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XXVI Encontro Anual da Compós, Faculdade Cásper Líbero, São Paulo - SP, 06 a 09 de junho de 2017
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Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Epistemologia da Comunicação do XXVI Encontro Anual da
Compós, Faculdade Cásper Líbero, São Paulo - SP, 06 a 09 de junho de 2017.
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Pós-doutorando da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). E-mail:
mauricioliesen@usp.br. O presente trabalho foi realizado sob os auspícios da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (FAPESP), processo 2014/06555-7.
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Para uma análise das Referenciais Curriculares Nacionais (que recomendou as denominações dos cursos de
Bacharelado e Licenciatura ofertados no Brasil), seus efeitos na área de comunicação, bem como uma análise
das novas diretrizes para os cursos de Jornalismo e Relações Públicas, cf. ALMEIDA, SILVA & MELO, 2015;
WITZKI, 2010.
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Conforme às diretrizes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Cf.
http://www.capes.gov.br/images/documentos/documentos_diversos_2017/TabelaAreasConhecimento_072012_a
tualizad#a_2017_v2.pdf
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Não por acaso, o conceito mais genérico de meio de comunicação baseia-se na sua capacidade de processar,
armazenar e transmitir informações (HOFFMANN, 2002; KRÄMER, 2008; MERSCH, 2006; MÜNKER &
ROESLER, 2008). Por sua vez, a informação é sempre uma escolha dentro de um campo de possibilidades, ou
na linguagem das teorias matemáticas da comunicação, informação é “aquilo que pode ser medido pelo
logaritmo do número de escolhas disponíveis” (Cf. SHANNON & WEAVER, 1949, p. 9)).
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Para mais detalhes sobre este tema, Cf. MARTINO, 2012. Neste artigo, escrito pelo pesquisador Luís Mauro
Sá Martino, é apresentada uma análise comparativa dos temas e autores abordados pelos cursos de “Teoria da
Comunicação” ministrados em 31 universidades brasileiras.
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base, ela simplesmente se desmoronaria). Ou seja, isso apenas corrobora o simples fato de
que toda teoria, na medida em que possibilita, delimita e produz seus próprios pontos cegos.
Em suma, nessa concepção mais genérica, o adjetivo “social” desempenha a função de um
selo de procedência não apenas teórica mas também prática, pois a sociedade, a estrutura
interpessoal ou a relação intersubjetiva são pressupostos para a instauração da comunicação
como um problema.
Como dito acima, o pressuposto destas nossas considerações é uma conversão deste
conceito mais corrente de comunicação social. A palavra “conversão” é empregada aqui não
apenas em seu sentido lógico (uma alteração de uma proposição na sua inversa), mas também
literal, no sentido de uma transformação mútua dos dois termos. Isso porque a comunicação
social guarda em si um problema inextricável e fundamental, presente em qualquer ciência
social, que é problema da constituição do próprio social. De acordo com essa conversão,
problematizar a comunicação significaria problematizar a própria condição de possibilidade
não apenas do social, mas das suas relações. Isso porque a comunicação se desdobra nos
espaços entre o indivíduo e a sociedade, entre o eu e o tu, entre o nós e o eles. Se oscilarmos
apenas em cada um dos polos, ou seja, ora entre sociologismos ora entre psicologismos, não
conseguiremos tematizar esse “entre”, que constitui o próprio espaço da comunicação.
Além disso, tal conversão promove o deslocamento para o conceito de comunicação
de uma problemática que é – como discutiremos no decorrer deste texto – ao mesmo tempo
ontológica, ética e política. Esta problemática até poderia ser localizada na passagem do eu
para um nós, do eu para o tu, do tu para o eu, do nós para o eu; entretanto, para superar a
pergunta sobre a origem (qual de cada polo é precedente? – o que remeteria a questão à
sociologia ou à psicologia), essa problemática deve impreterivelmente desaguar na
constituição de um me/mim e de um nos, ou seja, de uma passividade ou co-responsividade
que nunca cessa de nascer. Tal é a forma expressa pelo prefixo “com” presente na palavra
comunicação, rastro linguístico da problemática do ser/estar-junto na qual se encontra o
social. E como fundamentar teoricamente tal conversão que colocaria em evidência, portanto,
a constituição do social a partir da comunicação? Os próximos tópicos se constituem como
tentativas de responder a essa pergunta.
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Cf. WALDENFELS, 2015, p. 9 et. seq.
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O campo semântico do adjetivo alemão fremd é muito maior do que o produzido pelas palavras estranho e
estrangeiro em português, sendo por vezes traduzido como outro, alheio, desconhecido, forasteiro etc.
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A precedência do outro sobre o mesmo e sua consequente virada ética da filosofia nos
moldes propostos por Levinas (retrabalhados por Waldenfels) vão ser problematizadas pelo
filósofo Jean-Luc Nancy, quem mais radicalmente se debruçou sobre o “com” como
categoria filosófica. A partir das suas reflexões sobre as dimensões ontológicas e existenciais
desta partícula, Nancy promoveu uma série de desconstruções e consequentes
transformações, seja da ontologia, com o conceito de Ser-com (NANCY, 2004), seja da
hermenêutica, com a noção de Sentido-com e hermeneia (NANCY, 2010, 2014), seja do
poético e do estético (NANCY, 2005, 2006), seja do conceito de comunidade e da própria
comunicação, a partir do seu conceito de com-partilha (partage) (NANCY, 1988, 2007).
Ao contrário Waldenfels, cuja filiação marcadamente fenomenológica é atestada na
clara sistematização e esquematização do seu pensamento, Jean-Luc Nancy possui uma
escrita fragmentária (JAMES, 2006), de difícil instrumentalização teórica. Mas o maior ponto
de divergência entre esses dois autores está no fundamento ontológico do argumento de
Nancy, em detrimento à acentuação ética de Waldenfels.
A fonte para o pensamento do “com” de Jean-Luc Nancy encontra-se na ontologia
fundamental do filósofo Martin Heiegger, que já em sua obra Ser e Tempo (1957), no § 26
intitulado de “O Dasein-com dos outros e o Ser-com cotidiano”, argumenta não apenas que o
Dasein é necessariamente um Dasein-com sob do ponto de vista ontológico, mas também que
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esse “com” deve ser compreendido na sua forma existencial e não categorial. De acordo com
Nancy (2010, p. 21), essa passagem deve ser entendida como uma condição que abriga a
própria possibilidade de ex-sistência11. Em outras palavras, este “com” não pode fazer parte
do Ser ou do Dasein, pois é sua condição: “Se o Ser é Ser-com (Mitsein), então o ‘com’ é
aquilo que instaura o ‘ser’, e não o que se agrega a ele” (NANCY, 2004, p. 59).
Desde o início da década de oitenta, essa inspiração heideggeriana serviu de mote para
um trabalho de desconstrução do conceito de comunidade12, cujos ecos podem ser ouvidos
nas obras de Maurice Blanchot (2007), Roberto Esposito (2004) e Giorgio Agamben (1993).
Diferentemente da clássica abordagem sociológica da divisão entre sociedade e
comunidade13, para Nancy a comunidade é a própria experiência da co-existência, que, por
sua vez, só pode ser exposta para a comunidade como comunicação, que emerge como o
com-aparecer (com-paraît) da finitude de singularidades.
Esse conceito de comparição/com-aparição ressalta a impossibilidade de uma origem:
não há uma precedência do eu ou do nós, do mesmo ou do outro, mas eles são dados
mutuamente e incessantemente: “A ‘comunidade’ nos é dada, quer dizer, nos é dado um
‘nós’, antes mesmo que possamos articular um ‘nós’ ou mesmo justificá-lo” (NANCY, 2007,
p. 38). Comunicação é o que constitui essa exposição da singularidade em sua finitude à
exterioridade.
As noções de singularidade e pluralidade são formas de apreender uma disposição
anterior a qualquer formação social. A relação entre esses dois elementos seria o estofo do
social, já que através delas é que se articulam o problema da constituição de um nós a partir
de um eu ou vice-versa. A singularidade – que só pode existir no plural – é finita e não
procede de nada. É um fundamento sem fundo, já que ela não pode ser produzida ou derivada
ou extraída ou operacionalizada: “Não há nada atrás da singularidade – mas há, fora e dentro
11
Não custa lembrar que o filósofo Karl Jaspers, amigo de Heidegger antes do avanço no nazismo na Alemanha,
também havia proposto que a existência só poderia ser como co-existência, como comunicação
(Kommunikation), o que faz dele um dos pioneiros da problematização filosófica deste conceito. Para Jaspers, a
existência só pode ser compreendida a partir da comunicação entre seres humanos: “eu sou apenas em
comunicação com o outro” (JASPERS, 1973, p. 50).
12
Diante de críticas – dentre elas a de Jacques Derrida – sobre a pertinência de um conceito de comunidade (já
que o termo foi insistentemente retomado pelas teorias comunitaristas da década de noventa), Nancy o substituiu
em seus estudos sobre o Mitsein (Ser-com) heideggeriano pelos temos ser-junto, ser-comum e por fim, ser-com
(Cf. NANCY, 2000), sendo depois retomado como sinônimo em discussões posteriores como “com” (um “nós”
fundamental) que sempre co-constitui o “mesmo”. (NANCY, 2007, p. 30–31 Cf.)
13
De acordo com Ferdinand Tönnies (1991), um dos precursores da sociologia alemã, as comunidades seriam
agrupamentos humanos baseados em fundamentos naturais, que são ligados mutuamente pela compreensão,
pelos bens comuns e pela vontade comum. As sociedades, ao contrário, seriam formas de vidas modernas, nas
quais os indivíduos egoístas e atomizados possuem apenas laços frouxos entre si.
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dela, o espaço material e imaterial que a distribui e a partilha como singularidade, distribui e
partilha os confins da singularidade – o que significa dizer da alteridade – entre ela e ela
mesma” (NANCY, 1991, p. 27). Por isso, não existe ser singular sem um outro ser singular.
Contudo, mesmo em mútua relação, não existe qualquer comunhão entre esses seres
singulares que os conduzam a uma totalidade superior. Se a comunidade não é o pressuposto
e nem mesmo o resultado de uma comunhão entre os seres acometidos pela exterioridade, o
que assumiria, portanto, o lugar desta comunhão? “No lugar de tal comunhão, há
comunicação. O que isso quer dizer é que, em termos muito precisos, a finitude em si não é
nada; ela não é nem um fundo, nem uma essência, nem uma substância. Mas ela aparece, ela
se presentifica, ela se expõe e assim ela existe como comunicação” (ibid., p. 28).
Dádiva e anátema, a comunidade não é uma obra a ser realizada, mas uma tarefa
incessante de transformação das relações entre seres: “O que a comunidade transmite é a
verdade do ser-em-comum” (ibid., p. 36). Por isso, a comunidade nunca para de se partilhar.
Na exposição da finitude, a comunidade se realiza como um areal em que a comunicação
acontece. O “com” da comunidade, portanto, assinala algo precário, incompleto, assim como
a própria existência, que só pode existir como “coexistência”.
Não há qualquer dúvida de que a nossa existência seja “compartilhada”. Essa com-
partilha é o que traduz essa outra forma (existencial e ontológica) de se definir a
comunicação. As duas palavras guardam em si a mesma origem latina, pois ambas foram
traduções de communicatio. Pois sua vez, communitatio é derivada de communis, composta
por cum (com) e munus (fardo, obrigação, dívida)14. A com-partilha seria composta, portanto,
por essa obrigação diante de uma dívida que não pode ser sanada. Ela estaria sempre presa a
esse dado, a esse pressuposto, no sentido de algo-que-se-antecipa (MERSCH, 2010, p. 252).
Na com-partilha, contudo, não se parte nada. Antes, se toma parte no nada. Com-parte-se…
Com esse desdobramento do conceito de com-partilha, eu gostaria de apontar para o
fato de que ele não pode ser confundido com o conceito de participação. A com-partilha é
14
A palavra latina communis também está abrigada na palavra comunidade. As implicações deste debate de
inspiração etimológica foram levadas a cabo pelo filósofo italiano Roberto Esposito. De acordo com ele, o
munus “é o dom que se dá porque se deve dar e não se pode não dar (…) É a obrigação que se contraiu com o
outro e que requer uma adequada desobrigação” (ESPOSITO, 2003, p. 28). Tal doação obrigada implica,
portanto, uma perda, uma concessão – e não um compartilhamento de algo próprio. É dar algo que não pode
conservar para si, mesmo na mutualidade da doação. Por esse motivo, a communitas caracteriza “o conjunto de
pessoas que estão unidas não por uma ‘propriedade’, mas justamente por um dever ou uma dívida” (ibid., p. 29).
A relação é promovida por uma insuficiência, por uma negatividade original – diferentemente de quem está
eximido desda dúvida, quem está imune. Assim, o com de communitas não marca uma pertença, nem mesmo
uma posse, mas um dom a ser dado, um penhor, uma dívida.
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uma tomada de parte, mas de um tipo específico. Por fim, farei uso de um breve jogo
etimológico para ilustrar rapidamente esse ponto, que considero importante para diferenciar o
conceito de comunicação do conceito de participação. Communicatio é uma tradução da
palavra grega koinonia e, em alguns casos, também da palavra methexis (MÖRES, 2006, p.
157). Todavia, participatio (de pars: parte und capere: agarrar, se apropriar, pegar) é a
tradução latina mais recorrente para methexis. Enquanto koinonia foi tematizada pelo
pensamento ocidental muito mais como um termo técnico do debate teológico (no sentido de
reunião, encontro) (SEESEMANN, 1933), o termo methexis foi, desde a Antiguidade, tratado
como conceito filosófico (SCHÖNBERGER, 1998, p. 691–699). De acordo com Platão
(PLATON, 2013), methexis representa a relação sentre as ideias e as coisas do mundo
sensível. Ela possui, por assim dizer, uma função medial ou de mediação, de tal forma que as
coisas guardam as propriedades das ideias, ou seja, elas tomam parte nelas, embora nunca
possam se identificar com as ideias. A definição, portanto, não pode tomar parte no assim-
definido – mas somente o contrário15. Esta relação de não-identidade da methexis pode ser
apreendida como uma forma de communicatio. Entretanto, os aspectos acentuados pela
koinonia são outros. No lugar de uma participação do específico no genérico ou, dito de outra
forma, de uma participação de um mais baixo ontologicamente em um mais alto, a koinonia
representa uma relação mútua entre entidades que não pode ser qualitativamente estruturada.
Trata-se, portanto, de um co-originário tomar-parte, sempre singular e que não cessa de
nascer.
***
15
Nos seus trabalhos posteriores, Platão substituiu o conceito de methexis pelo de mimesis para acentuar que as
coisas são semelhantes, mas nunca o mesmo que as ideias.
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O político (aqui como substantivação do adjetivo) não pode ser situado no humano
isolado, no indivíduo ou em uma subjetividade. Ele ocorre no espaço aberto pelo “com”. Isso
está bem próximo ao conceito de política da filósofa alemã Hannah Arendt, que afirma que
“o humano é a-político. Política surge no entre-humanos, ou seja, completamente fora do
humano. Por isso não existe, de fato, uma substância ou um objeto político. A política surge
no entre e se estabelece como a relação” (ARENDT, 1993, p. 11).
O político, assim como o social, remeteria a uma fronteira fugidia, que como Arendt
explica, constitui um ‘quase’, um ‘ainda não’ da sociedade, que encontra seu começo e seu
fim na reflexão dessa fronteira e desse extremo. É a reunião em torno de uma posse ainda a
ser partilhada. Assim como a pluralidade que só pode existir enquanto co-presença de
singularidades, a política para Arendt trata do estar-junto-e-com-o-outro dos diferentes e é
apenas no espaço-entre da política que a liberdade pode existir, pois minha liberdade é
sempre uma liberdade com-o-outro. A função da política seria portanto a de organizar “a
diferenciação absoluta em consideração a uma relativa igualdade em em contraste à diferença
absoluta” (idem, p.12).
Essa dimensão política do “com” está presente na própria revisão do conceito de
comunidade como vimos anteriormente. Como sustenta o filósofo e teórico dos media Joseph
Vogel (1994, p. 21 et. seq.), ela delineia a fronteira mais extrema e a experiência-limite da
política moderna, ao mesmo tempo em que é perseguida por uma aporia, a do ‘em nome de’:
a comunidade se perde lá onde ela não pode abdicar de uma representação para criação e
garantia de sua unidade. O povo não-existente, o ‘nós’ não idêntico, a inclusão impossível
nos lembram que a fundação ou a origem do social nunca estará definida de uma vez por
todas, eles nos lembram que o comum e a unidade do coletivo não são nem originários, nem
presentificados, nem dados previamente, nem deduzíveis, mas são sempre atrasados,
deslocados e prorrogados.
***
De acordo com o que foi discutido até aqui, o conceito de comunicação social
aparece, portanto, como um oximoro, um contradictio in adjecto, porque a comunicação não
pode ser social, já que ela seria sua possibilidade, da mesma forma que o “com” não pode ser
o Ser, já que ele seria a sua condição. Assim, o “com” se configura como a marca de uma
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exterioridade que não se deixa unificar naquilo em que ele possibilita – daí, portanto, sua
função medial16 –, que permanece sempre como um inapreensível, como um negativo que
escapa às categorias daquilo que ele revela. Com um certo esforço imaginativo, o resultado
desse nosso exercício teórico de conversão conceitual talvez pudesse ser expresso da seguinte
forma: Comunicação-Social. Assim, escrito em maiúsculo, para indicar uma substantivação
do adjetivo. Com um hífen entre as duas palavras, pois ao mesmo tempo que as separa, as
aproxima. Uma proximidade e distância originárias.
O objetivo desta conversão não foi o de tecer uma crítica às teorias ou epistemologias
comunicacionais vigentes, mas o de apresentar outras perspectivas fundadas em outras
tradições de pensamento. Se por um lado, devido ao formato do texto, elas foram
argumentadas de forma bastante sumária, por outro, foi possível mostrar que a
problematização da comunicação a partir do que podemos chamar apressadamente de
filosofias do “com” e do “entre” inaugura formas de reflexão para a comunicação social a
partir de aspectos éticos, ontológicos, políticos (abordados neste texto), estéticos,
epistemológicos e normativos (que permanecem como horizontes para futuras pesquisas).
Mas a urgência de uma filosofia da comunicação, como investigação dos pressupostos
conceituais das teorias comunicacionais (como, por exemplo, os conceitos de medium,
comunidade, comunicação e do social), não encontra sua justificativa apenas nessa
cristalização de problemas teóricos em sua partícula mais elementar – o “com”. Sua demanda
também é uma demanda prática, já que o problema da constituição de um “nós” sempre está
acompanhando de um “eles”, o que suscita processos de inclusão e exclusão que afetam
existências – em toda sua fragilidade, singularidade e finitude. A discussão em torno da
experiência do comum baseada em uma ontologia de uma existência compartilhada por
todos, pode esbarrar na impossibilidade de uma comunidade sem um fora. Repensar os
limites da relação teoria/prática dentro da área de comunicação social não deve ser ignorado
por qualquer reflexão epistemológica do campo.
Por trás de todo o jogo pronominal e etimológico, o que buscamos neste texto foi a
problematização da constituição social a partir de teorias que acentuam o lugar da
16
De acordo com o filósofo alemão Dieter Mersch (2002a, 2002b, 2010), um medium só existe em sua
medialidade, cuja presença tem o formato de uma ausência, já que na medida em que possibilita a aparição de
algo, ele se recolhe (mesmo se co-mediando neste processo). Em contraste às teorias semióticas, para as quais
um signo seria algo que está para alguma coisa (sob a estrutura de um “como”), o medium, ou melhor, sua
medialidade, seria este “como”, ou um “através de” que faz com que algo se mostre (como o sentido, por
exemplo), mas que não pode ser identificado com ele.
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“Que coisa estranha: até agora eu parecia estar querendo alcançar com a
última ponta de meu dedo a própria última ponta de meu dedo – é verdade que
nesse extremo esforço, cresci: mas a ponta de meu dedo continuou
inalcançável. Fui até onde pude. Mas como é que não compreendi que aquilo
que não alcanço em mim… já são os outros? Os outros, que são o nosso mais
profundo mergulho! Nós que vos somos como vós mesmos não vos sois”.
Referências
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