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Processo Civl – Procedimentos Especiais
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir
da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em
livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Sumário
Bibliografia ..................................................................................................................2
1. Teoria Geral dos Procedimentos Especiais .............................................3
1.1 Processo e Procedimento ........................................................................................ 3
1.2 Aplicação das Regras do Procedimento Comum...................................... 6
1.3 Princípio da Adequação Procedimental ..................................................... 6
1.4 Procedimentos Especiais Fungíveis e Infungíveis do Processo de
Conhecimento ................................................................................................................................... 9
1.5 Tipicidade dos Procedimentos, déficit procedimental e
flexibilização procedimental .....................................................................................................10
2. Ação de Exigir Contas ................................................................................... 12
2.1 Aspectos Gerais ..................................................................................................13
2.2 Dever de Prestar Contas .................................................................................13
2.3 Natureza da Ação de Exigir Contas .............................................................16
2.4 Legitimidade Ativa............................................................................................17
2.5 Legitimidade Passiva .......................................................................................20
2.6 Competência .......................................................................................................20
2.7 Procedimento .....................................................................................................21
2.7.1. Primeira fase...............................................................................................................21
2.7.2. Segunda Fase ..............................................................................................................22
3. Ações Possessórias ou Interditos Possesórios .................................... 23
3.1 Distinções Iniciais .............................................................................................23
3.2 Ações Possessórias de Rito Especial ..........................................................27
3.2.1 Quadro Geral...............................................................................................................27
3.2.2 Fungibilidade Entre as Ações Possessórias ...................................................28
3.2.3 Exemplos de Ação Dúplice? ..................................................................................28
3.2.4 Objeto das Ações Possessórias ............................................................................29
3.2.5 Competência ...............................................................................................................30
3.2.6 Legitimidade ...............................................................................................................30
3.2.7 Exceção de Domínio.................................................................................................33
3.2.8 Posse Nova e Posse Velha......................................................................................33
3.2.9 Cumulação de Pedidos na Inicial ........................................................................35
3.2.10 Medida Liminar Satisfativa .................................................................................35

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livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Vamos falar um pouco sobre os procedimentos especiais no NCPC.


Iniciaremos a aula falando sobre a divisão metodológica adotada pelo
professor, com indicação de bibliografia e com indicação de contato.
Contato:
Prof. João Paulo Lordelo
Site: www.joaolordelo.com
O professor tem dificuldade em responder os e-mails, sendo mais rápido o
envio pela Central de Dúvidas do Ênfase.
Bibliografia
O professor indica o livro do Marinoni, Daniel Mitidiero e Sergio Cruz Arenhart,
mas para fins de concurso, esse livro é complicado em alguns aspectos porque, por
vezes, sustentam posições minoritárias, em que pese citarem precedentes do STJ/STF.
O estilo de escrita é direto, mas o ponto para se atentar é o posicionamento
minoritário.
O livro mais indicado para concursos é o manual de volume único do professor
Daniel Assumpção. É altamente recomendado, é direto. Para complementar, o
Marinoni, volume III.
Há também o livro do professor Gajardoni. O professor não sabe precisar se
está atualizado, mas também é um livro bom e direto.
O professor dividiu os procedimentos especiais em uma teoria geral e quatro
ações principais.
Alguns dos procedimentos processuais, para o estudo, basta a leitura da
legislação. Diversos procedimentos estão previstos no CPC, muitos dificilmente caem
em concursos federais (como inventário) e outros basta a leitura da lei para o estudo.
Para os que se precisa de mais atenção, foi feito um elenco pelo professor, quais
sejam: ação de exigir contas, ações possessórias ou interditos possessórios, embargos
de terceiro e ação monitória.
A consignação em pagamento também cai em concursos, mas é mais fácil de
compreender.

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1.Teoria Geral dos Procedimentos Especiais


1.1 Processo e Procedimento
O professor Candido Rangel Dinamarco, muito acolhido pela Escola Paulista de
Processo, diz que o processo é instrumento pelo qual o Estado exerce a jurisdição, o
autor exerce a ação e o réu exerce o direito de defesa. É a visão analítica do processo.
Modernamente, entende-se que o processo pode ser analisado sob dois
principais aspectos:
a) Em um primeiro aspecto, o processo é uma técnica de produção de normas
jurídicas. É uma corrente à luz da teoria geral do direito. Se o processo chegar a
elaboração de uma norma jurídica geral, uma norma jurídica abstrata, temos o
processo legislativo; se, por outro lado, leva a uma norma jurídica concreta, teremos
um processo administrativo ou um processo judicial. Então, o processo é um
método/uma técnica democrática de produção de normas jurídicas.
b) O processo também pode ser concebido com a ideia de ato complexo. Aqui,
se confunde com a ideia de procedimento. Para alguns, em uma postura mais
detalhista, o processo não seria o mesmo que procedimento porque seria o
procedimento em contraditório. Como ato complexo, o processo é uma espécie de
metonímia, uma parte do todo. No procedimento, os atos processuais se sucedem
formando um substantivo coletivo, que é o processo.

Destaca-se, na primeira corrente, a posição do prof. José Joaquim Calmon de


Passos, um grande processualista brasileiro.
Os sistemas jurídicos internacionais e o nosso sistema jurídico traçaram que
haveria três espécies de processo: a) processo de conhecimento; b) processo de
execução; e c) processo cautelar.
O processo de conhecimento, com uma feição declaratória, cognitiva; o
processo de execução com função satisfativa; e o processo cautelar com função
acautelatória/conservativa.
O processo de conhecimento serve para dar certeza jurídica a respeito de um
conflito, tem por objetivo decidir em uma determinada situação concreta, em
cognição exauriente para chegar a conclusão de quem tem razão em um conflito.
O processo de execução tem por objetivo satisfazer o direito de alguém que já
é tido como credor.

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O processo cautelar, para a doutrina clássica, tem por objetivo resguardar o


resultado útil do processo; e, na doutrina moderna, tem por objetivo a proteção de um
direito aparente porque o processo não é objeto de tutela, mas sim os direitos
subjetivos. O que se busca indo ao Poder Judiciário é a proteção de um direito e não
de um processo.
Com o passar do tempo, essa ideia de processo foi sendo substituída pela ideia
de proteção, de utilidade judicial porque, com o sincretismo processual, foi possível
desenvolver em um mesmo processo atividades cognitivas, declaratórias, satisfativas e
conservativas. É possível, sem que se instaure mais de um processo, desenvolver estas
atividades: é possível ter tutela de conhecimento, de execução e cautelar dentro de
um mesmo processo.
Parte da doutrina, com influência do direito italiano, entende que existiria uma
quarta espécie de tutela, que seria a monitória. É uma espécie de zona de fronteira
entre o processo de conhecimento e o processo de execução. Porém, isso não vingou
e, hoje, se entende majoritariamente que a ação monitória é espécie de processo de
conhecimento.
Ainda sobre processo e procedimento, o art. 22, inciso I da CRFB/88 dispõe que
compete à União Federal legislar sobre processo de maneira privativa. Isso quer dizer
que só a União pode legislar sobre pressupostos processuais, criação de recursos,
deveres e poderes das partes, atividades probatórias, etc. Só a União pode legislar
sobre competência, só a União pode legislar sobre processo.
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo,

O procedimento, por sua vez, é previsto no art. 24, inciso XI da CRFB/88. O


procedimento, matéria processual, é de competência concorrente da União, Estados e
Distrito Federal.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
XI - procedimentos em matéria processual;

Surge o seguinte questionamento: qual a diferença entre processo e


procedimento? Até porque, o art. 24 da CRFB/88 informa que a União fica responsável
por regras gerais. E qual a diferença entre regra geral de procedimento e regra de
processo? Esse tema foi objeto de uma recente tese de doutorado da professora Paula
Sarno e gera muitas controvérsias.

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Para Fredie Didier, processo e procedimento se diferenciam da seguinte forma:


normas de processo são normas gerais e procedimento são normas especificas; o
processo são normas gerais de procedimento.
A doutrina clássica entende que o procedimento é a forma de organização dos
atos processuais e o processo é uma disciplina geral da organização dos
procedimentos em contraditório.
Como o CPC trata dos procedimentos, já que estamos falando dos
procedimentos especiais? Perceba que, no processo de conhecimento, nós temos o
procedimento comum e o procedimento especial – não se fala mais em procedimento
sumário. O processo de execução, da mesma forma, se divide em procedimento
comum e procedimento especial. E, o processo cautelar se dividia em comum e
especial.
Hoje, em relação ao processo de conhecimento, o procedimento comum é
previsto nos art. 318 e seguintes do CPC/15. O procedimento especial é previsto no
art. 539 e seguintes do CPC/15.
O processo de execução comum é aquele que tem como objetivo trazer
regramentos gerais do procedimento comum de execução do cumprimento das
obrigações de fazer, não fazer, pagar e dar coisa. Mas, há regras de procedimento
especial na execução, por exemplo, no processo de execução fiscal, execução de
alimentos, execução contra a Fazenda Pública, etc.
No processo de conhecimento, tratando da tutela de conhecimento, atividade
cognitiva, temos um procedimento comum (art. 318 e seguintes do CPC/15), e um
procedimento especial (art. 539 e seguintes do CPC/15), que veremos: ações
possessórias, ação monitória, etc.
O processo de execução tem o procedimento comum, que é do cumprimento
de sentença ou da execução de títulos executivos extrajudiciais que envolvam
obrigação de fazer/não fazer, pagar ou dar coisa. O procedimento especial envolve
execução fiscal, execução de alimentos, execução contra a Fazenda Pública, etc.
O processo cautelar, no CPC/73, também tinha a divisão entre procedimento
comum e especial. Contudo, foi extinto o livro do processo cautelar no CPC/15 com
ideia de dar maior concretude ao processo sincrético. Assim, hoje temos
procedimentos de cognição, satisfativos, executivos e procedimentos de natureza
cautelar de maneira sincrética dentro do mesmo processo.
Em relação ao processo cautelar, o que se entendeu é que não faz muito
sentido prever um procedimento fixo, rígido, porque ele é, na verdade,
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essencialmente atípico e criativo. Já que o objetivo é tutelar um direito aparente, de


urgência, o ideal é que não haja procedimento típico, prevalecendo a criatividade
judicial.
Essa parte introdutória é importante para entender o assunto. E isso ajuda em
provas subjetivas e provas orais. O professor comenta que a pergunta que lhe fora
feita na prova oral do MPF foi a seguinte: fale sobre o processo e direitos
fundamentais.
Em relação ao tema que tratamos, pode se estranhar o tema, mas pode ser que
caia o ponto na prova subjetiva ou na prova oral para que discorra sobre a teoria geral
dos procedimentos e procedimentos especiais. Ou sobre um procedimento especifico
e será possível discorrer com uma boa introdução, de maneira articulada e bem
organizada, com profundidade e objetividade.

1.2 Aplicação das Regras do Procedimento Comum


O art. 318 do CPC/15 dispõe que:
Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em
contrário deste Código ou de lei.

Existe uma aplicação subsidiária do procedimento geral do procedimento


comum aos procedimentos especiais.

1.3 Princípio da Adequação Procedimental


Este princípio compõe a teoria geral do processo e, originariamente, nasceu a
partir da seguinte ideia: o legislador deveria construir procedimentos especiais,
fugindo da ordinariedade dos procedimentos comuns para, de forma mais efetiva,
tutelar determinados direitos, determinadas situações jurídicas.
Daí surgiu a ideia do mito do procedimento único porque o que se observou,
principalmente, em um período inicial de atividade legislativa em matéria processual
no Brasil, período de maior amadurecimento, era em que o procedimento comum não
era suficiente a tutela adequada dos direitos, principalmente depois de uma
intensificação do processo de massificação social no Brasil – essa, inclusive, foi a razão
do surgimento do procedimento cautelar. Com o procedimento comum cada vez mais
moroso e ineficiente, começaram a surgir procedimentos especiais; com isso,
começou-se a depositar atenção no princípio da adequação procedimental,
inicialmente voltado ao legislador para criar ritos.
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Em razão do bem jurídico tutelado, o legislador criou o procedimento de


alimentos. Em razão do interesse público que existe, foi criado o procedimento da
desapropriação. Em razão do valor da causa foi criado o procedimento dos juizados
especiais. Em razão da absoluta incompatibilidade lógica com o procedimento
ordinário, foi criado o procedimento específico para o inventário.
Esse princípio da adequação, que nasceu focado no legislador, foi se
transformando ao longo dos tempos. Este princípio, de acordo com autores como
Galeno Lacerda, Fredie Didier, pode ser analisado sob três perspectivas: adequação
objetiva, adequação subjetiva e adequação teleológica.
a) Adequação objetiva – pela adequação objetiva/material, o
processo deve ser adequado ao direito material discutido. Deve ser
adequado ao tipo de direito, ao tipo de situação discutida. Por exemplo, o
processo deve ser adequado à situação em que se discutem alimentos. A
ação de alimentos surgiu em razão de necessidade de adequação objetiva,
pois a matéria posta é sensível e exige determinada flexibilização ou
alteração procedimental. Da mesma forma o inventário, que merece ser
adequado a matéria que está sendo posta.

b) Adequação subjetiva – o processo deve ser adequado às


pessoas/às partes que fazem parte dele. Não por acaso o Ministério Público
intervém nas causas em que haja incapazes – é uma adequação
procedimental em razão da presença dos incapazes, pessoas que podem
estar em situação de risco. Existem também regras específicas para
alimentos no domicílio de quem pede. Há regras típicas que foram sendo
criadas para o divórcio, regras para o idoso, etc. São diversas previsões
legislativas para essa adequação subjetiva.

c) Adequação teleológica – o processo deve ser adequado ao fim


buscado. Por exemplo, o habeas corpus tem a finalidade a liberdade e, por
isso, ele deve ser adequado à libertação daquele que se encontra em
situação de abuso. Também o inventário pode ser analisado à luz da
adequação teleológica, pois o objetivo é repartir bens e ele deve ser
adequado à essa ideia.

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Quem é que pode fazer a adequação procedimental? Quem é legitimado para


adequar o processo a essas dimensões?
Em um primeiro momento, caberia ao legislador prescrever procedimentos
adequados às situações postas. É claro que ele não tem a proximidade com as
situações concretas porque o legislador produz normas gerais e abstratas. Justamente
por isso, não apenas ele tem esse poder de adequar, não há apenas essa dimensão
legislativa.
O magistrado também se tornou capaz de adequar o procedimento às
particularidades do caso concreto, por exemplo: o art. 139, inciso VI do CPC/15 dispõe
que:
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe:
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de
prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior
efetividade à tutela do direito;

Percebam que não apenas o legislador, mas também o juiz poderá fazer a
adequação processual. Quando o juiz faz, isso tem recebido o nome de princípio da
adaptabilidade, é uma dimensão jurisdicional do princípio da adequação.
Por fim, e essa é uma grande novidade do CPC/15 – o CPC/73 permitia, mas de
uma maneira mais tímida – existe uma dimensão negocial do principio da adequação,
chamado também para a doutrina de princípio da adaptabilidade (este princípio se
refere a atuação do magistrado ou atuação das partes). A dimensão negocial permite
que as partes alterem o procedimento de acordo com as particularidades do caso
concreto, já que elas são as verdadeiras destinatárias da atividade jurisdicional e são as
mais interessadas e quem mais têm conhecimento do caso concreto. Assim sendo,
deve ser concedido a elas a possibilidade de flexibilização procedimental.
Como as partes podem fazer isso? Primeiramente, o Código, até mesmo o
CPC/73 previa a possibilidade de negócios jurídicos processuais. As partes poderiam
inverter o ônus da prova de maneira negocial, estabelecer cláusula de eleição de foro
de maneira negocial. O CPC/15 foi além e passou a prever no art. 190 uma cláusula
geral de negócios processuais, cláusula geral de negócios atípicos.
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é
lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para
ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.

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Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das


convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de
nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte
se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

A parte pode negociar em conjunto ou, a depender do caso, unilateralmente,


para fazer flexibilizações ao procedimento. Claro que esse é um dos temas mais
polêmicos do CPC/15 e existe, obviamente, limites. Essa flexibilização não será feita se
uma das partes se encontrar em situação de vulnerabilidade em relação a outra
porque isso pode resultar em uma violação ao princípio da isonomia.
Qual o fundamento constitucional do principio da adequação? Prevalece que
ele pode ser extraído do principio do devido processo legal. Sabemos que este
princípio tem duas dimensões: a substantiva e a formal/objetiva.
Em relação a dimensão formal, entende que o devido processo legal
compreende o conjunto de garantias mínimas, dentre elas, a adequação e da
efetividade, da qual pode ser extraída a adequação. Na perspectiva substancial, o
devido processo legal impõe a necessidade de medidas justas pelo julgador – daí se
extrai o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade.

1.4 Procedimentos Especiais Fungíveis e Infungíveis do Processo de


Conhecimento
É possível que a parte renuncie a um procedimento especial para seguir o
procedimento comum/ordinário?
A regra geral é que sim. Antigamente, se dizia que as normas de procedimento
seriam normas cogentes de interesse do Estado, normas de ordem pública que não
poderiam estar sujeitas às disposições das partes. Por isso, não seria possível alguém
optar por outro procedimento.
Obviamente, isso foi sendo flexibilizado com o tempo, de forma que hoje é
possível abrir mão do procedimento especial para seguir por um procedimento
ordinário/comum. Isso só é possível se o procedimento for fungível.
Em alguns casos, é possível se chegar a uma tutela adequada com o
procedimento comum, em outros casos, o procedimento comum é totalmente
incompatível com o procedimento especial. Isso acontece, por exemplo, no inventário
porque não há a possibilidade de abrir mão do inventário para partir para o
procedimento comum por conta da peculiaridade.

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Vale ressaltar que o CPC/15 prevê a possibilidade de uma pessoa que tenha um
titulo executivo extrajudicial - e que pode, portanto, partir para a execução – parta
para o procedimento de conhecimento de forma a transformar o título executivo
extrajudicial em judicial. Da mesma forma, pode ter um documento escrito e escolher
entre procedimento comum ou ação monitória.

1.5 Tipicidade dos Procedimentos, déficit procedimental e flexibilização


procedimental
Apesar do esforço do legislador, muitas vezes, a situação concreta exige uma
postura mais flexível do juiz. E, às vezes, isso acontece no procedimento comum, é o
exemplo de uma perícia que não pode ser analisada em prazo exíguo, como a perícia
ambiental.
Essa situação nova, não prevista pelo legislador, cai nas mãos do juiz. Ele
poderá flexibilizar o procedimento, pois, como já mencionado, o art. 139 do CPC/15
prevê essa possibilidade.
Diante da situação concreta, quais requisitos o juiz deve observar para fazer o
previsto no art. 139, inciso VI do CPC/15?
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de
prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior
efetividade à tutela do direito;

O artigo fala em dilatar prazos e alterar a ordem de produção de provas. Ele é


meio restrito e a doutrina acrescenta que o juiz pode fazer mais do que isso e com a
mesma finalidade: adequar às necessidades do conflito, conferir maior efetividade. O
juiz pode flexibilizar ainda mais, mas quais os critérios do princípio da adaptabilidade
(ou elasticidade)? Quais são as condições? A doutrina aponta que:
a) A primeira questão a ser observada é o regime de exceção, ou
seja, a flexibilização procedimental deve ser algo excepcional a depender do
caso concreto.
b) Deve haver o respeito ao contraditório e o novo CPC está
totalmente reestruturado neste sentido, de que o princípio do contraditório
deve ser exercido sempre. O juiz antes de decidir qualquer coisa deve ouvir
as partes, o que é aplaudido por uns e criticado por outros, já que
certamente o novo CPC vai atrasar e muito o julgamento das causas, pelo
menos em um primeiro momento, já que antes de poder proferir quase
toda decisão há essa necessidade de oitiva.
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c) Não afastamento das normas constitucionais, do núcleo duro do


devido processo legal.

O juiz ao invocar a flexibilização, ao aplicar a ideia de


adaptabilidade/elasticidade, deve fazê-lo em a) regime de exceção, b) observando o
contraditório e c) respeitando o núcleo duro do devido processo legal, as regras
processuais constitucionais.
Em relação ao contraditório, que é um dos requisitos da adaptabilidade,
devemos observar que o novo CPC prevê expressamente que o juiz não decidirá com
base em fundamento que não tenha sido analisado pelas partes.
É preciso refletir muito sobre isso porque, em interpretação literal, o juiz não
poderia decidir com base em fundamento de fato ou de direito que não foram objeto
de discussão – será que essa foi a ideia do legislador? A impossibilidade de decidir com
bane nelas? Imagine que a parte apresenta a inicial, oferecem contestação, réplica, o
processo segue seu curso, há contraditório pleno e, na hora de decidir, o juiz, que não
teve tempo de ver o processo todo, quando vai decidir, pensa: preciso decidir com
base no dispositivo de lei que as partes não mencionaram. Manda para as partes, elas
demoram para se manifestar e, quando retorna, as vezes não é para o mesmo
magistrado, que não tem o mesmo entendimento ou até tem, mas fundamenta com
outro dispositivo. Ele deverá enviar de novo converter diligência e baixar para as
partes?
Na opinião do professor, este dispositivo do CPC/15 é muito infeliz, ou será
muito infeliz se interpretado na sua literalidade. Para ele, o juiz não pode decidir com
base em argumento de fato que não tenha sido suscitado pelas partes. Mas, o direito
cabe ao juiz e, mais do que isso, ele pode fundamentar com base em fundamentos que
não sejam inteiramente jurídicos. Em uma questão envolvendo isonomia, por
exemplo, o juiz pode invocar questões filosóficas; em uma questão que envolva algum
aspecto ético, como o princípio da moralidade, o juiz pode invocar, por exemplo,
Aristóteles para decidir; quando for decidir alguma ação relacionada à saúde, pode
invocar uma pesquisa, como as analisadas por Virgílio Afonso da Silva sobre o impacto
das ações de medicamentos; pode se valer de argumentos econômicos.
O juiz que utiliza os argumentos acima deve pedir que as partes se manifestem
sobre? “Parte, citarei Aristóteles”, “parte, falarei sobre o imperativo categórico”,
“parte, vou fazer análise econômica do direito”, etc. O juiz deverá diligenciar para que
as partes se manifestem? Percebam que o novo CPC gerou, de uma certa forma, uma

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infantilização do litigante, que foi tornado praticamente um incapaz, o que pode gerar
um inconveniente quanto à celeridade.
O que pode ser feito é a ideia de contempt of court, o microssistema punitivo
do Poder Judiciário. Isso é uma importação do direito americano e deveria crescer no
processo civil, que é o Judiciário começar a aplicar um microssistema punitivo mais
rigoroso ao litigante de má-fé. Se o litigante está cheio de benefícios, sendo eles cada
vez mais alargados e cada vez menos responsabilidades, o pouco que lhe resta deve
ser interpretado de maneira muito forte. Se for irresponsável, deve ser
processualmente punido, ao menos no processo civil, no qual a punição não é
violadora do sistema acusatório, por exemplo, do processo penal.
Terminada a questão introdutória, passamos a falar dos procedimentos
especiais em espécie.

2.Ação de Exigir Contas


A ação de exigir contas está prevista a partir do art. 550 do CPC/15.
CAPÍTULO II
DA AÇÃO DE EXIGIR CONTAS
Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a
citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze)
dias.
§ 1o Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas
quais exige as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa
necessidade, se existirem.
§ 2o Prestadas as contas, o autor terá 15 (quinze) dias para se manifestar,
prosseguindo-se o processo na forma do Capítulo X do Título I deste Livro.
§ 3o A impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá ser fundamentada e
específica, com referência expressa ao lançamento questionado.
§ 4o Se o réu não contestar o pedido, observar-se-á o disposto no art. 355.
§ 5o A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas
no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o
autor apresentar.
§ 6o Se o réu apresentar as contas no prazo previsto no § 5o, seguir-se-á o
procedimento do § 2o, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15
(quinze) dias, podendo o juiz determinar a realização de exame pericial, se
necessário.
Art. 551. As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, especificando-
se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver.

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§ 1o Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz


estabelecerá prazo razoável para que o réu apresente os documentos justificativos
dos lançamentos individualmente impugnados.
§ 2o As contas do autor, para os fins do art. 550, § 5o, serão apresentadas na
forma adequada, já instruídas com os documentos justificativos, especificando-se
as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver, bem como o
respectivo saldo.
Art. 552. A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial.
Art. 553. As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de
qualquer outro administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo
em que tiver sido nomeado.
Parágrafo único. Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o
saldo e não o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob
sua guarda, glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as
medidas executivas necessárias à recomposição do prejuízo.

2.1 Aspectos Gerais


Uma pequena curiosidade dentro dos aspectos gerais é que na vigência
do CPC/73 já existia uma ação desse tipo, mas lá era chamada de ação de prestação de
contas e se dividia em prestação de contas ou exigir contas. Pelo CPC/73, os
legitimados para essa ação poderiam ser tanto quem tem o dever de prestar contas
tanto quem tem bens administrado por terceiros e quer que este terceiro preste as
contas.
O CPC/15, no art. 550, a grande novidade em relação ao anterior é que agora a
ação de prestar contas é ajuizada contra quem tem o dever de prestá-las e não por
quem tem o dever. Só há a legitimidade daquele que tem o direito de exigir e, por isso,
a ação mudou de nome.
Qual o pressuposto da ação de prestação de contas? O pressuposto é que haja
administração de bens, valores ou interesses por parte de outras pessoas. Quem
exerce essa administração, aquele que administra o que não é seu, tem o dever de
prestar contas.
2.2 Dever de Prestar Contas
De onde vem o dever de prestar contas? De onde vem essa administração?
A administração pode ter origem legal ou negocial. Alguém pode ser obrigado a
prestar contas por administrar bens, valores ou interesses de outrem em razão de um
fundamento legal ou contratual.
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da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em
livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

O dever de prestar contas legal é aquele que surge por imposição da lei, como
é exemplo a tutela, a curatela – o tutor tem o dever de prestar contas dos bens do
tutelado que administra, o curador do curatelado. Nas falências, aquele que
administra tem o dever de prestar contas; o administrador de bens da massa tem
dever de apresentar relatório.
A tutela está prevista no art. 1755 do CC/02
Art. 1.755. Os tutores, embora o contrário tivessem disposto os pais dos tutelados,
são obrigados a prestar contas da sua administração.

Em relação a curatela, temos o art. 1774 do CC/02


Art. 1.774. Aplicam-se à curatela as disposições concernentes à tutela, com as
modificações dos artigos seguintes.

Em relação à falência, temos a lei 11.101/05. Todos esses diplomas preveem o


dever legal de prestar contas.
Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do
Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe:
III – na falência:
r) prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou
renunciar ao cargo.

Mas, é possível também que esse dever de prestar contas surja de um contrato,
como no contrato de mandato, no qual alguém representa a outrem em razão de uma
manifestação de vontades (art. 668 do CC/02).
Art. 668. O mandatário é obrigado a dar contas de sua gerência ao mandante,
transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que
seja.

Também nas relações entre condomínio e síndico, quem deve prestar contas.
Teoricamente existe um conselho fiscal para isso.
Há também o contrato de depósito. Você deposita algo no banco, o qual estará
administrando seus bens. Geralmente, o contrato de depósito é mais tranquilo porque
não há muitas dificuldades em se chegar ao valor do que efetivamente está na conta,
mas pode ser que haja umas particularidades.
Há diversos precedentes judiciais e esse tema costuma cair bastante em
concurso por causa dessas análises do STJ. Devemos passar a algumas observações:
Enunciado 259 da Súmula do STJ.

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Enunciado 259 da Súmula do STJ - A ação de prestação de contas pode ser


proposta pelo titular de conta-corrente bancária.

Quem tem um contrato de depósito pode ajuizar ação de prestação de contas.


Assim, quem é titular de conta-corrente bancária pode ajuizar essa ação exigindo que
o banco preste as contas quando se tem alguma dúvida e o banco não se predispõe a
solucionar.
Vale ressaltar também o entendimento do STJ no REsp 1293558/PR no qual
decidiu que não há interesse de agir na ação de exigir contas no contrato de mutuo e
financiamento.
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART.
543-C DO CPC. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. CONTRATOS DE MÚTUO E
FINANCIAMENTO. INTERESSE DE AGIR. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
1. Para efeitos do art. 543-C do CPC, firma-se a seguinte tese: "Nos contratos de
mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a ação de
prestação de contas." 2. No caso concreto, recurso especial não provido.
REsp 1293558 PR 2011/0276630-0, Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, 11/03/2015,
S2 - SEGUNDA SEÇÃO, DJe 25/03/2015

O STJ negou o interesse de agir no contrato de mutuo e financiamento porque


a obrigação do mutuante cessa com a entrega da coisa, não havendo administração ou
gestão de bens alheios, mas apenas o empréstimo. Se financiou algo e o banco colocou
a disposição dinheiro, ainda que haja dúvida sobre as cláusulas aplicáveis, os juros,
etc., nessa situação, não há administração de bem. No final das contas, o que está
sendo emprestado é dinheiro e se as contas não estiverem sendo feitas de maneira
correta, isso não significa que haja um dever de prestação de contas com base nessa
ação.
Outra observação é que o objeto da ação de exigir contas é bem restrito, de
forma que não é possível revisar cláusulas, conforme decisão do STJ no AgRg nos Edcl
no AResp 663830/PR. A ação de prestação de contas serve para dois propósitos: i)
averiguar se existe ou não o dever de prestar contas e ii) para que as contas sejam
prestadas. Não dá para fazer esse elastecimento do objeto, que é restrito.
AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. CONTA-CORRENTE. PRESTAÇÃO DE CONTAS. PRIMEIRA FASE. SÚMULA
259/STJ. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. INTERESSE DE AGIR. PEDIDO GENÉRICO.
REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. IMPOSSIBILIDADE.
1. O correntista tem interesse para exigir contas do banco (Súmula 259/STJ). Isso
porque a abertura de conta-corrente pressupõe entrega de recursos financeiros do
correntista ao banco (depósito inicial e eventual abertura de limite de crédito),
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seguindo-se relação duradoura de sucessivos créditos e débitos. Por meio da


prestação de contas, o banco deve demonstrar créditos (depósitos em favor do
correntista) e débitos efetivados na conta-corrente (cheques pagos, lançamentos
de contas, tarifas, encargos, saques etc.) ao longo da relação contratual, para
que, ao final, se apure se o saldo é positivo ou negativo, vale dizer, se o correntista
tem crédito ou, ao contrário, se está em débito.
2. Hipótese em que a petição inicial, que poderia servir para qualquer contrato
bancário, bastando a mudança do nome das partes e do número da conta-
corrente, não indica exemplos concretos de lançamentos não autorizados ou de
origem desconhecida e sequer delimita um período da relação contratual em
relação ao qual há necessidade de esclarecimento. Tal pedido, conforme voto do
Min. Aldir Passarinho Junior, acompanhado pela unanimidade da Quarta Turma
no julgamento do Recurso Especial 98.626-SC, "soa absurdo, posto que não é
crível que desde o início, em tudo, tenha havido erro ou suspeita de equívoco dos
extratos já apresentados." 3. A pretensão deduzida na petição inicial, voltada, na
realidade, a aferir a legalidade dos encargos cobrados, deveria ter sido veiculada
por meio de ação de revisão de contrato, cumulada com repetição de eventual
indébito, no curso da qual poderia ser requerida exibição de documentos, caso não
postulada em medida cautelar preparatória. 4. Embora cabível ação de prestação
de contas pelo correntista, independentemente do fornecimento extrajudicial de
extratos detalhados, tal instrumento processual não se destina à revisão de
cláusulas contratuais nem prescinde da indicação, na petição inicial, ao menos
de período determinado em relação ao qual se busca esclarecimentos, com
exposição de motivos consistentes, ocorrências duvidosas na conta-corrente,
que justificam a provocação do Poder Judiciário mediante aquela ação. 5.
Agravo regimental a que se nega provimento.
AgRg nos EDcl no AREsp 663830 PR 2015/00363, Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, 18/06/2015, T 4 - QUARTA TURMA, DJe 25/06/2015

2.3 Natureza da Ação de Exigir Contas


A ação de exigir contas tem por objeto um direito material complexo que
envolve créditos e débitos e, por isso mesmo, pode resultar na existência de saldo
credor ou saldo devedor, não apenas na prestação. Por isso, a ação de exigir contas
pode gerar a condenação da parte autora e é verdadeiramente uma ação dúplice.
A natureza é de ação dúplice. A ação dúplice pode ser compreendida em dois
sentidos: sentido material e sentido processual. Uma ação é dúplice quando as
posições de autor e réu não são fixas, quando o próprio réu pode exercer uma
pretensão no seu bojo.

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a) A ação dúplice em sentido estrito é aquela que é em sentido material. Ela


tem lugar quando o réu pode exercer uma pretensão e, pela natureza da
relação jurídica material, não precisa se valer de uma reconvenção/de
pedido contraposto para isso. O réu pode, pela mera resistência, exercer
uma pretensão e ambas as partes podem ser condenadas por causa disso.
A ação de exigir contas tem por objeto um direito material complexo, que
envolve créditos e débitos. Logo, como tem objetivo fazer esse acerto
econômico, ela pode gerar a condenação do autor ou do réu ao pagamento
de um saldo, ainda que o réu não faça esse pedido.
As ações dúplices em sentido material temos, por exemplo, as meramente
declaratórias. Se ajuíza ação declaratória pedindo para declarar a ausência
da relação jurídica tributária e o juiz julga improcedente, o que se tem é
que há sim a relação jurídica tributária e o fisco precisa se defender para
que exerça uma pretensão. As ações diretas de constitucionalidade
também são ações dúplices, pois se o STF julga improcedente, ele está
dizendo que a norma é constitucional e a mera resistência gera o exercício
de uma pretensão pela parte contrária.
b) No sentido processual, as ações dúplices são aquelas nas quais o réu
pode oferecer um pedido contraposto na contestação ou fora dela através
de pedido expresso e não pela mera resistência.

Quais os pedidos feitos na ação de exigir contas? Existem basicamente dois: o


primeiro é o de prestar contas, que é obrigação de fazer. A outra é de obrigação de
pagar o saldo residual. Se alguém pede para prestar contas é porque pensa que há
algo errado e deve haver pagamento – pelo menos é o que se pede.
Existem duas diferentes pretensões, uma envolvendo obrigação de fazer
(prestar contas) e outra envolvendo o pagamento de um saldo residual. Justamente
por isso, por ser dúplice, o autor pode ser condenado, não na obrigação de prestar
contas, mas a pagar, depois de prestadas as contas, a pagar um saldo residual.
2.4 Legitimidade Ativa
Está no art. 550 do CPC/15 e é daquele que afirmar ser titular do direito de
exigir contas. É daquele que afirma que teve seus bens, valores ou interesses
administrados e, portanto, pode exigir contas de alguém.
O autor deve demonstrar duas coisas na petição inicial:

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a) que o réu tem o dever de prestar contas.


b) que o réu se recusou a prestar contas extrajudicialmente.

Se o autor não trouxer esses dois elementos, não há interesse de agir. Aliás, é
sabido que há uma discussão em relação às condições da ação no CPC/15 porque foi
extinta a possibilidade jurídica do pedido e não se fala mais em condições da ação.
Para o professor, interesse de agir deixou de ser condição da ação e passou a ser
pressuposto processual, como boa parte da doutrina entende.
Em alguns casos, a lei presume o interesse de agir e isso ocorre quando a
pessoa tem o dever de prestar contas judicialmente, como o tutor e o curador que
devem prestar contas no bojo da ação de tutela/curatela. Nesses casos, o autor não
precisa demonstrar que o réu se negou a prestar contas porque a prestação de contas
já é feita judicialmente e o interesse de agir é presumido.
A segunda observação é que o STJ já decidiu no AgRg no Ag 731687/RS que os
sócios que não administram a sociedade têm legitimidade para propor ação de exigir
contas contra o sócio gerente. Contudo, se as contas foram aprovadas pelo órgão
interno da sociedade, se existir um conselho fiscal que aprovou as contas, a ação não
pode ser admitida.
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ARTIGO 535, DO
CPC.VIOLAÇÃO. INOVAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. PREQUESTIONAMENTO.
AUSÊNCIA.SÚMULAS N. 211-STJ E 282-STF. PRESTAÇÃO DE CONTAS. SÓCIO
GERENTE.NÃO PROVIMENTO.
1. Não se admite a adição de teses não expostas no recurso especial em sede
agravo regimental, por importar em inadmissível inovação recursal. Precedentes.
2. As questões federais não decididas pelo Tribunal a quo atraem os óbices de que
tratam os enunciados n. 282, 356, da Súmula do STF, e211, desta Corte.
3. "O acesso à via excepcional, nos casos em que o Tribunal de origem, a despeito
da oposição de embargos de declaração, não supre a omissão apontada, depende
da demonstração, nas razões do recurso especial, de ofensa ao art. 535 do CPC."
(AgRg no Ag 1169633/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA
TURMA, julgado em21/06/2011, DJe 01/07/2011) 4. "O sócio gerente tem o dever
legal de dar contas justificadas de sua administração aos demais sócios." (REsp
474.596/SP, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em
28/09/2004, DJ13/12/2004, p. 365) 5. Agravo regimental a que se nega
provimento.
AgRg no Ag 731687 RS 2005/0212002-6, Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
25/10/2011, T4 - QUARTA TURMA, DJe 08/11/2011.

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Isso também foi decidido pelo STJ no Ag no AResp 181670/SP.


AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO (ART. 544 DO CPC)- AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE
CONTAS - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - SÚMULA N. 284 DO STF -
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO - SÚMULA N. 211 DO STF - ART. 914 DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - CONTAS JÁ PRESTADAS - SÚMULA N. 7 DO STJ
IRRESIGNAÇÃO DO AUTOR DA AÇÃO.
1. Negativa de prestação jurisdicional. Inconformismo deficiente. Não há
exposição clara e congruente de que modo o acórdão recorrido teria contrariado o
referido dispositivo, circunstância que atrai, por analogia, a Súmula n. 284 do STF.
2. Arts. 289, 293, 917 do Código de Processo Civil. O conteúdo normativo dos
dispositivos tidos como violados não foi objeto de exame pelo Tribunal de origem,
mesmo após o julgamento dos embargos de declaração opostos pela ora
recorrente, razão pela qual incide na espécie a Súmula 211 desta Corte, de
seguinte teor: "Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da
oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo". 3.
Este Sodalício já teve oportunidade se manifestar no sentido de que a "prestação
de contas de cada exercício social é, por determinação legal e/ou estatutária,
realizada pela Assembléia Geral ou órgão equivalente, sendo certo que, no
momento em que o acertamento de contas é efetivado, adimplido está o dever de
prestar contas, não se admitindo sua repetição na via judicial, porque
absolutamente despicienda". (REsp 1102688/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 07/10/2010, DJe 19/10/2010) 4. In casu, concluiu o
Tribunal de origem ser desnecessária a apresentação de novas contas, tendo em
vista a apresentação e a aprovação destas, uma vez que eventual irregularidade
nas contas já aprovadas devem ser questionadas em procedimento próprio.
Portanto, para acolhimento do apelo extremo, seria imprescindível derruir as
afirmações contidas no decisum atacado, o que, forçosamente, ensejaria
rediscussão de matéria fática, incidindo, na espécie, o óbice da Súmula n. 7 deste
Superior Tribunal de Justiça, motivo pelo qual é manifesto o descabimento do
recurso especial. 5. Agravo regimental desprovido.
AgRg no AREsp 181670 SP 2012/0104842-0, Ministro MARCO BUZZI, 21/05/2013,
T4 - QUARTA TURMA, DJe 04/06/2013.

Então, o sócio que não for administrador pode exigir contas do sócio
administrador, mas se as contas já foram aprovadas pelo órgão interno da sociedade,
não há interesse de agir. O mesmo se aplica às cooperativas, segundo o STJ.

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2.5 Legitimidade Passiva


A legitimidade passiva não tem complexidade. O legitimado passivo é quem
tem o dever de prestar contas.
2.6 Competência
Na competência temos uma regra geral do art. 53, inciso IV, b do CPC/15.
Art. 53. É competente o foro:
IV - do lugar do ato ou fato para a ação:
b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios;

É o local do ato ou fato. É o local da administração dos bens ou interesses. É


uma regra de competência territorial relativa, podendo ser prorrogada por foro de
eleição.
Existe a exceção no art. 553 do CPC/15.
Art. 553. As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de
qualquer outro administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo
em que tiver sido nomeado.
Parágrafo único. Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o
saldo e não o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob
sua guarda, glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as
medidas executivas necessárias à recomposição do prejuízo.

A competência será absoluta ou funcional do juiz que tiver nomeado


administrador nos casos do inventariante, tutor, curador ou qualquer outro
administrador nomeado judicialmente, como depositário. Nestes casos, a prestação de
contas é no mesmo processo no qual houve essa nomeação pelo juízo – é competência
absoluta funcional.
O STJ decidiu no CC 75617/SP que a ação de exigir contas movidas pelo cliente
contra advogado é de competência da justiça comum estadual.
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA COMUM E JUSTIÇA
TRABALHISTA. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS AJUIZADA POR CLIENTE EM FACE
DE SEU ANTIGO ADVOGADO. NATUREZA CONTRATUAL DO VÍNCULO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM.
1. Ação de prestação de contas ajuizada por cliente em face de seu antigo
patrono, decorrente de alegada ausência de repasse de verbas relativas a
condenação e acordo firmados em ações judiciais pretéritas.
2. A Segunda Seção desta Corte tem entendimento pacificado no sentido de que o
pedido e a causa de pedir definem a natureza da lide, não se verificando, na
espécie, discussão sobre vínculo empregatício ou recebimento de verbas
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trabalhistas, do que decorre a competência da Justiça Comum para processar e


julgar a demanda. Precedentes.
3. "O fato de se tratar, na presente hipótese, de ação de prestação de contas
movida em desfavor das advogadas que prestaram serviços profissionais à autora
em nada altera essa conclusão." (CC 76.353/SP, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJ de
24.05.2007) 4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da
6a Vara Cível do Foro Regional de Santo Amaro/SP, o suscitado
CC 75617 SP 2006/0240171-7, Ministro FERNANDO GONÇALVES, 26/09/2007, S2 -
SEGUNDA SEÇÃO, DJ 11.10.2007 p. 284

2.7 Procedimento
É procedimento interessante porque é bifásico, são duas fases com duas
sentenças. No inicio, o juiz verificará se há ou não o dever de prestar contas e profere
uma sentença; depois, verifica se há saldo residual a pagar e profere outra sentença.
O autor apresenta a petição inicial e o réu é citado para responder em 15 dias.
Daí, se abrem duas fases com duas sentenças:
2.1.1. Primeira fase
Nela se discute o dever de prestar contas e o réu pode tomar algumas medidas:
a) Ele pode prestar as contas e não contestar, conforme art. 551 do CPC/15.
Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a
citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze)
dias.
Art. 551. As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, especificando-
se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver.

Acontecendo isso, passa-se a segunda fase da prestação de contas. Se ele


prestar contas, ele reconhece juridicamente o primeiro pedido e não há
necessidade de passar por uma primeira fase com sentença condenatória.
Na segunda fase se verifica se há resíduo.
b) Ele pode prestar contas e contestar. Não contestar quanto ao dever de
prestar contas, porque se ele apresentou as contas ele já reconheceu.
Porém, ele pode contestar dizendo que não há resíduo em relação às
contas. Exemplo: o administrador diz que as contas estão em valor superior
ou que o autor está pedindo para prestar contas relativas a um período em
que ele também não foi administrador. Neste caso, da mesma forma,
passa-se a segunda fase na qual se analisa não mais o dever de prestar
contas, mas o conteúdo da prestação.

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c) O réu pode negar a prestação e contestar. Isso está previsto no art. 487,
inciso I do CPC/15.
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;

Se ele nega, ele diz que não tem o dever de prestar contas e será discutido
se ele tem ou não o dever de prestar contas. Neste caso, o juiz proferirá a
primeira sentença (sentença1).
d) O réu não faz nada, nem contesta nem presta contas. Da mesma forma,
se passará pelo dever ou não de prestar contas (sentença 1).

Ao final dessa primeira fase, a depender, o juiz profere a sentença1, tem


sucumbência, sendo que a sentença pode ser de improcedência (não tem o dever) ou
de procedência (tem o dever). Se for de procedência, o que ocorre – art. 550, § 5º, do
CPC/15 – é que o juiz ordena a prestação de contas em 15 dias.
Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a
citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze)
dias.
§ 5o A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as
contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que
o autor apresentar.

Essa sentença que ordena a prestação de contas é apelável no duplo efeito e o


processo sobe todo. Isso acaba impedindo a fase seguinte até o julgamento da
apelação.
2.1.2. Segunda Fase
Só existe se o réu for condenado a prestar contas. Nela há as opções:
a) O réu presta conta em 15 dias. E o autor se manifesta em 15 dias e há
uma sentença 2, fazendo o acerto de contas.
b) O réu não presta contas. Nessa situação, o autor vai prestar as contas
dele em 15 dias, que não serão impugnáveis pelo réu. Apesar disso, o STJ,
no julgamento do AgRg no Ag 718903/RS, entendeu que o juiz não fica
vinculado às contas vinculadas apresentadas pelo autor e pode, inclusive,
determinar a produção de prova pericial se entender necessário e,
inclusive, de ofício.

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AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL.


EMBARGOS DECLARATÓRIOS. OMISSÃO. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC.
INOCORRÊNCIA. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. PRAZO. 48 HORAS.
REAPRESENTAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. PRECLUSÃO. - Se não havia defeito a ser
sanado, não incorre em ofensa ao art. 535 do CPC o acórdão que rejeita os
embargos declaratórios. - Se o réu não presta contas no prazo de 48 horas (CPC,
Art. 915, § 2º) as que o autor apresentar serão julgadas segundo o prudente
arbítrio do juiz que poderá, se considerar necessário, determinar a realização de
perícia contábil (CPC, Art. 915, § 3º, segunda parte). - Não há previsão de
reabertura do prazo para reapresentação de contas se a própria lei prevê as
conseqüências para o descumprimento do comando da sentença.
(STJ - AgRg no Ag: 718903 RS 2005/0183154-9, Relator: Ministro HUMBERTO
GOMES DE BARROS, Data de Julgamento: 25/09/2007, T3 - TERCEIRA TURMA,
Data de Publicação: DJ 15.10.2007 p. 257)

Ao final, o juiz profere a sentença2 na qual haverá um acerto de contas.


A pergunta que se faz é qual o conteúdo da sentença2 na ação de exigir contas?
Pode ser saldo devedor, saldo credor ou quitação da dívida. Ou seja, pode dizer que o
autor está devendo, que o réu está devendo ou que já houve a quitação da dívida. Essa
sentença servirá de título executivo porque é condenatória, cabendo apelação e há
sucumbência.
Vale ressaltar o enunciado da Súmula 477 do STJ.
Enunciado da Súmula 477 STJ - A decadência do artigo 26 do CDC não é aplicável à
prestação de contas para obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e
encargos bancários.

Sabemos que o CDC prevê prazo a depender da natureza do bem. Não se aplica
a decadência ao direito de prestação de contas, até porque tem natureza de direito
potestativo e o prazo seria prescricional.

3. Ações Possessórias ou Interditos Possesórios


Essa é a que mais cai, incluindo no MPF. Juízes federais julgam muito ações
ligadas a conflitos agrários, problemas envolvendo o “Minha casa, Minha vida”, ações
monitórias, etc.
3.1 Distinções Iniciais
Devemos fazer a distinção entre três institutos principais: a posse, a
propriedade e a detenção.

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livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

A definição de propriedade está implicitamente no art. 1228 do CC/02.


Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o
direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

A propriedade é um direito de onde se extraem as faculdades de usar, gozar e


dispor e reivindicar. Ela é um direito real absoluto que tem previsão no artigo acima.
A posse, por sua vez, está no art. 1196 do CC/02.
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno
ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

A posse diferente da propriedade, enfrenta divergência doutrinária. A doutrina


especializada vê a posse como um fato, um exercício pelo ou não de um dos poderes
inerentes da propriedade.
Como tentativa de explicar a posse temos duas correntes: a de Savigny e a de
Ihering.
A teoria subjetiva de Savigny defende que a posse tem dois elementos: o
corpus e o animus. O corpus é a apreensão física da coisa e o animus é a intenção de
tê-la como dono. Ihering, por sua vez, defende a teoria objetiva da posse. Esta existe
somente com a apreensão física da coisa, o corpus.
As duas doutrinas se complementam. Pela doutrina de Savigny, por exemplo, se
explica a situação da usucapião, que exige o animus domini (teoria subjetiva). Mas esta
teoria não é suficiente porque não considera que o locatário é possuidor, já que ele
não tem a intenção de ter a coisa como dono. Caso se tenha um contrato de aluguel,
não está como dono, se quer ter a coisa como locatário, apesar disso, é possuidor –
aplica-se a teoria de Ihering, que permite o desdobramento da posse em possuidor
direto e indireto, mas a de Savigny não.
Prevalece que foi adotada a teoria objetiva de Ihering, mas com alguns reflexos
da teoria subjetiva, como a usucapião.
A detenção também é um instituto do Direito Civil. Parte da doutrina entende
que o detentor é aquele que exerce a posse em nome alheio. Só que se for assim, a
detenção seria espécie de posse e isso gera enormes controvérsias – o professor
recomenda estudar sobre isso: usucapião e posse precária, e Flávio Tartuce fala muito
bem sobre isso.
O detentor é aquele que tem a coisa em nome alheio. Para uns é uma espécie
de posse, para outros é mera detenção. É a figura do caseiro, da empregada, do
depositário, etc.
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Quais são as defesas que podem ser manejadas no caso de posse e de


propriedade? O exercício da defesa da propriedade é feito através do que se chama de
ius possiendi, que se contrapõe ao ius possessionis. O primeiro é o direito de possuir
quando se tem como causa de pedir a propriedade e gera o que se chama de ação
petitória, que tem como causa de pedir a propriedade.
Como se exerce a defesa da propriedade? As ações que permitem a defesa da
propriedade são exercidas pelo que se chama de ius possiendi, que gera, que
fundamenta, as ações petitórias cuja causa de pedir é a propriedade. O pedido na ação
possessória e na ação petitória (reivindicação de posse ou reintegração de posse) é o
mesmo – ter a coisa de novo para si. Porém, uma coisa é querer a posse por ser o
possuidor legítimo, outra coisa é ter a posse porque é proprietário da coisa.
A ação petitória é aquela que tem como causa de pedir a propriedade, o
domínio, e a ação possessória tem como causa de pedir a própria posse.
As ações petitórias têm nomes bem antigos, nomes típicos da civilística - até da
romana – e merecem ser analisadas bem. Não há procedimento específico no Código,
mas tem nomes cobrados em questões de concursos.
- Ação ex empto  tem por objeto o pedido da parte faltante da coisa, na
venda ad mensuram. Essa parte foi comprada (propriedade), mas não
passada;
A pessoa compra um bem, isso está no CC/02, com a unidade de dimensão
específica (como imóvel ou terreno). Exemplo: compra um imóvel de
1.000m2 e, quando chega no local, tem 400m2. Ele pode cobrar a parte
faltante com base nessa ação ex empto.
- Ação confessória  objetiva o reconhecimento de uma servidão, sendo
proposta pelo proprietário do prédio dominante;
Ela é proposta pelo proprietário do prédio dominante para que se
reconheça a servidão em relação ao prédio dominado.
- Ação demarcatória  é utilizada pelo proprietário, que objetiva
aviventar marcas, confrontação;
Isso tem previsão no CPC/15.
- Ação demolitória  tem por objetivo destruir algo que viola o direito de
vizinhança ou posturas municipais;
É ação petitória.

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- Ação de imissão de posse  é a ação do proprietário que nunca teve a


posse, a fim de obtê-la. É preciso muito cuidado para não confundir
essa ação com as ações possessórias.
É a mais comum.
A ação de imissão de posse é utilizada pelo proprietário que nunca teve a posse
da coisa. Mas, as vezes, é possível que tenha uma transferência jurídica da posse – ela
pode ser transferida de maneira simbólica, sem o contato físico com a coisa. Exemplo:
o art. 1.206 do CC/02 dispõe que:
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os
mesmos caracteres.

É uma transferência legal, jurídica. Outro exemplo é o art. 1.207 do CC/02.


Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e
ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos
legais.

A lei, por vezes, prevê a transferência da posse por imperativo direto, cogente,
legal. Além disso, é possível também o constituto possessório, a cláusula constituti que
existe em contratos; a posse é transferida por força contratual. Tenham cuidado
porque se houver transferência da posse, não será causa de imissão de posse, mas de
reintegração de posse, por exemplo.

- Ação reivindicatória  é a ação do proprietário (que tinha a posse e


perdeu), para o reconhecimento da propriedade e restituição da coisa;
- Ação publiciana  é a ação de usucapião de quem já não tem mais a
posse e pretende recuperá-la. Tem fundamento na propriedade
adquirida por usucapião, mas não declarada em sentença;
A pessoa tinha um imóvel, estava na posse, já poderia ter adquirido a
propriedade por usucapião, mas não tinha ajuizado a ação, não tem mais a posse e
agora quer recuperar.

- Usucapião  A causa de pedir da usucapião é o preenchimento dos


requisitos legais que consolidam a propriedade, a posse ad

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usucapionem. É a posse mansa e ininterrupta por um prazo de tempo


previsto em lei.

Diferente das ações petitórias são as formas de defesa da posse. A posse pode
ser defendida, basicamente, de duas formas: a autotutela, prevista no art. 1210, § 1º
do CC/02 ou pelas ações possessórias (ou interditos possessórios, que, em sentido
amplo, são todas as ações possessórias).
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação,
restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de
ser molestado.
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua
própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não
podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

A turbação é uma moléstia na posse, uma afetação, transtorno ou incomodo na


posse. O esbulhado é quem perdeu a posse. A autotutela é admitida desde que o
possuidor se defenda de imediato e de forma moderada.
Já as ações possessórias são outra via de tutela da posse. Elas tutelam o ius
possessionis que é o direito de preservar a situação fática da posse. No Brasil, existem
três ações possessórias – a doutrina critica, falando que bastava uma – que são a
reintegração de posse, manutenção de posse e interdito proibitório.
Por fim, o detentor também pode se utilizar da autotutela segundo
entendimento doutrinário. Ele não pode ajuizar ações possessórias.

3.2 Ações Possessórias de Rito Especial


Vamos fazer um breve quadro, que é a diferença entre esbulho, turbação e
ameaça. Classicamente, são as três formas de afetar a posse de alguém.
3.2.1Quadro Geral

Esbulho É a perda da posse Quem perde a posse pode se valer da ação de


reintegração de posse.

Turbação Não é a perda da posse, mas Esse incômodo pode ser objeto de manutenção de
o incômodo. Exemplo: existe posse.
um problema nas fronteiras,
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como sem terras mexendo


nas cercas ameaçando a
entrar na propriedade.

Ameaça Há uma ameaça, um fato A ação será o interdito proibitório, é uma ação
ainda não consumado. inibitória, possuindo caráter preventivo.

Gradação da
gravidade

3.2.2 Fungibilidade Entre as Ações Possessórias


Como saberei qual a situação? O art. 554 do CPC/15 é tratada a fungibilidade
entre as ações possessórias.
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a
que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela
cujos pressupostos estejam provados.

Percebam que se ajuizar uma ação possessória quando deveria ter ajuizado
outra ou a circunstância de fato mudou, é possível a fungibilidade. Isso ocorre por três
fundamentos principais:
1) Primeiro porque, dependendo a ação que se ajuíza, a função é sempre a
mesma, a proteção da posse.
2) A segunda é porque a situação de fato costuma ser bastante dinâmica: o
que era uma ameaça vira uma turbação, o que era uma turbação vira
um esbulho e aí quem começou com um interdito proibitório pode
terminar com uma reintegração de posse.
3) O terceiro motivo é que os conceitos são meio difíceis de saber, o que de
fato configura o que (p. ex., o que é uma turbação? Quais são seus
limites?).
A doutrina majoritária entende que não há fungibilidade entre ação possessória
e ação petitória, só entre ações possessórias.
3.2.3 Exemplos de Ação Dúplice?
As ações possessórias são exemplos de ação dúplice? A doutrina diz em peso
que sim. O art. 556 do CPC/15 dispõe que:

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Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua
posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos
resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.

Isso significa que o réu pode, na contestação, demandar a proteção possessória


e também pelos prejuízos. Esse artigo reproduz o art.9 22 do CPC/73 e cria a figura do
pedido contraposto nas ações possessórias para indenização e proteção da posse. O
réu pode achar que o autor é o agressor e faz o pedido de proteção e indenização.
Há necessidade de pedido contraposto e, por isso, parte da doutrina entende
que as ações possessórias não são exemplos de ações dúplices – se há necessidade de
pedido contraposto, não se tem ação dúplice no sentido material. Já falamos que
existem ações dúplices no sentido material e no sentido processual e, por isso, a outra
parte da doutrina, como Fredie Didier, Alexandre Câmara, as ações possessórias são
dúplices no sentido processual porque admite o pedido contraposto na contestação.
Araquem de Assis, Ovídio Baptista e Daniel Assumpção entendem que não é
tipo de ação dúplice, já que para eles é somente no sentido material, na qual o réu não
precisa fazer pedido para exercer uma pretensão, como na ação meramente
declaratória. Se julgado improcedente o pedido, significa que se declarou o contrário;
p. ex., ações de inconstitucionalidade, se julga improcedente, o que se entende é que
os atos normativos são constitucionais.
3.2.4 Objeto das Ações Possessórias
O objeto das ações possessórias são os bens materiais, de uma maneira geral.
São bens que existem no plano dos fatos e não apenas no plano jurídico. Pode ser
móvel, imóvel, semovente, etc. pode se reintegrar, pode ir atrás de um gado, um
cachorro, qualquer coisa nesse sentido. Consequentemente, os bens imateriais não
podem ser objeto de ações possessórias.
A Súmula 228 do STJ dispõe que:
SÚMULA 228 STJ - É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito
autoral.

O direito autoral é direito imaterial. Como não é material, não cabe. Vale
ressaltar que a servidão, na esteira da Súmula 415 do STF é objeto material.
SÚMULA 415 - Servidão de trânsito não titulada, mas tornada permanente,
sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se aparente, conferindo
direito à proteção possessória.

A servidão aparente é um direito real que gera um ônus imposto por um prédio
dominante sob o prédio dominado. Se for aparente, ela é visível, se é visível, é
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material. Sendo material, pode dar aso à uma ação possessória. Pode-se usucapir uma
servidão de tanto ela existir.
3.2.5 Competência
Art. 47 do CPC/15.
Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro
de situação da coisa.
§ 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o
litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e
demarcação de terras e de nunciação de obra nova.
§ 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa,
cujo juízo tem competência absoluta.

A posse não é um direito real e aí o art. 47, § 2º, dispõe que a ação possessória
imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência
absoluta.
Então, a competência depende da natureza do bem. Em se tratando de bem
móvel, segue o regramento geral do art. 46 do CPC/15 e, se bem imóvel, art. 47, § 2º
do CPC/15. Se o juiz que outro que não o do foro de situação da coisa (bens imóveis)
julgar o caso, a sentença é nula.
3.2.6 Legitimidade
Quem pode ajuizar ações possessórias?
Legitimidade ativa:
a) Possuidor direito, que é aquele que tem apreensão física da coisa. Ele
pode ser o proprietário ou não, pode ser um mero locatário.
b) Possuidor indireto, que é o proprietário não possuidor, como é o exemplo
do locador.
Um detalhe é que o possuidor indireto pode ajuizar a ação contra qualquer
pessoa, menos o possuidor direto. Isso está no art. 557 do CPC/15, que
veda a ação de reconhecimento de domínio, não sendo possível misturar
posse com propriedade.
Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao
réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for
deduzida em face de terceira pessoa.
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação
de propriedade ou de outro direito sobre a coisa.

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Perceba que pela interpretação que se tem é que a posse tem proteção
diferente da propriedade. A posse é um direito legítimo e que pode ser
invocado, inclusive, contra o dono da coisa. O locador não pode ajuizar ação
contra o locatário porque, a rigor, a posse do locatário é legítima – se quer
defender uma posse, mas a posse é legítima. E se estiver devendo? Pode
ajuizar outras ações, como ação de despejo ou juízos petitórios. Porém, o
que se entende na doutrina é que o possuidor indireto não pode ajuizar
uma ação contra o possuidor direto.
Há essa vedação de se discutir o domínio porque ambos são possuidores e a
posse física está com o possuidor direto.
c) Compossuidor – uma coisa às vezes é objeto de posse de várias pessoas
ao mesmo tempo e isso está no art. 1.314 do CC/02.
Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre
ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro,
defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.
Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa
comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros.

O que se entende é que há algumas situações em que há uma


indivisibilidade jurídica, mas divisibilidade fática – é a posse pró-diviso. O
possuidor pode ajuizar a ação contra terceiros ou contra outro
compossuidor. E esta ultima hipótese é possível porque, por exemplo, a
composse é sobre um terreno que não está dividido juridicamente, mas há
uma divisão fática na qual cada possuidor fica em uma parte do terreno;
então, há composse, mas cada um tem a posse de uma área específica, a
posse pró-diviso, sendo uma divisibilidade fática e não jurídica.
Exemplo: filhos que dividem, informalmente, a Fazenda do pai falecido – há
posse pró-diviso e um dos filhos pode ajuizar demanda possessória em face
do outro compossuidor.
d) Possuidor de Má-fé – aquele que possui uma coisa de má-fé pode ajuizar
ação possessória contra terceiros invasores, mas nunca contra o
possuidor que foi turbado ou esbulhado.

Legitimidade passiva:
A legitimidade passiva será:

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a) Invasor/esbulhador/autor da ameaça.
b) Possuidor indireto – por exemplo, uma pessoa locatária de um imóvel e o
dono fica entrando no local ou quer que ele saia imotivadamente. Por isso,
o possuidor direto pode ajuizar uma ação para tutelar a sua posse.
c) Compossuidor – já falamos da posse pro-diviso.

O que merece atenção é o art. 554, § 1º do CPC/15 que trata de um caso


curioso.
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a
que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela
cujos pressupostos estejam provados.
§ 1o No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número
de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados
no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do
Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência
econômica, da Defensoria Pública.

Observação 1: Citação pessoal dos ocupantes e a citação por edital dos demais
que não se conheça. Percebam que essa é uma situação de coletividade ré.
Observação 2: Se houver cônjuge envolvido, dispõe o art. 73, § 2º do CPC/15.
Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que
verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de
separação absoluta de bens.
§ 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu
somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos
praticado.

Diferentemente dos direitos reais imobiliários, nas ações possessórias, o autor


não precisa da autorização do cônjuge nem precisa colocar o cônjuge do réu no polo
passivo, salvo em caso de composse. Se for ajuizar ação no caso de composse, o réu
deve estar junto de seu cônjuge; ou se for ajuizar uma ação em que é compossuidor
com o cônjuge, ele também deve ser colocado como parte autora. Não há
litisconsórcio necessário, podendo ser suprida a autorização pela via judicial.
Observação 3: o Poder Público pode ser réu em ação possessória? Sim. Há
situações em que o invasor/esbulhador/ turbador é o Poder Público. Se ele for o autor,
se pode ajuizar três tipos de ações contra. Pode se valer de ação possessória, de ação
de Mandado de Segurança e ação de desapropriação indireta.

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Se o poder público está esbulhando, pode-se valer de ação possessória. Pode


também se valer do mandado de segurança se tiver prova pré-constituída da moléstia.
Pode também se valer de ação de desapropriação indireta, que é aquela que ocorre
quando o Poder Público desapropria sem as formalidades sem o processo
administrativo de desapropriação. Exemplo: o Poder Público entra no terreno e
começa a construir e o proprietário não recebe notificação, não recebe indenização,
etc.. Ou seja, é uma desapropriação irregular.
Se essa situação do Poder Público ocupar o imóvel for irreversível porque já
houve esgotamento do conteúdo econômico, as obras já foram feitas, etc., se ajuíza
uma ação de desapropriação indireta, cujo objetivo é conseguir uma indenização.
Porém, se ainda houver como tirar o Poder Público, pode-se valer de uma ação
possessória ou um Mandado de Segurança.
3.2.7 Exceção de Domínio
Já falamos, mas o art. 557 do CPC/15 explica:
Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao
réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for
deduzida em face de terceira pessoa.

Da mesma forma, não vai afetar a ação de reintegração de posse a alegação de


propriedade ou direito real. Pelo art. 557 do CPC/15 não é possível se valer de uma
ação petitória com ação possessória. Esta tem o objetivo específico de discutir a posse,
não se discute propriedade, não pode usar como defesa o argumento de que é o dono,
pois pouco importa. O que está sendo discutido é a posse; o dono, não
necessariamente, é aquele que tem a posse mais legítima, a depender do caso
concreto.
3.2.8 Posse Nova e Posse Velha
O art. 558 do CPC/15 dispõe que:
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as
normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia
da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.

Essas normas também se aplicam ao interdito proibitório por conta dos artigos
seguintes.
Se ajuizar a ação possessória dentro de um ano e um dia da turbação ou do
esbulho, pode-se valer do procedimento especial. A ação de força nova é a ação
possessória ajuizada dentro do prazo de um ano e um dia da moléstia, do problema

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que foi causado à posse, notadamente do esbulho e da turbação. Ou seja, na força


nova, a moléstia ocorreu a menos de um ano e um dia.
Se a ação for de força nova, pode-se valer do procedimento especial. Agora, se
for de força velha – passou de um ano e um dia do esbulho e ainda não ajuizou ação
possessória – aparentemente não está dando muita atenção a isso, o rito será o
comum.
Qual a diferença de seguir o procedimento comum ou não? A diferença é que a
ação de força nova (ajuizada dentro de um ano e um dia), o possuidor, quando ajuíza,
tem direito a liminar satisfativa, uma tutela satisfativa da evidência. Se consegue
antecipar os efeitos da tutela com base simplesmente na evidência, não precisa de
comprovar o periculum in mora. No procedimento das ações possessórias, a liminar
que reestabelece a posse de quem a perdeu ou está sendo turbado independe do
periculum in mora se ajuizada dentro de um ano e um dia, basta a verossimilhança das
alegações.
Isso não significa que a ação deixa de ser possessória se a posse for velha. Ela
continua sendo ação possessória se a posse for velha, o regramento é o da
competência absoluta, por exemplo, do foro do local do imóvel. Porém, ela
simplesmente não vai ter o procedimento especial.
Esse um ano e um dia é contado a partir de quando?
Depende:
 no caso de posse clandestina – o art. 1.224 do CC/02 diz que o prazo é
contado da ciência, salvo negligência.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-
la, é violentamente repelido.

A posse clandestina é, por exemplo, alguém que entra na casa de praia de


outrem e começa a usar sem que o proprietário/possuidor saiba. Quando
começa o prazo de um ano e um dia para se valer do procedimento
especial? Quando souber que a pessoa está na casa de praia – às vezes a
pessoa vai somente no verão, a cada seis meses, etc. Porém, ressalva-se a
negligência, como o caso de nunca ir a casa e o prazo começará a contar
ainda que não vá.
 no caso de esbulho ou turbação permanentes – o prazo é contado do
ato inicial. Exemplo: o cara entra na casa, o proprietário/possuidor sabe

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que entrou e continua lá. Neste caso, já começa a correr o prazo de um


ano e um dia.
 no caso de esbulho ou turbação repetidos – a pessoa que sai, depois
volta, ou toda semana invade a propriedade. Neste caso, o prazo é
contado do último ato.
Lembrando que se passado o prazo de um ano e um dia isso significa apenas
que não se pode valer do procedimento especial, sendo o procedimento comum.
Porém, não deixa de ser ação possessória.

3.2.9 Cumulação de Pedidos na Inicial

O art. 555 do CPC/15 traz hipóteses nas quais a cumulação de pedidos não
prejudica o rito especial.
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:
I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e
adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final.

Pode pedir a proteção possessória e a indenização das perdas e danos. Pode


pedir também a indenização dos frutos porque, às vezes, pode estar ali perdendo os
frutos do imóvel, por exemplo. Pode pedir também uma nova medida para evitar nova
turbação ou esbulho ou para cumprir-se a tutela provisória ou final.

O especial mesmo é a condenação em perdas e danos, a indenização dos


frutos; é também possível pedido de medidas necessárias para evitar nova turbação ou
para cumprimento da tutela provisória ou final.
3.2.10 Medida Liminar Satisfativa

Dispõe o art. 562 do CPC/15 o seguinte:


Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem
ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração,
caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado,
citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.

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600.16
Processo Civl – Procedimentos Especiais
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir
da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em
livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a
manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos
representantes judiciais.

O que existe no procedimento especial é essa liminar que só se aplica às ações


de força nova, que é uma espécie de tutela da evidência. Não se analisa se há risco ou
perigo de tempo, que não é necessário. O autor deve demonstrar, basicamente, a
posse, o ato de ameaça/turbação/esbulho, provar que ocorreu há menos de um ano e
um dia e a continuação da posse turbada ou a perda da posse.

A inicial deve ser feita com base em prova documental, é prova pré-constituída.
Porém, se o juiz entende que esta não é suficiente, pode marcar audiência de
justificação com o objetivo de colher a prova oral do autor, conforme art. 562, caput,
do CPC/15. O juiz pode também determinar que o autor preste caução e isso está no
art. 559 do CPC/15.
Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente
mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de
sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5
(cinco) dias para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada
a coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente
hipossuficiente.

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