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Culturas Musicais do Mundo: Fado

Docente: Rui Vieira Nery


Departamento de Ciências Musicais
2016/2017

João Daniel Oliveira Vicente


nº44466

Dezembro, 2016

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ÍNDICE

Marcha Alfredo Marceneiro 3


Fado Menor com Versículo 6
Fado Laranjeira 10
Bibliografia 13

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MARCHA DE ALFREDO MARCENEIRO
Música de Alfredo “Marceneiro” Duarte

Poema Há Festa na Mouraria de Gabriel de Oliveira


1ª Estrofe
Há festa na Mouraria
É dia da procissão
Da Senhora -- da Saúde
Até a Rosa Maria
Da Rua do Capelão
Parece que tem virtude
2ª Estrofe 4ªEstrofe
Naquele bairro fadista Após -- um curto rumor
Calaram-se as guitarradas Profundo silêncio pesa
Não se canta nesse dia Sobre o Largo da Guia
Velha tradição bairrista Passa a Virgem -- no andor
Vibram no ar badaladas Tudo se ajoelha e reza
Há festa na Mouraria Até (pausa) a Rosa Maria
3ª Estrofe 5ª Estrofe
Colchas ricas nas janelas Como que petrificada
Pétalas soltas no chão Em fervorosa oração
Almas crentes, povo rude É tal a sua atitude
Anda a fé -- -- pelas vielas Que a Rosa -- já -- desfolhada
É dia da procissão Da Rua do Capelão
Da Senhora da Saúde Parece que tem virtude (Bis)

Amália Rodrigues: https://www.youtube.com/watch?v=gvTg48vpBE4


Mariza: https://www.youtube.com/watch?v=y6R-NgUcTHc

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Poema Há Festa na Mouraria de António Amargo

Desde manhã, -- os fadistas Nas vielas -- do pecado


Jaquetão, calça esticada Reina a paz tranquila e santa
Se aprumam com galhardia Vive uma doce alegria
Seguem as praxes -- bairristas À noite, é noite -- de fado
Bis É data santificada Bis Tudo toca, tudo canta
Há festa na Mouraria (bis) Até a Rosa Maria (bis)

Toda aquela -- que se preza A chorar -- de arrependida


De fumar, falar calão A cantar com devoção
Pôr em praça a juventude Numa voz fadista e rude
Nessa manhã -- chora e reza Aquela rosa -- perdida
Bis É dia da procissão Bis Da Rua do Capelão
Da senhora da saúde Parece que tem virtude (bis)

Interpretação de A. Marceneiro: https://www.youtube.com/watch?v=UDMtr9M7F4w

Há Festa na Mouraria é um fado de sextilha em glosas (cinco sextilhas no poema de


Gabriel de Oliveira e quatro no de António Amargo) com versos de redondilha maior
(sete sílabas) e tipo de rima repetida (ABCABC). O poema de António Amargo, com
quatro sextilhas, foi inspirado pelo poema de Gabriel de Oliveira, com cinco sextilhas.
Apesar do primeiro não incluir o mote do poema original como introdução, este está
implícito, em glosas, no final de cada estrofe. Na interpretação de Mariza, não está
incluída a segunda sextilha do poema e, ao contrário de Amália, a fadista repete os três
últimos versos da quinta sextilha.
Cada estrofe tem uma divisão interna de três em três versos, sendo que no meio há um
tempo de espera que equivale à duração de um verso (AB). Nos poemas acima expostos
estão assinaladas, por dois tracinhos, as divisões que cada fadista fez na sua
interpretação (no caso do poema de Gabriel de Oliveira, os traços de Amália e Mariza
são pretos e vermelhos, respectivamente). Na sua interpretação, Marceneiro divide o
primeiro e o quarto verso a meio, arrastando sempre a primeira sílaba da frase, e canta o
segundo, terceiro, quinto e sexto verso de seguida. Já em Amália e Mariza a divisão do

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texto não é regular: a maior parte do poema é cantado sem qualquer interrupção a meio
dos versos (excepto em cinco versos, no caso de Amália, e em três versos, no caso de
Mariza) e as fadistas optam por arrastar sílabas de forma frequente, cada uma com um
estilo diferente. A Amália faz a primeira parte do verso sempre muito mais lenta que a
segunda, enquanto Mariza é mais contida e mais equilibrada na divisão.
Em relação à melodia, os três fadistas estilam de forma diferente. O caso mais
impressionante é o de Amália em que apresenta uma grande variação melódica de
estrofe para estrofe.
Na versão de Amália e de Marceneiro ouve-se um típico acompanhamento da viola de
fado, em baixo alternado, a dar apenas o balanço e pequenas progressões. A guitarra faz
floreados, dá as entradas dos versos e entra em diálogo com voz. No entanto verifica-se,
na interpretação do Marceneiro, que a guitarra portuguesa dobra a voz mais vezes que
nas outras interpretações. A versão de Mariza é uma versão moderna e não
convencional (alterações no acompanhamento convencional baixo, viola e guitarra): a
viola começa a acompanhar a fadista e, ao longo da música, ouve-se pequenas
intervenções do violino, com o intuito de preencher espaços vazios e dar as entradas
para os próximos versos. Só a partir do segundo minuto é que a guitarra intervém no
fado dando as entradas e preenchendo os espaços vazios com floreados.

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FADO MENOR COM VERSÍCULO
Música de Alfredo “Marceneiro” Duarte

Poema Por Morrer uma Andorinha


.
Se deixaste de ser minha -- minha dor Eu já estava habituado -- a este fado
Não deixei de ser quem era, e tudo é A que não fosses sincera, em teu amor
novo Por isso, não fico à espera -- do sabor
Por morrer uma andorinha, -- sem amor Duma ilusão que eu não tinha, e nem
Bis Não acaba a primavera, -- diz o povo renovo
Bis Se deixaste de ser minha -- minha dor
Como vês, não estou mudado -- Não deixei de ser quem era -- e tudo é
felizmente novo
E nem sequer descontente, ou derrotado
Conservo o mesmo presente -- do Vivo a vida como dantes -- a cantar

Bis passado Não tenho menos nem mais, do que já


E guardo o mesmo passado -- bem tinha
presente Os dias passam iguais -- para não voltar
Bis Aos dias que vão distantes -- de seres
minha

Horas minutos instantes -- desta vida

Seguem a ordem austera, com rigor

Ninguém se agarra à quimera -- sem


valor

Do que o destino encaminha, e não é


novo

Bis Por morrer uma andorinha -- sem


amor

Não acaba a primavera -- diz o povo

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-Interpretação de Carlos do Carmo (voz), Raúl Nery e António Chaínho (guitarra), José
Maria Nóbrega e Pedro Nóbrega (viola e viola-baixo, respectivamente), no álbum Mais
do que Amor é Amar, audição online disponível no Spotify.

Poema Fracasso de Linhares Barbosa:

Quando há bocado me viste, -- reparaste,


Que eu trazia um ar cansado, -- um ar doente,
Eu ando cansada e triste, -- e arrependida
Bis
De ter andado a teu lado, -- ultimamente.

Jurei aos pés do altar, -- piedosamente,


E jurei a uma Virgem, de olhos doces,
Em sempre te acompanhar -- como uma sombra
Bis
Fosses tu ao fim do mundo, -- aonde fosses.

Mas um dia, um dia veio, um dia não,


Reparei que o teu amor, era aparente
E fiquei abandonada, desprezada,
Bis
Porque tu sem reparar -- seguiste em frente.

Eu cansei de ser sombra, de ser crente


E por isso tu me viste -- com cansaço,
Arrastando tristemente, e arrependida
Bis
A falência do meu sonho -- o meu fracasso.

- Interpretação de Berta Cardoso: https://www.youtube.com/watch?v=3A3xoN5Pw6A

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Poema Se o Mundo Dá Tantas Voltas de Linhares Barbosa

Se o mundo dá tantas voltas, em redor


Das estrelas -- nos espaços, encobertos
Não sei como não te soltas, meu amor
Bis E vens cair nos meus braços, sempre abertos

Tu és assim como o vento, nas nortadas


Com as mesmas -- inconstâncias, esquisitas
Tenho-te ao pé um momento, um quase nada
Bis
Depois vejo-te a distâncias, infinitas

És mais leve que a poeira, que há no ar


És mais fino -- que a poalha, em remoinho
Que poisa sobre a roseira, prá manchar
Bis E depois -- o vento espalha, p’lo caminho

Se te não prendes rendido, é tua norma


Dizes e fico -- a pensar, ao ver-te ausente
Que andando tu desprendido, dessa forma
Bis
Eu te não possa agarrar -- eternamente

- Interpretação de Sara Correia (voz), Ângelo Freire (guitarra), Diogo Clemente (viola),
Marino de Freitas (viola-baixo), álbum Fado, Volume 3, audição online disponível no
Spotify.

A principal característica do fado versículo é a junção de um hemistíquio, normalmente


de três silabas, a cada verso das estrofes. A forma rimática dos poemas com esta
estrutura poética encontra-se entre os finais dos versos originais, como também entre os
hemistíquios.
O poema Por Morrer uma Andorinha tem três quadras e duas sextilhas com a maior
parte dos versos em redondilha maior (alguns versos possuem oito silabas métrica),

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sendo que a primeira quadra está divida entre os dois últimos versos das sextilhas; os
poemas Fracasso e Se o Mundo Dá Tantas Voltas são ambos constituídos por quatro
quadras octossilábicas. Os poemas cantados por Carlos do Carmo e Sara Correia têm
rima cruzada nas duas partes do verso; em relação ao poema interpretado por Berta
Cardoso apenas há coerência na rima entre os hemistíquios do segundo e quarto verso.
Os três fadistas repetem sempre os últimos dois versos de cada estrofe.
Relativamente à divisão do texto, Carlos do Carmo, nas três quadras, pausa no
primeiro, terceiro e quarto verso antes do hemistíquio, não havendo interrupções no
segundo verso; nas duas sextilhas, o cantor divide o primeiro, terceiro, quinto e sexto
verso também antes do hemistíquio e canta continuamente o segundo e quarto verso;
Berta Cardoso também dá ênfase ao hemistíquio ao pausar antes do mesmo, mas não o
faz de uma forma regular, e em vários versos, prefere prolongar e ornamentar sílabas
durante os versos; esta última característica é bastante utilizada por Sara Correia na sua
interpretação e quando pausa opta por fazê-lo no primeiro terço do verso, excepto no
último verso do poema em que a fadista pausa antes do hemistíquio, antes da palavra
‘eternamente’. As três interpretações seguem o mesmo encadeamento melódico,
havendo pequenas diferenças no estilar de cada um, e diferem no tipo de expressividade
com que melodizam os versos
Em relação à estrutura formal, esta é binária. A secção A está associada aos dois
primeiros versos da quadra e nas duas sextilhas de Carlos do Carmo, esta secção
prolonga-se em quatro versos. A secção B está associada nos dois últimos versos das
estrofes.
Na interpretação do Carlos do Carmo e Berta Cardoso há um acompanhamento
tradicional e o instrumento que tem primazia é a guitarra. Em Carlos do Carmo, há duas
guitarras portuguesas a criar um diálogo só com a voz, por vezes reforçando-a. Em
Berta Cardoso, a viola faz pequenas progressões e a guitarra portuguesa floreados
enquanto a fadista canta, muito semelhante à interpretação do Carlos do Carmo. Já o
acompanhamento no fado da Sara Correia é menos "tradicional", não é o convencional
baixo alternado. Estando num 4/4, tem tercinas nos dois primeiros tempos que dão um
novo balanço ao acompanhamento. Dá a sensação que assim que o verso avança a
guitarra acompanha, mas quando há prolongamento da última sílaba das palavras de
cada verso, a guitarra prolonga apenas a nota. A guitarra aqui não faz só as pequenas
progressões. Enquanto a fadista canta, há um diálogo paralelo entre a guitarra e a viola
do fado. Contrariamente ao fado de Carlos do Carmo e de Berta Cardoso, os

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instrumentos preenchem com menos frequência aquela parte de prolongação da última
sílaba que a fadista canta.

FADO LARANJEIRA
Música de Alfredo “Marceneiro” Duarte

Poema de Júlio César Valente:

Em tenra laranjeira -- ainda pequenina


Onde poisava o melro -- ao declinar do dia
Depois de te beijar -- a boca purpurina
Bis
Um nome ali gravei, -- o teu nome Maria

Em volta um coração -- também com arte e jeito


Ao circundar teu nome -- a minha mão gravou
Esculpi-lhe uma data -- e o trabalho feito
Bis
Como selo de amor -- no tronco lá ficou

Mas no rugoso tronco -- eu vejo com saudade


O símbolo do amor -- que em tempos nos uniu
Cadeia de ilusões -- da nossa mocidade
Bis
Que o tempo enferrujou -- e que depois partiu

E à linda laranjeira, -- altar pagão do amor


Que tem a cor da esperança, -- a cor das esmeraldas
Vão as noivas colher -- as simbólicas flores
Bis
Para tecer num sonho -- as virginais grinaldas

-Interpretação de A. Marceneiro (voz), Francisco Carvalhinho e Ilídio dos Santos


(guitarra), Orlando Silva (viola), álbum Há Festa na Mouraria.
https://www.youtube.com/watch?v=8dRHURktk7A

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-Interpretação de Camané (voz), Marta Pereira da Costa (guitarra), António Quintino
(baixo duplo) e Carlos Leitão (viola), álbum Marta Pereira da Costa, audição online
disponível no Spotify.

Poema de Teixeira de Pascoaes:

Lembras-te meu amor, -- das tardes outonais


Em que íamos os dois -- sozinhos, passear
Para longe do povo -- alegre e dos casais
Onde só Deus pudesse -- ouvir-nos conversar?

Olhavas para mim, -- às vezes distraída


Como quem vê o mar -- à tarde, dos rochedos
E eu ficava a sonhar, -- qual onda -- adormecida
Quando o vento também -- dorme nos arvoredos

Falavas do luar, -- dos bosques, mais do amor


Dos ceguinhos sem pão, -- dos pobres sem um manto
Em cada tua palavra -- havia etérea dor
Por isso a tua voz -- me impressionava tanto

E a lua para nós -- os braços estendeu


Uniu-nos num abraço -- esplêndido e profundo
E levou-nos os dois -- com ela – até aos céus
Somente tu ficaste -- e eu regressei ao mundo

-Interpretação de Carlos do Carmo (voz), Raúl Nery e António Chaínho (guitarra), José
Maria Nóbrega e Pedro Nóbrega (viola e viola-baixo, respectivamente), álbum Mais do
que Amor é Amar, audição online disponível no Spotify.

Ambos os poemas cantados sobre o fado laranjeira são constituídos por quatro quadras
cujos versos têm métrica irregular. A rima é solta no poema cantado por Marceneiro e
Camané e cruzada no poema cantado Por Carlos do Carmo. Em todas as interpretações,
os fadistas dividem os versos sensivelmente a meio, sendo que a segunda parte do verso

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complementa a ideia da primeira e, no meu ponto de vista, este fado também se
enquadra numa definição abrangente de fado versículo.
O fado laranjeira é caracterizado por dois andamentos contrastantes, dentro de cada
quadra: um andamento lento nos dois primeiros versos (A) e um andamento rápido nos
dois últimos versos. Quando Carlos do Carmo canta "sozinhos passear", a palavra
"passear" está associada a uma parte prolongada, dando a ideia de recordação passada.
Já na versão do Marceneiro e do Camané, o poema nos dois primeiros tem palavras
associadas ao andamento lento como "Declinar do dia" e "tempos nos uniu", associado
também à ideia de um passado longínquo.
A interpretação de Marta da Costa diferencia-se das outras na abertura começando com
o ritmo marcado pela viola, enquanto nas outras duas interpretações esse ritmo entra
unicamente na secção B. Também é de realçar o papel principal da guitarra nesta
interpretação (algo natural por ser um arranjo integrado no álbum da guitarrista) que
inclui floreados, típico acompanhamento da guitarra a fazer o balanço com as pequenas
progressões e diálogos entre o fadista e com o próprio instrumento. A versão de Alfredo
Marceneiro e a de Carlos do Carmo são mais ‘tradicionais’, com a viola a estabelecer o
ritmo e dar ‘tapete’ harmónico; a guitarra com intervenções de entrada, momentos em
que arpeia e reforça a voz preenchendo os espaços vazios. A viola-baixo é uma
característica muito importante em todas as interpretações principalmente na secção B
pois requer um ritmo não só mais acelerado como também mais cheio e presente.

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BIBLIOGRAFIA

http://fadotradicional.wixsite.com/fadotradicional

http://fadosdofado.blogspot.com/

http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/

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