Livro Taxas e comissões Rendimento

RECLAMAÇÕES CRÉDITO PESSOAL INVESTIR SEM RISCO

A lei não fixa prazos de resposta No banco certo, pode poupar Conheça os poucos produtos
para as queixas dos consumidores quase 900 euros em juros que ainda rendem acima de zero
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Número 150 // novembro/dezembro 2018 // Bimestral € 10

Diretora e editora Cláudia Maia

www.deco.proteste.pt

De pratos
às avessas
com o Fisco
Em caso de conflito, o contribuinte tem vários meios à sua disposição. Aparentemente.
Da reclamação ao tribunal, passando pela arbitragem, nenhum funciona bem
DISCURSO DIRETO NESTA EDIÇÃO

Filipa Rendo
Jornalista
e coordenadora editorial

Desaguisados com o
Fisco? Deus nos livre!
Em 2017, foram quase 44 mil as reclamações que opuseram Fisco
e contribuinte. Por vezes, por culpa do primeiro, outras do segundo.
Diz a teoria que, se houver uma cobrança errada, de IMT, por exemplo, o CAPA
Fisco não toma a iniciativa de a corrigir, nem mesmo quando sabe que foi
pago imposto a mais. Diz a prática que, se o contribuinte não se queixar, 30
o Fisco nada devolve. Reclame-se, então! Os números mostram que, em Reclamações fiscais
A quem não consegue resolver o litígio
mais de metade dos casos, acabou por dar o braço a torcer. E, quando tal diretamente com o Fisco, restam duas opções:
não aconteceu, acionar a impugnação e o recurso hierárquico permitiu o tribunal ou o centro de arbitragem.
a mais contribuintes porem tudo em pratos limpos. Percentagens O primeiro é conhecido pelos elevados custos
e tempo de espera. O segundo é mais rápido,
bastante favoráveis, mas que demonstram que, afinal, muitos casos mas pode ser ainda mais caro e não é possível
poderiam ter sido evitados, assim como o stresse e o tempo perdido recorrer das decisões
pelos cidadãos. Bastaria talvez mais controlo na qualidade das decisões
tomadas na primeira linha. Mas não se pretende que o Fisco zele
pelos interesses do cidadão. Quer-se antes uma máquina de cobrança:
de impostos, de portagens e, em breve, também de quotas de ordens
profissionais. Esgotadas as vias de resolução direta com as Finanças,
sobram a quem está convicto da sua razão o tribunal ou a arbitragem.
(Suspiro.) Ou desistir. Os tribunais têm a fama e o proveito de serem
lentos, caros e desesperantes. A arbitragem ganha em rapidez, mas não A MEDIAÇÃO E A CONCILIAÇÃO
é mais barata e não permite recorrer da decisão. Na hora de escolher, PODEM SER UMA SOLUÇÃO
“corações ao alto”, pensarão os mais crentes. Dizem as estatísticas que MAIS CÉLERE, MAIS BARATA
são os tribunais quem recebe mais processos e que, aí ou no centro de E MENOS DESGASTANTE
arbitragem, perde também o Fisco muitas vezes. Sorte a do contribuinte PARA MUITOS CIDADÃOS
que vê a sua pretensão atendida e é ressarcido dos gastos. Azar o de
todos nós, que contribuímos para o erário público e acabamos a pagar
o tempo que as Finanças despendem em todas as fases da reclamação,
OS NOSSOS VALORES
e outros custos. Se tem fé, peça que menos males fiscais recaiam sobre
INDEPENDENTE
nós. Aos restantes, é fazer figas, porque na diligência das Finanças A nossa missão exige indepen­dência total: financeira,
não nos podemos fiar. política e ideológica. Os conselhos e tomadas de posição
resultam dos nossos estudos e análises, livres de qualquer
tipo de pressão. A totalidade das receitas da nossa atividade
ENVIE-NOS OS SEUS COMENTÁRIOS editorial@deco.proteste.pt é reinvestida em prol dos consumidores.

2 D&D//novembro/dezembro 2018 www.deco.proteste.pt

 10

23

Adolescentes podem aceder

a consultas de planeamento
familiar de forma gratuita
e confidencial
42
ANÁLISES E ESTUDOS RUBRICAS

10 23 40 4
Direito à imagem Investir sem risco Euribor Grande plano
Saiba como e quando pode Deixamos três sugestões Já todos ouvimos falar dela, Despesas de alojamento,
controlar o uso da sua imagem para contornar as “taxas zero” mas menos saberão explicá-la herdeiro por casamento, simulador

14 26 42
do Banco de Portugal, contas
à ordem, recibos verdes, reformas
25 anos da D&D Comprar e vender casa Planeamento familiar sem penalização, alojamento
Recordamos os impostos Mais de metade dos inquiridos Se é pai de adolescentes, local, app das revistas da DECO
cobrados no ano em que nasceu recorreu aos serviços saiba em que casos podem PROTESTE, preço das casas

48
esta revista de agências imobiliárias tomar decisões sozinhos

16 28 45 Sem recurso
Consentimento informado Receber uma injunção IMI Veja como os tribunais decidiram
Nos tratamentos simples, a Nada fazer equivale a Para poupar no imposto a pagar num caso idêntico ao seu

autorização é quase automática.
E nas intervenções delicadas?
18
Livro de reclamações
Exigimos prazos precisos
para as respostas às queixas
reconhecer que a dívida é
válida. Há prazos para reagir
35
Seguro automóvel
Encontre a apólice certa para o
seu carro no nosso comparador
50
em 2019, verifique se os dados
do imóvel estão atualizados
Livro de reclamações
46 Histórias, dúvidas e testemunhos
Direitos dos trabalhadores dos nossos leitores
Horários longos e falta de
recompensa por horas extra

20 38
estão entre as principais queixas
dos 1146 portugueses inquiridos
Crédito pessoal Intermediários de crédito
No banco certo, pode poupar Não podem conceder
quase 900 euros em juros empréstimos em nome próprio

218 410 858

808 200 145
CREDIBILIDADE PROXIMIDADE Serviço de informação
A concretização da nossa missão assenta na credibilidade A nossa missão é permanent­emente orientada
e no reconhecimento da qual­idade do nosso trabalho. para a satisfação das necessidades dos consumid­ores. 218 410 801
Esta resulta do profissionalismo das nossas equipas e de A concretização passa por interagir com todos os 808 200 146
métodos comprovados, transparentes e constantemente interlocutores – consumi­dores, comunicação social, poderes Assinaturas e encomendas
reavaliados, baseados numa ética profissional exigente. políticos, etc. – de forma direta, concreta e adequada.

www.deco.proteste.pt novembro/dezembro 2018//D&D 3

 GRANDE
PLANO
DEDUÇÕES NO IRS
O alojamento
também conta
para o IRS
Os estudantes já podem incluir as rendas
da casa nas despesas de educação, como
sempre defendemos. Mas só se os senhorios
registarem o contrato de arrendamento nas
Finanças
Depois de vários anos a bater-nos pela
dedução no IRS de todas as despesas de
educação, repondo os benefícios fiscais
que vigoraram até 2015, o alojamento dos
estudantes passou novamente a figurar
entre os encargos dedutíveis. Desde o
início do ano, os estudantes com menos
de 25 anos cujo estabelecimento de
ensino se situe a mais de 50 quilómetros
da sua habitação permanente podem
deduzir as despesas de alojamento no
IRS. Para fazê-lo, têm de aceder à área
pessoal no Portal das Finanças e, através
do link E-arrendamento, registar-se como
“estudante deslocado”. Automaticamente,
surge a informação sobre o contrato de
arrendamento da casa ou do quarto em
seu nome, altura em que o estudante
deverá indicar o período máximo de
12 meses como duração da deslocação.
O procedimento tem de ser repetido todos
os anos. O contrato de arrendamento deve
ser guardado, bem como os comprovativos
4 D&D//novembro/dezembro 2018
TODA A ATUALIDADE E AS RECOMENDAÇÕES DOS NOSSOS ESPECIALISTAS
O benefício fiscal de pagamento das rendas. Antecipando
2015 aplica-se a jovens
até aos 25 anos
o facto de haver recibos emitidos, desde
Com a reforma do IRS, o início do ano, sem a indicação de que
muitas despesas de que estudem
educação deixaram de a mais de 50 se referem a “estudantes deslocados”, a
ser aceites como tal quilómetros Autoridade Tributária garante que o sistema
da sua residência os corrigirá de forma automática, logo que o
permanente
estudante identifique o contrato. Em último
caso, pode introduzir manualmente essa
2016 despesa na declaração de IRS.
Vai ser possível deduzir até 300 euros anuais
Lançámos uma ação
para a dedução de todas com o alojamento, mas, como o teto para
as despesas de as despesas de educação é de 800 euros,
educação no IRS
se o estudante já tiver esse valor coberto
(com propinas, livros e refeições escolares),
a dedução máxima passa para os 1000
2018 euros. Nesse caso, o limite das rendas desce
Entraram em vigor os de 300 para 200 euros.
benefícios fiscais para
estudantes Todo este processo fica sem efeito se o
deslocados senhorio não tiver o contrato registado nas
Finanças, nem emitir os respetivos recibos,
o que é ilegal. Se assim for, o estudante não
poderá registar-se como “deslocado”, nem
incluir a despesa na declaração de IRS.
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 € 888
Poupança total num crédito de 10 mil euros
a 48 meses com a nossa Escolha Acertada
Página 20
COMISSÕES BANCÁRIAS
Compara, mas não simula
Já está a funcionar o simulador do
Banco de Portugal (BdP) que permite
comparar 93 tipos de comissões
bancárias. Mas, apesar de agregar
informação útil, a ferramenta revela
algumas limitações. Desde logo, por
não permitir, ao contrário do simulador
que disponibilizamos no nosso
site, criar cenários personalizados
para a comparação de produtos
e de serviços bancários e, assim,
chegar à melhor solução para casos
concretos. Eventuais bonificações
nos valores cobrados, em caso de
domiciliação de vencimento ou de
uma venda cruzada, por exemplo,
também não são tidas em conta, já
que o comparador só apresenta os
valores máximos praticados por cada
instituição bancária.
CASAMENTO
Na saúde e na doença,
mas não na herança
A ideia de “dar o nó” até lhe agrada,
mas prefere que o seu cônjuge não
seja seu herdeiro? Para os casais que
pretendem casar sob esta condição,
a lei prevê agora a possibilidade da
renúncia recíproca ao título de herdeiro
legitimário, ou seja, permite que duas
pessoas se casem sem se tornarem
herdeiras uma da outra. A renúncia tem
de ser mútua e só é possível quando
o casal opta pelo regime de separação
www.deco.proteste.pt
61%
Percentagem de consumidores que venderam imóveis
através de imobiliárias, segundo o nosso inquérito
Página 26
Nuno Rico
Também no caso das contas-pack,
que, mediante o pagamento de uma
O NOSSO ESPECIALISTA
mensalidade, oferecem um conjunto RECOMENDA
de serviços, não é disponibilizada
informação sobre os produtos
ESCOLHA
CONTAS POUPE
que estão incluídos, dificultando ACERTADA À ORDEM € 72
ANO
a comparação entre as propostas
apresentadas. Uma ausência de peso
Activo Bank Banco CTT BNI Europa
nas funcionalidades do simulador, já
que a oferta dos bancos em matéria €0 €0 €0
de contas-pack é muito diversificada comissões comissões comissões
e significativamente diferente entre
instituições. São as únicas opções a custo zero para
quem pretende subscrever uma conta
à ordem sem domiciliação de ordenado,
com um saldo médio mensal inferior a 1000
euros, cartão de débito e de crédito, e com
uma transferência interbancária mensal
através do homebanking. Permitem poupar
72 euros anuais face à média do mercado.
SIMULE OS CUSTOS DAS CONTAS À ORDEM
no nosso comparador em www.deco.proteste.pt/
contas-ordem
de bens ou este é imposto pela lei
(por exemplo, quando um dos cônjuges
tem mais de 60 anos). Desta forma,
se falecer de um dos membros do
casal, ficam salvaguardados os direitos
de filhos de casamentos anteriores,
que, em situações normais, teriam de
dividir a herança com o novo cônjuge.
Fora do novo regime ficam as pensões
de sobrevivência e as prestações sociais
por morte.
novembro/dezembro 2018//D&D 5
 GRANDE
PLANO
LEGISLAÇÃO

Alojamento local
tem novas regras
Num momento em que o alojamento
local se encontra no epicentro de
discussões acaloradas, novas regras
vieram reforçar a regulação do setor.
A começar pelo registo do alojamento,
feito através do Balcão Único Eletrónico.
Com a nova legislação, em vigor desde
novembro, este só é válido se, no prazo
de 10 dias, a autarquia não der parecer
negativo. Os quartos passaram também
a estar integrados na modalidade de
alojamento local, embora a exploração
destas unidades só possa ser realizada
na residência do locador, ou seja, na sua resultem da atividade. É ainda necessário línguas estrangeiras. Para cobrir as
morada fiscal. Para aderir, é obrigatório disponibilizar um livro de informações despesas decorrentes da utilização
ter um seguro multirriscos com cobertura com as normas de funcionamento do acrescida das partes comuns do prédio,
de responsabilidade civil, de incêndio e estabelecimento (recolha de resíduos o condomínio pode fixar uma contribuição
de danos patrimoniais e não-patrimoniais urbanos, ruído, etc.), em português e adicional até um máximo de 30% do valor
provocados a hóspedes e a terceiros que inglês e em, pelo menos, outras duas anual da quota.

POUPANÇA DAS EXIGIMOS O IVA TAEG máximas encargos efetiva global)

FAMÍLIAS EM QUEDA
O segundo trimestre deste
ano confirma a tendência
dos últimos meses: a taxa
DA ENERGIA A 6% máxima permitida para
Depois do anúncio do
primeiro-ministro de que 15,3%
cartões de crédito
os diferentes tipos de
crédito aos consumidores.
o IVA da energia não vai Veja ao lado os máximos

de poupança das famílias
portuguesas situa-se
nos 4,4%, 0,2 pontos
percentuais abaixo
do valor do trimestre
anterior. A queda deve-se,
segundo o Instituto
Nacional de Estatística,
ao aumento de 0,9% do
baixar, reforçamos a nossa
ação para exigir que a
eletricidade e o gás natural
e de botija sejam taxados a
6 por cento. Junte-se a nós
em bastam6.pt
TAEG MÁXIMAS
PARA CRÉDITOS
9,3%
para o quarto trimestre.
crédito automóvel IMEDIATAS E CARAS
(veículos novos) Alguns bancos já
permitem fazer
4,8%leasing
transferências bancárias
de forma imediata, mas as
comissões cobradas pela
(veículos novos)
operação são superiores

13,2%
consumo. Enquanto isso, O Banco de Portugal às das transferências
o rendimento disponível divulga trimestralmente interbancárias através de
subiu apenas 0,7 por cento. a TAEG (taxa anual de crédito pessoal homebanking ou MB WAY.

6 D&D//novembro/dezembro 2018 www.deco.proteste.pt

 31 de dezembro
Data-limite para pedir uma nova avaliação
da sua casa às Finanças, se quiser poupar
no IMI a pagar em 2019

SEGURANÇA SOCIAL PENSÕES

Fim dos escalões Mais reformas

para os recibos verdes
A partir de janeiro, os descontos dos
trabalhadores independentes para a
Segurança Social vão baixar de 29,6%
para 21,4 por cento. Mas a alteração
mais significativa é o fim dos escalões
e a aplicação da nova taxa contributiva
a 70% do rendimento médio dos recibos
verdes nos últimos três meses.
Os trabalhadores vão ter de apresentar
uma declaração trimestral para o
apuramento do rendimento relevante,
que será a base de incidência dos
três meses seguintes. Ainda assim,
COMPRAS
podem ajustar o rendimento apurado
até 25% (para cima ou para baixo), o
que se reflete na contribuição a pagar
e, consequentemente, nas prestações
sociais. Caso tenham contabilidade
organizada, ficam dispensados
de apresentar esta declaração.
As novas regras estabelecem ainda
um valor mínimo de 20 euros de
contribuição mensal, incluindo nos
períodos em que não se registam
rendimentos, como forma de assegurar
a proteção social.
sem penalização
Desde o início de outubro que os
trabalhadores com, pelo menos, 60
anos que tenham começado a trabalhar
antes dos 17 anos podem pedir a
reforma antecipada sem penalizações,
desde que somem, no mínimo, 46
anos de contribuições. Até aqui, a lei
abrangia apenas quem tivesse, pelo
menos, 48 anos de descontos ou
entrado no mercado de trabalho até
completar 15 anos, atingindo 46 anos
de contribuições. Quem desconte para
diferentes regimes (Segurança Social,
função pública, estrangeiro, entre
outros) poderá utilizar toda a carreira
contributiva para aceder à pensão
antecipada sem penalizações.

Dá para trocar? Para os restantes beneficiários

(a partir dos 60 anos e com um mínimo
de 40 anos de contribuições), as regras
À azáfama das compras de Natal, segue-
mantêm-se: um corte de 14,5% no valor
-se a corrida às lojas para fazer trocas
da pensão (fator de sustentabilidade)
ou devoluções. Nos últimos anos, os
e menos 0,5% por cada mês de
comerciantes têm vindo a alargar, durante
antecipação em relação à idade normal
a época natalícia, o período de devolução
da reforma. Esta fixa-se, atualmente,
dos artigos, como forma de agradar
nos 66 anos e quatro meses, mas vai
aos clientes. Mas não têm de fazê-lo.
aumentar um mês em 2019.
As lojas físicas não são obrigadas a aceitar
trocas ou devoluções (salvo se o artigo
tiver defeito) e, se o permitem durante
um determinado prazo, fazem-no por
uma questão de cortesia. O caso muda
de figura se a compra for feita através da
internet. Nas compras online, o cliente pode
exercer o direito de livre resolução num
prazo de 14 dias, a contar da data em que
recebeu e encomenda. Ou seja, se não ficar
satisfeito com a compra, pode devolver o
artigo, preenchendo o formulário de livre
resolução disponibilizado pelo comerciante.
O reembolso do valor inicialmente pago
tem de ser feito também no prazo de 14
dias; caso contrário, o consumidor tem
direito a receber o dobro desse montante.

www.deco.proteste.pt novembro/dezembro 2018//D&D 7

 GRANDE
PLANO
APLICAÇÃO

A sua DECO PROTESTE de bolso

A aplicação DECO PROTESTE
Revistas foi totalmente renovada
e já pode ser descarregada
no Google Play ou na App Store.
Com a nova app, os utilizadores têm
acesso imediato às nossas revistas
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ainda aceder, de forma mais
intuitiva, a resultados completos
de testes e de estudos, calculadoras
e simuladores com respostas
personalizadas, vídeos, infografias
animadas e fotogalerias, e ter acesso
a informação em primeira mão
sobre serviços da DECO PROTESTE,
ações, vantagens e descontos
exclusivos para subscritores. Através
da pesquisa, é possível consultar
artigos e testes de edições antigas,
descarregar artigos ou revistas
completas e fazer a leitura offline.
Ao seu alcance a qualquer hora e
em qualquer lugar ficam também
as nossas linhas de apoio e a área
Reclamar. Os subscritores das
edições impressas podem aceder
gratuitamente à versão digital
das revistas, bem como a todos
os serviços disponibilizados
na app. Basta fazer login com
o nome de utilizador e a palavra-
-passe usados na página www.deco.
proteste.pt. Os não-subscritores
podem usar a aplicação para
comprar edições isoladas das
revistas, em formato digital, e
aceder a conteúdos gratuitos de
edições anteriores. Têm ainda
acesso limitado a conteúdos de
próximas edições.

PROTESTE INVESTE

Venda de casas em alta

No segundo trimestre de 2018,
o número de imóveis vendidos
em Portugal registou o valor mais
elevado de sempre: 45 619. Segundo
o Instituto Nacional de Estatística,
85% destas transações referem-se a
casas usadas. Os preços dos imóveis
também estão a crescer e, mais
uma vez, os imóveis em segunda
mão lideram os aumentos: 12,6%
face ao mesmo período do ano
passado, enquanto nas habitações
novas a subida foi de 6,3 por cento.
As transações representaram
6,2 mil milhões de euros no segundo
trimestre do ano.
Com o investimento imobiliário a
atravessar um momento fulgurante,
descubra na PROTESTE INVESTE
de outubro os preços praticados
nas freguesias de Lisboa e da
periferia, que concentraram 35,8%
das transações, e as recomendações
para investir.

8 D&D//novembro/dezembro 2018 www.deco.proteste.pt

D&D//DIREITO À IMAGEM

Adeus, vida privada

Falar de privacidade é, hoje, quase uma anedota. A nossa imagem pode andar
por todo o mundo, sem controlo e sem o nosso consentimento. Mas é um direito,
que (ainda) pode ser defendido. Saiba como
Texto Ricardo Nabais & Filipa Rendo
Ilustrações Paulo Buchinho

A
Seleção Francesa de futebol é a
atual campeã do mundo. E que
interesse tem isso? Levem lá a
bicicleta, dirá o leitor avisado.
É que a equipa gaulesa conseguiu vencer,
mesmo sem os préstimos de Karim
Benzema, do Real Madrid (antigo colega
de Ronaldo), e de Mathieu Valbuena,
hoje jogador do Fenerbahçe, da Turquia.
Em 2015, o primeiro terá chantageado
o segundo depois de, alegadamente, ter
ficado na posse de um vídeo de teor sexual
em que Valbuena aparecia envolvido.
Exigia-lhe dinheiro para o “resgate”
daquele filme caseiro, um “feito” que
cruzava dois ou três crimes: tentativa
de extorsão, obtenção de imagens
sem autorização da pessoa filmada,
“pornografia de vingança” e uns quantos
ingredientes jurídicos que se quisesse
juntar ao caso.
A resposta da Federação Francesa foi
rigorosa: o avançado do Real Madrid
foi afastado da equipa nacional, e
Valbuena também não voltou a pôr
os pés nos treinos. O caso ainda está
em julgamento. Benzema, que se afirmou
sempre inocente, interpôs um recurso
que obrigou a que o processo voltasse
ao início. A provar-se a culpa neste caso,
e a aplicar-se a nossa lei, o prevaricador
seria punido com pena de prisão até
um ano ou com multa de 240 dias
pelo crime de devassa da vida privada.
Mas, ainda segundo o nosso quadro legal,
se se demonstrasse ter havido extorsão
(ou tentativa), a pena de prisão poderia ir
até cinco anos.
A lei pretende proteger a reserva da
vida privada, da intimidade, da vida
familiar e sexual. Um caso semelhante
chegou ao Tribunal de Coimbra em 2017.

10 D&D//novembro/dezembro 2018 www.deco.proteste.pt

Mas, aqui, a contenda era entre marido
e mulher, que protagonizavam um vídeo
apimentado, que ele gravou. O filme
serviria, mais tarde, para a chantagear
a troco de dinheiro. O homem seria
condenado por devassa da vida privada.
Porém, outras situações poderão ser
menos extremas e, ao mesmo tempo,
menos claras: podemos invocar a nossa
privacidade se sairmos a correr sem
pagar de uma bomba de gasolina? Como
quase todos os postos têm câmaras de
vigilância, podemos alegar que as imagens
do nosso ato não devem ser usadas
contra nós por terem sido captadas sem
a nossa autorização? Foi o que analisou o
Tribunal da Relação de Coimbra, perante
a fuga, captada pelas câmaras, de uma
mulher que tinha acabado de abastecer o
carro num posto. As câmaras forneceram
a prova: o filme tinha sido feito num
espaço público e não se verificava colisão
com o núcleo duro da vida privada.
Por isso, foi considerado válido e admitido
na condenação da arguida.
Estes são apenas alguns casos
para analisar o direito à imagem, numa
sociedade em que a exposição mediática
é a regra. Há situações que não são tão
extremas, mas nem por isso deixam
de ser menos perigosas ou perturbadoras
para a nossa vida em sociedade.
Um exemplo pode ser um singelo
encontro entre amigos, em que um deles
fotografa o outro e partilha a imagem nas
redes sociais. E se o fotografado não quiser
que se partilhe a imagem? Pode impedi-lo,
pedindo simplesmente ao amigo que a
apague, mas não conseguirá controlar a
partilha que já poderá entretanto ter sido
feita por outros amigos... Ou seja, perde
o controlo ao que pode ser feito da sua
imagem.
O escritor norte-americano Jonathan
Franzen dá talvez a medida exata
do que significa proteger este direito:
“Sem privacidade, não faz qualquer
sentido tentar ser um indivíduo”. O tema
é de tal modo complexo que o debate leva
inevitavelmente a uma conclusão em
forma de cliché – cada caso é um caso.
Mas aqui deixamos algumas perguntas
e respostas de situações hipotéticas.
DOSSIÊ TÉCNICO Joana Silva Correia e Sónia Covita
www.deco.proteste.pt
Redes demasiado
sociais A PARTILHA
Partilhei uma das fotos de um amigo
DE IMAGENS DEPENDE
no Facebook com outros e ele queixou-se DO CONSENTIMENTO
e mandou-me apagá-las. Já o fiz, mas sei DO FOTOGRAFADO
que outras pessoas já divulgaram a foto.
E agora?
Podemos concordar em ser fotografados
num convívio de amigos e ao mesmo tempo
opor-nos à divulgação dessa imagem nas
redes sociais. E quem desautorizar essa
intenção arrisca-se a praticar um crime.
E o que pode ser considerado crime, nestes
casos? Quando a imagem é captada contra
a vontade do fotografado, ainda que não
seja utilizada; ou com consentimento, mas
usada contra a vontade do fotografado;
ou ainda em ambas as situações. Mas não
haverá problema se a foto for captada e
utilizada com consentimento ou mesmo se
o visado não quiser aparecer na imagem,
mas depois consentir na sua divulgação.
Quinze segundos
de fama
Saí à noite e fui fotografado, por acaso,
ao lado de um ator famoso. A minha cara
aparece, por isso, em segundo plano em
todas as revistas cor-de-rosa. Mas não
autorizei a fotografia. Posso processar
o fotógrafo e as revistas?
A pedra de toque neste caso é o lugar
onde se está: se for de acesso publico, há
que perceber se a fotografia individualiza a
NINGUÉM SE PODE
pessoa que foi “apanhada” acidentalmente QUEIXAR DE SER
ao lado da figura pública. Outro exemplo FOTOGRAFADO NO
clássico deste problema são as imagens de
uma manifestação, um ato público em que
CONTEXTO DE UM
o que é captado nem sempre tem como ESPAÇO PÚBLICO OU DE
intenção individualizar quem aparece na
imagem. Ora, nestes casos, não são lícitas
UMA MANIFESTAÇÃO
as imagens de uma pessoa que se encontre
em lugares ou eventos públicos, quando a
imagem dessa pessoa está individualizada,
sem que haja justificação para isso.
novembro/dezembro 2018//D&D 11
D&D//DIREITO À IMAGEM

Um crime na rua
ENTRE O DIREITO Filmei, por acaso, um assalto na via pública. A gravação
À PRIVACIDADE E O DIREITO pode servir de prova em tribunal?
O caso é semelhante ao que descrevemos sobre uma
À VIDA, POR EXEMPLO, mulher filmada em fuga de um posto de gasolina, depois de
DEVE PREVALECER abastecer o carro. As imagens, embora captadas sem o seu
consentimento, serviram efetivamente de prova do furto.
O SEGUNDO Porém, resposta não é linear. Os tribunais tendem a negar
a validade deste tipo de provas, justamente por lhe faltar o
consentimento dos participantes ou uma autorização judicial.
Mas há especialistas que entendem que um vídeo
gravado num espaço publico que não diga respeito ao
núcleo duro da vida privada (onde se inclui intimidade,
sexualidade, saúde, vida particular e familiar mais restrita)
dispensa o consentimento do visado. Trata-se sempre
de um conflito de direitos fundamentais: entre o direito à
privacidade e, por exemplo, o direito à vida, deve prevalecer
o segundo, e, assim, o vídeo deve poder ser usado como
prova. Se o assalto descrito na pergunta incluir violência física
sobre a vítima, mais razão haverá para considerar as imagens
como elemento de prova...

Cúmplice e prevaricador?
Sem que nenhum dos intervenientes soubesse, filmei
uma luta entre dois jovens na escola. Da contenda, resultou
que um deles sofreu sérios ferimentos e teve de ser
transportado ao hospital. As imagens podem incriminar-me,
ou a algum dos jovens?
Continuamos na fronteira entre o direito à privacidade e as
situações de exceção a esta garantia dos cidadãos.
Quem filma pode ser incriminado por ter obtido gravações
ou fotografias ilícitas. Os jovens, por sua vez, poderiam entrar
a contas com a justiça devido às agressões na via pública.
Mais uma vez, é um caso de vários ângulos: se, por exemplo,
EM REGRA, IMAGENS quem fosse filmar soubesse que a agressão iria acontecer, e
se dirigisse ao local combinado com a câmara preparada para
DE UMA AGRESSÃO registar tudo, a prova não seria válida, mesmo que a agressão
NÃO CONSTITUEM PROVA se viesse a concretizar. As imagens, como já vimos,
por terem sido captadas e divulgadas sem o consentimento
EM TRIBUNAL dos visados, poderiam não ser consideradas como prova.
Muito possivelmente, outros elementos teriam de entrar
na equação do tribunal que analisasse o caso, como o
depoimento de eventuais testemunhas oculares.

12 D&D//novembro/dezembro 2018 www.deco.proteste.pt

 Figurão público PODEMOS CAPTAR
Um político foi fotografado na praia, sem o saber, IMAGENS EM PÚBLICO
acompanhado de uma “nova namorada”, segundo
a revista cor-de-rosa que publicou a imagem. Não gostou SEM CONSENTIMENTO,
e processou a revista. Tem razão? DESDE QUE A PESSOA
É um velho dilema: uma figura pública terá pleno direito à
sua privacidade? Quando está em causa o interesse público,
FOTOGRAFADA NÃO
a resposta é “não”. O direito à vida privada esbarra, nestes APAREÇA
casos, com o direito à informação do público. Ou seja, INDIVIDUALIZADA
quando os atos dessa figura pública se tornam notícia. Mas,
neste caso, o que aquele político se encontrava a fazer não
é matéria noticiável: estava apenas na praia, acompanhado
num momento de lazer. Onde estaria aqui o interesse público?
Atores, futebolistas ou políticos chegaram a vencer processos
em tribunal contra a impressa cor-de-rosa. O Supremo
Tribunal de Justiça considerou, em 2009, quando uma revista
divulgou um caso amoroso entre dois atores, que, apesar
de serem obrigados a pagar o “preço da fama”, isso não
significava terem de renunciar aos direitos de personalidade
e sujeitar-se à invasão e devassa da privacidade em toda e
qualquer circunstância. A revista foi condenada a indemnizar
os lesados. O político do nosso exemplo poderia invocar
o mesmo e sair vitorioso do tribunal.

Big Brother profissional

O meu patrão diz-me que ando a trabalhar pouco nos
últimos tempos. Perguntei-lhe porque afirmava uma coisa
dessas e ele foi evasivo, dando-me poucos exemplos.
Reparei, entretanto, que há uma câmara de vigilância
no escritório. Terá feito essa observação por verificar as
imagens obtidas no escritório? É legal sermos filmados?
Num local de trabalho, o empregador teria de encontrar
outras evidências da eventual preguiça e falta de
produtividade do trabalhador. Filmá-lo em permanência,
sem que ele saiba, é mesmo ilegal. Era necessário obter
autorização da Comissão Nacional da Proteção de Dados e, UMA EMPRESA NÃO
mesmo que esta a desse, era preciso ter o consentimento
dos visados no local de trabalho. A empresa pode definir o PODE FILMAR OS
horário, as pausas, os limites para a utilização da internet TRABALHADORES SEM
e dos e-mails de trabalho, mas não pode submeter os
empregados a um semelhante tipo de vigilância. Estes só
QUE ELES O SAIBAM
podem ser filmados no exercício das suas funções se isso
servir para proteger e garantir a segurança de pessoas
e de bens (como um trabalho num banco, por exemplo).
Mas, mesmo neste caso, a entidade empregadora terá
de informar os trabalhadores sobre a existência e a finalidade
das câmaras.

www.deco.proteste.pt novembro/dezembro 2018//D&D 13

D&D//25 ANOS

Conta-me como foi…

RO DA
O SELO DO CARRO ERA COLADO NO VIDIRS e não
VIATURA, as despesas eram abatidas noEra assim
havia e-fatura, nem Portal das Finanças. HEIRO
o mundo dos impostos no ano em que a DIN
& DIREITOS foi publicada pela primeira vez
Texto Ana Santos Gomes
do
Infografia Nuno Barbosa & Nuno Seme

CONTRIBUIÇÃO
1993 AUTÁRQUICA / IMI
Os prédios rústicos pagavam
anualmente 0,8% sobre o seu
valor. Nos prédios urbanos,
a taxa variava entre 1,1% e 1,3%
do valor do imóvel, que, por
falta de atualização, era
quase sempre muito inferior
ao de mercado.
2018
A antiga contribuição autárquica
chama-se agora imposto
municipal sobre imóveis.
Os donos de prédios rústicos
continuam a pagar, anualmente,
0,8% sobre o valor dos terrenos.
Nos prédios urbanos, a taxa
varia entre 0,3% e 0,45%
do valor patrimonial tributário,
por decisão de cada município.

Os proprietários de habitações A isenção é atribuída de forma

próprias e permanentes podiam
pedir isenção do pagamento.
Dependendo do valor da casa,
a isenção durava quatro, sete
ou dez anos.
Não existia cobrança de imposto
adicional.
automática, durante três anos,
a todas as casas compradas
para habitação própria
e permanente, desde que
o valor patrimonial tributário não
ultrapasse 125 mil euros.
Quem tem património imobiliário
com valor total superior
a 600 mil euros paga
um imposto adicional, à taxa
de 0,7% sobre a parte que
excede os 600 mil euros.
Se o património valer mais
de 1 milhão de euros, o adicional
sobe para 1% sobre a parte
acima de 1 milhão.
1993 SISA / IMT
Quem comprava uma casa
pagava este imposto, à taxa
de 10% sobre o valor do imóvel.
Na generalidade, os valores
das casas para efeitos fiscais
eram muito baixos. Era prática
comum, ainda que ilegal,
escriturar a compra por um valor
muito inferior ao de mercado.
Não estavam previstas isenções.
2018
É pago pelo comprador de uma
casa, à taxa de 6% sobre o valor
patrimonial tributário ou sobre
o de aquisição (aquele que for
mais elevado).
Há isenção para casas
compradas para habitação
própria e permanente por
menos de 92 407 euros.

14 D&D//novembro/dezembro 2018 www.deco.proteste.pt

em 1993
1993
Só havia duas taxas: 16%
(normal) e 5% (reduzida).
1993
Era calculado em função
da cilindrada e do tipo
de combustível.
1993 IMV/IUC
Se o veículo estivesse parado,
não pagava imposto municipal
sobre veículos (IMV). Era um
imposto devido apenas pelo uso
da viatura.
Era pago nos meses de junho
e julho de cada ano.
O selo era adquirido nas
tesourarias dos serviços de
Finanças ou em algumas
papelarias que vendiam valores
selados. Era preciso afixá-lo
no vidro do veículo.
www.deco.proteste.pt
IVA 2018
A taxa normal subiu para 23%
e a reduzida para 6 por cento.
Há uma taxa intermédia, de 13%,
que tipicamente é aplicada
à restauração.
ISV 2018
É apurado consoante a
cilindrada, o tipo de combustível
utilizado pela viatura e as
respetivas emissões de CO2.
2018
O imposto único de circulação
(IUC) é obrigatório para todos
os proprietários, mesmo
que os veículos não se façam
à estrada.
Paga-se até ao fim do mês
da data de matrícula.
O imposto único de circulação
pode ser pago nos serviços de
Finanças ou através
do multibanco, se o contribuinte
consultar no Portal das Finanças
o seu documento de cobrança.
Não é preciso afixar selo
no vidro da viatura.
1993
As despesas consistiam em
“abatimentos”, logo, eram
subtraídas aos rendimentos
obtidos e só o restante ficava
sujeito a tributação.
Podiam deduzir-se as despesas
com juros e amortizações
do crédito à habitação.
Os prémios de seguros
de acidentes pessoais
e de vida eram dedutíveis.
Os comprovativos das despesas
eram acumulados, em papel,
pelo contribuinte e entregues
nas Finanças para verificação.
A declaração de IRS era
entregue pessoalmente nos
serviços de Finanças ou enviada
pelo correio.
TRABALHADORES
1993 INDEPENDENTES
O imposto variava em função
do resultado líquido da
atividade: aos proveitos eram
retirados custos e o restante era
sujeito a tributação.
Não havia direito a subsídio
por doença.
Não havia direito a subsídio
de desemprego.
IRS 2018
As despesas são “deduções”,
mas o rendimento é sempre
considerado na totalidade.
Os contribuintes com
rendimentos mais baixos podem
fazer deduções maiores.
Só pode deduzir-se parte
dos juros dos créditos à
habitação contratados antes
de 31 de dezembro de 2010.
Só são dedutíveis os prémios de
seguros de acidentes pessoais
e de vida para profissões
de desgaste rápido e de
contribuintes com deficiência.
As faturas emitidas com número
de contribuinte são lançadas na
plataforma e-fatura, e o Fisco
assume-as automaticamente.
É obrigatória a entrega
da declaração através
da internet.
2018
Optando pelo regime
simplificado, o imposto incide
sobre 75% dos rendimentos,
presumindo-se que os restantes
25% são gastos com a profissão.
A partir do 11.º dia de trabalho, já
há direito a subsídio por doença.
O subsídio por cessação
de atividade está disponível para
trabalhadores independentes
considerados “economicamente
dependentes”, ou seja, que
concentrem mais de 50% da sua
atividade numa única entidade
contratante.
novembro/dezembro 2018//D&D 15
 Quem
Só podemos receber
cuidados de saúde
se permitirmos.
Nos tratamentos
simples, a autorização
é quase automática.
E quando as intervenções
são mais delicadas?
Texto Ricardo Nabais & Filipa Rendo

O
nome pode, à primeira
vista, parecer pomposo:
consentimento informado.
Mas explica-se de uma penada.
É o direito que todos temos de afirmar,
de forma livre e esclarecida, se queremos
ou não receber cuidados médicos.
Parece evidente, mas, quando vamos
a uma consulta e somos auscultados,
quando um médico nos toma a febre
com um termómetro ou nos observa a
garganta, ninguém supõe que tenhamos
de preencher e assinar um formulário
a autorizar tais intervenções. O princípio
é simples – quem cala consente, quem
vai ao consultório quer ser tratado.
O acordo entre doente e médico está
na informação. O paciente deve saber o
mais possível sobre o que lhe irão fazer
e receber toda a informação quanto ao
objetivo, a natureza da intervenção, as
consequências, os riscos e as alternativas.
Porém, há situações que, devido à sua
complexidade ou ao maior risco, como
uma operação mais complicada, exigem
um consentimento formal, com
assinatura (ver página seguinte).

Recusas sem sentido

Mas o que deve fazer o médico se
o paciente se recusar a ser tratado,
pondo em risco a sua própria saúde?

16 D&D//maiol/junho 2018 www.deco.proteste.pt


se trata consente
Deve verificar, tanto quanto possível, se o
paciente está na posse das suas faculdades
mentais, alertá-lo para as consequências
da decisão e tentar demovê-lo. Pode
até pedir uma avaliação psicológica do
doente, ou recorrer à Ordem dos Médicos,
ou, se houver tempo, a um tribunal.
E se o caso for ainda mais
problemático? Imaginemos que o
paciente sofre de uma doença contagiosa
e a ausência de tratamento implica
a respetiva propagação. O médico
pode sinalizar o caso à autoridade
de saúde pública para tentar sujeitá-lo
a tratamento. Por esta altura, estará
a pensar: há casos complexos com
menores de idade, ou seja, aqueles cujos
representantes são os pais. Se a sua
religião ou filosofia de vida não permitir
um tratamento que salve os seus filhos,
então, o médico pode solicitar ao tribunal
de menores uma rápida autorização
de um juiz para avançar com a terapia.
As notícias sobre novos surtos de
sarampo — que chegaram a causar
mortes — por convicções antivacinas são
outro exemplo. Neste caso, não estamos
a falar de um tratamento, mas de um ato
de prevenção que, não cumprido, pode
levar a epidemias de doenças que já
estavam controladas há muito.
Na Alemanha, chegou a ponderar-se
criminalizar os pais que não vacinem
os filhos, depois da morte de um bebé
de 1 ano. Porém, a discussão em torno
destes casos ainda está em curso. É de
lembrar, contudo, que as vacinas não
são obrigatórias e não existem sanções
para quem não as administre aos filhos.
Mas imagine agora uma situação em que
o médico puxa dos galões indevidamente,
sobrepondo-se à vontade do paciente.
As consequências podem ser graves para
o profissional, que se torna alvo de um
potencial procedimento disciplinar. Se
essa conduta provocar danos ao doente
ou a familiares, é possível, até, que seja
condenado em tribunal ou obrigado
www.deco.proteste.pt
D&D//CONSENTIMENTO INFORMADO
a pagar uma indemnização. Nos casos profissional, não restará alternativa que
mais graves, pode ser punido com prisão não a de respeitar essa vontade, desde
até três anos ou com o pagamento de uma que não estejam em causa as situações
multa. extremas há pouco explicadas. Tratar-se,
Pensemos, ainda, noutra situação: porém, parece sempre o melhor remédio.
o paciente pode arrepender-se até o ato
médico ser praticado. Sendo assim, ao DOSSIÊ TÉCNICO Anabela Jorge e Nuno Carvalho
Quando é obrigatório consentimento?
Atos cirúrgicos e/ou anestésicos
Quando uma operação é complexa, o consentimento deve ser dado
por escrito. Mas, sendo uma intervenção simples, de curta duração,
para tratamento em tecidos superficiais ou estruturas de fácil acesso,
com anestesia local, não será necessário o preenchimento de papéis
a autorizar.
Interrupção voluntária da gravidez
O consentimento é dado pela grávida ou pelo seu representante legal
(se for menor de 16 anos, por exemplo), através de um documento entregue
numa consulta prévia.
Diagnóstico pré-natal com técnicas invasivas, como amniocentese
O facto de alguns exames implicarem risco para a gestante ou para o bebé
tem de ser comunicado à paciente, que deve assinar, então, um formulário
para permitir a intervenção.
Procriação medicamente assistida (inseminação artificial, fertilização
in vitro, entre outras técnicas)
Os beneficiários têm de dar consentimento através de um documento
aprovado pelo Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida
(CNPMA). Neste caso, devem fazê-lo após um longo processo de
avaliação, física e psicológica, de todos os intervenientes, e de um parecer
juridicamente fundamentado do CNPMA.
Ensaios clínicos
Por envolverem investigação com pessoas, os ensaios clínicos (por exemplo,
para a experimentação de novos medicamentos já testados em laboratório)
implicam um grau de risco superior e um controlo, passo a passo, de sintomas
e da evolução dos participantes. Por isso, é naturalmente obrigatório
um consentimento informado.
Doação de órgãos em vida
O consentimento deve ser dado pelos dois intervenientes, dador
e recetor.
novembro/dezembro 2018//D&D 17
 Furioso com aquela compra, aquele atendimento ou aquela falcatrua?
Reclame. Conheça o livro de reclamações e quantos já o usam.
Exigimos tempos de espera precisos para as respostas aos queixosos
Texto Ricardo Nabais & Filipa Rendo

O
s portugueses andam mais (ou, vá lá, moribundos)? O célebre
saídos da casca? Muitos documento é fácil de identificar:
estudos, que já citámos um formulário, em tons de vermelho
noutras edições, indicam e branco, conhecido por provocar algumas

que sim. Queixamo-nos cada vez mais
de empresas, entidades e serviços, sejam
físicos ou online. Um exemplo é a nossa
plataforma Reclamar (www.deco.proteste.
pt/reclamar), que já tinha recebido, à hora
de fecho desta edição, 16 844 queixas
contra empresas, que representavam mais
49 290
queixas através do livro
de reclamações eletrónico
desde 1 de julho de 2017
reações adversas ao proprietário do
estabelecimento que é visado pela crítica...
Não é à toa que o primeiro exemplo
que nos veio à cabeça foi o da restauração.
Até 2005, o livro de reclamações limitava-
-se a algumas áreas, entre as quais
a hotelaria. Só no início de 2008 é que se

de 6 milhões de euros reclamados. A nossa
intervenção permitiu resolver 80% dessas
reclamações, e obter uma poupança para
os consumidores que, desde 2015, chega
a quase 5 milhões de euros.
Mas alguma vez pediu o livro de
reclamações quando foi a um restaurante
e o produto, o serviço ou as condições
de higiene estavam pela hora da morte
350 324
total de reclamações
em 2017 no formato físico
tornou obrigatório para a generalidade
dos fornecedores de bens e prestadores
de serviços.
Talvez por isso ainda seja a Autoridade
de Segurança Alimentar e Económica
(ASAE), entidade que fiscaliza diretamente
estas áreas de atividade, a que recebe mais
queixas através do livro.
Os dados são da Direção-Geral

18 D&D//novembro/dezembro 2018 www.deco.proteste.pt


do Consumidor, que revela, ainda,
o top 5 das entidades com mais
reclamações (veja o quadro em baixo).
O formato eletrónico já cumpriu
um ano de existência, e está em fase
de implementação até meados de 2019.
Talvez o facto de ser mais prático e rápido
reclamar por esta via sirva para o pôr já
em evidência nas estatísticas: desde a
altura do seu lançamento, a 1 de julho
de 2017, data em que se tornou obrigatório
para algumas entidades (serviços públicos
essenciais, hotelaria, agências de viagens
e grande distribuição), registaram-se
49 290 reclamações e 4 716 pedidos de
informação. As entidades fiscalizadas pela
ASAE têm até 1 de julho de 2019 para aderir.
As restantes, sujeitas a outros reguladores,
serão integradas de forma faseada.
Analisámos, entretanto, as páginas
da internet dos prestadores de serviços
de água, eletricidade, gás e comunicações
em maio deste ano, e verificámos que,
dos 392 sites analisados, 62% não
disponibilizavam o acesso ao Livro
de Reclamações Eletrónico. E já o deveriam
fazer...
Para reclamar, podemos optar pela via
tradicional, à mão. O livro de reclamações
não pode ser recusado a quem o solicitar.
A cada reclamação correspondem três
QUEIXAS SEMPRE A AUMENTAR
Em papel
ASAE
171 183
Anacom
60 040
Entidade Reguladora
da Saúde (ERS)
58 149
Autoridade da Mobilidade
e dos Transportes (AMT)
16 000
Entidade Reguladora dos
Serviços Energéticos (ERSE)
11 660
www.deco.proteste.pt
folhas. A original deve ser remetida pelo
próprio estabelecimento à entidade
competente no prazo de 15 dias úteis,
o duplicado é obrigatoriamente entregue
ao reclamante e o triplicado fica no livro.
O consumidor também pode enviar
diretamente o duplicado à entidade
competente, desde que o transforme em
envelope. Para saber qual o destinatário,
deve consultar a grelha de entidades
(no site da Rede Telemática de Informação
Comum, em www.rtic.consumidor.pt),
ou pode retirar essa informação do letreiro
afixado no estabelecimento.
Antes de expor a reclamação, precisa
de ler atentamente as instruções, redigir
o texto com esferográfica, para evitar
eventuais violações do conteúdo, e em
letra maiúscula. Quanto ao conteúdo, é
necessário que preencha todos os campos
e o texto deve ser o mais claro e resumido
possível. Tem de caber na caixa de texto
designada “Motivo da reclamação”.
Por fim, deve datá-la e assiná-la e guardar
o duplicado até o processo estar encerrado.
Se não houver possibilidade de escrever
a reclamação pelo próprio punho,
o funcionário presente deve fazê-lo.
Mas esta obrigação é, no mínimo, duvidosa.
O representante do estabelecimento irá
redigir uma crítica contra si próprio?
Eletrónico
Anacom
35 326
ERSE
12 391
Entidade Reguladora dos Serviços
de Águas e Resíduos (ERSAR)
1573
Os dados referem-se a 2017 (no formato
eletrónico, a partir de 1 de julho e referentes
a um ano de funcionamento). As reclamações
através do livro físico aumentaram em relação
ao ano anterior. As entidades fiscalizadas pela
ASAE continuam a liderar as queixas no papel.
As reguladas pela Anacom são as líderes das
queixas no livro de reclamações eletrónico.
D&D//LIVRO DE RECLAMAÇÕES
É preciso alargar o livro
de reclamações eletrónico a
toda a Administração Pública
Tito Rodrigues, Relações Institucionais,
DECO PROTESTE
O tempo de espera desespera?
No caso de a reclamação ser feita por via
eletrónica, a entidade que supervisiona
o estabelecimento visado tem 15 dias para
responder. Mas, se nos queixarmos pelo
livro físico, não existe uma janela de tempo
determinada para a resposta ao consumidor.
Podemos esperar sentados... Por isso,
defendemos que não ultrapassem os 60
dias após a apresentação da reclamação.
E reivindicamos outras medidas, que iremos
remeter à Assembleia da República.
Deve haver, por exemplo, uma padronização
da forma de divulgação do acesso à
Plataforma Digital nos sítios da internet
logo na página de entrada. Há que estender
também o regime do livro de reclamações
eletrónico a toda a Administração Pública
e não só aos organismos de abastecimento
de água e saneamento.
Por outro lado, a maioria das reclamações
são apresentadas diretamente aos
estabelecimentos ou às entidades, mas
muitas não resultam em resposta ao
consumidor. É o caso dos bancos, que têm
15 dias para enviar o original para o Banco
de Portugal, mas o queixoso pode nunca
receber resposta de nenhuma das partes.
Além de um prazo definido, exigimos
que a resposta direta seja obrigatória.
E reclamamos, ainda, um prazo definido
para que o regulador correspondente à
área de atividade alvo da reclamação se
pronuncie sobre as advertências ou sanções
a adotar. Só assim o livro de reclamações
servirá para algo mais do que uma simples
leitura…
DOSSIÊ TÉCNICO Magda Canas
novembro/dezembro 2018//D&D 19
D&D//CRÉDITO PESSOAL
Crédito fácil,
juros e custos
que pesam
É um velho conhecido: o crédito pessoal está de
volta e em força. O online é a nova via rápida para
conseguir um empréstimo. Ajudamos a bem decidir
Texto Maria João Amorim
D
o lado de lá do telefone, um
solícito funcionário do Banco
Santander Totta dava a boa
nova a Miguel Santos, 39 anos,
economista: “Temos um crédito pessoal
pré-aprovado para si, de 12 500 euros,
a pagar em 60 meses, com uma taxa
promocional de 7,9%, se fizer agora o
contrato, através desta linha telefónica,
20 D&D//novembro/dezembro 2018
ou via homebanking. Não precisa de ir ao
balcão! O que lhe parece?” Miguel levou
uns segundos a processar a inesperada
oferta, enquanto punha as compras do
supermercado no carro, e respondeu que
não estava interessado. “Não?”, contrapôs
o interlocutor. “Não precisa de um carro
novo, ou de fazer umas obras em casa?”
Não, Miguel não precisava. “Também
podemos disponibilizar-lhe uma quantia
inferior”, insistiu o funcionário. Miguel
repetiu que não tinha necessidade de um
crédito pessoal, e o colaborador do banco
pôs então fim à chamada, não sem antes
informar de que a oferta poderia ainda ser
aproveitada nas semanas seguintes, desde
que subscrita pelo telefone ou online.
Episódios como este hão de ter ocorrido
com frequência entre 2003 e 2007, o
período de ouro da concessão de crédito
ao consumo em Portugal, quando o
montante médio anual atribuído pelos
bancos atingiu, segundo a PORDATA, os
10 828 milhões de euros. Estão a acontecer
de novo, prova de que este tipo de
empréstimos quer voltar ao lugar onde já
foi tão feliz: aos sonhos dos portugueses.
De acordo com o Banco de Portugal (BdP),
o valor concedido no primeiro semestre
deste ano ultrapassou os 3600 milhões
de euros – 20 milhões de euros por dia –,
o que representa um aumento de 18%
(mais 557 milhões) em relação ao mesmo
período de 2017. Razão para acreditar
que 2018 fechará com valores de crédito
ao consumo como já não se viam desde
2010. Nesse ano pré-resgate financeiro,
os bancos emprestaram mais de 7800
milhões de euros para financiar os desejos
dos portugueses. A partir do ano seguinte,
a torneira emperrou, e o crédito foi
saindo a conta-gotas, até quase secar nos
poucos mais de 4500 milhões de euros
concedidos em 2013, auge da crise.
Mas esse ano de má memória já lá
vai e, ainda que o crédito ao consumo
tenha caído, em julho, face ao mês
anterior – depois da entrada em vigor
das recomendações do BdP para os bancos
frenarem os empréstimos –, está viçoso
como há muito não estava. O montante
atribuído em julho baixou 5,6% em
relação a junho, mas ficou 9,6% acima do
concedido no mesmo mês do ano passado.
Se tiver de pedir, escolha bem
A sustentar o alerta do BdP em relação
ao crédito a particulares está o “ainda
elevado endividamento no contexto
europeu”, avisou o regulador no último
Relatório de Estabilidade Financeira.
O que torna os consumidores sensíveis
“a choques adversos sobre o rendimento
www.deco.proteste.pt
OS MELHORES CRÉDITOS ESCOLHA Crédito pessoal
ACERTADA

Taxa TAN (%) Comissões Comissões Prestação TAEG

Banco iniciais (%) mensais (€) mensal (€) máxima
(%)
Em agosto, analisámos as propostas
POUPE de crédito pessoal de 18 instituições
2500 euros a pagar em 24 meses
€ 137 financeiras, como não-clientes, à
EM 2 ANOS
F ActivoBank Crédito Pessoal Multiusos fixa 6 1,04 isento 111,07 9
procura do produto mais barato para
Crédito Agrícola Super Crédito fixa 5,50 isento 1,87 112,36 9,1 um empréstimo de 2500 euros a 24
Millennium bcp Online fixa 7,90 isento isento 113,31 10 meses, e outro de 10 mil euros a pagar
em quatro anos. O ActivoBank é a Escolha
Banco BPI Imediato fixa 6,80 1,30 isento 112,01 10,2
Acertada para ambos os cenários.
Cetelem Outros Projetos fixa 7,89 isento 1,56 114,86 11,5 Tem a TAEG mais baixa do mercado
POUPE
e não cobra comissões mensais.
10 mil euros a pagar em 48 meses
€ 888
F ActivoBank Crédito Pessoal Multiusos fixa 6 1,04 isento 235,95 7,7
EM 4 ANOS
€ 2500 A 24 MESES
Credibom Pessoal Promocional fixa 8,45 isento 1,51 249,35 10,3 ActivoBank
Cofidis Outros Projetos fixa 8,90 isento isento 250,84 10,4 TAEG máxima 9%
Prestação máxima € 111,07
Unibanco Crédito Pessoal fixa 9,50 isento isento 253,05 11,1

Cetelem Outros Projetos fixa 9,25 isento 1,56 253,36 11,2 € 10 000 A 48 MESES

Resultados completos em www.deco.proteste.pt/credito-pessoal  F Escolha Acertada ActivoBank

TAEG máxima 7,7%
Prestação máxima € 235,95

e à variação das taxas de juro de mercado”. a quatro anos –, a Escolha Acertada

Por isso, antes de pedir um empréstimo
pessoal, siga esta regra de ouro: o peso
dos seus créditos não deve ultrapassar
35% do orçamento familiar. Solicite o
valor mais baixo possível (a maior parte
dos bancos emprestam até 75 mil euros;
nos créditos contratados à distância, o
valor, por norma, não ultrapassa os 5 mil
euros) e opte pelo prazo mais reduzido
que conseguir.
Havendo folga e necessidade, avance,
mas saiba escolher. Analisámos as
propostas de crédito pessoal de 18
instituições financeiras (dados recolhidos
em agosto) e concluímos que, tanto para
um financiamento reduzido – 2500
euros a pagar em 24 meses –, como para
um empréstimo mais alto – 10 mil euros
OS BANCOS EMPRESTARAM,
NO PRIMEIRO SEMESTRE, MAIS
DE 3600 MILHÕES DE EUROS:
20 MILHÕES POR DIA
recai sobre o ActivoBank. Para ambas
as simulações, apresenta a taxa anual
efetiva global (TAEG, que reflete todos
os custos do financiamento) mais baixa
do mercado: 9% e 7,7%, respetivamente.
Estas taxas são uma raridade, já que, na
maior parte dos casos, as TAEG associadas
ao crédito pessoal ultrapassam os 10%
(por cada 1000 euros de empréstimo, terá
de pagar, anualmente, mais de 100 euros
em juros e outros custos).
Optar pelo ActivoBank permite,
assim, poupar 137 euros em dois anos,
no primeiro cenário, e quase 900 euros
em quatro anos, no segundo. Isto,
comparando com a média do mercado.
Regra: comparar através da TAEG
Por norma, é a taxa anual nominal (TAN),
que pode ser fixa ou variável (a primeira
predomina e, ao contrário do que
acontece no crédito à habitação, é mais
competitiva), que tem direito a honras
de destaque na promoção dos créditos
pessoais. Porquê? É sempre mais atrativa.
Mas é naquelas letras pequeninas
A OPINIÃO DO NOSSO
ESPECIALISTA
Nuno Rico
À boleia da melhoria na economia,
os bancos estão a apostar no crédito
ao consumo. Regressaram as técnicas
comerciais agressivas, que descuram
muitas vezes uma análise de risco criteriosa.
O consumidor depara cada vez mais
com propostas de crédito pré-aprovado
pelo telefone, no homebanking... com o
processo concretizado à distância. Bastam
uns cliques. O regulador tem de estar atento
a estas práticas, para evitar que as famílias
voltem a confrontar-se com dificuldades.
Insistimos também que as taxas de juro
anunciadas nos preçários respeitem o limite
legal fixado trimestralmente pelo Banco
de Portugal. Rigor exige-se.

www.deco.proteste.pt novembro/dezembro 2018//D&D 21

D&D//CRÉDITO PESSOAL

do anúncio que indicam a TAEG que

CRÉDITO PESSOAL ONLINE os olhos dos consumidores se devem

Basta clicar na app

fixar. Esta é a taxa que engloba todos os
custos do empréstimo, nomeadamente
comissões iniciais e periódicas, seguros
Para atrair clientes, os bancos e as instituições financeiras diversificam as ofertas,
e impostos. Por vezes, uma TAN mais
baixam as taxas e facilitam o acesso via net. Demasiado, porventura. Descurando
uma cuidada análise de risco. E com juros talvez não tão atrativos quanto isso.
“simpática” esconde uma TAEG mais
elevada do que outras opções com uma
Crédito pré-aprovado: clique aqui taxa de juro maior. No nosso estudo,
Ao entrar no homebanking, depara com a informação de que tem “ao seu dispor um temos três exemplos: as TAN do Crédito
crédito pré-aprovado de 5000 euros”. Esta proposta do Banco BPI inclui os detalhes Agrícola e do Banco BPI para o cenário
do financiamento: valor disponível após dedução dos encargos iniciais, prazo, dos 2500 euros a 24 meses, e a taxa do
prestação mensal, TAEG, taxa nominal e montante imputado ao consumidor. Cetelem para a simulação dos 10 mil euros
Basta aceitar as condições, confirmar que leu a ficha de informação normalizada a quatro anos. Moral da história: não é
(FIN), e o dinheiro fica disponibilizado na conta alguns dias depois. Fácil, fácil.
uma TAN baixa que torna o crédito mais
Conseguir um empréstimo sem sair do sofá barato, é a TAEG.
Basta um smartphone com a app do banco instalada. Veja-se o exemplo do
Santander: o CrediSimples é de contratação exclusiva na app ou via homebanking. Custos há muitos
Celeridade prometida em todo o processo. “Aprovação imediata.” À fatura dos juros, há que somar um
rol de custos iniciais e periódicos.
E que tal... mais saldo na conta à ordem? O nosso top 5 de cada cenário privilegia
É tentador. Não fosse um habitual cash advance. Ou seja, uma transferência do os produtos menos onerosos (o que se
plafond do cartão de crédito para a conta à ordem. Mas os bancos cobram uma
reflete na TAEG), mas não há como não
comissão entre 3 e 4 euros e ficam com uma percentagem de 3% a 4% do valor
transferido. E ainda haverá que suportar os juros do cartão, caso o extrato não seja
anotar esses encargos. Desde logo, os
pago na totalidade. iniciais, relativos à abertura do processo.
Por norma, cobra-se um valor em
Pedir um crédito às três da manhã. Porque não? percentagem do valor pedido. Há bancos
Há um novo produto de crédito pessoal que funciona exclusivamente online: que isentam deste encargo. Nas nossas
o Puzzle. A marca está ligada ao BNI Europa. O serviço disponibiliza um crédito cinco escolhas são a maioria.
até 5 mil euros, a 48 meses, com aprovação imediata, a qualquer hora do dia ou A maior parte das instituições
da noite. O montante é transferido para a conta do consumidor em apenas 24 horas.
eleitas prescinde de custos mensais, da
mal-afamada comissão de processamento
da prestação, mas as que cobram, como o
Crédito Agrícola, o Cetelem e o Credibom,
obrigam a pagar mais uma despesa
que, mais do que adicional, é inútil.
Contas feitas aos valores mais altos que
encontrámos no nosso estudo, casos do
Best Bank e do Novo Banco, num crédito
de quatro anos, esta fatura chega aos 174
Para aceitar esta proposta do Banco BPI, Este produto do Santander é de euros no final do prazo. A troco de... nada.
basta clicar em “Iniciar contratação”, aceitar contratação exclusiva através da app
Mas a conta mais importante de todas
as condições e confirmar que leu a FIN ou no homebanking
é a que mostra quanto é que vai pagar,
em juros, pelo produto que comprou:
o crédito. Considerando os nossos dois
cenários, se optar pela Escolha Acertada,
que – sublinhe-se – é a opção mais barata
do mercado, no final dos dois anos, vai
pagar mais 229 euros do que aquilo que
solicitou. No caso dos 10 mil euros a
quatro anos, prepare-se para desembolsar
mais 1580 euros.
O cash advance é anunciado como uma O crédito pessoal Puzzle só pode ser
forma “inocente” de aumentar o saldo contratado online. A qualquer hora do
na conta à ordem. Mas implica custos dia ou da noite. Dinheiro em 24 horas DOSSIÊ TÉCNICO Nuno Rico

22 D&D//novembro/dezembro 2018 www.deco.proteste.pt

 D&D//POUPAR

Queremos mais de 1%
Farto de ver o seu rendimento engolido por comissões? A maior parte dos
bancos continua a oferecer remunerações próximas de zero, ou mesmo zero.
Deixamos três sugestões para contornar este período de taxas nulas

Q
Texto Ricardo Nabais & Filipa Rendo

uanto mais pomposo o
nome, mais próximo do zero.
Esta poderia ser a fórmula
“matemática” aplicada
pelos bancos às taxas que oferecem
pelos depósitos. Se espreitar o preçário
dos maiores bancos nacionais, o cenário
é praticamente idêntico: taxas de juros
próximas de zero ou mesmo nulas.
No Banco BPI, por exemplo, encontra o DP
Valor ou o Depósito Especial a renderem
um valor não menos “especial”: zero. Isso
mesmo: nada. Neste banco são ainda mais
os exemplos. A Conta Poupança Objetivo
rende 0%: o objetivo é chegar a lado
nenhum. A Conta Poupança Reformado
rende 0% – a reforma será mais ou menos
dourada... E ainda há comissões
de manutenção da conta.
No Millennium bcp, encontra taxas
de 0,01% brutas nos depósitos standard,
ou seja, nada, pois teria de aplicar 10 mil
euros durante um ano para receber 72
cêntimos. Voltou a ler bem...
UM BANCO OFERECE TAXAS
DE 0,01% BRUTAS NOS
DEPÓSITOS. SE APLICAR 10 MIL
EUROS DURANTE UM ANO,
RECEBERÁ 72 CÊNTIMOS...
O Novo Banco e a Caixa Geral de
Depósitos, um pouco mais “mãos largas”,
presenteiam os seus clientes com taxas
de 0,05% brutos em depósitos normais
até um ano; ou seja, se aplicar 10 mil euros
a 12 meses, recebe 3,6 euros. Em média,
os bancos remuneram a pouco mais
de 0,1% um depósito a 12 meses. Apesar
deste cenário de miséria, não desanime.
Há alternativas.
Um PPR? Já? Pois...
Pode ser – e é mesmo –, pelas nossas
contas, a melhor maneira de escapar aos
rendimentos microscópicos dos depósitos
tradicionais. Mas podemos já ouvir a
objeção: este investimento é de longo

www.deco.proteste.pt novembro/dezembro 2018//D&D 23

 prazo. E se precisar do dinheiro antes?
Quando subscreve um PPR, está
também a pensar no benefício fiscal que
oferece. Mas pode abdicar desta benesse,
ou seja, não declarar as entregas anuais.
Atualmente, como a maior parte dos
campos do IRS já aparece preenchida,
basta retirá-lo. A partir daí, tem liberdade
para resgatar o dinheiro quando entender,
sem ter de devolver nenhum benefício
fiscal pelas entregas, uma vez que não
usufruiu dele. Neste caso, deve ter
atenção a outro aspeto: paga comissão de
resgate antecipado, que é especialmente
pesada nos primeiros anos de subscrição.
Resta saber qual é a melhor opção.
O Lusitania Poupança Reforma PPR é
a nossa Escolha Acertada de seguros
PPR. Conseguiu 3,75% em 2017 e 3,9%
nos últimos três anos civis, em média (veja
três anos, obteria um montante bruto de
juros de 390 euros. A comissão de resgate,
neste caso, será, no máximo, igual a 1%
do valor a reembolsar antecipadamente
nos primeiros cinco anos e de 0,5%
nos seguintes. Se for subscritor das nossas
publicações, estará isento e, caso resgate
ao fim de um ano, fica com 306 euros
líquidos.
A saltitar de banco em banco
Deixámos a forma convencional para
o fim, e não foi por acaso. Se, mesmo
sabendo que os depósitos a prazo nos
bancos são autênticos tesourinhos
deprimentes, quiser optar por esta via e
ao mesmo tempo ganhar qualquer coisa,
a solução é andar aos saltos. Literalmente,
já que as melhores taxas que encontra no
mercado, iguais ou acima da inflação, são
novos clientes. Pode não ser uma solução
muito prática, mas é a única sem risco
para o curto prazo que consegue combater
a inflação. Tem de fazer uma gestão ativa
dos depósitos e não deixar as poupanças
adormecidas. Pode consultar as taxas dos
depósitos a prazo em
deco.proteste.pt/investe/depositos-a-
prazo. Se depositar 10 mil euros, um
trajeto destes pode valer-lhe 156 euros
de juros (valor líquido) num ano.
Um tesouro de 1%
Outra forma alternativa para
obter rendimento é investir
nos Certificados do Tesouro
Poupança Crescimento
(CTPC). Aqui, estamos
a falar novamente
no longo prazo:

€ 156
o quadro da página seguinte). destinadas a novos clientes ou novos só garante o
Mas é melhor dar um exemplo: montantes. Isto implica que abra conta mínimo de 1%
se aplicar 10 mil euros no Lusitania em bancos diferentes de três em três líquido ao
Poupança Reforma PPR durante meses, o intervalo de tempo para líquidos de juros,
um ano, supondo que atribui as melhores remunerações para
apenas o rendimento mínimo um depósito ini
(1,5% para 2018), obtém de 10 mil euro
150 euros de juros

€ 54
brutos, fora a taxa de
imposto, variável.
Se obtivesse o
Bancos?
rendimento
dos últimos
de juros
(valores De três em três
líquidos) no primeiro Abra conta em bancos diferentes de
ano, numa aplicação o intervalo de tempo para as melhores
atribuídas a novos clientes. É no Best
de 10 mil euros encontra: 1,62% a três meses. No BiG,

Tesourinhos do Estado
Atlântico Europa e no Banco Carrego
recebem 1,44%, também a três meses.
cliente de nenhum destes quatro ban
Os Certificados do Tesouro Poupança Crescimento um ano, abrir conta e passar o dinhei
apresentam taxas crescentes entre 0,75 e 2,25% (valores Sucessivamente, à medida que o de
brutos). Soma-se, a partir do segundo ano, um prémio transfere para o seguinte. No final do
que corresponde a 40% do crescimento médio real do taxa líquida média de 1,5%, igualando,
PIB. Mas temos de fazer figas e torcer pelo crescimento esperada para 2018 e 2019 (1,5%, seg
da economia – só há prémio, com um limite máximo de Portugal). Além disso, nenhum destes
1,2% em cada ano, equivalente a 40% de um crescimento comissões de manutenção. Se aplicar
médio real do PIB de 3 por cento. Se aplicar apenas por euros do nosso exemplo nestes “super
um ano, obtém 54 euros líquidos por cada 10 mil euros considerando a capitalização dos juros
investidos. Em alternativa, tem os Certificados de Aforro: num banco, aplica no depósito e depois
o prémio de permanência é de 0,5% brutos do segundo acrescido dos juros e passa tudo para
ao quinto ano e de 1% do sexto ao décimo. É uma aplicação ao fim de um ano, obtém 156 euros lí
pelo prazo máximo de dez anos, cuja taxa base depende
da Euribor. A série E, atualmente em comercialização,
rende 0,5% líquidos.
 D&D//POUPAR

fim do prazo máximo de sete anos.

Pode, ainda, aplicar o seu dinheiro nos
Certificados de Aforro. Por enquanto, a

€ 306
taxa de base é apenas de 0,5% líquidos,
mas, se a Euribor subir, o rendimento
poderá aumentar. Voltando ao nosso
exemplo de 10 mil euros, se os Juros líquidos, se mantiver
aplicar em CTPC, ao fim do o rendimento dos últimos
primeiro ano, obtém apenas
75 euros de juros brutos
três anos
(54 euros líquidos).

PPR com antecedência

Este é um produto com taxa crescente
durante os sete anos e, a partir do
segundo, pode acumular um prémio em
função do crescimento do PIB. Por isso,
terá maior rendimento se mantiver o
dinheiro durante prazos longos. Se
for apenas para aplicar por um ou
dois anos, não é uma boa opção.
Em época de taxas magras, as
soluções são poucas, mas...
são estas.
para DOSSIÊ TÉCNICO
António Ribeiro
cial
s durante um ano, consegue 150 euros de juros brutos.
Ao aderir a este seguro PPR através do nosso protocolo
com a Lusitania Vida, não fica sujeito a comissão
de subscrição nem de resgate, o capital está garantido
e ainda tem a certeza de um rendimento mínimo de
1,5% para 2018. Pode ver as condições em deco.proteste.
pt/investe/protocolos. Para os subscritores da DECO
PROTESTE, o prémio de fidelização anual é de 0,1%
nos primeiros cinco anos. Mas, se for subscritor da
PROTESTE INVESTE, beneficia ainda de um prémio
de fidelização anual de 0,25% no mesmo período.
Voltando ao nosso exemplo de uma aplicação de 10 mil
euros a 12 meses no Lusitania Poupança Reforma PPR
A manter-se o rendimento dos últimos três anos (3,9%),
teria um montante bruto de 390 euros. Se resgatasse ao

? fim de um ano, obteria 306 euros líquidos. Há ainda outra

vantagem a ter em conta: a taxa de imposto de um PPR,
meses mesmo resgatado antes do tempo (ou não respeitando
as condições), é mais baixa do que para a maior parte
três em três meses, dos produtos financeiros. Em prazos inferiores a cinco
remunerações, anos, é de 21,5%, sendo de 17,2% entre cinco e oito anos
Bank que as e de 8,6% a mais de oito anos. Nos restantes produtos
no Banco Privado financeiros, a taxa aplicada é de 28 por cento.
sa, os novos clientes
s. Assim, se não for
n cos, pode, durante
ro por cada um deles. ESCOLHA
ACERTADA A nossa seleção
pósito vence,
ano, consegue uma
PPR SOB A FORMA DE SEGURO
, assim, a inflação
Lusitania Poupança Reforma PPR
undo o Banco de
Lusitania Vida
bancos cobra Rendimento 3,9% brutos ao ano
os mesmos 10 000 entre 2015 e 2017
depósitos”, Mínimo de subscrição 20 euros
(ou seja, abre conta
retira o montante
o banco sucessivo),
quidos.

novembro/dezembro 2018//D&D 25
Burocracia dá cliente
às imobiliárias
Na altura de vender um imóvel, mais de metade dos consumidores
recorre aos serviços de agências imobiliárias. Apesar de valorizarem
a ajuda com as questões burocráticas, 20% dão-lhes nota negativa
Texto Sílvia Nogal Dias & Filipa Rendo
Dossiê técnico Ana Almeida & Filipe Campos
Infografia Alexandra Lemos

N
as ruas das principais cidades
portuguesas, multiplicam-se
as placas que anunciam a venda
de imóveis. A maioria pertence
a agências imobiliárias, o canal eleito por
mais de 60% das pessoas que decidem pôr
a casa à venda. Este serviço tem um custo,
obrigando, na generalidade dos casos,
ao pagamento de uma percentagem do
preço do imóvel à agência (normalmente,
entre 3% e 5 por cento). Mas, se quem
vende recorre, como primeira opção,
às imobiliárias, quem compra prefere
Ainda assim, em termos globais,
a satisfação com o serviço é mediana,
situando-se no ponto “assim-assim” da
tabela. Entre os aspetos mais valorizados
pelos clientes, está o apoio que as agências 3
prestam ao nível burocrático, na obtenção ap
de documentação e na preparação
dos contratos, sendo esta a dimensão
com maior influência na apreciação
global.
Independentemente do interlocutor,
56% dos inquiridos que compraram P
imóveis fizeram-no por um preço

fazê-lo diretamente ao proprietário.
É o que revelam as 2534 respostas obtidas
através de um inquérito realizado este ano
a uma amostra da população portuguesa
e aos nossos associados.
Vinte por cento dos inquiridos
que fizeram a transação através de
uma imobiliária não guardam boas
recordações, dizendo-se mesmo
muito insatisfeitos com a experiência.
Quem vendeu tem como principal razão
de queixa o baixo número de visitas e de
contactos conseguidos pela mediadora.
72%
inferior ao inicial (em média, menos
12%), enquanto 42% dos que venderam 34
com
viram o preço descer, em média, 9% face preç
ao valor pretendido.
DOS INQUIRIDOS
O nosso estudo confirma também
a máxima de que Portugal é um “país SÃO PROPRIETÁRIOS
de proprietários”: 72% dos inquiridos
têm património imobiliário (que
inclui a própria habitação), adquirido
essencialmente por via do crédito.
Quem não tem deve-o à falta de capital Sat
ou ao facto de não reunir condições
para obter um empréstimo bancário. Informa

Mediaç

O NOSSO ESTUDO O inquérito foi enviado por correio à população em geral, com idades entre Burocra
os 35 e os 75 anos, durante os meses de fevereiro e março de 2018. Em maio, foi feito ainda
um questionário online aos nossos associados. No total, recolhemos 2534 respostas válidas.

26 D&D//novembro/dezembro 2018 www.deco.proteste.pt

 D&D//INQUÉRITO

es
RA-SE
COMP L
E
IMÓV

E-SE
A quem comprou a casa? VEND L
E
IMÓV
50 %
COMPRARAM
DIRETAMENTE
AO PROPRIETÁRIO
Como vendeu a casa?
61 %
Como pagou? VENDERAM
ATRAVÉS DE AGÊNCIA
1% IMOBILIÁRIA
empréstimo bancário +
+ empréstimo entre particulares

Preço final face ao valor anunciado

38% FINANCIAMENTO
pronto 61%
78% 42% 24%
empréstimo
bancário
DO VALOR
9% receberam
menos
venderam
DA CASA DESCIDA MÉDIA pelo preço
EM RELAÇÃO inicial
AO PREÇO INICIAL

Preço final face ao preço anunciado 34%

receberam mais

4% 10%
pagaram mais
mpraram pelo
ço inicial Comissão à imobiliária
56% 12% 19%
PAGARAM UM
77 %
VALOR
3% a 5%
PERCENTAGEM
pagaram
menos DESCIDA MÉDIA VALOR FIXO PERCENTUAL PAGA À IMOBILIÁRIA
FACE AO PREÇO SOBRE A VENDA
INICIAL
Satisfação com as imobiliárias
tisfação com as imobiliárias Número de visitas/contactos
6,7
ação sobre a propriedade
7,1 7,4 Mediação (transparência, negociação do preço, etc.)
7,2
7,4
ção (transparência, negociação do preço, etc.) Disponibilidade/empenho nas visitas
7,1 SATISFAÇÃO 7,3 SATISFAÇÃO
GLOBAL Burocracia (documentação, contrato) GLOBAL
acia (documentação, contrato)
7,6 ESCALA DE SATISFAÇÃO 1 10 7,6 ESCALA DE SATISFAÇÃO 1 10

www.deco.proteste.pt novembro/dezembro 2018//D&D 27

ESCOLHA DO LEITOR//INJUNÇÃO
O
“filme” de Ana, 56 anos,
começou em fevereiro de 2014,
quando lhe foi recusado um
pagamento com cartão de
débito por este se encontrar “inválido”.
Foi no banco que lhe disseram que tinha
a conta bloqueada judicialmente, como
garantia de pagamento de uma dívida a
um fornecedor. Ana não queria acreditar,
NADA FAZER EQUIVALE mas recebeu depois uma carta da NOS
A RECONHECER a reclamar o pagamento de cinco faturas
QUE A DÍVIDA EXISTE emitidas em 2000, no total de 310,62
euros. Receberia também uma notificação
de penhora da sua casa, em Lisboa.
Contactou a NOS para perceber o que
se estava a passar: em 2002, a empresa
teria tentado fazer a cobrança da dívida,
através de cartas e até de uma injunção,
Ignorar é o pi
Recebi uma injunção. E agora?
1 IGNORA
Segundo o Balcão Nacional de
Receber uma Injunções, no primeiro semestre de
2018, foram recebidos cerca de 77 mil
injunção significa requerimentos; em 75% das situações, os
consumidores não se opuseram à dívida.
que pode vir Nestes casos, nada fazer no prazo de
a caminho uma 15 dias após receber a citação equivale
a reconhecer que a dívida é válida.
penhora para Nos serviços administrativos do balcão,
é posto no requerimento de injunção um
pagamento “carimbo”que passa a conferir-lhe
caráter coercivo, ou seja, serve
de uma dívida. de base à cobrança judicial do crédito.
A penhora é feita por um agente
Não fazer nada de execução e pode recair sobre qualquer
é sempre a pior
bem do devedor (casa, carro, conta
bancária, vencimento, televisor, etc.).
opção Além disso, a partir da emissão do título
executivo, ao valor cobrado pelo credor
e à taxa de justiça (51 ou 102 euros,
Texto Paula Melo dos Santos consoante o valor em dívida), começam
& Filipa Rendo
a acumular juros anuais à taxa
de 5 por cento.
28 D&D//novembro/dezembro 2018
procedimento simplificado que permite
ao credor obter rapidamente uma
“licença para penhorar”. De volta a 2014,
Ana alegou que não tinha recebido tais
correspondências e pediu à empresa
que lhe enviasse cópias dos documentos.
Foi-lhe dito que tal não seria possível,
pois já eram muito antigos.
Sem possibilidade de aceder ao seu
dinheiro, Ana não teve outro remédio
senão contratar um advogado e avançar
com uma ação para recusar a dívida,
porque tinha os comprovativos de
pagamento das faturas. Mesmo que
não os tivesse, todos aqueles valores
estariam prescritos, dado que a empresa
não provou ter exigido o pagamento
das contas. No caso de serviços públicos
2 RECONHECE E PAGA
Se verificar que o credor (a empresa)
tem razão, convém chegarem a acordo, no
prazo de 15 dias, que é indicado na citação.
O Balcão Nacional de Injunções não tem
intervenção nesta matéria, pelo que o
contacto deve ser feito pelo consumidor.
Peça à empresa que emita uma confirmação
escrita da desistência do pedido de
pagamento e com os termos do acordo final.
Isto é essencial, pois chegar a acordo não
invalida que o requerimento de injunção
se transforme num título executivo, com o
qual o credor avança para a penhora dos
bens. Só um documento escrito pode provar,
se as partes chegarem a tribunal, que o
assunto estava resolvido (estando ainda a
decorrer negociações, o processo continua).
Caso o valor seja demasiado elevado
para pagar de uma só vez, tente negociar
a fixação de prestações. Se necessitar
de apoio, contacte o Gabinete de Apoio
ao Sobre-endividado, da DECO (https://
gasdeco.net/).
www.deco.proteste.pt
 essenciais, como gás, eletricidade e
telecomunicações, as empresas têm
até seis meses para exigir os pagamentos.
O desfecho foi favorável a Ana.
A NOS desistiu da cobrança e ressarciu
a cliente de todos os custos. Mas,
para a leitora, foi um “filme de terror”.
A situação causou-lhe “um transtorno
muito grande”, pois esteve dois meses
e meio sem poder aceder à conta bancária
que usa também para fins profissionais.
Proibido ficar parado
O caso de Ana é exemplar do que podem
ser as consequências de não reagir
atempadamente a um procedimento
de injunção. Este mecanismo foi criado
para facilitar a cobrança de dívidas
inferiores a 15 mil euros, oriundas de
relações contratuais, por parte de grandes
empresas, que negoceiam com milhares
de consumidores, como a NOS.
O processo inicia-se no Balcão Nacional
de Injunções, ao qual o credor tem
de fazer chegar um requerimento de
injunção. O organismo deve informar
o devedor, através de carta registada
com aviso de receção: a chamada
citação. E é aqui que a ação, ou inação,
do consumidor faz toda a diferença
(ver fichas em baixo).
Neste procedimento, nada fazer
equivale ao reconhecimento da
dívida. Através da atuação do Balcão
Nacional de Injunções, o requerimento
de injunção transforma-se num título
executivo, que permite a penhora.
Neste documento, ficam fixados os
elementos essenciais da dívida, como
a data de vencimento e a origem
(crédito ao consumo, eletricidade,
telecomunicações, etc.), e os valores
em falta, incluindo juros de mora.
O credor pode, então, exigir em tribunal
a penhora de bens (ação executiva)
e a venda judicial para pagamento
da dívida e das taxas de justiça.
Outra opção é liquidar a dívida,
no prazo de 15 dias, contactando o credor
(a empresa) e combinando a forma de
pagamento; terá também de suportar a
taxa de justiça (51 euros em ações até 5 mil
euros e 102 euros quando se situem
entre 5001 e 15 mil euros).

pior remédio
Uma terceira via é avançar com uma
ação em tribunal para se opor ao pedido
de pagamento da dívida, o que deve
também fazer nos 15 dias a seguir à
citação. Nesta situação, as taxas de justiça
são mais elevadas (ver ficha 3).

Nem tudo é dívida

O caso que lhe apresentamos no início
do artigo deixa-nos dois alertas.
O primeiro é que, quando a injunção
chega a título executivo, por lei, o
processo de penhora não tem de começar
pela citação do devedor. Ou seja, a

3 RECUSA E SEGUE PARA TRIBUNAL penhora pode ser feita antes e só depois
Considerando que tem motivos para se opor à injunção (por exemplo, o devedor ser chamado a defender-se,
por já ter saldado o valor ou estar em curso um plano de pagamentos tal como aconteceu com Ana.
acordado entre as partes), deve agir no prazo de 15 dias após ser citado O outro aspeto a ter em atenção é que
(fica suspenso durante as férias judiciais). A oposição deve ser feita por carta nem todas as dívidas cobradas existem
para o Balcão Nacional de Injunções (Rua de Camões, 155, 1.º, realmente. Assim, se alguma vez se vir
4049-074 Porto) ou, se tiver um advogado ou solicitador, estes confrontado com uma injunção, comece
fá-lo-ão online. Não existem minutas nem formulários, pelo que redigir uma
por tentar reconstituir os acontecimentos
oposição fundamentada pode ser difícil. Nesta fase, não é obrigatório ter um
relacionados com essa cobrança, com
advogado. No entanto, pode ser útil aconselhar-se com um, sobretudo se a
situação envolver a prescrição ou a inexistência da dívida. Se não tiver meios datas, factos e, sobretudo, documentos
financeiros para avançar com o processo, peça apoio judiciário à Segurança (contratos, faturas e correspondência,
Social. De seguida, envie uma cópia desse pedido para o balcão, para que o por exemplo). Verifique se o pedido
prazo de oposição seja suspenso até ser conhecida a decisão da Segurança feito no requerimento de injunção é
Social. Após apresentar a oposição, o processo passa a exigir uma decisão fundamentado, pois pode exigir um
do tribunal. Em princípio, será dirigido para a comarca onde se localiza o valor superior ao devido, ou já liquidado,
domicílio do consumidor. As partes são notificadas e têm 10 dias para pagar prescrito e até inexistente. Os documentos
a taxa de justiça, de 102 euros em processos até 5 mil euros. Se o valor da
serão determinantes para sustentar
ação ultrapassar 5 mil euros, já será, nesta fase, obrigatório ter um advogado
e o valor da taxa de justiça sobe para 204 euros. A audiência de julgamento
a sua posição. Contacte também o credor
realiza-se em 30 dias. É aí que as partes têm de apresentar as provas para esclarecer a situação. Ignorar é o pior
dos seus argumentos, bem como testemunhas (até três). remédio.
Em princípio, o juiz profere logo a sentença, a não ser que julgue oportuna
alguma diligência de prova adicional. DOSSIÊ TÉCNICO Joana Silva Correia e Sónia Covita

www.deco.proteste.pt novembro/dezembro 2018//D&D 29


1 A
RECLAMAÇÃO
GRACIOSA
É gratuita. Pode ser acionada ao balcão
do serviço de Finanças ou através
do respetivo portal, na internet. O caso
é analisado pelo chefe de serviço
e a resposta chega em quatro meses.
Se não houver resposta, significa que
o pedido não foi aceite. A lei prevê-o
quando uma pessoa submete a mesma
questão com intervalos inferiores a
dois anos. Em 2017, os contribuintes
apresentaram 43 700 reclamações,
em mais de metade dos casos, com razão.
Se não virem a sua pretensão atendida,
podem pedir o recurso hierárquico.
3
TRIBUNAL FISCAL …
Requer tempo e dinheiro. Dar entrada
ao processo custa, no mínimo,
102 euros. O preço sobe de acordo
com o valor da causa. Só os processos
urgentes são resolvidos em poucos
meses. A maioria demora anos. Além
dos processos de reclamações contra
o Fisco (impugnações), os tribunais julgam
os casos relacionados com penhoras
(execuções fiscais). No último ano,
os contribuintes venceram, em tribunal,
30% dos processos relacionados com
execuções fiscais e 44% das impugnações.
30 D&D//novembro/dezembro 2018
Hélder Oliveira
2
RECURSO
HIERÁRQUICO
O pedido de reanálise do processo é
gratuito, dirigido ao Ministro das Finanças
e feito preferencialmente num balcão das
Finanças. No ano passado, deram entrada
3 mil recursos. Em 21% dos casos, foi dada
razão ao contribuinte. A resposta chega,
no máximo, em 60 dias.
… OU CENTRO DE
ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA
Surgiu em 2011. É de adesão voluntária
para o contribuinte e obrigatória para
a Autoridade Tributária. Os casos são
julgados por um árbitro ou por um coletivo
de três árbitros. Cada arbitragem custa,
no mínimo, 306 euros, mas o preço
sobe em função do valor da causa.
Em média, as decisões são emitidas
em quatro meses.
Das d
A quem não consegue resolver u
o tribunal ou o centro de arbitrag
de espera. O segundo,quase sem
Texto Ana Santos Gomes
lguns contribuintes com
processos contra o Fisco a correr
em tribunal há mais de dois
anos poderão, se quiserem,
transferi-los, sem custas, para o Centro
de Arbitragem Administrativa (CAAD).
Se assim o fizerem, o processo deixa de
ser analisado por um juiz e contará com
a decisão de um árbitro (ou de um trio
de árbitros). A medida, aprovada em
setembro, em Conselho de Ministros,
não é nova. Já havia sido tomada em
2011, quando foi criada a arbitragem
tributária, até então inexistente em
Portugal. Procurava descongestionar os
tribunais fiscais, submersos em milhares
de processos pendentes, mas, na época,
não teve grande sucesso. A portaria que
regulamentava a medida demorou a sair,
os incentivos estiveram em vigor apenas
durante seis meses, e a arbitragem fiscal
dava ainda os primeiros passos, não
granjeando, no imediato, grande adesão.
De lá para cá, pouco mudou. Em sete anos,
o CAAD apreciou apenas 3400 casos. E foi
isso que desencadeou a nossa investigação.
O descongestionamento
que não aconteceu
Apesar de, nos últimos anos, os tribunais
tributários terem conseguido resolver
mais casos do que aqueles que recebem,
não há ano que encerre sem ficarem,
pelo menos, 40 mil processos pendentes.
Quando a arbitragem tributária foi criada,
em 2011, o legislador deixou bem claro
que esta criação visava descongestionar
www.deco.proteste.pt

duas? Nenhuma
m eventual conflito com o Fisco, restam duas opções:
em. O primeiro é conhecido pelos custos e elevado tempo
pre mais rápido, não admite recurso e não é mais barato
os tribunais fiscais. Atribuiu-lhe ainda
a responsabilidade de resolver os casos
com maior celeridade. Nesta última
prova, a arbitragem tributária passa
com distinção. Em média, as decisões
são emitidas num prazo de quatro meses.
Já a sua contribuição para aliviar o número
de processos a correr nos tribunais tem
deixado muito a desejar.
Situado em Lisboa, o CAAD concentra
toda a arbitragem tributária existente
em Portugal. Mas ali apenas podem ser
tratados casos de impugnações, ou seja, os
processos em que o contribuinte discorda
do imposto que o Fisco quer ver liquidado.
De fora ficam os processos que envolvem
execuções fiscais (decorrentes da falta
de pagamento de portagens, por exemplo).
Olhemos, então, para a produtividade
dos dois sistemas. Em 2017, o CAAD
emitiu 741 decisões. Muitas foram
certamente pedidas por empresas,
uma vez que as questões relacionadas
com rendimentos, automóveis e
património imobiliário não chegaram,
na verdade, a três centenas. Já os
tribunais emitiram, no mesmo ano, 4848
sentenças de impugnações, além das
outras 11 963 sentenças de natureza fiscal.
Feitas as contas, o CAAD tratou 13% do
total de impugnações encerradas em 2017.
De alívio, esta percentagem tem muito
pouco.
Confrontado com um tal índice
de desempenho, Nuno Villa-Lobos,
presidente do CAAD, recusa a ideia
de fracasso. “Cerca de 20% dos novos
www.deco.proteste.pt
CAPA//INVESTIGAÇÃO
litígios estão a vir para o CAAD e, se não
estivessem aqui, muito provavelmente
estariam nos tribunais. A solução
excecional de migração de processos
[em 2011] ficou aquém do objetivo
do legislador e por isso é que o programa
do Governo a prevê novamente”.
Villa-Lobos alega mesmo que esta
decisão governamental é a prova de
que o contributo do sistema é positivo.
“É o reconhecimento de que a arbitragem
já fez o seu caminho de consolidação.
E, em relação aos novos processos
entrados, os resultados da arbitragem
fiscal superam as melhores expectativas.
Aquilo que se tem verificado ao longo
do tempo é uma diversificação do tipo
de litígios, da origem geográfica
dos pedidos e do valor”, sublinha.
SE O CONTRIBUINTE OPTAR
PELA ARBITRAGEM,
AS FINANÇAS SÃO OBRIGADAS
A ACEITÁ-LA TAMBÉM
Mas estes argumentos não convencem
no meio jurídico. José Casalta Nabais,
professor catedrático de Direito Fiscal na
Universidade de Coimbra, defende que
“o CAAD não veio substituir os tribunais,
no domínio em que atua, mas antes
somar-se a estes, o que, a ser assim, não
terá contribuído efetivamente para aliviar
a sobrecarga dos processos de jurisdição
tributária”. Pedimos uma segunda
opinião. Joaquim Freitas da Rocha,
professor na Universidade do Minho, vai
ainda mais longe e diz que, “se o CAAD
tivesse a carga de trabalho dos tribunais
convencionais, provavelmente,
a pendência [duração dos processos]
também aí surgiria e aumentaria”.
Pouco conhecida e definitiva
até demais
Esgotadas as reclamações gratuitas
nas Finanças e insistindo na sua
razão, o contribuinte tem de decidir
se quer seguir com o seu caso para
tribunal, para arbitragem, ou para lado
nenhum. Se optar pela arbitragem,
as Finanças estão obrigadas a aceitá-la
também, por imposição legislativa.
Curiosamente, é a própria Autoridade
Tributária que considera “normal que
o desconhecimento da sua mecânica
seja em si mesmo uma razão para os
contribuintes não optarem por esta via”,
reconhecendo um desconhecimento
generalizado do funcionamento da
arbitragem. Quanto aos contribuintes
“conscientes desta possibilidade”,
acredita que “o facto de darem primazia
à via tradicional pode ser fortemente
explicado pelas limitações recursivas
das decisões arbitrais”. Ou seja, da
dificuldade em recorrer. Este é, de facto,
um risco que o contribuinte tem de
novembro/dezembro 2018//D&D 31
CAPA//Investigação
assumir ao optar pela arbitragem.
Porque uma decisão do árbitro é
definitiva. Por mais que uma das partes
discorde dela, não há possibilidade
de recurso, a menos que existam já
sentenças dos tribunais que contrariem
inequivocamente a decisão do CAAD.
E é esta impossibilidade de recurso que
pode estar a desencorajar contribuintes e
respetivos advogados, fazendo-os avançar
para tribunal quando não estão seguros
de haver jurisprudência favorável.
Mas, “mais do que desincentivar,
pode mesmo levantar questões de
compatibilidade com a Constituição
e com os princípios do acesso ao Direito”,
sublinha Joaquim Freitas da Rocha.
Disponibilizar a possibilidade de
recurso para tribunais superiores em
causas com valor acima de 5 mil euros
poderia contrariar este receio. Para já,
não está previsto. Mas, para o cidadão,
mantém-se o receio de não lhe ser dada
razão e não poder apelar para mais lado
nenhum.
Levámos o assunto à Ordem dos
Advogados. Guilherme Figueiredo,
o bastonário, recusa-se a criticar tal
fenómeno. Garante que “existem diversos
contribuintes que preferem prescindir
da possibilidade de recurso para assegurar
uma decisão num prazo útil”, embora
admita que “os advogados especialistas
em Direito Fiscal têm vindo, cada vez
mais, a sugerir a utilização deste meio
de resolução, sobretudo em situações em
que já existe jurisprudência consolidada”.
Confirma-se, assim, a ideia de que os
contribuintes procuram a arbitragem
Direitos reservados
32 D&D//novembro/dezembro 2018
quando estão certos de que lhes vai ser
dada razão. Se há dúvidas, preferem
um regime em que um resultado menos
satisfatório não seja o fim da linha.
Já para o presidente do CAAD,
a fundamentação é óbvia e assenta na
velha máxima de que tempo é dinheiro:
“Aquilo que se privilegia é a celeridade.
E a definitividade é aquela que assegura
melhor a celeridade”.
Hoje decide, amanhã fatura
E quando não há jurisprudência?
E quando a questão levantada é nova
e não há nenhuma decisão conhecida
sobre a matéria? Aí, pode surgir um outro
problema. Ao contrário do que acontece
nos tribunais, cujas sentenças são sempre
produzidas por juízes, na arbitragem,
o árbitro não é necessariamente um juiz.
Da lista de árbitros do CAAD constam,
tal como previsto, juízes jubilados,
advogados, consultores fiscais e
economistas, devidamente segmentados
pela sua área de especialização.
Mas não há como negá-lo: os advogados
têm clientes. Que, obviamente, não
poderão defender, enquanto árbitros.
Só que nada impede um advogado,
na qualidade de árbitro, de criar
jurisprudência nova, que, eventualmente,
venha a favorecer futuros clientes
em determinada matéria. E, não
havendo outra jurisprudência que
contrarie tal decisão, pois os tribunais
ainda vão demorar até analisar casos
semelhantes, é essa decisão, emitida
pelo árbitro, que criará doutrina.
Censurável? “Sem dúvida alguma”,
GUILHERME FIGUEIREDO
Bastonário da Ordem dos Advogados
“Tendo sido criados para
resolver, em parte, as
pendências dos tribunais
tributários, não é compreensível
que as taxas de arbitragem
sejam mais elevadas”
afirma o professor universitário Joaquim
Freitas da Rocha, que consultámos
para esta investigação. “Os decisores
da justiça devem ser − e demonstrar ser −
absolutamente imparciais. Num mercado
relativamente pequeno como o português,
não é difícil encontrar potenciais conflitos
de interesses”, sustenta o docente.
A própria Autoridade Tributária
também admite, nas respostas que
nos enviou, que o CAAD assume
“um papel de ‘laboratório’ de definição
de matriz jurisprudencial para
temáticas novas que vão surgindo na
senda evolutiva da legislação fiscal”.
Ou seja, as Finanças reconhecem que os
contribuintes funcionam como cobaias
na experimentação de novas tendências
de decisão. Ainda que tenha sido um
advogado ou um consultor a produzi-las.
Incompatibilidades
(não) acauteladas
Embora reconheça a gravidade da
situação, o bastonário dos advogados
prefere a lógica do mal dividido pelas
aldeias. “Esta questão também pode ser
posta à parte contrária, uma vez que
existem ex-colaboradores da Autoridade
Tributária que exercem funções
de árbitro”, argumenta Guilherme
Figueiredo. Mas, na verdade, a questão
é a mesma. Porque esses ex-funcionários
da Autoridade Tributária de que fala
o bastonário são agora advogados
ou consultores, logo, têm clientes, que,
um dia, podem vir a ser beneficiados
com as decisões novas por eles tomadas.
O presidente do CAAD, por seu turno,
garante que, “em sete anos, não há
um caso a apontar”, sublinhando que
“o regulamento de designação de árbitros
revela uma preocupação extrema com
questões de incompatibilidades”. Por essa
razão, todos os membros de sociedades
de advogados estão impedidos de arbitrar
no CAAD enquanto estiver em curso
um processo defendido por um advogado
dessa sociedade. O que Nuno Villas-
-Lobos não refere é que, dos currículos
que, um dia, os advogados enviaram
para o centro de arbitragem, nem sempre
consta o nome da sociedade para a qual
atualmente trabalham.
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Victor Machado
NUNO VILLA-LOBOS
Presidente do Centro
de Arbitragem Administrativa
“Aquilo que se privilegia aqui
é a celeridade. E a definitividade
é aquela que assegura melhor
a celeridade”
Regulação à porta fechada
Embora não atuando em exclusividade,
os árbitros do CAAD estão sujeitos
a um Código Deontológico e ao
controlo de um Conselho Deontológico,
presidido pelo juiz conselheiro Manuel
Santos Serra. É este antigo presidente
do Supremo Tribunal Administrativo que
assume a competência da distribuição dos
casos. Ninguém fiscaliza essa distribuição.
Os resultados das escolhas também
não são publicados, embora todas as
sentenças sejam, depois, assinadas
pelo respetivo árbitro e publicadas no site
do Centro de Arbitragem Administrativa.
O CAAD chegou mesmo a receber queixas
de alegada parcialidade dos árbitros, tal
como lhe chegaram reclamações por
alegada incompetência de quem emite
decisões. Nuno Villa-Lobos nega-as.
Garante que “todos os árbitros têm tido
um comportamento absolutamente
exemplar”. Até hoje, foi publicado pelo
Conselho Deontológico do CAAD um
único caso de afastamento de um árbitro.
Sem justificações.
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Sem 306 euros, nada feito
Se a celeridade das decisões é, sem ARBITRAGEM FISCAL
Baixa procura
margem para dúvidas, um ponto a favor
da arbitragem tributária, já o preço de
uma decisão pode constituir um entrave
à adesão a este regime alternativo de e preços elevados
resolução de litígios. Sobretudo para os
contribuintes com causas de pequena
monta, que, se por razões económicas, já
não iriam para os tribunais fiscais, mais
dificilmente avançam para o CAAD.
3400
A arbitragem tributária não é financiada
por dinheiros públicos. É privada.
E tem uma tabela de custas, devidamente
publicada no site da instituição. Recorrer
à arbitragem acarreta, no mínimo, 306 decisões emitidas
euros. É o valor aplicado a causas até 2000 em sete anos
euros. Nem que essa causa seja de 200
euros. Já no tribunal, a tabela de custas
tem como patamar mais baixo 102 euros
(uma unidade de conta). Em ambos os
casos, os encargos evoluem de acordo
com o valor da causa e são integralmente
devolvidos à parte vencedora. Porém,
327
do ponto de vista do contribuinte, ficam a
perder os cidadãos com litígios de poucas
centenas de euros, que podem não dispor
de outras tantas ou mais centenas de causas de valor inferior
euros para financiar custas e advogados, a € 2000
até lhes ser reconhecida razão. Além disso,
se ganharem, apenas recuperam as taxas
pagas. Nos tribunais, podem receber uma
compensação por outros gastos, ainda que
sempre aquém do valor despendido
com os honorários do advogado.
Os tribunais não servem para os
contribuintes com causas de baixo valor.
€ 306
São caros. Mas a arbitragem é-o ainda
mais. Neste ponto, está muito longe de ser
um regime alternativo. De resto, trata-se
de uma opinião consensual, que forma um custo mínimo de um
coro de vozes contra os preços praticados processo de arbitragem
pelo CAAD. “Tendo sido criados para
resolver, em parte, as pendências dos
tribunais tributários, não é compreensível
que as taxas de arbitragem sejam mais
elevadas”, critica Guilherme Figueiredo,
para quem este é um dos principais
€ 6000
motivos para a fraca adesão à arbitragem
tributária, a par do facto de o CAAD
funcionar apenas em Lisboa. O bastonário
da Ordem dos Advogados sugere mesmo
“uma redução generalizada da taxa preço mínimo
de arbitragem, equiparada aos valores da nomeação de árbitro
novembro/dezembro 2018//D&D 33
CAPA//Investigação
das taxas judiciais” e “que os tribunais
arbitrais se reúnam nas sedes de concelho,
pelo menos, para fazer a inquirição
das testemunhas”.
Da parte da Autoridade Tributária
chegam-nos críticas no mesmo tom:
“A fixação de valores mais baixos de taxa
de arbitragem suportada no CAAD, bem
como a definição de um teto máximo
de taxa de arbitragem, independente
do valor do pedido arbitral, seriam
fortes incentivos à utilização desta via
de resolução de litígios.”
Villa-Lobos considera que a celeridade
das decisões deve constituir melhor
incentivo do que o preço. Mas vê com
bons olhos algumas alterações na
tabela, embora não defenda a redução
das custas, atualmente pagas em duas
parcelas: metade no início da ação
(taxa inicial) e a outra metade antes
de ela terminar (taxa subsequente).
“Já equacionámos uma dispensa da
taxa arbitral subsequente, que ficaria
em suspenso em função da decisão,
ou seja, o contribuinte só a pagaria se
perdesse. Essa mudança dependeria
sempre de uma alteração legislativa, mas
vê-la-íamos com bons olhos enquanto
medida para promover a arbitragem
junto dos contribuintes”. Aplaudimos
a ideia. A ser implementada, poderia,
efetivamente, beneficiar cidadãos com
parcos recursos, ampliando a abrangência
da arbitragem fiscal. De resto, o presidente
CONSUMIDORES EXIGEM
Alternativas de verdade
●●O Governo entregou o exclusivo
da arbitragem fiscal ao CAAD, mas
não zelou pelo acesso de todos os
cidadãos à resolução alternativa de
litígios. Uma tabela de custas com um
patamar mínimo de 306 euros não está
ao alcance de quem tem causas de baixo
valor e não viu o Fisco dar-lhe razão.
●●Uma entidade privada que intervém
em processos com dinheiros públicos
(impostos), como o CAAD, deve pautar-
-se por máximo rigor e transparência.
A seleção de árbitros e de análise
34 D&D//novembro/dezembro 2018
A FAMA DE QUE O CAAD
ESTÁ MAIS VOCACIONADO
PARA EMPRESAS
PODE AFASTAR OS CIDADÃOS
DA ARBITRAGEM FISCAL
do CAAD confirma a intenção de chegar
a novos públicos, nomeadamente através
de ações de divulgação e promoção
nos média e junto dos municípios.
“É importante que esta matéria não fique
confinada ao mundo judiciário, que seja
uma questão dos consumidores”, assume
Villa-Lobos.
6000 euros para escolher árbitro
Ao contrário do que acontece nos
tribunais, onde o contribuinte não
exerce qualquer influência na escolha
do nome do juiz que irá analisar o seu
caso, na arbitragem, tal é possível.
Nestes casos, o processo é visto não
por um árbitro, mas por um coletivo
de três – um nomeado pelo contribuinte,
outro escolhido pelo Fisco e um terceiro
nomeado pelos primeiros dois árbitros.
Mas custa, no mínimo, 6 mil euros.
Não estará, certamente, ao alcance
de muitos cidadãos. Só nas causas de
valor superior a 60 mil euros é que esta
metodologia é obrigatória.
de eventuais incompatibilidades
carece de esclarecimento. Vamos
manter-nos atentos e vigilantes.
E não hesitaremos em denunciar
as fragilidades do sistema.
●●Aguarda-se o resultado do grupo de
trabalho criado para propor medidas de
resolução amigável de conflitos com o
Fisco. Porque nem todos os casos têm
de seguir a via litigiosa. A mediação
e a conciliação podem ser uma solução
mais célere, mais barata e menos
desgastante para muitos cidadãos.
Trata-se, aliás, de um dos motivos pelos
quais o CAAD ganhou a fama de estar mais
vocacionado para empresas. E que pode
ter contribuído para afastar os cidadãos
particulares. “Deveriam combater-se duas
ideias que têm perpassado o pensamento
dos críticos: a de que as decisões arbitrais
têm privilegiado frequentemente uma
visão contra o Fisco, e a de que se trata de
uma justiça reservada para os poderosos
grupos económicos e para os grandes
contribuintes, dificilmente acessível ao
pequeno contribuinte”, salienta Joaquim
Freitas da Rocha
Talvez assim se explique que, em sete
anos, só tenham entrado no CAAD 327
causas de valor inferior a 2000 euros.
E processos de valor inferior a 500 euros
contam-se, até hoje, 89.
Todos têm de mudar
Se a Autoridade Tributária fosse mais
pró-ativa e corrigisse, por sua iniciativa,
todos os erros detetados, é muito provável
que menos contribuintes tivessem
de recorrer a tribunais ou à arbitragem.
Logo, menos casos estariam pendentes.
Mas a lei impede a Autoridade Tributária
de assumir esse papel diligente, destinado
a garantir que nenhum cidadão tem
de suportar impostos a mais. Revogada
tal linha de orientação, a Autoridade
Tributária tornou-se simplesmente numa
máquina de cobrar impostos. É necessário
que o contribuinte reclame, para que
talvez lhe seja dada razão.
O Fisco perde grande parte dos casos,
em tribunal e no centro de arbitragem.
Ao perder, suporta as custas do processo,
que são devolvidas a quem vence.
Ao perder, acabam desperdiçados
dinheiros públicos.
No final das contas, será preciso
muito mais do que a arbitragem para
descongestionar os tribunais fiscais, que
estão sobrecarregados. A arbitragem, que
defendemos desde a primeira hora, não
serve o cidadão tal como funciona hoje.
Corrigindo os seus defeitos, pode vir a
assumir o tão desejado papel de regime
alternativo. Hoje, não o é. Pelo menos,
não para todos os contribuintes.
DOSSIÊ TÉCNICO Ernesto Pinto
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P
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ao seu carro. Descubra-o terça-feira à tarde a dois clientes, que os
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respetivos seguros terão, certamente,
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um dos proprietários teve um acidente
Texto Ana Santos Gomes
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saúde e um PPR naquela seguradora,
que fazem dele um cliente com descontos.
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Mas o primeiro tem carta de condução há
20 anos, uma experiência que é apreciada
pela companhia de seguros, enquanto
o segundo fez o exame de condução há
pouco mais de seis meses. Misturando
todos estes fatores e adicionando ainda
a cidade onde cada um deles conduz
(nos grandes centros urbanos, o risco de
acidente é elevado, logo, o prémio tende
a encarecer) e as coberturas que deseja
incluir na apólice, temos prémios
de seguro praticamente individuais.
Ora, sabendo que não vale a pena
espreitar para a galinha do vizinho
(leia-se preço do seguro), há que
novembro/dezembro 2018//D&D 35
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36 D&D//novembro/dezembro 2018
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internet um simulador para os diferentes
pacotes de coberturas que comercializam.
Para não ter de percorrer todos os sites
e repetir a simulação em cada um deles,
centralizámos as ofertas das várias
companhias num único simulador,
que disponibilizamos gratuitamente
em www.deco.proteste.pt/seguro-auto.
Aqui, concentramos mais de 90%
do mercado segurador e, caso opte por
alguma das propostas, pode contratar
diretamente o seguro através do nosso
portal. A análise que efetuamos é
atualizada regularmente.
Se estiver indeciso quanto ao tipo de
coberturas desejadas, simule as diferentes
opções. É um dos privilégios de quem
faz este exercício: equacionar várias
soluções e escolher aquela que se ajusta
à sua medida. Ou à medida do seu carro.
E do seu bolso.
DOSSIÊ TÉCNICO Sandra Justino

www.deco.proteste.pt novembro/dezembro 2018//D&D 37

S
e hoje decidir comprar um
automóvel com recurso a
crédito, é possível que nem tenha
de sair do stande para obter o
empréstimo. Isto porque o vendedor com
quem negociar o melhor preço para a sua
nova viatura pode, ao mesmo tempo, fazer
a intermediação do crédito. O mesmo
acontece em lojas que comercializam
produtos como eletrodomésticos
ou mobiliário, ou até em agências
imobiliárias, onde, além da casa dos seus
sonhos, o cliente pode encontrar soluções
de crédito bancário para pagar o imóvel.
A atividade não é nova, mas, até
há bem pouco tempo, não estava
regulamentada. No início deste ano,
entraram em vigor novas regras, que
puseram os intermediários de crédito
debaixo da alçada do Banco de Portugal
e os obrigam a regularizar o negócio até
31 de dezembro. O período transitório
permitiu que os que já desenvolviam
esta atividade se adaptassem, mas o
38 D&D//novembro/dezembro 2018
NÃO CABE AO INTERMEDIÁRIO
DE CRÉDITO FAZER
A AVALIAÇÃO DE RISCO
DO CLIENTE
tempo para submeterem os pedidos
de autorização ao Banco de Portugal
está a esgotar-se. Se não o fizerem,
ficam impedidos de exercer.
Uma atividade, vários formatos
Os fornecedores de bens ou serviços
que atuam, em simultâneo, como
intermediários de crédito para ajudar a
vender os produtos que comercializam
são, provavelmente, aqueles com quem
o consumidor está mais familiarizado.
São os chamados intermediários a título
acessório. Mas trata-se apenas de uma
forma de desenvolver a atividade, que,
não fazendo empréstimos de forma direta,
facilita aos consumidores o acesso a
financiamento concedido por instituições
de crédito.
O consumidor também pode, por sua
iniciativa, solicitar os serviços destes
profissionais. Se precisar de contratar
um crédito pessoal ou à habitação, por
exemplo, podem ajudá-lo na tarefa,
evitando que tenha de bater à porta dos
principais bancos para obter propostas.
Neste caso, os intermediários podem estar
vinculados a uma ou a várias instituições
de crédito, sendo remunerados por
elas. Como tal, os serviços prestados
não podem ser pagos pelo cliente.
As normas limitam, no entanto, o número
de entidades a que os intermediários
podem estar vinculados. Para que o
cliente saiba que instituições são essas,
www.deco.proteste.pt
 D&D//INTERMEDIÁRIOS DE CRÉDITO

Quero a melhor
proposta
Encontrar uma solução de financiamento à medida obriga,
normalmente, a bater a muitas portas. Embora não possa
conceder empréstimos em nome próprio, um intermediário
de crédito pode encurtar o caminho
Texto Sílvia Nogal Dias & Filipa Rendo

o intermediário tem de identificá-las
no seu estabelecimento.
Além dos intermediários que
estabelecem vínculos com determinadas
instituições de crédito, existem os que
atuam de forma totalmente autónoma –
“não-vinculados” – , os únicos a poderem
intitular-se como “intermediários
independentes”, “consultores de
crédito” ou “consultores financeiros”.
O contrato de intermediação é feito
com o consumidor, sendo este (e não
as instituições que concedem crédito)
a remunerar o serviço.
Para saber onde encontrá-los, consulte
a lista de intermediários registados,
disponível em www.bportugal.pt/
intermediarios-credito. Até ver, é tudo
menos extensa, mas é aqui que encontra
alguns endereços.
O que pode e o que não pode?
O tempo que a atividade passou sem
regulamentação específica deu azo a
alguma nebulosidade quanto àquilo
que, efetivamente, faz parte da esfera
de atuação de um intermediário. Se, por
um lado, pode propor soluções de crédito
ou fazer recomendações personalizadas,
celebrar contratos com os consumidores
em nome das instituições financeiras e
apoiar os clientes em atos preparatórios
de contratos de financiamento, há
funções que, à partida, lhe estão vedadas.
Apesar de ser um canal de acesso ao
crédito, em momento algum pode
concedê-lo em seu nome, não estando
também autorizado a fazer venda cruzada
de outros produtos, como depósitos
ou cartões de pagamento. Além disso, não
lhe cabe a tarefa de fazer a avaliação de
risco dos clientes, deixando para o banco
recomendado a decisão sobre se o cliente
reúne ou não condições para a concessão
do crédito.
Em contrapartida, os intermediários são
obrigados a fornecer aos consumidores
a ficha de informação normalizada,
ou seja, o documento que apresenta as
principais características da proposta de
crédito, e a prestar todas as informações
sobre o serviço de intermediação
(nomeadamente, se há vinculação e, nesse
caso, a que entidades, ou, se não há, quais
os encargos para o cliente, etc.).
Aceitam-se reclamações
Em caso de insatisfação com os serviços
prestados, se antes os consumidores
tinham de recorrer à Autoridade de
Segurança Alimentar e Económica
(ASAE), como acontece com a
generalidade das atividades, agora é ao
Banco de Portugal que devem apresentar
as suas reclamações – diretamente,
por carta ou através do Portal do Cliente
Bancário (em www.clientebancario.
bportugal.pt), ou de forma indireta,
valendo-se do livro de reclamações
do próprio intermediário.
DOSSIÊ TÉCNICO Sónia Covita

www.deco.proteste.pt novembro/dezembro 2018//D&D 39

D&D//EURIBOR
N
asceu a 1 de janeiro de 1999,
no mesmo dia em que veio ao
mundo a moeda única da União
Europeia e, apesar de ter sido
batizada de European Interbank Offered
Rate, é conhecida pelo petit nom de
Euribor. Foi concebida para harmonizar
as taxas de juro interbancárias na zona
euro, a partir do momento em que
uma só moeda – o euro – passasse a
circular entre os países que a adotassem.
Durante algum tempo, enquanto ainda
havia escudo, coabitou com a Lisbor,
como indexante usado para os créditos
à habitação. Mas, feito o funeral à divisa
portuguesa, tornou-se referência, rainha
e senhora, para a quase totalidade dos
financiamentos bancários em Portugal.
E é por isso que está tão presente nas
nossas vidas. Para quem compra casa com
recurso ao crédito, é mesmo uma espécie
de companheira para a eternidade.
1. Ouve-se falar dela todos os dias.
Mas, afinal, o que é a Euribor?
Reflete o preço a que os bancos “vendem”
o dinheiro no mercado interbancário.
A Euribor é um indicador que traduz
a taxa de juro dos empréstimos que
os bancos comerciais fazem entre si
na zona euro. Sim, os bancos também
emprestam dinheiro uns aos outros e a
razão é do mais fácil de compreender:
porque precisam. O indexante é definido
diariamente pela Federação Europeia
de Bancos e obtido através da média das
taxas de juro anunciadas por 52 grandes
instituições de nível europeu. A Caixa
Geral de Depósitos é o único banco
português a integrar este grupo de special
ones. No cálculo da média, excluem-se
15% das taxas mais altas e 15% das
mais baixas, para chegar a um valor
o mais preciso possível. O anúncio soa,
religiosamente, todos os dias, às 10 horas.
2. Pensava que era o Banco
Central Europeu que fixava
o valor.
Mas não é. O que acontece é que o Banco
Central Europeu (BCE) influencia, e
muito, o comportamento dos bancos
40 D&D//novembro/dezembro 2018
comerciais nesta dinâmica do crédito
interbancário. Ou seja, se a política
definida pelo BCE for no sentido de
dinamizar a economia (expansionista),
as taxas de juro tendem a baixar, para que
o dinheiro fique mais barato e acessível.
Se, por outro lado, for necessário
adotar medidas mais restritivas, para
retirar liquidez da economia e, assim,
controlar, por exemplo, a inflação (subida
dos preços), as taxas terão propensão
para subir. Como os bancos também
se financiam junto do BCE, tendem
a replicar estas tendências.
3. Se são os bancos que a
definem, porque está a Euribor
negativa?
Porque rebentou uma crise financeira
no mundo em 2008, que provocou
estilhaços em todas as latitudes, e a
Anda nas bocas de toda a
política monetária adotada pelo BCE maioria dos contratos de créd
Mas – e não diga que nunca
desde 2015 é – ver pergunta anterior – do
tipo expansionista. Para dar um empurrão
à economia, a instituição liderada
por Mario Draghi e os próprios bancos
o que é, afinal, a Euribor?
comerciais começaram a definir taxas Texto Maria Joã
de juro negativas. A Euribor, que, como já
explicámos, reflete estas taxas, foi atrás
do comboio, e há, pelo menos, dois anos
e meio que entrou em terreno negativo.
4. OK, mas o que tenho
eu que ver com a Euribor?
Muito, de certeza. Tem casa própria?
E comprou-a com recurso a um crédito à
habitação com taxa variável? Se a resposta
às duas perguntas é “sim”, faz parte de
uma imensa maioria. Em Portugal, cerca
de 95% dos créditos hipotecários são
de taxa variável. A taxa de juro é definida
por duas componentes somadas entre si:
Euribor (nas suas diversas maturidades,
sobretudo, 3, 6 e 12 meses) e spread fixo
(margem de lucro do banco). A Euribor
resulta da média mensal do indexante
no mês anterior ao contrato de crédito.
5. “Maturidades a 3, 6 e 12
meses”. Expliquem, por favor.
No decurso do contrato do crédito à
habitação, o valor do indexante é revisto

gente e na esmagadora
ito à habitação em Portugal.
se perguntou o mesmo –
Eis as respostas possíveis
ão Amorim
a cada 3, 6 ou 12 meses, dependendo da
maturidade (ou seja, prazo) da Euribor
escolhida. Os valores calculados para
os diferentes prazos são diferentes. Em
Portugal, a maior parte dos empréstimos
para a compra de casa estão indexados à
Euribor a 6 meses. O valor da prestação a
pagar ao banco pode, assim, variar através
da revisão periódica da Euribor.
6. A Euribor é muito volátil?
Não é um valor fixo, logo, há sempre um
sobe-e-desce, que tem, necessariamente,
reflexo na prestação mensal a pagar
ao banco. Não esquecer que a Euribor é
a componente variável da taxa de juro
aplicada ao contrato de crédito. Se a
média subir, a taxa também aumenta
(e, por consequência, a prestação) e
vice-versa. A variação do indexante
depende muito dos abanões da economia.
Em outubro de 2008, ano de má memória,
a média da Euribor a 6 meses do mês
anterior foi de 5,219 por cento. Em março
de 2018, o valor do indexante foi de -0,275
por cento. Quem tenha contratado um
crédito à habitação de 100 mil euros, a 30
anos, com spread de 1%, nesse já distante
outubro de 2008, viu-lhe ser aplicada
uma taxa de juro de 6,219%, e uma
prestação de 613,70 euros. Para o mesmo
financiamento contratado em março de
2018, a prestação seria de 309,16 euros,
resultante de uma taxa de 0,725 por cento.
São menos 304,54 euros.
7. Quando e como vai ser aplicada
a taxa de juro negativa no crédito
à habitação?
Inspirada numa proposta nossa, entrou
em vigor, em julho, a legislação que obriga
os bancos a refletirem, na totalidade, as
médias negativas da Euribor. Nos casos
em que a média ultrapassa o valor do
spread, vai ser possível criar um crédito
para abater nos juros futuros, quando as
taxas subirem. Se tem um empréstimo
com taxa variável, some a média da
Euribor ao spread. O resultado é negativo?
Tem direito ao crédito de juros aprovado.
Ou a ver este montante abatido ao capital
em dívida, opção que a maior parte dos
bancos está a seguir. Se não recebeu
qualquer indicação, tente saber junto
do seu banco qual a solução adotada.
8. A Euribor está negativa há
dois anos e meio, e a legislação
aprovada não é retroativa.
Quanto é que eu perdi?
Respondemos através de um exemplo.
Se, em 2016, tivesse um crédito à
habitação de 150 mil euros, com um
spread de 0,25%, somado a uma Euribor
a 3 meses (negativa desde então), e esta
subisse de modo que, em meados de 2019,
este empréstimo tivesse uma taxa de juro
de zero, poderia abater 256 euros em
juros. Sem retroatividade, só vai acumular
66 euros.
9. Quando é que se prevê que a
Euribor entre em terreno positivo?
Não será para já. Mas há de acontecer.
E esse pensamento deve estar sempre
na cabeça de quem faz um crédito à
habitação. Pela simples razão de que um
contrato destes dura, em média, 30 anos.
Não é crível, de todo, e nem a história o
prova, que a Euribor não tenha várias
vidas ao longo desse tempo.
10. Ester, quem és tu?
É o acrónimo para Euro Short-Term Rate
e poderá substituir a Euribor. Há muito
que se fala em encontrar outro indexante,
por razões de transparência. A Euribor
é propensa a manipulações, por não
traduzir as reais condições do mercado,
uma vez que resulta de valores declarados
pelos bancos (numa espécie de “intenção
de preço”) e não de transações de facto
realizadas. A Ester terá uma nova fórmula
de cálculo, que vai incluir as taxas
efetivamente aplicadas nestas operações.
Os testes demonstram que os valores do
novo indexante são, tendencialmente,
mais baixos do que os da Euribor,
resultando numa poupança para o
consumidor, caso os bancos a adotem.
A Ester está em consulta pública e deverá
ver a luz do dia em finais de 2019.
DOSSIÊ TÉCNICO Nuno Rico
novembro/dezembro 2018//D&D 41
D&D//PLANEAMENTO FAMILIAR
“O
tempo passou a voar,
como é possível?”
“Ainda ontem brincava
com Barbies...” Não negue.
Se tem um filho ou uma filha a entrar
na fase em que começa a evaporar
hormonas por todo o lado, já suspirou
todos os clichês do mundo. Mas bem
pode suspirar, que o tempo não volta
para trás. Por isso, o melhor a fazer é
aceitar a realidade como ela é: o seu filho
vai fazer sexo. Se é que já não faz. Diz a
Organização Mundial de Saúde que, entre
os adolescentes portugueses, será ali
por volta dos 14 ou 15 anos.
Mas há mais. Não só ele ou ela não lhe
vai pedir autorização para experimentar
os prazeres da vida, como a lei reconhece
aos jovens o direito de decidirem sobre
o próprio corpo e o próprio destino,
em matéria de sexualidade e saúde
reprodutiva. Consultas de planeamento
familiar, seja em que idade for, acesso
a métodos contracetivos gratuitos,
incluindo a de emergência hormonal
(a “pílula do dia seguinte”), também sem
limite de idade, e interrupção voluntária
da gravidez a partir dos 16 anos – nestes
casos, por lei, os pais não têm qualquer
palavra a dizer.
“Sou menor, mas decido por mim”
Fácil, gratuito e confidencial: assim
deve ser o acesso dos adolescentes
– independentemente da idade – a
consultas de planeamento familiar
e serviços de aconselhamento na área
da sexualidade. A lei não impõe limites
geográficos: as portas estão abertas
em qualquer centro de saúde ou serviço
hospitalar, nos gabinetes de saúde juvenil
do Instituto Português do Desporto e
da Juventude (IPDJ) e ainda em várias
câmaras municipais, juntas de freguesia
e associações não governamentais.
No Portal da Juventude (https://
42 D&D//novembro/dezembro 2018
Socorro,
filhos têm
É pai de um adolescente?
– e, provavelmente, preferia
já iniciou a vida sexual. M
juventude.gov.pt), sublinha-se a negrito
acontecer. Saiba em qu
que o atendimento nas várias consultas são donos do
é gratuito e confidencial, e fala-se sem
preconceito ao coração naturalmente e do próp
rebelde dos adolescentes: os técnicos
Texto Maria J
que os hão de ouvir não emitem “juízos de
valor” sobre as suas “ideias e decisões”.
Mas não há só conselhos avisados
nestas consultas. Há acesso a 14 a 15
métodos contracetivos gratuitos.
E, ainda que o médico ou o
anos
idade em que
enfermeiro possam perguntar
a idade ao jovem, não será por os portugueses
isso que não lhe vão pôr uma iniciam a vida
caixa de pílulas ou de preservativos sexual
na mão. Para a lei, a idade não é
uma barreira para evitar uma gravidez
indesejada. O acesso à contraceção é
universal. A toda a contraceção. Os jovens,
192 153
caixas de pílulas
de qualquer idade, também podem do dia seguinte
obter a chamada pílula do dia seguinte
gratuitamente nos centros de saúde, nos
vendidas
serviços de urgência de ginecologia dos em 2017
hospitais, nos serviços de atendimento
a jovens e nos gabinetes do IPDJ. Nas
farmácias, podem comprá-la sem receita
médica e sem que o farmacêutico lhes
pergunte quantos anos têm. Também
não lhes vão pedir a identificação ou
www.deco.proteste.pt
 os meus
hormonas
Provavelmente não sabe
a não saber – se ele ou ela
as, se não aconteceu, vai
e situações é que eles querer falar com os pais. E, mesmo
próprio corpo que se recusem a vender (por serem
rio destino objetores de consciência, por exemplo),
os jovens podem sempre dirigir-se à
farmácia ao lado e adquirir o fármaco.
João Amorim
Mas de alguns minutos de conversa
não se livram. A norma específica
2 173
sobre a intervenção farmacêutica na
contraceção de emergência, da Ordem
dos Farmacêuticos, dita que “a procura
bebés nascidos de CE [contraceção de emergência]
em 2017 de mães constitui uma oportunidade para o
entre os 11 e os 19 farmacêutico prestar aconselhamento
anos contracetivo”. Nos jovens, esta
recomendação “é particularmente
importante na ocasião da dispensa de CE”.
1 603
IVG realizadas em
Em 2017, contabilizou o Infarmed,
foram vendidas 192 153 embalagens
de pílulas do dia seguinte, o valor mais
2016 em mulheres elevado em seis anos.
com menos Aconteceu. E agora?
de 20 anos A taxa de fecundidade (número de
filhos por mil mulheres) na adolescência
está a diminuir em Portugal. Em 2017,
o Instituto Nacional de Estatística
(INE) anotou uma taxa de oito filhos
por cada mil jovens entre os 15 e os 19
anos. No global, nasceram 2173 bebés
www.deco.proteste.pt
de mães nesta faixa etária. Uma década
antes, o valor era mais do dobro: 17 filhos
por cada mil adolescentes dos 15 aos
19 anos. Explicações possíveis: a taxa
de fecundidade está, genericamente,
a baixar no País – logo, há menos
adolescentes a engravidar –, é mais fácil
obter informação sobre sexualidade, a
escolaridade obrigatória aumentou e
generalizou-se o acesso a contracetivos.
Segundo o gabinete de estatísticas da
União Europeia, o EUROSTAT, Portugal
está abaixo da média comunitária em
matéria de gravidez na adolescência:
entre as jovens com menos de 20 anos,
não chega a 4% a taxa de nascimentos
do primeiro filho. O que, ainda assim, está
longe dos mínimos registados em Itália ou
na Holanda (pouco mais de 1 por cento).
Mas, às vezes, acontece. E a menor
pode decidir, livremente, interromper
a gravidez. Mas só a partir dos
16 anos. Caso contrário, vai necessitar do
consentimento dos pais. A lei reconhece-
-lhe capacidade de discernimento e
maturidade suficiente para decidir se
quer, ou não, avançar com uma gravidez.
De acordo com a Direção-Geral da
Saúde (DGS), a interrupção voluntária
da gravidez em mulheres com menos
de 20 anos tem vindo a diminuir. Em 2016,
registaram-se 1603 casos nesta faixa
etária – 10,4% do total. Valor ligeiramente
inferior ao do ano anterior: 10,9 por cento.
Tal como uma mulher maior de
idade, a adolescente com 16 anos ou
mais só pode solicitar uma interrupção
da gravidez nas primeiras 10 semanas
de gestação, assinando um documento
intitulado consentimento livre e
esclarecido. Deve dirigir-se ao centro de
saúde ou hospital da área de residência
e pedir uma consulta de interrupção da
gravidez. Pode também optar por uma
clínica privada reconhecida oficialmente.
Na consulta, terá os dados para poder
novembro/dezembro 2018//D&D 43
 D&D//PLANEAMENTO FAMILIAR
Planeamento familiar
Todos os adolescentes,
independentemente
da idade, têm direito
a consultas gratuitas
Contraceção
A lei não impõe quaisquer
barreiras ao acesso a
métodos contracetivos,
tenham os jovens a idade
que tiverem
A decisão é
do adolescente
“Pílula do dia seguinte”
Os adolescentes podem
obtê-la gratuitamente
nos centros de saúde e
hospitais. Para comprar
na farmácia, não é
preciso receita médica
Interrupção voluntária
da gravidez
A partir dos 16 anos,
a menor não precisa de
autorização dos pais
para interromper uma
gravidez
A ÚNICA FORMA DE SER
ADULTO ANTES DOS 18 ANOS
É CASANDO. E, MESMO ASSIM,
SÓ AOS 16 ANOS. CHAMA-SE
EMANCIPAÇÃO PELO
CASAMENTO
44 D&D//novembro/dezembro 2018
tomar uma decisão livre e informada.
Depois, tem três dias para pensar e falar
com quem quiser: com os pais, com a A LEI RECONHECE ÀS
família, com os amigos, consigo própria.
E depois decide. Por si.
MENORES A PARTIR DOS
16 ANOS MATURIDADE PARA
Emancipação pela “aliança” DECIDIREM SE QUEREM,
“Tenho 15 anos e estou grávida; posso OU NÃO, AVANÇAR COM
interromper a gravidez sem os meus pais
saberem?” Podia ser – provavelmente,
UMA GRAVIDEZ
é – uma das muitas perguntas que se
ouvem no serviço de atendimento forma), serão os recém-avós a assumir
telefónico gratuito Sexualidade em as responsabilidades parentais (também)
Linha (800 222 003), um protocolo do neto. Pelo menos nos primeiros 30 dias
entre a Associação para o Planeamento consecutivos a seguir ao nascimento do
da Família e o IPDJ, nos já 20 anos que bebé, os avós trabalhadores podem contar
leva a dar apoio confidencial a quem o com uma preciosa benesse da lei: desde
procura. E a resposta é: “não”. As menores que vivam em economia comum com o
de 16 anos precisam do consentimento filho adolescente e o recém-neto, e aquele
do seu representante legal (pai, mãe, tenha menos de 16 anos, podem faltar
tutor) para interromperem uma gravidez. ao trabalho justificadamente.
É ele, aliás, quem tem de assinar o Quanto ao resto, reuniões da escola
consentimento informado. No entanto,
de acordo com as normas da DGS, a
com os encarregados de educação,
decisões sobre atos médicos de
menor tem direito a ser ouvida, e também relevância... é trabalho para os adultos.
lhe será pedida uma assinatura.
A única forma de ser adulto antes dos DOSSIÊ TÉCNICO Anabela Jorge
18 anos é casando. E, mesmo assim, só aos e Sofia Lima
16 anos. É a chamada emancipação pelo Casar antes
dos 18 anos?
casamento. Adeus, autorizações para tudo
Só com autorização dos
e para nada assinadas pelos pais; olá, pais (ou tutores legais),
responsabilidade a sério. Mas, neste e apenas se o menor
caso, quem casa quer (ou melhor, precisa tiver 16 anos ou mais
de) consentimento. De quem? Dos pais.
Ou representantes legais. Interrupção
voluntária da gravidez
“És menor, por isso, decido por ti” antes dos 16 anos
Caminho livre e (praticamente) Os representantes
desimpedido no que diz respeito à legais da menor têm
saúde reprodutiva, mas, a não ser que, de autorizar e assinar
com a devida autorização dos pais, o consentimento
informado
casem, não há praticamente nada em
que os menores de idade não sejam
A decisão
considerados... menores de idade.
Ou seja, sem maturidade para decidir
é do adulto
sobre a sua vida. Ou a de outros. Pais menores
É, precisamente, dessa forma que a
lei vê os pais com menos de 18 anos.
(não emancipados
pelo casamento)
Podem ser pais, mas não podem exercer Não podem exercer
as responsabilidades parentais. São duas responsabilidades
parentais. A tarefa é
coisas muito diferentes. Não têm o direito
assumida, em regra,
de representar o filho (ou filhos), nem
de administrar os seus bens. Regra geral
pelos avós da criança
(a não ser que o tribunal decida de outra
 D&D//IMI

Poupe no IMI
Tem até 31 de dezembro para pedir às Finanças uma avaliação da sua casa
e, assim, pagar menos imposto em 2019. Mas, antes, use o nosso simulador
Texto Sílvia Nogal Dias & Filipa Rendo

C
inco anos e mais de 900 mil simulações depois,
está mais do que na hora de usar o nosso
simulador www.paguemenosimi.pt e verificar
se pode pagar menos imposto municipal sobre
imóveis (IMI). Como? Pedindo a atualização do valor da
sua casa junto das Finanças. Tal não seria necessário se
o Fisco atualizasse automaticamente todos os critérios
utilizados para calcular o valor do imposto, como sempre
defendemos. Mas não é isso que acontece.
O IMI é fixado por cada município, e calculado em
função do valor patrimonial tributário dos imóveis,
determinado com base numa série de parcelas (área do
imóvel, tipo de utilização, localização, conforto e idade).
A maioria permanece inalterada ao longo do tempo, mas
duas delas – a idade do imóvel (coeficiente de vetustez)
e o valor de construção – sofrem variações com o passar
dos anos. O coeficiente de vetustez diminui em função da
antiguidade do imóvel. Ou deveria, se a atualização fosse
automática. Mas, atualmente, é o contribuinte quem tem
de lembrar à Autoridade Tributária (AT) que considere
o valor real do imóvel e não o do ano da avaliação
inicial. A segunda variável que está no centro das nossas
contestações é o valor de construção. Em 2008, este
fixava-se em 615 euros por metro quadrado, tendo
descido, em 2010, para os 603 euros. Desde então, o
valor mantém-se, mas os imóveis avaliados entre 2006
e 2008, por exemplo, continuam a pagar IMI em função
dos 615 euros. A menos que os proprietários peçam uma
atualização. Ou seja, para poupar, cabe ao contribuinte
fazer todo o trabalho, o que é condenável, já que estes
coeficientes deveriam ser atualizados automaticamente
pela AT.
Mas vamos a simulações? Comece por aceder ao Portal
das Finanças, onde pode consultar a caderneta predial
do imóvel, que contém todos os dados que o nosso
simulador lhe pedirá (atenção às áreas, que, se tiverem
sido mal calculadas, podem aumentar com a atualização,
influenciando o valor do imposto). Introduzidos todos
os dados, ficará a saber se está a pagar IMI a mais. Se for
o caso, tem até 31 de dezembro para preencher o modelo
1 do IMI, solicitando a atualização do valor da casa, e
entrará em 2019 sabendo que vai pagar menos impostos.

SIMULE O VALOR DO IMI EM WWW.PAGUEMENOSIMI.PT

Aceda ao nosso simulador e saiba se está a pagar o valor justo. Se estiver a pagar a mais,
peça a atualização do valor da sua casa até ao final do ano

novembro/dezembro 2018//D&D 45
 D&D//TRABALHO

Atropelos à
Um inquérito a 1146 trabalhadores portugueses
são ignorados, por exemplo, ao nível dos horári
Texto Fátim

N
um inquérito sobre a
satisfação com o emprego,
que realizámos entre
janeiro e fevereiro de 2018,
os trabalhadores relataram-nos
experiências laborais, algumas
contrárias à lei. Selecionámos e
esclarecemos seis dessas situações.
De acordo com os resultados do
mesmo inquérito, quase um terço
dos trabalhadores encontra-se em
risco de burnout, isto é, numa situação
de esgotamento físico e mental,
resultante do stresse laboral crónico.
A insatisfação global com o trabalho
é uma das causas identificadas no
estudo publicado na TESTE SAÚDE
de outubro, cujos resultados, tal
como os dados que aqui indicamos,
respeitam maioritariamente a
trabalhadores por conta de outrem.
É fundamental que o trabalhador

64% 42% 22%

NÃO RECEBEM
PELAS HORAS EXTRA
O trabalho suplementar tem
de ser pago com acréscimo
face ao realizado em horário
normal: mais 25%, na primeira
hora (ou parte dela), e mais
37,5%, nas seguintes, em dias
úteis. Em dias de descanso
e feriados, cada hora (ou parte
dela) vale mais 50 por cento.
Quando trabalhar num dia
de descanso obrigatório (em
regra, o domingo), tem direito
a uma folga suplementar,
num dos três dias úteis
seguintes. Caso não lhe seja
permitido o repouso diário
mínimo de 11 horas entre dois
dias de trabalho, pode gozar
a diferença (por exemplo, três
horas, se só descansou oito)
também num dos três dias
úteis seguintes.
TRABALHAM MAIS
DE 40 HORAS
O horário normal de trabalho não deve
ser superior a 40 horas semanais, com
o máximo de oito por dia. A lei permite o
trabalho suplementar, se houver acréscimo
provisório de serviço que não justifique
a contratação de um novo trabalhador.
Nesse caso, cada dia de trabalho normal
não pode ter um aumento superior a
duas horas. Caso o serviço suplementar
ocorra num dia habitual de descanso,
não pode exceder a duração de um dia
normal (as ditas oito horas). Em cada ano,
o limite de horas extra por trabalhador
varia entre 150 e 175, consoante a
dimensão da empresa. A lei define ainda
o direito a um dia de descanso semanal,
no mínimo. Se o contrato estabelecer mais,
é essa a regra que prevalece e não pode
ser alterada sem acordo do trabalhador.
TRABALHAM
POR TURNOS
Em regra, o trabalho é
realizado durante o dia, mas há
atividades que também (ou só)
decorrem à noite. Para limitar
eventuais danos para a saúde,
a lei indica que o empregado
não deve trabalhar mais do
que oito horas num período
de 24 horas (que inclua
trabalho noturno), em tarefas
com riscos especiais ou que
causem tensão física ou mental
significativa - por exemplo,
funções repetitivas.
Nos casos de laboração
contínua, a duração dos turnos
não pode ultrapassar a de um
período normal de trabalho.
A mudança de turno só pode
ocorrer depois do descanso
semanal (no mínimo, um dia
em cada sete).

46 D&D//novembro/dezembro 2018 www.deco.proteste.pt

 lei do trabalho
revela várias situações em que os seus direitos
os de trabalho e à recompensa por horas extra
a Ramos
se sinta útil e apreciado. Uma
experiência profissional frustrante
pode terminar em esgotamento.
Um dos fatores que mais desgastam
é a falta de ocupação efetiva. Além da
retribuição, o trabalhador pode exigir
que o empregador lhe dê ocupação,
tendo em conta a sua formação e as
funções para que foi contratado. Não
pode simplesmente deixá-lo “a olhar
para as paredes”, ainda que lhe pague.
11%
DIZEM-SE ALVO
DE GOZO
OU CHACOTA
O gozo e a chacota,
dependendo do conteúdo,
podem ser considerados
uma forma de assédio.
Este está definido na lei
como um comportamento
indesejado, que ocorre no
local de trabalho, com o
propósito de perturbar ou
constranger a pessoa, afetar
a sua dignidade ou criar-lhe
um ambiente intimidatório,
hostil, degradante, humilhante
ou desestabilizador. Todo o
assédio é proibido. Em casos
graves, a vítima tem direito
a ser indemnizada, se provar
as alegações em tribunal.
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Se sentir que a lei não é respeitada,
o trabalhador pode chamar a atenção
dos responsáveis hierárquicos
e do departamento de recursos
humanos. Não havendo alterações,
deve contactar a Autoridade para as
Condições do Trabalho, por exemplo,
através do site (www.act.gov.pt),
na área de “Queixas e denúncias”.
DOSSIÊ TÉCNICO Bruno Carvalho e Nuno Carvalho
7%
DIZEM-SE VÍTIMAS DE
DISCRIMINAÇÃO (RAÇA,
GÉNERO OU RELIGIÃO)
A lei proíbe todo o tipo de
discriminação, seja direta ou
indireta. A primeira contempla
os casos em que alguém
recebe um tratamento menos
favorável do que outra pessoa
numa situação comparável,
devido, por exemplo, à religião
que professa, ao género,
à raça ou à orientação sexual.
A discriminação indireta
refere-se a disposições
ou práticas aparentemente
neutras, mas que visam
pôr um um trabalhador
em desvantagem face a
outros — por exemplo, atribuir
um prémio por antiguidade
a um departamento quando
só um dos trabalhadores não
cumpre os critérios.
31%
DOS QUE FALTARAM AO
TRABALHO DEVIDO A STRESSE
INDICAM QUE AS FALTAS TIVERAM
IMPACTO NEGATIVO NA SUA
SITUAÇÃO PROFISSIONAL
Segundo a lei, o trabalhador não pode ser
discriminado, nem alvo de um processo
disciplinar, por faltas justificadas. Contudo,
é possível que um empregado que se
esforçou durante um ano seja premiado
face a outro que esteve fora, desde
que tal se justifique e não seja um mero
aproveitamento da ausência do colega.
Em situações de baixa médica, o trabalhador
perde direito à retribuição, mas recebe
um subsídio da Segurança Social, a partir
do quarto dia de falta. Até ao trigésimo dia,
recebe 55% da chamada remuneração
de referência. Esta corresponde ao salário
bruto, caso não tenham havido variações
salariais nos meses anteriores. Depois,
a percentagem sobe para 60% (até ao 90.º
dia), 70% (até ao 365.º dia) e 75%, a partir
de um ano de baixa.
novembro/dezembro 2018//D&D 47
 SEM
RECURSO
MARCAS
De manhã, só com pezinhos de lã
António e Aurora intentaram uma ação
contra Clotilde, vizinha do andar de cima.
Alegavam que, de manhã, entre as 7 e as 8
horas, fazia muito barulho, com o propósito
de os afetar física e mentalmente. Por
isso, pediram uma indemnização de 15
mil euros. Clotilde contestou a acusação:
o barulho era o estritamente necessário
para se levantar, tomar banho e sair de casa
para ir trabalhar. Jamais tivera a intenção
de prejudicar os vizinhos. Assegurou
que o seu cão, adulto e de raça pequena,
também não causava ruído desadequado.
Clotilde acabou por pedir que os vizinhos
lhe pagassem 15 mil euros por terem
iniciado uma ação contra si.
O tribunal de primeira instância não
deu razão ao casal. Mais: Clotilde tinha
direito a receber 6250 euros por danos
não-patrimoniais (resultantes de angústia
e ansiedade, por exemplo).
Insatisfeito, António avançou para
a Relação. O tribunal verificou que no
processo não tinham sido considerados
os depoimentos de dois vizinhos que viviam
DIVÓRCIO
A casa é minha.
E os eletrodomésticos?
48 D&D//novembro/dezembro 2018
veja como os tribunais decidiram num caso como o seu
no apartamento contíguo ao de Clotilde
e que tinham apresentado queixa na polícia
pelos mesmos motivos. Valorizou o facto
de António ter feito várias tentativas para
resolver o diferendo: enviou um e-mail
à vizinha a pedir que evitasse calçar
sapatos quando se levantava da cama,
expôs a situação ao filho mais velho desta
e, posteriormente, participou o caso à PSP,
ao Provedor de Justiça e à Polícia Municipal.
A Relação teve também em conta os
relatórios dos agentes que estiveram em
casa de António numa manhã, constatando
o ruído de passos, e que verificaram
que Clotilde usava botas de sola num
pavimento cerâmico. Foi-lhe sugerido o
uso de pantufas, mas Clotilde respondeu
que em casa andava como queria. A polícia
também confirmou que o cão fazia barulho.
A Relação entendeu que o ruído,
sistemático e sempre à mesma hora,
causava grandes perturbações. Havia
responsabilidade civil de Clotilde, pelo que
esta foi condenada a cessar imediatamente
o ruído incomodativo e a indemnizar
Soraia e Daniel, casados no regime de
comunhão de adquiridos, divorciaram-se
em 2010. A utilização da casa de família foi
atribuída a Soraia. Quatro anos mais tarde,
na sequência das partilhas, ficou Daniel
com o imóvel. Entretanto, Soraia retirou da
cozinha vários eletrodomésticos. À exceção
do esquentador, todos os equipamentos
faziam parte da casa quando foi comprada
pelo ex-casal. Por esse motivo, Daniel
intentou uma ação contra Soraia e exigiu
6918,48 euros. O tribunal deu-lhe razão,
por os eletrodomésticos já estarem
no imóvel quando este foi comprado.
Condenou Soraia a pagar 500 euros por
danos não-patrimoniais (pelo transtorno,
António em 7500 euros. Foi ainda anulada
a decisão da primeira instância na parte
em que António tinha de indemnizar
Clotilde.
●●Tribunal da Relação de Lisboa,
03/05/2018
A NOSSA ESPECIALISTA
COMENTA
Sofia Lima
A lei proíbe os vizinhos de fazerem
barulho entre as 11 horas da noite e as
por exemplo), assim como o valor atribuído
aos produtos na sentença relativa à partilha.
Soraia recorreu para a Relação. Alegou
que os equipamentos não tinham sido
partilhados, por não estarem no inventário,
e que não eram parte integrante da cozinha,
porque não estavam encastrados. O
tribunal deu razão a Soraia. Entendeu que o
projeto e a licença de utilização da casa não
exigem a existência de eletrodomésticos. E,
apesar de estes já estarem na casa quando
foi adquirida, tal não os qualificava como
parte integrante. Para isso, seria necessária
uma ligação permanente ao prédio.
●●Tribunal da Relação de Évora,
10/05/2018
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7 da manhã. No entanto, não significa que,
fora desse horário, possam fazer o ruído
que bem entendam. Se for perturbador
e suscetível de causar má qualidade
de vida aos vizinhos, comprometendo,
por exemplo, a saúde ou o direito ao
repouso destes, deve ser cessado de
imediato, independentemente da hora.
Caso o problema não seja resolvido entre
as partes, deve ser participado à polícia
e à câmara municipal. No limite, a solução
são os julgados de paz ou o tribunal,
como aconteceu na situação descrita.
A NOSSA ESPECIALISTA COMENTA
Sofia Lima
Os eletrodomésticos não foram
considerados parte integrante da fração,
por não haver exigência legal nesse
sentido. Ou seja, para uma casa receber
a licença de utilização, indispensável na
venda, não precisa de ter equipamentos.
A única ligação material dos produtos
ao imóvel era através das redes de
eletricidade, água ou esgotos, insuficiente
para os tornar parte da casa. Além disso,
Daniel não poderia afirmar-se como
proprietário daqueles bens, dado que
a respetiva partilha ainda não fora feita.
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MARCAS
Chocolates há muitos!
Em 2002, a Nestlé solicitou ao registo atribuído pelo Instituto da
Instituto da Propriedade Intelectual Propriedade Intelectual da União
da União Europeia o registo de Europeia.
uma marca que consistia num sinal ●●Tribunal de Justiça da União
tridimensional correspondente Europeia, 25/07/2018
ao produto Kit Kat 4 Barras. Quatro
anos depois, este instituto aceitou
registar a marca para vários produtos
da empresa, nomeadamente, PARA REGISTAR UMA
de padaria e pastelaria.
Em 2007, a Cadbury (atualmente,
MARCA COM CARÁTER
Mondelez) pediu que aquele registo DISTINTIVO NA UNIÃO
fosse anulado. No entanto, o Instituto EUROPEIA, É PRECISO
da Propriedade Intelectual recusou PROVAR QUE ESTA
o pedido, por entender que o Kit Kat
4 Barras já tinha adquirido caráter
É CONHECIDA EM TODO
distintivo, ou seja, era facilmente O TERRITÓRIO
reconhecido no espaço comunitário.
Perante esta decisão, a Mondelez
apresentou o caso no Tribunal Geral A NOSSA ESPECIALISTA COMENTA
da União Europeia. Este, por sua vez, Sofia Lima
afirmou que o Instituto da Propriedade
Intelectual tinha errado, ao concluir Sempre que na União Europeia se
que aquele produto adquirira um pretende registar uma marca com
caráter distintivo na União Europeia. caráter distintivo, é necessário provar
No seu entendimento, a marca só era que é conhecida em todo o território.
reconhecida numa parte do território, Neste caso, a Nestlé apenas
num total de 10 Estados-membros. conseguiu demonstrar que só uma
Inconformada, a Nestlé recorreu parte, embora significativa, da União
para o Tribunal de Justiça da União Europeia conhecia o chocolate
Europeia. Com base em decisões (mas não todos os Estados-membros).
judiciais anteriores, este tribunal Logo, o Tribunal de Justiça da União
declarou que, para ser registado, Europeia decidiu anular a decisão
não basta provar o caráter distintivo que considerava que o chocolate
de um produto numa parte Kit Kat 4 Barras tinha caráter distintivo
significativa da União Europeia. em todos os países.
Embora não seja necessário fazer
prova para cada Estado-membro, é,
ainda assim, necessário demonstrar
que a marca é reconhecida em
todos os países. Tal não acontecia, a
título de exemplo, em Portugal e na
Bélgica. Assim, o Tribunal de Justiça
da União Europeia manteve a decisão
do Tribunal Geral, que anulava o
novembro/dezembro 2018//D&D 49
 LIVRO DE
RECLAMAÇÕES
GARANTIA NEGADA
Conforama recusa
substituir sofá
Ainda não tinham passado duas
semanas após a compra, quando
o nosso associado João Tomás,
de Alenquer, deu conta de que
o sofá tinha o pé direito partido.
Além disso, a trave de suporte
fazia-se sentir quando alguém
se sentava no centro do sofá.
João expôs o caso à loja
Conforama onde o sofá foi
comprado e recebeu em casa a
visita de um técnico, para avaliar
o dano. O relatório confirmou as
queixas de João, mas a Conforama
rejeitou a reparação no âmbito
da garantia, alegando que esta
não cobria peças partidas. João
Tomás apresentou uma reclamação
à empresa, mas a Conforama não
cedeu. Inconformado, o leitor pediu
a nossa ajuda.
A NOSSA ESPECIALISTA COMENTA
Rosalina Loureiro
Só depois da nossa intervenção
é que a Conforama aceitou
a devolução do sofá a troco da
quantia que João Tomás havia pago.
Esta era uma das soluções possíveis
para o caso. Quando um produto
não corresponde às características
nem à qualidade descritas pelo
vendedor, o consumidor tem direito
à reparação, à substituição, ao
desconto ou ao reembolso do preço
do produto. A garantia exclui danos
provocados pelo mau uso dos
produtos, mas cabe ao vendedor
provar que isso aconteceu.
Como a Conforama não o fez, teve
de ressarcir o consumidor no exato
valor pago pelo sofá.
50 D&D//novembro/dezembro 2018
histórias, dúvidas e testemunhos dos nossos le
ACIDENTE SEM CULPA
Seguradora Logo
adia pagamento
Ana Celeste Ferreira, do Porto, sofreu
um desastre automóvel, que abrangeu
três viaturas, em setembro de 2017.
Mas nunca pensou que a resolução
do sinistro junto da seguradora se
arrastasse por longos meses.
Como as seguradoras não se
entendiam, Ana teve de submeter
o veículo a duas peritagens, em
oficinas diferentes. Numa, obteve um
orçamento de 3551 euros e, noutra, de
2 mil euros. A partir daí, foi necessária
uma pressão quase diária junto da
Logo até esta assumir, em dezembro,
o pagamento da indemnização prevista,
no valor de 3551 euros.
Depois de ter sinal verde da Logo
para dar início à reparação, Ana optou
por entregar o carro na oficina com
o orçamento mais barato. Não sabia
quanto tempo iria demorar a seguradora
a pagar e decidiu não arriscar na oficina
mais cara.
Já em janeiro, e com o carro quase
pronto, a Logo comunicou à nossa
associada que tinha havido um engano
e que o valor da indemnização era,
afinal, de 2 mil euros. Mas continuou
sem pagar, e Ana pediu o nosso apoio,
pois não teria dinheiro para levantar
o carro na oficina.
A NOSSA ESPECIALISTA
COMENTA
Sandra Silva
Foi incorreta a atuação da Logo,
que se comprometeu a atribuir uma
indemnização e depois voltou atrás,
querendo pagar outra e demorando
a fazê-lo. Foi preciso insistir
para obter resposta da seguradora.
Mas a Logo acabou por liquidar
o valor do arranjo.
SÓ APÓS PRESSÃO QUASE
DIÁRIA, DURANTE
TRÊS MESES E MEIO,
A RESPONSABILIDADE FOI
ASSUMIDA PELA LOGO
www.deco.proteste.pt

eitores
CONDIÇÕES DO CONTRATO
Conta debitada
antes do tempo
Foi em novembro de 2017 que
o nosso associado Renato Reis,
de Lisboa, comprou moeda
estrangeira no valor de 501,77 euros,
através do cartão Unibanco 3.
O cartão permitia pagar compras
de valor igual ou superior a 300 euros
em três vezes, sem juros.
Renato notou, porém, que esta
condição foi ignorada e que
o pagamento total foi agendado
para 8 de dezembro.
Ligou de imediato para o serviço
de apoio ao cliente do Unibanco, que
lhe pediu desculpa por aquilo a que
o funcionário chamou “um problema
técnico”. Garantiu-lhe ainda que, em
oito dias úteis, iria receber um e-mail
a confirmar a retificação. Acreditando
que o problema estaria resolvido,
Renato viajou para o estrangeiro.
Mas passaram quase duas semanas
e o nosso associado continuava sem
receber qualquer e-mail do Unibanco
a confirmar a correção do erro.
Ainda no estrangeiro, Renato
contactou, de novo, o serviço
ao cliente do Unibanco e, com
surpresa, ficou a saber que já não era
possível alterar o valor a debitar.
Teria mesmo de pagar o montante
de uma só vez.
Ainda foi equacionada
a possibilidade de pedir ao banco
uma revogação do pagamento,
mas Renato não conseguia fazê-lo
a partir do estrangeiro. A resposta
que recebia, à distância, era sempre
a mesma: o pagamento já havia sido
processado.
No regresso a Portugal, recebeu novo
pedido de desculpas. O Unibanco
informou Renato de que Iria devolver
a quantia cobrada indevidamente.
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Envie-nos os seus comentários para
correioleitores@deco.proteste.pt
O nosso associado ficou insatisfeito
com a morosidade do conflito e com
a cobrança de comissões e de juros.
Pediu a nossa intervenção e cancelou
o cartão do Unibanco.
A NOSSA ESPECIALISTA COMENTA
Sandra Silva
No primeiro contacto que
estabelecemos com o Unibanco,
apenas nos foi transmitido que
o caso iria ser encaminhado
para o departamento responsável.
Foi preciso repetir o contacto
um mês depois para que o banco
assumisse, efetivamente, o erro.
O Unibanco devolveu a Renato
o montante referente às comissões
cobradas e aceitou o cancelamento
do cartão.
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O que gostaria de ler
numa das próximas edições
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POSSO FAZER PARTE DO MEU
TRABALHO EM CASA?
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