Sie sind auf Seite 1von 7

ENCONTRO VASCO

GRA<;A MOURAAINDA
NÁOTINHAVISITADO O
ATELIER-MUSEU JÚLIO
POMAR, PROJETADO
POR SIZA VIEIRA,
E DEU A IDEIA DE SE
REALIZAR AQUI UM
CONCERTO DE
MÚSICA DE CÁMARA
CÚMPLICES

Sao dais homens


do mundo das
letras e da arte, ao
quál tem dedicado 4
com prazer urna
vida inteira. É aqui
que encontram
maior cumplicida-
de, mas tem outras:
ambos usam a iro-
nia com subtileza
e divertem-se com
o sentido de humor
umdooutro.
Vasco Gra<;a Maura
e Júlio Pomar, urna
amizade atravessa-
da pelo tempo
ENTREVISTA DE ANA SOROMENHO
FOTOGRAFIAS DE JORGE SIMAO

REVISTA 20/)UL/13
Queria perceber se a vossa como os adolescentes fazem. que me sinto retratado nurn dos
amizade passa pelo quotidiano. Gra¡;a Moura- A poesia do Júlio quadros do Fernando Pessoa com
Vasco Gra<;:a Moura- É urna ami- tem urna dimensao a que pode- o Alfredo Marceneiro! (Pomar sal-
zade que conheceu várias fases e mos chamar surrealista, mais per- ta urna gargalhada) Sabe porque?
várias épocas e que tem sobretudo manente do que na escrita ou na Há muitos anos que sou urn anti-
a ver com urn certo entendimento pintura. Embora o trabalho dele pessoano convicto. Cheguei a di-
da maneira de ser e da maneira de com as formas recorra a urna gra- zer que o Fernando Pessoa era o
fazer de cada urn. Urna das coisas mática que nao é a do realismo, na poeta Aleixo da razao. Quando vi
que me deu mais prazer nos últi- poesia há urna liberdade verbal nesse retrato a rela<;:ao que o Po-
mos anos foi ter podido escrever muito maior. mar estabeleceu entre o Pessoa e o
sobre a obra do Pomar enquanto Escreveu um poema sobre o Marceneiro, pensei: "Era isto que
ilustrador de livros ou autor de re- Pomar. eu queria dizer!"
tratos de escritores. É incalculável Gra¡;a Moura - Escrevi. Os poe- Mas nao era essa a sua inten¡;ao
a quantidade de pe<;:as que se acu- mas acontecem. quando o pintou, pois nao?
mulam - Dante, Camilo Castelo Conhece? Pomar- Nao! De maneira nenhu-
Branco, Cardoso Pires, Pessoa, Bor- Pomar - Conhe<;:o, mas sou inca- ma. Desde que descobri o Pessoa,
ges... Há nesta linha da cria<;:ao paz de o dizer de cor. A coisa mais com 14 anos, que tenho urna gran-
Acompanham-se, convergem, urna rela<;:ao interior entre o fazer dramática é a gente querer lem- de admira<;:ao. Ambos sao figuras
apreciam-se. Júlio Pomar e Vasco plástico e urn grande conhecimen- brar-se e meter palavras que nao muito emblemáticas, e para mim
to destes autores. Percorrer estas tem nada a ver.

a
Gra<;:a Maura - 87 e 71 anos, respe- há urn lado cómico na jun¡;:ao des-
tivamente - sao dais senhores etapas da cria¡;:ao do Pomar diver- Gra¡;:a Moura - Também nao sei tes dais tipos tremendamente sé-
que gostam do exercício da pala- tiu-me muito. nenhurn poema meu de cor. rios. Este encontro entre os dais já
vra e usam o "eu" com parcimónia. Sabia que o Vasco hesitou em Mas o Júlio, que pintou tantos vai no terceiro retrato. ·
Interessa-lhes, sobretudo, pensar seguir Belas-Artes? amigos, nunca fez o retrato do Se tivesse de fazer o retrato do
sobre a obra urn do outro e deba- Júlio Pomar - Nao fazia ideia. Gra¡;aMoura Vasco, que tra¡;os lhe darla?
ter a rela<;:ao que ambos tem com a Gra<;:a Moura - Gostava de dese- Pomar - Nao calhou. Gra¡;a Moura- Se calhar, manda-
criatividade. Neles, a intimidade é nhar e hesitei. No 5º ano, quando ti- Gra¡;a Moura - Mas devo dizer va-me crescer urna barba...
atravessada por urna liga<;:ao inte- ve de optar, decidi-me por Direito. Pomar - Nunca sei por ande co-
lectual. Conheceram-se no final Nao quis contrariar a voca<;:ao da me<;:o nem como acabo. Nao sei
dos anos 80, e obviamente sabiam familia responder.
quem era um e quem era o outro. Gra<;:a Moura - Nao só. Profissio- Como se conheceram?
Nessa altura, Vasco Gra<;:a Maura nalmente, parecia-me menos inte- Pomar - Boa pergunta...
tinha já editado alguma obra de Po- ressante. Era-me mais fácil expri- Gra¡;a Moura - Eu ainda nao co-
mar na Imprensa Nacional, estava mir-me pela palavra e poder ma- nhecia o Pomar, mas nurn poema
prestes a dirigir a Comissao Nacio- nobrar a minha necessidade de de recapitula¡;:ao de experiencias
nal para os Descobrimentos Portu- "expressao artística" (chamemos- de adolescencia que escrevi no
gueses, publicara ensaio, poesia, -lhe assim, entre aspas, que é urn principio dos anos 80, que se cha-
fic¡;:ao. Júlio Pomar fixara-se entre bocado pretensioso) através da uti- .. 0 POMAR ÉTAM- mava "Picasso Visto do Porto" e co-
Lisboa e Paris, era já um portugues liza<;:ao da palavra. me<;:ava com urna provoca¡;:ao -
consagrado. Foi Gra<;:a Maura
quem sugeriu o nome de Pomar
Ambos escrevem letras para
fadistas, também tem isso em
BÉM UMA PERSONA- "Musa, quando voce se despe no
meu quarto..." -. há um momento
como cúmplice e, por delicadeza,
foi o presidente do Conselho de Ad-
comurn.
Pomar - Mas a minha conversao
GEM QUE NAO SE em que digo que ao Porto chega-
vam poucas influencias culturais e
ministra<;:ao do CCB que se deslo-
cou ao encontro do pintor. Pela pri-
ao fado é mais tardia.
Gra<;:a Moura- O Júlio já escrevia
TOMA CEM POR que Júlio Pomar nao era ainda Jú-
lio Verger.
meira vez visitou o Atelier-Museu
Júlio Pomar, inaugurado em abril
poesia muito antes de escrever le-
tras de fado. CENTO ASÉRIO, Traduzindo a letra..
Gra¡;a Moura - Pois. O Pomar ti-
deste ano. Júlio Pomar aparece Pomar- Quando andava naAntó- nha ido para Fran<;:a. e eu achava
com os dedos marcados com tinta nio Arroio, faltava as aulas com o OQUE ÉMUlTO que a pintura dele tinha tido urna
verde. É afável e oferece o jardim Mário de Cesariny e íamos para os transforma¡;:ao radical, daí o Ver-
da sua casa, mais fresco, ali mes- campos do Areeiro, que naquela al- SIMPÁTICO NELE" ger. Suponho que tuda isto foi por-
roo em frente, para a conversa que tura só tinha carneiros a pastar. que na altura a Helena Vaz da Sil-
se seguirá. Era poema para, cá poema para !á, Vasco Gra~a Moura va andava a preparar un1 livro em
.. 0 VASCO TEM
UM TRATAMENTO
DAS PALAVRAS
MUlTO PARTICU-
formato de longa entrevista com o Grac;a Moura - Estou a lembrar- LAR. É DAS PES- Grac;a Moura- O que me sensibili-
Júlio e houve urna grande exposi- -me do Claude-Michel Cluny - za no Pomar é um misto de rela-
c;ao na Gulbenkian. com quem fiz urna visita memorá- SOAS QUE MAIS c;ao emocional e intelectual que te-
Pomar- Foi no fim dos anos 70. vel a Arezzo, aos frescos do Piero nho acompanhado ao longo de
Grac;a Moura- Pouco depois quis
publicar na Imprensa Nacional o
Delia Francesca - e de urna sobri-
nha do Carlos Fuentes ...
SABE DE PALAVRAS anos e que se estabelece com ele
mesmo e com a pintura que pro-
ensaio do Júlio "Discurso sobre a
Cegueira do Pintor" e encomendei
Pomar - Sim, sim, havia urna
Fuentes.
EM PORTUGAL duz. Há um lado artesanal e rigoro-
so do pintor com a realidade, que
a traduc;ao ao Pedro Tamen.
Pomar - Já tinha sido publicado
Grac;a Moura - E aqueles dais ir-
milos, um deles traduzia o Henry
EQUE MELHOR AS ele utiliza como modelo e interpre-
tac;ao, e urna maneira de captar o
em Franc;a...
Grac;a Moura- O nosso relaciona-
James, o René de Seccaty... Normal-
mente, a dificuldade era escolher SABE UTILIZAR" que o rodeia que nunca passa sem
urna dimensao humoral, num con-
mento teve várias modalidades e o programa entre aldeias e cidade- junto de nuances que tem a ver
foi-se moldando a partir do contac- zinhas, que tinham logo na sua Júlio Pomar com temperamento e ironia. Sen-
to com a obra plástica do Júlio. morfologia urna harmonia com a do o Júlio Pomar um dos maiores
Mas depois houve convivialidade paisagem extraordinária. Nao ha- pintores da nossa modernidade, é
de outro tipo. Em Paris tínhamos via os erros de ortografia que en- também urna personagem que
um amigo comum, o escritor e poe- contramos nas estradas e nas cida- nao se toma cem por cento a sério,
ta Joaquim Vital, infelizmente já de- des portuguesas. Ali era a séria. o que é muito simpático nele. Di-
saparecido, com quem chegámos Pomar- Entre Siena e Florenc;a, o verte~se com o que faz e diverte-se
a passar férias. Castelina de Chianti! com a própria brincadeira do que
Pomar - Exatamente. Em Itália, Grac;a Moura - Creio que essas fé- apresenta como modelo.
na Toscarua. rias em Itália foram pouco tempo Reviu-se oeste retrato que o
Quanto anos tinham entao? depois de nos conhecermos e de o Vasco Ihe fez?
Grac;a Moura - Penso que foi no Vital editar um volume sobre o Jor- Pomar - Estava tao atento ao que
fim dos anos 80, na altura teria 46, ge Luis Borges, com ilustrac;6es o Vasco dizia que nao estava a
já nao era nenhum adolescente. suas da série dos Tigres... comparar as palavras com o que é
Pomar- E eu mais. Tenho sem- Pomar - E também com os Cor- suposto ser real, ou com o que po-
pre urna certa dificuldade em con- vos do Pessoa... E o Baudelaire e o derei pensar sobre mim. O Vasco
tar os anos. De repente, achei-me Mallarmé e o Edgar Poe ... tem um tratamento das palavras
com esta quantidade e fiquei mui- Grac;a Moura - É um volume lin- muito particular. É das pessoas
to espantado. díssimo ... que mais sabe de palavras em Por-
Como foram essas férias? Pelo que posso depreender desta aoque perguntava ser a cumplici- tugal e que melhor as sabe utilizar.
Grac;a Moura - O Vital, que era conversa, a vossa cumpticidade é dade desta amizade, diria que tem A pintura tem certas vantagens so-
editor das Éditions de la Differen- sobretudo intelectual. Diríamos por base um entendimento na ma- bre a linguagem, e isto já dá urna
ce, convidava sempre vários ami- que é urna amizade formal? neira de ser e de fazer de cada um, ideia do que me atrai e como en-
gos, entre autores, críticos, artistas, Grac;a Moura - De todo! de ande sempre decorreu urna re- tendo a pintura. Nao como urna
poetas... Eram convivialidades ex- Tratam-se por voce. lac;ao amistosa. E olhe que aqui jan- maneira de fazer coisas, mas como
tremamente divertidas e havia Pomar- O que nao quer dizer na- ta-se muito bem, devo dizer-lhe! urna maneira de olhar e de ver o
urna certa dimensao lúdica que ul- da. Há pessoas de quem estou mui- Pomar - E eu nao cozinho! que é que elas nos dao. Mas, para
trapassava o simples passar das fé- to perto e que nao trato por tu e Vasco, o que o enternece no Júlio mim, a palavra é qualquer coisa de
rias. Enquanto visitávamos coisas outras ondeo tu se instalou imedia- Pomar? extremamente excitante, escusa-
deslumbrantes como só a ltália tamente. Talvez seja preciso anali- Grac;a Moura - É difícil utilizar o do será dizer.
tem, conversava-se sobre coisas sar isto no diva, nao sei o que é que verbo. Enternecer nao traduz o ti- Porque é que as palavras sao
muito variadas. o doutor Freud diria. po de sentimento nem dá o conjun- excitantes?
Quanto tempo lá estiveram? Falam de política? to de tonalidades que acho impor- Pomar - Porque a palavra está
Grac;a Moura - Duas semanas, o Ambos- Nao. Nao tem acontecido. tantes para descrever urna relac;ao sempre em aberto. Urna coisa que
que dava para muito. Neste campo, estariam em desa- de arnizade. Prefiro o que me sensi- é maravilhosa na palavra é quan-
Pomar - E teria dado para muita cordo. biliza, o que me impressiona, o que do ela parece que nao pode ser
gente se chatear! Grac;a Moura - Nunca deu para me marca. Sao tuda gradac;6es liga- mais aberta. Quando é tao rica de
Grac;a Moura- No nosso caso, cor- chegarmos a urna conclusao. A das ao mesmo tipo de nota. sentido que nao resolve a dúvida,
reu muito bem. partida, creio que nao estávamos. Troquemos, entao, o verbo. O mas incorpora a própria dúvida co-
Quem mais lá estava? A chegada, nao sei. Mas voltando que o sensibiliza nele? mo condic;ao natural. Este suposto
UTENHO SEMPRE
UMA CERTA
DIFICULDADE EM
CONTAR OS ANOS.
entendimento das coisas vai no DE REPENTE, na empobrecedor. Nessa área nao hiperativo? Tem de estar sempre
sentido contrário do desejo de se- há nada em estado puro. A ques- a produzir?
guram;:a que normalmente as pes- ACHEI-ME COM tao é como se resolve a liberdade. Gra~;:a Moura - Isso era no tempo
soas tem. A palavra serve para as No caso concreto do Pomar, acho em que as horas tinham só meia
pessoas se certificarem de. Eu ca-
da vez estou menos certo de.
ESTA QUANTIDADE que ele tem sabido utilizar essa li-
berdade, desde os processos mais
hora e os meses 48 dias. Fez-se.
Nao sei explicar.
Gra~;:a Moura - O Vitorino Nemé-
sio tem urn poema que comec;:a di-
llítnllil diretos de representac;:ao realista
aos mais desvairados processos de
Traduziu "A Divina Comédia", de
Dante Alighieri, em tres meses e
zendo: "Com medo de eu o perder
nomeio o mundo." Isto envolve a
ESPANTADO" elaborac;:ao plástica.
No seu caso, que é urn homem
fe-lo durante o período em que
era o comissário da Comissao
concec;:ao carreta que a palavra ex- das letras, o mais próximo dessa dos Descobrimentos...
prime na relac;:ao com o mundo,
Júlio Pomar liberdade acontece na poesía? Gra~;:a Moura - Trabalhava entre
mas também a noc;:ao de precarie- Gra~;:a Moura - Sim. Mas a poesia as sete e as duas da manha todas
dade ou de evasao que o próprio também tem essas conjugac;:oes en- as noites e aos fins de semana. Um
mundo tem em relac;:ao a nossa u ti- tre liberdade e rigor de tradic;:ao trabalho desta dimensao tem de
lizac;:ao pela palavra. Tuda isto tem com informac;:ao cultural. Somos ser curnprido a risca e com um ho-
a ver com esta necessidade adami- herdeiros de urna tradic;:ao multis- rário absolutamente rigoroso. Se
ca de dar nome as coisas. Nos ter- secular, e na nossa contemporanei- nao for assim, nao consigo acabar.
mos bíblicos, Adao deu nome aos dade somos herdeiros de urna sé- Estou só a falar das coisas que re-
animais, as plantas, e por ai fora. rie de aspetos que a cultura sedi- solvi traduzir porque me davam
Ao faze-lo, criou urna representa- mentou e que tem ligac;:oes trans- prazer e pelo desafio. Nao sou urn
c;:ao do mundo através da palavra. versais. Naquilo que cada urn faz, tradutor profissional, e há urna
Para o pintor, o que molda pri- reencontram-se estímulos produ- energia que se adquire quando se
meiro o entendimento do mun- zidos por todos os campos das ar- fazem estas coisas, assim por im-
do: as palavras ou as imagens? tes. Nós nao somos apenas produ- pulso. O Steiner fala de urna certa
Pomar - Sao duas tentativas da to do que andamos a fazer. Somos "radioatividade" que se liberta de
mesma procura, entendida a ima- um produto que corre com o que "A Divina Comédia". Se calhar, foi
gem nao como coisa parada mas nos antecede e que se mistura. isso. Foi urna radioterapia.
exatamente como degrau de um Acompanha o trabalho do Vasco Pomar - O meu tempo é lento.
pensamento. Todos nós ternos ne- como ele acompanha o seu? Agora, cada vez mais lento.
cessidade de certezas, de coisas se- Pomar- Penso que sim. É dos poe- Mas todos os días sobe ao atelie,
gu~as e de afirmac;:oes de poc;:os tas que me interessam. Tenho todos os días trabalha. A sua
com fundo a vista. Nesta necessida- da. Era um homem - como secos- urna grande admirac;:ao pela quali- vitalidade vem da.J.7
de, a imagem recriada ou a ima- tuma dizer - com os pés assentes dade da poesia, pela plasticidade e Pomar - Nao fa<;:o ideia.
gem imaginada sao urn apalpar, na terra. A discussao nao fazia par- pelo lado material com que ele usa Também é disciplinado.
um tatear, do nosso pensamento. te. E, no entanto, quando pintava, o as palavras. Isto é assim urna ma- Pomar - Nao. Tenho sempre vá-
Nesse tatear, há duas maneiras de mundo estava ali todo em discus- neira de dizer um bocado... rios quadros em processo ao mes-
entender. Ou como desejo de segu- sao. Quando se fala de pintura e se Gra~;:a Moura - Essa é urna boa motempo.
ranc;:a ("isto é verde e nao é encar- escreveu sobre arte, fizeram-se fórmula. Precisa desse transito?
nado"); ou, pelo contrário, como de- tais palhac;:adas! Quando tento ex- Ficou envergonhado, nao gosta Pomar - Estao no atelie e quando
sejo de circulac;:ao, ligac;:ao e via- plicar que nao tem nenhurn inte- que falem de si? chego sao eles que mandam. An-
gem. E o que seria encarnado pode resse classificar, que o interessan- Gra~;:a Moura - Fico muito emba- dam para a frente, andam para
passar ao verde. te é sair da cataloga<;:ao e entender rac;:ado com essas coisas. trás, e eu tento nao determinar. É
O pintor tem a liberdade de criar a pintura como urna maneira de Pomar- Masé verdade. E, depois, assim a minha maneira de traba-
a abstra~;:ao. pensar o mundo e de ver como as o Vasco tem urna atividade impa- lhar, nao foi escolhida. Foi-se fa-
Pomar- Aparentemente, aparen- coisas se podem harmonizar e rável. zendo, pouco a pouco. Como toda
temente... Estou, por exemplo, a transformar, fico perdido e desa- O seu currículo é impressionan- a gente, comecei por fazer muitos
pensar no Cézanne. Como pintor, companhado. te. Entre os vários cargos que estudos. Depois percebi que nao
é realmente urn visionário que ve Gra~;:a Moura- Há essa necessida- teve, entre o Parlamento Euro- adiantava. Como modificava tuda,
o mundo de urna outra maneira. de intuitiva, ou instintiva, de algu- peu e a gestao cultural, tem-se desrespeitava o que já estava pron-
Mas no plano das suas crenc;:as ge- mas catalogac;:oes rápidas. Urna eti- dedicado a produ~;:ao da escrita to. A dúvida é sempre esta: como é
rais era urn pacato ddadao. No fun- queta resolve muitos problemas em todas as suas formas: poesía, que isto vai acabar? o
do, tinha urna mente muito limita- de arrumac;:ao mental, o que se tor- tradu~;:ao, ensaio, tic~;:ao ... É um aso romenho@expresso.impresa.pt

Das könnte Ihnen auch gefallen