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Luciani Missio2
Jorge Luiz da Cunha3
Resumo:
Este trabalho pretende trazer uma reflexão sobre os conceitos de Modernidade e Pós-
Modernidade entrelaçados com a educação nas escolas. Reflexão esta sobre a situação do
sistema escolar, visto que a sociedade não se apresenta mais no modelo sólido e estruturado o
qual concebia a sociedade na época da elaboração e construção da escola. Mas a escola
mantém a mesma estrutura e os mesmos preceitos daquela época. E este desencontro da
escola com a sociedade está interferindo intensamente nas relações que se estabelecem dentro
e fora dela. Com o entendimento da escola como uma construção da Modernidade, que
impõem um único modelo da Cultura, privilegiando uma forma particular de civilização, com
um indivíduo emancipado, porém conformado com as imposições do Estado. Temos que a
Escola Contemporânea funciona da mesma forma, transmitindo informações, que são prontas
e moldadas, o que não incentiva a criação e a reflexão sobre a realidade. De que forma uma
escola com pensamento e atitudes Modernas pode se estabelecer dentro de uma sociedade
Pós-Moderna? O que, de fato, as pessoas procuram no Ensino Escolar? Para uma escola que
foi criada dentro das perspectivas da Modernidade, o fim das narrativas emancipatórias
significaria o fim da escola?
Considerações iniciais
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Trabalho desenvolvido no Núcleo de Estudos sobre Educação e Memória – CLIO/CE/UFSM
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Licenciada em Matemática/Mestranda em Educação – PPGE/CE/UFSM – Bolsista Capes –
lumissio@yahoo.com.br
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Orientador – Professor Dr. phil do Departamento de Fundamentos da Educação – FUE/CE/UFSM
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Esta questão leva diretamente à discussão das escolas e sua incoerente postura dentro
do tipo de relações que as pessoas estabelecem entre si e com a sociedade e que são
influenciadas por elas, o que nas últimas décadas foi alterado de forma significativa devido ao
acesso às informações.
Dentre todas as definições para nomear a sociedade atual, utilizarei o termo Pós-
Modernidade, não me apropriando de sua conceituação e valores a ela estabelecidos, mas sim
como nomenclatura, nomeando a Sociedade Contemporânea.
Este trabalho traz uma reflexão sobre a situação do sistema escolar, visto que a
sociedade não se apresenta mais no modelo sólido e estruturado o qual concebia a sociedade
na época da elaboração e construção da escola. Mas a escola mantém a mesma estrutura e os
mesmos preceitos daquela época. E este desencontro da escola com a sociedade está
interferindo intensamente as relações que se estabelecem dentro e fora dela.
Na busca pela compreensão dos sentidos e dos significados da escola para todos no
século XXI, primeiramente contextualizo a sociedade Moderna e a Pós-Moderna, para então
apresentar a escola como construção da Modernidade, mas hoje trabalhando com os mesmos
conceitos porém dentro da Sociedade Pós-Moderna.
Na segunda metade do século XIX, a Europa foi sacudida pelo surgimento das
indústrias e a explosão das tecnologias, e com isso grande contingente humanos foram
lançados em um ambiente onde nada se assemelhava ao transtorno da existência coletiva até
então existente, isto é, à repetição, à preservação dos costumes, às relações personalizadas, à
preponderância dos laços morais. Essa industrialização e conseqüente urbanização abalaram
as estruturas sociais, varrendo rotinas e referências estabelecidas, pois provocaram profundas
alterações nas formas de trabalho, na tecnologia, na produtividade, nas aglomerações
humanas, nos meios de comunicação etc. (Fridmann, 1999).
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...se antes era a fé, agora é a razão que garante a salvação. O processo
de secularização representou também o estreitamento do conceito de
salvação. O que se passa a chamar emancipação refere-se apenas ao
secular, ao material, ao aspecto histórico-físico do homem. Da mesma
forma, o novo instrumento de salvação – a razão – sofre um
reducionismo na medida em que ela, mais e mais, é restritiva à sua
dimensão científica, matemática (Goergen, 2001, p.17).
comunista, na sua famosa frase sobre o “derretimento dos sólidos”, que considerava a
sociedade moderna estagnada demais para o seu gosto e resistente demais para mudar e
moldar-se a suas ambições, considerando desta forma, necessário derreter os sólidos, isto é,
por definição, “dissolvendo o que quer que persistisse no tempo e fosse infenso à sua
passagem ou imune a seu fluxo” (Ibid, p. 9).
A presente fase, a modernidade líquida, “idéia que Bauman utiliza para expressar sua
concepção de modernidade, que, para ele, adquiriu uma perspectiva transbordante, esvaída,
em oposição ao conceito de sólido enquanto duradouro, dada a fluidez do mundo
contemporâneo” (Soczek, 2004, p. 2), está marcada pela desconstrução da idéia de
comunidade. A separação entre os produtores e as fontes de sobrevivência, os negócios e o lar
que resultaram na busca do livre lucro, mas também no rompimento dos laços morais e
emocionais, a exigência de um controle forte, às insuficiências das tentativas de manipulação
e adequação dos trabalhadores a isso, emergiu a idéia de desregulamentação, como um
processo entre mercado e trabalhadores.
Esta forma de pensamento não cabe mais na sociedade contemporânea, imposta esta
pela globalização da economia de livre mercado, pela extensão das democracias formais como
sistema de governo, pela hegemonia dos meios de comunicação de massa, ao alcance e
agilidade das informações a todos os cantos do planeta, marcada por um pensamento que
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Com tudo isso temos que os fundamentos da escola e da cultura são fundamentos
modernos, mas com todas as mudanças ocorridas na sociedade, eclodiram os conceitos de
cultura – do monoculturalismo para o multiculturalismo – e o da escola permaneceu
estagnado, o que fez com que o conceito de escola e os seus paradigmas entrassem em crise.
Segundo Brunner,
Neste sentido, ao buscar desenvolvimento da autonomia dos seus alunos, a escola faria
com que os mesmos aprendessem a encarar de forma crítica as informações que recebem,
independente do meio. Dar sentido e significado ao que se ensina e não tentar estabelece uma
relação de utilidade, pois “estudos relevantes são aqueles que apresentam um interesse, um
significado, que estão ligados, relacionados com aqueles que os fazem” (Certeau, 1995,
p.105). Tornar atrativo ao mundo do educando os conteúdos trabalhados, de forma que
busque a compreensão e o entendimento do mesmo, pois, segundo Forquin,
Se o que nos interessa é o que o aluno realmente aprenda dentro da escola e não que
ele decore conteúdos para as provas e depois esquecer, não podemos perder de vista,
conforme diz Pérez Gómez (2001), que tudo na sala de aula se comunica, tudo fala, cada
parcela, cada objeto, cada atividade está emitindo mensagens que o estudante capta e integra
em suas ações cotidianas, isto é, está aprendendo com toda a cultura escolar.
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Desta forma, qualquer forma de mudança nos conceitos e objetivos da escola requer,
conforme escreve Hall, uma passagem para o regime dos significados e pela produção de
novas subjetividades, no interior de um novo conjunto de disciplinas organizacionais, isto é,
por meio de uma mudança cultural escolar. Com isso, temos a necessidade de os professores
viverem uma cultura crítica, o que contribuirá para criar um clima de vivência e recriação
cultural na escola, desenvolvendo de forma autônoma e crítica a futura comunidade social.
Referências Bibliográficas
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