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Nesse sentido, resolvi escrever sobre várias dúvidas, processos, termos, conceitos,
e alguns mitos que envolvem todo o processo e os equipamentos para fazer
cerveja.
Só quero esclarecer que eu não sou dono da verdade. O texto que vou escrever
agora mistura uma série de técnicas, mas também muitas coisas da minha "postura
cervejeira" em relação a como fazer cerveja e a como enfrentar um problema ou
algo inesperado, e isso tem a ver com convicções pessoais em relação a processos,
mas sobretudo, como potencializar meu aprendizado quando me deparo com
problemas. O que eu vejo de forma muito freqüente são cervejeiros que se
deparam com problemas, mas que não entendem esse problema como uma grande
oportunidade de aprendizado, e esse é um dos principais fatores que eu também
quero tratar aqui.
- Não tente resolver um problema que você não tem certeza absoluta... que
é um problema
Essa talvez seja uma das maiores dicas. NÃO ENTRE EM PÂNICO, e não tome ações
afobadas. Tentar resolver um problema que você ainda não tem capacidade de
avaliar direito pode fazer com que a sua tentativa de correção CAUSE UM
PROBLEMA que não existia antes.
"Mas Guenther, meu fermentador não veda de jeito nenhum!" - Beleza, meça a
densidade do mosto e observe se ela está baixando em comparação com a
densidade inicial antes da fermentação (a famosa OG - Original Gravity). Se ela
baixou, é porque "alguém" está comendo os açúcares.
"Mas Guenther, você vai me matar... mas eu não medi OG, e nem tenho
densímetro!" - Bom, primeiro de tudo, COMPRE UM, $%@$%! Segundo, você pode
averiguar também a atividade de fermentação abrindo o fermentador e observando
se gerou espuma no topo do líquido, ou se pelo menos há marcas de espumas na
parede do fermentador logo acima do nível do líquido.
Na boa? Não tem como transmitir para os outros a sua definição de "cheiro
esquisito" pela internet, então, ninguém vai te dar uma resposta que sirva, com
confiança. Além disso, a grande maioria dos compostos RUINS que deixam a
cerveja com gosto e aroma desagradáveis são gerados durante a fermentação
primária, ou seja, não adianta levar isso em consideração!
Isso também serve para o aroma dos Starters (até os cervejeiros mais avançados
que já se arriscam a fazer starters tem essa neura).
Pra quem ainda não sabe, FG é a Final Gravity, ou densidade final. Resumindo, é a
densidade da cerveja depois que ela fermentou.
EU, Guenther, não recomendo utilizar refratômetro pra medir FG. É uma opinião
pessoal. Fiz isso durante um bom tempo, e nunca consegui um valor perfeito que
batesse com a leitura do densímetro.
Mas se você mediu com densímetro, e está bem acima do esperado, bom, aí pode
ter sido por uma SÉRIE de motivos que nem vou entrar em detalhes aqui, mas
cogite a hipótese de hidratar mais fermento e adicionar no fermentador. Às vezes
funciona.
Boa parte desse ATC se resume ao fato de que o refratômetro é feito para vc pingar
DUAS GOTAS. Se você deixar o refratômetro em cima do vapor da panela e ficar
despejando uma cachoeira de mosto nele quando for medir, o corpo plástico do
refratômetro vai aquecer, e isso certamente vai além das capacidades ATC dele.
Ocorre que os refratômetro são feitos para trabalharem num certo limite de
temperatura (e varia conforme o fabricante), mas digamos que até 30 graus. Na
temperatura ambiente, se você pingar somente 2 gotas, a massa dessas 2 gotas é
tão pequena em relação à massa do corpo do refratômetro que essas gotas vão
ficar na temperatura do plástico assim que encostarem nele. Agora... se você ficar
despejando mosto de balde nele, aí não tem milagre.
A OG não bater com o programado, na maioria dos casos, só vai alterar o teor
alcoólico da cerveja em alguns décimos acima ou abaixo. Os outros fatores são
MUITO mais importantes em termos de acertar um estilo, como a cor, o teor de
amargor, etc. Ou seja, não se fixe nisso.
Entrando agora num gosto pessoal meu, eu praticamente nunca tento corrigir
qualquer coisa na cerveja depois de pronta. Eu deixo a cerveja como eu fiz, para
que eu possa analisar o processo, analisar o resultado, o gosto, o aroma, o corpo, e
poder observar, muitas vezes durante meses, onde eu errei, e assim posso corrigir
minhas técnicas para não errar nas próximas.
Se ficar tentando corrigir tudo que deu errado ao final, isso pode gerar um certo
"vício", e fazer da seguinte frase uma prática corriqueira "ah, se não der certo, eu
corrijo no final". E então, o que vai acontecer com o tempo? Você provavelmente
acabará sendo um cervejeiro medíocre, e vai acertar cervejas meio que na sorte.
E falando em vícios...
Aí eu pergunto.... e se você colocou açúcar a mais? Notou que fazendo isso você
acabou de mascarar um problema e perdeu a oportunidade de averiguar se está
fazendo tudo certo?
"Mas Guenther, a pressão não para de subir, já está em 3kg, e acho que fiz algo
errado e as garrafas vão explodir, e vou perder a leva!" - Ok, então coloque as
garrafas na geladeira para interromper o processo, mas DEIXA A GARRAFA DO
MANÔMETRO FORA para ver até que pressão vai, e ter noção do quanto você errou.
Grave isso na cabeça: assumindo que você tem uma higiene decente, e que
sanitiza corretamente tudo que entra em contato com a cerveja depois da fervura,
acredite......... FERMENTAÇÃO é o processo MAIS IMPORTANTE DE TODOS. Não
adianta ter sistema de brassagem automatizado HERMS, RIMS, BIAB, INPS, ICMS,
BNDES, COFINS, IOF, etc, se você não fermenta direito sua cerveja.
Esse é um dos motivos pelo qual eu acho errado dizer que tal estilo de cerveja deve
maturar por X tempo antes de beber. O tempo de maturação (normalmente
entendido como tempo que a cerveja leva para ficar "boa para beber") basicamente
se resume ao tempo necessário para que vários compostos ruins sumam ou
diminuam da sua cerveja. E em qual parte do processo eles são gerados?
Fermentação. E o que define a quantidade de compostos ruins? Fermentação.
- Quantidade de fermento
Enquanto você não estudar mais a fundo (como ler o livro Yeast) e entender
realmente sobre taxa de inoculação, siga simplesmente o seguinte (e aqui vou falar
somente sobre fermentos secos, que é o que eu recomendo para iniciantes):
> Cervejas Ales: tente sempre ficar em 1g de fermento seco por litro de mosto, ou
próximo disso, para cervejas normais (até OGs de 1070, digamos assim). Acima
disso, comece a ficar perto do 1,5g por litro.
> Cervejas Lagers: tente ficar por volta de 1,5g por litro para cervejas normais, e
2g por litro para as mais alcoólicas.
Esqueça o que diz nos pacotinhos "um pacote serve para até 30 litros", e siga isso
(e aproveitando, a frase que diz nos pacotinhos "melhor entre 16 e 24 graus" não
quer dizer que nessa faixa está tudo bem, independente da variação ou estágio).
De forma geral:
> Ales: comece a fermentação a 18 graus. Quando ver as primeiras bolhas do air-
lock, deixe mais 1 dia, e então suba a temperatura lentamente (de preferência
deixar a temperatura subir sozinha) até os 20 graus. Uma vez nesse patamar, siga
nessa temperatura até que a atividade do air-lock comece a ficar lenta, como por
exemplo 1 bolha a cada 2 segundos, e então comece a subir a temperatura até 25
graus até terminar a fermentação primária. Tendo certeza que a fermentação
primária acabou (parou de borbulhar, e você mediu a densidade durante pelo
menos 2 dias seguidos e ela não baixou mais), mantenha essa temperatura conte
mais 3 dias para que ocorra a fermentação secundária (período em que o fermento
reabsorve boa parte dos compostos ruins que ele mesmo gerou durante a
fermentação primária). Feito isso, proceda com a clarificação (baixar a temperatura
do fermentador o mais baixo possível desde que não congele a cerveja) durante
uns 7 dias, e depois vá para o envase. Eu gosto na técnica de clarificação pré-
envase para evitar excesso de borra de fermento dentro da garrafa ou barril.
> Lagers: comece a 10 graus, suba pra 12, e depois pra 16, seguindo a mesma
lógica acima.
Em ambos os casos, se você não tem como subir a temperatura para 25 (ales) e 16
(lagers), faça 7 dias de fermentação secundária para garantir a total reabsorção.
Como a temperatura está mais baixa que o ideal para esse processo, é possível que
leve mais tempo para que os compostos ruins sejam reabsorvidos.
Bom, nesse caso, dê o seu jeito para pelo menos começar em temperatura baixa, e
deixe-a subir ao natural. A fermentação secundária nesse caso pode levar mais
tempo. Como dica, eu recomendo ter a temperatura inicial um pouco mais baixa do
que quem tem controle de temperatura, como 16 graus pra Ales, e 8 graus pra
lager. O importante aqui é que a cerveja não comece a fermentar em alta
temperatura, pois isso pode gerar muitos problemas. Se ela passar alguns dias em
temperatura mais baixa, e só depois subir além dos 20 graus (ales) e 12 (lagers),
provavelmente não haverá problemas.
- Variação de temperatura
Não, você não tem controle de temperatura de fermentação. Você tem controle de
temperatura ambiente dentro da geladeira.
A fermentação gera calor, e muitas vezes o mosto que está fermentando fica 3, 6,
10 graus acima da temperatura fora do fermentador.
Ou seja, se o seu sensor está solto, medindo 18 graus, é bem possível que a
cerveja esteja fermetando a 22, 23, 24 graus, e acredite... isso vai resultar em
vários problemas.
Não é assim, o mais importante é fazer cerveja! Se você não tem uma geladeira
agora e talvez só consiga uma daqui a alguns meses, mesmo assim nem consiga
nunca (por não ter espaço) faça a cerveja mesmo assim, mas dê um jeito de fazer
a cerveja começar a fermentar nas temperaturas que falei acima, como por
exemplo usar um pré-chillher num balde com gelo para baixar a temperatura da
água utilizada no resfriamento. Quem tem geladeira não precisa disso, pois pode
simplesmente colocar o fermentador na geladeira e ela faz o resto do serviço para
que quando a cerveja realmente comece a fermentar, a temperatura já tenha sido
alcançada.
Acredite, a opinião dos amigos que vem na nossa casa comer aquele churrasco,
não vale NADA! Opinião de verdade vem de alguém que realmente entende, e de
preferência, que faça cerveja há um bom tempo, pois esse cara vai saber o que
falar, já tem o paladar mais treinado, e não terá vergonha em te dizer o que está
errado.
Além disso, lembre-se: não é porque você não sente, que o problema não existe.
Às vezes o problema existe, só você que ainda não tem capacidade sensorial para
detectá-lo.
- "Levei trub para o fermentador! Acho que vou fazer um filtro pra trub!"
Na minha opinião, não faça um filtro, nem se preocupe TANTO com isso. Sim, o
ideal é levar o mínimo possível de trub para o fermentador, mas não será um pouco
dele que vai arruinar a sua cerveja.
Além disso, o clássico whirlpool funciona... basta que você faça direito. Esforce-se
pra isso, até acertar. Se está com dificuldade, procure fazê-lo a quente, antes do
resfriamento, pois ele se forma mais fácil dessa forma.
O trub que se forma com o mosto quente é formado principalmente por lúpulo e
outras partículas sólidas. Esse tipo de trub é "áspero", digamos assim, ou seja,
quando ele forma o cone, não se desmancha fácil.
- Rampas de temperatura
NÃO faça 800 mil rampas de temperatura sem saber EXATAMENTE o motivo pelo
qual está fazendo. Esqueça as receitas da internet, esqueça os amigos que dizem
"ouvi dizer que é bom fazer uma rampa em X temperatura". Se você ouviu isso, e
realmente quer fazer, vá estudar e entender o motivo.
Eu garanto que na GRANDE maioria dos casos, essas rampas são desnecessárias.
Novamente, no livro How to Brew o Palmer é claro dizendo que paradas proteicas
são não necessárias em maltes moderadamente modificados, coisa que
praticamente não existe hoje em dia, ou quando se usa 25% ou mais de cereais
não maltados.
Mexer ou recircular só é necessário quando você está com o fogo aceso, pois isso
pode esquentar demais o fundo da panela e caramelizar o mosto ou até queimar os
grãos.
Depende do tipo de panela e filtro que está usando para fazer a mosturação.
a) panela sem filtro: se estiver com o fogo aceso, mexa, sobretudo com os grãos
que estão lá embaixo em contato com o fundo quente da panela.
b) panela com filtro tipo bazooka (de malha de inox): mexa, pelo menos motivo,
mas cuide para não desencaixar o filtro da válvula, isso é uma @#$@#$.
c) panela com filtro tipo fundo falso: RECIRCULE e NÃO TOQUE NOS GRÃOS. Nesse
tipo de filtro, há uma camada de mosto puro abaixo do filtro, então não adianta
você mexer o malte, pois o mosto abaixo do filtro vai ficar parado, e vai acabar
FERVENDO. Além disso, se mexer com a pá lá embaixo, vai acabar socando as
cascas nos furinhos e pode entupir o filtro. Quando estiver com o fogo aceso,
simplesmente fique recirculando com uma jarra, calmamente, devolvendo o mosto
por cima da cama de grãos de forma suave. Isso vai fazer com que, conforme a
recirculação vai ocorrendo, as partículas menores PASSEM pelos furos (e nós
queremos isso, por isso os furos não são micro) e então vão trancar na cama de
grãos lá em cima quando você devolver o mosto. Com o tempo... essa recirculação
fará com que só as cascas maiores fiquem lá embaixo, e as partículas pequenas
fiquem na parte superior da cama de grãos, formando um filtro natural perfeito. Na
minha opinião, essa é a MELHOR TÉCNICA DE MOSTURAÇÃO DE TODAS.
Premissas:
Pois bem, baseado nisso, eu, que gosto de previsibilidade máxima nos meus
processos de forma com que eu tenha alto nível de repetibilidade, adotei a muito
tempo a seguinte estratégia, que NUNCA falhou: mosturação de 1h30.
Simples assim.
Além de ser um tempo mais que suficiente para conversão, eu acredito (e aí vem
opinião na jogada) que o tempo de mosturação influi no perfil de mosturação. Ou
seja, eu acredito que se pegarmos a mesma receita, e num dia fizermos uma
mosturação (com teste do iodo OK) de 40 minutos, e outra com 1h30, que elas dão
resultados sutilmente diferentes, então para que eu possa usar uma técnica
simples, e garantida, o que eu falo? Mosturação de 1h30.
Simples!
Infelizmente, esse é um grande mito largamente difundido por aí. E pra quem
difunde essa técnica como a mais correta, se perguntem o motivo, provavelmente
dirão "porque não tem como mexer o mosto do fundo da panela e ele acaba
caramelizando".
Errado.
O motivo real da disseminação dessa técnica é por que nas cervejas essa técnica é
a mais utilizada. Mas é a mais utilizada porque é a melhor? NÃO.
As cervejarias utilizam essa técnica porque assim que acabam de mosturar uma
leva, e transferem tudo para a tina de filtração, ficam com a panela de mosturação
liberada, e então já podem iniciar OUTRA mosturação da próxima leva, e isso faz
com que eles ganhem muito tempo para fazer várias brassagens no mesmo dia.
Esse é o MESMO motivo pelo qual algumas cervejarias (no exterior, é comum, mas
aqui no Brasil, é quase zero.... por algum motivo.. talvez economia) usem uma
panela dedicada para Whirlpool. Quando acaba a fervura, eles bombeiam todo o
mosto fervendo para a panela de whirlpool, e já liberam a panela de fervura para
começar a depositar o mosto filtrado dá leva em sequência. Se não tem essa
panela, é preciso esperar toda a fervura, mais os 20 minutos de decantação do
trub, e mais 1h até transferir todo o mosto para o fermentador, ou seja, pelo
simples fato de ter uma panela de whirlpool, ganha-se 1h20 de tempo entre
brassagens.
- Receitas
Por que motivo, então, os outros homebrewers não pegam as receitas deles,
fazem, e ganham concursos também? Porque o principal não é a receita, é a
técnica.
John Palmer, num Pod Cast que ouvi do site do BeerSmith, disse: se você fermenta
uma cerveja direito, uma receita medíocre vai ficar boa, uma receita boa vai ficar
muito boa, e uma receita muito boa vai ficar excelente! Já se você pega uma
receita ganhadora de concurso, e não a fermenta direito, ela certamente vai ficar
ruim.
- Espuma da fervura
Eu sei... quando a gente começa, quer logo tomar a cerveja, etc. Eu chamo esse
problema de quase uma "ejaculação precoce cervejeira".
Não adianta se afobar. Querer acelerar as coisas no geral só vai causar problemas,
como pegar cerveja mal carbonatada, ou interromper um processo de
refermentação que ainda não terminou direito.
Além disso, não basta que a "pressão do manômetro pare de subir". O CO² precisa
de mais uns dias para se dissolver direito e deixar a cerveja REALMENTE
carbonatada (sensação de líquido carbonatado na boca). Se pegar uma cerveja que
acabou de carbonatar (parou de subir a pressão) colocar na geladeira, e tomar, ela
pode gerar um monte de espuma, mas o líquido em si não vai estar carbonatado
direito, com aquele efeito de ficar saindo bolhas do fundo do copo, então seja
paciente.
No geral, com temperatura apropriada, nem chegue perto das garrafas antes de
duas semanas, a não ser para verificar uma eventual super carbonatação ou
explosão de garrafas.
Não precisa! O próprio John Palmer que escreveu isso no livro How to Brew se
arrepende de ter disseminado essa técnica. Isso era necessário há décadas atrás
quando a qualidade do fermento disponível era horrível e ele vinha detonado,
propenso a ruptura das células e consequente autólise (canibalismo). Hoje em dia,
não há necessidade nenhuma. Eu e muitos cervejeiros que conheço já deixamos
cervejas por MESES no mesmo fermentador, em temperatura ambiente, e nada
aconteceu. Pelo contrário, a cerveja acabou ficando excelente.
Novamente, essa é uma técnica oriunda das cervejarias. Nas cervejarias, com
fermentadores cônicos GIGANTES, o fermento se deposita todo no fundo, nesse
cone, e ali é gerada uma grande pressão em decorrências das centenas ou
toneladas de kg de líquido acima, fazendo com que a lama de fermento aqueça em
vários graus, rompendo as células.
Sempre quando você ver uma receita ou texto dizendo "fermente por X dias", e
"mature por X dias"............ esqueça.
Primeiro, a velocidade da fermentação e quanto tempo total ela vai levar depende
de 1 milhão de fatores, e as células não tem um gerente que fica ali dizendo "Vamo
lá galera!!!! Só temos até quinta-feira pra fermentar essa ceva aê!!!".
Maturação não ocorre quando você quer, nem depende da temperatura que você
coloca.
Vejo muitos dizerem coisas como "aí eu fermentei, depois maturei por 10 dias, e
depois carbonatei, e então maturei por 5 dias, e aí comecei a beber!".
Ou seja, eu vejo por aí muitos dizerem "mature por 10 dias antes de tomar". Cara,
se eu e você pegamos a MESMA receita, e você fermentou ela direito, super bem, e
eu fermentei de forma porca, a tua cerveja com 10 dias vai estar melhor que a
minha com 6 meses de maturação..... então como pode-se delimitar de forma
antecipada o tempo de maturação? NÃO... TEM... COMO!
Além disso, tem a questão do OBJETIVO para a cerveja. Se eu quero fazer uma
Russian Imperial Stout pra tomar em casa, com 10 dias eu garanto que estou
tomando ela bem feliz. Se eu quero fazer uma Russian Imperial Stout pra ganhar
um campeonato, eu sei que ela vai precisar de uns 6 meses pra desenvolver os
gostos e aromas complexos que tornam ela um exemplar espetacular.
Ou seja, é preciso entender que cerveja não é um 8 ou 80, uma coisa digital,
matemática, que em X dias vai estar assim, assado.... sobretudo para nós
homebrewers. Cervejarias de grande porte conseguem uma alta previsibilidade,
mas só porque durante MUITO tempo vários caras ficaram analisando e
reanalisando os padrões de quanto tempo era necessário pra cada coisa acontecer,
utilizando uma técnica de produção sempre igual.
Ok, mas tenha em mente que isso vai desacelerar muito o seu aprendizado. Utilizar
um software facilita muito as coisas e faz você focar no que realmente interessa, ou
seja, na técnica, no conhecimento dos ingredientes, nas reações da fermentação,
etc.
Água FILTRADA é obrigatório. Água mineral já vem filtrada. Qualquer outra fonte,
FILTRE COM PELO MENOS UM FILTRO DE CARVÃO ATIVADO.
Não interessa se a águe é da rede, de poço, de rio, da chuva, etc. TEM QUE
FILTRAR.
Lembre-se que apesar de ser de uma fonte limpa, você não vai saber se as
tubulações usadas tem raízes de árvore, se são de canos galvanizados, ou com liga
de chumbo, etc. FILTRE.
E uma dica importante: siga seus instintos em relação ao gosto e aroma da água.
Se você escolheu comprar uma água mineral X, e não gostou do aroma ou do
gosto... use outra. Normalmente, seus instintos em relação a isso estão certos.
Jamil Zainasheff: if you know something about brewing, you share it with others.
Bom, minha resposta pra isso é o seguinte: quando você pratica um esporte, e
quer ficar bom naquilo, tem que fazer o que? Treinar, repetir, treinar, etc.
Ou seja, cada vez que eu respondo uma pergunta que já me fizeram várias vezes,
acaba sendo uma grande oportunidade de eu REVER minhas convicções, e de
revisar aquela minha "versão" da resposta e lançar a versão 2.0, e o que ocorre
frequentemente é que eu sempre acabo bolando uma forma mais completa, clara,
lúdica, detalhada, ou simplesmente com uma maior chance da pessoa que está
lendo a resposta entender aquilo na primeira vez que lê.
Ou seja, o que eu quero dizer aqui é... estudem, e ensinem os outros! Uma das
coisas que mais me fez aprender até hoje, é justamente tentar ensinar.
Uma coisa que já ocorreu 1 milhão de vezes comigo é ver a pergunta de alguém, e
eu não saber responder... então eu vou atrás, estudo pra caramba, volto e dou a
resposta pro cara. O que de fato aconteceu aí? Na real, a dúvida do cara me fez
aprender! E muitas vezes, a "preguiça" do cara que pergunta me fez aprender......
e sabem o que acontece nesse caso? Eu, que fui "descobrir" a informação, nunca
mais vou esquecer daquilo. Já o cara que recebe a resposta fácil, em muitos casos,
vai esquecer logo em seguida.
Outra coisa que eu costumo citar é: não se contente com o "porque sim!". Vá além
disso!
Mas................ quando eu digo isso, não estou dizendo para a pessoa que não
entendeu uma resposta de outro ficar perguntando de novo, e de novo, e
novamente...... não é isso..... quando eu digo "não se contente" e "vá além", é pra
ir pesquisar e estudar caso aquela explicação não tenha dado os 100% de
satisfação em termos de conhecimento.
Um caso que aconteceu de um cara que conheci por essas listas/fóruns e que
acabou se tornando um grande amigo, e que vai ler isso aqui e vai dar risada... foi
o seguinte. O cara ficou encucado com umas manchas em uns tubos de cobre dele.
O que o cara fez? Tirou fotos, e me mandou pelo chat do Facebook perguntando
"Guenther, isso aqui é zinabre?".
O que eu quero dizer com isso? Não, não estou dizendo para ele não me perguntar
ou que acho isso um saco. Quem me conhece sabe que eu adoro isso, que
respondo coisas aqui, por e-mail pessoal, pelo Facebook, nas listas de discussão, e
só tenho um bom conhecimento hoje em dia por causa disso, mas às vezes eu vejo
muitos iniciantes um pouco preguiçosos de pesquisar as mínimas coisas e
"descobrir" informações pelo próprio esforço.
Pela minha experiência, toda a informação que nós buscamos pela nossa PRÓPRIA
iniciativa, a gente NUNCA... MAIS... esquece.
Em outras palavras, eu dou muito peixe pra muita gente, e empresto muitas
ferramentas, pois isso cada vez me faz ter mais peixes, e mais ferramentas, mas
eu gostaria de ver mais gente aprendendo a pescar, e a comprar e utilizar suas
próprias ferramentas, e emprestar para os outros, e por aí vai.
Toda a vez que eu vejo uma pergunta que eu não sei responder, aquilo
praticamente se torna uma obsessão pra mim, e enquanto eu não souber a
resposta razoavelmente bem, eu não sossego.
Voltando à história do "zinabre", eu continuei dizendo à ele: "cara, tu podia ter feito
uma pesquisa rápida no Google, ver o que é exatamente o zinabre, ver fotos, ver
como ele é causado, ver o que ele faz, saber a composição, etc. Ou seja, além da
resposta simples que eu te dei, de ser ou não zinabre, e de como remover, tu ia ter
aprendido um MONTE de coisas a mais".
Essa talvez seja a melhor dica que eu possa dar para os iniciantes.
Abraço!