Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
' Uma vorsào antorior dosto trabalho foi apresentada no VII Encontro da AssociaçAo Brasileira do Psicotorapia
o Medicina Cornportamental e no I Congresso Norte-Nordeste de Psicologia e publicada nos Anais do último.
Comportamento
Objeto de e Cognição/
estudos Comportamento Comportamento Comportamento
Variáveis
Intraorganísmicas
Natureza dos
fenômenos Mental Mental Mental Comportamental
"subjetivos"
Inclusão de
eventos
subjetivos no
Não Não Sim Sim
escopo de uma
ciência do
comportamento
1. O Conceito de Comportamento
Versão Internalista de
Marina telefona para sua tia
Indicação de Relação causação do
porque sente muita saudade dela.
comportamento.
Nas três "descrições", tem-se uma referência a algo que Marina fez (ligar para sua
tia). A primeira descrição é meramente uma indicação topográfica do comportamento. Na
segunda, uma relação é indicada, mas trata-se de uma relação de caráter internalista. Na
terceira descrição, a resposta de telefonar aparece relacionada a eventos do ambiente de
Marina. Apenas nesta última, portanto, tem-se uma descrição comportarnental, na medi
da em que apenas aqui é indicada uma relação do organismo com um conjunto de eventos
que lhe são externos.
Pode-se então dizer que, ao adotar o comportamento como objeto de estudos, a
análise do comportamento trabalha com um recorte que é externalista e relacionai; e, ao
analisar sentimentos e pensamentos, seu desafio será exatamente o de dar conta destes
fenômenos preservando aquele recorte.
Sobrecomportamento ecorȒ(i1o 15
1974). Enquanto estímulos e respostas, os eventos privados devem ser vistos como
constitutivos de relações. Nenhuma condição privada é, em si mesma, um estímulo, as
sim como nenhuma ação do organismo é suficiente para se falar de comportamento priva
do. Um evento qualquer, por exemplo, uma contração muscular, não é um estímulo até
que seja parte de uma relação. Assim também, a descrição de uma resposta verbal enco
berta não será suficiente antes que se indiquem as relações dessa resposta com estím u
los controladores.
A expressão "sob a pele" pode ser traduzida de diferentes modos. Nos textos de
Skinner e de outros analistas do comportamento, ora a expressão significa interno ora
significa inacessível à observação pública. Quando se fala de privado como interno, a
intenção é enfatizar as circunstâncias nas quais eventos do próprio organismo afetam seu
comportamento subseqüente. Quando se fala do privado como inacessível á observação
pública, pretende-se enfatizar que um aspecto especial daquele tipo de ocorrôncia é a
impossibilidade de ser observado de modo direto por outros indivíduos.
A definição de privado como interno e como inacessível à observação é um tanto
problemática e tem propiciado críticas a respeito (cf. Ribes, 1982; Hayes, 1994). Para
entender o que há de errado com a definição, considere-se primeiro o caso dos estímulos
privados. Pode-se apontar que a categoria "interno" não coincide precisamente com a
categoria "inacessível à observação". Por exemplo, quando um indivíduo descreve um
evento passado, aquele evento é um estímulo que controla parcialmente sua descrição o
não está acessível à observação pública direta. O evento tem uma natureza pública, nao
está no interior de ninguém, e assim mesmo não está acessível, neste momento, à obser
vação. Um caso oposto é o de um nervo dentário inflamado, que é um evento interno a um
indivíduo, pode ser um estímulo para uma resposta de dizer "Estou com dor", mas, em
muitas circunstâncias, pode estar acessível à observação pública direta (ainda que afete
o público de modo diferente daquele como afeta o próprio sujeito). Resumindo, nem tudo
o que é inacessível a uma observação pública é interno; nem tudo o que é interno é
inacessível à observação pública direta (cf. Tourinho, 1997a; 1997b).
No caso dos com portam entos privados, pode-se apontar que a noção de
inacessibilidade à observação é aceitável, mas a caracterização como interno não faria
sentido. Uma vez que qualquer comportamento é o comportamento de um organismo
corno um todo, não cabe categorizá-lo como interno ou externo ao organismo. Se o con
ceito de interno não for empregado, se se passar a falar do comportamento privado apenas
como comportamento inacessível à observação, o problema também não terá sido resol
vido, pois estará incluído na categoria um conjunto de comportamentos que são inacessí
veis à observação pública direta, mas pouco ou nada têm a ver com a privacidade. Por
exemplo, o comportamento de digitar a senha bancária no interior de um caixa eletrônico
pode ser inacessível à observação pública direta, mas nem por isso tom alguma relação
com o tema dos eventos privados.
Os comportamentos privados são freqüentemente designados de comportamentos
encobertos. A expressão sugere novamente a inacessibilidade à observação pública e,
portanto, não seria suficiente para equacionar a dificuldade citada anteriormente. Uma
alternativa seria apontar que o conceito de comportamento privado diz respeito a compor
tamentos que afetam o próprio indivíduo e que, por envolverem de modo muito restrito seu
aparelho motor, raramente podem também afetar de modo direto outros organismos (ver, a
propósito, a análise de Hayes, 1994, sobre o modo como Kantor lida com o problema).
Se não há coincidência entre interioridade e inacessibilidade, por que estas duas
17
bilidade será rnelhor explicada). Entretanto, seu comportamento de esquiva nao se expli
ca pela tensão, mas pela exposição às contingências aversivas. A tensão enquanto con
dição corporal e a esquiva como comportamento sáo ambas produtos da exposição às
contingências aversivas.
A distinção dos produtos comportamentais diante dos produtos anátom o-lisiolóyi-
cos da história ambiental faz-se necessária quando se discutem os eventos privados
porque é muito comum o leigo identificar sentimentos em geral com condições corporais
especificas, especialmente aquelas que envolvem eventos neurofisiológicos. Um analista
do comportamento reconhece que todo evento comportarnental tem uma base fisiológica,
afinal, ó um organismo que está se comportando, mas exatamente ao reconhecer isso
está apontando tratar-se de eventos distintos (ver, a propósito, a análise de Skinner -
1963/1969; 1971 - para o fenômeno da percepção).
Atualmente, tem sido mais importante atentar para a diferença entre componentes
comportamentais e componentes biológicos dos problemas humanos porque a cultura
o cidental tem a ssistido a iniciativa s que tendem a d issim u la r os co m po n e ntes
comportamentais e sobrevalonzar os componentes biológicos. Isso ocorre, por exemplo,
quando se reduz a análise de comportamentos ditos de "ansiedade" a componentos fisio
lógicos, e ignoram-se ou dissimulam-se as contingências de reforçamento que produzi
ram tanto a alteração fisiológica quanto os repertórios de "ansiedade". Manipulando o
componente fisiológico, pode-se até criar restrições ao organismo, mas nao se terá en
frentado propriamente o problema comportarnental. Portanto, quando se quiser tratar da
ansiedade como um evento privado, de uma perspectiva analitico-comportamental, o objeto
não será o conjunto de alterações fisiológicas do indivíduo, mas a relaçao de certos reper
tórios com um ambiente social. As alterações fisiológicas poderão até ter alguma relevân
cia ao analisar-se aquela relação, mas não se confundem com a ansiedade enquanto
fenômeno comportarnental e, como ressaltado anteriormente, não são a causa do com
portamento.
Quando se assinala que uma condição corporal pode ter relevância na análise de
um fenômeno comportarnental que envolve eventos privados, isto significa que ela pode
participar do controle de uma resposta, isto é, ela pode ser um estímulo privado, como
explicado anteriormente; neste caso, a condição corporal seria um estímulo interno e
inacessível à observação pública direta, que participaria do controle discriminativo do uma
resposta.
Ao tratar desta possibilidade, Skinner destaca a importância da linguagem, Basica
mente, seu argumento é o de que apenas quando o indivíduo interage com contingências
dispostas pela comunidade verbal pode aprender a responder sob controle de condiçoes
corporais. Apenas quando ele vive numa sociedade na qual ó frequentemente indagado
sobre o que sente é que adquire comportamentos descritivos de sentimentos. Isso eqüiva
le a üizer que o indivíduo è dependente da sociedade para conhecer a si mesmo. A depen
dência resulta da impossibilidade de o próprio indivíduo reforçar diferencialmente suas
respostas discriminativas (Skinner, 1945).
Como a comunidade observa apenas eventos públicos ao reforçar diferencialmente
as respostas autodescritivas de um sujeito, não se pode dizer que a resposta ficou sob
Soliu1iom|>oil.iimnlo r u>v’mv.io 19
isso, a analise do comportamento pode tentar ao mesmo tempo reconhecer a legitimidade
daquelas demandas e promover práticas culturais que favoreçam com maior eficácia a
solução dos problemas humanos e a sobrevivência da cultura.
Se os eventos privados sao de fato importantes para uma ciência do com portamen
to, como torná-los objeto de estudos? Num conjunto de textos que discutem o artigo
publicado por Skinner em 1945 (Skinner, 1945), vários autores (cl. Catania 8. Harnard,
1984) apontaram que o esforço interpretativo de Skinner não havia sido correspondido com
pesquisa empírica que permitisse um avanço no tratamento daqueles fenômenos Ainda
hoje, há pouca literatura sobre eventos privados nos periódicos da análise do com porta
mento. Portanto, não há modelos "consagrados" de investigação, com os quais uma co
munidade ampla esteja pesquisando o assunto (cf. Anderson, Hawkms & Scotti, 1997).
Variedade o dispersão caracterizam melhor tudo o que podo ser encontrado em
termos de pesquisa sobre eventos privados. Na impossibilidade de cobrir adequadamente
esse campo, procurar-se-á resumir o que vem fazendo o grupo de pesquisa que tem se
dedicado ao tema, no Curso de Mestrado em Psicologia da Universidade Federal do Pará
Parte-se do princípio de que os métodos da análise do comportamento envolvem,
pelo menos, observação, experimentaçao e mterpretaçao. Portanto, nao ha uma limitaçao
a estudos experimentais. Também considera-se que as fronteiras entre o behaviorismo
radical como filosofia, a análise do comportamento como ciência, e a análise aplicada do
comportamento como tecnologia, podem ser muito imprecisas quando se está lidando
com uma problemática cuja formulaçao é ainda precária. Desse modo, o grupo tem procu
rado estudar eventos privados integrando trabalhos que serão aqui designados de: (a)
análises teórico-conccituais; (b) modelos interpretativos na terapia comportamental; e (c)
estudos descritivos ou experimentais. Os três tipos de estudo estão representados na
Figura 1, a seguir, de modo a indicar que cada um pode se situar num vérlice específico ou
num ponto intermediário qualquer entre dois ou três vértices.
Análises teórico-conceituais
8. Considerações finais
Sintetizando o que foi abordado até aqui, pode-se dizer que um quadro razoável do
tratamento behaviorista radical para o tema dos eventos privados envolve as seguintes
proposições;
24 I mniDuel Z .ig u ty lo u n n h o
RACHL IN, H. (1992). Teleological behaviorism. American Psychologisl, 47, 13/1-1382.
(1995). Things that are private and things that are mental. Em TODD, J. T. 8.
MOHRIS, E. K. (Eds.). Modem perspectives onB. F. Skinner and contemporary
behaviorism. Westport: Greenwood Press.
RIBES, E. (1982). Los ovontos privados: Un problema para Ia teoria do Ia conducta? Revis
ta Mexicana de Análisis do Ia Conducta, fl, (1), 11 -29.
SANT’ANNA, R. C. (1994). Uma análise de rolatos verbais na primeira pessoa no contexto
clinico. Psicologia: Teoria o Pesquisa, 10, 489*494.
SANTOS, A. C. S. (1998). Efeito de Instrução e Feedback sobre Respostas Precorrentes
em Resolução de Problemas Dissertação de Mestrado. Universidade Federal
do Pará, Belém, Pará.
SKINNER, B. F. (1945). The operational analysis of psychological terms. Psychological
Review, 52, 270-277/291-294.
(1965). Private events in a natural science. Em SKINNER, B. F. (1965) Science
and human behavior (pp.257-282). New York/London: Free Press/Colher
MacMillan. Publicado originalmente em 1953.