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L. M. P. Rodrigues
2001
Capa, layout e editoração eletrônica: Ana da Rosa Bandeira
Consultoria de editoração, pesquisa e digitalização de imagens: Nara Rejane da Silva
Impresso no Brasil
Copyright 2001 – Teresinha dos Santos Brandão
Pedidos para: R. Cel. Alberto Rosa, 1886 apto. 403 CEP: 96010-770 – Pelotas - RS
ou pelos e-mails: aflag.sul@zaz.com.br e naras.sul@zaz.com.br
CDD 469
Um abraço,
A autora
.
Sumário
Texto 2:
Texto 4:
(VERISSIMO, Luis Fernando. As cobras em: se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 1997. p.19)
Texto 5: Texto 6:
Além disso, nesse tipo de texto, per- argumentativo, ocorre justamente o contrá-
cebemos uma característica peculiar do pro- rio: o autor intervém freqüentemente na
cesso de argumentação: ele pressupõe o análise do tema, por meio de críticas, res-
confronto de idéias. Tal aspecto heterogêneo salvas, na escolha do vocabulário, entre
da argumentação pode ser comprovado atra- outras formas de expressão, manifestando
vés do verso “quem diz outra coisa é besta”, seus sentimentos, gostos, opiniões.
o qual se contrapõe a uma outra concepção Lembremos, também, que, num
de amor não explicitada no texto. texto argumentativo, a ressal-
Alguns pontos, no va torna-se um importante
entanto, devem ser salienta- elemento de que se pode lançar
dos para que não se confun- mão, pois ela funciona como
A Duloren elabo-
rou sua campanha de
lançamento de lingeries
movendo o leitor pela
provocação, pelo de-
safio, conforme perce-
bemos não só pelas
fotos como também
pela estrutura utilizada
“Você não imagina...”,
a qual desperta uma
intensa curiosidade. Na
revista, esta curiosi-
dade é aguçada, pois
as duas fotos apare-
cem de tal forma que o
leitor, para continuar a
leitura, deve virar a
página.
18 Teresinha Brandão
Atenciosamente,
F. R.
Comentários sobre o texto:
20 Teresinha Brandão
Excelentíssimo
Senhor Nelson Jobim/ escrever-lhe/ resolvi
oferecendo-lhe/ É necessário, senhor escrever-lhe/ minha contribuição/
ministro/ lembrar-lhe/ solicito a Vossa Considero/ no meu entender/ Gosta-
Excelência; ria de/ solicito;
d) uso de substantivos na
argumentação: tabagismo/ ma- oferecendo-lhe, dessa forma/ já
les/ malefício/ restrição/ vítimas/ que esta norma/ No entanto/ Gostaria
prevenção/ tratamento; ainda/ Portanto/ por conseqüência.
selecionar um voca-
bulário compatível organizar o plano das idéias -
com o tema: verbos, argumentação própria, acres-
substantivos, adje- cida dos dados da coletânea os
tivos, advérbios, quais julgar mais relevantes a
pronomes; fim de reforçar o ponto de
vista e enriquecer o texto ou
dados que serão contestados
(no caso da contra-argumen-
tação).
Antes, portanto, de concentrar-se Como exemplo de bom uso da
na coletânea, analisemos atentamente a coletânea, leia a proposta abaixo, feita no
proposta que as bancas apresentam pois há ano 2000, seguida da carta argumentativa,
nela itens os quais devem ser observados redigida pela aluna Ana Barbosa Duarte,
para que não haja fuga do tema ou ina- assim como o comentário posterior.
dequação ao tipo de texto.
Proposta de redação:
No decorrer do ano 2000, houve brasileiros?”
inúmeros eventos os quais visaram a Para tanto, redija uma carta argu-
celebrar os 500 anos de Descobrimento do mentativa ao editor do jornal Folha de São
Brasil. Paulo (FSP), posicionando-se sobre o tema.
Baseando-se não só na conjuntura Ao elaborar seu texto, utilize alguns
atual, mas também tomando por base o pas- argumentos expostos na coletânea abaixo,
sado histórico de nosso país, reflita sobre a assim como outras informações que julgar
seguinte questão: “A data comemorativa dos relevantes.
500 anos de descobrimento de nossa terra é Atenção: ao assinar sua carta, use
motivo de comemoração para nós, apenas as iniciais de seu nome.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 23
"É motivo de vergonha a maneira como a mídia exalta os 500 anos do Descobri-
mento. Alémde parecer que o país não existia antes do 'grande favor' que os europeus fi-
zeram em aqui pisar, o assunto é abordado como se fôssemos eternamente gratos a
nossos 'descobridores'. Oque temos a comemorar? Os 500 anos do início da escravidão
(que ainda não acabou)? Os 500 anos durante os quais recursos naturais como o pau-
brasil e o ouro foram, de certa forma, roubados daqui? Será que são causa de tamanha
festa os 500 anos durante os quais nos tem sido imposta uma cultura adversa às
condições do povo brasileiro e do Brasil?”
Evilânia Alfenas Moreira (Sabará MG)
(FSP, 10/04/2000)
24 Teresinha Brandão
FSP, 22/04/00
Senhor Editor
Respeitosamente,
A.B.D.
ESTRUTURA
Introdução: Pode conter um elogio ou uma censura (esta, no caso da contra-
argumentação) a uma reportagem ou artigo lidos, ou a algum projeto
de lei, por exemplo;
sua função é indicar o assunto, o qual não deve ficar em suspen-
so; portanto, ela não deve ser "vaga". Evitar o uso de "chavões" ou
expressões desgastadas como "Venho por meio desta..." ao indicar
a finalidade da carta.
Conclusão: Assim como a introdução, não deve ser vaga como, por exemplo, exi-
gir "uma maior conscientização" ou que "medidas urgentes sejam to-
madas" sem explicitar de que forma isso deve acontecer. As suges-
tões, reivindicações, os conselhos de que por ventura o aluno lan-
çar mão devemser bastante claros, detalhados.
Obs.: Nãoháuma "ordem" ou"colocação" rigorosa quantoàs sugestões fornecidas acima. Uma
reivindicaçãopode, por exemplo, aparecer nodesenvolvimento, enãonaconclusão.
RELAÇÃO LOCUTOR/INTERLOCUTOR
Obs.: Os pronomes de tratamento exigem3ª pessoa:Vossa Excelência e sua equipe,/ seu projeto/ sua re-
portagem/ seu empenho/ sua atuação.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 27
Acreditando sermos todos nós, brasileiros, responsáveis pelo resgate de valores éticos
e partícipes na construção de nossa plena cidadania, dirijo-me ao senhor [ou:Vossa Se-
nhoria] afimde(...)
Julgo que Vossa Excelência, como congressista eleito com o respaldo de nosso povo,
poderia intervir emquestões tão relevantes como "X", contribuindo para amenizar o pro-
blema "X". Desejo, pois, através de minha manifestação, solicitar-lhe "Y"; para tanto, os
argumentos queapresentarei serão, creio, de fundamental importância.
Acreditando ser umcidadão comprometido comuma prática efetiva no meio emque atuo
e, tendo tomado consciência de diversas matérias [ou: reportagens; artigos; programas
televisivos] acerca do [ou: a respeito de; a propósito de; sobre] tema [ou: assunto; fato;
questão] "X", gostaria de expor-lhe minha posição e, dessa forma [ou: desse modo; as-
sim], contribuir para asuperação[ou: amenização] de (...)
Com o intuito [ou: finalidade; objetivo; propósito] de contribuir para formação da opinião
pública e, assim, tentar reverter o quadro [ou: cenário; conjuntura] em que se encontra
nossa nação, gostaria de expor-lhe minhaposição[ou: posicionamento] sobre (...)
Combase nos argumentos expostos, gostaria de solicitar sua intervenção nesse setor, a
fimde queVossa Excelênciapossa amenizar (...) por meiode (...)
Julgo, portanto, de suma importância a publicação, neste jornal, de matérias que pos-
sam permitir a reversão [ou: transformação] de quadro tão assustador como o apresen-
tado.
Sugiro, por fim, que intervenha, através do cargo ocupado por Vossa Senhoria, em tão
polêmica questão afimde(...). Paratanto, o ideal seria (...)
Dessa forma, solicito-lhe que considere minha posição e pondere sobre os argumentos
por mimexpostos, publicando, nesta revista, reportagens acerca de "X". Acreditando ser
esse o caminho mais coerente e eficaz para resolver questões como a que lhe foi ex-
posta, sugiro-lhe, ainda, (...)
A contra-argumentação na carta argumentati va
Uma das maneiras possíveis de zado criteriosamente, pode ser muito útil na
emitir nosso ponto de vista sobre um elaboração de textos argumentativos.
tema é demonstrar a falsidade da argu- No ano 2000, propôs-se o exercício
mentação daqueles que pensam diferen- abaixo aos alunos. Leia-o, assim como as
temente de nós. Esse procedimento, cha- instruções, o levantamento das idéias –
mado de contra-argumentação, consiste fruto de discussão em sala de aula –, o tex-
em refutar argumentos alheios. Se utili- to da aluna Daniela Larentis e o comentário
subseqüente.
Proposta de redação:
A autora do texto a seguir utiliza o rebatê-las, por meio de argumentos os
tema “trote”, na verdade, como pretexto quais julgar pertinentes. Escreva-lhe uma
para traçar um perfil dos adolescentes das carta contrapondo-se aos pontos de
classes mais favorecidas do País. Nele, a vista que ela assume em seu texto. Não se
articulista aponta críticas mordazes à ma- esqueça: você terá de necessariamente
neira como reagem diante da realidade. contra-argumentar, refutar as idéias de
Após identificar tais críticas, você deverá Marilene Felinto.
Outras informações/instruções:
E-mail: mfelinto@uol.com.br
MARILENEFELINTO
da Equipe deArticulistas
Folha deSão Paulo, 25/02/97
30 Teresinha Brandão
vagabundos
su perficiais
aliena do s
“mim ados”(”adulação”)
limitados
g
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ra
liz
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ces
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esin adequ
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(
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m levare
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a oco
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ex-
t
o c
ultur
alehis
tór
ico)
Contra-argumentos:
ESTRUTURA
Introdução: Deve haver uma referência ao texto cujas idéias serão refutadas.
Também delimitar o assunto, neste trecho, é importante, além de
explicitar-se uma censura/ reprovação/ indignação ao texto/fonte.
Após leitura referente ao artigo/ à reportagem“x” acerca de “y” assunto de suma impor-
tância , decidi escrever-lhe emanifestar minha opinião, a qual vai de encontroà sua.
Emrazão das críticas expostas emseu texto“x”, referente a“y” [indicar o assunto], resolvi
expressar minha reprovação em face de sua atitude (...). Desse modo, espero propor-
cionar-lhe, por meio de meus argumentos, uma reflexão para que possa reconsiderar seu
ponto devista.
Julgo, pois, pertinente queVossa Senhoria/ Vossa Excelência reavalie suas declarações
a fimde evitar prejuízos aindamaiores a (...).
Sugiro que(...) seja efetivado/a e, dessemodo, a atual situação possa ser revertida.
TEXTO 1
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo
TEXTO 2
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo
TEXTO 3
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo
TEXTO 4
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo
TEXTO 5
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo
TEXTO 6
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo
TEXTO 7
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo
TEXTO 8
Convémsalientar (...)
Devemser enfocados os aspectos(...)
Ressalta-se que(...)
Épreciso, pois, questionarmos (...)
Convémlembrar (...)
Torna-sefundamental (...)
Énecessário frisar (...)
Cumpre destacar (...)
Pode-seafirmar que(...)
Conformealegam(...)
Alega-se, comfreqüência(...)
Podem-se traçar, ainda, outras diferenças/ causas/ conseqüências (...)
(UNICAMP/SP) Nos últimos tempos, vêm ocorrendo intensas discussões a propósito dos
meios de combater a violência praticada por menores, nas grandes cidades. Umexemplo é a
divergência de opiniões entre Nilton Cerqueira (Secretário Estadual de Segurança Pública
do Rio de Janeiro) e Benedito Domingos Mariano (Ouvidor da Polícia do Estado de São Pau-
lo), veiculada pela RevistaIstoÉ, de 04/09/96.
Imaginemos que alguém opte por escrever defendendo as idéias do general Nil-
ton Cerqueira, a relação A é causa de B poderia ser assim esquematizada:
é causa de
Não há punição penal aos Existe um alto índice de crimi-
menores infratores. nalidade desses infratores.
Ou seja: Mesmo havendo punição penal aos menores infratores, os crimes conti-
nuariam acontecendo.
Idéia que pode ser expressa da seguinte forma:
n
ã
oéc
au
sa
de
Ou seja: Mesmo havendo punição penal aos menores infratores, os crimes conti-
nuaram a acontecer.
Idéia a qual pode ser assim expressa:
CONCLUSÃO (*deve ser centrada na prevenção, tanto nos casos pró ou contra
a legalização)
ou:
Um exemplo de contra-argumentação
12 em texto dissertativo-argumentativo
De acordo com recentes pesquisas, entre elas a Datafolha, uma das maiores preocu-
pações dos brasileiros é a violência. A situação tornou-se tão grave que os números referentes
aos crimes lembramo cenário de uma guerra civil. Alémdo aumento da quantidade de delitos, a
brutalidadedestescausaperplexidadeprofundaàsociedade.
É muito comumjulgar [1] a pobreza como causa principal da violência. Porém[2], exis-
tem países ainda mais pobres que o Brasil nos quais os níveis de subversão permanecembai-
xos, como se constata na Índia; outros onde o nível de desenvolvimento econômico é alto mas o
índice de criminalidade também o é, fato existente, por exemplo, nos EUA. Isso indica que, no
caso brasileiro, a violência não é ocasionada sobretudo pela pobreza, mas é fruto de[3] duas
características nacionais: a desigualdade social e a impunidade. A disparidade entre a condição
social dos mais ricos e a dos mais pobres é tanta que muitos, por ambição ou falta de oportuni-
dades, optampelo crimecomo forma deascensãosocial. Soma-sea isso acertezada impunida-
de, causadapor umapolíciasucateada ecorruptaeumaJustiçalentaeparcial.
Diante de tal situação, a população sente-se cada vez mais acuada. Commedo de tor-
nar-se vítima, e, sempoder contar com a polícia, o cidadão não-criminoso tranca-se em casa e
abre mão doseudireitodeir evir. Apopulação, devido àineficiência do Estado, busca meios para
proteger-se; aqueles que podem, contratamseguranças particulares atualmente eles formam
um contingente maior que a própria polícia enquanto os demais constroem "prisões" para
proteger seupatrimônio.
A situação, sem dúvida, é emergencial. Para revertê-la, torna-se necessário erradicar
as principais causas do problema: punir os criminosos e amenizar as desigualdades sociais. A
fimde reprimir a criminalidade, a polícia deve sofrer umprocesso de reciclagempara poder agir
duramente comos bandidos, e não punir os cidadãos não-criminosos.Tambémé preciso investir
emeducação, chave paraa melhoriadascondições sociaisdapopulação.
50 Teresinha Brandão
ESTRUTURA
Introdução: Delimitação do assunto e retomada da tese do "adversário".
Obs.: Ébomlembrar que não há uma "ordem" ou "colocação" rígidaquanto às sugestões oferecidas
acima.Aretomadadatesepodeser feita, por exemplo, nodesenvolvimento, enãonaintrodução.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 51
Tal idéia não é senão uma forma rígida/ inconseqüente/ superficial de (...)
Questiona-se muito (...). Antes, porém, é preciso lembrar que (...)
Não se trata de "X", mas de "Y".
É certo que (...) mas seria lícito também lembrar (...)
Se é verdade que (...) não menos exato é (...)
De fato, (...); no entanto, (...)
Épossível que essa medida venha aser tomada, mas oideal seria(...)
Éinegável a existência de (...). Apesar disso, é válido frisar, ainda, umoutro aspecto, refe-
rente a/ao (...)
Não se pode ignorar que (...)
Ainda que muitos aleguem "X", convém salientar (...)
Desse modo, a idéia (...) torna-se insustentável no atual contexto. Seriam necessárias
medidas tais como (...) parase garantir areversãode tal quadro.
É absolutamente indispensável, portanto, reconsiderar o argumento segundo o qual (...)
pois, conforme o exposto, ele reforça uma imagem/ preconceituosa/ conservadora/ ultra-
passadade (...). Oideal seria (...) para que a situaçãopudesse ser revertida.
Logo, por mais eficazes que pareçam, tais medidas acabariamnão só por (...), como tam-
bém(...), fatos que, ao invés de amenizar o problema, poderiamacentuá-lo. Atitudes co-
mo, por exemplo, (...) seriam capazes, isto sim, de alterar a atual conjuntura, proporcio-
nando uma melhor qualidade devidaaos cidadãos.
14 O uso dos advérbios e adjetivos na argumentação
Bréal, um grande teórico da lin- emitir julgamentos acerca de determina-
guagem, ao estudá-la, comparou seu uso dos assuntos.
com a criação de uma peça teatral, expli- Em textos argumentativos, o uso
cando que o produtor intervém freqüen- dessas categorias gramaticais desempenha
temente na ação para nela misturar suas função importante já que funciona para
reflexões e seu sentimento pessoal, marcar ou reforçar a posição do autor
assim como o homem quando usa a lin- diante de um fato.
guagem. Este, ao falar, encontra-se longe Destacam-se, entre elas, os ad-
de considerar o mundo como mero es- vérbios ou locuções adverbiais.
pectador, como um observador desinte- Observemos os exemplos abaixo,
ressado. levando em conta o seguinte contexto: há
Prova disso são as inúmeras pala- uma greve e os envolvidos no aconteci-
vras que usa para expressar suas vonta- mento são o governo por um lado e, por
des, críticas, seus pontos de vista, outro, os metalúrgicos.
BRÉAL, M. Ensaio de Semântica. São Paulo: EDUC, 1992.
Obs.: Os exemplos citados foram extraídos da obra publicada também por esta autora:
RODRIGUES, L. M. P., BARBOSA, M. E. O., BRANDÃO, T. S. Maneiras do dizer:
língua portuguesa no ensino médio. Pelotas: Escola de Ensino Médio Mário Quintana,
1998, p.141.
Obs.: A lista a seguir foi elaborada e cedida gentilmente pela professora Lígia Maria da Fonseca Blank.
54 Teresinha Brandão
Exemplos:
É preciso, inicialmente, observar que toda arte pressupõe criação, produção hu-
mana.
Ou:
Deve-se analisar primeiramente (...)
Iniciemos a análise observando (...)
Analisemos, em primeiro lugar, (...)
Para prosseguir a análise:
Num segundo plano/nível/momento, observamos (...)
Em segundo lugar, destacam-se os elementos (...)
Deve-se acrescentar, nesta segunda etapa, que (...)
Exemplos:
É verdade que o tema acerca da chamada „arte engajada‟ tem suscitado polê-
micas.
56 Teresinha Brandão
Ou:
É certo que (...) Indubitavelmente (...)
De fato (...) Sem dúvida (...)
Efetivamente (...) Irrefutavelmente (...)
Certamente (...) É irrefutável (...)
É inegável (...) Inquestionavelmente (...)
É inquestionável (...)
“De fato, a literatura e a arte européias parecem chegar a um ponto crítico com o
Simbolismo.” (GULLAR, F. Vanguarda e subdesenvolvimento: ensaios sobre arte. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1978. p.47)
Exemplos:
É provável que muitos teóricos se oponham às palavras de ordem dos parnasia-
nos, quais sejam: „arte pela arte‟.
Ou:
Provavelmente (...)
Possivelmente (...)/ É possível (...)
Exemplos:
Não podemos esquecer que todo processo de renovação estética é atravessado
por um processo de renovação social.
Ou:
É preciso insistir no fato de que (...)
É necessário frisar que (...)
É imprescindível insistir na hipótese de (...)
Tanto isso é verdade que (...)
Vale lembrar o argumento (...)
Exemplos:
Paralelamente às tendências vanguardistas mais exacerbadas da Europa, desen-
volviam-se, no Brasil, experiências artísticas muito criativas.
Ou:
Ao mesmo tempo (...)
Concomitantemente (...)
Texto argumentativo: escrita e cidadania 57
Exemplos:
No que se refere à obra de Chico Buarque (...)
Quanto ao episódio ocorrido na Semana da Arte Moderna (...)
No que diz respeito à distinção entre (...)
De acordo com Ferreira Gullar (...)
Conforme lemos em Érico Veríssimo (1982) (...)
Retomando Graciliano Ramos (...)
Nas palavras de Mário Quintana (...)
Com a palavra, o autor: “A arte...” (...)
Emoção e Inteligência,
n.3, p.57, fev. 2000.
a) no topo da escala, para indicar o argumento mais forte: até/ até mes-
mo/ inclusive etc.
Exemplo:
Até mesmo os mais ingênuos desconfiam do lema „arte pela arte‟.
Exemplo:
Um conceito de „vanguarda‟ estética no Brasil merece uma consideração profunda:
é preciso, em primeiro lugar, recusarmos a idéia de que esse conceito é universal.
Além disso, é necessário frisarmos que, ao contrário do que muitos pregam, esse con-
ceito não possui um caráter alienante.
Ou:
além do mais/ ainda/ também/ soma-se a isso/ acresça-se a esses fa-
tos/ além de tudo/ ademais etc.
58 Teresinha Brandão
Exemplos:
Não pretendemos adotar um conceito universal de „vanguarda‟; pelo contrário,
tentaremos mostrar como se constrói esse termo no contexto da realidade brasileira.
“A arte religiosa da Idade Média, por exemplo, era realizada com finalidade defini-
da. Era uma arte „popular‟ imposta, tendo assim alguns pontos de contato com a arte
de massa de nossos dias. Ao contrário do que acontece hoje, quando a arte de mas-
sa, na maioria dos casos, vai ao encontro do consumidor (...)” (idem, p.137)
Ou:
por um lado/ por outro lado/ de um lado/ de outro lado etc.
“Se, por um lado, essa preponderância do processo socioeconômico sobre o cul-
tural dificulta a solidificação da superestrutura cultural, por outro lado atua como cor-
retor e selecionador, impedindo assim que uma superestrutura falsa – não surtida das
necessidades reais da sociedade – se mantenha por muito tempo sobre ela.” (idem,
p.40)
10) Para comparar: tal como/ assim como/ da mesma forma que/ da mesma
maneira que/ igualmente/ do mesmo modo que/ tanto quanto/ mais...
menos (do) que etc.
Exemplos:
“Tais considerações são válidas igualmente para o teatro, o cinema e as demais
formas de arte.” (idem, p.99)
“A obra de arte aberta („vanguarda‟) é a expressão, no plano da arte, do processo
dinâmico e aberto da sociedade burguesa e de sua crise ideológica e, ao mesmo
tempo, o salto para exprimir o caráter dialético da realidade.” (idem, p.77)
“Fenômeno semelhante ocorre no campo das artes plásticas.” (idem, p.129)
Texto argumentativo: escrita e cidadania 59
11) Para indicar a relação causa/ conseqüência: por causa de/ graças a/ em
virtude de/ em vista de/ devido a/ por motivo de/ na medida em que/
porque/ uma vez que/ já que/ visto que/ conseqüentemente/ em con-
seqüência de/ em decorrência de/ como resultado de/ em conclusão de/
razão/ motivo/ resultado/ conseqüência etc.
Exemplos:
“Essa é a razão por que o discurso não carrega em seu cerne uma experiência
concreta a comunicar, nada revela, não é poesia, e, a rigor, é um falso discurso.”
(idem, p.97)
“A pintura brasileira, conseqüentemente, não sofreu essa evolução, cujos resul-
tados (...) seriam adotados pelas gerações do pós-guerra.” (idem, p.43)
12) Para indicar conclusões: portanto/ logo/ assim/ pois/ dessa maneira/
dessa forma/ desse modo/ em suma/ em síntese etc.
Exemplos:
“O específico da obra de arte é o particular e, portanto, a experiência determina-
da, concreta do mundo.” (idem, p.77)
“Do que foi exposto, parece-nos justo deduzir que (...)” (idem, p.41)
“O que define a arte de massa é, pois, o seu raio de ação, o vasto número de pes-
soas, de todas as classes e regiões, que ela pode atingir a curto prazo.” (idem, p.127)
13) Para indicar finalidade, objetivo: para que/ a fim de que/ com o propó-
sito de/ com a intenção de/ com o intuito de/ na tentativa de/ visar/ ter
por objetivo/ pretender/ ter em vista/ ter em mira/ propor-se a/ pro-
jeto/ objetivo/ plano/ pretensão/ aspiração/ finalidade/ meta/ alvo/
intuito etc.
Exemplos:
Com o intuito de verificar algumas concepções correntes acerca do termo „van-
guarda‟ estética, decidimos, em primeiro lugar (...)
Este trabalho visa, primeiramente, a analisar algumas concepções correntes relati-
vas ao termo „vanguarda‟ estética.
Este trabalho tem por objetivo examinar algumas concepções correntes acerca
do termo „vanguarda‟ estética.
Exemplo:
É justamente essa noção que faltava destacar: toda arte é política no sentido de
que determina uma opção diante dos problemas concretos, afirmando ou negando
determinados valores.
60 Teresinha Brandão
15) Para explicar detalhadamente: elas podem exercer funções, tais como as de
retificar, ratificar etc.: ou melhor/ ou seja/ quer dizer/ isto é/ por exem-
plo/ em outras palavras/ em outros termos/ dito de outra forma/ vale
dizer etc.
Exemplo:
“Mas, por outro lado, nada impedirá que, mesmo obras voltadas para temáticas
individuais, se situem no plano da realidade política, ou seja, no plano da
atualidade.” (idem, p.142)
16) Para marcar uma relação de contrajunção, ou seja, para contrapor enuncia-
dos de orientação argumentativa contrária: mas/ porém/ todavia/ contudo/
entretanto/ no entanto/ não obstante/ embora/ ainda que/ apesar de/
apesar de que/ mesmo que etc.
Exemplos:
“O caráter esquemático da arte de massa é, no entanto, no geral, alienante, uma
vez que induz a uma visão falsa da realidade concreta.” (idem, p.119)
“A arte de massa é, em essência, mercadoria, e nisso também ela se define como
legítimo produto da sociedade capitalista, na qual tudo se transforma em mercado-
rias. Mas é preciso atentar para o fato de que essa transformação da arte em merca-
doria não é um fenômeno restrito às artes de massas e que ela não significa o fim da
arte.” (idem, p.136)
“A posição esteticista rejeita a arte de massa como atividade não-cultural, ou mes-
mo anticultural. Não obstante, essa posição não está infensa à existência da arte de
massa e é, até certo ponto, condicionada por ela (...).” (idem, p.138)
Obs.: A lista contendo os elementos coesivos pode ser encontrada na obra publicada também
por esta autora:
RODRIGUES, L. M. P.; BARBOSA, M. E. O.; BRANDÃO, T. S. Maneiras do dizer: língua
portuguesa no ensino médio. Pelotas: Escola de Ensino Médio Mário Quintana, 1998.
p.53-57.
.
1
como no caso de se conceder uma entre-
vista a um meio de comunicação, é co-
mum o usuário da língua cometer deslizes,
impropriedade vocabular pode ser mo-
tivo de ironia, contribuindo para desquali-
ficar sua imagem. É o que observamos no
descuidando-se, muitas vezes, do voca- exemplo abaixo:
bulário que emprega. Sobretudo se for
1) “Natureza, cultura, riqueza, liberdade, deuses, coletivismo, paz são alguns dos muitos
prejuízos sofridos pelos índios.” (assunto: questão indígena no Brasil; ano: 2000).
2) “(...) água, este simples utensílio essencial a nossa sobrevivência, (...)” (assunto: quan-
tidade e qualidade dos recursos hídricos; ano: 2000).
3) “Penso, inicialmente, que o indivíduo, aos 16 anos, não possui condições psicológicas
para lidar com tamanha responsabilidade, já que, em tal fase, a instabilidade emocio-
nal, a impulsividade e até mesmo o desejo de afirmação são fatores decisivos ao volan-
te.” (assunto: possibilidade legal de se dirigir aos 16 anos; carta dirigida ao editor do
jornal Zero Hora – RS; ano: 1999).
4) “48, 44, 39 horas semanais. Enganam-se aqueles que ainda pensam na redução da jor-
nada de trabalho em detrimento do lazer.” (assunto: redução da jornada de trabalho e
aumento de tempo destinado ao lazer; ano: 2000).
5) “Considero injusta a forma com que os veteranos recebem os calouros; interpreto como
uma atitude infantil, indelinqüente, anacrônica e uma verdadeira barbárie (...)” (assun-
to: a prática dos trotes aos calouros nas universidades brasileiras; carta argumentativa
dirigida ao editor da FSP; ano: 1999).
6) “Dessa forma, torna-se indispensável que os universitários – tidos até então como a mi-
noria intelectualizada – dêem exemplos tão grotescos como os dos trotes violentos.”
(idem ao anterior).
6) “Não se trata de questionar dogmas religiosos, mas sim de resolver um gravíssimo pro-
blema, principalmente com a população de menor poder aquisitivo que constitui a 4ª
causa de mortalidade materna.” (assunto: planejamento familiar; ano: 2000).
7) “A raça negra não é mais escrava, merecendo direitos iguais, inclusive o de igualdade
social.” (assunto: racismo; ano: 2000).
8) “Salienta-se ainda que os usuários de drogas não precisariam ir aos postos de saúde à
procura de kits descartáveis, em virtude de serem vítimas da discriminação e estigma-
tismo.” (assunto: Projeto de Redução de Danos, da Secretaria Municipal da Saúde de
POA – troca de seringas usadas pelos dependentes por novas para evitar doenças; ano:
1998).
9) “Por tudo isso, é imprescindível uma reflexão sobre o assunto dos jovens, que são o fu-
turo do país.” (assunto: avaliação sobre os 10 anos de criação do ECA; ano: 2000).
10) “Na certeza de que Vossa Excelência considerará meu apelo, e lembrando-lhe serem as
crianças o amanhã da Nação, despeço-me.” (idem ao anterior; carta argumentativa diri-
gida ao ministro da Justiça).
11) “Por outro lado, fico „pasma‟ ao ver crianças que deveriam estar na flor da inocência
(...)” (idem ao anterior).
"Se é para o plano ser justo, então que se puna (ou penalize
como o Governo usa, sem conhecer bem a língua portuguesa) o
responsável pela falta de energia: o que não planejou (...) Que se
corte aenergiado Governo."
2) “(...) consiste na falta de informações dos cidadãos, uma vez que não existem campa-
nhas as quais visem ao esclarecimento da população sobre o possível contágio de doen-
ças sexualmente transmissíveis, inclusive sobre a, muitas vezes, impiedosa gravidez.”
(assunto: iniciação sexual precoce entre os brasileiros; ano: 2000).
3) “Na verdade, as formas femininas, atualmente, têm-se distanciado de sua real função:
virtude de gerar uma criança.” (assunto: topless: direito ou desonra da mulher?; ano:
2000).
4) “(...) porém espero que as pesquisas avancem e, num futuro próximo, consigamos
grandes resultados, tanto na área da Saúde quanto na alimentícia.” (assunto: transgêni-
cos; ano: 1999).
6) “Na minha opinião, acredito, (...)” (assunto: o uso da „cola‟ nos estabelecimentos de en-
sino; carta dirigida ao senhor Groppa Aquino; ano: 2000).
8) “Ao ler sua relevante declaração sobre o comportamento de consumidores de baixo po-der
aquisitivo, resolvi escrever-lhe por considerar sua análise superficial e preconcei-tuosa.”
(proposta da UFPel/98; assunto: hábito de consumo das classes menos abasta-das;
comentário: “Pobre gosta de sofrer aos poucos”).
10) “De acordo com pesquisas realizadas pelo IBGE, uma elevada porcentagem da popu-lação
brasileira acredita em um conceito inovador de „família‟; para tais entrevistados, esta não
precisa ser necessariamente composta por pai, mãe e filhos, vivendo sob o mesmo teto;
uma pessoa que vive só, com um animal de estimação, pode considerar-se vivendo em uma
instituição familiar.” (assunto: perfil da família no novo milênio; ano: 2000).
11) “É inegável que não existam conflitos, violência, em um país no qual as diferenças soci-ais
são alarmantes (...)” (assunto: violência urbana; ano: 2000).
12) “As escolas deveriam conversar mais com os alunos até com os que estão terminando o 2º
grau.” (assunto: a prática dos trotes aos calouros nas universidades brasileiras; ano: 1999).
14) “Durante seu desenvolvimento, a criança recebe influências racistas de vários locais tais
como as inocentes histórias infantis, onde a princesa, o herói, o príncipe sempre são de cor
branca.” (assunto: racismo; ano: 1999).
15) “Embora se estabeleçam juros altos, há a maciça escolha em adquirir bens a prazo, pois
muitos consumidores vêem-se absolutamente coagidos a fazê-lo à vista, uma vez que seus
salários não condizem com a realidade de consumismo exorbitante.” (assunto: Pobre gosta
de sofrer aos poucos – sobre o fato de se comprar em prestações; ano: 1998/UFPel).
16) “Além disso, acaba ocorrendo também uma redução do número de trabalhadores, sem-do
que poucos conseguem manter seus empregos.” (proposta da UFPel/98; assunto: hábito de
consumo das classes menos privilegiadas; comentário: “Pobre gosta de sofrer aos
poucos.”).
19) “Em virtude dos aspectos mencionados, somos levados a crer que o álcool deve ser tra-
tado com seriedade e urgência pelas autoridades governamentais.” (assunto: alcoolis-
mo; ano: 1998).
20) “O problema de Saúde” (título de redação; assunto: Saúde Pública no Brasil; ano:
1998).
21) “As universidades têm liberdade para escolher seu tipo de avaliação. Entretanto, há um
fator que vem desmascarando certas „instituições-fachada‟, assim como descobrindo
universitários dedicados e competentes – o Provão.” (assunto: provão nas universida-
des; ano: 2000).
4 Ao articularmos as idéias em um
texto, a fim de que este seja coerente, é
sivos é importante para garantir a coe-
rência textual.
necessário verificarmos se elas têm a ver Nos trechos abaixo, de redações
umas com as outras e observarmos o tipo de alunos, um problema de coesão aca-
de relação a qual se estabelece entre elas. bou por interferir na sua coerência.
Também mostra-se importante, ao reto- Após a leitura do exemplo que
marmos idéias nesse texto, cuidarmos se a evidencia tal problema, reformule os tre-
retomada foi feita de forma correta ou chos de forma a tornar a relação coesão/
não. Em ambos os casos, o uso dos coe- coerência adequada.
1) “Ao ler uma matéria na revista Veja, que mostra seu posicionamento sobre o futuro da
sociedade, resolvi escrever-lhe por motivo de contrapor-me às mesmas.” (assunto: re-
dução da jornada de trabalho e aumento do tempo destinado ao lazer; ano: 2000).
2) “Todo menor deve ter direito à educação, à saúde e à vida digna, segundo a Decla-
ração Universal dos Direitos da Criança. No entanto, as imagens observadas na mídia e
os dados expostos no encontro, na Suécia, revelam uma realidade assustadora na qual
se notam a exploração da mão-de-obra infantil e o uso desses indivíduos em guerras.”
(assunto: violação dos direitos das crianças; ano: 2001).
68 Teresinha Brandão
3) “As universidades federais são propriedade do povo, pois eles pagam impostos ao go-
verno para que este administre os bens sociais.” (assunto: privatização das universida-
des públicas brasileiras; ano: 1999).
4) “A iniciação sexual precoce, sem a devida maturidade para prevenir-se de forma ade-
quada, pode acarretar uma gravidez precoce. Esta, portanto, leva ao abandono dos es-
tudos, comprometendo a futura qualificação profissional, especialmente das meninas.”
(assunto: iniciação sexual precoce; ano: 2000).
5) “Um país que enfrenta tantos problemas na Saúde, ainda tem que „lutar‟ contra os re-
médios, denominados como crime hediondo.” (assunto: falsificação dos remédios; ano:
1998).
7) “Este fato marca a culpa governamental, já que este raramente investe em campanhas
de prevenção.” (assunto: maternidade precoce; ano: 2000).
8) “Vossa Senhoria há de convir que, se forem penalizados pelo ECA, os pais desses jo-
vens serão responsabilizados, embora caiba àqueles a punição por um crime praticado
por estes.” (carta argumentativa dirigida ao editor da Folha de São Paulo; assunto: ma-
ioridade/menoridade penal; ano: 1999).
"Meu professor de Física é do tipo bonitão. No ano passado, ele começou a falar
que sempre sonhava comigo. Aquilo me balançou, mas tenho namorado e ele é casado.
Só que ele começou a me pressionar, pedia para eu ir até a escola à tarde. Pegava na mi-
nha mão toda vez que tinha uma chance. No começo, gostei. Imagine: as meninas da es-
cola morrendo por causa do professor e ele correndo atrás de mim! Só que, umdia, quan-
do estávamos sozinhos numa sala, ele tentou me beijar e disse que queria me levar para
um motel. Estava meio apaixonada, mas comecei a ficar com medo. Eu, que sempre fui
boa, comecei a ir mal nas aulas, fiquei de recuperação, estava quase repetindo. Não
conseguia prestar atenção na aula dele de jeito nenhum. Foi quando resolvi contar em
casa. Meu pai ficou furioso! Queria ir à polícia, falar comos diretores da escola, fazer um
escândalo. Eu implorei para ele não fazer nada. Depois de desabafar, consegui voltar a
estudar epassar de ano.”
(Revista Carinho)
1) “Como exemplo temos a morfina, usada para combater a dor que, aos poucos, está
sendo substituída pelo samário – 153.” (assunto: uso da energia nuclear [área médica];
ano: 2000).
2) “Além disso, a energia nuclear provoca a destruição das células e queimaduras (...)”
(assunto: uso da energia nuclear; ano: 2000).
3) “Não podemos também deixar de falar nas emissoras de tevê, pois a influência delas
sobre os adolescentes, que apresentam programas altamente erotizados em horários
inadequados, incentivando, assim, a relação sexual precoce.” (assunto: iniciação sexual
precoce; ano: 2000).
6) “Em se tratando de fome, temos como grande culpado os milhares de grãos que estra-
gam nos armazéns governamentais e particulares os quais, em decorrência disso, são
jogados fora.” (assunto: desperdício do dinheiro público; ano: 1999).
Pixurumaomuxirão.
Analisando a atual situação financeira da
Ilustração: J. Lanzelotti.
2) “Resolvi, por essa razão, manifestar-lhe meu posicionamento. Distinguindo, com clare-
za, situações de violência em que o meio se torna propício (...)” (idem ao anterior).
4) “Por sua vez, essa sociedade que omite informações aos jovens, assiste filmes eróticos,
novelas em que o sexo está sempre presente.” (assunto: influência da mídia X mater-
nidade precoce; ano: 2000).
5) “O jovem brasileiro tem passado por alguns problemas. Entre eles, destaca-se o alcoo-
lismo que, lamentavelmente, afeta 20% destes. Tornando-se, assim, para vários, um ví-
cio preocupante.” (assunto: o alto índice de alcoolismo entre os jovens; ano: 1999).
6) “Ao tomar conhecimento do projeto de lei de autoria de Vossa Excelência, o qual trata
da relevante questão do direito à realização do aborto legal, pelo SUS, por duas razões:
em caso de estupro e em caso de risco de vida da mãe.” (carta argumentativa dirigida a
um congressista; assunto: aborto; ano: 1999).
1) “Foram meses sem ninguém descobrir nada. Quando foi descoberto o escândalo, a
mídia foi atrás, o povo também, mas, apesar de tudo, os dois senadores renunciaram.”
(assunto: renúncia dos ex-senadores ACM e Arruda; ano: 2001).
72 Teresinha Brandão
2) “Em conseqüência desse ato, houve muita especulação sobre uma possível manipulação
política e o incentivo à compra e venda de votos, mas desta vez não passou em branco
este fato irresponsável.” (idem ao anterior).
3) “Primeiramente, gostaria de dizer que estou indignado (...)” (assunto: trote nas univer-
sidades; ano: 2000).
4) “Não vejo mal nenhum em pintarem os alunos, fazerem eles correr e coisas deste tipo.”
(idem ao anterior).
5) “É lamentável que os telespectadores tenham que assistir programas sem conteúdo in-
formativo e cheio de baixarias, como é o caso do Gugu.” (assunto: guerra pela audiên-
cia e a qualidade dos programas televisivos; ano: 1999).
7) “Essas ONGs estão fazendo um grande bem social.” (assunto: influência do terceiro se-
tor em nossa sociedade; ano: 2001).
8) “É preciso tornar mais fácil a solução dos problemas (...)” (idem ao anterior).
9) “Isso sem falar na falta de ética e vergonha na cara de nossos políticos, que só pensam
neles.” (assunto: ética e política; ano: 2000).
12) “Se isso que foi citado for feito, a saúde já irá dar uma boa melhorada.” (assunto: saú-
de pública no Brasil; ano: 1999).
13) “(...) porque, se continuar como está, muitos, com alto potencial, poderão ficar de fora
da sociedade.” (assunto: desemprego; ano: 2000).
14) “O ECA deveria trabalhar em cima do dever escolar para menores de rua (...)” (assunto:
10 anos de criação do ECA; ano: 2000).
15) “O problema é que o estatuto muitas vezes inexiste na prática, a maioria dos artigos do
texto legal não saem do papel.” (idem ao anterior).
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sta
nº1
O jornal Folha de São Paulo publicou, Após a leitura da coletânea, escreva
em 18/10/99, uma reportagem contendo o uma carta argumentativa dirigida ao
relato de um leitor, 14 anos, Paulo (nome aluno Paulo ou ao diretor da escola,
fictício; ver “observação”), segundo o qual manifestando-se acerca da acusação de
está sendo expulso da escola onde estuda preconceito alegada pelo aluno e da
em razão do preconceito de que tem sido postura adotada pela direção do es-
alvo. tabelecimento.
Além do depoimento do leitor, a Folha Além das informações contidas na
publicou uma entrevista com o diretor da coletânea, você poderá utilizar outras que
escola envolvida, depoimentos de alunos da julgar pertinentes.
própria instituição, assim como de Ao assinar sua carta, use apenas as
especialistas nas áreas educacional e iniciais de seu nome.
jurídica.
da Reportagem Local
Paulo – Fui fazer terapia. Acho que é bom até para eu me conhecer melhor e
aprender a lidar com toda essa situação. Mas acho que, mesmo que quisesse, não
conseguiria deixar de gostar dele. Algumas vezes, liguei para a casa dele e disse
que gostava dele, mas ele nunca disse claramente que não gostava de mim. Eu
acho que tenho o direito de expressar o meu amor por ele. Acho que isso é algo que
a gente deve resolver entre a gente, sem a interferência da escola. Quanto aos
outros alunos, disse que eu não sou um maníaco, não vou atacar nenhuma criança.
Folha – O que você acha que a escola deveria fazer nesse caso?
Paulo – Acho que eles deveriam conversar comigo, mas não tirar nossa liber-
dade. A posição da escola deve ser de orientar, não de expulsar. E, se eu fosse uma
menina, a mãe dele (do outro garoto) estaria feliz, a escola iria proteger a situação. A
escola, como educadora, deveria fazer com que os dois fossem respeitados e prote-
gidos. Eles deveriam agir em cima de quem goza com a cara dos outros, não de
mim e do garoto que eu amo.
Folha – O que você pretende fazer para resolver o problema?
Paulo – Meus pais não querem levar isso muito longe, não querem se expor.
Meu pai acha que a gente teria de ter dinheiro para fazer alguma coisa.
Folha – Você se sente discriminado pelos colegas?
Paulo – Há vários alunos que dizem: “Você vai morrer”. Há preconceito da
parte de alguns, a maioria não me aceita, mas muitos me respeitam.
Folha – Você gostaria de permanecer na escola, mesmo achando que há
preconceito contra você por parte da direção?
Paulo – Acontece que eu gosto da minha escola, dos meus amigos e sou um
bom aluno. Se eu for para outro lugar, vou ter de me adaptar. Não é que eu tenha
medo, mas sempre penso: “Como os alunos de uma nova escola iriam me olhar?”.
Eu quero continuar, apesar de tudo o que está acontecendo. Quero fazer algo para
mudar a mentalidade da escola, que não gosta de tocar nesse assunto, assim como
em outros, como drogas e sexualidade. Tudo o que provoque o senso crítico dos
alunos é sempre evitado.
Diretor – Ele me parece que tem boas notas, mas cria um pouco de gozação por
parte dos colegas.
Folha – Por que ele seria expulso, então?
Diretor – No ano que vem ele iria para o mesmo prédio (do outro garoto), eles se
encontrariam no recreio, e haveria aquela gozação dos outros colegas. O problema é
por aí. Se ele fosse assumido, mas ficasse no seu cantinho, não haveria problema. O
problema é a gozação com a vítima, que se sente muito mal. Não é propriamente pelo
fato de ser homossexual. Mas isso (a expulsão) vai ser decidido no conselho de classe
no final do ano.
Folha – Segundo ele, as orientadoras da escola disseram que alguns pais
teriam medo de que ele assediasse crianças.
Diretor – Disso eu não tenho conhecimento.
Folha – Há alguma forma de essa decisão mudar?
Diretor – Não está decidido. Geralmente, se os orientadores apresentam todos
esses fatos, os professores (do conselho de classe) seguem mais ou menos a orien-
tação dos orientadores.
Folha – A escola pode estar sendo preconceituosa?
Diretor – Não sei, aqui não tem muito disso. O nível é alto, os alunos vêm mais
para estudar, não são alunos que vêm criar problemas.
Folha – Mas, se fosse uma menina, aconteceria o mesmo?
Diretor – Meninos e meninas apaixonados há centenas. Isso é o pão nosso de
cada dia. O nosso lema é, dentro da escola, amizade, muita amizade, e apenas ami-
zade.
Folha – Esses garotos que estão fazendo gozações estão sendo amigos?
Diretor – A gente não é dono da cabeça de cada aluno. Entre alunos dessa ida-
de, gozação, essas coisas, são normais. Não sei até que ponto (a gozação) é muito
acentuada. Apenas o que ouvi falar, via orientadoras, é que seria um pouco perigoso ele
ir para o colegial junto com o outro.
Folha – Ele está sendo ameaçado de ser mandado embora da escola pelo
fato de ter declarado que gosta de outro menino?
Diretor – Sim, claro. Para não ter de ser expulso, o que seria ruim para ele, o ide-
al seria que os pais decidissem retirá-lo da escola, para evitar o constrangimento de o
conselho de classe decidir.
Folha – Então a solução não seria mandar o outro menino embora da esco-
la?
Diretor – O outro é a vítima, um menino perfeitamente normal.
Folha – O senhor acha que o Paulo não é normal?
Diretor – A homossexualidade é considerada uma anormalidade que precisa ser
respeitada, isso, sim. Ele não tem culpa nenhuma. Ele nem gostaria de ser assim. Que
culpa ele tem? Mas normal, normal... Como diz a Bíblia, Deus criou o homem e a
mulher, não criou um intermédio entre eles.
Folha – O senhor não acha que a expulsão seria traumática para ele?
Diretor – Acho que sim, mas nós temos também que ver o conjunto do colégio.
Folha – Não haveria outro jeito de solucionar o caso?
Diretor – Não sei. O conselho de classe é que vai decidir.
78 Teresinha Brandão
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sta
nº2
O terceiro setor da economia re- ção, saúde, meio ambiente etc.
úne ações de entidades diversas – ONGs, Após a leitura da coletânea, posi-
instituições filantrópicas, fundações, entre cione-se em um texto dissertativo-ar-
outras –, assim como o trabalho individual gumentativo, acerca do assunto, avali-
ou em grupo, sem fins lucrativos, reali- ando a eficiência/não-eficiência do
zado, em muitos casos, através de volun- terceiro setor nos aspectos econômi-
tários. cos, sociais e políticos de nossa soci-
Tais atividades vêm despertando edade.
o interesse do Poder Público e da comuni- Além das informações contidas na
dade em geral pelo efeito do trabalho rea- coletânea, você poderá utilizar outras que
lizado nos mais diversos setores – educa- julgar adequadas ao tema.
Terceiro Setor
Texto argumentativo: escrita e cidadania 79
O que é?
mundo vamos discutir e propor alternativas, Rua General Jardim, 660 – 7º - Vila Buarque –
a partir das nossas experiências, que 01223-010 – são Paulo – SP
apontem para um desenvolvimento sem ex-
A ABONG foi fundada em 1991 por um grupo
clusões e com justiça social. Vimos mostrar
de ONGs que decidiu buscar a intervenção
que acreditamos que um outro mundo é social agindo coletivamente. Nestes 10 anos de
possível e que temos um papel importante trabalho, o grupo inicial ganhou muitas adesões
na sua construção. e hoje são cerca de 270 associadas.
A filantropia no Brasil
já movimenta 12 bilhões "(...) Quem não tem recursos doa seu
de reais por ano e ganha tempo. Cerca de 16% das pessoas com mais de
a adesão de ricos, famosos 18 anos são voluntárias de projetos sociais em
e empresas todo o país. Ou seja, uma massa de 12 milhões de
brasileiros trabalha de graça para ajudar o próxi-
mo. 'Tem mais jovens querendo se engajar em
Émito que no Brasil se doe pouco projetos de ajuda do que as ONGs são capazes
em comparação com outros paí- de recrutar', afirma o consultor Stephen Kanitz,
ses. Abaixo, o percentual de doa-
ção de indivíduos e empresas no
um dos maiores especialistas em projetos para o
total arrecadado por organiza- setor. A solidariedade do povo brasileiro foi capta-
ções semfins lucrativos. da na pesquisa da Johns Hopkins e do Iser. O tra-
11% balho, que será publicado no mês que vem, é uma
10% análise comparativa de 22 países, incluindo os
mais ricos, sobre o papel e o desempenho das or-
10%
ganizações sem fins lucrativos. O Brasil não faz
19% feio: aqui se doa mais que a média dos países
Fonte: Pesquisa Comparativa Johns Hopkins-Iser
pesquisados (...)
(...) Oqueficapatente éque oBrasil está
mudando para melhor nesse campo. O governo
não tem sido capaz de dar conta de todas as de-
mandas sociais existentes. As pessoas incomo-
"Num mundo cada vez mais dadas coma pobreza estão esperando menos do
conturbado, cruel e desigual, governo e arregaçando as mangas. É isso que
a responsabilidade social é vem fazendo crescer enormemente o número de
uma questão de sobrevivência organizações semfins lucrativos. 'Oterceiro setor
para as pessoas e organiza- está na moda', afirma Milu Vilela, uma das donas
ções." do Banco Itaú e mantenedora de dois centros
Francisco de Assis Azevedo assistenciais. Espera-se que a moda venha para
Timóteo, MG ficar.”
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nº3
Esperava-se que a alta tecnologia, dois primeiros textos, apresentando argu-
com suas novas formas de mecanização e mentos para convencê-lo de que está
informatização, proporcionassem, no início equivocado. Neste exercício de argumen-
do novo milênio, um largo espaço de tação, você deverá discordar, portanto,
tempo destinado ao lazer. No entanto, o das opiniões desses autores.
que se percebe são posições polêmicas Ao assinar a carta, use apenas as
quanto às relações de trabalho, na atuali- iniciais de seu nome.
dade e no futuro, e à busca por maior Uma outra possibilidade é a cria-
tempo livre aos trabalhadores. ção de um texto dissertativo-argumen-
Baseando-se nas informações tativo no qual a contra-argumentação
abaixo, bem como no seu conhecimento seja o processo básico da redação.
de mundo, redija uma carta argumen- Você poderá utilizar outras infor-
tativa destinada a um dos autores dos mações que julgar pertinentes.
No início do século 20, Freud publicou "A Interpretação dos sonhos", Taylor
FSP, 22/04/01
inventou o "Scientific Management", Einstein anunciou a teoria da relatividade,
Picasso expôs "Les Demoiselles d'Avignon", Stravinski compôs "A Sagração da
Primavera".
Cada área sofreu uma profunda revo- Acima de tudo resulta numa dificul-
lução da qual desabrocharia a sociedade dade maior em discernir trabalho, diversão
pós-industrial na qual temos agora a sorte e aprendizado; caem as barreiras entre
de viver. Agora as descobertas surgem cansaço e tempo livre; de qualquer ma-
como cascata, e não passa ano em que neira o trabalho ocupa apenas um décimo
não se realizem grandes progressos. Se do nosso tempo de vida.
pensarmos que a potência dos micropro- Isso significa que, enquanto até agora
cessadores, que são a base de cada tec- a família e a escola se preocuparam em
nologia, dobra a cada 18 meses... preparar os jovens para o trabalho, no fu-
O trabalho é investido por cinco gran- turo, deverão se preocupar em prepará-los
des ondas de transformação: o progresso para o tempo livre. O lazer é uma profissão
tecnológico, o desenvolvimento organiza- e uma arte não menos importante que o
cional, a globalização, a escolarização e os trabalho, e a qualidade da nossa vida
meios de comunicação. depende sobretudo da qualidade do nosso
Disso se deduz que todas as nossas lazer.
atividades se intelectualizam, que desapa- Porém os países anglo-saxões e o
recem muitas atribuições cansativas e te- Japão, sendo hiperindustrializados
diosas, que somos capazes de produzir economicamente e psicologicamente,
sempre mais bens e mais serviços com aprenderam a organizar e viver o trabalho,
cada vez menos contribuição específica de mas desaprenderam a organizar e viver o
trabalho humano. tempo livre. Por outro lado, os países lati-
82 Teresinha Brandão
nos (entre eles o Brasil), não tendo nunca Em um conto belíssimo, intitulado "A
assimilado profundamente o modelo in- Rosa de Paracelso", Borges sustenta que
dustrial, conservam uma grande vitalidade o paraíso existe: é a vida aqui na Terra.
extra-trabalho: sensualidade, comunicabili- Borges acrescentou que existe também o
dade, hospitalidade, convivência. Estão, inferno: e consiste em não percebermos
portanto, mais preparados para viver com que vivemos em um paraíso. Tudo está em
alegria a sociedade do tempo livre que nos compreender a condição feliz à qual fomos
aguarda. destinados, nascendo e tomando consci-
Os três pilares do tempo livre serão a ência de que a felicidade consiste em pro-
sensualidade, a criatividade e a estética. curá-la.
Os luxos cada vez mais raros e preciosos
consistirão no silêncio, no espaço, na pri-
vacidade, na segurança, na alegria, na Domenico de Masi, sociólogo italiano e autor do livro
Desenvolvimento sem Trabalho (Ed. Esfera), entre
beleza: todos pressupostos imprescindí-
outros, assina esta coluna toda segunda semana do
veis para satisfazer as necessidades de mês.
introspecção, amizade, amor, lazer e con-
vivência: isto é, as necessidades emer- Folha de São Paulo, São Paulo, 11 de maio de
gentes. 2000. Folhaequilíbrio.
"(...) Como é que um século chega à metade celebrando como conquista a luta de sin-
dicatos no mundo inteiro para reduzir jornadas fatigantes e termina comboa parte da população
trabalhandocadavez mais?
O motor é o desemprego - A explicação dos especialistas, vejamsó, é a diminuição
crescente do emprego confortável do passado, aquele que durava por toda a vida útil e exigia
pouco do funcionário. Numa simplificação de umprocesso intrincado, a economia globalizada da
últimadécada, principalmente, pôs contra aparedeempresas lotadas demão-de-obra habituada
ao padrão oito-às-cinco. Lançadas numa competição feroz, adotaram a prática do melhor resul-
tado ao menor custo possível. Instauraram-se o downsizing, a terceirização, a reengenharia,
processos que levam à redução de pessoal. Quem ficou teve suas obrigações aumentadas e
passou a trabalhar muito mais, não só para dar conta do recado como para não perder, ele
também, a vaga. Quem saiu procurou alternativas menos rentáveis e mais cansativas, como
ocorreunoBrasil nabuscadebrechas nomercadoinformal. (...)
Outro setor que mantém longas jornadas, sem que isso reflita pujança econômica, é o
informal. 'Otaxista, o encanador, aquele sujeito que trabalha por conta própria, todos devemes-
tar dedicando o dobro de tempo ao batente', analisa José Paulo Chahad, tambémeconomista e
professor da USP.„Eles precisamficar muito mais horas disponíveis, à espera de umcliente, para
manter o nível de renda de antigamente. Se houvesse gente batendo à sua porta, eles poderiam
ter umhoráriofixo, ter amesmarendae sótrabalhariammais sequisessemumextra.‟ (...)
Nessa nova cultura de trabalhar muito, ganhar muito e subir muito na vida, o desejo de
consumo é outro fator preponderante. As pessoas estão trabalhando mais, também, para poder
comprar mais. Em1991, a economista Juliet Schor, de Harvard, escreveu umlivro que se tornou
umaespéciedebíbliadoassunto.
(...) Nele, Schor culpa a televisão, principalmente, por impor valores e vender símbolos
de status que influenciamo americano a ser umpovo que gosta de gastar, não de poupar, uma
definição que cabe, sem tirar nem pôr, nas fronteiras do Brasil que tem dinheiro para ir às
compras. (...)”
(Revista Veja, 05/04/2000)
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nº4
O jornal Folha de São Paulo, em Abaixo, você encontrará tre-
sua edição de 22/04/01, publicou um su- chos/textos desse suplemento. Depois de
plemento especial intitulado 10 manda- lê-los, selecione as idéias que julgar ade-
mentos para a carreira, contendo dez arti- quadas e acrescente outras, se for neces-
gos escritos por especialistas os quais sário, e produza um texto dissertativo-
abordam temas como as necessidades do argumentativo em que seja abordado o
mercado de trabalho atual, a formação tema “O perfil do profissional no novo
dos novos profissionais, os pré-requisitos milênio: atualidade e perspectivas
para se obter sucesso e realização na futuras”.
carreira.
84 Teresinha Brandão
Trabalhador-empresa-comunidade
D esesperados atrás
de mão-de-obra
qualificada, executivos dos
e esse erro é um dos fatos
notáveis do capitalismo
contemporâneo.
a mão-de-obra virou tam-
bém questão de market-
ing, mais especificamente
setores de tecnologia da de marketing social.
Por puro pragma-
informação e telecomuni-
tismo, as empresas são O Brasil assiste
cações, no Brasil, vêem-se
obrigadas a ser mais ge- agora à onda da respon-
forçados a oferecer salá-
nerosas para atrair e sabilidade social nas em-
rios altos e benefícios indi-
manter seu mais impor- presas, cobradas sobre
retos, mas, mesmo assim,
tante patrimônio: o capital como cuidam de seus em-
encontram dificuldades de
humano. Passa a ser deci- pregados e como tentam
preencher as vagas.
siva a valorização da melhorar sua comunidade,
Nos setores de alta transmissão do conheci- com ações de cultura,
tecnologia, há uma discre- mento, numa aposta nos educação, saúde ou ambi-
pância entre a formação intelectos. A disseminação ente.
educacional dos trabalha- das universidades corpo-
A confluência de to-
dores e as vagas ofereci- rativas, dragando milhões
das essas tendências –
das, reflexo de um ciclo de reais para treinamento
valorizar a mão-de-obra e
econômico ancorado no de pessoal, mostra que, na
mostrar um rosto solidário
que se convencionou prática, o ambiente de tra-
para a comunidade – é o
chamar de “era da infor- balho se confunde com o
estímulo, bancado pelas
mação”. ambiente escolar.
empresas, para que os
Aprende-se fazendo, faz-
Em poucas palavras, funcionários exerçam ati-
se aprendendo.
nunca se produziram vidades voluntárias.
tantos dados em tão pouco Ao se abrirem para
Quem preferir ficar
tempo e, mais importante uma visão mais complexa
fora dessa nova relação
ainda, nunca foram trans- de quem trabalha (ser que
trabalhador - empresa - co-
mitidos com tanta rapidez: pensa, tem idéia, inter-
munidade está tão habili-
o novo ritmo vai definindo age), as empresas são
tado a sobreviver como
quem vive, sobrevive ou obrigadas a absorver tam-
aqueles que, avessos à
simplesmente morre nos bém a complexidade dos
modernidade, não queriam
negócios. Cada vez mais, seres humanos, aceitando-
trocar as máquinas de es-
o tempo é menor e, cada os como pais, maridos,
crever pelo computador.
vez mais, ele vale mais filhos.
dinheiro.
Cresce o número de
Diante de tanta com- empresas que oferecem
petitividade, seria normal períodos sabáticos, tele-
supor que o trabalho só trabalho, horário flexível, Gilberto Dimentein – Colunista,
iria piorar as condições de programas psicológicos, membro do Conselho Editorial
vida dos trabalhadores, estímulo a atividades físi- da Folha e presidente da ONG
submetidos a uma insu- cas: busca-se fazer do lu- Cidade Escola Aprendiz
portável pressão. Errado – gar de trabalho quase uma
extensão do lar. Tratar bem
Texto argumentativo: escrita e cidadania 85
Mudanças e escolhas
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