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RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar o modelo panóptico de Bentham, formal e
conceitualmente. O panóptico consiste em um projeto de casa de inspeção perfeita que
poderia ser usado em uma ampla gama de instituições disciplinares. O objetivo da pesquisa
foi estabelecer uma ligação entre o projeto utópico feito por Bentham e um projeto de uma
das instituições disciplinares contemporâneas, pelas características que ambos têm em comum.
O objeto de estudo deste artigo foi o projeto do bloco A, localizado no campus de Erechim-
RS, da Universidade Federal de Fronteira Sul - UFFS.
ABSTRACT
This article aims to analyze the model Bentham panopticon by formal and conceptually. The
panopticon consists of a design house perfect inspection that could be used in a wide range of
disciplinary institutions. The objective of the research was to establish a link between the
utopian project done by Bentham and a draft of the contemporary disciplinary institutions, the
characteristics that both have in common. The object of this article is the design of Block A,
located on the campus of Erechim-RS, Federal University of South Border - UFFS.
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Aluno do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, orientado pela professora Zoraia Bittencourt, na
disciplina de Iniciação à Pratica Científica. E-mail: pietro_zandavalli@hotmail.com
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1 INTRODUÇÃO
O objetivo dessa pesquisa foi trazer à tona os princípios, tanto conceituais quanto
formais, que vem sendo empregados nos projetos de instituições disciplinares na
contemporaneidade, encontrar quais deles apresentam inluências do modelo panóptico
elaborado por BENTHAM (1787), para então compreender os processos de continuidade e
permanências do conceito Bentham no tempo contemporâneo.
pela Santa Igreja Católica afim de atender “a vontade de Deus”. Agora o homem é dono de si
e de seus atos.
Quando Lutero, decidiu procurar nas escrituras em que o cristianismo tem suas bases,
certos dogmas que fora, ironicamente, disciplinado a pregar. Como, por exemplo, a venda de
indulgências, revelam-se desprovidos de fundamento bíblico. Depara-se com uma realidade
desconcertante, carecem escritos que corroborem para a justificação, de parte considerável, do
que ensinaram-lhe. Para, por fé quem sabe, comprovar seu desbunde, se debruça e esmiúça a
Bíblia até se confrontar com a presença de algumas lacunas no embasamento desses dogmas,
deste código moral pré-fabricado, cuja origem era insondável.
Quando a Santa Igreja Católica se prejudicada, perdendo seus fiéis para a nova igreja
que Lutero fundara, elabora a contra-reforma para tentar atrair os fiéis que foram seduzidos
pela “nova” perspectiva de mundo do Protestantismo.
A nova ideia, propagada unanimemente, era de que ser ocioso tornara-se o mais
abissal dos pecados. Mas, o que far-se-ia com aqueles que não exibirem submissão aderindo
ao trabalho? Surge a demando por uma nova instituição. Localizado em Paris, é fundado em
1667 o Hospital Geral. Sua locação fora um antigo reduto para leprosos, gerido pela Igreja
Católica.
O intento desta instituição jamais fora proporcionar nenhum tipo de tratamento, servia
apenas como subterfúgio para ocultar os indesejáveis. Todos aqueles que infestavam as ruas
da cidade, manchando as aparências do progresso que norteava, e continua a nortear a elite
dominante, que na época era a nascente sociedade burguesa.
ministra as lições, que anteriormente eram ministradas apenas entre aluno e professor, foi a
disposição dos estudantes voltados diante do mestre, o mestre deveria ver todos. Também,
desenvolveu-se uma sub-vigilância, um entre cada dez alunos deveria reportar qualquer coisa
que os demais de seu grupo viessem a fazer que não estivesse de acordo com as regras.
[...] um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no
centro. O anel se dividia em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto
para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia segundo o objetivo da
instituição, uma criançca aprendendo a escrever, um operário trabalhando, um
prisioneiro se corrigindo, um louco atualizando sua loucura, etc. Na torre central
havia um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o
exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nela nenhum
ponto de sombra e, por conseguinte, tudo o que fazia o indivíduo estava exposto ao
olhar de um vigilante que observava através de venezianas, de postigos semi-
cerrados de modo a poder ver sem que ao contrário pudesse vê-lo. (FOUCAULT,
2005,p.87)
as divisões entre as celas, não terá contato visual com os demais prisioneiros. Tampouco,
poderá certificar se está de fato sendo vigiado, só terá a suspeita de que o esteja sendo.
Muitos foram os escritores, sem falar nos projetistas, que beberam desta fonte para
ambientar suas obras. Em sua distopia denominada 1984 George Orwell descreve com
fidelidade o que seria a interiorização do panóptico.
Por trás de Winston a voz da teletela ainda tagarelava a respeito do ferro gusa e da
superação do Nono Plano Trienal. A teletela recebia e transmitia simultaneamente.
Qualquer barulho que Winston fizesse, mais alto que um cochicho, seria captado
pelo aparelho; além do mais, enquanto permanecesse no campo de visão da placa
metálica, poderia ser visto também. Naturalmente, não havia jeito de determinar se,
num dado momento, o cidadão estava sendo vigiado ou não. Impossível saber com
que freqüência, ou que periodicidade, a Polícia do Pensamento ligava para a casa
deste ou daquele individuo. Era concebível, mesmo, que observasse todo mundo ao
mesmo tempo. A realidade é que podia ligar determinada linha, no momento que
desejasse. Tinha-se que viver - e vivia-se por hábito transformado em instinto na
suposição de que cada som era ouvido e cada movimento examinado, salvo quando
feito no escuro. (ORWELL, 1978, p. 16)
Essa interiorização do panóptico é o auge do que pode alcançar, no que diz respeito a
sociedade disciplinar, como dispositivo de coerção. No momento em que o vigiado passa a
crer que pode estar sendo observado constantemente, ele assume um papel dubio, é tanto
vigiado quanto vigilante. Nas cartas, que Bentham escreveu durante o desenvolvimento do
projeto, ele delimita este como um dos pontos fundamentais do projeto:
A perfeição ideal, se esse fosse o objetivo, exigiria que cada pessoa estivesse
realmente nessa condição, durante cada momento do tempo. Sendo isso impossível,
a próxima coisa a ser desejada é que, em todo momento, ao ver razão para acreditar
nisso e ao não ver a possibilidade contrária, ele deveria pensar que está nessa
condição. (BETHAM, 1787 Apud TADEU, 2008, p. 20)
A morfologia ideal seria a circular, entretanto “A área assim fechada poderia ser
circular, como os edifícios, ou quadrada, ou oblonga, dependendo de qual dessas formas fosse
melhor adaptada às ideias prevalecentes de beleza ou conveniência do local” (BETHAM,
1787 Apud TADEU, 2008, p. 27)
Toda a área desse edifício anelar que circunda a torre seria ocupada por celas, no primeiro
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pavimento, e para além das celas galerias nos andares superiores. As celas seriam separadas
entre si:
As dimensões das celas poderia ser facilmente alteradas, afim de sanar qualquer
demanda que pudesse surgir. No exterior dessas celas, nas janelas que ocupam o perímetro da
edificação, estariam instaladas lampadas com refletores, para que as celas nunca fossem
envolvidas pela escuridão, o que culminaria num erro fatal para os fins de inspeção da
edificação.
A dimensão da edificação não poderia ser demasiado pequena, pois isso implicaria na
sua funcionalidade drasticamente, impossibilitando-a de comportar um número satisfatório de
celas. Também não poderia se fazer excessivamente ampla devido ao fato de impossibilitar a
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iluminação plena da área intermediária. BENTHAM acredita que o diâmetro do edifício ideal
seria de 100 pés, o equivalente a 30,48 metros.
Agora, partiremos dessa concepção abstrata de presídio para algo mais tangível, no
caso, o projeto da edificação denominada Bloco ‘A’, do campus Erechim-RS, da UFFS. O
desenho de sua planta baixa (Anexo 2.), é uma forma quadrangular, com suas salas no
perímetro longitudinal desse retângulo, separadas por um nicho central que destina-se as
demandas de circulação e permanência, no primeiro pavimento.
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As torres de vigilância nesse projeto são livres a todos, são os grandes espaços das
galerias que fazem a circulação vertical entre pavimentos e salas. A necessidade de um
vigilante é reduzida ao mínimo, tendo em vista, que todos se tornaram vigilantes e vigiados.
A disciplina tem que fazer funcionar as relações de poder não acima, mas na própria
trama da multiplicidade, da maneira mais discreta possível, articulada do melhor
modo sobre as outras funções dessas multiplicidades, e também o menos dispendioso
possível: atendem a isso instrumentos de poder anônimo e coextensivos à
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As soluções projetais adotadas por Bentham (1787) para resolução de seu projeto de
uma casa de inspeção elaborada, com enfase intenso em cada detalhe aplicando-lhes métodos
laboriosos, para materializar uma vigilância que atingiria a perfeição, exerceu grande
influência nos projetos das instituições disciplinares, sendo verificáveis, no edifício do Bloco
‘A’.
Comprova-se então, além da sua eficácia funcional o projeto de Bentham (1787), seus
princípios conceituais propiciaram encontram-se fortemente enraizados na nossa sociedade,
tendo servido de base para uma sociedade disciplinar que culminou na atual sociedade de
controle.
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ANEXOS
Anexo 2: Planta baixa do primeiro pavimento do edifício ‘Bloco A’, localizada no campus
Erechim-RS, da UFFS
Fonte:
<http://www.uffs.edu.br/index.php?option=com_content&view=article&id=908&Item
id=926> Acesso em: 16/01/2014.
REFERÊNCIAS
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da prisão. 41. Ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
SOUSA, Noelma Cavalcante de; Meneses, Antonio Basílio Novaes Thomaz de. O poder
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disciplinar: Uma leitura em vigiar e punir. Saberes, Natal – RN, V. 1, n.4, 2010.
ORWELL, George. 1984. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1978, 11ª Edição.
HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. Trad. de Lino Vallandro e Vidal Serrano. Rio
de Janeiro: Ed. Globo, 2009.