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Sumário
Capítulo IV – Por uma nova cultura jurídica humanista (p. 183) ..................................... 12
1 A crise da razão e a necessidade de uma cultura jurídica humanista (p. 185) ............ 12
2 A estética da morte: destrutividade humana (p. 201) .................................................... 13
3 A proteção dos direitos humanos como fundamento de uma nova cultura jurídica
humanista (p. 214) ................................................................................................................ 13
4 A estética de uma nova cultura jurídica humanista (p. 230)......................................... 13
Neste capítulo, ele busca compreender o Direito como elemento cultural, a fim de
encontrar um conceito que possibilite a revelação de suas dimensões estéticas (FABRIZ,
1999, p. 31).
Um dos aspectos que diferencia o homem dos animais é a linguagem, que envolve o
conhecimento de símbolos e signos, e que permite ao homem abstrair-se da experiência
concreta a fim de organizá-la ou reorganizá-la em dimensões abstratas (FABRIZ, 1999, p.
31). A não permanência animal no chamado “estado natural” é possibilitada, então, pela
capacidade humana de pensar e raciocinar com base na simbologia de sua linguagem, o que o
permite transformar a natureza que o cerca (FABRIZ, 1999, p. 32).
A definição de cultura oscila entre a sua limitação à toda e qualquer criação artística
ou intelectual ou sua extensão a numerosas práticas sociais e humanas (FABRIZ, 1999, p. 32).
O autor busca desfazer a confusão entre cultura e civilização, que se remete mais às
transformações materiais e técnicas da humanidade em geral (FABRIZ, 1999, p. 32). Para
este, o processo cultural liga-se profundamente à esfera simbólica valorativa, à criação de
símbolos e valores que caracterizam o modo de ser de uma sociedade (FABRIZ, 1999, p. 33).
A cultura é, então, a carga simbólica e valorativa que permite identificar tudo o que é
humano e social (mas não seria, essa distinção, nada mais que chover no molhado?), ela é o
traço de identificação entre o sujeito e a comunidade, lastro que cristaliza a história da
comunidade, os valores e os símbolos que são compartilhados (FABRIZ, 1999, p. 33-34).
A cultura é, segundo Gadamer, a maneira humana de esmerar habilidades e
capacidades; é o que atribui significado e sentido à existência humana, significado e sentido
estes que são induzidos pelos valores, expressos pelo aparato simbólico e pela linguagem
(FABRIZ, 1999, p. 34-35).
“Na busca de uma nova práxis [...] a ciência e a tecnologia vem nos proporcionando
a criação de novos territórios existenciais que se realizam no abstrato, provocando a abstração
das relações sociais.” (FABRIZ, 1999, p. 114).
O ator esboça uma crítica dos discursos imperialistas, que se apresentam sob o manto
da “globalização”, mas que constituem expressão de um novo modo de dominação dos países
mais ricos sobre os mais pobres (FABRIZ, 1999, p. 115).
Um pecado o autor felizmente não comete: Fabriz (1999, p. 116) reconhece
expressamente o caráter autoritário do governo de Fernando Henrique Cardoso, que se
sustentava em instituições que deviam servir à democracia, fazendo a exclusão se expandir
em níveis alarmantes.
“Uma estética legitimadora” (FABRIZ, 1999, p. 117).
O diferencial hoje é a fragmentação das representações, a difusão dos interesses a
serem legitimados pela estética (FABRIZ, 1999, p. 117).
Exemplos que desmitificam a panaceia globalizante (FABRIZ, 1999, p. 118).
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O Direito não pode ser apreciado apenas em suas “particularidades dispersas”, sendo
que sua beleza constitui-se, sobretudo, na expressão de sua totalidade, devendo ser examinado
em sua amplitude, numa compreensão que vá além de suas próprias fronteiras codificadas.
Enquanto parte do universo cultural, ele somente poderá ser compreendido em função de seus
sentidos, encerrados em seus significados, em que se revela a dimensão estética do direito
(FABRIZ, 1999, p. 124). “A estética do Direito encontra-se, assim, em sua expressão
sensível, podendo ser percebida e compreendida em razão do seu significado.” (FABRIZ,
1999, p. 124).
“O Direito apresenta-se ao contexto cultural-social, a fim de satisfazer necessidades
sociais, na medida em que atua na resolução de conflitos de interesses, na organização,
legitimação e limitação do poder político.” (FABRIZ, 1999, p. 124).
Para o autor, o Direito legitima o poder político, devendo organizá-lo segundo os
critérios de justiça (FABRIZ, 1999, p. 126).
O autor dirá que o Direito é algo difícil de se precisar, mas que têm suas
manifestações facilmente (porém vagamente) reconhecidas no dia-a-dia pelo homem comum
(FABRIZ, 1999, p. 127). Conforme Miguel Reale, temos que o Direito apresenta-se como
uma experiência que integra os elementos “fato, valor e norma” (FABRIZ, 1999, p. 128).
Dirigindo-se novamente ao formalismo, o autor afirma que a experiência jurídica
ultrapassa “os muros do puro formalismo, do mero legalismo, revelando-se como o sentido da
vida possível, no âmbito da vida em sociedade”. Assim, a experiência jurídica pode ser
percebida pela sensibilidade, possibilitando ao homem uma “realidade identificável e
assimilável”, uma realidade que viabiliza e ordena sua vida individual, inserida no social
(FABRIZ, 1999, p. 129).
Ou seja, a esfera “estética” do Direito, da experiência jurídica, permite uma
determinada identificação do sujeito com a realidade social, conferindo um sentido (ou
significado, sei lá) social à vida individual, na medida que é através da sensibilidade que se
torna possível apreender a realidade.
“A estética torna-se, assim a própria percepção.” (FABRIZ, 1999, p. 130).
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3 A proteção dos direitos humanos como fundamento de uma nova cultura jurídica
humanista (p. 214)
Com efeito, se a cada comunidade cabe tecer o seu próprio senso de justiça, com
base em princípios éticos, morais e democráticos, em consonância com o
reconhecimento amplo dos cidadãos, certamente esse senso de justiça encontrar-se-á
implícito na Constituição de cada comunidade politicamente organizada. A justiça
revelar-se-á, então, na realização constitucional [...]. (FABRIZ, 1999, p. 237).
Ante o exposto, uma nova cultura jurídica humanista deve ser compreendida como
um novo modo de cultivar o Direito, levando-se em consideração o complexo de
princípios e valores característicos da sociedade em geral, vigentes em nossa época,
cujo o [sic] esforço coletivo, a partir de uma participação efetiva de todos os
cidadãos, instituições e segmentos que compõem a totalidade da sociedade, possam
implementar um Direito que realmente aproxime-se das reais dimensões humanistas
do homem, na preservação incondicional da vida, da dignidade e integridade da
pessoa humana, visando ainda, à defesa do Direito como elemento de aglutinação,
desenvolvimento e transformação social. Uma cultura jurídica voltada ao
desenvolvimento e bem-estar coletivo e das potencialidades individuais, de todo e
qualquer ser humano, não perdendo de vista a universalidade do homem. [...]
cabendo ao Direito e a uma cultura jurídica humanista a tarefa de harmonizar as
diversidades humanas, a fim de ligarmos todos os esforços na criação de um novo
humanismo, quando então poderemos revelar a enorme beleza do direito. (FABRIZ,
1999, p. 242).