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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

BRUNO GRANERO PENTEADO

O PROBLEMA DA COISA EM SI EM JACOBI

Artigo apresentado como parte dos


requisitos para conclusão da
disciplina Idealismo Alemão do
Bacharelado em Filosofia da UFABC

Orientador: Profa Dra Monique


Hulshof

São Bernardo do Campo - SP


2014
Na sua Crítica da Razão Pura, Kant procura resolver alguns problemas
fundamentais, centralmente as questões a respeito da possibilidade de proferir
juízos objetivamente válidos a cerca de objetos da experiência, juízos sintéticos
a priori, e, especialmente, como seria possível a possibilidade do uso da razão
para tratar de conceitos morais.
O conceito de coisa-em-si é uma das chaves da articulação kantiana para obter
respostas às suas questões centrais, mas também é gerador de grandes
conflitos interpretativos.
Na própria crítica, Kant faz diferentes assimilações a esse conceito, mostrando-
o por vezes como negativo em relação aos fenômenos – um conceito vazio, mas
também outras vezes como causa ou fundamento dos fenômenos, cedendo à
coisa-em-si um aspecto de objetividade.
Na Crítica (B310/3111) Kant aborda da coisa-em-si como númeno, sendo este
um conceito problemático, entendido como não contraditório. É também um
conceito necessário enquanto limite da “validade objetiva do conhecimento
sensível”. Nesse sentido, trata-se de um conceito negativo, um conceito-limite,
que cerca “a pretensão da sensibilidade”
Esse caráter problemático viria da primeiro da ideia de que, como explica Lebrun
(2001), não se poderia afirmar que a sensibilidade é o único tipo possível de
intuição, então não cairia contraditório supor um conceito fora da intuição
sensível. Também não se pode afirmar outro modo de intuição que não a
sensibilidade, assim não seria possível afirmar a existência de uma outra esfera
de objetos não sensíveis.
A primeira Crítica de Kant foi uma obra bastante comentada tanto favorável como
negativamente: em parte as primeiras resenhas e comentários enviesaram suas
opiniões com base no prestígio de Kant e na complexidade e tom sistemático da
obra
F. H. Jacobi é o primeiro grande crítico do Idealismo Transcendental e da noção
de coisa-em-si especialmente em sua publicação David Hume sobre a crença ou
Idealismo e Realismo, de 1787, no Apêndice sobre o Idealismo Transcendental.
Podemos pontuar, como em Bonaccini (2006), três principais objeções, que são
profundamente ligadas e interpretadas muitas vezes como apenas uma: que o
idealismo transcendental leva ao solipsismo; que o sistema kantiano se invalida
com a coisa-em-si como fundamento dos fenômenos; e que a incognoscibilidade
da coisa-em-si leva ao ceticismo.
Jacobi inicialmente mostra, utilizando-se de citações a Kant, que o Idealismo
Transcendental não comporta em seus sistema nada que não sejam
representações (Bonaccini, 2006). Se a matéria e objetos no espaço e tempo e
tudo da experiência externa são fenômenos dados apenas na representação, as
coisas para além das representações são inacessíveis.
“O objeto transcendental, que está na base dos fenômenos externos, tanto como
aquele que serve de fundamento I à intuição interna, não é, em si, nem matéria
nem um ser pensante, mas um fundamento, que nos é desconhecido, dos
fenômenos que nos fornecem o conceito empírico, tanto da primeira como da
segunda espécie.” (Crítica, A 380)
Seria impraticável falar que há um fundamento dos fenômenos por nós
desconhecidos e diferenciar este fundamento da própria representação. Apelar
para representações como fundamento de outras cairia numa explicação
circular, o que nos coloca no solipsimo, quando não podemos afirmar que no
mundo estamos somente nós e nossas representações.
Certamente Kant visa fugir deste solipsismo, o que faz cometer a imprudência
de admitir aquilo que não poderia com base no Idealismo, que:
“Ora, pode-se sem dúvida admitir que alguma coisa, que pode estar fora de nós
no sentido transcendental, seja a causa das nossas intuições externas; mas essa
alguma coisa não é o objeto que compreendemos ao falar das representações
da matéria e das coisas corporais; estas são meros fenômenos, isto é, simples
modos de representação, que nunca se encontram senão em nós (...)” (Crítica,
A372)
Jacobi mostra como a simples alegação de que podem existir objetos no espaço
fora de nós, sem nos comprometermos com coisas existentes além da
representação na tentativa de fugir do solipsismo é incompatível com o Idealismo
transcendental.
O problema está, para Jacobi, em tratar de representação sem poder acessar o
objeto que ela representa a não ser por uma representação, o que constitui a
chamada tese da incognoscibilidade da representação (Bonaccini, 2006). Seria
necessário ter acesso aos objetos sem mediação de representações para que
se possa admitir algo distinto dessas, sendo esta a única possibilidade de um
critério seguro para admiti-los. Conforme temos acesso somente aos fenômenos
na representação no Idealismo Transcendental, Kant faz uma afirmação
incompatível com sua tese estabelecendo os objetos que são causa das
sensações e que dão vez a estas. (Bonaccini, 2006).
Só podemos conhecer o que percorre a síntese do entendimento, representada
numa unidade como objeto = x, que não é causa inteligível, mas sim uma
representação, no sentido de que é uma regra. Por definição, a coisa-em-si não
seria representação, e como só podemos declarar algo sobre representações,
ela deve ser admitida como correlato externo do fenômeno representado, o que
contraria o sistema kantiano. Todavia, sem supor objetos que causem
impressões e dêem lugar a representações, sequer se poderia falar em
representações, e a filosofia kantiana não teria acesso a si mesma. Se por uma
via a incognoscibilidade das coisas-em-si nos coloca na condição solipsista do
mundo acessível somente por nossas representações, as representações
precisam que se admitam coisas-em-si como causas, o que não é lícito, pois
supõe conhecimento de objetos que causem esta afecção. (Bonaccini, 2006). A
questão é colocada por Jacobi na seguinte passagem:
“Devo confessar que esta dificuldade não me demorou pouco no estudo da
filosofia kantiana, de modo que tive que recomeçar do princípio a Crítica da
Razão Pura durante vários anos, porque me confundissem cessar o fato de que
sem aquela pressuposição não podia entrar no sistema e com ela não podia
permanecer nele” (Jacobis Werke II, pp 304-5, 1812-1825 apud Bonaccini,
2006).
Por fim, Jacobi mostra como a tese da incognoscibilidade das coisas em si
conduz ao ceticismo. Tudo o que há são fenômenos os quais temos acesso por
meio de sensações e representações -sobre suas causas não temos qualquer
conhecimento. A síntese dessa matéria sensível se dá no entendimento do
sujeito representante, por meio de conceitos que dizem respeito a essas
sensações, e são, afinal, meramente formais submetidos a representações
particulares. A verdade de nosso conhecimento é relativa, já que nada diz a
respeito da natureza mesma. É impossível ter conhecimento verdadeiramente
objetivo, já que representações conceitos e princípios são confessamente
subjetivos, o que não se concilia com a assunção de objetos causantes das
sensações. Não basta aceitar que nos percebemos passivos mediante às
sensações para também aceitar que há objetos efetivos (Bonaccini, 2006).
...
O entrave entre fenômenos e coisas em si mesmas, configurou-se atualmente
por duas posições distintas, como mostra Louzado (2006), a saber: as teorias
dos “dois mundos”, e as dos “dois aspectos”.
A teoria dos dois mundos aborda a existência de duas classes entidades. As
coisas em si mesmas seriam uma realidade responsável pelos fenômenos
(aparição) no sujeito, quando se faz possível a relação cognitiva com o sujeito.
(Louzado, 2006).
Tal paradigma traz implicações indesejadas ao Idealismo, pela suposição de um
conhecimento substancial das coisas concomitantemente com sua
incognoscibilidade, e a restrição de todo conhecimento possível ao fenômeno
enquanto material subjetivo, não tem validade objetiva (Louzado, 2006). A visão
de dois mundos leva facilmente a um paradoxo como expresso no problema da
afecção de Jacobi, trivializando os sistema kantiano num absurdo.
A segunda visão, do duplo aspecto, tenta recuperar a possibilidade do Idealismo
Transcendental ao declarar que ele não impossibilita o conhecimento da
realidade nem requer conhecimento do incognoscível. Faz assim uma distinção
de níveis nos quais se pode usar os conceitos de coisa-em-si e fenômeno, que
seriam nível empírico e nível transcendental.
No nível empírico a distinção relevante não seria entre coisas-em-si e
fenômenos, mas sim entre fenômenos e aparências, o parecer ser e o ser
empírico. Trataria daquilo que é privado, relacionado a uma mente individual e o
que seriam coisas do domínio real de acesso intersubjetivo espacial e
temporalmente. (Louzado, 2006)
Já o nível transcendental seria aquele no qual refletimos sobre os conceitos que
usamos no nível empírico. Aquilo que empiricamente é ser mesmo,
filosofcamente é o aparecer (fenômeno), é ser para sujeitos cognoscentes. Não
se trataria de definir esferas do que é cognoscível e incognoscível, mas sim de
dois modos de considerar sobre as mesmas coisas. Levando em conta os modos
de consideração, a contradição inicial se esvai pela noção primária de fenômeno
e a derivativa de coisa-em-si, que é a consideração da coisa como abstração
sujeita a uma parte sensível-intelectual das condições cognitivas do homem
(Louzado, 2006).
Assim, a noção de fenômeno e coisa-em-si desloca também a de ideal e real,
sendo o primeiro “aquilo que há de universal e necessário, logo, a priori, nas
condições de conhecimento humano” (Louzado, 2006), e real o que seria
independente das condições sensíveis, ou seja, o númeno em sentido negativo,
a coisa enquanto não é objeto de nossa intuição sensível.
Esse recurso exegético permitiria manter então o idealismo tendo os dois níveis
análise, sendo que as coisas consideradas em si empiricamente, filosoficamente
são fenômenos, e as coisas-em-si, analiticamente, podem ser incognoscíveis
sem contradição.

Bibliografia

BONACCINI, J. A. “A aetas kantiana e o problema de Jacobi” In: O que nos faz


pensar, v, 19, 2006.
LEBRUN, G. “A aporética da coisa em si” Trad. José Oscar Almeida Morais. In:
Sobre Kant. São Paulo: Iluminuras, 2ª ed, 2001, pp 53-54.
LOUZADO, G. L. “O paradoxo das coisas em si mesmas” In: O que nos faz
pensar, v, 19, 2006.

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