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25/07/13 CURTA-METRAGEM: BISTURI

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DO M I NG O , 12 DE FEV ER EI R O DE 2012 P A R C ER I A C ULT UR A L

BISTURI
Margarita Kherékova em O Espelho
(e uma reflexão sobre “viver o momento” no cinema)

S EG UI DO R ES
A compreensão da personagem representaria um obstáculo para o
ator? O esforço de compreensão do roteiro seria infrutífera? Já que o
Participar deste site
filme surge na montagem, o ator deveria trabalhar cada momento Google Friend Connect
isolado, sem pensar na linearidade? É o que pensa o russo Andrei
Membros (133) Mais »
Tarkovski, diretor de filmes como O Espelho, Nostalgia, O Sacrifício, e
autor do livro Esculpir o Tempo.

“Cada ator de teatro precisa construir seu próprio papel, interiormente, do começo
ao fim. Ele deve desenhar uma espécie de gráfico dos sentimentos, subordinado à
concepção integral da peça. No cinema, não se admite essa elaboração
introspectiva do personagem. Sua tarefa é viver! (...) Então o diretor, tendo em
mãos as seqüencias, segmentos e retakes do que realmente se passou diante da
câmera, irá montá-los de acordo com seus objetivos artísticos pessoais, criando a Já é um membro? Fazer login

lógica interna da ação“ (Andrei Tarkovski)

Margarita Kherékova é a atriz principal do filme O Espelho. Sua A R Q UI V O DO B LO G

performance parece comprovar a veracidade das hipóteses de ► 201 3 (1 07 )


Tarkovski. Kherékova nos dá a impressão de estarmos violando sua
▼ 201 2 (249)
intimidade. Isto na medida em que a flagramos alheia à câmera (cujo
► Dezembro (4)
olhar invade os gestos displicentes), em um total desprezo pelo fazer
fílmico; em uma atmosfera de desleixo! ► Nov embro (1 5)

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► Outubro (27 )
Um “corpo sujo“: parece que isto resiste à leitura de uma situação de ► Setembro (1 5)
representação. Perdemos de vista “a atriz representando”. Uma
► Agosto (24)
espécie de “sujeira cotidiana” cumpre o papel de resistência à leitura
de uma elaboração planejada ou formal. ► Julho (20)
► Junho (1 8)
A atriz esfrega os olhos, massageia a testa; quase dorme (diríamos)
► Maio (23)
apoiada nas mãos; não “dona do tempo“ (quem o esculpe é o diretor),
► Abril (20)
mas “escrava da espera” - de uma fala cujo insight ainda não se deu,
do “corta!” que ainda não chegou. ► Março (25)
▼ Fev ereiro (23)
Algo similar encontramos na atuação de Inecy Rocha em A Lira do Marx V amerlatti
Delírio, de Walter Lima Jr. Estranha colocação, dadas as diferenças: a
Daniel Og
brasileira traz a intensidade, alegria e vertigem do desbunde!
Eliana Fonseca
No entanto, o “viver o momento” (e o amor à instantaneidade da Charge
revelação de uma incidência viva) está presente nas duas atrizes, bem
Luciano V idigal
como no discurso dos respectivos diretores: enquanto para Tarkovski o
Daniel Tupinambá
ator tem “total liberdade em cada segmento isolado”, para Walter Lima
Jr., deve-se abrir mão da “literatice que sufoca o cinema, justifica o V ida longa ao Curta
autor e robotiza o ator” (LIMA upud FERREIRA, 2012: 88). Lena Roque
Linduarte Noronha
Poderíamos dizer que a docilidade de uma Kherékova, que submete o
corpo (“afetado“) ao voyeurismo da câmera, se limita aos momentos Carla Ribas
sem um texto (que a amarraria em uma cadeia linearmente ESCOLA DE SAMBA JARDIM
planejada)? Sem o limitador da pré-programação, poderia, então, DO LADO LINDO
mergulhar na vertigem do “não sei o que vai acontecer”? O Frederico Machado
despojamento de um “corpo sujo” se intensifica na cena em que ela
Div ulgação
conversa com o marido; uma cena difícil com um longo texto. Seria
improvisado? BISTURI
Div ulgação
Há uma situação ficcional em jogo: “Diante da câmera o ator tem de
Div ulgação
existir com autenticidade e imediatamente no estado definido pelas
Adrian Teijido
circunstâncias dramáticas” (Tarkovski, 1998). Com uma regra de jogo,
seja ela qual for, surge uma situação que deve ser manejada; isto traz Don’t Come Knocking
resoluções inesperadas: é o que percebemos na experiência prática Bráulio Mantov ani
com atores. O improviso tem regras: “você precisa falar disto e disto”
Div ulgação
ou “tal coisa precisa aparecer”. O improviso com a fala sem regra gera
resultantes sem brilho. Nizo Neto

Rev ista Cinema Caipira de


É evidente que a situação dramática isolada estabelece um imaginário fev ereiro de 201 2
e certos significantes, por exemplo, implicados na relação mãe e filho Carla Candiotto
(em questão no filme O Espelho), palavras cuja incidência é
perceptível. No entanto, é o corpo impregnado de uma “cotidianidade ► Janeiro (35)
suja” que se revela, no caso de Margarita Kherékhova, como “a
► 201 1 (1 49)
verdade de um jogo” extremamente elaborado.
► 201 0 (54)

É a dedicação profunda a pequenas e insignificantes “coisas fora do ► 2009 (49)


script” que respondem ao “o ator tem de existir com autenticidade” de ► 2008 (53)
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Tarkovski. Autenticidade conquista na medida em que a atriz se


impregna de um certo bailado entre as partes (do corpo) que,
Q UEM S O U EU
enamoradas entre si, se oferecem displicentemente ao olhar
voyerizado da câmera. RA F A E L SP A CA

Radialista e
Mão com testa, dedos com olho, braço com rosto: a atriz deita-se no
Produtor Cultural.
braço; deixa à mostra o cocuruto desfocado; coça os olhos com o
Sou autor do blog
dedo mindinho ou a mão fechada e os aperta, bem forte, com os
Os Curtos Filmes, no "ar" desde
dedos; leva a mão direita à testa, a massageia; estala a língua.
agosto de 2008. Colaboração em
tex tos e artigos para ‘Bigorna.net’;
Trata-se da “verdade de um jogo” (entre outros); verdade que se adapta
‘Rev ista de Cinema Caipira’; ‘Jornal
a um processo de construção fílmico específico. Isto enquanto se
do Cinema – Cineclube Cauim’ e;
dispara palavras feito uma metralhadora silenciosa, destas que
‘Punctum’.
atingem o alvo sem muito alarde: “Ah (...) O que quer da sua mãe?
V I S UA LI Z A R M EU P ER FI L C O M P LET O
Que relações procura? (...) Ãh? (...) E ela quer te ver como uma
criança outra vez”.

Será que este jogo se adaptaria a outros? Se tomarmos o cinema de


Elia Kazan, ou mesmo de um Woody Allen, Almodóvar ou Coppola,
não haveria a construção de um papel? Os materiais com os quais o
ator joga não estariam selecionados na medida em que operam dentro
de uma lógica? Neste caso, não seria importante a compreensão do
percurso (ficcional) oferecido pelo roteiro?

Na hipótese de Tarkovski, o ator não representa e sim vive. Se a


personagem surge na montagem, não cabe ao ator compreender. Há
apenas a liberdade em momentos isolados. Poderíamos dizer que o
que vive é a própria situação. Por analogia, esta resulta na leitura
verossímil com a qual o diretor evoca a personagem. Neste caso,
poderíamos dizer que uma “dinâmica de bastidor” (que a câmera
flagra) pode ser “a causa” da verdade da atuação?

Seria algo para não esquecermos: em analogia ao corpo impregnado


das impressões e incidências internas de um pensamento que não
será revelado, os atores evocam o corpo ficcional?

Trata-se de material pessoal, cuja importância é destacada por


Grotowski: “A ação física deve apoiar-se e fundar-se sobre
associações pessoais, íntimas do ator, sobre suas baterias psíquicas,
sobre seus acumuladores internos” (GROTOWSKI, 1962: 22 upud
BARBA, 1994: 164).

Em outras palavras, os atores tomariam a situação de set como


“paralela” à ficcional. É neste sentido que compreendemos a máxima
que parece prevalecer hoje na prática de preparação de atores no
Brasil: “Não há personagem, é o ator vivendo uma experiência” (Fátima
Toledo, 2007).

Referências citadas:

oscurtosfilmes.blogspot.com.br/2012/02/bisturi.html 3/4
25/07/13 CURTA-METRAGEM: BISTURI

BARBA, Eugênio A Canoa de Papel: Um Tratado de Antropologia


Teatral. São Paulo: Ed. Hucitec, 1994.
DUAILIBI,Julia. Perfil de Fátima Toledo. Ed. Abril: Revista Veja, edição
2035, 21 de novembro de 2007.
FERREIRA, Lírio. O Cinema Delirante de Walter Lima Jr. In: Catálogo
da Mostra Jairo Ferreira, Cinema de Invenção. São Paulo: CCBB,
2012. Pg.86-89.
TARKOVSKI, Andrei. Esculpir o Tempo.São Paulo: Ed. Martins
Fontes, 1998.

Rejane Kasting Arruda, é atriz e pesquisadora. Atua em cinema e


teatro. Faz pesquisa na Universidade de São Paulo junto ao Centro de
Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator. Ministra aulas de
atuação para cinema. Participou dos filmes Corpo, O Veneno da
Madrugada, Tanta, Iminente, Edifício do Tesouro e Medo de Sangue,
entre outros. É também colunista do blog Os Curtos Filmes, onde
assina uma coluna mensal.

P O S T A DO P O R R A FA EL S P A C A À S 04: 30

NE NH U M C O M E NT Á RI O :

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