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Arte de rua
Janice Jara Conceição Dutra - janicedutra@hotmail.com
Máster em Arquitetura
Instituto de Pós Graduação - IPOG
Resumo
O tema central deste trabalho foi a investigação das principais manifestações de arte urbana na
área central de Pelotas entre julho de 2011 e julho de 2012, a fim de compreender a estrutura
necessária para sua realização e finalmente propor um espaço urbano organizado para este fim.
Para tanto, foram pesquisados artigos em jornais e sites no período e feito um levantamento
fotográfico das ocorrências em julho de 2012. Paralelamente, foram consultadas, como aporte
teórico sobre estas manifestações, as obras Pallamin (2000) e Piovesana (2007). Percebeu-se
claramente que a divulgação desses trabalhos, sobretudo no “Calçadão” de Pelotas, em conjunto
com o comércio ambulante, contribui para a dificuldade no fluxo de pessoas e andamento do
comércio, além de descaracterizar a paisagem urbana. Entendeu-se que a característica turística
que a cidade reivindica para si teria crescimento com um maior destaque a estes artistas em um
local apropriado para apresentarem-se. Finalmente, a autora propõe a destinação de um local
mais adequado à manifestação da arte urbana em Pelotas, em um espaço público e com
reconhecido valor histórico.
Palavras-chave: Arquitetura; Arte urbana; Ocupação de espaços públicos.
1. Introdução
Esta pesquisa tem como tema principal a ARTE DE RUA que é conceituada como “praticamente
todo tipo de diversão, como contorcionismos, acrobacias, truques com animais, truques com cartas,
ventriloquismo, danças, recitais de poesia, apresentações de música, estátuas vivas, entre outros.”
(WIKIPEDIA, 2012).
É a arte expressada por artistas que, na maioria das vezes, estão no anonimato e que
preferencialmente usam as ruas como palco, sem considerar, muitas vezes, se o local onde estão é
apropriado para divulgarem seus trabalhos.
Em Pelotas, muitos desses artistas são vistos apresentando-se na zona central, na maioria dos casos
nos calçadões das ruas Andrade Neves, Quinze de Novembro e Sete de Setembro. São artistas de
vários gêneros como grafiteiros, dançarinos, músicos, estátuas vivas, pessoas que mostram suas
habilidades de malabarismos com ferramentas variadas.
Essas expressões artísticas populares atraem os olhares de curiosos que circulam no calçadão e
também de pessoas que realmente apreciam esse trabalho.
Mas há também os que criticam tais apresentações porque o centro de Pelotas é um local repleto de
comerciantes e estas manifestações acabam escondendo as vitrines e atrapalhando o fluxo de
pedestres. Elas somam-se a um conjunto de elementos que poluem urbanisticamente esse local tais
como rede elétrica aérea, cabos de telefonia e internet e vendedores ambulantes de diferentes
mercadorias.
Fizeram parte do trabalho a pesquisa de artigos em jornais e sites sobre manifestações ocorridas no
período mencionado e um levantamento fotográfico das ocorrências em julho de 2012, para
verificar quais os tipos de manifestações de arte urbana ocorridas e que tipo de suporte urbano
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necessitavam para acontecer. A parte sobre Arte Urbana foi embasada teoricamente na obra de
Pallamin (2000). Paralelamente sentiu-se a necessidade de estudar sobre a infraestrutura urbana
necessária e apropriada para tais manifestações, e para isto a obra de Piovesana (2007) foi a base.
Depois dessa coletânea de informações e da constatação de que existem convenientes lugares
próximos aos calçadões centrais e comerciais sugeriu-se um espaço considerado como o mais
apropriado para que esses artistas de rua possam mostrar seus trabalhos sem atrapalhar o fluxo de
pedestres no centro comercial. Levou-se em conta que este local deverá ser bem localizado na zona
central e preferencialmente que esteja nas imediações dos prédios tombados como patrimônio
histórico dessa cidade. O local sugerido foi a Praça Coronel Pedro Osório, partindo de um espaço,
embora ainda deficitário para este tipo de manifestação, que foi instalado pela Prefeitura para fins
de manifestações artísticas.
A proposta inicialmente seria aproveitar uma área já existente na praça com forma semicircular,
com revestimento no chão com ladrilho hidráulico, o que caracteriza as calçadas de Pelotas, onde
ocorreriam as apresentações artísticas. Neste espaço já existe banco que “convida” alguns jovens
para reunirem-se, conversarem e tocarem violão ao ar livre.
Como a população pelotense valoriza muito seus prédios históricos, acredita-se que este local torna-
se interessante, já que o mesmo está voltado para o principal teatro de Pelotas, o Sete de Abril, que
tem grande valor histórico para o patrimônio arquitetônico e cultural dessa região.
Figura 1 - Praça Coronel Pedro Osório vista para o Teatro Sete de Abril
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Figura 2 - Teatro Sete de Abril vista para a Praça Coronel Pedro Osório
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Outra manifestação de arte urbana muito comum são as estátuas vivas. Conforme Brito (2012) este
fenômeno se expandiu desde os anos 90, invadindo as ruas mais movimentadas do Brasil inteiro.
Muitos destes artistas passam dificuldades porque vivem viajando, precisam pagar hospedagens,
alimentações e passagens. É desse trabalho que vem o seu sustento, pois as pessoas param, olham o
artista e deixam algum dinheiro.
As estátuas vivas são performances temáticas em movimentos estáticos, geralmente em pé, com
pausas estratégicas e perfeitas. A concentração e a resistência são fundamentais para esses artistas
além de terem que construir personagens que devem ter maquiagens e cenários. A preparação de
uma apresentação de estátua viva é cara já que as maquiagens devem ser apropriadas para o corpo e
os artistas devem usar artifícios para proteger a pele do frio, como base ou creme hidratante
corporal.
Outra expressão artística são as artes circenses que nos dias atuais estão vivendo um processo de
transformação. A lona deixou de ser o único lugar onde o circo se apresenta. Uma nova visão se cria
neste momento, o circo está voltado para todas as pessoas - crianças e adultos - e sendo utilizado de
maneira educacional, utilizando os movimentos do corpo.
Hoje é possível assistir a um espetáculo circense em teatros, parques, praças e lugares públicos. Até
então o “fazer circo” estava limitado às pessoas que seguiram seus familiares, que nasceram no
circo ou fugiram com ele, dando continuidade aos trabalhos de geração a geração. Com o tempo, a
arte circense está atraindo outro público, formado por pessoas que apreciam a dança, o
malabarismo, o teatro e a representação, por isso houve a abertura para esse novo tipo de arte, uma
arte que junta técnicas do circo, tais como se pendurar em um trapézio, jogar bolinhas, subir em um
tecido e saltar, com apresentação em teatros fechados e lugares públicos e abertos (TELLES, 2007).
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Fonte: (DIÁRIO POPULAR, 2012)
Há também outro tipo de arte de rua que atrai os olhares das pessoas que circulam pela cidade.
Ao andar pela Rua Andrade Neves, onde se localiza o principal calçadão de Pelotas, depara-se com
personagens conhecidos como estátuas vivas. Atualmente encontramos o “homem prateado”, figura
ilustre que encanta e alegra as pessoas que por ali passam.
Este artista geralmente usa poucas vestimentas, figurinos e maquiagens criados por ele. Em meio ao
fluxo de pessoas, vendedores ambulantes, comerciantes de artesanatos de rua, ele se mantém forte e
persistente, mesmo sabendo que essa profissão pode ser admirada ou desprezada.
Questionado sobre o que pensa sobre o local em que se instala para apresentar-se, revela acreditar
que este é um lugar bastante movimentado por pedestres e ali consegue arrecadar dinheiro para sua
sobrevivência. Ao mesmo tempo não saberia onde mais se apresentar. Se estas estátuas vivas
tivessem seu reconhecimento profissional e o trabalho divulgado, existiria a possibilidade de terem
a rua como sua sobrevivência e possivelmente alguns espaços de estabelecimentos fechados onde
fariam eventos corporativos e particulares (festas, aniversários...) como vitrine viva, hoje já visto
em vários lugares do mundo. (BRITO, 2012)
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Outros artistas que eventualmente são encontrados pelas principais ruas de Pelotas são integrantes
da oficina permanente de técnicas circenses criada nessa cidade, o Tholl, formada por artistas de
teatro e dança grupo que se apresentam em teatros fechados e também na rua, caracterizando um
circo sem lona e picadeiro.
Os principais objetivos do Grupo Tholl são: estimular o crescimento cultural de crianças e
adolescentes com sua inserção no mundo das técnicas circenses, desenvolvendo atividades
físicas e lúdicas; promover as técnicas circenses, conjuntamente com teatro e dança, em
montagens de espetáculos com elevado padrão de excelência; difundir e desenvolver o
pleno exercício da educação, proporcionando qualidade de vida à comunidade em que está
inserida; exercer parcerias, diálogo local e solidariedade entre diferentes segmentos sociais,
que visem interesses comuns com a arte. (www.grupotholl.com)
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O grupo é reconhecido nacionalmente, tanto que o seu trabalho foi apresentado na emissora da Rede
Globo nos programas Caldeirão do Huck e TV XUXA, além disso, também se apresenta com
frequência em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em cidades que ficam nos arredores de Pelotas e
em outros estados do Brasil. Temos este como um “produto” de grande importância para nossa
cidade.
Este também trabalha com publicidade, divulgando eventos ligados a eles ou empresas
terceirizadas. Fazem apresentações artísticas pelos calçadões centrais de Pelotas em datas
comemorativas. Quando aparecem, as pessoas direcionam os olhares para as performances e
figurinos dos personagens, enquanto que outros cercam esses artistas, tornando o calçadão central
um palco, esquecendo que o andamento do comércio fica prejudicado.
Outro grupo de teatro, mais novo, a “Companhia Informal de Artes Cênicas”, parte do princípio que
o público não tem mais o costume de sair de casa para ir ao teatro. Sendo assim, resolveu levar seu
trabalho ao público. Em meio à multidão que circulava pelo centro comercial, personagens com
roupas e maquiagens fora do convencional chamaram a atenção dos pedestres em julho de 2010,
porque começaram a interagir com as pessoas que estavam a sua volta, as quais reagiram de várias
formas. Enquanto as crianças aceitaram as brincadeiras e mergulharam no mundo da imaginação,
outros só olhavam. O grupo visa expandir a cultura e mostrar que é possível fazer arte de rua
(DIÁRIO POPULAR, 2010).
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Podemos encontrar um casal de artistas de rua morador da periferia de Pelotas, que enfrenta
engarrafamentos no trânsito para chegar ao calçadão, principal palco de suas apresentações.
Trabalham de segunda a sábado e se chover não se apresentam, porque o local é descoberto.
Estão sempre acompanhados dos bonecos que também formam um casal. Devido à divulgação do
trabalho, já estão se apresentando em eventos infantis e comunidades carentes em Pelotas.
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A arte deles é mais uma manifestação entre tantas outras presentes nas ruas centrais. Mais do que
isso, foi a alternativa encontrada por pessoas talentosas para vencer o problema do desemprego. Por
meio das apresentações de suas habilidades nas ruas, os artistas vivem exclusivamente da renda
obtidas com as apresentações.
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A praça é de domínio público e coletivo para a cidade, segundo Caldeira (2007). Desde a Roma
antiga este era o local mais importante da cidade, como também aconteceu no Brasil nas cidades
coloniais.
Com o tempo, as cidades estão crescendo e as modernidades oferecidas pelas mesmas como
cinemas, restaurantes, parques fechados com brinquedos, clubes sociais e shoppings, estão atraindo
o público, diminuindo assim a ocupação de espaços abertos e públicos.
A praça que foi abordada no urbanismo modernista utiliza os grandes espaços livres ao invés dos
locais fechados, mas é criticada pela sua falta de ocupação.
Algumas praças possuem vários nichos com diversos equipamentos como playground, mesas para
jogos de dama, bancos, áreas verdes, lagos e áreas livres, lugares atrativos ao público em geral,
como a própria Praça Coronel Pedro Osório. Entretanto, apesar deste espaço em Pelotas possuir
alguma infraestrutura, falta-lhe outras, que efetivamente atrairiam a ocupação e viabilizariam a
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permanência por mais tempo e por mais freqüentadores. Não existe, por exemplo, restaurante na
mesma. Não existem, também, atrações culturais que atraiam o público para este espaço. Assim,
com outras programações existentes na cidade, como a feira de artesanato na Avenida Bento
Gonçalves, acaba que não é ocupada por tantas pessoas quanto poderia ser.
Apesar disso, a praça se transforma completamente durante uma feira anual de livros. Quando esta
acontece, atrações gastronômicas são instaladas, um palco onde vários grupos artísticos se
apresentam se faz presente, além dos estandes de livrarias que são a atração principal. A praça
ganha, então, a “vida” e a ocupação que não possui durante o resto do ano.
A praça Coronel Pedro Osório tem sua origem no estilo modernista de praça século XX, se
adequando ao estilo contemporâneo proposto pelos urbanistas. Neste, as praças querem resgatar os
moldes dos espaços das praças da antiguidade romana, recuperando o verdadeiro significado do
urbanismo.
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8. Conclusão
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Referências
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