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PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA
RESUMO
O presente trabalho mostra a viabilidade do uso de agregado siderúrgico em mistura asfáltica tipo SMA. Devido
à grande demanda por aço e a conseqüente geração deste resíduo, é necessário aumentar a reutilização deste por
questões ambientais e econômicas. Por outro lado, o uso de SMA vem crescendo no país pelas vantagens que
apresenta. Mas seu uso às vezes esbarra na dificuldade de agregados adequados. Do ponto de vista econômico, o
uso de escória de aciaria em obras rodoviárias é vantajoso pelo seu baixo custo de aquisição, próximo a 12% do
custo do agregado natural nesta pesquisa. Do ponto de vista técnico, com os processamentos hoje realizados
pelas empresas beneficiadoras a questão da expansão fica mais bem equacionada, e é sabido que o agregado
siderúrgico tem grãos duros e formato cúbico, características que favorecem seu uso em misturas asfálticas
descontínuas. Os resultados preliminares de SMA com um agregado siderúrgico em laboratório mostram que
esse coproduto pode ser uma alternativa para mistura descontínua, combinada com pó de pedra de pedreira, visto
que a parte fina da escória apresenta alta absorção do ligante.
1. INTRODUÇÃO
Os pavimentos flexíveis são estruturas constituídas de várias camadas de espessuras variáveis
e diversos materiais. Geralmente, as camadas que constituem o pavimento flexível são
compostas de materiais granulares (solo, pedregulho, cascalho, pedra britada etc.) podendo ser
acrescidos de um material estabilizante (cal, cimento, betumes etc.) para melhorar suas
propriedades físicas. Os pavimentos mais simples são constituídos de base e revestimento.
Mas podem ainda constituir-se de outras como a regularização e reforço do subleito e a sub-
base, conforme necessidade. A definição da composição e da espessura de cada camada que
irá constituir o pavimento é estabelecida no dimensionamento do mesmo.
A pavimentação consome um volume elevado de materiais, sendo a maior parte composta por
agregados. Alguns resíduos podem ser reutilizados, reprocessados ou reciclados para
constituírem material para a construção civil e, particularmente, para a construção de
pavimentos. Segundo Castelo Branco (2004), a construção de estradas representa um terço da
demanda por agregados. Por esse motivo, o emprego de resíduos na pavimentação se mostra
uma aplicação interessante e racional.
2. METODOLOGIA
Foi realizada a caracterização física de um agregado siderúrgico preparado sob certas
condições, com objetivo de analisar suas propriedades para utilização como agregado para
pavimentação. Foi utilizado o método Bailey para avaliação do esqueleto pétreo dos
agregados escolhidos para o experimento, composto de agregado siderúrgico e agregados
naturais. O agregado siderúrgico foi testado para aplicação em misturas do tipo SMA (Stone
Matrix Asphalt) com a realização da caracterização da mistura através de ensaios mecânicos
de módulo de resiliência, resistência à tração e dano por umidade induzida. A avaliação da
fadiga está sendo feita, mas não será objeto deste trabalho.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. Escória de Aciaria
As escórias de aciaria são resíduos provenientes da indústria siderúrgica gerados na fusão de
metais ou da redução de minérios com o objetivo de obter o ferro gusa líquido, e
posteriormente o aço.
No processo de produção do aço são eliminados CaO (óxido de cálcio), carbono e íons de
alumínio, fósforo e silício que tornam o aço frágil, quebradiço e difícil de ser transformado
em barras. A composição típica de algumas escórias de aciaria produzidas no Brasil está
mostrada na Tabela 1. Observa-se elevada variação na composição química e mineralógica,
em função da matéria-prima e do processo de produção empregado. As espécies químicas,
identificadas na escória de aciaria, são conseqüência das variações ocorridas nos processos de
refino do aço, na forma de resfriamento da escória e na sua armazenagem após o resfriamento
(MACHADO, 2000). Tem como característica marcante ser expansiva assim que produzida,
devido às reações químicas desses óxidos.
Os efeitos provocados durante a expansão da escória geram tensões internas que podem
provocar trincas e fracionamento do material. Para a escória ser utilizada como agregrado na
construção civil é necessário o tratamento em relação à expansão (RODRIGUES, 2007) e
também a britagem em tamanhos adequados. Hoje várias empresas associadas aos produtores
de aço tem desenvolvido técnicas de acelerar a inertização da expansão, pelo menos de forma
parcial permintindo seu uso mais seguro em camadas superficiais de pavimento. No caso de
uso como camada de base, a Norma 115 DNIT 2009 sugere o uso combinado com solos
naturais como forma de minimizar os efeitos adversos.
No Brasil são utilizados para a produção e refino do aço os seguintes processos: OH (Open
Heart) com o forno Siemens-Martin, elétrico ou EAF (Eletric Arc Furnace) que utiliza o forno
de arco elétrico e o LD (Linz-Donawitiz) ou BOF (Blast Oxygen Furnace) com o conversor a
oxigênio, responsáveis na década de 1990 por cerca de: 1,9%, 20,2% e 77,9% da produção de
aço no país, respectivamente (MACHADO, 2000). A tabela 2 apresenta a produção recente de
aço bruto por processo no Brasil segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS, 2010).
O agregado siderúrgico tem sido utilizado em: pavimentação rodoviária, lastro ferroviário,
artefatos de concreto (blocos, tubos, blocos intertravados, etc.), contenção de encostas (rip-
rap), gabiões, drenagens, fertilizantes e corretivos de solos. Todas as aplicações citadas
possibilitam a substituição total ou parcial do agregado natural (brita de material pétreo). Os
impactos que possam resultar do processamento da escória são menos significativos que as
operações de extração da brita e consomem menos energia. A Figura 2 mostra uma estatística
das principais aplicações da escória no Brasil e nos demais países.
Figura 1: Exemplo de agregados britados de dois tipos de escória de aciaria.
A mistura SMA (Figura 3) se caracteriza por conter uma elevada porcentagem de agregados
graúdos, entre 70 a 80% em peso e, devido a essa particular graduação, forma-se um grande
volume de vazios entre os agregados graúdos. Esses vazios são preenchidos por um mástique
asfáltico, constituído pela mistura da fração areia, fíler, ligante asfáltico e fibras. O SMA é
uma mistura rica em ligante asfáltico, com consumo de ligante entre 6,0% e 7,5%. São
misturas com volume de vazios que variam de 4 a 6% em pista (NAPA, 1999).
Na Figura 4 apresenta-se uma foto que ilustra o borrifo de água que se forma num
revestimento comum de concreto asfáltico enquanto na Figura 5 mostra-se a elevada
capacidade de escoamento superficial de um constituído por SMA, o que evita o spray e
melhora a visibilidade e a segurança.
Figura 4: Exemplo do efeito do borrifo de água (Spray) sob chuva num revestimento comum.
Revestimento
asfáltico
comum - CA
Revestimento
asfáltico do
tipo SMA
O uso do SMA ainda é pouco difundido no Brasil. Dentre as obras realizadas citam-se:
• Autódromo de Interlagos / José Carlos Pace (2000);
• Via Anchieta – Trecho experimental na “curva da onça” (2001);
• Rodovia Presidente Dutra (2002);
• BR 277 (PR) (2006);
• Estrada Grajaú – Jacarepaguá – Rio de Janeiro (2010).
A tabela 4 apresenta algumas características de uma escória de aciaria LD, onde se nota baixa
porosidade e dureza considerável (Castelo Branco, 2004). O principal fator que afeta as
propriedades finais deste produto é a granulometria: quanto menor, menor a resistência à
compressão. Outras propriedades importantes são a capacidade de carga elevada e a alta
resistência ao desgaste.
O uso mais significativo das escórias de aciaria no Brasil é como base e sub-base, porém,
ainda limitada em relação ao volume disponível deste agregado siderúrgico, devido ao
potencial expansivo, quando em contato com a água.
As características das escórias de aciaria variam muito e dependem do modo como foi obtida
e do tratamento posterior a que foi submetida (Rodrigues, 2007).
A utilização da escória sem o devido tratamento acarreta em danos ao pavimento, como o “pé
de galinha” (Figura 6), e até fissurações no pavimento (Figura 7). Portanto, para viabilizar a
aplicação da escória de aciaria em pavimentos rodoviários, é necessário um tratamento para
estabilizar a expansão a níveis aceitáveis, transformando os óxidos de magnésio e cálcio livres
em compostos estáveis.
Figura 7: Rupturas catastróficas em pavimento com escória não curada (RODRIGUES, 2007).
4. MATERIAL UTILIZADO
Os materiais utilizados inicialmente neste estudo como agregados (graúdo e miúdo) foi o
agregado siderúrgico (escória de aciaria LD), proveniente da Harsco Metals, localizada no
município de Volta Redondo distante cerca de 120 km da capital Rio de Janeiro. Como a
absorção do material fino foi alta, o que inviabilizou seu uso, utilizou-se também o fino de um
agregado natural da pedreira Pedra Sul de Juiz de Fora, Minas Gerais. Com o objetivo de
garantir a homogeneização da mistura os agregados foram separados por peneiras.
A escória em estudo é comercializada como Neobrita, e sofre tratamento prévio para redução
da expansão no pátio da empresa. O material, que se encontrava empilhado no pátio há cerca
de 8 meses, foi coletado pela Harsco Metals nas plantas de estocagem e enviado à
COPPE/UFRJ em caminhão contendo 1500 kg de material graúdo e 400 kg de material fino
em tonéis, conforme mostra a foto da Figura 8.
Figura 8: Agregado siderúrgico utilizado neste estudo enviado pela Harsco Metals em março
de 2011.
80,00
60,00
40,00 Escória
Brita
20,00
0,00
0 20 40 60 80 100 120
Distância (km)
Figura 9: Comparação do preço do m³ da escória e da brita pela distância neste estudo.
O material miúdo (fíler e pó de pedra) utilizados em parte do estudo, assim que se detectou
que o teor de ligante era muito influenciado pelo fino da escória, foi de material mineral de
origem gnaisse - granítica. O fíler foi obtido por peneiramento e separação em laboratório.
O cimento asfáltico utilizado neste estudo é o CAP 30/45 proveniente da Refinaria de Duque
de Caxias (REDUC), situada no município de Duque de Caxias – RJ. Os certificados de
qualidade e enquadramento nas especificações foram fornecidos pela própria REDUC. A
tabela 5 mostra as características do ligante asfáltico usado neste estudo.
5. ENSAIOS
A dosagem das misturas asfálticas foi feita empregando-se o método Superpave, atendendo as
especificações AASHTO R 35-09 e AASHTO M 323-07. A faixa utilizada foi a de 19 mm
para o SMA (AASHTO MP 325-08). A Tabela 6 mostra os dados da caracterização da
escória, a tabela 7 mostra os ensaios realizados na mistura asfáltica com utilização da escória
como agregado em sua totalidade e a tabela 8 mostra os ensaios realizados na mistura com
escória e com fíler natural.
Tabela 7: Ensaios da Mistura SMA composta de escória graúda e miúda deste estudo.
ESCÓRIA COM FÍLER DE ESCÓRIA (média de 3 cps)
Teor de Volume de Resistência Módulo Resiliência
Ligante (%) Vazios (Vv) (%) Tração (MPa) (MR) (MPa)
7,00 9,73 1,38 11276
7,50 7,16 1,55 17750
8,00 3,90 1,68 10494
Como previsto a utilização do agregado siderúrgico em sua totalidade fica onerosa, devido ao
maior teor de ligante consumido tendo em vista a alta absorção do fino da escória.
Assim, foi realizada a substituição do fíler de escória por um de agregado natural (mineral)
com o objetivo de diminuir o consumo de ligante. O material utilizado foi da pedreira Pedra
Sul, totalmente passante na peneira #100 (0,150 mm).
Tabela 8: Ensaios da Mistura SMA com agregado graúdo de escória e fíler natural.
ESCÓRIA COM FÍLER NATURAL – DOSAGEM (média de 3 cps)
Teor de Ligante Volume de Vazios Resistência a Tração Módulo de Resiliência
(%) (Vv) (%) (MPa) (MR) (MPa)
6,00 5,00 0,95 16595
6,50 3,90 1,06 10679
7,00 2,90 0,86 10792
O teor adotado como “ótimo” para mistura com agregado siderúrgico e pó de pedra como
fíler, foi o de 6,5% pois resultou bem próximo ao volume de vazios preconizado pela norma
de SMA (AASHTO MP 325-08).
O resultado do ensaio de resistência ao dano por umidade induzida apresenta valor satisfatório
e dentro das especificações da norma para SMA mostrando que não houve influência da
expansão na adesividade.
A mistura testada com o agregado siderúrgico e o fíler natural está adequada tecnicamente e
atrativa devido ao consumo de ligante estar dentro da faixa normalmente utilizada para
misturas SMA. No entanto, como o valor do módulo de resiliência ficou muito elevado, pode
não ser adequado aplicar esta mistura em espessuras muito pequenas. Uma alternativa será
testar esta mesma composição de agregado com outro ligante menos consistente ou asfalto-
borracha, por exemplo, visando baixar o MR.
As diferenças entre os resultados obtidos com o uso da escória se explicam pelos seguintes
fatores: a escória é mais resistente do que o agregado natural e o ligante usado na mistura com
escória ser mais duro (CAP 30/45) do que o utilizada com agregado natural (CAP 50/60).
Com objetivo de analisar o intertravamento dos agregados foi utilizado o método Bailey, que
também ajuda a prever o comportamento da mistura bem como a forma de preenchimento dos
vazios do agregado mineral na composição da escória com filer natural. A tabela 11 mostra a
curva granulométrica utilizada neste trabalho, comparada a faixa padronizada pela AASHTO.
Tabela 12: Valores limites e valores calculados da mistura do tipo SMA pelo Bailey.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados preliminares da utilização deste agregado siderúrgico testado em misturas do
tipo SMA mostram que pode ser utilizado como agregado para mistura asfáltica tipo SMA.
No entanto, o uso de ligante convencional CAP30/45 fez com que o Módulo de Resiliência
ficasse muito elevado. A pesquisa prossegue testando asfalto-borracha com a mesma
granulometria composta pelo agregado siderúrgico e finos de pedreira.
O módulo resiliência (MR) e a resistência à tração (RT) são superiores aos valores
encontrados para outras misturas SMA que utilizam agregados naturais.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Engenheiro Fernando Ramos e a empresa Harsco Metals pelo apoio a esta pesquisa.
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