desordenada, de forma que, de modo geral, têm-se
verificado cada vez mais requintes de crueldade em tais atos. Mas isto é resultado
do próprio desenvolvimento dos povos, haja vista que, a partir do momento em

8
QUEIROZ, José J.(org). O Mundo do Menor Infrator. São Paulo: Cortez: Autores Associados,
1984. p. 35.
9
TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisciplinar. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 1993. p.38.
10
TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisciplinar, p. 39.
5

que o homem passa a viver em sociedade, traz consigo uma triste e inevitável
conseqüência desta evolução: o delito

Assim, como o desenvolvimento do próprio homem,


desenvolveram-se também os atos considerados como ilícitos, em especial
aqueles praticados por menores, os quais integram a delinqüência juvenil. Isto se
deve ao fato de ser a adolescência uma fase geradora de inúmeros conflitos na
vida do indivíduo, os quais podem ser atribuídos às novas descobertas que
passam a integrar o cotidiano do adolescente, quer sejam acerca do mundo e das
pessoas que o rodeiam, quer sejam acerca do próprio indivíduo, enquanto ser em
desenvolvimento.

Nesta fase, o adolescente tem uma “visão de mundo” bem


diferente daquela que têm os adultos, visão esta, que pode ser atribuída ao fato
dele ter uma personalidade ainda em formação e que, por isso, muitas vezes vê o
mundo e as situações de forma destorcida, fator que pode ser gerador de conflitos
psicológicos e de revolta com a sociedade em que vive.

Há que se ressaltar que a adolescência é também um


período de adaptação a um novo ciclo de vida que se inicia, o qual expõe o
indivíduo de todas as formas possíveis, quer seja aos acontecimentos sociais,
quer seja às dificuldades de sobrevivência pelas quais muitos têm que passar.
Este fator, em especial, é um sério agravante e que o torna ainda mais vulnerável
ao delito.

Para Abreu:11

A vulnerabilidade infanto-juvenil também se revela evidente na


fácil passagem da condição de vítima a infrator. Já nem se falando
dos menores em extrema miséria, como os meninos de rua, alvos
de todas as violências até ao sumário extermínio e sobrevivendo,
em geral, a custa de pequenos furtos e roubos.

11
ABREU, Waldyr de. A Corrupção Penal Infanto-Juvenil. Rio de Janeiro: Forense, 1995. p.32.
6

Entende este mesmo autor que “quanto aos menores (...),


ainda mais pressionam os fatores sociais, pela fragilidade de pessoas ainda em
formação, na difícil fase da adolescência e pré-puberdade”.12

Grünspun13 orienta que a delinqüência juvenil pode


manifestar-se tanto de forma individual quanto de forma coletiva, sendo que esta
última é a mais comum:

Delinqüência é a conduta anti-social manifestada durante o


desenvolvimento dos menores. (...)

A delinqüência pode ser conduta individual ou em grupo. A


delinqüência mais freqüente é em grupo ou bando.

Na lição de Trindade14:

Definir delinqüência juvenil resulta, portanto, difícil, posto que


alguns teóricos incluem nesse conceito não só comportamentos
delitivos, senão condutas irregulares e anômicas, como, por
exemplo, a indisciplina, as fugas do domicílio familiar, o consumo
de drogas, os transtornos afetivos e os fenômenos de
inadaptação, que tendem a se confundir, apesar da possibilidade
de um menor ser inadaptado sem, todavia, ser delinqüente.

Para Diniz15 “(...) Em sentido estrito, é o ato anti-social, ou


melhor, a infração à lei penal cometida por menor de idade”.

Na concepção da maioria dos doutrinadores, a compreensão


do problema da delinqüência atual somente é possível se forem levados em
consideração os fatores sociais, o ambiente familiar e a organização própria da
personalidade do sujeito.

12
ABREU, Waldyr de. A Corrupção Penal Infanto-Juvenil. p.2.
13
GRÜNSPUN, Haim. Direito dos Menores. São Paulo: Almed, 1985. p. 84-85.
14
TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisciplinar. p. 44.
15
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico, p. 44.
7

D’ Agostini16 analisa que “quando se trata de delinqüência e


criminalidade humanas, principalmente cometidas por crianças e adolescentes, a
pobreza e a desigualdade são teses muito aludidas para explicar o fenômeno”.

Por tratar-se a delinqüência juvenil de um assunto de caráter


bastante específico, e que difere visivelmente daquela em que os autores são
adultos, explica Farias17 :

a noção de que os menores são delinqüentes especiais,


merecendo por isso tratamento distinto do que se impõe aos
adultos, é observada em todas as legislações antigas, sobretudo
entre os romanos, cuja cultura jurídica se projetou pelos séculos a
ponto de filiar os códigos modernos às suas instituições.

Desta forma, no estudo da delinqüência juvenil, não se


encontra facilidade para entender os motivos que levam o adolescente a praticar
um ato infracional, isto porque, são inúmeras as razões que podem ser apontadas
como desencadeadoras da violência juvenil, razões estas, que vão desde a
condição social do indivíduo até o desvio de personalidade, mas que serão
abordadas detalhadamente mais adiante. Porém, é preciso atentar-se para o fato
de que a violência juvenil é um problema sério, que reflete de forma danosa à
sociedade, principalmente pelo alto grau de crueldade que tem se verificado no
cometimento de tais delitos.

Na busca de uma explicação para os fatores que contribuem


para a delinqüência juvenil, assim se manifesta Trindade18:

O estudo da delinqüência juvenil, antes de tudo, exige audácia,


por ser uma área de convergência de diferentes enfoques e
métodos de trabalho, com o mesmo propósito: investigar os
principais fatores que contribuem para o seu desenvolvimento e
propor as soluções adequadas.

16
D’AGOSTINI, Sandra Mári Córdova. Adolescente em Conflito com a Lei...e a Realidade.
Curitiba: Juruá, 2003. p.45.
17
FARIAS, Terezinha de Jesus Almeida Noronha de. Traços Históricos da Delinqüência
Juvenil. João Pessoa: S.N.J, 2004. p.18.
18
TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisciplinar, p.37.
8

1.1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO MENORISTA NO BRASIL

Estudando a evolução da legislação de menores, Oliveira19


explica que a partir do século XX o problema do menor começou a atingir o
mundo inteiro, não sendo diferente no Brasil. O crescente desenvolvimento das
indústrias, a urbanização, o trabalho assalariado, notadamente das mulheres, que
tendo que sustentar os lares, tiveram que ir trabalhar fora de casa, deixando os
filhos ao ócio, concorreram para a instabilidade e a degradação dos valores dos
menores, culminando com o crime.

Explica este autor que muitas foram as legislações criadas e


aplicadas no Brasil. Cada uma, à sua época, foi demonstrando-se ineficaz à
descontrolada arrancada da criminalidade juvenil. Outro dos mais combatidos
problemas relacionados com as normas menoristas repousa no discernimento
que até hoje é reservado ao juiz de menores. Não há reprimendas com penas
fixas para os infratores. Essa discricionariedade atribuída ao Juiz, dificulta a
eficácia da aplicação das medidas sócio-educativas.

No Brasil colônia, os espaços sociais eram absolutamente


distintos e imóveis. Assim, havia duas infâncias e adolescências e duas formas
sociais de construção dessa fase da vida humana: a infância e adolescência dos
filhos brancos portugueses e a infância e adolescência dos índios.20

Conforme se observa, durante o período colonial, no Brasil,


não era dispensado nenhum tipo de proteção legal às crianças filhas de índios e
de escravos. Ressalta-se, ainda, que nesta época, estas crianças nem sequer
podiam dispor de um documento de identidade, fato este que, mais uma vez,
evidencia que nenhum direito lhes era assegurado legalmente.

19
OLIVEIRA, Raimundo Luiz Queiroga de. O menor infrator e a eficácia das medidas sócio-
educativas. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 162, 15 dez. 2003. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4584>. Acesso em: 12 set. 2005. p. 5.
20
COLPANI, Carla Fornari. A responsabilização penal do adolescente infrator e a ilusão de
impunidade. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 162, 15 dez. 2003. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4600>. Acesso em: 13 set. 2005. p.6.
9

Saraiva21 relata que até 1830, vigoravam, no Brasil, as


Ordenações Filipinas, e a imputabilidade penal iniciava-se aos sete anos,
eximindo-se o menor da pena de morte e concedendo-lhe redução da pena.
Complementa que o primeiro Código Penal Brasileiro fixou a idade de
imputabilidade plena em 14 anos, prevendo um sistema biopsicológico para a
punição de crianças entre 07 e 14 anos.

Esta fase apresenta uma tímida evolução no que concerne a


aplicação da legislação aos menores infratores, tendo em vista que, na fase
anterior não dispunham de nenhuma proteção legal.

Com o Código Penal Republicano de 1890, (...), adotou-se,


em nosso País, critério diferenciado pela idade, para a afirmação ou não da
responsabilidade penal. Irresponsável seria o menor infrator com idade até 9 anos
(...). O maior de 9 e menor de 14 anos submeter-se-ia à avaliação de magistrado
(..) sobre “a sua aptidão para distinguir o bem e o mal, o reconhecimento de
possuir ele relativa lucidez para orientar-se em face das alternativas do justo e do
injusto, da moralidade e da imoralidade, do lícito e do ilícito”.22

Com a adoção deste critério pelo Código Republicano,


levantou-se a questão acerca do discernimento do menor, ou seja, até atingir
nove anos de idade o menor era considerado irresponsável penalmente pelos
atos infracionais que praticasse. Porém, entre os nove e catorze anos de idade,
era o magistrado quem avaliava se o menor ao praticar a conduta tinha ou não
consciência de que a mesma era incorreta.

Em 1926 passou a vigorar o Código de Menores, instituído


pelo Decreto Legislativo de 1º de dezembro do mesmo ano, prevendo a
impossibilidade de recolhimento do menor de 18 anos que houvesse praticado ato
infracional à prisão comum. Em relação aos menores de 14 anos, consoante
fosse a sua condição peculiar de abandonado ou pervertido, ou nenhuma dessas
21
SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente em Conflito com a Lei – da indiferença à
proteção integral: Uma abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2003. p. 23.
22
VOLPI, Mário (org). Adolescentes Privados de Liberdade: a normativa nacional e internacional
e reflexões acerca da responsabilidade penal. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1998. p. 125.
10

características, seria abrigado em casa de educação ou preservação, ou ainda,


confiado à guarda de pessoa idônea até a idade de 21 anos. Poderia ficar,
outrossim, sob a custódia dos pais, tutor ou outro responsável, se a sua
periculosidade não reclamasse medida mais assecuratória.23

Em 1940, com o advento do Código Penal que, nesse


passo, foi influenciado pelo Projeto Alcântara Machado, o legislador aumentou
para 18 anos a idade ou “os menores de 18 anos são penalmente irresponsáveis,
ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial”.24 E como a
regra fundamentava-se em presunção jure et de jure25, não havia como os
considerar diferentemente.

Pelo Código Penal Brasileiro de 1940, os menores de 18


anos que infringissem a lei penal não poderiam ser submetidos ao processo
criminal comum, isto porque, baseando-se na presunção jure et de jure, estava o
Código adotando a presunção absoluta de falta de discernimento, ou seja,
acreditava-se que ele não sabia o que estava fazendo quando cometia um ato
infracional, por entender o legislador que sua personalidade ainda não estava
formada por completo.

No Projeto Hungria, de 1963, fixava-se a maioridade penal


aos 18 anos. Admitia, todavia, quando provada a maturidade, excepcionalmente,
a imputabilidade do maior de 16 anos.26

Porém, a partir do Decreto-Lei 1004 de 21 de outubro de


1969, voltou-se a adotar o caráter da responsabilidade relativa aos maiores de 16
anos, de modo que a estes seria aplicada a pena reservada aos imputáveis
reduzida de 1/3 (um terço) até a metade.

23
OLIVEIRA, Raimundo Luiz Queiroga de. O menor infrator e a eficácia das medidas sócio-
educativas, p.6.
24
VOLPI, Mário (org). Adolescentes Privados de Liberdade: a normativa nacional e internacional
e reflexões acerca da responsabilidade penal, p. 127.
25
jure et de jure é locução latina que significa: de direito e por direito. (DINIZ, Maria Helena.
Dicionário Jurídico, p.23.)
26
VOLPI, Mário (org). Adolescentes Privados de Liberdade: a normativa nacional e
internacional e reflexões acerca da responsabilidade penal, p. 127.
11

Em detrimento às muitas críticas quanto às alterações


anteriores, em 1973, através da Lei 6061 de 31 de dezembro, mais uma vez o
Código Penal sofre modificações. Desta vez, tem alterado o texto do seu artigo 33
que novamente passa a considerar os 18 anos como a idade limite da
inimputabilidade penal.

O Código de Menores, instituído pela Lei nº 6697/79,


disciplinou a lei penal de aplicabilidade aos menores, mas foi no âmbito da
assistência e da proteção que alcançou os mais significativos avanços da
legislação menorista brasileira, acompanhando as diretrizes das mais eficientes e
modernas codificações aplicadas no mundo. Contudo, ressalte-se que essa
legislação não tinha um caráter essencialmente preventivo, mas um aspecto de
repressão de caráter semi-policiais. Evidentemente que durante sua vigência
surgiram algumas leis específicas que o adequaram à realidade, suprindo-lhe
algumas lacunas.

Em 1988, a CRFB, através de seu dispositivo 228, fortificou


os artigos 1º, II e 41 § 3º do então Código de Menores, no sentido de confirmar a
inimputabilidade penal dos indivíduos menores de 18 anos.

O Art. 228 da CRFB/8827 dispõe que “são penalmente


inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação
especial”.

Finalmente, em 1990 cria-se o Estatuto da Criança e do


Adolescente (ECA), por meio da Lei nº 8069/90, que revoga o Código de
Menores. Pelo ECA, estabelece-se a doutrina da proteção integral ao menor, e
não mais a da situação irregular.

Sobre esse assunto, Oliveira28 destaca que o ECA trouxe


grandes avanços para a responsabilidade menoril, tentando aproximar-se da
realidade social desfrutada pelo Brasil, que é das mais amargas, face ao
27
ANGHER, Anne Joyce (org). Vade Mecum Acadêmico de Direito. 2. ed. São Paulo: Rideel,
2005. p.89.
28
OLIVEIRA, Raimundo Luiz Queiroga de. O menor infrator e a eficácia das medidas sócio-
educativas, p.6.
12

vertiginoso crescimento da marginalização de menores. Promotores e Juízes da


Infância e da Juventude são categóricos ao afirmar que tal diploma determinou
critérios bem mais rígidos de punição, ao mesmo tempo em que criou medidas de
recuperação aplicáveis aos menores que ainda possuem condição para tal.

Ressalta-se que o ECA, além de prever a proteção integral,


elevou o adolescente à categoria de responsável pelos atos considerados
infracionais que cometer, através da aplicação das medidas sócio-educativas,
revolucionando assim o entendimento até então existente, e servindo de alento
para a sociedade vitimada pela falta de segurança.29

1.2 CAUSAS , CONSEQUÊNCIAS E PREVENÇÃO DA DELINQUÊNCIA


JUVENIL

1.2.1 CAUSAS

Importa considerar que não há uma opinião pacífica na


doutrina sobre as possíveis causas da delinqüência juvenil. O que há são
suposições, primordialmente de caráter social acerca desses desvios de conduta
que culminam com a reprovação da sociedade.

As causas da marginalidade entre os adolescentes, são,


pois, muito amplas e desconhecidas, não se restringindo somente à vadiagem,
mendicância, fome ou descaso social. Tende ainda pelo lado das más
companhias, formação de bandos, agrupamentos excêntricos, embriaguez,
drogas, prostituição, homossexualismo, irreverência religiosa ou moral e vontade
dirigida para o crime, que configuram-se como as principais delas.30

Além destas, podem também ser apontadas como causas


da delinqüência juvenil a desestruturação familiar, a violência doméstica, a falta

29
COLPANI, Carla Fornari. A responsabilização penal do adolescente infrator e a ilusão de
impunidade, p. 9.
30
OLIVEIRA, Raimundo Luiz Queiroga de. O menor infrator e a eficácia das medidas sócio-
educativas, p. 7.
13

de opções para o lazer, as mudanças físicas e psíquicas sofridas nesta fase, a


falta de instrução e a evasão escolar. Tais causas serão objeto de estudo e
posicionamentos doutrinários a seguir.

1.2.1.1 falta de amparo familiar

A família tem sido apontada por muitos autores como


sendo um fator de extrema importância e influência, tanto positiva quanto
negativa, no engresso do menor no mundo do crime, já que este, nesta fase da
adolescência, torna-se muito mais frágil e vulnerável.

Neste sentido, salienta Trindade31:

(...) a educação é sempre uma tarefa pessoal dos pais, que não
podem ser substituídos por uma fantasmática escolarização
precoce, nem pelo assessoramento pedagógico e, muito menos,
pela delegação indireta aos meios de comunicação social.

A importância da família pode ser atribuída ao fato de ser ela


a estrutura fundamental capaz de moldar o desenvolvimento psíquico do
adolescente, uma vez que é o local onde acontecem as trocas emocionais e as
experiências de vida, que muito influenciam na formação de sua personalidade.

Sobre a influência fundamental exercida pela família sobre o


adolescente, opina Leal32:

É notório o caráter ambivalente da família, a sua índole construtiva


e destrutiva, ou melhor dizendo: se por um lado reconhecesse a
importância da família estável, bem constituída, onde a harmonia,
o afeto e a confiança se unem na síntese do “home sweet home”,
por outro lado há de se ter em conta que é na família desajustada,
mas estruturada, sem coesão afetiva, que se origina grande parte
dos transviamentos dos menores.

31
TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisciplinar, p. 78.
32
LEAL, Cezar Barros. A Delinqüência Juvenil: seus fatores exógenos e prevenção. Rio de
Janeiro: Aide, 1983. p. 104.
14

Não há dúvidas, convém repetir, que o lar pode vir a ser


exatamente o inverso daquele ambiente amável e salutar que se
destina a ser; as desinteligências rotineiras, as relações
patológicas entre pais e filhos, a existência de membros
delinqüentes, são, extremamente lesivas aos integrantes da
família, sobretudo aos menores.

Desta forma, apesar de tamanha importância exercida pela


família na vida do adolescente, percebe-se que a mesma também pode interferir
de forma negativa, deixando de ser um auxílio e tornando-se, muitas vezes,
também responsável pelos desvios de conduta de seus filhos.

Sobre este aspecto explica Abreu33:

Diante destas fragilidades, a própria família, que deveria atenuá-


las, sendo imperfeita, não raro as agrava. E pode chegar a ser
corruptora a ponto de conduzir o adolescente a práticas
criminosas, às vezes desde a infância. Mais comumente,
negligencia na observância do relacionamento externo dos filhos;
ou, ao contrário, lhes impõe restrições excessivas, provocadoras
de reações. Há, enfim, os lares miseráveis, tumultuados,
conflitantes e insuportáveis, a estimularem, pelo menos, as fugas
dos filhos.

Compartilhando deste mesmo entendimento, no qual é


analisado o papel da família enquanto instituição responsável pelo menor,
expressa D’Agostini34:

(...) são resultantes, na grande maioria das vezes, da falta ou


omissão do Estado, da sociedade e da própria família, sendo que
a última muitas vezes encontra-se também em total violação de
direitos humanos e constitucionais, a chamada situação de risco,
portanto, passível de cometer transgressões.

As Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da


Delinqüência Juvenil, em seu capítulo IV, ao tratar dos Processos de
Socialização, assim dispõe35:

33
ABREU, Waldyr de. A Corrupção Penal Infanto-Juvenil, p. 12.
34
D’AGOSTINI, Sandra Mári Córdova. Adolescente em Conflito com a Lei ...e a Realidade, p.
81.
15

Como a família é a unidade central encarregada da integração


social primária da criança, deve-se prosseguir com os esforços
governamentais e de organizações sociais para a preservação da
integridade da família, incluída a família numerosa. A sociedade
tem a obrigação de ajudar a família a proteger a criança e garantir
seu bem-estar físico e mental.

Ademais, o dever da família de assegurar à criança e ao


adolescente o mínimo necessário a uma vida digna, trata-se de uma
determinação constitucional, no qual a CRFB/8836, por meio de seu artigo 227
dispõe:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança


e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

Desta forma, entende-se que a família é o primeiro centro


de referência da criança, a responsável por sua integração social e que seu papel
é de extrema importância, haja vista que é a base primeira na qual o menor
poderá encontrar tanto o equilíbrio, quando a integridade familiar for preservada, o
que contribuirá para crescer e desenvolver-se de forma centrada, quanto a
desordem, quando viver em um ambiente familiar conturbado e desestruturado.
Neste caso, trata-se de um fator negativo, capaz de desencadear no adolescente
o desejo de livrar-se deste ambiente contaminado, optando, assim, pelo caminho
da delinqüência.

35
VOLPI, Mário (org) – Adolescentes Privados de Liberdade: a normativa nacional e
internacional e reflexões acerca da responsabilidade penal, p. 96.
36
ANGHER, Anne Joyce (org). Vade Mecum Acadêmico de Direito, p.89.
16

1.2.1.2 lazer e condição social

É sabido que a falta de lazer pode ser apontada como uma


das causas da delinqüência praticada por menores no Brasil. O lazer pode servir
tanto como um remédio quanto como um estímulo para a violência. O limite é o
controle e a orientação do jovem.

Na lição de Abramovay37:

A carência de atividades de diversão na comunidade é explorada


pelo tráfico que, em muitos lugares, marca presença, ocupando
um espaço deixado aberto pelo poder público, constituindo-se em
referência para os jovens.

No que se refere à condição social do menor infrator, é o


entendimento de Queiroz:38

O problema do menor é um problema de classe. De classe em


ambos os sentidos. Para a classe dominante é uma força
insurgente, que potencializa as condições sócio-econômicas do
proletariado. Para as classes subalternas, é seu filho bastardo,
portanto um perigo que lhe ameaça no cotidiano. Em breve esse
contingente entrará na maioridade e, com isso, inserir-se-á na
qualidade jurídica de imputável e dirigir-se-á para as prisões.

Rosa apud Abreu39 acentua que a delinqüência “está em


relação direta com o grau de desorganização social. Quanto mais intensos os
processos de desorganização, mais aguda a incidência de criminalidade”.

O problema da condição social deve ser encarado como


uma das principais causas da delinqüência juvenil, sendo necessário abordá-lo
levando-se em conta o desemprego, a pobreza, a exclusão social e a falta de
oportunidades, problemas estes, cotidianamente enfrentados pelos adolescentes
nascidos nos locais menos favorecidos e que, não raramente, geram sentimentos
de revolta e rebeldia.

37
ABRAMOVAY, Miriam. Escola e Violência. Brasília: UNESCO, UCB, 2003. p. 38.
38
QUEIROZ, José J.(org). O Mundo do Menor Infrator, p. 36
39
ABREU, Waldyr de. A Corrupção Penal Infanto-Juvenil, p. 2.
17

Marques apud Grünspun40 faz a seguinte explanação:

(...) no Brasil, regra geral, esse menor pertence a uma família em


vias de marginalização nas grandes cidades, por baixos níveis de
renda, habitação subumana, subalimentação, analfabetismo e
baixo nível de escolaridade, baixos níveis sanitários e de higiene,
falta de qualificação profissional, insegurança social.

Abreu41 complementa que:

Numa observação mais ampla da criminalidade, assinala que a


desorganização social, que conduz à anomia, não afeta da
mesma maneira todas as camadas sociais. E nas mais atingidas
estabelecem-se normas de conduta diferentes e afrontosas das
que imperam na sociedade dominante. (...)

Os mesmos conflitos de culturas são facilmente verificáveis no


mundo em desenvolvimento, principalmente em favelas, ou onde
impere o crime organizado, desde a exploração dos tóxicos e o
jogo de azar clandestino, até a corrupção administrativa e política.

(...) Nestas zonas, menos permeáveis à civilização, e sem o


predomínio indiscutível da autoridade pública, existem as
subculturas.

Nas palavras de Queiroz42 inclui, ainda, as necessidades


pelas quais passam as famílias que obrigam os menores exercerem algum tipo
de trabalho para ajudar no orçamento familiar. Nas palavras do autor “a
participação do menor no mercado é decorrência das necessidades e carências
familiares e, nesse contexto, a contrapartida do trabalho acaba sendo a
delinqüência”.

40
GRÜNSPUN, Haim. Os Direitos dos Menores, p. 83.
41
ABREU, Waldyr de. A Corrupção Penal Infanto-Juvenil, p. 4
42
QUEIROZ, José J.(org). O Mundo do Menor Infrator, p.22.
18

1.2.1.3 violência doméstica

Em muitos casos, o primeiro contato que o menor tem com


a violência é no próprio seio familiar, seja assistindo ao pai espancar a mãe, seja
sendo ele o próprio espancado. Esta exposição precoce à violência ou à cenas de
violência, faz com que o menor, sendo vítima de maus-tratos pelos próprios pais,
acabe por abandonar o lar. Abandonando o lar e indo morar nas ruas o menor,
sentindo-se inseguro, frágil e ao mesmo tempo coberto de revolta,
inevitavelmente, irá delinqüir.

A partir de dados fornecidos por pesquisas realizadas pela


UNESCO em 2001 acerca da delinqüência juvenil, tem-se a confirmação de que
a violência doméstica mostra-se como uma das suas causas. Destes dados
colhem-se os seguintes depoimentos de técnicos e coordenadores do projeto que
realizaram os trabalhos:

Os meninos que estão na rua sempre têm uma história que vem
da família. É um padrasto que espanca, uma mãe que espanca, é
um abuso, um irmão, um padrasto que tenta abusar, é uma morte.
Às vezes, no interior, a família se desmancha mesmo. Cada um
vai para um lado, a criança fica só, fica abandonada.

Já foram muitos os casos de violência familiar! Por parte de


padrasto, do pai, as meninas vítimas de estupro. É uma coisa
muito triste, tanto que muitos nem moram com a família, moram
com uma família alternativa, tio, avô, ou algum parente mais
velho.43

Azevedo e Guerra apud D’Agostini44, atribuem à violência


doméstica a formação de adolescentes delinqüentes que, em função da violência
sofrida dentro do lar, acabam tendo conseqüências estruturais em sua
personalidade. Assim entendem as autoras:

A esta hora, exatamente, uma, duas, três, muitas crianças estão


sendo vítimas da violência em seus lares (...) A violência

43
ABRAMOVAY, Miriam. Escola e Violência, p. 51
44
D’AGOSTINI, Sandra Mári Córdova. Adolescente em Conflito com a Lei...e a Realidade, p.
58.
19

doméstica constitui a face oculta da violência de rua que se abate


cotidianamente sobre nossa infância. Como tudo que ocorre entre
as quatro paredes “do que chamam Lar”, esse tipo de violência
costuma ser camuflado por um amplo e persuasivo complô de
silêncio. Desse, costumam participar os pais abusivos, seus
parentes, vizinhos, a sociedade em geral (...)

Ainda sobre esta matéria da violência doméstica, opina


Abramovay45, fazendo um alerta para a questão da cadeia de violências, ou seja,
da reprodução pelos menores dos mesmos atos de violência praticados por seus
pais:

A exposição a atos de violência no âmbito doméstico destruiria a


auto-estima dos jovens, que se encontrariam inseguros, sem
referências, já que os pais seriam os agressores, seus algozes.

A violência doméstica seria um elemento desencadeador do que


poderia ser denominado cadeia de violências ou reprodução de
violências. Pais e mães violentos que têm os filhos como suas
vítimas, que, por sua vez, se tornariam violentos, fazendo outras
vítimas.

O alerta para o terrível e perigoso efeito da violência doméstica na


constituição do que se denomina cadeia de violências ou de
sujeitos violentos não necessariamente se destaca com o intuito
de culpar os pais ou mães, mas para chamar a atenção para
contextos de violência.

Embora a questão da violência contra a criança e o


adolescente e aquela por eles praticada seja alvo de grande interesse social,
estando freqüentemente em destaque nos meios de comunicação e nas
conversas habituais, a verdade é que, na maioria das vezes, tais abordagens são
demasiadamente simplistas. Não conseguem distinguir o que é crença e o que é
verdade, nem mesmo desligar os esteriótipos constituídos sem qualquer critério
cientifico. É justamente por isso, que sempre houve um consenso acerca da
violência contra a população infanto-juvenil: na visão da sociedade, a maioria das

45
ABRAMOVAY, Miriam. Escola e Violência, p.51-52.
20

vítimas seria representada pelos indivíduos que habitam as ruas, em meio a


ladrões e viciados, e oriundos de classes menos favorecidas.46

1.2.1.4 drogas

As drogas ganham papel de destaque no cenário do estudo


das causas da delinqüência juvenil, seja sendo o menor apenas um mero usuário
das substâncias entorpecentes, seja atuando na rota do tráfico, a serviço do
traficante que, literalmente, o adota.

Schall apud Abramovay47, acredita que o início do consumo


de drogas “é favorecido pela pressão do grupo e pela vulnerabilidade à influencia
dos colegas, associada à insegurança típica da idade e necessidade de
aceitação”.

Quanto ao crescimento assustador do número de


adolescentes envolvidos com o problema das drogas, adverte D’Agostini48:

Hoje, um dos fatores responsáveis pelo aumento da criminalidade


está ligado ao tráfico de drogas, e, nas grandes cidades, o
crescimento da violência e as disputas entre as quadrilhas do
crime organizado estão diretamente relacionados.

As drogas podem ser consideradas uma das mais


importantes e polêmicas causas da delinqüência entre menores, haja vista que,
depois de se tornar um dependente, o adolescente depara-se com a necessidade
de manter o vício e, para isto, torna-se capaz de cometer as piores atrocidades
contra a vida humana.

Nesse sentido, tem-se a lição de Abramovay49:

46
PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente. Rio de janeiro: Renovar,
1996. p. 483.
47
ABRAMOVAY, Miriam. Escola e Violência, p. 123
48
D’AGOSTINI, Sandra Mári Córdova. Adolescente em Conflito com a Lei...e a Realidade, p.
53.
49
ABRAMOVAY, Miriam. Escola e Violência, p. 55-56.
21

Vários jovens apontam as drogas como um dos principais e


graves problemas enfrentados por eles. Na sua concepção, a
morte aparece como evento próximo de jovens dependentes de
droga.

É importante frisar que os jovens se referiram tanto à drogas


ilícitas, em especial a maconha, quanto às lícitas com destaque
para as bebidas alcoólicas. (...)

O envolvimento com o tráfico de drogas pode estar relacionado


com o financiamento do próprio vício. Porém, mais
freqüentemente, no ambiente de exclusão social a que estão
submetidas as comunidades onde vivem os jovens, a atividade no
tráfico é uma via para a satisfação de aspirações de consumo
para a qual a sociedade não oferece meios legítimos.

Para esses jovens, o tráfico representa a possibilidade de atingir


um status50 social e obter respeito da sociedade. O traficante é
visto como um indivíduo respeitado, que possui poder e dinheiro,
algo quase inatingível em uma comunidade de baixa renda. No
imaginário de vários jovens, é o traficante quem zela pelo bem-
estar da comunidade, na medida em que faz benfeitorias (muitas
vezes substituindo o papel do Estado).

1.2.1.5 mudanças físicas e psíquicas

Um outro fator que muito contribui para que o adolescente


enverede para o cometimento de atos infracionais são as alterações físicas e
psíquicas sofridas por ele nesta fase.

Hentig apud Abreu51 assinala que:

durante esse período fazem aparição, com reserva, muitas


perturbações mentais. As cifras de suicídio e dos acidentes fatais
aumentam. A puberdade parece mobilizar todas as debilidades
mentais e físicas do jovem para um processo perigoso.

50
Status significa prestígio, posição social. (MICHAELIS: pequeno dicionário inglês-português.
São Paulo: Melhoramentos, 1999. p.280.)
51
ABREU, Waldyr de . A Corrupção Penal Infanto-Juvenil, p. 12.
22

Sobre esta temática adverte Mucchielli apud Abreu52:

os perigos da puberdade e da pré-puberdade, são ocasiões de


grande risco para o menor e a sociedade. Em geral ocorrem (...)
entre 14 e 15 anos para os meninos e quanto às meninas, aos 12
e 13 anos de idade.

Como ressalta o pesquisador alemão Albrecht apud Abreu53


“os jovens são diferentes dos adultos psicológica, fisiológica e socialmente, e
muito mais sensíveis ao bem como ao mal”.

1.2.2 CONSEQÜÊNCIAS E PREVENÇÃO DA DELINQÜÊNCIA JUVENIL

É praticamente impossível, nos tempos atuais, cogitar de


uma vida social distante da delinqüência juvenil e da criminalidade de maneira
geral, haja vista que são dois elementos quase que inseparáveis. É preciso
questionar o fato e as conseqüências dele advindas, bem como trabalhar
intensamente na formulação de políticas de prevenção, objetivando diminuir a
ocorrência de tais fenômenos, não só a nível local mas também a nível mundial.

Leal54 entende que a repressão somente deve ser utilizada


nos casos mais extremos de violência praticada por menores, pois, segundo o
autor:

Preveni-la, a delinqüência juvenil, é impedir um genocídio social


que se permite esteja sendo praticado contra milhares de
menores, espalhados nos quatro cantos deste país e que,
produtos de um processo de socialização divergente,
disfuncionados, convertem-se em infratores porquanto não se lhes
oferecem outras opções, não se satisfazem, a tempo próprio, as
suas necessidades básicas (suas carências, isoladas ou não, são
múltiplas: econômicas, sociais, físicas e psíquicas) nem se busca
desenvolver suas potencialidades positivas.

52
ABREU, Waldyr de. A Corrupção Infanto-Juvenil, p. 12.
53
ABREU, Waldyr de. A Corrupção Penal Infanto-Juvenil, p. 15.
54
LEAL, Cezar Barros. A Delinqüência Juvenil: seus Fatores Exógenos e Prevenção, p.127-128.
23

Neste sentido, com o propósito de prevenir a ocorrência de


atos infracionais, as Nações Unidas desenvolveram diretrizes de prevenção,
também conhecidas por Diretrizes de Riad, cujos princípios básicos passarão a
ser estudados a seguir.

1.2.2.1 Diretrizes das Nações Unidas para a prevenção da delinqüência


juvenil (Diretrizes de Riad)

O 8º Congresso das Nações Unidas, de Prevenção do


Crime e Tratamento de Criminosos, realizado no ano de 1990, recomendou as
Diretrizes Fundamentais de Riad, das quais serão abordados apenas os
Princípios Fundamentais. Destes, é válido citar o 1º e o 2° princípio que assim
dispõem sobre o assunto em questão55.

A prevenção da delinqüência juvenil é parte essencial da


prevenção do delito na sociedade. Dedicados a atividades lícitas e
socialmente úteis, orientados rumo à sociedade e considerando a
vida com critérios humanistas, os jovens podem desenvolver
atitudes não criminais.

Para ter êxito, a prevenção da delinqüência juvenil requer, por


parte de toda a sociedade, esforços que garantam um
desenvolvimento harmônico dos adolescentes e que respeitem e
promovam a sua personalidade a partir da primeira infância.

Além dos princípios supra citados, é oportuno destacar,


ainda, os demais princípios e orientações deliberados pelas Diretrizes das
Nações Unidas para a Prevenção da Delinqüência Juvenil56, a saber :

1) Na aplicação das presentes Diretrizes, os programas


preventivos devem estar centralizados no bem-estar dos jovens desde sua
primeira infância, de acordo com os ordenamentos jurídicos nacionais.

55
VOLPI, Mário (org). Adolescentes Privados de Liberdade: a normativa nacional e internacional
e reflexões acerca da responsabilidade penal, p.92-93.
56
VOLPI, Mário (org). Adolescentes Privados de Liberdade: a normativa nacional e internacional
e reflexões acerca da responsabilidade penal, p. 92-93.
24

2) É necessário que se reconheça a importância da


aplicação de políticas e medidas progressistas de prevenção da delinqüência que
evitem criminalizar e penalizar a criança por uma conduta que não cause grandes
prejuízos ao seu desenvolvimento e que nem prejudique os demais. Essas
políticas e medidas deverão conter o seguinte:

a) criação de meios que permitam satisfazer às diversas


necessidades dos jovens e que sirvam de marco de apoio para velar pelo
desenvolvimento pessoal de todos os jovens, particularmente daqueles que
estejam permanentemente em perigo ou em situação de insegurança social e que
necessitem um cuidado e uma proteção especiais.

b) critérios e métodos especializados para a prevenção da


delinqüência, baseados nas leis, nos processos, nas instituições, nas instalações
e uma rede de prestação de serviços, cuja finalidade seja a de reduzir os motivos,
a necessidade e as oportunidades de cometer infrações ou as condições que as
propiciem.

c) uma intervenção oficial cuja principal finalidade seja a de


velar pelo interesse geral do jovem e que se inspire na justiça e na eqüidade.

d) proteção do bem-estar, do desenvolvimento, dos direitos


e dos interesses dos jovens.

e) reconhecimento do fato de que o comportamento dos


jovens que não se ajustam aos valores e normas gerais da sociedade são, com
freqüência, parte do processo de amadurecimento e que tendem a desaparecer,
espontaneamente, na maioria das pessoas, quando chegam à maturidade, e

f) consciência de que, segundo a opinião dominante dos


especialistas, classificar um jovem de "extraviado", "delinqüente" ou "pré-
delinqüente" geralmente favorece o desenvolvimento de pautas permanentes de
comportamento indesejado.
25

3. Devem ser desenvolvidos serviços e programas com base


na comunidade para a prevenção da delinqüência juvenil. Só em último caso
recorrer-se-á a organismos mais formais de controle social.

Conforme se verifica, por meio de uma análise atenta aos


Princípios Fundamentais em destaque, a melhor forma de combater os delitos na
sociedade, em especial aqueles praticados por menores, é a sua prevenção.
Esta, por sua vez, não é uma tarefa singular, mas sim coletiva, na qual devem
estar envolvidos a família, a comunidade, os educadores e, fundamentalmente o
Estado.
26

CAPÍTULO 2

DO ADOLESCENTE INFRATOR

2.1 DEFINIÇÕES ACERCA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O Estatuto da Criança e do Adolescente57, em seu artigo 2º


faz a seguinte definição, in verbis58, sobre a criança e o adolescente:

Art. 2º - Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa


até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre
doze e dezoito anos de idade.

§ Único – nos casos expressos em lei, aplica-se


excepcionalmente este estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e
um anos de idade.

O mencionado artigo revela a diferença técnica entre criança


e adolescente. Sendo a criança o menor entre zero e doze anos e adolescente, o
menor entre doze e dezoito anos de idade.

Esta denominação implica, na prática, em questões como a


de se definir a competência da Vara da Infância e da Juventude em relação a
Vara da Família. Há a necessidade de análise do alcance que tem o parágrafo
único do artigo 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Referindo-se no parágrafo único às pessoas entre dezoito e


vinte e um anos de idade, o Estatuto claramente as relaciona à hipótese da
maioridade civil. Por ocasião da entrada em vigor do Estatuto da Criança e do
Adolescente, o Código Civil em vigência era o de 1916 (Lei nº 3.071/16) o qual
previa em seu artigo 9º : “Aos vinte e um anos completos acaba a menoridade,

57
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p. 24.
58
In verbis é locução latina que significa: nestes termos, nestas palavras. (SILVA, De Plácido e.
Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 451.)
27

ficando habilitado o indivíduo para todos os atos da vida civil”. Todavia, o Código
Civil Brasileiro de 2002 alterou a maioridade civil, diminuindo-a para dezoito anos.
Este fato revoga tacitamente a norma contida no parágrafo único do artigo 2º do
ECA, deixando de existir a hipótese de aplicação da lei menorista nesta faixa
etária entre dezoito e vinte e um anos de idade59.

Ainda buscando uma melhor definição para os termos


criança e adolescente, traz-se a contribuição de De Plácido e Silva apud
60
Pereira , que assim os conceitua:

criança é o indivíduo da espécie humana na infância, que por sua


vez deriva do latim infantia (incapacidade de falar) ou de infans,
que originalmente quer exprimir a situação de quem não fala ou
de quem ainda não fala (...) Na acepção jurídica, assinala o
período que vai do nascimento à puberdade (...)

Adolescente é o indivíduo na adolescência, que se entende como


o período que sucede à infância. Inicia-se com a puberdade e
acaba com a maioridade. Deriva do latim adolescer, que significa
crescer.

A partir da promulgação da CRFB/88, que em seu artigo 227


declarou os Direitos Fundamentais da Criança e do Adolescente, um novo
paradigma passou a orientar o Brasil nas questões inerentes à infância e à
adolescência; em especial, com o artigo 6º do ECA, em que crianças e
adolescentes passaram a ser considerados seres em desenvolvimento,
adquirindo, assim, o status de sujeitos de direitos e prioridade constitucional
absoluta.

Assim dispõe o artigo 6º do Estatuto da Criança e do


Adolescente61:

Art. 6º - Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins


sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os

59
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.25.
60
PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente, p. 45.
61
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.32.
28

direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da


criança e do adolescente como pessoa em desenvolvimento.

Neste contexto, Seda62 traz o seguinte ensinamento:

(...) os conceitos de infância e adolescência, com seu profundo


conteúdo ontológico, foram acolhidos por nosso Direito Positivo. É
menor quem não é maior. É maior quem a lei convenciona que
pode se auto-determinar na sociedade. É criança ou adolescente
quem, perante a natureza, (ontológica), vive a condição infanto-
juvenil objetivamente observável no desenvolvimento pessoal de
cada um (...) O ordenamento jurídico brasileiro acolheu crianças e
adolescentes para o mundo dos direitos e deveres: o mundo da
cidadania (...)

Neste mesmo diapasão, importante destacar a contribuição


de Pontes Jr. apud Pereira63 acerca das crianças e adolescentes enquanto
sujeitos de direitos, que assim se manifesta:

(...) crianças e adolescentes são sujeitos de direitos


universalmente conhecidos, não apenas de direitos comuns aos
adultos, mas, além desses, de direitos pessoais provenientes de
sua condição de pessoas em desenvolvimento que devem ser
assegurados pela família, Estado e sociedade. Inclui-se nesse
desenvolvimento a preocupação por todos os aspectos – seja
físico, moral, espiritual, social, etc, - que possam convergir para o
estabelecimento de condições de liberdade e dignidade, e
garantam a satisfação de todas as suas necessidades, vale dizer,
que possam promover a proteção integral de crianças e
adolescentes.

2.2 CONCEITO DE ADOLESCENTE INFRATOR

Vencida a etapa das definições de criança e adolescente,


passar-se-á a busca pelo estudo que melhor define o adolescente infrator.

62
SEDA, Edson. Construir o Passado ou Como mudar hábitos, usos e costumes tendo como
instrumento o Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Malheiros, 1993. p. 25-26.
63
PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente, p. 59.
29

Franckini e Francesco apud Trindade64 consideram


“delinqüente juvenil a pessoa em idade evolutiva, de conduta anti-social, a quem
devem ser aplicados os meios mais adequados a sua recuperação e à defesa da
sociedade”.

Queiroz apud Grünspun65, na busca de um conceito para o


adolescente infrator, considera fatores de sua personalidade, genéticos e
psicossociais. No seu entendimento: “(...) o infrator é o marginal, indivíduo cuja
personalidade deformada por fatores genéticos ou psicossociais, merece, de
qualquer forma, ser isolado do convívio social.”

Ainda não se tem um consenso geral acerca da


denominação que deve ser dada aos adolescentes que praticam atos infracionais.
O que se vê, na realidade, são formas estigmatizantes utilizadas pelos meios de
comunicação social, os quais referem-se aos menores infratores como
delinqüentes, pivetes e, mais recentemente, tem-se ouvido a expressão
“pequenos predadores”, expressão esta, diga-se de passagem, importada dos
EUA e utilizada por diversas revistas de edição semanal.66

Quando o adolescente comete uma conduta tipificada como


delituosa no Código Penal Brasileiro ou nas leis especiais, ele passa a ser
chamado de “adolescente infrator”, e não de “menor” como era previsto nas
legislações anteriores, apesar da insistência dos diversos meios de comunicação
em referirem-se a estes indivíduos de forma errônea e grotesca, utilizando-se de
expressões do tipo “menor assalta criança”.67

O fator mais preocupante sobre estas expressões utilizadas


pela mídia para designar o menor que pratica um ato infracional, é que a
população, em geral, tende a repetir tais expressões e, à elas, também
acrescenta suas contribuições pessoais, taxando-os também como bandidos,

64
TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisciplinar, p. 45.
65
GRÜNSPUN, Haim. Os Direitos dos Menores, p. 83-84.
66
VOLPI, Mário. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: Cortez, 1997. p.7.
67
COLPANI, Carla Fornari. A Responsabilização Penal do Adolescente Infrator e a Ilusão da
Impunidade, p.03.
30

trombadinhas, marginais, dentre outros. Apesar de todas estas expressões


utilizadas por diversos profissionais da imprensa, existem outros que se referem à
eles apenas como o que eles realmente são, ou seja, adolescentes.

No entendimento de Queiroz68, “menor infrator é uma


categoria jurídica para designar menores de 18 anos que tenham cometido
infração penal”.

Alguns autores acreditam que a visão que se tem do menor


praticante de ato infracional, diversifica-se de acordo com cada setor social.

Neste contexto, Izquierdo apud Trindade69 faz as seguintes


colocações:

Para o jurista, o delinqüente é todo aquele que infringe qualquer


das leis sancionadas pelo código. Trata-se de aplicação de uma
normativa vinculada a uma conduta considerada contra a lei.

Para o psicólogo, o comportamento delinquencial obedece uma


série de causas, a uma constelação ou feixe de fatores
etiológicos. Uns serão predisponentes e outros desencadeantes
propriamente da conduta delinquencial.

Para o educador, o delinqüente é o resultado de uma série de


condicionamentos que o sujeito encontrou sem buscar; é um
enfermo da conduta com direito a tratamento e sem outros limites
que os impostos pela impotência humana.

Já o homem da rua oscila, desde o que crê na solução pela


repressão carcerária, até o ingênuo que diz ser questão de
oferecer um ambiente de tolerância e cuidados sentimentais.

O sociólogo, acrescenta mais adiante, à exceção dos casos


patológicos, tem que conceder maior importância aos fatores
ambientais, pois, com alguma freqüência, não só o menor é
inadaptado, mas também o meio em que ele vive.

68
QUEIROZ, José J. (org). O Mundo do Menor Infrator, p.43.
69
TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisciplinar, p. 39.
31

Desta forma, os adolescentes em conflito com a lei acabam


por não encontrarem eco na defesa de seus direitos, haja vista que o fato de
terem praticado um ato infracional os desqualifica enquanto adolescentes. A
segurança é vista como um meio de proteger as pessoas que integram a
sociedade, bem como o seu patrimônio.

Sobre este enfoque, ensina Volpi70 que “é difícil, para o


senso comum, juntar a idéia de segurança e cidadania. Reconhecer no agressor
um cidadão parece ser um exercício difícil e, para alguns, inapropriado”.

Assim, diante deste mar de indefinições, uma drástica


conseqüência que pode ser verificada é o aumento do preconceito da sociedade
com relação aos menores violadores da norma legal.

Na concepção de Queiroz71:

(...) trata-se de um problema que cada vez mais sensibiliza e


mobiliza a sociedade que, se de um lado se percebe ameaçada,
de outro, superpõe a imagem do marginal, da criança e do
adolescente que necessitam de cuidados e atendimento.

(...) Se o menor é vítima de uma sociedade de consumo


desumana e muitas vezes cruel, há que ser tratado e não punido,
preparado profissionalmente e não marcado pelo rótulo fácil de
infrator, pois foi a própria sociedade que infringiu as regras
mínimas que deveriam ser oferecidas ao ser humano quando
nasce, não podendo depois, hipocritamente, agir com rigor contra
o ser indefeso e sub-produto de uma situação social anômala.

A dominação e a violência aparecem como consciência


ingênua do Direito e da Justiça que objetivam recuperar o infrator. O infrator é o
marginal, indivíduo cuja personalidade deformada por fatores, seja, genéticos ou
psicossociais, merece, de qualquer forma, ser isolado e afastado do convívio

70
VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato Infracional. São Paulo: Cortez, 1997. p. 9.
71
QUEIROZ, José J. (org). O Mundo do Menor Infrator. São Paulo: Autores Associados, 1984.
p.42.
32

social. Mas o marginal é também o morador de favelas e cortiços, da periferia dos


centros urbanos.72

A marginalidade menorista é vista como um problema social.


O adolescente é, na verdade, vítima do processo de marginalização que incide
sobre aquela parcela da população que não é detentora de recursos para prover
as suas necessidades de sobrevivência. Vive em condições de extrema carência,
tanto econômica quanto social, cultural e familiar.

2.3 O PERFIL DO ADOLESCENTE INFRATOR

A adolescência é uma fase de indagações, questionamentos


e reflexões. Esse momento torna difícil a relação do adolescente com o ambiente
em que vive. Sabe-se que, nesta fase, o adolescente está a procura da sua
própria identidade.

Na lição de Grünspun73:

Os menores não são anjos e não devem ser idolatrados ou


idealizados. Podem ser até perversos e muitas vezes demonstram
sua maldade, sua agressividade e sua perversidade. Por isso
mesmo têm direitos múltiplos e precisam ser defendidos.

Ressalta-se que, perante as cominações previstas no


Código Penal, o adolescente infrator é Inimputável, ou seja, quando comete uma
conduta delitiva ele não recebe as mesmas sanções que as pessoas maiores de
dezoito anos de idade, uma vez que a inimputabilidade penal, prevista no artigo
227 da Carta Magna fixa em dezoito anos a responsabilidade penal.74

72
QUEIROZ, José J. (org). O Mundo do Menor Infrator, p.45.
73
GRÜNSPUN, Haim. Os Direitos dos Menores, p. 84.
74
COLPANI, Carla Fornari. A Responsabilização Penal do Adolescente Infrator e a Ilusão de
Impunidade, p. 03.
33

Todavia, mesmo sendo inimputável, o adolescente sofre


uma sanção por seus atos, através da aplicação das medidas sócio-educativas,
que serão objeto de estudo mais adiante.

O perfil do menor infrator é variável. Sua personalidade é


oscilante. Segundo Isquierdo apud Trindade, os menores infratores estão
classificados em quatro momentos: Inadaptados Sociais, Associais, Pré-
Delinqüentes e Delinqüentes.75

A seguir, serão destacados individualmente cada um destes


quatro tipos de adolescentes, com o intuito de verificar suas peculiaridades bem
como de que forma diferem entre si.

2.3.1 INADAPTADOS SOCIAIS

Como o próprio nome diz, os Inadaptados Sociais são


aqueles incapazes de adaptação ao meio social, que não dirigem seu
comportamento de modo a respeitar as normas da convivência social. As razões
desta situação se deve ao fato de não terem se identificado e socializado, e
acabam por substituírem as normas e valores por regras próprias, que vão contra
o estabelecido pelas leis.

2.3.2 ASSOCIAIS

Como adolescentes Associais pode-se destacar os que,


devido a sua estrutura, perturbam e danificam os interesses da comunidade como
tal e de seus membros, uma vez que não podem ou não querem se subordinar à
ordenação social que lhes é imposta.

75
TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisciplinar, p.39.
34

2.3.3 PRÉ-DELINQÜENTES

Na classe dos Pré-Delinqüentes, estão inseridos aqueles


indivíduos que, não tendo chegado a uma idade que costuma coincidir com a
maioridade penal, ainda não cometeram um delito, porém, podem ser
considerados anti-sociais, tendo em vista que, muito provavelmente, irão se
converter em delinqüentes declarados, se não forem submetidos a um tratamento
preventivo, pois suas ações encontram-se no limite da delinqüência.

2.3.4 DELINQÜENTES

Por fim, chega-se aos Delinqüentes propriamente ditos.


Estes sujeitos são aqueles que estão numa situação associal da conduta humana,
mas no fundo, numa ruptura de possibilidade normal da relação interpessoal.
Devido à sua inadaptação familiar, escolar ou social, este, pode ser considerado
um sociopata. A incapacidade de adaptação apresentada pelo adolescente
delinqüente é relacionada à integração social.76

Desta maneira, analisando-se as particularidades inerentes a cada


um destes grupos de adolescentes, percebe-se o quão difícil é
estabelecer definições únicas acerca da personalidade deste
indivíduo que, desde tão cedo, passam a integrar o rol dos
cometedores de condutas delitivas contra a sociedade, o rol dos
fora da lei.

2.4 DA INIMPUTABILIDADE PENAL DO ADOLESCENTE

Quando um adolescente comete uma infração não pode


estar sujeito às normas previstas na legislação penal brasileira comum, uma vez
que a Carta Magna, em seu artigo 228 dispôs que “são penalmente inimputáveis
os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”,
elevando, assim, a nível de categoria constitucional, a criança e o adolescente.
76
TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisiplinar, p. 40.
35

No mesmo sentido, o Estatuto da Criança e do


77
Adolescente , adotou as disposições constitucionais:

Art. 104 – São penalmente inimputáveis os menores de 18


(dezoito) anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.

Parágrafo Único - Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada


a idade do adolescente à data do fato.

Na definição de Diniz78, “inimputável é a pessoa


irresponsável perante a lei penal. A quem não se pode imputar crime. Inculpável”.

O limite de dezoito anos para a imputabilidade penal


adotado pela legislação brasileira, segue a linha das mais modernas concepções
da criminologia, que enfatiza o sistema da prevenção ao invés da política de
penalização e controle social.

Segundo Pereira79 “a inimputabilidade no Direito Brasileiro


segue o critério puramente biológico, nele não interferindo o maior ou menor grau
de discernimento considerado nas leis anteriores”.

Acerca da questão da inimputabilidade penal do adolescente


infrator, existe ainda muita divergência doutrinária. Enquanto alguns apontam a
precocidade da consciência delitual, que resulta do acelerado processo de
comunicação predominante nos tempos atuais; outros, acreditam que como o
menor pode votar aos 16 anos, também pode responder criminalmente pela
prática dos atos infracionais, o que importaria na conseqüente redução da
maioridade penal. Contudo, tal polêmica não cabe ser discutida no presente
estudo.

É certo dizer que, não há que se falar em responsabilidade


penal para menores de dezoito anos, no Brasil. Todavia, não se pode acreditar

77
ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e Jurisprudência, p.172.
78
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico, p. 843.
79
PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente, p. 539.
36

que isto representa a impunidade, haja vista que aos menores praticantes de atos
infracionais são aplicadas as medidas sócio-educativas.

Matos apud Farias80, encontra justificativa para a


inimputabilidade concedida aos menores de dezoito anos, no fato de, ser esta, a
fase da puberdade, na qual estão presentes as mais diversas modificações e
alterações, de cunho físico e psicológico.

Na puberdade, a aparição no começo da consciência de novas


sensações, derivadas dos órgãos genitais até então silenciosos,
determina uma estranha e profunda modificação do Eu, que
apenas se reconhece e se julga idêntico a si mesmo através
dessa crise, porque ela se faz lentamente e não implica
perturbações da memória.

Em segunda linha, vêm os afetos, os desejos e as inclinações,


fenômenos mais ou menos diferenciados, construindo um núcleo
intelectual com afinidades e repulsões próprias, ora permitindo,
ora impedindo a associação de novos estados de consciência.

Assim, tem-se que a puberdade trata-se de uma fase, não


apenas psicológica, mas também de cunho psico-fisiológico. Nesta etapa o jovem
sofre alterações hormonais que refletem no seu comportamento.

Ainda, no que concerne à inimputabilidade penal do


adolescente infrator, vale destacar a opinião crítica de Oliveira81, o qual acredita
que ao mesmo são concedidos certos privilégios por parte do próprio legislador:

Segundo o sistema jurídico-penal brasileiro, o menor de 18 anos é


inimputável e está sujeito à uma legislação específica, mais
branda, dado o seu peculiar estado de desenvolvimento
psicossocial que, entendem os legisladores, não torná-os aptos a
serem punidos por suas ações delituosas como se adulto fosse.
(...) Ora, é sabido que o mundo evoluiu e que as crianças e
jovens, cada vez mais precoces, bem como, tendo acesso a
muitas informações e experiências que antes eram restritas aos
80
FARIAS, Terezinha de Jesus Almeida Noronha. Traços Históricos da Delinqüência Juvenil,
p. 33.
81
OLIVEIRA, Raimundo Luiz Queiroga. O Menor Infrator e a Eficácia das Medidas Sócio-
Educativas, p. 1-2.
37

adultos, evoluíram também e atingem um grau de


desenvolvimento mental muito antes do que pregam os arcaicos
comandos legais. Assim, gozam de uma situação relativamente
privilegiada quando praticam um ato criminoso, visto que o
legislador o vê como vítima e não como agressor.

Como visto, enquanto alguns acreditam ser justo o limite de


dezoito anos para a imputabilidade penal, outros, porém, defendem a idéia de que
os menores que cometem um ato infracional já têm discernimento e consciência
suficientes para saber o que fazem, motivo pelo qual, deveriam, também, estar
sujeitos às sanções da norma penal brasileira. Em suma, embora frente ao Direito
Penal comum os adolescentes sejam inimputáveis, são eles imputáveis perante a
lei especial, ou seja, o Estatuto da Criança e do Adolescente.

2.5 DO ATO INFRACIONAL

2.5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Iniciando a temática acerca do ato infracional, tem-se o


disposto no artigo 103 do estatuto da Criança e do Adolescente82, onde
“considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção
penal.”

Tem-se pela definição finalista que o crime é todo fato típico


e antijurídico. A criança e o adolescente podem vir a cometer um crime, todavia,
não preenchem os requisitos para que se lhe possa aplicar uma sanção. Isto se
deve ao fato de que, é somente aos dezoito anos que se inicia a imputabilidade
penal.

82
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.171.
38

No entendimento de Oliveira83, “o ato infracional nada mais é


do que a conduta descrita como tipo ou contravenção penal, cuja denominação
se aplica aos inimputáveis”.

Sendo assim, a conduta delituosa praticada por um


adolescente é definida como ato infracional e abrange tanto o crime quanto as
contravenções.

Colhe-se, nesse sentido, a lição de Grünspun84 a respeito


das condutas delitivas praticadas por adolescentes. Para o autor, as legislações
menoristas acabam, muitas vezes, sendo mais severas do que a própria
legislação penal.

(...) Aceitando as Declarações de Haia de 1924 e a Declaração


dos Direitos dos Menores, pela ONU, de 20 de novembro de 1959,
os países transformaram em lei estas declarações. Os menores
passaram a não sofrer penas pelas infrações legais que cometem
e são amparados e julgados por leis, dispositivos e tribunais
especiais. Chegamos à noção de que o infrator não é um
criminoso, mesmo quando comete crime grave.

Não obstante a esquivar-se nossa sociedade de nominar o menor


de criminoso, o infrator está sujeito a legislações protetoras, de
assistência, vigilantes, preventivas e tutelares, que muitas vezes
apenam o infrator com maior severidade do que o Direito Penal
faz com os adultos.

Tomás apud Trindade85, acredita que, para a determinação


da conduta delitiva, existem três correntes doutrinárias consideradas
fundamentais.

Na primeira delas, encontra-se um ponto de vista


rigorosamente restritivo, na qual o delito é considerado tão somente a

83
OLIVEIRA, Raimundo Luiz Queiroga de. O Menor Infrator e a Eficácia das Medidas Sócio-
Educativas, p. 4.
84
GRÜNSPUN, Haim. Os Direitos dos Menores, p. 83
85
TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisciplinar, p. 41.
39

manifestação ou conduta dos menores correspondente à descrição objetiva que é


feita das leis penais.

Na segunda corrente, já um pouco mais abrangente, a


estimativa é de que a delinqüência juvenil não pode ser definida apenas em
termos jurídicos. Deve, todavia, incluir tanto as condutas tipificadas nas leis
quanto os comportamentos anormais, irregulares ou indesejáveis, inerentes ao
indivíduo.

Por fim, a terceira corrente doutrinária, inclui termos ainda


mais amplos. Nesta, a delinqüência deve ser interpretada no sentido de abarcar
não somente condutas delituosas ou comportamentos irregulares, mas todos os
menores em circunstâncias ou condutas que inspirem cuidado, proteção ou
reeducação, sejam elas advindas de negligência dos pais ou da própria
sociedade.

É importante destacar que, enquanto no Direito Penal o


delito constitui ação típica, antijurídica, culpável e punível, no direito de menores,
leva-se em consideração todos os aspectos inerentes à sua vida, tais como sua
saúde física e emocional, os conflitos próprios da idade, as condições econômicas
e familiares nas quais vive este adolescente. Porém, mesmo sendo necessária a
observação de todos estes fatores, é inegável que estes menores são
responsáveis por problemas sociais extremamente graves e, muitas vezes,
assustadores, mesmo sendo considerados pessoas em desenvolvimento.86

2.5.2 PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL

Quando se fala em apuração de um ato infracional,


inevitavelmente duas fases precisam ser destacadas. A primeira delas é a Fase
Policial, a qual tem início no exato momento em que o adolescente infrator é

86
VIEIRA, Henriqueta Scharf. Perfil do Adolescente Infrator no Estado de Santa Catarina:
Cadernos do Ministério Público. Florianópolis: Assessoria de Imprensa da Procuradoria Geral da
Justiça, 1999. p.15.
40

detido. A segunda, é a Fase Judicial, que, como o próprio nome diz, é aquela que
ocorre por força de uma ordem judicial ou em flagrante.

Vale salientar que, em detrimento ao disposto no artigo 107


do ECA87, o menor infrator somente poderá ser apreendido, sendo vedada sua
prisão.

Art. 107 – A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se


encontra recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade
judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por
ele indicada.

Parágrafo Único – Examinar-se-á, desde logo e sob pena de


responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.

Quando a infração for praticada mediante violência ou


ameaça grave a autoridade policial deverá lavrar o Auto de Investigação do Ato
Infracional. Este, trata-se de um procedimento policial administrativo, cujo
objetivo é a apuração da prática do ato infracional, bem como as circunstâncias
em que o mesmo fora praticado, possibilitando, assim, a atuação do Ministério
Público e a conseqüente aplicação da medida sócio-educativa adequada, em se
tratando de apreensão em flagrante. Contudo, não havendo a constatação da
violência ou da grave ameaça, lavrar-se-á apenas o Boletim de Ocorrência
Circunstanciado.

Sobre a apreensão em flagrante do menor, assim dispõe o


artigo 106 do Estatuto da Criança e do Adolescente88:

Art. 106 – Nenhum adolescente será privado de sua liberdade


senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente.

Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos


responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca
de seus direitos.

87
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p. 176.
88
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.175-
176.
41

A chamada fase policial, encerra-se no momento em que


este procedimento é encaminhado pela autoridade policial ao Ministério Público,
independente de estar o adolescente apreendido ou não.

Iniciando a fase judicial, o Promotor de Justiça fará a


notificação do adolescente infrator para que o mesmo compareça, acompanhado
de seu responsável, na Promotoria de Justiça para a Audiência de Apresentação.
Nesta ocasião, o Promotor de Justiça irá conversar com o adolescente, onde,
após verificar as provas colhidas, a gravidade da infração e se é caso ou não de
reiteração da prática do ato infracional, tomará as providências cabíveis, dentre as
quais poderão ser: o arquivamento, a aplicação de uma das medidas sócio-
educativas, a remissão ou, ainda, a representação.89

Para conceituar, de forma simplificada, o que seja a


Remissão, tem-se as palavras de Silva90, para o qual “juridicamente, a remissão
exprime sempre a renúncia voluntária ou a liberação graciosa a respeito de uma
dívida, de um direito. E, por ela, também se extingue a obrigação ou o direito”.

Desta maneira, ao se referir à remissão, não se está falando


em perdão do ato infracional; busca-se a supressão do processo judicial, porém,
sem prejuízo da aplicação da medida sócio-educativa cabível. Ressalta-se, ainda,
que poderá ser aplicada a remissão mesmo que existam somente indícios da
autoria e da materialidade.

Nesse sentido, é a lição de Liberati91:

Para a concessão da remissão não é necessário o


reconhecimento ou a comprovação da responsabilidade do
infrator, ou seja, que existam provas suficientes da autoria e da
materialidade do ato infracional. Se existirem apenas indícios do
ilícito, o perdão poderá ser aplicado, de modo que o representante

89
COLPANI, Carla Fornari. A Responsabilização Penal do Adolescente Infrator e a ilusão da
impunidade, p.06.
90
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico, p. 699.
91
LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 6 ed.
São Paulo: Malheiros, 2002. p. 108.
42

do Ministério Público não dará prosseguimento ao caso, deixando


de coletar provas e requisitar diligências complementares.

Ainda, neste enfoque da remissão, vale destacar o artigo


127 do ECA92, in verbis :

Art. 127 – A remissão não implica necessariamente o


reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem
prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir
eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em
lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a
internação.

Outra providência que poderá ser tomada pelo Promotor de


Justiça, será o oferecimento da Representação. Esta, será oferecida caso o
Promotor entenda que a remissão não alcançará seus objetivos. Nela, será
narrada a conduta cometida pelo adolescente, iniciando-se, desta forma, a
apuração do ato infracional, na Fase Judicial, sendo respeitado o contraditório e a
ampla defesa, culminando com a aplicação das medidas sócio-educativas,
elencadas no artigo 112 do ECA.

Sobre a Representação, cabe a definição de Silva93, que


sobre este instituto, assim discorre:

(...) juridicamente, a representação é a instituição, de que se


derivam poderes, que investem uma determinada pessoa ou
autoridade para praticar certos atos ou exercer certas funções, em
nome de alguém ou de alguma coisa (...) Em qualquer hipótese, a
representação exerce a precípua função de trazer ao cenário
jurídico a pessoa, que age, investindo a personalidade de outrem
ou personalizando uma instituição (...)

O passo seguinte, após o oferecimento da Representação,


será marcar a Audiência de Apresentação, onde o juiz, tendo ouvido o
representante do Ministério Público, poderá aplicar a Remissão ou dar

92
ISHIDA, Válter Kenji . Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência p. 216.
93
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico, p. 704.
43

prosseguimento ao feito e onde o adolescente produzirá provas testemunhais ou


qualquer outra prova contando, para isto, com o auxílio de um advogado.

O representante do Ministério Público poderá determinar a


condução coercitiva do adolescente infrator, seus pais, vítimas e testemunhas,
caso seja necessário, em conformidade com as disposições do artigo179,
parágrafo único do ECA94:

Art. 179 – Apresentado o adolescente, o representante do


Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão,
boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados
pelo cartório judicial e com informações sobre os antecedentes do
adolescente, procederá a mediata e informalmente à sua oitiva e,
em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e
testemunhas.

Parágrafo Único – Em caso de não apresentação, o representante


do Ministério Público notificará os pais ou responsável para
apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das
Polícias Civil e Militar.

É preciso ressaltar, porém, que não trata-se de privação de


liberdade, haja vista que estas pessoas, após a consecução do ato, serão
liberadas.

Em função de ter o Estatuto da Criança e do Adolescente


adotado subsidiariamente as normas contidas no direito processual penal na
apuração do ato infracional, conforme previsão em seu artigo 152 e, não tendo
fixado um prazo legal para o oferecimento da Representação, entende-se que
esta deverá ser oferecida no prazo de cinco dias, utilizando-se, aí, a regra do
artigo 46 do Código de Processo Penal.

94
ISHIDA, Válter Kenji . Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.
300.
44

Nas palavras de Ishida95 “a utilização subsidiária da


legislação processual penal realmente melhor se adeqüa a atos infracionais e às
decisões a eles relacionadas”.

Ainda, referente à utilização subsidiária de outras legislações


processuais na apuração do ato infracional, vale salientar que caberão os
recursos previstos no Código de Processo Civil Brasileiro, após a sentença final,
contra decisões extintivas do processo, com ou sem julgamento do mérito, contra
decisões homologatórias de remissão com extinção do processo, bem como
contra decisões interlocutórias, pois assim estabelece o artigo 198 do ECA.

2.5.3 APLICAÇÃO DA PRESCRIÇÃO PENAL AO ATO INFRACIONAL

Na análise do ato infracional, é importante ressaltar sobre


sua aplicabilidade e prescrição.

Führer96, assim dispõe acerca da prescrição penal:

A prescrição extingue a punibilidade, baseando-se na fluência do


tempo. Se a pena não é imposta ou executada dentro de
determinado prazo, cessa o interesse da lei pela punição,
passando a prevalecer o interesse pelo esquecimento e pela
pacificação social.

A pena, quando por demais tardia, deixa de ser justa, perdendo no


todo ou em parte o seu sentido.

É preciso lembrar que, em se tratando de ato infracional e


adolescente infrator, não há que se falar em pena, mas sim, em medidas sócio-
educativas, cuja aplicação não tem como objetivo a punição e sim a
ressocialização do menor e, conseqüentemente, sua reinserção na sociedade.

95
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p. 264.
96
FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de Direito Penal: parte geral. 21 ed. São
Paulo: Malheiros, 2002. p. 33.
45

Entendimento favorável a aplicação da prescrição aos casos


de ato infracional, tem Pacagnan97, para o qual é “aplicável a prescrição penal
reduzida à metade em face da idade do adolescente, aplicando-se a analogia”.

Diferente entendimento tem de Campos Viana apud Ishida98


que, refletindo sobre este tema, entende que deve ser analisado caso a caso,
conforme a necessidade de aplicação da medida sócio-educativa:

Portanto, a personalidade do infrator na época da aplicação da


medida e não na época do fato, deve ser a protagonista da justiça
infracional, devendo-se analisar, caso a caso, a necessidade
pedagógica ou não de se destruir o homem delinqüente no
homem e não destruir o homem delinqüente. Se há necessidade
de se impor uma medida, não importa o lapso temporal entre o
fato e o julgamento ou entre qualquer deles e a execução da
medida, deve-se atribuir ao infrator uma medida adequada para
que a sociedade não receba, para que a família não receba de
volta uma pessoa inadaptada e irredutível a uma vida normal sem
uma tentativa de recuperação.

Percebe-se que a divergência entre os doutrinadores sobre


a aplicação ou não da prescrição penal aos atos infracionais, ainda é bastante
acentuada.

Contudo, analisando o artigo 99 do Estatuto da Criança e do


Adolescente, o qual dispõe que as medidas previstas poderão ser aplicadas ou
substituídas a qualquer tempo, subtende-se que o intuito da lei é a não aplicação
da prescrição aos atos infracionais.

Este entendimento encontra amparo legal no artigo 100 do


ECA99 que assim dispõe:

Art. 100 – Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as


necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem o
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
97
PACAGNAN, Rosaldo Elias. Prescrição e Remissão no Estatuto da Criança e do
Adolescente. São Paulo: Lexbook, 1999. p.09.
98
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.173.
99
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p. 164.
46

Desta feita, tal dispositivo fortalece ainda mais a idéia de que


não cabe a aplicação da analogia aos atos infracionais para que se aplique a
prescrição, tendo em vista que pena e medidas sócio-educativas são institutos de
natureza diversa. Enquanto aquela tem como objetivo a pretensão punitiva, esta,
busca a ressocialização e a recuperação do menor.
47

CAPÍTULO 3

ADOLESCENTE INFRATOR: UMA QUESTÃO JURÍDICA OU UMA


QUESTÃO SOCIAL?

3.1 A QUESTÃO JURÍDICA

Conforme breve histórico já apresentado no primeiro capítulo


desta pesquisa, o tratamento jurídico dispensado ao adolescente infrator sofreu
alterações ao longo dos séculos. Contudo, faz-se necessária uma análise mais
profunda e atenta acerca da questão jurídica na qual está envolvido o adolescente
que comete um ato infracional.

As importantes conquistas trazidas à civilização pelo século


XVIII refletiram também no Direito Penal, onde os princípios iluministas deram
origem à Escola Clássica100.

Nesta fase, o ser humano era entendido como ser dotado de


livre arbítrio, devendo ser punido pelos atos que praticava sempre na mesma
proporção do mal que causava à sociedade. O delito deveria ser previsto em lei e
ao acusado eram dadas as garantias do devido processo legal. Assim, esta nova
era constituía a legalidade e a proporcionalidade como seus princípios
fundamentais. Contudo, crianças e adolescentes eram submetidos a estas
mesmas regras, sendo julgados e punidos da mesma forma que os adultos.

Já no século XIX, o criminoso passou a ser visto pelo Direito


Penal como um doente social, fruto da sua constituição biológica e do meio em
que vivia, onde o crime tratava-se apenas de um efeito dessas causas. A punição

100
Escola Clássica. Foi assim denominada de modo pejorativo pelos positivistas. Vale-se do
método dedutivo ou lógico-abstrato e não experimental, próprios das ciências naturais. Para esta
escola crime não é um ente de fato, mas entidade jurídica; não é uma ação, mas infração. É a
violação de um direito. (
! " ## $%%$ & ' (
)* &( ++ , $ - + + . &/ 0$12#3 - (4% $%%"
48

do indivíduo não seria regulada pela gravidade do ato, já que ele não o
controlava, regulava-se pela necessidade de tratamento do paciente. Em alguns
casos extremos, chegou-se a admitir que o individuo fosse apenado sem que
houvesse praticado algum delito, mas apenas, porque apresentava as
características típicas de um criminoso.

Em 1927 no Brasil, instituiu-se o já extinto Código de


Menores tendo por base as experiências dos chamados Tribunais de Menores,
que tinham a função de exercer o controle de determinados grupos de crianças e
adolescentes excluídos. Não era permitida a privação da liberdade de nenhum
indivíduo sem o devido processo legal, inclusive com a ampla defesa, fato que
tornou-se um empecilho para a utilização do Direito Penal contra tais grupos, haja
vista que não era possível alterar a essência das medidas a serem aplicadas, em
especial a privação de liberdade.

Finalmente, em 1990, no Brasil, com a criação do ECA,


instituiu-se a doutrina de proteção integral e prioritária da criança e do
adolescente em sintonia com o Direito Internacional. O ECA, advindo da Escola
Social101, preconiza que a sociedade, ao retirar o delinqüente do convívio social
deve tratá-lo de modo a readaptá-lo às normas de convivência102.

Desta feita, resta evidenciado, do âmbito da questão jurídica,


que o ECA prevê aos adolescentes infratores tratamento diferenciado, a partir do
momento em que os coloca como sujeitos de direitos especiais e procura garantir
sua sólida e harmoniosa formação perante a sociedade. Graças ao ECA, os
adolescentes infratores têm garantida, ainda, a retomada de sua vida social plena
sem problema, com base em valores éticos, sociais e familiares, afastando-os de

101
Escola Social. Segundo seus postulados não visa punir a culpa do agente criminoso, apenas
proteger a sociedade das ações delituosas. Essa concepção rechaça a idéia de um direito penal
repressivo, que deve ser substituído por sistemas preventivos e por intervenções educativas e
reeducativas, postulando não uma pena para cada delito, mas uma medida para cada pessoa.
(MARCÃO, Renato; MARCON, Bruno. Rediscutindo os fins da pena . Jus Navigandi, Teresina, a.
6, n. 54, fev. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2661>. Acesso
em: 10 mai. 2006.)
102
FARIAS, Terezinha de Jesus Almeida Noronha de. Traços Históricos da Delinqüência
Juvenil, p. 47
49

uma vida de abandono que, em nenhuma hipótese, deve prevalecer durante o


seu desenvolvimento, sob pena de ser tornar um doente incurável.

3.2 A QUESTÃO SOCIAL

Quando se aborda os aspectos relacionados à questão


social, no que se refere aos problemas enfrentados pela sociedade nos últimos
tempos, ligados ao crescente e alarmante número de ocorrências de atos
infracionais praticados por menores, inevitavelmente, o tema nos remete à
questão da ressocialização, bem como das políticas públicas de atendimento aos
menores infratores, ou seja, da reinserção destes menores ao meio do qual foram
excluídos em conseqüência da prática de condutas anti-sociais.

3.2.1 A RESSOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE INFRATOR

Ressocializar significa socializar novamente, ou seja, fazer


com que o indivíduo, neste caso o adolescente, possa voltar ao convívio social.
Ressocializar tem o sentido de recuperar, de dar assistência psicológica e
profissional para que o indivíduo possa voltar à sociedade como um cidadão útil.
Por isso, para saber se a ressocialização de um adolescente infrator é possível,
devem ser analisados alguns fatores, tais como as possíveis causas que o
levaram a delinqüir, seu histórico familiar, as condições de vida em que este ser
nasceu e cresceu, os possíveis traumas e violências que possa ter sofrido, enfim,
fatores dos mais diversos, que já foram anteriormente abordados, e que podem
fornecer informações preciosas na escolha da medida que a ele deve ser aplicada
para que sua recuperação seja possível.
50

Quando o tema é a ressocialização do adolescente infrator,


orienta Barroso Filho103 acerca da consciência que a família deve ter sobre a
necessidade de recuperar este adolescente:

Importante é que tenhamos consciência de que, tratar e recuperar


o adolescente infrator, implica, necessariamente, em tratar e
recuperar a família deste jovem, para que possamos resgatá-lo
como elemento útil à sociedade.

A incansável busca pela melhor maneira de atingir o


objetivo de ressocializar o adolescente infrator é bastante antiga e, assim como a
própria humanidade, também veio evoluindo ao longo dos séculos.

3.2.2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE


INFRATOR

Quando se fala em política de atendimento, deve-se


compreender todas as ações governamentais da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, além das ações não-governamentais que também
visam a proteger e assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes104.

O ECA105, em seu artigo 86, dispõe acerca das políticas de


atendimento:

Art. 86 – A política de atendimento dos direitos da criança e do


adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios.

Os primeiros registros relativos a medidas educativas ou de


políticas públicas para a infância brasileira, são o da criação das “Casas de

103
BARROSO FILHO, José. Do Ato Infracional. Jus Navigandi, Teresina, a. 6, n. 52,
nov.2001.Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2470.Acesso em: 08 fev.
2006. p.3.
104
MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente e Política de
Atendimento, p.51.
105
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.147.
51

Roda”, fundada na Bahia em 1726, a “Casa dos Enjeitados”, no Rio de Janeiro em


1738 e a “Casa dos Expostos”, no Recife em 1789, todas destinadas a abrigar
crianças e adolescentes.106 Segundo Martins107, a “Roda” era um dispositivo
engenhoso, composto por um cilindro, fechado por uma dos lados, que girava em
torno de um eixo e ficava nos muros dos conventos, com uma campainha a ser
acionada quando uma criança era colocada na roda e esta era girada, de modo
que o “doador” do recém-nascido não fosse visto.

Pode-se dividir a história da política social brasileira em três


fases108:

Na primeira fase, até o começo deste século, os programas


destinados à assistência ao menor no Brasil estavam a cargo da assistência
médica, em que as principais medidas utilizadas eram de caráter profilático
(emprego de meios para evitar doenças) e se baseavam nos ensinamentos da
higiene e da eugenia (estudo cujo objetivo era o aprimoramento das
características da raça humana, especialmente pela seleção dos indivíduos
submetidos ao processo reprodutivo).

Na segunda fase, que se inicia a partir da promulgação do


primeiro Código de Menores, em 1927, foram criadas colônias correcionais para a
reabilitação de delinqüentes e internatos para o acolhimento de menores
abandonados. Neste período, conforme salienta Martins109, o objetivo era manter
sob a égide da “proteção especial” somente os menores que se encontrassem em
abandono material, abandono moral, que fosse vitimizado, que estivesse em
abandono jurídico, em desvio de conduta ou que tivesse praticado uma infração
penal.

106
SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente em Conflito com a Lei – da indiferença à
proteção integral: uma abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil, p. 23.
107
MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente e Política de
Atendimento, p.29.
108
RUSSO, J. A. Assistência e Proteção à Infância no Brasil: a moralização do social. São
Paulo: Cadernos de Cultura USU, 1985. p.69.
109
MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente e Política de atendimento,
p.52.
52

Na terceira fase, com a criação do Serviço de Assistência ao


Menor e da Fundação Nacional do Bem Estar do Menor, o Estado assumiu a
tutela do menor abandonado ou infrator e a política passou a ter um caráter
assistencialista, cuja principal ação foi a de abrigar e alimentar as crianças e
adolescentes abandonados do país. O ECA positivou uma política funcional
voltada à proteção de todos os direitos, baseada em mecanismos não mais
repressores, mas pedagógicos, e de respeito à condição peculiar de
desenvolvimento em que se encontram as crianças e adolescentes.

As linhas de ação da política de atendimento, encontram-se


dispostas no artigo 87 do ECA110:

Art. 87 – São linhas de ação da política de atendimento:

I – políticas sociais básicas;

II – políticas e programas de assistência social, em caráter


supletivo, para aqueles que deles necessitem;

III – serviços especiais de prevenção e atendimento médico e


psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração,
abuso, crueldade e opressão;

IV – serviço de identificação e localização de pais, responsáveis,


crianças e adolescentes desaparecidos;

V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos


da criança e do adolescente.

Acerca das políticas de atendimento ao adolescente infrator,


ressalta-se o entendimento de Martins111:

Nesse sentido, pode-se dizer que a política de atendimento tem,


antes de tudo, a preocupação com a proteção dos direitos
fundamentais de crianças e adolescentes através, primeiramente,

110
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.147-
148.
111
MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente e Política de
Atendimento, p.53.
53

de políticas sociais básicas, o que demonstra que o Estatuto


reflete o conhecimento pleno da realidade social daqueles que
colaboraram em sua confecção.

Quanto aos serviços já criados pelo Estado a fim de


encontrar uma solução para o problema do adolescente infrator, Grünspun112
destaca que os serviços públicos na atualidade procuram enfrentar problemas
que se criam sem terem encontrado, ainda, as soluções adequadas. Novos
campos de competência surgiram. Em muitos países não se tornaram mais do
que prisões para menores delinqüentes ou menores abandonados. Em outros,
adotaram a forma de estudo e pesquisa, com o fim de conhecer cientificamente a
problemática das novas gerações. Alguns poucos países, como Alemanha e
França, criaram Ministérios da Juventude e da Família. A maioria dos países
desenvolvidos criou Conselhos ou Serviços ligados a diferentes Ministérios, como
de Educação, de Cultura ou de Previdência Social. Já com relação ao Brasil,
opina o autor:

No Brasil foram criados, nos Estados da União, as Febens. Em


poucos anos de sua existência, não há criança ou adulto que não
reconheça na palavra Febem uma tragédia. Tragédia para os
maiores e tragédia para os menores.

Ainda enfocando a questão dos programas de atendimento


que buscam a ressocialização do adolescente infrator, é importante salientar que
posturas institucionais autoritárias e repressivas devem ser substituídas por
práticas educacionais que vençam os conflitos e o ambiente hostil. Assim, faz-se
necessário um projeto pedagógico orientador dos programas que tenha condições
de prever o cotidiano organizado e sistematizado, que estabeleça normas
coletivas, sem desprezar o contexto cultural familiar do jovem que comete delitos.
Sua reeducação não deve desprezar sua origem, seu mundo de fragilidades e
desafios. Contudo, deve provocar sua inserção em um novo meio social que

112
GRÜNSPUN, Haim. Os Direitos dos Menores, p. 120.
54

propiciará condições para que ele possa se expressar, fazer-se respeitar e


ouvir.113

Em complemento ao raciocínio da autora, cabe destacar o


entendimento de Gomes da Costa114, que explica:

A maior aquisição que um jovem pode fazer na comunidade


educativa é a do seu próprio projeto de vida. Se isso não ocorrer,
todo o trabalho realizado, todo o esforço despendido não
significará mais do que assegurar-lhe, por um determinado tempo,
a nossa assistência.

Analisando a questão social do adolescente infrator,


percebe-se que, tanto os estatutos quanto as instituições de proteção ao menor
buscam o mesmo objetivo: reeducá-lo e reintegrá-lo à sociedade e à família.
Todavia, coincidentemente, são também os mesmos obstáculos encontrados e
apontados como os responsáveis por não se atingir tal objetivo, dentre os quais
aparecem com mais freqüência a falta de infra-estrutura, de equipe técnica e
especializada, a falta de verbas, etc.

Entende a maioria dos doutrinadores que a melhor forma


para o enfrentamento de atos infracionais praticados por adolescentes, é por meio
da adoção de um modelo teórico, que deve resultar de um compromisso científico
e também político. Defendem o ideal de que é preciso romper os mitos e modelos
ultrapassados que há muito vigoram e são visíveis ainda nos dias de hoje.

Nesse sentido, acrescenta D’Agostini115:

Sendo assim, há que se fazer uma leitura ampla e maior dos


impeditivos às transformações que desejamos para nossa
sociedade, a partir de políticas públicas que verdadeiramente
incluam os “barrados no baile”, entre eles, nossas crianças e
adolescentes, sob pena de, em assim não sendo, continuarmos a

113
PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente, p. 576-577.
114
GOMES DA COSTA, Antonio Carlos. Aventura Pedagógica: Caminhos e Descaminhos de
uma Ação Educativa. São Paulo: Columbus Cultural, 1990. p. 59.
115
D’AGOSTINI, Sandra Mári Córdova. Adolescente em Conflito com a Lei...e a Realidade, p.
129-130.
55

transferir responsabilidades: ao Estado, pela falta de vontade


política; ao sistema, através de suas instituições burocráticas e
arcaicas; ao “endurecimento humano”, das pessoas e da
sociedade em geral; à mídia por ser formadora de opinião, que
reflete ainda, o desconhecimento geral das questões contidas no
ECA, principalmente quanto aos atos infracionais cometidos por
adolescentes e outros que, pela enorme abstração para achar-se
o culpado pela presente situação, acaba-se perpetuando em
injustiças sociais de toda ordem, principalmente as afetas a
crianças e adolescentes e desmobilizando as ações urgentes e
necessárias à modificação da situação real, triste e desagradante
de grande parte da nossa população e suas famílias. (...)

Há que se pensar verdadeiramente, também, em políticas


públicas locais mais pontuais, criadas a partir de diagnóstico o
mais próximo possível da realidade.(...)

Para a elaboração e execução de um trabalho verdadeiramente


preventivo, reeducador e ressocializante na área estudada, é
importante que se conheçam as questões conceituais, casadas às
realidades que as envolvem, porque definitivamente, ser vítima e
vitimizador não é um ‘estado natural’.

Compartilhando deste entendimento, acrescenta Martins116:

No campo de atendimento à infância e à adolescência, o ECA


substituiu o assistencialismo filantrópico vigente por propostas de
trabalhos socioeducativos voltados à cidadania, ao mesmo tempo
que criou uma nova estrutura para a política de defesa e
promoção dos direitos da criança e do adolescente baseada na
descentralização, participação popular efetiva e na
responsabilização pelo atendimento ausente ou deficiente
prestados pelos entes responsáveis.

Desta forma, resta fazer com que o Estatuto da Criança e do


Adolescente seja efetivamente implementado. Contudo, esta é uma tarefa
coletiva, que envolve não somente o Estado, as lideranças públicas, mas envolve

116
MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente e Política de
Atendimento, p.55.
56

também as lideranças religiosas, comunitárias, líderes privados; entes capazes de


mobilizar a opinião pública.

3.3 AS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS

Com o advento da Lei nº 8.069/90, cujas fontes formais


foram os Documentos de Direitos Humanos das Nações Unidas, introduziu-se no
Brasil os princípios garantistas do chamado Direito Penal Juvenil. Ela reconheceu
o caráter sancionatório das medidas sócio-educativas, enfatizando, ainda, o seu
aspecto predominantemente pedagógico. Tal Lei ressaltou também que as
medidas sócio-educativas somente podem ser aplicadas dentro da estrita
legalidade e pelo menor espaço de tempo possível.

Aplicando aos casos de delinqüência juvenil estas medidas


sócio-educativas, de caráter estritamente pedagógico, em vez da severidade das
penas criminais, o Estatuto da Criança e do Adolescente afastou dos menores os
males encontrados no sistema carcerário dos adultos.

A finalidade das medidas sócio-educativas é corrigir o


adolescente infrator, e sua aplicação requer como pressuposto a prática de um
ato infracional. São elas aplicáveis somente aos adolescentes, haja vista que às
crianças são aplicadas as medidas específicas de proteção, as quais não serão
objeto deste estudo. Vale lembrar que à luz do ECA, em seu artigo 2º, criança é a
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e
dezoito anos de idade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente117, em seu artigo


112, assim dispõe sobre as medidas sócio-educativas:

Art. 112 – Verificada a prática de ato infracional, a autoridade


competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

117
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.
185.
57

I – advertência;

II – obrigação de reparar o dano;

III – prestação de serviços à comunidade;

IV – liberdade assistida;

V – inserção em regime de semiliberdade;

VI – internação em estabelecimento educacional;

VII – qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua


capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da
infração.

§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a


prestação de trabalho forçado.

§ 3º Os adolescentes portadores de doenças ou deficiência


mental receberão tratamento individual e especializado, em local
adequado às suas condições.

As medidas acima mencionadas serão estudadas


individualmente na seqüência deste estudo. Todavia, antes é necessário salientar
que tais medidas não são penas, são providências judiciais cujo principal objetivo
é proteger o adolescente e, conseqüentemente, promovendo a ele um
desenvolvimento pleno e sadio. Até mesmo algumas medidas consideradas um
pouco mais hostis como a restrição parcial ou a privação da liberdade do infrator
não podem ser vistas como penas, haja vista que estas medidas são tomadas
para que o adolescente possa ser tratado, reeducado e reintegrado à vida social.

Liberati118 entende que:

118
LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente, p. 82.
58

As medidas sócio-educativas são aquelas atividades impostas aos


adolescentes quando considerados autores de ato infracional.
Destinam-se elas à formação do tratamento tutelar empreendido a
fim de reestruturar o adolescente para atingir a normalidade da
integração social. Os métodos para o tratamento e orientação
tutelares são pedagógicos, sociais, psicológicos e psiquiátricos,
visando, sobretudo, à integração da criança e do adolescente em
sua própria família e na comunidade local.

Apesar da sociedade acreditar que os menores de 18 anos


que praticam atos infracionais permanecem impunes, as medidas sócio-
educativas estabelecidas pelo ECA são a prova de que os menores respondem
sim pelos delitos que praticam. Todavia, o objetivo essencial dessa legislação não
é a punição do menor, mas antes de tudo, o amparo e a proteção destes
adolescentes envolvidos com o ato infracional. É preciso ressaltar quantas vezes
forem necessárias que a legislação menorista busca a recuperação, a
ressocialização e a reintegração social daquele que cometeu um ilícito.

Conforme o entendimento de Volpi119, para que sejam


aplicadas as medidas sócio-educativas, devem ser observadas as características
da infração cometida, as circunstâncias familiares e a disponibilidade de
programas específicos para o atendimento do adolescente infrator, devendo ser-
lhe garantido a reeducação e a ressocialização, tendo-se como base o Princípio
da Imediatidade, isto é, que elas sejam aplicadas logo após a prática do ato
infracional:

A aplicação das medidas sócio-educativas não pode acontecer


isolada do contexto social, político e econômico em que está
envolvido o adolescente. Antes de tudo é preciso que o Estado
organize políticas públicas para assegurar, com prioridade
absoluta, os direitos infanto-juvenis. Somente com os direitos à
convivência familiar e comunitária, à saúde, à educação, à cultura,
esporte e lazer, e demais direitos universalizados, será possível
diminuir significativamente a prática de atos infracionais cometidos
por adolescentes.

119
VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato infracional, p. 42.
59

Ainda acerca da aplicação das medidas sócio-educativas,


120
Pereira , compartilhando deste mesmo entendimento, ressalta que tais medidas
devem ser aplicadas somente pelo juiz da Infância e Juventude, devendo-se ser
considerados, ainda, os aspectos pessoais subjetivos que fizeram com que o
adolescente cometesse o ato infracional.

As medidas, enumeradas no art. 112-ECA, serão aplicadas


exclusivamente pelo juiz da Infância e Juventude, o qual levará
em conta a capacidade (do adolescente) de cumpri-la, as
circunstâncias e a gravidade da infração (...). Devem ser
analisados, primordialmente, os aspectos pessoais e subjetivos
que levaram o adolescente ao cometimento do ato infracional.

Sendo assim, conclui-se que ao administrar as medidas


sócio-educativas, o juiz da Infância e da Juventude não deverá se ater somente
às circunstâncias e à gravidade do delito praticado pelo adolescente, deverá,
sobretudo, se ater às condições pessoais do adolescente, sua personalidade, as
referências familiares e sociais, assim como a sua capacidade para cumprir a
medida. São Medidas Sócio-educativas:

3.3.1 ADVERTÊNCIA

A primeira medida sócio-educativa está elencada no artigo


115 do Estatuto da Criança e do Adolescente121, o qual dispõe que “a advertência
consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada”.

Esta medida consiste numa conversa entre o adolescente


infrator e a autoridade competente na presença de seus pais ou responsáveis, em
que lhe será explicada a ilegalidade da sua conduta, bem como as conseqüências
que virão no caso da reiteração da prática da infração. Seu objetivo é a
recuperação do menor e por isso, é considerada a medida sócio-educativa mais
branda.

120
PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente, p. 566.
121
ISHIDA, Válter Kenji, Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.
188.
60

Neste sentido, acerca da advertência discorre Volpi122:

A advertência constitui uma medida admoestatória, informativa,


formativa e imediata, sendo executada pelo juiz da Infância e
Juventude. A coerção manifesta-se no seu caráter intimidatório,
devendo envolver os responsáveis num procedimento ritualístico.
A advertência deverá ser reduzida a termo e assinada pelas
partes.

A aplicação da Advertência destina-se aos adolescentes que


praticam infrações de pequena gravidade, tais como pequenos furtos, vadiagem e
agressões leves, bem como aos adolescentes que não tenham antecedentes de
atos infracionais. A medida é passível de aplicação tanto na fase extrajudicial, na
concessão da remissão pelo representante do Ministério Público, homologado
pelo juiz, quanto na fase judicial, em que a medida é aplicada pela autoridade
judicial, durante o curso da apuração do ato infracional ou após a sentença final.

Por tratar-se, a advertência, apenas de uma admoestação


verbal, ou seja, de uma leitura do ato cometido e o comprometimento de que a
situação não se repetirá, Nogueira123 acredita que, na aplicação desta medida,
poderia ser dispensado até mesmo o procedimento contraditório.

A advertência poderia dispensar perfeitamente o procedimento


contraditório, pois trata-se de admoestação verbal, que deveria
ser imposta de plano em face do boletim de ocorrência ou relatório
policial. E sua imposição estender-se-ia aos pais ou responsáveis,
o que tornaria a medida mais abrangente e eficaz, sendo apenas
reduzida a termo. No entanto, dado o formalismo do processo
legal, que pressupõe contraditório e amplitude de defesa, assim
como apego às formalidade, também a advertência como medida
sócio-educativa não pode prescindir do processo legal, como
aliás, têm reconhecido os tribunais.

Vale ressaltar, ainda, que a advertência diferencia-se das


outras medidas sócio-educativas porque sua aplicação independe de prova de

122
VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato Infracional, p.23.
123
NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 4 ed. Ver. E
atual. São Paulo: Saraiva, 1998. p.170.
61

materialidade e de autoria, enquanto que para a aplicação das outras medidas a


presença destes elementos é essencial.

Para encerrar o estudo acerca da primeira medida sócio-


educativa, qual seja a advertência, destaca-se o ensinamento de Nogueira124, no
qual evidencia-se o real objetivo de tal medida, ou seja, o da reintegração familiar
e social do adolescente que cometeu um ilícito.

Toda medida aplicável ao adolescente deve visar


fundamentalmente à sua integração sócio-familiar, por isso a
advertência deve ser a mais usada, como forma de tomada de
consciência e de alerta, tanto para o adolescente como para o
próprio pai ou responsável que esteja concorrendo para o ato
infracional.

3.3.2 OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO

Com finalidade basicamente educativa e o objetivo de


despertar e desenvolver o senso de responsabilidade do adolescente em face do
que não lhe pertence, tem-se, disposto no artigo 116 do ECA125, a obrigação de
reparar o dano como a segunda medida sócio-educativa.

Art. 116 – Em se tratando de ato infracional com reflexos


patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o
adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano,
ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.

Parágrafo Único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida


poderá ser substituída por outra adequada.

Esta medida consiste em fazer o adolescente reconhecer o


erro e repará-lo. Esta reparação, conforme o enunciado do supra citado artigo
poderá ser feita de três formas: fazendo a devolução da coisa, efetuando o

124
NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, p. 159.
125
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.189.
62

ressarcimento do prejuízo ou através da compensação deste prejuízo por algum


outro meio que se mostre adequado.

Na concepção de Nogueira126, cabe à vítima entrar com o


pedido de reparação, ou executar a sentença penal condenatória, para que
obtenha o ressarcimento do dano causado pelo infrator. Para o autor, a
constitucionalidade desta medida pode ser questionada. Em suas palavras:

A medida de obrigação de reparar o dano, salvo melhor juízo,


parece-nos de duvidosa constitucionalidade, pois não pode o Juiz
de Menores impô-la como medida obrigatória, mas apenas tentar
a composição do dano como previa o Código de Menores
revogado (art. 103), já que nem mesmo ao adulto condenado
criminalmente pode ser imposta pelo juiz a obrigação de reparar o
dano causado, nem mesmo como condição do sursis, embora a
não reparação do dano causado pelo condenado constitua causa
obrigatória de revogação desse benefício.

Entendimento diferente tem Liberati127, para o qual é preciso


considerar que se trata de uma medida de caráter pedagógico, pois ensina ao
adolescente o respeito por tudo que pertence às outras pessoas, proporcionando
o desenvolvimento “do senso por responsabilidade daquilo que não é seu”.

É preciso salientar, ainda, no que diz respeito a esta medida,


que a obrigação de reparar o dano por meio do ressarcimento dos prejuízos
causados, muitas vezes, é inviabilizada em função da condição financeira do
infrator e sua família, casos em que é substituída por outra de igual adequação.

Neste sentido, segue o entendimento doutrinário de


Oliveira128:

(...) Havendo, contudo, manifesta impossibilidade, a medida pode


ser substituída por outra adequada. Assim, a obrigação de reparar
o dano imposta ao infrator não tem somente o escopo literal da

126
NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, p. 180.
127
LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente, p. 90.
128
OLIVEIRA, Raimundo Luiz Queiroga de. O Menor infrator e a eficácia das medidas sócio-
educativas, p. 9.
63

medida, mas visa inserir no menor as conseqüências do ato ilícito


que praticou, atendendo mais uma vez a finalidade da medida,
qual seja, a sua ressocialização.

Volpi129 destaca, que “a responsabilidade pela reparação do


dano é do adolescente, sendo intransferível e personalíssima”.

3.3.3 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE

A prestação de serviços à comunidade é a medida sócio-


educativa prevista no artigo 117 do ECA130 que assim dispõe:

Art. 117 – A prestação de serviços comunitários consiste na


realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não
excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais,
escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em
programas comunitários ou governamentais.

Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões


do adolescente, devendo ser cumpridas durante a jornada máxima
de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em
dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola ou a
jornada normal de trabalho.

Como define o próprio enunciado da legislação, a prestação


de serviços à comunidade é a medida na qual o adolescente infrator terá que
efetuar tarefas de interesse geral, de acordo com suas aptidões e sem prejuízo da
freqüência escolar ou da jornada de trabalho.

Percebe-se presente em tal medida o forte apelo comunitário


e educativo, não só para o infrator, mas, também, para a comunidade, a qual se
responsabiliza pelo desenvolvimento integral do adolescente. Com esta medida, é
proporcionado ao jovem a possibilidade de viver experiências da vida comunitária,

129
VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato Infracional, p.23.
130
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.
192.
64

aprendendo sobre os valores sociais e, conseqüentemente, valorizando mais os


compromissos sociais.

Todavia, é preciso ressaltar que a aplicação desta medida


somente terá eficácia e atingirá os objetivos a que se destina se for devidamente
fiscalizada pela autoridade judiciária, pelo Ministério Público e pela própria
comunidade, caso contrário, sua aplicação não apresentará nenhum resultado.

Neste sentido, é o entendimento de Cury131:

Inserida num contexto comunitário abrangente (entidades


assistenciais, hospitais, escolas, programas comunitários,
governamentais, etc.), a medida possibilita o alargamento da
própria visão do bem público e do valor da relação comunitária,
cujo contexto deve estar inserido numa verdadeira práxis, onde os
valores de dignidade, cidadania, trabalho, escola, relação
comunitária e justiça social não para alguns, mas para todos,
sejam cultivados durante sua aplicação.

Assim, a prestação de serviços à comunidade favorece o


desenvolvimento, no adolescente infrator, do sentimento de solidariedade, já que
lhe oportuniza a convivência com desfavorecidos, desvalidos, doentes mentais e
excluídos sociais, através do desenvolvimento das tarefas de interesse coletivo
que lhe são atribuídas.

3.3.4 LIBERDADE ASSISTIDA

A Liberdade Assistida é mais uma das soluções


apresentadas pelo Estatuto para o enfrentamento da criminalidade juvenil. Com
disposição prevista no artigo 118 da supra citada Lei, esta medida possibilita ao
adolescente cumpri-la em liberdade, em meio a sua família, porém sob o controle
do juizado e da comunidade. Por este motivo, tem sido apontada pelos

131
CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: comentários jurídicos e
sociais. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2002. p.387.
65

especialistas nesta matéria como a mais gratificante e importante de todas as


medidas.

Assim dispõe o artigo 118 do ECA132:

Art. 118 – A liberdade assistida será adotada sempre que se


afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar,
auxiliar e orientar o adolescente.

§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar


o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa
de atendimento.

§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis


meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou
substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério
Público e o defensor.

De acordo com Barroso Filho133, a participação da família é


de fundamental importância para o efetivo cumprimento desta medida. Assim
manifesta-se o autor:

A participação da família permite o estabelecimento de um


contrato de ajuda mútua em torno das necessidades do
adolescente e os limites que o cumprimento da medida contempla.
O programa também tem por objetivo o auxílio à família na busca
de serviços adequados que possam suprir suas necessidades e
as do adolescente; a obtenção de um diagnóstico psicossocial da
família, no sentido de facilitar a compreensão do adolescente em
atendimento; propiciar aos responsáveis um reflexo sobre as
questões particulares e singulares.

Esta medida consiste no acompanhamento e orientação do


adolescente infrator, buscando-se sua integração familiar e comunitária,
manifestando-se através do acompanhamento personalizado em que lhe são

132
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.
195.
133
BARROSO FILHO, José. Do Ato Infracional, p.7-8.
66

garantidos os aspectos de proteção, inserção comunitária, freqüência escolar,


inserção no mercado de trabalho, entre outros.

Nos ensinamentos de Liberati134:

O programa de liberdade assistida, exige uma equipe de


orientadores sociais, que são designados pelo juiz, sendo que
deverão os técnicos ou as entidades desempenhar sua missão
através de estudo de caso, de métodos de abordagem,
organização técnica da aplicação da medida e designação de
agente capaz.

Sua aplicação destina-se aos adolescentes reincidentes ou


habituais na prática de infrações e que apresentam tendência a reincidir. Neste
sentido, esta medida oferece ao infrator a oportunidade de reconhecer a
responsabilidade de seus atos e, conseqüentemente, repensar sua conduta.

Na lição de Farias135:

(...) há casos de menores infratores que não comportam total


liberdade de ação, sendo que, mesmo que permaneçam em meio
à sociedade, necessitam de maior fiscalização e
acompanhamento.

Para a efetiva aplicação da medida em estudo, é necessário


disponibilizar ao adolescente assistência em vários aspectos, tais como
psicoterapia de suporte e orientação pedagógica, encaminhamento ao trabalho,
profissionalização, saúde , lazer, etc.

Salienta-se, ainda, que o juiz, ao fixar a medida de liberdade


assistida, fixa também determinadas regras que devem ser cumpridas pelo
adolescente, tais como não se envolver em novos atos infracionais, não andar
armado, não freqüentar certos locais, retornar aos estudos, recolher-se cedo à
habitação e obedecer aos pais.

134
LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente, p. 93.
135
FARIAS, Terezinha de Jesus Almeida Noronha de. Traços Históricos da Delinqüência
Juvenil, p. 52.
67

3.3.5 SEMILIBERDADE

Prevista no artigo 120 do ECA136, a medida sócio-educativa


de semiliberdade trata-se de uma medida coercitiva, pois afasta o adolescente do
convívio familiar e comunitário, porém, sem restringi-lo totalmente do seu direito
de ir e vir.

Art. 120 – O regime de semiliberdade pode ser determinado desde


o início, ou como formas de transição para o meio aberto,
possibilitada a realização de atividades externas,
independentemente de autorização judicial.

§ 1º É obrigatória a escolarização e a profissionalizarão, devendo,


sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na
comunidade.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado, aplicando-se, no


que couber, as disposições relativas à internação.

Conforme o dispositivo acima, são dois tipos de


semiliberdade: o tratamento tutelar determinado desde o início pela autoridade
judicial, mediante aplicação do devido processo legal; e a progressão de medida,
em que o adolescente passa do regime de internato para a semiliberdade.

A medida consiste na permanência do adolescente infrator


em alguns estabelecimentos próprios, determinados pelo Juiz. Destina-se aos
adolescentes infratores que trabalham e estudam durante o dia, porém, à noite,
devem recolher-se a estas entidades.

Uma das dificuldades na aplicação desta medida no Brasil, é


a falta de unidades específicas para abrigar os adolescentes somente durante a
noite, e, durante o dia, realizar a aplicação das medidas pedagógicas.

Neste sentido, manifesta-se Volpi137:

136
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.197.
137
VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato Infracional, p.26.
68

A falta de unidades nos critérios, por parte do judiciário na


aplicação de semiliberdade, bem como a falta de avaliações das
atuais propostas, têm impedido a potencialização dessa
abordagem. Por isso propõe-se que os programas de
semiliberdade sejam divididos em duas abordagens: uma
destinada a adolescentes em transição da internação para a
liberdade e/ou regressão da medida; e a outra aplicada como
primeira medida sócio-educativa.

Assim como muitas das leis brasileiras, por diversas vezes


ocorre a impossibilidade de aplicação da medida de semiliberdade, uma vez que
a mesma pressupõe a existência de casas especializadas para o recebimento
dos adolescentes e programas específicos, mesmo sendo evidentes sua
importância e seu caráter pedagógico, haja vista que permite ao adolescente que
trabalhe e estude durante o dia.

Sobre esta questão da falta de aplicação e da importância


da medida de semiliberdade, adverte Nogueira138:

Não temos prisões suficientes, casas de albergado, recolhimentos


de menores e abrigos de velhos, e demais prédios indispensáveis,
previstos em diversas leis, justamente pela falta de interesse dos
homens públicos e dos governantes (...) Os próprios legisladores
têm conhecimento de nossa realidade ao promulgarem
determinada lei, mas assim mesmo a aprovam, conscientes de
que não será devidamente cumprida, o que concorre para que
seja desmoralizada, tornando-se inexeqüível.

3.3.6 INTERNAÇÃO

Elencada no artigo 121 do Estatuto da Criança e do


Adolescente, tem-se a última das medidas sócio-educativas, a internação. É
considerada a mais grave das medidas, devendo ser proposta pelo representante
do Ministério Público e aplicada pelo juiz, destinando-se somente aos casos de
extrema necessidade, aos adolescentes que cometem atos infracionais graves.

138
NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, p. 169-170.
69

Assim dispõe o artigo 121 do ECA139:

Art. 121 – A internação constitui medida privativa de liberdade,


sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à
condição peculiar de pessoas em desenvolvimento.

§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério


da equipe técnica da entidade, salvo expresso determinação
judicial em contrário.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua


manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no
máximo a cada seis meses.

§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação


excederá a três anos.

§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o


adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de
semiliberdade ou de liberdade assistida.

§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.

§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de


autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

A medida deve ser cumprida em estabelecimento exclusivo


para adolescentes, que adotem o regime fechado. Esta é a única das medidas
que priva o infrator totalmente de sua liberdade. Há casos, que são exceções, em
que o infrator poderá realizar atividades externas, as quais ficam a critério da
equipe técnica responsável.

Desta forma, complementa Tavares140:

É a mais severa das medidas sócio-educativas estabelecidas no


Estatuto. Priva o adolescente de sua liberdade física – direito de ir

139
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência, p.
198.
140
TAVARES, José de Farias. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 3. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 1999. p.118.
70

e vir – à vontade (...) O adolescente poderá trabalhar e estudar


fora do estabelecimento onde é recolhido, se não oferecer perigo
à segurança pública ou à sua própria incolumidade, segundo
avaliação criteriosa da equipe interprofissional que assessora a
Justiça da Infância e da Juventude.

O prazo máximo que o adolescente pode ficar internado é de


três anos, jamais devendo ser ultrapassado. Apesar do objetivo desta medida ser
a correção, por melhor que seja a entidade de atendimento, ela somente deve ser
aplicada nos casos excepcionais, conforme preconiza o próprio dispositivo legal,
haja vista que provoca no adolescente os sentimentos de insegurança, frustração
e agressividade, daí a necessidade de que as entidades destinadas a este fim
sejam compostas por profissionais especializados, que tenham propostas
pedagógicas, baseadas em critérios de criminologia, para que seja permitido ao
adolescente infrator uma verdadeira reeducação.

Sobre a medida de internação e a responsabilidade conjunta


da sociedade e do Estado para com o adolescente, destaca-se o posicionamento
de Farias141:

O Estado é responsável pela política de bem-estar do menor.


Contudo, o que se vê, são crianças e jovens nas ruas, sem
condição de sobrevivência digna, desenvolvimento, saúde e
educação.

A sociedade tem que se conscientizar da sua co-responsabilidade,


sob pena de malogro na realização dessa política social, que visa
resgatar a infância abandonada e a adolescência sem rumo.

Cumpre ressaltar que a aplicação da medida de internação


deverá paltar-se em algumas condições essenciais, tais como, destinar-se aos
adolescentes que praticarem atos infracionais mediante grave ameaça ou
violência à pessoa; no caso de reiteração do cometimento de outras infrações
graves e no descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente
imposta.

141
FARIAS, Terezinha de Jesus Almeida Noronha de. Traços Históricos da Delinqüência
Juvenil, p. 53.
71

Colpani142 faz algumas considerações acerca das finalidades


da medida sócio-educativa de internação:

A internação objetiva, assim, através da privação da liberdade do


adolescente infrator, a ressocialização e reeducação,
demonstrando ao adolescente que a limitação do exercício pleno
do direito de ir e vir é a conseqüência da prática de atos
delituosos.

Ainda enfocando a finalidade da medida em estudo,


destaca-se o entendimento de De Paula apud Liberati143, para o qual esta
medida também se reveste do caráter educativo e curativo.

A internação tem finalidade educativa e curativa. É educativa


quando o estabelecimento escolhido reúne condições de conferir
ao infrator escolaridade, profissionalização e cultura, visando a
dotá-lo de instrumentos adequados para enfrentar os desafios do
convívio social. Tem finalidade curativa quando a internação se dá
em estabelecimento ocupacional, psicopedagógico, hospitalar ou
psiquiátrico, ante a idéia de que o desvio de conduta seja oriundo
da presença de alguma patologia, cujo tratamento em nível
terapêutico possa reverter o potencial criminógeno do qual o
menor infrator seja o portador.

Desta forma, cumpre destacar que a internação é, sem


dúvida a mais grave das medidas sócio-educativas e, dentre suas principais
características cabe ressaltar que deve sempre ter por base os princípios da
brevidade, ou seja, ter um tempo determinado para sua aplicação, da
excepcionalidade, o que significa dizer que somente deve ser aplicada se não
houver outra adequada e do respeito ao adolescente, devido a sua peculiar
condição de ser em desenvolvimento.

Conforme analisado nesta monografia, surge a indagação: a


questão do adolescente infrator, é jurídica ou social? A questão jurídica deve ser
aprimorada, uma vez que as instituições jurídicas são vulneráveis. Segundo a

142
COLPANI, Carla Fornari. A Responsabilização Penal do Adolescente Infrator e a Ilusão de
Impunidade, p. 15.
143
LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente, p. 95.
72

pesquisa, o grande problema do adolescente está ligado a área social. O Estado


tem uma dívida impagável para com a sociedade: faltam moradias, faltam
empregos, hospitais, educação, e, nesta questão, incidem os delitos.
73

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final da presente investigação, na qual foi proposto o


estudo acerca do Adolescente Infrator e da delinqüência juvenil em seus aspectos
gerais, por meio das hipóteses, questionamentos e variáveis, é oportuno e
necessário analisar determinadas questões pertinentes ao estudo, tais como as
principais causas que levam o adolescente a delinqüir, o perfil do adolescente
infrator; o ato infracional e qual a conseqüente sanção aplicada aos que praticam
tal infração; a ressocialização, bem como a principal indagação desta pesquisa,
qual seja, se o problema do adolescente infrator é uma questão jurídica ou uma
questão social. Desta forma, será possível verificar a confirmação ou não das
hipóteses inicialmente levantadas.

A pesquisa constatou que as causas da criminalidade entre


os adolescentes são muito amplas. Todavia, a desestruturação familiar, o lazer e
a condição social, as mudanças físicas e psíquicas inerentes à fase da
adolescência, podem ser apontadas como sendo as que mais influenciam o
adolescente na prática do ato infracional. Verificou-se que a fome, os maus-tratos,
o convívio com o tráfico, a carência familiar, a carência das condições mínimas
necessárias para se crescer e viver com dignidade, são fatores decisivos na
escolha pela delinqüência. A questão da violência, seja sofrida ou presenciada,
dentro do próprio lar é extremamente preocupante, pois, além atirar o adolescente
“nos braços” da criminalidade, o faze repetir no convívio social o que presenciou
dentro de casa.

Quanto ao perfil do adolescente infrator, permitiu-se verificar


que estes indivíduos possuem personalidade variável e que, muitas vezes, já
trazem consigo um histórico comprometedor com relação a formação desta
personalidade. Assim, de acordo com esta oscilação de personalidade, os
adolescentes infratores recebem a seguinte classificação: a) Inadaptados Sociais,
quais sejam, os incapazes de se adaptarem às normas da convivência em
sociedade; b) Associais, os quais tendem a perturbar e danificar os interesses
comunitários, tendo em vista que não se sujeitam a ordenação social que lhes é
74

imposta; c) Pré-Delinqüentes, inseridos nesta classe os adolescentes que ainda


não atingiram a maioridade penal, ainda não cometeram qualquer infração, mas
que, certamente se converterão em delinqüentes declarados caso não sejam
submetidos a um tratamento preventivo, haja vista que as ações por eles
praticadas encontram-se no limite da delinqüência.

Tendo praticado um ato infracional, o adolescente fica


sujeito às previsões do ECA, a ele podendo ser aplicadas uma das seguintes
Medidas Sócio-educativas: a) advertência; b) obrigação de reparar o dano; c)
prestação de serviços à comunidade; d) liberdade assistida; e) inserção em
regime de semiliberdade; f) internação em estabelecimento educacional.

Por fim, ao tratar-se das Políticas Públicas para


adolescentes infratores e das Medidas Sócio-educativas, a eles aplicáveis e
buscando a melhor resposta para a indagação central deste trabalho, qual seja se
a problemática na qual está envolvido o adolescente infrator é uma questão
jurídica ou uma questão social, a pesquisa registrou que, na maioria dos casos, é
possível reinserir o adolescente no convívio social, uma vez que o próprio ECA
prevê as medidas aplicáveis a cada caso, as quais, se devidamente aplicadas na
prática, o tornariam um instituto mais eficaz. Todavia, devido aos diversos
obstáculos encontrados, como a falta de recurso financeiros e a falta de
instituições com infra-estrutura adequada para o cumprimento das medidas sócio-
educativas, esta eficácia não se efetiva. Constatou-se, ainda, que, mesmo tendo
cumprido a medida imposta, o adolescente infrator encontra muita dificuldade
para retornar ao convívio social em razão da própria sociedade, a qual lhe nega
cooperação, fechando-lhe todas as portas.

Desta forma, evidenciou-se que o problema do adolescente


infrator, e da delinqüência juvenil de maneira geral, é uma questão de cunho
social. As evidências estão em toda parte. Basta olhar atentamente ao redor, na
própria cidade, e até mesmo no próprio bairro, e é possível verificar-se que os
contrastes sociais são gritantes. Faltam moradias, faltam empregos, o sistema
educacional é falho, a população vive a mercê dos marginais, e, para boa parte
da sociedade, falta até mesmos as condições mínimas necessárias para se viver
75

dignamente. Contudo, esta é uma dívida do Estado para com a sociedade e,


conseqüentemente, do Estado para com o adolescente que, por sua vez, tendo
nascido e crescido em meio a tantas privações e necessidades, torna-se um alvo
fácil da criminalidade.

Exalta-se que, com o exaustivo trabalho de pesquisa, tenha-


se realizado uma abordagem geral acerca do adolescente infrator e da
delinqüência juvenil, estudando-se o perfil deste adolescente que pratica atos
infracionais, bem como sua ressocialização através das Políticas Públicas e das
Medidas Sócio-educativas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

A contribuição desse trabalho tem fins imediatos. Não é mais


possível aguardar o futuro, nem tampouco as propostas políticas a longo prazo. O
momento é agora e para isso é preciso começar uma reflexão séria,
comprometida e lógica, em relação à situação do adolescente infrator.
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

ABRAMOVAY, Miriam. Escola e Violência. Brasília: UNESCO, UCB, 2003.

ABREU, Waldyr de. A Corrupção Penal Infanto-Juvenil. Rio de Janeiro:


Forense, 1995.

ANGHER, Anne Joyce (org). Vade Mecum Acadêmico de Direito. 2. ed. São
Paulo: Rideel, 2005.

BARROSO FILHO, José. Do ato infracional. Jus Navigandi, Teresina, a. 6, n. 52,


nov.2001.Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2470.Acesso
em: 08 fev. 2006.

CAPELA, Fábio Bergamin. Pseudo-evolução do Direito Penal . Jus Navigandi,


Teresina, a. 6, n. 55, mar. 2002. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2795>. Acesso em:10 mai. 2006

COLPANI, Carla Fornari. A responsabilização penal do adolescente infrator e a


ilusão de impunidade . Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 162, 15 dez. 2003.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4600>. Acesso em:
13 set. 2005.

CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: comentários


jurídicos e sociais. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2002.

D’AGOSTINI, Sandra Mári Córdova. Adolescente em Conflito com a Lei...e a


Realidade! Curitiba: Juruá, 2003.

DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998.

FARIAS, Terezinha de Jesus Almeida de. Traços Históricos da Delinqüência


Juvenil. João Pessoa: S.N.J, 2004.
77

FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de Direito Penal: parte geral.


21 ed. São Paulo: Malheiros, 2002

GOMES DA COSTA, Antonio Carlos. Aventura Pedagógica: Caminhos e


Descaminhos de uma Ação Educativa. São Paulo: Columbus Cultural, 1990.

GRÜNSPUN, Haim. Direito dos Menores. São Paulo: Almed, 1985.

ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e


jurisprudência. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2003.

LEAL, Cezar Barros. A Delinqüência Juvenil seus Fatores Exógenos e


Prevenção. Rio de Janeiro: Aide Editora, 1983.

LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do


Adolescente. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2002.

MARCÃO, Renato; MARCON, Bruno. Rediscutindo os fins da pena . Jus


Navigandi, Teresina, a. 6, n. 54, fev. 2002. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2661>. Acesso em: 10 mai. 2006.

MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente e Política de


Atendimento. Curitiba: Juruá, 2003.

MICHAELIS: pequeno dicionário inglês-português. São Paulo: Melhoramentos,


1999.

NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 4


ed. Ver. E atual. São Paulo: Saraiva, 1998.

OLIVEIRA, Raimundo Luiz Queiroga de. O menor infrator e a eficácia das


medidas sócio-educativas . Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 162, 15 dez. 2003.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4584>. Acesso em:
12 set. 2005.
78

PACAGNAN, Rosaldo Elias. Prescrição e Remissão no Estatuto da Criança e


do Adolescente. São Paulo: Lexbook, 1999.

PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente. Rio de janeiro:


Renovar, 1996.

QUEIROZ, José J. (org). O Mundo do Menor Infrator. São Paulo: Cortez:


Autores Associados, 1984.

SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente em Conflito com a Lei – da


indiferença à proteção integral: Uma abordagem sobre a responsabilidade
penal juvenil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.

SEDA, Edson. Construir o Passado ou Como mudar hábitos, usos e


costumes tendo como instrumento o Estatuto da Criança e do Adolescente.
São Paulo: Malheiros, 1993.

SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2003.

TAVARES, José de Farias. Comentários ao Estatuto da Criança e do


Adolescente. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

TRINDADE, Jorge. Delinqüência Juvenil: uma abordagem transdisciplinar. Porto


Alegre: Livraria do Advogado, 1993.

VIEIRA, Henriqueta Scharf. Perfil do Adolescente Infrator no Estado de Santa


Catarina: cadernos do Ministério Público. Florianópolis: Assessoria de Imprensa
da Procuradoria Geral da Justiça, 1999.

VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato Infracional. São Paulo: Cortez, 1997.

VOLPI, Mário (Org). Adolescentes Privados de Liberdade: a normativa


internacional e reflexões acerca da responsabilidade penal. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 1998.
79

RUSSO, J. A. Assistência e Proteção à Infância no Brasil: a moralização do


social. São Paulo: Cadernos de Cultura USU, 1985.

Das könnte Ihnen auch gefallen