Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
VISÃO 2030
O Futuro da Agricultura Brasileira
Embrapa
Brasília, DF
2018
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Coordenação técnico-científica
Édson Luis Bolfe (Coordenador)
Silvia Kanadani Campos, Marcos Antonio Gomes Pena Júnior, Elisio Contini, Renato de Aragão Ribeiro Rodrigues,
Carlos Augusto Mattos Santana, Daniela Biaggioni Lopes, Giani Tavares Santos da Silva, Gilmar Paulo Henz,
Jefferson Luis da Silva Costa, Judson Ferreira Valentim, Lívia Abreu Torres, Lúcio Brunale, Marisa Prado Gomes,
Roberta Dalla Porta Gründling, Virgínia Gomes de Caldas Nogueira
Supervisão editorial
Silvia Kanadani Campos
Marcos Antonio Gomes Pena Júnior
Édson Luis Bolfe
Revisão de texto
Jane Baptistone de Araújo
Normalização bibliográfica
Rejane Maria de Oliveira
Márcia Maria Pereira de Souza (CRB 1441)
Embrapa.
Visão 2030 : o futuro da agricultura brasileira. – Brasília, DF : Embrapa, 2018.
212 p. : il. color. ; 18,5 cm x 25,5 cm.
CDD 630.72
Rejane Maria de Oliveira (CRB 1/2913) © Embrapa, 2018
Colaboradores
Alberto Roseiro Cavalcanti Daniela Tatiane de Souza Gilceana Soares Moreira Galerani
Alexandre Camargo Coutinho Daniella Lopes Marinho de Araujo Gilmar Paulo Henz
Alexandre Costa Varella Danielle Alencar Parente Torres Gilmar Souza Santos
Alexandre da Silva Resende Debora Pignatari Drucker Giovanni Rodrigues Vianna
Alexandre de Oliveira Barcellos Ederson Jesus Guilherme Cunha Malafaia
Alexandre Hoffmann Edilson Batista de Oliveira Guilherme Julião Zocolo
Alexandre Lima Nepomuceno Edméia Leonor Pereira de Andrade Gustavo Barbosa Mozer
Alexandre Morais do Amaral Edna Maria Morais Oliveira Gustavo Porpino de Araújo
Alitiene Moura Lemos Pereira Edina Regina Moresco Gustavo Ribeiro Xavier
Amaury da Silva dos Santos Ednaldo José Ferreira Guy de Capdeville
Ana Cristina Miranda Brasileiro Edson Eyji Sano Haron Abrahim Magalhães Xaud
Ana Lúcia Atrasas Édson Luis Bolfe Helano Póvoas de Lima
Ana Paula Dionisio Eduardo Caputi Henriette M. Cordeiro de Azeredo
André Luis da Silva Lopes Eduardo da Silva Matos Hercules Antônio do Prado
André May Eduardo Delgado Assad Hugo Bruno Correa Molinari
Angela Mehta dos Reis Eduardo Francia C. Campello Humberto Bizzo
Antonio Flávio Dias Ávila Eduardo Romano de Campos Pinto Humberto de Mello Brandão
Apes Roberto Falcão Perera Elaine Cristina Cardoso Fidalgo Idésio Luis Franke
Ariovaldo Luchiari Junior Élen Silveira Nalerio Ieda de Carvalho Mendes
Áurea Fabiana A. de Albuquerque Eliane Maria Ribeiro da Silva Iêdo Bezerra Sá Irineu Lorini
Austeclinio Lopes de Farias Neto Eliane Gonçalves Gomes Isabel Rodrigues Gerhardt
Beata Emoke Madari Elibio Leopoldo Rech Filho Isaque Vacari
Bruno dos Santos Figueiredo Brasil Eliseu Alves Ítalo Moraes Rocha Guedes
Bruno Galveas Laviola Elisio Contini Ivanildo Evódio Marriel
Bruno José Rodrigues Alves Eric Arthur Bastos Routledge Ivar Wendling
Camilo Carromeu Erich Gomes Schaitza Ivo Baldani
Carlos Alberto Arrabal Arias Esdras Sundfield Ivo Pierozzi Junior
Carlos Alberto Barbosa Medeiros Estefania Damboriarena Jalusa Deon Kich
Carlos Alberto da Silva Evandro Vasconcelos Holanda Junior Jamilsen de Freitas Santos
Carlos Augusto Mattos Santana Evaristo Eduardo de Miranda Janice Reis Ciacci Zanella
Carlos Bloch Júnior Fabiano Mariath Jayme Garcia Arnal Barbedo
Carlos Eduardo Pacheco Lima Fábio Gelape Faleiro Jean Luiz Simões de Araujo
Carlos Estevao Leite Cardoso Falberni de Souza Costa Jeanne Scardini Marinho Prado
Cauê Ribeiro de Oliveira Felipe Rodrigues da Silva Jefferson Luis da Silva Costa
Celso Luiz Moretti Fernanda Muniz Junqueira Ottoni Jerri Edson Zili
Celso Vainer Manzatto Fernanda L. de Almeida O´Sullivan Joanicy Maria Brito Goncalves
Christian Luiz da Silva Fernando Antonio Araújo Campos João Carlos Garcia
Christiane Abreu de Oliveira Paiva Fernando do Amaral Pereira João Flávio Veloso Silva
Claudia Regina de Laia Machado Fernando Flores Cardoso João Henrique Figueredo
Claudio Takao Karia Fernando Luis Garagorry Cassales João Ricardo Moreira de Almeida
Cleber Soares Fernando Mendes Lamas Joelsio José Lazzarotto
Clênio Nailto Pillon Fernando Rodrigues Teixeira Dias Jorge Antonio Ferreira de Lara
Clovis Oliveira de Almeida Flávio Ávila Jorge Duarte
Cynthia Cury Frederico de Pina Matta Jorge Enoch Furquim Werneck Lima
Daniel de Castro Victoria Geraldo Bueno Martha Júnior Jorge Madeira Nogueira Junior
Daniel Medeiros Geraldo da Silva e Souza José Antonio Azevedo Espindola
Daniela Biaggioni Lopes Giampaolo Q. Pellegrino José Luiz Bellini Leite
Daniela Matias de Carvalho Bittencourt Giani Tavares Santos da Silva Jose da Silva Souza
José Fernando da Silva Protas Marcos Cezar Visoli Renata Avilla Paldes
José Mauro Ávila Paz Moreira Marcos Renato de Andrade S. Esteves Renata Bueno Miranda
José Rodrigo Pandolfi Marcos Flávio Silva Borba Renato Cristiano Torres
Juan Diego Ferelli de Souza Maria Angelica de Andrade Leite Renato Cruz Silva
Juarez Campolina Machado Maria Conceição Peres Young Pessoa Renato da Cunha Tardin Costa
Judson Ferreira Valentim Maria de Lourdes M. Santos Brefin Renato de Aragão Ribeiro Rodrigues
Julio Carlyle Macedo Rodrigues Maria do Carmo Ramos Fasiaben Renato Linhares de Assis
Júlio César Dalla Mora Esquerdo Maria do Rosário Lobato Rodrigues Renner Marra
Julio Ferraz de Queiroz Maria E. F. Correia Ricardo Augusto Dante
Júnia Rodrigues de Alencar Maria Fernanda Moura Ricardo Borghuesi
Jurema Iara Campos Maria Lúcia Simeone Ricardo Lopes
Juscimar da Silva Maria Ortiz A. Baptista Portes Ricardo Elesbão Alves
Keize Pereira Junqueira Maria Regina Capdeville Laforet Richardson Silva Lima
Kelita Andrade Mariane Carvalho Vidal Roberta Dalla Porta Grundling
Kepler Euclides Filho Mariangela Hungria Roberto Hiroshi Higa
Kleber Xavier Sampaio de Souza Mariella Carmadelli Uzêda Robson Barizon
Klinger Aragão Magalhães Marília I. S. Folegatti Matsuura Rômulo Penna Scorza Junior
Krisle Silva Mário Alves Seixas Ronielli Cardoso Reis
Ladislau Martin Neto Marisa Prado Gomes Rosana Clara Victoria Higa
Laercio Duarte Souza Marta dos S. F. Ricci de Azevedo Rosângela Straliotto
Leonardo Ribeiro Queiros Mateus Batistella Rossano Gambetta
Leonardo Valadares Maurício Antônio Lopes Rui Alberto Gomes Junior
Lígia Souza Brandão Mauro Celso Zanus Ruy Rezende Fontes
Lívia Abreu Torres Milene da Silva Castellen Segundo Sacramento U. Caballero
Lívia Pereira Junqueira Milton Kanashiro Sérgio dos Anjos
Lucas Tadeu Ferreira Mirian Eira Silvia Kanadani Campos
Lucia Gatto Myriam Tigano Silvia Maria Fonseca S. Massruhá
Luciana Nakaghi Ganeco Kirschnik Nádia Solange Schmidt Bassi Sílvio Crestana
Lúcio Brunale Nilton Tadeu Vilela Junqueira Silvio Roberto Medeiros Evangelista
Luis Gustavo Barioni Nilza Patrícia Ramos Simone de Souza Prado
Luiz Alexandre Nogueira de Sá Norma Rumjanek Sônia Ternes
Soraya Carvalho Barrios de Araújo
Luiz Fernando Duarte de Moraes Odílio B. G. Assis
Stanley Robson de Medeiros Oliveira
Luiz Fernando Severnini Patrícia Menezes Santos
Susete do Rocio Chiarello Penteado
Luiz Sergio de Almeida Camargo Patrícia P. Anchão de Oliveira
Tatiana Deane de Abreu Sá
Manoel Teixeira Souza Junior Patrícia Rocha Bello Bertin
Thiago Teixeira Santos
Manoel Xavier Pedroza Filho Paula Regina Kuser Falcão
Thomaz Fronzaglia
Marcelo Augusto Boechat Morandi Paulo Roberto Galerani
Valeria Pacheco Batista Euclides
Marcelo Ayres Carvalho Paulo do Carmo Martins
Vania Beatriz Rodrigues Castiglione
Marcelo do Amaral Santana Pedro Abel Viera Júnior
Veronica Reis
Marcelo Hiroshi Hirakuri Pedro Freitas
Vinicius do Nascimento Lampert
Marcelo Nascimento De Oliveira Pedro L. O. de A. Machado
Vinícius Pereira Guimarães
Márcia Helena Galina Dompieri Petula Ponciano Nascimento
Virgínia Martins da Matta
Marcia Mitiko Onoyama Poliana Fernanda Giachetto Virgínia Gomes de Caldas Nogueira
Marcia Vizzotto Priscila Zaczuk Bassinello Vitor Henrique Vaz Mondo
Marcio Carvalho Marques Porto Rachel Bardy Prado Vitor Hugo de Oliveira
Marcio Elias Ferreira Rafael Vivian Waldyr Stumpf
Marco Antônio de Almeida Leal Rafaella de Andrade Mattietto Washington Esteves
Marcos Antonio Gomes Pena Júnior Regina C. A. Lago Ynaiá Masse Bueno
Marcos Brandao Braga Regina Isabel Nogueira Zander Navarro
Apresentação
A expansão da demanda mundial por água, mentando aproximadamente 1,5 bilhão de
alimentos e energia é fenômeno que ocorre pessoas no mundo. Os benefícios dessa con-
há décadas, tendo se intensificado nos últi- dição possibilitam preços mais acessíveis aos
mos anos, em decorrência do aumento po- consumidores, elevam a renda e a geração
pulacional nos países em desenvolvimento, de empregos e impulsionam a participação
da maior longevidade, da intensa urbaniza- da agricultura no Produto Interno Bruto (PIB)
ção, do incremento da classe média, princi- brasileiro. A disponibilidade de recursos na-
palmente no Sudeste Asiático e das mudan- turais, associada a políticas públicas, a com-
ças no comportamento dos consumidores. petências técnico-científicas e ao empreen-
Projeta-se, como consequência desses fa- dedorismo dos agricultores brasileiros foram
tores, o crescimento da demanda global fundamentais para esse desenvolvimento
por energia em 40% e por água em 50%1 e agrícola do País.
a necessidade de expansão da produção de
O Brasil continua investindo em processos
alimentos em 35%2 , até 2030.
de intensificação sustentável, com destaque
Internacionalmente, muitos esforços estão para a produção de duas safras por ano em
sendo envidados para estabelecer uma re- mesma área e para o Plano Setorial de Mitiga-
lação mais equilibrada entre população e ção e de Adaptação à Mudança do Clima para
ambiente e os componentes de produção a Consolidação de uma Economia de Baixa
de alimentos e energia. Destacam-se os Emissão de Carbono na Agricultura (Plano
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ABC), vinculado ao Ministério da Agricultura,
(ODS) estabelecidos sob a coordenação da Pecuária e Abastecimento (Mapa), que incen-
Organização das Nações Unidas (ONU), vi- tiva o uso de tecnologias mais sustentáveis,
sando garantir, até 2030, um planeta mais tais como: recuperação de pastagens degra-
próspero, equitativo e saudável. Agricultura dadas; integração lavoura-pecuária-floresta
e alimentação estão no centro dessa agenda (ILPF); sistemas agroflorestais, sistema de
mundial, e o Brasil está preparado para de- plantio direto (SPD), fixação biológica de ni-
sempenhar um papel central no alcance das trogênio (FBN); florestas plantadas e trata-
metas estabelecidas pelos países membros mento de dejetos animais. Outras políticas e
da ONU. ações também fortalecem a sustentabilidade
do meio rural, como a Política Nacional de
Nesse contexto, a agricultura brasileira terá Biossegurança, o Código Florestal e o Cadas-
um papel protagonista. Nas últimas cinco tro Ambiental Rural.
décadas, o país passou de importador de
alimentos para um dos mais importantes De fato, a agricultura passa por profundas
produtores e exportadores mundiais, ali- transformações – econômicas, culturais, so-
ciais, tecnológicas, ambientais e mercadoló-
1
UN-Water (2017). gicas – que ocorrem em alta velocidade e em
2
Estimativas calculadas com base no estudo de Ale-
xandratos e Bruinsma (2012). Expansão em 2030 em diferentes direções, as quais impactam de
relação à produção média observada no período 2005- forma substancial o mundo rural. Dessa for-
2007.
ma, para as próximas décadas, uma questão A diversidade, pluralidade e heterogeneidade
primordial relacionada ao planejamento es- cultural, socioeconômica e ambiental do País
tratégico das organizações públicas e priva- é uma grande força competitiva e importan-
das de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) te diferencial para irmos muito além da pro-
é analisar os principais sinais e tendências, dução de commodities. O Brasil certamente
antever transformações e contribuir para o tem potencial de produzir alimentos únicos,
delineamento estratégico da programação mais nutritivos e alinhados com as deman-
de pesquisa, desenvolvimento e inovação das dos mercados mais exigentes. As análi-
(PD&I). Isso é imprescindível para definir o ses geradas neste documento contribuem
ambiente e o foco de atuação para os próxi- para a tomada de decisões estratégicas da
mos anos no intuito de elevar ainda mais o Embrapa e dos diversos agentes e atores de
protagonismo da agricultura brasileira. todos os elos das cadeias produtivas agríco-
las, com vistas ao contínuo desenvolvimento
Com a preocupação de estar constantemen-
sustentável do Brasil.
te conectada a essas transformações e suas
implicações em CT&I para a agricultura, a
Embrapa tem aprofundado estudos de futu-
ro por meio de uma rede interna de especia-
listas, vinculados ao Sistema de Inteligência
Estratégica, o Agropensa. O conjunto mais re-
cente de sinais e tendências globais e nacio-
nais sobre as transformações na agricultura
foram captados e analisados pela Embrapa
e sua rede de parceiros, e deram origem a
um grupo de sete megatendências: Mudan-
ças Socioeconômicas e Espaciais na Agricul- Maurício Antônio Lopes
tura; Intensificação e Sustentabilidade dos Presidente
Sistemas de Produção Agrícolas; Mudança
do Clima; Riscos na Agricultura; Agregação
de Valor nas Cadeias Produtivas Agrícolas; Celso Luiz Moretti
Protagonismo dos Consumidores; e Conver-
Cleber Oliveira Santos
gência Tecnológica e de Conhecimentos na
Agricultura. Lúcia Gatto
Essas megatendências integradas, que apon- Diretores
tam desafios para a agricultura do País, fo-
ram detalhadas no presente livro Visão 2030:
o Futuro da Agricultura Brasileira. O sucesso
competitivo e sustentável da agricultura al-
cançado nas últimas décadas precisa ser
intensificado para que o País permaneça
aproveitando suas vantagens comparativas e
consiga assumir o papel de líder mundial no
fornecimento de alimentos, fibras e energia.
LISTA DE
COP 23 - 23ª Conferência das Partes da Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,
Bonn, 2017
SIGLAS
CRISPRS - Clustered Regularly Interspaced Short
Palindromic Repeat
CSA - Community Supported Agriculture
Ater- Assistência técnica e extensão rural Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
CAEs - Comitês Assessores Externos dos Centros de IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Pesquisa da Embrapa
ILPF - Integração lavoura-pecuária-floresta
CAR - Cadastro Ambiental Rural
IoT - Internet das coisas
CDB - Convenção de Diversidade Biológica
IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change
CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
Labex - Laboratórios virtuais no exterior (Embrapa)
CNUDS - Conferência das Nações Unidas sobre
Mapa - Ministério da Agricultura, Pecuária e
Desenvolvimento Sustentável
Abastecimento
Conab- Companhia Nacional de Abastecimento
Matopiba - Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia
Conabio - Comissão Nacional de Biodiversidade
MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
COP 13 - 13ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro
MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Bali, 2007
Mercosul – Mercado Comum do Sul
COP 14 - 14ª Conferência das Partes da Convenção da
Diversidade Biológica, Sharm El-Sheikh, 2018 MMA - Ministério do Meio Ambiente
COP 18 - 18ª Conferência das Partes da Convenção- MME - Ministério de Minas e Energia
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,
Doha, 2012 Mpog - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
COP 21 - 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro Moderinfra - Programa de Incentivo à Irrigação e à
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Paris, 2015 Armazenagem
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Nasa - National Aeronautics Space Administration Pronasolos - Programa Nacional de Solos do Brasil
ODM - Oligonocleotide Directed Mutagenesis Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável
ODS - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
RL - Reserva Legal
OECD - Organization for Economic Co-operation and
Development SBSTA - Subsidiary Body for Scientific and Technological
Advice
OGM - Organismo geneticamente modificado
Sealba - Sergipe, Alagoas e Bahia
OMS - Organização Mundial da Saúde
SGDC-1- Satélite Geoestacionário de Defesa e
ONU - Organização das Nações Unidas Comunicações Estratégicas 1
OVM - Organismo vivo geneticamente modificado Sicar - Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural
PNC - Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima UNFCCC - United Nations Framework Convention on
Climate Change
PPP - Paridade de poder de compra
URT - Unidade de Referência Tecnológica
PRA - Programas de Regularização Ambiental
Usda - United States Department of Agriculture
Prada - Planos de Recuperação de Áreas Degradadas e
Alteradas Vant - Veículo aéreo não tripulado
PRECIS - Providing Regional Climates for Impacts Studies WTO - World Trade Organization
Introdução
Nas últimas cinco décadas, a ciência, a tec- demanda mundial por água, alimentos e fibras,
nologia e a inovação (CT&I), em conjunto impulsionada pelo aumento da população nos
com a disponibilidade de recursos naturais, países em desenvolvimento, da longevidade,
as importantes políticas públicas, a compe- do poder aquisitivo, da urbanização e pelos no-
tência dos agricultores e a organização das vos padrões de consumo, pressiona a agricul-
cadeias produtivas, tornaram o Brasil um tura para um desenvolvimento com uso mais
grande protagonista na produção e exporta- controlado dos recursos naturais. Essa condi-
ção de produtos agrícolas. Esse desempenho ção se consolida como indutora para que as or-
do meio rural contribuiu significativamente ganizações públicas e privadas de CT&I desen-
para o desenvolvimento econômico, social e volvam novos processos, métodos, sistemas e
ambiental do País. Na safra 2016/2017, o País produtos com foco no incremento da seguran-
alcançou seu recorde de produção de grãos e ça alimentar e da saúde, no intuito de reduzir
forneceu alimentos para o Brasil e para mais os impactos ambientais e contribuir para a miti-
de 150 países em todos os continentes. A pro- gação das desigualdades sociais e econômicas.
dução de origem animal e vegetal no meio
rural ultrapassa 400 produtos provenientes Considerando essas constantes transforma-
da agricultura em suas diferentes escalas ções e suas implicações em CT&I para a agri-
e tamanho de unidades produtivas. Como cultura, a Embrapa tem aprofundado suas
principais benefícios dessa condição agríco- ações em inteligência estratégica antecipa-
la, podem-se destacar a geração de empre- tiva. Desde 2012, estabeleceu o Sistema de
gos e de renda e os preços mais acessíveis Inteligência Estratégica, o Agropensa3, estru-
dos alimentos aos consumidores brasileiros. turado em dois pilares:
11
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
12
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
13
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
14
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Trajetória da
Agricultura Brasileira
Evolução recente produção de insumos, processamento e distri-
buição, apresentassem importância cada vez
Nas décadas de 1960 e 1970, o Brasil vivia maior no Produto Interno Bruto (PIB).
processos de industrialização e urbanização
e de forte crescimento econômico, que, con- Em 2016, o agronegócio como um todo re-
tudo, não encontravam correspondência no presentou 23,6% do PIB, (enquanto a pro-
setor agrícola do País, caracterizado então dução agrícola per se respondeu por apenas
por baixa produtividade. Parte considerá- 5% desse montante) e foi responsável por
vel do abastecimento interno de alimentos 45,9% do valor das exportações, gerando
provinha das importações. Por falta de tec- um saldo comercial de US$ 71 bilhões (Pro-
nologia adaptada à produção tropical, os jeções..., 2017). No mesmo ano, esse setor
cerrados eram áreas marginais na produção foi responsável por 19 milhões de pessoas
agrícola. A migração rural-urbana se intensi- ocupadas, o que representou quase metade
ficava de maneira impressionante, fruto da (9,09 milhões) dos trabalhadores no segmen-
imensa pobreza rural nacional. to primário. A agroindústria e serviços em-
pregaram, respectivamente, 4,12 milhões e
Com o intuito de garantir segurança alimen- 5,67 milhões de pessoas, enquanto 227,9 mil
tar à população (crescentemente urbana) e pessoas estavam ocupadas no segmento de
reduzir os preços dos alimentos, o governo insumos do agronegócio (Barros, 2017).
instituiu políticas para aumentar a produção
e a produtividade agrícola, incluindo inves- Como resultados dos esforços empreen-
timentos públicos em pesquisa e desenvol- didos pelo governo, pelas instituições de
vimento (P&D), extensão rural e crédito rural ciência e tecnologia (C&T), pelos agentes pú-
subsidiado (Chaddad, 2016). Além disso, os blicos e privados do setor e especialmente
produtores rurais, com determinação para pelos produtores rurais, acentuados ganhos
assumir riscos e empreender, tiveram papel de produtividade no setor agrícola puderam
preponderante para que o setor agrícola ser observados, principalmente a partir da
brasileiro experimentasse rápido desenvol- década de 1990.
vimento, tendo sido também importantes as
Em termos agregados, enquanto a produção
diversas formas de organização dos produto-
aumentou 4,5 vezes, a utilização de insumos
res e das cadeias produtivas.
avançou pouco mais de 15%, o que pode
De fato, a organização e o intenso processo de ser explicado pela evolução da produtivida-
modernização das cadeias produtivas do agro- de total dos fatores (PTF), que cresceu qua-
negócio fizeram com que os elos anteriores e se quatro vezes entre 1975 e 2015 (Figura 1)
posteriores às atividades agrícolas, como os de (Gasques et al., 2017).
15
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
500
Índice PTF
450
400 Índice produto
350 Índice insumo
300
Índice
250
200
150
100
50
0
1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003 2007 2011 2015
Ano
Figura500
1. Índice da produtividade total dos fatores (PTF), do produto e do insumo, de 1975 a 2015.
Fonte: 450
Gasques
600 et al. (2017).
400
Qualquer
500 que seja o fator de produção avaliado
350 entre 1975 e 2015, a tecnologia é responsável
(mão 300
de obra, terra ou capital), observa-se for- por 59% do crescimento do valor bruto da pro-
ÍndiceÍndice
400
te incremento
250 em suas produtividades: entre dução, enquanto terra e trabalho explicam 25%
1975 e3002015, a produtividade da mão de obra
200 e 16% (Projeções..., 2017), respectivamente, do
aumentou
150 5,4 vezes; a da terra 4,4; e a do capi- crescimento da produção. Especificamente no
tal teve um crescimento de 3,3 vezes (Figura 2).
100
200 período entre 1995/1996 e 2005/2006, a impor-
50 tância da tecnologia é ainda maior, o que ex-
Analisando
100
0 a contribuição de cada um desses
plica 68% do aumento do valor da produção.
fatores de1975
produção,
1979observa-se
1983 que a tecnolo-
1987 1991 1995 1999 2003 2007 2011 2015
0 em grande parte, essa evolução da Terra e trabalho explicam respectivamente 9%
gia explica, Ano
1975 1979 1983 1987 1991 e 23% (Alves
1995 1999 et al.,
20032012).2007 2011 2015
produtividade. Quando se considera o período
Ano
600
Prod. mão de obra
500
Prod. terra
400
Prod. capital
Índice
300
200
100
0
1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003 2007 2011 2015
Ano
Figura 2. Índices da produtividade dos fatores de produção (mão de obra, terra e capital) na agricultura brasileira, de 1975 a 2015.
Fonte: Gasques et al. (2017).
16
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
A partir da década de 1990, as políticas macroe- pelo superavit da balança comercial brasileira.
conômicas de estabilização (controle da inflação Entre 1990 e 2017, o saldo da balança agrícola
e câmbio mais realista) e as maiores demandas do País aumentou quase dez vezes, alcançando,
interna e internacional devem ser consideradas nesse último ano, US$ 81,7 bilhões, valores que
também para explicar o crescimento do setor têm contribuído para o equilíbrio das contas ex-
agrícola, que passou a ser o principal responsável ternas do País (Figura 3).
100
Exportações
Exportação
90
Importações
Importação
80
Saldo
Saldo
Valor (bilhões de dólares)
70
60
50
40
30
20
10
0
1
1989 1993 1997 2001 2005 2009 2013 2017*
Ano
Figura 3. Importações, exportações e saldo da balança comercial do agronegócio brasileiro, de 1989 a 2017.
Nota: 1 estimativa.
Fonte: Agrostat (2017).
250
À medida que esse processo
Área foi se consoli- (Figura 4), enquanto a área plantada aumen-
dando, o Brasil foi se transformando num tou apenas 60%. Entretanto, o maior impulso
Produção (milhões de toneladas)
200 Produção
grande player no negócio agrícola global. se deu a partir de 1990, em grande parte de-
Área (milhões de hectares)
Entre 1977 e 2017, a produção de grãos6, vido ao crescimento das exportações, que se
que era150de 47 milhões de toneladas, cresceu tornaram a força motriz do crescimento re-
mais de cinco vezes, atingindo 237 milhões cente da agricultura brasileira. O País é atual-
mente o principal exportador de suco de la-
6 100 considerados referem-se a 15 produtos
Os grãos ranja, açúcar, café e carnes bovina, suína e de
pesquisados mensalmente pela Conab. São eles: algo- aves, e o 2º maior de soja e milho (Estados
dão – caroço, amendoim, arroz, aveia, canola, centeio,
cevada, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, Unidos, 2017b).
50
trigo e triticale.
0
1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 2011 2014 2017*
17
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Produção
Figura 5. Rendimento médio (t/ha) dos grãos de 1977 a 2017. Nota: 1estimativa.
Fonte: Conab (2018).
18
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Vege
sà em taçã
ada tação
estina vege is de co unidao nat
d d ra nse de iva
as ção veis ru r
13, vaçã s
a ó
s re
im ,5% 1% o
pre Á
no erv
20
s
Vegeem terras
índige
tação nativa
Pastagens
13,8%
nativas
8,0%
nas
%
sta tadas
,2
s
gen
13
não em taç
18
P an
,9
ca t
Veg
pl
%
a
a
9,0% e str
e
s ão rras adas
ada na
plant stas tiva
flore ras e
u
Lavo
Cidades, infraestruturas
e outros (3,5%)
Figura6.Ocupação e uso das terras no Brasil em 2017. Nota: dados calculados e estimados pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica
(GITE) / Embrapa, em maio de 2017, à partir do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), da
EMBRAPA, do IBGE, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Departamento Nacional de Infraes-
trutura de Transportes (Dnit), da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Mpog).
Fonte: Miranda (2017).
19
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
lhora nas taxas de desfrute do rebanho (Me- A avicultura, que, até 1950, era uma atividade
nezes et al., 2016), que evoluiu de 15% para voltada para subsistência, tornou-se rapida-
25% no mesmo período. De fato, entre 1950 e mente comercial. Entre 1950 e 1970, o setor
2006, a produtividade animal explicou cerca foi caracterizado pela entrada de empresas
de 80% do aumento da produção pecuária. processadoras no mercado e, já naquela
A maior parte (65%) desse aumento da pro- época, pela adoção do sistema de integração
dutividade pode ser explicada pelo ganho de vertical, com técnicas de produção intensiva
peso por animal (kg de equivalente carcaça e o desenvolvimento de genética adaptada.
(EC) por cabeça), e o restante (35%) pela taxa Entre 1970 e 1990, iniciou-se o processo de
de lotação (cabeças por hectare) (Martha Jú- concentração do capital, acompanhado por
nior et al., 2012). um pacote de inovações tecnológicas, por
novas linhagens de matrizes e modernos
equipamentos nos setores de criação, aba-
te e processamento. A partir de 1990, com a
abertura da economia latino-americana, o
setor foi exposto à concorrência mundial, o
que obrigou as agroindústrias a redefinirem
O Brasil figura atualmente suas estratégias empresariais e reorganiza-
como um dos principais rem a base agroindustrial da cadeia produti-
va do frango (Rodrigues et al., 2014).
players mundiais na
A modernização da produção7 levou a um au-
produção e no mento expressivo da oferta de carne de fran-
comércio de carnes go (Figura 7), que passou de 217 mil toneladas
em 1970 para 12,9 milhões de toneladas em
2016 (Espíndola, 1999), consolidando o Brasil
como o maior exportador mundial dessa pro-
teína (Associação Brasileira de Proteína Ani-
mal, 2017b). O rebanho de aves aumentou
expressivamente em todas as regiões brasi-
No setor de carne bovina, é o 2º maior produ-
leiras, com destaque para o Sul, responsável
tor, atrás apenas dos Estados Unidos, e o prin-
por 76% das exportações de carne de frango.
cipal exportador, com previsão de exportações
Cabe destacar que, a partir dos anos de 1990,
de 1,9 milhão de toneladas de equivalente car-
o Centro-Oeste foi a região que mais recebeu
caça em 2017 (Estados Unidos, 2017b).
investimentos do segmento avícola, devido
Os setores de avicultura e suinocultura são ca- à procura por regiões com maior produção
racterizados pelo dinamismo da cadeia e pelo
uso intensivo de tecnologias. Além de eviden-
7
Em 1970, os frangos brasileiros precisavam de 49 dias
ciarem a pujança do agronegócio brasileiro, para atingir 1,7 kg. Atualmente atingem peso médio de
sinalizam para um conjunto de mudanças so- 2,60 kg em cerca de 35 dias. Houve também significati-
ciais, econômicas, político-institucionais e tec- va melhora no índice de conversão alimentar, em de-
corrência de avanços genéticos, melhorias de manejo e
nológico-produtivas que poderão ocorrer em bem-estar animal e nutrição. Em meados de 1970, eram
outras regiões rurais onde a dinâmica agrícola necessários 2,15 kg de alimento para produzir 1 kg de
peso corporal, e dados de 2009 indicam que esse nú-
se instalar (Navarro; Campos, 2013). mero diminuiu para 1,84 kg (Patricio et al., 2012).
20
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
de grãos8 (Belusso, 2010). Entre 2000 e 2010, conversão alimentar acima de 3,509 (Lopes,
a participação dessa região na produção na- 2005). Por sua vez, em 2017, passam a atingir
cional de carne de frango passou de 8,4% o peso de abate com 150 dias de idade e con-
para 14%, enquanto a região Sul apresentou versão alimentar abaixo de 2,210. Nesse mes-
redução de 64,4% para 59,5% e a região Su- mo período, o tamanho da leitegada passou
deste passou de 24,9% para 22,4% (Costa et de cerca de 10 leitões nascidos por parto, em
al., 2015). Em 2016, a região Centro-Oeste já 1970, para 12,5 (Associação Brasileira de Pro-
respondia por 15,16% do abate de frangos no teína Animal, 2017b). Também se registrou
Brasil (Associação Brasileira de Proteína Ani- um grande aumento na produção de carne
mal, 2017c). suína (Figura 7), que passou de 705 mil to-
neladas, em 1970, para 3,7 milhões de tone-
Por sua vez, no que se refere à intensifica- ladas em 2017, consolidando o Brasil como
ção produtiva, a suinocultura passou por o quarto maior produtor e exportador mun-
um processo semelhante, apesar de isso dial de carne suína (Associação Brasileira de
ter ocorrido um pouco mais tarde. Com a Proteína Animal, 2017b). Em 2016, as regiões
entrada de animais híbridos na década de Sul, Sudeste e Centro-Oeste respondiam por
1970, o melhoramento genético de suínos 69,3%, 16,27% e 14,3%, respectivamente, do
teve um grande salto. A partir de então, abate de suínos no Brasil, e as exportações
o setor passou por profundas alterações do setor totalizaram 732,9 mil toneladas, ge-
tecnológicas, visando ao aumento de pro- rando uma receita de US$ 1,483 bilhão (Asso-
dutividade e à redução dos custos de pro- ciação Brasileira de Proteína Animal, 2017c).
dução. Pressionados pelas exigências do
consumidor por uma carne com menos Em suma, o setor de carnes brasileiro apre-
gordura, técnicos e criadores passaram a sentou expressivo aumento da produção
desenvolver, por meio de programas de entre 1975 e 2017, com destaque para a pro-
genética e nutrição, um suíno com massas dução de frango, que cresceu mais de 26 ve-
musculares proeminentes – especialmente zes no período. Em 2017, a produção total de
em carnes nobres como o lombo e o per- carnes (bovina, de frango e suína) somou 25
nil – e com menores teores de gorduras na milhões de toneladas, ante 3,4 milhões de to-
carcaça. Atualmente o suíno apresenta de neladas em 1975, o que representa um cres-
55% a 60% de carne magra e de 1,0 cm a cimento de 642% (Figura 7).
1,5 cm de espessura de toucinho (Associa-
ção Brasileira de Proteína Animal, 2017a).
Essa evolução foi também evidente nas
áreas de sanidade, manejo e instalações.
9
Isso equivale a dizer que, para cada kg de ganho de
Na década de 1970, os suínos alcançavam peso do suíno, foram necessários 3,50 kg de ração.
10
Usualmente, existem dois mercados diferentes:
peso de abate somente após 200 dias e i) aquele para abastecimento do mercado interno
(açougues, supermercados, voltados a venda de carne
fresca), com animais mais leves (peso de 95 a 105 kg,
conversão de 2,2, 150 dias) e ii) indústria processadora,
8
O deslocamento da atividade das regiões Sul e Sudes- em que a maior parte da produção é de produtos in-
te para o Centro-Oeste é consequência de duas verten- dustrializados (animal com 125 kg para aumentar ren-
tes: a) o deslocamento da produção de milho e soja; dimento industrial, conversão média de 2.4, alcança-
e b) as implicações, principalmente ambientais, da dos em 165-170 dias) (Informação pessoal, Nilo Chaves
concentração da produção em regiões com crescente de Sá, diretor-executivo da Associação Brasileira dos
e intensa urbanização (Contini et al., 2013). Criadores de Suínos- ABCS).
21
0
1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 2011 2014 2017*
Ano
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
16
Bovina
14
Frango
Produção (milhões de toneladas)
12 Suína
10
0
1
1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 2011 2014 2017*
Ano
Figura 7. Produção anual de carnes bovina, suína e de frango (em milhões de toneladas) no Brasil, de 1975 a 2017.
Nota: 1estimativa; 2os dados anteriores a 1996 também foram obtidos na Conab, embora não constem na base de
dados atual.
Fonte: Conab (2017).
Entre as proteínas animais, o setor de pesca e hidrográfica do planeta (Bacia do Amazo-
aquicultura é considerado emergente, em ra- nas), grandes lagos de hidrelétricas e açudes
zão da crescente demanda de consumo na- de reservação de água distribuídos em todas
cional e internacional. No Brasil, entre 2005 as regiões, as cadeias produtivas possuem
e 2015, o setor cresceu 123%, passando de grande potencial para elevar o protagonismo
257 mil para 574 mil toneladas, registrando a nacional na produção de peixes e crustáceos.
14ª maior produção aquícola do mundo. Até
2025 o setor deverá registrar um crescimento Em relação à silvicultura, entre 1990 e 2014
de 104%. (El estado..., 2016). Os sistemas se houve expansão de 52% na área de florestas
intensificaram tecnologicamente com rápida plantadas (em sua grande maioria eucaliptos
profissionalização e organização dos produ- e pinus), que passou de 5 milhões de hecta-
tores. Atualmente, grande parte da produção res para 7,6 milhões de hectares naquele úl-
brasileira está concentrada nas águas con- timo ano (FAO, 2017). Em 1990, foram produ-
tinentais, com peixes de água doce (84%), a zidas 1.838 mil toneladas de carvão vegetal,
marinha está mais restrita a alguns estados 22.738 mil metros cúbicos de lenha, 47.024
do Nordeste e do Sul, com a aquicultura mil metros cúbicos de madeira em tora e
(16%), a carcinicultura (12%) e as ostras, as 241 mil toneladas de outros produtos. Entre
vieiras e os mexilhões (4%). Embora existam 1990 e 2014, houve expansão na produção
mais de 30 espécies produzidas, a tilápia e o de carvão vegetal (238%) e lenha (147%),
tambaqui são as mais comercializadas, re- e 163% quando se considera madeira em
presentando 38% e 24% da produção (IBGE, tora. Apenas a categoria de outros produtos
2015). Considerando que o Brasil possui um da silvicultura apresentou retração de 70%
litoral de cerca de 7.300 km, a maior bacia (IBGE, 2017). Esses números demonstram o
22
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
expressivo avanço no rendimento médio dos crescer em decorrência do surgimento dos carros
produtos da silvicultura, com expansão da flex, o que acabou refletindo no crescimento da
produção bastante acima da área plantada demanda e produção. Em 2000, a produção de
com florestas. etanol (anidro mais hidratado) foi de 9,7 bilhões
de litros, atingindo 28,8 bilhões em 2015 (Anuá-
Em 2016, as plantações de eucalipto foram rio..., 2016).
responsáveis por 98,9% da produção de car-
vão vegetal, 85,8% de lenha, 80,2% de madei- A disponibilidade de
ra em tora para produção de celulose e 54,6%
da madeira em tora para outros usos no Bra-
recursos naturais, as
sil. No mesmo ano, as plantações de pinus políticas públicas, as
se destacaram por responder por 18,8% da competências técnico-
madeira em tora para produção de celulose, científicas, a geração
41,9% da madeira em tora para outros usos e
5,6% da lenha comercializada no Brasil.
de tecnologias e o
empreendedorismo
Por um lado, esses dados destacam a pre-
ponderância da silvicultura de eucalipto e
dos agricultores foram
pinus no setor florestal brasileiro. Por outro, fundamentais para o
revelam que, apesar de o Brasil manter 66% desenvolvimento
do seu território com vegetação nativa, essas
áreas têm participação marginal na econo-
agrícola do país
mia florestal brasileira. A função primordial Além dos impactos na renda dos produto-
das áreas de vegetação nativa é a provisão de res rurais, as fortes expansões da produção
produtos madeireiros e não madeireiros para agrícola e da produtividade dos fatores ge-
uso e geração de renda para os produtores raram impactos positivos em termos sociais
rurais, comunidades indígenas, extrativistas (mais emprego e renda) e ambientais, visto
e quilombolas, além da provisão de serviços que houve redução da necessidade relativa
ecossistêmicos vitais para a agricultura brasi- no uso de fatores tradicionais de produção,
leira e para o clima global. principalmente terra e insumos. De fato, em
menos de 40 anos, o Brasil passou de impor-
Outro tema de crescente importância na agricul- tador de alimentos para um dos importantes
tura brasileira é o de agroenergia. Embora a pro- celeiros do mundo, tendo sido também o pri-
dução de etanol tenha tido origem ainda na déca- meiro gigante tropical de alimentos (Gomes
da de 1920, culminando, em 1933, com a criação et al., 2016). Do lado da oferta, os fatores re-
do Instituto do Açúcar e do Álcool, foi apenas no cém-mencionados relacionados à tecnologia
final de 1975, com a criação do programa Pró-Ál- e inovação, capacidade de empreender por
cool, que a agroenergia de fato se consolidou no parte dos produtores rurais, aspectos climá-
País (Távora, 2011). Inicialmente eram produzidos ticos, além de investimentos em infraestrutu-
carros movidos completamente a etanol (chegou ra, foram os mais importantes. Destaca-se o
a atingir 11,4% do mercado em 1990). Em 1993, papel da tecnologia como vetor transforma-
foi aprovada a primeira lei de mistura do etanol dor e responsável pelo sucesso da agricultu-
anidro à gasolina e, desde então, esse percentual ra brasileira. O crescimento da produção foi
passou por algumas alterações (atualmente é importante para o abastecimento do merca-
de 27%). Em 2003, o mercado de etanol voltou a do interno e crescimento das exportações, o
23
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
que contribuiu para a acumulação de reser- mente são fatores fundamentais (Schinaider,
vas e administração da dívida externa. Nesse 2017), sendo importante ainda que os pro-
contexto, é reconhecido o esforço da Embra- dutores disponham de forma crescente dos
pa, dos institutos de pesquisa e das universi- meios para adotar novas tecnologias, bem
dades (Lopes, 2013a). como processos inovadores de produção e
de gerenciamento de suas propriedades.
Embora a agricultura brasileira tenha avan-
çado substancialmente nos últimos anos,
ainda é possível observar grande desigual- Aspectos da
dade de produtividade e de renda no campo, demanda12
o que tem sido atribuído, principalmente, ao
fato de a grande parte dos pequenos pro- Pelo lado da demanda, os principais fatores
dutores não ter sido capaz de adotar novas de influência sobre a produção agrícola são
tecnologias. Essa “não adoção”, por sua vez, crescimento da população, da renda e o com-
é consequência de inúmeros fatores, como portamento dos preços, tanto nacionalmente,
o elevado custo de incorporação das novas quanto em termos internacionais. Esses drivers
tecnologias, as imperfeições de mercado11 e exercerão influência em praticamente todas
a baixa adequação das políticas públicas a tal as megatendências elencadas neste estudo,
fato (Alves et al., 2016b). Assim, grande parte em virtude de seu aspecto transversal. O cres-
das pequenas propriedades, constituídas em cimento da população e o processo de urba-
sua maioria pelos denominados agricultores nização associados ao crescimento da renda
familiares, não acompanharam o desenvol- e ao incentivo à produção e ao consumo dos
vimento tecnológico observado nas grandes biocombustíveis13 fizeram com que a demanda
propriedades rurais nas últimas décadas. por alimentos e produtos agrícolas tivesse au-
mento considerável ao longo da última déca-
Nos próximos anos, para que seja possível da, com exceção do período da crise financeira
promover o desenvolvimento da agricultu- internacional de 2008.
ra nacional de forma mais ampla, será ne-
cessário estimular a profissionalização e o Em 1970, a população mundial era de 3,68 bi-
empreendedorismo do agricultor, especial- lhões de pessoas, chegando a 7,52 bilhões em
mente o familiar. De fato, o comportamento 2017. O século 20, especialmente em sua se-
empreendedor se destaca como uma das gunda metade, foi o período de expansão po-
principais características que fizeram com pulacional mais acelerado. Especificamente
que os produtores fossem capazes de perce- no Brasil, houve um incremento de 120% da
ber as oportunidades e promover o desen- 12
Os aspectos da demanda consolidam drivers de
volvimento da agricultura. Nesse contexto, a mudança das megatendências abordadas neste docu-
capacidade de inovar e empreender criativa- mento. Em razão de seu aspecto transversal, com im-
pactos importantes em praticamente todas as mega-
tendências, optou-se por considerar esses elementos
11
Muitas das imperfeições de mercado que se ligam ao nesta seção.
volume de compra de insumos e de venda de produ- 13
Embora a década de 2000 tenha sido marcada pelo
tos que favorecem a grande compra ou venda, sem ser incentivo globalizado à produção e ao consumo de bio-
consequência necessariamente do poder de mercado. combustíveis, a partir de 2016 alguns países e regiões
Outras imperfeições não são influenciadas pela dimen- sinalizaram que parte desses incentivos poderá ser eli-
são das vendas nem das compras, como o nível de es- minada. O Parlamento Europeu, por exemplo, recém
colaridade, a moradia em regiões de acesso dispendio- aprovou plano para restringir o uso de óleo de palma
so às políticas públicas, as peculiaridades do cadastro para produção de biodiesel na Europa, a partir de 2021
bancário, etc. (Alves; Souza, 2015a). (Reuters, 2018).
24
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
população, que passou de 95 milhões de ha- mais em cada continente). A Europa observa-
bitantes em 1970 para quase 210 milhões em rá redução, ainda que lenta, de sua popula-
2017. A expectativa é que a população mun- ção, e a região da América Latina e do Caribe
dial atinja 8,5 bilhões de pessoas em 2030, atingirá 720 milhões de pessoas, 87 milhões
16% a mais que em 2016. A maior parte desse a mais que no período atual, segundo esti-
crescimento se dará nos continentes asiático mativas da Organização das Nações Unidas
e africano (cerca de 500 milhões de pessoas a (ONU) (Figura 8) (World..., 2015).
Mundo
7.349 | 8.501
Oceania
39 | 47
População África
Milhões de Pessoas
1.186 | 1.679
2015
América Latina
2030
estimativa
e Caribe
634 | 721
25
0
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Mundo África Ásia Europa América Latina e América do Oceania
Caribe Norte
0
1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006 2009 2012 2015 2017
Ano
Figura 9. População mundial rural e urbana, de 1970 a 2017.
Fonte: World Bank (2017).
É essencial destacar que o crescimento popu- Ademais, impactos na demanda são espe-
lacional é altamente dependente do cenário rados em razão da expectativa de que 200
das taxas de fertilidade futura, uma vez que milhões de pessoas se tornem refugiadas em
pequenas mudanças na frequência de natali- decorrência de conflitos regionais e poten-
dade, quando projetadas sobre várias décadas, cial mudança do clima. Embora esse proces-
podem gerar grandes diferenças na população so não acarrete modificações diretamente na
total. O crescimento populacional futuro será população total, o impacto se dará na medi-
influenciado não apenas pelas taxas de fertili- da em que há deslocamento de trabalhado-
dade e mortalidade, mas também pela distri- res, elevação do número de pessoas sem re-
buição da população mundial nas diferentes ceber renda e, portanto, vivendo em situação
faixas etárias. Uma distribuição populacional de insegurança alimentar no globo.
mais jovem resultará em maior taxa de cresci-
Além do crescimento da população, o cres-
mento da população e uma mais velha, resul-
cimento da renda também exerce influência
tará em menor taxa de crescimento ou até mes-
sobre a demanda. No período entre 1990 e
mo em redução da população15.
2016, pôde ser observado um aumento do
PIB per capita em paridade de poder de com-
15
Como ilustração, se a taxa de fertilidade futura para
cada país permanecer, de forma consistente, 0,5 crian-
pra (PPP) em grande parte das regiões do
ça acima dos níveis assumidos para a variante média, mundo, com exceção do período da crise de
a população global alcançaria 10,8 bilhões em 2050 e 2008/2009. A partir do início dos anos 2000, a
16,5 bilhões em 2100. Por sua vez, se a taxa de fertilida-
de permanecer, de forma consistente, 0,5 criança abai- expansão da renda ocorreu mais fortemente
xo dos níveis assumidos, a população global alcança- nos países da Europa, da Ásia Central e do
ria 8,8 bilhões em 2050 e reduziria para 7,3 bilhões em
2100 (United Nations, 2017).
Leste Asiático e Pacífico.
26
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
No início dos anos 2000, a renda per capi- Ainda que as últimas projeções indiquem um cres-
ta média mundial era de aproximadamente cimento mais lento da renda nos países em desen-
US$ 10.000,00 e, no Brasil, de US$ 11.500,00. En- volvimento, bem como do comércio agrícola global,
tretanto, no biênio 2015-2016, o País apresen- do que aquele que foi observado na década de 2000,
tou queda acumulada de 7,2% no PIB (Saraiva; essas regiões – onde os rendimentos individuais são
Sales, 2017), com retomada lenta da economia baixos – serão as principais impulsionadoras da de-
em 2017 e possibilidade de impactos de longo manda até 2050. Projeções indicam ainda forte ex-
prazo, no que se refere ao consumo e aos inves- pansão da classe média na população total (Figura
timentos. Justamente por isso, um dos grandes 10), sendo a maior parte nos países da Ásia. Em 2030,
desafios para os países da América Latina ao serão 5,1 bilhões de pessoas no estrato de renda mé-
longo dos próximos 10 anos será o baixo cres- dia, o que corresponde a 60% da população (Kharas,
cimento (Estados Unidos, 2017b). 2017).
9 100%
Classe média mundial
8 População mundial 90%
Percentual
Participação da classe média
7 mundial no total da população 80%
Percentual
6 70%
Pessoas (bilhões)
60%
dada
5
população
50%
populaçãototal
4
40%
3
30%
total
2
20%
1 10%
0 0%
1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030
Figura 10. População mundial, classe média mundial e participação da classe média mundial no total da população,
de 1970 a 2030.
Fonte: Adaptado de Kharas (2017).
Quando se analisa o percentual da classe metade do século 20. Na virada dos anos 1990
média16 no total da população mundial, ob- para os anos 2000, houve uma aceleração do
serva-se que, em 1970, essa participação era contingente e, em 2010, mais de um terço da
de apenas 15% (Figura 10), parcela que foi se população global se encontrava nesse estrato
expandindo lentamente ao longo da segunda de renda, ultrapassando 40% nos anos recen-
tes (em 2016, havia cerca de 3,2 bilhões de pes-
16
A classe média compreende as famílias com renda
soas nessa condição) (Kharas, 2017).
per capita entre US$ 10 e US$ 100 por pessoa por dia,
em termos de paridade de poder de compra (PPP) de
2005, o que implica uma renda anual para um agrega-
do familiar de quatro pessoas entre US$ 14.600 e US$
146.000 (Kharas, 2017).
27
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
O aumento da renda implica mudanças nos per capita anual de carnes no Brasil entre
padrões de consumo, o que resulta na expan- 1970 e 2013, observa-se que o de bovina au-
são da demanda por carne, frutas e vegetais, mentou mais de 120%, o de suína pratica-
na redução do consumo de alimentos bási- mente 60% e o de frango 1.040% (Figura 11).
cos, na diversificação da cesta de consumo Consideradas as três carnes em conjunto, o
(Silva; Paula, 2017), bem como no aumento consumo per capita anual atingiu 97 kg, uma
da demanda por produtos mais elabora- expansão de 228%.
dos. Analisando-se a evolução do consumo
50 120
Bovina
45
40
Frango
35 Total 80
30
25 60
20
40
15
10
20
5
0 0
1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006 2009 2012 2013
Ano
Figura 11. Consumo per capita anual de carnes bovina, suína e de frango no Brasil, de 1970 a 2013.
Fonte: FAO (2017).
Considerando o consumo per capita anual pode ser explicado em razão de mudanças
de grãos17 no Brasil (Figura 12), o consumo nos padrões de consumo alimentar em de-
de trigo foi o que mais aumentou no período corrência do aumento do poder aquisitivo
analisado, passando de 34 kg/hab./ano em (para o arroz e feijão, a elasticidade-renda é
1970 para 51 kg/hab./ano em 2016. Isso se negativa – aumentos da renda geram redu-
deve principalmente ao aumento do consu- ção na quantidade demandada18) e do cres-
mo de produtos mais elaborados, como pães cimento da alimentação fora do lar.
e bolos. Por outro lado, houve retração no
consumo per capita de arroz e feijão, o que 18
A elasticidade média (considerando diferentes estra-
tos de renda) do arroz e feijão é levemente negativa.
Considerando o uso para alimentação humana, se-
17
Já para as carnes a elasticidade-renda é positiva (Hof-
mentes e indústria de feijão, milho, arroz e trigo. fman, 2007).
28
Con
0 0
1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006 2009 2012
Ano
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
60
50
40
30
20
10
0
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2016
Ano
Figura 12. Evolução do consumo interno per capita de grãos anual, de 1970 a 2016.
180
Notas: os dados referem-se ao consumo para alimentação humana, sementes e uso industrial; a fonte de dados de consumo
de feijão
160é a FAO e estão disponíveis apenas até o ano de 2013.
Fonte: Estados Unidos (2017b) e FAO (2017).
140
Embora
120 a maior parte da produção agríco- de de alimentos (quantidade e diversidade),
la brasileira seja direcionada para o merca- observou-se redução significativa dos preços
100
Índice
do interno, as exportações têm sido a força dos alimentos. Após uma forte expansão en-
motriz80do crescimento da produção agrícola tre as décadas de 1960 e 1970, os preços dos
nacional, sobretudo pelo aumento da de- alimentos atingiram os menores valores na
60
manda por grãos e carnes. Em 1989, o valor década de 2000, quando passaram a apre-
exportado
40 foi de US$ 13,9 bilhões, enquanto sentar leve tendência de alta19 (Figura 13).
em 2013 as exportações alcançaram um re-
20
corde de quase US$ 100 bilhões. Após bre-
0
ve retração em 2015 e 2016, as exportações
1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989 1993 1997 2001 2005 2009 2013 2017
do agronegócio voltaram a ganhar ímpeto AnoVários fatores contribuíram para os aumentos de
19
em 2017, estando estimadas em US$ 96,3 preços na década de 2000, entre os quais se destacam:
utilização de matérias-primas para a produção de bio-
bilhões. Destaca-se ainda a importância do combustíveis, taxa de juros do mercado norte-america-
crescimento econômico da China, que im- no (além do efeito sobre estoques, justifica a procura
pulsionou as exportações brasileiras de soja por mercados futuros de commodities) e financiamen-
to do mercado de commodities. A partir deste último,
(entre 1997 e 2012, as exportações de soja agentes especuladores passaram a utilizar, de forma
em grão do Brasil para a China aumentaram intensa, os derivativos sobre commodities como ativo
em seus portfólios (Silveira et al., 2011). Embora haja
80 vezes) (Torres et al., 2014). controvérsias em relação a seus efeitos, a migração de
capitais dos mercados financeiros para as commodi-
Para o consumidor brasileiro, além dos be- ties tem provocado mudanças no padrão e na estabili-
nefícios relacionados à maior disponibilida- dade de preços desses produtos (Silva; Campos, 2012).
29
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
180
140
120
100
Índice preço
80
60
40
20
0
1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989 1993 1997 2001 2005 2009 2013 2017
Ano
Figura 13. Índice dos preços reais da cesta básica na cidade de São Paulo, de 1965 a 2017 (1965 = 100).
Fonte: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (2017).
30
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
31
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
da por carne bovina deverá crescer a uma cia de o mandato do etanol nesse país estar
taxa similar à do aumento populacional. O estagnado. Como a demanda por combustí-
forte crescimento no consumo de frango na veis de transporte será sustentada no Brasil,
década de 2000 ocorreu devido ao aumen- a demanda por cana-de-açúcar permane-
to nos países da Organisation for Economic cerá relativamente robusta. Deverá ocorrer
Co-operation and Development (OECD), jun- retração do consumo de biomassa para bio-
tamente com Brasil e Rússia. Para o período combustíveis mundialmente, e a maior parte
entre 2016/2017 e 2026/2027, a expectativa é dessa retração estará concentrada no milho
de crescimento, contudo essa taxa deverá ser norte-americano (OECD-FAO..., 2017).
aproximadamente metade daquela observa-
da nos anos 2000. Quanto ao etanol, setor Em relação às exportações brasileiras, as pro-
também relevante para o Brasil, está previs- jeções do Mapa mostram que o País apre-
ta uma desaceleração do crescimento, e os sentará um incremento significativo para a
Estados Unidos são responsáveis por parcela maioria dos produtos até 2026/2027 (Tabela 1)
importante dessa redução como consequên- (Projeções..., 2017).
Outros fatores relevantes a serem considera- mission, 2016; OECD-FAO..., 2016; Estados
dos quando se analisa a demanda por produ- Unidos, 2017b). Se, por um lado, o dólar mais
tos agrícolas no comércio mundial são a taxa alto favorece as exportações brasileiras de
de câmbio e o preço do petróleo. Projeções commodities, por outro pressiona os custos
realizadas por várias organizações indicam a de produção, que poderão ser parcialmente
apreciação do dólar e preços baixos para o compensados pela redução do preço do pe-
petróleo na próxima década (European Com- tróleo.
32
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Uma razão adicional para a desaceleração gração que inclui Chile, Peru, Colômbia e Mé-
da taxa de crescimento do comércio exterior xico); Aliança do Pacífico e Mercado Comum
pode ser a adoção de políticas mais prote- do Sul (Mercosul); e entre México e o restante
cionistas em alguns dos principais países da América Latina (The Economist, 2017).
importadores. Ainda que a proteção comer-
Apesar da importância dos EUA e da China, a
cial agrícola venha sendo reduzida na maio-
União Europeia ainda é o principal parceiro
ria dos países da OCDE, várias economias
comercial do Mercosul e fonte de investimen-
emergentes (incluindo a China, a Índia e a
tos. Para a UE, o Mercosul também é um im-
Indonésia) estão perseguindo objetivos de
portante mercado (representa praticamente
autossuficiência e proteção de importação
metade do PIB da América Latina). Entretan-
(OCDE-FAO, 2016). A expectativa é que haja
to, o acordo de livre comércio Mercosul-UE,
a redução do estabelecimento de acordos
retomado em 2010, está sendo negociado
multilaterais em favorecimento aos acordos
de forma lenta, devido, principalmente, a
bilaterais.
obstáculos relacionados ao tratamento dos
Medidas de abandono de acordos comerciais produtos agrícolas (aspectos sanitários de
já existentes, como a saída dos Estados Uni- produtos de origem animal, o fato de a UE
dos do Acordo Transpacífico (Trans Pacific pleitear o livre comércio de 90% do volume
Partnership – TPP) e a renegociação de suas comercializado e a manutenção de sistema
relações comerciais com o México e também de quotas para as importações de alimentos
com a China, têm o potencial de prejudicar a oriundos da América Latina). Por parte do
confiança dos consumidores e dos empreen- Mercosul, existe ainda preocupação quanto
dimentos e, portanto, prejudicar o comércio às compras públicas (a UE pleiteia livre aces-
internacional e o investimento (World Trade so das suas empresas às licitações públicas
Organization – WTO, 2017) (The Economist, dos países do Mercosul) e também quanto a
2017). Na Europa, a saída oficial20 do Reino resolução de controvérsias dos investimen-
Unido da União Europeia aumenta a incerte- tos (The Economist, 2017).
za sobre o formato futuro das suas relações
comerciais. Uma vez que a participação na A expectativa é que China, Índia e o restante
União Europeia permite que os países com- dos países do Sul da Ásia ainda serão os prin-
prem e vendam produtos e serviços entre si cipais importadores de produtos do agrone-
sem a aplicação de taxas e impostos dentro gócio até 2030, de todo o globo bem como
da área comum, o Reino Unido passará a ter do Brasil. Contudo, as constantes revisões
taxas diferentes no comércio exterior com os das políticas da China vêm criando incerte-
países europeus, podendo até mesmo trocar zas21 em relação ao comércio com aquele
país. No período 2015-2016, o governo chinês
de parceiros (European Commission, 2016).
adotou estratégias para ganho de escala nas
A América Latina vem retomando o aprofun- operações agrícolas e medidas para contro-
damento das relações de livre comércio e in- le dos impactos ambientais da agricultura, o
tegração regional, podendo-se destacar três que poderá impactar a produção doméstica
frentes: Aliança do Pacífico (projeto de inte- de commodities. Para a carne bovina, as res-
20
Embora o Reino Unido já tenha oficializado a saída
da União Europeia, o afastamento efetivo só ocorrerá 21
Essa discussão baseia-se no box China Policy
após negociações com os demais membros do bloco, Overhaul Creates Uncertainty do Usda Agricultural Pro-
podendo levar até 2 anos para a sua concretização jections to 2026 (Estados Unidos, 2017b, p. 58).
33
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
trições ambientais e os altos preços diminuí- Unidos, 2017b). Ademais, a China está experi-
ram o ritmo de crescimento da demanda por mentando diferentes abordagens para subsi-
esses produtos. No caso de algodão, soja, diar os agricultores, intensificando os esforços
canola e milho, o acúmulo de estoques as- para expandir as operações agrícolas, promo-
sociado à lacuna entre os preços doméstico ver a comercialização de direitos de uso da
e internacional motivou as autoridades chi- terra, ampliar o crédito agrícola, apoiar redes
nesas a permitirem uma queda de até 30% rodoviárias e de irrigação, melhorar os serviços
no preço doméstico. Em 2016, observou-se a de consultoria aos agricultores e a capacidade
substituição da política de apoio ao preço do doméstica de pesquisa e desenvolvimento.
milho com um pagamento aos produtores Contudo, todos esses programas são experi-
em uma estratégia chamada de “separando mentais, e seus impactos, em longo prazo, tam-
o subsídio do preço”. A remoção do preço mí- bém são incertos.
nimo para o milho poderá deslocar área para
outras culturas, como, por exemplo, forragei- Os contextos mundial e nacional ora apre-
ras e trigo. sentados sinalizam positivamente para as
projeções de continuidade do crescimento
No entanto, o impacto dessas políticas na de- da produção agrícola do Brasil. Em 2027, es-
cisão de produção, no uso de commodities e pera-se que o Brasil produza acima de 290
incentivos às importações não está totalmente milhões de toneladas de grãos e mais de 34
claro. A política de preços mínimos permanece milhões de toneladas de carnes bovina, suí-
em vigor para trigo e arroz, ainda que a China na e de frango (Tabela 2) (Projeções..., 2017).
tenha grande excedente desses grãos (Estados
Tabela 2. Área plantada, produção e rendimento médio das principais culturas no Brasil e quantidade produzida de
carne bovina, suína e de frango, em 2017 e 2027 (projeções).
Área plantada Produção Rendimento médio
(em mil ha) (em mil t) (em t/ha)
Produto
Projeção Projeção
2017 2017 2017
2027 2027
Soja 33.856 43.158 113.013 146.533 3,3
Milho 17.244 18.588 92.833 118.772 5,4
Feijão 3.094 1.826 3.328 3.106 1,1(1)
Arroz 1.961 969 11.963 12.589 6,1
Trigo 1.954 2.175 5.219 6.753 2,7(1)
Algodão pluma 940 965 1.489 1.993 1,6
Café 1.951 1.866 3.060 3.780 1,6(1)
Carne bovina - - 9.500 11.444 -
Carne suína - - 3.815 4.905 -
Carne de frango - - 13.440 17.930 -
(1)
Valor estimado pela Secretaria de Inteligência e Relaçoes Estratégicas (SIRE), com base nos dados de área plantada
e produção para 2017.
Fonte: Projeções... (2017).
34
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
MEGATENDÊNCIAS
O tratamento e a análise crítica dos sinais e documentos globais e nacionais que abor-
tendências captados no processo de delinea- dam questões de futuro, com impacto na
mento do “futuro da agricultura brasileira” agricultura (Anexo 2). Grande parte desses
levaram à definição de megatendências que documentos tem foco em cenários, e foram
conformarão as cadeias produtivas agrícolas. considerados, sobretudo, aqueles que abor-
Tendências e sinais do ambiente são forças dam possíveis contribuições de CT&I para
que estão em movimento de maneira interli- o desenvolvimento sustentável e inserção
gada, mas que apresentam maior proximida- competitiva da agricultura brasileira no mer-
de e influência mútua quando analisadas na cado global. Nessa etapa, foram realizados
perspectiva de alguns conjuntos, as mega- também painéis de especialistas por algu-
tendências. Elas são entendidas no presen- mas Unidades da Rede de Observatórios
te documento como conjuntos de forças de da Embrapa, com o intuito de aprofundar a
transformação mais fortemente interligadas identificação de sinais e tendências com im-
que deverão impactar fortemente o futuro. pacto sobre a agricultura brasileira.
Para a geração dos resultados apresentados fo- Foram elencados, ainda, documentos com
ram planejadas e executadas cinco etapas, com informações sobre a trajetória recente da
foco na identificação e na análise de aspectos agricultura e outros aspectos que acarretam
do contexto mundial que impactam direta e fortes impactos a ela, tais como demografia,
indiretamente o setor agrícola (Figura 14): 1) renda e comércio internacional. Nesse con-
identificação de sinais e tendências/drivers em texto, atentou-se para questões como pro-
conteúdos gerados por diferentes atores dos dução, produtividade, tecnologias, políticas
diversos elos das cadeias produtivas agrícolas; públicas, organização territorial e mudan-
2) análises desses sinais e tendências/drivers ças estruturais. Além disso, analisaram-se as
do ambiente elaborados pelos Observatórios, agendas estratégicas das Câmaras Setoriais
Portfólios de Projetos, Laboratórios Virtuais no e Temáticas (CSTs23) do Mapa, considerando
Exterior (Labex)22 e especialistas (ad hocs) da aspectos do setor produtivo brasileiro repre-
Embrapa; 3) definição das megatendências e sentado por essas instâncias. O conjunto de
desafios derivados; 4) consultas sobre mega- dados e informações levantado nessa etapa
tendências e desafios a segmentos da iniciati- subsidiou a elaboração de parte dos tópicos
va privada, do terceiro setor, de organizações iniciais do presente documento e sinalizaram
públicas e de unidades e especialistas da Em- tendências importantes, que não poderiam
brapa; e 5) consolidação da visão da agricultura deixar de ser abordadas durante o processo
brasileira. de construção do documento final.
O Passo 1 (Identificação de Sinais e Tendên- 23
Essas câmaras constituem importantes fóruns de dis-
cias/Drivers) consistiu na identificação de cussão entre os diversos elos das cadeias produtivas,
reunindo centenas de entidades representativas de pro-
dutores, empresários, organizações bancárias e de outros
Disponível em: <https://www.embrapa.br/programa-
22
atores do setor, além de representantes de órgãos públi-
embrapa-labex>. cos e técnicos governamentais (Brasil, 2016).
35
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
36
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
5
Consolidação da visão
da agricultura brasileira
Comitês estratégicos,
diretoria-executiva e
presidência da Embrapa
4
Consultas sobre
megatendências e desafios
Agentes e atores da iniciativa privada,
terceiro setor, organizações públicas
3
unidades e especialistas da embrapa
Figura 14. Etapas do processo de elaboração do documento Visão 2030 : O Futuro da Agricultura Brasileira.
Fonte: Agropensa (2018).
37
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
38
Fonte: Agropensa (2018).
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
39
MUDANÇAS
SOCIOECONÔMICAS
E ESPACIAIS NA
AGRICULTURA
40
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
41
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
42
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
de 1990, esses produtores avançaram para chegando até mesmo em Rondônia. Na Fi-
o norte, entrando no Estado do Pará e, tam- gura 17, é possível observar as regiões com
bém, para o leste, na Bahia, tendo Luís Eduar- maior produção de cana-de-açúcar. Essas
do Magalhães como seu epicentro inicial. três culturas compõem, em grande parte, as
áreas agrícolas do Cerrado brasileiro, que se
Além desses processos migratórios, inúme- tornou a mais dinâmica região agropecuária
ros outros poderiam ser analisados e descri- do País.
tos por terem produzido importantes resulta-
dos econômicos e produtivos. O crescimento De fato, a cana-de-açúcar no Brasil vem pas-
da pecuária bovina, por exemplo, em alguma sando por mudanças espaciais no seu mapa
proporção, resultou da decisão de pecua- de produção, caracterizadas por três movi-
ristas paulistas de procurarem novas áreas mentos principais (Tabela 3): a) forte redução
no Centro-Oeste (posteriormente no Norte), da participação relativa do Nordeste no total
o que também permitiu a consolidação da da área plantada no País; b) crescimento da
atividade como uma das principais hoje em participação da região Sudeste, sobretudo
curso nas regiões rurais. dos estados de Minas Gerais e São Paulo; e c)
maior protagonismo do Centro-Oeste, princi-
Além da pecuária de corte, a bovinocultura palmente no período de expansão canavieira
de leite vem sendo ampliada na região, espe- ocorrido após 2002/2003 (quando houve o
cialmente em Rondônia. Com 49 laticínios e lançamento do carro flex).
produção anual de 699 milhões de litros em
2016 (o que representa 50% da produção da
região e 3% da produção brasileira)27, o esta-
do é o maior polo produtor de leite entre os
noves estados da Amazônia Legal.
43
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Tabela 3. Área plantada de cana-de-açúcar, por regiões brasileiras, nos anos de 1986, 1996, 2006 e 2016.
1986 1996 2006 2016
Brasil 3.951.842 4.750.296 6.355.498 10.226.205
Norte 8.913 0,2% 9.499 0,2% 20.972 0,3% 63.154 0,6%
Nordeste 1.287.228 32,6% 1.139.688 24,0% 1.120.547 17,6% 995.105 9,7%
Sudeste 2.256.153 57,1% 2.954.877 62,2% 4.142.674 65,2% 6.626.119 64,8%
Sul 196.841 5,0% 338.182 7,1% 483.246 7,6% 675.601 6,6%
Centro-Oeste 202.707 5,1% 308.050 6,5% 588.060 9,3% 1.866.226 18,2%
Figura 16. Municípios brasileiros que compunham o “arco produtivo” de produção de grãos (especialmente soja e
milho) no País, em 1990 e 2016. Nota: processamento Embrapa Informática Agropecuária.
Fonte: IBGE (2018)
44
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Figura 17. Municípios brasileiros que compunham as principais regiões produtoras de cana-de-açúcar, em 1990 e 2016.
Nota: processamento Embrapa Informática Agropecuária.
Fonte: IBGE (2018).
O algodão, que na década de 1980 tinha a dutora, com 62,9% do total produzido (arroz de
produção concentrada principalmente na re- várzea) em 2016 (IBGE, 2018). Considerando a
gião Nordeste (principalmente Bahia e Cea- tendência de redução da participação do arroz
rá) e nos estados do Paraná e de São Paulo de terras altas na produção total nacional, de-
(essas regiões somavam 83% do total produ- verá ocorrer um aumento considerável na pro-
zido em 1988), passou a ter sua produção de- dutividade média (Projeções..., 2017). Destaca-
limitada a praticamente dois estados: Bahia -se também que houve forte redução da área
e Mato Grosso. Este último detinha mais de plantada com a cultura na região Nordeste,
66% da área plantada em 2016. O Paraná, que, em 1988, chegou a ter área de 1,5 milhão
que em 1988 era o principal estado produtor, de hectares e, em 2016, passou a ter apenas 267
não produz mais algodão. mil hectares. A região Sudeste, por sua vez, cuja
área era de 932 mil hectares em 1988, reduziu
Com relação especificamente à produção de praticamente cinco vezes a produção de arroz,
arroz, embora a área plantada tenha reduzido alcançando 18.869 ha em 2016 (IBGE, 2018).
de 6 milhões de hectares em 1988 para cerca
de 2 milhões em 2016, a quantidade produzida Esses aspectos relacionados à mudança es-
permaneceu praticamente estável (em 1988, a pacial da agricultura nos anos mais recentes
produção foi de 11,8 milhões de toneladas e, podem ser evidenciados ainda pela compa-
em 2016, de 10,6 milhões). Contudo, as princi- ração do cultivo de grãos28, entre 1990 e 2017.
pais áreas de produção (com seus diferentes Nesse período, a região Centro-Oeste mais
sistemas de produção) passaram por altera- que triplicou a sua área plantada com essas
ções significativas. Na década de 1980, a região 28
Os grãos considerados referem-se a 15 produtos
Centro-Oeste era a principal produtora (36% do pesquisados mensalmente pela Conab. São eles: algo-
dão – caroço, amendoim, arroz, aveia, canola, centeio,
total produzido – arroz de terras altas). Atual- cevada, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo,
mente, a região Sul tornou-se a principal pro- trigo e triticale.
45
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
culturas, chegando ao patamar de 41% da cional. Por sua vez, a região Sul passou por
área total (Figura 18). A região, que em 1990 forte redução em sua representatividade de
produzia 11,2 milhões de toneladas de grãos área colhida, de 44% para 32%. Embora a
(correspondentes a 19% do total), teve sua quantidade produzida de grãos nessa região
produção aumentada em cerca de 10 vezes tenha reduzido de 56% para 35%, em termos
(atingindo 103 milhões de toneladas) em absolutos aumentou 2,5 vezes, passando de
2017, e passou a representar 44% do total na- 32 para 83 milhões de toneladas.
45%
50% 1990
40%
45% 1990
2017
Participação (%)
35%
40%
2017
Participação (%)
30%
35%
30%
25%
25%
20%
20%
15%
15%
10%
10%
5%
5%
0%
0% Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
Norte Nordeste Centro-Oeste
Região Sudeste Sul
Região
50%
Participaçao (%)
40% 2017
40% 2017
30%
30%
20%
20%
10%
10%
0%
0%
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
Região
Figura 18.19.
Figura
Figura Participação
19.Participação regional
Participaçãoregional no
regionalno total
nototal daárea
totalda
da área
área colhida
colhida
colhida daequantidade
ee da da quantidade
quantidade produzida
produzida
produzida degrãos
de de
grãos grãos,
em
em 1990eeem
1990 1990 e 2017.
2017.
2017.
Fonte:
Fonte: Conab
Conab
Fonte: (2018).
(2018).
Conab (2018).
46
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
A importância da região agrícola que com- municípios da região Sealba, cuja área de
põe o arco produtivo delimitado na Figura produção totaliza 5,15 milhões de hectares,
16 (para o ano de 2016) não deve ser subes- 68% localizados no bioma Mata Atlântica e
timada, pois ainda poderá ocorrer, nos próxi- 32% na Caatinga29. A produção nessa região
mos anos, forte ampliação da área plantada possui as seguintes vantagens: a) época de
e, em particular, dos volumes de produção. plantio e colheita diferenciada em relação às
Embora sendo uma nova região, onde são demais regiões produtoras de soja do Brasil;
encontradas propriedades extremamente b) proximidade de terminais portuários marí-
modernizadas, do ponto de vista tecnológi- timos nos três estados (como, por exemplo,
co e, também, administrativo, há muito ain- o de Aracaju), o que pode reduzir custos re-
da a avançar em termos de crescimento da lacionados ao frete; c) proximidade de gran-
produtividade. Além disso, a área plantada des bacias leiteiras; d) proximidade de usinas
poderá se expandir ainda mais para o norte, produtoras de biodiesel; e) oportunidades
especialmente para o estado do Pará e para para a diversificação produtiva na agricultura
a região do Matopiba (Miranda et al., 2014). (Procópio et al., 2016; Dall’Agnol, 2017).
47
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Brasil
6,75 | 6,78
Norte
6,37 | 9,04
Nordeste
10,68 | 11,68
Centro-Oeste Sudeste
8,66 | 10,22 4,96 | 5,51
Terras de
lavoura
Figura 19. Taxas de crescimento anual dos preços reais de vendas de terras no Brasil, no período de 2000-2012.
Fonte: Adaptado de Gasques et al. (2015).
48
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
para atrair os migrantes. Por essa razão, o primei- que se modernizou fortemente e até mesmo
ro movimento migratório citado anteriormente se integrou, com o fenômeno da globalização,
decorreu da procura por trabalho e moradias ur- aos mercados mundiais. Em termos mais di-
banas, elegendo as cidades como o seu destino fi- retos: os movimentos espaciais das últimas
nal, já que seria uma “migração devido aos fatores duas décadas evidenciam que os produtores
de expulsão” (por causa da precariedade da vida rurais vêm procurando novas terras, agora mo-
social rural). tivados por fatores que são, primordialmente,
econômicos e financeiros. Buscam manter ou
A predominância de determinantes sociais ampliar as suas taxas de lucratividade e, para
foi a marca mais decisiva no passado, por isso, movimentam-se no interior do território
essa razão alguns autores31 mencionam produtivo em busca de novas terras cujo cus-
que estaríamos observando a transição do
to de aquisição seja mais baixo e onde possam
“Brasil agrário” do passado, sob o qual pre-
ampliar os seus negócios.
dominavam os temas ligados à concentra-
da estrutura fundiária (e seus termos corre- Outro fator que, nas últimas décadas, con-
latos, como “latifundiários”) e também os tribuiu para o processo migratório no País
temas relacionados à pobreza rural e à fal- foram os programas de reforma agrária em
ta de direitos trabalhistas no campo, para seus diferentes níveis. No âmbito federal, es-
um país agrícola. Atualmente os determi- ses programas resultaram no assentamento
nantes principais passaram a ser aqueles de mais de 1,25 milhão de famílias distribuí-
de natureza econômico-financeira, e os das em cerca de 9 mil assentamentos. Essas
fatores “terra” e “trabalho” vêm deixando áreas ocupam em torno de 90 milhões de
de ter a proeminência que demonstraram hectares em todas as regiões do País, e a
no passado. Sob essa nova óptica, o fa- Amazônia Legal responde por aproximada-
tor principal para explicar o crescimento mente 55% das famílias, 38% do número de
da produção e da produtividade do setor projetos e 88% das áreas (Brasil, 2015). Esses
agropecuário passa a ser a tecnologia e sua assentamentos passam por desafios cons-
incorporação pelos produtores rurais em tantes relacionados à sua capacidade produ-
suas atividades. tiva e fixação das populações no meio rural
diante das condições de crédito, infraestrutu-
Por essa razão, o terceiro movimento migratório
ra, assistência técnica e extensão rural.
citado anteriormente evidencia uma natureza
distinta e inédita na história rural brasileira. Re- Análises sobre possíveis mudanças espaciais
flete, em especial, um movimento de pessoas, da produção que ocorrerão nos próximos
mas, dessa vez, associado também à mobili- anos, considerando aspectos relacionados à
dade dos capitais, demonstrando, essencial- produção de grãos, à criação de rebanho bo-
mente, a formação de um setor agropecuário vino, aos abates de animais e aos preços de
terras, demonstram uma tendência contínua
31
Embora as mudanças produtivas recentes venham do deslocamento geográfico da produção
atraindo a atenção analítica de diferentes estudiosos, o agrícola do Sul e do Sudeste, e sua consolida-
maior esforço de interpretação foi desencadeado a par-
tir de 2013, com a publicação do artigo Sete teses sobre ção, na próxima década, na região central do
o mundo rural brasileiro (Buainain et al., 2013), o qual País e no Nordeste, além de um crescimen-
foi seguido, no ano seguinte, pelo livro O mundo rural
no Brasil do século 21 (Buainain et al., 2014). Consulte- to em direção ao Norte, especialmente Pará,
-se, sobre o mesmo assunto, Navarro (2016), Chaddad Rondônia e Tocantins (Projeções..., 2017).
(2017) e Navarro e Buainain (2017).
49
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Tabela 4. Valor bruto da produção agrícola (em mil reais) dos principais municípios e total do Brasil (lavouras tempo-
rárias e permanentes), em 1996, 2006 e 2016.
1996 2006 2016
4 Barreiras, BA 550.408 4 Campo Novo do Parecis, MT 823.469 4 Campo Novo do Parecis, MT 2.035.729
50
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
51
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
52
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
a um processo de seletividade social. A cres- tes nesse subsetor produtivo. No último meio
cente complexidade da gestão da atividade (in- século, por causa do desenvolvimento tec-
clusive pela ampliação da normatividade am- nológico observado no setor, o processo de
biental), atrelada à dificuldade que a maioria seleção aprofundou-se e, assim, enquanto
dos pequenos produtores tem de se apropriar foram sendo eliminados produtores da inte-
de conhecimento tecnológico adequado, entre gração contratual antes existente, aumentou
outros fatores, aparenta estar fazendo com que de forma expressiva a produção total, a fim
parte considerável dos moradores dos estabe- de atender os mercados interno e externo.
lecimentos rurais desista de permanecer em Enquanto a produção saltou, no período de
suas atividades, especialmente aqueles que 1985-2006, de 229 para 682 mil toneladas,
não conseguem se integrar adequadamente o número total de produtores reduziu de
aos mercados e à competição natural em tais cerca de 35 mil para pouco mais de 12.500
períodos expansivos (Navarro; Campos, 2013). (Figura 20) (tendo o percentual de produto-
res integrados contratualmente às indústrias
Como ilustração, apresenta-se, na Figura 20,
aumentado de 40% para 55,5%) (Navarro;
o caso da suinocultura do oeste de Santa Ca-
Campos, 2013; Miele; Miranda, 2013).
tarina, uma das regiões brasileiras mais for-
35.089
682
Nº de produtores
23.527 (rebanho > 20 cabeças)
432 Produção (mil t.)
12.559
229
Figura 20. Número de produtores na suinocultura industrial e produção de carne suína, em Santa Catarina (1985, 1996
e 2006).
Fonte: Miele e Miranda (2013).
É importante destacar que essas tendên- tores, inclusive os ramos produtivos da agri-
cias vêm caracterizando o desenvolvimento cultura. Isso vem ocorrendo até mesmo em
agropecuário brasileiro em praticamente subsetores que, no passado, eram típicos de
todos os seus subsetores. Inicialmente, tra- pequenos produtores (como hortigranjeiros
tou-se de um processo típico da produção e produtores de feijão, por exemplo).
de suínos e aves, mas, atualmente, começa
também a caracterizar a pecuária de leite e, Com base no que foi exposto, conclui-se
gradualmente, vai abarcando os demais se- que, nos próximos anos, esse movimento de
53
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
54
Ano
Norte Nordeste
2,8% 9 em 2014 (Banco Mundial, 2017c)37. Fato Entretanto, a pobreza
Sudeste continuará sendo um
Centro-Oeste
similar
8 ocorreu na área rural: a situação de dos principais Sul
desafios a serem enfrentados
extrema
7 pobreza diminuiu de 21,8% da po- na área rural do Brasil, sobretudo nas regiões
pulação rural em 2002 para 7,6% em 2014 Norte e Nordeste. Segundo dados do Censo
6
(Figura 21). Vários fatores contribuíram para 2006, cerca de 70% dos estabelecimentos ru-
5
essa trajetória, entre os quais estão o cresci- rais do País tinham renda média mensal de
mento 4 da economia brasileira, a expansão 0,43 salário mínimo e praticamente 57% des-
do mercado
3
de trabalho, aumentos reais do ses estabelecimentos estão concentrados
salário mínimo e políticas de transferência no Nordeste e apresentam média mensal de
2
de renda (exemplos dessas políticas são o 0,35 salário mínimo.
Programa Bolsa Família, o Plano Brasil Sem
1
Miséria e o Benefício de Prestação Conti- O Nordeste, embora heterogêneo em inúmeros
-
nuada de 2004Assistência
2005Social) (Rocha,
2006 2013;
2007 2008 aspectos,
2009 caracteriza-se
2011 2012 pela 2013
predominância
2014
Skoufias et al., 2017). de vasta área com características climáticas
25
21,8
21,1
20
17,9
extrema pobreza (%)
16,9
População rural em
15,1
15
13,3
11,8 11,3 11,4
10 8,9 8,9
7,6
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Ano
Figura 21. Extrema pobreza na área rural do Brasil, de 2002 a 2014 (valores em porcentagem).
Fonte: IBGE (2016).
similares38. O Semiárido, que abarca oito dos
nove estados nordestinos, abriga aproxima-
37
Convém mencionar que o Banco Mundial recomenda
a adoção de três parâmetros de definição de pobreza, damente 40% da população da região e 57%
a depender do custo de vida de cada país: renda per da sua população rural. Em 2006, 64% dos
capita de até US$ 1,90, US$ 3,20 e US$ 5,50 por dia. Para
o Brasil, o Banco Mundial sugere adotar o parâmetro 2.054.327 estabelecimentos rurais do Nordeste
de US$ 5,50 ao dia. Se fosse considerado esse nível de estavam no Semiárido, dos quais 97% perten-
renda, em 2015 o Brasil possuía 22,1% da população ciam às classes de renda bruta, denominadas
vivendo em situação de extrema pobreza (Banco Mun-
dial, 2017a, 2017b). Além disso, os dados apresentados “muito pobre” e “pobre” (Alves; Souza, 2015a).
não consideram o período 2014-2016, em que houve
retração da economia brasileira e, possivelmente, au- 38
Precipitação pluviométrica média anual inferior a
mento da parcela da população nos estratos de pobre- 800 mL; índice de aridez de até 0,5; e risco de seca maior
za e extrema pobreza. que 60% (Christofidis, 2005).
55
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
De fato, a aptidão do solo e as condições Para superar essas limitações, vários esforços
edafoclimáticas do Semiárido resultam em vêm sendo empenhados por organizações
ambiente pouco propício à produção agrí- nacionais de pesquisa e universidades a fim
cola (Buainain; Garcia, 2013), considerando de promover o desenvolvimento tecnológico
a conjuntura socioeconômica e geopolítica dessas regiões. Resultados positivos têm sido
atual39. A mudança do clima aponta ainda obtidos40, porém ainda há muito a ser feito
para o agravamento das dificuldades de pro- com relação aos seguintes aspectos: geração
dução na região. Como a deficiência hídrica e e transferência de tecnologias, formulação
o padrão irregular de precipitação pluviomé- de políticas públicas, ampliação do uso de
trica são fatores condicionantes para o de- irrigação e manejo adequado dos solos.
senvolvimento da agricultura na região, a de-
finição de estratégias para o sistema de CT&I Essa realidade evidencia a importância do
desenvolvimento de tecnologias e políticas
agrícola – como foco no desenvolvimento e
que favoreçam maiores níveis de produção
adaptação de tecnologias para recuperação
agrícola e renda das famílias que vivem na
e conservação de mananciais, captação, ar-
pobreza. Por exemplo, pesquisas que substi-
mazenamento e uso eficiente dos recursos
tuam ou tornem mais baratos insumos que
hídricos na agricultura – requer atenção par-
são de grande importância particularmente
ticular de pesquisadores e formuladores de
para a pequena produção (Alves, 2016). Tec-
políticas públicas.
nologias que agreguem valor aos produtos
A pobreza rural também é bastante intensa ou incluam novos produtos no mercado tam-
na região Norte, onde 94% dos estabeleci- bém podem contribuir para melhorar a renda
mentos com área igual a (ou menor que) e o bem-estar dessas famílias de produtores
100 ha (e 74% dos estabelecimentos maio- rurais pobres e extremamente pobres.
res que 100 hectares) pertenciam (em 2006,
Contudo, apenas o desenvolvimento de tec-
com base no último Censo Agropecuário
nologias adequadas às diferentes condições
do IBGE) às classes de renda bruta deno-
socioeconômicas e ambientais não será a
minadas “muito pobre” e “pobre”. Além
solução, uma vez que esses produtores apre-
disso, as classes com renda média acima
sentam baixo nível de escolaridade e care-
de R$ 3.000,00 mensais em 2006 foram res-
cem de acesso à assistência técnica e exten-
ponsáveis por 67% da renda bruta gerada
são rural, o que dificulta ou até impossibilita
na região, o que reforça o processo de con-
a incorporação de tecnologias já existentes.
centração da renda. Cabe destacar a ex-
É importante facilitar o processo de tomada
pressiva parcela das populações indígenas
de decisão dos pequenos produtores com
e comunidades tradicionais extrativistas
relação ao que se deve produzir e como essa
que são usuárias e “guardiãs” de parcela
produção será realizada, provendo informa-
substancial de áreas de conservação de
ções e auxiliando na construção de sistemas
uso sustentável no bioma Amazônia e que
de produção ajustados à realidade dos esta-
estão inseridas nas classes de extrema po-
belecimentos. Em grande parte dos casos, as
breza e de pobreza no meio rural brasileiro.
políticas de transferência de renda têm papel
40
Como exemplo, citam-se as minifábricas de caju, im-
39
Uma vez que, com recursos e tecnologia adequados, pulsionadas por parcerias entre a Embrapa e a Central
o Semiárido pode se tornar uma região de importante de Cooperativas dos Cajucultores do Estado do Piauí
produção agrícola. (Cocajupi).
56
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
57
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
(na própria região Nordeste e também em casos agricultura brasileira (Figura 22). A PEA tem seguido
180
internacionais como em Israel). uma trajetória de queda, registrando redução de
160
20% durante o período 2004-2014 (passou de apro-
Esse processo de esvaziamento do campo decor-
140 ximadamente 18 milhões de pessoas para 14,5 mi-
re, por um lado, da concentração da riqueza, que
120 lhões). As regiões Nordeste e Sul apresentaram as
limita as oportunidades sociais (Buainain; Garcia,
maiores quedas; a primeira teve redução de 1,7 mi-
2013); e,100
por outro, da busca por melhores opor-
Índice
Norte Nordeste
PEA agrícola (em milhões de pessoas)
9
Sudeste Centro-Oeste
8 Sul
7
-
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Ano
Figura 22. Evolução da população economicamente ativa (PEA) agrícola de 10 anos ou mais de idade, por região, de
25
2004 a 2014 (em milhares de pessoas).
21,8
Fonte: IBGE (2016). 21,1
20
Em decorrência dessas 17,9
circunstâncias,
16,9 o cus- salário mínimo; o aumento do número de
to da mão de obra tem se elevado significa-
15,1
empregados com carteira de trabalho; os ga-
15
tivamente45. Essa elevação também é devida13,3 nhos de
11,8 11,3
produtividade
11,4
do trabalho agrícola;
a outros fatores, tais como: a valorização do a pressão exercida nos salários pela diminui-
10 8,9 8,9
ção da população agrícola rural; e7,6a regula-
45
Em geral, os salários na área rural são fixados com base mentação do mercado de trabalho rural.
5
no salário mínimo. O crescimento da economia dos úl-
timos anos (e a consequente concorrência exercida por Análises recentes (Maia; Sakamoto, 2014) as-
atividades urbanas pela mão de obra, diminuindo sua sinalam que o rendimento médio dos traba-
0
disponibilidade no meio rural, sobretudo a qualificada) e
os encargos2002 2003contribuem
trabalhistas 2004 2005
também 2006 2007
para o au- lhadores
2008 2009ocupados
2011 na agricultura
2012 2013 brasileira
2014
mento do custo da mão de obra rural.
58
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
59
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
(Competition..., 2014) em razão desse fenôme- seguintes. A pressão, contudo, não ocorre ape-
no, o qual é fortalecido pelo fato de as redes va- nas em relação a redução de preços e poster-
rejistas constituírem um elo concentrado que gação de pagamentos. Além desses dois fato-
tem acesso a uma enorme gama de fornecedo- res, a lista de mecanismos do abuso de poder
res e uma gigantesca base de consumidores49. de compra das redes varejistas inclui: taxas de
cadastramento em listagem de fornecedores;
Além da pressão exercida pelos grandes
ameaça de exclusão de listagem de fornecedo-
grupos de distribuição sobre os produtores
res cadastrados; taxas de espaço em prateleira;
agrícolas, há aquela gerada pelos grandes
exigência de descontos extra ou não acordados
grupos industriais, os quais apresentam
ou, ainda, de pagamentos dos fornecedores;
também forte concentração (Competition...,
exigência de pagamentos retrospectivos e des-
2014). Pouquíssimos grupos industriais pro-
contos pós-venda; retorno de produtos não
duzem praticamente todos os alimentos e
vendidos ao fornecedor; alterações retrospec-
bebidas que encontramos nas prateleiras
tivas em termos acordados; vendas a preços
dos supermercados (Myers, 2017; Taylor,
abaixo dos custos (repassados aos fornece-
2017): Nestlé, PepsiCo, Coca-Cola, Unilever,
dores); influência sobre a disponibilidade de
Danone, General Mills, Kellogg’s, Mars, Asso-
produtos ou aumento dos custos dos produtos
ciated British Foods, Smithfield, Kraft Heinz,
para outros varejistas (concorrentes); e promo-
ConAgra, Anheuser-Busch InBev, JBS, Tyson
ção de suas marcas próprias (varejistas)50 (Su-
e Mondelez. Esses grandes grupos têm defi- permercados..., 2010; Nicholson; Young, 2012;
nido táticas de relacionamento comercial – Von Broembsen, 2017).
como o aumento dos prazos para pagamen-
tos de compras – que têm causado impactos Como resposta natural a isso, alguns movi-
nos produtores. Até o fim da década de 2000, mentos têm sido observados, como o sur-
os produtores recebiam os pagamentos des- gimento de lojas locais e pequenas novas
ses grandes grupos em torno de 30 dias após marcas e a comercialização de “produtos de
o faturamento, atualmente tais compradores supermercado” em outros canais, em dire-
estão impondo prazos que chegam a 120 ção oposta à concentração de grandes redes
dias (Ruddick, 2015; Strom, 2015). (Duff & Phelps, 2016; Federated, 2017). Outro
aspecto refere-se à organização de produto-
Na realidade, esse movimento ocorre em meio res/fornecedores, como o Fórum dos Negó-
a outro ainda mais intenso, a forte pressão que cios Privados (Forum of Private Business –
os ainda mais concentrados distribuidores (as movimento de organização de pequenos e
redes varejistas) causam sobre esses mesmos médios fornecedores do Reino Unido para
grupos industriais. Ou seja, há uma reação em combater as imposições dos grandes grupos
cadeia: as grandes redes varejistas pressionam empresariais) (Big Business Bahaving Badily,
os grupos industriais de alimentos por redução 2015). Além disso, organizações que atuam
de preços (Gasparro et al., 2017) e estes últimos
“repassam” também tal pressão para os elos 50
É importante registrar que a existência de grandes
redes varejistas não acarreta apenas impactos nega-
tivos, pois, em certa medida, é responsável por uma
49
Esse fenômeno é verdadeiro para a grande maioria dos série de impactos positivos que vão desde o aumento
países desenvolvidos e em desenvolvimento, e o Brasil não da disponibilidade de certos produtos (alimentos, mais
representa exceção. Há estudos analisando os impactos da especificamente no caso do tópico aqui tratado) até a
concentração de poder e do abuso do poder de compra de redução dos preços ao consumidor ao longo do tempo.
redes varejistas. Por exemplo: Cavalcante (2004), Aguiar; Fi- Esses e outros aspectos positivos são apontados em
gueiredo (2011) e Costa e Fernandez (2014). Nicholson e Young (2012).
60
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
61
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
blicos, como o TerraClass53, de uso e cobertura de solos em escalas entre 1:20 mil e 1:40 mil.
da terra na Amazônia e Cerrado; o PRODES54 Nesse contexto, o Brasil pretende executar
de monitoramento da Floresta Amazônica Bra- nos próximos 30 anos – [Programa Nacional
sileira por satélite; o Zoneamento Agrícola de de Solos do Brasil (Pronasolos) – (Polidoro et
Risco Climático (Zarc55); e o Projeto de Dinâmi- al., 2016)] o mapeamento dos solos em 1:25
ca de Uso e Cobertura da Terra no Brasil56, têm mil, 1:50 mil, 1:100 mil, nos âmbitos munici-
exercido papel fundamental no apoio à tomada pal, estadual e federal, respectivamente. Es-
de decisões do setor privado e na definição de sas escalas melhoram a tomada de decisão e
políticas públicas no Brasil. Outras importantes o estabelecimento de políticas públicas para
análises sobre a dinâmica de uso e cobertura a agricultura.
das terras no País em escala nacional têm sido
geradas por universidades57, institutos de pes- Dessa forma, são crescentes as análises es-
quisa58 e organizações não governamentais59. paciais e as aplicações no monitoramento
agroambiental (avaliação das condições am-
Um aspecto importante para fortalecer o bientais de áreas agrícolas e de preservação);
planejamento do uso da terra e sua expan- na georrastreabilidade e certificação (iden-
são e intensificação é o levantamento de tificação de áreas de produção agrícolas na
dados sobre os solos no Brasil em escalas cadeia logística); nos modelos de simulação
mais apropriadas. Os atuais levantamentos, para auxiliar na tomada de decisões indivi-
iniciados na década de 1950, objetivavam o duais (como necessidade de irrigação ou uso
atendimento a necessidades prementes de de insumos), coletivas ou governamentais
planejamento, em um cenário de quase des- (avaliação ex ante de políticas públicas); nas
conhecimento dos solos do País. Em face das concessões de crédito ou de seguro agrícola
limitações de ordem financeira e de pessoal (diante de questões da legislação e variabili-
especializado, optou-se pela execução de dade espacial das áreas de produção); e na
mapeamentos generalizados, abrangendo prevenção de desastres naturais (enchentes,
grandes extensões territoriais. Atualmente, terremotos, etc.).
apenas uma pequena parte do País (cerca
de 5%) conta com mapas de solos em escala Da mesma forma, os sistemas de inteligência
1:100.000 ou maior, o que contrasta de for- territorial estratégica (Sites) têm sido apli-
ma acentuada com outros grandes países, cados para análises e estudos do território
que são integralmente cobertos por mapas em diferentes escalas, como, por exemplo,
o Site Matopiba (Miranda et al., 2014), que
53
Disponível em: <http://www.inpe.br/cra/projetos_ integra dimensões naturais, agrícolas, agrá-
pesquisas/dados_terraclass.php> e <http://www.dpi. rias, socioeconômicas e de infraestrutura.
inpe.br/tccerrado>.
54
Disponível em: <http://www.obt.inpe.br/OBT/ Informações inéditas são geradas a partir
assuntos/programas/amazonia/prodes>. das possibilidades de cruzamentos de pla-
55
Disponível em: <http://www.agricultura.gov.
br/assuntos/riscos-seguro/risco-agropecuario/ nos de informações multifonte, que apoiam
zoneamento-agricola>. a formulação de políticas públicas e decisões
56
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/ estratégicas das atividades econômicas e de
geociencias/recursosnaturais/usodaterra/default.
shtm>. infraestrutura em bases territoriais para mu-
57
Disponível em: <https://www.lapig.iesa.ufg.br/ nicípios, estados ou país.
lapig/>; <http://www.igc.ufmg.br/>; <www.ufrgs.br>.
58
Disponível em: <http://www.inpe.br/>.
59
Disponível em: <http://mapbiomas.org/> e <http://
imazon.org.br/>.
62
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Desafios
◉◉ Caracterizar regionalmente os sistemas ◉◉ Ampliar o uso da inteligência territorial
de produção e os novos padrões tec- estratégica em ações de governança e
nológicos, sociais e econômicos, consi- gestão pública e privada das cadeias
derando a heterogeneidade do espaço produtivas da agricultura.
rural nacional.
◉◉ Intensificar os estudos sobre os solos do
◉◉ Integrar novas formas de articulação Brasil por meio de levantamentos mais
interinstitucional e interorganizacional detalhados e em escalas compatíveis às
com foco nas especificidades regionais, necessidades de planejamento de uso
como Unidades Mistas de Pesquisa da terra e de microbacias hidrográficas.
(UMP); Núcleos Territoriais de Inovação
e Referência Tecnológica (Nutir); Unida- ◉◉ Elevar a interoperabilidade dos sistemas
des de Referência Tecnológica (URT); e de monitoramento territorial em todas
laboratórios multiusuários. as esferas no meio rural, via integração
e uso de padrões abertos que permitam
◉◉ Estimular a reestruturação das organi- a comunicação de dados e informações
zações de assistência técnica e exten- territoriais.
são rural (Ater) públicas e privadas para
ações regionalizadas. ◉◉ Promover estudos e o desenvolvimento
de análises integradas de base de dados
◉◉ Ampliar a articulação e efetivar parce- para subsidiar ações de melhorias da in-
rias público-públicas e público-privadas fraestrutura de logística e de armazena-
para adensamento dos mapeamentos mento nas cadeias produtivas agrícolas.
básicos de cobertura vegetal, solos e
recursos hídricos, em escalas mais deta- ◉◉ Desenvolver e adaptar tecnologias de
lhadas. gestão, produção e processamento para
pequenas propriedades rurais.
◉◉ Mapear e monitorar sistemas intensi-
ficados e biodiversos de uso da terra ◉◉ Qualificar a mão de obra rural diante do
(diferentes safras, pastagens plantadas, crescimento da demanda por atividades
sistemas irrigados, cultivos protegidos mais especializadas e tecnificadas.
e integração lavoura-pecuária-floresta– ◉◉ Intensificar o comércio local por meio
ILPF) por regiões e perfil de produção. de ações de cooperativismo, associati-
◉◉ Desenvolver instrumentais digitais ino- vismo e da promoção de circuitos curtos
vadores que possibilitem o monitora- de produção e comercialização.
mento à distância das informações e a ◉◉ Incrementar o poder de barganha dos
elaboração de cenários que auxiliem os produtores das cadeias produtivas
processos de tomada de decisão quanto agroalimentares, especialmente peque-
ao uso do solo e dos recursos hídricos nos e médios, diante das grandes redes
regionais. varejistas e grandes grupos industriais.
63
INTENSIFICAÇÃO E
SUSTENTABILIDADE
DOS SISTEMAS DE
PRODUÇÃO AGRÍCOLAS
64
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Sistemas de produção (Hirakuri et al., 2012) O Brasil apresentou, na COP 21 – 21ª Con-
mais complexos, sistêmicos, resilientes, sus- ferência das Partes da Convenção-Quadro
tentáveis, como, por exemplo, de baixa emis- das Nações Unidas sobre a Mudança do Cli-
são de gases de efeito estufa (GEE), compõem ma, Paris, em 2015, compromissos de redu-
agenda de pesquisa de organizações públi- ção em 37% (abaixo dos níveis de 2005) da
cas, universidades, empresas e, em muitos emissão de GEE até 2025. Além disso, fez
indicativo subsequente de redução de 43%
60
Em comparação com outros países, o Brasil ficou (abaixo dos níveis de emissão de 2005) até
atrás apenas da China quando se considera apenas os 2030 (Brasil, 2016b). Entre as ações propos-
grandes produtores agrícolas (Estados Unidos, 2017b).
65
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
66
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Examinado o conjunto dos ODS, fica evidente A automação da agricultura contribui para o
o papel que a agricultura sustentável tem para trabalho menos penoso, porém pode impactar
o avanço da Agenda. No Brasil, a importância negativamente o nível de renda via desempre-
da agricultura para o alcance desses objetivos go de uma parcela da mão de obra no meio ru-
é ainda maior, considerando a extensão das ral. Nesse contexto, a Agenda 2030 reconhece e
áreas ocupadas com lavouras e pastagens, o ex- prevê que a ambição de alcance de seus objeti-
pressivo contingente de produtores e trabalha- vos dependerá de políticas públicas integradas
dores envolvidos no agronegócio e a relevância que atenuem objetivos conflitantes e potencia-
do setor para o desenvolvimento econômico e lizem sinergias existentes.
a melhoria do bem-estar social da população.
No Acordo de Paris, aprovado em dezem-
As conexões mais evidentes da agricultura com
bro de 2015 por 195 países integrantes da
os ODS se dão entre a produção de alimentos
COP21, é prevista a redução de emissões de
e nutrição, saúde e pobreza e entre agricultura,
GEE no contexto do desenvolvimento sus-
recursos naturais, energia limpa e mudanças
tentável (Brasil, 2016a). O Brasil submeteu à
climáticas. Contudo, são inegáveis também os
convenção das partes sua proposta de Con-
vínculos e as contribuições da agricultura para
tribuição Nacionalmente Determinada (Na-
o alcance dos outros ODS.
tionally Determined Contribution – NDC).
Há que se reconhecer e equilibrar os conflitos O País visa ampliar seus compromissos de
e a competição entre os objetivos ligados à redução agregada das emissões de GEE em
agricultura com os relacionados a outras áreas. 37% abaixo dos níveis de 2005, até 2025, e
Por exemplo, a produção de alimentos e a pro- em 43% abaixo dos níveis de 2005, até 2030
dução de biomassa para energia renovável (Marcovitch, 2016). Neste sentido, as ações
podem competir pelo uso da terra e da água. propostas abrangem o fortalecimento do
67
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
68
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
2005), que dá respaldo às ações que envol- O Tirfaa tem como objetivo a conservação
vem organismos geneticamente modificados e o uso sustentável dos recursos genéticos
(OGMs) em território nacional. Sem essa lei, de plantas para alimentação e agricultura,
que é fundamental para o desenvolvimento assim como a repartição justa e equitativa
da agricultura brasileira, o Brasil estaria im- dos benefícios derivados da sua utilização e
pedido, em cumprimento ao protocolo, de deve funcionar em harmonia com a CDB. Em
plantar e comercializar milho, soja, algodão, virtude de aspectos legais envolvendo, entre
além de vacinas para animais e outros pro- outros, a proteção de patentes nos diferentes
dutos geneticamente modificados. países, as partes postergaram novas decisões
para 2019. A razão mais explícita para isso é a
Embora tenha nascido como uma conven- pressão contrária da indústria multinacional
ção para tratar do tema biodiversidade, a im- de sementes, que teria de repassar os cus-
plementação da CDB tem levado à discussão tos da repartição de benefícios para os agri-
de assuntos novos. Um deles diz respeito à cultores. Impasses nesses acordos poderão
discussão e à implementação do uso de tec- prejudicar pesquisas no futuro envolvendo
nologias, como a biologia sintética, a nano- a variabilidade genética dos principais cul-
tecnologia, a geoengenharia, entre outras. tivos exóticos existente nas coleções ex situ
Quanto a outros instrumentos da CDB des- mantidas no País pela Embrapa e por outras
taca-se a aprovação das Metas de Aichi organizações.
como parte do Programa de Biodiversidade Nesse contexto, o Brasil vem tendo papel de
2011-2020, e sua internalização no Brasil por destaque nas discussões de acordos e com-
intermédio da Comissão Nacional de Bio- promissos internacionais. Ademais, por ter
diversidade (Conabio), sob os auspícios do uma economia fortemente baseada em seus
Ministério do Meio Ambiente (MMA). Já foram recursos naturais, mas, ao mesmo tempo,
iniciados os trabalhos de preparação do novo possuir uma agricultura baseada em material
Programa de Biodiversidade 2021-2030, que genético exótico (espécies originárias de ou-
será discutido na próxima COP 14 – 14ª Con- tros países), forte capacidade técnico-cientí-
ferência das Partes da Convenção da Diver- fica, potencial empreendedor em seu setor
sidade Biológica, em Sharm El-Sheikh, a ser privado, papel de liderança regional e ser um
realizada em 2018 (Convention on Biological
dos líderes mundiais na produção de alimen-
Diversity, 2018). Tudo indica que o foco do
tos, o País tende a continuar contribuindo de
programa estará voltado para serviços ecos-
forma efetiva para o alcance desses objetivos
sistêmicos, o que abre uma série de oportu-
comuns e com protagonismo no desenvolvi-
nidades para o setor agrícola brasileiro, caso
mento sustentável mundial.
o País participe ativamente das discussões já
em curso. Inevitavelmente, esses acordos e compro-
missos têm impacto nos protocolos e mé-
Um dos tratados mais importantes para a
tricas de sustentabilidade, definidos em
agricultura brasileira é o Tirfaa, que foi apro-
âmbito tanto nacional quanto internacional.
vado pelos países membros da Organização
Ao mesmo tempo, representam uma oportu-
das Nações Unidas para Agricultura e Alimen-
nidade para o Brasil, que vem cada vez mais
tação (FAO), em 2001, assinado pelo Brasil
consolidando seu protagonismo quando se
em 2002, ratificado em 2006 e promulgado
consideram critérios globais de produção
pelo Decreto nº 6.476, em 2008 (Brasil, 2008).
69
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
70
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
71
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Sul – 6,5%; Sudeste – 6,0% e Nordeste – 3,3%) hidrológico recebe os efeitos, positivos e nega-
quanto no tempo, pois algumas regiões têm tivos, conforme o uso e o manejo do solo e da
regime de chuvas concentrado em poucos me- água, afetando a disponibilidade hídrica (Prado
ses, seguidos de longo período de estiagem e et al., 2017). No que se refere à qualidade, ape-
rios intermitentes (Prado et al., 2017). Além dis- sar de a poluição urbana ser a principal fonte
so, a distribuição das reservas não acompanha de degradação, a poluição difusa de origem
a concentração populacional nem a demanda rural causada pela elevada utilização de fertili-
hídrica das diferentes regiões do País. zantes, pesticidas e perda de solos por proces-
sos erosivos pode ser fortemente impactante
O uso da água no meio rural representa
em regiões com extensas áreas de uso agríco-
80,7% da demanda de captação de água to-
la. Como consequência, ocorrem prejuízos à
tal brasileira, dos quais 67,2% são destinados
biodiversidade aquática, à saúde humana e à
à irrigação, 11,1% ao consumo animal e 2,4%
economia do País. As perdas anuais de solos
ao consumo humano (Agência Nacional de
no Brasil são da ordem de 500 milhões de tone-
Águas, 2017). Além disso, o desperdício é
ladas pela erosão, ocasionando perda média
preocupante, estimado em cerca de 40%
de 0,5% ao ano na capacidade de armazea-
(Gibertoni; Pandolfi, 2015), devido às perdas
mento dos reservatórios e assoreamento de
em sistemas inadequados de irrigação ou
rios. Percebe-se, dessa maneira, que há estreita
vazamentos nas tubulações. A irrigação está
relação entre as funções e os serviços ecossis-
em franca expansão no Brasil, passou de 462
têmicos do solo e da água no meio rural, pois
mil hectares em 1960 para 6,1 milhões de
é através das relações solo-água que ocorrem
hectares em 2014, em especial por meio de
os processos de infiltração e recarga de aquífe-
pivôs centrais, perfazendo um total de 1,275
ros, a transferência de água para as plantas, a
milhão de hectares distribuídos em 19.892
evapotranspiração, a manutenção da umida-
pivôs (79% no Cerrado e 11% na Mata Atlân-
de e biodiversidade dos solos, o transporte de
tica) (Levantamento..., 2016; Zoneamento...,
nutrientes, o estoque de carbono, ente outros
2017). Desta forma, o uso adequado de recur-
(Prado et al., 2017).
sos hídricos no meio rural envolve decisões
sobre a irrigação, uso de métodos recomen- Um importante desafio será a redução de per-
dados para cada tipo de solo e cultura, além das por erosão hídrica de solo e água, mesmo
do seu manejo a partir do monitoramento em áreas manejadas com o sistema de plan-
preciso da evapotranspiração, utilização de tio direto, em várias regiões do País. Além da
sistemas mais eficientes e adaptados às con- intensificação dos processos erosivos, tem
dições locais, evitando o desperdício de água sido observada a diminuição da estabilidade
e energia. Em regiões onde a disponibilidade da produtividade das culturas, face à maior
hídrica é muito variável, reservatórios de pe- suscetibilidade das plantas à ocorrência de es-
queno porte, barragens subterrâneas (Silva tresses hídricos. O plantio direto, baseado em
et al., 2007), reuso e captação de chuvas em monocultura (soja-pousio-soja) e, menos fre-
propriedades agrícolas podem melhorar a quentemente, em sucessões simples do tipo
disponibilidade hídrica, reduzindo a vulnera- soja-milho safrinha ou, mais raramente, em
bilidade em relação à variabilidade hidrológi- sucessões como soja-milheto, soja-trigo ou so-
ca (Silva et al., 2007; Prado et al., 2017). ja-aveia-preta, tem provocado as perdas contí-
nuas da biodiversidade, o aumento de incidên-
É também no espaço rural que nascem os gran-
cia e custo do controle de pragas e doenças de
des mananciais de abastecimento, cujo regime
72
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
73
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
70
60
Toneladas
50
de milho
ProduçãoMIlhões
40
30
20
10
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Figura 24. Produção de milho no Brasil: o processo de migração da primeira para a segunda safra, de 2003 a 2016.
Fonte: IBGE (2018).
74
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Embora tenham havido expressivos ganhos que, para vários países68, entre os quais o
nas produtividades médias no País, há ainda Brasil, reduzi-los (ou eliminá-los) não é ne-
muito potencial de expansão das produtivi- cessário para garantir sua autossuficiência
dades médias alcançadas em determinadas alimentar (nem atualmente nem no futuro
regiões. Vastas áreas de produção ainda com projetada expansão de demanda). No
apresentam rendimentos físicos por unidade entanto, esses países são atualmente expor-
de área (ou unidades de lotação, no caso das tadores líquidos de alimentos, o que faz com
atividades pecuárias), que são baixos, suge- que haja estímulo para que reduzam essas
rindo que ainda existe um caminho para ele- diferenças entre as produtividades médias
var a PTF. alcançadas e as potenciais (se for economi-
camente rentável e ambientalmente eficien-
Análises mundiais apontam que regiões em te aumentar a produção de culturas para
que se observa estabilização das produtivida- exportação). Observa-se que os yield gaps
des médias, identifica-se que foi alcançado algo são muito maiores em culturas de sequeiro
em torno de 75% a 90% de seu limite potencial. (que representam 74% das terras cultivadas
Esse fenômeno reforça o desafio de aumentar o no mundo) que nas irrigadas. Aquelas produ-
potencial genético de produtividade das culturas, zem apenas 44% das calorias potenciais, en-
bem como otimizar as técnicas de manejo das quanto as últimas alcançam 60%. Afirma-se
culturas. Entender em detalhes essas questões que são quatro as grandes limitações para
é imprescindível para que se possam tomar de- que os potenciais produtivos sejam alcança-
cisões acertadas sobre as regiões e os métodos dos, quais sejam: restrições agroclimáticas,
agronômicos adequados, a fim de alcançar o ne- restrições da qualidade do solo, acesso ao
cessário incremento da produção nas próximas mercado e variabilidade da produtividade
décadas sem comprometer a disponibilidade causada pelo clima (Pradhan et al., 2015).
ambiental para as gerações futuras (Van Ittersum;
Cassman, 2013; Van Wart et al., 2013; Kruseman; Organizações como a Bill and Melinda Gates
Roett, 2015). Destaca-se ainda que as capacida- Foundation, o Banco Mundial e a Rockefeller
des de incremento da produção por meio do Foundation têm demonstrado, nos últimos
aumento das produtividades variam entre países, anos, o entendimento de que é necessário
regiões e localidades (em função de diversos fato- expandir a produção de alimentos (e bio-
res, tais como condições biofísicas e tecnologias massa, de maneira geral), sem, contudo,
e manejo agropecuário adotados) (Ramos; Gara- gerar mais danos ao meio ambiente (Gillis,
gorry, 2017). 2011). Aproveitar ao máximo o potencial pro-
dutivo é imperativo para que se alcance esse
Análises com foco na identificação de yield objetivo. Projeta-se que o crescimento futuro
gaps de produção de calorias67 demonstram da produção agrícola deverá ter como seu
principal fator as melhorias na produtividade
dos seus sistemas de produção69, seja pela
67
Análises que combinaram informações sobre yield
redução dos ainda grandes yield gaps seja
gaps de produção de calorias de determinada cultura pela intensificação dos processos de pro-
com deficits de calorias para alimentação da popula-
ção dessa mesma cultura identificaram as regiões onde 68
Por exemplo, os Estados Unidos, a Rússia, o Brasil, a
esses yield gaps são importantes em termos de redu- Austrália e os países da Europa Ocidental.
ção ou eliminação de deficitdéficits de calorias vegetais 69
Embora se projete que o crescimento das produtivi-
para a alimentação da população da região (soberania dades diminua ligeiramente ao longo da próxima dé-
alimentar) (Pradhan et al., 2015). cada.
75
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
76
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
bilidade e à diminuição dos riscos financei- A agricultura orgânica vegetal (grãos, horta-
ros (Skorupa; Manzatto, 2016). liças e frutas) e animal (carne, ovos e leite)
tem se destacado como uma das alterna-
Ressalta-se ainda a crescente evolução dos
tivas de renda para os pequenos, médios e
sistemas sustentáveis na produção animal,
grandes produtores, principalmente devido
nos quais os grandes desafios estão associa-
à crescente demanda mundial e brasileira
dos ao aumento da produção, para atender a
por alimentos mais saudáveis e sustentáveis.
demanda, e, ao mesmo tempo, reduzir o po-
O mercado mundial de alimentos orgânicos
tencial poluente de algumas das atividades
alcançou o valor de 81,6 bilhões de dólares
do setor, como a suinocultura. Nesse sentido,
em 2015 com uma área estimada em 50,9 mi-
são crescentes o desenvolvimento e as adap-
lhões de hectares (Research Institute of Or-
tações às exigências do novo mercado con-
ganic Agriculture, 2017). Só em 2016, o mer-
sumidor, com foco em segurança alimentar,
cado brasileiro de alimentos orgânicos teve
melhoria na qualidade dos produtos e deri-
um incremento de 30% (Organicsnet, 2017).
vados animais, rastreabilidade da produção,
A produção orgânica tem se destacado pelo
restrição ao uso de antimicrobianos, prote-
seu potencial no desenvolvimento social e
ção ambiental e bem-estar animal.
local, pelo estímulo à formação de circuitos
Os sistemas agroflorestais, em suas diferen- de comercialização de curta distância entre
tes estruturas (sequenciais, simultâneos ou produtor e consumidor (cadeias curtas) e
complementares), incorporam maior diversi- pela venda para os mercados institucionais
dade vegetal com espécies agrícolas, frutífe- como escolas e hospitais. Além disso, em de-
ras e florestais (nativas e exóticas) e ocupam corrência das mudanças de hábitos, maior
milhares de hectares em todos os biomas informação e poder aquisitivo de segmentos
brasileiros. O aproveitamento racional e sus- de consumidores, a tendência é de cresci-
tentável das diferentes espécies nativas do mento desse mercado.
Brasil também tem sido uma importante ver-
O SPD já está presente em torno de 86% da
tente de ações governamentais, industriais
área agrícola brasileira de soja, milho (1a sa-
e de movimento sociais nos últimos anos. fra) e feijão (1a safra) (Federação..., 2014), au-
Além de alimentos in natura, fibras e resinas, mentando o acúmulo de carbono no solo70,
esta biodiversidade tem contribuído signifi- promovendo melhorias biológicas no solo
cativamente como matérias-primas de cos- e diminuindo o processo de erosão e asso-
méticos, perfumaria, essências, fragrâncias, reamento dos recursos hídricos. Além de ser
medicamentos, inoculantes e alta gastrono- uma prática conservacionista, o plantio dire-
mia. Novos nichos de mercados estão sen- to foi fundamental para que o País ampliasse
do organizados envolvendo produtores e o sua área de segunda safra, ao reduzir o tem-
setor agroindustrial, valorizando ainda mais po utilizado no preparo do solo.
a biodiversidade das espécies nativas, como
frutas, castanhas, palmito, peixes e recursos
florestais não madeireiros. Esses sistemas 70
Em média, lavouras de grãos cultivados sob plantio
deverão ter relevância crescente no processo direto registra-se, na região dos Cerrados, um acúmulo
de carbono no solo da ordem de 350 kg ha-1 ano-1, se-
de intensificação sustentável da agricultura questrado da atmosfera e que pode atingir 480 kg ha-1
brasileira nas próximas décadas. ano-1 na região sul do Brasil, numa profundidade de
20 cm (Bayer et al., 2006; Freitas et al., 2007).
77
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
A FBN é a principal fonte de nitrogênio da agri- Plantios florestais com espécies nativas e
cultura brasileira e contribui para diminuir a exóticas (homogêneos ou integrados) têm
importação de fertilizantes, hoje responsá- fortalecido o processo de intensificação
vel pelo atendimento de 76% da demanda sustentável da produção florestal brasilei-
doméstica, e com projeções de atingir 83% ra. A produtividade das florestas plantadas
em 2025 (Associação Nacional para Difusão no Brasil é superior a do restante do mun-
de Adubos, 2017). A FBN tem melhorado as do. O País contribui anualmente com 17%
propriedades físicas, químicas e biológicas de toda a madeira colhida mundialmente,
do solo, resultando em maior produtividade, com uma área equivalente a 3% da área
menor impacto ambiental e maior economia mundial de florestas plantadas (Moreira et
para o produtor. al., 2017). Esses altos níveis de produtivida-
de estão associados ao melhoramento ge-
De fato, o uso de microrganismos em prol da
nético e aos tratamentos silviculturais que
agricultura continua em ascensão. Na produ-
foram desenvolvidos para determinadas
ção de cana-de-açúcar, destaca-se o uso de
finalidades e regiões brasileiras. Nas pró-
bactérias diazotróficas e de fungos arbuscu-
ximas décadas, a inovação tecnológica da
lares micorrízicos, além de bactérias promo-
silvicultura de espécies nativas e exóticas
toras de tolerância à seca. O uso crescente de
terá papel de grande relevância para apoiar
pastagens consorciadas de gramíneas com
a solução dos passivos ambientais de Re-
leguminosas será essencial para viabilizar a
servas Legais decorrentes dos Programas
intensificação dos sistemas de produção, re-
de Regularização Ambiental (PRA) dos esta-
duzir a pegada ambiental da pecuária a pas-
dos e dos Planos de Recuperação de Áreas
to e liberar áreas para expansão da produção
Degradadas e Alteradas (Prada) dos mais
de alimentos, fibras e bicombustíveis. Além
de 5 milhões de propriedades rurais do
disso, há tendência crescente do uso de mi-
Brasil. Também haverá tendência de ocu-
crorganismos associados a plantas por seu
pação de áreas de pastagens degradadas
potencial na recuperação de áreas degrada-
liberadas pela intensificação da produção
das, na redução da emissão de GEE, na dimi-
pecuária para crescimento da silvicultura
nuição de riscos de contaminação do solo e
visando à produção de fibras e à agroener-
da água e no uso racional de insumos.
gia (Plano..., 2012).
O manejo integrado e o controle biológi-
Tem tido destaque o uso da biodiversidade
co de pragas e doenças na agricultura têm
brasileira no extrativismo vegetal. Apenas em
sido fortalecidos, visando minimizar os
2016 foram registrados mais de 30 produtos
atuais níveis de utilização de agrotóxicos.
extrativos não madeireiros sendo explorados
Métodos de controle racional são desen-
comercialmente. Essas atividades geraram
volvidos com objetivo de reduzir impactos
praticamente R$ 1,9 bilhão, derivados de
ambientais e minimizar os resíduos nos ali-
mais de 1,110 milhão de toneladas de produ-
mentos, melhorando com isso a qualidade
to não madeireiro (Figura 25) (Boletim SNIF,
de vida do produtor rural e do consumidor.
2017).
Esse conjunto de práticas e processos ino-
vadores terá relevância crescente na transi-
ção dos sistemas de produção atuais para
uma agricultura mais sustentável no Brasil.
78
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
79
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
80
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
alimentos, fibras, energia, e outros recursos, vem de produção (Fidalgo et al., 2017). Destaca-se o
crescendo rapidamente no Brasil e no mundo, ul- Programa Produtor de Água da Agência Nacional
trapassando em muitos casos a capacidade dos de Águas (ANA), que atua em diversos biomas
ecossistemas de fornecê-los. Sendo assim, são brasileiros, cujo foco são os serviços ecossistê-
necessários instrumentos de incentivo à conser- micos hídricos (Santos et al., 2010). O Plano ABC
vação e manutenção dos serviços ecossistêmi- também contempla e menciona a provisão e a
cos, tais como pagamentos pela sua prestação. manutenção dos serviços ecossistêmicos, a partir
das práticas conservacionistas previstas.
O pagamento por serviços ambientais (PSA) apre-
senta-se como um caminho promissor para a Diante disso, a pesquisa sobre o tema “serviços
proteção dos recursos do solo e da água. A noção ambientais” tem crescido em busca de respostas
de PSA surgiu no início dos anos 2000, a partir das para melhor avaliação dos serviços ecossistêmi-
críticas a políticas anteriores de gestão ambiental cos fornecidos pelos diferentes sistemas de pro-
nos países em desenvolvimento e devido à falta dução agropecuários, bem como pela paisagem
de eficiência dos projetos de desenvolvimento e rural onde esses sistemas se inserem, e também
conservação e aos limites ao uso dos mecanis- para a criação e o desenvolvimento de mecanis-
mos de comando e controle (Eloy et al., 2013). mos que incentivem a adoção pelos produtores
Essas críticas levaram à busca de outros mecanis- rurais de medidas que promovam esses serviços
mos econômicos para valorizar o fornecimento (Fidalgo et al., 2017).
dos serviços ecossistêmicos. Surgiram então os
mecanismos baseados no princípio poluidor-pa- A abordagem desses serviços é integradora, uma
gador (mercados ambientais) e no princípio pro- vez que foca na multifuncionalidade dos agroe-
vedor-recebedor, que é o caso do PSA. cossistemas e é importante para avaliar, simular
e valorar a real sustentabilidade dos sistemas de
Idealizado como instrumento de mercado na li- produção agrícolas e sua eficiência em múltiplas
teratura científica, na prática os PSAs combinam escalas, desde a propriedade rural até a paisagem.
mecanismos de mercado com regulamentação Permite valorizar o papel do homem que vive no
governamental e subsídios aos agricultores (Eloy campo como provedor de serviços ecossistêmi-
et al., 2013). Dentre os marcos regulatórios, desta- cos, podendo ainda contribuir para a agregação
ca-se o Novo Código Florestal (Brasil, 2012b), que, de renda no meio rural e para dar maior visibili-
em seu art. 41, menciona os serviços ambientais; dade à agricultura brasileira também no contexto
institui mecanismos para favorecer a geração des- internacional, onde esse tema tem sido bastante
ses serviços e a conservação dos ecossistêmicos; aplicado tanto na ciência como na tomada de de-
e destaca o papel da agricultura familiar ao esta- cisão e na elaboração de políticas públicas.
belecer que o pagamento ou incentivo a serviços
ambientais serão prioritariamente destinados a
esse grupo de produtores. Nesse contexto, muitas
Redução de perdas
iniciativas de pagamento por serviços ambien- e desperdício de
tais privilegiam os pequenos produtores rurais,
implantando mecanismos para compensar o
alimentos
desenvolvimento de práticas de conservação A FAO estima que cerca de 1/3 de todo o ali-
ou restauração dos ecossistemas naturais, como mento produzido no mundo seja desperdiça-
também o desenvolvimento de práticas de ma- do ou descartado. As perdas e desperdícios
nejo sustentável e conservacionista de sistemas de alimentos (PDAs) têm efeitos econômicos
81
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
82
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
A redução do desperdício de alimentos pode ter ◉◉ Recuperar áreas degradadas para uso agrí-
impacto na redução da pobreza, por possibilitar cola ou para fins de conservação ambiental,
maior acesso aos alimentos de parte da popula- por meio do desenvolvimento de tecnolo-
ção em situação de risco alimentar e igualmente gias e de políticas públicas.
melhoria da sua condição nutricional. Também
tem impacto na inserção produtiva de cooperati- ◉◉ Desenvolver indicadores e protocolos de
vas e associações na reciclagem de lixo orgânico, certificação socioambientais de propriedade
com potencial geração de emprego e renda para rurais, produtos e serviços.
milhares de desempregados. Em outra vertente, ◉◉ Intensificar avaliações, com base em indi-
há possibilidades de aproveitamento econômico cadores econômicos, sociais e ambientais,
de resíduos de processos agrícolas e agroindus- de sistemas de produção e manejo flores-
triais na elaboração de produtos de valor agre- tal (fins madeireiros e não madeireiros).
gado, além do desenvolvimento de produtos ou
tecnologias inovadoras que aumentem a conser- ◉◉ Aprimorar o desenvolvimento e o uso de
vação dos alimentos, mantenham sua qualidade. ferramentas gerenciais dos sistemas de
O comportamento dos consumidores tem gran- produção agrícola.
de impacto no entendimento de mudanças nos
◉◉ Implementar políticas públicas e programas
hábitos e padrões de consumo de alimentos, e é
que promovam a adoção de boas práticas agrí-
de fundamental importância em um país como
colas e o pagamento por serviços ambientais.
o Brasil, com grandes diferenças regionais e desi-
gualdade social (Porpino, 2016). ◉◉ Melhorar o manejo da irrigação de precisão,
por meio do uso mais eficiente da água, de
Desafios fertilizantes e defensivos e da utilização de
sistemas de informações geográficas.
◉◉ Melhorar a genética e o manejo animal para ◉◉ Ampliar a participação dos biocombustíveis
elevar a capacidade de conversão alimentar. sustentáveis e de outras fontes de energia re-
◉◉ Ampliar o uso de sistemas integrados e sus- nováveis na matriz energética brasileira.
tentáveis de produção agrícola, reduzindo ◉◉ Otimizar o aproveitamento de resíduos agrí-
riscos sociais, ambientais e econômicos. colas e o desenvolvimento de novos proces-
◉◉ Otimizar o uso de recursos hídricos na agri- sos de manejo e de utilização dos dejetos da
cultura irrigada na produção aquícola. produção animal.
◉◉ Reduzir perdas e desperdício de alimentos
◉◉ Fomentar pesquisas e difusão de conhecimen-
por meio do desenvolvimento de novas
tos para fortalecimento dos sistemas ILPF com
embalagens, técnicas de armazenamento,
foco nos diferentes biomas brasileiros.
manuseio, transporte, marco regulatório,
◉◉ Expandir o uso da FBN para maior número campanhas de conscientização, banco de
de espécies vegetais. alimentos e outras estratégias.
83
mudança do clima
84
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Com base em dados e simulações realizadas ano, o que representa menos de um quarto
em diversas regiões do globo, o quinto re- das emissões globais dos setores intensivos
latório do Painel Intergovernamental sobre no consumo de combustíveis fósseis, como
Mudanças Climáticas (Intergovernamental energia, transporte e indústria (Edenhofer
Panel On Climate Change – IPCC) destacou et al., 2014). O Brasil tem participado pró-a-
que o aquecimento global é inequívoco. tivamente na redução e melhoria das aná-
Desde 1950, são observadas mudanças sem lises dessas emissões e lançou, em 2016, a
precedentes no período de décadas ou milê- Terceira Comunicação Nacional do Brasil à
nios: a atmosfera e o oceano aqueceram, as UNFCCC com os dados do inventário de GEE
camadas de gelo e neve diminuíram e o nível como apoio ao IPCC, abrangendo os seguin-
dos oceanos subiu (Edenhofer et al., 2014). tes setores: energia, processos industriais,
Considerando que as emissões de GEE con- agricultura, uso da terra, mudanças de uso
tinuarão se elevando às atuais taxas, a tem- da terra e florestal e tratamento de resíduos
peratura do planeta poderá aumentar até 5,4 (National Communication of Brazil to the
°C até 2100. Em decorrência desse aumento, United Nations Framework Convention on
o nível do mar poderá ter elevação de até Climate Change, 2016).
82 cm e impactar grande parte das regiões
costeiras do globo. Para o Brasil e a América Em razão da vulnerabilidade natural dos
do Sul, os principais impactos previstos con- setores agrícola e florestal a flutuações de
sistem na extinção de habitat e de espécies, temperatura, precipitação e ventos, é pos-
principalmente na região tropical; substitui- sível inferir que esses setores serão, propor-
ção de florestas tropicais por savanas e de cionalmente, mais impactados pelos efeitos
vegetação semiárida por árida; aumento de da mudança do clima do que os setores in-
regiões em situação de estresse hídrico, ou tensivos em emissões. Análises e estudos em
seja, sem água suficiente para suprir as de- diferentes escalas estão sendo realizados em
mandas da população; e aumento de pragas todo o mundo com o objetivo de antecipar
em culturas agrícolas e de doenças, como, possíveis impactos na agricultura. No Brasil,
por exemplo, a dengue e a malária, além do a mudança do clima poderá diminuir a área
deslocamento e da migração de populações favorável aos cultivos de soja, café, milho,
(Plano Nacional de Adaptação à Mudança do arroz, feijão e algodão, podendo levar a um
Clima, 2016). prejuízo de R$ 7,4 bilhões já em 2020 (De-
conto, 2008). Essa mudança tem expressivo
A relação entre agricultura e mudança do cli- potencial de alterar a paisagem agrícola nas
ma, assim como ocorre com outros setores próximas décadas.
da economia, envolve um componente ati-
vo – a contribuição do setor agrícola, como Nesse contexto, a adaptação ganha relevân-
uma atividade econômica, relacionada às cia na medida em que evidências indicam
emissões de gases de efeito estufa – e um impactos positivos e/ou negativos nos siste-
componente passivo – representado pelo mas de produção. O Brasil vem assumindo
conjunto de efeitos que a mudança do cli- importantes compromissos internacionais
ma impõe sobre essa atividade econômica. visando à mitigação desses efeitos com me-
As emissões antrópicas de GEE pelo setor tas de redução da emissão de GEE até 2030.
de agricultura e florestal mundial correspon- No setor agrícola, a estratégia é fortalecer,
dem a cerca de 10-12 GtCO2 equivalente/ entre outros, a intensificação sustentável,
85
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
por meio da restauração de pastagens degra- 0,3 °C e 1,7 °C, de 2010 até 2100, enquanto
dadas e da implantação de sistemas de ILPF. aumento do nível do mar seria entre 26 cm
Parcerias público-privadas estão em franca e 55 cm. Esse cenário é considerado “mui-
expansão visando articular novas ações que to otimista” e tem sido preterido nas análi-
promovam a mitigação e a adaptação de sis- ses de projeção climáticas.
temas produtivos no País, com grande desta-
• O cenário RCP 4.5 supõe um armazena-
que para a Associação Rede ILPF72.
mento de 4,5 W/m2 e representa uma
estabilização das emissões de gases de
Vulnerabilidade, efeito estufa antes de 2100. Nesse caso,
adaptação e mitigação a temperatura terrestre aumentaria en-
tre 1,1 °C e 2,6 °C, e o nível do mar subiria
O Quinto Relatório de Avaliação do IPCC entre 32 cm e 63 cm. Esse cenário tem
propôs quatro novos cenários de níveis de sido um dos mais utilizados.
emissão denominados representative con-
centration pathways (RCPs) ou trajetórias re- • O cenário RCP 6.0 supõe o armazena-
presentativas de concentração. Os modelos mento de 6,0 W/m2 com estabilização
climáticos desenvolvidos buscam responder das emissões de gases de efeito estufa
como o clima se comportará em diversos logo após 2100. O aumento da tempera-
cenários de emissões, considerando suas tura terrestre estaria entre 1,4 °C e 3,1 °C,
interações e forçantes externas como o sol, e a elevação do nível do mar ficaria entre
aerossóis, gases, etc. O Plano Nacional de 33 cm e 63 cm.
Adaptação à Mudança do Clima (PNC) indica • O cenário RCP 8.5, considerado o mais “pes-
que cada cenário construído considerou inú- simista”, é caracterizado pelo aumento nas
meros fatores para suas projeções, destacan- emissões sem sua estabilização, ou seja, as
do a emissão de GEE, tipo e uso do solo e di- emissões continuam a crescer, bem como
ferentes tecnologias para geração de energia a concentração de gases de efeito estufa ao
(Plano Nacional de Adaptação à Mudança do longo do tempo. O aumento da temperatura
Clima, 2016). terrestre estaria entre 3,2 °C e 5,4 °C, e a ele-
• O cenário RCP 2.6 supõe que o sistema vação do nível do mar ficaria maior do que a
terrestre armazenará 2,6 watts adicionais do cenário RCP 6.0.
de energia por metro quadrado (W/m2) Contudo, o PNC destaca que nenhum modelo
e representa uma redução gradativa das numérico consegue simular com exatidão um
emissões de gases de efeito estufa, atin- evento climático futuro, pois existem incertezas
gindo emissão zero por volta de 2070. Os sobre as emissões, principalmente no que diz
processos de absorção de gases podem respeito à variação da oferta pluviométrica, à
superar as emissões em algum momento variabilidade natural do clima e à própria mo-
e, nesse caso, os aumentos esperados da delagem envolvendo os modelos globais, re-
temperatura média terrestre seriam entre gionais e de impactos. Essas incertezas fazem
parte das projeções de mudança do clima e,
72
A referida parceria público-privada nasceu em 2012,
como Rede de Fomento ILPF, e evoluiu até chegar ao
nesse sentido, é importante considerar os efei-
estágio de Associação Rede ILPF. Atualmente é com- tos das incertezas sobre a magnitude e/ou so-
posta pelas seguintes empresas: Cocamar, Dow AgroS- bre os padrões da mudança do clima.
cience, John Deere, Parker, Syngenta e Embrapa.
86
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Uma forma de aprimorar as análises seria mudanças extraídas das quatro simulações
elaborar ou utilizar conjuntos de simulações indicam o intervalo possível das mudanças
de modelos em diferentes cenários de emis- derivadas dessas simulações regionalizadas.
sões, preferencialmente os que levam a dife-
rentes aumentos projetados na temperatura Segundo a análise do PNC, em todos os cená-
média global, por meio dos quais os efeitos rios de emissão, projeta-se aquecimento para
de diferentes fontes de incerteza possam ser todo o continente. Os máximos de aquecimen-
analisados. As Figuras 26 e 27 mostram, por to se localizam na região Centro-Oeste, em to-
exemplo, as mudanças de temperatura e pre- das as estações do ano, e se estendem para as
cipitação para duas estações do ano (verão regiões Norte, Nordeste e Sudeste do País até
e inverno austral) em períodos de 30 anos, o final do século 21. Esses máximos de aqueci-
de 2011 a 2040, de 2041 a 2070 e de 2071 a mento médio no final do século podem variar
2100. O limiar inferior e o limiar superior das entre 2 °C e 8 °C em algumas áreas.
VERÃO INVERNO
Dezembro, janeiro e fevereiro Junho, julho e agosto
Figura 26. Projeções regionalizadas de mudanças da temperatura (°C) entre o presente e diferentes períodos futuros.
Fonte: Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (2016).
87
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
VERÃO INVERNO
Dezembro, janeiro e fevereiro Junho, julho e agosto
Figura 27. Projeções regionalizadas de mudanças na precipitação (mm/dia) entre o presente e diferentes períodos
futuros.
Fonte: Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (2016).
Esses cenários indicam a crescente vulnera- tos adversos da mudança climática, ou sua
bilidade dos sistemas agrícolas, que, associa- incapacidade de administrar esses efeitos,
da ao aumento da demanda mundial por ali- incluindo variabilidade climática (Mccarthy
mentos, água e energia, representa enorme et al., 2001).
desafio para a sustentabilidade da produção,
Estudo utilizando um cenário de aumento de
dos ecossistemas terrestres e aquáticos e dos
3 °C até 2050 (Plano Nacional de Adaptação
serviços à sociedade. A vulnerabilidade refe-
à Mudança do Clima, 2016) identificou que,
re-se ao grau de reação de um determinado
nessa situação, o Brasil teria como impacto o
sistema a uma mudança climática específica.
decréscimo de até 50% na produção agrícola
O IPCC define vulnerabilidade como o grau
até 2050 (Figura 28).
de suscetibilidade de um sistema aos efei-
88
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Sem dados
Figura 28. Evolução das safras para 2050 com acréscimo de mais 3 °C na temperatura média.
Fonte: Development... (2010).
Análise específica para o Brasil sugere que o (algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, feijão,
aumento de temperatura poderá provocar di- girassol, mandioca, milho e soja), juntamen-
minuição de regiões aptas para o cultivo dos te com pastagens e gado de corte. As simu-
grãos no País, gerando expressiva mudança lações foram feitas para os anos 2020, 2050
na paisagem agrícola. Possíveis exceções e 2070. Outros importantes resultados desse
apontadas seriam a cana-de-açúcar, que te- estudo podem assim ser sintetizados:
ria espaço para expansão da produção, e a
• Perdas na agropecuária chegariam a R$ 7,4
mandioca, que, apesar de perder espaço de
bilhões em 2020 e R$ 14 bilhões em 2070.
cultivo no Nordeste, poderia ser produzida
em outras regiões do País (Deconto, 2008). • A soja poderá ser a cultura mais afetada
Essas condições são válidas, se mantido o (no pior cenário chegaria a 40% de per-
princípio da inação, ou seja, nenhum esforço das em 2070).
de adaptação tanto tecnológico como gené-
tico seja feito no sentido de minimizar os im- • O café arábica poderá perder até 33% da
pactos do aquecimento na produção agríco- área de baixo risco em São Paulo e Minas
la. Foram considerados diferentes cenários, Gerais, apesar da possibilidade de au-
como: A2 (pessimista), que estima os impac- mentar sua área na região Sul do País.
tos com um aumento na temperatura global
• O milho, o arroz, o feijão, o algodão e o
entre 2 °C e 5,4 °C até 2100; e o B2 (otimista),
girassol poderão sofrer forte redução de
que estima os impactos de um aumento glo-
área de baixo risco no Nordeste, com sig-
bal entre 1,4 °C e 3,8 °C até 2100. Os impac-
nificativa perda da produção.
tos foram analisados para diferentes culturas
89
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
90
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Tabela 6. Potenciais impactos do cenário IPCC- AR4 na produtividade de culturas nas regiões Norte e Nordeste até 2040.
Região Região
Colheita Brasil
Nordeste Norte
Mandioca (Manihot esculenta) (↑) (↓) (↑)
Algodão (Gossypium hirsutum) (↓) (↓) (↓)
Café (Coffea arabica) (↓) (↓) (↓)
Feijão (Phaseolus vulgaris) (↓) (↓) (↓)
Feijão-caupi (Vigna unguiculata) (↓) (↓) -
Milho (Zea mays) (↓) (↓) (↑)
Abacaxi (Ananas comosus) (↓) (↓) (↓)
Banana (Musa spp.) ? (↓) (↓)
Cacau (Theobroma cacao) ? ? ?
Caju (Anacardium occidentale) ? ? ?
Coco (Cocos nucifera) ? ? ?
Palma (Elaeis guineensis) (↓) (↓) ?
Açaí (Euterpe oleracea) ? ? -
Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) (↓) (↓) -
Fonte: Mudança... (2016).
Com base nesse contexto de crescentes vul- No contexto da adaptação à mudança do cli-
nerabilidades, eleva-se a importância da ma, será cada vez mais demandado um con-
mitigação e adaptação dos sistemas produ- junto de ações para adaptação aos impactos
tivos agrícolas, pecuários e florestais. Nesse que já podem ser observados, como aquelas
sentido, no plano de ação de Bali, definido voltadas para o incremento da resiliência dos
na COP 13 – 13ª Conferência das Partes da sistemas produtivos. Será necessária a am-
Convenção-Quadro das Nações Unidas so- pliação do nível de compreensão acerca dos
bre Mudança do Clima, Bali, em 2007, foram desafios impostos pela mudança do clima, a
propostas algumas ações, as quais podem implementação de um sistema de monitora-
assim ser resumidas (Motta et al., 2011, p. 13): mento e avaliação robusta de todos os be-
nefícios e cobenefícios vinculados à adoção
• compromissos e metas mais ambiciosos por par-
dessas boas práticas, ambientais, sociais,
te dos países desenvolvidos, que poderiam alme-
biológicas e agronômicas, além da coleta,
jar reduções de até 40% em 2020 e 80% em 2050;
processamento e distribuição adequada des-
• contribuições voluntárias, na forma de ações, sa informação para atores interessados, para
visando à redução no aumento previsto das a sociedade civil e para tomadores de deci-
emissões dos países em desenvolvimento, são tanto em âmbito local, quanto nacional.
as quais sejam monitoráveis, comunicáveis
No contexto das tratativas do Subsidiary
e verificáveis (MRV); e Body for Scientific and Technological Advi-
• aporte de recursos por parte dos países em ce (SBSTA), órgão de assessoramento téc-
desenvolvimento para financiamento des- nico-científico da COP 23 – 23ª Conferên-
sas contribuições voluntárias e assistência cia das Partes da Convenção-Quadro das
em ações de adaptação. Nações Unidas sobre Mudança do Clima,
91
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
92
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Tabela 7. Processo tecnológico, compromisso nacional relativo (aumento da área de adoção ou uso) e potencial de
mitigação por redução de emissão de GEE (milhões de Mg CO2 eq).
Compromisso Potencial de Mitigação
Processo Tecnológico
(aumento de área) (milhões Mg CO2 eq)
Recuperação de Pastagens Degradadas(1) 15,0 milhões ha 83 a 104
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (2)
4,0 milhões ha 18 a 22
Sistema Plantio Direto (3)
8,0 milhões ha 16 a 20
Fixação Biológica de Nitrogênio (4)
5,5 milhões ha 10
Florestas Plantadas (5)
3,0 milhões ha -
Tratamento de Dejetos Animais (6)
4,4 milhões m3
6,9
Total - 133,9 a 162,9
Notas: 1 Por meio do manejo adequado e adubação. Brase de cálculo foi de 3,79 Mg de CO2 eq.ha-1 ano -1.
2
Incluindo Sistemas Agroflorestais (SAFs). Base de cálculo foi de 3,79 Mg de CO2 eq.ha-1ano -1.
3
Base de cálculo foi de 1,83 Mg de CO2 eq.ha-1 ano -1.
4
Base de cálculo foi de 1,83 Mg de CO2 eq.ha-1 ano -1.
5
Não está computado o compromisso brasileiro relativo ao setor de siderurgia; e não foi contabilizado o po-
tencial de mitigação de emissão de GEE.
6
Base de cálculo foi de 1,56 Mg de CO2 eq.m-3.
Fonte: Plano...(2012).
93
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
74
Disponível em: <https://www.embrapa.br/web/rede-
-ILPF>.
75
Disponível em: <http://www.mdic.gov.br>.
94
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Desafios
◉◉ Desenvolver métricas de sustentabilida-
◉◉ Fortalecer a governança da política na-
de que considerem a complexidade da
cional de mudança do clima, por meio
agricultura tropical e sejam baseadas
de análises e estudos sobre indicadores
em critérios técnico-científicos robustos.
de avaliação econômica, social e am-
biental. ◉◉ Ampliar o desenvolvimento de novos
sistemas de mineração de dados e mé-
◉◉ Desenvolver tecnologias de adaptação
todos analíticos para análises e suporte
e mitigação dos efeitos da mudança do
à tomada de decisão pública e privada.
clima.
◉◉ Estruturar, de forma integrada, análises
◉◉ Reduzir as emissões de GEE, tendo
multivariadas de risco climático capazes
como base a inovação tecnológica e a
de antecipar necessidades e demandas,
ampliação da adoção das boas práticas
de forma a viabilizar a gestão de priori-
agrícolas.
dades nos âmbitos mesorregional, esta-
◉◉ Desenvolver métodos científicos que dual e nacional.
assegurem a viabilidade técnica e finan-
◉◉ Reduzir o input energético dos sistemas
ceira para a geração de dados de base
produtivos agrícolas e substituir fontes
para o processo de MRV (mensuração,
de carbono fóssil por fontes renováveis.
comunicação e verificação – sigla em
inglês para Measurement, Reporting and ◉◉ Intensificar esforços na modelagem e na
Verification). construção de cenários de risco climáti-
co, visando apoiar a definição de estraté-
◉◉ Ampliar o alinhamento e a atuação na-
gias de minimização dos impactos cau-
cional em negociações de compromis-
sados pela mudança do clima.
sos internacionais propostos e assumi-
dos pelo País e que dialoguem com o ◉◉ Disponibilizar informações estratégicas
modelo e a vocação do desenvolvimen- do clima, por meio de plataformas ati-
to agrícola brasileiro. vas, de fácil uso, acessíveis via múltiplas
mídias.
◉◉ Desenvolver sistemas de produção ani-
mal e vegetal, considerando caracterís- ◉◉ Remunerar os produtores rurais pelos
ticas regionais, o uso racional, a substi- serviços ambientais prestados com foco
tuição de insumos e os novos cenários na redução das emissões de GEE e oferta
climáticos. de água.
◉◉ Aumentar a eficiência de processos pro-
dutivos agrícolas e a redução de impac-
tos ambientais.
95
riscos na
agricultura
96
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
97
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
e estão fazendo, portanto, uma gestão inte- mundial; a política econômica, em particular
grada do risco. Por isso é possível afirmar que a política cambial e fiscal; o contexto político
a gestão do risco é inseparável da gestão da e institucional; a situação fiscal e os indica-
produção agrícola, especialmente no Brasil, dores sociais, particularmente os do meio ru-
pela sua dimensão continental, pela grande ral. Deve-se ter claro que o desempenho eco-
diversidade socioeconômica dos produtores nômico e social da agricultura é determinado
rurais e pela diversidade agronômica dos sis- pela combinação do conjunto de fatores aqui
temas de produção vegetais e animais. indicados e do conjunto de riscos que têm
impacto significativo sobre os resultados do
Perdas econômicas setor. Eventos climáticos, por exemplo, po-
dem determinar perdas relevantes na produ-
Estudo realizado em 48 países em desenvol- ção, queda das exportações, redução da ocu-
vimento indica que 25% dos danos advindos pação direta e indireta, maior volatilidade na
de desastres naturais ocorridos entre 2003 e produção e renda dos produtores, elevação
2013 recaíram sobre a agropecuária, causan- de preços para os consumidores e inseguran-
do prejuízos de US$ 70 bilhões nessas ativi- ça alimentar. Impõe-se, assim, o desafio de
dades (The impact..., 2015). Estima-se que viabilizar tecnologias inovadoras que garan-
44% dessas perdas foram causadas por seca tam a produção de alimentos em um cenário
e 39% por enchentes. Associados a essa con- global de riscos crescentes, forte pressão so-
dição, destaca-se que, atualmente, 75% dos bre o recurso água, além de exigências cres-
alimentos do mundo são gerados a partir de centes por segurança do alimento e redução
doze espécies de plantas e cinco espécies de de impactos ambientais e sociais do proces-
animais (FAO, 2016), tornando o sistema ali- so produtivo (Schwab, 2015). A conjunção
mentar global altamente suscetível aos riscos sincronizada desses riscos poderia levar a
inerentes à atividade agrícola, como pragas e uma crise mundial de alimentos.
doenças em animais e plantas, e agravados
Dada a importância da agricultura para a
pelos efeitos da mudança do clima. No Bra-
economia brasileira e a expectativa de inten-
sil, análises evidenciam perda anual próxima
sificação de eventos que aumentam os riscos
de R$ 11 bilhões (1% do PIB agrícola) devido
associados à produção agrícola, a gestão dos
a eventos extremos (Arias et al., 2015). O fato
riscos é tema estratégico para o Brasil. O País
de a maior parte da produção agropecuária
já dispõe de políticas e programas de gestão
nacional situar-se na faixa tropical indica a
de risco para sua agricultura, mas são vários
necessidade premente de sofisticação nas
os indicativos de que é necessário aumentar
práticas de gestão de risco. Considerando
a eficiência e a efetividade desses mecanis-
que a mudança do clima em âmbito global já
mos. Para responder ao crescente número
é perceptível pela intensificação de estresses
de riscos e perigos, é preciso ampliar a ca-
térmicos, hídricos e nutricionais nos sistemas
pacidade de antecipar futuros possíveis para
produtivos, pode-se afirmar que a agricultura
a agricultura brasileira, de realizar escolhas
brasileira é uma "ilha em um mar de riscos".
inteligentes e planejar trajetórias futuras, de
Também é relevante entender os fatores ma- forma cada vez mais sofisticada e compe-
croeconômicos que afetam o desempenho tente (Lopes, 2017). O País não pode mais
da agricultura brasileira, destacando: a traje- prescindir de um planejamento estratégico e
tória e a conjuntura da economia nacional e de maior estabilidade para o setor – avanços
98
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
que garantam atenção destacada à gestão de no tempo a oferta agrícola. Observa-se ainda
riscos, ao uso de sistemas de inteligência es- que o risco de preço também está associado
tratégica para orientar o desenvolvimento ru- à própria organização do negócio, em parti-
ral sustentável, além da incorporação de co- cular às fontes e modalidades de financia-
nhecimentos e tecnologias para a mitigação mento utilizadas. A utilização de capital de
e a adaptação a situações de risco e de ga- terceiros na estrutura de capital do negócio,
nhos de resiliência nos sistemas produtivos. mediante captação de empréstimos bancá-
A seguir, são apresentadas reflexões acerca rios, introduz o risco relativo à alavancagem
do imenso desafio que é a gestão integrada financeira na atividade, e este está associa-
de riscos na agricultura e de como o Brasil do às oscilações não desejáveis das taxas de
terá de enfrentá-los ao longo dos próximos juros e de câmbio e à possibilidade da não
anos, de forma compatível e coerente com renovação dos empréstimos (Hardaker et al.,
sua condição de grande potência agrícola e 2004). O risco do ambiente institucional, por
grande provedor de alimentos para o mundo. sua vez, tem base na possibilidade de altera-
ções não previstas em leis/regulamentações
Riscos associados em certa região ou ainda em mudanças do
marco regulatório que rege a economia na-
Os riscos relativos à agricultura podem ser cional e o comércio mundial.
classificados em duas categorias. A primeira
Com base na origem dos riscos e na inci-
leva em conta as origens dos fatores de risco,
dência sobre os diferentes agentes e níveis
enquanto a segunda considera a natureza do
de agregação, uma classificação alternativa
risco (IBGC, 2007). Sob a análise das origens,
tem sido apresentada e discutida (Arias et al.,
os fatores geradores de risco são separados
2015): a) riscos de produção; b) riscos sanitá-
em externos e internos ao processo produti-
rios; c) riscos de gestão dos recursos, em es-
vo. Em relação à natureza, os riscos são clas-
pecial dos recursos naturais; d) riscos de cré-
sificados em três grandes grupos: risco de
dito e comercialização; e) riscos relacionados
produção, risco de mercado e risco do am-
ao mercado externo; f) riscos decorrentes da
biente de negócios. Enquanto o risco de pro-
infraestrutura; g) riscos do ambiente institu-
dução está associado à possibilidade de o
cional relacionados a direitos de proprieda-
volume produzido planejado não se efetivar
de mal definidos, mudanças nas regras de
devido à ocorrência de um evento climático,
comércio e mudanças nas regras relaciona-
de incidência de doença ou praga ou ainda
das à própria produção.
de falhas operacionais, o risco de mercado se
deve basicamente ao grau de variabilidade Um exemplo de como o ambiente econômi-
dos preços dos insumos, dos produtos agrí- co pode causar impactos nos riscos são as
colas, da taxa de câmbio e da taxa de juros. mudanças na política macroeconômica, as
Esse tipo de risco possui destaque na agri- quais incidem diretamente sobre a taxa de
cultura devido a dois fatores, que restringe o juros e sobre o acesso ao crédito e sua dis-
tempo e eleva o custo para a comercialização ponibilidade e custo. Outros riscos, como
do bem: 1) perecibilidade de boa parte dos aqueles associados a eventos climáticos ex-
produtos; 2) custos associados ao carrega- tremos, podem ocorrer tanto em uma área
mento temporal do produto, isto é, ao arma- bastante específica, atingindo apenas al-
zenamento necessário para desconcentrar guns produtores individuais, como alcançar
99
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
100
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
101
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
cos. Com base nessas dimensões, é possível Entre os atuais programas e políticas públicas
segmentar os riscos da seguinte forma: mais importantes relacionados aos três grupos
de riscos agropecuários (produção, mercado
• Riscos frequentes, os quais ocasionam per-
e ambiente de negócios) citam-se os seguin-
das pequenas. São os riscos normais do
tes: o Zarc, a Subvenção ao Prêmio do Seguro
negócio, em geral assumidos pelos próprios
Rural (PSR), o Programa de Garantia da Ativi-
produtores, que fazem a gestão usando ins-
dade Agropecuária (Proagro), o Programa de
trumentos disponíveis no estabelecimento
Garantia de Preços para a Agricultura Familiar
ou acessando políticas públicas gerais.
(PGPAF) e o Programa de Incentivo à Irrigação e
• Riscos cuja frequência e impacto não po- à Armazenagem (Moderinfra).
dem ser negligenciados e nem assumidos
No entanto, o País possui quase 17 mil quilô-
pelos próprios produtores, que buscam
metros de divisas terrestres, grande parte em
proteção em instrumentos específicos de-
florestas nativas, mais de 7.300 km de fron-
senhados para transferi-los, via operações
teiras marítimas e um espaço aéreo superior
de mercado, para terceiros.
a 8 milhões de quilômetros quadrados. É
• Riscos que, mesmo tendo uma frequên- fundamental interpretar e tratar os riscos na
cia pequena, geram grandes perdas, por escala do território, considerando a diversi-
isso são classificados como catastrófi- dade e a complexidade de relações e intera-
cos, os quais não podem ser assumidos ções no espaço rural brasileiro (Lopes, 2017).
pelos produtores e, portanto, justificam- Além disso, apresenta lacunas que restrin-
-se ações governamentais. gem uma adequada gestão do risco. Quando
analisadas as principais políticas públicas
O Brasil já conta com um conjunto de políticas, para a gestão dos riscos considerados (cli-
programas e instrumentos que contribuem ma e incêndio, sanidade animal, sanidade
para reduzir os efeitos negativos que os riscos vegetal, crédito e comercialização, comércio
causam aos produtores rurais e à sociedade exterior, logística e marco regulatório), fica
consumidora. Esse conjunto abrange as várias evidente que, em sua maioria, são dedica-
dimensões, incluindo a mitigação76, a trans- das à estratégia da mitigação, com menor
ferência77 e a resposta78, as quais beneficiam participação das estratégias de transferência
diferentes atores do setor, ou seja, agricultores e resposta. Se, por um lado, ambas as ques-
familiares, produtores médios e empresariais. tões (diversificação das estratégias de gestão
e complexidade da gestão) são um entrave
76
Ações que acontecem antes da outra (ex ante) para pre- para o desenvolvimento do setor agropecuá-
venir, reduzir ou eliminar a ocorrência de eventos/impactos
econômicos negativos à produção agropecuária. Alguns
rio e, consequentemente, do País, por outro
exemplos incluem os seguintes: sistemas de informação lado, representam uma oportunidade que
(zoneamentos), de drenagem e de irrigação; melhoramento transcende o setor agrícola, gerando “novos”
genético preventivo; e práticas conservacionistas.
77
Ações para transferir o risco a uma terceira parte com negócios, a exemplo da assistência técnica e
custo (prêmio), por exemplo, seguros, resseguros e co- da tecnologia da informação, que, além de
berturas de preço.
78
Ações realizadas durante ou depois do evento (ex post), a
contribuírem para reduzir a volatilidade e as
fim de reconstruir ou compensar perdas ocasionadas pela perdas no setor agrícola, contribuirão para a
sua ocorrência. Elas incluem, entre outras, o apoio emergen- geração de receita fiscal.
cial concedido aos produtores para reestruturação de dívidas
e/ou reconstrução de infraestrutura produtiva.
102
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Não obstante esse aspecto, as perspectivas ças nos preços e na produtividade podem
futuras sinalizam que o uso crescente de afetar significativamente a sustentabilidade
novas tecnologias na agricultura aumentará econômico-financeira dos negócios agríco-
ainda mais o risco econômico, na medida las. Assim, cada vez mais os riscos agrícolas
em que, apesar de controlarem variáveis am- requerem entendimentos inovadores no seu
bientais e mitigarem o risco da produção, exi- processo de gestão, com o envolvimento de
gem grandes investimentos e maior inserção diferentes estratégias, instrumentos, riscos
dos produtores nos circuitos financeiros. Em e atores, a exemplo do indicado pelo Banco
um contexto como esse, pequenas mudan- Mundial (Arias et al., 2015) (Figura 29).
103
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Instrumentos
Investimento
Assistência
Técnica
Políticas
Atores Setoriais
Riscos Produtores
Estratégias
Rurais
Produção Setor Privado Mitigação
104
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
estabilidade da renda do produtor rural, melhor previsibilidade do manejo e o uso mais efi-
regularidade no fornecimento de matérias-pri- ciente dos recursos naturais e insumos na
mas para os setores agroindustriais e redução nos produção animal e vegetal.
custos dos produtos das cadeias agroalimentares
para os consumidores. ◉◉ Intensificar ações que visem aumentar a previ-
sibilidade da ocorrência de pragas e doenças.
Assim, a gestão integrada deve considerar ini-
cialmente: a) geração e transferência de tecno- ◉◉ Preservar a diversidade genética por meio da
logias; b) transferência de riscos agropecuários; coleta, manutenção e caracterização de ban-
c) planejamento integrado da logística agrícola cos de germoplasma.
e de investimentos em infraestrutura rural; d) ◉◉ Fortalecer articulações público-privadas e
integração de ferramentas de gestão de risco público-públicas para prover sistemas de
climático na gestão dos recursos naturais; e) gestão integrada de riscos na agricultura.
integração de riscos do setor às iniciativas de
promoção e monitoramento do comércio ex- ◉◉ Fortalecer o sistema de defesa sanitária agro-
terior. À medida que essas ações iniciais forem pecuária e de pesquisa para reduzir os riscos
sendo implementadas, será possível explorar sanitários animais e vegetais, os estresses
soluções mais complexas. bióticos e abióticos e os impactos de eventos
climáticos.
105
AGREGAÇÃO DE
VALOR NAS CADEIAS
PRODUTIVAS AGRÍCOLAS
106
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
107
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
108
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
O Brasil, apesar de ter saído do mapa da fome Por sua vez, verifica-se um mercado de ali-
em 2014, ainda conta com milhões de pes- mentos cada dia mais dinâmico e inovador,
soas que não têm acesso regular ao alimento mas que, de alguma forma, também busca
e, assim como nos outros países, também atender a demandas originadas pela baixa
apresenta um quadro de deficit nutricional e qualidade das dietas. O mundo globalizado,
incidência de doenças crônicas relacionadas caracterizado pela aproximação dos merca-
à baixa qualidade da dieta. dos, permite o acesso a produtos alimen-
tícios de diferentes origens, assim como a
informações sobre eles. A globalização e o
aumento da capacidade de consumo, asso-
As tendências atualmente ciados ao estilo de vida moderna, influen-
observadas no segmento ciam os hábitos alimentares das diferentes
camadas da população. As tendências atual-
agroalimentar são mente observadas no segmento agroalimen-
decorrentes de fatores como tar são decorrentes de fatores como a urba-
a urbanização crescente, nização crescente, o aumento da expectativa
de vida, as novas relações de trabalho e a
o aumento da expectativa rapidez no acesso à informação, entre outros
de vida, as novas relações (Les 10..., 2017).
109
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
trado no País, com 34% dos consumidores (22%), aparece a tendência “sensorialidade e
brasileiros (Figura 30). Trata-se de um seg- prazer”, na qual os consumidores priorizam o
mento motivado pelo ritmo de vida nos cen- sabor e as características sensoriais do pro-
tros urbanos, onde a demanda por produtos duto. Nesse grupo, também se encontram
que permitam economia de tempo e esforço aqueles consumidores com renda um pouco
são a prioridade. A tendência “confiabilidade superior, que valorizam produtos gourmet,
e qualidade” é um pilar que orienta ou deter- especiarias regionais e pagam preços mais
mina as escolhas e a fidelização dos consu- altos por produtos inovadores. E, por fim, no
midores desse grupo (23%), que estão mais Brasil observa-se a fusão entre duas tendên-
conscientes e informados e valorizam pro- cias observadas nos estudos internacionais –
dutos seguros e de qualidade atestada, com saudabilidade e bem-estar e sustentabili-
garantia/certificação de origem e selos de dade e ética –, com 21% dos consumidores
qualidade. Com quase o mesmo percentual (Figura 30).
21%
Conveniência e praticidade
34%
Confiabilidade e qualidade
Sensorialidade e prazer
110
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Individualmente, essas tendências não estão São demandados tanto produtos frescos que
consolidadas no Brasil, e as duas estão atre- aportem conteúdos relevantes de nutrientes
ladas à atitude do consumidor. O que mais se e compostos antioxidantes, quanto os produ-
destaca nesse grupo é a busca por alimentos tos direcionados a dietas especiais. Para isso,
saudáveis, que possam trazer algum benefício têm sido desenvolvidos produtos com con-
à saúde, entre os quais se podem destacar: teúdo reduzido de substâncias que possam
[
...] produtos benéficos à saúde em diferentes as- causar danos à saúde quando consumidas
pectos, tais como físico, mental, cardiovascular e em excesso, como o sal (condimentos cria-
gastrointestinal; produtos para dietas específicas tivos), o açúcar (sucos mistos integrais) e as
e alergias alimentares; produtos isentos ou com
teores reduzidos de sal, açúcar e gorduras; produ- gorduras (molhos), ou, ainda, produtos isen-
tos com aditivos e ingredientes naturais; produtos tos de substâncias alergênicas (massas ali-
fortificados; produtos diet/light; produtos para es-
portistas; produtos à base de plantas; entre outros mentícias baseadas em leguminosas). Nessa
(Moraes, 2010, p. 45). mesma linha, um desafio é o desenvolvimen-
to de substitutos naturais para o açúcar, o sal
Quase uma década após a divulgação des- e os corantes alimentícios (Food..., 2016).
ses estudos, os segmentos relacionados à
saudabilidade e bem-estar continuam em Em paralelo, buscam-se oferecer alimentos
crescimento constante e vêm se firmando enriquecidos ou combinações de matérias-
como uma tendência consolidada no Brasil -primas e ingredientes na forma de produtos
e no mundo. O mercado global de alimen- com propriedades benéficas para a nutrição
tos funcionais, por exemplo, vem ampliando e a saúde, tais como biofortificados, bebidas
consideravelmente (em 2015, esse mercado mistas, prebióticos e probióticos, bioativos
girou em torno de US$ 130 bilhões, com uma micro e nanoencapsulados, etc.
projeção de crescimento de 92% em 10 anos)
A pesquisa e o desenvolvimento com foco no
(Grand View Research, 2017).
aumento da produtividade devem ser incen-
No horizonte para 2050, verifica-se uma in- tivados, uma vez que as estimativas da FAO
tensificação dessas tendências, associadas indicam que é necessário aumentar em 60%
às novas tecnologias, como, por exemplo, o a produção de alimentos básicos no mundo
controle do alimento ingerido por meio de até 2050, porém deve-se também aumentar o
aplicativos de telefones celulares, a aceita- investimento em pesquisas relacionadas à pro-
ção de comidas “feitas sob demanda”, como dução e à qualidade de frutas, hortaliças, grãos,
o alimento impresso em 3D, que represen- frutos secos e alimentos de origem animal. A
tam uma “personalização” do alimento, as- pesquisa deve englobar o sistema alimentar
sim como o avanço no conhecimento da como um todo, desde a produção agrícola até
microbiota humana e o uso da nutrigenô- a obtenção de alimentos prontos para consu-
mica. Ainda na linha da “personalização” ou mo e que propiciem dietas de alta qualidade.
“individualização” do alimento, verifica-se
Alimentos de qualidade poderão ser obtidos
o crescimento dos mercados de nicho, que
por meio do uso de técnicas moleculares de
atendem a demandas específicas dos consu-
edição de genoma como o CRISPR [Cluste-
midores, em paralelo à redução de mercados
red Regularly Interspaced Short Palindromic
das grandes marcas produtoras de alimentos
Repeat], que poderá contribuir para a obten-
(Moreira, 2016).
ção de matérias-primas agropecuárias com
maior valor nutricional, isenta de compostos
111
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
112
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
e processos, que podem ter um impacto po- Além disso, biossensores têm sido fabricados
sitivo tanto no desenvolvimento de novos com a imobilização de enzimas e outras pro-
produtos, como na agregação de valor a pro- teínas, com alta sensibilidade, pois são ex-
dutos agropecuários. ploradas interações específicas de reconhe-
cimento molecular.
A nanotecnologia permite o conhecimento
da composição, manipulação, otimização A aplicação industrial se desdobra ainda na
de propriedades e também a descoberta indústria de insumos (fertilizantes, pestici-
de novas propriedades da matéria na esca- das), de medicamentos para uso veterinário,
la nanométrica, ou seja, em escala atômica além de setores relacionados ao processa-
e molecular. Assim, a nanotecnologia pode mento e à conservação de alimentos – como,
ser usada também para explorar melhor as por exemplo, pela aplicação de novas gera-
propriedades de vegetais, microrganismos, ções de embalagens inteligentes. As aplica-
enzimas, animais, resíduos e produtos agro- ções não se limitam a essas áreas, porém a
pecuários em geral, permitindo a melhoria característica convergente da nanotecnolo-
do desempenho de suas propriedades ou gia requer atuação multi e transdisciplinar,
descoberta de novas propriedades, funcio- com potencial para fomentar um grande con-
nalidades e aplicações dessas para o desen- junto de cadeias de inovação associadas ao
volvimento de novos produtos com valor produto agropecuário.
agregado. Entre as aplicações, destacam-se,
por exemplo, a extração de nanocelulose de Há um grande interesse mundial no desenvolvi-
resíduos de vegetais, que pode atingir valor mento de tecnologias inseridas no conceito de
agregado cerca de 100 a 1.000 vezes maior, “química verde” que possibilitem a utilização
com propriedades únicas que possibilitam o de produtos de menor impacto ambiental. Na
desenvolvimento de novos produtos, como busca por processos químicos e produtos que
embalagens biodegradáveis, sensores de levem a um ambiente mais limpo, saudável e
alta sensibilidade, filtros de separação e adi- sustentável, destaca-se a aplicação de recur-
tivos para a indústria química. sos naturais na preparação de novos materiais.
Questões relevantes como a biodegradabilida-
No ganho específico de valor dos produtos de e o uso de fontes renováveis são considera-
agrícolas, a nanotecnologia abre possibili- das primordiais para garantir a preservação am-
dades para habilitar ou facilitar processos de biental e proporcionar melhor padrão de vida
rastreabilidade, na qualidade e certificação à sociedade. Nesse contexto, os compósitos
de produtos agrícolas e ainda no monitora- biodegradáveis, produzidos a partir de produ-
mento ambiental, através de novas classes tos e subprodutos agropecuários, têm atraído
de sensores. A nanotecnologia aplicada ao o interesse de muitos pesquisadores. A nano-
desenvolvimento de sensores já demonstrou, tecnologia permite aplicar em novos produtos
por meio dos resultados da língua eletrônica, conceitos associados ao comportamento da
que pode contribuir para avanços da análise matéria em dimensões próximas à dimensão
sensorial e do monitoramento da qualidade atômica. É uma área portadora de futuro, que
de produtos agropecuários, tais como ali- tem se destacado pela imensa permeabilidade
mentos, bebidas, óleos e biocombustíveis, e convergência em áreas relacionadas, desde a
além de permitir a detecção de contaminan- física e a química até a biologia e a agronomia.
tes orgânicos e inorgânicos em solo e água.
113
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
114
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
115
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
116
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
de recursos de fontes fósseis, reduzindo o im- plantas geneticamente modificadas para uti-
pacto sobre a biodiversidade e sobre o meio lização industrial).
ambiente, além de ampliar o crescimento
econômico. No Brasil, estudos do Ministério de Minas
e Energia (MME), da Empresa de Pesquisa
Estudos conduzidos por organizações da UE Energética (EPE), do Banco Nacional de De-
e dos EUA, como a OECD e a FAO, estimam senvolvimento (BNDES) e do Centro de Ges-
que a substituição de fontes fósseis por fon- tão e Estudos Estratégicos (CGEE) – organi-
tes renováveis poderia levar à redução nas zação social supervisionada pelo Ministério
emissões de cerca de 2,5 bilhões de tonela- da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) –
das de CO2 eq. por ano, até 2030. Essa poten- mostram que as principais biorrefinarias se
cial redução vem estimulando a produção e destacam pela produção de biocombustíveis
o consumo de produtos de base biológica, (etanol e biodiesel), de papel e celulose e, em
expandindo o mercado e os empregos asso- menor extensão, de químicos. Considerando
ciados. Para acompanhar esse aumento da biocombustíveis e papel/celulose, a situação
demanda, há necessidade de diversificar ma- do Brasil é relativamente confortável, mas
térias-primas, conhecer suas características, em relação aos químicos o Brasil tem deficit
ter processos para sua conversão e conhecer comercial da ordem de US$ 30 bilhões. Isso
os produtos de base biológica que elas per- se deve ao fato de a produção de químicos a
mitem gerar com os processos que domina- partir de biomassa no País ainda estar na fase
mos hoje. de desenvolvimento de rotas tecnológicas,
principalmente para álcoois, polióis e éteres.
A bioeconomia europeia movimenta mais
de 2 trilhões de euros por ano e emprega Ao analisarmos a atual estrutura das biorre-
mais de 22 milhões de pessoas. Ainda assim finarias nacionais, fica óbvia a pouca flexibi-
enfrenta grandes desafios técnicos e cien- lidade para adoção de múltiplas biomassas,
tíficos. As principais frentes exploradas nas o que dificulta a diversificação de produtos
biorrefinarias no contexto da bioeconomia oferecidos. Esse é o caso, por exemplo, das
mundial são: a) a produção, por processos biorrefinarias de produção de etanol e bio-
químicos, termoquímicos e biológicos, de diesel que se baseiam na cana-de-açúcar e
combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos na soja para produzir etanol/açúcar e farelo/
(peletes, biodiesel, etanol e bioquerosene, biodiesel, respectivamente. Para nossa bioe-
hidrogênio, syngas e biogás); b) os químicos conomia se tornar competitiva e nos posi-
verdes (biometanol, ácidos succínico e levu- cionarmos como exportadores de produtos
línico, tolueno, xilenos) e biofertilizantes (ri- de base biológica, teremos de desenvolver
zobactérias fixadoras de N e solubilizadoras soluções inovadoras baseadas em projetos
de P); c) os biopolímeros e biomateriais [poli- modernos de biorrefinarias que permitam
peptídeos, polissacarídeos, poliácido láctico arranjos modulares organizados em conjun-
(PLA), polihidroxibutirato (PHB), compósitos tos de processos para produção de múlti-
de nanofibras de celulose]; d) os produtos plos produtos. Esse modelo é analisado em
da biotecnologia industrial (microrganismos estudo da IEA Bioenergy Task 42. Para isso,
e microalgas melhorados ou modificados organizações de pesquisa deverão ter agen-
geneticamente para produção de químicos, das estratégicas focadas em soluções inova-
enzimas celulolíticas e polímeros, além de doras. Deverão ser ainda capazes de captar
117
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
recursos para suas pesquisas e nas relações 2011; Tiwari; Syväjärvi, 2014; Fakhouri et al.,
de parceria que estabelecerem entre si e o 2015; Salgado et al., 2015).
setor privado. Também, deverão prospectar
tendências tanto científicas e tecnológicas No enfoque dos materiais de fontes minerais
como de mercado e sociopolíticas para de- ou sintéticas, outras aplicações vêm sendo
senvolver os processos, os produtos e as tec- prospectadas com sucesso e há elevado po-
nologias necessárias a essa diversificação. O tencial de que se experimentem ainda maio-
Estado deverá promover políticas, incentivos res avanços nos próximos anos. Sistemas
fiscais e reduzir a burocracia das relações pú- como nanopartículas oxidantes, sistemas
blico-privadas. O setor produtivo e a indús- meso e nanoporosos, entre outros, desti-
tria devem investir em ciência e tecnologia e nam-se a múltiplas aplicações: por exemplo,
ter predisposição para modernização. pode-se utilizar a mesma classe de material
nanoporoso para filtração de água ou libera-
ção controlada de um feromônio. Há, dessa
Novos materiais e forma, oportunidade de agregação de valor
processos pela adequação desses desenvolvimentos a
aplicações específicas, como a racionaliza-
O desenvolvimento de novos materiais cons- ção da aplicação de insumos, a conversão
titui a chave para a consolidação de pro- de produtos agrícolas (particularmente em
dutos e processos inovadores em todas as agroenergia), o tratamento de efluentes gera-
áreas de produção tecnológica e de serviços dos desses processos e a valorização de pro-
a elas atrelados, incluindo-se o agronegócio dutos agroflorestais. Todas essas aplicações
(Wilde, 2016). Nesse sentido, existe a tendên- vêm prospectivamente surgindo no merca-
cia de haver ainda maior interesse e desen- do internacional e, com a redução de custo
volvimento tanto em novos materiais pos- associado ao aumento de escala, têm sido
sivelmente obtidos de produtos agrícolas propostas para uso no meio agropecuário
quanto naqueles destinados ao desenvol- (Tiwari; Syväjärvi, 2014; Ranjan et al., 2016).
vimento de novos processos e produtos de
base agrícola.
Automação
Entre os materiais de fonte renovável, desta-
Tecnologias para automação de processos
cam-se os polímeros naturais (como amido,
vêm continuamente impactando o cená-
poliácido láctico e quitosana), que podem
rio geral de produção de bens, por meio do
ser utilizados na produção de embalagens
aumento específico de produtividade, da
funcionais ou filmes finos protetores de ali-
diminuição de falhas associadas a erro hu-
mentos. Esses materiais vêm continuamen-
mano, da redução do trabalho penoso e de
te ganhando propriedades técnicas que os
riscos operacionais, entre outros impactos
aproximam dos polímeros convencionais,
gerais. No setor agropecuário, a automação
permitindo a substituição (com ganho em
de alguns processos específicos – em exem-
biodegradabilidade) ou a integração com ou-
plos como plantio, colheita, ordenha, abate,
tras funcionalidades – como indicadores da
etc. – já é estabelecida, com perspectivas
qualidade do alimento pela variação de cor,
de intensificação e expansão no mundo e
integração com sistemas com propriedades
no Brasil nas próximas duas décadas. A in-
bactericidas, entre outros (Falguera et al.,
118
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
tensificação da automação das atividades No Brasil, esse tema é incipiente quando com-
agrícolas, atrelada a outros aspectos da de- parado com os Estados Unidos, a Europa, e o
nominada agricultura inteligente – como a Japão. Internacionalmente, o tema tem sido
utilização de sensores e imagens de satélite organizado pela Agricultural Industry Electro-
de alta resolução –, resultará em aumento da nics Foundation (AEF), que congrega cerca de
produtividade e sistemas de produção mais 140 membros, majoritariamente empresas
eficientes (Wilde, 2016). privadas, liderados pelos maiores fabricantes
de máquinas agrícolas. Os temas prioritários
Outra tendência observada na automação apontados pela AEF são a padronização de
são os tratores autônomos que já operam dados de comunicação e de controle entre tra-
na forma de protótipo em diferentes países, tores e implementos (ISO-11783 ou ISOBUS),
inclusive no Brasil, e possui expectativa de o padrão para potência elétrica em máquinas
comercialização até 2023 (Salomão, 2017). A agrícolas e a padronização de dados e informa-
maior eficiência da telemetria tem contribuí- ção do Sistema de Informação para Gestão de
do para essa evolução, pois é possível avaliar Propriedade Agrícola (Farm Management Infor-
a performance, o percurso e a velocidade das mation System – FMIS).
máquinas de forma precisa, permitindo um
desempenho mais eficiente. Há também tendência de uso de ferramentas
digitais (como big data e data mining) para
Ainda que processos associados à produção habilitar processos de automatização em
de commodities agrícolas já disponham de larga escala – que, no entanto, também de-
algumas tecnologias, várias demandas es- pendem do desenvolvimento de novas gera-
pecíficas, com especificidades regionais ou ções de sensores e atuadores, para coleta de
que demandam processos de agregação de dados sistematizados, e da solução de pro-
valor, precisam ainda ser atendidas, inclusive blemas comuns no campo, principalmente
aquelas tipicamente associadas à agricultura relacionados à conectividade (Milovic; Rado-
familiar – que, até o momento, pouco assimi- jevic, 2015; Majumdar et al., 2017). Paulatina-
lou dos processos de automação. mente, essas tecnologias vêm surgindo e se
Porém, apesar de o Brasil apresentar um firmando como tendências para aumento da
grande potencial de protagonismo nessa produtividade e consequente ganho de valor
área, as indústrias de máquinas e equipa- no produto agropecuário final.
mentos agrícolas nacionais ainda depen-
dem de grande contingente de mão de obra Indicação de
pouco qualificada e não possuem um histó-
rico de desenvolvimento de inovação mais procedência e
radical nesse tema. Estudos socioeconômi- denominação de
cos mostraram que a automação em seto-
res industriais criou mais oportunidades de
origem
emprego mais qualificadas, mais seguras e Aspectos relacionados à rotulagem, como
mais especializadas, do que a eliminação de selos de qualidade, denominação de origem,
postos de trabalho, com a consequente am- produtos orgânicos, social e ambientalmen-
pliação de mercado, melhoria de qualidade e te amigáveis, entre outros, estão sendo cada
competitividade de seus produtos. vez mais empregados para agregação de
valor. Apresentação, embalagem, ponto de
119
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
120
◉◉ Desenvolver novos materiais a partir de
produtos e resíduos das cadeias produti-
vas agroalimentares para usos alimenta-
res e não alimentares.
123
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
124
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
“quem tem informação tem poder”, e a co- dição necessária para isso, não é suficiente.
nectividade permitiu ao consumidor o com- Uma das mais fortes mudanças que direcio-
partilhamento de informações e trocas de narão o mercado e o futuro de muitas empre-
experiências de forma rápida e eficiente. Esse sas será o controle exercido pelo consumidor
consumidor acredita que a multicanalidade83 no seu relacionamento comercial e nas suas
é algo natural e exige integração entre todos escolhas de compra. Assim, é imperativo que
os meios. as empresas se adaptem e se transformem
para atender ao “novo consumidor”.
Não é de se surpreender que, nessa era de
amplas e profundas transformações ocasio- A informação cada vez mais compartilhada
nadas pelas TIC, uma das principais forças por meio das mídias sociais molda o novo
formadoras da visão de futuro da agricultu- consumidor, detentor de muita informação e
ra brasileira seja a influência exercida pelo opiniões sobre saúde, alimentação e diversi-
novo consumidor, cada vez mais conectado. dade de produtos existentes no mercado. A
Munido de mais informação e maior conheci- mais recente pesquisa brasileira de domicí-
mento acerca dos produtos oferecidos e seus lios em 2015 mostra que 58% da população
preços, esse agente econômico se torna cada brasileira já usava a internet – o que repre-
vez mais um determinador dos atributos que senta 102 milhões de internautas. Indivíduos
deseja, potencializado pelas oportunidades crescentemente interligados com seus gad-
e ferramentas digitais. Contudo, o crescen- gets continuamente conectados à rede (web)
te protagonismo dos indivíduos enquanto e com acesso a qualquer tipo de informação
agentes decisórios (especialmente no as- em tempo real são fortes formadores de opi-
pecto econômico – consumidores) apenas nião em seus círculos de influência, o que de-
ocorre quando os consumidores podem e monstra que a confiança que eles depositam
decidem se beneficiar desses instrumentos. nas organizações (fornecedores) impacta
fortemente a sobrevivência delas (IBM, 2011).
O consumidor visto como um indivíduo pas- Nesse ambiente, a informação confiável e
sivo e à mercê das manipulações das em- completa que é repassada ao consumidor é
presas é apenas uma caricatura do passado. de extrema importância para que uma em-
Atualmente, ele se caracteriza por enorme presa permaneça no mercado. Caso se sinta
participação em redes sociais e por maiores ludibriado e/ou lesado, o consumidor tende
conhecimentos a respeito de seus direitos e a abandonar o fornecedor que tenha lhe cau-
deveres. Esse dinamismo decorrente da co- sado esse sentimento e a influenciar outras
municação mais ampla e rápida, bem como pessoas.
a conscientização a respeito do potencial
econômico individual, favorece a circulação Mesmo considerando que o Brasil permane-
imediata e abrangente de informações e ce sendo um País de baixa escolaridade, com
opiniões, aumentando de forma crescente 51% da população adulta tendo concluído
o poder de influência que o novo consumi- apenas o ensino fundamental e com índice
dor exerce sobre os mercados e processos de igualmente elevado de analfabetismo fun-
produção. Embora a conectividade seja con- cional, percebe-se que o protagonismo dos
consumidores deve ser impulsionado nas
83
Multiplicidade de canais de interação/comunicação próximas décadas em razão do maior aces-
consumidor-empresa: canais tradicionais – lojas físi- so às informações por meio de novas mídias
cas, lojas virtuais –, internet, aplicativos, entre outros.
125
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
(IBGE, 2017). Essa é uma tendência consoli- vez mais os consumidores com informações
dada, mesmo no contexto da classe média de qualidade, ou melhor, informações emba-
baixa brasileira, como apontam estudos re- sadas cientificamente sobre temas sensíveis
centes. Mesmo na zona rural, por exemplo, relacionados à agricultura, por exemplo, so-
o WhatsApp já é o principal meio de comu- bre o adequado uso de insumos agrícolas e
nicação no Brasil, sendo utilizado por 96% o bem-estar animal. Tendência que caminha
dos produtores rurais que possuem acesso em conjunto com a anterior é o marketing
à internet, e 61% dos produtores já utilizam direcionado decorrente de análises em gran-
celulares inteligentes ou smartphones (Asso- des bases de dados (big data).
ciação Brasileira de Marketing Rural e Agro-
O atendimento às demandas dos consumi-
negócio, 2017).
dores exigirá crescente coordenação dos
Outras análises do mercado nacional, foca- atores das cadeias produtivas. Para organi-
das em áreas urbanas, apontam que prin- zações dedicadas diretamente à pesquisa,
cipalmente o segmento mais jovem utili- o conhecimento do perfil, das necessidades
za smartphones, compara preços, valoriza e dos desejos desse novo consumidor é um
marcas e caminha para ser um consumidor elemento essencial para suas atividades. En-
omnichannel84, tais como os consumidores tretanto, cabe assinalar que os consumidores
de renda mais elevada. O Brasil possuía, no não são apenas aqueles que atuam no final
primeiro semestre de 2017, 198 milhões de da cadeia de valor (consumidor ou cliente
smartphones em uso, com estimativa de al- final). Os agentes produtivos85 que utilizam
cançar um smartphone por habitante antes as tecnologias, produtos e serviços gerados
do início de 2018 (Meirelles, 2017). Tais ca- pela organização fazem parte dos consumi-
racterísticas apontam para a tendência, tam- dores intermediários, que também influen-
bém no Brasil, de avanço do protagonismo ciam as atividades de pesquisa. Portanto, o
dos consumidores. aprofundamento do conhecimento empírico
sobre a realidade das atividades desenvol-
Há uma tendência global crescente de as or- vidas por esses públicos deve ser objeto de
ganizações dos diferentes elos das cadeias atenção constante.
produtivas atuarem na comunicação com
esses novos consumidores, fornecendo a A análise dos consumidores, bem como as
eles informações que possam melhorar seu transformações estruturais, tendências de
conhecimento, impactando suas opiniões. mercados e mudanças tecnológicas em
Entre diversas ações, as organizações das curso devem ser examinadas no intuito de
cadeias produtivas agrícolas proverão cada contribuir para os processos de definição da
agenda de pesquisa e formulação de políti-
84
Por meio da tecnologia, o novo consumidor omni- cas públicas. Ressalte-se que o Brasil, com
channel tornou-se onipresente: acessa informações participação expressiva e crescente no mer-
e interage com as empresas nas mais diversas pla- cado mundial de produtos da agricultura,
taformas, muitas vezes ao mesmo tempo em canais
on-lineonline e presencial. Seus hábitos de busca por especialmente de alimentos, se quiser man-
informações, de escolha por produtos e serviços e, con- ter sua competitividade mundial, não pode
sequentemente, de interação acabam por exigir das
organizações novos processos que, estruturalmente, 85
No caso de uma organização de P&D como a Embra-
possuem maior interatividade e conectividade (Ceri- pa, os produtores rurais, as agroindústrias, provedores
belli, 2014; Almeida et al., 2017). de insumos, entre outros atores relevantes das cadeias
de valor da agricultura e pecuária.
126
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
127
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
34% dos consumidores brasileiros, divididos estão sendo consideradas pelas empresas.
igualmente entre as classes sociais A, B e C, Muitos negócios já estão nascendo em for-
valorizam a conveniência e a praticidade, for- matos digitais, com a oferta de experiên-
mando o maior segmento atitudinal do País. cias novas ao consumidor. Exemplo disso
Essa prioridade é devida ao trabalho em tem- é o mercado das refeições prontas para a
po integral e ao pouco tempo para cuidar da alimentação dentro do lar – embalagens
casa, dos filhos e da alimentação da família. com porções individuais, alimentos de fácil
e rápido preparo, embalagens para micro-
Consumidores mais conscientes e informa-
-ondas, serviços de delivery, etc.
dos valorizam a tendência “confiabilidade
e qualidade”, demandando produtos segu- Embora haja tendência – recentemente origi-
ros e de qualidade atestada. Essa tendência nada na Europa – de aumento da compra de
valoriza a garantia de origem, os selos de produtos locais (comércio local), de maneira
qualidade, a tipicidade, a certificação e a generalizada, observa-se a mudança da ló-
rastreabilidade de alimentos. A rastreabili- gica do mercado de um padrão centrado na
dade e a garantia de origem, bem como os aquisição de produtos comercializados em
certificados de sistemas de gestão de quali- um raio restrito ao local de moradia – padrão
dade e segurança e a rotulagem informativa, do século 20 – para outro centrado no con-
são formas de comunicação que contribuem sumidor empoderado, com uso de ferramen-
para a credibilidade das marcas e aumenta a tas on-line para comparação entre produtos,
confiança, a preferência e a fidelização dos marcas e fornecedores de todo o globo, bus-
consumidores. ca por economia e praticidade – padrão do
século 2186.
A exigência por qualidade de produtos e pro-
cessos acaba por levar às preocupações com A integração dos canais que as empresas uti-
“sustentabilidade e ética” na relação com o lizam para interagir com os consumidores in-
meio ambiente e nas relações sociais e de crementam o maior protagonismo do consu-
trabalho, de forma a contribuir com as pe- midor. O chamado consumidor omnichannel
quenas comunidades agrícolas por meio da utiliza os canais on e off-line simultaneamen-
compra de seus produtos alimentícios locais te, e toma decisões baseadas em interações
(comércio local). Em relação à sustentabili- multicanais. A tendência de integração dos
dade ambiental, os consumidores valorizam canais impacta, por exemplo, na forma pela
aspectos como menor “pegada” de carbono qual o consumidor avalia a qualidade do pro-
e hídrica, menor impacto ambiental, emba- duto ou serviço, pesquisa preços e efetua as
lagens recicláveis, produtos não associados compras. Nesse novo modelo, a experiência
aos maus-tratos de animais, certificações de na loja física é complementada pela intera-
origem, comércio justo, responsabilidade so- ção digital e vice-versa. Nos Estados Unidos,
cial, etc. 73% dos consumidores já utilizam múltiplos
canais durante a jornada de compras e há
Contudo, atualmente as empresas reco- tendência de crescimento no Brasil. Esse
nhecem que o tempo, a energia e a atenção
devem ser valorizados, pois são necessá- 86
Apenas como ilustração do impacto dessa mudança
rios para a compra. A facilidade e a prati- de padrão, identificou-se, em 2008, que os consumido-
cidade que os consumidores desejam no res do Reino Unido, da Alemanha e da França, econo-
mizaram aproximadamente 980 milhões de euros em
momento de adquirir produtos e serviços novos produtos no eBay (2009).
128
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
perfil de consumidor pode, por exemplo, co- mo propósito, o de reduzir os impactos das
nhecer um vinho em loja física, mas efetuar a ações do homem sobre o meio ambiente, for-
compra on-line. As agroindústrias e o varejo talecendo a perspectiva do desenvolvimento
de alimentos também estão sendo impac- sustentável. Nesse contexto, o “movimento
tados pela integração dos canais, por meio verde” se intensifica cada vez mais e oferece
dos quais o consumidor tem maior acesso à novas oportunidades de negócios, incluindo
informação e maior poder de influência no o desenvolvimento de energias mais limpas
momento da compra. Da mesma forma, as e a resposta às demandas dos consumidores
vendas diretas do produtor rural para o con- por produtos ecologicamente amigáveis.
sumidor, modelo que ganha força nos EUA
por meio dos farmers markets e dos progra- Os novos consumidores estão mais atentos
mas de agricultura comunitária (Community quanto aos processos produtivos que im-
Supported Agriculture – CSA) também estão pactam negativamente o meio ambiente
fortemente presentes nos países da Europa e/ou causam danos à saúde humana, por
ocidental e podem crescer ainda mais com a exemplo, sistemas de produção que fazem
emergência do omnichannel. uso excessivo de agrotóxicos ou que provo-
cam desmatamento e degradação dos re-
Mudanças nos valores e nas atitudes dos con- cursos naturais ou aumentam a emissão de
sumidores conscientes têm grande influência gases de efeito estufa. Essa tendência sina-
nos padrões de consumo individuais, na defi- liza a necessidade de ampliar esforços para
nição de políticas públicas e nos sistemas de o desenvolvimento de inseticidas, fertili-
produção de alimentos. O maior protagonis- zantes e herbicidas biológicos, assim como
mo do consumidor poderá afetar questões de novas tecnologias e práticas de menor
de segurança alimentar e governança dos impacto ambiental para o controle de pra-
sistemas agroalimentares, como aquelas que gas e doenças e a criação de sistemas de
envolvem interesses nacionais e soberania produção sustentáveis, como os sistemas
alimentar; restrições à aceitação de tecno- de integração agropecuária (lavoura-pe-
logias modernas na produção de alimentos cuária), silvipastoril (pecuária-floresta) e
(por exemplo, modificação genética, nano- agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-flores-
tecnologia, clonagem de animais, biologia ta) – utilizados na produção da Carne Car-
sintética); valorização de sistemas de produ- bono Neutro.
ção altamente especializados (por exemplo,
orgânico, biodinâmico, sustentáveis, con- O mercado de alimentos e bebidas orgânicos
servacionistas); aumento da preocupação deverá alcançar US$ 320,5 bilhões até 2025
com o bem-estar animal; maior importância (hoje alcança cerca de US$ 78 bilhões), sen-
da sustentabilidade ambiental e proteção à do representado principalmente por frutas e
biodiversidade; e questões de equidade e co- hortaliças (37%) (Grand View Research, 2017).
mércio justo. Esforços da Agência Brasileira de Promoção
de Exportações e Investimentos (Apex Brasil)
A crescente pressão sobre o uso consciente permitiram o reconhecimento de produtos
dos recursos naturais incita o enfrentamen- orgânicos do Brasil em outros países, com
to às alterações climáticas e ao problema do mais de 70 empresas e um portfólio acima de
esgotamento desses recursos. Essa necessi- 1.000 produtos classificados e reconhecidos.
dade liga empresas e consumidores no mes- Com movimentação na ordem de R$ 2,5 bi-
129
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
lhões por ano, a indústria iniciou um proces- de alimentos e bebidas saudáveis alcançou
so de estruturação dessas cadeias, a partir de R$ 93,6 bilhões em vendas, colocando o País
pequenos grupos de produtos e agricultores em quinto lugar no ranking dos países nes-
familiares, seguido pelo setor secundário, se setor (Dino, 2017). Enquanto as vendas de
envolvendo pequenos investidores voltados alimentos e bebidas tradicionais cresceram
para o mercado de orgânicos processados. 67% nos últimos cinco anos no Brasil, as de
O mercado mundial cresce, em média, 20% produtos saudáveis aumentaram 98% no
ao ano e possui suporte do setor público, por mesmo período. Em média, o brasileiro gas-
meio de políticas e normas de regulamenta- ta US$ 119 por ano na compra de produtos
ção, organização e informação das cadeias mais saudáveis, ainda distante das popu-
produtivas (Research Institute of Organic lações dos EUA e da Inglaterra, com gastos
Agriculture, 2017; Willer; Lernoud, 2017). aproximados de US$ 513 e US$ 473 ao ano,
respectivamente (Gomes, 2017).
Em paralelo aos orgânicos, um movimento
de valorização e diferenciação de produtos Existe demanda crescente por alimentos
tem se destacado: o mercado gourmet, em originários de sistemas alternativos de pro-
evidência crescente pelas grandes redes va- dução agrícola, em resposta ao modelo pre-
rejistas. Nos Estados Unidos, no Japão e na dominante da agricultura convencional de
Espanha, a popularidade da gastronomia é produção intensiva e em larga escala. Além
considerada como uma oportunidade para disso, os novos consumidores apresentam
lançar produtos que orientem e facilitem os interesse crescente pela valorização do bem-
consumidores no preparo de receitas. Ape- -estar animal e por produtos mais naturais
sar de essa tendência estar mais consolida- (menor nível de processamento/industriali-
da nos países desenvolvidos, no Brasil já há zação), provenientes de sistemas de produ-
um movimento similar. Um exemplo disso é ção, que, como os orgânicos, não utilizam
a participação de chefs de cozinha em pro- insumos químicos.
cessos de PD&I das grandes empresas ali-
mentícias ou a assinatura de chefs famosos Há uma parcela do mercado consumidor que
no lançamento de produtos no mercado na- valoriza também produtos alimentícios com
cional. Ainda nessa linha, outros consumido- indicação de “comércio justo” (fairtrade). Os
selos Fairtrade e Bem-Estar Animal tendem
res estão se tornando alvo das indústrias: os
foodies com pouca disponibilidade de tem- a ganhar mais espaço no mercado interno e
po, que procuram opções saborosas, mas contribuem para o melhor posicionamento
que poupem tempo de preparo e consumo e dos produtos no mercado exterior, tendência
sejam saudáveis. essa que passa a ser uma obrigatoriedade e
não mais um diferencial. Além disso, perma-
Outras segmentações de mercado para pú- nece a correlação direta entre a valorização
blicos específicos ganham espaço e fazem dos aspectos de comércio justo e bem-estar
parte das linhas de pesquisa de grandes gru- animal com o nível educacional do consumi-
pos voltados para o setor de alimentos. Des- dor. Mercados com médias mais elevadas de
tacam-se os produtos isentos de lactose e escolaridade da população, tais como o Ca-
de glúten, sem aditivos e corantes artificiais, nadá e os países do norte europeu, valorizam
sem açúcar refinado e veganos ou vegetaria- mais esses fatores.
nos. Somente em 2016, o mercado brasileiro
130
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Outro segmento crescente de mercado é o lorizam cada vez mais a autenticidade, o que
de consumidores que buscam experiências reflete na busca de produtos típicos e regio-
únicas de consumo e autenticidade. Os pro- nais, além da valorização do ambiente natu-
fissionais de marketing estão, cada vez mais, ral, da população e da cultura local. O turis-
se afastando do marketing tradicional de mo rural possibilita aos viajantes o contato
“características e benefícios” e explorando com a natureza, com a agricultura e cultura
um novo conceito que busca criar experiên- locais, contribuindo para o desenvolvimen-
cias para os seus clientes. Os consumidores to regional. Além disso, o rural traz aspectos
atuais consideram a qualidade e os benefí- simbólicos e recursos que se perderam na
cios dos produtos “coisas normais”, e que- sociedade contemporânea, como ar puro,
rem produtos que estimulem os sentidos silêncio, cores e odores originais, biodiversi-
e mexam com as emoções, desejando ex- dade, entre outros.
periências. A sociedade, caracterizada pelo
consumo emocional, demanda atributos Embora a valorização de alimentos perce-
intangíveis, como as sensações, as vivências bidos como "sustentáveis" seja uma ten-
e os sentimentos, que fascinam e impactam dência consolidada, há também um amplo
o consumidor, convertendo-se em experiên- segmento da população, notadamente em
cias únicas e memoráveis. países como o Brasil, que está começando
a inserir-se no mercado e tende a consumir
A busca por aspectos exclusivos, autênticos mais produtos alimentícios processados. Se,
e singulares representa uma oportunidade por um lado, há a busca pelo consumo ver-
para a agricultura nacional. Alimentos úni- de, por outro, a maior parcela do mercado
cos, derivados das diversas espécies nativas consumidor da classe C está abandonando
dos biomas brasileiros, contribuem para in- as dietas consideradas saudáveis, baseadas
crementar a percepção de autenticidade dos em alimentos frescos. A relação inversa entre
produtos, fator diferencial importante para renda e consumo de alimentos processados
agregar valor à produção agropecuária brasi- contribui para o crescimento das indústrias
leira. A autenticidade tende a ser valorizada de alimentos no Brasil, mas, paralelamente,
pelo mercado internacional e, internamente, tem aumentado os níveis de obesidade87, so-
atende a nichos crescentes de mercado. Por bretudo na população de baixa renda. A ten-
exemplo, produtos com apelo regional são dência do consumo de frutas e hortaliças, por
diferenciais para o varejo de alimentos e for- exemplo, é maior entre o segmento de renda
talecem também a relação entre agricultura mais elevada, o que exige o estabelecimento
e turismo. Em mercados mais maduros, tais de estratégias de distribuição e educação nu-
como o italiano, o francês e o norte-ameri- tricional para atender a classe média baixa.
cano, a tipicidade é valorizada pelo merca-
Do ponto de vista da pesquisa agropecuária,
do consumidor e contribui para aumentar a
há muitas oportunidades derivadas da ten-
margem de lucro de pequenos produtores
dência de crescimento da classe C brasileira
e cooperativas agrícolas que comercializam
no horizonte até 2030. Os hábitos de con-
produtos percebidos como autênticos.
sumo da classe C possuem peculiaridades
Outra oportunidade para aumentar receitas que diferenciam esse segmento da classe
cambiais, gerar emprego e renda é o turismo 87
Em âmbito mundial, a obesidade triplicou desde
rural. No mundo globalizado, os turistas va- 1975 (World Health Organization, 2017; World Obesity,
2018).
131
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
média alta e, dada a correlação entre ocor- fortificadas lançadas no mercado, enquanto
rência de doenças derivadas da má nutrição outras culturas são objeto de pesquisa em
e as classes sociais mais baixas, deve-se, por andamento. A perspectiva é que o interesse
exemplo, empenhar esforços direcionados por produtos com esses atributos continue
a ampliar a biofortificação e promover o ali- aumentando nos próximos anos.
nhamento de pesquisas com a temática de
nutrição e saúde (Global Panel, 2015, 2016; Esse ambiente em que o consumidor está
Bouis; Saltzman, 2017). crescentemente mais atento às característi-
cas dos alimentos que consome e os impac-
Outro nicho de mercado com tendência de tos que causam em sua saúde e tem maior
expansão é o de alimentos isentos de anti- acesso a informações, torna-o também mais
bióticos, principalmente carnes. Diversas ca- suscetível a ser influenciado por conteúdos
deias de fast-food já adotaram a política de que indiquem benefícios no consumo de de-
servir somente refeições produzidas a partir terminado alimento. Nesse sentido, proces-
de matéria-prima sem antibióticos. A Organi- sos amplos de marketing88 e pesquisas cien-
zação Mundial da Saúde (OMS) elaborou um tíficas que estimulem os cidadãos a manter
plano mundial, exigindo que todos os paí- ou aumentar seu consumo de determinados
ses desenvolvam planos de ação nacionais produtos (commodities alimentares) em fun-
para reduzir o uso excessivo de antibióticos ção dos seus impactos para a saúde89 têm
na produção animal (Global Opportunity sido realizados nos Estados Unidos desde o
Report, 2016). Dessa forma, a crescente de- início da década de 1990. Esses movimentos
manda dos consumidores de alimentos sem se apresentam como potenciais tendências
antibióticos, combinado com pressão políti- a se intensificarem nos mercados alimenta-
ca para essa redução no uso, representa um res, especialmente nos países de economias
desafio e uma oportunidade única para toda emergentes como o Brasil. Um exemplo re-
a cadeia de valor da carne. O desenvolvimen- cente dessa questão no País é o caso das be-
to de um novo conjunto de padrões globais bidas à base de coco (Rosa, 2017; Carvalho et
para certificar produtos à base de carne pro- al., 2018).
duzidos “sem antibióticos” ou com “uso res- 88
Neste documento marketing é entendido como área
ponsável de antibióticos” aumentará ainda de estudos que se dedica ao entendimento das neces-
mais essa oportunidade. sidades e desejo dos consumidores e das ferramentas
para o mais efetivo atendimento por parte das empre-
sas dessas necessidades e desejos.
Preocupações com a qualidade, inocuidade 89
A sociedade americana desenvolveu e tem amplia-
e valor nutricional dos alimentos passaram do os programas de desenvolvimento de mercado
a ter peso crescente na escala de valor dos para produtos alimentares, os chamados Commodity
Checkoff Programs, instituídos por meio da Lei de Pro-
bens consumidos pelo novo consumidor. moção, Pesquisa e Informação de Mercadorias (Com-
Como resultado, organizações de pesquisa modity Promotion, Research, and Information Act, no
original em inglês) de 1996. Embora não sejam recentes
tem buscado desenvolver variedades mais e venham sendo alvo de questionamentos (inclusive
nutritivas e também biofortificadas, direcio- sobre sua constitucionalidade na Suprema Corte ame-
nadas ao combate dos problemas de saúde ricana), esses programas têm sido capazes de dar bons
níveis de retorno para os produtores (ainda que isso
pública associados a deficiências de micro- não seja um consenso) e têm se mantido ao longo do
nutrientes em alimentos. Atualmente, vários tempo (esses programas passam por referendos a cada
três anos, podendo ser descontinuados caso os produ-
cultivos como milho, batata-doce, feijão-cau- tores assim decidam) (U.S. Government Publishing Of-
pi e mandioca contam com variedades bio- fice, 1996; Sabet, 2010; Brandon, 2011; Huehnergarth,
2016; Manger, 2016; Estados Unidos, 2018a).
132
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
133
convergência
tecnológica e de
conhecimentos na
agricultura
134
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
135
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
136
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Mundo Digital
• Maior conhecimento
• Big data
• Eficiência melhorada
• Iot • Dados analíticos
• Mobile computing • Novos modelos de trabalho
• Algoritmos preditivos
• Cloud computing • Automações • Novas práticas de recursos humanos
• Cyber security • Novas fontes de talento
• Experiências personalizadas
137
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
138
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
que, uma vez instalados, não precisarão mais Com a existência de diversos sistemas, o
ser explicitamente acessados. Dessa forma, a mundo converge para um sistema de iden-
interação com esses novos serviços será ain- tidade digital único, portanto não será mais
da mais intuitiva, beneficiando da agricultura necessário um usuário para rede social, ou-
familiar até grandes produtores. tro para e-mail ou, ainda, para ligar uma
máquina agrícola. Uma chave digital cripto-
O acúmulo de dados representará um gran-
grafada, associada a uma identificação bio-
de desafio para os sistemas de armazena-
métrica, será o mecanismo seguro de auten-
mento e métodos de processamento, bem
ticação. Nos próximos 20 anos, incidentes
como de identificação digital, o que deverá
de segurança serão identificados e sanados
garantir uma identidade universal. Estima-se
por agentes inteligentes, softwares que fa-
que, até 2020, haverá mais de 16 zetabytes de
rão a patrulha da rede de dados, tornando
dados circulando diariamente pelo mundo,
o ambiente digital mais seguro. Máquinas
um crescimento estimado de 236% por ano
serão equipadas com vidros de matriz ativa
(CGEE, 2017). Considerando que dados são
de diodo orgânico emissor de luz (Active Ma-
essenciais e que o uso de big data e analy- trix Organic Light-Emitting Diode – Amoled),
tics é o propulsor da inovação empresarial, flexíveis e dobráveis, que apresentarão a pre-
espera-se cada vez mais uma demanda por visão do tempo, os indicadores da bolsa de
processamento de dados, fomentado pelo valores, o progresso da atividade, e serão to-
esforço da aprendizagem de grandes redes talmente interativas ao toque e com possibi-
neurais artificiais. lidade de permitir a realização de videocon-
A tendência de maior oferta de energia elétri- ferência com consultores remotos.
ca em localidades remotas com uso crescen- Nesse contexto, o interesse de multinacionais
te de painéis solares abre uma nova perspec- tradicionais na área de insumos, maquinários
tiva para mitigar problemas de comunicação e equipamentos agrícolas, no investimento e
com a ampliação da rede 4G e sua atualiza- na aquisição de start-ups com base em bio-
ção para o novo padrão, o 5G, que vem sen- tecnologia, robótica e inteligência artificial é
do projetado especificamente para atender, crescente em todo o mundo. Só nos Estados
entre outras coisas, a IoT e sua alta densi- Unidos, as startups baseadas em tecnologia
dade de dados provenientes de milhões de aumentaram seu número em 47% na última
dispositivos conectados ao mesmo tempo. década (Wu; Atkinson, 2017). No Brasil, em
Painéis flexíveis e bioadaptáveis (Bergeron, 2016 já foram identificados pelo menos 76
2011) poderão viabilizar o uso de sensores startups utilizando tecnologias de suporte
complexos em animais em criação extensiva a decisões, softwares para gestão, agricultu-
ou em biomas de difícil manejo, como o Pan- ra de precisão, equipamentos inteligentes e
tanal. Entre 2018 e 2020, os fabricantes co- software (StartAgro, 2016). Essas empresas
meçarão a desenvolver os chips compatíveis têm gerado novos empregos e contribuem
com o padrão 5G (Braga, 2017). Destaca-se de forma significativa para inovação, produ-
ainda o lançamento do Satélite Geoestacio- tividade e competitividade.
nário de Defesa e Comunicações Estratégicas
1 (SGDC-1) com o objetivo de ampliar o Pro- A crescente convergência tecnológica muda-
grama Nacional de Banda Larga (PNBL) para rá os rumos da pesquisa agrícola, pois, com a
todo o Brasil (Brasil, 2017). evolução dos sistemas de realidade virtual e
139
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
a inteligência artificial, será possível simular vem permitindo avanços ímpares no proces-
diversos fenômenos naturais. O avanço no so de conhecimento da natureza e na apli-
fornecimento de tecnologia de comunicação cação de seus princípios para a geração de
sem fio nas propriedades rurais possibilitará novos produtos e serviços.
ao produtor enviar imagens bi/tridimensio-
nais de amostras, que poderão ser analisa- Há a necessidade de aprimorar e intensificar
das e conferidas pelo pesquisador de forma a capacidade de melhoramento genético de
on-line em conjunto com o produtor. Com espécies de interesse agrícola por meio da
a diminuição de custos, a agricultura digital engenharia genética de plantas e animais,
também deve viabilizar o surgimento de tec- não apenas para alimentação, mas como
nologias substancialmente mais acessíveis fonte de insumos renováveis para os demais
para todas as classes de agricultores. Impor- setores produtivos. Diante desses desafios,
tantes ações já estão em curso no Brasil para as tecnologias existentes precisam ser com-
proporcionar alternativas que minimizem os plementadas com abordagens avançadas e
fatores que dificultam o acesso à informação direcionadas para transformar recursos ge-
por parte de agricultores familiares, como a néticos valiosos, de forma mais eficiente e
baixa familiaridade com as tecnologias di- rápida, em produtos agrícolas utilizáveis.
gitais e os escassos sistemas de informação Trinta anos após a produção da primeira ge-
específicos para esse público (Codaf, 2018). ração de plantas geneticamente modificadas
(GM), avançamos para uma nova era de tec-
Biologia sintética nologia de culturas recombinantes por meio
140
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
141
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
novos métodos disruptivos se fazem neces- Mais recentemente, surgiu ainda uma nova
sários para superar as limitações impostas revolução no aprimoramento da variabilida-
por essa técnica. É imperativo que sejam de genética: a edição genômica. As primeiras
desenvolvidos métodos de larga escala mais plantas que tiveram seu genoma editado
eficientes (high throughput) e universais de por técnicas de engenharia genética de pre-
transformação. Pouca dependência da cultu- cisão, como CRISPR, Zinc Fingers Nucleases
ra de tecidos ou mesmo o emprego amplo de (ZFN), Oligonocleotide Directed Mutagenesis
métodos ainda incipientes de transformação (ODM) e Transcription Activator-Like Effectors
de gametas, eliminado completamente a ne- (TALEs), começaram a ser colocadas no mer-
cessidade de cultura de tecidos, são cenários cado. Como exemplo, híbridos de milho com
futuros bastante promissores. a composição modificada de amido com
100% de amilopectina e 0% de amilose ou,
Em outra vertente, a engenharia genética
ainda, cogumelos e maçãs cujos genomas
também tem sido aplicada em animais de
foram editados para inativação de oxidases
produção, como biorreatores para produção
de polifenóis, enzimas que causam o escu-
de biofármacos. É o caso da empresa rEVO
recimento do tecido vegetal, proporcionam
Biologics, que produz uma antitrombina re-
maior vida de prateleira para esses produtos.
combinante em cabras geneticamente mo-
Por não conterem transgenes, nos EUA, no
dificadas, e a Pharming Group, que produz a
Canadá e na Argentina, esses produtos ob-
proteína recombinante inibidora da C1 este-
tiveram autorização para comercialização. A
rase em coelhos geneticamente modificados.
edição genômica deve, portanto, impactar
Ambos biofármacos são comercializados na
os processos regulatórios, acelerando a in-
Europa e nos Estados Unidos e visam a um
trodução no mercado de plantas genomica-
mercado de saúde humana de milhões de
mente editadas que não contêm fragmentos
dólares. Outros biofármacos já são produzi-
de DNA de outras espécies.
dos por animais geneticamente modificados,
mas ainda estão em estudos pré-clínicos. A empresa americana Recombinetics Inc. tem
trabalhado com edição genômica, aplicando
A engenharia genética contribui ainda com
os sistemas TALEs e CRISPR no melhoramen-
inovações como o Sequenciamento Genô-
to genético animal (Recombinetics, 2018).
mico de Nova Geração (Next-Generation Se-
Essas tecnologias podem acelerar a geração
quencing – NGS). Recentemente, emergiu o de animais com características fenotípicas
entendimento de que comunidades micro-
desejadas, que, apenas com o cruzamento
bianas associadas a espécies vegetais prove-
tradicional, só seriam alcançadas depois de
nientes de ambientes historicamente secos
décadas. Algumas dessas características, tais
são mais propensas a promover tolerância à
como tolerância ao calor, aos carrapatos e
seca em plantas do que microrganismos ori-
ginados de ambientes onde a água não é um
recurso limitante. Nesse sentido, vários estu- A inteligência artificial
dos têm demonstrado que genes oriundos estará presente em quase
do microbioma são transferíveis entre espé-
cies e podem conferir tolerância aumentada todas as fases da
a estresses em plantas. produção animal e vegetal
142
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
143
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
A China vem desenvolvendo grande esforço cien- estudos em biologia aplicada na agricultura do fu-
tífico, tecnológico e financeiro na formação de turo requererão cada vez mais a fusão com méto-
bancos de caracteres genéticos. O Beijing Geno- dos matemáticos, estatísticos, e computacionais,
me Institute (BGI), em seu projeto de sequencia- visando ao maior entendimento de processos bio-
mento de 1.000 espécies de referência, já comple- lógicos complexos, nos seus mais diversos níveis,
tou o sequenciamento e a montagem do genoma na busca contínua por inovações disruptivas para
de 95 espécies, e outras 505 estão em fase final. o desenvolvimento da agricultura brasileira.
Reconhecida como talvez a maior plataforma de
genômica e bioinformática do mundo, com ca-
pacidade de sequenciar até 30 mil genomas hu-
Mercado digital
manos por ano (Beijing Genomics Institute, 2018), O mundo já presenciou algumas transforma-
cientistas do BGI quebraram vários paradigmas ções como a Revolução Industrial e a era da
ao desenvolverem tecnologias que, hoje em uso, informação e do conhecimento no pós-guer-
eram tidas como impossíveis de funcionar. Utilizar ra. Essas eras provocaram muitas adapta-
essas novas ferramentas para caracterizar os ban- ções nos modelos de trabalho e, ao mesmo
cos de germoplasma de nosso país, visando criar tempo, eliminaram negócios e criaram no-
bancos de caracteres que possam ser explorados vas oportunidades de empreendimentos. A
por pesquisadores brasileiros, é uma prioridade e mudança no panorama industrial, cultural
deve ser amplamente entendida e instituciona- e, consequentemente, econômico foi mais
lizada. Para espécies de valor econômico, isso já bem internalizada por aqueles que perce-
vem sendo feito pelas grandes empresas privadas beram essas oportunidades e se engajaram
em escala bilionária de investimentos. Por sua vez, em novas práticas e formas de trabalho e re-
focar somente em caracteres presentes em espé- lacionamento. A diferença agora é que a era
cies comerciais limita a informação genética obti- digital impõe uma velocidade de mudança e
da. Buscar, na biodiversidade brasileira, a fonte de reposicionamento por parte de empresas e
novos genes e estratégias de adaptação pode não das pessoas muito mais rápida. Se antes es-
somente ajudar a garantir nossa independência sas mudanças levaram 60 anos, agora acon-
mas também ser um grande trunfo na busca de tecem anualmente.
parcerias público-privadas para desenvolvimento
de produtos agrícolas de alto valor agregado. Nesse novo modelo, novas oportunidades
e caminhos são apresentados para que in-
É inegável que a convergência em ciência e tec- divíduo e as empresas possam romper com
nologia para pesquisa e inovação na agricultura os velhos paradigmas e pensar de maneira
constitui uma megatendência mundial e brasi- inovadora e disruptiva. A atuação com novos
leira. No entanto, novas ferramentas devem ser parceiros, em especial os pequenos, exigirá
continuamente exploradas para que, cada vez um comportamento ágil e não tão formal.
mais, descobertas significativas sejam extraídas a Esse é um dos principais desafios para as
partir desses dados, e isso requer gerenciamento empresas. A cadeia produtiva agrícola é com-
dinâmico das informações biológicas compiladas posta pela soma das operações de produção
e suas respectivas análises integradas. Muitos sis- e distribuição de suprimentos, das operações
temas de integração requerem modelos matemá- de produção nas unidades rurais, do armaze-
ticos relacionais na sua base conceitual que pos- namento, processamento e comercialização
sam descrever modelos mecanísticos das relações dos produtos agrícolas e dos itens produzi-
entre seus componentes. Contudo, é certo que os dos a partir deles. O tamanho estimado do
144
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Aumento da
produtividade
Aperfeiçoamento da
Irrigação de produção aquícola
precisão
Aperfeiçoamento das
cadeias produtivas
Ampliação
do poder de
informação Monitoramento Maior integração
do desperdício cidade / campo
da produção
Este novo mercado agrícola digital poderá capaci- ou seja, novas empresas que atuam com agri-
tar clientes, fornecendo informações sobre históri- cultura digital. A maior parte delas (56%) atua
co de alimentos e segurança no ponto de compra, com soluções de suporte à decisão, e as demais
auxiliando na melhor tomada de decisão. Do lado atuam em IoT, agricultura de precisão e softwa-
do setor produtivo, permitirá um gerenciamento re para gestão (StartAgro, 2018). No entanto,
mais preciso e ações automatizadas pelo uso de reconhece-se que o hardware sozinho já não é
robôs e máquinas avançadas. Na sua maioria, o suficiente. A chave é integrar esse hardware em
mercado digital irá integrar sistemas em toda a ca- sistemas que capturam os dados mais preci-
deia de suprimentos, a fim de permitir o melhor sos, usam algoritmos para torná-los utilizáveis
compartilhamento de informações entre fornece- e redirecionam o uso de hardware agrícola com
dores, distribuidores, varejistas, consumidores e melhor aproveitamento e eficiência. Embora
indústrias de serviços de apoio. existam muitas soluções individuais, nenhuma
empresa parece ter todas as competências na
No Brasil, novas empresas já estão oferecen- agricultura digital, e as futuras empresas deve-
do produtos e serviços com base em tec- rão fazer a convergência e aglutinação neces-
nologias de agricultura digital. O 1º Censo sárias para a criação ou modelagem de novas
Agtech Startups Brasil identificou 75 startups, abordagens disruptivas. Isso significa que as
145
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
146
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
nologias com redução contínua no custo de ◉◉ Desenvolver plataformas digitais para elevar
disponibilização, permitirá que provedores lo- a interação e conectividade entre produtores
cais de pequena escala sejam mais inovadores rurais e consumidores agroalimentares.
e explorem novas aplicações.
◉◉ Ampliar PD&I em telemetria, IoT, big data, analy-
tics, Vants, impressoras 3D e 4D, entre outros,
Desafios fomentando as chamadas smart farming.
◉◉ Estabelecer “laboratórios tecnológicos ◉◉ Desenvolver e adaptar soluções de tec-
colaborativos e experimentais” para pes- nologia da informação em apoio à ras-
quisa avançada em agricultura digital. treabilidade e à certificação de produtos
que envolvam integração de sistemas,
◉◉ Promover a comunicação aberta de da-
processamento de imagens e marcado-
dos e informações em todas as esferas
res moleculares, dentre outros.
(rural-rural – rural-urbana).
◉◉ Desenvolver novos insumos biológicos
◉◉ Ampliar e fortalecer a infraestrutura de
(DNA, RNA, imunógenos, proteínas, carboi-
processamento de imagens de senso-
dratos, etc.) para o controle zoofitossanitário.
riamento remoto de alta resolução es-
pacial, temporal e espectral com foco na ◉◉ Desenvolver usos inovadores de RNAi,
agricultura digital. para aplicação, por exemplo, no controle
de pragas e doenças em plantas e animais.
◉◉ Utilizar novos meios de comunicação
seguros e estrutura cibernética para pro- ◉◉ Desenvolver e aprimorar métodos de
cessamento de complexidade algorítmi- transfecção voltados à engenharia ge-
ca e/ou grandes volumes de dados no nética de espécies animais de interesse
apoio à tomada de decisão em tempo econômico, social e ambiental.
real e ao desenvolvimento científico.
◉◉ Desenvolver novos processos de enge-
◉◉ Promover a cobertura de grandes exten- nharia genética em substituição aos pro-
sões de área de produção agrícola com cessos químicos convencionais.
dispositivos atuadores e sensores, para
aplicações em agricultura de precisão. ◉◉ Ampliar a utilização da engenharia gené-
tica para novas rotas metabólicas para
◉◉ Promover a ciência cidadã (citizen a obtenção de biofertilizantes, bioenzi-
science) para valorizar e incorporar o co- mas, processos fermentativos e proces-
nhecimento local sobre processos e fenô- sos aplicados à produção de biocom-
menos e para validar resultados e produ- bustíveis em biorrefinarias, entre outros.
tos obtidos em organizações de pesquisa.
◉◉ Obter moléculas bioativas para incre-
◉◉ Desenvolver e adaptar plataformas digitais mentos na FBN, como compostos fenó-
para suporte à tomada de decisão na agri- licos e outros indutores dos genes da
cultura, baseadas em modelos matemáti- nodulação.
cos, estatísticos e computacionais com o
uso de inteligência artificial, visão compu- ◉◉ Desenvolver novos modelos de negócios
tacional e processamento de imagens. digitais, para compartilhar informações
técnico-científicas públicas e privadas.
147
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
O futuro da agricultura
brasileira: megatendências
e o papel da ciência, da
tecnologia e da inovação
As projeções mundiais de aumento do consu- cidades sustentáveis, proteção e uso sustentá-
mo de água (+50%), energia (+40%) e alimentos vel dos oceanos e dos ecossistemas terrestres,
(+35%) até 2030 são reflexos principalmente das crescimento econômico inclusivo, infraestru-
tendências de expansão populacional, maior tura, industrialização, entre outras. Agricultura
longevidade e aumento do poder aquisitivo de e alimentação estão no centro dessa agenda
grande parte da população mundial, particu- mundial, e o Brasil deverá desempenhar papel
larmente na Ásia, África e América Latina. Esses de destaque no alcance das metas estabeleci-
aspectos, associados ao processo de intensa das.
urbanização, alterações no comportamento
dos consumidores, às mudanças nas cadeias Nesse contexto, a agricultura brasileira passa
produtivas globais e aos conflitos geopolíticos, por profundas transformações econômicas,
pressionam o setor agrícola no mundo inteiro culturais, sociais, tecnológicas, ambientais e
para que concilie o aumento da produção de mercadológicas, que ocorrem em alta veloci-
alimentos, fibras e biocombustíveis com a ne- dade e em direções distintas, impactando de
cessária sustentabilidade. forma substancial o mundo rural. O conjunto
mais recente de sinais e tendências globais e
Internacionalmente, agendas inclusivas e inte- nacionais sobre essas transformações, captado
gradas têm demandado das organizações de e analisado pela Embrapa e sua rede de parcei-
CT&I novos comprometimentos diante do de- ros, deram origem a um grupo de sete mega-
senvolvimento sustentável. Destaque pode ser tendências que, integradas, proporcionam uma
dado aos ODS, coordenados pelas Nações Uni- visão sobre o futuro da agricultura brasileira,
das. São 17 objetivos e 169 metas a serem atin- detalhada nos capítulos anteriores e sintetizada
gidos até 2030, com ações mundiais nas áreas na Figura 33.
de erradicação da pobreza, segurança alimen-
tar, agricultura, saúde, educação, igualdade de Processos como expansão e intensificação agrí-
gênero, redução das desigualdades, energia, colas serão ainda mais dinâmicos e continua-
água e saneamento, padrões sustentáveis de rão a impulsionar a velocidade das mudanças
produção e de consumo, mudança do clima, socioeconômicas e espaciais na agricultura
no Brasil. A conjunção desses processos tende a
148
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
149
Mudanças socioeconômicas
Longevidade
e espaciais na agricultura
Mudança do clima
Crescimento
Riscos na agricultura
Populacional
Protagonismo
Econômico
dos consumidores
Convergência tecnológica e de
conhecimentos na agricultura
Figura 33. O futuro da agricultura brasileira: principais sinais e tendências em cada megatendência.
Fonte: Agropensa (2018).
Dinamicidade espacial da população e produção | Produção e renda mais
concentradas | Escassez de mão de obra no meio rural | Concentração do
processamento e distribuição de alimentos | Avanços em análises espaciais de
uso da terra nos biomas | Ampliação da gestão territorial estratégica | Expansão
da multifuncionalidade do meio rural
Apontada por inúmeros cenários, a mudan- Haverá uma progressiva necessidade de oti-
ça do clima indica riscos e possíveis impactos mização e aperfeiçoamento do desempenho
para a agricultura em todo o mundo nas pró- dos sistemas de produção, com melhor apro-
ximas décadas. A contínua discussão e análise veitamento dos períodos de plantio, manejo
dessas mudanças produzirão novos compro- e colheita; além da elevação da eficiência das
missos nacionais e internacionais. Novas tecno- operações no dia a dia da propriedade rural.
logias de adaptação e mitigação dos efeitos da Novas plataformas acessadas por múltiplas
mudança do clima deverão ser desenvolvidas vias, incluindo dispositivos móveis, devem pro-
e implementadas para as diferentes realidades ver acesso a dados e informações estratégicas,
rurais do País. A redução das emissões de GEE, projeções, cenários e comunicação diretamen-
a diminuição das taxas de desmatamento, o te para a sociedade, em escalas locais. Análises
aumento das áreas com sistemas agropecuá- integradas e prospectivas deverão apoiar a to-
rios intensivos de baixa emissão de carbono e a mada de decisão e incrementar a capacidade
recuperação de áreas degradadas serão funda- dos produtores de antecipação e de adaptação
mentais no processo de valoração da agricultu- dos seus sistemas produtivos às diferentes fon-
ra brasileira nas negociações mundiais. tes de riscos.
152
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
tos que contenham informações de seu local mídias nos meios urbano e rural. Os avanços
de origem, insumos utilizados, colheita, abate, das mídias sociais e das plataformas de comér-
processamento, conservação, qualidade, ar- cio eletrônico têm impulsionado grandes trans-
mazenamento e transporte se tornará condição formações no relacionamento, na interação e
essencial para atendimento ao consumidor que na comunicação entre produtores, comercian-
exigirá transparência em relação a tais caracte- tes e consumidores.
rísticas.
A economia digital e colaborativa incremen-
O desenvolvimento de alimentos e bebidas tará ainda mais as habilidades de negociação
baseados em nichos de mercado, como funcio- e interações do consumidor nos processos
nais, fortificados, reduzidos ou isentos de açú- comerciais. No setor agroalimentar, isso é evi-
car, sódio e gorduras trans, será ampliado. Além denciado pela emergência de novos modelos
da nutrição, o alimento ganhará novos espaços, de negócio, como a venda direta do produtor,
como seu poder de socialização, prazer senso- o desenvolvimento de alimentos a partir de ex-
rial e experiência cultural. Produtos com novas cedentes e a valorização de produtos regionais,
funcionalidades, comercialização diferenciada, orgânicos, probióticos, vitamínicos, alergênicos,
terroir ou regionalidade de bebidas, queijos, bioestimulantes, bem-estar animal, gourmet e
embutidos, polpas, frutas e doces tendem a premium. Cada pessoa pode tornar-se um pro-
gerar cada vez mais empregos e renda no meio dutor e/ou um criador e difundir seus próprios
rural. produtos e conteúdos por meio de suas redes
de relacionamento através das plataformas di-
O uso de recursos biológicos renováveis será
gitais.
amplificado na produção de alimentos, quími-
cos, semioquímicos, fármacos, nutracêuticos, Cadeias produtivas serão mais valorizadas por
fibras, extratos e óleos essenciais, produtos causa da inclusão dos diferentes grupos sociais
industriais e energia. A domesticação e o apro- de produtores tradicionais e da incorporação
veitamento da biodiversidade nativa deverão de novas responsabilidades em seus negócios,
continuar crescentes, permitindo poupar recur- tanto em termos de compliance, quanto pela
sos naturais e fortalecer os espaços rurais com capacidade de executar e comunicar práticas
inclusão social e econômica das populações empresariais ambientalmente corretas e social-
locais. Aspectos relacionados à rotulagem e às mente mais justas. As redes de fair trade tendem
certificações, como os selos de qualidade, de- a maior protagonismo associado ao incremen-
nominação de origem, produto orgânico e so- to das certificações de comércio justo, com o
cioambiental, tendem a expressivo crescimento desenvolvimento de melhores condições de
nas próximas décadas. troca e a garantia dos direitos para produtores
e trabalhadores.
O protagonismo dos consumidores acelera
movimentos globais em direção à intensifica- Concomitantemente às mudanças sociais, cul-
ção do uso de plataformas digitais nas relações turais e econômicas nacionais e mundiais, a
de consumo, à cocriação de produtos e servi- agricultura passará por novas transformações
ços e à redução do desperdício de alimentos. O baseadas na convergência tecnológica e de
crescente nível de escolaridade da população conhecimentos na agricultura. A convergên-
adulta brasileira nas próximas décadas deve- cia das geotecnologias (GPS, Vants e sistemas
rá aumentar esse protagonismo, em razão do de informação) com a agricultura de precisão
maior acesso às informações por meio de novas (robótica, automação, inteligência artificial e
153
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
impressoras 3D) proporcionarão novos pata- Para superar os desafios em CT&I decorrentes
mares de eficiência e sustentabilidade na pro- das megatendências e aproveitar as oportuni-
dução animal e vegetal via agricultura digital. dades em uma agricultura cada vez mais com-
plexa e um mercado exigente em qualidade e
A interoperabilidade por meio da IoT permi-
sustentabilidade, alguns desafios serão comuns
tirá ampliar a supervisão e a análise das ope-
e transversais a todas as organizações dedica-
rações nas propriedades rurais. O número de
das a CT&I agrícola, destacando a necessidade
aplicativos para pequenos, médios e grandes
de:
produtores terá elevado desenvolvimento, es-
pecialmente para a gestão das áreas agrícolas, ◉◉ Fortalecer a articulação público-privada e
manejo de rebanhos, cotação de insumos, pre- público-pública, visando integrar investi-
visão de clima, identificação de doenças, uso de mentos e esforços estruturais diante das
defensivos, irrigação, código florestal e comer- rupturas tecnológicas crescentes e ampliar
cialização. O desenvolvimento científico será o acesso à saúde, à educação e à segurança
ampliado com a utilização convergente das alimentar das comunidades rurais, a fim de
áreas de nanotecnologia, biotecnologia, tecno- minimizar as desigualdades regionais.
logia da informação e ciência cognitiva (NBIC).
◉◉ Amplificar a análise integrada das in-
Abordagens e análises sistêmicas via bioinformáti- certezas e riscos econômicos, sociais e
ca proporcionarão melhor compreensão sobre o ambientais em escalas regionais e sua
funcionamento de sistemas agrícolas mais com- influência global no planejamento es-
plexos e suas interações com o meio. A engenharia tratégico da organização das diferentes
genética, por meio da edição genômica, tende a cadeias produtivas agrícolas.
evoluir exponencialmente na busca de genes que
◉◉ Definir estratégias de planejamento ter-
conferem maior resistência e tolerância a estres-
ritorial visando ao uso e à ocupação do
ses climáticos, no controle de pragas e doenças
solo via nexo de produção alimentar e
agrícolas e no melhoramento genético animal,
energias renováveis, conservação e pre-
bem como na diminuição de custos de produção
servação ambiental.
e maior sustentabilidade. Rotas metabólicas ino-
vadoras serão desenvolvidas visando à obtenção ◉◉ Identificar e analisar novos padrões de
de novos bioprodutos, como cosméticos, biofár- consumo visando atender às crescentes
macos, bioplásticos, biofertilizantes, bioenzimas exigências do consumidor em saudabi-
e biocombustíveis. Espera-se ainda um crescente lidade, praticidade, qualidade, confiabi-
desenvolvimento da citizen science (ciência cida- lidade, sensorialidade, prazer, sustenta-
dã) para melhorar a tomada de decisão de produ- bilidade e ética da produção e consumo
tores rurais e políticas públicas. de alimentos e derivados.
Nesse paradigma, os negócios convencionais se ◉◉ Contribuir para políticas públicas regio-
desenvolverão sob a ótica do mercado digital. O nalizadas visando ao maior dinamismo
relacionamento com clientes e consumidores organizacional científico-industrial-ins-
será fortalecido por meio dos ecossistemas em- titucional, apoiando arranjos produti-
presariais, do uso intensivo da automação e da vos agroindustriais e sua integração aos
convergência das TIC. A inteligência cognitiva mercados locais.
computacional viabilizará a criação de novos
produtos e serviços digitais para a sociedade.
154
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
◉◉ Estabelecer novas conexões entre sis- o papel das organizações públicas e privadas de
temas de conhecimento tradicionais e CT&I, como a Embrapa, será imprescindível.
científicos envolvendo múltiplos atores
As seguintes questões centrais se apresentam
e agentes públicos e privados para gerar
para o futuro das organizações: definir seu foco
inovações sociais e tecnológicas.
de atuação, reconhecendo a necessidade de
◉◉ Aprimorar articulações para constru- realizar pesquisa e inovação responsáveis, e fo-
ção de redes institucionais de múltiplos mentar a adoção de novos padrões de consu-
atores – do governo, da sociedade civil mo, a diversificação da produção e melhorias
organizada e do setor privado – com ar- na governança e inovação institucional.
ticulações intersetoriais e intergoverna-
mentais para desenvolver tecnologias e O Brasil alcançou seu recorde de produção de
práticas voltadas também à agricultura grãos na última safra, com cerca de 240 milhões
urbana e periurbana. de toneladas de grãos. Produz mais de 400 produ-
tos de origem animal e vegetal, provenientes das
◉◉ Melhorar a capacitação, tanto pública diferentes escalas e tamanhos de unidades pro-
quanto privada, técnica e profissional, dutivas, os quais são consumidos internamente
bem como o acesso a tecnologias, ino- e exportados para mais de 150 países de todos os
vações e conhecimentos de gestão das continentes. Os efeitos dessa condição proporcio-
propriedades agrícolas, a fim de atender naram preços mais acessíveis aos consumidores,
às diferentes classes rurais e às necessi- elevaram a renda, geraram novos empregos e
dades específicas de gênero (avançando impulsionaram a participação da agricultura no
na equidade de gênero). PIB brasileiro. Em 2017, as exportações de produ-
tos agropecuários alcançaram US$ 96,1 bilhões e
◉◉ Fortalecer alianças estratégicas nacio-
responderam por 44,1% do total das exportações
nais e internacionais, conjugando atores
brasileiras. O sucesso competitivo e sustentável da
e ações governamentais, do setor priva-
agricultura nacional passará por sua diversidade,
do e da sociedade civil organizada para
pluralidade e heterogeneidade, resultantes das re-
maior acesso a informações, tecnolo-
lações culturais, sociais, econômicas e ambientais
gias, financiamentos e mercados.
em curso e futuras.
◉◉ Desenvolver estratégias de comunica-
O conjunto das megatendências e os desafios
ção rural-urbana e Brasil-Mundo, forta-
apresentados neste estudo podem moldar a
lecendo a importância estratégica da
agricultura do futuro e seu efeito transformador
produção de alimentos saudáveis e da
para nossa história. A população e a renda con-
agroenergia limpa, ambas ambiental-
tinuam crescendo e a longevidade se expandin-
mente sustentáveis.
do em âmbito global, acarretando o desafio de
Ciência, tecnologia e inovação foram pilares do atender à elevação do consumo de alimentos,
desenvolvimento agrícola brasileiro nessas últi- fibras e energia de mais de 2 bilhões de pessoas
mas décadas e será com essa mesma tríade, de- adicionais no planeta até 2030. As vulnerabilida-
senvolvida por fortes parcerias público-privadas des e incertezas são crescentes e, nesse futuro
orientadas por políticas públicas consistentes e próximo, não bastará produzir maiores volu-
efetivas, que o protagonismo da agricultura no mes, será imperativo produzir com mais quali-
desenvolvimento econômico, social e ambien- dade, reduzindo custos, minimizando riscos e
tal no País e no mundo será mantido. Para tanto, conservando os recursos naturais.
155
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
REFERÊNCIAS
AGUIAR, D. R. D.; FIGUEIREDO, A. M. Poder de mercado
no varejo alimentar: uma análise usando os preços
do estado de São Paulo. Revista de Economia e
Sociologia Rural, v. 49, n. 4, p. 967-990, out./dez.
2011. DOI: 10.1590/S0103-20032011000400007.
300 MAIORES empresas do varejo brasileiro 2017. ALBERT, J. Innovations in food labelling. Rome:
Ranking do Varejo SBVC, 2017. 150 p. Disponível em: Food and Agriculture Organization of the United
<http://sbvc.com.br/wp-content/uploads/2017/08/ Nations: Woodhead Publishing Limited, 2010.
Ranking_2017.pdf>. Acesso em: 9 jan. 2018.
ALEXANDRATOS, N.; BRUINSMA, J. World agriculture
ABES SOFTWARE. Setor de software teve crescimento towards 2030/2050: the 2012 revision. Rome: FAO,
de 30,2% em 2015. Disponível em: <http://www. 2012. 147 p. (FAO. Working paper, 12-03).
abessoftware.com.br/noticias/industria-brasileira-de-ti-
investe-us-60-bilhoes-e-se-mantem-como-7%C2%B0- ALMEIDA, D. M. de; COSTA, D. de M.; COSTA, D. V.
maior-mercado-no-mundo>. Acesso em: 9 mar. 2018. Estratégias de marketing para o novo consumidor
omnichannel: um estudo em dois grupos varejistas.
ADDING value to traditional products of regional origin: Revista de Administração e Negócios da Amazônia,
a guide to creating a quality consortium. Vienna: United v. 9, n. 3, p. 20-36, maio/ago. 2017. DOI: 10.18361/2176-
Nations Industrial Development Organization, 2010. 8366/rara.v9n3p20-36 20.
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Conjuntura dos ALVES, E. Desafios da pesquisa. Revista de Política
recursos hídricos no Brasil 2017: relatório pleno. Agrícola, ano 25, n. 4, p. 165-168, out./nov./dez. 2016.
Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http://conjuntura.
ana.gov.br/static/media/conjuntura_completo. ALVES, E. R. de A.; SOUZA, G. da S. e. Pequenos
caf2236b.pdf>. Acesso em: 04 de abr. 2017. estabelecimentos também enriquecem? Pedras e
tropeços. Revista de Política Agrícola, ano 24, n. 3, p.
AGRITEMPO: sistema de monitoramento agrometeorológico. 7-21, jul./ago./set. 2015b.
Disponível em: <https://www.agritempo.gov.br/agritempo/
index.jsp>. Acesso em: 10 maio 2017. ALVES, E.; ROCHA, D. de P. Ganhar tempo é possível?
In: GASQUES, J. G.; VIEIRA FILHO, J. E. R.; NAVARRO,
AGROPENSA: Sistema de Inteligência Estratégica. Z. (Org.). A agricultura brasileira: desempenho,
Brasília, DF: Embrapa, 2018. Disponível em: <http:// desafios e perspectivas. Brasília, DF: Ipea, 2010. p.
www.embrapa.br/agropensa>. Acesso em: 13 set. 2018. 275-289.
AGROSTAT: estatísticas de comercio exterior do ALVES, E.; SANTANA, C. A. M.; CONTINI, E. Extensão
agronegócio brasileiro. Disponível em: <http:// rural – seu problema não é a comunicação. In: VIEIRA
sistemasweb.agricultura.gov.br/pages/AGROSTAT. FILHO, J. E. R.; GASQUES, J. G. (Org.). Agricutura,
html>. Acesso em: 10 maio 2017. transformação produtiva e sustentabilidade.
Brasília, DF: Ipea, 2016a.
AGUIAR, A. D.; SANTOS, P. M.; BALSALOBRE, M. A. A
Métodos de cálculo de taxa lotação em pastagens com ALVES, E.; SOUZA, G. da S. e. O semiárido segundo o
suplementação. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE censo agropecuário 2006 e os censos de população
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 43., 2006, João Pessoa. 1991, 2000 e 2010. Revista de Política Agrícola, ano
Produção animal em biomas tropicais: anais. João 24, n. 1, p.74-85, jan./fev./mar. 2015a.
Pessoa: Sociedade Brasileira de Zootecnia: Ed. da
UFPB, 2006. 7 p. 1 CD-ROM.
156
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
ALVES, E.; SOUZA, G. da S.; SANTANA, C. A. M. Pobreza ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL.
e sustentabilidade. Revista de Política Agrícola, ano Relatório anual 2017. Disponível em: <http://abpa-
25, n. 4, p. 63-81, out./nov./dez. 2016b. br.com.br/storage/files/3678c_final_abpa_relatorio_
anual_2016_portugues_web_reduzido.pdf>. Acesso
ALVES, E.; SOUZA, G. S.; ROCHA, D. P. Lucratividade na
em: 10 maio 2017c.
agricultura. Revista de Política Agrícola, v. 21, n. 2,
p. 45-63, 2012. ASSOCIAÇÃO NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS.
Disponível em: <http://www.anda.org.br/>. Acesso em:
ANDRADE, R. G.; TEIXEIRA, A. H. de C.; LEIVAS, J. F.; SILVA,
12 maio 2017.
G. B. S. da; NOGUEIRA, S. F.; VICTORIA, D. de C.; VICENTE,
L. E.; BOLFE, E. L. Indicativo de pastagens plantadas em ATRADIUS. Market monitor: focus on food
processo de degradação no bioma Cerrado. In: SIMPÓSIO performance and outlook. 2017. Disponível em:
BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 17., 2015, <https://atradiuscollections.com/documents/mm_
João Pessoa. Anais... São José dos Campos: INPE, 2015. food_dec_2017_eng.pdf>. Acesso em: 5 jan. 2018.
p. 1585-1592.
AZEVEDO, V. V. C.; CHAVES, S. A.; BEZERRA, D. C.;
ANSOFF, H. I. Managing strategic surprise by response FOOK, M. V. L.; COSTA, A. C. F. M. Quitina e quitosana:
to weak signals. California Management Review, v. aplicações como biomateriais. Revista Eletrônica de
18, n. 2, p. 21-33, 1975. Materiais e Processos, v. 2, n. 3, p. 27-34, 2007.
ANUÁRIO estatístico brasileiro do petróleo, gás natural BACHA, C. J. C.; STEGE, A. L.; HARBS, R. Ciclo de preços
e biocombustíveis. Brasília, DF: Agência Nacional de de terras agrícolas no Brasil. Revista de Política
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, 2016. Agrícola, ano 25, n. 4, p. 18-37, out./nov./dez. 2016.
ARIAS, D.; MENDES, P.; ABEL, P. (Coord.). Revisão BANCO MUNDIAL. A richer array of international
rápida e integrada da gestão de riscos poverty lines. 2017a. Disponível em: <http://blogs.
agropecuários no Brasil. Brasília, DF: Banco Mundial, worldbank.org/developmenttalk/richer-array-
2015. 76 p. international-poverty-lines>. Acesso em: 20 fev. 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MARKETING RURAL E BANCO MUNDIAL. Country poverty brief: Latin
AGRONEGÓCIO. 7ª Pesquisa hábitos do produtor rural. American and the Caribbean: Brazil. 2017b.
Agribusiness Intelligence, 31 maio 2017. Disponível Disponível em: <http://databank.worldbank.org/
em: <http://www.abmra.org.br/2016/wp-content/ data/download/poverty/B2A3A7F5-706A-4522-
uploads/2017/05/7_PESQUISA_HABITOS_DO_ AF99-5B1800FA3357/9FE8B43A-5EAE-4F36-8838-
PRODUTOR_RURAL_RELATORIOFINAL_IMPRENSA. E9F58200CF49/60C691C8-EAD0-47BE-9C8A-
pdf>. Acesso em: 26 fev. 2018. B56D672A29F7/Global_POV_SP_CPB_BRA.pdf>.
Acesso em: 21 fev. 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL.
História da suinocultura no Brasil. Disponível em: BANCO MUNDIAL. Salvaguardas contra a reversão
<http://abpa-br.com.br/setores/suinocultura>. Acesso dos ganhos sociais durante a crise econômica no
em: 31 out. 2017a. Brasil. 2017c. Disponível em: <https://nacoesunidas.
org/wp-content/uploads/2017/02/NovosPobresBrasil_
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL.
Portuguese.pdf>. Acesso em: 21 fev. 2018.
Relatório anual 2016. Disponível em: <http://abpa-
br.com.br/storage/files/versao_final_para_envio_ BARROS, G. S. de C. MACRO/CEPEA: agronegócio
digital_1925a_final_abpa_relatorio_anual_2016_ soma 19 milhões de pessoas ocupadas, metade
portugues_web1.pdf>. Acesso em: 10 maio 2017b. “dentro da porteira". São Paulo: Cepea, 2017.
157
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Disponível em: <https://www.cepea.esalq.usp.br/br/ BOLETIM SNIF. Brasília, DF: Serviço Florestal Brasileiro,
documentos/texto/macro-cepea-agronegocio-soma- ed. 1, 2017. Disponível em: <http://www.florestal.gov.
19-milhoes-de-pessoas-ocupadas-metade-dentro-da- br/documentos/publicacoes/3230-boletim-snif-2017-
porteira.aspx>. Acesso em: 22 fev. 2018. ed1-final/file>. Acesso em: 21 fev. 2018.
BAYER, C.; MARTIN-NETO, L.; MIELNICZUK, J.; BOLFE, É. L.; VICTORIA, D. de C.; CONTINI, E.; BAYMA-
PAVINATO, A.; DIECKOW, J. Carbon sequestration SILVA, G.; SPINELLI-ARAUJO, L.; GOMES, D. Matopiba
in two brazilian cerrado soils under no-till. Soil & em crescimento agrícola: aspectos territoriais e
Tillage Research, v. 86, n. 2, p. 237-245, Apr. 2006. DOI: socioeconômicos. Revista de Política Agrícola, v. 12,
10.1016/j.still.2005.02.023. n. 4, p. 38-62, out./nov./dez. 2016.
BEIJING GENOMICS INSTITUTE. BGI Announces the BORLAUG, N. Feeding a hungry world. Science,
Latest Progress of “1000 Plant & Animal Reference v. 318, n. 5849, p. 359, Oct. 2007. DOI: 10.1126/
Genomes Project”. Disponível em: <www.genomics. science.1151062.
cn/en/news/show_news?nid=98893>. Acesso em: 9
BOUIS, H. E.; SALTZMAN, A. Improving nutrition
mar. 2018.
through biofortification: a review of evidence from
BELUSSO, H. A evolução da avicultura industrial HarvestPlus, 2003 through 2016. Global Food
brasileira e seus efeitos territoriais. Revista Percurso, Security, v. 12, 2017, p. 49-58, Mar. 2017. DOI:
v. 2, n. 1, p. 25-51, 2010. 10.1016/j.gfs.2017.01.009.
158
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
12 de dezembro de 1972 e o art. 6º Lei nº 9.393, de 19 BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe
de dezembro de 1996 e dá outras providências. 2012a. sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis
Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/ nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de
integras/1006361.pdf>. Acesso: 27 fev. 2018. dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de
2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro
BRASIL. Congresso. Senado. Projeto de Lei do
de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida
Senado nº 487, de 2013. 2013. Disponível em:
Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá
<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/
outras providências. Diário Oficial da União, 28 maio
materias/-/materia/115437>. Acesso em: 27 fev. 2018.
2012b.
BRASIL. Decreto nº 6.476, de 5 de junho de 2008.
BRASIL. Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015.
Promulga o Tratado Internacional sobre Recursos
Regulamenta o inciso II do § 1o e o § 4o do art. 225 da
Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura,
Constituição Federal, o Artigo 1, a alínea j do Artigo 8,
aprovado em Roma, em 3 de novembro de 2001, e
a alínea c do Artigo 10, o Artigo 15 e os §§ 3o e 4o do
assinado pelo Brasil em 10 de junho de 2002. Diário
Artigo 16 da Convenção sobre Diversidade Biológica,
Oficial da União, 6 jun. 2008.
promulgada pelo Decreto no 2.519, de 16 de março de
BRASIL. Decreto nº 9.283, de 7 de fevereiro de 2018. 1998; dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético,
Regulamenta a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de sobre a proteção e o acesso ao conhecimento
2004, a Lei nº 13.243, de 11 de janeiro de 2016, o art. tradicional associado e sobre a repartição de
24, § 3º, e o art. 32, § 7º, da Lei nº 8.666, de 21 de junho benefícios para conservação e uso sustentável da
de 1993, o art. 1º da Lei nº 8.010, de 29 de março de biodiversidade; revoga a Medida Provisória no 2.186-
1990, e o art. 2º, caput, inciso I, alínea “g”, da Lei nº 16, de 23 de agosto de 2001; e dá outras providências.
8.032, de 12 de abril de 1990, e altera o Decreto nº Diário Oficial da União, 14 maio 2015.
6.759, de 5 de fevereiro de 2009, para estabelecer
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
medidas de incentivo à inovação e à pesquisa
Abastecimento. Câmaras setoriais e temáticas.
científica e tecnológica no ambiente produtivo,
2016. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/
com vistas à capacitação tecnológica, ao alcance da
assuntos/camaras-setoriais-tematicas>. Acesso em: 21
autonomia tecnológica e ao desenvolvimento do
fev. 2018.
sistema produtivo nacional e regional. Diário Oficial
da União, 8 fev. 2018. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores.
Lançamento do Satélite Geoestacionário
BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005.
de Defesa e Comunicações (SGDC). 2017b.
Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1o do art. 225 da
Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/
Constituição Federal, estabelece normas de segurança
notas-a-imprensa/15916-lancamento-do-satelite-
e mecanismos de fiscalização de atividades que
geoestacionario-de-defesa-e-comunicacoes-sgdc>.
envolvam organismos geneticamente modificados –
Acesso em: 9 mar. 2018.
OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de
Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário.
a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga Relatórios para Brasil e semiárido, regiões,
a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida estados, territórios e municípios. 2015. Disponível
Provisória no 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os em: <http://www.mda.gov.br/sitemda/pagina/
arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei no 10.814, de 15 acompanhe-a%C3%A7%C3%B5es-do-mda-e-incra>.
de dezembro de 2003, e dá outras providências. Diário Acesso em: 21 fev. 2018.
Oficial da União, 28 mar. 2005.
159
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Bolsa BUAINAIN, A. M.; ALVES, E.; SILVEIRA J. M. DA; NAVARRO,
família. 2017a. Disponível em: <http://mds.gov.br/ Z. (Ed.). O mundo rural no Brasil do século 21:
assuntos/bolsa-familia>. Acesso em: 23 fev. 2018. a formação de um novo padrão agrário e agrícola.
Brasília, DF: Embrapa, 2014.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Acordo de
Paris. 2016a. Disponível em: <http://www.mma.gov. BUAINAIN, A. M.; GARCIA, J. R. A nova cara da pobreza
br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de- rural: desenvolvimento e a questão regional. Brasília,
paris>. Acesso em: 26 fev. 2018. DF: IICA, 2013. Disponível em: <http://www.iica.int/
sites/default/files/publications/files/2015/B3102p.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Áreas
pdf>. Acesso em: 3 fev. 2018.
protegidas: unidades de conservação: o que são.
2018a. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/areas- CARDOSO, M. J. Sistemas diferenciados de
protegidas/unidades-de-conservacao/o-que-sao>. cultivo. Disponível em: <http://www.agencia.
Acesso em: 2 mar. 2018. cnptia.embrapa.br/gestor/feijao-caupi/arvore/
CONTAG01_17_510200683536.html>. Acesso em: 2
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente.
mar. 2018.
iNDC (Contribuição Nacionalmente
Determinada). 2016b. Disponível em: <http:// CARNEIRO, F. F.; PIGNATI, W.; RIGOTTO, R. M. Dossiê
www.mma.gov.br/informma/item/10570-indc- Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos
contribui%C3%A7%C3%A3o-nacionalmente- na saúde. Parte 1. Agrotóxicos, segurança alimentar e
determinada>. Acesso em: 26 fev. 2018. nutricional e saúde. Rio de Janeiro: Abrasco, 2012.
160
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
CERIBELLI, C. O varejo onipresente. Mercado e CONTINI, E.; TALAMINI, D. J. D.; VIEIRA JUNIOR, P. A.
Consumo, n. 5, p. 10-18, fev./mar. 2014. Cenário mundial de commodities: frango, soja e milho.
In: CONFERÊNCIA FACTA, 2013, Campinas. Anais...
CGEE. Centro de Gestão e Estudos Estratégicos.
Campinas: Facta, 2013. 1 CD-ROM.
Convergência tecnológica. Brasília, DF, 2008.
Disponível em: <http://www.cgee.org.br/atividades/ CONVENTION ON BIOLOGICAL DIVERSITY: meetings
redirect/4838>. Acesso em: 21 fev. 2018. of the Conference of the Parties. 2018. Disponível em:
<https://www.cbd.int/cop/> Acesso em: 7 mar. 2018.
CGEE. Centro de Gestão e Estudos Estratégicos.
Estratégia brasileira para a transformação digital: CONVENTION ON BIOLOGICAL DIVERSITY: the Nagoya
documento base para discussão pública. 2017. Protocol on Access and Benefit-sharing. 2014.
Disponível em: <http://www.cgee.org.br/prospeccao/ Disponível em: <https://www.cbd.int/abs/>. Acesso
exercicio/delphi/doc/168/EDB_RELATORIO_FINAL- em: 22 fev. 2018.
rev-12-07-2017.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2018.
CORNELL LAW SCHOOL. 7 U.S. Code § 3103 -
CHADDAD, F. Economia e organização da definitions. Disponível em: <https://www.law.cornell.
agricultura brasileira. São Paulo: Elsevier, 2017. edu/uscode/text/7/3103>. Acesso em: 21 out. 2017.
CHADDAD, F. The economics and organization COSTA FILHO, M. C. M. da; CARNEIRO, JORGE, T.;
of Brazilian agriculture: recent evolution and COSTA, C.; FARIA, F. Imagem Brasil na percepção do
productivity gains. San Diego: Elsevier, 2016. consumidor estrangeiro: uma abordagem prática.
Revista Alcance, v. 23, n. 4, p. 437-454, out./dez. 2016.
CHRISTOFIDIS, D. Água e agricultura. Brasília,
DOI: 10.14210/alcance.v23n4(Out-Dez).p437-454.
DF: Ministério da Integração Nacional, 2005. (Série
irrigação e água). COSTA, L. de S.; GARCIA, L. A.; BRENE, P. R. A. Panorama
do setor de frangão de corte no Brasil e a participação
CODAF. Competências digitais para agricultura
da indústria avícola paranaense no complexo dado
familiar. 2018. Disponível em: <http://codaf.tupa.
o seu alto grau de competitividade. In: SIMPÓSIO
unesp.br/institucional/sobre-o-codaf>. Acesso em: 22
INTERNACIONAL DE GESTÃO DE PROJETOS, INOVAÇÃO
fev. 2018.
E SUSTENTABILIDADE, 4., 2015, São Paulo. Anais…
COMPETITION issues in the food chain industry: 2013. São Paulo: Uninove, 2015. Disponível em: <https://
[S.l.]: Organisation for Economic Co-operation and singep.org.br/4singep/resultado/209.pdf>. Acesso em:
Development, 2014. (DAF/COMP(2014)16). Disponível 21 fev. 2018.
em: <https://www.oecd.org/daf/competition/
COSTA, L. O.; FERNANDEZ, D. B. Análise da satisfação
CompetitionIssuesintheFoodChainIndustry.pdf>.
dos atores do canal de distribuição: relação
Acesso em: 2 jan. 2018.
fornecedor local / grande distribuição. Revista de
CONAB. Quadro de oferta e demanda. 2017. Gestão em Análise, v. 3, n. 1/2, p. 78-92, jan./dez.
Disponível em: < https://portaldeinformacoes.conab. 2014. DOI: 10.12662/2359-618xregea.v3i1/2.p78-
gov.br/index.php/oferta?view=default>. Acesso em: 18 92.2014.
abr. 2018.
CROWHURST, R. Key trends in agri-tech.
CONAB. Safras. 2018. Disponível em: <https:// Disponível em: <https://natwest.contentlive.co.uk/
portaldeinformacoes.conab.gov.br/index.php/ content/3cb0dc36-908f-b579-9361-91efa04b6203>.
safras?view=default>. Acesso em: 4 abr. 2018. Acesso em: 19 jan. 2018.
161
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
CRUZ, A. C.; PEREIRA, F. S.; FIGUEIREDO, V. S. DINIZ, F. CTNBio aprova feijão transgênico
Fertilizantes organominerais de resíduos do desenvolvido pela Embrapa. Notícias, 15 set. 2011.
agronegócio: Avaliação do potencial econômico Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-
brasileiro. BNDES Setorial, n. 45, p. 137-187, 2017. noticias/-/noticia/18152409/ctnbio-aprova-feijao-
transgenico-desenvolvido-pela-embrapa>. Acesso em:
DALL’AGNOL, A. SEALBA, uma nova fronteira
9 mar. 2018.
para a soja? 2017. Disponível em: <http://pinheiro.
cnpso.embrapa.br:8080/documents/10179/16724/ DINO. Mercado brasileiro de alimentos e bebidas
SEALBA%2C%20uma+nova+fronteira+para+a+soja/10 saudáveis movimentou R$93,6 bilhões em 2016.
242f2c-7c84-44d2-9868-194bbc26d4f5;jsessionid=FBE Exame, 23 mar. 2017. Comunicação corporativa.
C5E2C2BB6F22557DB8197E4F70D9A>. Acesso em: 21 Disponível em: <https://exame.abril.com.br/negocios/
fev. 2018. dino/mercado-brasileiro-de-alimentos-e-bebidas-
saudaveis-movimentou-r936-bilhoes-em-2016-
DATA SCIENCE ACADEMY. O que é visão
shtml/>. Acesso em: 20 set. 2017.
computacional. 2017. Disponível em: <http://
datascienceacademy.com.br/blog/o-que-e-visao- DONAGEMMA, G. K.; FREITAS, P. L. de; BALIEIRO, F. de
computacional/>. Acesso em: 26 fev. 2018. C.; FONTANA, A.; SPERA, S. T.; LUMBRERAS, J. F.; VIANA,
J. H. M.; ARAUJO FILHO, J. C. de; SANTOS, F. C. dos;
DAUKAS, J. Markets for environmental services. In:
ALBUQUERQUE, M. R. de; MACEDO, M. C. M.; TEIXEIRA,
TRANSITION to a bioeconomy: environmental and
P. C.; AMARAL, A. J.; BORTOLON, E.; BORTOLON, L.
rural development impacts. In: FARM FOUNDATION/
Caracterização, potencial agrícola e perspectivas
USDA CONFERENCE, 2008, St. Louis. Proceedings…
de manejo de solos leves no Brasil. Pesquisa
Oak Brook: Farm Foundation, 2008. Disponível
Agropecuária Brasileira, v. 51, n. 9, p. 1003-1020, set.
em: <https://www.farmfoundation.org/news/
2016. DOI: 10.1590/S0100-204X2016000900001.
articlefiles/401-Jimmy%20Daukas.pdf>. Acesso em: 23
fev. 2018. DUFF & PHELPS. Industry insights: food retail
industry insights – 2016. 2016. Disponível em: <https://
DECONTO, J. G. (Coord.). Aquecimento global e a
www.duffandphelps.com/assets/pdfs/publications/
nova geografia da produção agrícola no Brasil.
mergers-and-acquisitions/industry-insights/
[Brasília, DF]: Embrapa; [Campinas]: Ed. da Unicamp,
consumer/food-retail-industry-insights-2016.pdf>.
2008. 82 p. Disponível em: <http://www.agritempo.
Acesso em: 2 jan. 2018.
gov.br/climaeagricultura/clima_e_agricultura_
brasil_300908_final.pdf>. Acesso em: 10 maio 2017. DULLEY, R. D.; TOLEDO, A. A.; GAYOSO, F. de.
Rastreabilidade dos produtos agrícolas. Informações
DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E
Econômicas, v. 33, n. 3, mar. 2003.
ESTUDOS SOCIECONÔMICOS. Pesquisa nacional de
cesta básica: São Paulo [1959-2017]. Disponível em: DURIGAN, G. O uso de indicadores para
<https://www.dieese.org.br/cesta/>. Acesso em: 5 set. monitoramento de áreas em recuperação. In: UEHARA,
2017. T. H. K.; GANDARA, F. B. (Org.). Monitoramento de
áreas em recuperação: subsídios à seleção de
DEVELOPMENT and climate change. Washington, DC:
indicadores para avaliar o sucesso da restauração
The World Bank, 2010. (World development report).
ecológica. São Paulo: Secretaria de Estado do
Disponível em: <https://siteresources.worldbank.org/
Meio Ambiente, 2009. (Cadernos da mata ciliar, 4).
INTWDR2010/Resources/5287678-1226014527953/
Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/
WDR10-Full-Text.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2018.
mataciliar/>. Acesso em: 26 fev. 2018.
162
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
EBAY. Empowering consumers by promoting EMBRAPA. Controle biológico: sobre o tema. 2018c.
access to the 21st century market – a call for Disponível em: <https://www.embrapa.br/tema-
action. Bruxelas: eBay/EU Liaison Office, [ca. 2009]. controle-biologico>. Acesso em: 2 mar. 2018.
Disponível em: <http://ec.europa.eu/competition/
EMBRAPA. Mecanização e agricultura de precisão.
sectors/media/ebay_call_for_action.pdf>. Acesso em:
Disponível em: <https://www.embrapa.br/tema-
22 set. 2017.
mecanizacao-e-agricultura-de-precisao/nota-tecnica>.
EDENHOFER, O.; PICHS-MADRUGA, R.; SOKONA, Y.; Acesso em: 13 set. 2017.
MINX, J. C.; FARAHANI, E.; KADNER, S.; SEYBOTH,
EMBRAPA. Simplificação do plantio direto reduz
K.; ADLER, A.; BAUM, I.; BRUNNER, S.; EICKEMEIER,
eficiência da lavoura. 2014a. Disponível em:
P.; KRIEMANN, B.; SAVOLAINEN, J.; SCHLÖMER, S.;
<https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/
STECHOW, C. VON; ZWICKEL, T. (Ed.). Climate change
noticia/1909275/simplificacao-do-plantio-direto-
2014: mitigation of climate change: summary for
reduz-eficiencia-da-lavoura>. Acesso em: 26 fev. 2018.
policymakers: technical summary painel. Part of the
Working Group III Contribution to the Fifth Assessment EMBRAPA. Soluções tecnológicas: sistemas
Report of the Intergovernmental Panel on Climate agroflorestais (SAFs). 2004. Disponível em: <https://
Change. [S.l.]: Intergovernmental Panel on Climate www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/
Change, 2015. 141 p. Disponível em: <https://www. produto-servico/112/sistemas-agroflorestais-safs>.
ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar5/wg3/WGIIIAR5_ Acesso em: 2 mar. 2018.
SPM_TS_Volume.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2018.
EMBRAPA. Soluções tecnológicas: sistemas de
EL ESTADO mundial de la pesca y la acuicultura: produção integrados – ILPF. 2007. Disponível em:
contribución a la seguridad alimentaria y la nutrición <https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-
para todos. Roma: FAO, 2016. 226 p. tecnologicas/-/produto-servico/1049/sistemas-de-
producao-integrados---ilpf>. Acesso em: 2 mar. 2018.
ELOY, L.; COUDEL, E.; TONI, F. Dossiê pagamentos por
serviços ambientais no Brasil. Sustentabilidade em EMBRAPA. Visão 2014-2034: o futuro do
Debate, v. 4, n. 1, p. 17-20, 2013. desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira.
Brasília, DF: Embrapa, 2014b. 194 p.
EMBRAPA. Ações e campanhas: código florestal: sobre
a Lei 12.651/2012: glossário. 2018a. Disponível em: ERISMAN, J. W.; SUTTON, M. A.; GALLOWAY, J.;
<https://www.embrapa.br/codigo-florestal/entenda- KLIMONT, Z.; WINIWARTER, W. How a century of
o-codigo-florestal/glossario?p_auth=8o9jbGhz&p_p_ ammonia synthesis changed the world. Nature
auth=U511UP9u&p_p_id=49&p_p_lifecycle=1&p_p_ Geoscience, v. 1, p. 636-639, Sept. 2008. DOI: 10.1038/
state=normal&p_p_mode=view&p_p_ ngeo325.
col_count=2&_49_struts_action=%2Fmy_
sites%2Fview&_49_groupId=10180&_49_ ESPÍNDOLA, C. J. As agroindústrias no Brasil: o caso
privateLayout=false#collapse_hwvd_83>. Acesso em: Sadia. Chapecó: Grifos, 1999.
2 mar. 2018.
ESTADOS UNIDOS. Department of Agriculture.
EMBRAPA. Ações e campanhas: código florestal: Agricultural Marketing Service. United sorghum
sobre a Lei 12.651/2012: área de reserva legal. 2018b. checkoff program. 2018a. Disponível em: <https://
Disponível em: <https://www.embrapa.br/codigo- www.ams.usda.gov/rules-regulations/research-
florestal/area-de-reserva-legal-arl>. Acesso em: 2 mar. promotion/sorghum>. Acesso em: 18 jan. 2018.
2018.
163
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
ESTADOS UNIDOS. Department of Agriculture. Food Science & Technology, v. 22, n. 6, p. 292-303,
Economic Research Service. International June 2011. DOI: 10.1016/j.tifs.2011.02.004.
agricultural productivity. Washington, DC, 2017a.
FAO. Adapting agriculture to climate change. 2016.
Disponível em: <https://www.ers.usda.gov/data-
Disponível em: <http://www.fao.org/3/a-i6398e.pdf>.
products/international-agricultural-productivity/>.
Acesso em: 03 mar. 2018.
Acesso em: 16 jun. 2017.
FAO. FAOSTAT: land use. Disponível em: <http://www.
ESTADOS UNIDOS. Department of Agriculture. Local food
fao.org/faostat/en/#data/RL>. Acesso em: 3 nov. 2017.
directories: national farmers market directory. 2018b.
Disponível em: <https://www.ams.usda.gov/local-food- FAO. Report of the World Food Summit. Roma, 1997.
directories/farmersmarkets>. Acesso em: 23 fev. 2018. Disponível em: <http://www.fao.org/wfs>. Acesso em:
1 mar. 2018.
ESTADOS UNIDOS. Department of Agriculture. USDA
agricultural projections to 2026. Washington, FAO. Water-energy-food-nexus. Disponível em:
DC, 2017b. (Long-term projections report OCE- <http://www.fao.org/energy/water-food-energy-nexus/
2017-1). Disponível em: <https://www.usda.gov/ en/>. Acesso em: 28 fev. 2018.
oce/commodity/projections/USDA_Agricultural_
Projections_to_2026.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2017. FIDALGO, E. C. C.; PRADO, R. B.; PARRON, L. M.;
CAMPANHA, M. M.; FERREIRA, J. N.; AQUINO, F. G.;
EUROPEAN COMMISSION. The collaborative MONTEIRO, J. M. G. Estratégias de P&D na Embrapa
economy factsheet. 2016. Disponível em: <http:// como subsídio à agricultura familiar: contribuições
ec.europa.eu/DocsRoom/documents/16955/ do arranjo Serviços Ambientais na Paisagem Rural.
attachments/1/translations>. Acesso em: 4 jan. 2018. [Brasília, DF: Embrapa], 2017.
EUROPEAN UNION. Innovating for sustainable FONSECA, L. Os sons do pastejo. 2014. 98 f. Tese
growth: a bioeconomy for Europe. European Union, (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em
Directorate-General for Research and Innovation, 2012. Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Disponível em: <https://publications.europa.eu/en/ Porto Alegre.
publication-detail/-/publication/1f0d8515-8dc0-4435-
ba53-9570e47dbd51>. Acesso em: 22 nov. 2017. FOOD RESEARCH CENTER. Qual a diferença entre
prebiótico, probiótico e simbiótico e quais os
FAKHOURI, F. M.; MARTELLI, S. M.; CAON, T.; VELASCO, benefícios que podem conferir à saúde? Disponível
J. I.; MEI, L. H. I. Edible films and coatings based on em: <http://www.usp.br/forc/o-cientista-responde.
starch/gelatin: Film properties and effect of coatings php?t=Qual-a-diferenca-entre-prebiotico,-probiotico-
on quality of refrigerated Red Crimson grapes. e-simbiotico-e-quais-os-beneficios-que-podem-
Postharvest Biology and Technology, v. 109, p. 57- conferir-a-saude?&cr=95#sthash.U6gnsdDB.LQknL4GL.
64, Nov. 2015. DOI: 10.1016/j.postharvbio.2015.05.015. dpuf>. Acesso em: 27 fev. 2018.
FALEIRO, A. C. Ciências “Ômicas”: o que é isso? 2017. FOOD systems and diets: facing the challenges of the
Disponível em: <http://docente.unemat.br/acfaleiro/ 21st century. London, UK: Global Panel on Agriculture
omicas/>. Acesso em: 2 mar. 2018. and Food Systems for Nutrition, 2016. 132 p.
FALGUERA, V.; QUINTERO, J. P.; JIMENEZ, A.; MUÑOZ, FREITAS, P. L. de; GANEM, S. M. Utilização de efluentes
J. A.; IBARZ, A. Edible films and coatings: structures, na agricultura irrigada: reuso, produtor de águas e
active functions and trends in their use. Trends in
164
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
165
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
166
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
167
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
LOVRETA, S.; KONČAR, J.; STANKOVIĆ, L. Đ. Effects of cenários para o desenvolvimento. Brasília, DF: Ipea:
increasing the power of retail chains on competitive Assecor, 2017. 320 p.
position of producers. Acta Polytechnica Hungarica,
MARCOVITCH, J. Os compromissos de Paris e os
v. 13, n. 4, p. 121-140, 2016.
ODS 2030: energia, florestas e redução de GEE. São
MAIA, A. G.; SAKAMOTO, C. S. A nova configuração do Paulo: FEA/USP, 2016. Disponível em: <https://usp.
mercado de trabalho agrícola brasileiro. In: BUIANAIN, br/mudarfuturo/cms/wp-content/uploads/EAD5953-
A. M.; ALVES, E.; SILVEIRA, J. M. da; NAVARRO, Z. (Ed.). 2016-textos-finais-vers%C3%A3o-site-04.12-181216-
O mundo rural no Brasil do século 21: a formação 291216-F..pdf>. Acesso em: 02 dez. 2017.
de um novo padrão agrário e agrícola. Brasília, DF:
MARIN, F. R.; PILAU, F. G.; SPOLADOR, H. F. S.; OTTO,
Embrapa, 2014. p. 591-620.
R.; PEDREIRA, C. G. S. Intensificação sustentável da
MAJUMDAR, J.; NARASEEYAPPA, S.; ANKALAKI, agricultura brasileira Cenários para 2050. Revista de
S. Analysis of agriculture data using data mining Política Agrícola, ano 25, n. 3, p. 108-124, jul./ago/set.
techniques: application of big data. Journal of Big 2016.
Data, v. 4, n. 20, 2017. DOI: 10.1186/s40537-017-0077-4.
MARKET WATCH. Agricultural Drones Market
MANAGING risk in agriculture: a holistic approach. Worth $3.69 Billion by 2022. 2016. Disponível
Paris: OECD Publishing, 2009. 167 p. Disponível em: em: <http://www.marketwatch.com/story/
<http://www.oecd.org/agriculture/agricultural- agricultural-drones-market-worth-369-billion-
policies/45558582.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2018. by-2022-2016-04-06-2203128>. Acesso em: 9 mar. 2018.
MANDL, C.; ADACHI, V. Estrangeiros acham saída MARTHA JÚNIOR, G. B.; ALVES, E.; CONTINI, E. Land-
para investir em terras. 2017. Disponível em: <http:// saving approaches and beef production growth in
www.valor.com.br/brasil/5231479/estrangeiros- Brazil. Agricultural Systems, v. 110, p. 173-177, July
acham-saida-para-investir-em-terras>. Acesso em: 9 2012. DOI: 10.1016/j.agsy.2012.03.001.
mar. 2018.
MARTHA JUNIOR, G. B.; PENA JÚNIOR, M. A. G.;
MANGER, A. Commodity checkoff programs: MARCIAL, E. C.; CASTANHEIRA NETO, F.; TORRES, L. A.;
what are they and how they promote ag products? NOGUEIRA, V. G. de C.; CHERVENSKI, V. M. B.; SILVA, G.
Thompson Coburn LLP, 2016. Disponível em: <https:// T. S. da; WOSGRAU, A. C. Cenários exploratórios para
www.thompsoncoburn.com/insights/blogs/food- o desenvolvimento tecnológico da agricultura
fight/post/2016-01-14/commodity-checkoff-programs- brasileira: síntese. Brasília, DF: Embrapa, 2016.
what-are-they-and-how-do-they-promote-ag- Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/
products->. Acesso em: 18 jan. 2018. bitstream/item/156492/1/AGROPENSA-cenarios-
exploratorios.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017.
MAPA Mental da Eutrofização de Açudes. Disponível
em: <http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/ MASSRUHÁ, S. M. F. S.; LEITE, M. A. de A. Agricultura
mma15.htm>. Acesso em: 2 mar. 2018. digital. RECoDAF: revista eletrônica competências
digitais para agricultura familiar, v. 2, n. 1, p. 72-88,
MARCIAL, E. C. Análise estratégica: estudos de futuro
jan./jun. 2016.
no contexto da inteligência competitiva. Brasília, DF:
Thesaurus, 2011. (Coleção inteligência competitiva). MASSRUHÁ, S. M. F. S.; LEITE, M. A. de A. Agro 4.0 -
rumo à agricultura digital. In: MAGNONI JÚNIOR,
MARCIAL, E. C.; CURADO, M. P. F.; OLIVEIRA, M. G. de;
L.; STEVENS, D.; SILVA, W. T. L. da; VALE, J. M. F. do;
CRUZ JÚNIOR, S. C. da; COUTO, L. F. (Ed.). Brasil 2035:
PURINI, S. R. de M.; MAGNONI, M. da G. M.; SEBASTIÃO,
168
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
E.; BRANCO JÚNIOR, G.; ADORNO FILHO, E. F.; MIELE, M.; MIRANDA, C. O desenvolvimento da
FIGUEIREDO, W. dos S.; SEBASTIÃO, I. (Org.). JC na agroindústria brasileira de carnes e as opções
Escola Ciência, Tecnologia e Sociedade: mobilizar estratégicas dos pequenos produtores de suínos do
o conhecimento para alimentar o Brasil. 2. ed. São Oeste Catarinense no início do século21. In: NAVARRO,
Paulo: Centro Paula Souza, 2017. p. 28-35. Z.; CAMPOS, S.K. (Org.). A pequena produção rural
e as tendências do desenvolvimento agrário
MCCARTHY, J. J.; CANZIANI, O. F.; LEARY, N. A.; DOKKEN,
brasileiro: ganhar tempo é possível? Brasília: CGEE,
D. J.; WHITE, K. S. (Ed.). Climate Change 2001:
2013. p. 201-232.
impacts, adaptation and vulnerability. Cambridge:
Cambridge University Press, 2001. Contribution of MILOVIC, B.; RADOJEVIC, V. Application of data mining
Working Group II to the Third Assessment Report of in agriculture. Bulgarian Journal of Agricultural
the Intergovernmental Panel on Climate Change). Science, v. 21, n. 1, p. 26-34, 2015.
Disponível em: <https://www.ipcc.ch/ipccreports/tar/
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS.
wg2/pdf/wg2TARfrontmatter.pdf>. Acesso em: 23 fev.
Mecanimos de desenvolvimento limpo. Disponível
2018.
em: <http://www.mpgo.mp.br/portal/noticia/
MCCRAE, R. R.; COSTA JR, P. T. Validation of the mecanismos-de-desenvolvimento-limpo-mdl#.Wp_
five-factor model of personality across instruments lX2cjWfF>. Acesso em: 22 jan. 2018.
and observers. Journal of Personality and Social
MIRANDA, C. L.; ALVARENGA, S. M.; MELO, J. O;
Psychology, v. 52, n. 1, p. 81-90, 1987.
SANTANA, F. A. Genômica no melhoramento.
MEIO AMBIENTE: entenda como funciona o Disponível em: <http://arquivo.ufv.br/dbg/resumos/
mecanismo de desenvolvimento limpo. Portal Brasil, cristiana.htm>. Acesso em: 1 mar. 2018.
30 maio 2014. Disponível em: <http://www.brasil.gov.
MIRANDA, E. de; MAGALHÃES, L.; CARVALHO, C. Um
br/meio-ambiente/2014/05/entenda-como-funciona-
sistema de inteligência territorial estratégica para
o-mecanismo-de-desenvolvimento-limpo-mdl>.
o MATOPIBA. Campinas: Embrapa, 2014.
Acesso em: 8 dez. 2017.
MIRANDA, E. E. Meio ambiente: a salvação pela
MEIRELLES, F. de S. 28ª pesquisa anual de
lavoura. Ciência e Cultura, v. 69, n. 4, p. 38-44, 2017.
administração e uso de tecnologia da informação
nas empresas. 2017. Disponível em: <http:// MONSANTO. Agricultural biologicals. Disponível
bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/19112>. em: <http://www.monsanto.com/products/pages/
Acesso em: 3 jan. 2018. biodirect-ag-biologicals.aspx>. Acesso em: 9 mar. 2018.
MELO, I. S. de. Rizobacterias promotoras de MONTE, D. de C.; LOPES, D. B.; CONTINI, E. China, a
crescimento de plantas: descricao e potencial de uso nova potência também no agronegócio. Curitiba:
na agricultura. IN: MELO, I. S. de; AZEVEDO, J. L. de Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná, 2018.
(Ed.). Ecologia microbiana. Jaguariúna: Embrapa- Disponível em: <http://www.fupef.ufpr.br/artigo-china-
CNPMA, 1998. p. 87-116. a-nova-potencia-tambem-no-agronegocio/>. Acesso
em: 19 jan. 2018.
MENEZES, G. R. de O.; ROSA, A. do N. F.; SILVA, L. O. C.
da; TORRES JUNIOR, R. A. de A.; FEIJO, G. L. D.; EGITO, MORAES, L. C. (Ed.). Brasil food trends 2020. São
A. A. do; SIQUEIRA, F. Demandas tecnológicas dos Paulo: Gráfica Ideal, 2010.
sistemas de produção de bovinos de corte no Brasil:
melhoramento genético animal. Brasília, DF: Embrapa, MOREIRA, J. F. L. Nutrigenômica e nutrição
2016. 22 p. (Embrapa Gado de Corte. Documentos, 217). molecular. 2016. 66 f. Dissertação (Mestrado em
169
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Ciências Farmacêuticas) – Instituto Egas Moniz, NAÇÕES UNIDAS. Erradicação da pobreza: acabar
Almada. com a pobreza em todas suas formas, em todos os
lugares. 2017. Disponível em: <https://nacoesunidas.
MOREIRA, J. M. A. P. M.; SIMONINI, F. J.; OLIVEIRA, E. B.
org/wp-content/uploads/2017/06/Documento-
Importância e desempenho das florestas plantadas
Tem%C3%A1tico-ODS-1-Erradica%C3%A7%C3%A3o-
no contexto do agronegócio brasileiro. Floresta, v. 47,
da-Pobreza_11junho2017.pdf>. Acesso em: 2 mar.
n. 1, p. 85-94, jan./mar 2017. Disponível em: <http://
2018.
revistas.ufpr.br/floresta/article/view/47687> . Acesso
em: 22 jan. 2018. NAISBITT, J.; ABURDENE, P. Megatrends 2000: ten
new directions for the 1990’s. New York: William
MOTTA, R. S. da; HARGRAVE, J.; LUEDEMANN, G.;
Morrow and Company, 1990. 384 p.
GUTIERREZ, M. B. S. (Ed.). Mudança do clima no
Brasil: aspectos econômicos, sociais e regulatórios. NASA. NASA Tests Limits of 3-D Printing with
Brasília, DF: Ipea, 2011. 440 p. Disponível em: <http:// Powerful Rocket Engine Check. 2013.Disponível em:
repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3162/1/ <https://www.nasa.gov/exploration/systems/sls/3d-
Mudan%C3%A7a%20do%20clima%20no%20Brasil.... printed-rocket-injector.html>. Acesso em: 9 mar. 2018.
pdf>. Acesso em: 23 fev. 2018.
NATIONAL COMMUNICATION OF BRAZIL TO THE
MUDANÇA do clima e os impactos na agricultura UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON
familiar no Norte e Nordeste do Brasil. Brasília, DF: CLIMATE CHANGE, 3., 2016, Brasília, DF. Climate
Centro Internacional de Políticas para o Crescimento change. Brasília, DF: Ministério da Ciência, Tecnologia
Inclusivo, 2016. Disponível em: <http://www.ipc-undp. e Inovação, 2016. v. 3, 333 p.
org/pub/port/Mudanca_no_clima_e_os_impactos_
NAVARRO, Z. O mundo rural no novo século (um
na_agricultura_familiar.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2018.
ensaio de interpretação). In: VIEIRA FILHO, J. E. R.;
MUELLER, N. D.; BINDER, S. Closing yield gaps: GASQUES, J. G.; CARVALHO, A. X. Y. de. Agricultura,
consequences for the global food supply, transformação produtiva e sustentabilidade.
environmental quality & food security. Dædalus, v. Brasília, DF: Ipea, 2016. p. 25-63.
144, n. 4, p. 45-56, 2015.
NAVARRO, Z.; BUAINAIN, A. M. The global driving of
MYERS, D. (Ed.). These 10 companies make Brazilian agrarian development in the new century. In:
almost everything you eat and drink. HuffPost BUAINAIN, A. M.; SOUSA, M. R. de; NAVARRO, Z. (Ed.).
News, 5 dez. 2017. Disponível em: <https:// Globalization and agriculture. Londres: Lexington
www.huffingtonpost.com/entry/these-10- Books, 2017.
companies-make-almost-everything-you-eat-and_
NAVARRO, Z.; CAMPOS, S. K. (Org.). A pequena
us_59163571e4b00ccaae9ea2d6>. Acesso em: 4 jan.
produção rural e as tendências do
2018.
desenvolvimento agrário brasileiro: ganhar tempo
NAÇÕES UNIDAS. Comitê sobre direitos sociais, é possível? Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos
económicos e culturais. [S.l.], 2001. Estratégicos, 2013. 264 p.
NAÇÕES UNIDAS. Digital agriculture. Project NEVES, M. F. The future of food business: the facts,
Breakthrough: disruptive technology executive the impacts and the acts. Singapore: World Scientific
briefs. Disponível em: <http://breakthrough. Publishing, 2014. 143 p.
unglobalcompact.org/site/assets/files/1332/hhw-16-
NICHOLSON, C.; YOUNG, B. The relationship
0025-d_n_digital_agriculture.pdf>. Acesso em: 29 mar.
between supermarkets and suppliers: what are
2018.
the implications for consumers? 2012. Disponível em:
170
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
OECD-FAO agricultural outlook 2016-2025: special PEREIRA NETO, O. C.; GUIMARÃES, M. de F.; RALISCH,
focus: Sub-Saharan Africa. Paris: OECD Publishing, R.; FONSECA, I. C. B. Análise do tempo de consolidação
2016. DOI: 10.1787/agr_outlook-2016-en. do sistema de plantio direto. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 11, n. 11, p. 489-
OECD-FAO agricultural outlook 2017-2026. Paris: OECD
496, 2007. DOI: 10.1590/S1415-43662007000500007.
Publishing, 2017. DOI: 10.1787/agr_outlook-2017-en.
PERÍMETROS irrigados do Dnocs empregam 121 mil
ORGANICSNET. 2017. Disponível em: <http://www.
trabalhadores. Portal Brasil, 22 set. 2014. Disponível
organicsnet.com.br/>. Acesso em: 27 fev. 2018.
em: <http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2014/09/
PARANÁ (Estado). Secretaria da Agricultura e do perimetros-irrigados-do-dnocs-empregam-121-mil-
Abastecimento do Paraná. Valor bruto da produção trabalhadores>. Acesso em: 9 mar. 2018.
agropecuária. Disponível em: <http://www.
PETS INTERNATIONAL. Brazilian pet market
agricultura.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.
analysis. 2016. Disponível em: <https://globalpets.
php?conteudo=156>. Acesso em: 2 mar. 2018.
community/file/5266/download?token=wfkPkHsB>.
PARENTE, J.; BARKI, E.; KATO, H. Consumidor de baixa Acesso em: 23 fev. 2018.
renda: desvendando as motivações no varejo de
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 5.
alimentos. In: ENANPAD, 29., 2005, Brasília, DF. Anais...
ed. São Paulo: Prentice-Hall, 2002.
Brasília, DF: Anpad, 2005. Disponível em: <http://www.
anpad.org.br/admin/pdf/enanpad2005-mktb-0754. PLANO NACIONAL DE ADAPTAÇÃO À MUDANÇA DO
pdf>. Acesso em: 27 fev. 2018. CLIMA: volume 1: estratégia geral: versão pós consulta
pública. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente,
PARFITT, J.; BARTHEL, M.; MACNAUGHTON, S. Food
2016. Disponível em: <http://www.pbmc.coppe.ufrj.br/
waste within food supply chains: quantification
documentos/PNA-Volume1.pdf>. Acesso em: 21 fev.
and potential for change to 2050. Philosophical
2018.
Transactions of the Royal Society B, v.365, p. 3065-
3081, Aug. 2010. DOI: 10.1098/rstb.2010.0126.
171
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
172
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
RANJAN, S.; DASGUPTA, N.; LICHTFOUSE, E. crise em oportunidade. Rio de Janeiro, 2013.
(Ed.). Nanoscience in Food and Agriculture 1. (Estudos e pesquisas, 492). Disponível em: <http://files.
Switzerland: Springer International Publishing, dohms.com.br/idpsite/arquivos/material-de-apoio/
2016. (Sustainable agriculture reviews, v. 21). DOI: texto-04--prof.-marcelo-proni--pobreza-no-brasil-a-
10.1007/978-3-319-39303-2. evoluc%C3%A3o-de-longo-prazo.pdf>. Acesso em: 26
jan. 2018.
RECOMBINETICS. Disponível em: <http://www.
recombinetics.com/>. Acesso em: 9 mar. 2018. ROCHA, T. P. M. Compra de alimentos por
consumidores de baixa renda: comportamentos
REDES NEURAIS ARTIFICIAIS. Disponível em: <http://
no ponto de venda. In: SEMEAD: SEMINÁRIOS EM
conteudo.icmc.usp.br/pessoas/andre/research/
ADMINISTRAÇÃO, 20., 2017, São Paulo. [Anais...] São
neural/>. Acesso em: 2 mar. 2018.
Paulo: Universidade de São Paulo, 2017. Disponível
REIS, J. C. dos; RODRIGUES, R. de A. R.; CONCEIÇÃO, em: <http://login.semead.com.br/20semead/
M. C. G. da; MARTINS, C. M. S. Integração Lavoura- arquivos/2255.pdf>. Acesso em 3 jan. 2018.
Pecuária-Floresta no Brasil: uma estratégia de
RODRIGUES, P. Cooperação prevê avanços
agricultura sustentável baseada nos conceitos
tecnológicos no cultivo protegido de hortaliças.
da Green Economy Initiative. Sustentabilidade
Hortaliças em Revista, Ano 4, n. 17, p. 12-13,
em Debate, v. 7, n. 1, p. 58-73, jan./abr. 2016. DOI:
jul./set. 2015. Disponível em: <https://www.
10.18472/SustDeb.v7n1.2016.18061.
embrapa.br/documents/1355126/2250572/
RESEARCH INSTITUTE OF ORGANIC AGRICULTURE. EDI%C3%87%C3%83O+17.pdf/b63bcb2c-e478-4ded-
The world of organic agriculture 2017. Frick, 2017. 9c26-bedba360da4e>. Acesso em: 9 mar. 2018.
Disponível em: <https://www.fibl.org/fileadmin/
RODRIGUES, R.; SANTANA, C. A. M.; BARBOSA, M. M. T. L.;
documents/en/news/2017/mr-world-organic-
PENA JÚNIOR, M. A. G. “Drivers” de mudanças no sistema
agriculture-2017-english.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2018.
agroalimentar brasileiro. Parcerias Estratégicas, v. 17
REUTERS, S. European move to ban palm oil n. 34, p. 7-44, jan./ jun. 2012. Disponível em: <http://seer.
from biofuels is ‘crop apartheid’ – Malaysia. cgee.org.br/index.php/parcerias_estrategicas/article/
2018. Disponível em: <https://www.reuters.com/ viewFile/670/614>. Acesso em 3 jan. 2018.
article/malaysia-palmoil-eu/european-move-to-ban-
RODRIGUES, W. O. P.; GARCIA, R. G; NÃÃS, I. de A.;
palm-oil-from-biofuels-is-crop-apartheid-malaysia-
ROSA, C. O.; CALDARELLI, C. E. Evolução da avicultura
idUSL3N1PD1NJ>. Acesso em: 18 fev. 2018.
de corte no Brasil. Enciclopédia Biosfera, v. 10, n. 18,
ROCCO, M. C.; BAINBRIDGE, W. S. Converging p. 1666-1684, 2014.
technologies for improving human performance:
RONDÔNIA (Estado). Fundo Proleite. Disponível em:
nanotechnology, biotechnology, information
<http://www.rondonia.ro.gov.br/seagri/institucional/
technology and cognitive science. Dordrecht:
programaproleite/fundo-proleite//>. Acesso em: 14 jan.
Kluwer Academic, 2002. 482 p. (NSF/DOC-sponsored
2018.
report). Disponível em: <http://www.wtec.org/
ConvergingTechnologies/Report/NBIC_report.pdf>. ROSA, B. Ambev lança em janeiro leite feito a
Acesso em: 23 jan. 2018. partir do coco. O Globo, 26 dez. 2017. Economia.
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/
ROCHA, S. Pobreza no Brasil: a evolução de longo
ambev-lanca-em-janeiro-leite-feito-partir-do-coco-
prazo (1970-2011). In: FÓRUM NACIONAL – O BRASIL
22227815#ixzz550h5bYeustest>. Acesso em: 23 jan.
DE AMANHÃ, 25., 2013, Rio de Janeiro. Transformar
2018.
173
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
ROSA, R. Geotecnologias na geografia aplicada. WALL, D. Global biodiversity scenarios for the year
Revista do Departamento de Geografia, v. 16, p. 2100. Science, v. 287, n. 5459, p. 1770-1774, 2000. DOI:
81-90, abr. 2011. DOI: 10.7154/RDG.2005.0016.0009. 10.1126/science.287.5459.1770.
Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rdg/
SALGADO, P. R.; ORTIZ, C. M.; MUSSO, Y. S.; DI GIORGIO,
article/view/47288>. Acesso em: 2 mar. 2018.
L.; MAURI, A. N. Edible films and coatings containing
ROSEGRANT, M. W.; KOO, J.; CENACCHI, N.; RINGLER, bioactives. Current Opinion in Food Science, v. 5, p.
C.; ROBERTSON, R.; FISHER, M.; COX, C.; GARRETT, 86-92, 2015.
K.; PEREZ, N. D.; SABBAGH, P. Food security in
SALOMÃO, R. Case apresenta trator autônomo e sem
a world of natural resource scarcity: the role
cabine no Brasil. Globo Rural, 27 abr. 2017. Empresas
of agricultural technologies. Washington, DC:
e Negócios. Disponível em: <http://revistagloborural.
International Food Policy Research Institute, 2014. DOI:
globo.com/Noticias/Empresas-e-Negocios/
10.2499/9780896298477.
noticia/2017/04/case-apresenta-trator-autonomo-e-
RUDDICK, G. The inside story of how suppliers are sem-cabine-no-brasil.html>. Acesso em: 22 fev. 2018.
feeling the squeeze. Telegraph Media Group, 24 jan.
SALTON, J. C.; HERNANI, L. C.; FONTES, C. Z. (Org.).
2015. Disponível em: <http://www.telegraph.co.uk/
Sistema plantio direto: o produtor pergunta, a
finance/newsbysector/retailandconsumer/11367506/
Embrapa responde. Brasília, DF: Embrapa Informação
Supply-chain-feels-the-squeeze.html>. Acesso em: 8
Tecnológica; Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste,
jan. 2018.
1998. 248 p. (Coleção 500 perguntas 500 respostas).
RUNDE, D. Urbanization will change the
SAMPER, L. F. Origin product branding: delivering
(developing) world. 2015. Disponível em: <http://
content that increases value. In: WORLDWIDE
www.forbes.com/sites/danielrunde/2015/02/24/
SYMPOSIUM ON GEOGRAPHICAL INDICATIONS, 2017,
urbanization-development-opportunity/>. Acesso em:
Yangzhou. Presentation… [S.l.]: World Intellectual
23 fev. 2018.
Property Organization, 2017. Disponível em: <http://
RURAL poverty 2011: new realities, new challenges – www.wipo.int/edocs/mdocs/sct/en/wipo_geo_yty_17/
new opportunities for tomorrow´s generation. Rome: wipo_geo_yty_17_13.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2018.
International Fund for Agricultural Development,
SANDRONI, P. Dicionário de economia do século
2010. 317 p. Disponível em: <https://www.ifad.
XXI. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2008. 909 p.
org/documents/10180/c47f2607-3fb9-4736-8e6a-
a7ccf3dc7c5b>. Acesso em: 23 fev. 2018. SANTANA, C. A. M. (Ed.). Regional case study: R5
Productive capacity of Brazilian agriculture: a long-
SABET, M. Understanding the federal commodity
term perspective. 2011. Disponível em: <https://ainfo.
checkoff program. Carlisle, PA: Pennsylvania State
cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/47903/1/
University Dickinson School of Law, 2010. Agricultural
R5-Productive-capacity-of-Brazilian.pdf>. Acesso em:
Law Course at the Pennsylvania State University
23 fev. 2018.
Dickinson School of Law.
SANTOS, A. R. dos. Inteligência territorial
SALA, O. E.; CHAPIN, F. S.; ARMESTO, J. J.; BERLOW,
estratégica é ferramenta para transferência de
E.; BLOOMFIELD, J.; DIRZO, R.; HUBER-SANWALD, E.;
tecnologia. 2016. Disponível em: <https://www.
HUENNEKE, L. F.; JACKSON, R.; KINZIG, A.; LEEMANS,
embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/13911147/
R.; LODGE, D.; MOONEY, H. A.; OESTERHELD, M.;
inteligencia-territorial-estrategica-e-ferramenta-para-
POFF, L.; T. SYKES, M.; WALKER, B. H.; WALKER, M.;
transferencia-de-tecnologia>. Acesso em: 27 fev. 2018.
174
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
SANTOS, D. G.; DOMINGUES, A. F.; GISLER, C. V. T. SILVA, A. F.; CAMPOS, S. K. Onde irão parar os preços
Gestão de recursos hídricos na agricultura: o programa das commodities? Revista AGRO em Foco, v. 3, p. 48,
produtor de água. In: PRADO, R. B.; TURETTA, A. P.; 2012.
ANDRADE, A. G. Manejo e conservação do solo e da
SILVA, J. M. da; PAULA, N. M. de. Alterações no padrão
água no contexto das mudanças ambientais. Rio de
de consumo de alimentos no Brasil após o plano
Janeiro: Embrapa Solos, 2010. p. 353-376.
real. Disponível em: <http://www.pet-economia.ufpr.
SARAIVA, A.; SALES, R. PIB do Brasil cai 7,2% em dois br/banco_de_arquivos/00015_artigo_evinvi_Joselis.
anos, pior recessão desde 1948. Valor Econômico, 7 pdf>. Acesso em: 10 maio 2017.
mar. 2017. Brasil. Disponível em: <http://www.valor.
SILVA, K. I. M. da. Preparação de nanocompósitos
com.br/BRASIL/4890366/PIB-DO-BRASIL-CAI-72-EM-
de PLA/PEAD/TIO2 degradáveis. 2011. 41 f. Trabalho
DOIS-ANOS-PIOR-RECESSAO-DESDE-1948>. Acesso
de conclusão de curso (Graduação) – Universidade
em: 27 fev. 2018.
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
SAVADORE, B. China’s hunger for soya more animal Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/
than vegetable. 2013. Disponível em: <https:// handle/10183/32759/000786954.pdf;sequence=1>.
phys.org/news/2013-09-china-hunger-soya-animal- Acesso em: 22 fev. 2018.
vegetable.html>. Acesso em: 9 mar. 2018.
SILVA, M. S. L. da; MENDONÇA, C. E. S.; ANJOS, J. B.
SCHINAIDER, A. D.; FAGUNDES, P. M.; TALAMINI, E. dos; FERREIRA, G. B.; SANTOS, J. C. P. dos; OLIVEIRA
O perfil do futuro empreendedor rural e fatores de NETO, M. B. de. Barragem subterrânea: uma opção de
influência na busca de qualificação. Revista Livre sustentabilidade para a agricultura familiar do semi-
de sustentabilidade e Empreendedorismo, v. 2, p. árido do Brasil. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2007.
42-65, 2017. 10 p. il. color. (Embrapa Solos. Circular técnica, 36).
SCHWAB, K. (Ed.). The global competitiveness SILVEIRA, R. L. F. da; MACIEL, L. S.; BALLINI, R. Derivativos
report 2015-2016. Geneva: World Economic Forum, sobre commodities influenciam a volatilidade dos
2015. preços à vista? Uma análise nos mercados de boi
gordo e café arábica. 2011. Disponível em: <http://
SEBRAE. Tecnologia da informação no
anpec.org.br/encontro/2011/inscricao/arquivos/000-
agronegócio. 2017. Disponível em: <http://www.
a0f0858dad69bfb267d659627595452b.pdf> . Acesso em: 17
sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/
abr. 2012.
Pesquisa%20SEBRAE%20-%20TIC%20no%20Agro.
pdf>. Acesso em: 26 fev. 2018. SINHA, K.; MALIK, Z.; REZGUI, A.; FOX, D. L.;
MCGUINNESS, D.; SEBER, D.; ZIMMERMAN, H.
SELIG, P. M. Gerência e avaliação do valor
Geoinformatics: transforming data to knowledge for
agregado empresarial. 1993. 223 f. Tese (Programa
geosciences. GSA Today, v. 20, n. 12, p. 4-10, Dec.
de Pós-Graduação em Engenharia de Produção) –
2010. Disponível em: <http://www.geosociety.org/
Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas,
gsatoday/archive/20/12/pdf/i1052-5173-20-12-4.pdf>.
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
Acesso em: 12 maio 2017.
Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/
handle/123456789/75886/91738.pdf?sequence=1>. SKORUPA, L.; MANZATTO, C. Avaliação da adoção de
Acesso em: 22 fev. 2018 sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
(ILPF) no Brasil. [S.l.: s.n.], 2016. 14 p. Nota técnica.
SICSÚ, A. B.; LIMA, J. P. R. Fronteiras agrícolas no Brasil:
a lógica de sua ocupação recente. Nova Economia, v.
10, n. 1, p. 109-138, jul. 2000.
175
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
SKOUFIAS, E.; NAKAMURA, S.; GUKOVAS, R. M. STROM, S. Big companies pay later, squeezing
Safeguarding against a reversal in social gains their suppliers. The New York Times, 6 abr. 2015.
during the economic crisis in Brazil. The World Business day. Disponível em: <https://www.nytimes.
Bank, 2017. 18 p. (Working paper). Disponível com/2015/04/07/business/big-companies-pay-later-
em: <http://documents.worldbank.org/curated/ squeezing-their-suppliers.html>. Acesso em: 3 jan.
en/567101487328295113/pdf/112896-WP-P157875- 2018.
PUBLIC-ABSTRACT-SENT-SafeguardingBrazilEnglish.
SUMÁRIO executivo: documento-base para subsidiar
pdf>. Acesso em: 22 fev. 2018.
os diálogos estruturados sobre a elaboração de
SKY.ONE. Escalabilidade: o maior benefício da uma estratégia de implementação e financiamento
computação na nuvem. 2016. Disponível em: <http:// da contribuição nacionalmente determinada do
skyone.solutions/pb/escalabilidade-o-maior- Brasil ao acordo de Paris. Brasília, DF: Ministério do
beneficio-da-computacao-na-nuvem/>. Acesso em: 27 Meio Ambiente, 2017. Disponível em: <http://www.
fev. 2018. mma.gov.br/images/arquivos/clima/ndc/sumario_
executivo_2017.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2018.
SMIT, J.; KREUTZER, S.; MOELLER, C.; CARLBERG, M.
Industry 4.0: policy department A: economic and SUNGA, I. These 5 innovations will transform the
scientific policy: directorate-general for internal lives of smallholder farmers. 2017. Disponível em:
policies. [S.l.]: European Union, 2016. Disponível em: <https://www.weforum.org/agenda/2017/01/these-5-
<http://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/ innovations-will-transform-the-lives-of-smallholder-
STUD/2016/570007/IPOL_STU(2016)570007_EN.pdf>. farmers>. Acesso em: 9 mar. 2018.
Acesso em: 22 fev. 2018.
SUPERMERCADOS: é viável ser fornecedor desde
SOLOVIVO: rede de pesquisa. Disponível em: <https:// supercliente? Hortifruti Brasil, ano 9, n. 94, set. 2010.
www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/ Disponível em: <http://www.hfbrasil.org.br/br/revista/
publicacao/1021888/solovivo-rede-de-pesquisa>. acessar/supermercados-e-viavel-ser-fornecedor-deste-
Acesso em: 21 fev. 2018. supercliente.aspx>. Acesso em: 9 jan. 2018.
176
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
177
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
178
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
WILLER, H.; LERNOUD, J. (Ed.). The world of organic 241377916.1512415322>. Acesso em: 22 fev. 2018.
agriculture statistics and emerging trends 2017.
XAVIER, G. R.; RUMJANEK, N. G.; GUEDES, R. E.
Bonn: Research Institute of Organic Agriculture;
Inoculante. 2017. Disponível em: <http://www.
IFOAM - Organics International, 2017. 332 p. Disponível
agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/feijao-caupi/arvore/
em: <https://shop.fibl.org/CHen/mwdownloads/
CONTAG01_2_2882007171552.html>. Acesso em: 2
download/link/id/785/?ref=1>. Acesso em: 18 jan.
mar. 2018.
2018.
ZEITHAML, V. A. Consumer Perceptions of Price,
WORLD BANK. DataBank: population estimates and
Quality, and Value: A Means-End Model and Synthesis
projections. 2017. Disponível em: <http://databank.
of Evidence. Journal of Marketing, v. 52, n. 3, p. 2-22,
worldbank.org/data/reports.aspx?source=population-
jul. 1988.
estimates-and-projections>. Acesso em: 31 out. 2017.
ZOCOLO, G. J. Portfólio tecnologias
WORLD economic situation and prospects 2017. New
agroindustriais para agregação de valor a
York: United Nations, 2017.
produtos. 2017. Versão 1. Disponível em: <https://
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Biofortification www.embrapa.br/documents/10180/29113275/
of staple crops: e-Library of Evidence for Nutrition GUILHERME.pdf/48d9eefd-6650-b85e-77ac-
Actions (eLENA). Disponível em: <http://www.who.int/ a1c69374a42d?version=1.0>. Acesso em: 23 fev. 2018.
elena/titles/biofortification/en/>. Acesso em: 28 fev.
ZONEAMENTO agrícola. Brasília, DF: Ministério
2018.
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2017.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity and Disponível em: <http://www.agricultura.gov.
overweight. 2017. Disponível em: <http://www.who. br/assuntos/riscos-seguro/risco-agropecuario/
int/mediacentre/factsheets/fs311/en/>. Acesso em: 18 zoneamento-agricola>. Acesso em: 28 fev. 2018.
jan. 2018.
179
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
ANEXOS
Anexo 1. Notas técnicas que serviram de base para o documento Visão 2030 : O Futuro da Agricultura Brasileira.
Título Fonte Autores/Colaboradores
Paula Regina K. Falcão
A bioinformática como Felipe R. da Silva
transdutor do big data para Observatório de Infor- Poliana Fernanda Giachetto
a biotecnologia e agricul- mática Agropecuária Isabel Rodrigues Gerhardt
tura Ricardo Augusto Dante
(Embrapa Informática Agropecuária)
A dimensão econômica no
Geraldo B. Martha Jr.
Departamento de Agricul-
Labex USA Brief (Secretaria de Relações Internacionais - Labex/
tura dos Estados Unidos
USA)
(Usda): uma reflexão inicial
Camilo Carromeu
A era da transformação di-
(Embrapa Gado de Corte)
gital e seus impactos para
Observatório de Inova- Fabiano Mariath
o agronegócio brasileiro
ção e Negócios Digitais (Departamento de Tecnologia da Informação)
e oportunidades para a
Renato Cristiano Torres
Embrapa
(Embrapa Agrossilvipastoril)
Nilza Patrícia Ramos
André May
A sustentabilidade como (Embrapa Meio Ambiente)
Portfólio Sucroalcoo-
oportunidade para o setor Maria Lúcia Simeone
leiro Energético
sucroenergético brasileiro (Embrapa Milho e Sorgo)
Sérgio dos Anjos
(Embrapa Clima Temperado)
Geraldo B. Martha Jr.
A sustentabilidade da
Labex USA Brief (Secretaria de Relações Internacionais -
pecuária brasileira
Labex/USA)
180
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
181
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
182
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
183
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
184
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
185
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
186
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
187
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
188
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
189
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
190
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Anexo 2. Estudos prospectivos de base para elaboração do documento Visão 2030 : O Futuro da Agricultura Brasileira.
Título Referência
ROSENZWEIG, C.; ELLIOTT, J.; DERYNG, D.; RUANE, A. C.; MÜLLER, C.;
ARNETH, A.; BOOTE, K. J.; FOLBERTH, C.; GLOTTER, G.; KHABAROV, N.;
Assessing agricultural risks
NEUMANN, K.; PIONTEK, F.; PUGH,T. A. M.; SCHMID, E.; HONG, Y. E.;
of climate change in the 21st
JONES, J. W. Assessing agricultural risks of climate change in the 21st
century in a global gridded crop
century in a global gridded crop model intercomparison. PNAS, v. 111,
model intercomparison
n. 9, p. 3268-3273, Mar. 2014. Disponível em: <http://www.pnas.org/
content/111/9/3268>. Acesso em: 14 jun. 2017.
CSIRO. Australia 2030: navigating our uncertain future. 2016.
Australia 2030 - navigating our
Disponível em: <https://www.csiro.au/en/Do-business/Futures/
uncertain future
Reports/Australia-2030>. Acesso em: 17 Aug. 2017.
DALY, J.; ANDERSON, K.; ANKENY, R.; HARCH, B.; HASTINGS, A.;
ROLFE, J.; WATERHOUSE, R. Australia’s agricultural future. 2015.
Australia’s agricultural future
Report for the Australian Council of Learned Academies. Disponível
em:<www.acola.org.au>. Acesso em: 20 Jan. 2017.
Better growth with forests - WORLD ECONOMIC FORUM. Better growth with forests:
partnerships for sustainable partnerships for sustainable rural development at the forest
rural development at the forest frontier. Disponível em: <http://www3.weforum.org/docs/WEF_
frontier GAC15_Better_Growth_with_Forests.pdf>. Acesso em: 20 Jan. 2017.
WORLD ECONOMIC FORUM. Building partnerships for
Building partnerships for sus-
sustainable agriculture and food security. Jan. 2016.
tainable agriculture and food
Disponível em: <http://www3.weforum.org/docs/IP/2016/NVA/
security
NVAGuidetoCountryLevelAction.pdf>. Acesso em: 17 Aug. 2017.
CANADA 2030: an agenda for sustainable development.
Canada 2030 - an agenda for Disponível em: <http://www.post2015datatest.com/wp-content/
sustainable development uploads/2015/02/Canada-2030-Final-Feb-2014.pdf>. Acesso em: 20
Jan. 2017.
CASTRO, L. B. de; SOUZA, F. E. P. de. Cenários mundo-Brasil 2030:
Cenários mundo-Brasil 2030 – insumos para o planejamento estratégico do BNDES. Disponível
insumos para o planejamento em: <https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/7104/1/
estratégico do BNDES RB%2044%20Cen%C3%A1rios%20mundo_Brasil%202030_P.pdf>.
Acesso em: 14 jun. 2017.
191
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
192
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
193
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
194
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Anexo 3. Artigos de opinião consultados na plataforma Olhares para 2030: Desenvolvimento Sustentável.
195
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
196
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
197
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
198
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
199
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
200
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
GLOSSÁRIO
máquina para máquina (M2M), conectivida-
de entre dispositivos móveis, computação
em nuvem, métodos e soluções analíticas
para processar grandes volumes de dados e
Adaptação (efeitos da mudança do clima): construir sistemas de suporte à tomada de
Desenvolvimento de mecanismos e imple- decisões de manejo, englobando agricultura
mentação de ações de antecipação aos im- e pecuária de precisão, automação e robó-
pactos da mudança do clima. tica agrícola, técnicas de big data e internet
das coisas (Massruhá; Leite, 2017).
Agricultura: Palavra advinda do latim agri-
cultūra – composta por ager (campo, ter- Agricultura inteligente: Traduz a utilização
ritório) e cultūra (cultivo) –, que apresenta da eletrônica, de sensores e da informática
inicialmente o sentido restrito de cultivo do aplicados à agricultura, fortemente baseada
solo, ou seja, a arte e a ciência de cultivar a na comunicação de máquina para máquina
terra. Ampliando um pouco seu sentido, po- (M2M), com vistas ao desenvolvimento de
de-se entender por agricultura o conjunto uma agricultura mais avançada e eficiente.
de atividades realizadas para utilizar o am-
Agricultura orgânica: Produção agrícola em
biente e os recursos naturais para produção
que se empregam métodos culturais, biológi-
vegetal e animal, com fins de alimentação e
cos e mecânicos, em substituição à utilização
sustento humanos, o que inclui fibras e pro-
de materiais sintéticos, organismos genetica-
dutos florestais. No presente documento, é
mente modificados e radiações ionizantes,
também entendida de forma mais ampla,
em todas as fases do processo de produção
incluindo, além do cultivo de plantas, a pe-
e com especial atenção à proteção do meio
cuária, a pesca e a aquicultura, a silvicultura
ambiente.
e a agroindustrialização. Quando citado no
documento, a expressão “cadeias produtivas Agroindústria: Atividade econômica de in-
agrícolas” (ou agroalimentares ou do agro- dustrialização dos produtos agrícolas, que
negócio) abrange, além do entendimento de engloba o beneficiamento, a transformação
agricultura acima citado, os elos de produ- dos produtos e o processamento de maté-
ção e fornecimento de insumos (químicos, rias-primas provenientes do setor agrícola.
máquinas, matérias-primas, mão de obra,
entre outros), de armazenamento e transpor- Agropecuária: Termo que representa o con-
te, financeiros, de serviços e de distribuição. junto de atividades de produção primária
que envolve o cultivo de plantas e a criação
Agricultura de precisão: Sistema de ge- de animais com fins de alimentação e susten-
renciamento agrícola baseado na variação to humanos.
espacial e temporal da unidade produtiva,
que visa ao aumento de retorno econômico, Agrossilvipastoril: Sistema de produção
à sustentabilidade e à minimização do efeito que procura integrar, numa mesma área, cul-
no ambiente (Bernardi et al., 2014). tivos agrícolas, criação de animais e preser-
vação de florestas, tendo como um de seus
Agricultura digital: Representa a utilização objetivos aumentar a quantidade de alimen-
de métodos computacionais de alto desem- tos produzidos na terra, por meio de práticas
penho, rede de sensores, comunicação de que não agridam a natureza.
201
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
202
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
203
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Carne Carbono Neutro: Carne bovina que Comércio justo/Fairtrade: Condição de co-
apresenta seus volumes de emissão de GEEs mércio baseada em diálogo, transparência e
neutralizados durante o processo de produ- respeito, que busca maior equidade de con-
ção, pela presença de árvores em sistemas dições entre os agentes envolvidos.
de integração do tipo silvipastoril (pecuá-
ria-floresta – IPF) ou agrossilvipastoril (la- Commodity (plural: commodities): Pro-
voura-pecuária-floresta – ILPF), por meio de duto de ampla disponibilidade, que não
processos produtivos parametrizados e audi- apresenta diferenças significativas entre
tados. A Embrapa desenvolveu o selo Carne unidades, não havendo impactos, portanto,
Carbono Neutro como marca-conceito que na substituição de um item por outro. Além
atesta que a carne atentou para os requisitos disso, é um produto, no geral, primário, em
mencionados. estado bruto e de importância comercial nas
transações internacionais. São exemplos de
Cenários: No presente documento, enten- commodities: cobre, estanho, zinco, chum-
de-se por “cenários” o conjunto de técnicas bo, petróleo, gás natural, gado vivo, açúcar,
e métodos de estudo acerca das possibili- café, soja, milho e algodão.
dades de futuro de determinado objeto, que
consubstanciam o conteúdo gerado em um Compra local: Refere-se à tendência de
documento (também denominado de “cená- aquisição de produtos no local em que são
rios”), com a finalidade de descrever diferen- produzidos. Os principais argumentos para a
tes eventos e estratégias de atores, que pode- compra local são os seguintes: 1) redução de
rão levar a diferentes possibilidades futuras. impactos ambientais; 2) desenvolvimento de
pequenos negócios e comunidades locais; 3)
Ciência cidadã (citizen science): Colabora- maior intensidade econômica e circulação
ção dos cidadãos, com atuação pública di- de renda no local; 4) aumento na criação de
reta nas pesquisas científicas para aumentar postos de trabalho; 5) aumento na arrecada-
o volume e a qualidade do conhecimento ção de impostos na própria localidade.
científico, bem como sua apropriação pelos
cidadãos. Significa, portanto, a participação Controle biológico: A premissa básica do
das pessoas no compartilhamento e na con- controle biológico é controlar as pragas agrí-
tribuição para programas de monitoramento colas e os insetos transmissores de doenças,
e coleta de dados; bem como a realização di- a partir do uso de seus inimigos naturais, que
reta de pesquisas científicas pelos cidadãos podem ser outros insetos benéficos, preda-
por meio de colaboração coletiva (crowd- dores, parasitoides e microrganismos, como
sourcing), por exemplo. fungos, vírus e bactérias. Trata-se de um mé-
todo de controle racional, que tem como ob-
Cocriação: Atividade de criação coletiva, jetivo utilizar esses inimigos naturais que não
presencial ou a distância (em negócios entre deixam resíduos nos alimentos e são inofen-
empresa e cliente), em que todos os envolvi- sivos ao meio ambiente e à saúde da popula-
dos atuam de maneira integrada com o ob- ção (Embrapa, 2018c).
jetivo de criar algo propositalmente (não por
acaso) – solução para problemas, avanços Conversão alimentar (CA): Necessidade
em desempenho, um novo produto ou servi- alimentar por unidade de ganho de peso
ço –, a partir de sua interação, do qual todos animal (Kessler, 2001). Pode ser aferida pela
se beneficiarão. divisão da quantidade de ração (kg) consu-
204
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
mida por um lote de animais pelo peso (kg) dia, usando o Poder de Paridade de Com-
dos animais no mesmo período considerado. pra (PPC) de 2011. Especificamente neste
documento, considerou-se para as análises
Demanda: Quantidade de um bem ou ser-
mundiais de extrema pobreza o estudo das
viço que um consumidor deseja e está dis-
Nações Unidas (World..., 2018) que conside-
posto a adquirir por um determinado preço
ra o limiar internacional; e, para as análises
em um determinado momento. A demanda
nacionais, o estudo do Banco Mundial (Ban-
depende de fatores como: preferência do
co Mundial, 2017a) que considera renda per
consumidor; poder de compra do consumi-
capita mensal inferior a R$ 70,00, em valores
dor, sem o qual a demanda não existe em
de 2011.
termos econômicos; preços de outros bens
(tanto dos bens substitutos quanto dos com- Fator de produção: Elemento utilizado no
plementares); preço do bem ou serviço em processo produtivo de bens materiais. Tra-
questão; qualidade e expectativas do consu- dicionalmente são considerados fatores de
midor quanto à sua renda pessoal e aos pre- produção: a terra (terras cultiváveis, florestas,
ços praticados (Sandroni, 2008). minas), o trabalho (mão de obra humana) e
o capital (máquinas, equipamentos, instala-
Desafios: Ações necessárias para que um
ções, matérias-primas). Atualmente, costu-
indivíduo, grupo de indivíduos e/ou organi-
ma-se incluir mais dois fatores: organização
zações direcionem esforços para a redução
empresarial e o conjunto ciência/técnica
ou mesmo eliminação dos impactos de uma
(pesquisa). De forma geral, os fatores de pro-
ameaça ou de aproveitamento de potenciais
dução são escassos, por isso eles se combi-
ganhos de uma oportunidade.
nam de forma diferente conforme o local e a
Elasticidade-renda: Medida da variação na situação histórica, a fim de se obter um deter-
quantidade demandada de um bem quando minado bem (Sandroni, 2008).
a renda do consumidor é alterada, manten-
Fronteira agrícola: Áreas pouco povoadas
do-se constantes todos os outros fatores que
ou não povoadas que, por apresentarem re-
influenciam a demanda (Sandroni, 2008).
lativa potencialidade agrícola, passam a ser
Eutrofização: Fenômeno indesejável que ocupadas para exploração produtiva. No Bra-
ocorre principalmente em lagos, represas e sil, essas áreas têm representado historica-
açudes, causado pelo acúmulo de nutrientes mente o desbravamento e a incorporação de
como nitrogênio e fósforo, encontrados em novas terras ao setor agrícola, embora mui-
abundância nas fezes de homens e animais. tas das áreas ainda chamadas de fronteiras
A água enriquecida faz com que proliferem já tenham sido incorporadas aos processos
bactérias, plâncton e algas, muitas delas tóxi- de produção, não mais apresentando carac-
cas, que, ao morrerem, causam gosto e odo- terísticas típicas dessas regiões de fronteira
res desagradáveis, além de consumirem oxi- (Sicsú; Lima, 2000).
gênio dissolvido e matarem peixes (Mapa...,
Fungos arbusculares micorrízicos: Fungos
2018).
que formam simbiose com as plantas, auxi-
Extrema pobreza: Em 2015, o Banco Mun- liam na absorção de água e nutrientes mine-
dial definiu como linha de pobreza interna- rais pelas raízes e recebem fotoassimilados
cional o valor de US$ 1,90 por pessoa por da planta.
205
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
206
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
tio, durante o verão, de culturas agrícolas Internet das coisas (IoT): Conexão de “ob-
anuais (arroz, feijão, milho, soja ou sorgo) e jetos inteligentes”, como máquinas, equi-
de árvores, associado a espécies forrageiras pamentos, veículos e construções, os quais
(braquiária ou Panicum). Há várias possibili- são providos de dispositivos digitais, como
dades de combinação entre os componentes sensores e interface de programação de apli-
agrícola, pecuário e florestal, considerando cativos (Application Programming Interface -
espaço e tempo disponíveis, resultando em APIs), capazes de coletar e transmitir dados
diferentes sistemas integrados, como lavou- e informações por meio da estrutura de rede
ra-pecuária-floresta (ILPF), lavoura-pecuá- da Internet. Essa conexão forma uma rede
ria (ILP), silvipastoril (SSP) ou agroflorestais tanto entre objetos, quanto entre objetos e
(SAF) (Embrapa, 2007). indivíduos.
207
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
208
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
paridades de poder de compra são simples bactérias desejáveis no intestino (cólon), be-
preços relativos que mostram a razão dos neficiando o indivíduo hospedeiro dessas
preços nas moedas nacionais para o mesmo bactérias (Food..., 2018).
bem ou serviço em diferentes países (OECD,
2001). Probióticos: Microrganismos vivos que, ad-
ministrados em quantidades adequadas,
Perdas e desperdícios: As “perdas” de ali- conferem benefícios à saúde de quem os in-
mentos se referem à redução da quantida- gere (Food..., 2018).
de de alimento disponibilizado em todos os
estágios da cadeira alimentar, anteriores ao Proteômica: Área da ciência que tem como
consumo humano. O “desperdício” se refere objeto de estudo o produto da expressão gê-
ao alimento já disponível ao consumo hu- nica – as proteínas – e tem como objetivo o
mano nos domicílios que é descartado por conjunto completo de proteínas (proteoma)
algum motivo ou que se deteriora em seu ar- resultante da expressão gênica de uma célu-
mazenamento. la, de um tecido ou de um organismo (Falei-
ro, 2017).
Plataformas digitais: Modelo de negócio
que permite e estimula a interação entre Quitosana: Biopolímero do tipo polissaca-
duas partes ou múltiplos grupos de usuários rídeo, que possui estrutura molecular qui-
(produtores e consumidores, por exemplo), micamente similar à celulose (Azevedo et
criando geralmente um corpo coletivo para al., 2007). Destaca-se a possibilidade de seu
criação e troca de valores e/ou para a solução uso na preservação de alimentos, na produ-
de problemas em comum. Exemplos de pla- ção de embalagens funcionais e biofilmes e
taformas digitais: Twitter, LinkedIn, Amazon, até mesmo no suporte ao controle de pragas
Uber, entre outras. (Berger et al., 2011).
209
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Reserva Legal: Área com cobertura de vege- Serviços ecossistêmicos: Benefícios gerados
tação nativa destinada a ser mantida dentro pelos ecossistemas, em termos de manutenção,
do imóvel rural. Trata-se de área localizada recuperação ou melhoria das condições ambien-
no interior de uma propriedade ou posse ru- tais, tais como: provimento de água em quanti-
ral, cuja função é assegurar o uso econômico dade e qualidade, alimentos, fibras, ciclagem de
de modo sustentável dos recursos naturais nutrientes, decomposição de resíduos, manuten-
do imóvel rural, além de auxiliar a conserva- ção da fertilidade do solo, polinização, dispersão
ção e a reabilitação dos processos ecológicos de sementes, controle natural de pragas agríco-
e promover a conservação da biodiversida- las, conservação da biodiversidade, equilíbrio
de, bem como o abrigo e a proteção de fauna hidrológico, controle de processos erosivos, entre
silvestre e da flora nativa. Sua dimensão mí- outros (Embrapa, 2018a).
nima em termos percentuais relativos à área
do imóvel varia de acordo com a localização Sinais: Informações de caráter antecipativo
geográfica do imóvel rural e o bioma nele relacionadas ao futuro, que não contam com
existente (Embrapa, 2018b). volume de dados suficiente para que sejam
definidas formalmente como tendência.
Rizobactérias: Bactérias que colonizam Subdividem-se em fortes e fracos: a) sinais
o sistema radicular das plantas. Têm sido fortes: informações consolidadas suficiente-
apontadas como essenciais ao ecossistema mente específicas que permitem respostas
de plantas devido ao seu papel no suprimen- adequadas; b) sinais fracos: informações ain-
to de elementos de crescimento como nitro- da imprecisas que geram dúvidas sobre seu
gênio e fósforo (Melo, 1998). comportamento futuro, embora já sejam fa-
tos presentes (Ansoff, 1975).
Segurança alimentar: Acesso físico, social
e econômico de todas as pessoas a alimen- Sistemas agroflorestais: Os sistemas agro-
tos suficientes, seguros e nutritivos, que florestais (SAFs) são consórcios de culturas
atendam suas necessidades e preferências agrícolas com espécies arbóreas que podem
alimentares para uma vida ativa e saudável ser utilizados para restaurar florestas e recu-
(FAO, 1997). perar áreas degradadas (Embrapa, 2004).
210
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
211
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
212
CGPE 14451