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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
11ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0007330-36.2012.8.26.0161 e código RI000000INIHK.
Registro: 2013.0000742996

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº


0007330-36.2012.8.26.0161, da Comarca de Diadema, em que é apelante

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 03/12/2013 às 00:00 .
AGOSTINHO VIEIRA DE SOUSA NETO, é apelado MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 11ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal


de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram parcial
provimento ao recurso de apelação interposto por Agostinho Vieira de
Sousa Neto, tão-somente para absolvê-lo da prática do delito previsto no art.
129, §9º c.c. art. 14, inc. II, ambos do C.P., e afastar a qualificadora do art.
61, inc. II, alínea “e”, do C.P., reduzindo a pena imposta para 01 (um) ano,
01 (um) mês de detenção, mantendo-se, no mais, a r. sentença recorrida,
inclusive a suspensão condicional da pena. V.U.", de conformidade com o
voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmo.


Desembargadores GUILHERME G.STRENGER (Presidente) e PAIVA
COUTINHO.

São Paulo, 27 de novembro de 2013.

SALLES ABREU
RELATOR
Assinatura Eletrônica
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
11ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

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Apelação nº 0007330-36.2012.8.26.0161
Apelante: Agostinho Vieira de Sousa Neto
Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Comarca: Diadema
Juiz: Rodrigo M. de Almeida Geraldes

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 03/12/2013 às 00:00 .
Voto nº 28.420

Ementa:
“Apelação Lesão corporal leve tentada (art.
129, § 9º, c.c. art. 14, inc. II, ambos do C.P.), ameaça
(art. 147, “caput”, do C.P.), dano qualificado (art. 163,
par. único, inc. III, do C.P.) e desacato (art. 331, do
C.P.) Recurso defensivo.
Preliminares Insuficiência da defesa técnica
Inocorrência Advogado constituído que exerceu
regularmente a defesa dos réus Preliminar rejeitada
Demais preliminares tratam de matéria meritória.
Ameaça, dano qualificado e desacato -
Absolvição pretendida Insuficiência de provas
Improcedência Materialidade e autoria demonstradas
Depoimentos das vítimas e testemunhas, aliados aos
demais elementos de convicção obtidos no curso do
processo, são suficientes para justificar o édito
condenatório.
Ameaça Tese defensiva de atipicidade
Descabimento Delito formal Consumação
independe do resultado lesivo visado pelo agente
Restou comprovado que a ameaça foi capaz de
intimidar a vítima.
Desacato Atipicidade Improcedência
Demonstração de que o policial militar foi ofendido
pelo réu delito que independe da ofensividade ao
funcionário, pois afeta a dignidade e o prestígio do
cargo Condenações de rigor.
Lesão corporal leve tentada Atipicidade
Procedência Dolo de ofender a integridade física da
vítima não foi demonstrado Réu contido pelo
miliciano antes de alcançar a vítima, Absolvição de
rigor.
Dosimetria Redução da pena do crime de
ameaça Não caracterizada a agravante do art. 61, inc.

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Relator: Salles Abreu
Apelação nº 0007330-36.2012.8.26.0161
Voto nº: 28.420
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II, alínea 'e', do C.P. Não é possível interpretar
extensivamente a norma para abranger ex-cônjuge
Manutenção do regime aberto e da suspensão
condicional da pena.
Recurso parcialmente provido”.

Trata-se de recurso de apelação interposto

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 03/12/2013 às 00:00 .
por Agostinho Vieira de Sousa Neto contra a r. sentença de fls. 104/117,
que julgou parcialmente procedente a ação penal para condená-lo ao
cumprimento da pena de 01 (um) ano, 02 (dois) meses e 10 (dez) dias de
detenção, no regime inicial aberto, por infração aos arts. 129, § 9º c.c. art.
14, inc. II, bem como artigos 147, 163, par. único, inc. III e 331, todos na
forma do art. 69, todos do Código Penal, concedida suspensão condicional
da pena pelo prazo de 02 anos. Ainda, a r. sentença absolveu o acusado da
prática do delito do art. 329, do Código Penal, com base no art. 386, inc.
VII, do Código de Processo Penal.

Inconformado, recorre o acusado


postulando, preliminarmente, nulidade do processo por insuficiência de
defesa técnica, bem como por violação à presunção de inocência e ao art.
156, do Código de Processo Penal. No mérito, busca a inversão do julgado e
sua consequente absolvição, argumentando para tanto com a atipicidade das
condutas. Subsidiariamente, requer a desclassificação do delito de lesão
corporal para a contravenção penal das vias de fato (fls. 139/147).

O recurso foi bem processado, com


contrariedade oferecida pelo Ministério Público que refuta os argumentos
trazidos nas razões do inconformismo e defende o acerto da r. sentença
recorrida (fls. 149/152).

Instada a se manifestar, a Douta

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Relator: Salles Abreu
Apelação nº 0007330-36.2012.8.26.0161
Voto nº: 28.420
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Procuradoria de Justiça pugnou pelo improvimento do apelo defensivo (fls.
156/163).

Este, em apertada síntese, é o relatório,


acrescido ao da r. sentença prolatada pelo juiz de direito Rodrigo M. de
Almeida Geraldes.

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Inicialmente cumpre esclarecer que a
preliminar aventada pela defesa não merece acolhida, tendo em vista a
inobservância de qualquer irregularidade na defesa técnica exercida pelo
advogado constituído pelo réu.

Conforme se depreende dos autos, não se


verificou qualquer omissão ou desídia por parte do defensor, Dr. Celso
Torres da Silva, OAB/SP nº 301.256, o qual esteve presente em todos os
atos processuais e ofertou alegações finais.

Ao contrário do quanto alegado pelo d.


Defensor Público, não restou demonstrada a existência de prejuízo ao réu na
atuação do advogado mencionado, não podendo se falar em nulidade.

De fato, a lei não prescreve ao advogado


criminal o modo como deve desempenhar a sua tarefa, não sendo lícito,
portanto, exigir-lhe que proceda desta ou daquela forma, sendo certo que a
alegação de deficiência de defesa só merece crédito se comprovado que por
inércia, desídia ou dolo, causou prejuízo à regular defesa do réu, não sendo
o caso dos autos.

É, pois, de ser rejeitada a preliminar


aventada pela defesa.

No que toca às outras duas nulidades

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Relator: Salles Abreu
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alegadas pela Defensoria Pública violação à presunção de inocência e ao
art. 156, do Código de Processo Penal -, ambas confundem-se com o mérito
recursal, pois em caso de acolhimento implicariam absolvição. Assim, serão
analisadas abaixo.

O recurso defensivo interposto comporta


parcial provimento, como se verá.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 03/12/2013 às 00:00 .
Consta da denúncia que, no dia 22 de março
de 2012, por volta de 19h52min, na Rua Gema, nº 141, bairro Jardim São
Judas, na cidade de Diadema, Agostinho Vieira de Sousa Neto, ameaçou e
tentou agredir sua ex-mulher Lindinalva da Conceição Farias, somente não
conseguindo ofender dolosamente sua integridade corporal por
circunstâncias alheias a sua vontade.

Consta dos autos que, nas mesmas


circunstâncias, o acusado opôs-se, mediante violência, a ato legal praticado
por funcionário público competente para sua execução; bem como
desacatou funcionário público no exercício de sua função.

Consta, ainda, que o réu deteriorou coisa


alheia pertencente ao Município de Diadema.

Conforme restou apurado, o apelante dirigiu-


se a casa da ofendida Lindinalva, sua ex-mulher, e ao chegar, alegando que
queria conversar com ela, ingressou no condomínio sem sua autorização.

Ato contínuo, Willian, testemunha que


residia na casa de Lindinalva, foi até o corredor e lá encontrou Agostinho,
com vistas a impedir sua entrada no imóvel. Após tentar conversar, a
referida testemunha teve que segurar o recorrente, para impedir que tentasse

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Relator: Salles Abreu
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invadir o domicílio da ofendida.

Nesse ínterim, policiais compareceram ao


local, momentos depois de terem sido chamados por Lindinalva. Após
novas tentativas de conversa, os milicianos pediram a Willian que chamasse
a ofendida. No instante em que ela saiu do prédio, o acusado correu em sua
direção com o intuito de agredi-la fisicamente, tendo sido contido pelo

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policial Rafael, que o impediu de atingir a vítima.

Em seguida, o réu resistiu à prisão


debatendo-se de forma violenta, o que implicou necessidade de algemá-lo.
Ainda assim, conseguiu desferir um pontapé nas nádegas de Willian e
passou a ameaçar Lindinalva, gritando: “eu descobri onde você trabalha,
amanhã eu vou lá te pegar”.

Por fim, o recorrente passou a desacatar os


policiais afirmando: “vocês não tem que me prender, vocês tem que correr
atrás de bandidos...seus policiais idiotas”, e ao ser conduzido para a viatura
policial, desferiu, com dolo, chute na porta traseira do lado esquerdo do
veículo, causando danos em sua estrutura.

Quando da prolação da r. sentença, o


Magistrado a quo absolveu Agostinho da prática do delito de resistência.

A materialidade dos crimes de ameaça,


desacato e dano qualificado ficou bem demonstrada pelas informações
contidas no auto de prisão em flagrante (fls. 02/03) e no boletim de
ocorrência (fls. 09/14), pelo laudo em veículo (fls. 81/83), bem como pelas
provas orais obtidas no curso da persecução penal.

A autoria delitiva, da mesma forma, restou

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Relator: Salles Abreu
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inconteste nos autos.

O réu Agostinho Vieira de Sousa Neto, na


delegacia, afirmou que estava transtornado de ciúmes de sua ex-mulher e se
declarou arrependido de suas atitudes (fls. 08). Ouvido em Juízo, negou a
pratica dos delitos, confirmando apenas ter chutado as nádegas de Willian
(mídia eletrônica de fls. 77).

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Vê-se, pois, que a versão exculpatória
apresentada pelo acusado, além de fantasiosa e contraditória, restou isolada
nos autos, não encontrando qualquer ressonância nos demais elementos de
prova obtidos no curso da instrução processual, senão vejamos:

Em ambas as fases da persecução penal, a


vítima Lindinalva da Conceição Farias foi segura, harmônica e
convincente ao confirmar os fatos narrados na inicial acusatória, relatando,
que o acusado tentou entrar em sua residência, mas foi impedido por
Willian. Afirmou ter ligado para a polícia e que só saiu do prédio quando
chamada pelos milicianos. Declarou que nesse momento o réu foi em sua
direção com o intuito de agredi-la, não logrando êxito em razão de ter sido
contido pelas autoridades policiais. Asseverou também ter sido ameaçada
pelo acusado, bem como ter presenciado quando ele chutou a viatura (fls. 06
e mídia eletrônica de fls. 77).

Ressalte-se que no delito de ameaça, é de


grande valia o depoimento da vítima, vez que, quase sempre apenas ela está
presente no local dos fatos. Entretanto, in casu, aliado à palavra da ofendida
estão os relevantes depoimentos das testemunhas citadas a seguir, que
presenciaram integralmente o ocorrido, confirmando a prática dos delitos
perpetrados pelo acusado, vejamos:

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Relator: Salles Abreu
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Em depoimento, a testemunha Willian
Pereira de Souza, afirmou morar de favor na casa da vítima e que impediu
Agostinho de invadir o apartamento de Lindinalva. Declarou que com a
chegada da polícia, os dois saíram do condomínio, mas o recorrente agiu de
forma desrespeitosa com os milicianos. Em seguida, alegou que a vítima
desceu do prédio, sendo que o réu correu em sua direção para agredi-la.

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Após ser contido, o apelante passou a ofender os policiais, chamando-os de
idiotas. Depois, ao ser conduzido pelos milicianos, chutou a viatura policial
(fls. 07 e mídia de fls. 77).

No mesmo sentido foi o depoimento do


policial militar Rafael Rozendo da Silva, o qual ratificou a dinâmica dos
fatos, declarando, ter presenciado todos os delitos pelos quais o acusado foi
denunciado, confirmando inclusive que o réu o chamou de idiota e desferiu
chute na porta traseira esquerda da viatura policial (fls. 03 e mídia
eletrônica de fls. 77).

O outro policial militar responsável pela


diligência, Paulo Victor Nascimento Borges, afirmou não se recordar com
detalhes dos fatos e ter ficado a certa distância, confirmando que Agostinho
foi para cima da vítima, mas não soube dizer qual era seu objetivo. Não se
lembrou de ter presenciado resistência do réu ou que ele tenha ofendido
qualquer dos policiais, asseverando apenas que Agostinho chutou a viatura
policial (fls. 05 e mídia eletrônica de fls. 77).

Apesar de Paulo Victor não se recordar com


exatidão dos fatos narrados na inicial acusatória, mostrou-se segura e digna
de credibilidade a versão apresentada pelo miliciano Rafael Rozendo da
Silva, não se podendo retirar-lhe a validade do depoimento apenas por sua

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condição funcional. Nesse sentido: “A simples condição de policial não
torna a testemunha impedida ou suspeita” (STF, RTJ 68/54).

Em ressonância com o robusto acervo


probatório está o laudo de exame de veículo (fls. 81/83), o qual atestou os
danos causados à viatura policial e a materialidade do delito de dano
qualificado.

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Logo, depreende-se que o conjunto
probatório acostado aos autos - especialmente os depoimentos das vítimas e
testemunhas - mostrou-se seguro e apto a comprovar a materialidade e a
autoria delitiva, sendo medida de rigor a manutenção de sua condenação
pelos crimes de ameaça, dano qualificado e desacato.

Ainda, no que se refere ao crime de ameaça,


razão não assiste à defesa ao sustentar a atipicidade, em razão do estado
emocional do réu, eis que o delito em questão é formal, ou seja, consuma-se
independentemente do resultado lesivo visado pelo agente, pouco
importando o estado emocional.

Nesse sentido:

“O delito de ameaça é crime formal e


instantâneo, que se consuma independentemente do resultado lesivo
objetivado pelo agente. Basta para sua caracterização que a ameaça seja
idônea e séria, com vontade livre e consciente de incutir temor na vítima,
sendo irrelevante o estado emocional desequilibrado no momento dos
fatos” (RT 725/662) (MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal
Interpretado, 7ª ed., São Paulo, Editora Atlas, 2011).

No mais, restou comprovado, especialmente

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Relator: Salles Abreu
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pelo depoimento da vítima, que a ameaça proferida foi capaz de intimidá-la,
de incutir-lhe temor, restando assim configurado o delito em questão.

Melhor sorte não assiste à defesa ao alegar


atipicidade do desacato, por não ter sido a conduta capaz de ofender os
funcionários públicos.

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Em seu depoimento em juízo, o policial
militar Rafael Rozendo da Silva confirmou ter sido chamado de “idiota”
pelo réu, bem como ter se sentido ofendido, destacando que diversos
populares acompanhavam a diligência (mídia eletrônica de fls. 77).

Não obstante, cumpre ressaltar que o delito


em questão independe da capacidade de ofender o funcionário para se
caracterizar, pois o desacato consiste também em afetar o prestígio do cargo
ou da função.

Nesse sentido:

“Pouco importa que o funcionário público


se julgue, ou não, ofendido, já que a ofensa é dirigida também à dignidade
e ao prestígio de seu cargo ou função” (MIRABETE, Júlio Fabbrini.
Código Penal Interpretado, 7ª ed., São Paulo, Editora Atlas, 2011).

No entanto, não há elementos probatórios


suficientes para a condenação do apelante pelo delito de lesão corporal leve
tentada.

Tal se dá, pois, apesar de ser certo que o


acusado dirigiu-se em direção à vítima, sendo contido pelo policial Rafael,
não há certeza quanto ao dolo do agente de ofender a integridade corporal

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de Lindinalva.

Nesse sentido: “Embora já se tenha


entendido que é juridicamente impossível a tentativa de lesões corporais,
porque tal figura coincide inteiramente com a definição de vias de fato, é
correto afirmar que ela é admissível quando nítido o dolo de ofender a
integridade física ou psíquica da vítima, que não se consuma por

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circunstâncias alheias à vontade do agente.” (MIRABETE, Julio Fabbrini.
FABBRINI, Renato N. Código Penal Interpretado. 7ª edição. São Paulo:
Atlas, 2011).

Assim, é de rigor a absolvição do acusado


pela lesão corporal leve tentada, tendo em vista a atipicidade da conduta.

Afastada a condenação pelo delito de lesão


corporal leve tentada e mantida pelos demais delitos pelos quais o réu foi
condenado em primeiro grau, passemos à dosimetria das penas.

Na primeira fase, tendo em vista as


circunstâncias judiciais favoráveis ostentadas pelo acusado, as penas-base
de todos os delitos foram corretamente fixadas nos patamares mínimos
legais, ou seja, em: 01 (um) mês de detenção para o delito previsto no art.
147, do C.P; 06 (seis) meses de detenção e 10 (dez) dias-multa para o delito
do art. 163, par. único, inc. III, do C.P.; e 06 (seis) meses de detenção para o
delito previsto no art. 331, do C.P.

Em razão da ausência de circunstâncias


modificadoras, as reprimendas mantiveram-se inalteradas, salvo para o
crime de ameaça, sobre o qual incidiu a agravante de ter sido o delito
praticado contra a esposa (art. 61, inc. II, alínea 'e', do Código Penal), sendo

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fixada a pena, para este crime, em 01 (um) mês e 10 (dez) dias de detenção.

Data venia ao ilustre Magistrado, mas não


deve ser aplicada a referida agravante, vez que o acusado e a vítima
Lindinalva estão divorciados desde 2008, conforme os documentos de fls.
15 a 17 dos autos.

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Assim, como o artigo em questão
expressamente dispõe que é circunstância atenuante o fato de “ter o agente
cometido o crime: contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge”, não
cabe interpretação extensiva para aplicá-lo também aos ex-cônjuges.

Deste modo, reduz-se a pena do crime de


ameaça para o mínimo legal, resultando em 01 (um) mês de detenção.

Em razão do concurso material, as penas


devem ser aplicadas cumulativamente, totalizando 01 (um) ano e 01 (um)
mês de detenção.

Afere-se a ocorrência de erro material no


dispositivo da r. sentença, pois o Magistrado a quo deixou de considerar a
pena de multa aplicada, não podendo-se, porém, realizar correção, em razão
da vedação à reformatio in pejus.

O regime inicial aberto mostrou-se adequado


in concreto, diante da primariedade do réu e da quantidade de pena
aplicada, nos termos do art. 33, § 2º, alínea “c”, Código Penal.

No mais, agiu com acerto o d. magistrado ao


não aplicar a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos, haja vista que um dos delitos praticados foi o de ameaça, sendo,

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portanto, desmerecedor de tal benesse, nos exatos termos dos arts. 44, inciso
I, e 69, §1º, do Código Penal.

Por fim, mantém-se a suspensão condicional


da pena pelo período de 02 (dois) anos, com a obrigação de prestação de
serviços à comunidade no primeiro ano da suspensão, uma vez que
preenchidos os requisitos do art. 77, do Código Penal.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 03/12/2013 às 00:00 .
Isto posto, pelo meu voto, dá-se parcial
provimento ao recurso de apelação interposto por Agostinho Vieira de
Sousa Neto, tão-somente para absolvê-lo da prática do delito previsto no
art. 129, §9º c.c. art. 14, inc. II, ambos do C.P., e afastar a qualificadora do
art. 61, inc. II, alínea “e”, do C.P., reduzindo a pena imposta para 01 (um)
ano, 01 (um) mês de detenção, mantendo-se, no mais, a r. sentença
recorrida, inclusive a suspensão condicional da pena.

Salles Abreu
Relator

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Relator: Salles Abreu
Apelação nº 0007330-36.2012.8.26.0161
Voto nº: 28.420

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