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A experiência religiosa
como comunicação e comunhão
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Michel Meslin nasceu a 29 de
setembro de 1926, em Paris, e
aífaleceu a 1 2 de abril de 201 0.
1.1. Crer - o que descobrimos Doutor em Letras, historiador
das religiÕes e especialista
nas palavras em antropologia religiosa, Íoi
professor na Universidade de
Paris-Sorbonne, da qual che-
A «religião»» nas suas etimologias gou a ser Presidente (1989-
-1993). Foi Diretor do lnstituto
Apesar de hoje usarmos com muita frequência o termo «religião» de História da mesma univer-
sidade (1975-82), e Íundou e dirigiu o IRER (,nstitu;
para descrever contextos e experiências humanas muito diversas, não de recherche pour I'etude des relígions). Foi profes'
devemos perder de vista que esta palavra, em concreto, tem uma ori- sor convidado em universidades em Montreal, Fri'
gem latina, mais tarde cristianizada. De facto, em muitas outras línguas burgo, Lausana, Chicago, Madrid e lvléxico. Escrevet
doze livros e mais de trezentos artigos em revista§
e culturas, não encontramos um equivalente para este termo latino, especializadas. Entre os vários estudos de referên'
religio - sobretudo em períodos histÓricos mals recuados. O histo- cia que publicou, destaca-se a obra onde se propÕ€
riadãr Michel Meslinl narra um episódio sucedido na Nigeria, ainda deÍinir as características próprias de uma disciplint
durante o período colonial, que nos pode ajudar a compreender esta especializada na análise da religião na diversidade
das culturas: Pour une science des religíons (1973).
dif iculdade.
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opuny! o reluro,rsue{ ê rellqeH op opor\| oruoc ogtBtlag y L
'o^rlnrlsur e ocru.rglod 'ocr1g3o1ode soreugB solad
as-uralredel serqo sens sV 'eurlel oqssaldxe ep
glsuo elnllnc eun êp ogórn]
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ep oduel op' C'p lll-ll solncgs
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'LUêBrxê sreuorcrperl srenlll soluêLulcêluoce sopeululê}êp onb olled l
-sor op opnlrle e 'olrJlsor steu optluos Lunu lttuudxe o op o 'tesued 'le.rn]lnc ulaÊeótlseur e o oçóecnpo e
op seuroJ seuêc 'solueureuodluoc souec eultue enb lotlelut ogórs r o.rqos sopnlsê so ered etcugre]êr eurn nouto] as antt
-odsrp e seLu 'euelunq ercuguedxe ep opetedas oduec uln elueuetld 'opfi)lsut u@ilat O or^ll o nocrlqnd '[661 u]l 086t
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-o.rd eu8rsap opu oturo] o ogóece elsoN '«etcueBllBeu» ep otrPJluoc V' A : L L6l'
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I o 9 «oprBrler» e enb nour+e ssoJlos laqcly\ olosglu o osst jod - (ato? 'oeóDcrunwoC V 'l :saLunlo^ oourc uJê 'sêullêH ap
; -!l-eL) ogrBrlar ep ougrluoc o elros (oBtfieu) ercugBrlSau e'e;8o;otutle olnlJl o qos soresuê ê sopnlso êp augs euun noctlqnd
i elsê r.Iloc oproce e6 'eut;dtcstp ep no o;ndllcsa op 'opeplnc op sêp i 086t e 696t êc 066L u..rê esocuerl eruepecy e ered
, -eprlenb se;ed et-es-.tê^olcsop osotBllel olueueuoduoc no epnlrle e i
olrola rol ,86L êpsêp proluels op apeplsrê^lun ep
rosselold J secrjlluorc segón;oirer sep opnlsa oled
'LUrssy'eLllocso eun reul+e 'entlads;ed e^ou eun lol 'olou ep o31e i
; as-nossarê]ur sarrês loqsry\ 'oruJurop olsêN 'ouuoq
: reuro] etrcs eLa7eyol 'osec êlsoN '(ts e telu nÍ'teq;ocel ete?eloqJo^ ou i -.,os eu ercugrc êp eu9]srH êp erpêl9c e nouo] o'sêu
: ureBuo ro] otxral o êp êpeplllqtssod e elo;dxe '(((sosnêp sop eze:nleu i -uê3urA ê pueJjal-]uoruêlc êp
: ep ecrace» 'êluor.ulerolll) wiloe] ojnloi\ êO oln]]] olad eprcequoc i
sapeprsra^run selad nossed
rrr" *r:""^*"r::racjc (e 09 êp epec9p eN qq6t êp
":l Ierê essou eps.rrl ., " not oue ou euosolrl ujo oln]!] nês
i o opuêlqo '-rouadng ;eur-ro11
l elogsl Pu nossarBut eptnBes
'euglsrq ep oEuo; w= Lv6L urê 'le^eN elocsl
oe sepeluouroc ê]uêureldu-re sel^ senp uJoc sou-oll..leLedep 'ot?tpL ep eu ecr]9llrê]ey\ urê ês-norc
erBo;oLlrle ep ogóezselcerec ep selsodo;d seslentp se soulelloc;ed -uaorl eóuerl ep 1ns ou'uaBy
ruê 0t6L op orqLuêlas ap L
opueng 'ezo].rocur ep nerB nos o ulg] setBolou.rrle se sef! 'etoLuou olnq elp ou necseu salros laqsly\ e
-gco^ o enb epepr;eêr ep ogsuoelduuoc ep eL!êlqold o enloser o;nq
-gcon un ep et8o;ou.lrlo ep oluot.r..lcoL.luoc o anb lesued e sopeluê] 'snqtuu oO'sllclJlo êO'DrltctwD eO'alnlcauêS aO
soLuos 'sercug]suncrc sellnLU Llll 'leluêplco eln]lnc ep secleul sep 'otLluv ud'snquonsuoc sucut,totd ag'ouotSo a8el
eLrn g serBolouurle seled ogxted y 'oprlues gs r..un equê] oulrol o enb aO '@l\ soctd11t1 '(V) sDuputlttoC :stedtcuud serqo
razrp ;enb ogu ossr se4 'etcugBue.tqe eutsoul e Llloc ntnltlsqns o zê^ sens se êJlul 'le.raqrl Jope^rosuoc ouioc ectllod
êpeprnrle eun ê^lonuosap e ouecrlqnder oprlred op
eu-rnE;e orlno urnqueu e es-sgdwt or?rpt ourlel oLule] o'ê]uêptco oN ê]uêrj p ês-e3oloc 'resgC êp êUou ep stode6 'et;os
'sêropezruo;oc serepod sop ogóeclltsselc êp ole uln êp opn] -ol!,t Q ê ecu9lar Q opnlo.,qos
ês-eclpop res9c êp ernpelrp
-êrqos L.uerellnsor '- ou.tslnpu[-.1 op osec o I ollloc - ls op ol]uop opep e aluernc 'e3u9lal o euos
-rs.ronrp epuer8 eurn rod seplnltlsuoc sesot8tler segótperl LUec4tluopt -olu nopnlso opuo 'sopou
eloq enb 'sou..r-ro1 sun3ly osotBt;et oluêLuecl+lcedse ot-tglnqeco^ u-tn uo a ersy eu 'ercgre eu nor8
-elsa c 'e LL e 6L oc orpJ3
oLUSAUJ nO '«OçrEr;er» e sê]uole^tnbe souule] uJolelluocua o9u lod no -uled ap opesnce 'snuuêLLrV
'LUercoquoc enb soe srengtedu-toc sosotBtlet soluouleuoduuoc ,1e u-le.t snr3sou olrxQ uro3 Jêpuolop
-erluocuo ogu ;od ogr8r;er ureuo] ogu sonod sun8le enb ueneqce sned oe '3 'e 08 uJe erseco^pe eu
-orno solnur 'xx olncqs op orcJUr ou o xlx olnc9s op leul+ ou epulv os-noêrlsê a ourd.ty uto nêo
-seu o.rocjc orlrrf ocrey\ z
'ZZ'gB6L'sezol :srlodg:1êd out^tp op ouDanLl otcuçuadxa V - utlsêr\ loqotn
'ectu]g opeprluopr eudgrd ens ep eredos os ogu ogrBtlol ens e
onb uJtsse opuellsor-tr 'oluouuenrsseul uJerapuodsor 'elunBrod e eloEe opuopuoo-tdLuoC '(onod nes
op sounlsoc so o seuJlou se ên8os ês 'rozrp ronb) oqruq no ouoLunÓnyt1'oB1s,J3 :osselunBled es
onb nol.llosuoce o opellnsuoc roJ'uepeql op opeprsro^run eu rosso+ord e.lnlle eu 'toput.tJed Áol]]ooC
'onou êp lopuodsol ogu lod LUereqe3e 'ourJol o^ou olso opuocoquoosag 'olstutuv a ouownónry
'op1su3 olluê elole uêssolllocso onb nrpod o sêgóeuruouop op ocuole o 'ogluo 'nopnul Ietuoloc
ogôellstutLUpe V 'uelopuodsor ogu 'ser;oBelec sQJ+ selsop eLUnl,luou e sto^gleduloc tuoleBlnl
as ogu rod 'ouou op solleueld sou ulo^t^ enb soqul sep snu suêulor.,l so ogs sopSod so 'soBel
op o^od o ered 'onb lesuod ues olsr lopSod 'ouounónyy 'op1s,JC :seuoBolec sgl] olstnold
equt] 'epeztleluoptco oltnul 'ogóerlsruru-rpe e 'eugBrN eu oluouteosuocol uln op ogtseco lod
L olxol
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Este trabalho sobre a arqueologia das palavras é o rasto de uma per- 6 Émile Benveniste,
manente procura de interpretação do que se vive, individual e coletiva- linguista naturali-
zado francês, nas-
mente, sob a designação de religião. lndependentemente da maior ou ceu em Alep, na
menor verosimilhança das explicações etimológicas, estamos perante Síria, no dia 2'7 de
a consciência de que a religião se descobre na cultura num conjunto maio de 1902 e fale-
ceu em Versalhes,
de atitudes, gestos, comportamentos, discursos, mas também numa em França, no dia 3
determinada forma de se estabelecer relaçÕes. A religião não é um de outubro de 1976.
acontecimento «alienrgena» face às dinâmicas que constituem as Os seus estudos,
sociedades. Ela descobre-se nos modos de habitar o mundo, de agir com um elevado grau de especializaÇão, tornaram-
-se uma referência no domínio da linguística geral e
sobre ele e de buscar o que pode estar para além desse mundo. do estudo comparado das línguas indo-europeias.
Entre a sua vasta obra, pode selecionar-se o con-
junto dos dois volumes dedicados a Problemas de
linguística geral (1 966-1 974).
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opunr\ o reuJrolsuetj ê lellqeH Ep opon ouoc ogr8lleg y
'so^od sop
leln]lnc euguJoru eu sotS]lso^ LUelexrop onb secr]9rd 'e^lp9p ep ollncllc o LUeluoL!lle onb sogÓ
-elol rxê sosnop soudgJd so ê^lo^Uo 'sopeporcos soluêrolrp seu 'sosolBllol soluouleuoduloc
so o^olcsap onb op ollnul anb g ênblod ror,llollr ropuoordlroc 'LUlsse 'sou-lopod 'LUêElxê secol]
sesso onb eóuetluoc op etcuQuodxo e uJoc ogÓelor relncrued eLun sosolBllo.l soluêLueuoduJoc
o setopt seu Q^ onb oso]gdtq e LuernSosrod 'sopepêlcos sep oqÓlnlllsuoc eu lerluêc I e^lpgp
ep elcugpodxe else enb ercugptno LUo u:eresnd segrBrpeg sep etSolodolluv e o elrg]slH V
'eóue;;uoc eP 'ol!PPrc oP ole^rê]ul
o g oss: 'odutel êp oletLl uJn LUoc llsrxo Luepod solse8 sosso enbtod LUqqLUe] seLU 'oluêlollp
g oqocol os e gp es anb o enbtod 'ole^lolur un gH '(uJop-etluoc) «laqocol» op sotseB so 'o1etp
-otJt op 'Luêpuodse;loc ogu (LUop) «rep» op solse8 soe 'slelsos seQÓenlts sellnu ul3 'exe;duoc
sreut ogóe1el eLUn tes epod ecot] V 'soêug]lnLUrs soduue] ua oluêLUellessêcêu Lreuolcesuel]
ês sopl1lo^uo suop so Luêu 'solelqo seuede Luê^lo^uo o?u secol] se serylole^ nês oe oluenb
'seluelenrnbo ros Lllopod se;e enb -teteptsuoc eltu-lled sou
enb ec;lgquls opeplcedec essou e I 'oluolê]lp orlno
rod olelqo uJn ocor] opuenb oluêpt^o I ossl 'Jole^ Jlnq 'soloqd u.rnuBeyl 'uêsltpuog seuol'sectld;ts ê solo^
urequeduroce uêpuoce as anb selerr sV'elssfU eu 'elslleg oqof S
-rrle op epeprcedec ep ogóezrlrqou.r e eBtxe ecoll e enb 3 op elsêl e uoc ê]uêptcutoc 'eurnlou opepl^llsêl :, ogÓerlsnll
'uuaEeztpuerde ap sopetBelrnrld sereEnl sop uln 'elcuQlr
-edxe elseu 'operluocuo glê] eueLUnLl ecll9qulls opeplc
-edec ep olueLut^lo^uosop o enb ep eselgdtq e ulelecoloc
secr8glodotlue soluêloc seuoC 'eóuelluoc e eted selcuQ]
-eduroc sens se opueztltqoLu 'ogóe;el ue soueunq sales
so ecoloc olede ess3 'LUeltssacou sollno enb o u.renssod
enb e 'u.rg1 soJlno so enb oE;e ep LUeltssêcou enb ulelqoc
-sep sodnr8 o sonp1^lput so 'tlloltlslsqns eled 'sopepelcos
sep ogón;1suoc op leolcnu ouJStt.ueutp o L.uelo+ ecoJl ap
sagáe;e.r se enb 'XlX olncgs op .tt1;ed e ule;elueuue;dut
es enb seeóe8rlsenut se êpsop 'nollsouJ etBolodolluy y
eóuet,tuoc
ep ouBrp g enb alenbe oluêLuestcold g «1et1» - olel] un
êp oluoLurcolêqelso ep elcuguedxe e.u aBtxe es enb eóuel1
-uoc p opuelede 'ougtctpnl optluos uln op eóueseld e1Lo1
sreLu eLun ulê] eullel ecllugLl.lês v soul^lp solês o sou 'solor-ld urnu8e4 'qqa6 xêlV'erpul 'elên
-elrnll saros êlluê ecoJ] op solelluoc 'opoLu nos e 'ogs eqqúny eqey\ elsêj eu'epuê..1êjo op lenltr urnu roqlnn :e ogÓerlsnll
'orcrgr..uoc o olelluoc op sole soJlno op soullxg-ld og]se
o]lnc ap sole sO 'steol oÇs sêsnêp so enb opuodnsserd
'sepuorolo woze+ enb selopetcoBeu ouoc os-L.ueluos
-aide 'sesnêp so olueled 'soueu:nq solos so 'eueulol etB
-ololrl! eu oLuoc seuetput selnqg,t seu olue] 'enb nollsou.l
IrzgLUnC
'eredse es enb êpepleêl e ered no 'ertdsut ulgnBle
enb eóuet,tuoc e eted uleluode soluJo] so :solellulls sopec
-rlruBrs rerluocuo sourepod enb (1et1) silap4 ê snp.,J so^l]
-elpe sou no '(g+) saprJ oLrou ou g 'oullel olrglnqecoA oN
'epnle lopacuoc ep zedec e osolepod lod
oprl o81e no 'eueuJnq no eut^tp eossed eLun o êcêlêqelsê
e enb e;enbe êrluê eloltp 'leossed opóe;el euun egdns otr
-glnqecon else enb êp etopt eu se]-têqocsêp selso llLunsal
erncord lrzgLUnC 'e^!pgp êp etuJouoco eulnu sosnop so o
soueurnLl sêlos so LUoAIoAUê ogóonap êp sole se1s1 'seÓ
-uoop sep ernc e no selnl seu ellg]l^ e oluoc 'solo^e+ slels 'c e 0091 a 0002 êrlua - os-]exr] e
-edse srqr,t snos soe opocuoc enb ;opeop o g enb snep opeóouroc grêl ernleraltl else enb ura opolred op ec]ase osuêsuoc
uJn lrcrlrp oprs urêI'clê 'ogóetdxa e ogóerBesuoc 'oluoueluecuo op
'elnl euJn op os-tnc ou snêp LUn e suoLuotl sop ogÓonap selnurg] 'sopelrp 'saeóero 'sorqrgro]d 'soutq tnlcul o9Óêloc essf
:sosnop snas so elueted seossed sep ogóonep ep solseB 'eredorna-oput enBu.;q renbqenb ap etnlerê]tl eEllue steur e g enb zen
sou aluêso;d elueute;nct1;ed glsê oclxql else 'ogt8t;e.t eLrn 'lêAglou ougralrl otugululed un I epê^e^relv o o epa^.,nlal
ep orlgdouoLU 'u-.lsse 'opuos ogN 'snoC nos o olueled 1et1 o 'epa^elueS o 'epenBr6 o :oltlcsu-es uro solt.,cso 'soperBes so;nt1
orlenb ap olun[uoc u]n ap ês-e]e.t1 snpulll seol]gso;t1 a sesotBtla.l
op eudgrd eóuetluoc op opnltle e;enbe oLuoc seul 'opoJc saeórper] sep eluelroduut steLx eJnlelê]ll e uênlllsuoc sopa sO 8
L.un e ogsope oLUoc ogu '«eÓualc» e ollodsêl zlp oL.lllol o
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Texto 2
Peço-te, ó Deus,
invoco-te durante a noite.
Nós todos, homens, somos protegidos por ti, todos os dias.
És tu quem caminha no meio da relva alta.
E eu caminho contigo.
Quando durmo na minha cabana,
é contigo que durmo.
Éa ti que eu peÇo alimento
e és tu quem o concede aos homens.
É a ti que eu imploro a água parc a minha sede.
És tu que proteges as nossas almas.
Não há ninguém acima de ti, ó Deus.
Tu tornaste-te o antepassado de Nyikango.
Tu eras, ó Nyikango, o que vive com Deus.
Tu tornaste-te o antepassado dos homens,
e do teu filho Dok.
Quando acontece uma fome
Não és tu que atrazes?
E esta vaca que está aí, não é para ser imolada
e o seu sangue chegar junto a ti?
Oferendo para se conseguir umo curo, Oração do Sudão na versão portuguesa de Armando Silva Carvalho
(A Oroçõo dos Homens: uma antologio das trodiÇões espirituois. Lisboa: Assírio & Alvim, 2006, 21\.
Características do simbolismo
Gilbert Durant10, discípulo do filósofo Gaston Bachelardll, com a sua
obra Estruturas antropológicas do ímogínório (1960), foi o protagonista
de um enorme esforço de compreensão do símbolo na história e no llustraÇão 7: Utensílios da ldade da Pedra.
psiquismo humano, a partir do paleolítico e do neolítico. A sua pro-
posta resume as dimensÕes desta atividade simbólica em três eixos.
a) Há uma dimensão a que G. Durant chama mecânica, que se des-
cobre nos esquemas de representações figurativas: gestos, mímicas
e danças.
b) Num segundo plano, este autor considera a dimensão genética.
Diz respeito, no plano biológico, às faculdades e aquisiçÕes que, indo
além do regime do instinto, distinguem o Homo sopiens de outras
espécies animais.
c) G. Durant qualifica de dinâmica a terceira dimensão, uma vez que
ela tem uma relação particular com capacidade de ilustrar e narrar.
Nesta direção, para este antropólogo do imaginário, o mito, figurado
ou narrado, é o melhor exemplo do resultado da dinâmica simbólica
do neolítico.
Esta via de análise reflete-se nas conceÇôes que veem a cultura
llustraÇão 8: Testemunho arqueológico da atividade
como sistema de símbolos. Sistema que permite às pessoas e gru- neardentalense de sepultamento, em La Chapelle-
pos, em determinado contexto, reconhecer-se como .pertencendo -aux-Saints, France.
a um mesmo espaÇo social, viver uma história comum, comunicar e
organizar a transmissão cultural entre geraÇÕes. Mas, também, saber
onde estão, de onde vêm, o que podem esperar, Neste sentido, torna-
-se patente a etimologia do verbo «simbolizar», a ação de unir o que
foi separado; abrir para significados novos o que se recebe, utiliza
ou descobre (cf. Texto 3).
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eneuroJ 'seuruBgl sep ogt,lltqJnl oN 'sasled ollenb ua
'ogtEtle.t
esredsrp 'erl.!ueJ e ltun eted ogqunuoc op elulo] ouloc ep sopnlsê so'sepe3Çp aluernp'nolcuênllul'nouop
o gLulr ouroc epepnes ero ouoLu V '«ectBlgg eu stnopols -rooc onb 'segrBtleg sep euolsrH êp or.rguorcrp lel
o e Áng o uoc o Vnl sou JeLUopleM o Luoc 'equeluolv -uêtunuotu g'oEecrq3 ap gpeprsrê^tup eu segtBtleg
sep euglsrH .,eursuê e ogt8tlag ap olueueuedep o
eu oBrluoc oluosold lelse lepod e;ed 'oóedse ossou .ir8r.rrp.ered 'nozrlernleu ês apuo 'ectlgu.lv ep soptun
ou 'aluouuenrlru4op '.le;1uo eled a;ep oóedse o noxlog sopelsf sou êluêu-je^tltutlop ês-nolelsur'stodêp
soue êzêr1 'esocuel] enEu.;1 Lue setqo ses..rê^rp noc
'no8eqc seur nlued ogu tede6 'sgu oJluo steLu noxtop o -rlqnd anb uro olxaluoc 'epereduto3 ogtBtlag ap ros
seuu 'sgu op nol] o ogu sno6 'optlon6 'ted optlenb ossou -se1o.rd ou.roc 'auuoq.ros êp êpeptsra^tu1 e e.red
reqleqeJ] sue6 ered lo]'9161 url eoqsrl rod a serp
'operederd sreLU o ts eled nêqlocsê o uln e uJn sou-noLllO -uo1 rod opuessed 'lernllnc optpe ou..1oc 'ect]9L,tl
'JouJe op o gl êp olnqtJ] un 'eptlled enl op ollJSoLU elp ou -o1drp errarec eurn'ogluê'na^lo^uasac'alsêlecn8
ure'eBor arqos êso] euin Lroc'eÊ61 oluêurerolnop
'sgu ep nrBlxe snog 'eJtelesstnle etc1lou eLun zell al ele nês o ê^ê]qo leluauo erjosolll a oll,l3su9s lepnlsê
'serlno ap aluoJo+tc 'eliec elso sêlol opuenb enbtunyl tua ered glnc;e3 êp apeptslo^tun
relso so^op g['opuenp» :otlg]sttu uln elled 'ulelo^olcso eu sopnlsê nrnEessold 'et1os
sopol 'orqe e elueLueBollos 'eu1gd ep eueo ertetltld e
zer] orlr o;rêlrec O 'ople] ep seJoq senp ogs 'se;euel sep -olrl uro as-norcuectl 'o3
-lqc uê '986[ urê narrou
seluêprl LlJe^euoce e senb;ed sou Luetpo;dxa se-to;,t se 'ê]sêrecng LUê '206 L ap oóI
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E necessário ter em conta que esta atividade simbolica presente no 12 Paul Ricoeur. Este f iló-
quotidiano humano nos remete para a propria génese da experiên- sofo francês, nasceu a 27
cia social humana, O filósofo Paul Ricceurr2 pode ajudar-nos a corn- de fevereiro de 1913, em
preender melhor as modalidades pelas quais o simbolismo constitui Valence, e faleceu a 20 de
maio de 2005, em Chatenay-
as culturas. -MalaLrry, Paris. Foi aluno de
um importante vulto da filo-
sofia francesa do século XX,
Gabriel Marcel, e foi profes-
a) Sublinha em primeiro lugar, a natureza pública daquilo que sor nas Universidades de
dá sentido às açÕes - a cultura e pública porque o é a significa- Sorbonne e Chicago. As suas
obras tocam alguns dos dos-
Ção" Assim, as mediaçÕes simbolicas têm um carácter institucional. siers mais importantes da filosof ia contemporânea:
O simbolismo resu ta da interação, constituindo totalidades que a fenomenologia, a hermenêutica, a ética, a lingua-
não são redutiveis aos seus membros: familias, grupos etários, gem. O seu trabalho foi decisivo para compreensão
classes sociais, comunidades, sociedades, Estados, civilizaÇÕes. da atividade simbólica humana e do papel da nar-
rativa para a nossa própria compreensão. Devem
A atribuiÇão de um determinado papel aos indivíduos reunidos nestas
referir-se as seguintes obras: Acerco do interpreta-
instituiçÕes é a primeira função do simbolismo. Çõo: Ensoio sobre Sigmund Freud (1965); O conflito
de ínterpretoÇôes (1969); A metóforo vívo (1975\;
b) O simbolismo tem um carácter estrutural. Ou seja, os sÍmbolos Tempo e Norrotivo l-lll (1983-85); Do texto d oçõo
formam um sistema na medida em que estabelecem relaçÕes entre (1986); O omor e ojustiÇo (199-ll.
sl. Um determinado gesto ritual só ganha sentido na medida em que
está integrado na trama que é o conjunto da ação ritual. Pensemos 13 Emile Durkheim, originário
em coisas tão comuns como o que, em cada comunidade ou cultura,
da Alsácia (FranÇa), nasceu
descreve o modo como as pessoas se saúdam, como vivem e recor- em 1858 e morreu em 191-1.
dam o acontecimento da morte dos familiares, como tornam presente lvlostrou um grande interesse
um membro da família ou da comunidade que está longe, como se pelas explicações científ i-
assinalam acontecimentos importantes para a memoria coletiva, etc. cas para os problemas que se
viviam no século XlX. lnteres-
Qualquer ação, nestes contextos, recebe o seu signif icado na relação sou-se pela observaÇão dos
que estabelece com o coniunto. É como o fragmento de um texto, SÓ fenómenos sociais enquanto
integrado no conjunto da narrativa acede a toda a sua signlficaçâo. «factos sociais», segundo
determinadas categorias
c) As instituições têm, também, um papel de regulação simbólica. sociais (a naÇão, o grupo reli-
Sob este ponto de vista, a ação humana caracleriza-se por ser uma gioso ou político). «Facto social» seria qualquer
conduta com normas. Não será por acaso que se pode estabelecer valor ou modo de agir que, a partir da sua natu-
reza coletiva (social), se impôe ao indivíduo. Para
uma analogia entre o «codigo genético» e o «código culturaL». Um e Durkheim, a sociedade humana não seria viável se
outro são programas que enquadram a ação, embora não se possarn não existissem valores que estivessem para além
comparar quanto ao lugar que neles tern a experiência da llberdade. das manifestaçôes individuais. No quadro destas
Os códigos culturais podem ser um lugar de subversão. E, por isso, as indagaÇões, Durkheim defendeu a necessidade
comunidades e sociedades criam interditos que protegem as normas de uma disciplina cientifica para estudar os «fac-
tos sociais». Por isso, ele é recordado como um dos
mais decisivas para a manutenção da vida coletiva. «fundadores» da Sociologia.
d) A ideia de regra implica também a de troca. As diferentes tran-
saÇÕes numa cultura dependem do reconhecimento de va ores par-
'o Quando chegaram os primeiros europeus - holan-
ti hados. É aqui que encontramos um dos significados mais antigos deses e dêpois ingleses -, os aborígenes australia-
de símbolo, a que 1á se fez referência. Quando dois grupos juntam os nos (população autóctone) apresentavam manifes-
dors fragmentos separados, então o objeto dividido tem literalmente o taÇões artísticas e religiosas próprias, bem como
conhecimentos náuticos e de navegação. Viviam da
valor de sÍmbolo, ou seja, re-ligam, juntam, significam a vida partilhada.
caÇa, colhiam frutos, pescavam e domesticavam
Ainda hoje é comum, nas nossas sociedades, que as pessoas, quando alguns animais. A partir de 1170, quando os colo-
se casarn, inscrevam nas suas alianças o nome do outro. As duas alian- nos ingleses reclamaram a posse da metade leste
Ças - antes trocadas - quando juntas, tornam-se o símboLo da vida que do continente, como se fosse «terra de ninguém»,
partilham. Quando falamos da eficácia dos sÍmbolos é para isto que iniciou-se um violento processo de desapossa-
mento. Mars tarde, essa situaÇão social deu origem
apontamos: ao dizer, rea izam. a diversas lutas pelo reconhecimento de direitos
e) Pode dizer-se que os sistemas simbólicos são o contexto que civicos. Nos finais do século XlX, foram desenca-
deados procedimentos facilitadores da assimilaÇão
permite a descrição das ações individuais. Pensemos num gesto étnica, através da separação forÇada de crianças
simples, como levantar o braço. Consoante as situaçÕes e as culturas, aborÍgenes dos seus progenitores, para serem ado-
ele pode sof rer eituras diversas: saudação, ameaÇ4, indicação, implo- tadas por brancos ou colocadas em orfanatos. Esta
ração, apoio, etc. Tenhamos em conta a variedade de gestos de sau- prática de remoÇão de crianÇas do grupo domés-
tico progenitor só terminou já na segunda metade
dação, públicos e privados. Um mesmo gesto pode ser sina de res- do século XX. No século XlX, a vida destas popu-
perto num certo contexto cultural e expressão de desprezo noutra. So laÇôes, sobretudo as mais distanciadas da culturâ
o sistema simbolico permite a sua leitura contextualizada. Por isso, europeia, interessou muito alguns investigadores
Paul Ricceur afirma que o simbolo é uma regra de interpretação. sociais. Supunha-se que o êstudo destas socie-
dades, ditas «primit;vas», permitiria um melhor
conhecimento das estruturas elementares de fun-
cionamento das sociedades e, por isso' também,
a construÇão de hipóteses acerca das origens das
sociedades humanas.
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1.3. A natureza simbólica do discurso religioso
Como dizer o indizível? Como abarcar o infinito? Como falar do total- 16 Manuel Garcia Morente
mente outro? Como expressar o absoluto? Como comunicar e partilhar nasceu em Arajonilla (Jaen
a experiência do Mistério com os outros? Estas e outras perguntas são - fspanha) em 1886. O pai,
médico, viveu longe da f é,
muitas vezes feitas quando nos propomos falar acerca da religião e da enquanto a mãe praticava
experiência religiosa. intensamente o catolicismo.
Aos nove anos perdeu a mâe
Todos sabemos como é difícil traduzir para os outros as nossas e, pouco depois, Íoi enviado
experiências mais significativas. Nessas situações a linguagem reve- pelo pai a França para reali-
la-se «curta», «imprecisa» e cheia de dúvidas. lsto torna-se ainda mais za( a sua formaÇáo. Aí inicia
os seus esLudos em filosofia,
evidente e mais complexo se nos situamos no campo daquilo que se prosseguindo-os na Alema-
pode designar por «experiência de Deus». O testemunho dos místi- nha. Regressa a Espanha onde realiza o doutora-
cos, nesse sentido, é inequívoco. Eles transmitem por escrito as suas mento em filosofia em '1911. Torna-se o catedrá-
vivências, mas com a profunda convicção de que as palavras que utili- tico mais novo do seu tempo, desenvolvendo uma
grande atividade docente e desfrutando de um con-
zam não são capazes de abarcar, nem de esgotar a totalidade da reali- siderável prestígio social. Chega a exercer cargos
dade vivida. Por isso, não são poucos os que afirmam ser o silêncio a importantes na administração pública do Estado-
melhor linguagem a utilizar nessa tentativa. Em 1936, por ocasião da guerra civil espanhola, é
ameaçado de morte sendo obrigado a fugir para
A não consciência destas limitaçÕes e dificuldades está, muitas Paris. É nesta cidade que, aquele que se conside-
vezes, na origem de equívocos e erros. Nesta linha, todos nós somos rava desde muito novo descrente, ou agnóstico,
tendo perdido a fé, vive uma experiência que o leva
capazes de perceber como muitos discursos acerca do divino afi- a mudar de caminho.
nal pouco mais são do que discursos acerca do próprio ser humano,
da sua condição, das suas ânsias e perplexidades. Projetar neste dis- I
I
opunl Õ reu,tro;suell a relrqeH êp opof\ ou-roc ogr8rle5 y LL
'epr^ ap ou.rn.r êp eÓuepnur êp leossêd ersuerJadxê ens P erjeu elêN rolne
op auoL! ep srodêp ec,lqDd nourot as ênb ê elan8rqel eJ3le9 erel 9soÍ' rolnop oe
'0t6 t êp orquolas Luê 'e}r3sê eleS'ouDutp)oillx3 oLlcaH'êluarol ercree lonuer!
'ossrp onb oueunL{-orqos ozoB ossop opepunut
oLu-erluos o o-erqocred ne ê rle e^elso olf salue opunEes
op eursglru eu.rn 'neceredesop oluelsur LUnN 'nourLu;ol
'ras ogu LugquJel ólle olf ,p eóueserd e nourLurol opueng
'f 'l ercugpr^o lo^;lncsrpur
o elnlosqe uoc erqoc;ed o epeu recol LUou 'reeroqes ueu
'lelteqc LUou 'lt^no ulou 'lo^ tros 'no anb e elueseld t;e
enelso e;3 enb ros seu 'ros o ogu nf ;;enlssod olsl g otuoC
'ogóesues uues enb epure erqecred o enb zol eurn 'e;3 ere
enb ep eplnnp JouoLU e re1 erpod ogu a ezilep erolur LUoc
elueserd Je o-erqocred 'opn1uo3 'o1so8 ou uJou 'ole1lo ou
uueu 'olel ou tuou 'oprnno ou LUêu 'e1sr eu Luou ogóesues
eLUnLluau equrl oÇu seLu 'opueóerl nolse enb 'ocuerq olqos
orBeu 'ser1e; se opuo^alcso nolsê ;enb ou laded o oluts
enb u.roc ezdep eLUSêLu e Luoc eóueserd ens e erluas
'['] Ie e^e]so olf seu 'enecol o ogu ê
ernno o ogu 'er^ o ogu nê 'e;3 enelse rlv'opec4uled tenbt;
e ouenb op rorJolur o ered eJec e lollo1 'olsol ou aLu-noleq
ocsorl re op epelet eu,rn 'elouef e rcd tue red op rrqe o
ioLuerl e gd ep ouJ-snd 'repiel uuos 'o1uoruor.lr oLusour
ossou 'eluetrelelpourl Jocoluoce er enb ';engreuaur
';engpruu.ro;'osueur o81e ep oluorurluêsse.rd'ogóeq.rn1
'ogsueerde'er1slEue'opauu :erluos enb o oluauelexa rcztp
ossod ogN 'la^gcrldxeur o]lessoJqos Lun ep ogsserdurr
e qos 'enelredsap enb Luo oluoruoLu ou sossocns sop
oU o or-llocor eugruoLu eLlurru V 't"l 'er;gurproerlxe zed
euJn e^euroj elule eLlurur eN 'erelc o]rnu o euojos e^e]sa
olrou V 'olrou ep ozop se urereos epered ep or8g;er op
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'epr^ ens e oluor.!lecrper nopnul
oluoLurcoluoce êssê enb;od ê]uêtreuêC ;uleBenBurl ep sê]rLlrl sop '(Bg6L'ePeztl
-ar.rlsnpur erêpeur êp edeqc /s oêlg) oqlrl ereurgo
;esede 'opeprssacêu glso gnb-lo6 '.reEn; enel e;e enb [J.]ê seroLl se re] ogof êp 'olned ogs êp oesrê^uoC V :ZL opóarlsnll
-srBer ep;oueu;od oe opur «orJgurproerlxo oluêLUrcoluoce» u-rn eueqc
enb e o;rnbe êAêrcsêp ê]uêro17\ 'oprcê]uoce o relelêr ered uueBenBurl
ep segóelrLur; sep resedV' erê]uêro/\ eroree lonuef\ êp ogsro^uoc ep
oe rnbe souroirocor sren;uodsrp so;duexa solrnur sog 'ercuguedxa
esso Jo^orcsueJl o requnuelsel op êpeprssêcêu e urê]uos solrnur
oluoc eroueur e e^rlecrlruBrs ê]uêueropepro^ g 'olxoluoc ê]soN
6soluozuoLl so^ou e e-opuuqe'e-opuec4rpou'e-opuerel;e'ugnBle
êp eprn eu eduro.r-rr e;e opuenb 'ercuguadxe elsê relec oluoc 'opun+ oN
1ogóept euin e e oBolgrp LUn e 'oprluês sozon selue] ',olr^uoc, o relrno
no ropuocso oLlJoC ;rer1e enb apeprleêr eurn êp ',sreLU, un êp ercuel
-srxo e u;ela^or enb sercugr.redxe e Juqe ês eprn e 'soluêrxor..r.r solue] LJo
'op olce,r o rerouBr ouroC Lwgp sreLU r e eprnuoc enb eóuese.rd etrn
rod opelrqeLl os-rrqocsop op ercuguedxe e rercuolrs ouloC eeueunq
ogórpuoc ep opunrrord ou ren enb ogrnbe relec ouloc 'epezrpereueB
erêueLu euJn op egduur es enb êpepron eun ros olsrp resede se/\
rrBnl ;enlssod ? ogu ;enb oe e eluese;d
erdues ocsu trtn g eueurnLl ogórpuoc ep oudgrd g enb o;rnbe osrnc
I
É verdade que o texto levanta muitos problemas de interpretação u Juan lvlartín Velasco nas-
e análise, mas o que aqui importa destacar é a enorme dificuldade ceu em Santa Cruz del Valle
em descrever a experiência e, apesar de tudo, a absoluta necessi- (Ávila) a I de marÇo de 1934.
dade de a narrar, e até mesmo com inúmeros detalhes. Como Garcia Realizou os seus estudos
eclesiásticos no Seminário
Morente nos testemunha é muito difícil, senão mesmo impossível de Madrid (1944-1956), tendo
«calar» essa experiência e, por outro lado, a linguagem utilizada não é sido ordenado sacerdote
adequada, não serve, e acarreta muitos riscos. a 9 de setembro de i956.
Ampliou a sua [ormaÇão
Na tentativa de traduzir esta e outras experiências, para melhor as f ilosóf ica na Universidade
poder compreender e comunicar, é necessário utilizar uma linguagem Católica de Lovaina (1956-
-1960) e depois em Paris, na
que seja capaz de dar conta do que se quer comunicar, com a cons- Sorbonne, onde assistiu aos cursos de P. Ricceur
ciência de que esse algo não se esgota, nem se reduz, ao modo como e preparou a sua tese de Doutoramento sobre H.
comunicamos. Duméry, que apresentou em 1961 sob o título Lo
philosophíe de ta religion selon H. Duméry. Etudes
A linguagem simbólica possibilita a tradução, expressão, partilha de so méthodeetde ses préssupposés plhilosophi-
ques. Posteriormente prosseguiu os seus estudos
e transmissão dessa experiência. O símbolo é, como diz Juan N/artín
sobre Filosofia da Religião, Teologia Fundamental e
VelascolT, um caso de «conhecimento indireto», mediante o qual o Fenomenologia da Religião em Friburgo, na Alema-
sujeito toma conhecimento de uma realidade através de outra. A estru- nha. Catedrático, desde 1972, de Fenomenologia e
tura deste processo de conhecimento não é difícil de perceber. Por Filosofia da Religião no lnstituto Superior de Pasto-
ral da Universidade PontifÍcia de Salamanca, com
um lado, temos uma realidade imediatamente acessível que tem sido sede em lVadrid, tem estudado vários aspetos fun-
denominada por significante, por outro, temos uma outra realidade, damentais do fenómeno religioso tais como: Deus,
denominada significado, à qual se chega através da primeira. A relaÇão o rito, o milagre, o sacrifÍcio, a experiência religiosa,
estabelecida entre estas duas realidades (significante e significado) a relação entre as diversas religiões, o fenómeno
místico. A sua obra lntroducion o lo fenomenologío
é fundamental para que se possa passar de uma a outra. Por isso, de lo religión (publicada pela primeira vez em 1973,
na relação simbólica, o significante não e escolhido de forma arbitrá- com sucessivas reedições e atualizaÇÕes) coligiu
ria ou convencional, mas sim por manter uma relação natural com o boa parte do seu estudo neste domínio.
signif icado.
18
Recorrendo às expressÕes «realidade última» e «realidades penúl- Lluis Duch, natural de Bar-
celona, na Catalunha (1936),
timas» propostas por Lluís Duchl8, podemos ainda tentar esclarecer monge da Abadia de Mont-
mais a importância da linguagem simbólica. Deus é a realidade última serrat desde 1961, é Doutor
à qual o ser humano só tem acesso através das realidades penúltimas, em Antropologia e Teologia
pela Universidade de Túbin-
porque a presenÇa do último sempre adota a roupagem do penúltimo.
gen. Ensinou na Faculdade
Ou se quisermos dizer de outra maneira, a transcendência do último de Ciências da Comunica-
somente pode manifestar-se através da ambiguidade e das conota- Çâo da Universidade Autó-
noma de Barcelona. Tr:adu-
çÕes culturais que comporta o penúltimo.
ziu para catalão e castelhano
Aplicando esta terminologia ao discurso sobre o símbolo podemos obras de Lutero, lvlüntzer, Silesius, Schleiermacher
e Bonhoeffer. É autor e co-autor de mais de cin-
afirmar que este não pode ser reduzido a nenhuma das realidades. quenta livros, e mais de três centenas de artigos e
Ele não coincide com a realidade penúltima, mas também não se pode contribuiçôes para obras coletivas. A sua extensa
reduzir à realidade última. Só no âmbito da relação entre as duas reali- trajetória intelectual concentra-se em particular
dades se pode falar verdadeiramente em símbolo e utilizar a linguagem no estudo da religião enquanto fenómeno antro-
pológico. Entre as suas publicações destaca-se o
simbólica. Fora deste contexto surge inevitavelmente o perigo de «coi- seu projeto no domínio da Aritropologio de lo vido
sificar» e «mundanizar» Deus, ou «divinizar» a realidade mundana. Um quotidiono.
e outro caminho acabam por impedir que o discurso reli-
gioso possa ser significativo.
A linguagem simbólica possibilita a tradução da
experiência do Mistério e do Absoluto (experiência de
Deus para as religiões teístas) na vida do ser humano.
Através dela é possível dizer esse absoluto respeitando
simultaneamente a sua realidade e a realidade do ser
humano, ou seja, deixando que o absoluto seja absoluto
e, ao mesmo tempo, utilizando uma linguagem que pode
ser perfeitamente entendível e assimilável por parte do
ser humano, já que em nada lhe é estranha.
Com efeito, o mundo do ser humano está povoado de
símbolos. Basta olharmos com alguma atenção para ,I.o&T*.
.
áreas fundamentais do seu viver para podermos perce- -r -\,\. i
Metáfora e alegoria
É por ser um discurso eminentemente simbó-
lico que o discurso religioso recorre, com frequên-
cia, à Iinguagem metafórica e alegórica. A metá-
fora é uma figura da linguagem através da qual se
relacionam dois termos ou expressôes, permitindo,
através de uma relação de comparação implícita
(em que a conjunção comparativa «como» é omi-
tida), passar de um significado a um outro que int-
cialmente não lhe pertenceria.
Rastreando a arqueologia da palavra (meto - algo e fherein - transporte) mais facrlmente pode-
mos perceber que a metáfora nos aponta para um movimento de transporte, de mudança,
de transferência. Assim, a partir da associação/comparação entre dois termos podemos ser
transportados de um sentido original proprio para um outro sentido figurado. Deste modo, é
possível promover a emergência de um novo parentesco genérico entre ideias que até então
eram logicamente heterogéneas.
A utilizaÇão de metáforas permite, então, estabelecer relações inéditas entre palavras, ter-
mos, expressões e, mesmo, ideias, descobrindo atributos antes dificilmente tnsuspeitados e
multiplicando o seu sentido inicial. Com esta transferência de significação é possível passar,
também, de um processo de simples explicação para um outro de compreensão. Com a metá-
fora não se pretende apenas dar informaçÕes acerca de determinadas realidades ou pessoas,
mas, estabelecendo uma relação entre elas, pretende-se uma melhor comunicação que seja
capaz de ir mais longe do que a mera comparação inicial.
Exemplos de metáforas
A história que Leonardo Boff2o nos conta no seu livro a Aguio e o gali- 20 Leonardo Boff nasceu
nha é bem um testemunho da utilizaÇão da metáfora e da alegoria. em Concórdia, Santa Cata-
rina, no dia 14 de dezem-
Em meados de 1925 James Aggrey, político e educador popular nas- bro de 1938. E neto de imi-
cido no Gana, participava numá reunião de líderes populares na qual grantes italianos da região
se discutiam os caminhos de libertaÇão do domínio colonial lnglês, da do Veneto, vindos Para o
então colónia lnglesa denominada Costa do Ouro. As posrçÕes assumi- Rio Grande do Sul no final
do século XlX. Cursou Filo-
das entre os prelentes eram as mais variadas, indo desde o caminho sofia em Curitiba-PR e Teo-
que passava pelo uso das armas, até aquelas que, deixando-se seduzir logia em PetróPolis-RJ.
pela'retórica colonial, eram favoráveis à presença lnglesa como forma Doutorou-se em Teologia e
ia na Universidade
de modernização e de inserção no mundo dito civilizado e moderno.
Filosof
de Munique-Alemanha, em 1970. Foi membro da
Vendo que alguns dos líderes importantes apoiavam a causa inglesa, ordem dos Frades menores. Durante 22 anos, foi
James Aggrey contou a seguinte histÓria (cf. Texto 7)' professor de Teologia Sistemática e Ecumênica em
Petrópolis, no lnstituto Teológico Franciscano' Pro-
fessor de Teologia e Espiritualidade em vários cen-
tros de estudo e universidades no Brasil e no exte-
rior, além de professor-visitante de universidades.
em Lisboa (Portugal), Salamanca (Espanha), Har-
vard (EUA), Basel (Suíça) e Heidelberg (Alemanha)'
Esteve presente nos inícios da reflexão que procura
articular o discurso indignado frente à miséria e à
marginalizaÇão com o anúncio da fé cristã, génese
da chamada Teologia da Libertação. Atualmente é
professor emérito da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, dedicando-se sobretudo às ques-
tôes da ética do cuidado e aos problemas de natu-
reza ambiental.
I
opuni^ o reurrolsuerf a retlqeH ap opoF\ ouloc ogr8rleg y
'oluozuol.l op o9prlse^ ep o relos opeplrelc
ep Jol1cuo trossopnd as soqlo snos so onb ered 'los op ogóorp eu LUoq 'oluou.totultl e-nolnBes
elstleJnleu o ogluf 'noon ogu se/\ 'eprn e^ou osseluoLuuedxe os otxoc erua{'e}lon Q noqlo etnEg V
ieo^ a sese senl se olqe 'eJJo1 ogu o ngc oe socuoued enb gl'etnBg eurn sg enb gl'etnBV -
Q
:oql-nouopro a olle o eted ernEg e nenE:e elsrleJnleu O
'sequeluoui sep soctd so e^elnop oluêcseu los O
'equeluoul euln op o]le o ered 'suoLrJor.l sop sesec sep eBuo; e;ed 'epeptc ep eloJ eled eu-u.tele^ol
e ernlg e ulelele6 'opoc LUoq os-urerelue^êl sguodiuec o o elsrlernleu o 'elutnBes etp oN
'leo^ toleJ e gL{ueLuV 'zon eur}l! euJn epure re}ueuut;adxo solle1 'ernB? ep ogóetoc
uuneldues gtrnssod ossr .rod e ernBg eurn g elf - elstleJnleu o oluaLuoturr; nepuodsol - ogN -
;equrleB LUo os-noullolsueJl e;e 'o1tp el{ul} çf nl -
:eBlec Q nollo^ o nulos sguoduec g
'selop olunl e.red ro; a nolles 'ogqc o opuecrqop sequrleB se oxreq ura gl 'ntn elnEg e opuenb seyl
ieon o sese sen] se elqe 'etnBg eun sg enb gl'etn8y -
:oql-nollnssns o esec ep opeL4lo] o ered ernBg e uJoc nrqns elsrlernleu o 'elutn8es elp oN
'oluêLUe^ou soLUorelueutuedxe gL,lueuV
'ernfig eutn alduuos glos ernBg eun I 'ernBg eurn g elf - elsrlernleu o ltlstsut e noulo] - ogN -
iequrleB se;dtrts euJnu os-noulJolsuell e;e 'o1tp eLlull. çl n: -
:noluouroc sguoduec 6
'selap olunl ered tol o no]les 'soglB so opuectqop ser.4utleB se ren oe
'o ;opel oe oluoulepteJlstp e^eL.ll6 'elsrlernleu op oprpuelse oóe;q o alqos epeluos nocrl ernBg y
ieo^ o sese sen] se olqe ogluo 'eJJo1 q ogu o ngc oe socual:ed enb g['ernBg eun sg nl enb gf -
:oql-ossrp e-opueryesop o olle LUoq e-non?rc'ern?g
e noBad elsrle;nleu 6 'enotd ewn )oze+ ulelrptcop oglul
'ern8g elun ou.]oc greo^ steuef e equr;eB
uro os-nourolsuer] ell - seuodtlec o ntlstsut - ogu 'ogN - 'Jlog opreuoal ap «equrle8 e e ernBg V» erqo
ep ogórpo eun êp ogónpordêU :LZ ogóerlsnll
'sern]le sQ reo^ erp
uJn gre; e ogóeroc olsê o ernBg ep ogóeloc uln uol stod 'etn8g
rqler&q qqâtp*§rap.eiEçrarr, f ún
eurn erduuos g;os o g elf - elstlelnleu o ntnbrolal - ogN -
'ogsualxo op sorlouJ
sg.r1 esenb op sese sens sep resede 'serlno se ouoc equr;eB
eunu os-noLuroJsue{ 'equr;eE eurn g etoBy 'ernBg euln
sreuJ g ogu elo osst rod 'equrleB euln osso; os oLuoc e-totJc
no se1t\ 'ernBg eurn g - sguodtuec o êsstp - g olce+ oC -
'ern8g eun ? equrleE eun g ogu olessgd e1s3 -
:ossrp elsrle.,rnleu
o 'urrp:el o;ed iueneessed oluenbu3 'elstlelnleu uln op eltst^
e esec ens uo naqocor urollJot,l olso soue I sopessed
'soressgd so sopol op
equu/p) o osso; ernBg e eroqLua'sequt;eB eted eudg.td opóet
ê or.llrur eruroc olsf 'sequr;eE se uJoc oluotuelunl o.rraqur;eE
ou o-nocoloC 'ern8g op olotlllJ r.!rn .requede nrnBesuo3
'esec ens uJo onrlec ol-glueul eled olessgd t-un tequede *Y:;l*3 i5l;
'equrzrn elsoJol+ q ro; enb sguoduec LUn 'zo^ eLUn ell
z olxal
33*ffi rp-âffirê*#"3
Nesse momento, ela abriu as suas potentes asas, grasnou com o típico kau, kau, das águias e
ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para
mais alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento.
Leonardo Bofí -A Aguio e o Gotinho: uma metófora do condiÇõo humono. Lisboa: Multinova, 1998,23-25.
No fim da historia James Aggrey conclui afirmando: «lrmãos e irmãs, meus compatrtotasl Nos
fomos crrados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar
como galinhas. E muitos de nos ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos
águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como
águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pes para ciscar.»
No discurso religioso, a presenÇa da alegoria é por demais evidente, como uma leitura dos tex-
tos bíblicos facilmente nos pode testemunhar. Sem ela, o discurso ficarra, uma vez mais, encer-
rado sobre si mesmo, não sendo capaz de se referir ao Outro, que Deus nunca deixa de ser.
O texto do livro do Cântico do Cânticos é um bom exemplo deste falar de uma realidade (a
relação de amor entre Deus e o seu povo) a partir de outra (a relação entre o amado e a amada),
segundo as leituras que judeus e cristãos fizeram esta joia literária da Bíblia.
Texto I
Fala meu amado, e me diz:
«Levanta-te, minha amada,
Formosa minha, vem a mim!
Vê o inverno: Já passoul
Olha a chuva:já se foi!
As flores florescem na terra,
o tempo da poda vem vindo,
e o canto da rola
está-se ouvindo em nosso campo.
Despontam figos na figueira
e a vinha florida exala perfume.
Levanta, minha amada,
formosa minha, vem a mim! llustraÇão 22: O «Cântico dos Cânticos» (1853), de Gustave N/oreau,
lvluseu de Belas Artes de Dijon.
Pomba minha,
que se aninha nos vãos do rochedo,
pela fenda dos barrancos...
Deixa-me ver a tua face,
deixa-me ouvir tua voz,
pois tua face é tão formosa
e tão doce a tua voz!»
Côntico dos Cônticos 2,10-1
I
I
l9Z
I
'ept^ op ollsêul Jos oluouellapep-to^ opod eu9]srLl e o opr^r^ ro+ onb op ercuQllodxê elldgJd e lêp
-oce lo^JSSod es-eu;o1 'opou-r ê]sec 'seqóe sessop opec;;;uB;s op ogsslursuerl e e elncold e
elueullen§r tnlcut seul 'odu;e1op oBuol oe seueLUnq segóe sep ogóucsap sa;duuts eun seuede I
ogu egglspl e 'optluês olsoN 'sopecr;ruBrs rerlxo lenlssod euJo] e^rleleu e 'o;duue sleui opoluo
LUn uJoc ogóelet uê sopecoloc o rs erlue sopeEr; ogs enb sorpgstde sos.rantp op euiell eutn:od
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A história deixa, assim, de ser mera descrição para passar a ser
também compreensão que tenta estabelecer uma «concordância a
partir das discordâncias» das experiências vividas, dando um sen-
tido global à existência humana.
A narrativa emerge do vivido e a ele retorna tornando possível a
sua transformação. A partir deste cÍrculo hermenêutico, concebido
por Paul Ricceur em três momentos, podemos mais facilmente com-
preender a importância da narrativa. O filosofo francês usa o con-
ceito de mimese (literalmente, imitaÇão) para identificar esses três
momentos, enquanto faculdades humanas de imaginação e repre-
sentação do mundo. A mimese l, denominada prefiguroçõo, apro-
xima o historiador/narrador do campo prático do viver; na mimese ll,
realiza-se a configuroçÕo textual, na qual se procuram interligar os
diversos momentos transformando o tempo cronolÓgico em tempo
narrativo, realizando sínteses compreensivas com as quais se pro-
cura encontrar o sentido;finalmente na mimese lll acontece a refi-
guroçõo, na qual também já está envolvtdo o leitor ou ouvinte, que
áão aprende só factos e elementos de uma realidade já acontecida,
mas aprende um pouco mais sobre a vida, ou seja, aprende a viver.
Este processo que não tem fim, sendo realmente um círculo, é per-
corrido inúmeras vezes possibilitando que a experiência do que é
vivido ao princípio possa ser compreendida e recriada, dando ori-
gem a novas experiências de vida, que por sua vez serão, de novo,
óompreendidas e recriadas, dando origem a outras novas experiên-
cias de vida. A narrativa adquire o seu sentido pleno neste itinerário
sempre a realizar-se, assim se constrÓi a histÓria humana e se edi-
fica a identidade pessoal.
Nas culturas, a narrativa toma corpo em diversos registos - orais,
literários, monumentais, performativos, etc. No nosso tempo, com
o desenvolvimento de novos meios audiovisuais, a narrativa visual,
como forma de recriaÇão da experiência humana, conheceu uma
particular expansão (cf. llustração 24).
J
Texto I
Tomo como fio condutor dessa exploraÇão da medioÇõo entre tempo e narrotivo a articulaÇão [...]
entre os três momentos da mimese que, em jogo sério, denominei mimese l, mimese ll, mimese lll.
Considero estabelecido que mimese ll constitui o pivô da análise [...]. Mas minha tese é que o prÓprio
sentido da operação da configuraÇão constitutiva da tessitura da intriga resulta da sua posição
intermediária entre as duas operaÇÕes que chamo de mimese I e mimese lll e que constituem
o montante e a jusante da mimese ll. Ao fazer isso, proponho-me mostrar que a mimese ll
extrai a sua inteligibilidade de sua faculdade de mediaÇão, que é de conduzir do montante à
jusante do texto, de transfigurar o montante em jusante por seu poder de configuraÇão: [.'.] Ela
ia tarefa da hermenêutical não se limita a colocar mimese ll entre mimese I e mimese lll. Ela quer
caralerizar mimese ll por sua função de mediaÇão. O desafio é pois o processo concreto pelo qual
a configuraÇão textual faz a mediaÇão entre a prefiguraÇão do campo prático e sua refiguraÇão
pela reõeção da obra. Aparecerá corolariamente, no termo da análise, que o leitor é o operador por
excelência que assume, por seu fazer - a aÇão de ler - a unidade do percurso de mimese I a mimese lll
através de mimese ll.
Paul Ricceur -Tempo e norrativo I. Campinas: Papirus Editora, 1994,86-87.
I
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ê]soc sesorfirlet sepeptluopt sep ogórnlrlsuoc eu sreroLu e socrlgutBop soóet1 sop olu.lulopeld
oled ulezuelelec as onb «ogóeurLr-rop op secuglor» ep ogótnltlsuoc q'osotBt;el odulec ou opn]
-orqos 'ltznpuoc epod penb o 'êpepoueptlos ep e eq;r1ted ep 'ol^J^uoc op êpeplncUlp ep oBtled
o oluouleneroxour euodu.roc 'ellutl elsêu 'o^llerteu acllgp LUn 'Bueunq elcuglslxo ep sleu
-olcepunJ seglsenb seu opelluoc 'ocllglclu! JalpJec op 'o^llelJeu ossocold LUn rês êp lextêp
epod ogu esorBrlet ogórpet1 epec'«se1;ou; segrBr;er» uro os-LUoroUêAUoc op oosu o lolloc L.tlol
-enb ogu oS 'ê]uêlc opeptunuloc ep solqulor..u so sopo] erlue eóueued ep solncu1^ so ;eó-lo1et
op ogsstul e ug] 'ogóelncllc ulo selsod 'enb segôerJeu se ogs 'ornln+ oe os-opuuqe e ogótpet]
elunu epezteluo 'oluêsoJd o opuenrn '«e^rledrcolue» ê «e^rlerolrêuJor» opeplunuloc eu-ln eldu:es
gJos 'los zrp enb o eles oluenbue enbrod elueurelsn['«onr]ereu sgu» LUn ollloc ês-JIn]t]suoc op
lextop epod opu 'oqutllec nos op ordlcuud ou êrluocuê es enb rês ogu e 'eso;B;;el ogólpetl e
epo] 'oplluês ouoc Lill 'eptn eudg;d ens eu operod.rocul res epod 'elêp sgnerle 'enb operreu
opelfles ou.redgcgyed epod oueLUnLl rês o 'rlcnc s1n11 opun8os 'onb ogóerreu e;ad ugqurel3
'epelnsurASêp
rês selop 'uJnquou opoLr op 'epod ogu eueulnLl eptA ep
epeprlenb e enb opou.i le] ap 'ocllngderel o ropeluepo
'o^!le aluoulelcuoldes sn;d uln rtnssod tod es-utezue]
-erec segáeJreu se 'optluos olsoN 'soluou.toul o sêpn]
-rlel se sepo] uJo ulecoloc êql as 'olosuoc o e o:edsesap
o olluo 'êluaLuoluessecur 'anb o sellocol no 'soBrpgc.lod
seprpuodse.r elueursepduJrs rês uepod oqu enb '(aoUoLU
e o oluor.lrr;os o 'eóueop e gnbro6 aept^ e LUo] oplluos
ênD aeueurnLl euglsrr.l ep ourlsop o lenD ;opecrruuEts
nes o ;enb o leu o gnb;o4) e^tloloc ê lenpt^tput ept^ ep
saglsenb sepuerB se ered elsodser lelluocuo e;nco.ld
ouelunq ros o 'e^llerJeu ep olclcJoxo op s9^ellv'opl]êLr.l
-qns erdu;es glso oueurnq res o enb e «etcueButluoc ep
ogóeururop» ep secrlgrd se relrltcej ep sezedec oplluos
o o t:êpro e rerluocuo elrgrqrssod enb opóetnlnllso euln
ered ope;nlnrlsosop gtse enb op '«sotxsoc oe soec op
ureBessed» e elrr-ured enb orclcrexo oLuoc 'ogáerleu ep
ogóerpeu rod 'soduue] sop o soóedse sop opepêue^ eu
'ês-rgrlsuoc ;eossed epeplluap! e lolne else opun8eg
'olrocuoc ou e ogórurJêp eu oluoulletcuêsso sopeêseq
sosrncsrp ep odr] orlno enb op ept^ ep apepten q ogó
-eurxorde roqlour o roreLU eLUn LUê]tulted sen;lelrPu se
enb eurrle LlcnC sJnll 'sêrolne sollno op Luqle !noclU
1ne6 rod eprAlo^uosop ogxol+ol e eluese;d LUoq opuol