Sie sind auf Seite 1von 22

1.

A experiência religiosa
como comunicação e comunhão

I
I

ffi
ffit

llustraÇão 1: Homem do povo tuaregue em oraÇão (Bobby Model, National Geographic)

1
Michel Meslin nasceu a 29 de
setembro de 1926, em Paris, e
aífaleceu a 1 2 de abril de 201 0.
1.1. Crer - o que descobrimos Doutor em Letras, historiador
das religiÕes e especialista
nas palavras em antropologia religiosa, Íoi
professor na Universidade de
Paris-Sorbonne, da qual che-
A «religião»» nas suas etimologias gou a ser Presidente (1989-
-1993). Foi Diretor do lnstituto
Apesar de hoje usarmos com muita frequência o termo «religião» de História da mesma univer-
sidade (1975-82), e Íundou e dirigiu o IRER (,nstitu;
para descrever contextos e experiências humanas muito diversas, não de recherche pour I'etude des relígions). Foi profes'
devemos perder de vista que esta palavra, em concreto, tem uma ori- sor convidado em universidades em Montreal, Fri'
gem latina, mais tarde cristianizada. De facto, em muitas outras línguas burgo, Lausana, Chicago, Madrid e lvléxico. Escrevet
doze livros e mais de trezentos artigos em revista§
e culturas, não encontramos um equivalente para este termo latino, especializadas. Entre os vários estudos de referên'
religio - sobretudo em períodos histÓricos mals recuados. O histo- cia que publicou, destaca-se a obra onde se propÕ€
riadãr Michel Meslinl narra um episódio sucedido na Nigeria, ainda deÍinir as características próprias de uma disciplint
durante o período colonial, que nos pode ajudar a compreender esta especializada na análise da religião na diversidade
das culturas: Pour une science des religíons (1973).
dif iculdade.

I
I

EducaÇão Moral e Religiosa Católica l6


I

I
opuny! o reluro,rsue{ ê rellqeH op opor\| oruoc ogtBtlag y L
'o^rlnrlsur e ocru.rglod 'ocr1g3o1ode soreugB solad
as-uralredel serqo sens sV 'eurlel oqssaldxe ep
glsuo elnllnc eun êp ogórn]
-rlsuoc eu o^rsrsêp ês-opueu
-ro] 'so9]suc sêrolucso so.l
-reurr.rd sop un ro1 'ocrlgurerE
a o3o19e1 OZZ o qqL êrluo
aluourepelxrxorde optntrr gral
a 'o8eueC ura opeuc roj'ogórp
-er1 e opun8eg orlgrnv ocren
ep oduel op' C'p lll-ll solncgs
sop ourlel rolne un ro]t snu
-erllnUoI snurrldag snlurnO ,
'LUêBrxê sreuorcrperl srenlll soluêLulcêluoce sopeululê}êp onb olled l
-sor op opnlrle e 'olrJlsor steu optluos Lunu lttuudxe o op o 'tesued 'le.rn]lnc ulaÊeótlseur e o oçóecnpo e
op seuroJ seuêc 'solueureuodluoc souec eultue enb lotlelut ogórs r o.rqos sopnlsê so ered etcugre]êr eurn nouto] as antt
-odsrp e seLu 'euelunq ercuguedxe ep opetedas oduec uln elueuetld 'opfi)lsut u@ilat O or^ll o nocrlqnd '[661 u]l 086t
'êlsêojoN o p uL eB oss o4 o pó t
nquls O V' Al
-o.rd eu8rsap opu oturo] o ogóece elsoN '«etcueBllBeu» ep otrPJluoc V' A : L L6l'
:iL6t'opónpDL V lll:aL6L 'otcu?a]rclu\ y-ll :696t
I o 9 «oprBrler» e enb nour+e ssoJlos laqcly\ olosglu o osst jod - (ato? 'oeóDcrunwoC V 'l :saLunlo^ oourc uJê 'sêullêH ap
; -!l-eL) ogrBrlar ep ougrluoc o elros (oBtfieu) ercugBrlSau e'e;8o;otutle olnlJl o qos soresuê ê sopnlso êp augs euun noctlqnd
i elsê r.Iloc oproce e6 'eut;dtcstp ep no o;ndllcsa op 'opeplnc op sêp i 086t e 696t êc 066L u..rê esocuerl eruepecy e ered
, -eprlenb se;ed et-es-.tê^olcsop osotBllel olueueuoduoc no epnlrle e i
olrola rol ,86L êpsêp proluels op apeplsrê^lun ep
rosselold J secrjlluorc segón;oirer sep opnlsa oled
'LUrssy'eLllocso eun reul+e 'entlads;ed e^ou eun lol 'olou ep o31e i
; as-nossarê]ur sarrês loqsry\ 'oruJurop olsêN 'ouuoq
: reuro] etrcs eLa7eyol 'osec êlsoN '(ts e telu nÍ'teq;ocel ete?eloqJo^ ou i -.,os eu ercugrc êp eu9]srH êp erpêl9c e nouo] o'sêu
: ureBuo ro] otxral o êp êpeplllqtssod e elo;dxe '(((sosnêp sop eze:nleu i -uê3urA ê pueJjal-]uoruêlc êp
: ep ecrace» 'êluor.ulerolll) wiloe] ojnloi\ êO oln]]] olad eprcequoc i
sapeprsra^run selad nossed
rrr" *r:""^*"r::racjc (e 09 êp epec9p eN qq6t êp
":l Ierê essou eps.rrl ., " not oue ou euosolrl ujo oln]!] nês
i o opuêlqo '-rouadng ;eur-ro11
l elogsl Pu nossarBut eptnBes
'euglsrq ep oEuo; w= Lv6L urê 'le^eN elocsl
oe sepeluouroc ê]uêureldu-re sel^ senp uJoc sou-oll..leLedep 'ot?tpL ep eu ecr]9llrê]ey\ urê ês-norc
erBo;oLlrle ep ogóezselcerec ep selsodo;d seslentp se soulelloc;ed -uaorl eóuerl ep 1ns ou'uaBy
ruê 0t6L op orqLuêlas ap L
opueng 'ezo].rocur ep nerB nos o ulg] setBolou.rrle se sef! 'etoLuou olnq elp ou necseu salros laqsly\ e
-gco^ o enb epepr;eêr ep ogsuoelduuoc ep eL!êlqold o enloser o;nq
-gcon un ep et8o;ou.lrlo ep oluot.r..lcoL.luoc o anb lesued e sopeluê] 'snqtuu oO'sllclJlo êO'DrltctwD eO'alnlcauêS aO
soLuos 'sercug]suncrc sellnLU Llll 'leluêplco eln]lnc ep secleul sep 'otLluv ud'snquonsuoc sucut,totd ag'ouotSo a8el
eLrn g serBolouurle seled ogxted y 'oprlues gs r..un equê] oulrol o enb aO '@l\ soctd11t1 '(V) sDuputlttoC :stedtcuud serqo
razrp ;enb ogu ossr se4 'etcugBue.tqe eutsoul e Llloc ntnltlsqns o zê^ sens se êJlul 'le.raqrl Jope^rosuoc ouioc ectllod
êpeprnrle eun ê^lonuosap e ouecrlqnder oprlred op
eu-rnE;e orlno urnqueu e es-sgdwt or?rpt ourlel oLule] o'ê]uêptco oN ê]uêrj p ês-e3oloc 'resgC êp êUou ep stode6 'et;os
'sêropezruo;oc serepod sop ogóeclltsselc êp ole uln êp opn] -ol!,t Q ê ecu9lar Q opnlo.,qos
ês-eclpop res9c êp ernpelrp
-êrqos L.uerellnsor '- ou.tslnpu[-.1 op osec o I ollloc - ls op ol]uop opep e aluernc 'e3u9lal o euos
-rs.ronrp epuer8 eurn rod seplnltlsuoc sesot8tler segótperl LUec4tluopt -olu nopnlso opuo 'sopou
eloq enb 'sou..r-ro1 sun3ly osotBt;et oluêLuecl+lcedse ot-tglnqeco^ u-tn uo a ersy eu 'ercgre eu nor8
-elsa c 'e LL e 6L oc orpJ3
oLUSAUJ nO '«OçrEr;er» e sê]uole^tnbe souule] uJolelluocua o9u lod no -uled ap opesnce 'snuuêLLrV
'LUercoquoc enb soe srengtedu-toc sosotBtlet soluouleuoduuoc ,1e u-le.t snr3sou olrxQ uro3 Jêpuolop
-erluocuo ogu ;od ogr8r;er ureuo] ogu sonod sun8le enb ueneqce sned oe '3 'e 08 uJe erseco^pe eu
-orno solnur 'xx olncqs op orcJUr ou o xlx olnc9s op leul+ ou epulv os-noêrlsê a ourd.ty uto nêo
-seu o.rocjc orlrrf ocrey\ z
'ZZ'gB6L'sezol :srlodg:1êd out^tp op ouDanLl otcuçuadxa V - utlsêr\ loqotn
'ectu]g opeprluopr eudgrd ens ep eredos os ogu ogrBtlol ens e
onb uJtsse opuellsor-tr 'oluouuenrsseul uJerapuodsor 'elunBrod e eloEe opuopuoo-tdLuoC '(onod nes
op sounlsoc so o seuJlou se ên8os ês 'rozrp ronb) oqruq no ouoLunÓnyt1'oB1s,J3 :osselunBled es
onb nol.llosuoce o opellnsuoc roJ'uepeql op opeprsro^run eu rosso+ord e.lnlle eu 'toput.tJed Áol]]ooC
'onou êp lopuodsol ogu lod LUereqe3e 'ourJol o^ou olso opuocoquoosag 'olstutuv a ouownónry
'op1su3 olluê elole uêssolllocso onb nrpod o sêgóeuruouop op ocuole o 'ogluo 'nopnul Ietuoloc
ogôellstutLUpe V 'uelopuodsor ogu 'ser;oBelec sQJ+ selsop eLUnl,luou e sto^gleduloc tuoleBlnl
as ogu rod 'ouou op solleueld sou ulo^t^ enb soqul sep snu suêulor.,l so ogs sopSod so 'soBel
op o^od o ered 'onb lesuod ues olsr lopSod 'ouounónyy 'op1s,JC :seuoBolec sgl] olstnold
equt] 'epeztleluoptco oltnul 'ogóerlsruru-rpe e 'eugBrN eu oluouteosuocol uln op ogtseco lod
L olxol
I
I
I
-l
I

5 Lucius Caelius (ou Caecilius) Firmianus Lactantius


b) A segunda via etimológica é, com frequência, mais citada - talvez fazparle do conjunto dos primeiros escritores cris-
porque em certa medida corresponde mais à experiência histórica da tãos. Já como professor de retórica, converteu-se
ao cristianismo, e teve um papel muito importante
cristianização. Tanto o teólogo africano Tertulianoa (155-220) como na apresentaÇão do cristianismo, como nova reli-
o professor de retórica Lactâncios (260-325) protagonizaram essa gião, aos intelectuais da cultura latina. Quando já
escolha. Para estes, religio teria origem em religare (ligar, vincular). tinha uma idade avanÇada, o lmperador Constan-
Lactâncio declara que o termo religlo descreve esse vínculo de pie- tino fê-lo perceptor do seu filho.
dade que une Deus à humanidade, ao qual o crente responde como I

quem obedece a um pai. Como o cristianismo aprofundou, nesta cul-


tura latina, a ideia de um Deus que não se confunde com a natureza
e a sociedade, permitindo diferenciar os poderes - o político e o reli-
gioso - e os saberes, esta etimologia favoreceu a ideia de que a reli-
gião é essa experiência simbólica onde se (re)liga o «céu» e a «terra)),
a humanidade e Deus, o mundo, o criador e os crentes entre si, cons-
tituindo uma comunidade. A ideia bíblica de alianÇa, num contexto
cultural novo, é aproximada de uma experiência muito central na his-
tória da romanização - fazer pontes, ligar territórios divididos para
que a comunicaÇão seja possível. Não é estranho assim, que o termo
pontifex (aquele que faz pontes) venha a descrever aqueles que exer-
cem autoridade na lgreja. Ainda hoje é corrente chamar-se ao Papa,
na lgreja católica, o Sumo Pontífice.
llustraÇão 2: Ponte de Vila Formosa, sobre a ribeira
de Seda, Alter do Chão, Portalegre, em Portugal.

Este trabalho sobre a arqueologia das palavras é o rasto de uma per- 6 Émile Benveniste,
manente procura de interpretação do que se vive, individual e coletiva- linguista naturali-
zado francês, nas-
mente, sob a designação de religião. lndependentemente da maior ou ceu em Alep, na
menor verosimilhança das explicações etimológicas, estamos perante Síria, no dia 2'7 de
a consciência de que a religião se descobre na cultura num conjunto maio de 1902 e fale-
ceu em Versalhes,
de atitudes, gestos, comportamentos, discursos, mas também numa em França, no dia 3
determinada forma de se estabelecer relaçÕes. A religião não é um de outubro de 1976.
acontecimento «alienrgena» face às dinâmicas que constituem as Os seus estudos,
sociedades. Ela descobre-se nos modos de habitar o mundo, de agir com um elevado grau de especializaÇão, tornaram-
-se uma referência no domínio da linguística geral e
sobre ele e de buscar o que pode estar para além desse mundo. do estudo comparado das línguas indo-europeias.
Entre a sua vasta obra, pode selecionar-se o con-
junto dos dois volumes dedicados a Problemas de
linguística geral (1 966-1 974).

Devemos ter em conta, ainda, a importância de um vocabulário


? Filólogo e antropólogo
que, não sendo um exclusivo do campo religioso, tem aí uma inequÊ
francês, nasceu no dia 4 de
voca centralidade: o vocabulário do «crer» (o crer, o acreditar, o cré- marÇo de 1898, em Paris,
dito, a crenÇa, as crenÇas, etc.). lmporta aqui ter presente os resulta- cidade onde veio a falecer,
dos da investigação levada a cabo por Émile Benveniste6 e por George no dia 11 de outubro de 1986.
A sua tese de doutoramento
Dumézill sobre o vocabulário indo-europeu e sobre as raízes latinas apresentada em 1924 (O fes-
do vocabulário do «crer». São estudos desenvolvidos nos anos 60 do tim da imortalidade: estudo
século XX, que permitiram aproximar as palavras formadas a partir da de mitologia comparada
raiz éraddha, no sânscrito, e os termos latinos credere (crer) e fides indo-europeia) tornava já
evidente o seu interesse e a
(fé). Benveniste e Dumézil, nas suas obras - respetivamente O voco-
sua competência no domínio
bulório das instituições indo-europeios (1969), e /delos romonos (1969) da antropologia comparada dos mitos. Nesta área
- mostraram como este vocabulário do «crer», na literatura védicaB, do conhecimento, Dumezil alcanÇaria, na década
de trinta e quarenta, um impacto assinalável notá-
designa atos de confiança em outros seres, na realidade de certo vel. Entre as suas mais influentes descobertas con-
acontecimento, a existência de determinado ser, naquilo que alguém tam-se as suas conclusões relativas ao carác-
diz, ou mesmo aquela confiança do ato de dar (confiar) algo a alguém. ter tripartido dos sistemas sociais da maioria das
Benveniste vê este perfil semântico numa das etimologias indo-eu- sociedades indo-europeias primitivas (uma f un-
Ção do sagrado e da soberania; a funÇão do guer-
ropeias possíveis para o termo latino credo: kred-dhe, que se pode- reiro; a funÇão de produção e reprodução). Ensinou
riatraduzir por "colocar o seu coração em algo" (o "coraÇão" no indo- no Colégio de FranÇa, durante vinte anos (1948-
-europeu e o próprio órgão, mas também o lugar de alguns afetos). 1968), na cátedra de CivilizaÇões lndo-europeias.
Em 1978, foi eleito para a Academia Francesa.

Educação Moral e Religiosa Catolica lg


I

I
opunr\ o reuJrolsuetj ê lellqeH Ep opon ouoc ogr8lleg y
'so^od sop
leln]lnc euguJoru eu sotS]lso^ LUelexrop onb secr]9rd 'e^lp9p ep ollncllc o LUeluoL!lle onb sogÓ
-elol rxê sosnop soudgJd so ê^lo^Uo 'sopeporcos soluêrolrp seu 'sosolBllol soluouleuoduloc
so o^olcsap onb op ollnul anb g ênblod ror,llollr ropuoordlroc 'LUlsse 'sou-lopod 'LUêElxê secol]
sesso onb eóuetluoc op etcuQuodxo e uJoc ogÓelor relncrued eLun sosolBllo.l soluêLueuoduJoc
o setopt seu Q^ onb oso]gdtq e LuernSosrod 'sopepêlcos sep oqÓlnlllsuoc eu lerluêc I e^lpgp
ep elcugpodxe else enb ercugptno LUo u:eresnd segrBrpeg sep etSolodolluv e o elrg]slH V
'eóue;;uoc eP 'ol!PPrc oP ole^rê]ul
o g oss: 'odutel êp oletLl uJn LUoc llsrxo Luepod solse8 sosso enbtod LUqqLUe] seLU 'oluêlollp
g oqocol os e gp es anb o enbtod 'ole^lolur un gH '(uJop-etluoc) «laqocol» op sotseB so 'o1etp
-otJt op 'Luêpuodse;loc ogu (LUop) «rep» op solse8 soe 'slelsos seQÓenlts sellnu ul3 'exe;duoc
sreut ogóe1el eLUn tes epod ecot] V 'soêug]lnLUrs soduue] ua oluêLUellessêcêu Lreuolcesuel]
ês sopl1lo^uo suop so Luêu 'solelqo seuede Luê^lo^uo o?u secol] se serylole^ nês oe oluenb
'seluelenrnbo ros Lllopod se;e enb -teteptsuoc eltu-lled sou
enb ec;lgquls opeplcedec essou e I 'oluolê]lp orlno
rod olelqo uJn ocor] opuenb oluêpt^o I ossl 'Jole^ Jlnq 'soloqd u.rnuBeyl 'uêsltpuog seuol'sectld;ts ê solo^
urequeduroce uêpuoce as anb selerr sV'elssfU eu 'elslleg oqof S
-rrle op epeprcedec ep ogóezrlrqou.r e eBtxe ecoll e enb 3 op elsêl e uoc ê]uêptcutoc 'eurnlou opepl^llsêl :, ogÓerlsnll
'uuaEeztpuerde ap sopetBelrnrld sereEnl sop uln 'elcuQlr
-edxe elseu 'operluocuo glê] eueLUnLl ecll9qulls opeplc
-edec ep olueLut^lo^uosop o enb ep eselgdtq e ulelecoloc
secr8glodotlue soluêloc seuoC 'eóuelluoc e eted selcuQ]
-eduroc sens se opueztltqoLu 'ogóe;el ue soueunq sales
so ecoloc olede ess3 'LUeltssacou sollno enb o u.renssod
enb e 'u.rg1 soJlno so enb oE;e ep LUeltssêcou enb ulelqoc
-sep sodnr8 o sonp1^lput so 'tlloltlslsqns eled 'sopepelcos
sep ogón;1suoc op leolcnu ouJStt.ueutp o L.uelo+ ecoJl ap
sagáe;e.r se enb 'XlX olncgs op .tt1;ed e ule;elueuue;dut
es enb seeóe8rlsenut se êpsop 'nollsouJ etBolodolluy y
eóuet,tuoc
ep ouBrp g enb alenbe oluêLuestcold g «1et1» - olel] un
êp oluoLurcolêqelso ep elcuguedxe e.u aBtxe es enb eóuel1
-uoc p opuelede 'ougtctpnl optluos uln op eóueseld e1Lo1
sreLu eLun ulê] eullel ecllugLl.lês v soul^lp solês o sou 'solor-ld urnu8e4 'qqa6 xêlV'erpul 'elên
-elrnll saros êlluê ecoJ] op solelluoc 'opoLu nos e 'ogs eqqúny eqey\ elsêj eu'epuê..1êjo op lenltr urnu roqlnn :e ogÓerlsnll
'orcrgr..uoc o olelluoc op sole soJlno op soullxg-ld og]se
o]lnc ap sole sO 'steol oÇs sêsnêp so enb opuodnsserd
'sepuorolo woze+ enb selopetcoBeu ouoc os-L.ueluos
-aide 'sesnêp so olueled 'soueu:nq solos so 'eueulol etB
-ololrl! eu oLuoc seuetput selnqg,t seu olue] 'enb nollsou.l
IrzgLUnC
'eredse es enb êpepleêl e ered no 'ertdsut ulgnBle
enb eóuet,tuoc e eted uleluode soluJo] so :solellulls sopec
-rlruBrs rerluocuo sourepod enb (1et1) silap4 ê snp.,J so^l]
-elpe sou no '(g+) saprJ oLrou ou g 'oullel olrglnqecoA oN
'epnle lopacuoc ep zedec e osolepod lod
oprl o81e no 'eueuJnq no eut^tp eossed eLun o êcêlêqelsê
e enb e;enbe êrluê eloltp 'leossed opóe;el euun egdns otr
-glnqecon else enb êp etopt eu se]-têqocsêp selso llLunsal
erncord lrzgLUnC 'e^!pgp êp etuJouoco eulnu sosnop so o
soueurnLl sêlos so LUoAIoAUê ogóonap êp sole se1s1 'seÓ
-uoop sep ernc e no selnl seu ellg]l^ e oluoc 'solo^e+ slels 'c e 0091 a 0002 êrlua - os-]exr] e
-edse srqr,t snos soe opocuoc enb ;opeop o g enb snep opeóouroc grêl ernleraltl else enb ura opolred op ec]ase osuêsuoc
uJn lrcrlrp oprs urêI'clê 'ogóetdxa e ogóerBesuoc 'oluoueluecuo op
'elnl euJn op os-tnc ou snêp LUn e suoLuotl sop ogÓonap selnurg] 'sopelrp 'saeóero 'sorqrgro]d 'soutq tnlcul o9Óêloc essf
:sosnop snas so elueted seossed sep ogóonep ep solseB 'eredorna-oput enBu.;q renbqenb ap etnlerê]tl eEllue steur e g enb zen
sou aluêso;d elueute;nct1;ed glsê oclxql else 'ogt8t;e.t eLrn 'lêAglou ougralrl otugululed un I epê^e^relv o o epa^.,nlal
ep orlgdouoLU 'u-.lsse 'opuos ogN 'snoC nos o olueled 1et1 o 'epa^elueS o 'epenBr6 o :oltlcsu-es uro solt.,cso 'soperBes so;nt1
orlenb ap olun[uoc u]n ap ês-e]e.t1 snpulll seol]gso;t1 a sesotBtla.l
op eudgrd eóuetluoc op opnltle e;enbe oLuoc seul 'opoJc saeórper] sep eluelroduut steLx eJnlelê]ll e uênlllsuoc sopa sO 8
L.un e ogsope oLUoc ogu '«eÓualc» e ollodsêl zlp oL.lllol o
I
I
I

Texto 2
Peço-te, ó Deus,
invoco-te durante a noite.
Nós todos, homens, somos protegidos por ti, todos os dias.
És tu quem caminha no meio da relva alta.
E eu caminho contigo.
Quando durmo na minha cabana,
é contigo que durmo.
Éa ti que eu peÇo alimento
e és tu quem o concede aos homens.
É a ti que eu imploro a água parc a minha sede.
És tu que proteges as nossas almas.
Não há ninguém acima de ti, ó Deus.
Tu tornaste-te o antepassado de Nyikango.
Tu eras, ó Nyikango, o que vive com Deus.
Tu tornaste-te o antepassado dos homens,
e do teu filho Dok.
Quando acontece uma fome
Não és tu que atrazes?
E esta vaca que está aí, não é para ser imolada
e o seu sangue chegar junto a ti?
Oferendo para se conseguir umo curo, Oração do Sudão na versão portuguesa de Armando Silva Carvalho
(A Oroçõo dos Homens: uma antologio das trodiÇões espirituois. Lisboa: Assírio & Alvim, 2006, 21\.

ÊducaÇão Moral e Religiosa Católica 110


opunu\ o -reurolsue:1 ê relqeH op opol ouoc ogrBrleg y ,L
'o3slNn
elad opunyl op lein]lnC eóueraH ou.toc opeu8tsep ro1 ue'ttBueg souaqo3sap
ofoq gle souelrnq srassg] sop o7o6Ç tnssod enb 'uertBueg nêsnl4 ou snlcala
ouroH op llssg1'tIOZ êp olquo^ou êp 9Z'elsquopul 'ueBerS:9 ogÓer]snll
'snctloquB ouoLl
op ogÓeLurue epeculA sleLU zo^ epec eLun soLUeliel]
-uocuo 'oqóeztutu-toL.l op etn essoN 'sueldos oaoH o
o snlcêra ouoH o 'stlqD[.] owoH o aJ]uo ogóe1e; ep
oóer] eluepodu-tt steu..t o g ogóez;loquls op opep
-rcedec ep oluol.lJtnlonuosêp o 'ogóeBtlsenut êp so]
-uolloc sredrcuud sep eun ued 'octoclo oLUoq
op epr^ eu ecllgquls opep!^lle ep opnlso oe o9Ó
-uole opuer8 eutn opacuoo erSolodo:1ueoeled y
snclloquÁs oruo;1
'crqdelSoeg IeuotleN'lelg sêtrtef 'eocsqd ap eqll eu leon sen]g]s: :9 o?Óerlsnll
'. 1 :.:
*.
":çj*!l:l.l:::,:,",
JlllusueJl a le3lunuoc 'lezl;oquls 'z'L
J
No quadro desta hipótese, essa trajetória poderia ser descrita a par-
tir dos indícios de atividade simbólica. Esses indícios apontam para
ilE -r-g
a evidência de que na ação está presente um determinado sentido,
que determina, organiza e interpreta a realidade material envolvente.
A manipulação do fogo, a simetria nos utensílios, os materiais usados,
as cores escolhidas, denunciariam, assim, a elaboração de sentidos
que não podem ser explicados apenas pela utilização e funcionalidade.
Com o Homo sapiens descobrem-se vestígios mais evidentes desta
atividade simbólica, como enterros, estatuetas ou pinturas rupestres
(cf. llustrações 7, 8 e 9).

Nesta linha de leitura, l\uiircea Eliadee, no seu Trotodo de Historio das


Religiões (1954), defendeu que a primeira experiência simbólica de
transcendência se relacionaria com a observação e contemplação
da abóbada celeste. Lido como teto da terra, horizonte inacessível,
poderá ter sido um lugar privilegiado dessa experiência misteriosa do
inabarcável.

Características do simbolismo
Gilbert Durant10, discípulo do filósofo Gaston Bachelardll, com a sua
obra Estruturas antropológicas do ímogínório (1960), foi o protagonista
de um enorme esforço de compreensão do símbolo na história e no llustraÇão 7: Utensílios da ldade da Pedra.
psiquismo humano, a partir do paleolítico e do neolítico. A sua pro-
posta resume as dimensÕes desta atividade simbólica em três eixos.
a) Há uma dimensão a que G. Durant chama mecânica, que se des-
cobre nos esquemas de representações figurativas: gestos, mímicas
e danças.
b) Num segundo plano, este autor considera a dimensão genética.
Diz respeito, no plano biológico, às faculdades e aquisiçÕes que, indo
além do regime do instinto, distinguem o Homo sopiens de outras
espécies animais.
c) G. Durant qualifica de dinâmica a terceira dimensão, uma vez que
ela tem uma relação particular com capacidade de ilustrar e narrar.
Nesta direção, para este antropólogo do imaginário, o mito, figurado
ou narrado, é o melhor exemplo do resultado da dinâmica simbólica
do neolítico.
Esta via de análise reflete-se nas conceÇôes que veem a cultura
llustraÇão 8: Testemunho arqueológico da atividade
como sistema de símbolos. Sistema que permite às pessoas e gru- neardentalense de sepultamento, em La Chapelle-
pos, em determinado contexto, reconhecer-se como .pertencendo -aux-Saints, France.
a um mesmo espaÇo social, viver uma história comum, comunicar e
organizar a transmissão cultural entre geraÇÕes. Mas, também, saber
onde estão, de onde vêm, o que podem esperar, Neste sentido, torna-
-se patente a etimologia do verbo «simbolizar», a ação de unir o que
foi separado; abrir para significados novos o que se recebe, utiliza
ou descobre (cf. Texto 3).

Educação Moral e Religicsa Católica


opunt\ o reurjolsuerl o -relrqeH êp opot'\l or-uoc ogt8tleg y gr
'(tg6 [) leuotce] oLr"lsll
-euoleur O :(6161) opectlde oursrleuolce.r O :(1t6t)
eeuglodtualuoc ecrsJ1 eu oóedsa op etcuglrêdxê V
u.r03'jloqopreuool MMM :(/t6t) o3o] op êsrlguecrsd V :(rt6L) ocUJluar3 olrr
-ldsa onou O :(6261) êpepr^rlelêr ep o^llnpul .lole^
'oilD?tc ap ocol o /]!oa opreuoal O:os-erJêr 'sejqo sens se ollul êuuoqlos eu leu
'seplconbso ogjos sleulel -rsuo e orê^ êluaurouê]sod 'uo[t6 êp apepls.]a^
-run eu eUosolrl ap rossolo.ld !o,t'O16L ê Ot6[ ar]ua
'uelej anb soloqLUJS Luell^ sesloS se 'souJle^llec se os o seu 'leleu apeptc ens eu ectulJnO ê eclsll op los
-selord res rod noóêuroC oluêtl]lcêquoc ou opóeutB
sercu?rjêdxo sessou L,Lla sepllosul Luolo, os 'leLllo ossou op -eu.r ep leded op ogsuaaldu.toc elad assarelut relnc
opuodêo 'oloqLu]s os-reu.lo] opod opnl'oloqLu]s op ogÓunj -rUed urn nolunI seual se]se
V 'ocUgsollJ oluauresuad
e oLUnsse '(red nau) elop oluololtp opeplleol ellno eco^o olcedtur nas o ê ourêpoul ocu
'(or;eBrc ep ocoi) g enb o lexlop tuos 'opunu op opeplleol -!]uoic oluaurcaquoc op etrd
eurn enb zo^ epol 'oloquls noJt^ êll 'loAPL!llsoul o^lle1e -g;d eze.rnleu e resued tod
ês-nossêralur 'xx olnc9s op
role^ urn eque3 'ele+ o elqu;ol stod 'oltelns elln e;3 'led eued eoq L!a oluênlJUr .ropes
noLU op esneo rod u-ttt-u eled ectltu8rs ele enb op 'olluep ep -uad 'sued uro '2961 êp orq
-nlno êp gt e nêrrour e'auBed
rrlred e ol-gtllo souepod se17\ 'ulnquou role^ ulol ogu 'oco1 -ueqc 'êqnv-rns-re8 uo
oLuoo 'enb tn;cuoc o eutloclu op lon1u o 'ouun; o 'eqled e ep ou
'7BBL êp oqun[ ep LZ
nê3seu 'prelaqce8 uolse9 rr
esrleue elsl 'etcugtc ep JeLllo o f 'o:lnêu o1e[qo u]n oLuoc
'elo+ op opeLllo les epod olleBtc op oco] O 'nopnlu leqlo
'GB6L) ouput?Dtut op soctSgloduluD sunl
ossou enb.rod 'soLuepnul sgu o sestoc se 'oBol ossoN 'selo -nrtsa sy :(9661) DiSoSopad a ougutBouLl :(086t) sDZ
e souenlrqeq sou r.ut; lod o soLuecllsotrJop se stodep -apunlud sop ot7olorcos o ê êstlpuDltu :apDpatcos
'oluetuequerlso souJlluos o.lteut.td 'sesloc sep oluelC ê otlw :$L6L\ Dalgquts opóour?ouLr V :se^lleluos
-erder sreur serqo sep seun8ly'eoqsrl op e^oN
'["]«;enrn ered enres ogu 'ltnles e;ed apeprs-rêArun elad oplnqtrle 'DsnDC sr-/ouoH oluotl.l
-erolnoc o ruoc'6861 ua'opercelSe rci'(otBololttll
o^r^ ogu urenb :soulopuoJde eptn ens op 'solul^no ecoq ens a opqLUS 'olrl ) êunlo^ unu seplunor stodap 'eoq
oC» :souro^orcso equnl ens uf 'soutezeld enb se:olen ep -srl u.ra sercuQroluoc ap atlgs eurn notcunuord sgc
-uer] rolne ê]so 'LB6L ur: 'ect]glsê ep odu.Lec oe son
rerlrurej odrlgnbre un eroBe gl-'led op elnBr; e eluese;d eu;oj -rlecrldxe solêpoLU salsêp soQóectlde ap olun[uoc
'epr^ equru LUo osoce epure wazelo êUo,t oJtotlc nos o ectdl1 un sgdord puernC C '(sodrtgnbre no stetplotut.td
suaBeurr êp e^rêsar) ontlaloc ê]uêtcsuoJul op el.roo]
roc ens 'oquuptn unu opeplene 'oloqLu;s tiln J 'o.ueBlc ep ens ep o (t 961-9181) 3un1'9'C oÔlns op asrlguectsd
oool un sreLU ? ogu o.ueBtc êp oco] o'eluetp LUo eloL,l elsog op soqleqPr] sop selcuÇnllul
nêqacor uJÇqLr.re] se6 (oBo;
'ercuelsrxo epesuec elsop ope]laqll lo^el,l o 'soue 79 ery'enBy'erre11 salcopeduS I ffil{,J"
ap eruoBou.rsoc ep srerp.ror.rl '."t ffiS;+*""'
seuede uroc 'olueututlnJ ouelua LUn op solue soluoLuotll
'opeurn; et^eq ted neu enb ouurl;ç o elol 'eqled ep o;leBtc
op oprsoloreLUe ocol Lun :epl^ ap leuls ujn el^eLl euoul e
enercunue enb edo;enuo ou enb tqecled 'elutnBes elp oN *,,üÍ,ffi.
'o góectunuuoc essou -ttpuedxe e no.uou-r a LZ6L ap oreu êp
e.ted'relrcsnssoJ e;ed sotttollotlt :epun;o.td opepluêJas L e nêcseu 'puelno lrêQllc or

L
eneuroJ 'seuruBgl sep ogt,lltqJnl oN 'sasled ollenb ua
'ogtEtle.t
esredsrp 'erl.!ueJ e ltun eted ogqunuoc op elulo] ouloc ep sopnlsê so'sepe3Çp aluernp'nolcuênllul'nouop
o gLulr ouroc epepnes ero ouoLu V '«ectBlgg eu stnopols -rooc onb 'segrBtleg sep euolsrH êp or.rguorcrp lel
o e Áng o uoc o Vnl sou JeLUopleM o Luoc 'equeluolv -uêtunuotu g'oEecrq3 ap gpeprsrê^tup eu segtBtleg
sep euglsrH .,eursuê e ogt8tlag ap olueueuedep o
eu oBrluoc oluosold lelse lepod e;ed 'oóedse ossou .ir8r.rrp.ered 'nozrlernleu ês apuo 'ectlgu.lv ep soptun
ou 'aluouuenrlru4op '.le;1uo eled a;ep oóedse o noxlog sopelsf sou êluêu-je^tltutlop ês-nolelsur'stodêp
soue êzêr1 'esocuel] enEu.;1 Lue setqo ses..rê^rp noc
'no8eqc seur nlued ogu tede6 'sgu oJluo steLu noxtop o -rlqnd anb uro olxaluoc 'epereduto3 ogtBtlag ap ros
seuu 'sgu op nol] o ogu sno6 'optlon6 'ted optlenb ossou -se1o.rd ou.roc 'auuoq.ros êp êpeptsra^tu1 e e.red
reqleqeJ] sue6 ered lo]'9161 url eoqsrl rod a serp
'operederd sreLU o ts eled nêqlocsê o uln e uJn sou-noLllO -uo1 rod opuessed 'lernllnc optpe ou..1oc 'ect]9L,tl
'JouJe op o gl êp olnqtJ] un 'eptlled enl op ollJSoLU elp ou -o1drp errarec eurn'ogluê'na^lo^uasac'alsêlecn8
ure'eBor arqos êso] euin Lroc'eÊ61 oluêurerolnop
'sgu ep nrBlxe snog 'eJtelesstnle etc1lou eLun zell al ele nês o ê^ê]qo leluauo erjosolll a oll,l3su9s lepnlsê
'serlno ap aluoJo+tc 'eliec elso sêlol opuenb enbtunyl tua ered glnc;e3 êp apeptslo^tun
relso so^op g['opuenp» :otlg]sttu uln elled 'ulelo^olcso eu sopnlsê nrnEessold 'et1os
sopol 'orqe e elueLueBollos 'eu1gd ep eueo ertetltld e
zer] orlr o;rêlrec O 'ople] ep seJoq senp ogs 'se;euel sep -olrl uro as-norcuectl 'o3
-lqc uê '986[ urê narrou
seluêprl LlJe^euoce e senb;ed sou Luetpo;dxa se-to;,t se 'ê]sêrecng LUê '206 L ap oóI
uo!71'eLlueurolv eu enbrunyl'996L ep olsoBe op LL erf ap tL B!p ou nocseu 'ouêu r*
I olxal
:j,'":l,""''#,=n'nn"3?,^"'" l'* - *fl
=J
I
I
j
I

E necessário ter em conta que esta atividade simbolica presente no 12 Paul Ricoeur. Este f iló-
quotidiano humano nos remete para a propria génese da experiên- sofo francês, nasceu a 27
cia social humana, O filósofo Paul Ricceurr2 pode ajudar-nos a corn- de fevereiro de 1913, em
preender melhor as modalidades pelas quais o simbolismo constitui Valence, e faleceu a 20 de
maio de 2005, em Chatenay-
as culturas. -MalaLrry, Paris. Foi aluno de
um importante vulto da filo-
sofia francesa do século XX,
Gabriel Marcel, e foi profes-
a) Sublinha em primeiro lugar, a natureza pública daquilo que sor nas Universidades de
dá sentido às açÕes - a cultura e pública porque o é a significa- Sorbonne e Chicago. As suas
obras tocam alguns dos dos-
Ção" Assim, as mediaçÕes simbolicas têm um carácter institucional. siers mais importantes da filosof ia contemporânea:
O simbolismo resu ta da interação, constituindo totalidades que a fenomenologia, a hermenêutica, a ética, a lingua-
não são redutiveis aos seus membros: familias, grupos etários, gem. O seu trabalho foi decisivo para compreensão
classes sociais, comunidades, sociedades, Estados, civilizaÇÕes. da atividade simbólica humana e do papel da nar-
rativa para a nossa própria compreensão. Devem
A atribuiÇão de um determinado papel aos indivíduos reunidos nestas
referir-se as seguintes obras: Acerco do interpreta-
instituiçÕes é a primeira função do simbolismo. Çõo: Ensoio sobre Sigmund Freud (1965); O conflito
de ínterpretoÇôes (1969); A metóforo vívo (1975\;
b) O simbolismo tem um carácter estrutural. Ou seja, os sÍmbolos Tempo e Norrotivo l-lll (1983-85); Do texto d oçõo
formam um sistema na medida em que estabelecem relaçÕes entre (1986); O omor e ojustiÇo (199-ll.
sl. Um determinado gesto ritual só ganha sentido na medida em que
está integrado na trama que é o conjunto da ação ritual. Pensemos 13 Emile Durkheim, originário
em coisas tão comuns como o que, em cada comunidade ou cultura,
da Alsácia (FranÇa), nasceu
descreve o modo como as pessoas se saúdam, como vivem e recor- em 1858 e morreu em 191-1.
dam o acontecimento da morte dos familiares, como tornam presente lvlostrou um grande interesse
um membro da família ou da comunidade que está longe, como se pelas explicações científ i-
assinalam acontecimentos importantes para a memoria coletiva, etc. cas para os problemas que se
viviam no século XlX. lnteres-
Qualquer ação, nestes contextos, recebe o seu signif icado na relação sou-se pela observaÇão dos
que estabelece com o coniunto. É como o fragmento de um texto, SÓ fenómenos sociais enquanto
integrado no conjunto da narrativa acede a toda a sua signlficaçâo. «factos sociais», segundo
determinadas categorias
c) As instituições têm, também, um papel de regulação simbólica. sociais (a naÇão, o grupo reli-
Sob este ponto de vista, a ação humana caracleriza-se por ser uma gioso ou político). «Facto social» seria qualquer
conduta com normas. Não será por acaso que se pode estabelecer valor ou modo de agir que, a partir da sua natu-
reza coletiva (social), se impôe ao indivíduo. Para
uma analogia entre o «codigo genético» e o «código culturaL». Um e Durkheim, a sociedade humana não seria viável se
outro são programas que enquadram a ação, embora não se possarn não existissem valores que estivessem para além
comparar quanto ao lugar que neles tern a experiência da llberdade. das manifestaçôes individuais. No quadro destas
Os códigos culturais podem ser um lugar de subversão. E, por isso, as indagaÇões, Durkheim defendeu a necessidade
comunidades e sociedades criam interditos que protegem as normas de uma disciplina cientifica para estudar os «fac-
tos sociais». Por isso, ele é recordado como um dos
mais decisivas para a manutenção da vida coletiva. «fundadores» da Sociologia.
d) A ideia de regra implica também a de troca. As diferentes tran-
saÇÕes numa cultura dependem do reconhecimento de va ores par-
'o Quando chegaram os primeiros europeus - holan-
ti hados. É aqui que encontramos um dos significados mais antigos deses e dêpois ingleses -, os aborígenes australia-
de símbolo, a que 1á se fez referência. Quando dois grupos juntam os nos (população autóctone) apresentavam manifes-
dors fragmentos separados, então o objeto dividido tem literalmente o taÇões artísticas e religiosas próprias, bem como
conhecimentos náuticos e de navegação. Viviam da
valor de sÍmbolo, ou seja, re-ligam, juntam, significam a vida partilhada.
caÇa, colhiam frutos, pescavam e domesticavam
Ainda hoje é comum, nas nossas sociedades, que as pessoas, quando alguns animais. A partir de 1170, quando os colo-
se casarn, inscrevam nas suas alianças o nome do outro. As duas alian- nos ingleses reclamaram a posse da metade leste
Ças - antes trocadas - quando juntas, tornam-se o símboLo da vida que do continente, como se fosse «terra de ninguém»,
partilham. Quando falamos da eficácia dos sÍmbolos é para isto que iniciou-se um violento processo de desapossa-
mento. Mars tarde, essa situaÇão social deu origem
apontamos: ao dizer, rea izam. a diversas lutas pelo reconhecimento de direitos
e) Pode dizer-se que os sistemas simbólicos são o contexto que civicos. Nos finais do século XlX, foram desenca-
deados procedimentos facilitadores da assimilaÇão
permite a descrição das ações individuais. Pensemos num gesto étnica, através da separação forÇada de crianças
simples, como levantar o braço. Consoante as situaçÕes e as culturas, aborÍgenes dos seus progenitores, para serem ado-
ele pode sof rer eituras diversas: saudação, ameaÇ4, indicação, implo- tadas por brancos ou colocadas em orfanatos. Esta
ração, apoio, etc. Tenhamos em conta a variedade de gestos de sau- prática de remoÇão de crianÇas do grupo domés-
tico progenitor só terminou já na segunda metade
dação, públicos e privados. Um mesmo gesto pode ser sina de res- do século XX. No século XlX, a vida destas popu-
perto num certo contexto cultural e expressão de desprezo noutra. So laÇôes, sobretudo as mais distanciadas da culturâ
o sistema simbolico permite a sua leitura contextualizada. Por isso, europeia, interessou muito alguns investigadores
Paul Ricceur afirma que o simbolo é uma regra de interpretação. sociais. Supunha-se que o êstudo destas socie-
dades, ditas «primit;vas», permitiria um melhor
conhecimento das estruturas elementares de fun-
cionamento das sociedades e, por isso' também,
a construÇão de hipóteses acerca das origens das
sociedades humanas.

I
I

EducaÇào Moral e Reiigiosa Católica I 14


I
opuny\ o.,lÊurrolsue{ o re}lqeH êp opol ou.ioc ogr8r;og y §t
'ocll9quJrs
orugulrled olse^ Lrn op ogsslutsuerl e 'sêqóelêE se olluê 'ezue?rc o
'leln]lnc olxaluoc opeutullo]êp Lr-lnu 'seossed se etlue ogÓec;unuoc
ê ogr,{unuoc op seLUro,t ep ogóetlc e e}lu;ad 'ecllgquJls etcugtledxe
oLUoc elsr^ 'og!Elle.r V 'eueLr..tnLl atcgdse ep setldg;d secllgqurls sopep
-rcedec seu ezJeJUo os opunuJ o reurolsuetl a Jellqeq op eLUJo+ esso
enb eluoc LUa sourê] uJês lopuêê-tdLuoc epod es ogu eso;E;;al opep 'soprluas snês sop eincold e '«solxê]» Luas
-so] os ou.roc seprl uralês sêpeparcos se êp 0pepls
-!^!le e o olueuesued o 'ocrBg;odollue elsln êp oluod o qos 'ullssv -socau ep eo.roce sêqóe^rasqo sens se sepeluauoc
'opeuopro soLUSoc olrnu gI Lxerol srercos so]ce] sop ectlgqtuts ezol
-nleu ep eluoo Luêssap anb 'estlgue êp seulrort
u:n enb ouroc opepotcos ep )êze+ ep zedec 'opunLU o lo^ op seLulo+ senou nolnco:d 'srenluodstp sopo]gur so uoc ollo,
êp 'sêroleA ep 'seqóentloul êp ulopto epeutuJlê]op euJn eluolsns enb -srlesul 'uolêour-ld ap a oBectq3 ap sapeptsrêAtun
soloqLr.t.JS op euJê]sts LUn oLUos ogtBtle-l e nolueselde qrzuooe pJo++llC sQ'aluaureArssecns 'opeBt; oqleqei] nês o na^lo^
-uêsac socollen ulê ê els
oBolgdortue o 'XX olncgs op opeloLll epunBes eu gl e^lloloc epl^ e -guopul eu soct;g.r8ou1a soq;
elrured enb ocr;gqu.lts olunluoc o 'etldgtd ts op elcuelcsuoc eulo] opep -eqe.r] snês sop sopellnsêl
-orcos eurn stenb soled soloqlLl.ls êp eluolsls o ouJoc oglBtlel e nen so;ad elueurrelnctued '06 êp
-orcsop 'erlgrlsnv ep o,seueBltoqe soqtl] se nopnlso enb 'rrulteq>1ln6 e o 09 êp epec9p e êJ]uê sol
-uonllur sreu soSolgdorlue
elru3 'soBolgrcos so;leLuud sop uin eso;E1;el ogáec;unuoc ep oluer sop Lun lol 9002 êp orqnlno
-nlnrlso oolc!u o ocrlgqLIJIS op etcugttedxo eu Lllelluocuo 'XlX olncÇs op 0e e 'e!,1Çpelll ua nac
op leur+ op rrlLed e 'stetcos setcuQtO sV'einllol ep segÓrpuoc etlc enb -êle, o 9Z6L ap olsoBe ep 97
erp ou 'ocsroueJl ops Luê nêc
oxelurs epeurulê]op elxn g - olxe] utn enb ouoc oqs 'seçÓe sep êpep
-seu zuoêe sêureT prolJllc ar
-lllqlBêl e 'ernllnc eunu no êpeptunuloc eLUnu LUo]lLU;ed so;oqu1s sg
ldiÉl

M
-
'*
r.Í.* r ..i
!&-. :i.ri*
::
I
J
1.3. A natureza simbólica do discurso religioso

Como dizer o indizível? Como abarcar o infinito? Como falar do total- 16 Manuel Garcia Morente
mente outro? Como expressar o absoluto? Como comunicar e partilhar nasceu em Arajonilla (Jaen
a experiência do Mistério com os outros? Estas e outras perguntas são - fspanha) em 1886. O pai,
médico, viveu longe da f é,
muitas vezes feitas quando nos propomos falar acerca da religião e da enquanto a mãe praticava
experiência religiosa. intensamente o catolicismo.
Aos nove anos perdeu a mâe
Todos sabemos como é difícil traduzir para os outros as nossas e, pouco depois, Íoi enviado
experiências mais significativas. Nessas situações a linguagem reve- pelo pai a França para reali-
la-se «curta», «imprecisa» e cheia de dúvidas. lsto torna-se ainda mais za( a sua formaÇáo. Aí inicia
os seus esLudos em filosofia,
evidente e mais complexo se nos situamos no campo daquilo que se prosseguindo-os na Alema-
pode designar por «experiência de Deus». O testemunho dos místi- nha. Regressa a Espanha onde realiza o doutora-
cos, nesse sentido, é inequívoco. Eles transmitem por escrito as suas mento em filosofia em '1911. Torna-se o catedrá-
vivências, mas com a profunda convicção de que as palavras que utili- tico mais novo do seu tempo, desenvolvendo uma
grande atividade docente e desfrutando de um con-
zam não são capazes de abarcar, nem de esgotar a totalidade da reali- siderável prestígio social. Chega a exercer cargos
dade vivida. Por isso, não são poucos os que afirmam ser o silêncio a importantes na administração pública do Estado-
melhor linguagem a utilizar nessa tentativa. Em 1936, por ocasião da guerra civil espanhola, é
ameaçado de morte sendo obrigado a fugir para
A não consciência destas limitaçÕes e dificuldades está, muitas Paris. É nesta cidade que, aquele que se conside-
vezes, na origem de equívocos e erros. Nesta linha, todos nós somos rava desde muito novo descrente, ou agnóstico,
tendo perdido a fé, vive uma experiência que o leva
capazes de perceber como muitos discursos acerca do divino afi- a mudar de caminho.
nal pouco mais são do que discursos acerca do próprio ser humano,
da sua condição, das suas ânsias e perplexidades. Projetar neste dis- I

EducaÇão Moral e Religiosa Católica

I
opunl Õ reu,tro;suell a relrqeH êp opof\ ou-roc ogr8rle5 y LL
'epr^ ap ou.rn.r êp eÓuepnur êp leossêd ersuerJadxê ens P erjeu elêN rolne
op auoL! ep srodêp ec,lqDd nourot as ênb ê elan8rqel eJ3le9 erel 9soÍ' rolnop oe
'0t6 t êp orquolas Luê 'e}r3sê eleS'ouDutp)oillx3 oLlcaH'êluarol ercree lonuer!
'ossrp onb oueunL{-orqos ozoB ossop opepunut
oLu-erluos o o-erqocred ne ê rle e^elso olf salue opunEes
op eursglru eu.rn 'neceredesop oluelsur LUnN 'nourLu;ol
'ras ogu LugquJel ólle olf ,p eóueserd e nourLurol opueng
'f 'l ercugpr^o lo^;lncsrpur
o elnlosqe uoc erqoc;ed o epeu recol LUou 'reeroqes ueu
'lelteqc LUou 'lt^no ulou 'lo^ tros 'no anb e elueseld t;e
enelso e;3 enb ros seu 'ros o ogu nf ;;enlssod olsl g otuoC
'ogóesues uues enb epure erqecred o enb zol eurn 'e;3 ere
enb ep eplnnp JouoLU e re1 erpod ogu a ezilep erolur LUoc
elueserd Je o-erqocred 'opn1uo3 'o1so8 ou uJou 'ole1lo ou
uueu 'olel ou tuou 'oprnno ou LUêu 'e1sr eu Luou ogóesues
eLUnLluau equrl oÇu seLu 'opueóerl nolse enb 'ocuerq olqos
orBeu 'ser1e; se opuo^alcso nolsê ;enb ou laded o oluts
enb u.roc ezdep eLUSêLu e Luoc eóueserd ens e erluas
'['] Ie e^e]so olf seu 'enecol o ogu ê
ernno o ogu 'er^ o ogu nê 'e;3 enelse rlv'opec4uled tenbt;
e ouenb op rorJolur o ered eJec e lollo1 'olsol ou aLu-noleq
ocsorl re op epelet eu,rn 'elouef e rcd tue red op rrqe o
ioLuerl e gd ep ouJ-snd 'repiel uuos 'o1uoruor.lr oLusour
ossou 'eluetrelelpourl Jocoluoce er enb ';engreuaur
';engpruu.ro;'osueur o81e ep oluorurluêsse.rd'ogóeq.rn1
'ogsueerde'er1slEue'opauu :erluos enb o oluauelexa rcztp
ossod ogN 'la^gcrldxeur o]lessoJqos Lun ep ogsserdurr
e qos 'enelredsap enb Luo oluoruoLu ou sossocns sop
oU o or-llocor eugruoLu eLlurru V 't"l 'er;gurproerlxe zed
euJn e^euroj elule eLlurur eN 'erelc o]rnu o euojos e^e]sa
olrou V 'olrou ep ozop se urereos epered ep or8g;er op
, olxol
'epr^ ens e oluor.!lecrper nopnul
oluoLurcoluoce êssê enb;od ê]uêtreuêC ;uleBenBurl ep sê]rLlrl sop '(Bg6L'ePeztl
-ar.rlsnpur erêpeur êp edeqc /s oêlg) oqlrl ereurgo
;esede 'opeprssacêu glso gnb-lo6 '.reEn; enel e;e enb [J.]ê seroLl se re] ogof êp 'olned ogs êp oesrê^uoC V :ZL opóarlsnll
-srBer ep;oueu;od oe opur «orJgurproerlxo oluêLUrcoluoce» u-rn eueqc
enb e o;rnbe êAêrcsêp ê]uêro17\ 'oprcê]uoce o relelêr ered uueBenBurl
ep segóelrLur; sep resedV' erê]uêro/\ eroree lonuef\ êp ogsro^uoc ep
oe rnbe souroirocor sren;uodsrp so;duexa solrnur sog 'ercuguedxa
esso Jo^orcsueJl o requnuelsel op êpeprssêcêu e urê]uos solrnur
oluoc eroueur e e^rlecrlruBrs ê]uêueropepro^ g 'olxoluoc ê]soN
6soluozuoLl so^ou e e-opuuqe'e-opuec4rpou'e-opuerel;e'ugnBle
êp eprn eu eduro.r-rr e;e opuenb 'ercuguadxe elsê relec oluoc 'opun+ oN
1ogóept euin e e oBolgrp LUn e 'oprluês sozon selue] ',olr^uoc, o relrno
no ropuocso oLlJoC ;rer1e enb apeprleêr eurn êp ',sreLU, un êp ercuel
-srxo e u;ela^or enb sercugr.redxe e Juqe ês eprn e 'soluêrxor..r.r solue] LJo
'op olce,r o rerouBr ouroC Lwgp sreLU r e eprnuoc enb eóuese.rd etrn
rod opelrqeLl os-rrqocsop op ercuguedxe e rercuolrs ouloC eeueunq
ogórpuoc ep opunrrord ou ren enb ogrnbe relec ouloc 'epezrpereueB
erêueLu euJn op egduur es enb êpepron eun ros olsrp resede se/\
rrBnl ;enlssod ? ogu ;enb oe e eluese;d
erdues ocsu trtn g eueurnLl ogórpuoc ep oudgrd g enb o;rnbe osrnc
I

É verdade que o texto levanta muitos problemas de interpretação u Juan lvlartín Velasco nas-
e análise, mas o que aqui importa destacar é a enorme dificuldade ceu em Santa Cruz del Valle
em descrever a experiência e, apesar de tudo, a absoluta necessi- (Ávila) a I de marÇo de 1934.
dade de a narrar, e até mesmo com inúmeros detalhes. Como Garcia Realizou os seus estudos
eclesiásticos no Seminário
Morente nos testemunha é muito difícil, senão mesmo impossível de Madrid (1944-1956), tendo
«calar» essa experiência e, por outro lado, a linguagem utilizada não é sido ordenado sacerdote
adequada, não serve, e acarreta muitos riscos. a 9 de setembro de i956.
Ampliou a sua [ormaÇão
Na tentativa de traduzir esta e outras experiências, para melhor as f ilosóf ica na Universidade

poder compreender e comunicar, é necessário utilizar uma linguagem Católica de Lovaina (1956-
-1960) e depois em Paris, na
que seja capaz de dar conta do que se quer comunicar, com a cons- Sorbonne, onde assistiu aos cursos de P. Ricceur
ciência de que esse algo não se esgota, nem se reduz, ao modo como e preparou a sua tese de Doutoramento sobre H.
comunicamos. Duméry, que apresentou em 1961 sob o título Lo
philosophíe de ta religion selon H. Duméry. Etudes
A linguagem simbólica possibilita a tradução, expressão, partilha de so méthodeetde ses préssupposés plhilosophi-
ques. Posteriormente prosseguiu os seus estudos
e transmissão dessa experiência. O símbolo é, como diz Juan N/artín
sobre Filosofia da Religião, Teologia Fundamental e
VelascolT, um caso de «conhecimento indireto», mediante o qual o Fenomenologia da Religião em Friburgo, na Alema-
sujeito toma conhecimento de uma realidade através de outra. A estru- nha. Catedrático, desde 1972, de Fenomenologia e
tura deste processo de conhecimento não é difícil de perceber. Por Filosofia da Religião no lnstituto Superior de Pasto-
ral da Universidade PontifÍcia de Salamanca, com
um lado, temos uma realidade imediatamente acessível que tem sido sede em lVadrid, tem estudado vários aspetos fun-
denominada por significante, por outro, temos uma outra realidade, damentais do fenómeno religioso tais como: Deus,
denominada significado, à qual se chega através da primeira. A relaÇão o rito, o milagre, o sacrifÍcio, a experiência religiosa,
estabelecida entre estas duas realidades (significante e significado) a relação entre as diversas religiões, o fenómeno
místico. A sua obra lntroducion o lo fenomenologío
é fundamental para que se possa passar de uma a outra. Por isso, de lo religión (publicada pela primeira vez em 1973,
na relação simbólica, o significante não e escolhido de forma arbitrá- com sucessivas reedições e atualizaÇÕes) coligiu
ria ou convencional, mas sim por manter uma relação natural com o boa parte do seu estudo neste domínio.
signif icado.
18
Recorrendo às expressÕes «realidade última» e «realidades penúl- Lluis Duch, natural de Bar-
celona, na Catalunha (1936),
timas» propostas por Lluís Duchl8, podemos ainda tentar esclarecer monge da Abadia de Mont-
mais a importância da linguagem simbólica. Deus é a realidade última serrat desde 1961, é Doutor
à qual o ser humano só tem acesso através das realidades penúltimas, em Antropologia e Teologia
pela Universidade de Túbin-
porque a presenÇa do último sempre adota a roupagem do penúltimo.
gen. Ensinou na Faculdade
Ou se quisermos dizer de outra maneira, a transcendência do último de Ciências da Comunica-
somente pode manifestar-se através da ambiguidade e das conota- Çâo da Universidade Autó-
noma de Barcelona. Tr:adu-
çÕes culturais que comporta o penúltimo.
ziu para catalão e castelhano
Aplicando esta terminologia ao discurso sobre o símbolo podemos obras de Lutero, lvlüntzer, Silesius, Schleiermacher
e Bonhoeffer. É autor e co-autor de mais de cin-
afirmar que este não pode ser reduzido a nenhuma das realidades. quenta livros, e mais de três centenas de artigos e
Ele não coincide com a realidade penúltima, mas também não se pode contribuiçôes para obras coletivas. A sua extensa
reduzir à realidade última. Só no âmbito da relação entre as duas reali- trajetória intelectual concentra-se em particular
dades se pode falar verdadeiramente em símbolo e utilizar a linguagem no estudo da religião enquanto fenómeno antro-
pológico. Entre as suas publicações destaca-se o
simbólica. Fora deste contexto surge inevitavelmente o perigo de «coi- seu projeto no domínio da Aritropologio de lo vido
sificar» e «mundanizar» Deus, ou «divinizar» a realidade mundana. Um quotidiono.
e outro caminho acabam por impedir que o discurso reli-
gioso possa ser significativo.
A linguagem simbólica possibilita a tradução da
experiência do Mistério e do Absoluto (experiência de
Deus para as religiões teístas) na vida do ser humano.
Através dela é possível dizer esse absoluto respeitando
simultaneamente a sua realidade e a realidade do ser
humano, ou seja, deixando que o absoluto seja absoluto
e, ao mesmo tempo, utilizando uma linguagem que pode
ser perfeitamente entendível e assimilável por parte do
ser humano, já que em nada lhe é estranha.
Com efeito, o mundo do ser humano está povoado de
símbolos. Basta olharmos com alguma atenção para ,I.o&T*.
.
áreas fundamentais do seu viver para podermos perce- -r -\,\. i

ber esta realidade. O mundo da arte, o mundo da ética, o :tÀ -,:;eil I


.".
*\.'j.,.
mundo das relaçÕes interpessoais, bem como o próprio
mundo do conhecimento nos remetem para esta lingua-
gem. Em certo sentido, podemos mesmo dizer que no
llustraÇão 15: Cadeados numa ponte de Paris, ali colocados por casais
simbólico se revela o umbral do humano. Todos nós que assim quiseram assinalar os sentimentos de amor que os unem.
somos capazes de perceber que as experiências em Por motivos de segurança foram retirados em junho de 2015.

Educação Moral e Religiosa Católica


opunl o leulolsup{ ê JelrqeH êp opo} { ou.toc ogtBt;eg y
'
L L' e)oz'oerrêI les :rêpuelues
'ugt?tp) DI op octtgquts uqtsuawtp of :opqLu)s lêp DptA ol - sauoprer\ elrer! ?soÍ'
'ocrlgqurs oluoLue^rslnduroc ros urn I
ujoulol.l o 'ogÔrpuoc ens ep esollodut opeptssocau lod ?
o 'loJrsseC 'f ap rozrp ou 'snc//oqwÃs owoq'oueLunq los o
ouroc ursse souoJo1';esueduroc op elell enb ossecxe o
e errocred o enb ernsoursop e.re.rqt;rnboal o lesseldxe ep
Jelel] ercd - oloqLuls o - o81e ossop opu Jellop eltssacou
uloulor.l O 'solrocuoc soloLu so enb snw o31o oluetpotu
ossacxo olso e oluêr+ )aze] op opeprssocou e soueqacred
«eueunq ogórpuocr) ens Q setcugrolol sepeuen sens seu
rxoluoL4 o o^r^ enb .rouelut ogó;odotdsep eu enb g ernB
sou enb ogôue1ur y ["] selrnur ogs apeptleuotctodordsep
elso elsalrueLu os anb ure seLUroJ sV 'ossocxo op Jos
LUn 'eJnsolrsop eled opr.uocred glso oueurnq ros O
I
I olxal
'esor8r ;e; êpepr^rssêldxe ep seulroj sesro^tp
seu oluoso.rd ogl elelse 'ecrlgqL-L,rs LreBenBurl oluenbue 'eUe e enb
'ossr rod 'eluedse o95 'ogórpuoc ens ep eluectltdtl e ectdl1 ogsuautp
eLUn 'ougrluoc oled 'seur 'ocrBgBeped oslncol selduuts LUn 'oueLUnLl
ou 'g ogu ecrlgquJrs LrLeBenBurl e enb relri;Ue epod es olst opn] lod
'ogsueerdu.roc ens e ercd ;engsuedstpur euro] es enb 'urg;e steur urn
ered e;dules uleluode seLU 'oluoluolu epec uJa eluourrêdxa e entn enb
oe seprznpor ros LUopod sreu,rel ogótpuoc ê ercuQlsrxo ens e enb zen
eun 'oloquls un g oueurnLl res ogrdg.td o enb rêzrp souopod 'est;
-gue eur];çt LUI 'epezlloqtuls ros op LUo] 'souu;êsrnb ês 'oprluos Lroc
epa)eu ros op ruo] eueurnq ê]uêLUerêpepron ros e;ed epgn V'setp sos
-sou soe gle euelrnLl ogórpuoc ep ogón;one ep ossecord ou ocrlgqulrs
op LueBenBur; ep eóuese;d e sou-e1e^or 'oueLunll olxoc olrp res epod e
oprluês ure] enb o gle 'opr^rn oluêuerour op 'ocrBgpotq ê]uêueJoL! op
ren enb 'os;nc;êd olsf 'eueLUnLl êp epec4r;enb res essod ercuOlsrxo ens
e enb ered 'soprluos ;ernco.rd e sopecr,truBrs Jrnqule ep esrcerd o^r^ o
zegenb o opn] uro o sêpeprssêcou sepunlord sreur sens sq elsodser gp
unLluou opour op olurlsur O 'e]êu ens e Jês rnlur anb o;rnbe e entn enb
o;rnbe erlue ogórodo;dsep eun êlêu alsrxl '«ocllgqurs elueuengs;nd
-ruoor, Jos un g oueunq res o enb elul,re opuenb .rsouoprey\ euef\
gsol ogzer urol'euBunq ogá;puoc eudgrd eu optsor olueureuoduoc
olsêp zrer e enb zen eun 'eLlurl elseu eEuop sreLU Jr epure souuepod 3
'leLu;ou ogóelouoc no
role^ nês op LUgle ered 'seursoLr rs êp urg;e e;ed ueluode 'e[es no 'so;
-oquls ogs glse;e Je seu 'sueBeurr o solrecuoc 'se;ne1ed e rêJrocêr gle
sor.uêpod 'oloqLUJS oe rolocer op êpeprssocou e soLUo] osst .tod 'se1
-rnc ogs sueBeurr seudgrd se o solrocuoc so 'se;ne;ed se 'seqóen1ts
selsaN 6rê^r^ ossou op ros ep ogze) ê oArloLU ua ueurorrsue;] es enb
seossed se;enbe no e;enbe .tod soue] enb ;oue o roztp or-uo3 6euB
-ole esuêur eLUn relsolrueur ouJoC Lezolsuit epun;o.td eutn ;esseldxe
olr.roC 'ecrlgqurs LuaBenBur; ep rr1.ted e sepezrleq;on ê]uêLUepenbepe
;es urepod gs eueurnll ogórpuoc e opeprsuê]ur roreLu LUoc o^tn es enb
I

Como diz José Maria Mardones, o símbolo é a


linguagem da transcendência, pois tem a capaci-
dade de ser tradução no mundo da nossa sensibi-
lidade do Mistério. Ele torna acessível o inacessÊ
vel, sem que este o deixe de ser, lraduz em palavra
o silêncio do inefável e acolhe a transcendência.
É o símbolo que permite estender uma ponte entre
duas realidades situadas em âmbitos diferentes,
podendo por isso ser expressão do seu encon-
tro, possibilitando simultaneamente a tradução e
comunicação dessa experiência. É precisamente
neste contexto que o discurso religioso se revela
como um discurso eminentemente simbólico.

Metáfora e alegoria
É por ser um discurso eminentemente simbó-
lico que o discurso religioso recorre, com frequên-
cia, à Iinguagem metafórica e alegórica. A metá-
fora é uma figura da linguagem através da qual se
relacionam dois termos ou expressôes, permitindo,
através de uma relação de comparação implícita
(em que a conjunção comparativa «como» é omi-
tida), passar de um significado a um outro que int-
cialmente não lhe pertenceria.
Rastreando a arqueologia da palavra (meto - algo e fherein - transporte) mais facrlmente pode-
mos perceber que a metáfora nos aponta para um movimento de transporte, de mudança,
de transferência. Assim, a partir da associação/comparação entre dois termos podemos ser
transportados de um sentido original proprio para um outro sentido figurado. Deste modo, é
possível promover a emergência de um novo parentesco genérico entre ideias que até então
eram logicamente heterogéneas.
A utilizaÇão de metáforas permite, então, estabelecer relações inéditas entre palavras, ter-
mos, expressões e, mesmo, ideias, descobrindo atributos antes dificilmente tnsuspeitados e
multiplicando o seu sentido inicial. Com esta transferência de significação é possível passar,
também, de um processo de simples explicação para um outro de compreensão. Com a metá-
fora não se pretende apenas dar informaçÕes acerca de determinadas realidades ou pessoas,
mas, estabelecendo uma relação entre elas, pretende-se uma melhor comunicação que seja
capaz de ir mais longe do que a mera comparação inicial.

Exemplos de metáforas

t Eu sou um poÇo de dor e amargura.


a Dois diamantes brilhavam no rosto da menina.
a Seus olhos são dois oceanos.
a Meu pensamento é um rio subterrâneo.
Cada fruto desta árvore é um pingo de oiro.
A sua boca é um cadeado.
A vergonha queimava-lhe o rosto.
As suas palavras cortaram o silêncio.
O relógio pingava as horas, uma a uma, vagarosamente.
Ela se levantou e fuzilou-me com o olhar.
Meu coração ruminava o ódio.

EducaÇão Moral e Religiosa Católicâ


I
tLZ
I
'ogórer] ep ê ersucodtq ep euoBele ou-roc onpod o Jecelsêp souapod
srenb se arlua 'erêr1 orugluv'od op 'soxted soo otugluv oluos op opw)os op se-tnBtl seu no :elsrl
-erour LUo] LUnu ouelueLues LUoq op eloqgred e reluocor ered euoBe;e Q êrocar 'soueqes oluoc
'onb 'oluêcr^ lle êp 'DulV op olnv ou 'o;durexa rod re1e1 sourapod enBul1 essou eN 'êpepJê^ Q erc
-ugrouBr epzq eulle e enb ureBessed e erlsolu ocugEele ossecord L!n op sg^erle ;enb o'ogleld
op'ououlc Dp ola o opuê]er res epod e;.roÊe;e op socrssglc so;duexe sororeur sop Lun olrioC
'rlrrxsuer] renb as anb olrnbep ogsueerduroc ror.,llorx euln uelrurred enb 'soprluês so;]no ered
teluode es-epuelerd 'ogóen1rs eu.rn op ogóucsep ep no 'euglsrLl eLUn op opurued 'ogsuee;druoc
lrc1lrp srelr êp opeprleor erlno eurn op ecroce releJ êp onrlelqo o LUoc 'olutnno oe no 'rolrol oe epe]
-ueserde g enb elercuoc opeprleor eLUn erlue epeBrele oqóereduroc eLUn erocuo e;.roBe;e y
'solê]ur solxo] no segsserdxê uJoc sreur euoÊele e o sopelost solu
--lo] uloc ro^ e sreLU Lr-tê] ero,tg]êuu e enb opueLurle 'ogóurlsrp euJn racolêqelso lo^.lssod g segóec
-rpur selsop rrlred y'seJolglorl op euolsls LUn oLuoc euoÊe;e e o^êrcsop 'etolotg oO ou 'orêc1C
LUgqLUef «oprluês oled erlno a serneled se;ed esroc eLUn erlsorx enb epenurluoc eroJgloLU»
eu)n 'ouoJUO oqn::,lsul ou 'ouerlrlurnD erzrp oLuoc no 'epeBuo;old erolgtorü eLUn oLuoc epelêp
-rsuoc res epod e;loBe1e e 'erojg]êul eped eprce;eqelse ogóereduuoc ep ugle e.ied ten enbro;
'ellno op ll]
-red e esroc eurn orqos releJ op ole 'orlno ep ureEeur e LUoc olelqo urn op ogóucsep 'entlernEt;
ue8en8url tazrp tenb euoBe;e oulro] o aluaLulerolrp enb ;eqecred sourepod (rercunue 'oluêuJe]
-roqe releJ'ocrlqqd LUê rele+ - urcneto?o o oluoroJrp 'orlno - so//o) erneled ep etBolouut]ê Q opul
«sop!puocsa
soplluos» no '«soplluos sopunBes» sopelxeqc so 'ogóe1er essêp rtlred e 'rerluocuo e opoL! op
'- elop! oluenbue ope;nBr;uoc orlno o 'opep oluenbue optqecred urn - eluereJlp ezeJnleu ap
sop6aluoc slop arluo ogóe;e.r e elrured enb ue8enBurl ep osrncêr un g e;.roBe;e e LUgqLlef
'LxolouJor sou esorEr
;e-r
ercuquedxe e o oslncsrp o enb e opeptleol e ê]uoLU
-leqec sreuJ ressordxe ep sezedec 'osst lod 'opuos
ogu 'lercrur opeprpun1ord e ogsueulrp ens uroc seu
-ede ueuecrl serneled se enb zon eLUn 'sope]lnct+tp
sreLU oLUrss1lrnur ureuectrt esotEt;er etcugt:edxe e
ouuoc osorBrlor osrncsrp o olue] eJoJgloru e uêS
'ronr^ êp e resued op eroueu eudg.rd e recJeu-.1
rod eqece enb epeprleêr eLUn rnlllsuoc e.to1glour e
enb rezrp oLUSour souepod 'opoLu elsoc 'ltnlo^o ol-
-QZeJ ouroc 'oluoLUesuod o resse;dxo gs opu 'lo^.ls
-sodu-rr oLUSoLU ogu os 'lrc.J+rp sreLJ.r oulrssJlrnLU erJês
e1r;rqrssod ero1gloLr e enb ercugrolsuer] êp oluêLU
-r^or.rJ o ues 'epeprêA eN 'ecugleloLr..r einlnrlsê
eLUn opuos ou.roc uueBenBur; ep ernlnrlse e ercd
leqlo soLUe^op zonIe] ')eztlln e osrncor se;durrs uun
oluoc ero;gloLu e ered req;o enb op sren 'elucso
op ecrucg] eurn e no 'ure8enBurl ep ogóezrpln op
lercedse opoLu uln e eprznpêr res epod ogu eroJ
-gleru e'olrlso ep ernBr,t oLuoc epezrlrln enb epury
(soaron êp snrcJurA'opal O êp ouaox:)
r'1
'eponb eu esold e opueuoc
eLlle^eu eurn 'erjeE enl
eporeqel Lun 'o]les nof
eLlleuJoJ eLUn g elaoB enl
io9ÓerJc ep raJ o sJ
ioPol iogol ioqol
Texto 6
Mas já que estamos nas covas do mar, antes que
saiamos delas, temos lá o irmão polvo, contra o qual têm
suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo
Ambrósio. O po-lvo com aquele seu capelo na cabeÇa,
parece um monge; com aqueles seus raios estendidos,
parece uma estre-la; com aquele não ter osso nem espinha,
parece a mesma brandura, a mesma mansidão' E debaixo
desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa,
testemunham constantemente os dois grandes Doutores
da lgreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do
mar. consiste esta traiÇão do polvo primeiramente em se
vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores
a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala,
no polvo sao rnatícia; as figuras, que em Proteu são fábula,
areia, faz-se branco; se
no polvo são verdade arfifí.io. Se está nos limos, faz-se verde; se está na
"
está no lodo, faz-sá pardo: e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar,
peixe, inocente da traiÇão,
faz-se da cor da mesma pedra. E daqui quã sucede? Sucede que outro
que está {e emboscada dentro do seu prÓprio engano,
vai passando desacautelado, e o salteador,
lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque
polvo éo que abraÇa e mais o
não feztanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o
Judas
que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos prÓprios braços fazas cordas'
e ,"iouO" que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a traição
às escuras, mas executou-a
primeira traição e roubo
muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a
quefaz, é aluz,pulu qr" não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois
Judas em tua comparaÇ ão iá e menos traidor'
Pe. António Vieira, Sermdo de Sonto AntÓnío oos peíxes

A história que Leonardo Boff2o nos conta no seu livro a Aguio e o gali- 20 Leonardo Boff nasceu
nha é bem um testemunho da utilizaÇão da metáfora e da alegoria. em Concórdia, Santa Cata-
rina, no dia 14 de dezem-
Em meados de 1925 James Aggrey, político e educador popular nas- bro de 1938. E neto de imi-
cido no Gana, participava numá reunião de líderes populares na qual grantes italianos da região
se discutiam os caminhos de libertaÇão do domínio colonial lnglês, da do Veneto, vindos Para o
então colónia lnglesa denominada Costa do Ouro. As posrçÕes assumi- Rio Grande do Sul no final
do século XlX. Cursou Filo-
das entre os prelentes eram as mais variadas, indo desde o caminho sofia em Curitiba-PR e Teo-
que passava pelo uso das armas, até aquelas que, deixando-se seduzir logia em PetróPolis-RJ.
pela'retórica colonial, eram favoráveis à presença lnglesa como forma Doutorou-se em Teologia e
ia na Universidade
de modernização e de inserção no mundo dito civilizado e moderno.
Filosof
de Munique-Alemanha, em 1970. Foi membro da
Vendo que alguns dos líderes importantes apoiavam a causa inglesa, ordem dos Frades menores. Durante 22 anos, foi
James Aggrey contou a seguinte histÓria (cf. Texto 7)' professor de Teologia Sistemática e Ecumênica em
Petrópolis, no lnstituto Teológico Franciscano' Pro-
fessor de Teologia e Espiritualidade em vários cen-
tros de estudo e universidades no Brasil e no exte-
rior, além de professor-visitante de universidades.
em Lisboa (Portugal), Salamanca (Espanha), Har-
vard (EUA), Basel (Suíça) e Heidelberg (Alemanha)'
Esteve presente nos inícios da reflexão que procura
articular o discurso indignado frente à miséria e à
marginalizaÇão com o anúncio da fé cristã, génese
da chamada Teologia da Libertação. Atualmente é
professor emérito da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, dedicando-se sobretudo às ques-
tôes da ética do cuidado e aos problemas de natu-
reza ambiental.

EducaÇão Moral e Religiosa CatÓlica t22


I

I
opuni^ o reurrolsuerf a retlqeH ap opoF\ ouloc ogr8rleg y
'oluozuol.l op o9prlse^ ep o relos opeplrelc
ep Jol1cuo trossopnd as soqlo snos so onb ered 'los op ogóorp eu LUoq 'oluou.totultl e-nolnBes
elstleJnleu o ogluf 'noon ogu se/\ 'eprn e^ou osseluoLuuedxe os otxoc erua{'e}lon Q noqlo etnEg V
ieo^ a sese senl se olqe 'eJJo1 ogu o ngc oe socuoued enb gl'etnBg eurn sg enb gl'etnBV -
Q
:oql-nouopro a olle o eted ernEg e nenE:e elsrleJnleu O
'sequeluoui sep soctd so e^elnop oluêcseu los O
'equeluoul euln op o]le o ered 'suoLrJor.l sop sesec sep eBuo; e;ed 'epeptc ep eloJ eled eu-u.tele^ol
e ernlg e ulelele6 'opoc LUoq os-urerelue^êl sguodiuec o o elsrlernleu o 'elutnBes etp oN
'leo^ toleJ e gL{ueLuV 'zon eur}l! euJn epure re}ueuut;adxo solle1 'ernB? ep ogóetoc
uuneldues gtrnssod ossr .rod e ernBg eurn g elf - elstleJnleu o oluaLuoturr; nepuodsol - ogN -
;equrleB LUo os-noullolsueJl e;e 'o1tp el{ul} çf nl -
:eBlec Q nollo^ o nulos sguoduec g
'selop olunl e.red ro; a nolles 'ogqc o opuecrqop sequrleB se oxreq ura gl 'ntn elnEg e opuenb seyl
ieon o sese sen] se elqe 'etnBg eun sg enb gl'etn8y -
:oql-nollnssns o esec ep opeL4lo] o ered ernBg e uJoc nrqns elsrlernleu o 'elutn8es elp oN
'oluêLUe^ou soLUorelueutuedxe gL,lueuV
'ernfig eutn alduuos glos ernBg eun I 'ernBg eurn g elf - elsrlernleu o ltlstsut e noulo] - ogN -
iequrleB se;dtrts euJnu os-noulJolsuell e;e 'o1tp eLlull. çl n: -
:noluouroc sguoduec 6
'selap olunl ered tol o no]les 'soglB so opuectqop ser.4utleB se ren oe
'o ;opel oe oluoulepteJlstp e^eL.ll6 'elsrlernleu op oprpuelse oóe;q o alqos epeluos nocrl ernBg y
ieo^ o sese sen] se olqe ogluo 'eJJo1 q ogu o ngc oe socual:ed enb g['ernBg eun sg nl enb gf -
:oql-ossrp e-opueryesop o olle LUoq e-non?rc'ern?g
e noBad elsrle;nleu 6 'enotd ewn )oze+ ulelrptcop oglul
'ern8g elun ou.]oc greo^ steuef e equr;eB
uro os-nourolsuer] ell - seuodtlec o ntlstsut - ogu 'ogN - 'Jlog opreuoal ap «equrle8 e e ernBg V» erqo
ep ogórpo eun êp ogónpordêU :LZ ogóerlsnll
'sern]le sQ reo^ erp
uJn gre; e ogóeroc olsê o ernBg ep ogóeloc uln uol stod 'etn8g
rqler&q qqâtp*§rap.eiEçrarr, f ún
eurn erduuos g;os o g elf - elstlelnleu o ntnbrolal - ogN -
'ogsualxo op sorlouJ
sg.r1 esenb op sese sens sep resede 'serlno se ouoc equr;eB
eunu os-noLuroJsue{ 'equr;eE eurn g etoBy 'ernBg euln
sreuJ g ogu elo osst rod 'equrleB euln osso; os oLuoc e-totJc
no se1t\ 'ernBg eurn g - sguodtuec o êsstp - g olce+ oC -
'ern8g eun ? equrleE eun g ogu olessgd e1s3 -
:ossrp elsrle.,rnleu
o 'urrp:el o;ed iueneessed oluenbu3 'elstlelnleu uln op eltst^
e esec ens uo naqocor urollJot,l olso soue I sopessed
'soressgd so sopol op
equu/p) o osso; ernBg e eroqLua'sequt;eB eted eudg.td opóet
ê or.llrur eruroc olsf 'sequr;eE se uJoc oluotuelunl o.rraqur;eE
ou o-nocoloC 'ern8g op olotlllJ r.!rn .requede nrnBesuo3
'esec ens uJo onrlec ol-glueul eled olessgd t-un tequede *Y:;l*3 i5l;
'equrzrn elsoJol+ q ro; enb sguoduec LUn 'zo^ eLUn ell
z olxal
33*ffi rp-âffirê*#"3
Nesse momento, ela abriu as suas potentes asas, grasnou com o típico kau, kau, das águias e
ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para
mais alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento.
Leonardo Bofí -A Aguio e o Gotinho: uma metófora do condiÇõo humono. Lisboa: Multinova, 1998,23-25.

No fim da historia James Aggrey conclui afirmando: «lrmãos e irmãs, meus compatrtotasl Nos
fomos crrados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar
como galinhas. E muitos de nos ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos
águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como
águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pes para ciscar.»
No discurso religioso, a presenÇa da alegoria é por demais evidente, como uma leitura dos tex-
tos bíblicos facilmente nos pode testemunhar. Sem ela, o discurso ficarra, uma vez mais, encer-
rado sobre si mesmo, não sendo capaz de se referir ao Outro, que Deus nunca deixa de ser.
O texto do livro do Cântico do Cânticos é um bom exemplo deste falar de uma realidade (a
relação de amor entre Deus e o seu povo) a partir de outra (a relação entre o amado e a amada),
segundo as leituras que judeus e cristãos fizeram esta joia literária da Bíblia.

Texto I
Fala meu amado, e me diz:
«Levanta-te, minha amada,
Formosa minha, vem a mim!
Vê o inverno: Já passoul
Olha a chuva:já se foi!
As flores florescem na terra,
o tempo da poda vem vindo,
e o canto da rola
está-se ouvindo em nosso campo.
Despontam figos na figueira
e a vinha florida exala perfume.
Levanta, minha amada,
formosa minha, vem a mim! llustraÇão 22: O «Cântico dos Cânticos» (1853), de Gustave N/oreau,
lvluseu de Belas Artes de Dijon.
Pomba minha,
que se aninha nos vãos do rochedo,
pela fenda dos barrancos...
Deixa-me ver a tua face,
deixa-me ouvir tua voz,
pois tua face é tão formosa
e tão doce a tua voz!»
Côntico dos Cônticos 2,10-1
I
I
l9Z
I
'ept^ op ollsêul Jos oluouellapep-to^ opod eu9]srLl e o opr^r^ ro+ onb op ercuQllodxê elldgJd e lêp
-oce lo^JSSod es-eu;o1 'opou-r ê]sec 'seqóe sessop opec;;;uB;s op ogsslursuerl e e elncold e
elueullen§r tnlcut seul 'odu;e1op oBuol oe seueLUnq segóe sep ogóucsap sa;duuts eun seuede I
ogu egglspl e 'optluês olsoN 'sopecr;ruBrs rerlxo lenlssod euJo] e^rleleu e 'o;duue sleui opoluo
LUn uJoc ogóelet uê sopecoloc o rs erlue sopeEr; ogs enb sorpgstde sos.rantp op euiell eutn:od
eplnlrlsuoo 'e^rleleu g euglsrr.l e epo] enb elueurecuoBelec rerlJ4e epod tnoctu lned ossl rod
'ocuglstL1 odLue] ule 'eles no 'oprnr^ odure] ulo rnlrlsuoc euepod ês êluoLullcl1lp oc;Eglouo,rc
odruo] o ogóeleu e Ll.tos'perodLuel ercugr:edxe ep secrls1rolerec se requêsêp epzedec to1 anb
uo eptpolu eu e^llecryluÊrs elueuelêpepron g gs elso ê e^rlereu e.roueur ap opelnctue ;o,L enb
ulo eptpolu eu oueunLl odural euro] ês gs olsê enb gl'odure] op eueunq e;cuggledxe e o e^!l
-eJreu ogóun1 e êJluo «e^tlecutufirs ogxêuoc» eLUn ê]srxe 'e;e opunBes 'elrglstL.l ens ep ogón;1
-suoc e e;ed e oueu-lnq tes oudgtd op ogóecr,trpe e ered leluourepun] orc1cloxo ouloc e^tlelleu
ep ecrêce selue;edtelut ê sê]uessêrolur srelu sogxollêJ sep seunB;e rnoct5 Ined e solllo^oc
'1eqo1fi optluos Lun Jelluocue e opuepn[e 'ercug]srxo ep so]uolroul soug^ so te8l;te1ut ep zedec
eles enb ogóet;eu euln 'elsodsêr orxoc 'eErxe enrleloc o leossêd apeprluepl eled elun8ted e
'olce] oC 'opelorre euecu euglstL.,i ep ogónrlsuoc ep o leossed opeprluêpt ep ogóntlsuoc op ossoc
-o"rd oudgtd o 'opouJ êlsop 'e soJlno so uJoc sun ra^ e olrnu rê] ogu tod uteqece enb 'slods no
'seuêc ep olunluoc uun anb op sreur o]rnur grês ogu 'solueurour sossop un epec e eplznpol lecu
os seu 'oluoLUoLU epec uê eprnrn ros op rexrêp epod ogu eptn e enb olelC 'olnlnJ oe .lttqe os ulês
e opessed ou sêz1el LUês 'oluosêrd oluauou-r epec e eprznpêr lecU êp oBued o et.,tolloc elcuQ]
-srxê e olo ulos 'odu;e] op o euglstL1 ep otlesêp o uloc 'o;dulexe lod ';epr; epod oueu-lnq ;es o enb
e;ep rrl.red e , 'eueuJnLl ercuglstxo e ered leluourepun] olcJcroxê un g ogóelJeu ep otcJclêxo O
' ot j-lsoLu
Iercuolsrxo opect;tuBts'uJn Lluou
no 'ocnod LUoc ..loztp uln enb op sreur olrnLU ogros ogu selê seut 'seltuoq 9]e ê soluessêlolul ses
-roc.roztp es-urepod 'roj ogu ulrsse oS 'oplluas rep op zedec elas enb e^llelJeu euJnu opelnclue
los op ulo] êlê seossad sep ept^ e ercd onrlecrltuEts res essod osot8l;e-t osrncstp o enb ete6
e^lleJreu v
'! L6 L 'uopuol
,«s;q3rry uDtqilV» aq1 p Á1rc aLD:olDC tDwauo 'uopelS selBnog opunBes'IL6t uro'oreC ou ser]g]srq ap erope]uoc er.ln ap er,te.r8o]ol :tZ oqóer]snll
,.;til**ll
*{t
M
ffi ffi
&
-, .... . i.
ri' j
. i ,','"*i"*jú
' I à
"1,,.-i -1. (
-
si
e @'!
'''"' *."t
H *§ffi
ü
A história deixa, assim, de ser mera descrição para passar a ser
também compreensão que tenta estabelecer uma «concordância a
partir das discordâncias» das experiências vividas, dando um sen-
tido global à existência humana.
A narrativa emerge do vivido e a ele retorna tornando possível a
sua transformação. A partir deste cÍrculo hermenêutico, concebido
por Paul Ricceur em três momentos, podemos mais facilmente com-
preender a importância da narrativa. O filosofo francês usa o con-
ceito de mimese (literalmente, imitaÇão) para identificar esses três
momentos, enquanto faculdades humanas de imaginação e repre-
sentação do mundo. A mimese l, denominada prefiguroçõo, apro-
xima o historiador/narrador do campo prático do viver; na mimese ll,
realiza-se a configuroçÕo textual, na qual se procuram interligar os
diversos momentos transformando o tempo cronolÓgico em tempo
narrativo, realizando sínteses compreensivas com as quais se pro-
cura encontrar o sentido;finalmente na mimese lll acontece a refi-
guroçõo, na qual também já está envolvtdo o leitor ou ouvinte, que
áão aprende só factos e elementos de uma realidade já acontecida,
mas aprende um pouco mais sobre a vida, ou seja, aprende a viver.
Este processo que não tem fim, sendo realmente um círculo, é per-
corrido inúmeras vezes possibilitando que a experiência do que é
vivido ao princípio possa ser compreendida e recriada, dando ori-
gem a novas experiências de vida, que por sua vez serão, de novo,
óompreendidas e recriadas, dando origem a outras novas experiên-
cias de vida. A narrativa adquire o seu sentido pleno neste itinerário
sempre a realizar-se, assim se constrÓi a histÓria humana e se edi-
fica a identidade pessoal.
Nas culturas, a narrativa toma corpo em diversos registos - orais,
literários, monumentais, performativos, etc. No nosso tempo, com
o desenvolvimento de novos meios audiovisuais, a narrativa visual,
como forma de recriaÇão da experiência humana, conheceu uma
particular expansão (cf. llustração 24).
J

Texto I
Tomo como fio condutor dessa exploraÇão da medioÇõo entre tempo e narrotivo a articulaÇão [...]
entre os três momentos da mimese que, em jogo sério, denominei mimese l, mimese ll, mimese lll.
Considero estabelecido que mimese ll constitui o pivô da análise [...]. Mas minha tese é que o prÓprio
sentido da operação da configuraÇão constitutiva da tessitura da intriga resulta da sua posição
intermediária entre as duas operaÇÕes que chamo de mimese I e mimese lll e que constituem
o montante e a jusante da mimese ll. Ao fazer isso, proponho-me mostrar que a mimese ll
extrai a sua inteligibilidade de sua faculdade de mediaÇão, que é de conduzir do montante à
jusante do texto, de transfigurar o montante em jusante por seu poder de configuraÇão: [.'.] Ela
ia tarefa da hermenêutical não se limita a colocar mimese ll entre mimese I e mimese lll. Ela quer
caralerizar mimese ll por sua função de mediaÇão. O desafio é pois o processo concreto pelo qual
a configuraÇão textual faz a mediaÇão entre a prefiguraÇão do campo prático e sua refiguraÇão
pela reõeção da obra. Aparecerá corolariamente, no termo da análise, que o leitor é o operador por
excelência que assume, por seu fazer - a aÇão de ler - a unidade do percurso de mimese I a mimese lll
através de mimese ll.
Paul Ricceur -Tempo e norrativo I. Campinas: Papirus Editora, 1994,86-87.

ÊducaÇão Moral e Religiosa CatÓlica t26


I

I
opuny\ o ieúrolsue.{ a re}lqeH op opol4 ou.roc oglStleg y LZ
'lernllnc o esolt!loJ ogÓlperl epeu
-nxJê]op eLun ellcoJ o u.rê]ueLU os Lr-rgqule] ouloc 'e^!loloc e leossod epep;luep! e tgllsuoc os
gs ogu 'lenb op sg^elle ogóerleu op olclcJoxo Lun ouroc lrnlrlsuoc ês op lextop epod ogu 'octB
-gpodorlue elsln op oluod op onrlecr;ruBrs res renb es 'oso18;geJ osrncslp o 'osst rod 'sge4ssace
oluaue^llerJeu ogs gs eueunLl elcuglslxo ep so^rlecUruBrs steur ê sreluêulepunl soledse sg
euglsrq ep opeptnutluoc eu esotBt;e; opepl]
-uêpt ep ogóntlsuoc e LUeltltqtssod anb e opessed ou reBn; urerê^r] enb steuotcepunJ soluoLUtco]
-uoce segenbep 'eluesetd ou 'enrleuc ogóernBr;uocor e 'sreLU zo^ epec'opue]lncrltp ogn anb sen
-lleJleu sospc e 'ellno op no e[J.]ro] eLln ep 'sepeBrl erdu;es op]so seso!8!lol ses!.tc se 'opoLU
ê]soc sesorfirlet sepeptluopt sep ogórnlrlsuoc eu sreroLu e socrlgutBop soóet1 sop olu.lulopeld
oled ulezuelelec as onb «ogóeurLr-rop op secuglor» ep ogótnltlsuoc q'osotBt;el odulec ou opn]
-orqos 'ltznpuoc epod penb o 'êpepoueptlos ep e eq;r1ted ep 'ol^J^uoc op êpeplncUlp ep oBtled
o oluouleneroxour euodu.roc 'ellutl elsêu 'o^llerteu acllgp LUn 'Bueunq elcuglslxo ep sleu
-olcepunJ seglsenb seu opelluoc 'ocllglclu! JalpJec op 'o^llelJeu ossocold LUn rês êp lextêp
epod ogu esorBrlet ogórpet1 epec'«se1;ou; segrBr;er» uro os-LUoroUêAUoc op oosu o lolloc L.tlol
-enb ogu oS 'ê]uêlc opeptunuloc ep solqulor..u so sopo] erlue eóueued ep solncu1^ so ;eó-lo1et
op ogsstul e ug] 'ogóelncllc ulo selsod 'enb segôerJeu se ogs 'ornln+ oe os-opuuqe e ogótpet]
elunu epezteluo 'oluêsoJd o opuenrn '«e^rledrcolue» ê «e^rlerolrêuJor» opeplunuloc eu-ln eldu:es
gJos 'los zrp enb o eles oluenbue enbrod elueurelsn['«onr]ereu sgu» LUn ollloc ês-JIn]t]suoc op
lextop epod opu 'oqutllec nos op ordlcuud ou êrluocuê es enb rês ogu e 'eso;B;;el ogólpetl e
epo] 'oplluês ouoc Lill 'eptn eudg;d ens eu operod.rocul res epod 'elêp sgnerle 'enb operreu
opelfles ou.redgcgyed epod oueLUnLl rês o 'rlcnc s1n11 opun8os 'onb ogóerreu e;ad ugqurel3
'epelnsurASêp
rês selop 'uJnquou opoLr op 'epod ogu eueulnLl eptA ep
epeprlenb e enb opou.i le] ap 'ocllngderel o ropeluepo
'o^!le aluoulelcuoldes sn;d uln rtnssod tod es-utezue]
-erec segáeJreu se 'optluos olsoN 'soluou.toul o sêpn]
-rlel se sepo] uJo ulecoloc êql as 'olosuoc o e o:edsesap
o olluo 'êluaLuoluessecur 'anb o sellocol no 'soBrpgc.lod
seprpuodse.r elueursepduJrs rês uepod oqu enb '(aoUoLU
e o oluor.lrr;os o 'eóueop e gnbro6 aept^ e LUo] oplluos
ênD aeueurnLl euglsrr.l ep ourlsop o lenD ;opecrruuEts
nes o ;enb o leu o gnb;o4) e^tloloc ê lenpt^tput ept^ ep
saglsenb sepuerB se ered elsodser lelluocuo e;nco.ld
ouelunq ros o 'e^llerJeu ep olclcJoxo op s9^ellv'opl]êLr.l
-qns erdu;es glso oueurnq res o enb e «etcueButluoc ep
ogóeururop» ep secrlgrd se relrltcej ep sezedec oplluos
o o t:êpro e rerluocuo elrgrqrssod enb opóetnlnllso euln
ered ope;nlnrlsosop gtse enb op '«sotxsoc oe soec op
ureBessed» e elrr-ured enb orclcrexo oLuoc 'ogáerleu ep
ogóerpeu rod 'soduue] sop o soóedse sop opepêue^ eu
'ês-rgrlsuoc ;eossed epeplluap! e lolne else opun8eg
'olrocuoc ou e ogórurJêp eu oluoulletcuêsso sopeêseq
sosrncsrp ep odr] orlno enb op ept^ ep apepten q ogó
-eurxorde roqlour o roreLU eLUn LUê]tulted sen;lelrPu se
enb eurrle LlcnC sJnll 'sêrolne sollno op Luqle !noclU
1ne6 rod eprAlo^uosop ogxol+ol e eluese;d LUoq opuol

Das könnte Ihnen auch gefallen