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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE QUÍMICA DE SÃO CARLOS

LABORATÓRIO DE QUÍMICA AMBIENTAL

QUEIMADAS URBANAS: DANOS AMBIENTAIS E SOCIAIS

ESTUDO DE CASO – A CIDADE DE SÃO CARLOS

Responsáveis: Marcelo Del Grande

Rossine Amorim Messias

Coordenação: Prof.a Dr.a Maria Olímpia de Oliveira Rezende

São Carlos

Julho/2004
Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 1

INTRODUÇÃO

Desde que o homem conheceu e dominou o fogo, este recurso passou a

ser utilizado com as mais diversas finalidades. No Brasil tem-se registros da época

do descobrimento de que os primeiros habitantes do nosso território utilizavam o

fogo para preparar seus alimentos, para facilitar a caça, para aquecimento e,

inclusive, para abertura de áreas de plantio.

Buscando o uso controlado dos recursos, em 1989, o governo federal criou

o Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios - PREVFOGO, e

atribuiu ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais

Renováveis - IBAMA a competência de coordenar as ações necessárias à

organização, implementação e operacionalização das atividades relacionadas à

educação, pesquisa, prevenção, controle e combate aos incêndios florestais e

queimadas.

Assim, as áreas e a forma com que o PREVFOGO desenvolve suas ações

estão diretamente relacionadas a dois conceitos bastante distintos em função dos

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quais são estabelecidas as áreas em que as mesmas ocorrerão e as prioridades

com que serão executadas.

De acordo com o PREVFOGO e o IBAMA, incêndio florestal é todo fogo

sem controle que incide sobre qualquer forma de vegetação, podendo tanto ser

provocado pelo homem (intencional ou negligência) ou por fonte natural (raio),

enquanto queimadas são práticas agropastoris ou florestais, onde o fogo é

utilizado de forma controlada, atuando como um fator de produção.

A grande ameaça das queimadas para o ambiente está relacionada às suas

conseqüências para o solo da região. Após a queimada, esse solo não consegue

reter adequadamente a água da chuva, que escoa superficialmente em

enxurradas. Tal fato compromete a manutenção dos lençóis freáticos, resultando

no secamento de córregos e riachos. Além disso, as enxurradas promovem a

erosão do solo, acelerando a esterilização da terra. Os sedimentos carregados

acumulam-se no leito dos rios (assoreamento), diminuindo-lhes a capacidade de

escoamento, favorecendo inundações nas margens vizinhas.

De recente episódios dos incêndios florestais ocorridos no Centro-Norte do

estado de Roraima, e também da experiência de outros países, podem-se extrair

muitas lições, entre elas a necessidade de reagir prontamente às emergências.

“Aumentam índices de poluição, no interior, durante o inverno”

Uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

mostra que São Carlos, no interior paulista, pode apresentar grandes aumentos

em seus índices de poluição, durante o inverno, superando as variações

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observadas no Parque Dom Pedro, no centro da capital, e em São Caetano do

Sul, cidade da região metropolitana. "Se medirmos o momento mais poluído e o de

menor concentração de poluentes, em cada uma destas cidades, e os

compararmos, perceberemos aumentos maiores no interior", afirma José Renato

Coury, professor do Departamento de Engenharia Química da UFSCar e

coordenador da pesquisa.

No centro de São Paulo e em São Caetano, os dias mais poluídos têm

150% a mais de material particulado na atmosfera do que os dias com menos

poluição. No caso de São Carlos, essa diferença sobe para 2,5 vezes (ou 250%)

durante o período medido, entre maio e outubro. "A flutuação nos índices de

poluição, aqui, é maior do que na capital", observa o pesquisador.

A coleta do material em São Carlos é feita no centro da cidade, em frente

ao mercado municipal. A principal hipótese é a de que a queimada de cana-de-

açúcar seja responsável pelo aumento de poluição na cidade. "Temos algum fator

sazonal influenciando esse evento e percebemos que o carbono é o responsável.

Agora precisamos descobrir se esse carbono é emitido pelas queimadas, o que

não é muito fácil de se determinar", explica. As queimadas em São Carlos

estendem-se de maio a novembro. "Nossa primeira recomendação seria evitar as

queimadas. Além do problema da poluição, pesquisas recentes apontam que a

queima da cana libera substâncias cancerígenas", destaca Mônica Lopes Aguiar,

que integra a pesquisa.

A análise química das substâncias coletadas é a segunda parte da

pesquisa desenvolvida pela UFSCar, cuja coleta de material começou há três

anos, no centro de São Carlos. "Na primeira fase, preocupamo-nos em estudar a

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concentração e o tamanho das partículas do material coletado", afirma Mônica.

Depois de descoberta a fonte emissora de carbono, os pesquisadores deverão

fazer simulações matemáticas para prever se há uma tendência de aumento da

poluição na região.

Além de Coury e Mônica, participam do estudo a pesquisadora Wanda

Maria Carvalho, um aluno de mestrado, 5 a 6 alunos de graduação e um técnico.

"A cada ano varia nossa equipe, mas em média temos de 12 a 15 pessoas

trabalhando na pesquisa", comenta Coury.

As análises químicas são feitas na Escola Superior de Agricultura Luiz de

Queiroz (Esalq), em Piracicaba, que pertence à Universidade de São Paulo (USP),

e no Departamento de Física da USP em São Carlos. A UFSCar está buscando

parceria também com o Departamento de Química da Universidade Estadual

Paulista (Unesp) em Araraquara. Para prosseguir com o trabalho de análise

química, a UFSCar conta com um financiamento de dois anos (até 2003) da

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no valor de

R$ 70 mil. O Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA) financiou a primeira parte,

com R$ 50 mil de verba. Em 1988, os pesquisadores receberam um auxílio da

própria Fapesp no valor de R$ 20 mil, em bolsa de pós doutorado e auxílio à

pesquisa. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq) também contribuiu, com bolsas para alunos de iniciação científica e

mestrado, que integraram temporariamente a equipe de pesquisa.

Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2002.

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O fenômeno El Niño

Entre os fenômenos de escala global que favorecem a ocorrência de

incêndios florestais e o aumento das queimadas, destaca-se El Niño. Resultado da

interação entre o oceano e a atmosfera, El Niño caracteriza-se por um

aquecimento anormal das águas do Pacifico tropical centro-leste. Esse

aquecimento interfere na circulação atmosférica de grande escala e,

conseqüentemente, provoca mudanças nas condições climáticas de varias regiões

continentais ao redor do planeta, em virtude da grande quantidade de energia

envolvida nesse processo.

Grandes secas na Índia, no Nordeste do Brasil, na Austrália, indonésia e

África do Sul são decorrentes do fenômeno, assim como algumas enchentes no

Sul e Sudeste do Brasil. No Brasil seu efeito vem afetando desde de 1997. A eles

se atribuem as temperaturas mais amenas durante o ultimo inverno e altas

temperaturas em dezembro e inicio de janeiro no Sul e Sudeste, as chuvas

excessivas no Sul em outubro e novembro e a estiagem em partes da Amazônia a

partir do segundo semestre de 1997, que contribuíram para intensificar o impacto

e ampliar a extensão dos incêndios florestais no estado de Roraima. Com o

advento prematuro da época seca, surgiram os primeiros incêndios em áreas de

vegetação de savana, afetando a zona centro-norte do estado. A inversão da

corrente de ar provocada por El Niño, que passa de ascendente sobre a bacia do

Atlântico equatorial, incluídos o leste da Amazônia e o semi-árido nordestino, inibe

a formação de nuvens e assim as chuvas.

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As alterações climáticas provocadas pelo El Niño, especialmente severas

em sua atual manifestação, vem contribuindo para elevar o potencial de risco de

queimadas e incêndios acidentais na cobertura vegetal da Amazônia. A elas

somam-se os processos desencadeados pela degradação ambiental associados a

exploração inadequada dos recursos naturais na região, que potencializam a

inflamação das florestas.

Os efeitos de El Niño antecipam as queimadas agrícolas, provocando uma

ampliação do período tradicional e, conseqüentemente, um aumento da ocorrência

de focos de queimadas e incêndios florestais ao longo do ano. A partir de

junho/julho, iniciam-se especialmente no chamado arco do desflorestamento, as

grandes queimadas que, quando fora de controle, podem se transformar em

incêndios florestais, provocando enormes prejuízos econômicos, de saúde e

impactos ambientais.

“A nova Amazônia inflamável”

A Amazônia representa uma das mais importantes regiões fitogeográficas

do mundo. Em escala continental, ocupa 1/20 da superfície terrestre e constitui-se

na maior bacia hidrográfica do planeta, abrangendo cerca de 40% das florestas

tropicais remanescente no Globo (3.900.000 km2), razão pela qual é detentora de

imensurável patrimônio genético, estimado em torno de 30% do estoque mundial,

com elevado grau de endemia de espécies da fauna e flora; possui 20% das

reservas mundiais de água doce, dispõe de mais de 20 mil quilômetros de vias

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fluviais permanentemente navegáveis e de um potencial hidrelétrico estimado em

100 milhões de quilowatts.

A questão das queimadas e incêndios das florestas, especialmente da

floresta Amazônica brasileira, figura entre os principais problemas que tem origem

num histórico processo de utilização não adequada de seus recursos naturais e

que ameaça a sua sustentabilidade.

Ao longo dos anos 80, os índices de desflorestamento da Amazônia

chegaram a consumir mais de 21 mil km2 de floresta por ano. Na esteira desses

desmatamentos, identificaram-se as maiores queimadas e incêndios na região.

A floresta primaria nos trópicos úmidos não é inflamável em condições

climáticas normais. O microclima úmido e elevada precipitação pluviométrica

desfavorecem a inflamação da biomassa. Assim, na floresta Amazônica pode se

observar que, mesmo após três ou quatro meses de seca, as árvores

permanecem verdes e exuberantes.

Essa alta tolerância à seca é explicada pela elevada capacidade que a

floresta tem em absorver a água armazenada no solo, pelas raízes das arvores e

dos cipós. Explica-se, também, pelo ambiente frio e úmido no interior da floresta,

propiciado pela cobertura de sombra oferecida pelas folhas das arvores.

Quando, porém, a seca prossegue, as reservas de água no solo tendem a

se esgotar. Assim, as árvores fazem uso de seu mecanismo de defesa, que é a

perda de folhas, para diminuir sua transpiração. Com as quedas das folhas abre-

se espaço no dossel da floresta para a penetração dos raios solares no seu

interior. Quando os raios solares atingem o solo, a camada de folhas, gravetos e

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galhos depositados na superfície começa a secar e se a seca for prolongada a

floresta torna-se inflamável.

A queda acentuada do nível de desmatamento, entretanto, não significa

necessariamente também uma redução dos focos de queimadas e incêndios na

região. Além dos riscos potencializados pelas alterações climáticas em escala

global e regional, continuam atuantes na região praticas agrícolas de conversão

do uso do solo e de exploração madereira que sujeitam a susceptibilidade da

floresta a ação do fogo a uma escalada exponencial.

A queda nos preços da terra, ao mesmo tempo em que propicia o

fortalecimento da expansão de áreas cultivadas, reduz a atratividade para uso de

métodos mais intensivos de exploração e proteção. Da mesma forma, o processo

de invasão e ocupação de grandes propriedades rurais leva proprietários a realizar

derrubadas em áreas de floresta primaria remanescente, pelo receio de serem

identificados como detentores de áreas improdutivas.

É da conjugação desses ingredientes, mais a pressão da exploração

madeireira sobre novas áreas florestais para atender à demanda da construção

civil, que surgem os maiores focos de queimadas e incêndios florestais na

Amazônia Legal.

Fogo acidental

Queimada acidental é a que foge ao controle, resultando em prejuízo,

ambiental e econômico para todos. Para o pequeno produtor que perde cercas e

plantações de subsistência; para o grande pecuarista, que perde o investimento

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na reforma da pastagem; para o madeireiro que tem de ir cada vez mais longe

buscar florestas intactas; e para a sociedade em geral, que perde com os serviços

ambientais de controle climáticos e hídrico propiciados pelas grandes extensões

de florestas não degradadas.

As atividades produtivas estão concentradas e distribuídas ao longo dos

168 municípios que compõem o Arco do Desflorestamento. Concentram

atualmente atividades como extração mineral e garimpo clandestinos, pecuária

extensiva, avanço de monoculturas e agricultura de subsistência baseada em mão

de obra familiar e descapitalizada e uma infinidade de assentamentos rurais e

invasões organizadas por trabalhadores rurais sem terras. Outras áreas de risco

fora do arco do desflorestamento localizam-se na região de Santarém no oeste do

Pará.

Entre os efeitos de riscos associados à derrubada de grandes áreas da

florestas, destaca-se a modificação do ciclo hidrólogico, como a redução da

evapotranspiração real e o aumento do escoamento superficial da água,

provocando enchentes durante as chuvas e períodos de estiagem mais longos

durante os meses secos.

Estudos feitos pela EMBRAPA mostraram que a biomassa combustível é

mais alta na floresta aberta (180 t/ha) se comparada com outros tipos de

vegetação (cerca de 30 a 60 t/ha), com exceção dos materiais de alta combustão

(capim, liteira e ervas), encontrados em maior volume nas pastagens.

Na floresta densa, quase todo o processo de radiação solar ocorre no topo

das árvores entre 25 e 30m acima do solo. Assim, as temperaturas da camada

combustível são relativamente baixas e a umidade é geralmente elevada. Por isso,

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a taxa de evapotranspiração é baixa, e os combustíveis potenciais permanecem

úmidos.

Clima

Uma das maiores preocupações atuais dos cientistas na área de estudos

climáticos e ambientalistas do mundo todo é a manutenção do equilíbrio térmico

da atmosfera terrestre, gradativamente comprometido pelas atividades industriais

e pela queima em grande escala da biomassa da terra.

Os efeitos danosos ao ambiente gerados pelo dejeto de resíduos do

processo industrial gerado pelo desenvolvimento atingem vários bens ambientais,

entre eles o ar, mais precisamente a atmosfera. Só para citar já um destes

problemas, podemos mencionar o problema com o ozônio que é um dos gases

que existem na atmosfera. O ozônio impede a penetração livre e em grande

escala dos raios ultravioleta que fazem mal à vida animal. Entretanto a camada de

ozônio vem sofrendo diminuição em pelo crescimento de gases como o CFC

(clorofluorcarbono) e o dióxido de carbono CO2, ambos produzidos pelo homem,

aquele em laboratório e este como resultado da queima de combustíveis fósseis,

principalmente, os quais acabam consumindo o ozônio, criando uma espécie de

“buraco na atmosfera” conhecido como “buraco de ozônio”, por onde os raios

ultravioleta passam com alto grau de perigo para os seres vivos.

Pela ordem decrescente de limpeza, podemos salientar a utilização do gás,

do petróleo e do carvão como produtores de poluição atmosférica.

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Todos eles, entretanto, colaboram para três grandes problemas: o

aquecimento global, a poluição urbano-industrial do ar e a acidificação do meio

ambiente.

Classificação, fontes e fatores de poluição do ar

A poluição do ar é classificada em: poluição pelos detritos industriais;

poluição pelos pesticidas; e poluição radioativa. As fontes de poluição atmosférica

são: fixas (indústrias, hotéis, lavanderias, etc.); móveis (veículos automotores,

aviões, navios, trens, etc.).

Fatores que causam a poluição do ar:

Fatores naturais: são aqueles que têm causas nas forças da natureza,

como tempestades de areia, queimadas provocadas por raios e as atividades

vulcânicas;

Fatores artificiais: são aqueles causados pela atividade do homem, como a

emissão de combustíveis de automóveis, queima de combustíveis fósseis em

geral, materiais radioativos, queimadas, etc.

Além destes poluentes, dezenas de produtos químicos tóxicos são

encontrados ao redor das regiões urbanas, principalmente nos grandes centros

urbanos, ou grandes cidades, pois quanto maior a cidade mais diversidade de

atividades existe.

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A emissão excessiva de poluentes tem provocado sérios danos à saúde

como problemas respiratórios (bronquite crônica e asma), alergias, lesões

degenerativas no sistema nervoso ou em órgãos vitais e até câncer. Esses

distúrbios agravam-se pela ausência de ventos e no inverno com o fenômeno da

inversão térmica (ocorre quando uma camada de ar frio forma uma parede na

atmosfera que impede a passagem do ar quente e a dispersão dos poluentes).

Morreram em decorrência desse fenômeno cerca de 4.000 pessoas em Londres

no ano de 1952.

Os danos não se restringem à espécie humana. Toda a natureza é afetada.

A toxicidade do ar ocasiona a destruição de florestas, fortes chuvas que provocam

a erosão do solo e o entupimento dos rios.

No Brasil, dois exemplos de cidades totalmente poluídas são Cubatão e

São Paulo.

Os principais impactos ao meio ambiente são a redução da camada de

ozônio, o efeito estufa e a precipitação de chuva ácida.

Chuva ácida

A chuva será considerada ácida quando tiver um pH inferior a 5,0,

ocorrendo não apenas sob a forma de chuva, mas também como neve, geada ou

neblina.

Decorre da queimada de combustíveis fósseis, produzindo gás carbônico,

formas oxidadas de carbono, nitrogênio e enxofre. Outro componente da chuva

ácida é o ácido nítrico gerado dos óxidos de nitrogênio nas emissões de

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combustão fóssil. A chuva ácida pode ser conduzida pelos ventos a centenas de

quilômetros atingindo florestas, cidades e campos longe de onde foi produzidos

seus agentes poluidores. Esses gases, quando liberados para a atmosfera, podem

ser tóxicos para os organismos. O dióxido de enxofre provoca a chuva ácida

quando se combina com a água presente na atmosfera, sob a forma de vapor. As

gotículas de ácido sulfúrico resultantes dessa combinação geram sérios danos às

áreas atingidas. Além dos sérios danos ao meio ambiente natural, as chuvas

ácidas também constituem séria ameaça ao patrimônio cultural da humanidade,

corroendo as obras talhadas em mármore, que por ser uma rocha calcária,

dissolve-se sob a ação de substâncias ácidas.

Efeito estufa

É o aumento da temperatura média da Terra, que ocorre pelo aumento

considerável na concentração de gás carbônico na atmosfera, provocado

principalmente pela queima de combustíveis fósseis e desmatamentos, formando

assim uma espécie de “coberta” sobre a Terra impedindo a expansão do calor. O

crescente aumento do teor do gás carbônico na atmosfera faz com que a

temperatura da Terra esteja em constante crescimento, o que pode ocasionar

grandes distúrbios climáticos. Os gases metano (CH4), clorofluorcarbonetos

(CFCs), ozônio e óxido nitroso (N2O) também contribuem para o aquecimento

global.

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Diminuição da camada de ozônio

O ozônio está presente na troposfera, que é a camada da atmosfera em

que vivemos, e também em zonas mais altas da estratosfera, entre 12 e 50 km de

altitude, onde está em maior concentração, que é conhecida como “camada de

ozônio”, tendo como função proteger o planeta da incidência direta de grande

parte dos raios ultravioleta, que é um dos componentes da radiação solar.

Conseqüências principais: com a diminuição dessa camada de ozônio, os

raios ultravioleta atingem a Terra de forma mais brusca, provocando graves

doenças no ser humano, como câncer de pele, distúrbios cardíacos e pulmonares,

queimaduras, problemas de visão etc., gerados principalmente pela radiação

ultravioleta UV-B, a mais prejudicial ao homem. O ambiente também é diretamente

atingido pelas modificações na cadeia alimentar, visto que certas espécies de

animais e plantas são extremamente sensíveis a essa radiação, como os anfíbios

anuros (sapos, rãs e pererecas). Além disso, a destruição desta camada de ozônio

pode contribuir com o derretimento de parte do gelo da calota polar, causando o

superaquecimento do planeta.

Causas: uma das grandes causas da diminuição da camada de ozônio tem

sido a liberação de compostos químicos industriais na atmosfera, denominados de

CFCs (clorofluorcarbonos), que são gases não tóxicos, inodoros e quimicamente

inertes. São usados em grande escala como agente refrigerador de geladeiras e

aparelhos de ar condicionado, na manufatura de espumas de plástico e

principalmente como propelente de sprays enlatados, e sua inércia química torna-

os capazes de atingir grandes altitudes sem se modificar, até alcançar a

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estratosfera, onde a radiação ultravioleta provinda do Sol provoca a sua quebra. O

cloro é liberado, reagindo com o ozônio, e desmembrando-o em uma molécula e

um átomo de oxigênio. Curiosidade: a palavra ozônio vem do grego ozein que

quer dizer mau cheiro.

Névoa densa

A névoa densa é um fenômeno climático originado pela concentração de

uma variedade de produtos químicos, em especial o ozônio e o nitrato peroxiacetil

(NPA) e é formada quando a fonte de luz do Sol age sobre a mistura de óxidos

nitrogenados e compostos orgânicos voláteis. Este fenômeno, produzidos

principalmente pelos carros e caminhões, vem ocorrendo em cidades como

México e São Paulo.

Seqüestro de carbono

O sistema de diminuição de poluição atmosférica conhecido como

“seqüestro biológico” ou “sumidouros de carbono” está na pauta das discussões

planetárias sobre poluição climática, principalmente nos encontros sobre o

Protocolo de Kyoto.

Este sistema funciona da seguinte forma:

1 - A planta ao fazer a fotossíntese, que é o resultado da transformação da

energia solar em energia química, absorve dióxido de carbono (CO2).

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2 - O carbono fixa-se nas raízes, caule e folhas da planta - em sua biomassa - e

neste processo libera o oxigênio no ar.

3 - As florestas em fase de crescimento, como as florestas tropicais, acabam

absorvendo grandes quantidades de CO2 , formando assim “sumidouros” ou

“ralos” de carbono, contribuindo para absorver da atmosfera este gás poluidor

emitido pela queima de combustíveis fósseis (fábricas, veículos etc).

A questão climática tornou-se uma dos mais importantes e discutidos temas

na atualidade, trazendo à mesa de negociação planetária os mais iminentes

cientistas, autoridades e ambientalistas. Longe de se resolver toda a problemática

da poluição climática, estamos a caminho de conseguir encontrar meios de

diminuir os riscos que nós mesmos produzimos. São infindáveis estudos, projetos

e programas que visam encontrar saídas para evitar o caos que se anuncia.

Somente com o conhecimento científico dos processos de poluição, vontade

política de resolver o problema, educação ambiental, legislação forte e muitos

projetos e programas efetivamente colocados em prática é que poderemos ter a

esperança de conseguirmos ter um planeta com um meio ambiente sadio e

passível de manter a vida global equilibrada.

QUEIMADAS URBANAS: a grande ameaça malcheirosa

Às vezes pensamos que o ato de nos livrarmos de problemas cotidianos,

como o constante acúmulo de lixo em terrenos abandonados, o aumento do nível

do mato e até mesmo a indesejada presença de animais e insetos nestes mesmos

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locais, pode tornar-se algo simples e erroneamente "prático". A atitude que muitos

desavisados tomam geralmente, além de atrapalhar e desagradar sua

comunidade, ainda pode causar efeitos danosos e irreversíveis ao meio-ambiente,

como por exemplo as tão conhecidas queimadas que, nesta época do ano são

facilmente notadas ao cruzarmos as ruas de nossas amadas cidades.

Além do risco de haver materiais tóxicos depositados no local do incêndio

(restos de pilhas, produtos para a limpeza do lar, baterias etc.) que, quando

queimados eliminam substâncias prejudiciais tanto ao meio-ambiente quanto à

sua saúde - variando de intoxicações "comuns" até fatores que ajudam na

formação de diversos tipos de câncer -, as queimadas ainda influenciam muito

para a destruição da frágil camada de ozônio (a única defesa que possuímos

contra a poderosa radiação solar) de nosso planeta doente. Isso sem contar que

você estará sendo o responsável direto pelo desequilíbrio de toda uma cadeia

alimentar, que deve ter seu ciclo completo, com início, meio e fim. A terra fica

completamente improdutiva, o ar fica com um odor desagradável e você ainda

corre o risco de provocar um incedente mais grave (comece a pensar nas crianças

e nos animais de sua vizinhança, nos fios elétricos que o fogo pode alcançar, nas

casas vizinhas ao terreno, em pessoas que sofrem de problemas respiratórios).

Lembre-se: você é capaz de começar um incêndio, mas dificilmente poderá

controlá-lo.

Existem outras maneiras mais inteligentes e eficazes - digamos assim - de

acabarmos com o problema dos terrenos. Veja algumas opções que listamos para

você, possivelmente, seguir:

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1. Primeiramente, antes de você tomar qualquer decisão a respeito do que

executar na área indesejada, seja incendiar, limpar ou capinar, tente entrar em

contato com o proprietário do local (através de imobiliárias, corretoras etc.) e

discuta uma maneira permanente e, é claro, consciente de eliminar o incômodo.

2. É dever do Governo (no caso, o Município) assegurar a saúde e o bem-estar

dos cidadãos, isso inclui o zelo permanente pelo tratamento de locais

abandonados, como os terrenos. Busque seus direitos!

3. Porém se você preferir não entrar em contato nem com os órgão públicos nem

com o responsável pelo local e já começar a agir - o que não é recomendável -

pense em soluções criativas e saudáveis (tanto para você e sua família quanto

para o mundo). Use a imaginação! Comece a capinar o terreno e plante mudas de

árvores de pequeno porte, plante algum tipo de fruta ou hortaliça, ou então, se

você gosta de esportes capine um pouco, faça um gramado e monte um pequeno

campo para você jogar bola. Não importa o que faça, pense num modo de

coexistir pacificamente com a natureza. Basta a agressão, a violência, a poluição!

4. Depois de ter tomado uma atitude digna passe sua idéia para frente: não deixe-

a ser estagnada, esquecida. Não guarde as boas conquistas para você, acabe

com o medo de mostrar algo de novo e bom ao mundo! Ensine! Eduque!

Evite jogar qualquer tipo de lixo (inclui pontas de cigarro, latas vazias,

pneus, embalagens plásticas, vidro, materiais inflamáveis, produtos para limpeza

em geral, frascos de inseticidas etc.) em terrenos vazios, pois além de acumular

substâncias agressivas à saúde, você pode colaborar com a proliferação de

insetos que causam doenças graves (por exemplo o causador da dengue, o Aedes

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aegypt) e lugar de lixo é no lixo, ou melhor, você já deve saber disso. Seja

consciente e dê o exemplo.

O Mundo também depende muito de seus atos. Respeite a vida.

QUEIMADAS EM SÃO CARLOS

As queimadas na cidade de São Carlos apresentaram durante os meses de

abril a setembro de 2001 e de abril a agosto de 2002 números alarmantes de

ocorrências. No mês de agosto de 2001 esses números chegaram quase a 100,

com média de aproximadamente 3,16 casos diários; em 2002 chegaram a ser

registrados 92 ocorrências de incêndios na zona rural e no bairro Santa Felícia

foram detectados 16 ocorrências no mesmo período. As causas desses incêndios

são as mais variadas possíveis indo desde intencional (como limpeza de terrenos,

vândalos, propagação de outro incêndio, até mesmo "coisa de criança", etc) aos

acidentais (bitucas de cigarros jogadas em terrenos, raios, etc) e podem causar

estragos irreparáveis a longo prazo, como problemas respiratórios gerais e até

mesmo em alguns casos levando a morte pessoas expostas ao fogo.

As figuras 1 e 2 apresentam as ocorrências de chuvas na cidade de São

Carlos nos anos de 2001 e 2002. Nota-se claramente que os meses de abril a

setembro são os mais críticos e susceptíveis às queimadas pelo baixo volume de

águas nessa época, o que corresponde também aos meses com maior incidência

de incêndios urbanos e rurais.

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Chuvas em São Carlos em 2001

350
300
250
200 Total
mm

Máxima
150
100
50
0 AI
R
AR

EZ
V
L
V

T
N

T
JU

SE

O
FE

AB

JU
JA

AG
M

D
M

N
Meses

Figura 1: Incidência de chuvas em São Carlos no ano de 2001.

Chuvas em São Carlos em 2002

450
400
350
300
250 Total
mm

Máxima
200
150
100
50
0
AI
R
AR

EZ
V
L
V

T
N

T
JU

SE

O
FE

AB

JU
JA

AG
M

D
M

Meses

Figura 2: Incidência de chuvas em São Carlos no ano de 2002.

Laboratório de Química Ambiental 20


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 21

As figuras 3, 4 e 5 apresentam os números de ocorrências ao longo dos

meses citados nos anos de 2001 e 2002.

Número de Ocorrências ao Longo


do Tempo

100

80
Ocorrências

60

40

20

o
o

o
ril

to
lh
nh

br
ai
Ab

os
Ju
M

m
Ju

Ag

te
Se
Figura 3: Número de ocorrências ao longo dos meses de abril a setembro de

2001.

Número de Ocorrências ao Longo do


Tempo

160
140
120
Ocorrências

100
80
60
40
20
0
Abril Maio Junho Julho Agosto

Figura 4: Número de ocorrências ao longo dos meses de abril a agosto de 2002.

Laboratório de Química Ambiental 21


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 22

Número de Ocorrências ao Longo do Tempo

160
140
120

Ocorrências 100
80
60
40
20
0
Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro

Figura 5: Número de ocorrências ao longo dos meses de abril a setembro de

2003.

Os locais onde ocorreram mais queimadas em 2001 foram a zona rural (70

casos) Santa Felícia (15 casos) e Jardim Paulistano (10 casos). No ano de 2002

as maiores incidências de ocorrências se repetiram para a zona rural e o Bairro

Santa Felícia, porém houve um aumento significativo de incêndios no Centro da

cidade.

As figuras 6, 7 e 8 apresentam os 12 locais da cidade de São Carlos com

os maiores números de ocorrências de queimadas nos anos de 2001, 2002 e

2003.

Laboratório de Química Ambiental 22


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 23

Queimadas nos Bairros de São Carlos

Rural
70
Centro
60 Cidade Aracy
Cidade Aracy II
50
Jd. Azulvile
40 Jd.Botafogo
Jd.Cardinali
30
Jd.Paulistano
20 Jd.Tangará
Pq.Faber
10
Planalto Paraíso
0 Sta.Felícia
Ocorrências

Figura 6: 12 bairros da cidade de São Carlos com as maiores incidências de

queimadas em 2001.

Queimadas nos Bairros de São Carlos

Rural
100
Centro
90
Jd.Tangará
80
Sta.Felícia
70 Vila Nery
60 Vila Prado
50 Jd.Botafogo
40 J.Clube
30 Sta.Mônica
Jd.Centenário
20
Jd.Bandeirantes
10
Jd.Cardinali
0

Figura 7: 12 bairros da cidade de São Carlos com as maiores incidências de

queimadas em 2002.

Laboratório de Química Ambiental 23


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 24

Queimadas nos Bairros de São Carlos


100
Área Rural
90
Cidade Aracy
80 Vila Nery
70 Centro
Santa Felícia
60
Cidade Jardim
50
Jardim Botafogo
40 Jardim Tangará

30 Jardim Azulville
Jardim Maracanã
20
Nova Estância
10 Jardim Cardinalli
0 Jardim Itamarati

Figura 8: 13 bairros da cidade de São Carlos com as maiores incidências de

queimadas em 2003.

A tabela 1 apresenta a relação de efeitos na saúde com o aumento de

material particulado suspenso no ar. Pode ser observado que um acréscimo de

10µg/m3 de material particulado gera um aumento de cerca de 3% em distúrbios

respiratórios.

Laboratório de Química Ambiental 24


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 25

Tabela 1: Relação de efeitos na saúde com o aumento de material particulado no

ar.

Efeito considerado % de aumento do efeito por acréscimo

de 10 µg/m³ de material particulado

Admissões hospitalares 0,8%

Visitas à emergências 1,0%

Internações de asmáticos 1,9%

Asmáticos – visitas à urgência 3,4%

Aumento nas crises 3%

Aumento no uso de broncodilatadores 3%

Aumento dos sintomas respiratórios baixos 3%

Aumento nas tosses 2,5%

TECNOLOGIAS PARA REDUZIR A PRÁTICA DAS QUEIMADAS

O fogo é amplamente utilizado na agricultura brasileira. Na história da

pecuária nacional, é prática comum, na região dos Cerrados e da Amazônia Legal,

a utilização de queimadas das áreas com pastagens, visando a renovação ou

recuperação da pastagem, a eliminação de plantas daninhas e adição de

nutrientes ao solo, oriundos do material vegetal queimado. À primeira vista, a

pastagem rebrotada surge com mais força e melhor aparência do que a

Laboratório de Química Ambiental 25


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 26

inicialmente existente. Entretanto, ao longo dos anos, essa prática provoca

degradação físico-química e biológica do solo, e traz prejuízos ao meio ambiente.

A prática da queimada obriga o produtor a reduzir a lotação animal, pela

diminuição da capacidade produtiva das forrageiras, como conseqüência da

desnutrição vegetal e das más condições do solo (especialmente a compactação)

para o crescimento das raízes. A forrageira, neste tipo de exploração, além de

apresentar sistema radicular pouco desenvolvido e com baixas reservas de

carboidratos, perfilha pouco e fixa CO2 ineficientemente, prejudicado pelo reduzido

tamanho de sua folha e pela desnutrição.

Por outro lado, o superpastejo permanente pode reduzir o número de

plantas da pastagem, descobrindo o solo e contribuindo para a sua compactação

e para a redução da capacidade de infiltração de água, a qual passa a escorrer

pela superfície, arrastando os nutrientes e as partículas superficiais do solo. Isso

aumenta o estado de degradação da pastagem. Os solos dos Cerrados e da

Amazônia Legal, em sua maioria, são susceptíveis à erosão e com baixa

fertilidade.

Diante dessa situação, os produtores precisam usar sistemas de produção

adequados para manter a capacidade produtiva dos solos e sua competitividade,

dentro de um mercado globalizado.

Como se originam as queimadas? Tudo indica que suas causas são

essencialmente agrícolas e, em geral, as queimadas ocorrem em áreas já

desmatadas. Assim, perante a opinião pública e a imprensa, o produtor rural é o

vilão das queimadas. O controle do fogo e a diminuição das queimadas merecem

uma atenção especial, devido aos impactos negativos que provocam sobre o meio

Laboratório de Química Ambiental 26


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 27

ambiente, como poluição, problemas na saúde, prejuízos em redes de eletrificação

e em cercas, e queima de áreas não previstas, devido ao fogo fora de controle,

causando enormes prejuízos a vizinhos e reservas ecológicas.

O fogo não deixa de ser um instrumento de manejo, mas o Ministério da

Agricultura e do Abastecimento engajou-se, de forma proativa, na redução das

queimadas no Brasil. A queima apresenta aspectos positivos, mas pode ser

substituída, com vantagens, pelo uso de tecnologias alternativas. A Embrapa

dispõe de várias tecnologias que, se devidamente usadas, e com apoio

governamental, podem reduzir de forma expressiva a prática das queimadas como

instrumento de manejo, trazendo benefícios ao meio ambiente e à sociedade.

1) Tecnologias para reduzir queimadas em sistemas de pastagens nativas e

cultivadas

As pastagens, tanto nativas como cultivadas, têm seu crescimento

influenciado pelas condições climáticas de calor, na Região Sul e de chuva, nas

demais regiões, especialmente Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Em ambas, as

queimadas visam à eliminação de macegas que se acumulam no campo, ao longo

dos anos, o que reduz o consumo e provoca o pastejo não uniforme pelos

animais. Nas áreas nativas, a queima estimula a remineralização da biomassa e a

transferência de nutrientes minerais para a superfície do solo, sob a forma de

cinzas, constituídas por óxidos de cálcio, potássio, magnésio e outros elementos

minerais. Como conseqüência, ocorre o aumento imediato da produção da

Laboratório de Química Ambiental 27


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 28

forragem, mas ela decresce nos anos posteriores, principalmente quando a

queima é anual e realizada na mesma área.

Em pastagens cultivadas, a queima é uma prática indesejável, pois a sua

produção deve ser transformada em carne, leite e lã, e o fogo pode, inclusive,

eliminar as forrageiras leguminosas.

A melhor forma de utilizar a massa produzida pelas forrageiras é através do

manejo, com animais. Em geral, o manejo deve ser feito de forma a acumular

matéria seca nos períodos críticos do inverno, no Sul, e da seca, nas demais

regiões. É preciso planejar as sobras para utilização no período crítico, uma vez

que o consumo dos animais é menor e essas sobras têm menor valor nutricional.

Aqui estão algumas soluções que, além de evitar o fogo, podem aumentar o

desfrute do rebanho e a renda do produtor.

Uso da uréia pecuária

Para que essa tecnologia dê resultado, é fundamental dispor de pastagens

com boa disponibilidade de forragem, ou seja, bastante pasto seco. Ela é bastante

simples e de baixo custo, consistindo em misturar a uréia pecuária com o sal

mineral. Essa mistura tem por objetivo fornecer a proteína de que o animal precisa

e não encontra na pastagem seca, cujo teor protéico é baixo. O uso da uréia

pecuária no sal estimula o animal a aumentar o consumo de forragem.

Com esse manejo, os animais podem ter algum ganho de peso, mas

seguramente, se eles perderem peso, será muito menos do que sem o uso da

uréia pecuária. Além disso, se os animais consomem maior quantidade de

Laboratório de Química Ambiental 28


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 29

forragem na estação seca, menos ficará de sobra, e o pasto não mais precisará

ser queimado para eliminar o excesso de material morto.

O uso da uréia pecuária deve ser feito quando o pasto floresce e começa a

secar. Isso acontece a partir de maio/junho, nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-

Oeste. Na Região Nordeste, a partir de julho e, na região Norte, a partir de

agosto/setembro. Nesse momento, e sem esperar que os animais comecem a

perder peso, inicia-se o fornecimento de uréia pecuária no sal mineral, da seguinte

forma:

♦ na primeira semana, deve-se misturar 9 kg de sal mineral com 1 kg de uréia

pecuária;

♦ na segunda semana, 8 kg de sal mineral e 2 kg de uréia pecuária;

♦ na terceira semana, 7 kg de sal mineral e 3 kg de uréia pecuária;

♦ na quarta semana, 6 kg de sal mineral e 4 kg de uréia pecuária.

Cuidados com a mistura: Consumida em quantidade excessiva, a uréia

pecuária é tóxica para os animais, daí a necessidade de misturar bem os dois

ingredientes. O composto de sal mineral e uréia pecuária deve ser fornecido de

forma contínua, sem interrupção, até o início das chuvas. É preciso evitar o

fornecimento da mistura com uréia pecuária a animais famintos e cuidar para que

a água não se acumule no cocho, pois a uréia pecuária molhada se transforma

rapidamente em compostos tóxicos aos animais. O sintoma da intoxicação é o

empanzinamento, que é tratado com vinagre ou suco de limão, fornecido goela

abaixo.

Laboratório de Química Ambiental 29


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 30

Ao usar essa tecnologia, o produtor vai observar que, graças ao maior

apetite do gado, não é mais necessário usar o fogo para eliminar a macega das

pastagens nativas, ou a massa seca não consumida das pastagens cultivadas.

Assim, o produtor melhora a produção e contribui para conservar o meio ambiente,

tornando sua atividade sustentável.

Recuperação de pastagens degradadas

Nas últimas décadas, grande parte das florestas da Amazônia brasileira

destinou-se a implantação de pastagens para criação de gado de corte. Em

função de transformações ocorridas no solo, do uso de germoplasma inadequado,

de falhas no estabelecimento, da pressão biótica e de problemas de manejo da

pastagem, esses pastos dificilmente mantêm a sua produtividade inicial, depois de

oito anos.

As operações de recuperação podem incluir o uso de implementos

agrícolas no preparo do solo, adubação e plantio de forrageiras geneticamente

selecionadas. Na fase de estabelecimento são necessários o controle de

invasoras e pragas, além da cautela nos primeiros pastejos.

A integração da pastagem com cultivos anuais pode cobrir parte dos custos

de recuperação e, com plantio de espécies perenes, pode-se tornar a exploração

mais sustentável. Contudo, substanciais melhorias nos manejos da pastagem e do

rebanho são necessárias para maximizar os resultados da recuperação.

Laboratório de Química Ambiental 30


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 31

2) Tecnologias para Reduzir Queimadas em Sistema de Lavoura/Pecuária

O desenvolvimento da agricultura e sua intensificação trouxe novos

conhecimentos que, aos poucos, foram sendo utilizados pelo produtor. Fazem

parte desse contexto a formação de pastagens, via agricultura, a utilização de

restos de lavoura e a necessidade da palhada para o plantio direto; em suma, a

integração das atividades de lavoura e pecuária, que, na realidade, são

complementares. Essa integração traz muitos benefícios, entre os quais, a

diminuição do uso do fogo para eliminar restos culturais e a melhoria do estado e

da capacidade das pastagens, substituindo outras degradadas e/ou infestadas por

invasoras.

Recuperação de pastagens pelo consórcio grão-pasto (Sistema Barreirão)

Para manter a capacidade produtiva dos solos e sua competitividade,

dentro de um mercado globalizado, os produtores precisam usar sistemas de

produção adequados. Para tanto, o plantio do pasto consorciado com grãos,

conhecido como "Sistema Barreirão", tem-se mostrado técnica e economicamente

eficiente, como método de reforma de pastagens. Ele oferece capacidade de

suporte animal superior e, simultaneamente, produz grãos com produtividade e

qualidade.

Os benefícios da pecuária para a agricultura prendem-se ao fato de que as

plantas forrageiras, utilizadas para as pastagens, produzem densa vegetação e

grande quantidade de massa seca que recobre o solo. Têm, ainda, a capacidade

Laboratório de Química Ambiental 31


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 32

de melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, aumentando a

eficiência da adubação química, contribuindo positivamente para a

sustentabilidade agrícola. Essas plantas apresentam raízes profundas e absorvem

nutrientes que normalmente se perderiam por lixiviação e/ou percolação. Os

nutrientes absorvidos pelo sistema radicular são transferidos para os tecidos

vegetais, e consumidos pelos animais sob pastejo. Assim, eles retornam, em

parte, para o solo, por meio dos dejetos dos animais. É possível afirmar que se,

por um lado, a agricultura eleva os teores dos nutrientes na camada arável, pela

sua maior exigência em nutrientes, por sua vez, as pastagens proporcionam

melhoria nas propriedades físicas, diminuindo a densidade do solo, aumentando a

macroporosidade e a capacidade de infiltração de água. Por meio da agricultura,

torna-se mais fácil a recuperação ou a renovação da pastagem, pois ela possibilita

a produção de grãos, em curto espaço de tempo. Além disso, a formação da

pastagem após a agricultura é rápida e a custos menores, o que torna esta prática

sustentável, dos pontos de vista econômico e ambiental.

Nesse sistema, são fundamentais a correção da acidez do solo, a adubação

correta e a escolha das cultivares/variedades que melhor se adeqüem ao sistema

e sejam recomendadas para a região. As culturas mais utilizadas são o milho,

arroz, sorgo e milheto. Quando se usa arroz de sequeiro, é preciso diminuir o

espaçamento para 30 a 45 cm, e aumentar a densidade de sementes na linha. Isto

porque o arroz é menos competitivo do que as outras culturas mencionadas. O

milho, sorgo e milheto são plantados de acordo com as recomendações

convencionais.

Laboratório de Química Ambiental 32


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 33

As forrageiras mais utilizadas são as braquiárias, o Andropogon e os

Panicum. Por ser mais econômica, a semeadura é feita simultaneamente. A

Braquiária é semeada na fileira da cultura, e o Andropogon e o Panicum

semeados a lanço. A densidade das forrageiras não deve ser alta, pois elas

competem com as culturas e diminuem a produção de grãos. A densidade ideal

deve ser de 4 a 6 plantas, por metro quadrado.

As braquiárias devem ser misturadas com o adubo, no momento em que se

vai plantar. A mistura não deve ser feita com antecedência, pois o adubo prejudica

a germinação. É preciso, também, evitar a guarda das misturas, por muitos dias.

As médias de rendimento, por hectare de arroz de sequeiro e milho, em

áreas onde o "Sistema Barreirão" foi testado, foram de 33,5 sacos de arroz e 61,5

sacos de milho. A relação custo/benefício para arroz varia de 0,83 a 1,27, ou seja,

para cada R$100,00 gastos no sistema, o produtor recupera de R$83,00 a

R$127,00. No caso do milho, a relação custo/benefício varia de R$0,80 a R$1,06.

Essa relação considera apenas a produção de grãos. Não está contado o

benefício ao solo, principalmente a adubação e o desfrute das pastagens

recuperadas, expresso em maior produção de carne.

Entre os benefícios ecológicos obtidos com o Sistema Barreirão, podem ser

citados: melhor cobertura, menor desgaste do solo e maior oferta de alimentos à

fauna herbívora; redução da necessidade de abertura de novas áreas,

particularmente na Amazônia, por questões eminentemente econômicas; redução

do assoreamento dos rios e das várzeas, devido à maior infiltração de água no

solo, menor erosão, maior estabilidade na altura da água dos rios e aos menores

riscos de enchentes, nos centros urbanos; aumento do volume de água de melhor

Laboratório de Química Ambiental 33


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 34

qualidade, no lençol freático; redução no uso de defensivos, para o controle de

invasoras perenes e de cupinzeiros de monte.

Manejo da palhada

A integração do sistema lavoura/pecuária cresceu muito, nos últimos anos,

especialmente em regiões onde ocorre um período seco prolongado, durante o

ano. As vantagens acontecem nos dois sentidos, tanto para a lavoura como para a

pecuária. A exploração tecnificada da agricultura produz uma quantidade maior de

resíduos, o que, muitas vezes, se torna um problema para o plantio seguinte.

A integração com a pecuária vem resolver esse problema. O gado consome

os restos de várias culturas, especialmente, de milho, arroz, soja e sorgo. O

sistema é simples, e outras tecnologias podem ser agregadas ao uso das

palhadas, como o uso de cercas elétricas, em áreas não cercadas; o uso da uréia

pecuária ou da mistura múltipla, para tornar o consumo da palhada mais efetivo, e

o uso de categorias animais menos exigentes, como vacas secas.

Outra alternativa para quem possui equipamentos de fazer feno é enfardar

os restos culturais. Os fardos podem ser empilhados na própria lavoura, ou então

ser transportados e empilhados nos pastos onde serão consumidos pelos animais.

Esses procedimentos em relação aos restos culturais, além dos benefícios para o

gado, contribuem para diminuir o uso do fogo como instrumento de manejo,

proporcionando um sistema de exploração sustentável e benéfico ao meio

ambiente e à sociedade.

Laboratório de Química Ambiental 34


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 35

Para o sistema plantio direto, a palha é fundamental. Quando esse sistema

é utilizado, a palhada não deve ser utilizada pelos animais, e os cuidados para que

não queime, no período seco, devem ser redobrados.

Plantio Direto

O plantio direto é a tecnologia que mais está crescendo no País (mais de 8

milhões de hectares em 1999), e consiste em plantar as lavouras, sem fazer o

revolvimento ou preparo do solo, como tradicionalmente se faz, e com a presença

de cobertura morta ou palha.

Os requisitos básicos para fazer plantio direto são: 1 - solo devidamente

corrigido; 2 - presença de palha ou plantas que servem de cobertura morta; 3 -

máquinas apropriadas para esse sistema, as quais podem ser manuais (matraca),

de tração animal, ou de tração mecânica.

Por que os solos devem estar corrigidos? A maioria dos solos brasileiros é

ácida, com baixos teores de cálcio e magnésio, e com presença de alumínio

tóxico. Esses fatores impedem ou limitam que a cultura expresse o seu potencial

de produção, por isso, é importante corrigir a acidez do solo usando calcário, que

deve ser espalhado e incorporado, pelo menos nos primeiros 20 cm do solo.

Em seguida, vem a correção da fertilidade do solo, que pode ser feita ao

longo dos anos. A correção da acidez e da fertilidade favorece o desenvolvimento

das raízes, e as culturas têm condições de produzir mais e com maior segurança.

Por isso, o plantio direto, em solos já trabalhados na forma convencional, tem

apresentado produtividades superiores aos cultivos convencionais.

Laboratório de Química Ambiental 35


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 36

Por que é preciso ter palha para o plantio direto? A palha, ou palhada,

representa a essência do plantio direto e contribui para: diminuir a erosão do solo;

aumentar a infiltração da água no solo, com menos escorrimento superficial,

amenizando as enchentes; manter a umidade do solo, reduzindo a evaporação;

proteger o solo da ação direta dos raios do sol; estabilizar a temperatura do solo;

reciclar a matéria orgânica; ajudar no controle de plantas invasoras, fator decisivo

para o sucesso do plantio direto.

As culturas que mais produzem palha são as gramíneas: milho, sorgo,

milheto, arroz, aveia, trigo, centeio e as forrageiras. Algumas são plantadas com

esse fim específico, como a aveia e o milheto. Outras espécies também são

usadas com a finalidade de produzir palha ou cobertura morta, como os adubos

verdes (crotalária, nabo-forrageiro, mucuna, guandu).

Atendidas essas duas condições, é preciso ter as máquinas que foram

desenvolvidas para fazer plantio direto. Muito progresso já foi feito na fabricação

dessas máquinas, quer de tração animal, quer de tração mecânica.

O plantio direto também pode ser usado na integração lavoura/pecuária.

Um exemplo é a rotação de soja com pastagens, como o capim Tanzânia. Antes

do período das chuvas, faz-se a roçagem do pasto. Após quatro semanas, aplica-

se o dessecante (herbicida). Após três semanas, é feito o plantio direto da soja.

Depois da colheita da soja, planta-se, como cultura de safrinha, o sorgo ou

milheto. Plantar a soja por dois, três ou quatro anos, de acordo com a rotação das

glebas da propriedade. No último ano da lavoura, faz-se a sobressemeadura do

capim, sem revolvimento do solo.

Laboratório de Química Ambiental 36


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 37

O plantio direto é uma tecnologia simples, de custo menor, mas envolve

uma série de componentes, entre os quais o principal fator é a mudança de

comportamento do produtor, tanto na forma de pensar, como na forma de agir. O

produtor passa a ter maior preocupação com o meio ambiente e a sua

propriedade, desenvolvendo uma agricultura sustentável, ou seja, com alta

produtividade, economicamente viável, e melhorando sua qualidade de vida, num

meio ambiente ecologicamente equilibrado.

O plantio direto apresenta muitas vantagens:

♦ maior efetividade no controle à erosão e à poluição dos rios e das represas;

♦ maior infiltração da água no solo, recarregando o lençol freático;

♦ controle de enchentes;

♦ reduz a poluição dos cursos de água;

♦ favorece a estabilidade da produção, em condições de clima irregular, devido à

maior resistência das culturas aos períodos de deficiência hídrica;

♦ favorece a retomada do plantio, após a chuva, e sua continuação por mais

dias, após a interrupção da chuva;

♦ reduz a queima das palhadas, pois a palha é fundamental para o sistema

plantio direto;

♦ reduz os custos de produção da agricultura, em até 13,8% menos do que a do

sistema convencional;

♦ reduz a migração da população rural, especialmente dos agricultores

familiares, para as cidades.

Laboratório de Química Ambiental 37


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 38

Ao tornar a agricultura sustentável, o plantio direto traz benefícios ao meio

ambiente como um todo, tanto o rural como o urbano.

3) Tecnologias para Reduzir Queimadas em Sistemas de Agricultura Familiar

A agricultura familiar brasileira, de maneira geral, depende mais da solução

de problemas estruturais do que de novas tecnologias. Entre esses múltiplos

problemas, três são cardeais: educação, organização e energia elétrica. Não há

nenhuma comunidade rural, que tenha tido algum tipo de sucesso agro-sócio-

econômico e ambiental, que não tenha, antes, resolvido a questão educacional

dos filhos e dos adultos. Como o tamanho do negócio de cada produtor é

relativamente pequeno, torna-se difícil competir com os grandes, em que

predominam escalas econômicas de produção viáveis. A organização econômica

da produção é o único caminho para a sobrevivência produtiva, seguida da

energia elétrica, através da qual é possível entrar em contato com o mundo

globalizado, processar produtos primários, armazenar excedentes, receber

informações tecnológicas do ambiente externo, auferir mais conforto e uma

qualidade de vida mais próxima da dos urbanos.

A prática da queimada na agricultura é de responsabilidade do pequeno e

do grande agricultor. Como os pequenos são mais numerosos, recai sobre eles a

culpa pelo maior número de focos de incêndio.

O agricultor familiar, objeto dessa campanha, é tido como um produtor

familiar de transição e periférico, responsável pela prática intensa das queimadas.

Ele se caracteriza por ter pouca terra, praticar agricultura e pecuária, cultivar de 5

Laboratório de Química Ambiental 38


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 39

a 20 produtos, ter como fator de produção principal a mão-de-obra da família, usar

pouca assistência técnica, usar tecnologia tradicional e defasada, ter baixa

produtividade e praticar uma agricultura de pousio.

Para esse segmento, que na região amazônica engloba 600 mil

estabelecimentos agropecuários, as recomendações básicas são diversificar e

intensificar a produção. Como os agricultores familiares têm sistemas de cultivo

multivariados, fazendo as mais diversas combinações de produtos, em consórcios

os mais variados, que mudam de agricultor para agricultor, e de região para

região, torna-se impraticável falar de cada uma das tecnologias a serem aplicadas

por todos eles. A partir de orientações básicas, os técnicos multiplicadores,

orientarão os produtores sobre cada sistema de produção, em particular. Caso

necessitem de informações técnicas específicas, poderão buscá-las nos diversos

centros da Embrapa, na Emater local e em instituições outras, privadas ou não,

afins nesse negócio.

Aliados a essas orientações básicas, dois instrumentos tecnológicos,

desenvolvidos pela Embrapa, são de extrema utilidade no desenvolvimento da

pequena agricultura: os Zoneamentos Agroecológicos e o Plano de

Desenvolvimento Agrícola Municipal (PDAM).

Diversificação da produção

Para minimizar os riscos e garantir a sustentabilidade do seu agronegócio,

o produtor familiar tem dois caminhos a seguir: 1) especializar-se com um produto

muito tecnificado, com alto valor agregado e garantia de mercado; 2) diversificar

Laboratório de Química Ambiental 39


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 40

sua produção, procurando aproveitar as oportunidades de mercado, com as

possibilidades da oferta ambiental dos recursos naturais disponíveis em sua

propriedade.

Em ambas as situações, produzir é fácil. Produzir com qualidade é difícil.

Produzir com qualidade e comercializar é complicado. Produzir com qualidade,

comercializar e ganhar dinheiro é profissionalismo. Produzir com qualidade,

comercializar, ser competitivo, ganhar dinheiro e melhorar a qualidade de vida, é

um privilégio de poucos.

Por isso, é difícil ser um agricultor sustentável. Além das questões

estruturais da educação, organização e energia elétrica, duas outras são

determinantes para o sucesso do empreendimento: capacidade gerencial do

negócio e conhecimento do mercado. Gerência, entendida no sentido mais amplo:

organização do empreendimento, controle de qualidade, custo de produção e

preço competitivo. Já o mercado pode determinar o fracasso ou sucesso de um

empreendimento. Aqueles que iniciam o negócio pelo mercado, e não pela

produção, têm mais chance de sobreviver.

Sistemas agroflorestais

O que é um sistema agroflorestal? O uso de sistemas agroflorestais - ou

seja, plantios envolvendo culturas alimentares e madeireiras - é uma importante

alternativa de produção para pequenos e médios produtores. Pode melhorar a

capitalização do produtor devido à própria diversidade de culturas envolvidas. Na

Amazônia, a Embrapa desenvolveu diversos modelos agroflorestais para os

Laboratório de Química Ambiental 40


Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 41

pequenos produtores. Sua principal vantagem é definir uma programação de

plantio e colheita de forma a permitir ao agricultor manter um fluxo constante de

renda, durante todo o ano e, ainda, preservar boa parte da mata natural que cobre

seu terreno.

Um exemplo de sistema agroflorestal foi descrito no Guia Rural Embrapa,

da Editora Abril (1991): "Ele funciona da seguinte maneira: logo após a derrubada

planta-se melancia, abóbora, mandioca, hortaliças, milho, banana e feijão. No

primeiro ano, colhe-se feijão e milho. Também já são comercializadas,

imediatamente após a colheita, a melancia, abóbora, mandioca e hortaliças. No

início do segundo ano, com a banana já crescida e prestes a produzir, plantam-se

mudas de espécies florestais, como o mogno, a castanheira, o freijó, o taxi-branco,

a tatajuba, a quaruba. São plantadas, também, espécies frutíferas, como o

cupuaçu e a manga. Nas entrelinhas, ainda se produz milho, feijão e abóbora. No

segundo ano, a receita vem da banana, das hortaliças e dos cereais. No terceiro

ano, já é tempo de pensar em nova derrubada, enquanto a área antiga, que seria

mesmo abandonada, ainda continua produzindo algum cereal, mandioca e

banana. Na nova derrubada o sistema se repete. Quando ao cabo de oito anos o

produtor volta para a primeira área, ele já terá disponível uma boa quantidade de

madeira para vender".

Dois importantes projetos de exploração agroflorestal foram testados nos

Municípios de Irituia, no Pará e Nova Califórnia, no Acre (Projeto Reca), com

resultados econômicos e ambientais satisfatórios.

Antes de se fazer a introdução dessas culturas, é preciso estudar

detalhadamente o mercado consumidor, o local e o regional.

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Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 42

Manejo florestal

No Pará, o comércio madeireiro se constitui a segunda fonte geradora de

divisas para o Estado, perdendo apenas para a mineração. Na microrregião de

Paragominas, a indústria da madeira gera duas vezes mais empregos do que a

pecuária. Para cada 200 hectares de floresta, um emprego é gerado. Em grande

parte da Amazônia, a exploração da floresta é feita de maneira predatória, sem

reposição, fora da lei e ainda gera focos de incêndio.

Organizar a cadeia produtiva desse segmento resolveria quatro problemas:

1 - gerar divisas para o Estado e o País; 2 - gerar empregos na região; 3 -

controlar o uso e o desmatamento da floresta; e 4 - diminuir focos de incêndio.

O princípio básico do manejo florestal resume-se em retirar e repor.

Abrange as seguintes etapas:

a) Como fazer o manejo florestal.

b) Fazer o inventário florestal e mapear o estoque de árvores, demarcando os

seus diversos estágios de desenvolvimento e aquelas prontas para a derruba, de

acordo com a lei, classificando-as nos tipos: branca, vermelha e nobre.

c) Conhecer a legislação vigente (Código Florestal – Lei 4.771/65; Dec. 1282 de

1994; Portaria do Ibama 48 de 1995; e autorizar-se, perante o Ibama, mediante

um Plano de Manejo Florestal Sustentável.

d) Conhecer o mercado para as madeiras existentes. No Pará, as madeiras mais

procuradas pelas serrarias são: maçaranduba, pequiá, tauari, angelim-vermelho,

angelim-pedra, pau-amarelo, ipê, jatobá e goiabão. Já as indústrias laminadoras

preferem: estopeiro, faveiro, amesclão e sumaúma. Os mercados consumidores,

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Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 43

em ordem decrescente: Nordeste com 43%; Sudeste com 39%; Sul com 9%;

Norte e Centro-Oeste juntas com 2%; Exterior com 7%.

e) Replantar as árvores retiradas. Consultar a Emater, Embrapa, cooperativa ou

empresa especializada, sobre como produzir a muda, ou comprá-la e informar-se

sobre como plantá-la.

f) Fazer os tratos silviculturais para favorecer a regeneração e aumentar a

produtividade, tais como, corte dos cipós, anelamento, desbaste, retirada dos

galhos secos e até pragas, a cada dois anos.

g) Planejar as trilhas para transporte, a fim de que a derrubada de uma árvore não

acarrete prejuízo para muitas outras.

h) Quanto menos a mata for agredida, tanto melhor será a regeneração das

árvores.

i) Aproveitar todas as partes das árvores retiradas.

j) Fazer o controle contábil da exploração econômica e ambiental.

k) Manter vigilância e tomar precauções para evitar incêndios na área da

exploração.

Reflorestamento social

A Amazônia brasileira tem cerca de 55 milhões de hectares de áreas

alteradas, onde podem ser plantadas espécies madeireiras de crescimento rápido

para produção de celulose, madeira, laminados e carvão vegetal. Para o

reflorestamento dessas áreas, em condições de pleno sol, algumas espécies são

mais indicadas como parapará (Jacaranda copaia), morototó (Didymopanax

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Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 44

morototoni), taxi-branco (Sclerolobium paniculatum), castanha-do-pará

(Bertholletia excelsa), paricá (Schyzolobium amazonicum) e araracanga

(Aspidosperma desmanthum).

Espécies fruteiras também podem ser utilizadas como banana, cupuaçu,

manga, caju, taperebá, como ainda palmáceas tais como pupunha, dendê, açaí e

coco, café, plantas medicinais e pequenos animais, entre outras, com objetivo de

atender ao consumo familiar e evitar a aquisição de itens passíveis de serem

produzidos na propriedade.

O enriquecimento de florestas secundárias ou capoeiras pode ser feito

usando as espécies freijó (Cordia goeldiana), tatajuba (Bagassa guianensis),

mogno (Swietenia macrophylla), quaruba (Vochysia maxima), andiroba (Carapa

guianensis) e morototó (Didymopanax morototoni).

Intensificação da exploração

Os pequenos proprietários queimam intencionalmente, tanto as áreas de

pastagem degradada, para limpeza e reforma da pastagem, quanto as de capoeira

(floresta secundária), onde fazem a agricultura para sua sobrevivência.

No entanto, é possível reduzir, nas pequenas propriedades, as taxas anuais

de desmatamento e a prática da queimada na Amazônia Legal. Para isso, são

necessárias opções tecnológicas adaptadas às condições sócio-econômicas dos

produtores rurais. Como políticas públicas, poderiam ser consideradas as

facilidades para aquisição de máquinas e implementos adequados à região, as

sementes e sobretudo os corretivos e fertilizantes, os quais provocariam o

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Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 45

aumento da produção, permitindo a exploração continuada da mesma área e,

como conseqüência, maior controle das queimadas. Por exemplo, um pequeno

produtor, que derruba e queima dois hectares (floresta densa ou capoeira) para

plantar sua roça, e os cultiva por dois anos, deixando-os depois em descanso por

dez anos, precisa de 12 hectares de novas áreas derrubadas, até que ele volte à

primeira área. Se ao invés de cultivar a área por dois anos, novas recomendações

tecnológicas permitissem o cultivo da área por três anos, a área total necessária

para completar o ciclo seria de oito hectares, o que representa uma redução de

30% na área derrubada e queimada anualmente. Considerando que existem 600

mil pequenos produtores na Amazônia, se todos queimarem dois hectares apenas,

serão queimados anualmente 1.200.000 hectares. É extremamente promissor

investir nesse grupo de agricultores, para diminuir a taxa de queimadas.

O estudo de técnicas de manejo da vegetação secundária, a chamada

capoeira, no contexto da agricultura familiar, vem sendo realizado na Amazônia

como forma de aumentar a sustentabilidade desse sistema de produção.

Duas tecnologias já foram geradas. Uma trata do enriquecimento da

capoeira com árvores leguminosas, visando a aumentar a produção de biomassa

durante o período de pousio entre os ciclos agrícolas, com espécies como Acacia

mangium, Inga edulis e Sclerolobium paniculatum. Enriquecendo a capoeira, a

partir da fase agrícola, é possível produzir em três anos uma biomassa igual a

uma capoeira tradicional de cinco anos de idade.

A outra tecnologia alternativa à agricultura de derruba e queima, diz

respeito ao preparo de área sem o uso do fogo, por meio da trituração da

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Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 46

biomassa da capoeira com a utilização de uma máquina (Tritucap), que permite

incorporar essa biomassa como cobertura da terra.

As vantagens desse método sem uso do fogo podem ser traduzidas de

diferentes maneiras: diminui a emissão de carbono para atmosfera, com redução

na contribuição do efeito estufa; permite ao agricultor o plantio em outras épocas

do ano, diferentes das atuais; e melhora as propriedades físicas, químicas e

biológicas do solo, entre outras. Mais ainda, a incorporação da capoeira como

biomassa vegetal no solo, além de ser mais adequado ao uso da terra, diminui a

pressão para a expansão agrícola sobre novas áreas de florestas.

Cobertura verde ou morta e compostos orgânicos

A introdução de cobertura verde (especialmente leguminosas, tipo

crotalária) ou cobertura morta (resíduos de culturas não queimadas) e fabricação

de compostos orgânicos são tecnologias de baixo custo, que abreviam o tempo de

recuperação da capoeira, aumentando o volume de biomassa.

Maior uso de corretivos e fertilizantes

Há uma enorme vantagem no uso das tecnologias intensivas, como

adubação e correção do solo, permitindo o cultivo na mesma área por vários anos.

Elas também são imprescindíveis para o sucesso da exploração de vários

produtos recomendados e cultivados na região, desde as culturas tradicionais de

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Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 47

arroz, feijão, milho e pimenta, até culturas nativas, como as frutas amazônicas, a

pimenta longa e o guaraná, entre outras.

Maior produtividade das pastagens

A intensificação da agricultura traz como conseqüência a melhoria das

pastagens dos pequenos produtores. Ao fazerem a rotação das áreas utilizadas

com agricultura intensiva com pastagens, cujo solo teve sua fertilidade melhorada,

usando fertilizantes e corretivo, o produtor terá pastagens mais produtivas e

duradouras. O aumento da produtividade das pastagens vai contribuir

decisivamente para evitar a tradicional prática do uso do fogo, para limpeza das

pastagens. Com os anos, os ganhos para o ambiente e o solo serão expressivos,

além de fixar o homem no campo.

Cultivo intensivo de produtos recomendados

Todas as atividades a serem exploradas precisam de uma boa análise e de

estudo do mercado, assistência técnica qualificada, controle de qualidade,

constância na oferta, e, por fim, crédito garantido.

Para a região Amazônica, o leque de produtos que podem ser cultivados é

grande, destacando-se os seguintes: produção de essências florestais nativas e

exóticas; produção de plantas medicinais; produção de frutas nativas e exóticas

(cupuaçu, acerola, mangostão, laranja, banana); produção de mudas; seringueira

em áreas de escape; apicultura; produção de pupunha, para palmito; produção de

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pimenta-do-reino; produção de castanha do brasil; produção de pimenta longa

para extração de óleo de safrol; produção de abacaxi; produção de caju; produção

de açaí para sucos e palmito; produção de cacau; produção de guaraná; produção

de café; produção de dendê; produção de castanha-do-brasil; produção de

urucum; produção de peixe; criação de pequenos animais.

Para cada um desses produtos, as Unidades da Embrapa na Amazônia

Legal dispõem de informações tecnológicas. Ajustes deverão ser feitos, de acordo

com as regiões e os sistemas de cultivos adotados por cada produtor.

Zoneamento agroecológico

O zoneamento agroecológico é um dos instrumentos mais úteis para

orientar os agricultores sobre como utilizar bem os recursos naturais de sua

propriedade e minimizar os riscos econômicos e ambientais. O zoneamento

orienta sobre o melhor período de plantar, o local mais adequado para a

agricultura e a pecuária, a localização da reserva ambiental, a proteção de fontes

e dos mananciais de água e orienta sobre como diminuir os riscos de degradação

de solos.

A disponibilidade de mapas, em escalas adequadas, ainda não é de fácil

acesso para todos os municípios do país. Entretanto, é uma metodologia

completamente dominada pela Embrapa e por outras instituições de pesquisas,

que usam instrumental de alta tecnologia para elaboração de mapas, com relativa

rapidez.

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Programa de Desenvolvimento Agrícola Municipal (PDAM)

O Programa de Desenvolvimento Agrícola Municipal (PDAM) é um software

desenvolvido pela Embrapa Informática, que, aliado ao zoneamento

agroecológico, permite o planejamento agrícola do município, ou parte dele,

considerando sua diversidade agroambiental e sócio-econômica, e acompanhando

o desempenho agropecuário e ambiental do município.

Trata-se de um instrumento estratégico de fácil acesso e manuseio,

necessitando apenas de um computador simples e um técnico treinado. O sistema

permite e orienta a coleta de dados, o armazenamento, tratamento, a análise e

sintetização de informações, para ajudar os tomadores de decisão da agricultura

local. Pode ser usado por prefeituras, sindicatos rurais, cooperativas ou

associações de produtores.

4) Como Queimar: A Queimada Controlada

A produção agrícola na Amazônia exige a remoção da floresta ou da

vegetação secundária, o que significa desmatar e queimar. Queimar é o sistema

mais barato para limpar uma área, por isso, é a solução mais adotada. Mas

queimar não significa incêndio. Incêndio é a queimada sem controle. Na

impossibilidade de se evitar o fogo completamente, há que se orientar

tecnicamente as queimadas necessárias.

A queimada controlada é uma técnica mundialmente utilizada para a

prevenção de incêndios, só realizada com autorização do órgão competente. Além

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de eliminar a matéria seca dos desmatamentos, ou o excesso de forragem seca,

ou macega, das pastagens nativas e cultivadas, a queimada orientada tem a

grande função de servir como barreira para os incêndios naturais ou provocados

pelo homem.

A queima controlada só deve ser realizada em áreas definidas, com

isolamento prévio através de aceiros, onde o fogo orientado é utilizado como

ferramenta para consumir a macega ou o excesso de material combustível.

Funciona como um método barato de limpeza das pastagens nativas, favorecendo

a rebrota e a germinação de sementes e melhorando o valor nutritivo e o consumo

de forragem pelos animais domésticos e silvestres.

Aceiros

Aceiros são faixas, ao longo das cercas ou divisas, cuja vegetação foi

completamente removida da superfície do solo, com grade ou lâmina acoplada ao

trator, ou com ferramentas manuais, com a finalidade de prevenir a passagem do

fogo e a ocorrência de incêndios indesejáveis.

Os aceiros são feitos manual ou mecanicamente, dependendo do tamanho

da área ou propriedade a ser protegida, e da disponibilidade de máquinas e/ou

mão-de-obra. Ao longo das cercas, é recomendável que se limpe uma faixa de,

pelo menos, 2 metros de largura, em ambos os lados, para proteger o arame,

evitar a queima de estacas e balancins e reduzir ao mínimo a chance de perder o

controle do fogo.

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Em áreas de capoeira ou mato e, também, em pastagens, são feitas 2

faixas limpas, de 2 metros de largura cada, entremeadas por uma faixa com

vegetação de 4 metros. Primeiro, queima-se esta faixa com vegetação e depois

queima-se o restante da área. Essa técnica evita que o fogo ultrapasse o aceiro,

provocando incêndios. Como na confecção desse tipo de aceiro se utiliza a

queima controlada, é necessária a licença do órgão competente, para o uso do

fogo.

Os aceiros devem ser feitos no início do período seco, quando a vegetação

começa a secar. É a época recomendada para prevenir a entrada do fogo em

pastagens e nas matas. Recomenda-se fazer os aceiros ao longo de cercas

divisórias com outras fazendas, cercas divisórias de pastos ou invernadas, dentro

da fazenda e ao longo das cercas, junto a estradas rodoviárias.

Dez Mandamentos da Queimada Controlada

Para se queimar com racionalidade, é preciso seguir os Dez Mandamentos

da Queimada Controlada:

1. Obter autorização do Ibama para queima controlada. Documentos necessários:

a) Comprovante de propriedade ou de justa posse do imóvel onde se realizará a

queima; b) Cópia da autorização de desmatamento quando legalmente exigida; c)

Comunicação de queima controlada.

2. Reunir e mobilizar os vizinhos, para fazer queimada controlada e em mutirão,

de maneira que um possa ajudar o outro. Assim, o calor será menor e o solo será

menos impactado com a temperatura.

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Queimadas urbanas: danos ambientais e sociais estudo de caso – a cidade de São Carlos 52

3. Evitar queimar grandes áreas de uma só vez, pois as distâncias dificultam o

controle do fogo.

4. Fazer aceiros, observando as características do terreno e altura da vegetação.

Em terreno inclinado, o fogo se alastra mais rapidamente, devendo-se construir

valas na parte mais baixa, para evitar que o material em brasa saia da área

queimada. A largura dos aceiros deve ser 2,5 vezes a altura da vegetação em

regiões de pastagens e/ou Cerrado ou, no mínimo, 3 metros, para o caso de

queima controlada.

5. Limpar completamente o aceiro, sem deixar restos de folhas ou paus, de

qualquer natureza, no meio da faixa.

6. Prestar atenção à força e direção do vento, à umidade e às chuvas. Só queimar

quando o vento estiver fraco. Nunca comece um fogo na direção contrária dos

ventos. Inicie no sentido dos ventos. Se a queima for realizada após as primeiras

chuvas, é possível evitar o risco de o fogo escapar e evitar os danos causados

pelo acúmulo de fumaça no ar.

7. Queimar em hora fria. De manhã cedo, no final da tarde, ou à noitinha, é mais

seguro, pois a temperatura é mais baixa e a vegetação está mais úmida.

8. Nunca deixe árvores altas, sem serem cortadas, no meio da área a ser

queimada. Elas demorarão a queimar, permitindo que o vento jogue fagulhas à

distância, provocando incêndios em áreas vizinhas, sobretudo, se forem

pastagens.

9. Permaneça na área da queimada, após o fogo, pelo menos, por duas horas, a

fim de verificar se não haverá pequenos focos de incêndio, na vizinhança,

provocados pelos ventos.

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10. Tenha sempre disponível, para ser utilizado, em caso de ter de controlar o

fogo, o seguinte material: a) enxada; b) abafador; c) foice; d) bomba costal; e)

baldes com água.

Fontes: http://www.agricultura.gov.br; www.embrapa.br; www.planalto.gov.br –

agosto de 2002.

O PAPEL DO QUÍMICO EM RELAÇÃO ÀS QUEIMADAS

Atualmente as modernas técnicas de análises de várias classes de

compostos em diversas matrizes ambientais possibilitam aos químicos a

determinação de substâncias tóxicas aos níveis de traços inclusive no ar. Esses

análises são de extrema importância na avaliação da qualidade de determinada

região, possibilitando a tomada de medidas tanto de controle quanto de melhoria

da qualidade de vida da população.

Neste contexto, o químico é responsável pela constatação, investigação,

determinação e análises de compostos altamente nocivos (como hidrocarbonetos)

liberados ao meio-ambiente pelas queimadas urbanas ou mesmo rurais. Uma vez

constatado o problema, cabe aos órgãos competentes a aplicação de advertências

ou multas no intuito de minimizar os efeitos ou acabar com os mesmos.

Infelizmente, no Brasil, sabemos que processos ambientais andam

atrelados a vontades pessoais de pessoas responsáveis pelos órgãos

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teoricamente incumbidos da fiscalização, o que dificulta e, às vezes, impede que

danos ambientais e sociais sejam sanados.

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